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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA EFEITO DAS TOXINAS A E B DO Clostridium difficile SOBRE A VIA DE WNT/-CATENINA EM CÉLULAS EPITELIAIS INTESTINAIS BRUNO BEZERRA LIMA FORTALEZA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA

EFEITO DAS TOXINAS A E B DO Clostridium difficile SOBRE A VIA DE WNT/-CATENINA EM CÉLULAS EPITELIAIS INTESTINAIS

BRUNO BEZERRA LIMA

FORTALEZA 2014

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BRUNO BEZERRA LIMA

EFEITO DAS TOXINAS A E B DO Clostridium difficile SOBRE A VIA DE WNT/-CATENINA EM CÉLULAS EPITELIAIS INTESTINAIS

Tese de Doutorado submetida à Coordenação do Programa de Pós-graduação em Farmacologia, da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Farmacologia. Orientadora: Profa Dra Gerly Anne de Castro Brito.

FORTALEZA 2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde

L696e Lima, Bruno Bezerra.

Efeito das toxinas A e B do Clostridium difficile sobre a via de Wnt/β-catenina em células epiteliais intestinais / Bruno Bezerra Lima. – 2014.

73 f. : il. color., enc. ; 30 cm. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Medicina, Departamento de

Fisiologia e Farmacologia, Programa de Pós-Graduação em Farmacologia, Doutorado em Farmacologia, Fortaleza, 2014.

Área de concentração: Farmacologia e Toxicologia Pré-Clínica. Orientação: Profa. Dra. Gerly Anne de Castro Brito. 1. Clostridium difficile. 2. beta Catenina. 3. Caspases. I. Título.

CDD 615.373

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“Dans les champs de l'observation,

le hasard ne favorise que les esprits preparés.”

- Louis Pasteur

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me concedido a oportunidade de aprendizado e evolução.

À professora Gerly Anne Brito, minha orientadora e que muitas vezes foi minha “mãe”, agradeço de coração o carinho e o empenho dedicado a mim e ao projeto durante todo este tempo. Agradeço pela confiança em mim, pela paciência nos momentos difíceis e agradeço também pelos ensinamentos, muitos dos quais levarei para a vida toda!

Ao professor José Garcia Abreu, gostaria de expressar meu profundo reconhecimento pela sua contribuição decisiva para a minha formação acadêmica e científica, pelo estímulo intelectual, por toda confiança em mim depositada, pela orientação dia-a-dia que recebi ao longo de todo o desenvolvimento deste trabalho, por todas as oportunidades oferecidas durante os anos de orientação, as quais jamais serão esquecidas no decorrer da minha caminhada, pelo apoio e incentivo que sempre garantiu.

À Bárbara, minha fiel amiga de todas as horas, lembrarei sempre da sua alegria e amizade, pela ajuda incondicional, meu agradecimento especial.

Ao professor Ronaldo de Albuquerque Ribeiro, exemplo de dedicação à pesquisa e profissionalismo.

Ao professor Manassés Claudino Fonteles, pelo incentivo e exemplo de competência e dedicação ao ensino.

Ao professor Vivaldo Moura Neto, pela pessoa simples e amiga, por ter aberto as portas da UFRJ para a criação do DINTER.

Ao Manuel Braga Neto, meu grande amigo, que sempre está contribuindo com seus importantes conselhos e por sua indicação pude escolher a professora Gerly como orientadora.

Ao pessoal do LEV, pela ajuda nos experimentos, pelas discussões construtivas e pela conversa cotidiana, coisas que me davam a força que eu precisava para continuar seguindo. Aos meus grandes amigas e amigos que fiz Nathália, Débora, Fábio, Fernanda, Celina, pela presença, pela amizade, pelo apoio e pelos momentos maravilhosos que me proporcionam!

Aos amigos do LAFICA/NEMPI, Angélica, Dani, Karol, Roberto, Deisy, Igor, Rosinha, entre vários, que sempre me apoiaram, escutaram e incentivaram na conquista deste sonho.

À Josy e ao Fábio Zuim pela constante ajuda e paciência em resolver as questões burocráticas e financeiras do projeto.

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A todos os colegas, professores e funcionários, em especial à Aura Rhanes Farias Nogueira Yida, da Pós-graduação do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal do Ceará, minha perene gratidão.

Às minhas irmãs, Renata e Jéssica obrigado pela confiança, pela dedicação e pelo amor.

Ao meu amigo-irmão, Felipe, por ser exemplo profissional e pessoal, pela amizade, e infinita disponibilidade em abrir as portas da sua casa no Rio de Janeiro.

Aos meus pais, Gersivam e Inês, obrigado por sempre apoiarem e incentivarem a carreira que escolhi. Sem vocês, eu não estaria onde estou. Sem a educação e o cuidado de vocês, eu não seria quem eu sou.

À Débora Lima, gostaria de dedicar esta tese, pelo amor, companheirismo e imensurável apoio, além da indispensável ajuda durante todos os experimentos. Agradeço pelo carinho e apoio incondicional, pela PACIÊNCIA, pela compreensão nas horas de ausência, pelo incentivo em todos os momentos, e principalmente por me fazer acreditar que no final tudo dá certo.

Ao CNPq, CAPES, Funcap e Faperj, pelo suporte financeiro.

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RESUMO Título: Efeito das toxinas A e B do Clostridium difficile sobre a via de Wnt/-catenina em células epiteliais intestinais As toxinas A e B do Clostridium difficile (TcdA e TcdB) são glicosiltransferases homólogas que

inibem um grupo de pequenas GTPases dentro da célula hospedeira, contudo, vários mecanismos

envolvidos na atividade patogênica dessas toxinas permanecem desconhecidos. No presente

estudo, avaliamos os efeitos das TcdA e TcdB na via de Wnt/-catenina que representa a força

motora principal responsável pela proliferação das células epiteliais nas criptas colônicas. Foram

utilizadas células IEC-6 (células epiteliais de criptas de Rattus novergicus) e RKO (células de

adenocarcinoma de cólon humano). Estas células foram estimuladas com meio condicionado

contendo Wnt3a e incubadas com 10, 50 ou 100 ng/mL de TcdA ou 1, 5 ou 10 ng/mL de TcdB

por 24h, resultando em uma inibição dose-dependente da via de sinalização canônica de Wnt,

como demonstrado pelo ensaio de repórter de fator de célula T (TCF). Esse resultado foi

corroborado pelos dados da imunofluorescência com marcação para a localização nuclear de -

catenina e por western blotting para -catenina e c-MYC (gene-alvo da via de Wnt). Além disso,

os dados do experimento de western blot evidenciaram uma diminuição dos níveis da proteína -

catenina, o qual foi prontamente revertido por z-VAD-fmk, um pan-inibidor de caspase.

Entretanto, a TcdA ainda foi capaz de inibir a via de Wnt/-catenina mesmo na presença do z-

VAD-fmk, cloreto de lítio (um inibidor de GSK3) ou plasmídeo de -catenina

constitutivamente ativo, como determinado pelo ensaio do TCF (TOPFlash/Luciferase). O estudo

evidenciou ainda que a pré-incubação de células RKO com TcdA por 12h também atenuou a

ativação da via de Wnt mediada por Wnt3a, o que sugere que a inativação de RhoGTPases,

particularmente Rac1, possui um papel nessa inibição. Em conclusão, esses achados sugerem que

a inibição da via canônica de Wnt pelas TcdA e TcdB representa um mecanismo importante da

sua patogênese e explica seus efeitos anti-proliferativos.

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Palavras-chave: Clostridium difficile, Toxina A (TcdA), Toxina B (TcdB), via de Wnt/-

catenina, caspases

ABSTRACT

Title: Clostridium difficile toxins A and B effects over Wnt/-catenin pathway in intestinal epithelial cells

Clostridium difficile toxins A and B (TcdA and TcdB) are homologous glycosyltransferases that

inhibit a group of small GTPases within host cells, but several mechanisms underlying their

pathogenic activity remain unclear. Here, we evaluated the effects of TcdA and TcdB on the

Wnt/-catenin pathway, the major driving force behind the proliferation of epithelial cells in

colonic crypts. IEC-6 and RKO cells stimulated with Wnt3a-conditioned medium were incubated

with 10, 50 and 100 ng/mL of TcdA or TcdB for 24h, resulting in a dose-dependent inhibition of

the Wnt signaling, as demonstrated by a T-cell factor (TCF) reporter assay. This was further

confirmed by immunofluorescence staining for nuclear localization of -catenin and western

blotting for -catenin and c-Myc (encoded by a Wnt target gene). Moreover, our western blot

analysis showed a decrease in the -catenin protein levels, which was reversed by z-VAD-fmk, a

pan-caspase inhibitor. Nonetheless, TcdA was still able to inhibit the Wnt/-catenin pathway

even in the presence of z-VAD-fmk, lithium chloride (a GSK3 inhibitor), or constitutively

active -catenin, as determined by a TCF reporter assay. Furthermore, pre-incubation of RKO

cells with TcdA for 12h also attenuated Wnt3a-mediated activation of Wnt signaling, suggesting

that inactivation of Rho GTPases plays a significant role in that inhibition. Taken together, these

findings suggest that attenuation of the Wnt signaling by TcdA and TcdB is important for their

anti-proliferative effects.

Keywords: Clostridium difficile toxin A and toxin B (TcdA and TcdB), Wnt/-catenin pathway,

caspases

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Ac AMP

AMPc ANOVA

ATP oC

C. difficile CDAD

CDK cm

DMSO DNA

EPM et al.

IgG IL-1β

IL-6 IL-8

IL-10 IL-12

IFN-γ iNOS

i.p. kDa

Anticorpo

Adenosina monofosfato

Adenosina monofosfato cíclico

Análise de variância

Adenosina trifosfato

Graus centígrados

Clostridium difficile

Doença induzida pelo Clostridium difficile

Quinase dependente de Ciclina

Centímetro

Dimetil Sulfóxido

Ácido desoxirribonucleico

Erro padrão da média

E colaboradores

Imunoglobulina G

Interleucina 1 beta

Interleucina 6

Interleucina 8

Interleucina 10

Interleucina 12

Interferon gama

Óxido Nítrico Sintase induzível

Intaperitoneal

Kilodalton

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kg KO

LiCl LPS

LTB4 M

min. µL

mg µg

µmol n

NF-κB nM

PAF PBS

pg PGE2

pH PLA2

P.M. nNOS

r.p.m. RNA

TLR TNF-α

TcdA TcdB

U Vs

Wnt

Kilograma

Knockout

Cloreto de Lítio

Lipopolissacarídeo

Leucotrieno B4

Molar

Minuto (s)

Microlitro

Miligrama

Micrograma

Micromol

Número

Fator nuclear kappa B

Nanomolar

Fator ativador plaquetário

Tampão fosfato-salino

Picograma

Prostaglandina E2

Potencial hidrogeniônico

Fosfolipase A2

Peso molecular

Óxido Nítrico Sintase neuronal

Rotação por minuto

Ácido ribonucléico

Receptor Toll like

Fator de necrose tumoral alfa

Toxina A do Clostridium difficile

Toxina B do Clostridium difficile

Unidade

Versus

Wingless

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x z-VAD-fmk

Vezes

Carbobenzoxil-valil-alanil-aspartil-[O-metil]- fluorometillcetona

LISTA DE SÍMBOLOS

α

β γ

κ ®

± >

< %

Alfa

Beta

Gama

Capa

Marca registrada

Mais ou menos

Maior que

Menor que

Percentagem

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SUMÁRIO

RESUMO 7

ABSTRACT 8 LISTA DE ABREVIATURAS 9

LISTA DE SÍMBOLOS 11

1. INTRODUÇÃO 1.1 C. difficile: considerações epidemiológicas 15

1.2 Patogênese do C. difficile 17 1.2.1 As toxinas A (TcdA) e B (TcdB): considerações gerais 17

1.2.2 Regulação da transcrição e características estruturais das TcdA e TcdB

18

1.2.3 Inibição das RhoGTPases: Rho, Rac1 e Cdc42 19 1.2.4 Apoptose induzida por TcdA e TcdB 21

1.2.5 Ciclo Celular 23

1.3 A via de Wnt/-catenina e a renovação do epitélio intestinal 26

2. JUSTIFICATIVA 29 3. OBJETIVOS 31

4. MATERIAIS & MÉTODOS 32 4.1 Reagentes 32

4.1.1 Toxinas A (TcdA) e B (TcdB) do C. difficile 32 4.1.2 Anticorpos 32

4.1.3 Plasmídeos 32 4.1.4 Drogas e soluções 34

4.2 Meios de Cultura 35

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4.3 Cultura de Células 36 4.4 Protocolos 37

4.4.1 Preparação das células aderidas 37

4.4.2 Contagem das células intestinais em lâmina pela câmara de

Neubauer

38

4.4.3 Transfecção celular de plasmídeos e ensaio da luciferase 39

4.4.4 Western Blot 41 4.4.5 Imunofluorescência 42

4.5 Análise Estatística 43 5. RESULTADOS 44

5.1 TcdA e TcdB inibem a via de sinalização Wnt/-catenina em cultura de células epiteliais intestinais

44

5.2 A toxina A do Clostridium difficile diminui os níveis da proteína -catenina e previne a expressão de c-MYC induzida por Wnt3a

47

5.3 A toxina A do Clostridium difficile bloqueia o acúmulo de -catenina nuclear induzida por Wnt3a

49

5.4 A toxina A do Clostridium difficile bloqueia o acúmulo de -catenina nuclear induzida por Wnt3a

51

5.5 A toxina A do Clostridium difficile inibe a via de Wnt independentemente da atividade do complexo de destruição de -catenina

56

5.6 A pré-incubação de células RKO com a TcdA inibe a via de Wnt por ativação de Wnt3a

59

6. DISCUSSÃO 61 7. CONCLUSÕES 66

8. REFERÊNCIAS 67 9. ANEXOS 79

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15

1. INTRODUÇÃO

1.1 Clostridium difficile: considerações epidemiológicas

Descrito pela primeira vez em 1935, o C. difficile consiste em uma bactéria gram-

positiva formadora de esporos, sendo encontrada com frequência no meio-ambiente e na flora

intestinal em 3% da população adulta (ARTEAGA et al., 2009). O indivíduo infectado pelo C.

difficile pode evoluir como portador assintomático ou progredir para formas mais graves como

colite pseudomembranosa, megacólon tóxico, sepse, choque e morte (KYNE et al., 2000). Hoje,

a doença induzida pelo C. difficile (CDAD) representa a principal causa de diarreia nosocomial

no mundo e estima-se que os custos econômicos associados a CDAD variam de 436 milhões a 3

bilhões de dólares só nos EUA (KELLY e LAMONT, 2008; DUBBERKE e WERTHEIMER,

2009).

Nos últimos anos, evidencia-se uma maior incidência da CDAD com crescimento da

morbimortalidade, da duração das internações e da elevação de custos hospitalares. Esse

fenômeno pode ser atribuído em parte ao surgimento da cepa hipervirulenta NAP1 (North

America Pulsed field type 1), tendo sido isolada nas fezes de pacientes com doença induzida pelo

C. difficile nos EUA (MCDONALD et al., 2005; MUSHER et al., 2006), Canadá (PEPIN et al.,

2005), Inglaterra (KUIJPER et al., 2007), Holanda (VAN STEENBERGEN et al., 2005),

Bélgica (DELMEE et al., 2006), França (TACHON et al., 2006) e Japão (KATO et al., 2007).

A NAP1/BI/027 produz a toxina binária, descrita mais recentemente, e possui uma

mutação no gene TcdC, cuja função é regular negativamente a produção das toxinas A e B

(POPOFF et al., 1988; MACCANNELL et al., 2006). Cepas com esta mutação produzem uma

maior quantidade de toxina A (TcdA) e B (TcdB), bem como uma toxina binária (CDT) por isso

esta cepa tem alta patogenicidade, além de ter maior capacidade de esporular e que lhe dá um

grande potencial epidêmico no âmbito hospitalar e da comunidade. (RUPNIK et al., 2005;

ARTEAGA et al., 2009). Um importante fator associado à disseminação da cepa NAP1/BI/027

tem sido a sua característica resistência às fluoroquinolonas, classe de antibióticos com uso

difundido em ambiente hospitalar (GAYNES et al., 2004; LOO et al., 2005; MUTO et al., 2005).

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Outra importante mudança no perfil epidemiológico da CDAD foi o surgimento de

novas populações de risco. Relatos demonstram o aumento de casos da doença na comunidade,

isto é, em indivíduos não hospitalizados e que não tinham história de uso prévio de antibióticos,

bem como em mulheres jovens durante o periparto (DIAL et al., 2005). Pouco se sabe sobre as

espécies responsáveis por esses casos adquiridos na comunidade e sua origem, porém

ultimamente tem sido relatada contaminação de carne bovina e suína (RODRIGUEZ-

PALACIOS et al., 2007; RUPNIK, 2007), sugerindo que alimentos possam estar envolvidos na

transmissão do C. difficile de animais para humanos.

No Brasil, ainda existem poucos relatos na literatura sobre diarreia por C. difficile.

Este agente é provavelmente subnotificado no país porque poucos hospitais dispõem de métodos

moleculares para o seu diagnóstico e o método de Enzyme Linked Immunoabsorbent Assay

(ELISA) que é pouco sensível é o mais utilizado nos centros brasileiros. FERREIRA et al.

(2003) evidenciaram que o C. difficile foi isolado em 5,5% das crianças internadas com diarreia

aguda em São Paulo e que as crianças saudáveis não eram hospedeiras deste bacilo. PINTO et al.

(2003) investigaram a presença de cepas de C. difficile em crianças que estavam internadas ou

em tratamento ambulatorial com diarreia ou não, e isolou C. difficile em 6,7% das amostras de

fezes. Em estudo realizado no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade

Federal do Rio de Janeiro foram analisadas 70 amostras de fezes de pacientes internados,

identificados pelo método ELISA, sendo 27,1% dos casos de diarreia foram positivos para C.

difficile. Entretanto, apenas oito amostras foram positivas para os genes de toxinas pelo método

de PCR. Metade dessas amostras eram PCR-ribotipo 133 (típico no Brasil) e em duas amostras

foi identificado o PCR-ribotipo 233 (FERREIRA et al., 2004). No Hospital Universitário Walter

Cantídio da Universidade Federal do Ceará, LIMA et al. (1993) mostraram que o C. difficile é o

principal agente causador de diarreia hospitalar neste estabelecimento. Dados inéditos de

pesquisa do nosso grupo em andamento com pacientes com diarreia em Hospital oncológico,

mostram uma incidência em torno de 40% de positividade para infecção por C. difficile. As

cepas isoladas mostraram resistência às fluoroquinolonas, apresentaram gene e positividade para

toxinas A e B, mas não apresentaram gene para toxina binária, sendo portanto uma cepa

diferente da cepa hipervirulenta (NAP-1). A genotipagem demonstrou ser NAP 4. Análise de

virulência em animais estão sendo realizados. Esses dados são importantes para direcionar o

tratamento dos pacientes com metronidazol, além de sugerir medidas de controle de infecção

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hospitalar voltadas para o controle da transmissão deste patógeno (comunicação pessoal dados

não publicados).

Surtos de C. difficile em unidades de terapia intensiva também já foram descritos no

Brasil (BALASSIANO et al., 2010; SOUZA DIAS et al., 2010; BALASSIANO et al., 2011).

Pacientes internados em unidades de terapia intensiva são pacientes críticos que têm vários

fatores de risco para diarreia por C. difficile como exposição a antibióticos, idade avançada,

hospitalização prolongada, doença de base grave, supressão de ácido gástrico e procedimentos

invasivos (MARCON et al., 2006; BALASSIANO et al., 2010). Até o momento a NAP1-027

ainda não foi descrita no Brasil. Mais uma vez este fato deve ser decorrente das dificuldades de

diagnóstico e acesso restrito aos métodos de cultura e tipagem molecular de anaeróbios no país.

1.2 Patogênese do Clostridium difficile

1.2.1 As toxinas A (TcdA) e B (TcdB): considerações gerais

Vários fatores de virulência foram associados ao desenvolvimento dessa doença,

porém os mais importantes são as exotoxinas A e B (TcdA e TcdB) (POXTON et al., 2001;

POPOFF e GENY, 2011). As TcdA e TcdB compõem um grande grupo das toxinas clostridiais

(LCTs), nas quais estão incluídas o TcsL e TcsH do Clostridium sordellii, TcnA de Clostridium

novyi e TcpL de Clostridium perfringens tipos B e C (JANK; GIESEMANN; AKTORIES, 2007;

THELESTAM; CHAVES-OLARTE, 2000).

Foi demonstrado, a partir da utilização de mutantes isogênicos de C. difficile para

tcdA e tcdB, que ambas as toxinas contribuem para a patogênese da doença em modelos animais

(LYRAS et al., 2009; KUEHNE et al., 2010). Em humanos, observou-se que a toxina B é uma

enterotoxina mais potente que a toxina A no tecido colônico (SAVIDGE et al., 2003). Além

disso, várias cepas humanas de C. difficile toxina A-negativa e toxina positiva emergiram e

foram associadas tanto a casos esporádicos, como epidêmicos de diarreia (DRUDY et al., 2007).

No entanto Kuehne et al., (2010) mostraram que a TcdA pode causar CDAD na ausência de

TcdB. Estes pesquisadores usaram um modelo de mutantes isogênicos do C. difficile produzindo

apenas TcdA ou TcdB e constataram que estas duas toxinas podem causar CDAD fulminante em

modelos de infecção em hamster. Através de um knockout inativando permanentemente os genes

da toxina, observou-se que o C. difficile produzindo uma ou ambas as toxinas teve uma atividade

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citotóxica in vitro, restabelecendo a importância da TcdA e TcdB para CDAD (Kuehne et al.,

2010).

1.2.2 Regulação da transcrição e características estruturais das TcdA e TcdB

As TcdA e TcdB são produzidas durante o final da fase de crescimento logarítmico e

a fase estacionária. Elas são codificadas pelos genes tcdA e tcdB, respectivamente, que juntos

com três genes regulatórios (tcdC, tcdD e tcdE) formam o locus de patogenicidade no DNA do

C. difficile (POXTON et al., 2001; POPOFF e GENY, 2011). Sua produção depende de fatores

como os níveis de nutrientes, temperatura e presença de antibióticos em níveis subinibitórios

(DUPUY et al., 2008; SAXTON et al., 2009). A síntese das toxinas são reguladas pelas TcdC,

TcdR e agentes externos ao PaLoc, incluindo CodY (DINEEN et al., 2007). A toxina binária

(CDT) é composta por duas proteínas cdtA e cdtB, a cdtB se liga as células hospedeiras e

transloca cdtA no citosol, que é o componente catalítico (RUPNIK et al., 2009). Os genes que

codificam cdtA e cdtB estão localizados no locus da toxina binária (Cdtloc), juntamente com

outro gene regulador cdtR (CARTER et al., 2007). Mesmo com essas informações o papel do

CDT na CDAD não é bem esclarecido. Geric et al. (2006) mostraram que tipos selvagens de

cepas que produzem CDT mas não produzem TcdA e TcdB podem colonizar hamsters, mas não

matar. São necessários mais estudos a fim de esclarecer o papel da CDT na doença associada ao

C.difficile.

Figura 1. Domínio das toxinas do Clostridium difficile. As TcdA e TcdB são

compostas por quatro domínios respectivamente: A, domínio N-Terminal (vermelho);

C, domínio cisteína protease (azul); D, domínio hidrofóbico (amarelo) e B, domínio

C-terminal (verde). Adaptado de AKTORIES (2011).

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TcdA e TcdB possuem estruturas primárias semelhantes e exercem suas atividades

enzimáticas em um terminal NH2 homólogo (Figura 1) (CHAVES-OLARTE et al., 1997). A

maioria das cepas toxigênicas do C. difficile produz ambas as toxinas, cujos mecanismos de ação

são análogos. Contudo, em modelos animais com murinos, a TcdA, mas não a TcdB, foi letal

quando injetada de forma intragástrica, além disso a toxina B purificada não causou nenhum

sintoma da doença a não ser que houvesse prévio dano à mucosa intestinal ou na

coadministração de TcdA (LYERLY et al., 1985; KELLY e KYNE, 2011).

1.2.3 Inibição das RhoGTPases: Rho, Rac1 e Cdc42

A toxinas A e B utilizam um mecanismo de ação bem definido para modular a

fisiologia celular e, consequentemente, alterar o ambiente do hospedeiro. Ambas as toxinas,

juntamente com outros membros da grande família de toxinas clostridiais, afetam o grupo de

pequenas GTPases da superfamília Ras, que acabam sendo modificadas por glicosilação. Essa

modificação irreversível, inativa essas pequenas proteínas regulatórias, levando à desregulação

de várias vias de sinalização vitais para a célula. Contudo, além da modificação enzimática dos

alvos específicos das toxinas, existem vários passos importantes para a entrada da toxina na

célula que também são importantes para sua patogênese (VOTH e BALLARD, 2005; LOO et al.,

2011).

As toxinas são liberadas no lúmen intestinal e internalizadas pelas células intestinais

por meio da ligação aos receptores de clatrina. Dentro das vesículas endossômicas, cujo pH

torna-se ácido por conta da fusão com lisossomos presentes no citoplasma, as toxinas sofrem

clivagem autocatalítica, e os fragmentos contendo os sítios ativos das toxinas se destacam para o

citosol, onde exercem suas funções. Como já mencionado, a TcdA e a TcdB têm seus efeitos

atribuídos à monoglicolisação das proteínas Rho, Rac e Cdc42, utilizando UDP-glicose como co-

substrato (Figura 2) (GENTH et al., 2008).

Rho, Rac e Cdc42 são pequenas GTPases intracelulares que exercem um papel

regulador primário sobre o citoesqueleto de actina e sobre a morfologia celular (POPOFF e

GENY, 2011). A monoglicosilação das RhoGTPases induzida pelas toxinas promove a

inativação dessas proteínas, resultando na condensação das fibras de actina, com consequente

desarranjo do citoesqueleto, arredondamento celular, marginalização do núcleo, perda da

integridade estrutural e, por fim, morte celular (JUST et al., 1995; POPOFF e GENY, 2011).

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Além disso, a inativação das Rho GTPases induz a perda das zônulas de oclusão na barreira

epitelial intestinal, resultando no aumento da permeabilidade do epitélio intestinal (CHEN et al.,

2002). A alteração da integridade celular e o aumento da permeabilidade epitelial contribuem

para a migração neutrofílica e deflagração dos eventos inflamatórios observados na doença

(VOTH e BALLARD, 2005). Em um recente estudo, também foi demonstrado que a toxina B

possui efeitos anti-proliferativos em cultura de células-tronco intestinais (HT-29), o que pode

também contribuir para a diarreia observada por um mecanismo análogo ao de fármacos anti-

neoplásicos (LICA et al., 2011).

Figura 2. Internalização e mecanismo de ação das toxinas do Clostridium difficile. As toxinas ligam-se à célula-alvo através do domínio B sendo captadas por endocitose

mediada por clatrina. Após uma mudança no pH endossomal ocasionando mudanças

conformacionais da toxina, o domínio D forma um poro na membrana endossomal

permitindo translocação do domínio A para o citosol. Este sofre então a clivagem

autocatalítica através do domínio C ligação InsP6, sendo o domínio A liberado para o

citosol onde glicosila as Rho GTPases. Adaptado de AKTORIES (2011).

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1.2.4 Apoptose induzida por TcdA e TcdB

A apoptose, uma série programada de eventos que leva a morte celular, desempenha

um importante papel no desenvolvimento e manutenção da homeostase dos tecidos em

organismos multicelulares, como também na resposta ao dano celular. As caspases, uma família

de cisteína proteases, são os principais fatores atuantes para morte celular. Uma cascata com

cerca de 9 caspases diferentes atuam na produção da apoptose, algumas atuam como papel de

iniciadores e outras são responsáveis pela fase efetora final da morte celular. Existem duas vias

principais para a apoptose, chamadas de via extrínseca (via receptores de morte) e a outra é a via

intríseca (a via mitocondrial). Ambas as vias ativam as capases iniciadoras e convergem para

uma via final comum de caspases efetoras (JIN e EL-DEIRY, 2005).

A apoptose é desencadeada por vários estímulos, os quais, então, ativam todo o

conjunto de elementos para execução da apoptose (HETTS, 1998). Nos enterócitos, os sinais que

induzem a apoptose incluem, drogas quimioterápicas, a privação de micronutrientes como a

glutamina (PAPACONSTANTINOU et al., 1998), radiação ionizante (POTTEN e BOOTH,

1997), microrganismos (MCCOLE et al., 1999), reações imunes (IWAMOTO et al., 1996).

Todos podem aumentar a taxa de apoptose das células intestinais epiteliais.

Esses estímulos ativam a família de cisteína aspartato proteases (caspases) que são

responsáveis pela execução da fase de apoptose (VAN DAMME et al., 2005). Nos mamíferos,

treze caspases foram identificadas e podem ser classificadas dentro de três subfamílias, com base

na homologia de suas sequências: a subfamília ICE (caspase 1, caspase 4 e caspase 5), a

subfamília CPP32 (caspase 3, caspase 6, caspase 7, caspase 8 e caspase 10) e subfamília ICH-1

(caspase 2 e caspase 9), ainda existem, porém não são muitos conhecidas e foram recém-

descobertas, as caspase 11, 12 e 13 (SIENDONES et al., 2005). Cada caspase é sintetizada e

sequestrada intracelularmente como pró-enzimas, e essas são ativadas por clivagem proteolítica,

que desta maneira, inicia o sinal apoptótico pela ativação de outras caspases em forma de

cascata. Como exemplo de caspases iniciadoras destacam-se a caspase 8 (ativada pela via

mediada pelo ligante Fas ou TNF) e a caspase 9 (ativada pelo citocromo c e Apaf) e das

caspases efetoras, as caspases 3 e 6 (MATES et al., 2006).

A via extrínseca ou via receptores de morte é mediada por um subgrupo da família

dos receptores do fator de necrose tumoral (TNF) chamada de receptores de morte (TNFR1, Fas

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e TRAIL). A morte celular mediada por receptores é iniciada pelo recrutamento de proteínas

adaptadoras como FADD, as quais se ligam às pró-caspases para gerar o complexo de

sinalizações que induz a morte resultando na ativação da caspase 8. A caspase 8 cliva, e por sua

vez, ativa as caspases efetoras (caspase 3), enzima que executa a apoptose. Além disso, a

proteína Bid, proteína pró-apoptótica membro da família Bcl-2, amplifica a cascata de caspases

pela conexão da via dos receptores da morte com a via apoptótica mitocondrial, relacionando-se

via caspase 8 e caspase 9 (MATES et al., 2006).

A via intrínseca ou mitocondrial de morte celular pode ser ativada através de duas

vias principais: lesão do DNA e deprivação dos fatores de sobrevida celular. Na presença do

dano ao nível do DNA, cujo reparo não é possível, a proteína p53 (fator de transcrição proteico

que desencadeia a apoptose) ativa uma subvia envolvendo a via p21 (proteínas inibidoras de

quinases) e membros pró-apoptóticos da família da proteína Bcl-2 (Bax e Bak. A proteína Bid,

ativa Bax (pró-apoptótica) e Bak, e resulta na liberação do citocromo c no citosol. O citocromo c

liberado forma um complexo com a proteína Apaf-1 (fator de ativação de proteases apoptótico-

1), e os dois combinam-se então com a pró-caspase 9, ativando-a. A liberação do apoptossoma

(conjunto de três componentes composto do citocromo c, Apaf-1 e procaspase 9) gera

subsequentemente a ativação da caspase 3 com consequente morte da célula, podendo-se

observar características morfológicas e bioquímicas da morte celular, incluindo arredondamento

celular, contração do citoplasma, condensação da cromatina do núcleo, fragmentação do DNA,

levando a um estágio final de remoção das células por fagocitose pelos macrófagos (Figura 3)

(DENICOURT e DOWDY, 2004; MATES et al., 2006).

Apoptose tem sido apontada como um importante mecanismo da lesão induzida pelas

toxinas do C. difficile. A inativação das Rho GTPases em uma linhagem de células Caco-2

resultou em ativação das caspases 3 e 9, componentes chaves na via de morte celular programada

(CHAVES-OLARTE et al., 1997). Também foi observado que a TcdA induzia apoptose em

células intestinais humanas T84 via caspases 3, 6, 8, 9 e ativação do Bid, além do desarranjo do

potencial de membrana mitocondrial com liberação de citocromo c e que a apoptose era

secundária a inativação enzimática de Rho por TcdA (BRITO, FUJJI, et al., 2002). Confirmando

este dado, NOTTROTT et al. (2007) concluíram em seus trabalhos que a ativação das caspases

3, 8 e 9 é estritamente dependente da glicosilação das GTPases Rho pela TcdA, e o uso de um

inibidor dessas caspases aboliu a apoptose induzida pela TcdA. Outro possível mecanismo

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responsável pela apoptose celular observada na enterite causada pela TcdA foi descrita por KIM

et al. (2007). Esse grupo concluiu que a liberação de prostaglandina E2 (PGE2) induzida pela

TcdA promove a ativação do fator nuclear NF-κB e do sistema Fas/FasL causando apoptose e

inflamação. DE ARAUJO JUNQUEIRA et al. (2011) evidenciou que a ativação de NF-B

também contribuía sobremaneira para a apoptose induzida por toxina A.

Figura 3. Diagrama representativo dos mecanismos da apoptose. Adaptado de

ROBBINS et al. (2007)

1.2.5 Ciclo Celular

O ciclo celular é uma série ordenada de eventos que está dividida em quatro fases:

gap 1 (intervalo) (G1), síntese (S), gap 2 (intervalo) (G2) e mitose (M). Cada fase é caracterizada

por distintos processos celulares que são requeridos para o processo de divisão celular e

formação de ciclinas, como também para a formação do complexo ciclina-quinases dependentes

ou proteínas quinases dependentes de ciclina (CDK) que regula as fases de transição, onde sua

ativação enzimática é promovida pela ligação às ciclinas. O complexo ciclina-CDK regula a

atividade de múltiplas proteínas envolvidas na replicação do DNA e na mitose, fosforilando-as

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em sítios específicos, ativando algumas e inibindo outras para coordenar os eventos do ciclo

celular (WILLIAMS e STOEBER, 2012).

A passagem de cada uma destas fases é regulada pelos “pontos de controle”, um no

início da fase S e o segundo no início da fase M Então, para que as fases ocorram em uma

sequência determinada, o controle do ciclo celular por meio de “freios moleculares” pode parar o

ciclo em vários pontos de checagem, pontos específicos do ciclo que permitem o

desencadeamento do próximo passo somente após o término do estágio precedente (Figura 4)

(MALUMBRES e BARBACID, 2009).

Os complexos ciclinas-CDKSs podem ainda ter sua montagem ou atividade

bloqueada por proteínas inibidoras de CDK. Como por exemplo, na parada que ocorre no ponto

de checagem G1, quando o DNA está danificado; a proteína inibidora de CDK denominda p21 se

liga ao complexo ciclina-CDK de fase S, responsável pelo avanço para a fase S, bloqueando a

sua ação, então a célula não avançará enquanto o DNA não for reparado (HARBOUR e DEAN,

2000).

Estímulos externos, como nutrientes, e sinais internos, como por exemplo, o dano

celular ou a via de Wnt/-catenina, regula a formação de complexos inibidores de CDK, o qual

inclui a família cip/waf (proteínas inibidoras da ciclina-quinases dependente) (p21, p27, p57). A

família cip/waf interage com múltiplos complexos ciclinas-CDK e a família INK4 (inibidores de

quinases) (p15, p16, p18, p19), os quais especificamente inibem o complexo ciclina D-CDK

(WILLIAMS e STOEBER, 2012). Deste modo, a atividade das CDKs é regulada por inibidores

das CDKs.

No primeiro ponto de controle, a proteína Rb (retinoblastoma) atua como freio,

enquanto a ciclina D libera esta parada. A proteína Rb desepenha esta função através de sua

ligação aos fatores de transcrição E2F, que controlam a expressão dos genes que codificam a

ciclinas E e A e a DNA polimerase, entre outros elementos essenciais para a replicação do DNA

durante a fase S. Assim, a E2F ativa a transcrição de específicos genes, incluindo a ciclinas,

necessárias para a próxima fase de transcrição, como também as enzimas requeridas para a

síntese de DNA, como a timidina quinase e dihidrofolato redutase. Se houver alguma lesão do

DNA, os produtos dos genes de supressão tumoral p53 interrompem o ciclo no primeiro ponto de

controle, permitindo que haja o reparo, ativando a transcrição p21 para inibir a progressão

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celular. Caso este processo falhe, inicia-se o processo de apoptose (morte celular progamada)

(MALUMBRES e BARBACID, 2009).

As toxinas A e B também alteram a expressão de genes envolvidos diretamente na

regulação do ciclo celular, dentre eles, diversas ciclinas e quinases dependentes de ciclinas

(CDKs). LICA et al. (2011) demonstram que as toxinas do C. difficile promovem uma parada do

ciclo celular na fase G1 ao bloquear a expressão de ciclina D1 e sua respectiva ligação à CDK4 e

CDK6, os quais são eventos limitantes durante a progressão para a fase de G1. Contudo, esses

dados não esclarecem satisfatoriamente qual é o mecanismo exato dessa inibição de ciclina D1.

O controle da transcrição gênica de ciclina D1 é extremamente complexo, sendo influenciado por

várias vias de sinalização intracelular, como: Ras-Raf-Mek-ERK, PI3K/Akt/mTOR e Wnt/-

catenina (WELSH et al., 2001; LICA et al., 2011).

Figura 4. Ciclo celular: as Ciclinas e as CDKs. As fases do ciclo celular nas quais

diferentes complexos de ciclinas e quinases dependentes de ciclinas (CDKs) estão

indicados (ANDRIETTA et al., 2001).

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1.3 A via de Wnt/-catenina e a renovação do epitélio intestinal

A via de Wnt/-catenina constitui um instrumento fundamental para controlar o

desenvolvimento apropriado e a manutenção dos tecidos de embriões e adultos. Isso se dá por

meio de uma série de genes que promovem o controle espacial e temporal do crescimento,

movimentação e sobrevivência celular. Se esses genes forem expressos continuamente, ocorre

ativação aberrante da via de Wnt, provocando um crescimento descontrolado, que pode culminar

com desenvolvimento de câncer em tecidos como cólon, mama, pele e ovários (BARKER e

CLEVERS, 2006).

A ativação da via de Wnt depende da secreção de proteínas da família Wingless

(Wnt) que se ligam ao complexo Frizzled (Fzd) de receptores na superfície da célula-alvo para

ativar distintos mecanismos intracelulares por meio da via canônica ou de vias não-canônicas - a

composição específica do complexo Wnt/Fzd irá determinar qual delas será ativada (Figura 5)

(HUANG e HE, 2008).

A via canônica é a mais bem caracterizada dessas vias, sendo importante para a

renovação do epitélio intestinal e para o desenvolvimento de câncer (BARKER e CLEVERS,

2006). Basicamente, ela regula a capacidade da proteína catenina ativar genes-alvo

específicos por meio do seguinte mecanismo: na ausência do ligante Wnt, o ativador

transcricional catenina é continuamente degradado na célula pela ação de um conjunto de

proteínas denominado de “complexo de destruição”. Dentro dele, as proteínas Axina e APC

(adenomatous polyposis coli) formam uma base que engloba a catenina e facilita sua

fosforilação pelas enzimas caseína-quinase 1 (CK1) e glicogênio sintase quinase 3 (GSK3).

Subsequentemente, a catenina fosforilada recebe uma cauda de poli-ubiquitina, é reconhecida

e degradada pela enzima E3 ligase do sistema ubiquitina-proteassoma (ABERLE et al., 1997).

Com isso, os níveis de catenina permanecem baixos, o que permite que as proteínas TCF/Lef

(T-cell fator/Lymphoid enhancer fator) associadas ao DNA interajam com co-repressores para

bloquear a expressão gênica no núcleo. Clinicamente, observa-se que mutações germinativas no

gene APC (Polipose adenomatosa coli) são responsáveis pela ocorrência de polipose

adenomatosa familiar (PAF). Por sua vez, mutações somáticas levam à transformação maligna de

adenomas. (GRIGORYAN et al., 2008; HUANG e HE, 2008).

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Por outro lado, na presença de Wnt, forma-se um complexo com o receptor Fzd e o

co-receptor LRP 5/6 (low-density lipoprotein receptor-related protein) que se liga a proteína

Dishevelled (Dvl), responsável por realocar a Axina do complexo de destruição para a membrana

celular. Isso impede que a catenina seja degradada e permite que ela se acumule no

citoplasma e entre no núcleo (HUANG e HE, 2008). Lá, ela interage com membros da família

TCF/Lef, convertendo as proteínas TCF em potentes ativadores transcricionais, ao recrutar

proteínas co-ativadoras, levando a uma eficiente ativação dos genes alvo da via de Wnt,

incluindo c-MYC, Ciclina-D1, survivina, bcl-2, Rac1, Rho, Cdc42, dentre outros (BARKER e

CLEVERS, 2006; BUONGIORNO et al., 2008; HUANG e HE, 2008).

Figura 5. Via de sinalização Wnt/β-catenina na presença e ausência do ligante Wnt. Modificado de He et al. (2009).

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Há mais de vinte anos vêm-se estudando extensivamente a via de Wnt, porém, só

recentemente, após a descoberta de que Rac1 é importante para o transporte de catenina entre

o núcleo e o citoplasma, o papel das Rho GTPases nessa via vem sendo melhor compreendido

(HENDERSON e FAGOTTO, 2002). Em células de carcinoma de cólon humano que possuem a

via de Wnt constitutivamente ativada, o uso de dominante negativo de Rac1 foi capaz de inibir a

transcrição dos genes alvo de catenina (ESUFALI e BAPAT, 2004) e a inibição de um

regulador negativo de Rac1 (RacGAP50C) promoveu a sinalização canônica de Wnt em

embriões de Drosofila (JONES e BEJSOVEC, 2005). Além disso, sabe-se que a ativação de JNK

mediada por Rac1 culmina com fosforilação de catenina e sua translocação para o núcleo

(WU et al., 2008). Wnt3a (ligante da via de Wnt) foi descrito por promover a ligação de Rac1 ao

GTP e, após ativação da via pelo ligante, Tiam1 (regulador positivo de Rac1) foi encontrada co-

precipitada com catenina (BUONGIORNO et al., 2008). DOCK4, outro regulador de Rac1,

foi observado como um dos integrantes do complexo degradador de catenina (UPADHYAY

et al., 2008).

As Rho GTPases também são necessárias para a fosforilação do co-receptor LRP5/6,

imprescindível para a ativação da via de Wnt/catenina, e a síntese do lipídeo PIP2 está

envolvida neste processo (PAN et al., 2008; SCHLESSINGER et al., 2009). A síntese de PIP2

requer a atividade consecutiva de duas quinases, PIP4K e PIP5K, que, por sua vez, são ativadas

por Rho e Rac1 (SCHLESSINGER et al., 2009).

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2. JUSTIFICATIVA

O Clostridium difficile tem como fatores de virulência a secreção das toxinas A & B,

as quais promovem apoptose, inflamação e destruição tecidual aguda em intestinos de animais

experimentais e de pacientes com a doença induzida por esta bactéria (REHG, 1980). O estudo

da patogênese da lesão induzida pelas TcdA e TcdB se reveste de grande importância no

contexto atual, onde se observa aumento da incidência e gravidade da doença induzida pelo C.

difficile, associado a relatos de recidiva após tratamento padrão (BLOSSOM & MCDONALD,

2007; MUSHER et al., 2005; PEPIN et al., 2005).

Haja vista a crescente incidência da infecção pelo C. difficile no Brasil

(BALASSIANO et al., 2010) e no Mundo (RUPNIK, 2007) e a seu potencial para recorrer no

mesmo paciente, vários grupos de pesquisa em todo o mundo estão empenhados em

compreender os diversos aspectos do mecanismo da doença e desenvolver tratamentos mais

eficazes. Nosso grupo de pesquisa, particularmente, se dedica ao estudo do papel das toxinas A e

B na patogênese da doença induzida pelo C. difficile, bem como sua possível modulação

farmacológica, tendo publicado vários trabalhos nesta área (BRITO, FUJJI, et al., 2002; BRITO,

SULLIVAN, et al., 2002; ALCANTARA et al., 2005; BRITO et al., 2005; NASCIMENTO et

al., 2005; CARNEIRO et al., 2006; CAVALCANTE et al., 2006; MACIEL et al., 2007;

BARRETO et al., 2008; DE ARAUJO JUNQUEIRA et al., 2011; MEDEIROS et al., 2011;

SANTOS et al., 2013; LIMA et al., 2014).

Um aspecto ainda inexplorado da fisiopatologia da doença consiste no efeito das

toxinas do C. difficile sobre a via de Wnt/-catenina. A renovação do epitélio colônico depende

de células progenitoras que residem na base das criptas colônicas e que, posteriormente, irão se

diferenciar em colonócitos maduros. Para que ocorra proliferação dessas células, a via de Wnt/-

catenina precisa estar ativada, levando ao aumento da expressão de moléculas-chave do ciclo

celular, como ciclina D1 e c-MYC (BARKER e CLEVERS, 2006; HUMPHRIES e WRIGHT,

2008). Portanto, visto que o C. difficile coloniza o cólon, bem como as criptas, seria esperado

que as toxinas A e B liberadas também afetassem essas células, inibindo a via de Wnt/-catenina

e, consequentemente, bloqueando sua proliferação (ou até mesmo induzindo apoptose em doses

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maiores). Corroborando esta hipótese, um recente estudo demonstrou o efeito anti-proliferativo

in vitro das toxinas A e B em cultura de células intestinais, embora não tenha explorado o

mecanismo pelo qual isso ocorre (LICA et al., 2011).

A conexão entre o bloqueio da renovação epitelial e o aparecimento de síndrome

diarreica na quimioterapia do câncer já é bem estabelecida, sendo a diarreia um efeito colateral

frequente de diversas drogas antineoplásicas, que também possuem efeitos antiproliferativos

(HUMPHRIES e WRIGHT, 2008). Portanto, esse mecanismo representa um aspecto ainda não

investigado da fisiopatologia da doença associada ao C. difficile e que pode ser aproveitado

futuramente para o desenvolvimento de terapias mais eficientes.

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3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Estudar o efeito das toxinas A e B do Clostridium difficile in vitro em células

epiteliais intestinais sobre a via de sinalização Wnt/-catenina e investigar o mecanismo

envolvido nessa inibição utilizando a TcdA.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Investigar o efeito das TcdA e TcdB sobre a atividade da via de Wnt/-catenina em

cultura de células de criptas intestinais (IEC-6) e neoplásicas (RKO), por meio da

ativação de gene-repórter (TOPFLASH – plasmídeo de TCF/Lef conjugado com

luciferase);

Avaliar o efeito da toxina A sobre a expressão de genes-alvo da via de Wnt em cultura de

células de criptas intestinais normais (IEC-6), investigando também a translocação

nuclear de -catenina (por western blot e imunofluorescência);

Estudar o efeito da ativação de caspases pela toxina A sobre a degradação de -catenina e

avaliar se a ativação de caspases contribui para a inibição da via canônica de Wnt;

Avaliar o efeito da inibição do complexo de destruição da -catenina sobre os efeitos da

toxina A na via canônica de Wnt;

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4. MATERIAIS & MÉTODOS

4.1 Reagentes

4.1.1 Toxinas A (TcdA) e B (TcdB) do Clostridium difficile

TcdA e TcdB purificadas foram adquiridas comercialmente da Sigma (St. Louis,

MO, EUA). As toxinas foram preparadas em alíquota mãe de 100 g/mL e diluídas, antes de

cada experimento, para as concentrações de 1 a 100 ng/mL (dependendo do modelo

experimental) a partir de uma concentração estoque de 1,13 mg/mL, armazenada 2 a 8oC. As

toxinas foram diluídas em salina fosfatada tamponada (PBS) estéril e sempre filtradas em

ambiente estéril, dentro do fluxo laminar, imediatamente antes de serem utilizadas nos

experimentos.

4.1.2 Anticorpos

Foram utilizados, para os experimentos de western blot e imunofluorescência, os

seguintes anticorpos primários:

- Anticorpo de coelho anti--catenina (Sigma);

- Anticorpo de coelho anti-caspase-3 (Santa Cruz);

- Anticorpo de coelho anti-c-MYC (Sigma);

- Anticorpo de coelho anti--tubulina (Sigma);

- Anticorpo de coelho anti-Histona-3 (Santa Cruz).

4.1.3 Plasmídeos

Os vetores utilizados para transfecção de células de mamíferos e o vetor de expressão

utilizados nesse trabalho foram gentilmente cedidas por Xi He, PhD (Harvard Medical School,

Boston, MA, EUA) e estão detalhados abaixo: - TOPFlash/FOPFlash (TK-Luciferase Reporter): O TOPFlash consiste no plasmídeo repórter

do fator de célula T (TCF), contendo três cópias do sítio de ligação TCF selvagem acima do

promotor de Timidina Quinase (TK) e sítio de leitura da Luciferase. O FOPFlash, por sua vez,

contém um sítio de ligação do TCF mutado e é utilizado como controle negativo (Figura 6) (VAN

DER FLIER e CLEVERS, 2009).

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Figura 6. Representação esquemática do vetor pTOPFlash. Plasmídeo repórter

TCF contendo 3 cópias do sítio de ligação TCF (selvagem) upstream ao promotor de

timidina quinase (TK prom.) e o sítio de leitura da Luciferase. Também presentes o

gene de resistência à ampicilina (amp) e o gene para Colicina E1 (ColE1), que inibe

outras cepas de E. coli. Adaptado de KWEIDER et al. (2011).

- pRLTK (Renilla Luciferase Reporter): O vetor repórter constitutivamente ativo pRL contém o

cDNA (Rluc) codificando a Renilla luciferase, originamente clonada do organismo marinho

Renilla reniformes, que é uma proteína monomérica de 56kDa que não necessita de modificação

pós-translacional. O pRLTK é utilizado como controle interno da transfecção e pode ser

transfectado em células de mamíferos juntamente com outros vetores (Figura 7) (VAN DER

FLIER e CLEVERS, 2009).

-catenina selvagem (pCS2+/-catenina): -catenina de Xenopus completa, reconstruída

tomando-se o fragmento do vetor Cla-SphI do XBC20 e a sequência do XBC24 (codificando o

porção c-terminal da -catenina). O pCS2+ é um vetor de expressão com múltiplas funções.

Embora tenha sido desenvolvido originalmente para expressar proteínas em embriões de Xenopus

para ambos RNA e DNA injetados, o pCS2+ também é útil para expressão transiente de alto-nível

em vários tipos de células de aves e mamíferos (LIU et al., 1999).

-catenina mutada S33A (pCS2+/-catenina-S33A): esta -catenina derivada de Xenopus

possui quatro mutações pontuais introduzidas no sítio de fosforilação de GSK3: S33A, S37A,

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T41A, S45A, sendo assim resistente a fosforilação pelo GSK3 e não afetada pelo complexo de

destruição. Esse vetor é derivado do constructo XE-28 e foi linearizado, transcrito e utilizado

como está descrito na citação original (YOST et al., 1996).

Figura 7. Representação esquemática do vetor pRLTK. O vetor pRLTK contém o

promotor de timidina quinase do vírus herpes simplex (HSV TK), o cDNA

codificando Renilla luciferase (Rluc), o gene de resistência à ampicilina (amp) e o

vetor de vírus simian 40 (SV40). Adaptado de MOON (2001)

- Lef1-N-VP16 (cDNA3-Lef1-N-VP16): este vetor foi construído como uma quimera entre a

proteína LEF (lymphoid enhacing factor) humana truncada sem a região de ligação de -

catenina, sendo denominada LEFN, e a proteína do vírus herpes simplex VP16, a qual

determina a ativação constitutiva deste constructo. Com isso, este vetor ativa a via canônica de

Wnt constitutivamente sem a participação da-catenina (AOKI et al., 1999).

4.1.4 Reagentes e soluções

A solução de cloreto de lítio (LiCl), proveniente da Sigma (St. Louis, MO, EUA), e

de Carbobenzoxi-valil-alanil-aspartil-[O-metil]-fluorometilcetona (z-VAD-fmk), adquirida da

Promega (Madison, WI, EUA), foram preparadas em ambiente estéril dentro do fluxo laminar e a

alíquota-mãe (100 mM de LiCl e 1 mg/mL de z-VAD-fmk) foram diluídas com solução filtrada

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de PBS, sendo posteriormente armazenadas a uma temperatura de 2 a 8°C até a realização do

experimento.

As soluções utilizadas no preparo dos meios de cultura dependeram de linhagens

celulares utilizadas no experimento (IEC-6, RKO ou Célula L), dentre elas, a solução de piruvato

de sódio 100nM (11,004 mg/L) (GIBCO, Grand Island, NY, EUA), a solução de aminoácidos

não essenciais (GIBCO, Grand Island, NY, EUA) 100nM sendo, estocadas de 2 a 8°C. Já o soro

fetal bovino (GIBCO, Grand Island, NY, EUA), insulina bovina (10mg/ml) (SIGMA, St Louis,

MO), a solução de tripsina-EDTA (0.25% tripsina, 1mM EDTA) (GIBCO, Grand Island, NY,

EUA) e a solução de penicilina (100UI/mL) e estreptomicina (100mg/mL) (GIBCO, Grand

Island, NY, EUA), contendo 10.000 unidades de penicilina (penicilina G) e 10.000 µg de

estreptomicina (sulfato de estreptomicina em 0,85% de salina) foram armazenadas a -5° a -20°C.

4.2 Meios de cultura

Meios de cultura são formulações químicas que fornecem o aporte nutricional para o

desenvolvimento e crescimento da cultura, e de um modo geral, os meios contêm em sua

composição de aminoácidos, vitaminas, sais inorgânicos e componentes orgânicos (DULBECCO

et al., 1973). Os meios de cultura utilizados foram meio essencial mínimo modificado por

Dulbecco - DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle Medium) (1x) contendo 4500 mg/L de glicose e

L-glutamina e sem piruvato de sódio (número de catálogo #11965- 092) e DMEM contendo

4500mg/L de glicose e piridoxina hidroxiclorídrica, sem L-glutamina e sem piruvato de sódio

(número de catálogo # 11960-044) (Gibco; Gaithersburg, MD, EUA) foram armazenadas a 2°C a

8°C. A formulação dos respectivos meios de cultura utilizados para cada tipo de célula intestinal

é diferente e está descrita nas tabelas abaixo.

Tabela 01 – Composição do meio de cultura para células IEC-6 Reagentes Volume

DMEMa 500mL 5% Soro Fetal Bovino 25mL 100 U/mL Penicilina e 100g/mL Estreptomicina 5mL Piruvato de Sódio 1mM 5mL Insulina Bovina 95% (10 g/mL; 500 mL=5000g) 5mg *O pH foi corrigido para 7,4 aPara os experimentos com meio-padrão, o número de catálogo do DMEM (#) foi 11965-092.

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Tabela 02 – Composição do meio de cultura para células L e RKO Reagentes Volume

DMEMa 500mL 10% Soro Fetal Bovino 50mL 100 U/mL Penicilina e 100g/mL Estreptomicina 5mL Piruvato de Sódio 1mM 5mL Solução de aminoácidos não-essenciais 100nM, 100x (MEM) 5mL *O pH foi corrigido para 7,4 aPara os experimentos com meio-padrão, o número de catálogo do DMEM (#) foi 11965-092.

4.3 Cultura de Células Intestinais

Todos os manuseios referentes à cultura de células foram realizados dentro do fluxo

laminar, pois se faz necessário um ambiente estéril para manipulação das culturas de células. A

câmara de fluxo laminar é o principal equipamento utilizado para a manutenção da esterilidade

de materiais durante o manuseio e é onde se permite a remoção das partículas do ar originadas na

área de trabalho. Além disso, permite também uma proteção contra contaminação cruzada,

evitando que as partículas geradas na área de trabalho se desloquem lateralmente, contaminando

outros processos e produtos (BRYAN et al., 1984).

Em síntese, o funcionamento das câmaras de fluxo laminar consiste na entrada do ar

onde é succionado através dos pré-filtros por meio de ventilador centrífugo, depois atravessa um

filtro absoluto e é distribuído a uma velocidade constante (0,45m/s) (PINTO et al., 2002). O

Laboratório do Núcleo de Estudos em Microscopia e Processamento de Imagens (NEMPI) da

Universidade Federal do Ceará abriga uma câmara de fluxo laminar vertical classe II tipo A,

onde permite 70% de recirculação do ar e pode ser usada com microrganismo de risco 2 e 3,

substâncias químicas em pequenas quantidades e substâncias com traços de material radioativo.

O ar contaminado após filtragem pelo filtro HEPA do exaustor passa ao ambiente onde a cabine

está instalada com pelo menos 20 cm de afastamento do teto (MORGAN e DARLING, 1993).

Foram utilizadas duas linhagens de células intestinais, uma derivada da cripta do

jejuno de ratos normais (IEC-6), uma linha de células epitelial não diferenciada e um outro tipo

de células intestinais provenientes de células de adenocarcinoma de cólon humano (RKO, sendo

células intestinais mais diferenciadas.

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A célula epitelial intestinal de Rattus novergicus (IEC- 6), derivada da cripta do

jejuno de ratos não-neoplásicas, foi obtida da American Type Culture Collection (ATCC,

Rockville, MD). Essa reconhecida linhagem de célula foi desenvolvida e caracterizada por

Quaroni e colaboradores em 1979, quando foram estabelecidas suas características por critérios

morfológicos e imunológicos de células não diferenciadas da cripta do intestino delgado.

Verificou-se a presença de numerosas microvilosidades cobrindo a superfície das células e a

presença de pseudópodes que se estendem pela superfície celular gerando a formação de contatos

intercelulares (QUARONI et al., 1979). Desta forma, essa linhagem celular é comumente

utilizada em modelos in vitro de monocamada de células para se avaliar, principalmente, a

migração celular e outros parâmetros, após recuperação do intestino (MCCORMACK et al.,

1992).

A células RKO são células de adenocarcinoma de cólon humano desenvolvidas por

Michal Brattain. As células RKO contém p53 selvagem, mas não expressam o receptor endógeno

para hormônio tireoidiano (THRB). As linhagens de células RKO utilizadas nesse trabalho foram

estavelmente transfectadas com pTOPFlash e pRLTK, sendo ideal para estudo da ativação da via

canônica de Wnt in vitro, e foram gentilmente cedidas pelo Prof. Dr. Xi He do Children’s

Hospital da Harvard Medical School (Boston, MA, EUA).

Também foram utilizados dois grupos de células L (linhagem permanente de células

epiteliais intestinais de camundongos), sendo um grupo secretor de Wnt3a e outro grupo controle

não-secretor de Wnt3a. Wnt3a é um peptídeo que funciona como um ligante clássico da via

canônica de Wnt. Dessa forma, o meio condicionado das células L secretoras é coletado e

utilizado para ativar a via de Wnt/-catenina nos grupos desejados, enquanto que o meio das

células L não-secretoras de Wnt3a é utilizado como controle.

4.4 Protocolos Experimentais

4.4.1 Preparação das células aderidas

Antes da realização da contagem, as células aderidas na placa de cultura confluente

eram “liberadas” da superfície em que se encontravam aderidas. Utilizou-se tripsina-EDTA

(0,05% de 1:250 de tripsina; isto é, tripsina que sob condições testadas pode digerir 250g de

substrato para cada 1g de tripsina adicionada e 0,02% de EDTA). O fundamento deste princípio

baseia-se no fato de que as proteínas de adesão destas células necessitam de magnésio para

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exercerem sua função. Devido a estas características, a tripsina e o EDTA são utilizados em

conjunto. A tripsina age digerindo e clivando as proteínas de adesão; e o EDTA, por sua vez,

quela os cátions divalentes livres (PERES e CURI, 2005).

Portanto, para a liberação das células do substrato, o meio foi retirado, sendo então

adicionado 3-5mL de tripsina-EDTA permitindo que toda área em que as células se encontravam

ficasse em contato com a solução. Em seguida, a placa de cultura foi incubada a 37oC em

atmosfera umidificada contendo 5% de CO2 e 95% de ar atmosférico por 1 min para células IEC-

6 e 1-2 min para as células RKO e L. Após este período, a cultura foi examinada no microscópio

para verificar se as células foram removidas das duas superfícies de adesão da placa. Em seguida,

foram adicionados de 5 a 7 mL de meio de cultura com soro misturando suavemente a solução.

As proteínas do soro são clivadas pela tripsina e acabam competindo com as moléculas de adesão

das células, permanecendo viáveis para seguir com o experimento. Outro ponto importante neste

processo, é que a tripsina foi mantida em contato com as células por um curto período de tempo.

Após o recolhimento desta solução com células, meio e tripsina-EDTA em um tubo estéril, então

as células foram centrifugadas (1500 rpm por 5 min). A seguir, o sobrenadante contendo tripsina

foi desprezado, e o precipitado celular (pelet) foi lavado com solução salina estéril e filtrada

(PBS). A ressuspensão em PBS (10mL) foi feita suavemente para que não houvesse nenhum dano

às células e novamente foi centrifugada (1500 rpm por 5 min).

4.4.2 Contagem das células intestinais em lâmina pela câmara de Neubauer

Após a segunda centrifugação, foi retirado novamente o sobrenadante e acrescentou-

se 5ml de meio de cultura. Um pequeno volume da suspensão (100μL) foi retirado com pipeta

estéril e colocado em um tubo contendo meio (900μL) para realização da contagem. A contagem

foi realizada na câmara de Neubauer, uma lâmina de vidro que apresenta duas superfícies

separadas (cada uma dividida em um grid). O grid é composto por nove quadrados, onde cada

qual mede 1mm de lado e é limitado por três linhas muito próximas. Uma lamínula de vidro é

posicionada sobre a área central da câmara. O espaço formado entre a lamínula e a câmara é de

0,1mm. Por conseqüência, o volume é determinado por cada quadrado quando coberto pela

lamínula é equivalente a 1mm x 1 mm x 0,1 mm que é igual a 0,1 mm3 , ou seja, 0,1 μL. Então,

após a contagem das células existentes em um quadrado, o número de células contidas em 1mL é

igual a este valor mutiplicado por 104 (Freshney, 1994).

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Nos experimentos, utilizamos a contagem pelos quatro quadrados e fizemos uma

média destes (a contagem de mais de um quadrado garante um resultado mais confiável),

entretanto poderia ser feita também utilizando apenas o quadrado central. A contagem foi

padronizada com critério de exclusão das células que estiveram sobre as linhas inferiores e da

direita. A concentração total de células na suspensão original foi calculada seguindo a fórmula

abaixo:

Número de células/mL = No total de células contadas x 104 x fator de diluição

Número de quadrados contados

Desta maneira, antes de iniciar os experimentos foi feita a tripsinização das células

aderidas nas placas de cultura, logo após a contagem das células para cada protocolo de

experimentação e, caso necessário, o ajuste para a concentração ideal.

4.4.3 Transfecção celular de plasmídeos e ensaio da luciferase

O TOPFlash é um ensaio com um gene repórter sensível ao TCF/Lef que codifica a

proteína luciferase (proteína quimioluminescente oriunda dos vagalumes) quando ocorre ativação

transcripcional mediada pela β-catenina (Figura 8) (KORINEK, 1997). As células IEC-6 e RKO

foram plaqueadas em uma concentração de 5x104 células/poço em placas de 96 poços 24h antes

da transfecção. Elas foram transfectadas por meio do uso de Lipofectamina com uma combinação

de vetores de expressão: sendo 30 ng de TOPFlash, contendo o gene da luciferase sob o controle

de sítios de ligação do TCF selvagem, ou de FOPFlash (Milipore), contendo o gene da luciferase

sob controle de um sítio de ligação de TCF mutante (Milipore), e 5ng de pRL-RK, o qual é o

vetor repórter da Renilla luciferase (Promega). As luciferases do TOP/FOPFlash e da Renilla são

proteínas monoméricas que não requerem modificações pós-traducionais para sua atividade. O

pFOPFlash funciona como um controle negativo para o pTOPFlash, enquanto que o pRLTK

como um controle interno da transfecção. Outros vetores foram utilizados em determinados

experimentos como a pcatenina selvagem (50ng), pcatenina mutante S33A (50ng) e LefN-

VP16 (50ng) também tendo sido transfectadas com Lipofectamina em 250 L de DMEM sem

soro de acordo com o protocolo do fabricante. Quatro horas depois, um adicional de 250 L de

DMEM contendo 5% de Soro Fetal Bovino será adicionado para as células. Após 8h da

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transfecção, o meio original será trocado por meio novo, contendo DMEM com 5% de Soro Fetal

Bovino.

Figura 8. Protocolo para realização do ensaio TOPFlash. As células IEC-6 e RKO

transfectadas com TOP/FOPFlash e pRLTK (Renilla) são tratadas com TcdA ou TcdB e

estimuladas com meio condicionado contendo Wnt3a (meio L é usado como controle). Após 24h,

é feita a leitura em luminômetro, sendo calculada a relação TOPFlash:Renilla, compara-se então

os grupos com TcdA/TcdB com os sem toxina e observa-se se houve inibição da via de Wnt.

Adaptado de CLEVERS et al., 2006.

A produção da enzima luciferase foi determinada por meio do kit Luciferase Reporter

Gene Assay System. Para isso, 50 µL do extrato de proteínas foram pipetados em microplaca 96

poços-Lumitrac-Platte com fundo branco. O substrato luciferina foi preparado adicionando-se 10

mL do tampão de reação do kit com o pó do substrato. O substrato foi fornecido ao aparelho

luminômetro, o qual injetou automaticamente 100 µL do mesmo em cada amostra e a leitura foi

feita após 0,5 segundos com medidas de 3 segundos para emissão de luz. O fóton liberado durante

a reação de transformação da luciferina em oxiluciferina foi detectado e integrado pelo aparelho.

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A enzima QuantiLum Recombinant Luciferase (14,6 mg/mL), parte do kit Luciferase

Reporter Gene Assay System, foi dissolvida em tampão de lise com BSA (1 mg/mL) para a

concentração final de 1 ng luciferase/15 µL tampão. A luciferase foi então incubada por uma hora

a temperatura ambiente com as substâncias-teste, sendo que 0,5 µL de solução a 10 mM origina

uma concentração final de 100 µM. Logo após, 15 µL da solução de reação em microplaca de 96

poços-Lumitrac-Platte com fundo branco receberam 50 µL da solução de substrato sob injeção

automática do luminômetro e a leitura foi efetuada. Os dados obtidos foram plotados em uma

tabela do Graphpad Prism e expressos como fração intensidade da TOPFlash luciferase sobre

intensidade de Renilla, para que haja normalização do resultado.

4.4.4 Western Blot

Amostras de células foram coletadas em cada experimento e imediatamente

congeladas em nitrogênio líquido, em seguida, foram armazenadas a -70˚C. Posteriormente, foi

realizada extração de proteínas e análise da expressão das proteínas de interesse (-catenina, c-

MYC e Caspase-3) por Western blot (Figura 9). As células foram lisadas por sonicação com

solução de lise celular (Triton X-100 1% e Nonidet P-40 0.2%) e EDTA (2mM), sendo

transferidas para tubos testes contendo inibidor de protease para posterior centrifugação a 14000

rpm a 4ºC. A concentração proteica do sobrenadante foi determinada pelo ensaio de BCA –

bicinchoninic acid (Pierce), em tubos eppendorf, com leitura em espectrofotômetro (absorbância

de 562 nm). Em seguida, foi feita a separação eletroforética (Bio Rad, Hercules, CA) das

amostras após desnaturação (por meio de ebolição) em gel de poliacrilamida 12,5% (SDS- Page),

com o marcador de proteína (Invitrogen). O gel foi, então, transferido para uma membrana de

PVDF - previamente ativada com metanol - “overnight” em aparelho de transferência 36v (Bio

Rad mini-transfercell) a 4º C. No dia seguinte, a membrana de PVDF foi bloqueada com leite

desnatado por 1h, a fim de bloquear outras proteases, seguindo de incubação com anticorpo

primário durante 1h e meia, diluição 1:500 em albumina bovina 5%. Após lavagens com tampão

contendo TRIS, glicina, Tween 20 e água destilada, a incubação com anticorpo secundário foi

realizada, diluído 1:500 em leite desnatado, durante 1 hora e meia, em plataforma oscilante.

Depois de lavar com o tampão de lavagem, foi feita a revelação da membrana de nitrocelulose

pela técnica de ECL, em filme radiográfico (Kodak, Rochester, NY), em sala escura.

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Figura 9. Protocolo para avaliar ativação da via de Wnt/-catenina por Western Blot ou

Imunofluorescência.

4.4.5 Imunofluorescência

Para realizar uma análise do efeito das toxinas do C. difficile sobre a localização da

-catenina nas células, confeccionou-se imagens com o uso de microscopia confocal. As células

dos diferentes grupos experimentais foram fixadas com paraformaldeído a 3% por 15 min na

temperatura ambiente e permeabilizada com triton X-100 por 2 min. Em seguida, o anticorpo

monoclonal primário para -catenina (Sigma) feito em coelho foi aplicado por 90 min a 37º C,

sendo omitido no controle negativo. As lamínulas contendo as células foram então lavadas em

PBS/0,5% BSA, incubadas com anticorpo secundário anti-rabbit conjugado a Alexa-fluor

488nm “overnight” a 6º C, lavadas novamente com PBS, incubadas com DAPI por 10 min para

corar os núcleos e montadas com “Fluorsafe”. As lâminas foram examinadas em microscópio

confocal Olympus F-1000 com filtros 488nm (Alexa-fluor). As imagens adquiridas foram

analisadas com o software de domínio público ImageJ 4.5.1 (NIH, Bethesda, EUA) para se

quantificar a translocação nuclear de -catenina.

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4.5 Análise Estatística

Os resultados foram mostrados como média ± erro padrão da média (EPM),

utilizando o GraphPad Prism (GraphPad, San Diego, CA). Diferenças entre os grupos

experimentais foram comparadas utilizando Análise de Variância (ANOVA), seguida do teste de

Bonferroni, com significância de 5%. Valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente

significantes.

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5. RESULTADOS

5.1 TcdA e TcdB inibem a via de sinalização Wnt/-catenina em cultura de células

epiteliais intestinais

A expressão de vários genes Wnt, incluindo Wnt1 e Wnt3a, estabilizam a -catenina

em células de mamíferos. No presente estudo, utilizamos um modelo de cultura de células

reproduzível no qual foi investigado os efeitos das TcdA e TcdB sobre a via de Wnt/-catenina.

A incubação de células IEC-6 tanto com toxinas A quanto com toxina B por 24h resultou em

uma redução dose-dependente da resposta regulatória transcricional da -catenina induzida por

Wnt3a (Figuras 10A e 10B). Para confirmar que esta resposta não era restrita à linhagem de

células IEC-6, células epitéliais de jejuno de Rattus norvegicus, foram também estimuladas

células RKO, uma linhagem de adenocarcinoma de cólon humano, estavelmente co-transfectada

com os vetores pTOPFlash e pRLTK. Foi observado, de forma semelhante, uma inibição da via

de Wnt/-catenina de forma concentração-dependente pelas TcdA e TcdB, também foi

observado em células RKO (Figuras 10C e 10D).

Para dar mais suporte a estes dados, os tempos de exposição das células RKO à TcdA

(50ng/mL) foram variados para 6, 12 ou 24h (Figura 11A). Ainda assim, houve inibição

estatisticamente significante da resposta regulatória transcricional de -catenina, tanto em 6h

(p=0.011) como em 12h (p=0.002), os quais foram comparáveis ao grupo de 24h (p=0,006).

Além disso, células RKO foram pré-tratadas com Wnt3a por 12h, sendo, então, incubadas com

TcdA por 6, 12 ou 24h (Figura 11B). Este protocolo foi realizado para investigar se a pré-

ativação da via canônica de Wnt poderia interferir na inibição pela TcdA. Não obstante, a TcdA

continuou a inibir a via de Wnt/-catenina nos grupos incubados por 12 e 24h. Contudo, não

houve diferença estatisticamente significante para o grupo incubado por 6h.

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Figura 10. As toxinas A e B do Clostridium difficile inibem a via canônica de Wnt de forma dose-dependente. Ensaio do repórter TOPFlash em células IEC-6 (A e B) e RKO (C e D)

estimuladas com Wnt3a que foram incubadas com 10, 50 ou 100 ng/mL de TcdA (A e C) ou 1, 5

ou 10 ng/mL de TcdB (B e D). As células IEC-6 e RKO foram co-transfectadas com os vetores-

repórter pTOPFlash (ou pFOPFlash). Vetores codificando pRLTK (Renilla) serviram como

controles internos da eficiência da transfecção e da toxicidade potencial dos tratamentos. Os

valores foram expressos como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05 e **P<0,01 vs grupos tratados

com Wnt3a que não foram incubados com TcdA ou TcdB.

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Figura 11. A toxina A do Clostridium difficile inibe a via canônica de Wnt em diferentes tempos de incubação. Ensaio

do repórter TOPFlash em células RKO (A) estimuladas com Wnt3a e incubadas com TcdA (50 ng/mL) por 6, 12 ou 24h. (B)

Células RKO foram pré-estimuladas com Wnt3a por 12h e então incubadas com TcdA (50 ng/mL) por 6, 12 ou 24h. As

células RKO foram co-transfectadas com os vetores-repórter pTOPFlash (ou pFOPFlash). Vetor codificando pRLTK

(Renilla) serviu como controle interno da eficiência da transfecção e da toxicidade potencial dos tratamentos. Os valores

foram expressos como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05 e **P<0,01 vs grupos tratados com Wnt3a que não foram incubados

com TcdA.

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5.2 A toxina A do Clostridium difficile diminui os níveis da proteína -catenina e previne a

expressão de c-MYC induzida por Wnt3a

Investigou-se o efeito da TcdA sobre estabilização de -catenina induzida por Wnt3a

em células IEC-6, visto que esta estabilização é fundamental para a ativação dos componentes

downstream a via canônica de Wnt. Portanto, realizou-se western blotting com extratos de

proteína total de células IEC-6 para avaliar os níveis celulares de -catenina em resposta a

Wnt3a em diferentes concentrações de TcdA (10, 50 e 100 ng/mL). Foi evidenciado que os

níveis da proteína -catenina diminuíram de forma diretamente proporcional à concentração de

TcdA (Figuras 12A e 12B).

Além disso, foram mensurados os níveis da proteína c-MYC nas mesmas amostras.

C-myc representa um dos genes-alvo do complexo -catenina/TCF-Lef e codifica um fator de

transcrição que possui função imprescindível para a progressão do ciclo celular e apoptose.

Portanto, a supraregulação de c-myc ocorre quando a -catenina é supraregulada (CLEVERS et

al., 2009). Como esperado, o pré-tratamento de células IEC-6 com Wnt3a por 24h aumentou

significantemente os níveis da proteína c-MYC em relação ao controle, estimulado apenas com

meio L, sem Wnt3a. Contudo, nos grupos expostos à TcdA juntamente com Wnt3a, os níveis de

c-MYC foram infra-regulados de maneira concentração-dependente (Figuras 12A e 12C).

Em suma, esses dados não apenas dão suporte aos resultados anteriores obtidos no

ensaio com o repórter TOPFlash, como dão suporte à hipótese de que talvez as toxinas A e B do

Clostridium difficile estejam promovendo a inibição da via canônica de Wnt, ao promover a

degradação de -catenina.

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Figura 12. A toxina A do Clostridium difficile promove a degradação das

proteínas -catenina e diminuição de expressão de c-MYC. Extratos de proteína

total foram preparadas com células IEC-6 tratadas com TcdA (10, 50 ou 100 ng/mL)

na presença de Wnt3a ou meio L. A partir daí, foi realizada a análise pela técnica de

western blot com anticorpos primários anti-c-MYC e anti--catenina. As membranas

foram reavaliadas com anticorpo anti--tubulina como controle de loading. Os

valores foram expressos como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05 e **P<0,01 vs grupos

tratados com Wnt3a que não foram incubados com TcdA.

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5.3 A toxina A do Clostridium difficile bloqueia o acúmulo de -catenina nuclear induzida

por Wnt3a

Um passo crucial da via canônica de Wnt é o acúmulo de -catenina no núcleo, onde

ela pode, então, regular a expressão gênica ao ativar a transcrição do TCF/Lef. As imagens de

imunofluorescência de células IEC-6 revelaram acúmulo de -catenina na maior parte dos

núcleos celulares após tratamento com Wnt3A (Figura 13). Entretanto, quando incubou-se as

células com TcdA (50 ng/mL) a intensidade da -catenina nuclear foi reduzida drasticamente,

como determinado por imunofluorescência indireta. Em um subgrupo de células evidenciou-se

uma redução mais significante de -catenina enquanto ainda continuavam possuindo marcação

citoplasmática de -catenina. A inibição da translocação nuclear por TcdA é consistente com o

ensaio do repórter TOPFlash.

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Figura 13. A toxina A do Clostridium difficile impede a translocação nuclear de -catenina induzida por Wnt3a.

Microscopia confocal por imunofluorescência de células IEC-6 tratadas com Wnt3a ± TcdA (50 ng/mL). (A) O sinal da -catenina

é vermelho enquanto o núcleo é corado em azul por DAPI. (B) A quantificação da imunomarcação de -catenina nuclear vs.

citoplasmática. O número de núcleos corados com DAPI em campos escolhidos randomicamente representa total de células e foi

utilizado para o cálculo da percentagem de células com marcação nuclear (N), citoplasmática (C) ou sem marcação (U). Os valores

foram expressos como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05 e **P<0,01 vs grupos tratados com Wnt3a que não foram incubados com

TcdA.

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5.4 A toxina A do Clostridium difficile bloqueia o acúmulo de -catenina nuclear induzida

por Wnt3a

A -catenina é vulnerável à degradação dependente de caspases, portanto foi

considerada a hipótese de que a perda de -catenina, após o tratamento com TcdA, seria uma

consequência da ativação de caspases. Para avaliar essa possibilidade, foi utilizado o z-VAD-

fmk, o qual é um pan inibidor de caspases.

Como esperado, o pré-tratamento com z-VAD-fmk preveniu a clivagem da caspase-3

pela TcdA em células IEC-6 (Figura 14), além de prevenir alterações morfológicas sugestivas de

apoptose como a picnose nuclear (Figura 15). A análise de pelo menos 3 experimentos

independentes de células IEC-6 pré-tratadas com z-VAD-fmk demonstrou um efeito protetor

estatisticamente significante sobre a degradação de -catenina induzida por toxina A (Figura 16).

Subsequentemente, foi avaliado se, ao prevenir-se a degradação de -catenina com o

z-VAD-fmk, a inibição da via de Wnt/-catenina pela TcdA seria revertida (Figura 17). Porém,

mesmo na presença de z-VAD-fmk, a toxina A demonstrou o efeito dose-dependente de inibição

da via canônica de Wnt em células IEC-6 no ensaio com o repórter TOPFlash. Isso confirma que

a inibição da via de Wnt/-catenina não ocorre somente em consequência da degradação de -

catenina caspase-dependente.

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Figura 14. O pan inibidor de caspase z-VAD-fmk previne a clivagem de caspase 3 induzida por TcdA. (A e B) Extratos de proteína total foram preparadas com

células IEC-6 tratadas com TcdA (100 ng/mL). A partir daí, foi realizada a análise

pela técnica de western blot com anticorpo primário anti-caspase-3-clivada. As

membranas foram reavaliadas com anticorpo anti--tubulina como controle de

loading. Os valores foram expressos como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05 e

**P<0,01 vs grupos incubados com TcdA.

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Figura 15. O pan inibidor de caspase z-VAD-fmk previne a picnose nuclear induzida por TcdA. (A e B) Determinou-se a proporção de células apoptóticas ao contar-se

manualmente o número de núcleos picnóticos em campos randomizados. Os valores foram

expressos como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05 vs grupos incubados com TcdA.

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Figura 16. O pan inibidor de caspase z-VAD-fmk previne a clivagem de -

catenina induzida por TcdA. (A e B) Extratos de proteína total foram preparadas

com células IEC-6 tratadas com TcdA (100 ng/mL). A partir daí, foi realizada a

análise pela técnica de western blot com anticorpo primário anti--catenina. As

membranas foram reavaliadas com anticorpo anti--tubulina como controle de

loading. Os valores foram expressos como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05 vs grupos

incubados com TcdA.

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Figura 17. O pan inibidor de caspase z-VAD-fmk não reverte a inibição da via canônica de Wnt induzida por TcdA. Ensaio do repórter TOPFlash em células IEC-

6 estimuladas com Wnt3a que foram incubadas com 10, 50 ou 100 ng/mL de TcdA.

As células IEC-6 foram co-transfectadas com os vetores-repórter pTOPFlash e

pRLTK (Renilla), que serviu como controle interno da eficiência da transfecção e da

toxicidade potencial dos tratamentos. Os valores foram expressos como média ± SEM

(n = 3). *P < 0,05 vs grupos tratados com Wnt3a que não foram incubados com

TcdA.

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5.5 A toxina A do Clostridium difficile inibe a via de Wnt independentemente da atividade

do complexo de destruição de -catenina

Os níveis intracelulares de -catenina são controlados primeiramente pela

fosforilação dependente de APC-GSK3, um evento chave para marcar a -catenina para

ubiquitinação e degradação proteossomal. Então, para investigar o mecanismo pelo qual a TcdA

inibe a via de sinalização Wnt, foi investigado o papel do complexo de destruição de -catenina.

Inicialmente, utilizou-se o LiCl, o qual mimetiza os membros da família Wnt de

proteínas sinalizadoras ao inibir a atividade de GSK3, causando acúmulo intracelular de -

catenina. As células RKO foram incubadas com LiCl e TcdA tanto com ou sem Wnt3a. Foi

mensurado a resposta regulatória transcricional de -catenina usando-se o ensaio repórter

TOPFlash (Figura 18). A incubação com TcdA ainda conseguiu bloquear a ativação da via de

Wnt pelo LiCl, mesmo na presença de Wnt3a. Isso sugere que a TcdA bloqueia a via de Wnt/-

catenina por um mecanismo independente do complexo de destruição APC-GSK3. Contudo,

LiCl é inespecífico e possui outros alvos intracelulares além de GSK3 que poderiam

potencialmente interferir na interpretação desses dados.

Por isso, foram tentadas formas diferentes de se estimular a via de Wnt ao transfectar

células RKO com plasmídeos codificando a -catenina constitutivamente ativa, tanto o subtipo

selvagem (p-catenina) quanto o subtipo resistente à fosforilação de GSK3 (p-catenina-

S33A). Também foi utilizado o plasmídeo codificando LEF-DeltaN-VP16-pcDNA3, o qual liga-

se ao DNA e ativa diretamente a expressão gênica mediada pelo complexo -catenina/TCF-Lef

sem a necessidade de -catenina. A partir daí, foi avaliada a atividade regulatória transcricional

da -catenina pelo ensaio repórter TOPFlash (Figura 19). A TcdA inibiu a via de sinalização

Wnt, mesmo na presença de p-catenina-S33A, confirmando que essa inibição ocorre

independentemente da ativação do complexo de destruição APC-GSK3. Entretanto, a toxina A

foi incapaz de inibir a resposta transcricional de TCF induzida por Lef-DeltaN-VP16

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Figura 18. O LiCl, inibidor de GSK3 não previne a inibição da via canônica de

Wnt por TcdA. Ensaio do repórter TOPFlash em células RKO estimuladas com

Wnt3a que foram incubadas com TcdA (50 ng/mL) por 24h e tratadas com LiCl (20

mM) ± Wnt3a. As células RKO foram co-transfectadas com os vetores-repórter

pTOPFlash e pRLTK (Renilla), que serviu como controle interno da eficiência da

transfecção e da toxicidade potencial dos tratamentos. Os valores foram expressos

como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05 vs grupos tratados com LiCl que não foram

incubados com TcdA.

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Figura 19. A TcdA inibe a via canônica de Wnt induzida pela transfecção de vetores de

-catenina constitutivamente ativa. Ensaio do repórter TOPFlash em células RKO

estimuladas com Wnt3a que foram pré-incubadas com TcdA (50 ng/mL) por 24h, que foram

co-transfectadas com os vetores-repórter pTOPFlash e pRLTK (Renilla). Além desses

vetores, foram utilizados os vetores: p-catenina, p-catenina-S33A, PCS2+ e Lef-DeltaN-

VP16. Os valores foram expressos como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05.

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5.6 A pré-incubação de células RKO com a TcdA inibe a via de Wnt por ativação de Wnt3a

Para minimizar os efeitos da TcdA sobre a viabilidade celular, foi realizada a pré-

incubação de células RKO com TcdA e então, foi trocado o meio, e colocando meio

condicionado sem TcdA. Essa pré-incubação preveniu a transcrição mediada por -catenina/TCF

para diferentes concentrações para Wnt3a. Este resultado sugere fortemente que a inibição da via

de Wnt pela TcdA depende da inibição das Rho GTPases (Rho, Rac1 e Cdc42).

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Figura 20. A pré-incubação com TcdA atenuou a transcrição mediada por -

catenina/TCF em células RKO. Ensaio do repórter TOPFlash em células RKO que foram

pré-incubadas com 50 ng/mL de TcdA por 12h antes da adição de meio condicionado

contendo diferentes concentrações de Wnt3a. A células RKO foram co-transfectadas com

os vetores-repórter pTOPFlash e pRLTK (Renilla), que serviu como controle interno da

eficiência da transfecção e da toxicidade potencial dos tratamentos. Os valores foram

expressos como média ± SEM (n = 3). *P < 0,05 vs grupos tratados com Wnt3a que não

foram incubados com TcdA.

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6. DISCUSSÃO

No presente estudo, foi demonstrado que a TcdA e a TcdB inibem a via de Wnt/β-

catenina de uma forma dose-dependente em culturas de células epiteliais intestinais. Este

resultado foi demonstrado consistentemente por três técnicas diferentes: ensaio do repórter

TOPFlash/Luciferase, imunofluorescência para β-catenina e western blotting para c-MYC (um

gene-alvo da via de Wnt).

Estudos recentes vêm apontando que as TcdA e TcdB possuem importantes efeitos

anti-proliferativos. Em parte, isso se deve a desorganização da actina e inibição da formação do

anel contrátil na citocinese, desencadeada pela glicosilação das proteínas da família Rho. Nesse

caso, percebe-se alterações morfológicas características com presença de células binucleadas e

consequente parada do ciclo celular ao nível de G2-M. As toxinas A e B também bloqueiam a

transição G1-S, uma vez que a inibição concomitante de Rho, Rac e Cdc42 pelas TcdA e TcdB

bloqueiam a expressão de ciclina D1, prevenindo a progressão do ciclo celular pela fase G1.

Importante salientar que a parada em G1 ocorre mesmo com doses baixas de toxina, enquanto

que apenas com altas concentrações de toxinas (100 ng/mL para TcdA ou 10 ng/mL para TcdB)

tem-se a parada da divisão celular na fase G2-M (LICA et al., 2011).

A atividade da via de Wnt é crucial para manter a renovação rápida do epitélio

intestinal (VAN DER FLIER e CLEVERS, 2009). A inibição desta via pelas toxinas A e B é,

portanto, consistente com estudos prévios que evidenciaram que elas exercem efeitos anti-

proliferativos in vitro, induzindo parada do ciclo celular e downregulation de ciclina D1 (um dos

genes alvo para TCF/Lef) (WELSH et al., 2001; D'AURIA et al., 2012). Infelizmente, o

significado desses efeitos anti-proliferativos induzidos pelas TcdA e TcdB na patogênese da

CDAD ainda não são inteiramente compreendidos. Contudo, a inibição da renovação do epitélio

intestinal pelas toxinas do C. difficile está provavelmente ligado à diarreia (LICA et al., 2011).

Considerando-se que a camada de células que revestem o intestino humano é completamente

renovado a cada 3-4 dias, pode-se especular que o bloqueio dessa renovação celular

comprometeria a barreira epitelial, contribuindo para a aparição de diarreia em pacientes

afligidos por esta infecção (KIM et al., 2010; LICA et al., 2011; D'AURIA et al., 2012). De

forma similar, este mecanismo já está bem estabelecido na quimioterapia do câncer, uma vez que

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a diarreia representa um efeito colateral frequente de várias drogas antineoplásicas, que também

suprimem a proliferação (GENTH et al., 2008).

A modulação da via de Wnt/β-catenina não é exclusiva das toxinas do C. difficile e

também ocorre com toxinas de outras bactérias, o que contribui sobremaneira para a patogênese

desses micro-organismos. Por exemplo, a interação da Salmonella com as células epiteliais

promove ativação da via de sinalização pro-inflamatória NF-B, a qual está associada à

degradação de β-catenina e supra-regulação de citocinas inflamatórias (IL-6, IL-8 e TNF-) em

camundongos infectados (SUN et al., 2005). KIM et al. (2007) mostraram que a TcdA induz a

liberação de prostagladina E2 que promove a ativação do fator NF-κB e do sistema Fas/FasL,

causando apoptose e inflamação de forma conjunta com os outros fatores anteriormente

mostrados. A ativação da via do NF-B pela TcdA foi também demonstrada em trabalho do

nosso grupo (DE ARAUJO JUNQUEIRA et al., 2011). Portanto, essa interação entre a via do

NF-B e a via de Wnt pode ser também de grande relevância para o C. difficile, visto que a

inflamação também possui um papel central na patogênese da CDAD. Outra toxina bacteriana

que atua inibindo a via canônica de Wnt é o fator de edema do Bacillus anthracis o qual inibe a

via de Wnt/β-catenina pela indução de proteína quinase A. Com isso, os níveis de GSK3β

fosforilado diminuem, permitindo então que esta molécula possa formar o complexo de

destruição de β-catenina para inativá-la e para prevenir que a β-catenina se ligue ao fator de

transcrição TCF/Lef (LARABEE et al., 2008).

As toxinas A e B notadamente induzem apoptose em células epiteliais intestinais de

forma dependente do tempo de incubação e da dose de TcdA ou TcdB utilizadas. Trabalho do

nosso grupo mostrava que o processo de apoptose foi completamente inibido pelo bloqueio da

atividade enzimática da toxina na Rho GTPases, utilizando uridina-5- difosfato-2,3- dialdeído e

parcialmente inibida quando se utilizava o z-VAD-fmk, um pan inibidor de caspases. Portanto,

as toxinas do C. difficile induzem a apoptose pelo mecanismo dependente da inativação de Rho,

ativação das caspases 3, 6, 8 e 9, Bid e por lesão mitocondrial (Brito et al., 2002).

No presente estudo, foi evidenciado, como já se esperava, que as toxinas do C.

difficile diminuem a viabilidade celular tanto por apoptose, mais comum, quanto necrose, sendo

constatada por alterações morfológicas como picnose nuclear na microscopia confocal bem

como pela ativação de caspases nos experimentos de western blotting. Com a finalidade de

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diminuir a interferência da viabilidade celular nos nossos resultados utilizou-se o ensaio

TOPFlash/Luciferase o qual é extremamente sensível. Isso se deve ao fato de que os grupos além

de serem transfectados com o repórter pTOPFlash, que mede diretamente a ativação da via pela

β-catenina, foram também transfectados com pFOPFlash, que serve de controle negativo, e

pRLTK, que serve de controle de transfecção. Consequentemente, os resultados foram expressos

sempre como uma relação entre pTOPFlash/pRLTK ou TOP/FOP, normalizando os dados e

corrigindo eventuais desvios que possam ocorrer por conta de alterações na viabilidade celular.

Além disso, foram utilizados diferentes regimes de tratamento, variando tanto o tempo de

exposição, assim como a dose de toxina o que altera drasticamente o número de células

apoptóticas. BRITO et al. (2005) demonstraram através de ensaio Anexina V, que a percentagem

de células IEC-6 apoptóticas após 6 a 24h de exposição à TcdA (10-100ng/mL) varia de 6-25%.

No presente trabalho, encontramos que mesmo em concentrações tão baixas de TcdA quanto

10ng/mL, mesmo em 6h, o que corresponderia a menos de 10% de células apoptóticas,

demonstramos uma inibição significante da via de Wnt.

Não obstante, nossos resultados indicaram que a TcdA contribui para a diminuição

dos níveis de β-catenina por um mecanismo envolvendo a ativação de caspases. O z-VAD-fmk,

pan-inibidor de caspases, foi então utilizado e preveniu satisfatoriamente a degradação de β-

catenina induzida por TcdA. O z-VAD-fmk, além de inibir caspases, demonstra-se capaz de

inibir a ação do proteassoma, o que poderia estar contribuindo com o seu efeito protetor sobre a

degradação de β-catenina induzida por toxina A (CANU et al., 2000). Contudo, a diminuição da

concentração intracelular de β-catenina não pareceu ser o principal mecanismo pelo qual a TcdA

inibe a via de Wnt, uma vez que a inibição ocorreu mesmo quando houve supra-regulação de β-

catenina tanto por inativação de caspase pelo z-VAD-fmk quanto pela transfecção de vetores de

β-catenina constitutivamente ativos pelo ensaio TOPFlash. Em suma, esses dados indicaram que

a inibição da via de Wnt/β-catenina pela TcdA é apenas parcialmente por conta da degradação de

β-catenina induzida por caspases durante a apoptose. As caspases podem clivar a β-catenina e

desarranjar o contato intercelular durante a apoptose, enquanto deve haver outros mecanismos

induzidos pela TcdA que previnam a translocação de β-catenina para o núcleo e portanto iniba a

transcrição dos genes regulatórios TCF/Lef.

Além disso, o complexo de destruição de β-catenina não parece ter um papel

significante na inibição da via de Wnt induzida por TcdA. O LiCl, um inibidor de GSK3β, e a

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transfecção do plasmídeo de β-catenina S33A que é resistente a GSK3β foram ambos incapazes

de prevenir os efeitos inibitórios da toxina A em células RKO. Em contraste, a expressão da

proteína de fusão Lef-DeltaN-VP16 estimulou fortemente a transcrição no promotor TCF/Lef e,

mais importante, essa ativação da via de Wnt não foi bloqueada pela TcdA. Essa proteína de

fusão não possui o sítio de ligação de β-catenina e ativa constitutivamente a transcrição dos

elementos ligadores de TCF/Lef (AOKI et al., 1999). Este achado sugeriu que a inibição das

RhoGTPases pelas TcdA e TcdB, analogamente, podem estar tendo um papel primordial nessa

inibição, além dos efeitos sobre a viabilidade celular, o que confirma que o efeito das TcdA e

TcdB são upstream à transcrição no sítio de ligação TCF/Lef.

Figura 21. Possíveis mecanismos que estariam contribuindo para a inibição da via canônica de Wnt pela TcdA.

Estes resultados, portanto, sugerem que outros possíveis mecanismos estariam

contribuindo para a inibição da via de Wnt/β-catenina pela TcdA (Figura 21). Foi realizada,

então, a pré-incubação de células RKO com TcdA (50ng/mL) ou sem TcdA como controle por

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12h, sendo então realizada a troca do meio de cultura, agora sem TcdA, com a adição de Wnt3a

por 24h para posterior realização do ensaio TOPFlash. Percebeu-se que os grupos expostos

previamente à TcdA, continuou havendo inibição da via de Wnt mesmo após a retirada da

toxina. Especula-se, então, que essa inibição residual da via de Wnt deveu-se a concomitante

inativação de Rac1, Rho e Cdc42.

Recente estudo evidenciou que a inibição da expressão de Rac1, seja por siRNA ou

dominante-negativo de Rac1, em células ST2 impede a translocação nuclear de β-catenina

induzida por Wnt3a, de forma que a ativação dos genes-alvo do TCF/Lef não podem ocorrer

(WU et al., 2008). Portanto, uma vez que Rac1 é crítico para a translocação de β-catenina para o

núcleo, a sua glicosilação permanente e inativação seja pela toxina A ou B poderiam ser a

melhor hipótese para explicar nossos resultados até então. Corroborando dados da literatura, os

resultados referentes à imunofluorescência, demonstram que a TcdA realmente previne a

translocação nuclear de -catenina em células IEC-6, encontrando-se uma marcação menos

intensa de -catenina no núcleo de células tratadas em comparação com células não-tratadas, nas

quais foi evidenciada uma marcação nuclear de -catenina mais intensa.

Nosso estudo demonstrou pela primeira vez que as TcdA e TcdB inibem a via de

sinalização Wnt/β-catenina em cultura de células epiteliais intestinais, afetando os níveis

proteicos de β-catenina e prevenindo a expressão de c-MYC induzida por Wnt3a

independentemente do bloqueio do complexo de destruição por inibidores de GSK3β. Embora o

z-VAD-fmk tenha prevenido a degradação de β-catenina por TcdA, ele falhou em reverter a

inibição da via de Wnt pela TcdA no ensaio do TOPFlash/Luciferase. O papel das TcdA e TcdB

como inibidores de via de sinalização Wnt/β-catenina provê informações relevantes que devem

ser exploradas para o desenvolvimento de novos alvos terapêuticos.

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7. CONCLUSÕES

As toxinas A e B do Clostridium difficile inibem de forma dose dependente a via de

sinalização Wnt/β-catenina em culturas de células epiteliais intestinais humanas (RKO) e

murinas (IEC-6);

A TcdA promove o downregulation de β-catenina através da ativação de caspases e o z-

VAD-fmk, pan-inibidor de caspase, consegue reverter esse efeito evidenciado nos

experimentos de western blot, porém a via de Wnt continua a ser inibida mesmo na

presença de z-VAD-fmk. Além disso, a inibição do complexo de destruição de β-catenina

também possui apenas um efeito modesto e não consegue reverter a inibição da via de

Wnt;

Sugerimos que a inibição das RhoGTPases (Rho, Rac1 e Cdc42) possuem efeito

imprescindível sobre a ativação via de Wnt, sendo necessária a ativação de Rac1 para que

ocorra a translocação de β-catenina do citoplasma para o núcleo;

A monoglicosilação das RhoGTPases, sobretudo Rac1, pelas toxinas do C. difficile,

parecem constituir um importante mecanismo de inibição da via de Wnt/β-catenina da

TcdA e TcdB.

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9. ANEXOS

Em anexo, cópia do artigo original publicado na revista Infection & Immunity,

intitulado:

Clostridium difficile toxin A attenuates Wnt/β-catenin signaling in intestinal epithelial cells. Lima BB, Fonseca BF, Amado ND, Lima DM, Ribeiro RA, Abreu JG, Brito GA. Infect Immun.

2014 Apr 7. [Epub ahead of print]