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Efeito de plantas de cobertura de inverno sobre cultivo de milho em sistema de plantio direto Effect of winter cover crops on corn growing under zero-tillage system BONJORNO, Ivan Iuri 1; MARTINS, Lauro Artur Otávio 2; LANA, Marcos Alberto 3; BITTENCOURT, Henrique von Hertwig 4; WILDNER, Leandro do Prado 5; PARIZOTTO, Círio 6; FAYAD, Jamil Abdala 7; COMIN, Jucinei José 8; ALTIERI, Miguel Angel 9; LOVATO, Paulo Emílio 10. 1 Programa de Recuperação Ambiental e de Apoio ao Pequeno Produtor Rural PRAPEM/MICROBACIAS, Paraíso/SC - Brasil, [email protected]; 2 CCA/UFSC, Florianópolis/SC - Brasil, [email protected]; 3 Leibniz-Centre for Agricultural Landscape Research (ZALF), Munchenberg -Alemanha, [email protected]; 4 Área de Fitotecnia, Instituto Agronômico do Paraná, Pato Branco/PR – Brasil, [email protected]; 5 Epagri/Cepaf, Chapecó/SC - Brasil, [email protected]; 6 Epagri, Campos Novos/SC - Brasil [email protected]; 7 Epagri, Florianópolis/SC Brasil, [email protected]; 8 CCA/UFSC, Florianópolis/SC - Brasil, [email protected]; 9 University of California, Berkeley, EUA; 10 CCA/UFSC, Florianópolis/SC - Brasil, [email protected] RESUMO Com o objetivo de avaliar a viabilidade do plantio direto sem herbicidas, foram testadas misturas de centeio, ervilhaca e nabo forrageiro para controle de plantas espontâneas e promoção do rendimento de milho em plantio direto. Mediram-se cobertura do solo e biomassa de plantas de cobertura e espontâneas durante o inverno, rendimento do milho e massa de espontâneas durante o ciclo da cultura de verão. A cobertura do solo durante o período de crescimento das culturas de inverno foi superior a 80%, embora os tratamentos não apresentassem diferenças nas variáveis medidas. As plantas de cobertura proporcionaram boas condições para a cultura comercial, que teve rendimentos entre 6,0 e 6,7 t.ha -1 , acima da média da região produtora, sem diferenças entre os tratamentos. Analisando-se valor de grãos colhidos e gastos com sementes das plantas de cobertura, demonstrou-se a viabilidade econômica do plantio direto sem herbicidas para o milho, em sucessão a diferentes coberturas de inverno. PALAVRAS-CHAVE: Manejo agroecológico, plantas espontâneas, cobertura do solo, rendimento agricultura familiar. ABSTRACT With the aim of assessing the feasibility of using zero-tillage with no herbicides, different mixtures of rye, vetch and oilseed radish were tested for the control of resident vegetation and promotion of maize yield. Cover crop biomass, soil cover, and resident vegetation biomass were measured during winter. Soil cover was higher than 80% during all the season, with no significant differences among the measured variables. The use of cover crops allowed for satisfactory growth of maize, which had yields (6.0-6.0 t.ha -1 ) above the average in the region, with no difference among tratments. The comparison of harvested grain value and cover crop seed costs showed that no-herbicide zero-tillage growth of maize is viable. KEY WORDS: agroecological management, spontaneous plants, soil cover, yield Revista Brasileira de Agroecologia Rev. Bras. de Agroecologia. 5(2): 99-108 (2010) ISSN: 1980-9735 Correspondências para: [email protected] Aceito para publicação em 29/08/2010

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Efeito de plantas de cobertura de inverno sobre cultivo de milho emsistema de plantio direto

Effect of winter cover crops on corn growing under zero-tillage systemBONJORNO, Ivan Iuri 1; MARTINS, Lauro Artur Otávio 2; LANA, Marcos Alberto 3; BITTENCOURT, Henrique vonHertwig 4; WILDNER, Leandro do Prado 5; PARIZOTTO, Círio 6; FAYAD, Jamil Abdala 7; COMIN, Jucinei José 8;ALTIERI, Miguel Angel 9; LOVATO, Paulo Emílio 10.

1Programa de Recuperação Ambiental e de Apoio ao Pequeno Produtor Rural PRAPEM/MICROBACIAS,Paraíso/SC - Brasil, [email protected]; 2CCA/UFSC, Florianópolis/SC - Brasil, [email protected];3Leibniz-Centre for Agricultural Landscape Research (ZALF), Munchenberg -Alemanha, [email protected];4Área de Fitotecnia, Instituto Agronômico do Paraná, Pato Branco/PR – Brasil, [email protected];5Epagri/Cepaf, Chapecó/SC - Brasil, [email protected]; 6Epagri, Campos Novos/SC - [email protected]; 7Epagri, Florianópolis/SC Brasil, [email protected]; 8CCA/UFSC, Florianópolis/SC -Brasil, [email protected]; 9University of California, Berkeley, EUA; 10CCA/UFSC, Florianópolis/SC - Brasil,[email protected]

RESUMOCom o objetivo de avaliar a viabilidade do plantio direto sem herbicidas, foram testadasmisturas de centeio, ervilhaca e nabo forrageiro para controle de plantas espontâneas epromoção do rendimento de milho em plantio direto. Mediram-se cobertura do solo ebiomassa de plantas de cobertura e espontâneas durante o inverno, rendimento do milho emassa de espontâneas durante o ciclo da cultura de verão. A cobertura do solo durante operíodo de crescimento das culturas de inverno foi superior a 80%, embora os tratamentosnão apresentassem diferenças nas variáveis medidas. As plantas de coberturaproporcionaram boas condições para a cultura comercial, que teve rendimentos entre 6,0 e6,7 t.ha-1, acima da média da região produtora, sem diferenças entre os tratamentos.Analisando-se valor de grãos colhidos e gastos com sementes das plantas de cobertura,demonstrou-se a viabilidade econômica do plantio direto sem herbicidas para o milho, emsucessão a diferentes coberturas de inverno.PALAVRAS-CHAVE: Manejo agroecológico, plantas espontâneas, cobertura do solo,rendimento agricultura familiar.

ABSTRACTWith the aim of assessing the feasibility of using zero-tillage with no herbicides, differentmixtures of rye, vetch and oilseed radish were tested for the control of resident vegetation andpromotion of maize yield. Cover crop biomass, soil cover, and resident vegetation biomasswere measured during winter. Soil cover was higher than 80% during all the season, with nosignificant differences among the measured variables. The use of cover crops allowed forsatisfactory growth of maize, which had yields (6.0-6.0 t.ha-1) above the average in the region,with no difference among tratments. The comparison of harvested grain value and cover cropseed costs showed that no-herbicide zero-tillage growth of maize is viable.KEY WORDS: agroecological management, spontaneous plants, soil cover, yield

Revista Brasileira de AgroecologiaRev. Bras. de Agroecologia. 5(2): 99-108 (2010)ISSN: 1980-9735

Correspondências para: [email protected] para publicação em 29/08/2010

IntroduçãoA opção dos agricultores por iniciar processos

de transição agroecológica tem razões denatureza sócio-econômica e ambiental, e ampliamas oportunidades de melhoria da qualidade devida das famílias envolvidas, bem como depreservação dos recursos naturais (SCHENKEL etal., 2007). Muitas vezes, tais processos iniciam-sepor mudanças no manejo dos solos e das plantas.

A mobilização dos solos tropicais provoca suadesagregação superficial e a formação de crostasresultantes da dispersão das partículas do solo.Forma-se ainda outra camada subsuperficialcompactada, resultante tanto da pressão exercidapelo peso dos implementos agrícolas como pelaação direta dos pneus (CASTRO et al., 1987). Porisso, nas regiões tropicais, sistemas de preparocom mínima perturbação do solo e que propiciama manutenção de resíduos na superfície sãonecessários para o controle da erosão e para aredução da degradação do solo (LAL, 2000).

O sistema de plantio direto (PD), técnica decolocação da semente em sulco ou cova em solorevolvido apenas com largura e profundidadesuficientes para obter uma cobertura e contatoadequados da semente com o solo, permiteeliminar as operações de aração, gradagem,escarificação e outros métodos convencionais depreparo do solo (MUZILLI, 1981). Dentre asvantagens proporcionadas pelo sistema de plantiodireto, têm-se melhoras no controle da erosão; naconservação da matéria orgânica do solo e de suaestrutura; na manutenção da umidade do solo; nagerminação das sementes e no desenvolvimentode plantas; bem como na redução do trabalho edos custos de produção (SCHULTZ, 1978).

O PD apresentou forte expansão na região Suldo Brasil, tendo na aveia preta a principal culturade cobertura no outono/inverno, antecedendo asculturas comerciais no verão. Entretanto, há uminteresse crescente, principalmente por parte dosprodutores de milho, em incluir no sistema deprodução outras espécies, como a ervilhaca e o

nabo forrageiro, com vistas em diminuir o uso defertilizantes nitrogenados minerais na cultura. Acapacidade dessas espécies em ciclar o Ndisponível do solo e/ou, de fixar o N atmosférico, aelevada demanda em N do milho e o alto custodos fertilizantes nitrogenados contribuem para ainclusão dessas espécies em rotação com acultura do milho (GIACOMINI et al., 2004), umadas mais importantes para os pequenosagricultores familiares do Estado de SantaCatarina.

No sistema vigente de PD é comum autilização de uma grande quantidade deherbicidas para dessecar a vegetação (plantas decobertura ou espontâneas) e depois semear acultura sob a palhada, e também para controlar asplantas espontâneas durante o desenvolvimentoda cultura comercial. No entanto, existemexperiências de plantio direto sem o uso dessesinsumos tóxicos baseadas na adoção dediferentes práticas de manejo de plantas decobertura do solo e de plantas espontâneas.Segundo Darolt e Skora Neto (2002), umaalternativa aos herbicidas são as plantas decobertura do solo que apresentam crescimentoinicial rápido e grande produção de biomassa,podendo suprimir o desenvolvimento das plantasespontâneas juntamente com outras práticasculturais de manejo. A palha mantida sobre o solo,por exemplo, pode afetar a emergência dasplantas espontâneas por três processos distintos:o físico, o biológico e o químico, com possíveisinterações entre eles (PITELLI; DURIGAN, 2001).Ao escolher uma planta de cobertura sãoconsideradas características como ciclo dedesenvolvimento e capacidade de competiçãocom outras espécies, rusticidade, velocidade decrescimento, produção de fitomassa, etc. Entre asplantas de cobertura de inverno utilizadas emSanta Catarina, estão o centeio, a ervilhaca e onabo forrageiro.

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Lana (2007) e Bittencourt et al. (2009)analisaram combinações de culturas de coberturaquanto à supressão de comunidades de plantasespontâneas e rendimento de feijão em PD. Entreas diversas combinações avaliadas, a combinaçãode três espécies (centeio, nabo forrageiro eervilhaca) proporcionou os maiores índices decobertura do solo, maior velocidade de cobertura,além da mais alta produção de biomassa e figurouentre os maiores rendimentos da cultura comercialestudada. Em estudo realizado por Kieling et al.(2009), o trio de culturas de cobertura aveia preta+ ervilhaca + nabo forrageiro produziu quase odobro de matéria seca por hectare em relação aoobservado com a leguminosa em cultivo solteiro,evidenciando a importância da utilização dasplantas de cobertura de forma consorciada.

As plantas de cobertura são de grandeimportância para viabilizar o plantio direto de milhosem o uso de herbicidas, pois com o tempomelhoram as características físicas, químicas ebiológicas do solo, além de aumentar abiodiversidade do agroecossistema, promovendoinúmeras interações ecológicas positivas. Aspesquisas que visam buscar alternativas ao usodesses agrotóxicos podem contribuir para ainserção de agricultores em um processo deganho de autonomia, reduzindo ou eliminando adependência de insumos da indústriaagroquímica, e minimizando os riscos decontaminação ambiental. As referidas mudançassão importantes passos no processo de transiçãopara a agroecologia. Assim, esse estudo foirealizado com o objetivo de definir a melhorproporção de centeio, ervilhaca e nabo em PDpara o controle de plantas espontâneas epromoção do rendimento de milho emmonocultivo.

Material e MétodosO experimento foi conduzido na Estação

Experimental da Epagri de Ituporanga, Santa

Catarina, na região do Alto Vale do Itajaí (475metros de altitude, latitude 27°25'07'' S elongitude 49°38'46'' W). O clima é caracterizado,segundo Köppen, como Cfa (mesotérmico úmido,sem estação seca definida e com verõesquentes). A precipitação anual é de 1.771mm e osolo da área é classificado como CambissoloHáplico.

A área total utilizada para o experimento demilho em monocultivo foi de 360m2, em umarranjo experimental de blocos ao acaso, comquatro repetições. As parcelas tinham dimensõesde 3,75m x 6m, totalizando uma área útil de8,1m2. Nos meses de maio e junho de 2007,inverno anterior ao plantio de verão, as culturasde cobertura foram semeadas a lanço,constituindo-se os tratamentos com a quantidadede sementes 3,6 vezes superior ao recomendadopor Monegat (1991). Foram constituídos osseguintes tratamentos: II. centeio (Secale cereale)[96 Kg/ha] + ervilhaca (Vicia sativa) [60 Kg/ha] +nabo (Raphanus sativus) [36 Kg/ha]; ICe. centeio[144 Kg/ha] + ervilhaca [48 Kg/ha] + nabo [24Kg/ha]; IEr. Ervilhaca [96 Kg/ha] + centeio [72Kg/ha] + nabo [24 Kg/ha]; INF. nabo [48 Kg/ha] +centeio [72 Kg/ha] + ervilhaca [48 Kg/ha].

Não foram realizadas adubações, irrigação ouqualquer trato cultural durante o ciclo dedesenvolvimento das culturas de cobertura deinverno. As plantas de cobertura foram acamadasutilizando-se um rolo faca.

As sementes de milho utilizadas nosexperimentos foram da cultivar SCS 154(Fortuna), desenvolvida pela Empresa dePesquisa Agropecuária e Extensão Rural deSanta Catarina (Epagri). A semeadura foirealizada com semeadora manual (saraquá), emoutubro de 2007, nos espaçamentos de 0,20mentre plantas e 0,90m entre linhas (densidade de55 mil plantas/ha). Antes da semeadura, realizou-se adubação orgânica de cobertura (45 kg N/ha),

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com cama de aves. Não foram realizadasoperações de controle de plantas espontâneas,objetivando testar o potencial das plantas decobertura de inverno.

Mensurou-se a fitomassa de plantas decobertura de inverno e de plantas espontâneasdurante o ciclo das plantas de cobertura (t/hamatéria seca), a cobertura do solo pelas plantasde cobertura de inverno (%), o rendimento domilho (t/ha) e a fitomassa de plantas espontâneasdurante o ciclo da cultura de verão (t/ha matériaseca). A avaliação da cobertura do solo pelasculturas de cobertura de inverno foi realizada emuma transecta diagonal, com 20 observações porparcela, três vezes durante o ciclo das plantas decobertura de inverno. A cada 0,5m era realizadauma observação ortogonal e verificava-se apresença ou ausência de cobertura vegetal sobreaquele ponto.

A produção de fitomassa de plantas decobertura de inverno, e de plantas espontâneas deinverno e de verão, foi avaliada por meio de umquadrado metálico (0,5x0,5m) dispostoaleatoriamente em três pontos em cada parcela.As amostragens foram realizadas aos 56, 82 e 110dias após a semeadura das plantas de coberturade inverno, e aos 36, 100 e 168 após a semeadurado milho, conforme método utilizado por Lana(2007) e Steinmaus et al. (2008). As plantas decada amostra foram cortadas rente ao solo e afitomassa coletada foi submetida à secagem a65ºC em estufa com circulação de ar até pesoconstante.

A colheita do milho foi realizada em abril de2008, aos 169 dias após a semeadura. Para aavaliação do rendimento foi realizada colheitamanual em área total, desconsiderando asbordaduras. Os dados foram corrigidos para 15%de umidade e expressos em t/ha.

Os dados foram submetidos à análise devariância (ANOVA) e as médias foram separadas

e comparadas através do teste DMS-Fischer, comprobabilidade de 5%. Os níveis de significânciapara a análise do coeficiente de correlação foramobtidos segundo a tabela de Fischer e Yates(LITTLE; HILLS, 1978).

Resultados e Discussão

Produção de fitomassa de plantas de coberturade inverno e plantas espontâneas

Nas coletas de fitomassa realizadas aos 56, 82e 110 dias após a semeadura das plantas decobertura de inverno, não foram detectadasdiferenças significativas entre os tratamentosestudados nas três épocas de coleta. Na primeiracoleta a produção de fitomassa variou de 3,4 a 4,9t/ha nos diferentes tratamentos (Figura 1). Nasegunda, aos 82 dias, a produção de fitomassanos diferentes tratamentos foi deaproximadamente 5,5 t/ha. Na terceira coleta defitomassa, a produção obtida nos diferentestratamentos ficou entorno de 8 a 9 t/ha, compredominância marcante de ervilhaca sobre asoutras culturas de cobertura.

Cobertura do solo durante o ciclo das culturasde inverno

Os diferentes tratamentos estudadosapresentaram já na primeira coleta, aos 56 diasapós a semeadura das culturas de cobertura,eficiência de cobertura do solo maior que 80%(Figura 2). Esses altos percentuais de coberturado solo já eram esperados, tendo em vista quenesse experimento utilizou-se mais que o dobroda quantidade de sementes usualmenterecomendada. Tanto na segunda como na terceiracoleta, o tratamento com predominância de NaboForrageiro (INF) alcançou um percentual decobertura do solo acima de 95%. Os outrostratamentos também apresentaram uma eficiênciasemelhante, e nas três épocas estudadas não

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houve diferença significativa entre os tratamentosanalisados. Bittencourt et al. (2009), trabalhandocom diversas culturas de cobertura de inverno,verificaram que no tratamento composto porCenteio + Ervilhaca + Nabo, o crescimento daervilhaca sobre os talos deixados pelo Nabo fezcom que a perda de cobertura ocasionada peladegradação do Centeio fosse compensada, poisas espécies iniciaram e terminaram seus ciclos emmomentos diferentes, não ocorrendo competiçãonos estágios de maior desenvolvimento dasreferidas culturas. O Nabo Forrageiro e o Centeioatingem a plena floração entre 70-80 e 100-120dias respectivamente, enquanto que para aervilhaca são necessários 120 a 170 dias(CALEGARI et al., 1993). Segundo Derpsch eCalegari (1992) e Calegari (1998) o naboforrageiro apresenta produtividade média de 3 t/hade massa seca da parte aérea, e, mesmo emáreas sem adubação, esse valor pode oscilarentre 2 e 6 t/ha de massa seca no estádio de

floração. Os altos valores de porcentagem decobertura do solo verificados representambenefícios para o agroecossistema, pois estacobertura pode diminuir a erosão e manter atemperatura do solo mais estável (DERPSCH etal., 1991). À medida que vai se degradando,alimenta uma rede de organismos do soloresponsáveis por processos importantes dereciclagem de nutrientes e formação deagregados estáveis no solo, entre outros(MOREIRA; SIQUEIRA, 2002).

Produção de fitomassa de plantasespontâneas durante o ciclo da cultura de verão

Em relação à fitomassa de plantasespontâneas de verão, observou-se redução aolongo do ciclo do milho (Figura 3). Isso decorreuda alta densidade de semeadura das plantas decobertura de inverno adotada, visto que quantomaior a massa da cobertura morta, menor será abiomassa produzida pela população de

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espontâneas (TEASDALE, 2004).Apesar da redução ao longo do tempo, não

foram detectadas diferenças significativas entre ostratamentos estudados nas três épocas de coletade fitomassa de plantas espontâneas. Na primeiracoleta, aos 36 dias após a semeadura da culturacomercial de verão, foram observados os maioresvalores para a produção de fitomassa. Nas duasprimeiras coletas, o tratamento com predomínio denabo forrageiro (INF) foi responsável pela maiorprodução de fitomassa de espontâneas, comcerca de 1,4 t/ha (Figura 3). No período entre aprimeira e a segunda coleta, aos 100 dias, houveuma redução na produção de fitomassa em todosos tratamentos, com valores de produção entre 0,5e 1,0 t/ha. Tal redução ocorreu em razão doaumento da competição com as plantas da culturacomercial, mas também pela presença de umaconsiderável quantidade de palhadaremanescente da rolagem das plantas decobertura de inverno. Aos 168 dias, na terceiracoleta de fitomassa, a produção nos diferentestratamentos foi de aproximadamente 0,7 t/ha.KIELING et al. (2009) verificaram que entre osdiversos consórcios de cultivos de cobertura,aqueles compostos por aveia + nabo, aveia +ervilhaca e aveia + ervilhaca + nabo, seguidos deaveia, apresentaram o melhor desempenhoquanto ao abafamento de plantas espontâneasnas três épocas avaliadas. O bom desempenhodos consórcios deve-se ao efeito decomplementaridade entre as diferentes espéciesutilizadas. A ervilhaca, por exemplo, promove afixação biológica de nitrogênio, disponibilizandoeste nutriente no solo e conseqüentementefavorecendo o desenvolvimento da aveia ou donabo forrageiro, que posteriormente servirão desuporte para o seu crescimento. Por apresentaremdiferenças quanto a ciclo de desenvolvimento, aárea de exploração radicular, a capacidade decompetição e a exigências nutricionais, elas não

competem diretamente entre si pelos fatoresindispensáveis ao desenvolvimento. Acombinação de diversos métodos de abafamentode plantas espontâneas deve ser usada paraprevenir que espontâneas tolerantes a umdeterminado método utilizado repetidamente sedesenvolvam de forma prejudicial aodesenvolvimento da cultura (STEINMAUS et al.,2008).

Rendimento da cultura de verãoOs rendimentos obtidos com o milho cultivado

em sistema de monocultivo (Tabela 1), nosdiferentes tratamentos estudados, consideradosestatisticamente iguais, superaram a média deprodutividade da microrregião produtora deItuporanga, que foi de 5,3 t/ha na safra 2007/2008(EPAGRI/CEPA, 2009). O destaque foi para otratamento constituído pela mistura das culturasde cobertura em partes iguais (II), comprodutividade de 6,7 t/ha. SILVA et al. (2006),estudando coberturas de solo no inverno paracultivo do milho em sucessão no sistema de PD,concluíram que, na ausência de adubaçãonitrogenada, as maiores produtividades de milhosão obtidas quando a cultura antecessora é aervilhaca-peluda ou o nabo forrageiro, e asmenores quando a cultura antecessora é a aveia-preta.

A utilização de plantas de cobertura nasupressão de plantas espontâneas pode ser degrande relevância e eficácia, desde que sejamutilizados métodos complementares, levando emconsideração as particularidades de cadasituação, visto que não há uma receita pronta,mas sim princípios que orientam decisões. Nopresente estudo optou-se por não realizar capinaou roçada para verificar se as plantas decobertura apresentariam a mesma eficáciaobservada em outros trabalhos, nos quais não foirealizada qualquer intervenção para o controle de

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plantas espontâneas (LANA, 2007;BITTENCOURT et al., 2009), e principalmentepara testar o efetivo potencial supressor dessasplantas sobre as plantas espontâneas de verãonos experimentos realizados.

A consorciação das plantas de cobertura é umfator de grande importância, pois há umacomplementaridade entre as diferentes espécies,que por diversos mecanismos ajudam nodesenvolvimento umas das outras. Kieling (2007),estudando cultivo do tomateiro em sistema deplantio direto sem o uso de herbicidas, verificouque a ervilhaca e o nabo forrageiro foram degrande importância para o aumento da fitomassadas coberturas e para a melhoria do solo em todosos consórcios dos quais fizeram parte, mas emcultivo solteiro não apresentaram bonsdesempenhos.

Existem pesquisas consolidadas sobre plantasde cobertura de inverno, mas o sistema de PlantioDireto sem o uso de Herbicidas traz consigo anecessidade de trabalhos, que identifiquemconsórcios e densidades de semeadura maisadequadas para esse sistema, que por não utilizaragrotóxicos apresenta um nível de complexidade

bem maior que o convencional, em que o controledas plantas espontâneas, por exemplo, ésimplificado pelo uso de herbicidas e dessecantes.

ConclusõesA produção de milho em sistema de

monocultivo superou a média de produtividade damicrorregião região produtora ao qual estavainserida, demonstrando a viabilidade do plantiodireto sem o uso de herbicidas para esta culturaquando em sucessão à combinação de centeio,ervilhaca e nabo forrageiro, desde que se utilize adensidade de semeadura adequada.

Nas diferentes épocas de avaliação, asdiferenças nas proporções de centeio, naboforrageiro e ervilhaca nas misturas utilizadas nãoresultaram em diferenças significativas naprodução de fitomassa de plantas de cobertura deinverno, de plantas espontâneas de inverno everão e no rendimento do milho.

AgradecimentosAo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico – CNPq, pela Bolsa de

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Estudos; à Fundação CS-Fund/Warsh-MottLegacy (Estados Unidos) pelo apoio financeiro; e àEmpresa de Pesquisa Agropecuária e ExtensãoRural de Santa Catarina – Epagri, por fornecer ainfraestrutura necessária à implantação econdução do experimento de campo.

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