efeitos da capacidade de liderança na capacidade digital e...

43
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e Desempenho Organizacional Isabel Cristina Ribeiro Dias Cristóvão MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Seção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações) 2017

Upload: truongdang

Post on 07-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e

Desempenho Organizacional

Isabel Cristina Ribeiro Dias Cristóvão

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Seção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações)

2017

Page 2: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e

Desempenho Organizacional

Isabel Cristina Ribeiro Dias Cristóvão

Dissertação orientada pelo Professor Doutor Luís Curral

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Seção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações)

2017

Page 3: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

i

RESUMO

A competitividade das empresas depende, com a omnipresença das tecnologias digitais,

da sua capacidade em realizar a transformação digital. Este estudo tem como objetivo

principal identificar os determinantes do desempenho das empresas no contexto específico da

transformação digital. A literatura identifica que as capacidades de liderança e digital

determinam o desempenho das empresas. Deste modo, à luz da teoria das capacidades

dinâmicas e tendo por base o modelo de transformação digital de Westerman, Bonnet e

McAfee (2014), o presente estudo procura avaliar o impacto das capacidades de liderança e

digital no desempenho das empresas e o papel mediador que a capacidade digital exerce na

relação entre a capacidade de liderança e o desempenho. Com este propósito, foi realizado um

estudo com 85 empresas dos sectores de retalho e bens de consumo, a operar em Portugal e

Espanha. Os resultados demonstram que a capacidade de liderança tem um impacto direto na

capacidade digital e no desempenho e que a capacidade digital tem um efeito mediador na

relação entre a capacidade de liderança e o desempenho. Concluiu-se que as capacidades de

liderança e digital são fundamentais para o sucesso de uma transformação digital.

Palavras-chave: liderança; capacidade de liderança; capacidade digital; transformação

digital; desempenho organizacional

Page 4: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

ii

ABSTRACT

The competitiveness of companies depends, with the omnipresence of digital

technologies, on their capacity to perform digital transformation. Thus, the main objective of

this study is to identify the key determinants of company performance in the specific context

of digital transformation. According to the literature, leadership and digital capabilities

determines the performance of companies. Thus, in light of the dynamic capabilities theory,

and based on Westerman's digital transformation model (Westerman, Bonnet & McAfee,

2014), the present study seeks to assess the impact of leadership and digital capabilities on

company performance and, in addition, the mediating role that digital capability plays in the

relationship between leadership capability and performance. With this purpose, a study was

conducted with 85 companies from the retail and consumer goods sectors, operating in

Portugal and Spain. The results show that leadership capability has a direct impact on digital

capability and performance, and that digital capability has a mediating effect on the

relationship between leadership capability and performnace. It was concluded that leadership

and digital capabilities are fundamental keys to the success of a digital transformation.

Keywords: leadership; leadership capability; digital capability; digital transformation;

organizational performance.

Page 5: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

iii

AGRADECIMENTOS

A realização desta tese de mestrado foi um dos objetivos mais desafiantes que eu

alcancei.

Gostaria de agradecer ao Professor Doutor Luis Curral a disponibilidade e o apoio

sempre oportunos. A sua orientação foi fundamental para concretizar, em tempo, esta

dissertação.

Gostaria de agradecer à Capgemini Portugal, à ACEPI (Associação da Economia

Digital) e às suas equipas que, a nível nacional e internacional, tornaram possível este estudo.

Gostaria ainda de agradecer a todas as pessoas das empresas participantes pela sua

disponibilidade e apoio.

Devo um especial reconhecimento à minha família, especialmente à minha mãe,

Joaquina, pelas minhas ausências e aos meus amigos, em particular à Lina e à Ana Margarida,

pelos valiosos contributos.

Ao João serei eternamente grata pelo seu amor e apoio incondicionais.

Page 6: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

iv

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 1DesempenhoOrganizacional 2CapacidadesOrganizacionais 5CapacidadedeLiderançaeDesempenhoOrganizacional 7CapacidadeDigitaleDesempenhoOrganizacional 12

CapacidadedeLiderança,CapacidadeDigitaleDesempenhoOrganizacional 14

MÉTODO 15ParticipanteseProcedimento 15AgregaçãodosDadosRecolhidosaoNívelIndividualparaoNívelOrganizacional 16ComparaçãodeMédiasporPaíseSector 18

Medidas 19

RESULTADOS 20MedidasDescritivas 20ModelodeMediação 22

DISCUSSÃO 24

IMPLICAÇÕESPRÁTICAS 26

LIMITAÇÕESEINVESTIGAÇÃOFUTURA 27

CONCLUSÃOGERAL 28

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS 29

Page 7: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

1

INTRODUÇÃO

Liderar a transformação digital, superando a concorrência, é um dos maiores desafios

que os líderes enfrentam atualmente, e a que nenhuma empresa ou sector está imune

(Westerman, Calméjane, Bonnet, Ferraris & McAfee, 2011). À semelhança do que aconteceu

nas duas revoluções industriais com a invenção da máquina a vapor no séc. XVIII e da

eletricidade no séc. XIX, vive-se atualmente uma mudança disruptiva dos modelos de

organização social e económica, em virtude da omnipresença digital (Kreutzer, 2014). Com a

massificação tecnológica, os líderes das organizações vêm-se confrontados com uma

mudança transformacional (Todnem By, 2005; Burke, 2011), quer na forma como as pessoas

vivem e trabalham, quer na forma como as empresas organizam os seus modelos de negócio

(Downes & Nunes, 2013). Deste modo, a sobrevivência de uma empresa reside na sua

capacidade de adaptação a um contexto cada vez mais digital, que Kreutzer (2014) designa

por Darwinismo Digital. Assim, não é por acaso que a transformação digital é uma prioridade

nas agendas de quase 90% dos executivos de empresas inglesas e americanas que esperam

uma forte contribuição do digital para o sucesso do seu negócio durante a década 2012-2022

(Bonnet, Westerman & McAfee, 2012).

Em resposta a esta problemática Westerman, Bonnet & McAfee (2014) desenvolveram

um modelo de transformação digital, definido como a utilização de tecnologias digitais

(social media, mobilidade, analytics ou dispositivos móveis) para obter melhorias

substanciais no negócio (melhorar a experiência do cliente, agilizar operações ou criar novos

modelos de negócio). Num estudo junto de 391 empresas de 30 países os autores

identificaram dois determinantes do sucesso da transformação digital: a capacidade de

liderança e a capacidade digital. Classificaram as empresas em quatro tipos, conforme o grau

de mestria em cada uma das duas capacidades: as iniciantes (beginners) que não possuem

capacidade digital nem capacidade de liderança; as pioneiras (fashionistas) que são as

primeiras a adotar as novas tecnologias digitais, mas não têm capacidade para liderar e

coordenar as diferentes iniciativas; as conservadoras (conservatives) que têm forte capacidade

de liderança, mas são lentas a criar capacidade digital devido à prudência nos investimentos; e

as mestres do digital (digital masters) que são fortes na inovação digital e na liderança da

transformação digital. No entanto, os autores não testaram o impacto direto que cada uma das

variáveis tem no desempenho das empresas, nem o papel mediador que a capacidade digital

Page 8: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

2

exerce na relação entre a capacidade de liderança e o desempenho organizacional. Assim, à

luz da teoria das capacidades dinâmicas (Eisenhardt & Martin, 2000; Teece, 2014), o presente

estudo tem por objetivo principal avaliar o impacto da capacidade de liderança (capacidades

dinâmicas) e da capacidade digital (capacidades ordinárias) no desempenho organizacional.

Adicionalmente, procura avaliar o papel mediador que a capacidade digital exerce na relação

entre a capacidade de liderança e o desempenho organizacional. Relativamente a este último

utilizou-se o modelo do Balanced Scorecard (BSC) (Kaplan & Norton, 2001).

Com este estudo pretende-se contribuir com um melhor conhecimento dos

determinantes do sucesso da transformação digital e fornecer orientações práticas aos

executivos sobre a forma como devem conduzir a transformação nas suas empresas.

Adicionalmente, este estudo, ao incidir nas empresas de retalho e bens de consumo que

operam em Portugal e Espanha, pretende validar a adequação do modelo de Westerman e

colaboradores (2014) nestes dois países. Tendo em conta os objetivos traçados, adotou-se

uma metodologia quantitativa recorrendo ao inquérito.

Em seguida são apresentados os fundamentos teóricos do modelo e as hipóteses de

estudo. Posteriormente, é descrito o método de pesquisa, são apresentados os resultados do

estudo e discutidas as suas implicações.

Desempenho Organizacional

O desempenho organizacional é uma variável muito importante para avaliar o sucesso

das empresas e a sua capacidade de sobrevivência (Rumelt, Schendel & Teece, 1991;

Chakravarthy, 1986). É, frequentemente, considerado o objetivo último de uma empresa

(Richard, Devinney, Yip & Johnson, 2009) e tem constituído a principal referência para

avaliar as decisões e o desempenho dos executivos (March & Sutton, 1997). As empresas

para cumprirem os seus objetivos e assegurarem a sua vantagem competitiva, precisam de

colaboradores e equipas com elevados níveis de desempenho. Assim, importa distinguir o

desempenho individual do desempenho organizacional (Sonnentag & Frese, 2002).

O desempenho individual refere-se ao que as pessoas fazem (i.e. comportamentos) para

alcançar os objetivos da empresa (Sonnentag & Frese, 2002). Neste âmbito, importa distinguir

os antecedentes (características individuais ou contexto), os comportamentos e os resultados

alcançados, sejam eles individuais, grupais ou resultado da empresa (Campbell & Wiernick,

2015).

Page 9: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

3

Sonnentag e Frese (2002) distinguem o desempenho da tarefa e do contexto. O

desempenho da tarefa é relativo às atividades que transformam os materiais nos bens e

serviços da empresa, diretamente (e.g. operários) ou indiretamente (e.g. supervisores ou

administrativos). O desempenho do contexto consiste em atividades que mantêm o ambiente

organizacional, social e psicológico do trabalho (e.g. ajudar os colegas, proteger a empresa,

contribuir para a melhoria dos processos). As competências e conhecimentos são antecedentes

do desempenho da tarefa, enquanto a personalidade e a motivação são antecedentes do

desempenho do contexto. Estudos recentes têm avaliado a relação entre satisfação no trabalho

(Judge, Thorensen, Bono & Patton, 2001), a atitude perante o trabalho e desempenho

(Harrison, Newman & Roth, 2006). Campbell e Wiernick (2015), numa tentativa de

sistematizar e integrar os diferentes contributos da literatura, propõem um modelo de

desempenho individual constituído por oito fatores: 1) técnico; 2) comunicação; 3) iniciativa,

persistência e esforço; 4) comportamento contra produtivo; 5) liderança executiva, direção e

supervisão; 6) gestão; 7) liderança de pares/equipas; e 8) gestão de pares/equipas. Estes oito

fatores são invariantes entre líderes, níveis organizacionais, áreas funcionais, sectores e tipos

de empresa.

O desempenho organizacional pode ser avaliado em duas vertentes: comportamento

organizacional e os resultados atingidos. O comportamento organizacional avalia aspetos

como a mudança ou reorientação estratégica, conflitos, atividades ilegais (Boal & Hooijberg,

2000). Os resultados atingidos baseiam-se em indicadores-chave, tais como, lucros, vendas,

quota de mercado, produtividade, solvabilidade, e valor das ações (March & Sutton, 1997).

Estes não dependem de julgamentos subjetivos (Kaiser, Hogan & Craig, 2008) e constituem

uma referência objetiva e consistente (Chakravarthy, 1986; Kaplan & Norton, 1996). Para

efeitos deste estudo, adotou-se esta última metodologia.

A definição de desempenho organizacional não é consensual e assume diferentes

abordagens (Richard et al., 2009). Para esta situação concorrem dois fatores. O primeiro

deve-se ao facto dos investigadores de cada disciplina usarem medidas de desempenho

específicas dos contextos organizacionais que estudam (e.g. a área financeira avalia o retorno

do investimento, o marketing a satisfação dos clientes, as operações a produtividade e os

recursos humanos a motivação dos colaboradores) (Chenhall & Langfield-Smith, 2007). O

segundo prende-se com diferentes conceções sobre a natureza do desempenho da empresa.

Neste caso importa distinguir entre o desempenho organizacional e a eficácia organizacional

Page 10: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

4

(Richard et al., 2009). O desempenho organizacional compreende três tipos de resultados:

financeiros (e.g. lucro, retorno do investimento); desempenho no mercado (e.g. vendas, quota

de mercado); e valor para o acionista (e.g. EVA, retorno para o acionista). A eficácia

organizacional é mais abrangente e, para além dos resultados financeiros, inclui medidas de

desempenho interno e medidas externas e não financeiras associadas à valorização económica

da empresa, como por exemplo, a responsabilidade social (Richard et al., 2009).

Apesar das métricas financeiras assumirem particular relevo na avaliação do

desempenho organizacional, os múltiplos desafios decorrentes da globalização, da incerteza

económica, das pressões sociais e ambientais e, mais recentemente, do advento da era digital,

têm levado as empresas a monitorar o seu desempenho usando indicadores financeiros e não-

financeiros (Kaplan & Norton, 1996). Chakravarthy (1986), num estudo pioneiro sobre

indicadores do desempenho que distinguem empresas excelentes (cit. in Peters & Waterman,

1982), concluiu que: 1) a excelência é um fenómeno complexo e requer um modelo

multifatorial, não podendo ser explicada por um único indicador (Kaplan & Norton, 1996;

Richard et al., 2009); 2) as empresas excelentes medem o grau de satisfação das diferentes

partes interessadas (Stakeholder Theory) e não apenas dos acionistas (Freeman & McVea,

2001; Kaplan & Norton 1992; Richard et al., 2009); 3) as medidas que melhor discriminam a

excelência são as que avaliam a capacidade de adaptação da empresa para responder às

mudanças do seu ambiente, tais como o investimento em inovação e o desenvolvimento de

capacidades técnicas ou de gestão (Bharadwaj, 2000; Kaplan & Norton 2001; Helfat &

Martin, 2014). Carter e Greer (2013) referem a importância de medidas múltiplas da eficácia

organizacional que se traduzem na avaliação de resultados financeiros, sociais e ambientais

(triple bottom line).

Em resposta à necessidade de um sistema holístico para avaliação do desempenho

organizacional (Richard et al., 2009), Kaplan e Norton (1992) (cit. in Hoque, 2014 p.36)

propõem o modelo Balanced Scorecard (BSC). Este modelo mede o desempenho da empresa

através de indicadores-chave organizados em quatro dimensões - financeira, cliente, processos

internos e aprendizagem e crescimento – e proporciona uma avaliação integrada entre os

resultados financeiros de curto prazo e outras dimensões críticas para a competitividade

futura. Estas dimensões pressupõem uma lógica hierárquica, com a dimensão financeira no

topo. Mais tarde, Kaplan e Norton (1996) desenvolvem o mapa estratégico como ferramenta

para monitorar a execução da estratégia. Os objetivos estratégicos são organizados nas quatro

Page 11: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

5

dimensões e interligados através de relações causa-efeito. O mapa estratégico facilita a

compreensão das inter-relações entre as diferentes dimensões, e facilita a tomada de decisão

(Humphreys, Gray & Trotman, 2016). Estes autores confirmaram o efeito positivo das

relações causa-efeito na obtenção de melhores níveis de rentabilidade, sendo o impacto ainda

mais significativo em situações dinâmicas e de elevada complexidade. Desde a sua origem, o

BSC suscita grande interesse entre académicos e gestores (Rigby & Bilodeau, 2015), e tem

sido largamente aplicado para avaliar o desempenho organizacional (Hoque, 2014; Kaiser et

al., 2008).

A dimensão financeira, compreende objetivos associados à eficiência, produtividade e

geração de receitas, refletindo os interesses do acionista (Kaplan & Norton, 1996). A

dimensão cliente reflete as expectativas dos clientes em termos dos produtos / serviços, da

qualidade do relacionamento e dos níveis do serviço prestado. Estes aspetos são fundamentais

para um bom relacionamento com os clientes e consequente fidelização (Hayes, 2008, citado

por Wu, Strub & Liang, 2015, p. 507) que, por sua vez, leva à rentabilidade a longo prazo

(Reichheld et al., 2000). A dimensão processos internos define a forma como a empresa vai

diferenciar os seus processos, ao nível das operações, do serviço ao cliente e de inovação,

para entregar aos seus clientes a proposta de valor (Hoque, 2014). O equilíbrio entre estas três

vertentes é crítico para satisfazer as expectativas dos clientes (Simchi-Levi, Kaminsky &

Simchi-Levi, 2000). Por sua vez, Rai, Patnayakuni e Seth (2006) concluíram que o bom

desempenho da dimensão operacional tem impacto significativo na dimensão financeira. A

dimensão aprendizagem e crescimento identifica os pilares da estratégia da empresa, em

termos das competências, tecnologias, liderança e cultura (Kaplan & Norton, 2000).

O presente estudo tem como referência o modelo do BSC para avaliar o desempenho

organizacional, definido como o resultado agregado da empresa avaliado em indicadores de

desempenho relativos às dimensões de desempenho financeira, cliente e processos internos,

relativamente à sua concorrência (Slywotzky, Morrison & Weber, 2000; Rai et al., 2006).

Capacidades Organizacionais

O desempenho e sobrevivência de uma empresa dependem da sua capacidade para

criar e manter vantagens competitivas (Eisenhardt & Martin, 2000; Teece, 2014). Segundo a

teoria das capacidades dinâmicas, as capacidades de uma empresa são “um conjunto de

atividades atuais ou potenciais que têm como função utilizar os recursos de uma empresa para

Page 12: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

6

produzir e/ou distribuir produtos e serviços” (Teece, 2014, p. 328). A investigação sobre as

capacidades dinâmicas evoluiu da teoria dos Resource-Based View (RBV) (Eisenhardt &

Martin, 2000). Esta teoria defende que uma empresa consegue alcançar uma vantagem

competitiva sustentável e duradoura, quando tem recursos valiosos, raros, inimitáveis e não-

substituíveis (VRIN) (Eisenhardt & Martin, 2000). Todavia, com a crescente dinâmica e

volatilidade dos mercados, esta perspetiva tornou-se desajustada, por ser demasiado estática e

negligenciar as alterações externas (Eisenhardt & Martin, 2000; O´Reilly III & Tushman,

2008; Teece, 2014). Assim, a vantagem competitiva depende de capacidades que permitem

recombinar e reconfigurar os recursos e competências de forma a responder às alterações

externas (Eisenhardt & Martin, 2000; Wang & Ahmed, 2007; O`Reilly III & Tushman, 2008;

Teece, 2014).

Teece (2014) considera que existem dois tipos de capacidades: dinâmicas e ordinárias.

As capacidades dinâmicas são da responsabilidade da liderança estratégica (O´Reilly III &

Tushman, 2008; Helfat & Martin, 2014). Podem ser definidas como “a habilidade de uma

empresa em integrar, desenvolver e reconfigurar competências internas e externas de forma a

responder às mudanças do meio envolvente” (Teece, Pisano & Shuen, 1997, citado por Di

Stefano, Peteraf & Verona, 2014, p. 315). Teece (2014) classifica-as em três grupos: 1)

identificação e desenvolvimento oportunidades (sense); 2) aproveitamento, mobilização,

orquestração e alocação dos recursos necessários (seize), 3) transformação da empresa, dos

seus recursos e capacidades (transform). Eisenhardt e Martin (2000) definem as capacidades

dinâmicas como rotinas organizacionais e estratégicas que permitem alcançar novas

reconfigurações de recursos à medida que o mercado evolui. As capacidades ordinárias

consistem em rotinas administrativas, operacionais e de governação técnica das atividades

(O`Reilly III & Tushman, 2008; Teece, 2014). Daspit, D’Souza e Dicke (2016) subdividem-

nas em três grupos: 1) capacidades de cliente (e.g. desenvolvimento das relações com o

cliente), 2) capacidades operacionais (e.g. produção, vendas, distribuição, compras, etc.) e 3)

capacidades de alinhamento (e.g. alocação de recursos com vista a melhorias incrementais).

Diversos autores defendem que as capacidades dinâmicas têm a função de ampliar,

modificar ou criar as capacidades ordinárias (Eisenhardt & Martin, 2000; Winter, 2003;

Teece, 2014; Di Stefano et al., 2014) que, por sua vez, constituem o “motor de criação de

valor” da empresa e a fonte das suas vantagens competitivas (Winter, 2003). Assim, Teece

Page 13: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

7

(2014) defende que as atividades de nível superior podem habilitar uma empresa a orientar as

suas capacidades ordinárias para obter retornos elevados.

Westerman e colaboradores (2014) consideram que o sucesso de uma transformação

digital depende de dois tipos de capacidades: a capacidade de liderança e a capacidade digital.

A capacidade de liderança é a aptidão da empresa para implementar práticas de transformação

do topo para a base (i.e., visão, compromisso, governação, e relação entre tecnologias de

informação (TI) e o negócio), para impulsionar a transformação digital e aumentar

substancialmente o desempenho organizacional. Este tipo de capacidade diz respeito ao

“como” (how) da transformação digital e situa-se ao nível superior da organização. A

capacidade digital consiste na adoção de tecnologias digitais (e.g. social media, mobilidade,

web, analytics) com vista a melhorar a experiência do cliente e otimizar as operações, de

modo a criar vantagens competitivas. Esta dimensão diz respeito ao “o quê” (what) da

transformação digital e situa-se ao nível operacional. Estes autores adiantam que existe uma

relação entre as duas dimensões. A capacidade de liderança tem a função de assegurar, por

um lado, que os elementos de “o quê” (capacidade digital) são criados e desenvolvidos de

uma forma eficiente e, por outro, que a empresa tem as competências e cultura que permitam

obter valor (vantagem competitiva) a partir daqueles.

Para efeitos deste estudo, a capacidade de liderança é considerada uma capacidade

dinâmica e a capacidade digital uma capacidade ordinária. As mesmas serão descritas

detalhadamente de seguida, bem como a sua relação com o desempenho organizacional.

Capacidade de Liderança e Desempenho Organizacional

A liderança é um fenómeno complexo caracterizado pela influência bidirecional de

vários agentes, interligados em sistemas formais e informais, em que os líderes não controlam

diretamente os resultados da empresa (Marion & Uhl-Bien, 2002; Uhl-Bien, Marion &

McKelvey, 2007). É apenas um dos múltiplos fatores que influenciam o desempenho da

empresa (Zaccaro & Klimoski, 2001, citado por Kaiser et al., 2008). No entanto, estudos têm

demonstrado que a liderança de topo (strategic leadership) tem uma forte influência nos

resultados da empresa (Boal & Hooijberg, 2000; Kaiser et al., 2008; Finkelstein, Hambrick &

Cannella, 2009; Carter & Greer, 2013; Helfat & Martin, 2014). De facto, os líderes

influenciam os resultados da empresa através de outras pessoas (Hogan & Kaiser, 2005),

estabelecem a direção e os objetivos do grupo, inspiram os indivíduos de forma a obter o seu

Page 14: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

8

compromisso com a empresa (Bass, 1990; Avolio et al., 2009) e motivam-nos para alcançar

os resultados pretendidos (Kanter et al., 1992; Kotter, 1996). As decisões estratégicas que

tomam (e.g. estratégia, estrutura organizativa, políticas) criam as condições que permitem

melhores níveis de desempenho individual, dos grupos e da empresa (Boal & Hooijberg,

2000; Kaiser et al., 2008).

Na ótica da teoria das capacidades dinâmicas, os líderes têm a responsabilidade de

garantir as capacidades distintivas que asseguram a competitividade e sobrevivência da

empresa (Eisenhardt & Martin, 2000; Teece et al., 2014). Num ambiente dinâmico, volátil e

disruptivo (Downes & Nunes, 2013), que exige uma mudança contínua, liderar a mudança

organizacional é uma função dos líderes (O`Reilly III & Tushman, 2008; Teece, 2014). Este

é, também, o caso da transformação digital (Westerman et al., 2014), em que os líderes têm

um papel fundamental para o seu sucesso (Kanter, Stein, & Jick, 1992; Kotter, 1996; Derue et

al. 2011; Burke, 2011; Higgs & Rowland, 2011).

Neste contexto, a forma como os líderes mobilizam os outros e criam as condições para

o sucesso da mudança tem suscitado um interesse crescente (Todnem By, 2005; Avolio,

Walumbwa & Weber, 2009; Dinh, Lord, Gardner, Meuser, Liden & Hu, 2014). A literatura

sobre esta problemática tem seguido duas abordagens complementares (Eisenbach, Watson &

Pillai, 1999; Herold, Fedor, Caldwell, Liu, 2008; Kaiser, McGinnis, Overfield, 2012;

Kavanagh & Ashkanasy, 2006).

A primeira, com enfoque nos estilos de liderança, procura explicar como é que os

líderes influenciam o comportamento dos seus seguidores. Podemos identificar na literatura

diversos estilos (Carter & Greer, 2013): transacional (Bass, 1990; Bass, Avolio, Jung &

Berson, 2003), transformacional (Bass, 1990; Bass et al., 2003), carismático (Conger &

Kanungo, 1987) autêntico (Avolio & Gardner, 2005), serviço (Van Dierendonck, 2011),

responsável (Waldman & Galvin, 2008).

Os estilos transacional, transformacional e carismático têm sido os mais investigados,

(Judge & Piccolo, 2004; Derue et al., 2011). Estudos têm demonstrado a complementaridade

entre o estilo transacional (os seguidores são guiados na direção das metas estabelecidas,

através da clarificação do papel e dos requisitos da tarefa) e o transformacional (servem de

inspiração aos seus seguidores que os levam a ultrapassar os interesses próprios para o bem da

organização) (Bass et al., 2003; Epitropaki & Martin, 2005). Com efeito, a definição de

objetivos e expectativas claras, característica da liderança transacional, é um pré-requisito

Page 15: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

9

para o sucesso da liderança transformacional (Kaiser et al., 2008). Os estilos

transformacionais e carismático são considerados mais eficazes em situações de mudança

profunda e em ambientes dinâmicos (Bass, 1999; Eisenbach et al., 1999; Agle, Nagarajan,

Sonnenfeld & Srinivasan, 2006; Derue et al., 2011). O estilo carismático (inspira os outros a

partilhar a visão e os valores da empresa, através da identificação personalizada com o líder) é

considerado como uma componente do estilo transformacional (Bass, 1990). Bass e

colaboradores (2003) consideram que as características que mais distinguem um líder

transformacional são a capacidade em alinhar os interesses dos indivíduos com os da empresa,

desenvolvendo neles um processo de identificação com os valores, a missão e a visão da

mesma. De acordo com estes autores, o estilo transformacional tem quatro componentes: 1)

influência idealizada (estabelece a visão e sentido de missão, inspira o orgulho, ganha o

respeito e a confiança); 2) inspiração (comunica de forma simples, define expectativas

elevadas, utiliza símbolos para focalizar os esforços); 3) estimulação intelectual (promove a

pro-atividade, a racionalidade e a resolução de problemas); e 4) consideração individualizada

(dá atenção pessoal, orienta, aconselha). Estudos têm evidenciado que existe um impacto

direto do estilo transformacional nos resultados da empresa (Bass et al., 2003; Avolio et al.,

2009; Camarero Izquierdo et al., 2015) e, indireto, através do melhor desempenho dos

colaboradores (Nemanich & Keller, 2007), do seu compromisso com a organização

(Walumba et al., 2004) e da maior capacidade de adaptação da organização (Tucker &

Russell, 2004).

A segunda abordagem, com enfoque no processo de mudança organizacional tem

inspiração no modelo de Lewin (1947) (cit. in Cummings, Bridgman & Brown, 2016)

(Todnem By, 2005; Herold et al., 2008;). Este modelo conceptualiza a mudança em três

etapas principais: descongelar, mudar e re-congelar (unfreeze, change e refreeze). Em linha

com as teorias emergentes da mudança, segundo as quais esta não é um processo linear

(Todnem By, 2005; Burnes, 2005; Uhl-Bien et al., 2007), vários autores (Kanter et al., 1992;

Kotter, 1996; Gilley et al., 2009; Higgs & Rowland, 2011) identificam os comportamentos

mais eficazes para liderar com sucesso a mudança (e.g. implementação de uma visão clara,

rompimento com o passado, criação de um sentido de urgência, desenvolvimento das

estruturas organizativas, envolvimento dos colaboradores, consolidação da mudança) (Kanter

et al., 1992). Neste sentido, também Westerman et al., (2014), propõem uma bússola da

transformação digital (digital transformation compass) que compreende um conjunto de

Page 16: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

10

práticas organizadas em quatro módulos: 1) definir o desafio digital (identificar oportunidades

e ameaças e a situação de partida, criar a visão e alinhá-la com a gestão de topo; 2) focar o

investimento (criar as estruturas de governação, obter recursos financeiros e definir o

programa de iniciativas); 3) mobilizar a organização (comunicar as expectativas, envolver os

colaboradores e promover novos comportamentos e cultura); 4) suportar a transição

(desenvolver as novas competências, monitorar o progresso e ajustar as iniciativas).

Westerman e colaboradores (2014) identificam quatro sub-dimensões da capacidade de

liderança. Os autores consideram que a visão digital, envolvimento e governação são comuns

a qualquer transformação profunda (Burke, 2011) e acrescentam a dimensão capacidade de

liderança tecnológica, específica dos contextos de transformação digital. Sobre esta última e

para efeitos deste estudo, será avaliada apenas a sub-dimensão relação tecnologias de

informação (TI)-negócio. De seguida descrevem-se as quatro dimensões da capacidade de

liderança deste modelo, usadas neste estudo.

A visão digital é uma imagem partilhada sobre a empresa no futuro, a direção a seguir e

os resultados a atingir (Westerman et al., 2014; Berson, Waldman & Pearce, 2016). A sua

função principal é promover o sentido de urgência para a mudança, as suas vantagens e o

alinhamento dos interesses das partes envolvidas num objetivo comum (Kanter et al., 1992;

Kotter, 1996). A visão digital deve ser clara, credível e definir a forma como a empresa vai

transformar o seu negócio (Westerman et al., 2014). A comunicação da visão deve ser

dirigida a todos os colaboradores, pois isso aumenta o seu sentido de identificação com a

mesma, bem como a sua aceitação e compromisso no processo de mudança (Bovey & Hede,

2001; Kavanagh & Ashkanasy, 2006). Westerman e colaboradores (2014) sublinham a

importância desta dimensão, ao verificarem que uma das características principais das

empresas mestres do digital é o facto de terem, comunicarem e partilharem uma visão digital.

Finalmente, estudos recentes (Berson et al.; 2016; Avolio et al., 2009) relacionam a visão do

líder com os resultados da empresa.

O envolvimento respeita ao conjunto de iniciativas que desenvolvem o compromisso

dos colaboradores com a mudança (e.g. comunicação da visão, participação na discussão da

mudança, criação das competências, ajustamento da cultura organizacional) (Kanter et al.,

1992; Kotter, 1996; Westerman et al., 2014). Estas iniciativas devem permitir que os

colaboradores explorem novas oportunidades, aumentem o seu entusiasmo relativamente à

mudança e aprendam as novas competências (Walumbwa, Wang, Lawler, & Shi, 2004;

Page 17: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

11

Berson, Da´as, Waldman, 2015). O compromisso, definido como o alinhamento psicológico

dos colaboradores com a mudança, é um preditor dos comportamentos de apoio à mudança

(Herscovitch & Meyer, 2002), Herold et al., 2008) e está associado a uma menor resistência à

mudança (Conner, 2006; Westerman et al., 2014).

A governação diz respeito à criação de estruturas, processos e mecanismos de gestão

que garantam a concentração nos objetivos pretendidos (Kanter et al., 1992; Kotter, 1996;

Westerman et al., 2014). No caso da transformação digital, a governação refere-se, por um

lado, à definição do modelo de negócio digital, das estruturas organizativas, dos papéis e

responsabilidades (e.g. criação de uma unidade de negócio digital independente e/ou da

função do diretor digital (chief digital officer) (Hess, Matt, Benlian & Wiesbock, 2016; Singh

& Hess, 2017); por outro, ao acompanhamento do processo de mudança, através da definição

de prioridades, monitorização e sincronização das várias iniciativas e investimentos, bem

como de um programa de implementação comum (roadmap) (Westerman et al., 2014; Hess et

al., 2016). Vários autores evidenciam que existe um impacto positivo das decisões sobre

estruturas, políticas, recursos e investimentos nos resultados da empresa (Boal & Hooijberg,

2000; Kaiser et al., 2012). Kaplan & Norton (2004) concluíram que a utilização do BSC

como ferramenta de monitorização tem um impacto positivo no sucesso da mudança e nos

resultados da empresa.

A relação TI-negócio respeita ao alinhamento entre as direções de TI e negócio, sobre o

papel da direção de TI, a sua contribuição para o negócio digital em termos de produtividade

e competitividade, bem como as prioridades quanto aos investimentos tecnológicos (Preston

& Karahanna, 2009; Westerman et al., 2014), e o reconhecimento do papel destas direções na

cocriação do negócio digital (e.g. estratégia do negócio digital, competências digitais e

plataformas tecnológicas) (Bharadwj, El Sawy, Pavlou & Venkatraman, 2013; Gerow &

Roth, 2014; Westerman et al., 2014). É fundamental que exista um entendimento e

compromisso comuns entre estas direções quanto à sua missão, objetivos e planos (Reich &

Benbasat, 2000). Estudos recentes têm demonstrado que existe um impacto positivo do

alinhamento TI-negócio nos resultados da empresa, quer diretamente (Wu et al., 2015), quer

indiretamente, através da cadeia de fornecimento (Rai et al., 2006), e mecanismos de

colaboração interna (Chi, Zhao & Li, 2016).

Page 18: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

12

Finalmente, Westerman e colaboradores (2014) verificaram que a capacidade de

liderança tem uma correlação com a rentabilidade das empresas. Assim, e em linha com a

revisão da literatura, coloca-se a seguinte hipótese:

H1: A capacidade de liderança tem um impacto positivo no desempenho

organizacional.

Capacidade Digital e Desempenho Organizacional

A transformação digital é a maior disrupção que as empresas enfrentam atualmente

(Westerman et al., 2014). Desde as soluções móveis, à computação na nuvem, às redes

sociais, ao acesso a dados em tempo real, à robótica e inteligência artificial, a inovação

tecnológica avança a um ritmo sem precedentes (Westerman et al., 2014). Estamos perante

um big-bang digital (Downes & Nunes, 2013) que, de um dia para o outro e a reduzido custo,

cria ou destrói mercados (e.g.: aluguer de vídeos, correios, imprensa) e transforma os

negócios tradicionais (e.g.: hotelaria, música, recrutamento, retalho) (Downes & Nunes, 2013;

Hess et al., 2016).

Neste contexto, que Kreutzer (2014) classifica de darwinismo digital, a sobrevivência

das empresas depende da sua capacidade de adaptação às pressões colocadas pela revolução

digital. Vários estudos têm evidenciado as dificuldades das empresas em manterem-se

competitivas face a situações de mudança tecnológica drástica e destrutiva de competências

(Tripsas, 1997; Rosenbloom, 2000; O`Reilly III & Tushman, 2008). Na origem destas

dificuldades são apontadas três razões: 1) as empresas não investem nas novas tecnologias; 2)

têm dificuldades em criar novas capacidades técnicas quando investem; e 3) não conseguem

tirar partido da inovação no mercado quando investem e criam produtos tecnicamente

competitivos (Tripsas, 1997). Para manter uma vantagem competitiva assente numa

capacidade digital é necessário integrar as novas tecnologias reformulando os modelos de

negócio e criar soluções digitais únicas e distintivas que sejam valorizadas pelo mercado

(Westerman et al., 2014). Josiassen, Assaf e Cvelbar (2014) concluíram, por exemplo, que o

desempenho organizacional é influenciado pelo desenvolvimento de capacidades de gestão do

relacionamento de clientes e não apenas pelo investimento na aplicação tecnológica (e.g.

Customer Relationship Management).

Page 19: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

13

O modelo de Westerman e colaboradores (2014), considera que a capacidade digital

pode ser avaliada em sub-dimensões e, no âmbito deste estudo foram analisadas duas sub-

dimensões: a experiência do cliente e operacional.

A capacidade experiência do cliente permite às empresas criar e fortalecer o

relacionamento com os seus clientes, tirando partido das potencialidades das tecnologias

digitais. De facto, estas permitem criar uma experiência atrativa e integrada do cliente nos

diversos momentos e canais de contacto que têm com a empresa (Kaplan & Norton, 2006;

Setia, Venkatesh & Joglekar, 2013; Westerman et al., 2014). Setia e colaboradores (2013

demonstraram que existe um impacto positivo da capacidade de serviço ao cliente na

avaliação que este faz sobre os serviços oferecidos. Assim, a criação de capacidades digitais

na perspetiva do cliente é importante por dois aspetos: 1) permitem prestar um serviço

personalizado e, desta forma, responder ao maior nível de exigência dos clientes sobre o que

querem, como querem e quando querem (Walsh 2007); 2) contribuem para a retenção dos

clientes e, assim, minimizam o impacto da maior disponibilidade daqueles para trocar de

fornecedor (e.g. Malhotra, Majchrzak & Rosen 2007; Dougherty & Murthy 2009).

Estudos recentes evidenciam que a experiência do cliente (Verhoef, Lemonb,

Parasuramanc, Roggeveend, Tsiros & Schlesinge, 2009; Josiassen et al., 2014; Hansen & Sia,

2015), redes sociais e mobilidade (Kleijnen, Ruyter & Wetzels, 2007; Wu, 2016) têm um

impacto positivo, tanto no desempenho organizacional de uma forma global, como nas

dimensões cliente e financeira separadamente.

A capacidade operacional permite às empresas otimizar e inovar as suas operações

internas, integrando-as com fornecedores e clientes através da introdução de tecnologias

digitais (Kaplan & Norton, 2006; Rai et al., 2006; Westerman et al., 2014). Rai e

colaboradores (2006) demonstraram que existe um impacto positivo da integração digital da

cadeia de fornecimento no desempenho, ao nível das dimensões processos internos (e.g.

lançamento de produtos, nível de serviço e produtividade) e financeira (e.g. geração de

receitas, redução de custos). Assim, a criação de capacidades digitais na perspetiva

operacional é importante por dois aspetos: por um lado, permite responder melhor às

exigências do mercado criando mecanismos que propiciam a personalização dos produtos e

serviços e o maior conhecimento das necessidades dos clientes (Rogers et al., 1999; Wu,

Yeniyurt, Kim & Cavusgil, 2006); por outro, permite simplificar processos, maximizar efeitos

Page 20: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

14

de escala e partilhar recursos, gerando um maior volume de receitas com os mesmos recursos

(Crossan, Rouse, Fry & Killing, 2009; Westerman et al., 2014).

Estudos recentes evidenciam que a capacidade digital operacional em áreas como o

desenvolvimento de novos produtos e serviços (Pavlou & El Sawy, 2011), cadeia de

fornecimento (Wu, et al.,2006; Malhorta, Gosain & Sawy, 2007; Chan, Ngai & Moon, 2016),

produção (Banker, Bardhan, Chang & Lin, 2006), compras (Camarero Izquierdo, Garrido

Samaniego Samaniefo & San José Cabezudo, 2015), a análise de dados (Akter, Wamba,

Gunasekaran, Dubey, Childe, 2016) e mecanismos de colaboração interna (Chi et al., 2016),

têm um impacto positivo tanto no desempenho organizacional de uma forma global, como nas

dimensões processos internos, cliente e financeira, separadamente.

Finalmente, Westerman e colaboradores (2014) verificaram que a capacidade de digital

tem uma correlação com a rentabilidade das empresas. Assim, e em linha com a revisão da

literatura, coloca-se a seguinte hipótese:

H2: A capacidade digital tem um impacto positivo no desempenho organizacional.

Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho Organizacional

Uma premissa fundamental da teoria das capacidades dinâmicas é a de que o principal

propósito destas capacidades é o de integrar, modificar e criar capacidades ordinárias que,

por sua vez, têm a função de transformar inputs em outputs gerando valor e melhorando o

desempenho da empresa. Deste modo, as capacidades ordinárias exercem um efeito direto

na performance das empresas, enquanto as capacidades dinâmicas exercem um efeito

indireto, por intermédio daquelas (Wang & Ahmed, 2007; Daspit et al., 2016; Di Stefano et

al., 2014; Helfat & Martin, 2014; Teece, 2014;).

No que diz respeito ao efeito direto das capacidades dinâmicas nas capacidades

ordinárias, Daspit e colaboradores (2016), verificaram que a capacidade em adquirir e aplicar

novos conhecimentos (capacidade dinâmica) tem um efeito direto nas capacidades de

relacionamento com o cliente, compras, distribuição, vendas, entre outras capacidades

ordinárias. Nesta linha de pensamento, Boal & Hooijberg 2000, verificaram que as decisões

estratégicas dos líderes têm um impacto ao nível da estrutura organizativa e dos recursos

humanos. Tucker e Russel (2004) constataram que os líderes influenciam a capacidade de

adaptação da organização. Por sua vez Camarero Izquierdo e colaboradores (2015),

concluíram que o estilo de liderança transformacional tem impacto na utilização eficiente de

Page 21: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

15

tecnologias de informação. Westerman e colaboradores (2014) consideram que a capacidade

de liderança tem a função de assegurar que a capacidade digital é criada e desenvolvida de

uma forma eficiente e a gerar valor. Deste modo, coloca-se a seguinte hipótese:

H3: A capacidade de liderança tem um impacto positivo na capacidade digital.

Como referido as capacidades dinâmicas exercem um efeito indireto no desempenho,

por via das capacidades ordinárias (Wang & Ahmed, 2007; Di Stefano et al., 2014;). Daspit e

colaboradores (2016) verificaram que determinadas capacidades ordinárias (e.g.

relacionamento com o cliente, compras, distribuição, vendas) têm um efeito mediador na

relação entre a capacidade em adquirir e explorar novos conhecimentos (capacidade

dinâmica) e o desempenho das empresas. Diversos estudos apontam que existe um efeito

indireto entre as decisões dos líderes e o desempenho das empresas, por intermédio do

desempenho dos colaboradores (Boal & Hooijberg, 2000) e do seu compromisso com a

organização (Walumba et al., 2004). Westerman e colaboradores (2014) estudaram o efeito

direto das capacidades de liderança e digital no desempenho, mas não testaram o efeito

mediador da capacidade digital na relação entre a capacidade de liderança e o desempenho.

Deste modo, coloca-se a seguinte hipótese:

H4: A capacidade digital medeia positivamente a relação entre a capacidade de

liderança e o desempenho organizacional

MÉTODO

Participantes e Procedimento

Para o presente estudo foram identificadas 275 empresas dos sectores de retalho e bens

de consumo a operar em Portugal (75) e em Espanha (200), a partir da base de dados da

Informa D&B (2015). Foram selecionadas as empresas com presença digital e com um

volume de negócios superior a 50 e 100 milhões de euros em Portugal e Espanha,

respetivamente. Os convites foram dirigidos a Administradores, Diretores de Sistemas de

Informação ou Diretores de Marketing, via telefónica e/ou presencial. Aceitaram participar 85

empresas (30,9%). Estas nomearam um responsável pelo acompanhamento interno das

respostas ao estudo a quem foi enviado um email com a URL do questionário e o pedido para

partilharem o mesmo com outros colaboradores com funções de chefia e/ou de técnicos

especialistas nas iniciativas digitais. Foram recebidos 244 questionários válidos.

Page 22: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

16

Na Tabela 1 são apresentadas as características sociodemográficas dos 244

respondentes. Verifica-se que 65,6% dos indivíduos são de empresas a operar em Portugal e

34,4% em Espanha. Quanto à sua posição na empresa, 42,6% pertencem à

Administração/Direção, posição mais frequente. Por sua vez, o departamento mais

representado foi o departamento de Marketing com 45,9% de respostas.

Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica dos indivíduos (n=244)

País Departamento

Portugal 66% Gestão Geral 10%

Espanha 34% Financeiro 5%

Tecnologias Informação 18%

Posição Marketing 46%

Administração/ Direção 43% Recursos Humanos 2%

Chefia de Departamento 41% Operações 5%

Chefia Direta 5% Compras 2%

Técnico Especialista 11% Distribuição 5%

Outros 7,0%

Na Tabela 2, da página seguinte, são apresentadas as características das 85 empresas da

amostra. Constata-se que 61,2% das empresas são de Espanha, 56,5% têm o seu centro de

decisão neste país, 58,8% operam no sector Bens de Consumo, 31,8% operam apenas no

mercado espanhol, 48,2% encontram-se no mercado há 50 ou mais anos, 34,1% têm entre

1001 e 5000 trabalhadores, e 37,6% têm um volume de negócios anual até 200 milhões de

euros.

Agregação dos Dados Recolhidos ao Nível Individual para o Nível Organizacional

Uma vez que o presente estudo admitiu que diferentes indivíduos da mesma empresa

respondessem ao questionário, houve 29 empresas com respostas de pelo menos dois

indivíduos. Para estas 29 empresas foi avaliada a possibilidade de agregar as respostas através

dos coeficientes rWG(j), ICC(1) e ICC(2), tendo em conta as respostas dadas nos itens relativos

aos constructos Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho Organizacional.

Page 23: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

17

Tabela 2 – Caracterização das empresas (n=85)

País Tempo de Atuação no Mercado

Portugal 39% Até 5 anos 2%

Espanha 61% 10 a < 25 anos 20%

25 a < 50 anos 30%

Sector 50 anos ou mais 48%

Retalho 41%

Bens de Consumo 59% Número de colaboradores

Até 100 13%

Centro de Decisão 101 - 500 14%

Portugal 31% 501 – 1.000 13%

Espanha 57% 1.001 – 5.000 34%

Outro 12% 5.001 – 10.000 7%

Mais de 10.000 19%

Alcance de Mercado

Portugal 13% Volume de Negócios

Espanha 32% Até 200 milhões 38%

Ibéria 26% 200 a < 600 milhões 21%

Europa 21% 600 a < 1.000 milhões 9%

Mundial 8% 1.000 a < 5.000 milhões 19%

5.000 a < 10.000 milhões 2%

10.000 Milhões ou mais 11%

O rWG(j) avalia o grau de consenso entre os respondentes para 2 ou mais itens relativos a

um mesmo constructo, quando aqueles pertencem a um mesmo grupo (James, Demaree &

Wolf, 1984). Por sua vez, o ICC(1) e o ICC(2), dois coeficientes de correlação intraclasse,

avaliam a confiabilidade das medidas utilizadas (Bliese & Halverson, 1996; LeBreton &

Senter, 2008). Tendo por base o procedimento sugerido por Biemann, Cole e Voelpel (2012)

foram calculados os coeficientes rWG(j), ICC(1) e ICC(2) de modo a auxiliar a decisão relativa

à agregação dos dados para as 29 empresas, com 2 ou mais questionários.

No que respeita ao cálculo do rWG(j) para a variável capacidade de liderança, constituída

por 17 itens, verificou-se um valor médio do rWG(j) de 0,80 (DP=0,33), valor este

compreendido entre o valor mínimo de 0,57 e o valor máximo de 0,99. Apenas um valor do

rWG(j) (0,57) revelou-se abaixo de 0,70. Quanto aos valores do ICC(1) e ICC(2), para a

capacidade de liderança, estes foram 0,35 e 0,60, respetivamente, valores que se apresentam

Page 24: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

18

satisfatórios. No que respeita ao cálculo do rWG(j) para a variável capacidade digital,

constituída por 21 itens, verificou-se um valor médio do rWG(j) de 0,86 (DP=0,19), valor este

compreendido entre o valor mínimo de 0,55 e o valor máximo de 0,99. Apenas um valor do

rWG(j) (0,55) revelou-se abaixo de 0,70 (valor de referência). Quanto aos valores do ICC(1) e

ICC(2), para a capacidade digital, estes foram 0,31 e 0,57, respetivamente, valores que se

apresentam satisfatórios. No que respeita ao cálculo do rWG(j) para a variável performance

organizacional, constituída por 10 itens, verificou-se um valor médio do rWG(j) de 0,92

(DP=0,17), valor este compreendido entre o valor mínimo de 0,90 e o valor máximo de 0,99.

Quanto aos valores do ICC(1) e ICC(2), para a performance organizacional, estes foram 0,38

e 0,63, respetivamente, valores que se apresentam satisfatórios. Tendo em conta os resultados

apresentados foi decidido agregar os dados das 29 empresas com mais de um respondente.

Neste sentido utilizou-se a média para agregar as respostas dos vários indivíduos e, desse

modo, obter-se uma resposta por cada uma das 29 empresas referidas. A nova base de dados

passou a ter uma amostra de 85 casos, correspondente a 85 empresas.

Comparação de Médias por País e Sector

Com o objetivo de avaliar as diferenças de médias da capacidade de liderança, da

capacidade digital e do desempenho, entre as duas subamostras de Portugal e Espanha, e entre

as duas subamostras dos sectores de retalho e bens de consumo, procedeu-se à aplicação de

testes t para amostras independentes. No que diz respeito à comparação de médias entre

Portugal e Espanha (Tabela 3), é possível observar que existem diferenças estatisticamente

significativas na capacidade digital (MEspanha=4,688 e MPortugal=4,021), na capacidade de

liderança (MEspanha=4,859 e MPortugal=4,289), e no desempenho organizacional (MEspanha=4,975

e MPortugal=4,346), sendo as empresas em Espanha as que apresentam valores médios mais

elevados, em comparação com as empresas em Portugal.

Tabela 3 – Valores do Teste-t para a diferença de médias entre Portugal e Espanha

Variáveis Portugal Espanha t p

M DP M DP Capacidade Digital (CD) 4,021 0,917 4,688 0,778 -3,593 0,001 Capacidade de Liderança (CL) 4,289 0,996 4,859 1,195 -2,282 0,025 Desempenho Organizacional (DO) 4,346 1,030 4,975 0,917 -2,938 0,004

Page 25: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

19

Quanto à comparação de médias entre os sectores do retalho e de bens de consumo

(Tabela 4), verifica-se que não existem diferenças estatisticamente significativas.

Tabela 4 – Valores do Teste-t para a diferença de médias entre Retalho e Bens de Consumo

Variáveis Retalho Bens de Consumo t p

M DP M DP Capacidade Digital (CD) 4,449 0,764 4,415 0,979 0,168 0,867 Capacidade de Liderança (CL) 4,597 0,981 4,666 1,264 -0,271 0,787 Desempenho Organizacional (DO) 4,564 0,977 4,847 1,017 -1,287 0,202

Medidas

Os dados da presente investigação foram recolhidos através de um inquérito por

questionário, do tipo estruturado e autoadministrado, o qual foi respondido pelos executivos,

chefias e técnicos especialistas nas iniciativas digitais das empresas em estudo. A opção pela

utilização de um questionário online deveu-se à facilidade da sua aplicação, ao acesso a

respondentes difíceis de contactar, por vezes devido a constrangimentos geográficos e de

tempo; à redução de custos e maior conveniência para o investigador devido à possibilidade

de recolha automática dos dados (Wright, 2005; Van Selm & Jankowski, 2006). Este

questionário consistiu em 48 questões distribuídas em três secções distintas, de acordo com as

variáveis do modelo, nomeadamente: 1) capacidade digital, 2) capacidade de liderança e 3)

desempenho organizacional. Os participantes classificaram cada questão em função do seu

grau de concordância através de uma escala de Likert de 7 pontos, em que (1) corresponde a

“discordo totalmente” e (7) corresponde a “concordo totalmente”.

A primeira secção, capacidade digital, com 21 questões retiradas do estudo de

Westerman, Tannou, Bonnet, Ferraris & McAfee (2012), quer na ótica da experiência do

cliente (e.g. “utilizamos as tecnologias digitais para personalizar a experiência de compra dos

nossos clientes”), mobilidade (e.g. “utilizamos os canais móveis para promover os nossos

produtos e serviços”) e redes sociais (e.g. utilizamos as redes sociais para prestar serviços de

apoio ao cliente”); quer na ótica operacional: analítica (e.g. “utilizamos ferramentas de

analítica para personalizar as campanhas de marketing), processos (e.g. “monitorizamos as

nossas operações em tempo real”), e recursos humanos (e.g. “os colaboradores podem realizar

as suas tarefas a partir de qualquer localização”). A escala apresentou consistência interna

com um coeficiente de Alpha de Cronbach de 0,89.

Page 26: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

20

Na segunda secção, capacidade de liderança, foram utilizadas 17 questões retiradas do

estudo de Westerman e colaboradores (2014) e que incidiram sobre os elementos críticos para

o sucesso da transformação digital: visão digital (e.g. “a gestão de topo e as chefias

intermédias partilham uma visão comum sobre a transformação digital na empresa”);

envolvimento (e.g. “há possibilidade para todos na empresa participarem na discussão sobre

as iniciativas digitais”); governação (e.g. “os papéis e as responsabilidades pelas iniciativas

digitais estão claramente definidos na empresa”); e relação TI-negócio (e.g. “o CIO (Chief

Information Office) e os executivos do negócio têm um entendimento comum sobre o papel

do TI na empresa”). A escala apresentou consistência interna com um coeficiente de Alpha de

Cronbach de 0,96.

Finalmente, na terceira secção do questionário, desempenho organizacional, foram

utilizadas 10 questões sobre o desempenho da empresa face à média da concorrência nos

últimos 3 anos em três dimensões do BSC: financeira, cliente e processos internos (Slywotzky

et al., 2000; Rai et al., 2006). A dimensão financeira foi medida com duas questões (e.g. as

receitas da empresa cresceram mais do que a concorrência nos últimos 3 anos”), retiradas do

estudo de Westerman e colaboradores, 2014). A dimensão cliente foi avaliada com quatro

questões (e.g. “a satisfação dos nossos clientes foi maior que a concorrência nos últimos três

anos”), retiradas dos estudos de Rai e colaboradores (2006) e Wu e colaboradores (2015). A

avaliação dos processos internos utilizou quatro questões (e.g. “o grau de inovação na

empresa foi maior do que a concorrência nos últimos 3 anos”), adaptadas dos estudos de Rai e

colaboradores (2006), Wu e Chen (2014) e Wu e colaboradores (2015). A escala apresentou

consistência interna com um coeficiente de Alpha de Cronbach de 0,93.

RESULTADOS

Medidas Descritivas

Foram criadas variáveis compósitas relativas aos constructos medidos por cada escala.

A Tabela 5 apresenta as medidas descritivas destas variáveis. Como se pode verificar, as

médias de cada variável encontram-se acima do ponto médio da escala (4), o que revela

posicionamentos mais favoráveis nas variáveis apresentadas. Adicionalmente, podemos

observar que os valores de Alpha de Cronbach são todos elevados, tendo em conta o valor de

referência de 0,70.

Page 27: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

21

Tabela 5 – Número de itens, Alpha de Cronbach e medidas descritivas

Variáveis # Itens (α) Média DP

Capacidade Digital (CD) 21 0,89 4,443 0,892

Capacidade de Liderança (CL) 17 0,96 4,637 1,150

Desempenho Organizacional (DO) 10 0,93 4,731 1,005

A Tabela 6 apresenta os dados referentes às correlações entre as variáveis da amostra

das 85 empresas, bem como das subamostras de Portugal (n=33) e Espanha (n=52) e dos

sectores de retalho (n=35) e bens de consumo (n=50).

Tabela 6 - Tabela de correlações

Nota: *p<0,05; **p< 0,01

Tendo em conta a amostra das 85 empresas de Portugal e Espanha, podemos observar

que a capacidade digital (r=0,396; p<0,01) e a capacidade de liderança (r=0,275; p<0,05)

apresentam correlações estatisticamente significativas com o desempenho organizacional.

Estas correlações são positivas e fracas. No que diz respeito à correlação da capacidade de

liderança (r=0,662; p<0,05) com a capacidade digital, esta é estatisticamente significativa,

positiva e forte. No que concerne à subamostra de Portugal (n=33) apenas se verificou uma

correlação estatisticamente significativa, positiva e forte, entre a capacidade de liderança

(r=0,778; p<0,01) e a capacidade digital. As restantes correlações mostram-se positivas sem,

no entanto, serem significativas. Quanto à subamostra de Espanha (n=52) podemos constatar

que a capacidade digital (r=0,400; p<0,01) e a capacidade de liderança (r=0,286; p<0,05)

apresentam correlações estatisticamente significativas com o desempenho organizacional.

Estas correlações são positivas, sendo a primeira de intensidade moderada e a segunda de

Amostra Total (n=85)

País Sector

Portugal (n=33)

Espanha (n=52)

Retalho (n=35)

Bens de Consumo

(n=50) Variáveis CD CL CD CL CD CL CD CL CD CL

Capacidade Digital (CD) - - - - -

Capacidade de Liderança (CL) ,662** - ,778** - ,561** - ,621** - ,681** -

Desempenho Organizacional (DO) ,396** ,275* ,225 ,106 ,400** ,286* ,152 -,002 ,537** ,419**

Page 28: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

22

intensidade fraca. No que diz respeito à correlação da capacidade de liderança (r=0,561;

p<0,05) com a capacidade digital, esta é estatisticamente significativa, positiva e moderada.

Relativamente à subamostra com as empresas do sector retalho (n=35) apenas se

verificou uma correlação estatisticamente significativa, positiva e forte, entre a capacidade de

liderança (r=0,621; p<0,01) e a capacidade digital. As restantes correlações não se revelam

significativas. Por fim, quanto à subamostra bens de consumo (n=50) podemos constatar que

a capacidade digital (r=0,537; p<0,01) e a capacidade de liderança (r=0,419; p<0,01)

apresentam correlações estatisticamente significativas com o desempenho organizacional.

Estas correlações são positivas, sendo a primeira de intensidade forte e a segunda de

intensidade moderada. No que diz respeito à correlação da capacidade de liderança (r=0,681;

p<0,05) com a capacidade digital, esta é estatisticamente significativa, positiva e forte.

Modelo de Mediação

De forma a verificar as hipóteses do presente estudo foi testado o modelo de mediação

da capacidade digital na relação entre a capacidade de liderança e o desempenho

organizacional para um conjunto de 83 empresas das 85 empresas iniciais. A redução da

amostra inicial para 83 empresas deveu-se à constatação de que duas empresas (uma empresa

em Portugal e outra em Espanha) tinham respostas incompletas, o que levou à sua eliminação.

No sentido de testar o modelo de mediação da capacidade digital na relação entre a

capacidade de liderança e o desempenho organizacional utilizou-se a macro Process© (Hayes,

2012; 2013) para o SPSS, cuja aplicação revela vantagens em comparação à utilização dos

modelos de regressão tradicionais: 1) permitem testar vários mediadores em simultâneo; 2)

não é necessário verificar o pressuposto da normalidade das distribuições; 3) reduz a

probabilidade de erros de Tipo I; e 4) é a melhor alternativa ao teste de Sobel tradicional

quando as amostras apresentam pequenas dimensões.

Os resultados do modelo de mediação supra referido são apresentados na tabela 7 e na

figura 1, tendo este modelo considerado a variável de controlo, país, uma vez que os testes-t,

anteriormente analisados, indicavam diferenças estatisticamente significativas entre as

empresas de Portugal e de Espanha quando consideradas as variáveis, capacidade de

liderança, capacidade digital e desempenho organizacional.

Através da análise da Tabela 7 é possível observar um efeito direto positivo e

significativo da capacidade de liderança no desempenho organizacional (B=0,265 p=0,003).

Page 29: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

23

Este resultado permite-nos aceitar a hipótese 1 do presente estudo. Por sua vez, a capacidade

digital revela um impacto direto, positivo e significativo no desempenho organizacional

(B=0,397; p=0,034). Este resultado permite-nos aceitar a hipótese 2 do presente estudo. De

forma adicional é possível verificar um efeito direto, positivo e significativo da capacidade de

liderança na capacidade digital (B=0,455; p=0,000). Este resultado permite-nos aceitar a

hipótese 3 do presente estudo.

Quanto ao efeito indireto, no modelo de mediação proposto, verifica-se que o impacto

da capacidade de liderança no desempenho organizacional deixa de ser significativo

(B=0,084; p=0,501) quando considerado em simultâneo com o impacto da capacidade digital,

este último mantendo-se significativo. De forma adicional, como o Intervalo de Confiança,

associado ao efeito indireto da capacidade de liderança no desempenho organizacional (IC [0,041; 0,380]) não contém o valor 0 (zero) e, ainda, porque o valor do teste de Sobel é

significativo (Z=2,012; p=0,044) considera-se existir um efeito de mediação total

significativo da capacidade digital, na relação entre a capacidade de liderança e o desempenho

organizacional, o que permite aceitar a hipótese 4.

Tabela 7 – Resultados da análise do modelo de mediação da capacidade digital na relação entre a capacidade de liderança e o desempenho organizacional

Passos B SE t p

Efeitos Direto e Total R2=0,44; p<0,05 Desempenho Organizacional regredido na Capacidade de

Liderança (c path) 0,265 0,087 3,033 0,003

Capacidade Digital regredida na Capacidade de Liderança (a path)

0,455 0,074 6,155 0,000

Desempenho Organizacional regredido na Capacidade Digital (b path)

0,397 0,184 2,157 0,034

Desempenho Organizacional regredido na Capacidade de Liderança controlando a Capacidade Digital (c’ path)

0,084 0,126 0,667 0,501

Efeitos parciais das variáveis de controlo no Desempenho Organizacional – País

0,309 0,216 1,433 0,156

Valor não estandardizado SE LL95%CI UL95%CI

P Sobel

Resultados do Bootstrap para o efeito indireto 0,181 0,084 0,041 0,380 0,04

Page 30: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

24

Figura 1: Modelo de mediação

DISCUSSÃO

O presente estudo tem por objetivo principal avaliar os determinantes do sucesso da

transformação digital nas empresas. Com base no modelo de Westerman e colaboradores

(2014) e de acordo com a teoria das capacidades dinâmicas, identificaram-se dois

determinantes: a capacidade de liderança e a capacidade digital. Para medir o impacto destas

duas variáveis no desempenho das empresas utilizou-se o modelo do BSC.

Este estudo trouxe informações adicionais ao modelo de Westerman e colaboradores

(2014), pois apresenta evidências novas que ajudam a modelar as variáveis e a perceber

melhor o seu papel. De facto, os autores não testaram empiricamente o efeito mediador da

capacidade digital na relação entre a capacidade de liderança e o desempenho.

Quanto ao efeito da capacidade de liderança no desempenho organizacional verificou-se

que existe um efeito total e indireto. Constatou-se que a relação entre a capacidade de

liderança e o desempenho é mediada, pois deixa de ser significativa na presença da variável

capacidade digital. Esta evidência está em linha com a teoria das capacidades dinâmicas, que

defende que estas não criam valor por si mesmas mas por via das capacidades ordinárias (e.g.

capacidade digital) (Eisenhardt & Martin, 2000; Winter, 2003; Di Stefano et al. 2014; Daspit

et al., 2016). Estas conclusões estão de acordo com a revisão da literatura sobre liderança,

nomeadamente, que existe um efeito direto e indireto entre as decisões ao nível da liderança e

Page 31: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

25

o desempenho organizacional (Boal & Hooijberg, 2000; Bass et al., 2003; Finkelstein et al.,

2009; Kaiser et al., 2008; Carter & Greer, 2013; Helfat & Martin, 2014; Camarero Izquierdo

et al., 2015). Aquele pode manifestar-se quer pela via do desenvolvimento de uma visão

digital (Bass, 1990; Avolio et al., 2009; Berson et al., 2016); quer através de um maior

envolvimento dos colaboradores (Kanter et al., 1992; Walumbwa et al., 2004; Berson et al.,

2016); quer pela via de uma boa governação (Boal & Hooijberg, 2000; Kaplan & Norton,

2001; Kaiser et al., 2012); ou por intermédio de um bom alinhamento entre TI e negócio (Rai

et al, 2006; Preston & Karahann, 2009; Wu et al., 2015; Chi et al., 2016)

Quanto ao impacto da capacidade digital no desempenho organizacional, verificou-se

que esta tem um efeito direto, evidência que vai ao encontro da teoria das capacidades

dinâmicas, que defende que as capacidades ordinárias (e.g. capacidade digital) têm a função

de criar valor e vantagens competitivas para a empresa (Eisenhardt & Martin, 2000; Wang &

Ahmed, 2007; Teece, 2014; Daspit et al., 2016). Assim, quer pela via da criação de novos

produtos e serviços que sejam valorizados pelo cliente, melhorando a sua satisfação (Setia et

al., 2013; Daspit et al., 2014; Westerman et al., 2014); quer pela via da otimização das

operações, melhorando a sua eficiência (Rai et al., 2006; Wu et al., 2006; Daspit et al., 2014;

Westerman et al., 2014; Camarero Izquierdo et al., 2015); a utilização de tecnologias digitais

tem um efeito direto e positivo no desempenho da empresa.

Relativamente ao efeito da capacidade de liderança na capacidade digital, observou-se

que este é direto e positivo. Assim, e em linha com a literatura sobre capacidades dinâmicas,

(Eisenhardt & Martin, 2000; Winter, 2003; Teece, 2014; Daspit et al, 2016), a capacidade de

liderança (capacidade dinâmica) tem o papel de criar, desenvolver e reconfigurar a capacidade

digital (capacidade ordinária). Camarero Izquierdo e colaboradores (2015) verificaram que

um estilo de liderança transformacional tem impacto na eficiente utilização das plataformas

de compras. Esta deve ser feita através da criação de uma visão digital que seja partilhada por

todos (Kanter et al., 1992; Kotter, 1996; Bovey & Hede, 2001; Avolio et al., 2009), do

desenvolvimento de ações que motivem e entusiasmem as partes envolvidas (Kanter et al.,

1992; Kotter, 1996; Herscovitch & Meyer, 2002; Berson et al., 2015), da criação de estruturas

para uma boa governação do processo de transformação (Kanter et al., 1992; Kotter, 1996,

Hess et al., 2016, Singh & Hess, 2017) e do alinhamento entre as estratégias de TI e negócio

(Preston & Karahanna, 2009; Bharadwj et al., 2013; Gerow & Roth, 2014).

Page 32: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

26

Finalmente, na análise de dados, constatou-se que as empresas de Espanha apresentam

capacidades de liderança e digital superiores às de Portugal. Como tal, também apresentam

melhor desempenho, o que vai ao encontro do modelo de Westerman (2014) que defende que

existe uma associação entres as variáveis capacidade de liderança, capacidade digital e o

desempenho.

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS

Do ponto de vista teórico este estudo contribui com uma melhor compreensão do

comportamento das variáveis do modelo do Westerman e colaboradores (2014). De acordo

com a teoria das capacidades dinâmicas (Eisenhardt & Martin, 2000; Wang & Ahmed, 2007;

Pavlou & El Sawy, 2011; Teece, 2014), constatou-se que existe um impacto direto das

variáveis capacidade de liderança e capacidade digital no desempenho, bem como um papel

mediador da capacidade digital na relação entre a capacidade de liderança e o desempenho.

Os autores do modelo verificaram apenas a existência de uma correlação entre as capacidades

de liderança e digital no desempenho.

No que diz respeito à avaliação do desempenho organizacional foram incluídas

dimensões não-financeiras, para além da dimensão financeira considerada por Westerman e

colaboradores (2014). Os resultados demonstram que as capacidades de liderança e digital

podem contribuir para outros indicadores chave nas dimensões cliente (e.g. satisfação dos

clientes, imagem da empresa) e processos internos (e.g. capacidade de inovação, otimização

da cadeia de fornecimento) (Kaplan & Norton, 2004).

Quanto às implicações práticas para os gestores que enfrentam uma transformação

digital, este estudo aponta algumas recomendações.

Em primeiro lugar realça a importância que a capacidade de liderança exerce ao nível

do desenvolvimento da capacidade digital de uma empresa (Westerman et al., 2014; Izquierdo

et al., 2015) e, por via desta, do seu desempenho. Com efeito, a adoção de tecnologias digitais

para a obtenção de vantagens competitivas já não se confina apenas ao investimento em

tecnologia. Assim, é fundamental o recrutamento de líderes com capacidades em promover o

sentido de urgência, a comunicação, o compromisso, o acompanhamento e a capacidade em

alinhar estrategicamente as atividades de TI e negócio. O sucesso da transformação digital

depende da capacidade dos líderes para operarem as alterações necessárias ao modelo de

Page 33: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

27

negócio e gerirem as resistências inerentes à qualquer mudança organizacional profunda

(Kanter et al., 1992; Connor, 1999, Westerman et al., 2014).

Em segundo lugar e no que diz respeito à capacidade digital, tal como concluíram

Westerman e colaboradores (2014), este estudo sublinha a importância desta dimensão no

desempenho das empresas. Deste modo, os gestores devem privilegiar o investimento e

desenvolvimento de tecnologias geradoras de valor, isto é, que melhorem a experiência do

cliente (Josiassen et al., 2014, Setia et al., 2013) e otimizem as operações internae

externamente (e.g. plataformas de integração com fornecedores e clientes) (Rai et al., 2006;

Wu et al., 2006; Crossan, Rouse, Fry & Killing, 2009).

LIMITAÇÕES E INVESTIGAÇÃO FUTURA

Apesar de este estudo proporcionar um melhor conhecimento da forma como as

capacidades de liderança e digital podem ser uma fonte de vantagem competitiva, a

investigação tem limitações que devem ser objeto de investigação futura.

Na amostra deste estudo foram considerados dois países (Portugal e Espanha) de dois

sectores de atividade (retalho e bens de consumo). Seria importante aplicar este estudo em

outros países e sectores de atividade (banca, seguros, hotelaria, etc.) de forma a avaliar a

influência destes fatores no modelo. Por outro lado, a utilização de um estudo transversal para

a recolha de dados, como foi o caso do presente investigação, fornece dados sobre um

determinado momento. Assim e dada a natureza dinâmica e volátil das variáveis em estudo, é

importante a aplicação do modelo numa lógica longitudinal de forma a avaliar a sua validade

ao longo do tempo.

No que diz respeito à avaliação do desempenho organizacional, esta foi efectuada

através de um questionário autoadministrado o que pode introduzir subjetividade nos dados,

comparativamente à informação de dados públicos e oficiais das empresas (e.g. volume de

vendas, quota de mercado, lucros) que são mais objetivos. Deste modo, seria importante em

estudos futuros combinar as duas metodologias de modo a validar a coerência dos dados.

Seria interessante comparar o impacto das sub-dimensões da capacidade de liderança

(visão digital, envolvimento, governação e relação TI-negócio) na capacidade digital e, de

igual forma, avaliar as sub-dimensões da capacidade digital (experiência do cliente e

Page 34: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

28

operacional) no desempenho organizacional de uma forma agregada, mas também nas sub-

dimensões financeira, cliente e processos internos.

Estudar os estilos, personalidade e competências dos líderes como antecedentes da

capacidade de liderança; bem como medidas da sua eficácia (e.g. compromisso, clima

organizacional, satisfação dos colaboradores) como mediadoras entre a capacidade de

liderança e a capacidade digital, pode ser outra linha para investigações futuras.

CONCLUSÃO GERAL

Conclui-se, tal como demonstrado por Westerman e colaboradores (2014), que as

capacidades de liderança e digital são determinantes no sucesso de uma transformação digital.

No entanto, constatou-se que capacidade digital exerce um efeito mediador na relação entre a

capacidade de liderança e o desempenho.

De facto, os resultados evidenciam que a visão digital partilhada (Kanter et al., 1992;

Kotter, 1995; Bovey & Hede, 2001; Avolio et al., 2009; Berson et al., 2016), o envolvimento

dos colaboradores e de outras partes interessada no processo de transformação (Kanter et al.,

1992; Kotter, 1995; Herscovitch & Meyer, 2002; Berson et al., 2015) a implementação de

mecanismos de governação da transformação (Kanter et al., 1992; Kotter, 1995, Hess et al.,

2016, Singh & Hess, 2017) e o alinhamento este as direções de TI-negócio (Preston &

Karahanna, 2009; Bharadwj et al., 2013; Gerow & Roth, 2014), são determinantes da

capacidade digital experiência cliente (Setia et al., 2013) e a operacional (Rai et al., 2006). É

desta relação que advém a criação de valor de uma empresa e das suas vantagens competitivas

na economia digital (Westerman et al., 2014).

Page 35: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Agle, B. R., Nagarajan, N. J., Sonnenfeld, J. A., & Srinivasan, D. (2006). Does CEO charisma matter? An empirical analysis of the relationships among organizational performance, environmental uncertainty, and top management team perceptions of CEO charisma. Academy of Management Journal, 49(1), 161–174. http://doi.org/10.5465/amj.2006.20785800.

Akter, S., Wamba, S. F., Gunasekaran, A., Dubey, R., & Childe, S. J. (2016). How to improve firm performance using big data analytics capability and business strategy alignment? International Journal of Production Economics, 182, 113–131. http://doi.org/10.1016/j.ijpe.2016.08.018.

Avolio, B. J., & Gardner, W. L. (2005). Authentic leadership development: Getting to the root of positive forms of leadership. Leadership Quarterly, 16(3), 315–338. http://doi.org/10.1016/j.leaqua.2005.03.001.

Avolio, B. J., Walumbwa, F. O., & Weber, T. J. (2009). Leadership: current theories, research, and future directions (Meta-analysis). Annual Review of Psychology, 60(1), 421–449. http://doi.org/10.1146/annurev.psych.60.110707.163621.

Banker, R. D., Bardhan, I. R., Chang, H., & Lin, S. (2006). Plant information systems, manufacturing capabilities, and plant performance. Mis Quarterly, 30(2), 315–337. http://doi.org/10.2307/25148733.

Bass, B. M. (1990). From Transactional to Transformational Leadership: Learning to Share the Vision. Organizational Dynamics, 18(3), 19–32. http://doi.org/10.1016/0090-2616(90)90061-S.

Bass, B. M. (1999). Two Decades of Research and Development in Transformational Leadership (Meta-analysis). European Journal of Work and Organizational Psychology, (October 1999), 9–32.

Bass, B. M., Avolio, B. J., Jung, D. I., & Berson, Y. (2003). Predicting unit performance by assessing transformational and transactional leadership. Journal of Applied Psychology, 88(2), 207–218. http://doi.org/10.1037/0021-9010.88.2.207.

Berson, Y., Da’as, R., & Waldman, D. A. (2015). How Do Leaders and their Teams Bring about Organizational Learning and Outcomes? Personnel Psychology, 68(1), 79–108. http://doi.org/10.1111/peps.12071.

Berson, Y., Waldman, D. A., & Pearce, C. L. (2016). Enhancing our understanding of vision in organizations. Organizational Psychology Review, 6(2), 171–191. http://doi.org/10.1177/2041386615583736.

Bharadwaj. (2000). A resource-based perspective on information technology capability and ... MIS Quarterly, 24(1).

Page 36: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

30

Bharadwaj, A., El Sawy, O. a., Pavlou, P. A., & Venkatraman, N. (2013). Digital Business Strategy: Toward a Next Generation of Insights. MIS Quarterly, 37(2), 471–482. Retrieved from http://www.misq.org/misq/downloads/download/editorial/581/.

Biemann, T., Cole, M. S., & Voelpel, S. (2012). Within-group agreement: On the use (and misuse) of r WG and r WG(J) in leadership research and some best practice guidelines. Leadership Quarterly, 23(1), 66–80. http://doi.org/10.1016/j.leaqua.2011.11.006.

Bliese, P. D., & Halverson, R. R. (1996). Group size, group process effects and ICC values. In Academy of Management Proceedings ’96 (pp. 333–337). Retrieved from http://proceedings.aom.org/content/1996/1/333.short.

Boal, K. B., & Hooijberg, R. (2000). Strategic leadership research: Moving ON. The Leadership Quarterly, 11(4), 515–549. http://doi.org/10.1016/S1048-9843(00)00057-6.

Bonnet, D., Westerman, G., & McAfee, A. (2012). “Talking ’bout a Revolution.” Digital Transformation Review, 2(1), 17–33.

Bovey, W. H., & Hede, A. (2001). Resistance to organizational change: the role of cognitive and affective processes. Leadership & Organization Development Journal, 22(8), 372–382. http://doi.org/10.1108/01437730110410099.

Burke, W. W. (2011). Organization Change: Theory and Practice. Dias Technology Review (Vol. 7).

Burnes, B. (2005). Complexity theories and organizational change. International Journal of Management Reviews, 7(2), 73–90. http://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2005.00107.x.

Camarero Izquierdo, C., Garrido Samaniego, M. J., & San José Cabezudo, R. (2015). How Strategic Purchasing Orientation and Transformational Leadership Impact Performance: The Mediating Role of Information and Communication Technologies. Journal of Business-to-Business Marketing, 22(4), 269–292. http://doi.org/10.1080/1051712X.2015.1115701.

Campbell, J. P., & Wiernik, B. M. (2015). The Modeling and Assessment of Work Performance. Annual Review of Organizational Psychology and Organizational Behavior (Vol. 2). http://doi.org/10.1146/annurev-orgpsych-032414-111427.

Carter, S. M., & Greer, C. R. (2013). Strategic Leadership : Values, Styles, and Organizational Performance. Journal of Leadership & Organizational Studies, 20(4), 375 –393. http://doi.org/10.1177/1548051812471724.

Chakravarthy, B. S. (1986). Measuring strategic performance. Strategic Management Journal, 7(5), 437–458. http://doi.org/10.1002/smj.4250070505.

Chan, A. T. L., Ngai, E. W. T., & Moon, K. K. L. (2016). The Effects of Strategic and Manufacturing Flexibilities and Supply Chain Agility on Firm Performance in the

Page 37: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

31

Fashion Industry. European Journal of Operational Research, 0. http://doi.org/http://dx.doi.org/10.1016/j.ejor.2016.11.006.

Chenhall, R. H., & Langfield-Smith, K. (2007). Multiple Perspectives of Performance Measures. European Management Journal, 25(4), 266–282. http://doi.org/10.1016/j.emj.2007.06.001.

Chi, M., Zhao, J., & Li, Y. (2016). Digital Business Strategy and Firm Performance: the Mediation Effects of E-collaboration Capability. The Fifteenth Wuhan International Conference on E-Business.

Conger, J. a., & Kanungo, R. N. (1987). Toward a Behavioral Theory of Charismatic Leadership in Organizational Settings. Academy of Management Review, 12(4), 637–647. http://doi.org/10.2307/258069.

Conner, D. R. (2006). Managing at the Speed of Change: How Resilient Managers Succeed and Prosper Where Others Fail. Random House Publishing Group. Retrieved from https://books.google.pt/books?id=mj7B3_9ABqUC.

Crossan, M. M., Rouse, M. J., Fry, J. N., & Killing, P. (2009). Strategic Analysis and Action (7th ed.). Toronto: Prentice Hall.

Cummings, S., Bridgman, T., & Brown, K. G. (2016). Unfreezing change as three steps: Rethinking Kurt Lewin’s legacy for change management. Human Relations, 69(1), 33–60. http://doi.org/10.1177/0018726715577707.

Daspit, J. J., D’Souza, D. E., & Dicke, L. A. (2016). The Value-Creating Role of Firm Capabilities: Mapping Relationships among Absorptive Capacity, Ordinary Capabilities, and Performance. Journal of Managerial Issues, 28(1–2), 9–29.

Di Stefano, G., Peteraf, M., & Verona, G. (2014). The Organizational Drivetrain: A Road To Integration of Dynamic Capabilities Research. Academy of Management Perspectives, 28(4), 307–327. http://doi.org/10.5465/amp.2013.0100.

Dinh, J. E., Lord, R. G., Gardner, W. L., Meuser, J. D., Liden, R. C., & Hu, J. (2014). Leadership theory and research in the new millennium: Current theoretical trends and changing perspectives (Meta-analysis). Leadership Quarterly, 25(1), 36–62. http://doi.org/10.1016/j.leaqua.2013.11.005.

Dougherty, D., & Murthy, A. (2009). What service customers really want. Harvard Business Review, 87(9).

Downes, L., & Nunes, P. F. (2013). Big-bang disruption. Harvard Business Review, 91(3).

Eisenbach, R., Watson, K., & Pillai, R. (1999). Transformational leadership in the context of organizational change. Journal of Organizational Change Management. http://doi.org/10.1108/MBE-09-2016-0047.

Page 38: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

32

Eisenhardt, K. M. (2000). Dynamic Capabilities: What Are They? Strategic Management Journal, 21(10/11), 1105–1121.

Epitropaki, O., & Martin, R. (2005). The moderating role of individual differences in the relation between transformational/transactional leadership perceptions and organizational identification. Leadership Quarterly, 16(4), 569–589. http://doi.org/10.1016/j.leaqua.2005.06.005.

Finkelstein, S., Hambrick, D. C., & Cannella, A. A. (2009). Strategic Leadership: Theory and Research on Executives, Top Management Teams, and Boards. Oxford University Press. Retrieved from https://books.google.pt/books?id=8w1s60UhaU4C.

Freeman, E., & McVea, J. (2001). A Stakeholder Approach to Strategic Management. SSRN Electronic Journal, 1(1), 276. http://doi.org/10.2139/ssrn.263511.

Gerow, G., & Roth, T. (2014). Looking Toward the Future of IT-Business Strategic Alignment through the Past: A Meta-Analysis. Management Information System Quarterly, 38(4), 1059–1085. Retrieved from http://misq.org/looking-toward-the-future-of-it-business-strategic-alignment-through-the-past-a-meta-analysis.html.

Hansen, R., & Sia, S. K. (2015). Hummel’s Digital Transformation Toward Omnichannel Retailing: Key Lessons Learned. MIS Quarterly Executive, 14(2), 51–66.

Harrison, D. A., Newman, D. A., & Roth, P. L. (2006). How important are job attitudes? Meta-analytic comparisons of integrative behavioral outcomes and time sequences. Academy of Management Journal, 49(2), 305–325. http://doi.org/10.5465/AMJ.2006.20786077.

Helfat, C. E., & Martin, J. A. (2015). Dynamic Managerial Capabilities: Review and Assessment of Managerial Impact on Strategic Change. Journal of Management, 41(5), 1281–1312. http://doi.org/10.1177/0149206314561301.

Herold, D. M., Fedor, D. B., Caldwell, S., & Liu, Y. (2008). The effects of transformational and change leadership on employees’ commitment to a change: a multilevel study. The Journal of Applied Psychology, 93(2), 346–57. http://doi.org/10.1037/0021-9010.93.2.346.

Herscovitch, L., & Meyer, J. P. (2002). Commitment to organizational change: Extension of a three-component model. Journal of Applied Psychology, 87(3), 474–487. http://doi.org/10.1037/0021-9010.87.3.474.

Hess, T., Matt, C., Benlian, A., & Wiesböck, F. (2016). Options for Formulating a Digital Transformation Strategy. MIS Quarterly Executive, 15(2), 123–139.

Hess, T., Benlian, A., Matt, C., & Wiesböck, F. (2016). Options for Formulating a Digital Transformation Strategy. MIS Quarterly Executive, 15(2), 123–139.

Page 39: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

33

Higgs, M., & Rowland, D. (2011). What does it take to implement change successfully? A study of the behavior of successful change leaders. The Journal of Applied Behavioral Science, 47(3), 309–335. http://doi.org/10.1177/0021886311404556.

Hogan, R., & Kaiser, R. B. (2005). What we know about leadership. Review of General Psychology, 9(2), 169–180. http://doi.org/10.1037/1089-2680.9.2.169.

Hoque, Z. (2014). 20 years of studies on the balanced scorecard: Trends, accomplishments, gaps and opportunities for future research (Meta-Analysis). British Accounting Review, 46(1), 33–59. http://doi.org/10.1016/j.bar.2013.10.003.

Humphreys, K. a, Gary, M. S., & Trotman, K. (2016). Dynamic Decision Making Using the Balanced Scorecard. The Accounting Review, 91(September), 1441–1465. http://doi.org/10.2308/accr-51364.

James, D. L., Demaree, R. G., & Wolf, G. (1984). Estimating Within-Group Interrater Reliability With and Without Response Bias. The Journal of Applied Psychology, 69, 85–98.

Josiassen, A., Assaf, A. G., & Cvelbar, L. K. (2014). CRM and the bottom line: Do all CRM dimensions affect firm performance? International Journal of Hospitality Management, 36, 130–136. http://doi.org/10.1016/j.ijhm.2013.08.005.

Judge, T. a, & Piccolo, R. F. (2004). Transformational and transactional leadership: a meta-analytic test of their relative validity. The Journal of Applied Psychology, 89(5), 755–68. http://doi.org/10.1037/0021-9010.89.5.755.

Judge, T. A., Thoresen, C. J., Bono, J. E., & Patton, G. K. (2001). The job satisfaction–job performance relationship: A qualitative and quantitative review. Psychological Bulletin, 127(3), 376–407. http://doi.org/10.1037/0033-2909.127.3.376.

Kaiser, R. B., Hogan, R., & Craig, S. B. (2008). Leadership and the fate of organizations. The American Psychologist, 63(2), 96–110. http://doi.org/10.1037/0003-066X.63.2.96.

Kaiser, R. B., McGinnis, J. L., & Overfield, D. V. (2012). The how and the what of leadership. Consulting Psychology Journal: Practice and Research, 64(2), 119–135. http://doi.org/10.1037/a0029331.

Kanter, R. M., Stein, B., & Jick, T. (1992). The Challenge of Organizational Change: How Companies Experience it and Leaders Guide it. Free Press.

Kaplan, R. S., & Norton, D. P. (1996). The Balanced Scorecard: Translating Strategy Into Action. Harvard Business School Press.

Kaplan, R. S., & Norton, D. P. (2001). The Strategy-focused Organization: How Balanced Scorecard Companies Thrive in the New Business Environment. Harvard Business School Press.

Page 40: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

34

Kavanagh, M. H., & Ashkanasy, N. M. (2006). The impact of leadership and change management strategy on organizational culture and individual acceptance of change during a merger. British Journal of Management, 17(SUPPL. 1). http://doi.org/10.1111/j.1467-8551.2006.00480.x.

Kleijnen, M., de Ruyter, K., & Wetzels, M. (2007). An assessment of value creation in mobile service delivery and the moderating role of time consciousness. Journal of Retailing, 83(1), 33–46. http://doi.org/10.1016/j.jretai.2006.10.004.

Kotter, J. P. (1996). Leading change. Harvard Business Review, 3–37. http://doi.org/10.1177/1534484305278283.

Kreutzer, R. T. (2014). Digital Darwinism and the Need for a Digital Transformation. 4th Annual International Conference on Business Strategy & Organizational Behaviour, ((BizStrategy)), 38–46. http://doi.org/10.5176/2251-1970_BizStrategy14.17.

LeBreton, J. M., & Senter, J. L. (2008). Answers to 20 Questions About Interrater Reliability and Interrater Agreement. Organizational Research Methods, 11(4), 815–852. http://doi.org/10.1177/1094428106296642.

Malhotra, A., Gosain, S., & Sawy, O. A. E. (2007). Leveraging standard electronic business interfaces to enable adaptive supply chain partnerships. Information Systems Research, 18(3), 260–279. http://doi.org/10.1287/isre.1070.0132.

March, J. G., & Sutton, R. I. (1997). Organizational Performance as a Dependent Variable. Organization Science: A Journal of the Institute of Management Sciences, 8(6), 698. http://doi.org/10.1287/orsc.8.6.698.

Marion, R., & Uhl-Bien, M. (2001). Leadership in complex organizations. Leadership Quarterly, 12(4), 389–418. Retrieved from wos:000174278500003.

Nemanich, L. A., & Keller, R. T. (2007). Transformational leadership in an acquisition: A field study of employees. Leadership Quarterly, 18(1), 49–68. http://doi.org/10.1016/j.leaqua.2006.11.003.

O’Reilly III, C. A., & Tushman, M. L. (2008). Ambidexterity as a dynamic capability: Resolving the innovator’s dilemma. Research in Organizational Behavior, 28, 185–206. http://doi.org/10.1016/j.riob.2008.06.002.

Pavlou, P. a, & El Sawy, O. a. (2011). Understanding the Elusive Black Box of Dynamic Capabilities. Decision Sciences Journal, 42(1), 239–273. http://doi.org/10.1111/j.1540-5915.2010.00287.x.

Peters, T. J., & Waterman, R. H. (1982). In search of excellence: Lessons from America’s best run companies. New York: Harper & Row.

Page 41: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

35

Preston, D. S., & Karahanna, E. (2009). Antecedents of IS strategic alignment: A nomological network. Information Systems Research, 20(2), 159–179. http://doi.org/10.1287/isre.1070.0159.

Rai, A., Patnayakuni, R., & Seth, N. (2006). Firm Performance Impacts of Digitally Enabled Supply Chain Integration Capabilities. MIS Quarterly, 30(2), 225–246. http://doi.org/10.2307/25148729.

Reich, B. H., & Benbasat, I. (2000). Factors That Influence the Social Dimension of Alignment between Business and Information Technology Objectives. MIS Quarterly, 24(1), 81. http://doi.org/10.2307/3250980.

Reichheld, F., Markey, R. G., & Hopton, C. (2000). The loyalty effect–the relationship between loyalty and profits. European Business Journal, 12(3), 134–139. http://doi.org/10.2307/3857215.

Richard, P. J., Devinney, T. M., Yip, G. S., & Johnson, G. (2009). Measuring Organizational Performance: Towards Methodological Best Practice. Journal of Management, 35(3), 718–804. http://doi.org/10.1177/0149206308330560.

Rigby, B. D., & Bilodeau, B. (2013). Management tools & trends 2013. Bain and Company, Inc., 1–13. Retrieved from http://bain.com/Images/BAIN_BRIEF_Management_Tools_&_Trends_2013.pdf%5Cnfile:///C:/Users/matte/AppData/Local/Mendeley Ltd./Mendeley Desktop/Downloaded/Rigby, Bilodeau - 2013 - Management tools & trends 2013.pdf.

Rosenbloom, R. S. (2000). Leadership, Capabilities, and Technological Change: the Transformation of Ncr in the Electronic Era. Strategic Management Journal, 21(10/11), 1083. http://doi.org/10.1002/1097-0266(200010/11)21:10/11<1083::AID-SMJ127>3.0.CO;2-4.

Rumelt, Schendel, & Teece. (1991). Strategic Management and Economics. Strategic Management Journal, 12, 5–29.

Setia, P., Venkatesh, V., & Joglekar, S. (2013). Leveraging Digital Technologies: How Information Quality Leads to Localized Capabilities and Customer Service Performance. MIS Quarterly, 37(2), 565–590.

Wu, S. P.-J., Straub, Td. W., & Liang, T.-P. (2015). How Information Technology Governance Mechanisms and Strategic Alignment Influence Organizational Performance: Insights from a Matched Survey of Business and IT Managers. Management Information System Quarterly, 39(2), 497–518. http://doi.org/10.1225/81510.

Simchi-Levi, D.Kaminsky P., and Simchi-Levi, E. (2000). Designing and Managing the Supply Chain: Concepts. Strategies, and Case StudiesTitle. rwin/McGraw-Hill, New York.

Page 42: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

36

Singh, A., & Hess, T. (2017). How Chief Digital Officers Promote the Digital Transformation of their Companies. MIS Quarterly Executive, 16(1), 1–17.

Slywotzky, A. J., Morrison, D., & Weber, K. (2000). How Digital Is Your Business? Crown Business, New York.

Sonnentag, S., & Frese, M. (2002). Performance concepts and performance theory. Psychological Management of Individual Performance, 3–25. http://doi.org/10.1002/0470013419.ch1.

Teece, D. J. (2014). The Foundations of Enterprise Performance: Dynamic and Ordinary Capabilities in an (Economic) Theory of Firms. Academy of Management Perspectives, 28(4), 328–352. http://doi.org/10.5465/amp.2013.0116.

Todnem By, R. (2005). Organisational change management: A Critical Review. Journal of Change Management, 5(4), 369–380. http://doi.org/10.1080/14697010500359250.

Tripsas, M. (1997). Surviving radical technological change through dynamic capability: Evidence from the typesetter industry. Industrial and Corporate Change, 6(2), 341–377. http://doi.org/10.1093/icc/6.2.341.

Tucker, B. A., & Russell, R. F. (2004). The Influence of the Transformational Leader. Journal of Leadership & Organizational Studies, 10(4), 103–111. http://doi.org/10.1177/107179190401000408.

Uhl-Bien, M., Marion, R., & McKelvey, B. (2007). Complexity Leadership Theory: Shifting leadership from the industrial age to the knowledge era. Leadership Quarterly, 18(4), 298–318. http://doi.org/10.1016/j.leaqua.2007.04.002.

Van Dierendonck, D. (2011). Servant Leadership: A Review and Synthesis. Journal of Management, 37(4), 1228–1261. http://doi.org/10.1177/0149206310380462.

Van Selm, M., & Jankowski, N. W. (2006). Conducting online surveys. Quality and Quantity, 40(3), 435–456. http://doi.org/10.1007/s11135-005-8081-8.

Verhoef, P. C., Lemon, K. N., Parasuraman, A., Roggeveen, A., Tsiros, M., & Schlesinger, L. A. (2009). Customer Experience Creation: Determinants, Dynamics and Management Strategies. Journal of Retailing, 85(1), 31–41. http://doi.org/10.1016/j.jretai.2008.11.001.

Waldman, D. A., & Galvin, B. M. (2008). Alternative Perspectives of Responsible Leadership. Organizational Dynamics, 37(4), 327–341. http://doi.org/10.1016/j.orgdyn.2008.07.001.

Walsh, K. (2007). IT Innovations that Generate Revenue and Get You More Customers. CIO Magazine. Retrieved from http://www.cio.com/article/127651/IT_Innovations_ That_ Generate_Revenue_and_Get_You_More_Customers).

Page 43: Efeitos da Capacidade de Liderança na Capacidade Digital e ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33602/1/ulfpie052905_tm.pdf · Capacidade de Liderança, Capacidade Digital e Desempenho

37

Walumbwa, F. O., Wang, P., Lawler, J. J., & Shi, K. (2004). The role of collective efficacy in the relations between transformational leadership and work outcomes. Journal of Occupational and Organizational Psychology, 77(4), 515–530. http://doi.org/10.1348/0963179042596441.

Wang, C. L., & Ahmed, P. K. (2007). Dynamic capabilities: A review and research agenda. International Journal of Management Reviews, 9(1), 31–51. http://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2007.00201.x.

Westerman, G., Bonnet, D., & McAfee, A. (2014). Leading Digital: Turning Technology Into Business Transformation. Harvard Business Review Press.

Westerman, G., Calméjane, C., Bonnet, D., Ferraris, P., & McAfee, A. (2011). Digital Transformation: A Road-Map for Billion-Dollar Organizations. MIT Center for Digital Business and Capgemini Consulting, 1–68.

Westerman, G., Tannou, M., Bonnet, D., Ferraris, P., & McAfee, A. (2012). The Digital Advantage: How Digital Leaders Outperform their Peers in Every Industry. MIT Sloan Management Review. Retrieved from http://www.capgemini.com/resource-file-access/resource/pdf/The_Digital_Advantage__How_Digital_Leaders_Outperform_their_Peers_in_Every_Industry.pdf.

Winter, S. G. (2003). Understanding dynamic capabilities. Strategic Management Journal Special Issue: Why Is There a Resource-Based View? Toward a Theory of Competitive Heterogeneity, Volume 24, pages 991-995.

Wright, K. B. (2005), Researching Internet-Based Populations: Advantages and Disadvantages of Online Survey Research, Online Questionnaire Authoring Software Packages, and Web Survey Services. Journal of Computer-Mediated Communication, 10: 00. doi:10.1111/j.1083-6101.2005.tb00259.x.

Wu, C. W. (2016). The performance impact of social media in the chain store industry. Journal of Business Research, 69(11), 5310–5316. http://doi.org/10.1016/j.jbusres.2016.04.130.

Wu, F., Yeniyurt, S., Kim, D., & Cavusgil, S. T. (2006). The impact of information technology on supply chain capabilities and firm performance: A resource-based view. Industrial Marketing Management, 35(4), 493–504. http://doi.org/10.1016/j.indmarman.2005.05.003.

Wu, I. L., & Chen, J. L. (2014). A stage-based diffusion of IT innovation and the BSC performance impact: A moderator of technology-organization-environment. Technological Forecasting and Social Change, 88, 76–90. http://doi.org/10.1016/j.techfore.2014.06.015.