efeitos da geração distribuída em sistemas de · pdf filetrabalho de...

116
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ENGENHARIA ELÉTRICA CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA ARAMIS SCHWANKA TREVISAN EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE BAIXA TENSÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2011

Upload: buikhuong

Post on 06-Feb-2018

217 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

ARAMIS SCHWANKA TREVISAN

EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

EM SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE BAIXA TENSÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA

2011

Page 2: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

ARAMIS SCHWANKA TREVISAN

EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

EM SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE BAIXA TENSÃO

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado a disciplina TE105 – Projeto de Graduação, do Curso Superior de Engenharia Elétrica do Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Paraná – UFPR, como requisito para obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Prof. Dr. Alexandre Rasi Aoki

CURITIBA

2011

Page 3: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais
Page 4: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

AGRADECIMENTOS

Gostaria de aproveitar este espaço para agradecer as pessoas que contribuíram

direta ou indiretamente para o desenvolvimento e realização deste trabalho.

Primeiramente gostaria de agradecer minha família, em especial minha mãe,

Cristiane, e meu “pai-dastro”, Gil, não somente pelo apoio direto durante todas as etapas

deste trabalho, mas, também, por, deste cedo, não terem poupado esforços em minha

formação.

Agradecimentos especiais também ao meu orientador, Prof. Dr. Alexandre Rasi

Aoki, por ter acreditado em meu trabalho, ter tido a paciência necessária para me orientar

e ter me motivado durante toda a realização destes estudos.

Um agradecimento especial também ao Prof. Dr. Odilon Tortelli e à Prof. Dra.

Thelma Fernandes, por terem aceitado o convite e, desta forma, terem participado da

banca de avaliação deste trabalho.

Aproveito ainda para agradecer todos os colegas e amigos que estiveram ao meu

lado durante o período da realização deste trabalho, com os quais pude contar com a

ajuda sempre que precisei.

Por fim, gostaria de expressar minha gratidão ao LACTEC, empresa me forneceu

todas as ferramentas necessárias para a realização e conclusão deste trabalho.

Page 5: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

RESUMO

TREVISAN, Aramis Schwanka. Efeitos da Geração Distribuída em Sistemas de

Distribuição de Baixa Tensão. Trabalho de Conclusão de Curso, Departamento

Acadêmico de Engenharia Elétrica - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011.

A geração distribuída vem ganhando importância no mercado de energia, especialmente em países desenvolvidos. Além disso, os crescentes investimentos em fontes renováveis contribuem com a queda nos custos destas tecnologias, como, por exemplo, painéis fotovoltaicos e aerogeradores de pequeno porte, e, ao mesmo tempo, torna-as mais acessíveis aos consumidores finais. A geração distribuída pode apresentar impactos para ambos consumidores e concessionárias de energia uma vez que pode vir a influenciar significativamente o fluxo de potência, o perfil de tensão, a estabilidade e a qualidade da energia elétrica. Por isso, torna-se imprescindível a análise de todos os seus possíveis impactos. Este trabalho apresenta algumas importantes tecnologias da geração distribuída para sistemas de distribuição de baixa tensão e, também, uma visão de normas para a conexão destas fontes ao sistema elétrico. Além disso, fez-se uso de duas diferentes ferramentas de simulação para a investigação dos efeitos da geração distribuída em sistemas de distribuição de baixa tensão sob a perspectiva das concessionárias de energia elétrica. Os resultados destas simulações são, então, comparados com os resultados obtidos em ensaios realizados em um laboratório desenvolvido para este projeto, que considera três diferentes fontes de geração distribuída.

Palavras-chave: Geração distribuída, conexão, qualidade de energia.

Page 6: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

ABSTRACT

TREVISAN, Aramis Schwanka. Impacts of Distributed Generation in Low

Voltage Distribution Systems. Final Paper, Academic Department of Electrical

Engineering – Federal University of Paraná, Curitiba, 2011.

Distributed generation plays an increasing role in the electricity market, especially in developed countries. Furthermore, the growing investments on renewable energy decrease the costs from technologies such as photovoltaic panels and small wind generators and make it accessible to end consumers. The distributed generation can have a significant impact on the power flow, voltage profile, voltage stability and power quality for both consumers and electricity suppliers. Therefore, its introduction to the electrical network requires careful analysis of all potential impacts. This work presents some important technologies of distributed generation sources in low voltage distribution systems as well as an overview of standards for the interconnection of these sources. It also uses two different simulation tools to investigate the impacts of the distributed generation on a low voltage distribution network under the perspective of the electricity suppliers and compare its results with the real results obtained in a laboratory created for this project, which counts with three different distributed generation sources.

Keywords: Distributed generation, interconnection, power quality.

Page 7: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

Lista de Figuras

Figura 1.1 Crescimento da demanda de energia segundo a IEA. ..................................... 11

Figura 1.2 Tendência dos investimentos globais em fontes alternativas de energia elétrica

apresentada no World Energy Outlook 2010. .................................................................... 13

Figura 1.3 a) Sistema elétrico tradicional e b) Sistema elétrico “moderno” com GD. ......... 14

Figura 2.1 Estrutura típica de uma célula fotovoltaica ....................................................... 18

Figura 2.2 Características típicas de tensão-corrente e tensão-potência para painéis

fotovoltaicos (SOLARPOWER, 2011). ............................................................................... 21

Figura 2.3 Potência de saída da célula fotovoltaica versus ângulo de incidência

(WILLIS; SCOTT, 2000) ..................................................................................................... 22

Figura 2.4 Painéis Single e Dual-Axis Tracking. (SWITCH, 2011) ..................................... 23

Figura 2.5 Comparação a potência de saída de uma painel fixo com um Dual-Axis-

Tracked. (SWITCH, 2011) ................................................................................................. 23

Figura 2.6 Crescimento do mercado mundial de PV. (Global Energy Network Institute,

2010).................................................................................................................................. 24

Figura 2.7 Maiores fabricantes mundiais de painéis fotovoltaicos. (Bundesverband

Solarwirtschaft, 2009) ........................................................................................................ 25

Figura 2.8 Diferentes formatos de turbinas eólicas para microaerogeradores. .................. 28

Figura 2.9 Sistemas de utilização de aerogeradores de pequeno porte. ........................... 32

Figura 2.10 Estrutura típica de uma CaC (Engenharia e suas engrenagens, 2011). ......... 33

Figura 2.11 Esquema de construção e funcionamento de uma

microturbina.(Farret;Simões, 2007). .................................................................................. 37

Figura 4.1 Diagrama unifilar do banco resistivo. ................................................................ 67

Figura 4.2 Banco resistivo de 35 kW com disjuntores . ..................................................... 68

Figura 5.1 Modelo completo do laboratório em ambiente SIMULINK do MATLAB. ........... 71

Figura 5.2 Linha de tempo dos eventos da simulação no MATLAB. ................................. 73

Figura 5.3 Tensão em pu e Corrente em A nos terminais das cargas elétricas. ................ 74

Figura 5.4 Tensão em pu e corrente em A nos terminais da microturbina......................... 75

Figura 5.5 Sinal de entrada do painéis fotovoltaicos. ........................................................ 76

Figura 5.6 Tensão em pu e corrente em A nos terminais do sistema fotovoltaico ............. 76

Figura 5.7 Tensão em pu e corrente em A medidos nos terminais da rede....................... 77

Figura 5.8 Efeitos da conexão da microturbina como fonte de GD. ................................... 78

Figura 5.9 Efeitos da conexão do sistema fotovoltaico como fonte de GD. ....................... 79

Figura 5.10 Efeitos da conexão da CaC como fonte de GD. ............................................. 80

Page 8: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

Figura 5.11 Ambiente para simulação de condições operacionais do DIgSILENT. ........... 81

Figura 5.12 Monitor da bancada de medição do laboratório de estudos da GD. ............... 86

Figura 5.13 Linha do tempo com indicação dos eventos da primeira etapa do ensaio. ..... 87

Figura 5.14 Correntes (em A) em cada uma das fases da microturbina. ........................... 88

Figura 5.15 Correntes (em A) em cada umas das fases da CaC. ..................................... 89

Figura 5.16 Corrente (em A) de cada uma das fases do sistema fotovoltaico. .................. 90

Figura 5.17 Corrente (em A) em cada uma das fases das cargas elétricas. ..................... 91

Figura 5.18 Tensão (em V) em cada uma das fases da rede no ponto de conexão. ......... 92

Figura 5.19 Corrente (em A) em cada uma das três fases da rede no ponto de conexão da

fontes de GD. ..................................................................................................................... 93

Figura 5.20 Linha de tempo com indicação dos eventos da segunda etapa do ensaio. .... 96

Figura 5.21 Corrente (em A) nas três fases da MT com desconexão. ............................... 97

Figura 5.22 Corrente (em A) nas três fases da CaC com desconexão. ............................. 98

Figura 5.23 Corrente (em A) nas três fases do sistema fotovoltaico com desconexão. .... 99

Figura 5.24 Corrente (em A) das três fases da carga elétrica. ........................................ 100

Figura 5.25 Tensão (em V) das três fases da rede no ponto de conexão da GD. ........... 101

Figura 5.26 Corrente (em A) nas três fases da rede no ponto de conexão da GD. ......... 102

Figura 5.27 Transitório de entrada do sistema fotovoltaico na tensão da rede. ............... 105

Figura 5.28 Transitório na tensão da rede no momento da conexão e estabilização da

CaC.................................................................................................................................. 106

Page 9: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

Lista de Tabelas

Tabela 2.1: Eficiência teórica e obtida em testes práticos das principais tecnologias

utilizadas para a fabricação de células fotovoltaicas (FARRET; SIMÕES, 2006). ............. 19

Tabela 2.2: Comparação de painéis fotovoltaicos de diferentes fabricantes. .................... 26

Tabela 2.3: Principais fabricantes de microturbinas do mercado americano. .................... 40

Tabela 3.1: Tempos de detecção e interrupção da energização de acordo com a faixa de

tensão (IEEE 1547, 2003). ................................................................................................. 55

Tabela 3.2: Tempos de detecção e interrupção de energização de acordo com a faixa de

frequência (IEEE 1547, 2003). ........................................................................................... 56

Tabela 4.1: Características elétricas do transformador de distribuição.............................. 58

Tabela 5.1: Resultados da primeira simulação. ................................................................. 83

Tabela 5.2: Resultados da segunda simulação. ................................................................ 83

Tabela 5.3: Resultado da terceira simulação. .................................................................... 84

Tabela 5.4: Resultado da quarta simulação. ...................................................................... 85

Page 10: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

SUMÁRIO

1 Introdução...............................................................................................................11

1.1 Contexto .......................................................................................................... 11

1.2 Objetivos ......................................................................................................... 14

1.3 Justificativa ...................................................................................................... 15

1.4 Estrutura da monografia .................................................................................. 16

2 Geração distribuída em baixa tensão .....................................................................17

2.1 Introdução ....................................................................................................... 17

2.2 Painéis fotovoltaicos ........................................................................................ 17

2.2.1 Princípio de geração de energia elétrica e tecnologias ............................ 17

2.2.2 Principais características de células e painéis fotovoltaicos .................... 20

2.2.3 Mercado de células e painéis fotovoltaicos e principais fabricantes ........ 24

2.3 Aerogeradores de pequeno porte .................................................................... 26

2.3.1 Princípios de geração e tecnologias ........................................................ 26

2.3.2 Mercado de aerogeradores de pequeno porte e principais fabricantes ... 29

2.4 Células a combustível ..................................................................................... 32

2.4.1 Princípios de geração e tecnologias ........................................................ 32

2.4.2 Mercado e fabricantes de CaCs ............................................................... 35

2.5 Microturbinas ................................................................................................... 36

2.5.1 Princípios de geração e tecnologias ........................................................ 36

2.5.2 Mercado e fabricantes de microturbinas .................................................. 39

2.6 Considerações finais do capítulo ..................................................................... 40

3 Efeitos e requisitos da conexão de GD em baixa tensão .......................................42

3.1 Introdução ....................................................................................................... 42

3.2 Efeitos da GD em sistemas de baixa tensão ................................................... 42

3.2.1 Afundamentos de tensão ......................................................................... 44

3.2.2 Interrupções curtas .................................................................................. 44

3.2.3 Interrupções longas .................................................................................. 45

Page 11: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

3.2.4 Picos de tensão ........................................................................................ 45

3.2.5 Ondulações de tensão ............................................................................. 45

3.2.6 Distorções harmônicas ............................................................................. 46

3.2.7 Flutuações de tensão ............................................................................... 47

3.2.8 Ruídos ...................................................................................................... 47

3.2.9 Desequilíbrio de tensão............................................................................ 47

3.3 Requisitos de conexão de GD em baixa tensão .............................................. 48

3.3.1 Procedimentos de Distribuição - PRODIST .............................................. 48

3.3.2 Norma IEEE 1547 para interconexão de GD ao sistema elétrico ............. 54

3.4 Considerações finais do capítulo ..................................................................... 57

4 Laboratório para estudo da GD ..............................................................................58

4.1 Introdução ....................................................................................................... 58

4.2 Componentes do laboratório ........................................................................... 58

4.2.1 Microturbina a gás natural ........................................................................ 60

4.2.2 Sistema fotovoltaico ................................................................................. 63

4.2.3 Célula à Combustível ............................................................................... 65

4.2.4 Cargas elétricas ....................................................................................... 67

4.3 Considerações finais do capítulo ..................................................................... 68

5 Análises computacionais e verificações laboratoriais .............................................70

5.1 Introdução ....................................................................................................... 70

5.2 SimulaÇões computacionais no MATLAB ....................................................... 70

5.3 Simulações de condições operacionais com o DIgSILENT ............................. 80

5.4 Ensaios realizados nos laboratório para estudos da GD ................................. 85

5.5 Considerações finais do capítulo ................................................................... 106

6 Conclusões e trabalhos futuros ............................................................................108

6.1 Considerações finais ..................................................................................... 108

6.2 Trabalhos futuros .......................................................................................... 110

7 Referências bibliográficas ....................................................................................112

Page 12: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

11

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTO

Diversas forças e tendências existem e atuam sobre a nossa sociedade de

forma a fazer com que a mesma procure estar sempre em evolução. O mesmo

acontece com o sistema elétrico. A identificação e a análise destas forças e

tendências permitem um diagnóstico da situação atual e uma criação de prováveis

cenários para um futuro próximo, e até para o longo prazo, de modo a viabilizar

ações que visam a consolidação do cenário desejável para o sistema elétrico.

A demanda por energia elétrica, por exemplo, é objeto de estudo constante

de diversos institutos de pesquisa. A Agência Internacional de Energia – IEA (do

inglês, International Energy Agency) divulgou recentemente o resultado de um de

seus estudos a respeito do crescimento da demanda mundial de energia elétrica.

Esse estudo da IEA apontou uma tendência de forte crescimento para a demanda

de energia: até o ano de 2030, estima-se um crescimento em torno de 45% desta

demanda. A Figura 1.1 a seguir apresenta este resultado em forma gráfica, para as

diversas fontes de energia, todas convertidas para a mesma unidade, Mtoe - milhões

de toneladas de óleo equivalente.

Figura 1.1 Crescimento da demanda de energia segundo a IEA.

Page 13: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

12

Além da tendência do forte crescimento da demanda por energia elétrica,

percebe-se também, atualmente, uma atenção muito grande dada à qualidade da

energia elétrica por parte das agências reguladoras, das concessionárias de energia

elétrica e dos consumidores dessa energia. Deve-se destacar aqui o importante

papel que a qualidade da energia elétrica desempenha, primeiramente, nas

questões de segurança (não somente de equipamentos, mas também de vidas) e na

atração de novos e grandes investimentos.

A eficiência energética é outro termo fortemente atrelado ao sistema elétrico,

que o tem influenciado e que deverá continuar influenciando bastante. Em um

mundo no qual perdas se tornam cada vez menos aceitáveis, nota-se um enorme

esforço por parte das empresas de energia na busca pela otimização de seus

sistemas, através de uma operação ótima dos mesmos e do planejamento adequado

de suas reestruturações e novas redes.

Por fim, e não menos importante, pressões ambientais têm modificado e

devem continuar modificando dentro dos próximos anos de forma considerável a

estrutura do sistema elétrico. Cada vez mais se fala na redução da emissão de

gases poluentes e os investimentos na viabilização de fontes alternativas para a

geração de energia continuam batendo recorde ano após ano de crescimento. Os

termos “energia limpa” e “energia verde” já estão mundo afora consolidados para

representar a geração sem emissões poluente, sendo que vários países já

apresentaram metas ousadas para substituição de grande parte da geração de

energia elétrica baseada em combustíveis fósseis.

A Figura 1.2 foi retirada do relatório do World Energy Outlook 2010, uma

publicação anual da IEA amplamente reconhecida por suas análises e projeções na

área de energia, e apresenta a tendência dos investimentos globais neste setor de

energias alternativas. Como pode ser percebido através dessa figura, os

investimentos nessa área devem sofrer forte crescimento nos próximos anos, ainda

sem expectativas de diminuição.

Page 14: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

13

Figura 1.2 Tendência dos investimentos globais em fontes alternativas de energia elétrica

apresentada no World Energy Outlook 2010.

Verificadas estas forças e tendências que determinam a forma como o

sistema elétrico deve se alterar dentro dos próximos anos, buscando convergir

alguns dos aspectos acima levantados como a diminuição de perdas, o aumento da

qualidade e da eficiência da energia, bem como a redução da emissão de gases

poluentes, desponta então a geração distribuída como uma possível solução para

alguns dos problemas levantados.

Por definição, geração distribuída (GD) é, segundo Instituto Nacional de

Eficiência Energética - INEE, “uma expressão usada para designar a geração

elétrica realizada junto ou próxima do(s) consumidor(es) independente da potência,

tecnologia e fonte de energia”. Uma outra definição, de certa forma coincidente com

a do INEE, porém interessante pelo fato de citar a conexão de fontes no sistema do

consumidor é a de Kreith e Goswami (2007) que afirma que a GD “pode ser definida

como uma geração de energia elétrica conectada ao sistema de distribuição ou à

rede do consumidor (...)”. Para a consolidação destas definições e melhor

entendimento do conceito e do princípio da GD, bem como para também permitir

uma melhor visualização do novo conceito de sistemas elétricos com GD, apresenta-

se na Figura 1.3 duas imagens: a) o que se conhece como sistema elétrico

tradicional, com a geração, a transmissão, a distribuição e o consumo da energia

facilmente separáveis e identificáveis; e b) um sistema elétrico “moderno” já com a

operação em paralelo de outras fontes de geração conectadas no nível dos

consumidores.

Page 15: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

14

Figura 1.3 a) Sistema elétrico tradicional e b) Sistema elétrico “moderno” com GD.

Deve-se ressaltar que a GD não está vinculada a determinada fonte

específica de energia. Entretanto, conforme exposto anteriormente, percebe-se

crescentes incentivos às fontes alternativas de energia. Em diversos países

europeus, por exemplo, a injeção de energia elétrica na rede, proveniente de painéis

fotovoltaicos e aerogeradores de pequeno porte, já existe e é, inclusive, uma

atividade incentivada pelos próprios órgãos governamentais para que metas de

redução de gases poluentes sejam atingidas. Nestes países, o consumidor já deixou

de ser um elemento passivo da rede e tornou-se, desta forma, um elemento ativo do

sistema elétrico. Isto reforça a ideia de que a GD não é mais apenas objeto de

estudo, mas, sim, realidade.

1.2 OBJETIVOS

Dado que a GD já é realidade em diversos países e deve ser uma realidade

muito próxima do sistema elétrico brasileiro, torna-se necessário um estudo para um

levantamento dos impactos que a inserção destas novas unidades geradoras pode

apresentar sobre o sistema elétrico atual. Definiu-se, portanto, neste trabalho, o

objetivo geral como sendo o de identificar os principais efeitos da inserção da GD

sobre o sistema de distribuição de baixa tensão sob o ponto de vista das

Page 16: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

15

concessionárias de energia elétrica. Para se atingir este objetivo, foram seguidas as

seguintes etapas:

• Estudo sobre o estado da arte da GD em sistemas de baixa tensão.

• Estudo das diferentes fontes e tecnologias de GD e verificação de suas

principais características, tendências de evolução e apontamento dos

principais fabricantes.

• Levantamento dos aspectos da qualidade de energia elétrica que estão

fortemente relacionados com a GD.

• Estudo conceitual sobre os possíveis efeitos da GD em sistemas de

distribuição de baixa tensão.

• Verificação destes efeitos em simulações computacionais e em

laboratório.

1.3 JUSTIFICATIVA

Conforme mostra a Figura 1.2, apresentada na conferência mundial World

Energy Outlook 2010 vê-se atualmente a presença de grandes investimentos na

viabilização de fontes alternativas de energia. Isto deve resultar a curto prazo em

uma redução dos investimentos necessários para a instalação de pequenas

unidades geradoras no sistema de baixa tensão.

Em países mais desenvolvidos, nos quais o incentivo governamental para a

instalação de fontes alternativas de energia já existe e o poder aquisitivo dos

cidadãos é superior ao do Brasil, já se vê um crescimento acentuado na potência

instalada de unidades geradoras nos níveis de tensão de distribuição. Estas

unidades são, em sua maioria, painéis fotovoltaicos.

A partir do momento em que estas pequenas unidades geradores passam a

representar uma parcela significativa da energia gerada em determinada região,

torna-se necessário, do ponto de vista das concessionárias, o estudo das

características desta geração, uma vez que estas diferem da geração centralizada,

tradicionalmente oferecida pelas concessionárias. Há, portanto, uma grande

necessidade de se investigar os efeitos que a GD deve apresentar sobre o sistema

de distribuição.

Page 17: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

16

Assim, este trabalho visa apontar as principais características destas novas

unidades geradoras, apontar suas vantagens e desvantagens sob o ponto de vista

da concessionária e também do consumidor e, acima de tudo, investigar os

principais efeitos que a conexão em grande escala destas unidades pode vir a

apresentar sobre o sistema de distribuição atual, com foco na baixa tensão. Desta

forma, pretende-se, ao final, oferecer um conjunto de informações importantes sobre

os efeitos da GD que possam num futuro próximo subsidiar ações (entenda-se aqui,

adaptações e reestruturações) que deverão ser necessárias nos sistemas elétricos

para que estes possam suportar a ascensão da GD.

1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

No capítulo introdutório deste trabalho de conclusão de curso, apresenta-se

o problema a ser abordado bem como seu contexto e o objetivo geral destes

estudos. Em seguida, no segundo capítulo, faz-se uma revisão bibliográfica a

respeito das principais tecnologias de GD de forma a apresentar, de forma clara,

qual é o estado da arte da GD e suas principais tendências.

No terceiro capítulo, faz-se uma revisão bibliográfica e normativa a fim de

apontar quais são os principais efeitos da conexão da GD nas redes elétricas e

quais são os requisitos para esta conexão, com foco nas redes de baixa tensão.

O quarto capítulo apresenta os materiais e os métodos a serem utilizados de

forma a verificar primeiramente de forma computacional e posteriormente de forma

prática, em laboratório, os efeitos da conexão de GD em redes de distribuição de

baixa tensão. Estas simulações, ensaios, seus resultados e suas análises são,

portanto, conteúdo do quinto capítulo deste trabalho.

Finalmente, descreve-se estes resultados sucintamente de forma a viabilizar

a apresentação das conclusões deste trabalho. O sétimo aponta possibilidades para

a continuação destes estudos, enquanto o oitavo, último capítulo, contém as

referências bibliográficas que deram suporte à construção destes estudos.

Page 18: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

17

2 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM BAIXA TENSÃO

2.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo serão apresentadas as principais tecnologias de geração

distribuída de pequeno porte que possuem aplicação em redes de distribuição de

energia elétrica em baixa tensão. Destacam-se os sistemas formados por painéis

fotovoltaicos, aerogeradores de pequeno porte, células a combustível e

microturbinas.

2.2 PAINÉIS FOTOVOLTAICOS

2.2.1 Princípio de geração de energia elétrica e tecnologias

Painéis fotovoltaicos (PV) são capazes de converter a energia luminosa

(geralmente proveniente do sol) diretamente em energia elétrica. Para tal faz-se uso

do conhecido efeito fotovoltaico, cuja descoberta, de acordo com McLean-Conner

(2009), data do ano de 1839 e deve-se a Alexandre-Edmond Bequerel. Entretanto as

primeiras células fotovoltaicas foram somente construídas anos mais tarde, em

1883, por Charles Fritts, que utilizou camadas extremamente finas de ouro para

cobrir o selênio semicondutor.

Segundo Willis e Walter (2000) as células fotovoltaicas (também conhecidas

como células solares ou, do inglês, Solar Cells), conhecidas por serem capazes de

converter a energia luminosa em energia elétrica, ou seja, nas quais se verifica o

efeito fotovoltaico, são materiais semicondutores nos quais são formadas junções p-

n, capazes de gerar energia elétrica quando submetidas a ondas luminosas

geralmente com comprimentos de onda com valores próximos aos da luz solar.

De acordo com Farret e Simões (2006) a eficiência da conversão de energia

luminosa em energia elétrica por parte desses materiais semicondutores atualmente

varia de 3 a 31% e é função da tecnologia presente no material semicondutor, do

espectro da luz incidente, da temperatura e do formato da célula. Estes autores

explicam ainda que as células fotovoltaicas podem ser entendidas basicamente

Page 19: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

18

como baterias de baixa tensão (aproximadamente 0,6 V) que são constantemente

recarregadas de forma proporcional à incidência luminosa sobre a superfície das

células. Para se obter valores mais altos de tensão e de corrente, as células

fotovoltaicas são então conectadas em série e em paralelo, respectivamente,

formando o que vem a ser chamado e vetor fotovoltaico (em inglês photovoltaic

array), base dos PV.

A estrutura de uma célula fotovoltaica é bastante fácil de ser entendida. As

células comercializáveis geralmente são construídas sobre uma camada de metal e

cobertas por uma camada de vidro (com baixo coeficiente de reflexão) de forma a

proteger a célula do tempo e de materiais e substâncias que podem ser encontrados

na atmosfera. A “parte ativa” da placa é formada por duas finas camadas de

materiais semicondutores, uma dopada do tipo n sobre uma outra dopada do tipo p,

que forma a já mencionada junção p-n, na qual se verifica o efeito fotovoltaico.

Sobre essas camadas de semicondutores há um grid metálico responsável por

conectar as células em série e em paralelo em um painel e coletar a corrente para

um circuito externo. Sobre esta camada metálica há geralmente uma outra de um

material anti-reflexivo que geralmente reduz as perdas por reflexão a valores abaixo

de 5%. Toda esta estrutura pode ser visualizada na Figura 2.1 a seguir.

Figura 2.1 Estrutura típica de uma célula fotovoltaica

Diferentes tecnologias podem ser utilizadas para a fabricação de células

fotovoltaicas. Segundo Guarizi (2010), atualmente a tecnologia mais empregada é a

baseada em Silício Poli-e Mono-cristalino, respectivamente poli-Si e mono-Si, que

representa cerca de 95% de todas as células fotovoltaicas existentes no mercado.

Além desta, existem também tecnologias baseadas em Silício Amorfo, a-Si, em

Page 20: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

19

Telureto de Cádmio, CdTe, e em Cobre-Índio-Selenídio, CIS, também conhecidas

comercialmente como células de filme fino, com participações respectivamente de

3,7%, 1,1% e 0,2% no mercado de células fotovoltaicas mundial.

Vale neste ponto também a ressalva de que existem também células

fotovoltaicas baseadas em Arsenieto de Gálio, AsGa, com ótimas características

elétricas e alto rendimento (cerca de 28%). Estas apresentam, entretanto, altos

custos de fabricação tornando sua produção comercial praticamente proibitiva e

sendo utilizadas somente em satélites artificiais.

Conforme acima citado, para o caso das células fotovoltaicas baseadas em

tecnologias de Arsenieto de Gálio, os materiais utilizados na fabricação das células

determinam seu custo e sua eficiência da transformação fotovoltaica η. Este valor

representa uma relação entre a potência elétrica e a irradiação incidente sobre a

célula e é definido como:

� =����

�.

(2.1)

onde PMax é a potência elétrica em watts (W) no ponto máximo de fornecimento da

célula, A é a área em metros quadrados (m2) efetivamente ocupada pelo material

semicondutor e I a intensidade da irradiação solar incidente sobre a área efetiva da

célula em por metro quadrado (W/m2).

A Tabela 2.1 apresenta para as principais tecnologias atualmente utilizadas

para a fabricação de células fotovoltaicas suas eficiências de transformação

fotovoltaica teórica e a realmente praticada em testes, bem como a eficiência de

painéis construídos com essas tecnologias em função da área dos semicondutores.

Tabela 2.1: Eficiência teórica e obtida em testes práticos das principais tecnologias utilizadas para a fabricação de células fotovoltaicas (FARRET; SIMÕES, 2006).

Tipo Eficiência teórica Testes práticos Módulos

cm2 η (%) η (%) cm2

η (%)

Silício Monocristalino (Si) 4 29 23 100 15-18

Silício Policristalino (Si) 4

18 100 12-18

Silício Amorfo (a-Si) 1 27 12 1000 5-8

Arsenieto de Gálio (GaAs) 0,25 31 26

Cobre-Índio-Selenídio (CIS) 3,50 27 17

Telureto de Cádmio (CdTe) 1 31 16

Interessante é, também, manipular a equação (2.1) da eficiência da

transformação fotovoltaica, multiplicando numerador e denominador pelo tempo.

Page 21: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

20

Desta forma pode se obter uma relação direta entre a energia elétrica gerada em

determinado período EE (por exemplo, um dia) e a energia solar incidente no mesmo

período de tempo ES sobre o painel, conforme a equação a seguir:

� = �. �. � (2.2)

2.2.2 Principais características de células e painéis fotovoltaicos

Deve-se ressaltar novamente aqui que a potência de saída de um painel

fotovoltaico não depende somente do material semicondutor utilizado na fabricação

das células fotovoltaicas, que reflete na eficiência da transformação fotovoltaica η,

da área efetiva sobre a qual a energia luminosa incide e da energia incidente,

conforme a equação anterior pode levar a acreditar. Segundo Farret e Simões

(2006), a potência de saída de um painel fotovoltaico depende também, como

anteriormente citado, de outros fatores, dentre os quais estão: a temperatura

ambiente, o ângulo de incidência da luz sobre as células e as condições ambientes.

De acordo com estes autores, as células são testadas a temperaturas

ambientes de 25 °C. Entretanto observa-se na prática que a potência de saída tende

a diminuir com o aumento desta temperatura, verificando-se geralmente uma queda

no valor de tensão maior do que um aumento no valor da corrente. Fala-se, portanto,

em quedas que vão de 0,16 a 0,33% na potência de saída para cada grau Celsius

que se aumenta, acima do valor para o qual o painel foi testado. Além disso, verifica-

se também na prática que painéis fotovoltaicos apresentam também quedas na

potência de saída para temperaturas bem frias.

A Figura 2.2 apresenta curvas típicas para a relação entre tensão-corrente e

tensão-potência de painéis fotovoltaicos. O valor de tensão máximo é obtido para o

caso no qual não há corrente e, portanto, é conhecido como “tensão em circuito

aberto” VOC. Por outro lado, a corrente máxima que o painel é capaz de produzir se

dá para uma tensão igual a 0 V e portanto é conhecido como “corrente de curto-

circuito” ICC.

Page 22: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

21

Figura 2.2 Características típicas de tensão-corrente e tensão-potência para painéis

fotovoltaicos (SOLARPOWER, 2011).

É interessante verificar a partir da Figura 2.2 que qualquer aumento no valor

de corrente, ocasionado, por exemplo, devido a um aumento da energia luminosa

incidente sobre o painel fotovoltaico, resulta em uma redução da tensão de saída do

painel. Além disto, a Figura 2.2 mostra também uma característica típica dos painéis

fotovoltaicos: estes, em sua maioria, geram uma tensão de circuito aberto

geralmente com um fator 1,5 maior do que a tensão ótima de operação, para a qual

se obtém a potência máxima de saída. Não somente isto, é possível verificar

também que para grande parte da curva, há uma característica praticamente “plana“

para a relação tensão-corrente.

A Figura 2.3 apresenta outro detalhe importante dos painéis fotovoltaicos: a

potência de saída destes depende também do ângulo de incidência da energia

luminosa sobre o painel. É possível verificar a partir desta figura que a potência de

saída descreve praticamente uma curva senoidal em função do ângulo de incidência

e apresenta, portanto, um máximo para uma incidência de energia perpendicular ao

painel.

Page 23: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

22

Figura 2.3 Potência de saída da célula fotovoltaica versus ângulo de incidência

(WILLIS; SCOTT, 2000)

A partir deste conhecimento, de que o ângulo de incidência é fator

determinante na potência de saída, desenvolveram-se estruturas diferentes para os

painéis fotovoltaicos, que permitem um melhor aproveitamento da energia luminosa.

O painel mais simples é o fixo, que como o nome já diz, não permite nenhum tipo de

variação de sua posição e inclinação, que não seja manual. Em contrapartida, outros

dois tipos de painéis se destacam em questão de aproveitamento da energia

luminosa. O primeiro deles é o painel Single-Axis Tracking que permite ajustar a

inclinação do painel em um eixo de rotação. Desta forma é possível alterar a

inclinação do painel de acordo com a hora diária de forma a permitir que a incidência

da energia luminosa fique mais próxima possível da incidência perpendicular. Além

deste, existem também painéis Dual-Axis Tracking que permitem o ajuste da

inclinação do painel em dois eixos de rotação, apresentando desta forma uma

possibilidade de se obter quase sempre uma incidência perpendicular da energia

luminosa e, com isso, um aproveitamento quase ótimo da energia solar. Estes

diferentes tipos de painéis podem ser visto na Figura 2.4.

Page 24: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

23

Figura 2.4 Painéis Single e Dual-Axis Tracking. (SWITCH, 2011)

Por fim, é possível comparar a eficiência de painéis fixos com painéis Dual-

Axis Tracked a partir da Figura 2.5 Como se pode verificar, o painel que permite

ajuste em dois eixos de rotação apresenta um aproveitamento muito maior da

energia solar do que o painel fixo.

Figura 2.5 Comparação a potência de saída de uma painel fixo com um Dual-Axis-

Tracked. (SWITCH, 2011)

Outro detalhe importante do funcionamento de painéis fotovoltaicos é citado

e descrito por Willis e Scott (2000). De acordo com estes autores, se parte de um

painel for coberto por alguma sombra, as células fotovoltaicas cobertas pela sombra

Page 25: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

24

deixarão de gerar energia elétrica e, além disso, se tornarão, do ponto de vista das

células não cobertas pela sombra, cargas resistivas que degradarão a eficiência do

painel. Para evitar este cenário, os painéis fotovoltaicos atualmente comercializados

apresentam, além das células fotovoltaicas, também circuitos construídos com

diodos, de tal forma a evitar e reduzir este tipo de efeito.

2.2.3 Mercado de células e painéis fotovoltaicos e principais fabricantes

O mercado mundial de painéis fotovoltaicos está bastante aquecido com um

forte aumento da fabricação destes painéis verificado a partir do ano de 2003 e

2004, como pode ser observado na Figura 2.6 a seguir. Este aumento se deve, em

sua grande parte, a incentivos dados às tecnologias de geração de energias

renováveis, principalmente pelas principais potências mundiais, desde a assinatura

do Protocolo de Kyoto em 1998.

Figura 2.6 Crescimento do mercado mundial de PV. (Global Energy Network Institute, 2010)

Este crescimento permitiu o aparecimento de grandes fabricantes mundiais

deste tipo de tecnologia. Atualmente, já existem diversos fabricantes de painéis

fotovoltaicos espalhados pelo mundo, entretanto nenhum brasileiro. Porém, segundo

a associação federal de indústria solar da Alemanha, a Bundesverband

Solarwirtschaft, existem mundialmente dez grandes fabricantes de painéis

fotovoltaicos que dominam grande parte deste mercado. Estes podem ser vistos na

Figura 2.7 a seguir.

Page 26: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

25

Figura 2.7 Maiores fabricantes mundiais de painéis fotovoltaicos. (Bundesverband

Solarwirtschaft, 2009)

Vale a ressalva de que um painel fotovoltaico não é composto somente

pelas células fotovoltaicas. Outro equipamento importante pertencente ao conjunto é

o Inversor. Este é responsável pela conversão desta energia, gerada em tensão

contínua, em tensão alternada com níveis da rede.

Outro detalhe importante dos painéis fotovoltaicos refere-se a sua

montagem. De acordo com um famoso portal de internet alemão de energia solar, o

Photovoltaiko, criado com o intuito de levar informações importantes a respeito desta

tecnologia à população, existem basicamente quatro tipos diferentes de formas de

montagem de painéis fotovoltaicos, sendo estas: montadas sobre telhados de casas

(geralmente depois que o telhado já foi construído), montadas como parte de

telhados, montada na fachada de casas e edifícios e, por último, no solo em espaços

reservados a esses tipos de instalações.

Por fim, para efeitos de comparação, construiu-se a seguinte tabela

comparativa de painéis fotovoltaicos de diferentes fabricantes, cujos dados foram

disponibilizados pelos próprios fabricantes em seus catálogos de produtos, na qual é

Page 27: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

26

possível verificar as características elétricas, os tamanhos e as eficiências dos

mesmos.

Tabela 2.2: Comparação de painéis fotovoltaicos de diferentes fabricantes.

Painel Tensão [V]

Corrente [A]

Largura [mm]

Comprimento [mm]

Eficiência [%]

Siemes/Shell 12 6,67 528 1199 12,64 Siemes/Shell 12 1 405 305 9,71 Fadisol 12 3 900 539 7,42 Phaesun UPE 45 12 3,75 826 526 10,16 Kyocera KC40 16,9 2,37 526 652 11,66 SunPower SPR-90 17,7 5,08 1038 527 16,45

2.3 AEROGERADORES DE PEQUENO PORTE

2.3.1 Princípios de geração e tecnologias

Conforme abordado por Willis e Scott (2000) a humanidade tem mais

experiência com a energia eólica do que com qualquer outro tipo de energia.

Milênios antes da concepção dos motores a combustão, a humanidade já utilizava a

energia proveniente do vento para mover barcos, girar moinhos e bombear água. No

entanto, apenas com o advento da energia elétrica a partir do século XIX, começou-

se a pensar em produzir energia elétrica a partir da energia cinética do vento. De

acordo com o dicionário de bibliografias da Universidade de Oxford, o primeiro

registro de conversão de energia eólica para elétrica pertence a James Blyth, que no

ano de 1887 criou um gerador eólico sobre uma torre de aproximadamente dez

metros para produzir energia para carregar alguns acumuladores de iluminação de

sua casa de férias. Todavia, o custo de produção de energia elétrica a partir da

conversão da energia eólica demorou muito para se tornar competitivo e o

aquecimento no mercado para este setor de geração se deu apenas nas últimas

décadas, fortalecido com o incentivo global dado à geração de energia a partir de

fontes renováveis.

Inicialmente, no âmbito da geração de energia elétrica, foram os

aerogeradores de grande porte que começaram a ganhar importância. Entretanto,

atualmente, fala-se já a respeito da conexão de aerogeradores de pequeno porte na

Page 28: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

27

rede elétrica, em especial nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, como,

por exemplo, Alemanha e Portugal, onde há incentivo por parte do governo para a

injeção de energia “limpa” na rede. Nestes países a geração de energia elétrica em

casa a partir de pequenas turbinas eólicas já é realidade.

A Comissão Eletrotécnica Internacional IEC (do inglês International

Electrotechnical Commission) definiu aerogeradores de pequeno porte (small Wind

turbines) na norma IEC-NORM 61400-2:2006 como sendo os aerogeradores cuja área

varrida pelo rotor da turbina é igual ou menor do que 200 m2. Ainda nesta linha, a

Associação Alemã de Energia Eólica (do alemão Bundesverband Windenergie) foi

além da norma da IEC e verificou que para o valor de referência de 350 W/m2 para a

energia eólica, a norma da IEC engloba aerogeradores de até 70 kW como sendo

aerogeradores de pequeno porte. Em contrapartida, a própria Associação Alemã de

Energia Eólica define aerogeradores de pequeno porte como aqueles cuja potência

é igual ou menor a 100 kW. Todavia, independente de qual é o valor superior exato

para a potência que define aerogeradores de pequeno porte, ainda não se fala

comercialmente, de acordo com a Associação Alemã de Energia Eólica, de

aerogeradores de pequeno porte conectados à rede elétrica com potência superior a

30 kW para uso residencial e fazendas.

Apesar da diferença de tamanho, o princípio de geração de energia elétrica

dos aerogeradores de pequeno porte é exatamente o mesmo do que a dos

aerogeradores de grande porte: uma máquina elétrica (um gerador), integrada a um

eixo conectado a uma espécie de “cata-ventos”, converte a energia cinética do vento

em energia elétrica. As pequenas diferenças de construção entre os aerogeradores

de pequeno e grande porte referem-se principalmente aos equipamentos de

segurança, uma vez que normalmente os requisitos de segurança crescem à medida

que a potência gerada também cresce, e à própria máquina elétrica utilizada, já que,

como verificado em diversos catálogos de aerogeradores, a maioria dos

aerogeradores de pequeno porte utiliza geradores elétricos síncronos de imã

permanente.

Com relação à forma dos aerogeradores, os de pequeno porte não diferem

muito dos de grande porte, uma vez que, de acordo com Farret e Simões (2006), a

forma mais difundida é a com turbinas com três pás. Entretanto, existem várias

outras formas de turbinas que podem ser utilizadas, cuja aplicação pode trazer mais

ou menos benefícios, de acordo com as características eólicas do local de aplicação.

Page 29: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

28

A Figura 2.8 a seguir agrupa diferentes tipos de turbinas eólicas em fabricação para

microaerogeradores retiradas dos próprios catálogos dos fabricantes. É possível

verificar, a partir desta figura, que estas podem assumir formas muito diferentes

entre si.

Figura 2.8 Diferentes formatos de turbinas eólicas para microaerogeradores.

Em termos práticos, as turbinas eólicas são divididas em turbinas horizontais e

verticais. Conforme posto anteriormente, é difícil determinar qual dos tipos de turbina

é o melhor. O planejamento da turbina deve considerar vários parâmetros,

principalmente a característica dos ventos no local da instalação. Todavia, sabe-se

que as turbinas horizontais de duas e três pás são as que apresentam a maior

eficiência na conversão da energia eólica para a elétrica (turbinas de duas pás são,

segundo Felix e Gamões (2006), mais eficientes, porém mais instáveis e propensas

a turbulências do que as de três pás). Entretanto as turbinas verticais possuem

vantagens interessantes, sendo as principais o fato destas não precisarem de um

controle para ajuste de ângulo de incidência do vento e de que a grande parte dos

equipamentos elétricos e mecânicos podem ser instalados no solo, diminuindo desta

forma os custos com a estrutura e facilitando manutenções.

Alguns conceitos e conhecimentos são de extrema importância quando se

fala em turbinas e energia eólica. De acordo com Willis e Scott (2000), um número

de referência para se ter uma idéia da energia cinética do vento é a de que um vento

soprando a 11,8 m/s “carrega” consigo 1 kW de potência por metro quadrado. Além

disso, deve-se ter claro que a quantidade de energia contida no vento é proporcional

ao cubo da velocidade deste. Isto se justifica pelo fato de que a energia cinética,

pela definição, varia com o quadro da velocidade (Ec=(1/2).m.v2) e de que a massa

de ar que passa por qualquer ponto observado é diretamente proporcional a

velocidade do vento, de tal forma, por exemplo, que se a velocidade do vento

dobrar, a massa de ar passando pelo ponto observado também dobrará. Com este

Page 30: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

29

conhecimento, pode-se dizer que um vento com velocidade v contém apenas um

oitavo da energia contida em um vento soprando a uma velocidade 2v.

Sistemas de conversão de energia eólica extraem a energia do vento

simplesmente reduzindo a velocidade deste, absorvendo a diferença de energia

contida pelo vento antes e depois de passar, por exemplo, por uma turbina. Deve-se,

entretanto, atentar ao fato de que o vento é, de acordo com Willis e Scott (2000), um

fluído elástico. A ideia de reduzir completamente a velocidade do vento seria

péssima para qualquer meio de conversão (turbina, vela de barco, dentre outros).

Isto significaria que nenhuma massa passou pela turbina e, por isso, a energia

coletada seria igual a zero. Desta forma, conforme posto anteriormente, a energia é

extraída do vento quando a velocidade deste é reduzida e não quando o vento é

completamente parado. Conforme apresentado por Felix e Simões (2006), a maior

quantidade de energia possível é extraída do vento quando a velocidade deste é

reduzida a um terço da velocidade que este possuía antes de atravessar um sistema

de conversão. Mais especificamente, o limite superior de eficiência de uma turbina é

de 59% e este é conhecido como o Limite de Betz. Na prática, segundo estes

mesmos autores, os sistemas de conversão de energia eólica para elétrica

trabalham com valores tipicamente entre 35 e 45%.

2.3.2 Mercado de aerogeradores de pequeno porte e principais fabricantes

Diferentemente dos aerogeradores de grande porte, para os quais a lista

global de fabricantes não é muito extensa (de acordo com dados da empresa BTM

Consult, mundialmente conhecida por apresentar estudos na área de energia eólica,

os dez maiores fabricantes de aerogeradores de grande porte dominam cerca de

80% do mercado global), a lista de fabricantes de aerogeradores de pequeno porte é

bastante extensa. De acordo com o portal de internet House-Energy (www.house-

energy.com), criado com o intuito de levar ideias de geração de energia e eficiência

energética ao consumidor final, somente na Europa existe uma lista com mais de

cinquenta fabricantes de aerogeradores de pequeno porte. O conhecido portal de

internet The Wind Power (www.thewindpower.net) também disponibiliza uma lista

com os principais fabricantes mundiais de aerogeradores de pequeno porte. Esta

lista possui mais de 120 fabricantes. Interessante é, porém, verificar que nove dos

Page 31: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

30

dez maiores fabricantes de aerogeradores de grande porte também estão no

mercado de aerogeradores de pequeno porte, sendo estes (aqui listados em ordem

de importância no mercado de aerogeradores de grande porte): Vestas (Dinamarca),

GE Wind Energy (EUA), Sinovel (China), Enercon (Alemanha), Goldwind (China),

Gamesa (Espanha), Suzlon (Índia), Siemens Wind Power (Alemanha) e RE Power

(Índia).

É importante também destacar que o sistema de conversão de energia

eólica para elétrica não é formado apenas pelo aerogerador (turbina e gerador),

mas, sim, também pelo sistema de proteção (tanto do equipamento como também

do sistema de energia elétrica) e um conversor, responsável por viabilizar a

utilização desta energia, convertendo-a para os padrões de energia residenciais e da

concessionária de energia elétrica. Deve-se atentar ainda ao fato de que, na maioria

dos casos, os fabricantes dos aerogeradores não são os mesmos fabricantes dos

inversores utilizados no sistema em questão.

Os conversores utilizados pelos aerogeradores diferem dos utilizados pelos

sistemas de geração de energia solar formados por células fotovoltaicas. Isto se

deve pelo fato de que a energia gerada pelos sistemas de conversão de energia

eólica é, diferentemente das células fotovoltaicas, alternada. Isto requer, então,

primeiramente um sistema retificador e posteriormente um sistema inversor. Isto

porque a energia alternada gerada pelos aerogeradores possui frequência variável,

uma vez que esta é dependente da velocidade na qual a turbina gira, que por sua

vez é função da velocidade do vento, variável. Esta energia é, então, primeiramente

retificada e depois, sim, através do sistema inversor, transformada em uma energia

que atenda os padrões residenciais e das concessionárias de energia elétrica.

É ainda difícil determinar quais são os fabricantes de inversores mais

importantes em âmbito global, uma vez que o aquecimento do mercado de

aerogeradores de pequeno porte na geração distribuída é recente. Entretanto,

alguns fabricantes podem ser aqui citados, já que estes, devido também a suas

atividades na fabricação de inversores para painéis fotovoltaicos, são conhecidos no

mercado global de inversores. Estes são: SMA (Alemanha), Kyocera (Japão),

Siemens (Alemanha) e Mitsubishi Electric (Japão).

Por fim deve-se ainda destacar que, conforme pode ser visto no catálogo

dos inversores Windy Boy da empresa SMA, um aerogerador de pequeno porte

Page 32: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

31

pode, de forma semelhante aos painéis fotovoltaicos, ser utilizado de três diferentes

formas:

I) Sistema Isolado.

II) Sistema de Injeção Direta de Energia na Rede Elétrica.

III) Sistema de Injeção Indireta de Energia na Rede Elétrica.

O sistema isolado (também conhecido como sistema ilhado) é aquele no

qual a energia gerada não é injetada na rede, mas, sim, utilizada no local onde é

gerada. Já o sistema de injeção direta de energia na rede, como o nome já diz, é

aquele no qual a energia gerada é diretamente injetada na rede elétrica, enquanto o

sistema de injeção indireta injeta apenas a energia excedente que não foi utilizada

no instante em que estava disponível na rede elétrica. Para melhor entendimento

destes três tipos diferentes de conexão, foi retirada a Figura 2.9 do catálogo do

inversor Windy Boy, da empresa SMA, na qual as três formas de utilização do

aerogerador podem ser visualizadas. Vale neste ponto a ressalva de que as figuras

correspondem aos requisitos de conexão existentes na Alemanha, país de origem

da empresa SMA. Por este motivo, a figura do sistema de injeção direta na rede

elétrica é mostrada com dois medidores de energia (exigência Alemã). Evidencia-se,

entretanto, que a utilização de apenas um medidor de energia, capaz de medir a

energia nos dois sentidos, o de utilização e o de injeção, também seria possível.

Page 33: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

32

Figura 2.9 Sistemas de utilização de aerogeradores de pequeno porte.

2.4 CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

2.4.1 Princípios de geração e tecnologias

Conforme descrito por Kreith e Goswami (2007), uma célula a combustível –

CaC - é um dispositivo eletroquímico capaz de converter diretamente a energia

química em energia elétrica. Ressalta-se que, segundo apresentado por Willis e

Scott (2000), o aproveitamento da energia química para a produção de energia

elétrica através de CaCs apresenta um rendimento muito superior ao de sistemas

que possuem um estágio de conversão intermediário, que converte primeiramente a

energia química em térmica e mecânica, para depois convertê-las em energia

elétrica.

Page 34: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

33

O princípio de funcionamento e de produção de energia elétrica da CaC não

é novo. Este foi pela primeira vez apresentado demonstrado no ano de 1836 pelo

inglês Sir William Grove (WILLIS; SCOTT, 2000).

Uma CaC é constituída basicamente por três componentes ativos: um

“eletrodo combustível”, um “eletrodo oxidante” e uma membrana eletrolítica (também

conhecida como membrana de troca de íons) entre os eletrodos. A estrutura típica

de uma CaC pode ser visualizada na Figura 2.10.

Figura 2.10 Estrutura típica de uma CaC (Engenharia e suas engrenagens, 2011).

As CaCs consomem hidrogênio e oxigênio e possuem, como produto, água

e calor. O hidrogênio é tipicamente extraído de combustíveis fósseis, por exemplo

gás natural, e o oxigênio do ar.

Dentro da CaC, o hidrogênio é entregue ao eletrodo do combustível, também

conhecido como Anodo. No anodo ocorre a oxidação do hidrogênio que produz dois

íons de hidrogênio e dois elétrons, representada pela seguinte reação:

� → 2 � + 2�� (2.3)

Os íons de hidrogênio migram em seguida, através da membrana eletrolítica,

para o eletrodo de oxidação ou, também, cátodo enquanto os elétrons são forçados

a se transferir para o mesmo eletrodo de oxidação através de um circuito externo. É

neste circuito que uma carga pode ser conectada e, portanto, a energia elétrica ser

aproveitada.

Page 35: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

34

Uma vez chegando ao cátodo, os elétrons e os íons de hidrogênio reagem

com o oxigênio para formar água e produzir calor. Esta reação é representada pela

equação (2.4) a seguir.

1

2�� + 2

� + 2�� → �� (2.4)

De modo geral, a reação completa de uma CaC pode ser representada pela

soma das equações (2.3) e (2.4) que resulta na equação (2.5).

� +1

2�� → �� + � + �����

(2.4)

Ressalta-se que na equação (2.5) τ aparece representado o trabalho que os

elétrons realizam ao atravessar o circuito externo em alguma carga elétrica.

CaCs são classificadas por suas temperaturas de operação e pela

tecnologia presente em suas membranas eletrolíticas. Ressalta-se ainda que as

propriedades de uma CaC dependem fortemente da tecnologia empregada em sua

membrana eletrolítica. Segundo Kreith e Goswami (2007), dentre estas tecnologias,

destacam-se:

• CaCs alcalinas – AFCs (Alkaline Fuel Cells)

• CaCs de membrana polimérica – PEMFCs (Polymer-Electrolyte-

Membrane Fuel Cells)

• CaCs de metanol direto – DMFCs (Direct-Methanol Fuel Cells)

• CaCs ácido fosfóricas – PAFCs (Phosphoric-Acid Fuel Cells)

• CaCs de carbono fundido – MCFCs (Molten-Carbonate Fuel Cells)

• CaCs de óxido sólido – SOFCs (Solid-Oxide Fuel Cells)

Com relação à eficiência da conversão de energia térmica para elétrica das

CaCs, esta depende principalmente do poder calorífico inferior do hidrogênio sendo

utilizado no processo. Ressalta-se, entretanto que estes valores de eficiência

apresentam valores geralmente na faixa de 40% a 65% (KREITH: GOSWAMI, 2007).

CaCs, de forma semelhante aos painéis solares, produz energia elétrica com

tensão e corrente constantes. Destaca-se ainda que esta energia é caracterizada

por altos valores de corrente e baixos valores de tensão (WILLIS; SCOTT, 2000).

Devido a isso, sua conexão com o sistema elétrico necessita de um conversor

CC/CA para adequar esta energia elétrica aos padrões da rede de distribuição.

Page 36: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

35

2.4.2 Mercado e fabricantes de CaCs

No atual contexto no qual a problemática da GD se insere (ver Capítulo 1.1),

destaca-se como principal vantagem das CaCs a capacidade destas produzirem

energia elétrica sem emissão de poluentes. Em contrapartida, ressalta-se o fato das

CaCs serem ainda uma tecnologia cara como sua principal desvantagem, quando

comparada com outras unidades geradoras de mesmo porte.

Conforme apontado por Willis e Scott (2000), apesar do princípio das CaCs

ter sido descoberto na primeira metade do século XIX, foi a capacidade de se

produzir energia elétrica sem emissão de poluentes que impulsionou e justificou o

forte crescimento e incentivo dado às CaC no últimos anos, tendo em vista que, em

algumas regiões, custos passaram a não ser tão importantes quanto preocupações

ambientais.

O consequente forte desenvolvimento das CaCs possibilitou, inclusive,

estudos que resultaram na aplicação destas em computadores de uso pessoal e

protótipos de automóveis sem emissão de poluentes (TOYOTA, 2011).

De acordo com a análise do mercado de CaCs realizado pelo instituto

Research and Markets (2011), este mercado deve continuar crescendo dentro dos

próximos anos. Estima-se que o número de encomendas de CaCs deve aumentar

em 71% entre 2010 e 2013.

Ressalta-se, entretanto, que este crescimento se deve principalmente à

busca pela aplicação de CaCs em veículos. Conforme o estudo apresentado pela

Research and Markets (2011) também apresenta, espera-se um início da produção

em série de automóveis movidos a CaCs até o ano de 2015. Isto deve aquecer

bastante o mercado de CaCs.

Destaca-se também um outro estudo de mercado realizado pelo Centro de

Tecnologia VDI (2010), de Düsseldorf – Alemanha, solicitado pelo ministério alemão

de transportes, construções e desenvolvimento de cidades, que buscou investigar a

situação atual e projetar cenários futuros do mercado de CaCs. O resultado deste

estudo indicou, de forma semelhante ao instituto Research and Markets, também

uma tendência de crescimento dos investimentos e da procura por CaCs justificando

ainda este desenvolvimento com base nos crescentes investimentos por parte das

indústrias automobilísticas e de concessionárias de energia elétrica nas tecnologias

de CaC.

Page 37: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

36

Outra informação importante apontada pelo Centro de Tecnologia VDI

(2010) diz respeito aos fabricantes de CaCs. Segundo a VDI (2010), somente na

Alemanha existem 25 fabricantes de CaCs voltadas para a área de geração de

energia elétrica (fonte de GD, unidades de geração de emergência, dentre outras).

Além disso, a VDI (2010) também apontou os cinco maiores fabricantes de CaCs,

sendo estes: Plug Power, Hydrogenics, De-ka/Nuvera e Oorja Protonics.

Finalmente, ressalta-se que, com relação à aplicação de CaCs como fontes

de GD na rede de distribuição de baixa tensão, o custo médio das CaCs precisa

ainda sofrer uma redução para que seu crescimento consiga acompanhar o

desenvolvimento de fontes de GD como painéis fotovoltaicos e aerogeradores de

pequeno porte.

2.5 MICROTURBINAS

2.5.1 Princípios de geração e tecnologias

De acordo com Kreith e Goswami (2007) os primeiros estudos de utilização

de gás como atuadores de turbinas se iniciaram no final do século XIX. Entretanto,

ainda de acordo com estes autores, as primeiras turbinas a gás só começaram a ser

utilizadas a partir de 1930. Farret e Simões (2006) atribuem o desenvolvimento

destas turbinas à indústria através de ações para a melhoria da eficiência de

unidades de geração auxiliares para aeronaves e helicópteros, sendo então

finalmente otimizadas para o uso industrial e até residencial.

Uma microturbina consiste em um compressor, uma câmara de combustão,

uma turbina e, acoplado ao eixo desta turbina (algumas vezes até através de um

multiplicador), um gerador elétrico. Este esquema de construção pode ser

visualizado na Figura 2.11 a seguir, retirada do livro de Farret e Simões (2007).

Page 38: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

37

Figura 2.11 Esquema de construção e funcionamento de uma

microturbina.(Farret;Simões, 2007).

Segundo Kreith e Goswami (2007), o funcionamento das turbinas a gás é,

diferentemente dos motores a combustão, cujo funcionamento é uma repetição de

diferentes operações, um processo contínuo. Todavia, este funcionamento pode ser

dividido em quatro estágios. Primeiramente o compressor é responsável, através do

giro de suas pás, por guiar o ar até uma câmara de combustão. Neste estágio o ar é

comprimido elevando a pressão do gás a aproximadamente 10 bar e sua

temperatura a valores próximos de 300 °C. Em um segundo estágio, este ar

comprimido é misturado com um gás combustível e, através da combustão desta

mistura, alcança-se temperaturas de até 1250 °C. Esta combustão ocorre em

condições controladas, de forma a maximizar a eficiência do gás combustível e de

minimizar as emissões. Finalmente, este ar com pressão elevada, passa, em um

terceiro estágio, através das pás da turbina localizadas no lado direito da Figura

2.11, responsáveis por converter a energia contida neste gás em energia mecânica.

Entretanto, deve-se ressaltar aqui que parte desta energia mecânica é transmitida

ao compressor, que mantém a entrada do ar na turbina, e a outra parte é utilizada

para a geração de energia elétrica através de um gerador elétrico de alta velocidade

conectada ao final do eixo da turbina. Em um quarto estágio, ocorre a emissão

destes gases para a atmosfera ou o uso destes, que possuem ainda uma alta

temperatura, para geração de calor ou aumento da eficiência energética através de

outros processos.

De acordo com o estudo “Tecnologias de microgeração e sistemas

periféricos” do Centro de Estudos em Economia da Energia dos Transportes e do

Page 39: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

38

Ambiente – CEEETA, de Portugal, o termo “microturbina” refere-se em geral a um

sistema de dimensões reduzidas com potência total disponível não superior a

250 kW. Ainda de acordo com este centro de estudos português, para sistemas

semelhantes com potências disponíveis entre 250 kW e 1 MW utiliza-se usualmente

o termo miniturbina.

A energia gerada pelas microturbinas geralmente possuem frequências

elevadas, muitas geram em 1800 Hz, uma vez que as velocidades típicas do rotor se

encontram entre 70.000 e 90.000 rpm. Esta corrente é então, primeiramente,

retificada e depois, assim como no caso das células fotovoltaicas e dos

aerogeradores, trazida aos padrões de utilização através de um inversor, com uma

frequência de 50 Hz ou 60 Hz.

Diferentes tipos de combustíveis podem ser utilizados em microturbinas,

sendo o mais comum o gás natural. Entretanto, turbinas movidas a gasolina sem

chumbo, gasóleo, álcool, querosene e propano também são facilmente encontradas

no mercado. Para o caso da pressão de alimentação do combustível não ser

suficiente, pode-se utilizar um compressor auxiliar. Neste ponto, vale também a

ressalva, de que, segundo o CEEETA, o gás natural é o combustível que apresenta,

para as microturbinas, os menores valores de emissão.

Deve-se também atentar ao fato de que as turbinas, por trabalharem com

gases com temperaturas elevadas, necessitam de um sistema de refrigeração.

Geralmente estes são baseados em ar ou água. No primeiro caso, o ar é forçado a

passar através do gerador, antes de chegar à câmara de combustão. Para o caso do

sistema de refrigeração ser à água, é necessário então a utilização de um sistema

auxiliar para o bombeamento desta.

Microturbinas também são equipadas com sistemas eletrônicos de controle,

responsáveis por garantir o funcionamento da turbina dentro de níveis de segurança

e permitir uma rápida adequação de sua característica de geração de acordo com a

demanda momentânea de energia elétrica. Além disso, deve-se atentar também ao

fato de que a maioria das microturbinas existentes no mercado são fabricadas para

o ambiente exterior. Entretanto, existem também outras microturbinas com

características diferentes construídas especialmente para ambientes internos ou

ambientes com condições adversas.

Com relação à eficiência energética global das microturbinas, estes

dependem de processos que podem aproveitar o calor das emissões para outras

Page 40: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

39

finalidades. Microturbinas utilizadas única e exclusivamente para a geração de

energia elétrica e sem nenhum tipo de processo para o reaproveitamento do calor

apresentam, de acordo com Willis e Scott (2000), valores típicos de eficiência em

torno de 30%. Entretanto, a utilização de processos de aproveitamento de calor

pode elevar este rendimento a valores acima de 60% em aplicações industriais. De

acordo com CEEETA, já existem sistemas que utilizam microturbina com em

sistemas de cogeração com reaproveitamento do calor que alcançam valores de

eficiência global acima de 80%.

2.5.2 Mercado e fabricantes de microturbinas

Vê-se também para o mercado de microturbinas uma tendência de

crescimento para os próximos anos, em virtude de sua utilização como geração

distribuída, com o intuito de aumentar a eficiência energética, uma vez que a

demanda e, portanto, a utilização da energia já se dá no local de geração, evitando,

por exemplo, perdas na transmissão da energia. Deve-se ressaltar que a aplicação

destas microturbinas não é residencial, devido ao barulho proveniente das mesmas,

mas esta é, sim, voltada para pequenas indústrias ou empreendimentos.

Existem atualmente diversos fabricantes de microturbinas. No congresso de

“Tecnologia de Micro e Mini-Turbinas” (do inglês Micro and Mini Turbine Technology)

da West Coast Energy realizado em julho de 2001, foram citados cinco grandes

fabricantes de microturbinas, sendo estes: AlliedSignal, Capstone, Elliot Magne Tek,

GRI/Northen Research e Teledyne/Ryan. Deve-se atentar, todavia, que estes não

são os únicos fabricantes de microturbinas. Para fortalecer esta idéia, a tabela a

seguir foi retirada do relatório de Stauton e Ozpineci (2003) feito no laboratório

americano OAK Ridge para o departamento americano de energia (U.S. Department

of Energy) e apresenta todos os fabricantes de microturbinas existentes no mercado

americano em 2003.

Page 41: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

40

Tabela 2.3: Principais fabricantes de microturbinas do mercado americano.

Fabricante Produto ou Atividade de Desenvolvimento

Fabrica Conversores de Potência

Observações

Ballard Conversores de Potência Ecostar de 10kW a 1MW

Sim, para outras

aplicações

O principal produto da Ballard são Células à

Combustível Bowman

Power Systems

Família de Microturbinas Turbogen de 25kW a 80kW Sim Fabrica conversores para

a Elliot Energy Systems

Capstone Turbine

Corporation

Microturbinas de 30kW e 60kW (200kW em desenvolvimento)

Sim -

Cummins Microturbinas de 30kW e 60kW Não

Componentes básicos das microturbinas são obtidos

da Capstone Elliott Energy

Systems (Ebara

Corporation)

Microturbinas de 35kW, 60kW e 80kW Não

Fornece componentes mecânicos de

microturbinas para a Bowman Power Systems

Ingersoll Rand Energy

Systems

Microturbinas PowerWorks de 70kW (unidades maiores em

desenvolvimento)

Sem informação -

Turbec AB (ABB & Volvo)

Microturbina T100 de 100kW (quase todas unidades são exportadas para a Europa)

Sim Participação modesta no mercado americano

Xantrex

Uma larga faixa de conversores de potência

disponíveis para todo tipo de geradores

Para outras aplicações

Sem fabricação de microturbinas

2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Neste capítulo foram abordadas algumas das principais tecnologias de

fontes GD com aplicações em redes de distribuição de baixa tensão. Para cada uma

das fontes foram apontadas as principais características da energia gerada e as

principais tendências de mercado.

Identificou-se, para todas as fontes de GD investigadas, a importância da

utilização de conversores (retificadores e/ou inversores) de forma a garantir que a

energia gerada por essas fontes esteja adequada aos padrões da rede.

No âmbito de aplicações residenciais, verifica-se um forte desenvolvimento

nas tecnologias de painéis fotovoltaicos e aerogeradores de pequeno porte,

enquanto microturbinas, devido aos seus ruídos de operação, se apresentam mais

adequadas para aplicações industriais. CaCs também devem continuar ganhando

Page 42: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

41

importância no cenário do sistema elétrico com GD, no entanto, atualmente vê-se

seu desenvolvimento mais atrelado a aplicações em outras áreas, como, por

exemplo, no desenvolvimento e na fabricação de automóveis sem emissão de

poluentes.

Page 43: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

42

3 EFEITOS E REQUISITOS DA CONEXÃO DE GD EM BAIXA TENSÃO

3.1 INTRODUÇÃO

A conexão de GD na baixa tensão, quando bem planejada, pode trazer

benefícios tanto para as concessionárias de energia como para o consumidor final.

No entanto, a GD pode apresentar, também, impactos significantes no fluxo de

potência, no perfil de tensão e, portanto, na qualidade da energia fornecida pelo

sistema elétrico no qual a GD foi conectada. Por este motivo é importante,

primeiramente, ter conhecimento dos efeitos da GD sobre um sistema elétrico, bem

como a relação destes com os variados tipos de fontes de GD. Conhecidos estes

efeitos, deve-se, por fim, atentar aos requisitos para a conexão de fontes GD na

rede.

O presente capítulo visa, portanto, em uma primeira abordagem, apresentar

quais são os principais efeitos que a GD pode ter sobre sistemas de energia. A

relação destes efeitos com os tipos diferentes de fontes de GD também será

apresentada, uma vez que o impacto da GD na rede de energia depende da forma

da geração de energia e da forma da interconexão.

Por fim, serão apresentados alguns aspectos dos Procedimentos de

Distribuição - PRODIST, normas elaboradas pela ANEEL que disciplinam o

relacionamento entre distribuidoras de energia elétrica e outros agentes do setor

elétrico conectados aos sistemas de distribuição, e, também, as sugestões da norma

IEEE 1547, específica para a conexão de fontes GD ao sistema elétrico.

3.2 EFEITOS DA GD EM SISTEMAS DE BAIXA TENSÃO

Um dos obstáculos mais importantes da conexão de GD em sistemas de

energia elétrica é o potencial que estas fontes possuem de impactar a segurança, a

estabilidade e a qualidade da energia destes sistemas (KREITH; GOSWAMI, 2007).

A não operação do sistema entre determinados níveis de qualidade pode influenciar

a operação de equipamentos elétricos, além de poder encurtar a vida útil ou, até

mesmo, comprometer completamente o funcionamento destes.

Page 44: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

43

De acordo com Thong, Driesen e Belmans (2005), o sistema elétrico de

energia foi tradicionalmente desenhado e ainda é operado para transportar uma

grande quantidade de energia de uma forma unidirecional a partir das fontes de

geração, através das linhas de transmissão e sistemas de distribuição até chegar,

finalmente, aos consumidores finais desta energia. Os sistemas de distribuição são,

por isso, passivos e projetados para operar desta forma com fluxo unidirecional de

energia elétrica, diferentemente das linhas de transmissão que são, geralmente,

projetadas para aceitar um fluxo bidirecional de energia. Todavia, com a injeção de

energia elétrica diretamente nos sistemas de distribuição, em virtude da existência

da GD, estes passam a ser sistemas ativos: possuem o papel de consumo e de

geração de energia, ao mesmo tempo. Como é o caso da maioria dos sistemas de

distribuição, estes não foram projetados para o fluxo bidirecional de energia, e, por

este motivo, podem vir a apresentar problemas com o crescimento da GD

(LATHEEF et al, 2008).

Segundo Thong, Driesen e Belmans (2005), a conexão da GD em sistemas

de distribuição pode impactar diversos parâmetros destes sistemas, como, por

exemplo, o fluxo de potência (que agora passa a ser bidirecional), o perfil de tensão,

a estabilidade da tensão, os sistemas de proteção e, por fim, como consequência

destas mudanças, a qualidade da energia elétrica.

Ainda de acordo com Thong, Driesen e Belmans (2005) e Guan et al (2009),

a inserção de poucas fontes de geração distribuída no sistema de distribuição

praticamente não possui impactos, a não ser que o sistema em questão seja

pequeno e “fraco”. Entretanto, a tendência é de que haja um grande crescimento da

GD dentro dos próximos anos e a esta parcela de geração passaria, portanto, a ser

significativa e seus efeitos sobre o sistema de energia elétrica não mais

desprezíveis.

Segundo Kreith e Goswami (2007), existem basicamente nove diferentes

problemas que a GD pode apresentar sobre um sistema de energia elétrica,

relacionados à qualidade da energia desta rede.

Page 45: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

44

3.2.1 Afundamentos de tensão

Afundamento de tensão é o nome dado à diminuição do valor da tensão para

valores entre 10 e 90% do valor nominal efetivo desta tensão na frequência nominal

de operação. De acordo com Thong, Driesen e Belmans (2005), afundamentos de

tensão podem ocorrer devido a chaveamentos na rede, partidas de motores

elétricos, em casos de curtos-circuitos e, também, durante o ligamento de uma fonte

de GD fora da velocidade síncrona. Ainda segundo estes autores, afundamentos de

tensão podem levar ao mau funcionamento dos sistemas de proteção da GD,

especialmente dos baseados em microprocessadores, o que pode, por conseguinte,

ocasionar a interrupção do funcionamento de algumas destas fontes ou de outros

equipamentos conectados ao sistema em questão (e, inclusive, agravar o problema).

Além disso, há registros de disparos indevidos de chaves e relés como

consequência de afundamentos de tensão na rede.

3.2.2 Interrupções curtas

Interrupção curta é o nome dado à interrupção total do fornecimento de

energia elétrica por um período que pode ir de milissegundos até um ou dois

segundos (KREITH; GOSWAMI, 2007). Dentre as causas das interrupções curtas

estão as aberturas e fechamentos automáticos de sistemas de proteção de

ramificações com falhas do sistema. Estas aberturas e fechamentos são, por sua

vez, em sua maioria, causadas por falhas em isoladores e descargas atmosféricas.

Como consequência de interrupções curtas, pode haver o mau

funcionamento de sistemas de proteção, perdas de informações e mau

funcionamento de processadores. Kreith e Gowasmi citam ainda que existem ainda

vários equipamentos com papéis importantes na operação de sistemas elétricos,

como, por exemplo, computadores e PLCs, que não são preparados para suportar

estes tipos de interrupção.

Page 46: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

45

3.2.3 Interrupções longas

Estas interrupções possuem tempos de duração superiores a um ou dois

segundos, que definem as interrupções curtas. De forma semelhante às interrupções

curtas, as interrupções longas também representam uma interrupção total do

suprimento de energia elétrica. Dentre as principais causas destes tipos de

problemas, encontram-se: falhas de equipamentos no sistema de energia,

tempestades, objetos (árvores, carros, dentre outros) que colidem com componentes

da rede (como, por exemplo, cabos ou postes), fogo, falha humana e má

coordenação do sistema. A principal consequência e característica das interrupções

longas é a interrupção do funcionamento de todos os equipamentos conectados à

rede atingida.

3.2.4 Picos de tensão

Picos de tensão são variações muito rápidas dos valores de tensão com

durações que vão de microssegundos até alguns milissegundos. De acordo com

Kreith e Goswami (2007), estes picos podem atingir milhares de volts, mesmo em

sistemas de baixa tensão.

Como causa dos picos de tensão estão, principalmente, o chaveamento de

linhas e de bancos de capacitores para correção de fator de potência e, também, o

desligamento de cargas pesadas. Os efeitos dos picos de tensão no sistema de

energia elétrica podem ter desde consequências menos graves, como interferências

eletromagnéticas, até outras gravíssimas, como, por exemplo, a completa queima de

equipamentos e destruição de isoladores.

3.2.5 Ondulações de tensão

Ondulações de tensão são aumentos momentâneos dos valores de tensão,

na frequência nominal, além das tolerâncias com durações de mais de um ciclo,

porém inferiores a alguns segundos. Dentre as principais causas das ondulações de

tensão estão o ligamento e o desligamento de cargas pesadas, fontes de energia e

transformadores mal dimensionados.

Page 47: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

46

Ondulações de tensão também podem ter efeitos negativos no sistema de

energia elétrica, dentre as quais cita-se: perda de dados, flickers na luz e em

monitores e até, no caso destes valores serem muito elevados de tensão,

desligamento ou queima de equipamentos sensíveis.

3.2.6 Distorções harmônicas

No caso de distorções harmônicas, a tensão ou a corrente (ou ambas)

passam a não apresentar mais formas de onda puramente senoidais. A nova forma

de onda passa a ser representada como uma soma de várias ondas senoidais com

diferentes magnitudes, fases e com frequências múltiplas da frequência nominal. De

acordo com Kreith e Goswami (2007), as causas típicas de distorções harmônicas

podem ser divididas como clássicas e modernas. Como causas clássicas, pode-se

citar: máquinas elétricas operando na região de saturação magnética, fornos

elétricos de arco voltaico, retificadores e motores de corrente contínua com escovas.

Por outro lado, cargas não lineares aparecem como as causas modernas das

distorções harmônicas. Exemplos de cargas não lineares são: aparelhos eletrônicos,

inversores, fontes chaveadas, equipamentos de processamento de dados e luzes de

alta eficiência.

Com relação a geração distribuída, cita-se a utilização de inversores como a

principal causa de distorções harmônicas na rede. O tipo de distorção e a

severidade desta dependem da tecnologia utilizada pelo inversor e das

configurações de interconexão da GD à rede (THONG; DRIESEN: BELMANS,

2005).

Os efeitos da distorção harmônica no sistema de energia elétrica podem ser

diversos. Os principais e mais conhecidos são: probabilidade elevada da ocorrência

de ressonâncias no sistema, sobrecarga do neutro em sistemas trifásicos,

sobreaquecimento de cabos e equipamentos, perda de eficiência de máquinas

elétricas, interferência eletromagnética com sistemas de comunicação e disparos de

chaves de proteções térmicas. Entretanto, segundo Thong, Driesen e Belmans

(2005), o problema das distorções harmônicas relacionadas à GD tendem a diminuir

com o avanço da tecnologia dos inversores.

Page 48: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

47

3.2.7 Flutuações de tensão

De acordo com Thong, Driesen e Belmans (2005), variações na geração de

energia de fontes GD baseadas em fontes primárias de energia irregulares, como

por exemplo, aerogeradores e painéis fotovoltaicos, podem causar flutuações de

tensão. Fornos elétricos de arco voltaico e partidas e desligamentos de máquinas

elétricas também aparecem dentre as principais causas deste problema.

Flutuações de tensão são oscilações do valor de tensão, com amplitude

moduladas por sinais com frequências que vão de 0 a 30Hz. Os efeitos das

flutuações de tensão são, de acordo com Kreith e Goswami, semelhantes aos de

subtensões, todavia, o principal efeito é a geração de flickers no sistema.

3.2.8 Ruídos

Ruídos são definidos como superposições de sinais de alta frequência ao

sinal original de tensão e corrente, na frequência nominal de operação. Podem ser

causados por interferências eletromagnéticas provenientes, por exemplo, de micro-

ondas, difusões de sinais televisivos (KREITH; GOSWAMI, 2007). No caso de GD no

sistema de energia elétrica, pode ser causados pelos equipamentos de eletrônica de

potência (retificadores e inversores) e também por aterramento impróprio de

componentes do sistema. Os efeitos dos ruídos não são geralmente graves, sendo

apenas, normalmente, fator de perturbação para equipamentos eletrônicos e

sistemas de proteção.

3.2.9 Desequilíbrio de tensão

De acordo com Thong, Driesen e Belmans (2005), a inserção de fontes

monofásicas de GD, como, por exemplo, painéis fotovoltaicos, pode gerar um

desequilíbrio de tensão em sistemas trifásicos de energia elétrica. O desequilíbrio de

tensão é representado por uma variação na magnitude ou no ângulo de fase das

fases tensão, não permitindo que o sistema opere de forma simétrica.

Page 49: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

48

Como consequência desta operação não simétrica do sistema de energia

elétrica, há a existência de componentes de sequência negativa que são prejudiciais

a todos os tipos de cargas trifásicas, em especial aos motores de indução (KREITH;

GOSWAMI, 2007).

3.3 REQUISITOS DE CONEXÃO DE GD EM BAIXA TENSÃO

Conforme apresentado por Toyama et al (2010), uma unidade geradora deve

atender a um conjunto de requisitos, geralmente definidos pela concessionária de

energia local, de tal forma que problemas com uma interconexão inadequada, que

podem afetar tanto a unidade geradora como a rede elétrica na qual esta está

conectada, sejam evitados.

De acordo com Carvalho (2009), já existem concessionárias no Brasil que

possuem uma regulamentação própria para a interconexão de GD às redes de baixa

e média tensão, como, por exemplo, a Light Serviços de Eletricidade S.A. e a Ampla

Energia e Serviços S.A.

Todavia, ainda não há no Brasil uma regulamentação específica e unificada

da Agência Nacional de Energia Elétrica, a ANEEL (vinculada ao Ministério das

Minas e Energia e criada com a finalidade de regular e fiscalizar a produção,

transmissão e comercialização de energia elétrica), para a interconexão de GD na

rede de energia elétrica. Existem, entretanto, os Procedimentos de Distribuição -

PRODIST da ANEEL que regulamentam alguns aspectos da conexão de geração na

rede de distribuição, que podem servir de base para esta interconexão de GD na

baixa tensão. Além do PRODIST, existe também a norma IEEE 1547 que serve de

referência mundial e apresenta requisitos técnicos específicos para interconexão de

GD à rede elétrica.

3.3.1 Procedimentos de Distribuição - PRODIST

Os Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico

Nacional - PRODIST são normas, criadas pela ANEEL em 2008, que disciplinam o

relacionamento entre as distribuidoras de energia elétrica e demais agentes

Page 50: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

49

(unidades consumidoras e centrais geradoras) conectados ao sistema de

distribuição, que incluem redes e linhas com tensão igual ou inferior a 230 kV

(PRODIST, 2011). O PRODIST é composto por oito módulos, sendo que o terceiro

módulo regulamenta o acesso ao sistema de distribuição e o oitavo módulo a

qualidade da energia elétrica.

Com base nas condições gerais de acesso apresentadas no Módulo 3 –

Acesso ao Sistema de Distribuição do PRODIST (2011), “o paralelismo das

instalações do acessante com o sistema da acessada não pode causar problemas

técnicos ou de segurança aos demais acessantes, ao sistema de distribuição

acessado e ao pessoal envolvido com a sua operação e manutenção”. Além disto,

este módulo do PRODIST deixa claro que, dentre outras regulamentações, “o

acessante que conecta suas instalações ao sistema de distribuição não pode reduzir

a flexibilidade de recomposição do mesmo, seja em função de limitações dos

equipamentos ou por tempo de recomposição” e, por fim, que “o acessante é o único

responsável pela sincronização adequada de suas instalações com o sistema de

distribuição acessado”.

O Módulo 3 do PRODIST (2011) prevê ainda que o acessante deve garantir

que suas instalações operem observando as faixas de operação dos aspectos

considerados da qualidade da energia elétrica e estabelecidos no Módulo 8 -

Qualidade da Energia Elétrica. Estes são:

a) Tensão de regime permanente;

b) Fator de potência;

c) Harmônicos;

d) Desequilíbrio de tensão;

e) Flutuação de tensão;

f) Variações de tensão de curta duração;

g) Variação de frequência;

Para todos estes aspectos da qualidade de energia elétrica considerados

pela ANEEL através do PRODIST, existem limites aceitáveis de operação, que

devem ser respeitados. Estes estão descritos no Módulo 8 do PRODIST e são,

resumidamente, apresentados a seguir.

Page 51: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

50

3.3.1.1 Tensão de regime permanente

De acordo com o PRODIST (2011), “são estabelecidos os limites

adequados, precários e críticos para os níveis de tensão em regime permanente, os

indicadores individuais e coletivos de conformidade de tensão elétrica, os critérios de

medição e registro, os prazos para regularização e de compensação ao consumidor,

caso as medições de tensão excedam os limites dos indicadores”. Esta

conformidade deve ser avaliada nos pontos de conexão à rede de distribuição, no

ponto de conexão entre distribuidoras e nos pontos de conexão com as unidades

consumidoras.

Deve ressaltar que, de acordo com o PRODIST (2011), “a tensão a ser

contratada nos pontos de conexão com tensão nominal de operação inferior a 230

kV deverá situar-se entre 95% (noventa e cinco por cento) e 105% (cento e cinco por

cento) da tensão nominal de operação do sistema no ponto de conexão”.

3.3.1.2 Fator de potência

A ANEEL determina, através do PRODIST, que para unidade consumidora

ou conexão entre distribuidoras com tensão inferior a 230 kV, o fator de potência no

ponto de conexão deve estar compreendido entre 0,92 e 1,00 indutivo ou 1,00 e 0,92

capacitivo.

3.3.1.3 Harmônicos

Para tensões iguais e inferiores a 1 kV, tema de discussão deste trabalho, a

ANEEL determina que a distorção harmônica total não deve exceder 10%. Além

disso, no PRODIST estão também definidos os níveis de referência para as

distorções harmônicas individuais de tensão, conforme tabela a seguir.

Page 52: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

51

Tabela 3.1: Níveis de Referência para Distorção Harmônica Individual de Tensão para Tensões Nominais iguais ou inferiores a 1 kV (PRODIST, 2011).

Ímpares e não múltiplas de 3 Ímpares múltiplas de 3 Pares

Ordem Harmônica

Distorção harmônica

individual de tensão [%]

Ordem Harmônica

Distorção harmônica

individual de tensão [%]

Ordem Harmônica

Distorção harmônica

individual de tensão [%]

5 7,5 3 6,5 2 2,5 7 6,5 9 2 4 1,5 11 4,5 15 1 6 1 13 4 21 1 8 1 17 2,5 >21 1 10 1 19 2

12 1 23 2 >12 1 25 2

>25 1,5

3.3.1.4 Desequilíbrio de Tensão

De acordo com os PRODIST (2011), desequilíbrio de tensão é o fenômeno

associado a alterações dos padrões trifásicos do sistema de distribuição. O

PRODIST, entretanto, não define valores de referência para a baixa tensão. No texto

está definido o valor de referência para todo o sistema de distribuição, com exceção

da baixa tensão. Este deve ser igual ou inferior a 2%.

3.3.1.5 Flutuação de Tensão

A ANEEL define, através do PRODIST, que flutuações de tensão são

variações aleatórias, repetitivas ou esporádicas do valor eficaz da tensão. O

PRODIST define ainda cinco diferentes grandezas para análise de flutuações de

tensão:

Page 53: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

52

Tabela 3.2: Grandezas para análise de flutuações de tensão (PRODIST, 2011).

Identificação da Grandeza Símbolo

Severidade de Curta Duração Pst

Severidade de Longa Duração Plt

Valor diário do indicador Pst que foi

superado em apenas 5% dos registros

obtidos no período de 24 horas

PstD95%

Valore semanal do indicador Plt que foi

superado em apenas 5% dos registros

obtidos no período de sete dias completos e

consecutivos

PltS95%

Fator de Transferência FT

Para três destas grandezas estão definidos valores de referência no

PRODIST. Observa-se a delimitação de três faixas para classificação dos

indicadores estabelecidos: valor adequado, valor precário e valor críticos. Estes

podem ser vistos na Tabela 3.3 a seguir:

Tabela 3.3: Valores de referência para grandezas de flutuação de tensão (PRODIST, 2011).

Valor de Referência PstD95% PltS95%

Adequado < 1 p.u. / FT < 0,8 p.u. / FT

Precário 1 p.u. – 2 p.u. / FT 0,8 – 1,6 p.u. / FT

Crítico > 2 p.u. / FT > 1,6 p.u. / FT

3.3.1.6 Variações de Tensão de Curta Duração

Apesar de ser um aspecto de qualidade de energia definido e analisado pela

ANEEL, não há valores de referência estabelecidos pelo PRODIST. Sugere-se

apenas que as distribuidoras acompanhem e disponibilizem, em bases anuais, o

desempenho das barras de distribuição monitoradas.

Page 54: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

53

3.3.1.7 Variação de Frequência

O PRODIST (2011) estabelece que “o sistema de distribuição e as

instalações de geração conectadas ao mesmo devem, em condições normais de

operação e em regime permanente, operar dentro dos limites de frequência situados

entre 59,9 Hz e 60,1 Hz”. Além disso, estabelece-se também que “instalações de

geração conectadas ao sistema de distribuição devem garantir que a frequência

retorne para a faixa de 59,5 Hz a 60,5 Hz, no prazo de trinta segundos após sair

desta faixa, quando de distúrbios no sistema de distribuição, para permitir a

recuperação do equilíbrio carga-geração”.

Por fim, os PRODIST (2011) também definem valores de referência para

variações de frequência no caso de haver necessidade de corte de geração ou de

carga para permitir a recuperação do equilíbrio carga-geração. Estes são:

a) não pode exceder 66 Hz ou ser inferior a 56,5 Hz em condições extremas;

b) pode permanecer acima de 62 Hz por no máximo trinta segundos e acima

de 63,5Hz por no máximo dez segundos;

c) pode permanecer abaixo de 58,5 Hz por no máximo dez segundos e abaixo

de 57,5Hz por no máximo cinco segundos.

3.3.1.8 Requisitos de Proteção

Além de estabelecer os valores de referência dos aspectos de qualidade de

energia elétrica para os sistemas de distribuição, a ANEEL estabelece através do

PRODIST as proteções mínimas necessárias para o ponto de conexão de centrais

geradoras em três faixas de potência, as quais estão apresentadas na Tabela 3.4.

Page 55: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

54

Tabela 3.4: Proteções mínimas em função da potência instalada (PRODIST, 2011).

Equipamento Potência Instalada

< 10 kW 10 kW a 500 kW > 500 kW(4)

Elemento de desconexão(1) Sim Sim Sim

Elemento de interrupção(2) Sim Sim Sim

Transformador de Acoplamento Não Sim Sim

Proteção de sub e sobretensão Sim(3) Sim(3) Sim

Proteção de sub e sobrefrequência Sim(3) Sim(3) Sim

Proteção contra desequilíbrio de corrente Não Não Sim

Proteção contra desbalanço de tensão Não Não Sim

Sobrecorrente direcional Não Não Sim

Sobrecorrente com restrição de tensão Não Não Sim

Notas:

(1) Chave seccionadora visível e acessível que a acessada usa para garantir a desconexão da

central geradora durante manutenção em seu sistema.

(2) Elemento de desconexão e interrupção automático acionado por comando e/ou proteção.

(3) Elemento de desconexão e interrupção automático acionado por comando e/ou proteção.

(4) Elemento de desconexão e interrupção automático acionado por comando e/ou proteção.

3.3.2 Norma IEEE 1547 para interconexão de GD ao sistema elétrico

A norma IEEE 1547 – Standard for Interconnecting Distributed Resources

with Electric Power Systems - apresenta especificações e requisitos técnicos para a

interconexão de GD ao sistema elétrico. Deve-se ressaltar que se trata de uma

norma que pode ou não ser adotada por concessionárias de energia elétrica, mas

que, segundo Filho (2005) vem ganhando importância no cenário mundial e com

isso padronizando a conexão de GD ao sistema elétrico, o que é muito importante

para a difusão destas tecnologias. Diversos países adotam as normas IEEE como

bases para suas resoluções normativas.

Em seu início, a norma IEEE 1547 define três requisitos gerais para a

interconexão de GD ao sistema elétrico, sendo estes:

a) Regulação de Tensão: a fonte GD não deve ativamente regular a tensão

no ponto de conexão. Além disto, esta fonte não deve afetar o sistema de

energia elétrica ao ponto de levar os níveis de tensão para fora dos

níveis requeridos pela norma ANSI C84.1-1995, faixa A.

Page 56: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

55

b) Integração com o Aterramento do Sistema: a interconexão da GD ao

sistema não deve causar sobretensões que excedam os limites

aceitáveis e não deve prejudicar a coordenação da proteção de falhas

com contatos com o solo.

c) Sincronização: a interconexão da fonte GD não deve causar flutuações

de tensão superiores a ±5% no ponto de conexão e deve atingir os níveis

aceitáveis de flickers, também apresentados pela norma.

A norma IEEE 1547 diz também que as funções de proteção devem ser

capazes de detectar a frequência fundamental e o valor eficaz de cada tensão fase-

fase, exceto em casos em que há um transformador wye-wye aterrado ou

instalações monofásicas, nos quais a tensão eficaz entre fase e neutro deve ser

detectada.

Nos casos em que a unidade de geração distribuída possui uma potência

igual ou inferior a 30 kW, os equipamentos de proteção devem ser capazes de

cessar a energização do sistema por parte da unidade geradora, obedecendo os

tempos apresentados na Tabela 3.1 a seguir, quando os níveis de tensão estiverem

dentro das seguintes faixas:

Tabela 3.1: Tempos de detecção e interrupção da energização de acordo com a faixa de tensão (IEEE 1547, 2003).

Faixa de tensão

(em % da tensão nominal)

Tempo de detecção e interrupção da

energização por parte da unidade

geradora (s)

V < 50 0,16

50 ≤ V < 88 2,00

110 < V < 120 1,00

V ≥ 120 0,16

A norma IEEE 1547 também disserta sobre requisitos relacionados a

frequência. De acordo com ela, para unidades de GD com potência igual ou inferior

a 30 kW ou para unidades de GD com potência superior a 30 kW, deve-se obedecer

os tempos de detecção e interrupção da Tabela 3.2 a seguir, de acordo com a faixa

de frequência.

Page 57: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

56

Tabela 3.2: Tempos de detecção e interrupção de energização de acordo com a faixa de frequência (IEEE 1547, 2003).

Potência da unidade de GD Faixa de Frequência (Hz)

Tempo de detecção e

interrupção da

energização por parte da

unidade geradora (s)

≤ 30 kW > 60,5 0,16

< 59,3 0,16

> 30 kW

> 60.5 0,16

< 59,8 – 57

(ponto de ajuste regulável) Regulável de 0,16 até 300

< 57 0,16

A norma IEEE 1547 também especifica que caso haja a desconexão da GD

por parte de sua proteção devido a alguma operação fora das faixas aceitáveis de

tensão e frequência, de acordo com os valores apresentados na Tabela 3.1 e na

Tabela 3.2, a reconexão da GD só pode ser feita se a tensão do sistema elétrico

atender a faixa B da norma ANSI C84.1-1995 e a frequência se encontrar entre

59.3 Hz e 60 Hz.

Além dos requisitos gerais para a interconexão de GD ao sistema elétrico, a

norma IEEE 1547 também apresenta alguns requisitos que a GD deve atender para

os casos de situações anormais do sistema, como o caso de falhas. De forma

sucinta, a norma diz que para os casos de operação não normais (falhas ou

desligamento, por exemplo) ou fora dos valores de referência (operações fora da

faixa de tensão ou frequência aceitáveis ou de perda de sincronismo) do sistema, a

GD deve ser capaz reconhecer este estado de operação anormal e parar de

energizar o mesmo.

Com relação à qualidade da energia elétrica, a norma IEEE 1547 também

define os seguintes aspectos e valores de referência para os mesmos:

a) Limitação de injeção de corrente contínua: A norma IEEE 1547 define

que a injeção de corrente contínua não pode superar a 0,5% da corrente

total injetada pela geração distribuída no ponto de interconexão.

b) Flicker: a GD não deve gerar uma quantidade de flickers que possam

gerar incômodos visuais ou a má operação de aparelhos conectados à

rede.

Page 58: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

57

c) Harmônicos: a norma define os seguintes níveis máximos aceitáveis para

a injeção de harmônicos.

Tabela 3.5: Distorção harmônica máxima da corrente [%].

Ordem h da

Distorção

Harmônica

Individual

h < 11 11 ≤ h < 17 17 ≤ h < 23 23 ≤ h < 35 35 ≤ h

Distorção

Total da

Demanda

(TDD)

Percentual

(%) 4,0 2,0 1,5 0,6 0,3 5,0

Por fim, antes de apresentar as especificações e requisitos para testes de

interconexão, a norma IEEE 1547 cita a questão do ilhamento em GD. O ilhamento

define a condição de operação na qual uma fonte GD permanece energizando o

sistema no qual está conectado, mesmo que este esteja fora de operação. Segundo

Filho (2005), a situação de ilhamento apresenta, na verdade, uma situação de

enorme risco para os funcionários das concessionárias de energia elétrica, no caso

de desligamento do sistema para manutenção, pois a rede pode permanecer

energizada devido à conexão da GD. A norma IEEE 1547 estabelece que a GD deve

ser capaz de perceber a formação da situação de ilhamento e, partir de seu início,

suspender o funcionamento do gerador em, no máximo, dois segundos.

3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Neste capítulo foram apresentados, com base numa revisão bibliográfica, os

principais efeitos atrelados à conexão de GD ao sistema elétrico. Verificados esses

efeitos, apresentou-se quais os requisitos para a conexão de GD na rede de

distribuição de baixa tensão, levando em consideração o PRODIST e a norma

IEEE 1547.

Verificou-se, entretanto, que, apesar da existência do PRODIST, o Brasil

ainda não possui uma regulamentação específica para a conexão de GD em

sistemas de distribuição de baixa tensão, o que dificulta o desenvolvimento destas

tecnologias no território nacional.

Page 59: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

58

4 LABORATÓRIO PARA ESTUDO DA GD

4.1 INTRODUÇÃO

Para validar os estudos da GD construiu-se um laboratório em parceria

criada entre empresas para a verificação prática dos efeitos da GD. Este laboratório

conta com três diferentes fontes de GD bem como com cargas elétricas ativas e

reativas.

4.2 COMPONENTES DO LABORATÓRIO

Com o intuito inicial de estudar e verificar os efeitos da GD na rede de

distribuição de baixa tensão construiu-se, através de uma parceria entre CPFL,

LACTEC e UNICAMP, um laboratório na UNICAMP em Campinas-SP, Brasil, com

diferentes fontes GD, aparelhos de medição (e também os de proteção) e com a

possibilidade de conectar este laboratório à rede de distribuição da própria CPFL,

integrante do projeto.

O laboratório é alimentado por um ramal em baixa tensão proveniente de um

transformador trifásico instalado externamente. Trata-se de um transformador Dy

com as características apresentadas na Tabela 4.1 a seguir.

Tabela 4.1: Características elétricas do transformador de distribuição.

TRANSFORMADOR DISTRIBUIÇÃO LH2 - OFICINA

Fabricante ITAIPU Potência 225 kVA Frequência 60 Hz

Niv Isol: 15/1,2 kV RESF: LN REG SERVIÇO: CONTINUO

IMP A 75 °C EM 13.800 V 60 Hz: 4,55% NORMA: EB-91/71

LIGAÇÃO TENSÃO SUPERIOR ∆ H1,H2,H3

TAPS: 13.800/13.200/12.600/12.000/11.400/10.800/10.200 V

LIGAÇÃO TENSÃO INFERIOR Y X0,X1,X2,X3 220/127V

LIQ ISOL: PARANÍNFICO PESO TOTAL: 1280 kg PESO TOTAL: 1280 kg

ELEV TEMP LIQ/ISOL: 50/55 °c DATA FABRICAÇÃO: 12/87

Deve-se ressaltar também a existência de um quadro de distribuição entre o

transformador de distribuição, que alimenta o laboratório, e o próprio laboratório.

Este quadro possui uma chave geral com fusíveis, barramentos, fusíveis NH (do

alemão Niederspannung und Hochleistung que significa baixa tensão e alta

Page 60: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

59

capacidade) e disjuntores. A Figura 4.1 a seguir mostra o interior deste quadro de

distribuição.

Figura 4.1 Interior do quadro de distribuição.

O laboratório em si é um site no qual três diferentes fontes de GD - uma

microturbina, uma célula a combustível e painéis fotovoltaicos - podem produzir

energia elétrica e serem conectadas em diversos arranjos e, também, à rede de

distribuição de baixa tensão local. Cargas elétricas disponíveis no laboratório, com

diferentes características, podem também ser utilizadas de modo a fornecer os

subsídios necessários para o estudo das diversas condições possíveis de operação

das fontes de GD. A Figura 4.2 apresenta um diagrama da conexão destas fontes

com a rede elétrica. Estas fontes e a carga serão descritas nos subcapítulos a

seguir.

Figura 4.2 Diagrama da conexão das fontes no site de estudos da GD.

Page 61: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

60

4.2.1 Microturbina a gás natural

A microturbina disponível no laboratório é da fabricante Capstone e possui

as seguintes especificações técnicas:

• Fabricante: Capstone (EUA)

• Modelo: C30

• Potência nominal: 30 kW

• Tensão de operação: entre 360 V e 480 V

• Frequência de operação: entre 10 Hz e 60 Hz

• Corrente: 46 A por fase

Figura 4.3 Microturbina (aberta) utilizada no site de estudos de GD.

Além disto, vale ressaltar que a microturbina Capstone adquirida para este

laboratório possui um sistema de proteção integrado que, conforme informações

técnicas presentes em seu manual de operação, não necessita de proteções

adicionais para o caso de operação em paralelo com o sistema elétrico de

distribuição. As funções de proteção presentes na turbina atendem a nomenclatura

da IEEE C37.90-1989 e são listadas a seguir:

• Função de proteção 27: proteção contra subtensão

• Função de proteção 59: proteção contra sobretensão

• Função de proteção 81 U/O: proteção contra sub e sobrefrequência

Page 62: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

61

• Função de proteção anti-ilhamento

• Função de proteção 32: fluxo de potência reverso

As partes rotativas da microturbina estão montadas em um eixo simples

suportado por rolamentos de ar que pode atingir uma rotação de até 96.000 rpm. Ao

eixo da microturbina está acoplado um gerador imã permanente que é resfriado por

um fluxo de ar que passa através do interior da turbina. A Figura 4.4 apresenta um

diagrama esquemático da microturbina, no qual é possível verificar quais são os

componentes que também fazem parte do sistema da microturbina.

Figura 4.4 Diagrama esquemático da microturbina.

Deve-se salientar também o fato da existência de um filtro também no

sistema da microturbina, conectado nos terminais de saída da mesma. Este possui a

função de mitigação do conteúdo harmônico gerado pelo inversor. A presença do

inversor no sistema é necessária para a padronização da tensão, corrente e tensão,

dado que a saída do gerador é em corrente alternada (CA), porém com tensão e

frequência variáveis.

Outro detalhe importante é o do combustível da microturbina. No campus da

UNICAMP, onde o laboratório se encontra, não há uma rede de distribuição de gás

natural. Por este motivo, foi necessária a construção de um sistema de

armazenamento de gás. De acordo com o manual da microturbina, a mesma

necessita de 440 MJ por hora para atingir a potência e a eficiência nominal

estabelecida. Sem recuperação de calor, são necessários 840 MJ por hora. Os

cilindros construídos para o armazenamento do gás natural foram instalados na

parte externa do prédio. Estes seguem a norma ISO 4705 e possuem uma

capacidade individual de 33 m3 de armazenamento e pressão de trabalho de

Page 63: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

62

200 bar. A Figura 4.5 a seguir mostra os cilindros, suas condições e local de

instalação.

Figura 4.5 Cilindros para armazenamento de gás natural para a microturbina.

Houve também a necessidade de instalação de um transformador trifásico

na saída da microturbina para sua conexão com a rede de distribuição. Isto se deve

ao fato de que a microturbina possui em sua saída uma tensão fase-fase mínima de

360 V e a rede 220 V. O transformador instalado é do tipo Yd, apresenta um

potência nominal de 45 kVA e possui 3 taps primários de 399, 380 e 361 V. O

diagrama, da Figura 4.6, a seguir mostra o esquema de ligação da conexão da

microturbina à rede local de distribuição através do transformador trifásico.

Figura 4.6 Esquema de ligação da microturbina à rede de distribuição local.

Page 64: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

63

Figura 4.7 Microturbina Capstone C30 e transformador utilizado na conexão com a rede.

4.2.2 Sistema fotovoltaico

Os painéis fotovoltaicos instalados no site de estudos de GD são da marca

Kyocera modelo KC125TM com as seguintes especificações técnicas:

• Modelo: Kyocera KC 125TM

• Potência máxima de entrega: 125W

• Tensão de circuito aberto VOC: 21,7 V

• Corrente de curto-circuito: 8 A

• Tensão sob carga: 17,4 V.

• Corrente sob carga: 7,2 A

• Peso: 12,2 kg

Trata-se, na verdade, de um arranjo de 60 painéis fotovoltaicos com

potência máxima de entrega de 125 W cada, totalizando 7,5 kW de potência, em

situação de pico. Estes painéis foram montados sobre uma estrutura metálica,

especialmente preparada para os mesmos, e encontram-se inclinados em ângulo de

30° em relação à horizontal com face para o norte. A Figura 4.8 mostra uma foto da

instalação do sistema fotovoltaico já concluído.

Page 65: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

64

Figura 4.8 Foto da instalação concluída do sistema fotovoltaico.

Outro detalhe importante acerca do sistema fotovoltaico é que este não pode

ser visto como um gerador trifásico de energia, mas, sim, como três geradores

monofásicos conectados separadamente a cada uma das fases do sistema elétrico.

Além disto, ressalta-se que a saída dos painéis é em corrente contínua (conforme

teoria apresentada no capítulo 2.2), fato que torna também necessária a instalação

de inversores na saída dos três conjuntos de painéis fotovoltaicos, conforme pode

ser visto na Figura 4.9.

Figura 4.9 Esquema unifilar de conexão do sistema fotovoltaico.

Os inversores são da marca alemã SMA e modelo Sunny Boy 2500 U e são,

conforme já especificado, responsáveis pela inversão da energia gerada pelos

conjuntos para os padrões da rede de distribuição. A Figura 4.10 mostra uma foto

dos três inversores conectados ao quadro de comando de conexão à rede. Além

disto, cada conjunto de painéis está conectado em cada inversor através de um

Page 66: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

65

disjuntor monofásico (D2, D3 e D4 de acordo com a Figura 4.9). A conexão dos

inversores à rede elétrica, por sua vez, se dá através do fechamento de três

contatores (C1, C2 e C3). Por fim, um disjuntor trifásico (D1) permite a conexão dos

três conjuntos à rede de distribuição.

Figura 4.10 Invesores Sunny Boy da fabricante SMA (em vermelho) e o quadro de comando

de conexão à rede de distribuição.

Graças à existência do sistema de inversores é possível se obter na saída

do sistema fotovoltaico uma tensão alternada trifásica de 220 V, com 60 Hertz de

frequência, conforme padrão da rede. Conforme será apresentado no capítulo

seguinte, esta é uma das condições para que o sistema possa operar em paralelo

com a rede de distribuição de baixa tensão.

4.2.3 Célula à Combustível

Uma Célula à Combustível - CaC - também foi instalada no site de estudo da

GD. Para que esta possa operar em paralelo com a rede, foi adquirido também um

inversor de frequência, responsável por transformar a saída de tensão e corrente da

CaC e colocá-los nos padrões da rede.

A CaC adquirida é da fabricante Lineage, modelo 5T48, e pode entregar

uma potência máxima de 5 kW ao sistema. A saída de tensão desta pode ser de

24 V ou de -48 V. Referente à temperatura de operação, esta deve se encontrar

entre -40 e 46°C. Esta CaC possui 111,8 cm de altura, 66 cm de largura, 61 cm de

Page 67: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

66

profundidade e pesa aproximadamente 226,8 kg. O inversor adquirido para a

conexão da CaC com a rede é da marca Xantrex, modelo XW 6048. Para sua

operação faz-se também necessário o uso de um painel de controle XW Control

Panel.

O sistema da CaC completo é composto, basicamente, por quadro principais

elementos, descritos a seguir:

• Fonte de Hidrogênio: o hidrogênio utilizado pela CaC é extraído do gás

natural fornecido pela concessionária COMGAS em Campinas, com

Poder Calorífico Superior: 9.400 kcal/Nm3 (equivalente a

39.348,4 kJ/Nm3) a uma pressão de 1 atm e temperatura de 20°C. O

consumo estimado é de 1,25 Nm3/h.

• Sistema de Reforma: responsável pela purificação do gás a ser utilizado

até níveis aceitáveis para a CaC especificada. A purificação é feita

através de peneiras moleculares a base de zeolitas e sistema de

remoção de CO remanescente até este valor ficar abaixo de 10 ppm. A

produção estimada deste sistema é de 3,5 Nm2/h de hidrogênio.

• Célula à Combustível: responsável pela produção de energia elétrica,

alimentada com o hidrogênio proveniente do processo de reforma e

oxigênio do ar.

• Sistema de Conversão CC/CA: trata-se, na verdade, de um inversor de

potência compatível com a da CaC, responsável por converter a energia

em corrente contínua proveniente da CaC em uma tensão trifásica com

os padrões da rede de distribuição.

A CaC, bem como o inversor Xantrex, presentes no Laboratório LH2 da

Unicamp, podem ser visualizados na Figura 4.11.

Page 68: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

67

a)

b)

Figura 4.11: a) CaC utilizada no site de estudos da GD e b) Painel montado com inversor de frequência e banco de baterias.

4.2.4 Cargas elétricas

À disposição para estudos no laboratório encontra-se um banco trifásico de

resistências de 35 kW de potência total. Este banco resistivo é constituído por cinco

resistências trifásicas, totalizando 5 kW cada conjunto, e mais seis conjuntos

monofásicos de 5/3 kW cada. A Figura 4.1 apresenta um diagrama unifilar

correspondente a este banco resistivo. Este conjunto pode ser, portanto, utilizado

com o intuito de representar uma carga elétrica linear em sistemas elétricos.

Figura 4.1 Diagrama unifilar do banco resistivo.

Para permitir a variação de carga resistiva nos ensaios laboratoriais, foram

adicionados cinco disjuntores trifásicos C20-220 e seis disjuntores monofásicos C20-

220, que correspondem às chaves S1 até S11 da Figura 4.1.

Na Figura 4.2 o banco resistivo disponível para ensaios no laboratório pode

ser visualizado e, ainda nesta imagem, pode-se perceber as chaves dos disjuntores

Page 69: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

68

disponíveis para simular os chaveamentos de carga. Pode-se verificar que este

banco está montado sobre uma estrutura metálica. Esta estrutura corresponde a um

ventilador de 1.1/2HP de 220 V trifásico que foi incluído ao projeto, utilizado para

dissipar com maior eficiência o calor produzido pelo banco resistivo. A escolha pelo

elemento trifásico visou a manutenção das cargas distribuídas de forma uniforme

entre as fases, evitando-se desbalanceamentos por ocasião das medições. Este

ventilador atua de forma independente da ação do operador, ou seja, uma vez que o

banco é energizado, mesmo sem o acionamento de nenhuma das chaves, o

ventilador entra em operação a fim de evitar danos à carga.

Figura 4.2 Banco resistivo de 35 kW com disjuntores .

Por outro lado, caso o interesse seja investigar os impactos da GD na

presença de cargas elétricas não lineares, encontra-se também disponível no

laboratório um transformador trifásico de 45 kVA. Uma operação a vazio deste

transformador poderia, portanto, representar uma carga não linear no sistema

elétrico e respaldar estes estudos nos testes e simulações.

4.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Neste capítulo os elementos do laboratório criado para estudo da GD foram

descritos bem como suas principais características elétricas apresentadas. Destaca-

se, todavia, que a operação em paralelo das fontes com a rede só é possível devido

Page 70: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

69

à parceria com a CPFL, também integrante deste projeto, tendo em vista que o

Brasil ainda não possui norma específica para a operação em paralelo de fontes de

GD e que a operação de fontes GD ainda só é possível em sistemas que operam de

forma isolada do sistema elétrico.

Page 71: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

70

5 ANÁLISES COMPUTACIONAIS E VERIFICAÇÕES LABORATORIAIS

5.1 INTRODUÇÃO

Tomando como ponto de partida a configuração laboratorial disponível para

este trabalho e com o auxílio de dois softwares com capacidade de fazer simulações

de circuitos elétricos, foram realizadas primeiramente algumas análises em ambiente

computacional com o intuito de investigar os efeitos da conexão de GD em sistemas

de distribuição de baixa tensão. Posteriormente, buscou-se verificar e validar estes

efeitos com ensaios práticos realizados com as fontes reais disponíveis no

laboratório H2 em Campinas. Ressalta-se que o objetivo destas análises foi a

identificação dos possíveis efeitos da conexão de GD no sistema de distribuição de

baixa tensão sob o ponto de vista das concessionárias de energia elétrica.

Para a investigação de transitórios gerados, por exemplo, pela conexão ou

desconexão das fontes de GD ao sistema elétrico e, também, pelo chaveamento de

cargas elétricas, utilizou-se a biblioteca SimPowerSystems dentro do ambiente de

simulação SIMULINK do software MATLAB. Por outro lado, para o estudo das

diferentes condições operacionais que as fontes de GD podem proporcionar,

utilizou-se o software de origem alemã DIgSILENT especialmente voltado para

concessionárias de energia elétrica e indústria, uma vez que proporciona um

ambiente gráfico que permite realizar com facilidade simulações, por exemplo, de

fluxo de potência e de curto-circuito.

5.2 SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS NO MATLAB

As primeiras análises computacionais buscaram identificar os transitórios

que estão relacionados à operação em paralelo com a rede de fontes de GD. Para

tal, criou-se no MATLAB um modelo que busca representar o laboratório disponível

para este trabalho. Este modelo pode ser visto na Figura 5.1 a seguir.

Page 72: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

71

Figura 5.1 Modelo completo do laboratório em ambiente SIMULINK do MATLAB.

Page 73: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

72

O MATLAB possui a vantagem de possuir alguns blocos já modelados

dentro da biblioteca SimPowerSystems que, com a adição dos devidos parâmetros,

permitem a representação de equipamentos e elementos do sistema elétrico. Para a

representação da rede de distribuição de baixa tensão no ambiente SIMULINK fez-

se uso do bloco de uma fonte trifásica, modelada com uma tensão de 220 V entre

fases, frequência de 60 Hz e com uma potência de curto-circuito de 150 kVA. A

microturbina, por sua vez, foi representada por um bloco de uma máquina síncrona,

dado que o tipo do gerador presente na microturbina é síncrono. Os parâmetros da

máquina foram então adicionados ao bloco que necessita também de um sistema de

controle, responsável por manter a tensão terminal para as variações de carga.

Para a representação dos painéis fotovoltaicos, fez-se uso de um modelo

criado pela divisão de fontes renováveis e eficiência energética do departamento de

engenharia elétrica, de computação e de energia (do inglês Department of Electrical,

Computer and Energy Engineering - ECEE) da Universidade de Colorado, nos EUA,

(ECEE, 2008). Este modelo permite reproduzir com exatidão as características de

painéis fotovoltaicos e, também, através da adequação dos parâmetros destes

painéis, representar de forma fiel diversos tipos de módulos fotovoltaicos, de

diferentes fabricantes. Dado que na prática os sistemas fotovoltaicos visam fornecer

o máximo possível da potência gerada, de forma a manter uma eficiência elevada,

independente da carga elétrica conectada ao sistema, conectou-se a saída deste

modelo a um bloco de uma fonte de corrente controlada, que transforma um sinal

matemático do SIMULINK em um sinal de corrente dentro do ambiente

proporcionado pela biblioteca SimPowerSystems. Ressalta-se ainda que o sinal

matemático proveniente do modelo da Universidade de Colorado representa uma

saída em corrente contínua e, portanto, é multiplicado por um sinal senoidal com

amplitude unitária e frequência de 60 Hz, de forma a representar a saída de energia

destes módulos fotovoltaicos após os inversores, onde a energia já deve ter sido

adequada aos padrões da rede. A representação destes painéis permite ainda variar

o sinal de entrada, que representa a irradiação solar sobre os painéis fotovoltaicos e

é fator determinante da quantidade de energia gerada pelo painel.

A representação da CaC se deu também com a utilização de um bloco de

uma fonte de corrente controlada, que transformou um sinal senoidal com amplitude

variável, que visa representar os possíveis degraus de potência que podem ser

Page 74: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

73

gerados e fornecidos pela CaC, em um sinal de corrente que é inserido em apenas

umas das fases, dado que a CaC é uma fonte de GD com geração monofásica.

As cargas, por sua vez, foram representadas neste modelo com o bloco de

cargas elétricas trifásico, disponível também na biblioteca SimPowerSystems. Este

bloco é de fácil utilização e permite a representação de cargas resistivas e

complexas, de acordo com os valores de potência ativa ou reativa inseridas nos

parâmetros do bloco.

Com o ambiente para a investigação dos efeitos da conexão de fontes GD

em paralelo com a rede de distribuição desenvolvido no ambiente proporcionado

pelo MATLAB, simulou-se então os seguintes eventos:

• Tempo total de simulação: 10 segundos

• Rede: permanentemente conectada a uma carga resistiva de 10kW.

• Microturbina: conexão no instante t=0.5s.

• Painéis fotovoltaicos: conexão no instante t=2.5s.

• CaC: conexão no instante t=4.5s.

• Cargas elétricas: conexão de cargas extras de 10 kW e 5 kW no

instantes t=6.5s e 7.5s e desconexão nos instantes t=8.5s e 9.5s,

respectivamente.

Para melhor entendimento da ordem dos eventos da simulação, criou-se a

linha de tempo apresentada na Figura 5.2. Nesta figura, as conexões das fontes de

GD aparecem indicadas com setas e a conexão e desconexão das cargas através

de linhas tracejadas.

Figura 5.2 Linha de tempo dos eventos da simulação no MATLAB.

Um bloco Scope do ambiente SIMULINK, que representa um osciloscópio,

foi colocado no terminal de cada um dos equipamentos, logo após um bloco de

Page 75: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

74

medição trifásico, que converte os sinais de tensão e corrente de cada uma das

fases para um sinal matemático que pode ser então reproduzido pelo Scope, que

por sua vez plota estes sinais e permite sua visualização por parte do usuário. A

Figura 5.3 a seguir foi retirada de um bloco Scope de um aparelho de medição que

foi conectado no terminal das cargas elétricas. Pode-se verificar, a partir desta

figura, que a demanda por energia varia, conforme esperado, a partir do instante

t=6.5s, com o chaveamento das cargas. É interessante verificar que a tensão fica

praticamente constante durante todo o período, apresentando pequenas oscilações,

que não ultrapassam 0.03 pu de variação na tensão, no momento da entrada da

microturbina e nos chaveamentos das cargas. Verifica-se também dois picos de

tensão nos instantes t=2.5s e 4.5s, instantes nos quais se dá a conexão os painéis

fotovoltaicos e da célula a combustível.

Figura 5.3 Tensão em pu e Corrente em A nos terminais das cargas elétricas.

Da mesma forma, é apresentada na próxima Figura 5.4 uma imagem da

forma de onda da tensão e corrente do Scope conectado ao sistema de medição dos

terminais da microturbina. É interessante verificar que a microturbina apresenta

Page 76: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

75

alguns transitórios de corrente nos momentos de entrada e saída das outras fontes

de GD e também nos chaveamentos das cargas elétricas.

Figura 5.4 Tensão em pu e corrente em A nos terminais da microturbina.

Da mesma forma pode-se apresentar a imagem do Scope que apresenta as

medições do medidor trifásico conectado aos terminais dos painéis fotovoltaicos.

Para tal, deve-se levar em consideração o sinal de entrada dos painéis, que

representa a irradiação solar. Este sinal de entrada possui valores entre 600 W/m2 e

1400 W/m2, como pode ser visualizado na Figura 5.5 a seguir.

Page 77: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

76

Figura 5.5 Sinal de entrada do painéis fotovoltaicos.

Considerando-se o sinal de entrada da Figura 5.5 e levando em

consideração que este sinal é o mesmo para os três módulos monofásicos que

compõem o sistema fotovoltaico, obtém-se os seguintes sinais de tensão e corrente,

apresentados na Figura 5.6, medidos na saída do bloco do medidor trifásico

conectado aos terminais dos painéis.

Figura 5.6 Tensão em pu e corrente em A nos terminais do sistema fotovoltaico

Todavia, como o intuito destes estudos é avaliar os efeitos da conexão de

GD no sistema de distribuição de baixa tensão, deve-se analisar a imagem gerada

Page 78: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

77

pelo Scope colocado na saída do medidor trifásico conectado aos terminais da rede.

Esta imagem pode ser visualizada na Figura 5.7, na qual os valores de tensão e

corrente no intervalo da simulação para os terminais da rede são apresentados.

Figura 5.7 Tensão em pu e corrente em A medidos nos terminais da rede.

Conforme pode ser observado na Figura 5.7, a rede percebe a entrada de

todas as fontes de GD e também todos os chaveamentos de carga, sendo, portanto,

possível uma análise dos efeitos da GD sobre a rede de distribuição separada para

cada uma das fontes.

No instante t=0.5s é possível verificar um transitório de corrente,

consequente da entrada da microturbina. Este transitório possui uma amplitude

máxima em torno de 60 A. Deve-se levar em consideração que antes de entrada da

microturbina, a corrente era de aproximadamente 37 A, ou seja, a entrada da

microturbina vez com que houvesse um pico de corrente de aproximadamente 62%

por um curto intervalo de tempo. A tensão da rede, por sua vez, também apresenta

uma variação com a entrada da microturbina como fonte de GD: a tensão de regime

permanente ficou aproximadamente 0.01 pu maior após a conexão da microturbina.

No entanto, como pode ser percebido através da Figura 5.8, que destaca os efeitos

Page 79: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

78

da conexão da microturbina, a tensão não atingiu valores fora da faixa permitida

ANEEL, de acordo com as normas que regulam a qualidade de energia elétrica (ver

capítulo 3).

Figura 5.8 Efeitos da conexão da microturbina como fonte de GD.

Ainda com relação à conexão da microturbina ao sistema, vale ressaltar que

a rede, em regime permanente, além de sofrer um acréscimo no valor da tensão,

precisou se “adaptar” e passar a fornecer menos corrente ao sistema, uma vez que

parte da energia que alimenta as cargas elétricas agora é proveniente também da

microturbina.

Uma análise semelhante pode ser também realizada com relação à conexão

dos painéis fotovoltaicos à rede de distribuição. De acordo com os dados da

simulação, no instante t=2.5s ocorre a conexão dos painéis ao sistema. Conforme

pode ser visualizado na Figura 5.9, a conexão dos painéis faz com que haja um pico

de tensão que atinge 1.25 pu. Esta variação de tensão, no entanto, não se enquadra

na Tabela 3.1, pelo fato de ter uma duração bastante curta, o que não exigiria a

desconexão das fontes de GD da rede. No entanto, este pico de tensão poderia ser

Page 80: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

79

a causa do mau funcionamento ou até da queima de algum equipamento elétrico e,

portanto, estaria degradando a qualidade do sistema.

Figura 5.9 Efeitos da conexão do sistema fotovoltaico como fonte de GD.

Com relação aos efeitos da conexão do sistema fotovoltaico à corrente da

rede, pode-se verificar que esta conexão requer a diminuição do valor de corrente

fornecido pela rede e sua constante “adaptação”, de forma a fornecer a quantidade

de corrente necessária às cargas elétricas mesmo quando o valor de corrente na

saída do sistema fotovoltaico oscile em decorrência de variações na irradiação solar.

A CaC, da mesma forma como as outras duas fontes de GD analisadas,

também apresentou efeitos à rede. Conforme pode ser visto na Figura 5.10, a

conexão da CaC ao sistema ocasionou um pico de tensão, semelhante ao da

conexão dos painéis fotovoltaicos, porém desta vez atingindo 1.20 pu do valor da

tensão. Interessante no caso da CaC é analisar o impacto de sua conexão na forma

de onda da corrente, uma vez que esta a CaC é uma fonte de GD monofásica e

“obriga” a rede a fornecer um valor inferior de corrente em apenas uma de suas

fases, conforme pode ser observado no diagrama a seguir.

Page 81: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

80

Figura 5.10 Efeitos da conexão da CaC como fonte de GD.

5.3 SIMULAÇÕES DE CONDIÇÕES OPERACIONAIS COM O DIGSILENT

O software DIgSILENT possui a vantagem de proporcionar ao usuário uma

fácil interface gráfica para simulações de condições operacionais. Permite que o

usuário execute com facilidade simulações de fluxo de potência e de curto-circuito,

exigindo do usuário a devida construção do circuito a ser simulado e adição de seus

parâmetros elétricos.

Devido a estas vantagens, o DIgSILENT foi utilizado no âmbito deste projeto

para respaldar o estudo de diferentes condições operacionais que as fontes de GD

podem proporcionar. Na Figura 5.11 é possível ver o ambiente de simulação

proporcionado pelo DIgSILENT. Ainda nesta figura, o circuito desenvolvido para a

investigação das condições operacionais que as fontes do laboratório podem criar

também pode ser visualizado. Pode-se identificar, através desta figura, que o

Page 82: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

81

software utiliza o algoritmo de Newton-Raphson para realizar cálculos de fluxo de

potência.

Figura 5.11 Ambiente para simulação de condições operacionais do DIgSILENT.

Da mesma forma como a biblioteca SimPowerSystems do MATLAB permite

a utilização de blocos anteriormente modelados para realização de simulações,

necessitando apenas da alteração dos características elétricas através de

parâmetros fáceis de serem alterados, o software DIgSILENT também dá ao usuário

esta opção. Para estas simulações, conforme pode ser visualizado na Figura 5.11,

fez uso de um bloco de barramento, nomeado Terminal, para representar um

supernó, no qual todas as fontes do laboratório estão conectadas (desprezou-se

desta forma a impedância dos cabos existente no laboratório). Para a representação

da rede de distribuição, fez-se uso do bloco External Grid e para as cargas elétricas

um bloco General Load.

Para a representação das fontes de GD, também foram utilizados blocos

modelados do DIgSILENT. A microturbina foi caracterizada através de um bloco

Synchronous Machine, que permite a modelagem de máquinas síncronas, ajustada

Page 83: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

82

para operar como um gerador síncrono, capaz de fornecer até 30 kVA, de acordo

com as especificações apresentadas no catálogo da microturbina Capstone C30. Os

painéis fotovoltaicos foram representados através de um bloco Static Generator (em

português, conhecido como geradores estáticos), no qual as características do

painel também foram adicionadas. O guia de aplicação da norma IEEE 1547 (IEEE,

2008), define geradores estáticos, citado neste guia como conversores estáticos de

potência (do inglês, Static Power Converter), como o conjunto (entende-se aqui os

conversores de potência) necessário para a conversão de energia de uma fonte de

GD para transformar este energia para os parâmetros a algum sistema elétrico. Este

guia do IEEE justifica ainda esta distinção, por entender que as características

destes tipos de fonte são diferentes das fontes baseadas em geradores síncronos ou

assíncronos (de indução).

Deve-se ressaltar que neste ambiente de simulação não foi adicionada uma

fonte de GD que representasse a CaC, uma vez que para tal seria também

necessária a utilização de um bloco monofásico Static Generator. Entretanto, por

não haver a possibilidade de modelá-lo como uma fonte monofásica, optou-se por

representar sua injeção de potência através de um acréscimo na potência gerada

pelas outras fontes de GD e não utilizar um bloco Static Generator trifásico.

Com o circuito para a simulação de condições operacionais desenvolvido,

realizou-se as seguintes simulações. Ressalta-se que em todas estas simulações a

rede esteve constantemente conectada e as fontes de GD foram programas para

fornecer diferentes potências ao sistema, conforme as características descritas em

cada simulação:

1ª Simulação:

• Cargas elétricas de 30 kVA com cos φ = 1

• Microturbina fornecendo 10 kVA com cos φ = 1

• PV fornecendo 7.5 kVA com cos φ = 1

Com estas características elétricas ajustadas em cada uma das unidades,

executou-se a opção de calcular o fluxo de potência para o sistema. O resultado

encontra-se resumido na tabela a seguir.

Page 84: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

83

Tabela 5.1: Resultados da primeira simulação.

Unidade Potência Ativa [kW] Potência Reativa [kVAr]

Rede de Distribuição 12.5 0

Microturbina 10 0

PV 7.5 0

Cargas elétricas 30 0

Como se pode perceber a partir destes resultados, nesta configuração as

fontes de GD foram capazes de suprir 17.5 kW da potência solicitada pelas cargas

elétricas. Isto reduziu a necessidade da rede de suprir completamente esta carga e,

portanto, a rede forneceu apenas 12.5 kW para o sistema.

2ª Simulação:

• Cargas elétricas de 30 kVA com cos φ = 1

• Microturbina fornecendo 25 kVA com cos φ = 1

• PV fornecendo 7.5 kVA com cos φ = 1

Os resultados desta simulação, para um cálculo de fluxo de potência, estão,

da mesma forma como na simulação anterior, resumidos na tabela a seguir.

Tabela 5.2: Resultados da segunda simulação.

Unidade Potência Ativa [kW] Potência Reativa [kVAr]

Rede de Distribuição -2,5 0

Microturbina 25 0

PV 7,5 0

Cargas elétricas 30 0

Nesta simulação deve-se atentar ao fato de que o sinal da potência ativa

correspondente à rede de distribuição apresentou uma inversão de sinal. Isto se

deve ao fato de que, para esta configuração de operação das fontes de GD, a rede

de distribuição não fornece potência ativa ao sistema, mas, sim, absorve os 2.5 kW

potência excedente gerada no laboratório.

Page 85: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

84

3ª Simulação:

• Cargas elétricas de 30 kVA com cos φ = 0.92

• Microturbina fornecendo 25 kVA com cos φ = 1

• PV fornecendo 0 kVA (situação de “sombra”)

O resultados desta simulação podem ser visualizados na tabela seguinte.

Tabela 5.3: Resultado da terceira simulação.

Unidade Potência Ativa [kW] Potência Reativa [kVAr]

Rede de Distribuição 2,6 11,8

Microturbina 25 0

PV 0 0

Cargas elétricas 27,6 11,8

Neste caso simulado, conforme pode ser percebido através da Tabela 5.3,

as fontes de GD não são capazes de suprir toda a necessidade das cargas elétricas.

A rede de distribuição precisa então fornecer o restante desta energia e, portanto,

passa a entregar 2.6 kW e 11.8 kVAr.

É interessante verificar que este é um caso bastante ruim para a

concessionária de energia, uma vez que a rede passa a fornecer pouca potência

ativa em comparação com a potência reativa. Isto significa que a rede passa a

enxergar o consumidor, que neste caso engloba as cargas e as fontes de GD, como

uma única carga com um fator de potência muito baixo. Mais especificamente, a

rede enxerga este consumidor ativo como uma carga elétrica com fator de potência

igual a 0.2159, muito abaixo do 0.92, utilizado pela ANEEL como referência.

Esta condição operacional além de degradar a qualidade da energia, devido

ao baixo fator de potência, também pode apresentar um grande prejuízo à

concessionária de energia, uma vez que esta recebe apenas pela quantidade de

energia “ativa” (afinal, paga-se energia em kWh) e não pela energia aparente

entregue ao consumidor.

4ª Simulação:

• Cargas elétricas de 30 kVA com cos φ = 0.92

• Microturbina fornecendo 25 kVA com cos φ = 1

• PV fornecendo 7.5 kVA com cos φ = 1

Page 86: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

85

A Tabela 5.4, a seguir, contém os resultados para uma simulação de fluxo

de potência realizada sob estas condições.

Tabela 5.4: Resultado da quarta simulação.

Unidade Potência Ativa [kW] Potência Reativa [kVAr]

Rede de Distribuição -4,9 11,8

Microturbina 25 0

PV 7,5 0

Cargas elétricas 27,6 11,8

Esta situação é, sob o ponto de vista operacional e econômico, muito

desvantajosa para a concessionária de energia. O consumidor ativo, representado

aqui pelas cargas elétricas e pelas fontes de GD (a microturbina e os painéis

fotovoltaicos) consegue suprir a necessidade de potência ativa de sua carga e ainda

consegue injetar o excedente na rede. No entanto, o consumidor necessita ainda de

uma potência reativa, que precisa ser fornecida pela rede de distribuição. A rede

então passa a ter que fornecer a potência reativa ao cliente e ainda por cima receber

o excedente de potência ativa produzida pelo cliente. Em outras palavras, a

concessionária de energia passa a fornecer uma quantidade de energia, pela qual

não será paga, uma vez que se trata de potência reativa. Em uma situação

hipotética, na qual a política de tarifas feed-in (política de pagar ao consumidor ativo

pela energia injetada no sistema que visa acelerar os investimentos e

desenvolvimento de fontes alternativas de energia) fosse aplicada, o consumidor

ativo ainda receberia pelo excedente de energia ativa que ele estaria injetando na

rede.

5.4 ENSAIOS REALIZADOS NOS LABORATÓRIO PARA ESTUDOS DA GD

Conforme proposto por este trabalho, ensaios realizados no laboratório

desenvolvido na parceria entre CPFL, Unicamp e LACTEC devem respaldar o

estudo dos efeitos da GD em sistemas de distribuição de baixa tensão verificados

nos ambientes de simulação dos softwares MATLAB e DIgSILENT.

Page 87: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

86

A viagem para Campinas para a realização destes ensaios se deu entre os

dias 28 e 29 de junho de 2011 e contou com dois dias ensolarados que contribuíram

bastante com os ensaios, tendo em vista que, apesar das temperaturas amenas de

inverno, a operação dos painéis fotovoltaicos depende fortemente da irradiação

solar.

Dentre todos os ensaios realizados, dá-se ênfase a um ensaio, que permitiu

verificar os instantes de conexão e de desconexão, bem como a operação em

paralelo com a rede de distribuição de baixa tensão da CPFL das três fontes de GD

presentes no laboratório e, também, suas respostas aos chaveamentos de carga.

A bancada de medição montada para este projeto conta com equipamentos

de medição (ver capítulo 4) que permitem a mensuração das tensões e correntes de

cada fase. Estas podem ser visualizadas em tempo real em um monitor alocado

sobre a bancada, conforme mostra Figura 5.12.

Figura 5.12 Monitor da bancada de medição do laboratório de estudos da GD.

O ensaio completo contou com as conexões e desconexões das fontes de

GD, bem como com suas operações em paralelo com a rede ocorreu no intervalo de

tempo que vai de 11:13h às 11:54h do dia 29 de junho de 2011.

Para facilitar o estudo dos efeitos atrelados à conexão e à desconexão das

fontes de GD, este ensaio foi dividido em duas etapas. Na primeira etapa, que foi

realizada entre 11:13h e 11:33h, todas as fontes de GD e 25 kW de cargas elétricas

foram conectadas e operadas em paralelo. A segunda etapa do ensaio, realizada

entre 11:34h até as 11:54h, contou com a desconexão de todas as fontes de GD

bem como chaveamentos completos das cargas elétricas.

Page 88: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

87

A Figura 5.13 apresenta uma linha de tempo que indica o momento no qual

os eventos foram realizados na primeira etapa do ensaio. Os momentos de conexão

das fontes de GD bem como das cargas elétricas aparecem indicados.

Figura 5.13 Linha do tempo com indicação dos eventos da primeira etapa do ensaio.

Ressalta-se, conforme indicado pela Figura 5.13, que a microturbina e a

CaC foram programadas para fornecer 20 e 5 kW, respectivamente, e que o sistema

fotovoltaico não permite este tipo de ajuste, uma vez que sua potência de saída

depende da irradiação solar sobre os painéis. Destaca-se, entretanto, que em

situação de pico o sistema deve fornecer 7.5 kW.

As cargas elétricas, puramente resistivas, foram conectadas através de

disjuntores trifásicos e possuem potência total de 20 kW.

As imagens presentes nas Figura 5.14 até a Figura 5.17 apresentam os

diagramas das medições de corrente das três fases de todas as fontes de GD e das

cargas elétricas para o intervalo de tempo que vai de 11:13h até às 11:33h. A Figura

5.18 e a Figura 5.19 apresentam a tensão e a corrente, respectivamente, em cada

uma das fases da rede no ponto de conexão.

Page 89: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

88

Figura 5.14 Correntes (em A) em cada uma das fases da microturbina.

Page 90: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

89

Figura 5.15 Correntes (em A) em cada umas das fases da CaC.

Page 91: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

90

Figura 5.16 Corrente (em A) de cada uma das fases do sistema fotovoltaico.

Page 92: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

91

Figura 5.17 Corrente (em A) em cada uma das fases das cargas elétricas.

Page 93: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

92

Figura 5.18 Tensão (em V) em cada uma das fases da rede no ponto de conexão.

Page 94: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

93

Figura 5.19 Corrente (em A) em cada uma das três fases da rede no ponto de conexão da

fontes de GD.

Page 95: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

94

Alguns aspectos de grande importância podem ser avaliados com estes

diagramas da medição que permitem verificar as características de corrente e tensão

de todos os equipamentos nos seus momentos de conexão e de operação.

A Figura 5.14 comprova que a operação, em termos de corrente, da

microturbina é bastante estável e que não apresenta grandes variações de valor, o

que está de acordo com o modo como esta foi programada, para fornecer um valor

constante de potência. É interessante também verificar que a entrada da

microturbina não é instantânea e que ela leva alguns segundos até atingir a potência

previamente programa de fornecimento.

Da mesma forma como a microturbina, a CaC não passa a fornecer sua

potência de forma instantânea, necessitando de alguns segundos até atingir sua

potência programada de fornecimento. Este comportamento é mostrado na Figura

5.15. Importante é verificar que, ao contrário da microturbina, a forma de onda da

corrente da CaC tem um transitório um pouco mais elevado no momento da

estabilização da corrente de saída. Esta chega a atingir, aproximadamente, 10% do

valor máximo da corrente para a condição normal de operação.

Conforme esperado, os painéis fotovoltaicos apresentaram uma potência de

saída que variou bastante durante o período do ensaio. Isto pode ser visualizado na

Figura 5.16. Esta potência de saída não pode ser controlada, no sentido de mantê-la

constante, uma vez que esta está sujeita às variações da irradiação solar. É possível

ainda verificar que a forma de onda da corrente não é rigorosamente igual para cada

uma das fases, uma vez que o sistema fotovoltaico é composto por três módulos

monofásicos, que operam de forma separada. Destaca-se ainda o elevado

transitório de corrente na entrada do sistema fotovoltaico que conta com um pico de

corrente que supera o valor máximo da corrente na saída das três fases durante

todo o período do ensaio.

A corrente de carga, mostrada para cada uma das fases na Figura 5.17,

apresenta-se bastante estável logo após sua conexão para todo o período do

ensaio. Isto demonstra que a carga não é muito sensível à entrada e a operação em

paralelo das fontes de GD com a rede e que a rede consegue suportar bem todas as

variações no valor de corrente, decorrente da sua injeção por fontes de GD e dos

transitórios. Ressalta-se, todavia, que esta carga é, quando comparada a uma única

residência, consideravelmente grande, afinal, trata-se de uma carga resistiva de

20 kW.

Page 96: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

95

Finalmente, pode-se analisar a rede, foco deste estudo, perante a conexão e

operação em paralelo das fontes de GD. É importante verificar que a tensão da rede

não sofre grandes variações de seu valor. Entretanto, percebe-se, sim, influência

das fontes de GD.

Conforme pode ser visto através da Figura 5.18, a tensão da rede sofre uma

elevação bastante visível em seu valor durante o período de tempo que vai de,

aproximadamente 11:17h a 11:18h.

Uma análise destas figuras permite verificar que esta elevação do valor da

tensão está atrelada à conexão da microturbina (Figura 5.14). A partida da

microturbina se dá com esta operando como motor e, portanto, atuando como uma

carga sob a perspectiva da rede. A rede, robusta, consegue atender a esta

solicitação de corrente e, inclusive, fornecer a energia necessária para que a tensão

da microturbina se torne ligeiramente superior à tensão da rede, de forma a poder

garantir a entrada de operação da microturbina como fonte, operando agora como

gerador, ou seja, invertendo o fluxo de potência. No momento em que a microturbina

passa a operar não como motor, mas, sim, como fonte, percebe-se, portanto, um

forte decréscimo da corrente da rede, conforme pode ser visto na Figura 5.19. Isto

ocorre pelo fato da microturbina não demandar mais corrente da rede e, inclusive,

permitir que a rede forneça menos corrente para o sistema.

A análise minuciosa da Figura 5.18 permite ainda verificar que a tensão de

cada uma das fases da rede no ponto de conexão é, em regime permanente, mais

elevada no final deste ensaio do que no início do mesmo, enquanto todas as fontes

de GD ainda estavam desconectadas.

Isto demonstra que a GD apresenta a característica de influenciar o perfil de

tensão de regime permanente da rede. Ressalta-se, porém, que a tensão não sofreu

uma elevação que excedesse os limites sugeridos pelas normas abordadas neste

trabalho. No entanto, verificou-se que o fenômeno existe, o que permite afirmar que

uma inserção massiva de GD pode vir, sim, a ter uma expressão significativa e

exceder, desta forma, os limites propostos pelas normas.

Na segunda etapa deste ensaio, analisou-se a problemática da desconexão

das fontes de GD da operação em paralelo com a rede e investigou-se também o

impacto de uma variação brusca da carga.

Todas as fontes de GD iniciam a segunda etapa do ensaio já em

funcionamento. Trata-se, portanto, de uma continuação da primeira etapa do ensaio.

Page 97: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

96

De forma semelhante à primeira etapa do ensaio, criou-se uma linha de

tempo com intuito de facilitar a compreensão da ordem na qual os eventos ocorrem

na segunda etapa do ensaio laboratorial. Ressalta-se que, antes de ser dado o

comando de desligamento da CaC e da MT e da desconexão do sistema fotovoltaico

através do disjuntor correspondente, fez-se um chaveamento completo das cargas

(20kW). Para tal, efetuou-se uma desconexão completa das cargas de 20 kW e, 15

segundos após, novamente sua completa conexão. Todos os eventos da segunda

etapa aparecem indicados temporalmente na Figura 5.20

Figura 5.20 Linha de tempo com indicação dos eventos da segunda etapa do ensaio.

As oscilografias da corrente em cada uma das fases das fontes de GD e das

cargas elétricas encontram-se entre a Figura 5.21 e a Figura 5.24. As Figura 5.25 e

Figura 5.26 apresentam a tensão e a corrente, respectivamente, para cada uma das

fases da rede no ponto de conexão da GD.

Page 98: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

97

Figura 5.21 Corrente (em A) nas três fases da MT com desconexão.

Page 99: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

98

Figura 5.22 Corrente (em A) nas três fases da CaC com desconexão.

Page 100: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

99

Figura 5.23 Corrente (em A) nas três fases do sistema fotovoltaico com desconexão.

Page 101: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

100

Figura 5.24 Corrente (em A) das três fases da carga elétrica.

Page 102: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

101

Figura 5.25 Tensão (em V) das três fases da rede no ponto de conexão da GD.

Page 103: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

102

Figura 5.26 Corrente (em A) nas três fases da rede no ponto de conexão da GD.

Page 104: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

103

Verificações importantes podem ser constatadas com a análise das formas

de onda das correntes e tensões das fontes de GD, das cargas e da rede de

distribuição.

A análise da Figura 5.21 permite avaliar o comportamento da microturbina

no momento de sua desconexão. Como é possível observar, o desligamento da

microturbina não ocorre de forma instantânea. Ressalta-se, inclusive, que, por

recomendação do fabricante, não se deve simplesmente desligar o disjuntor trifásico

que conecta a microturbina à rede de distribuição, mas, sim, desligar a microturbina

e aguardar seu período de resfriamento (que ocorre enquanto esta opera como

motor). Somente quando esta atinge uma temperatura interna inferior a 195 °C, o

usuário recebe um aviso de que a desconexão através do disjuntor pode ser

efetuada.

O mesmo procedimento é válido para a CaC. Todavia, esta não necessita de

um período para resfriamento. Sugere-se apenas um desligamento prévio desta

através de seu software para, posteriormente, se executar a desconexão da mesma

através do disjuntor trifásico. Pode-se, portanto, verificar através da Figura 5.22 que

o desligamento e posterior desconexão da CaC não ocorrem de forma instantânea.

Verifica-se, inclusive, um período do qual a CaC fornece ainda potência a rede,

porém de menor valor.

O mesmo comportamento não é visto através da análise do sistema

fotovoltaico. Isto decorre do fato de que a desconexão deste sistema é feita pura e

simplesmente através da abertura do disjuntor trifásico. Tal comportamento pode ser

visualizado através da Figura 5.23. Percebe-se através desta figura que a forma de

onda da corrente vai a zero no instante da desconexão. Verifica-se ainda que a

característica não constante da potência de saída do sistema fotovoltaico

permanece até sua desconexão.

Uma análise das Figura 5.25 e Figura 5.26 permite constatar detalhes

importantes a respeito da operação e desconexão das fontes de GD sob a

perspectiva. Através da Figura 5.25 pode-se verificar que nesta segunda etapa, a

variação dos valores de tensão é mais visível do que na primeira parte dos ensaios.

Dois momentos podem ser facilmente percebidos, próximos aos instantes 11:41h e

11:44h.

A primeira variação está atrelada a breve desconexão de toda a carga,

conforme pode ser visto através da Figura 5.24. O que ocorre neste momento é que,

Page 105: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

104

com a desconexão das cargas, a rede passa a ter que absorver toda a energia

gerada pelas fontes de GD e sofre, em decorrência, uma elevação da tensão no

ponto de conexão. Esta variação no valor de corrente pode ser observada na Figura

5.26, que apresenta uma brusca elevação seguida de um brusco decréscimo, que

corresponde exatamente ao período no qual a carga foi desconectada e novamente

conectada.

Ainda com base na Figura 5.26, pode-se verificar que a segunda brusca

variação do valor da corrente corresponde ao instante no qual há a segunda

sobretensão na Figura 5.25. Esta sobretensão é consequência da desconexão

completa das cargas, através do chaveamento direto do disjuntor trifásico que as

conectava à rede, seguida do desligamento da microturbina. Pode-se perceber

através das Figura 5.24 e Figura 5.21 que a desconexão das cargas ocorre

segundos antes ao desligamento da microturbina.

Mais uma vez a rede passa a absorver toda essa potência gerada pela

microturbina (20 kW) e sofre, mais uma vez, uma elevação do valor de tensão no

ponto de conexão.

Outro aspecto importante permite ser observado através da Figura 5.25, que

apresenta as tensões da rede no ponto de conexão para as três fases. Pode-se

verificar que, ao contrário do que ocorre na primeira etapa do ensaio, a tensão de

regime permanente da rede inicia-se superior ao valor do final do ensaio,

comprovando, novamente, que a GD possui a característica de alterar o perfil da

tensão da rede no ponto de conexão, tornando-a superior no momento em que as

fontes de GD estão conectadas.

Com relação a transitório, alguns puderam ser observados durante a

realização dos ensaios. Transitórios relacionados ao sistema fotovoltaico foram

somente visíveis na conexão dos painéis, porém não durante a desconexão dos

mesmos. Este transitório de conexão foi de curta duração e apresentou pouca

variação de tensão, conforme pode ser observado na Figura 5.27, na qual o

transitório encontra-se destacado.

Page 106: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

105

Figura 5.27 Transitório de entrada do sistema fotovoltaico na tensão da rede.

Outro transitório foi observado na estabilização da potência de saída da

CaC. Conforme descrito anteriormente, a conexão da CaC não se dá de forma

instantânea e apresenta um transitório de corrente (Figura 5.15). Este transitório

possui também reflexo na tensão da rede, conforme pode ser observado na Figura

5.28.

Page 107: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

106

Figura 5.28 Transitório na tensão da rede no momento da conexão e estabilização da CaC.

No tocante à microturbina, notou-se que, apesar desta influenciar o perfil de

tensão em regime permanente, conforme apontado anteriormente, não foi observado

nenhum transitório de curta duração, semelhantes aos dos painéis e da CaC,

relacionado à conexão ou à desconexão da mesma.

5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Neste capítulo os efeitos da GD em sistemas de distribuição de baixa tensão

são abordados em simulações computacionais e experimentos práticos realizados

no laboratório desenvolvido para estudo da GD. Além de identificar vantagens e

desvantagens da utilização de dois softwares para simulações e investigação destes

Page 108: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

107

efeitos, foi possível observar e comparar os resultados práticos com os teóricos, bem

como, apontar características importantes das fontes de GD.

Ressalta-se a importância da verificação prática dos efeitos observados em

ambiente computacional. Conforme abordado no conteúdo deste capítulo, as

conexões e desconexões da fonte de GD requerem maior cuidado e etapas na

prática, o que dificulta, muitas vezes, sua representação fiel no ambiente de

simulação.

Page 109: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

108

6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a crescente inserção de fontes de GD nas redes de distribuição em

países desenvolvidos e em desenvolvimento e o incentivo à busca por eficiência

energética e redução de gases poluentes, torna-se imprescindível um estudo dos

efeitos da GD e seus aspectos em sistemas de distribuição.

Neste trabalho foram apresentadas as principais tecnologias da GD com

foco em sistemas de distribuição de baixa tensão, dentre as quais se destaca o uso

de painéis fotovoltaicos e aerogeradores de pequeno porte no âmbito residencial e

de microturbinas no âmbito comercial e industrial. O princípio da geração de energia

elétrica e as principais características de construção foram apontadas para cada

uma destas tecnologias. Apresentou-se também uma visão da norma IEEE 1547,

que é referência mundial para a conexão de GD em sistemas elétricos, e também do

PRODIST, que discute a questão do acesso ao sistema de distribuição no Brasil.

Observou-se, entretanto, que, no tocante às normas, no momento o Brasil

encontra-se em descompasso quando em comparação com outros países, tendo em

vista que ainda não possui uma norma específica e padronizada para a conexão de

GD em sistemas de distribuição de baixa tensão. Tal situação dificulta, inclusive, o

desenvolvimento dessas tecnologias no país, uma vez que não existe incentivo para

a GD, por exemplo, por meio de tarifas feed-in ou atrativos para a geração elétrica a

partir de fontes renováveis. Tampouco se concede a autorização ao consumidor final

para a operação em paralelo destas fontes.

Destaca-se que, atualmente, o consumidor final que deseja instalar um

painel fotovoltaico sobre sua residência, por exemplo, necessita operar este sistema

de forma isolada da rede de energia.

Com o intuito de investigar os efeitos da GD em sistemas de baixa tensão

sob a perspectiva das concessionárias de energia elétrica, desenvolveu-se, em dois

ambientes de simulação computacionais diferentes, uma representação de um site

de GD, correspondente a um laboratório montado neste projeto com fins de estudo

da GD.

Page 110: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

109

Com base nas simulações computacionais foi possível identificar e apontar

algumas das principais características da conexão e desconexão das fontes de GD

ao sistema elétrico de baixa tensão bem como das condições operacionais que

essas fontes podem proporcionar. Ao final, foi possível comparar o resultado dessas

simulações com os ensaios práticos realizados no laboratório.

Verificou-se que a GD apresenta, de fato, efeitos no sistema de distribuição

de baixa tensão. A conexão e a desconexão podem apresentar transitórios de

corrente que, por sua vez, podem refletir na forma de onda da tensão da rede. Tal

situação foi verificada, por exemplo, durante a conexão do sistema fotovoltaico em

laboratório, que, apesar de não possuir uma potência de pico muito elevada, se

comparada com outros sistemas já existentes no mercado ou até mesmo com a

potência da microturbina, foi capaz de afetar a forma de onda da tensão da rede no

ponto de conexão. Além disso, observou-se que a GD pode alterar o perfil de tensão

de regime permanente da rede, tornando-a mais elevada em relação à situação sem

GD.

Ressalta-se, no entanto, que durante as simulações computacionais e os

ensaios realizados no laboratório, não se encontrou uma situação que excedesse os

limites sugeridos pelas normas no que se refere à qualidade da energia.

Todavia, deve-se considerar que os efeitos da conexão e desconexão bem

como o efeito sobre o perfil da tensão em regime permanente existem e foram

evidenciados através deste estudo que considerou a utilização de apenas três fontes

de GD.

No que se refere às concessionárias de energia elétrica, observou-se que a

GD pode levar a configurações econômicas e operacionais desvantajosas para as

mesmas, dado que o consumidor que possui GD na rede de sua residência pode

suprir sua demanda ativa com esta geração e consumir da rede apenas energia

reativa. No pior dos cenários, configura-se uma situação na qual a rede, além de

fornecer somente energia reativa para o cliente, precisa ainda absorver e,

dependendo do acordo vigente, pagar pelo excedente de energia.

Permite-se, portanto, partir do entendimento que uma conexão massiva de

GD ao sistema de distribuição de baixa tensão pode apresentar impactos

significativos para as concessionárias de distribuição. Supondo, por exemplo, uma

vizinhança composta naturalmente por cargas e por várias fontes de GD, sua

desconexão através de um único ponto do sistema elétrico para uma operação

Page 111: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

110

ilhada, também conhecida como microgrid, poderia ser vista como a desconexão de

uma fonte de GD com grande potência e seus impactos na rede, em especial no

ponto de conexão, poderiam atingir proporções perigosas. Sugere-se, em tais casos,

a desconexão gradual das fontes de GD e posterior religamento, de forma a reduzir

o impacto da desconexão destas no sistema elétrico.

Destaca-se, com base nos estudos presentes neste trabalho, a importância

da investigação dos efeitos da conexão de GD aos sistemas de distribuição de baixa

tensão por parte das concessionárias e a importância de um gerenciamento destas

fontes. Permitir a operação independente de cada uma das fontes da GD

conectadas aos sistemas de distribuição não parece ser adequada tanto para

consumidores quanto para concessionárias de energia, tendo em vista que há a

possibilidade de se afetar negativamente a qualidade da energia da rede.

A conexão massiva de GD necessita, portanto, de um controle e um

gerenciamento inteligente. O próprio PRODIST (2011) destaca em seu texto que “a

distribuidora pode reunir as unidades produtoras de uma mesma área e conectadas

ao seu sistema de distribuição, para formar Centros de Despacho de Geração

Distribuída – CDGD”, já evidenciando a importância do gerenciamento da GD em

sistemas elétricos e apontando uma possível solução para o problema.

Ressalta-se, contudo, que, no caso do Brasil, deve-se ainda concentrar os

esforços não apenas na busca de uma operação e gerenciamento ótimo destas

fontes, mas, também, na elaboração de uma norma específica para a GD em

sistemas de distribuição de baixa tensão, de forma a contribuir para o

desenvolvimento da mesma, que, conforme apresentado no início deste trabalho, é

uma realidade em países desenvolvidos e vem sendo apontada como solução para

diversas questões, dentre as quais, a de eficiência energética e da redução da

emissão de gases poluentes.

6.2 TRABALHOS FUTUROS

Sugere-se, primeiramente, a expansão destes estudos para outras fontes de

GD que possuem também aplicação em sistemas de distribuição de baixa tensão.

Evidencia-se, por exemplo, o ganho em importância dos aerogeradores de pequeno

porte, que, apesar de ser objeto de estudo nos capítulos fundamentais deste

Page 112: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

111

trabalho, não se encontrava representado no laboratório para estudos da GD. A

verificação prática dos efeitos da conexão destes aerogeradores e, também, de

outras fontes não abordadas neste estudo seria, portanto, de grande importância,

em especial para as concessionárias de distribuição de energia.

Ressalta-se ainda que, durante a realização deste trabalho, não foi possível

utilizar cargas reativas e capacitivas no laboratório de estudos da GD. Todavia, a

verificação dos efeitos da GD em condições nas quais a carga elétrica considerada

não é puramente ativa é de extrema importância. Acredita-se que outras

particularidades na conexão e desconexão das fontes de GD, bem como outras

formas de transitórios deverão ser consideradas, partindo-se da utilização de cargas

elétricas com estas características elétricas.

Finalmente, sugere-se o avanço destes estudos no sentido de formular

regras para um gerenciamento e operação ótima destas fontes de GD. Destaca-se

que nem sempre o ponto de máximo rendimento das fontes de GD se encontra no

ponto de máxima entrega de potência, fato que deve ser levado em consideração no

gerenciamento e na busca por uma operação ótima de sistemas de distribuição de

baixa tensão com presença de fontes de GD.

Page 113: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

112

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MC-LEAN-CONNER, P. Energy Efficiency – Principles and Practices. Editora

PennWell, 2009.

WILLIS, H. L., WALTER G. S. Distributed Power Generation, Editora Macel

Dekker, 2000.

FARRET, A. F., SIMÕES, M.G. Intergration of Alternative Energy Sources,

Editora John Willey & Sons, 2006.

KREITH, F.; GOSWAMI, D. Yogi. Energy Efficiency and Renewable Energy.

Editora CRC Press Taylor & Francis Group, 2007.

GUARIZI, R. D. Células Fotovoltaicas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná

– Materiais Elétricos: Compêndio de Trabalhos, 2010.

TREVOR, J. P.; ‘BLYTH, James (1839–1906)’, Oxford Dictionary of National

Biography, online edn, Oxford University Press, Oct 2009. Disponível em

<http://www.oxforddnb.com/view/article/100957>. Acesso em 8 de abril de 2011.

LITTLE, A. D. Opportunities for Micropower and Fuel Cell / Gas Turbine Hybrid

Systems in Industrial Applications. Final Report to Lockheed Martin Energy

Research Corporation and the DOE Office of Industrial Technologies. Cambridge,

Massachusetts, 2000.

West Coast Energy, Management Congress. Micro and Mini Turbine Technology.

Julho de 2001.

BTM - Wind Market Report. Disponível em <www.renewableenergyworld.com/rea/

news/article/2010/07/btm-wind-market-report> Acesso em 6 de abril de 2011.

Page 114: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

113

MILFORD, Edward. BTM Wind Market Report. REW 20 July 2010. Retrieved: 6

August 2010.

Portal Photovoltaiko. Disponível em: <www.photovoltaiko.de>. Acesso em 20 de

abril de 2011.

Portal House Energy. Disponível em: <http://www.house-energy.com/Wind/

Manufacturers.htm>. Acesso em 20 de abril de 2011.

Portal The Wind Power: Disponível em: <www.thewindpower.net>. Acesso em 20

de abril de 2011.

WINDY BOY - Catálogo do Inversor Windy Boy, SMA. Alemanha.

TOYOTA – FCHV: Veículos à células de combustível. Disponível em:

<http://www.toyota.pt/innovation/technology/engines/fuel_cell.aspx>. Acesso em 11

de junho de 2011.

ENGENHARIA E SUAS ENGRENAGENS. O Avanço Técnologico das Células a

Hidrogênio. Disponível em: <http://engenhariaeengrenagens.blogspot.com/2010/05/

o-avanco-tecnologico-das-celulas-de.html>. Acesso em 11 de junho de 2011.

SWITCH – Irradiance Gain by Tracking. Disponível em:

< http://www.switchkingston.ca/wiki/ doku.php?id=tracker> Acesso em 15 de abril de

2011.

SOLARPOWER – Current-voltage and Power-voltage curve (175W Panel).

Disponível em: <http://www.solarpower-robina.com.au/solar-power/technical-

specifications.htm> Acesso em 15 de abril de 2011.

Page 115: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

114

GENI – Global Energy Network Institute: EPIA revises solar market growth for

2009 – global installs reached 7.2GW. Disponível em <http://www.geni.org/

globalenergy/library/technical-articles/generation/solar/pv-tech.org/epia-revises-solar-

marketgrowth/index.shtml> Artigo de 7 de maio de 2010. Acesso em 15 de abril de

2011.

BUNDESVERBAND SOLARWIRTSCHAFT. Die größten Solarzellenhersteller

weltweit im Jahr 2009 (nach Leistung in Megawatt). Disponível em

<http://de.statista.com/statistik/daten/studie/163986/umfrage/weltweit-groesste-

hersteller-von-solarzellen> Acesso em 20 de abril de 2010.

PURCHALA, K. et al. Distributed Generation and the grid integration issues.

Imperial College Londres, 2006.

THONG,V.V., DRIESEN, J., BELMANS, R. Power quality and voltage stability of

distribution system with distributed energy resources. International Journal of

Distributed Energy Resources, ISSN 1614-7138, Volume 1 Number 3. Editora:

Technology & Science Publishers, Kassel, Alemanha, 2005.

ANGELOPOULOS, K. Integration of distributed generation in low voltage

networks: power quality and economics. Master Thesis, University of Strathclyde

in Glasgow, Glasgow, 2004.

LATHEEF, A., NEGNEVITSKY, M., KASHEM, M., PERERA, S. Present

Understanding of the Impact of Distributed Generation on Power Quality. IEEE:

Australasian Universities Power Engineering Conference (AUPEC’08), 2008.

GUAN, F. H., ZHAO, D. M., ZHANG, X., SHAN, B.T.; LIU, Z. Research on

Distributed Generation Technologies and its Impact on Power Systems. IEEE,

2009.

Page 116: EFEITOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM SISTEMAS DE · PDF fileTrabalho de Conclusão de Curso, Departamento Acadêmico de Engenharia Elétrica ... 5.3 Simulações de condições operacionais

115

CARVALHO, R. C. Conexão da Geração Distribuída de Consumidores

Industriais em Paralelo com o Sistema de Distribuição e de Transmissão de

Concessionárias de Energia Elétrica. COOPE/UFRJ, Dissertação de Mestrado,

2009.

Toyama, J. et al. Conexão e Proteção de Geração Distribuída no Sistema de

Distribuição. IEEE/PES 2010 T&D Transmission and Distribution Conference and

Exposition Latin América, São Paulo, SP, 2010.

Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico

Nacional - PRODIST. Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, 2011.

Disponível em: http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=82. Acesso em 11 de maio

de 2011.

IEEE STANDARD 1547 – Standard for Interconnecting Distributed Resources

with Electric Power Sistems. Julho, 2003.

FILHO, Armando Silva. Análise Regulatória das Condições de Interconexão da

Geração Distribuída: Requisitos para os Procedimentos de Distribuição.

Dissertação de Mestrado para a Universidade Federal de Itajubá, Dezembro de

2005.

ECEE - Department of Electrical, Computer, and Energy Engineering. PV Module:

Simulink Models. Universidade do Colorado, EUA, 2008.

IEEE – Aplication Guide for IEEE 1547, Standard for Interconnecting

Distributed Resources with Electric Power Sistems. Aprovada em 10 de

dezembro de 2008.