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Efeitos da virtualização e processo eletrônico no TRF4

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  • ISSN 0103-6599

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  • QUARTA REGIO

    revistadotribunalregionalfederal

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    As mudanas no trabalho judicirio e a sade dos usurios: efeitos da virtualizao dos processos

    judicirios

    Cndido Alfredo Silva Leal Jnior*1

    Resumo

    Desde 2004, existem processos judiciais tramitando em meio exclu-sivamente eletrnico. A partir de 2010, o TRF4 implantou o processo eletrnico em todas as suas unidades, judicirias e administrativas. Essa mudana considervel e traz efeitos sobre a condio fsica e psquica dos usurios, bem como sobre as tarefas, o tempo e a informao mane-jada por aqueles que trabalham com o processo eletrnico. Este artigo trata das mudanas trazidas pelo processo eletrnico quanto sade e forma de trabalhar daqueles que utilizam as ferramentas virtuais para o trabalho judicirio, bem como mostra como a questo de sade no trabalho vem sendo tratada no mbito da Justia Federal da 4 Regio quanto ao processo eletrnico. Abordamos o problema da tenso entre as exigncias da sociedade por uma justia clere e efi ciente (artigos 5, XXXV e LXXVIII, e 37, caput, da CF) e o direito de juzes e servidores sade no trabalho (artigos 7, XXII, e 39, 3, da CF). Tratamos dos

    *1Desembargador Federal do TRF4, Presidente da Comisso de Sade e Processo Eletrnico, instituda pela Portaria 1035/2011, na gesto da Desembargadora Federal Marga Inge Barth Tessler na Presidncia do TRF4 (2011-2013).

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    impactos e das consequncias da implantao do processo eletrnico e das ferramentas virtuais, destacando os efeitos da virtualizao sobre o corpo, sobre a mente, sobre as tarefas, quanto ao tempo e quanto in-formao, e de como podemos lidar com esse problema para aproveitar os pontos positivos e mitigar os negativos da virtualizao do traba-lho judicirio. Apresentamos algumas prticas da Comisso de Sade e Processo Eletrnico do TRF4. Conclumos que a responsabilidade pela sade individual e institucional, que obrigao constitucional dos gestores cuidar da sade dos usurios do processo eletrnico e que isso traz repercusses sobre a efi cincia do servio e sobre a qualidade da prestao jurisdicional.

    Palavras-chave: Sade no trabalho. Processo eletrnico. Efeitos da virtualizao.

    Sumrio: Introduo. 1 Qual o problema? 2 Por que um problema? (a) Efeitos da virtualizao sobre o corpo. (b) Efeitos da virtualizao sobre a mente. (c) Efeitos da virtualizao sobre as tarefas. (d) Efeitos da virtualizao quanto ao tempo e informao. 3 Como lidar com esse problema? 4 A Comisso de Sade e Processo Eletrnico. (a) Estudando o problema. (b) Enfrentando o problema. 5 Algumas iniciativas da Comisso. (a) nfase e melhoria na usabilidade do e-Proc2. (b) Discusso sobre os processos virtuais de trabalho e suas rotinas. (c) Incluso da sade nas pautas de eventos e debates. (d) Debate e difuso das pausas no trabalho. (e) Melhoria da comunicao interna entre TI e usurios. (f) Difuso de informaes sobre ergonomia. (g) Outras medidas sugeridas ou tratadas. Concluses.

    Introduo

    Este artigo trata das mudanas trazidas pelo processo eletrnico quanto sade e forma de trabalhar daqueles que utilizam as ferra-mentas virtuais para o trabalho judicirio, bem como mostra como a questo de sade no trabalho vem sendo tratada no mbito da Justia Federal da 4 Regio quanto ao processo eletrnico.1

    Nossa proposta apresentar o problema (as mudanas na forma de trabalhar decorrentes do processo eletrnico), mostrar por que isso

    1 Este texto foi escrito a partir de apresentaes sobre Ns e o processo eletrnico Efeitos da virtualiza-o (Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul, Ciclo sobre Qualidade de Vida no Trabalho, 26.10.2012) e As mutaes do trabalho e a nossa sade (Tribunal Regional Federal da 4 Regio, Seminrio Atualidade e Futuro da Administrao da Justia, 12.03.2013).

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    um problema (os efeitos da virtualizao) e falar de como tentamos lidar com esse problema (justia com sade e processo saudvel).

    A partir da experincia e das prticas da Comisso para Estudo dos Impactos do Processo Eletrnico sobre a Sade dos Usurios, por ns presidida no binio 2011-2013 no mbito do Tribunal Regional Federal da 4 Regio (RS, SC e PR), queremos propor algumas refl exes sobre sade e processo eletrnico na perspectiva dos usurios dessas novas ferramentas eletrnicas.2

    Parece-nos que no basta colocar disposio dos usurios novos recursos tecnolgicos para o processo eletrnico, mas preciso acom-panhar de perto como essas novas ferramentas podem contribuir para a melhoria da prestao jurisdicional sem comprometer a sade daqueles que as tm de utilizar para realizar o trabalho judicirio.

    Nosso objetivo motivar cada um que trabalha com o processo ele-trnico para que refl ita um pouco sobre sua forma de trabalhar e sobre os impactos que as novas tecnologias e ferramentas trazem para sua sade e para que aceite a sugesto de incorporar a sade em suas pre-ocupaes individuais e assim possa contribuir com suas escolhas no presente para envelhecer com sade no futuro.

    Muitas dessas refl exes foram discutidas no mbito daquela comis-so instituda no TRF4, apresentadas em reunies internas e mostradas em eventos com outros rgos pblicos, procurando debater e estimular o debate sobre como as mudanas na forma de trabalhar refl etem em nossa sade e sobre o que podemos fazer para mitigar algumas das con-sequncias indesejadas dessas mudanas.

    1 Qual o problema?

    De um lado, os cidados e a sociedade exigem um processo clere e justo, que atenda com efi cincia e com celeridade garantia consti-tucional de acesso justia. O processo judicial, antes feito de papel e substanciado em autos fsicos, mudou e se tornou eletrnico, com autos 2 Agradecemos Desembargadora Marga Inge Barth Tessler, ento Presidente do TRF4, pela iniciativa de instituir a Comisso para Estudo dos Impactos do Processo Eletrnico sobre a Sade dos Usurios (Portaria TRF4 1035, de 13.09.2011). Tambm agradecemos aos demais integrantes da Comisso pela oportunidade de discutir tantas questes interessantes, especialmente a Rogrio Welter, Eduardo Csar Weber, Regaldo Amaral Milbradt, Cristian Ramos Prange, Lus Olavo Melo Chaves, Carlos Alberto Colombo, Vanessa Dias Corra e Rogrio Alexandre Nedir Dornelles, pela capacidade de transformarem aquelas discusses nas aes e medidas concretas mencionadas neste texto.

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    virtuais e novas formas de documentar atos processuais e prestar juris-dio. O processo mudou para melhor servir ao cidado e sociedade, que tm direito a processo judicirio capaz de atender queles imperati-vos de justia e de celeridade previstos na Constituio quando estabe-lece que a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito (artigo 5, XXXV), que a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao (artigo 5, LXX-VIII) e que a administrao pblica (...) obedecer aos princpios de (...) efi cincia (artigo 37, caput).

    De outro lado, juzes e servidores no so ferramentas de trabalho nem objetos de gesto. So pessoas, com corpo e esprito, sujeitos aos efeitos do trabalho e, principalmente, titulares de direito constitucional sade e proteo de suas expectativas de vida e da possibilidade de envelhecerem com sade. No so peas da engrenagem judiciria, que possam ser descartadas ou substitudas ao sabor das vontades dos admi-nistradores ou das ideias dos gestores pblicos. Precisam de ferramen-tas apropriadas para desempenharem suas atribuies e cumprirem seu papel de prestar jurisdio e contribuir para a prestao da jurisdio. Tambm tm direito a esse processo de trabalho saudvel, decorrendo do texto constitucional que so direitos dos servidores pblicos (...) reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade, higiene e segurana (artigos 7, XXII, e 39, 3).

    Ou seja, o problema que temos para enfrentar surge das tenses entre a sade e o trabalho, fruto daquilo que exigido de juzes e servidores para cumprirem suas atribuies e das ferramentas de que dispem para tanto. A efi cincia das ferramentas (objetos) no pode desconsiderar a sade daqueles que as utilizam (sujeitos). O trabalho no pode adoecer nem contribuir para o adoecimento de quem trabalha.

    Na Justia Federal da 4 Regio, a mudana para o processo ele-trnico no novidade, j que fomos pioneiros em sua implantao e adoo nos Juizados Especiais Federais desde 2004 (projeto piloto) e 2006 (e-Proc1, que era a primeira verso do processo eletrnico, usada nos JEFs). Depois tivemos a Lei 11.419, de 2006, regulamentando o processo eletrnico em todos os tribunais, e a Meta 10 do CNJ de 2009, estabelecendo que os tribunais deveriam comear a implantao gradu-

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    al do processo eletrnico. Em 2010, o TRF4 adotou o processo eletr-nico para todos os novos processos em todas as unidades judicirias do primeiro e do segundo graus (RS, SC e PR), universalizando o e-Proc2 e tambm instituindo o SEI para os processos administrativos.

    Com essa implantao radical e total do processo eletrnico em to-das as unidades judicirias e administrativas, a partir de 2010, surgiu em 2011 um novo desafi o para o TRF4: buscar um processo eletrnico que fosse saudvel para seus usurios, iniciando ento uma nova e pio-neira etapa no processo eletrnico.

    Agora que o processo eletrnico se tornou irreversvel e foi univer-salizado como forma de trabalhar na 4 Regio, surgem novos desafi os que decorrem da radical mudana havida na forma de realizar o tra-balho judicirio em autos virtuais, sem o suporte do papel para docu-mentar os atos processuais ou examinar os que j foram praticados. Por exemplo, como se adaptar s novas rotinas eletrnicas? Como adaptar as novas ferramentas virtuais s nossas necessidades? Como reaprender a trabalhar sem autos fsicos e sem apoio no papel?

    O desafi o mais importante parece ser como tornar o trabalho eletr-nico sustentvel para nossos corpos e nossas mentes, evitando o desgas-te fsico e o esgotamento psquico que o trabalho ininterrupto frente tela do computador pode trazer, buscando caminhos e alternativas para escapar do ciclo perigoso que mina nossa sade, comeando pelo des-conforto, passando pelo mal-estar, transformando-se em doena e, nos casos mais graves, levando incapacidade. Como so novos e repetiti-vos os movimentos exigidos de nossos corpos, como diferente a carga exigida de nossa mente pela presena constante em frente ao compu-tador, a questo que surge o que fazer para aproveitar os bons efeitos da mudana para a ferramenta eletrnica e neutralizar os maus efeitos de trabalhar incessantemente com uma tela, um mouse e um teclado de computador para realizar praticamente todas as tarefas e rotinas que o processo judicirio exige para que a jurisdio seja prestada e os atos processuais, praticados.

    2 Por que um problema?

    Estamos tratando a questo como um problema porque, como geral-mente acontece, as novas tecnologias tm um lado positivo (facilitam o

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    trabalho) e outro negativo (sobrecarregam o usurio). Essa dupla face das ferramentas eletrnicas, que podem ser remdio ou veneno, depen-dendo de como sejam utilizadas, o que motiva a refl etirmos sobre os efeitos da virtualizao dos processos sobre nossa sade.

    Com o processo fsico, trabalhvamos de uma forma diferente da-quela com que passamos a trabalhar com os autos eletrnicos. Muita coisa mudou, muita coisa foi facilitada, mas outros riscos surgiram para nossa sade. Por exemplo, no h mais risco de um juiz ou servidor se contaminar com leptospirose (como j aconteceu) porque manuseou processos de papel que fi caram em um arquivo onde havia ratos. Mas h o risco decorrente da exposio frequente tela do computador para consultar os autos eletrnicos e documentar os atos processuais no meio virtual. Ou seja, a forma de trabalhar mudou, os riscos mudaram e os cuidados que precisamos ter tambm mudaram. por isso que agora examinaremos o que mudou para juzes e servidores quanto s suas rotinas e ferramentas de trabalho dirio, identifi cando essas diferenas e procurando estabelecer, a partir dessas diferenas e das novas neces-sidades, novos cuidados que devemos tomar para que a sade daqueles que trabalham seja preservada.

    A grande diferena que agora o processo no mais fsico, mas est integralmente no computador. No mais composto de papis que pudessem ser manuseados e movimentados, mas agora est dentro do computador, em um meio eletrnico, totalmente virtualizado. O papel foi substitudo pela tela, a leitura foi substituda pela visualizao. No folheamos mais pginas dos autos, mas usamos teclado e mouse para nos movimentar dentro do processo.

    A tela passa a ter dupla funo: manusear o processo e escrever a de-ciso. Antes, no processo fsico, usvamos o computador para escrever a deciso. Quando precisvamos examinar o que estava no processo, no usvamos tela nem teclado nem mouse para isso. Usvamos nossas mos para folhear os autos fsicos e seus volumes. No canto de cada pgina, havia um carimbo com o nmero da pgina. Analisvamos o processo como se lia um livro. Agora, os autos do processo esto dentro do computador, precisamos de duas telas para trabalhar com conforto, usando uma delas para escrever a deciso (como fazamos antes), mas precisando da outra para visualizar os atos e termos do processo a par-

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    tir do que vamos interpretar, analisar, construir, decidir, documentar, escrever.

    Como consequncia, teclado, mouse e tela passam a imperar. Nosso contato com o processo e com os atos processuais (visualizar, exami-nar, documentar, produzir, escrever) passa a ser feito por meio daque-las trs ferramentas. Dependemos apenas dessas trs ferramentas para trabalhar. Nossos corpos e nossas mentes esto submetidos quelas trs ferramentas.

    Essas mudanas agem sobre ns. Os efeitos da virtualizao vo alm da simples troca do papel pelo meio virtual. O processo eletrnico mais do que nova tecnologia. Traz para o usurio novas formas de lei-tura, escrita, pensamento, deciso. Muda a forma de trabalhar, mudam as rotinas, mudam as exigncias sobre corpo e mente.

    Para podermos lidar com essas mudanas, aproveitando o que elas tm de bom (vantagens) e neutralizando o que elas tm de ruim (des-vantagens), precisamos conhecer as consequncias da virtualizao do nosso trabalho.

    (a) Efeitos da virtualizao sobre o corpoO principal efeito fsico aquele que j foi referido: o acesso aos au-

    tos e o manuseio do processo se do pela tela, pelo mouse e pelo tecla-do. Fisicamente, isso sobrecarrega olhos, mos, dedos e braos, porque os movimentos so repetitivos e frequentes. Quantas vezes teclamos? Quantas vezes movimentamos o mouse? Quanto tempo fi camos olhan-do para as duas telas durante a jornada diria de trabalho? Aquelas trs ferramentas exigem mais quantidade de movimentos, mas envolvem menos variedade nesses movimentos. Ou seja, uso mais vezes olhos, mos e dedos, ao mesmo tempo em que os tipos de movimentos que fao com esses membros e rgos tm pouca variedade e se repetem constantemente.

    Alm disso, na poca do papel, quando o servidor terminava de tra-balhar em um processo, geralmente se via estimulado a levantar e a se deslocar, seja levando o processo que terminou para outro setor, seja buscando um novo processo para trabalhar. O processo se movimentava fora do computador, e o usurio era geralmente quem fazia essa movi-mentao fsica. Com isso, havia exerccio espontneo durante a jorna-

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    da de trabalho, j que difi cilmente algum poderia passar o dia inteiro sentado na frente da tela do computador, sem levantar e sem se mexer. Agora, como os autos dos processos esto dentro do computador, nos-sa disposio, bastando um simples clique para acess-los e movimen-t-los, diminuem tambm os diferentes gestos e movimentos que eram feitos ao longo do dia para folhear, carregar, buscar, levar, abrir, fechar um processo. Com isso, se o usurio no se cuidar, passar o dia inteiro sentado, fazendo apenas os movimentos limitados mas repetitivos que lhe permitem e exigem o teclado, o mouse e a tela do computador.

    (b) Efeitos da visualizao sobre a menteConsiderando o trabalho eletrnico, nossa mente tambm sente a

    diferena de buscar as informaes em autos virtuais. Psiquicamen-te, o novo processo exige mais ateno e mais concentrao do usu-rio. Mais ateno porque o contato com o processo feito pela tela do computador, no mais lendo o papel, mas visualizando o documento. Mais concentrao porque o computador dispersa mais, no se limita ao processo eletrnico, mas abre uma gama de softwares, sistemas e programas disponveis naquele mesmo computador (e-mails, Internet, intranet, etc.). Buscar informaes em autos virtuais exige mais con-centrao e oferece mais risco de disperso, resultando que o trabalho mental intensifi cado e, com certeza, tenderemos a cansar mais.

    Alm disso, o tempo acaba sendo acelerado com as rotinas autom-ticas do processo eletrnico, j que os prazos se vencem sozinhos e as tarefas so instantaneamente cobradas do usurio. No preciso que os autos sejam feitos conclusos quando vence o prazo porque isso se d de forma automtica. O computador nos cobra e quer determinar nosso rit-mo de trabalho, e s vezes vai parecer que o trabalho nunca acaba: no temos mais a sensao da pilha de processos que foi vencida, porque as tarefas vo brotando automaticamente medida que o tempo passa e que os prazos (instantaneamente) se vencem e (automaticamente) so certifi cados.

    H tambm nossa impotncia frente ao computador, que ocorre quando surge algum problema na rede ou instabilidade nos sistemas. Nesses momentos crticos, o usurio que no domine totalmente os re-cursos da informtica precisa pedir ajuda a algum setor de informtica,

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    que nem sempre pode atender imediatamente a demanda. O usurio se v ento frustrado, impossibilitado de trabalhar, e se sente quase injusti-ado pela ingratido do computador: quer trabalhar, mas o computador no permite. Quer concluir suas tarefas, mas o computador demora para responder ou responde lentamente, podendo inclusive travar e obrigar o usurio a comear tudo de novo (reinicializar seus sistemas...), o que pode ser muito frustrante e acrescentar novas tenses ao trabalho judi-cirio, normalmente j tenso e confl ituoso.

    Por fi m, h tambm o risco do isolamento que o computador traz. aquela histria do adolescente que tem poucos amigos reais e fi ca trancado no seu quarto, relacionando-se com o mundo real pelas redes sociais. O mesmo risco existe para quem fi ca trabalhando em frente ao seu computador, transforma sua mesa em uma estao de trabalho que acaba virando uma ilha isolada e s se comunica com os colegas pelo computador, mandando e-mails, mensagens instantneas ou lembretes dentro do sistema eletrnico. Esse risco de isolamento existe, uma vez que o trabalho passa a ser individual, diminuindo contatos fsicos e li-mitando os relacionamentos interpessoais. O computador passa a ser nosso companheiro e quase no sentimos mais necessidade de visitar a mesa do colega para levar ou buscar um processo ou conversar sobre algum outro processo. Tudo feito pelo sistema, eletrnica e virtual-mente.

    (c) Efeitos da virtualizao sobre as tarefasUma das grandes vantagens do processo eletrnico estar disponvel

    a toda hora e poder ser acessado de qualquer lugar. O usurio pode fazer seu trabalho na mesa de seu gabinete ou secretaria, mas tambm pode acessar os processos e trabalhar de sua casa, em viagens, em qualquer lugar onde tenha acesso ao mundo virtual onde esto as ferramentas de trabalho. A acessibilidade tamanha que sequer preciso que o usurio tenha um computador ou notebook para acessar o sistema eletrnico, j que pode faz-lo com tablets ou outros equipamentos portteis, como celulares, facilitando muito a realizao de suas tarefas.

    Entretanto, isso tambm tem um lado negativo: h risco de que as esferas de trabalho e de vida pessoal sejam confundidas, j que posso acessar os processos de minha casa ou de qualquer outro local de no

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    trabalho onde me encontre. Alis, todos os locais passam a ser possveis lugares de trabalho, bastando que se tenha acesso rede mundial de computadores.

    Da surge o risco do trabalho total, j que os processos virtuais e o sistema eletrnico esto acessveis de qualquer lugar, 24 horas por dia, sete dias por semana. preciso muita disciplina para no ceder ten-tao de adiantar o servio de casa ou ento de acessar para dar apenas uma olhadinha em um processo ou concluir uma tarefa que fi cou ina-cabada, misturando assim os espaos de trabalho e de vida.

    Outro efeito da virtualizao diz respeito redistribuio e remo-delagem das tarefas de andamento processual, j que todos passam a praticar atos cartorrios. Juzes e advogados, que anteriormente no fa-ziam o trabalho cartorrio de preencher formulrios ou registrar a movi-mentao dos processos, acabam sendo chamados a praticar esses atos, sobrecarregando-os mais ainda com rotinas que no lhes eram prprias como, por exemplo, preencher autuao, lanar andamentos processu-ais, preencher cabealhos e outros atos cartorrios.

    Ao mesmo tempo, h uma signifi cativa mudana nas necessidades de capacitao da fora de trabalho judicirio, quanto aos servidores. Anteriormente, grande parte do trabalho processual era feito por pes-soal tcnico e auxiliar: receber peties, protocolar documentos, furar e numerar folhas, junt-las aos autos, certifi car prazos, fazer conclu-so, etc. Agora, esse trabalho cartorrio desaparece e automatizado, passando a ser feito pelo sistema eletrnico, sem necessidade da inter-veno humana. Entretanto, ao mesmo tempo em que escasseiam as exigncias de trabalho tcnico-auxiliar, incrementada a exigncia de trabalho de anlise processual: exigem-se servidores mais qualifi cados, com formao jurdica, para auxiliar em tarefas de anlise do processo que envolvem o exame de peties, documentos e provas disponveis de forma virtual nos autos eletrnicos.

    Essa mudana quanto s necessidades de capacitao da fora de traba-lho precisar ser estudada e equacionada pelos rgos de recursos huma-nos, dando conta das novas exigncias decorrentes do aumento do trabalho de anlise jurdica e do problema do aproveitamento daqueles servidores que no tinham essa qualifi cao, que faziam servio tcnico-auxiliar e que correm o risco de se tornarem obsoletos no mundo virtual.

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    (d) Efeitos da virtualizao quanto ao tempo e informaoComo vimos, o processo eletrnico traz alguns nus para o usurio:

    (a) psiquicamente, exige mais ateno e mais concentrao, consequen-temente cansando mais; (b) a velocidade de tramitao aumenta, o tra-balho pode parecer que nunca acaba, fi ca fcil peticionar, no preciso se deslocar para examinar o processo, o que aumenta consideravelmen-te a carga e as exigncias do trabalho, tambm cansando mais; (c) o tempo do processo acelerado, as rotinas so automticas, os prazos se contam e se vencem sozinhos, no preciso lanar concluso porque o computador nos cobra e quer dar o nosso ritmo de trabalho, tambm cansando mais; (d) s vezes, quando surgem problemas de lentido, inconsistncias ou instabilidade dos sistemas e da rede, pode ser frus-trante permanecer diante da tela do computador, tendo que aguardar o processamento ou a reinicializao do sistema.

    Entretanto, o processo eletrnico traz muitos ganhos para o usurio e para quem utiliza o servio judicirio. Primeiro, os ganhos quanto ao tempo so evidentes: fi ca mais fcil processar o processo. Ele prati-camente andar sozinho, dependendo do impulso dos usurios externos (advogados) e no mais dependendo de servidores para que os autos se-jam feitos conclusos ou os prazos sejam contados e certifi cados. Alm disso, no mais necessria a presena fsica na secretaria da vara para que as peties sejam protocoladas, j que isso pode ser feito de qual-quer lugar, a qualquer tempo, 24 horas por dia, sete dias por semana. Geralmente, esses so os ganhos mais lembrados do processo eletrni-co.

    Mas existe outro ganho do processo eletrnico, que pouco men-cionado e que queremos ressaltar aqui: h possibilidade de ganho em termos de qualidade nos julgamentos, principalmente de rgos cole-giados, porque todos os envolvidos podem ter acesso imediato e simul-tneo a informaes atualizadas do processo, s peties e s provas contidas nos autos. Em um rgo colegiado, no mais apenas o relator que ter acesso aos autos, mas qualquer outro julgador poder aces-sar a ntegra dos autos eletrnicos a qualquer tempo, inclusive simul-taneamente. No mais preciso pedir vista dos autos ou solicitar os autos fsicos emprestados a outro gabinete para conhecer sua ntegra; basta consultar o sistema eletrnico e todos os atos do processo, peti-

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    es, documentos e provas, estaro imediatamente disponveis. Ainda, quando o julgamento depende de outro processo ou incidente que esteja disponvel em outra unidade judiciria, o acesso tambm integral e imediato, permitindo que o tribunal que julga o agravo de instrumento saiba exatamente o que aconteceu e o que est acontecendo no juzo que proferiu a deciso agravada. Ou seja, a informao do processo est sempre disponvel para os demais julgadores, independentemente de vista ou carga, e isso traz possibilidade de enorme ganho na qualidade dos julgamentos porque teremos possibilidade de acessar a ntegra do processo a qualquer momento, inclusive durante a prpria sesso de julgamento.

    3 Como lidar com esse problema?

    Em resumo, o processo eletrnico acelera o andamento do tempo processual (dispensa muitos atos cartorrios e encurta as distncias), mas acaba exigindo mais esforo fsico e psquico dos respectivos usu-rios (submisso tela, ao teclado e ao mouse do computador). Como no temos como retroceder e deixar de considerar as inegveis vanta-gens do avano tecnolgico, cabe-nos enfrentar aqueles efeitos e adap-tar-nos quelas mudanas. A questo : como fazer isso? Como lidar com esse problema? O que est ao nosso alcance e ao alcance da nossa instituio para fazer as novas ferramentas eletrnicas mais saudveis ou menos nocivas ao usurio?

    O problema mais amplo do que se pode pensar. No est restrito apenas esfera judiciria nem ao ambiente de trabalho das varas e dos tribunais, porque esse acirramento das exigncias feitas sobre corpo e mente dos usurios no decorre apenas da adoo do processo eletrni-co, mas tambm envolve o estabelecimento de metas de produtividade, a submisso da atividade judiciria a um regime de quase gesto em-presarial, as crescentes demandas da sociedade por uma justia mais gil e a crise de autoestima que o Judicirio vem sofrendo atualmente, muitas vezes sendo generalizados os maus exemplos nele encontrados e desconsiderada a maioria silenciosa e honesta, que procura realizar da melhor forma possvel suas atribuies de prestar jurisdio e servir aos cidados.

    O problema tambm amplo porque no est apenas no ambiente

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    judicirio, mas envolve uma srie de questes de adaptao e mudan-a pelas quais passou e ainda passa a sociedade, que se informatiza e v o computador e as novas tecnologias ocupando praticamente todos os espaos da vida da pessoa, inclusive no mbito pessoal e familiar. Dependemos do computador no apenas para trabalhar (processo ele-trnico), mas tambm para pagar nossas contas, para estudar, para fazer compras, para receber correspondncias (e-mails), para nos relacionar com outras pessoas, para obter informao, para ler jornais, para nos divertir com fi lmes ou jogos, entre muitas outras atividades dirias que praticamos sentados em frente a uma tela de computador ou tablet, e at mesmo diante de um diminuto aparelho de celular.

    O usurio, portanto, no fi ca frente tela do computador apenas quando trabalha com o processo eletrnico, mas em grande parte das outras atividades que realiza, inclusive no mbito pessoal e domstico.

    Considerando essa abrangncia das mudanas enfrentadas pelos usurios do processo eletrnico nas suas ferramentas de trabalho e le-vando em conta tambm a exposio diria ao computador nos espaos de no trabalho do usurio, precisamos buscar alternativas e solues para o problema que nos permitam viver em um ambiente de sade no trabalho e no processo.

    Por isso, no mbito do TRF4, procuramos iniciar uma refl exo so-bre a busca de sade no trabalho e no processo, enfocando trs pontos principais: (a) a busca de uma gesto sustentvel para o nosso trabalho, comeando por tentar nos adaptar para sobreviver quelas mudanas e ento procurar cada vez mais solues de sade no mbito do processo eletrnico; (b) a busca do envolvimento das pessoas, gestores e usu-rios, com a questo, procurando prticas que estimulassem a solidarie-dade e o compartilhamento de solues no trabalho; (c) a busca de um comprometimento hoje para preservar o amanh, procurando estimular a refl exo sobre as nossas escolhas de hoje e seus refl exos sobre as pos-sibilidades do amanh.

    4 A Comisso de Sade e Processo Eletrnico

    Entendemos que a implantao total do processo eletrnico na 4a Re-gio da Justia Federal envolveu dois momentos distintos. Em uma pri-meira etapa (2009-2011), as ferramentas de processo eletrnico foram

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    criadas e implantadas em todas as unidades judicirias, com o grande desafi o que isso representava. Em um segundo momento (2011-2013), tratou-se de estabilizar as ferramentas implantadas e adotar medidas de correo e ajuste dessas ferramentas, procurando trazer conforto ao usurio. O trabalho da comisso surgiu nesse segundo momento, contri-buindo com a administrao e as reas de tecnologia do tribunal nesse sentido.

    Essas refl exes e prticas estiveram sendo constantemente debatidas no mbito da Comisso de Sade e Processo Eletrnico, instituda pela Portaria TRF4 1035, de 13.09.2011, por iniciativa da ento Presiden-te do TRF4, Desembargadora Federal Marga Inge Barth Tessler, para estudo dos impactos do sistema de processo eletrnico sobre a sade dos usurios e para propor medidas para sanar seus efeitos quanto aos usurios internos.3

    Essa comisso foi criada a partir da constatao da necessidade de tratamento dessas questes no mbito da 4 Regio e de pesquisas re-alizadas pelo Sintrajufe e pela Ajufergs sobre o bem-estar no trabalho.

    Integrada por juzes, servidores e representantes sindicais, fruto da convergncia de dois fatores principais: (a) a demanda dos usurios e das entidades de classe por sade no trabalho, que foi resultado de pesquisas feitas por estas junto aos seus associados (juzes e servido-res) e do senso comum dos usurios, que reclamavam e demandavam modifi caes e adaptaes que corrigissem e suprissem as difi culdades iniciais da implantao total do processo eletrnico em todas as unida-des judicirias; (b) a percepo da administrao do tribunal de que era necessrio abrir um espao institucional para que essas demandas fos-sem discutidas e canalizadas para aes concretas que pudessem apon-tar caminhos para enfrentar e mitigar os efeitos da virtualizao sobre as pessoas do Judicirio.

    Com carter multidisciplinar, o trabalho pretendeu mapear os poss-veis problemas e doenas provocados pelo uso do processo eletrnico e

    3 Em outro texto, tivemos oportunidade de apresentar em detalhes a forma de atuao da comisso e as principais medidas propostas e aes executadas no binio 2011-2013 (LEAL JNIOR, Cndido Alfredo Silva. O processo eletrnico e a sade do usurio: a experincia do TRF4 em busca de um processo sau-dvel. Revista de Doutrina da 4 Regio, Porto Alegre, n. 57, dez. 2013. Disponvel em: ). Agora, apenas nos reportamos quele texto, sem repetir aqui o que foi l detalhado.

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    propor aes concretas para evit-los ou mitig-los. Entre os principais objetivos, estavam o aperfeioamento do sistema eletrnico e das suas ferramentas e tambm uma melhor qualidade de vida para os usurios, obrigados a fi car mais tempo expostos ao computador e sujeitos aos efeitos da virtualizao do trabalho.

    A comisso tinha por objetivo que o processo eletrnico fosse me-lhorado, valorizando e resgatando a fi gura do usurio, tornando-o me-nos objeto passivo e mais sujeito ativo desse processo de implantao das mudanas tecnolgicas. A ideia principal era humanizar o processo eletrnico, valorizando o usurio e chamando ateno para a importn-cia de medidas de usabilidade e ergonomia para o desenvolvimento das ferramentas e dos sistemas do processo eletrnico.

    Planejamos realizar o trabalho da comisso em duas etapas, envol-vendo diagnosticar e enfrentar o problema. As medidas adotadas em cada uma dessas etapas eram distintas, mas isso no quer dizer que os momentos tivessem ocorrido de forma sucessiva. Ao contrrio, o tra-balho da comisso era construdo a cada reunio, mesclando refl exo e prtica.

    Em um primeiro momento (refl exo), pretendemos identifi car e ma-pear o problema para examinar o que j tinha sido feito, o que era pro-blemtico e como poderamos pensar em enfrentar essas questes.

    Em um outro momento (prtica), pretendemos debater e adotar me-didas para reduzir e mitigar os efeitos indesejados do processo eletrni-co e buscar sade e qualidade para a vida e para o trabalho do usurio daquelas ferramentas eletrnicas.

    Vamos detalhar um pouco esses distintos momentos.(a) Estudando o problema (primeira fase)

    Principalmente nos primeiros meses de funcionamento (2011), o tra-balho realizado pela comisso teve por objetivo estudar o problema e discutir sobre medidas de proteo da sade dos usurios do processo eletrnico (juzes e servidores). O objetivo era chegar a um processo de trabalho que fosse bom para todos: justo para os cidados e saudvel para os servidores.

    Para tanto, a comisso discutiu e sintetizou sua proposta de trabalho a partir de um planejamento estratgico para sua atuao, estabelecendo

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    formas para pensar um processo justo e saudvel. O grupo pretendeu identifi car e propor medidas para a melhoria do processo eletrnico e da sade dos seus usurios internos, procurando condies para trabalhar bem sem adoecer.

    Queramos um processo justo e saudvel, o que acreditvamos conseguir com a identifi cao e a proposio de medidas para a me-lhoria do processo eletrnico e da sade dos seus usurios internos, permitindo um processo (ferramenta adequada) justo (trabalhar bem) e saudvel (sem adoecer).

    (b) Enfrentando o problema (segunda fase)Em um segundo momento (2012-2013), voltamos nossas atividades

    para a execuo de medidas prticas tentando enfrentar e minorar o problema. Como dito antes, no h uma separao propriamente crono-lgica entre as duas etapas, visto que, ao longo da existncia da comis-so, sempre foram realizadas reunies peridicas em que eram trocadas experincias e feitas refl exes pelos integrantes da comisso, represen-tando diversos setores da administrao e dos usurios.

    Ainda assim, pareceu conveniente separar os dois momentos, res-saltando, na parte de prtica, algumas experincias que adiante sero mencionadas, dentre as quais agora destacamos:

    (a) a execuo das medidas propostas, como foi a incluso da tem-tica sobre os fl uxos de trabalho eletrnico nos gabinetes do TRF4 no programa de desenvolvimento gerencial de 2012; o curso para facili-tadores de ergonomia; o curso de usabilidade para desenvolvedores de tecnologia da informao;

    (b) a discusso do problema alm da comisso, mas dentro da insti-tuio da Justia Federal da 4a Regio, como foi a incluso da temtica no encontro realizado sobre direito previdencirio e juizados especiais federais em Florianpolis, a participao no seminrio sobre o futuro da administrao da Justia realizado pelo TRF4 em Porto Alegre, a parti-cipao no seminrio realizado pela JFRS em Porto Alegre com nfase na Semana da Sade;

    (c) a discusso da temtica com outros rgos pblicos, fora da Jus-tia Federal da 4a Regio, como foi a insero da temtica no eixo res-ponsabilidade social do projeto socioambiental apresentado pelo TRF4

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    na Rio+20, a participao em eventos e palestras no TJ-RS, no TRE-SC e no TRT4, os contatos institucionais e as visitas realizadas ao TRF4 por outros rgos, o comparecimento a reunio da comisso de membro do grupo de trabalho do CNJ sobre sade de juzes e servidores.

    5 Algumas iniciativas da comisso

    O presente texto no pretende detalhar todas as prticas e refl exes feitas no mbito da comisso. Nosso objetivo apenas apresentar um panorama geral do que foi discutido e tratado pela comisso, mostran-do um pouco do trabalho feito, dando mais publicidade temtica e estimulando refl exes para a continuidade do que foi at agora desen-volvido.

    Embora diversas questes tenham sido tratadas ao longo dos encon-tros realizados e muitas delas dependam ainda de mais estudos, apre-sentamos aqui um apanhado geral das principais questes tratadas, dei-xando-as registradas e documentadas para que a refl exo dos usurios e daqueles que tiverem acesso a este texto possa contribuir para que continuem debatidas e aprimoradas.

    (a) nfase e melhoria na usabilidade do e-Proc2Deu-se prosseguimento ao trabalho feito por especialista em usabi-

    lidade, para avaliar, internamente ao sistema e-Proc, o esforo exigido do usurio para a realizao de suas tarefas, mapeando e identifi cando possveis falhas ou defi cincias ergonmicas existentes no sistema. Foi realizado novo estudo sobre usabilidade, avaliando as novas interfaces do e-Proc2 e propondo outras melhorias que devessem ser feitas.

    Apontou-se a necessidade de avanar em direo tambm acessi-bilidade das ferramentas eletrnicas e universalizao dos ambientes de trabalho virtuais, inclusive para permitir que a eles tambm tenham acesso servidores e usurios portadores de necessidades especiais, constatando-se que ainda existe uma srie de obstculos nas ferramen-tas eletrnicas que prejudicam e at mesmo impedem o acesso infor-mao para pessoas cegas e defi cientes visuais.

    Sugeriu-se e realizou-se curso especfi co de usabilidade para a equipe de programadores de informtica do TRF4, permitindo que tais profi ssionais atuassem no desenvolvimento do processo eletr-nico sempre considerando a usabilidade e as demandas dos usurios.

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    Esse curso de Usabilidade de interfaces com o usurio para desenvol-vedores de sistemas de informtica da Justia Federal da 4a Regio teve por objetivo capacitar nossos servidores da rea de tecnologia da informao para criarem programas com uma boa interface com os usurios, o que signifi ca programas mais fceis e tambm mais agra-dveis de utilizar.

    O objetivo dessas medidas era atuar sobre os ambientes virtuais, tor-nando-os mais amigveis e mais confortveis para o usurio, facilitan-do o trabalho e o desempenho das tarefas e rotinas com as ferramentas eletrnicas.(b) Discusso sobre os processos virtuais de trabalho e suas rotinas

    A comisso apontou a necessidade de estudos para avaliar a nova forma de trabalho exigida para dar conta do processo eletrnico, tendo em conta a necessidade de identifi car os efeitos da nova sistemtica (virtual) sobre a fora e as rotinas de trabalho.

    Para comear a repensar o processo e seus fl uxos de trabalho, altera-dos a partir da implantao total do processo eletrnico, foi proposto o mapeamento do processo de trabalho judicirio, contando com auxlio de equipe multidisciplinar com representantes do 1 e do 2 graus de jurisdio, bem assim das reas da educao e do direito. Tal estudo serviria de base para a preparao de cursos direcionados aos gestores, sendo eles mais prticos, colaborando para solucionar as difi culdades vivenciadas no ambiente de trabalho pelos servidores. Tal anlise auxi-liaria, tambm, na adequao da fora de trabalho e das lotaes ideais da 4 Regio, determinando o aceitvel e o necessrio para dar conta das tarefas em cada unidade judiciria.

    Nessa linha de atuao, o TRF4 realizou encontro entre os servido-res das reas judicial e de informtica, para que trocassem experincias e partilhassem conhecimentos. Na oportunidade, apuraram as difi cul-dades no manuseio das ferramentas do e-Proc, e algumas demandas, de fcil soluo, foram resolvidas imediatamente. Outras, que dependiam de programao, foram levadas rea de tecnologia da informao para anlise e futura modifi cao no sistema, se for o caso.

    Alm disso, aproveitou-se o programa de desenvolvimento geren-cial do TRF4 para focar, quanto rea judicial, nas rotinas de trabalho

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    dos gabinetes do TRF4 quanto ao processo eletrnico. O PDG consiste de cursos de aperfeioamento em gesto aos servidores com cargos de direo no TRF, e no ano de 2012 optou-se por tratar do processo ele-trnico. Em uma primeira etapa, o consultor externo contratado (doutor em engenharia de produo) e a respectiva equipe de trabalho realiza-ram visitas aos gabinetes e s secretarias do TRF4, conversando com os assessores e gestores sobre os fl uxos de trabalho do processo eletrnico em cada gabinete. A partir disso, foi elaborado o programa que seria desenvolvido em 2012, em workshops e seminrios com a assessoria dos gabinetes do TRF4.

    A inteno foi desenvolver um processo de ao e refl exo com os gestores, provocando debates e estimulando a formulao de novas pro-postas de melhoria no trabalho com o processo eletrnico. A partir do mapeamento dos fl uxos de trabalho nos gabinetes do TRF4, propiciou-se aos gestores a oportunidade de repensar suas rotinas de trabalho. Os gestores da rea judiciria e da informtica tambm estiveram presentes s ofi cinas de trabalho, podendo colher sugestes e crticas para a me-lhoria das ferramentas do processo eletrnico de modo a atender exata-mente aquelas demandas e difi culdades manifestadas na ocasio pelos gabinetes do TRF4.

    Tambm foi realizado curso de ensino a distncia sobre a constru-o do texto judicirio, pretendendo discutir a construo dos textos judicirios no contexto da Justia Federal de 1 Grau e do Tribunal Regional Federal da 4a Regio (sentenas, acrdos, votos, decises, despachos). Seu objetivo era sugerir refl exes sobre como esses textos so construdos e estimular a troca de experincias e boas prticas em termos de produo textual judiciria, procurando-se compartilhar es-tratgias de escrita e produo textual que pudessem simplifi car e faci-litar o trabalho judicirio cotidiano, mantendo nosso foco na realidade do processo eletrnico e na necessidade de textos claros e planejados para dar conta das novas exigncias da escrita judiciria surgidas com o ambiente virtual de trabalho.

    Foi importante que os usurios refl etissem sobre seus hbitos de es-crita e fi cassem atentos para os processos e as etapas de construo dos textos judicirios e cartorrios diariamente produzidos. muito diferente manusear peties e decises em papel, juntadas aos autos

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    de um processo fsico, e trabalhar com os mesmos textos apresentados em forma eletrnica, visveis apenas a partir da tela do computador. O curso procurou chamar ateno para a importncia de os textos serem construdos de forma consciente, pensando no planejamento prvio e observando as tcnicas de reviso posterior, facilitando assim a leitura pelos usurios que com eles venham a ter contato.

    (c) Incluso da sade nas pautas de eventos e debatesA comisso sugeriu a incluso da temtica de sade no trabalho em

    cursos e eventos para juzes e servidores. A proposta consistia em su-gerir que fossem destinados espaos curtos antes ou durante as progra-maes dos cursos ou eventos, para que um especialista falasse sobre questes atinentes sade no trabalho. Os profi ssionais dariam dicas de bem-estar, trariam problemas e indicaes de solues para resolver os problemas de sade relacionados ao trabalho e discutiriam outros temas pertinentes.

    Embora o tempo destinado participao nos eventos pudesse pa-recer escasso, procuramos aproveit-lo da melhor maneira possvel no sentido de expor a temtica e sensibilizar os presentes. Pareceu-nos que essas pequenas participaes em eventos organizados pela Emagis, pela DRH ou por outros rgos do TRF4 seriam mais proveitosas do que a realizao de evento nico para tratar de sade no trabalho, porque acabamos conseguindo atingir um maior pblico que, muitas vezes, no estaria diretamente interessado em participar de um evento exclusivo sobre sade no trabalho.

    De todas essas atividades em que a comisso se fez representar, de-mos prosseguimento ideia de que as discusses e questes discutidas na comisso fossem levadas a outros gestores e partilhadas com outros setores da Justia Federal da 4a Regio, promovendo constante discus-so dessas questes e procurando gerar uma cultura de sade nas preo-cupaes institucionais da Justia e individuais de cada um.

    Essa busca de outros interlocutores para a temtica da sade no fi cou restrita ao mbito interno da Justia Federal. Procuramos divul-gar as boas prticas realizadas no mbito do processo eletrnico da 4a Regio para outros rgos judicirios, visando a trocar experincias e partilhar com eles boas prticas.

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    (d) Debate e difuso das pausas no trabalhoA comisso chegou a um consenso de que as pausas durante a jorna-

    da de trabalho so importantes para a sade do usurio e se constituem em medida benfi ca para a recuperao da fadiga fsica e mental.

    A comisso debateu exaustivamente o assunto, fomentando a dis-cusso e apontando que a administrao deve oferecer aos servidores e magistrados opes para essas pausas, como, por exemplo, ginstica laboral (j existente na 4 Regio) e criao, nos locais de trabalho, de espao especfi co para pausas.

    A Presidncia do TRF4 acolheu a sugesto de ato normativo reco-mendando as pausas durante a jornada de trabalho (Resoluo TRF4 122, de 16.12.11), sendo tal resoluo homologada pelo Conselho de Administrao do TRF4, com algumas alteraes sugeridas naquele r-go (Resoluo TRF4 23, de 16.03.12). Disso resultou ato normativo vigente no mbito do TRF4, que recomenda a realizao de atividades alternativas, a critrio da chefi a, de 10 minutos para cada 50 minutos trabalhados diretamente no meio eletrnico (artigo 1 da Resoluo TRF4 122/11, na redao que lhe deu a Resoluo TRF4 23/12).

    Esse ato normativo importante e se constitui em um marco, inclu-sive por sua fora simblica, para marcar a importncia das pausas den-tro da jornada de trabalho e servir como ponto de referncia e refl exo quanto temtica.

    Posteriormente, no mbito da comisso, prosseguiu-se a discusso sobre a temtica, resultando na elaborao de nota tcnica, servindo como referncia para marcar o tratamento pioneiro da questo no m-bito da 4a Regio da Justia Federal e contendo amplo levantamento da literatura tcnica a respeito da questo, mostrando evidncias biopsi-cossociais de que a adoo de pausas em situaes de trabalho humano aumenta os ndices de produtividade e bem-estar dos trabalhadores.

    Ainda que a questo deva continuar sendo debatida e cada unidade de trabalho possa buscar as solues apropriadas para dar conta de sua realidade e do respectivo ambiente de trabalho, no h como negar que necessrio adotar pausas de descanso quando se trabalha com o pro-cesso eletrnico e no ambiente virtual, trazendo conforto para o usurio e inclusive melhorando sua produtividade.

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    (e) Melhoria da comunicao interna entre TI e usuriosA comisso examinou os pedidos encaminhados pelos usurios

    Central de Atendimento de Usurios quanto a modifi caes e reclama-es sobre o processo eletrnico. Essas demandas eram importantes porque, quando reiteradas ou repetidas, mostravam pontos crticos dos sistemas, que mereciam ateno dos respectivos desenvolvedores.

    A comisso sugeriu que os pedidos fossem organizados de forma hierarquizada, identifi cando-se aquilo que era prioritrio e urgente, le-vando-se em conta questes de sade e bem-estar do usurio. Feita essa triagem nas demandas, seria possvel identifi car o que poderia ser re-solvido com urgncia e o que deveria ser enfrentado com prioridade por envolver usabilidade e sade dos usurios.

    Foram feitas grandes modifi caes no tocante comunicao aos usurios das mudanas e melhorias feitas no processo eletrnico. A co-misso destacou que no bastava que as melhorias fossem implantadas, sendo imprescindvel que fossem comunicadas de forma clara e efi cien-te aos usurios para que estes, tomando conhecimento das mudanas, pudessem aproveitar seus benefcios. Destacaram-se sempre o traba-lho de traduo das demandas dos usurios e a respectiva prestao de contas (feedback) ao usurio do sistema. Procurou-se que as demandas fossem organizadas e, na medida do possvel, que os destinatrios tives-sem resposta ao que demandaram. O retorno no pode ser dado em lin-guagem tcnica da informtica, mas deve se dar em linguagem simples, acessvel ao usurio comum.

    Um ponto sensvel verifi cado dentro da instituio foi a falta de co-municao interna quanto aos detalhes e s modifi caes do processo eletrnico, bem assim a difi culdade em democratizar o conhecimento relativo forma de realizar as pausas ou de adotar medidas simples ergonmicas e saudveis no ambiente de trabalho, tais como regulagem de monitores e estmulo formao de facilitadores e participao em iniciativas de sade. Nessa linha, procurou-se, em conjunto com a As-sessoria de Comunicao Social do TRF4, realizar algumas campanhas de sensibilizao para melhorar a comunicao interna, por meio de colocao de cartazes, informativos nos painis eletrnicos disponveis nos elevadores, avisos na intranet, entre outras formas de divulgao, procurando explicar mudanas havidas no processo eletrnico (as me-

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    lhorias demandadas que eram implantadas) e tambm sensibilizar para questes como necessidade das pausas, convenincia de regulagem da altura e da luminosidade dos monitores, entre outras.

    Tambm se melhorou bastante a divulgao no prprio sistema de processo eletrnico das alteraes feitas nas rotinas e da disponibiliza-o de novas ferramentas de trabalho ou de customizao do sistema para cada usurio. No bastava que as notcias de melhorias fossem co-locadas em um lugar especfi co do sistema de processo eletrnico, com difi culdade de visualizao e de forma meramente burocrtica. Foi pre-ciso que essa divulgao das melhorias observasse as normas de usabi-lidade, permitindo que seus usurios tomassem conhecimento delas de forma simples, direta e objetiva e, assim, pudessem incorporar em seus hbitos de trabalho essas mudanas havidas no sistema eletrnico.

    No podemos esquecer que as pessoas se habituam ao trabalho, criam hbitos para gerir suas rotinas e seus fl uxos dirios de trabalho, e preciso vencer essa resistncia e essa inrcia decorrentes do hbi-to quando as inovaes so feitas e as melhorias so disponibilizadas. Para isso, importante que as novidades do sistema eletrnico sejam apresentadas de forma direta, mostrando como fazer para aproveit-las e o benefcio de faz-lo. Do contrrio, as modifi caes no so apro-veitadas pelos usurios, que acabam mantendo seus hbitos antigos e deixam de aproveitar as melhorias feitas.

    (f) Difuso de informaes sobre ergonomiaFoi realizado curso de formao de facilitadores de ergonomia e in-

    formtica, que objetivou melhorar as condies no ambiente funcional, capacitando um servidor por local de trabalho para atuar como facilita-dor em conhecimentos bsicos de ergonomia e funcionalidades bsicas de informtica.

    Em uma primeira etapa, o curso abordou temas ligados ao posto de trabalho em um judicirio altamente informatizado. Apresentou concei-tos bsicos de ergonomia, demonstrou como cadeira, mesa e computa-dor podem ser ergonomizados. Apontou as variveis biopsicossociais intervenientes no posto de trabalho e a contribuio da ergonomia para a ponderao entre elas. Exps, ainda, a interface cognitiva nos siste-mas judiciais com a otimizao de procedimentos de acesso aos siste-

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    mas de informtica da 4 Regio.Na segunda etapa, o curso tratou sobre leiaute e otimizao dos sis-

    temas. Apresentou o sistema produtivo de um ambiente de trabalho ju-dicial, a equao de equilbrio entre as variveis de ambincia e huma-nas com vista reduo do sofrimento ou da dor durante a jornada de trabalho. Ainda, abordou as alteraes nas interfaces computacionais, objetivando a reduo do sofrimento ou da dor durante a jornada de trabalho, trabalhou as alteraes possveis e as alteraes necessrias.

    Esse curso estabeleceu uma rede de conhecimento, formando um conjunto de pessoas treinadas e qualifi cadas para orientar, em seus prprios locais de trabalho, colegas e magistrados acerca das medidas saudveis para se conviver com o processo eletrnico e resolver peque-nas demandas de informtica. A indicao de solues simples, como posio do monitor, altura da cadeira, educao postural, utilitrios de informtica, capaz de gerar alteraes no ambiente funcional, cola-borando para a construo de um processo de trabalho mais justo e saudvel.

    (g) Outras medidas sugeridas ou tratadasOutras questes tratadas no mbito da comisso devem ser regis-

    tradas, aproveitando-se agora a oportunidade apenas para enumer-las:(a) estudo de novas tecnologias (ferramentas de visualizao dos

    textos; referenciao dos documentos) e melhor uso das disponveis (fontes para visualizao dos textos eletrnicos; ajuste dos monitores);

    (b) workshop com setores de compras e licitaes, buscando consen-sos e troca de experincias sobre usabilidade, ergonomia e preveno sade, de modo que essas consideraes pudessem orientar compras e licitaes futuras realizadas pela 4 Regio;

    (c) imerso de gestores de reas administrativas e de reas da sade no funcionamento do processo eletrnico judicial, para que conheces-sem as demandas, as rotinas de trabalho e as difi culdades decorrentes do ambiente virtual, permitindo assim que se pense em estratgias de sade para lidar com aquelas demandas dos servidores da rea judici-ria constantemente expostos ao trabalho eletrnico;

    (d) registro escrito das reunies da comisso, fi cando dispon-veis no sistema de processo administrativo do TRF4 (processo SEI

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    11.1.000104783-2), inclusive com estudos, informaes e documentos que se referissem ao trabalho da comisso, permitindo assim que se pu-desse eventualmente dar continuidade ao trabalho e que no se perdes-sem os debates, as recomendaes e as discusses havidos no mbito da comisso nesse binio de 2011-2013.

    Concluses

    Falando das mudanas trazidas pelo processo eletrnico na forma de trabalhar e das consequncias que isso provoca sobre as pessoas que operam as novas ferramentas eletrnicas e passam a se movimentar dentro dos ambientes virtuais, algumas concluses podem ser aponta-das para que o problema comece a ser debatido no mbito da sade dos usurios no Poder Judicirio, a saber:

    (a) existem questes importantes que devem ser pensadas, discutidas e enfrentadas no mbito institucional do Poder Judicirio, que dizem respeito com a qualidade de vida no trabalho e a sade de servidores e magistrados, envolvendo refl exes e estudos sobre como se manter saudvel, como evitar adoecer em decorrncia do trabalho e como agir no presente para proteger o futuro, fazendo com que o trabalho seja fon-te de prazer e realizao, e no apenas causa de sofrimento e desgaste fsico ou psquico;

    (b) essas questes devem ser pensadas e enfrentadas tambm quanto ao processo eletrnico, que est sendo implantado em todas as unidades judicirias e que na Justia Federal da 4a Regio j est universaliza-do, sendo o ambiente virtual e as ferramentas eletrnicas utilizados por praticamente todos os servidores e magistrados para cumprirem suas atribuies e contriburem para a administrao da justia e a prestao jurisdicional. As grandes mudanas decorrentes da virtualizao dos processos judicirios em todas as unidades da 4a Regio, sejam admi-nistrativas, sejam judicirias, impem aos gestores e aos usurios que se dediquem tambm a pensar e a compreender o processo eletrnico, discutindo aquelas mudanas e buscando solues de sade ou de tec-nologia que possam mitigar os efeitos negativos advindos das ferra-mentas eletrnicas ao mesmo tempo em que permitam aproveitar ao mximo os efeitos positivos das novas tecnologias;

    (c) essas questes comeam com a discusso sobre quem seria res-

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    ponsvel pelo enfrentamento desses efeitos da virtualizao dos pro-cessos judicirios, a partir da busca de conciliar o viver bem com o trabalhar bem, que em nosso entendimento responsabilidade no apenas dos usurios (o usurio precisa estar consciente e aceitar ser su-jeito nesse processo), mas tambm da administrao (a instituio deve estar disposta a discutir a questo e tentar encontrar solues). Da que a disposio dos usurios e da administrao para encontrar solues fundamental para que se consigam progressos em termos de sade no trabalho eletrnico. Quando perguntamos de quem a responsabilidade pela sade do magistrado e do servidor, a resposta no pode ser nica. Para conciliar o viver bem com o trabalhar bem, preciso que o usurio esteja consciente e aceite ser sujeito nesse processo, e tambm preciso que a instituio esteja disposta a discutir a questo e tentar encontrar solues;

    (d) a compreenso de todos (usurios e instituio) sermos respon-sveis pelo enfrentamento do problema faz com que a sade deva ser trabalhada a partir de uma dupla perspectiva, j que indivduos e insti-tuio devem agir, porque a sade se concretiza em um plano individual (a sade pensada como questo de cada indivduo, como problema e como fruto das opes de cada um), mas tambm se realiza em um plano institucional (a sade pensada como poltica pblica, fruto das condies de trabalho oferecidas e das opes de gesto feitas pela ad-ministrao);

    (e) ao longo desses dois anos, esperamos que a Comisso de Sade e Processo Eletrnico do TRF4 tenha contribudo para que as demandas relacionadas sade dos usurios do processo eletrnico fossem des-tacadas e enfrentadas, sendo o grande mrito termos dado passos para fortalecer e consolidar uma cultura de sade no trabalho no mbito da Justia Federal da 4a Regio.

    Em suma, as mudanas provocadas no ambiente e nas condies de trabalho pela virtualizao dos processos judicirios so muito gran-des e irreversveis, rompendo com o paradigma do processo fsico e o substituindo por ambiente virtual de trabalho e ferramentas eletrnicas que intensifi cam as exigncias feitas sobre corpo e mente dos usurios, principalmente pelo trabalho constante e repetitivo com a tela, o mouse e o teclado do computador. Essas novas formas de trabalhar precisam

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    ser pensadas e estudadas, buscando-se alternativas e solues para dar conta das novas formas de trabalhar e de como aproveitar o que as no-vas tecnologias tm de positivo e neutralizar o que tm de negativo. O enfrentamento desse problema deve se dar em dois planos, pensando a sade individualmente (problema e fruto das opes de vida de cada um), mas tambm coletivamente (problema de sade pblico e preo-cupao da instituio com as condies de trabalho que oferece). As solues devem ser buscadas pelo indivduo e pela instituio, sendo sempre importante se perguntar sobre o que eu posso fazer para contri-buir para minha sade e o que a instituio pode fazer para contribuir?, buscando assim encontrar alternativas e solues para tentar fazer pre-sente a sade no meu cotidiano e no cotidiano daquelas outras pessoas que esto comigo ou que dependem de mim enquanto gestor. preciso um esforo de cada um e de todos para que o novo processo eletrnico se preocupe com a sade, sendo certo que existem solues e que elas esto ao nosso alcance, mas exigem antes de tudo informao, partici-pao e conscientizao de todos os envolvidos. O usurio precisa estar consciente e aceitar ser sujeito nesse processo, enquanto a instituio precisa estar disposta a discutir e a abrir espaos institucionais e plurais para que essa discusso seja feita e possa mitigar os efeitos ruins e apro-veitar os efeitos bons da virtualizao.

    Por isso nossa convico de que cuidar da sade dos magistrados e dos servidores no mbito do processo eletrnico uma obrigao cons-titucional de todos os gestores, com repercusses diretas sobre a efi ci-ncia do servio pblico e sobre a qualidade da prestao jurisdicional que oferecida sociedade.