efeito da concentração de vapor de Água no oxidante no

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Efeito da Concentração de Vapor de Água no Oxidante no Desempenho de uma Câmara Operando no Regime de Combustão sem Chama Visível Bruno Alves Bernardes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientador: Professor Doutor Mário Manuel Gonçalves da Costa Júri Presidente: Professor Doutor João Rogério Caldas Pinto Orientador: Professor Doutor Mário Manuel Gonçalves da Costa Vogal: Professor Doutor Edgar Caetano Fernandes Maio de 2014

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Efeito da Concentração de Vapor de Água no Oxidante no Desempenho de uma Câmara Operando no Regime

de Combustão sem Chama Visível

Bruno Alves Bernardes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Orientador: Professor Doutor Mário Manuel Gonçalves da Costa

Júri

Presidente: Professor Doutor João Rogério Caldas Pinto

Orientador: Professor Doutor Mário Manuel Gonçalves da Costa

Vogal: Professor Doutor Edgar Caetano Fernandes

Maio de 2014

i

ii

Agradecimentos

Primeiramente gostaria de agradecer ao Professor Doutor Mário Costa por todo o apoio e

orientação. Agradeço também pelo exemplo que tem sido durante todo o período de realização

da minha tese de Mestrado.

Agradeço ao Manuel Pratas por todo o auxilio nas montagens e operações da instalação

experimental.

Agradeço aos meus colegas de laboratório, nomeadamente ao Tiago Carvalho, Francisco

Costa, João Pina e António Silva que muito me auxiliaram no meu trabalho, quer em alturas em

que providenciaram o ambiente adequado para a minha aprendizagem, quer em alturas em

que me ajudaram em dúvidas que tive.

Agradeço também à minha família e a Liliana Freitas pelo imensurável apoio que têm dado

durante todo o período de realização deste trabalho.

iii

iv

Resumo

Esta tese examina o efeito da concentração de vapor de água no oxidante no desempenho de

uma câmara operando no regime de combustão sem chama visível. A câmara de combustão

apresenta baixas emissões de NOx, tendo sido desenvolvida para aplicação a turbinas a gás.

No presente trabalho foram medidas as emissões dos principais poluentes gasosos, com o

auxílio de analisadores de gases, para várias condições de operação da câmara de

combustão. Os resultados revelaram que, para baixos valores do coeficiente de excesso de ar,

quanto maior for a concentração de vapor de água no oxidante maior são as emissões de CO.

Para valores elevados do coeficiente de excesso de ar o efeito da presença do vapor de água

no oxidante deixa, todavia, de ser importante. Para todas as condições estudadas as emissões

de NOx foram sempre inferiores a 10 ppm@15% O2 e eficiências da combustão superiores a

99,8%. Globalmente observou-se que quanto maior é a concentração de vapor de água no

oxidante menores são as emissões de NOx.

Palavras-chave

Turbinas a gás; combustão sem chama visível; poluentes gasosos

v

vi

Abstract

This thesis examines the effect of the water vapor concentration present in the oxidizing on the

performance of a combustor operating under flameless conditions. The combustion chamber

presents low NOx emissions and was developed for gas turbine applications. In the present

study, the major gaseous pollutant emissions were measured using gas analyzers for various

operating conditions of the combustor. The results showed that for low values of the excess air

coefficient the greater the water vapor concentration in the oxidant the greater the CO

emissions. For high values of the excess air coefficient the effect of the presence of water vapor

in the oxidant become negligible. For all conditions studied, NOx emissions were always below

10 ppm@15% O2 and combustion efficiencies greater than 99.8%. Overall, it was observed that

the greater the concentration of water vapor in the oxidant the lower the NOx emissions.

Keywords

Gas turbines; flameless oxidation; pollutant emissions

vii

viii

Índice de Conteúdos

Agradecimentos ................................................................................................... ii

Resumo .............................................................................................................. iv

Abstract ............................................................................................................... vi

Lista de Figuras ................................................................................................... x

Lista de Tabelas ............................................................................................... xiii

Nomenclatura ................................................................................................... xiv

1. Introdução .................................................................................................... 1

1.1. Motivação e Objetivos .......................................................................................... 1

1.2. Organização da Tese ........................................................................................... 2

2. Revisão Bibliográfica .................................................................................... 3

2.1. Poluentes ............................................................................................................. 3

2.1.1. Mecanismos de Formação de CO e Hidrocarbonetos ................................ 3

2.1.2. Mecanismos de Formação de NO .............................................................. 5

2.2. Combustão sem Chama Visível ......................................................................... 11

2.2.1. Contexto Histórico..................................................................................... 11

2.2.2. Fundamentos do Regime de Combustão Sem Chama Visível ................. 12

3. Instalação e Técnicas Experimentais......................................................... 28

3.1. Instalação experimental ...................................................................................... 28

3.2. Câmara de Combustão ...................................................................................... 34

3.3. Operação e Procedimento Experimental ............................................................ 36

3.4. Técnicas Experimentais ..................................................................................... 37

3.4.1. Concentrações das Espécies Químicas ................................................... 37

3.4.2. Temperatura ............................................................................................. 39

3.4.3. Incerteza dos resultados ........................................................................... 39

4. Apresentação e Discussão dos Resultados .............................................. 41

4.1. Princípios de Funcionamento da Câmara de Combustão .................................. 41

4.2. Condições Experimentais ................................................................................... 42

4.3. Efeitos das Condições de Operação da Câmara nas Emissões de CO ............. 43

4.4. Efeitos das Condições de Operação da Câmara nas Emissões de NOx ........... 45

4.5. Eficiência da Combustão .................................................................................... 47

5. Fecho ......................................................................................................... 48

5.1. Conclusões ......................................................................................................... 48

5.2. Sugestões para Trabalhos Futuros .................................................................... 48

6. Referências ................................................................................................ 49

7. Anexos ....................................................................................................... 53

7.1. Reação de Combustão de um Hidrocarboneto do Tipo CxHy ............................. 53

7.2. Cálculo dos Caudais Utilizados nos Testes ....................................................... 53

ix

7.3. Cálculo da Eficiência da Combustão .................................................................. 54

7.4. Imagens do Regime de Combustão para Diferentes Condições ........................ 54

x

Lista de Figuras

Figura 1.1 – BWB (NASA) ............................................................................................................ 1

Figura 1.2 – Esquema dos queimadores do BWB. ...................................................................... 2

Figura 2.1 – Toxicidade do CO no corpo humano. (Engineeringtoolbox) .................................... 3

Figura 2.2 – Sequência de reações de oxidação do metano (Law, 2006). .................................. 5

Figura 2.3 – Nevoeiro fotoquímico em Nova Iorque visto do World Trade Center em 1988. ....... 6

Figura 2.4 – Eficiência de sistemas de combustão em função da temperatura de pré-

aquecimento do ar de combustão (Wünning, 2003). ......................................................... 11

Figura 2.5 – Chama convencional (esquerda) e combustão sem chama visível (Wünning,

2003). ................................................................................... Error! Bookmark not defined.

Figura 2.6 – Esquema representativo de um sistema a operar em FLOX (Delacroix). .............. 13

Figura 2.7 – Representação da variação da temperatura do processo de combustão com

recirculação de calor (Choi & Katsuki, 2001). .................................................................... 14

Figura 2.8 – Limites de flamabilidade da mistura em função do poder calorífico do combustível,

Qf, temperatura inicial da mistura, Ti, e razão de equivalência da mistura, φ (Choi &

Katsuki, 2001). ................................................................................................................... 14

Figura 2.9 – Representação dos regimes de combustão em função do grau de diluição e da

temperatura do ar de combustão (Delacroix). .................................................................... 15

Figura 2.10 – Representação dos regimes de combustão (Rao et al., 2010). ........................... 15

Figura 2.11 – Limites de autoignição e limites de extinção de chama para gás natural com ar

pré-aquecido e/ou ar diluído com CO2 e N2 (Choi & Katsuki, 2001). ................................. 16

Figura 2.12 – Campo de temperaturas em FLOX e em chama visível (Wünning, 2003). .......... 16

Figura 2. 13 – Comparação entre imagens de temperatura e OH-LIPF obtidas simultaneamente

sobre os regimes de pré-mistura e sem chama visível (Plessing et al.,1998). .................. 17

Figura 2.14 – Aparência do modo de combustão ao longo da câmara de combustão para

diferentes λ. a) λ = 1,1; b) λ = 1,3; c) λ = 1,5; d) λ = 1,7; e) λ = 1,9 e f) λ = 2,1 (Veríssimo,

2011). ................................................................................................................................. 18

Figura 2.15 – Imagens de quimiluminescência do radical hidroxila (OH*) em função da carga

térmica de combustível. a) 7 kW, b) 8 kW, c) 9 kW, d) 10 kW, e) 11 kW, f) 12 kW e g) 13

kW (Veríssimo et al., 2013). ............................................................................................... 19

Figura 2.16 – Imagens do processo de combustão para diferente condições (Arghode et al.,

2012). ................................................................................................................................. 21

Figura 2.17 – Temperatura experimental no plano central do queimador (ºC): (a) 21% O2, (b)

25% O2, (c) 30% O2, (d) 35% O2, (e) 21% O2 chama convencional (Sánchez et al., 2013).

........................................................................................................................................... 22

Figura 2.18 – Vetores de velocidades coloridos por magnitude (m/s). Imagem da esquerda

representa a configuração “N” e a imagem da direita a configuração “AT” (Ahmed et al.,

2014). ................................................................................................................................. 23

xi

Figura 2.19 – Interior da câmara de combustão para as configurações “N” (imagem da

esquerda) e “AT” (imagem da direita) (Ahmed et al., 2014). .............................................. 24

Figura 2.20 - Quimiluminescência do radical OH* para as configurações “N” e “AT” (Ahmed et

al., 2014). ........................................................................................................................... 24

Figura 2. 21 – Representação da temperatura e das concentrações de O2, CO, CO2, HC e NOx

no plano de simetria da câmara de combustão. φ = 0,28; Tair = 425 K. (Melo, 2010). ...... 25

Figura 2. 22 – Distribuição da temperatura ao longo do eixo da placa para as condições sem

adição, com adição de vapor de água e com adição de azoto. ......................................... 27

Figura 3.1 – Fotografias do pleno (lado esquerdo) onde se encontra instalada a câmara de

combustão e a câmara de combustão (lado direito). ......................................................... 28

Figura 3.2 – Instalação com todos os componentes montados. ................................................ 29

Figura 3.3 – Esquema da instalação experimental. ................................................................... 30

Figura 3.4 – Rotâmetros (esquerda) utilizados para medição dos caudais de ar e caudalímetros

(direita) para medição dos caudais de metano, azoto e água. .......................................... 31

Figura 3.5 – Sistema (CEM) utilizado para injetar vapor de água no oxidante. ......................... 32

Figura 3.6 – Quantidade de água introduzida em função da quantidade de azoto à temperatura

de 200 ºC. .......................................................................................................................... 33

Figura 3.7 – Pré-aquecedor de ar (à esquerda) e o seu painel de controlo (à direita). .............. 34

Figura 3.8 – Equipamentos utilizados no sistema de ignição. ................................................... 34

Figura 3.9 – Câmara de combustão em perspetiva. .................................................................. 35

Figura 3.10 – Geometria utilizada na câmara de combustão para a injeção do oxidante

primário. ............................................................................................................................. 35

Figura 3.11 – Esquema da câmara de combustão, com todas as dimensões relevantes. ........ 35

Figura 3.12 – Fotografia da chama inicial, sem ar secundário. .................................................. 36

Figura 3.13 – Aspeto da chama após a introdução do ar secundário. ....................................... 37

Figura 3.14 - Aspeto visual do regime sem chama visível. A imagem da esquerda indica o

momento que precede o estabelecimento do regime. ....................................................... 37

Figura 3. 15 – Esquema da sonda usada para a recolha de gases de exaustão. ..................... 38

Figura 4.1 – Representação da aerodinâmica interna da câmara de combustão. a) Secção

longitudinal da câmara de combustão anular, b) processo de funcionamento da presente

câmara de combustão tal como idealizado por Levy et al. (2004). .................................... 42

Figura 4.2 – Evolução das emissões de CO e NOx com o excesso de ar para diferentes

concentrações de H2O e oxigénio no oxidante. ................................................................. 46

Figura 4. 3 – Relação entre NOx e eficiência de combustão para os regimes de combustão sem

chama visível e ultra lean combustion. .............................................................................. 47

Figura 7.1 – Excesso de ar (λ) = 1,6 e %O2 = 14 ....................................................................... 54

Figura 7.2 – Excesso de ar (λ) = 1,8 e %O2 = 16 ....................................................................... 55

xii

Figura 7.3 – Excesso de ar (λ) = 1,8 e % O2 = 18 ...................................................................... 55

Figura 7.4 – Excesso de ar (λ) = 1,4 e % O2 = 14 ...................................................................... 56

xiii

Lista de Tabelas

Tabela 3.1 – Características dos medidores de caudal utilizados. ............................................ 31

Tabela 3. 2 – Característica dos analisadores utilizados. .......................................................... 38

Tabela 3. 3 – Misturas padrão utilizadas na calibração dos analisadores. ................................ 39

Tabela 4.1 – Condições experimentais, eficiência da combustão calculada e as emissões de

poluentes medidas. * Emissões corrigidas para 15% de O2. ............................................. 43

xiv

Nomenclatura

Romanos

Ti Temperatura inicial

Tox Temperatura no interior do pleno

Tg Temperatura dos gases de escape

Qf Poder calorífico do combustível

Tair Temperatura de pré-aquecimento do ar

Tadiab Temperatura adiabática de chama

Kv Taxa de recirculação

Z Caudal de água

X Proporção de oxigénio no oxidante

Y Proporção de azoto no oxidante

K Proporção de vapor de água no oxidante

������ Caudal molar de combustível

�� ���� Caudal mássico de combustível

���� Massa molar de combustível

ℎ Constante de Planck

� Frequência do fotão

Gregos

λ Coeficiente de excesso de ar

φ Razão de equivalência

� Eficiência da combustão

Caudal de ar

� Caudal de azoto

Abreviaturas

VOC Volatile Organic Compounds

FLOX Flameless Oxidation

CEM Controlled Evaporation and Mixing

OH-LIPF OH Laser-Induced Predissociative Fluorescence

PCI Poder Calorífico Inferior

AHEAD Advanced Hybrid Engine Aircraft Development

BWB Blended Wing Body

HiTAC High Temperature Air Combustion

xv

1

1. Introdução

1.1. Motivação e Objetivos

No atual cenário energético mundial, no qual a escassez dos recursos se junta aos problemas

ambientais oriundos da utilização de energia e extração de produtos naturais, observa-se uma

crescente preocupação com a busca de uma maior racionalidade no uso da energia, além da procura

de processos com menor impacto ambiental. Em todo o mundo, o setor energético vem sofrendo

profundas transformações motivadas não apenas por questões de ordem técnica e económica, mas

também por pressões da sociedade.

A Agência Internacional de Energia prevê um aumento no consumo mundial de energia nos próximos

trinta anos de 56% (Internatational Energy Outlook 2013). O consumo de gás natural para produzir

eletricidade deve aumentar cerca de 80% enquanto o seu consumo no setor industrial deverá

aumentar em cerca de 58%. Estes números revelam a necessidade de desenvolver tecnologias que

consigam rentabilizar o uso de fontes de energia. Por outro lado, o foco crescente dos vários actores

na preservação ambiental faz pressão para a diminuição dos poluentes emitidos em processos que

envolvam combustão.

O desenvolvimento da tecnologia de combustão sem chama visível é uma grande evolução no que

diz respeito à eficiência da combustão e poluentes, dado que este regime de combustão permite

conciliar o aumento da eficiência da combustão com a redução dos principais poluentes,

nomeadamene NOx.

A presente tese foi desenvolvida no âmbito do projeto Europeu AHEAD (Advanced Hybrid Engine

Aircraft Development) cujo principal objetivo é desenvolver uma aeronave BWB (Blanded Wing Body),

ver Figura 1.1, que opere em regime de combustão sem chama visível.

Figura 1.1 – BWB (NASA)

2

A aeronave a ser desenvolvida possui dois queimadores, ver Figura 1.2. O primeiro queimador

queima H2 com excesso de ar, enquanto o segundo queimador aproveita os produtos de combustão

do primeiro para queimar hidrocarbonetos.

No presente trabalho pretende-se caracterizar o processo de combustão no 2º queimador (Figura

1.2), nomeadamenre examinar as emissões de poluentes e a eficiência da combustão. Para isso, foi

projectado, construido e utilizado um sistema de alimentação para simular os produtos de combustão

do 1º queimador, o qual constitui o oxidante do 2º queimador.

A tecnologia de combustão sem chama visível é relativamente recente, sendo necessário melhorar o

conhecimento acerca dos seus fundamentos. O presente trabalho pretende também melhorar a

compreensão deste regime. Em particular, este estudo pretende avaliar o efeito da da presença de

vapor de água no oxidante no desempenho (eficiência da combustão e emissão de poluentes) de

uma câmara de combustão existente no Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior

Técnico. A presente câmara já foi alvo de estudos anteriores, nomeadamente Melo (2008) e

Quaresma (2010).

1.2. Organização da Tese

A tese está organizada em cinco capítulos, dos quais o presente constitui a introdução. O capítulo 2

apresenta uma revisão bibliográfica dos mecanismos de formação de poluentes (CO, NOx e

hidrocarbonetos) e estudos anteriores sobre o regime de combustão sem chama visível. O capítulo 3

descreve a instalação experimental, e sua operação e, ainda, a metodologia e as técnicas

experimentais utilizadas. No capítulo 4 são apresentados e discutidos os resultados experimentais, e,

finalmente, no capítulo 5 resumem-se as principais conclusões e apresentam-se algumas sugestões

para trabalhos futuros.

Figura 1.2 – Esquema dos queimadores do BWB.

3

2. Revisão Bibliográfica

Este capítulo está dividido em duas secções. A primeira seção aborda os principais mecanismos de

formação de poluentes, nomeadamente os mecanismos de formação de CO, hidrocarbonetos e NOx,

enquanto a segunda seção diz respeito ao regime de combustão sem chama visível.

2.1. Poluentes

2.1.1. Mecanismos de Formação de CO e Hidrocarbonetos

O monóxido de carbono (CO) é um gás inflamável, incolor, inodoro e tóxico. Os seus efeitos tóxicos

são decorrentes da sua ligação à hemoglobina, pela qual o CO tem uma afinidade 245 vezes maior

que o oxigénio. Entre o contato da hemoglobina e o CO há a formação da carboxi-hemoglobina, a

qual impede que o oxigénio se ligue à hemoglobina nos capilares pulmonares e também inibe a

libertação do oxigénio previamente ligado à hemoglobina. Ambos os fatores resultam em hipoxia

tecidual. Os sintomas de envenenamento por CO começam a surgir com 20% da hemoglobina

ocupada pelo CO, enquanto a morte ocorre entre 50% e 80% de ocupação da hemoglobina. A Figura

2.1 apresenta a concentração de CO e o tempo de exposição para diferentes riscos de exposição.

De uma forma geral todo hidrocarboneto tende a sofrer desidrogenação à medida que reage, formar

aldeídos e posteriormente CO. A Figura 2.2 mostra o mecanismo de oxidação do CO para a queima

de metano em ar Law (2006). O processo de oxidação do CO é relativamente lento, salvo se H2 e

Figura 2.1 – Toxicidade do CO no corpo humano. (Engineeringtoolbox)

4

H2O estiverem presentes, pois o CO reage mais rapidamente com OH do que com O e O2. Segundo

Law (2006), o processo de oxidação do CO pode ser modelado através do seguinte mecanismo:

CO + O� → CO� + O (2.1)

CO + OH → CO� + H (2.2)

O + H�O → OH + OH (2.3)

H + O� → O + OH (2.4)

OH + H� → H + H�O (2.5)

O + H� → OH + H (2.6)

CO + HO� → CO� + OH (2.7)

H� + O� → HO� + H (2.8)

O� + M → O + O + M (2.9)

A reação (2.1) é relativamente lenta, o que resulta em baixas taxas de formação de CO2. A presença

de H2 favorece a ocorrência das reações (2.5) e (2.6), a libertação de H alimenta a reação (2.4). A

formação de OH nas reações (2.4) e (2.6) favorece a oxidação do CO em CO2 na reação (2.2). A

presença de H2O também catalisa a oxidação do CO através da reação (2.9) seguida da reação (2.3).

Na queima de metano em oxidantes com teores em O2 relativamente baixos, a formação de CO

resulta não só do percurso principal de oxidação �CH� → CH�O → HCO → CO → CO��, mas também da

formação de hidrocarbonetos mais pesados e respetiva oxidação �CH� → C�H� → C�H� → C�H� →C�H� → C�H� → CO → CO��. Segundo Mardani et al. (2013), menores teores em O2 no oxidante

intensificam a importância da formação de CO através da oxidação dos hidrocarbonetos mais

pesados, sendo que nem sempre a diluição de O2 implica menores produções de CO e CO2.

5

2.1.2. Mecanismos de Formação de NO

Os óxidos de azoto (NOx), onde se incluem o dióxido de azoto (NO2) e o monóxido de azoto (NO),

têm origem em fontes antropogénicas, principalmente ao nível da combustão de combustíveis

fósseis, e em fontes naturais tais como descargas elétricas na atmosfera ou certas transformações

microbianas. Em processos de combustão o azoto reage com o oxigénio e produz monóxido de

azoto, que posteriormente é oxidado na atmosfera para NO2. Para as concentrações presentes na

atmosfera o NO não é considerado um poluente perigoso.

O NO2 é um gás tóxico, facilmente detetável pelo odor, muito corrosivo e um forte agente oxidante.

Pode provocar lesões nos brônquios e nos alvéolos pulmonares. Os óxidos de azoto podem também

provocar efeitos nocivos sobre a vegetação quando presentes em concentrações elevadas.

Os óxidos de azoto são ainda responsáveis pelo nevoeiro fotoquímico (smog, na literatura inglesa). O

nevoeiro fotoquímico, ilustrado na Figura 2.3, é uma névoa castanho-amarelada que aparece em

grandes centros urbanos em dias ensolarados. Os nevoeiros são vistos mais frequentemente no

verão, altura de maior intensidade luminosa. Os principais constituintes do nevoeiro fotoquímico são

os óxidos de azoto (NOx), o ozono (O3), os componentes orgânicos voláteis (volatile organic

compounds – VOC, na literatura inglesa), o SO2, aerossóis e partículas. O nevoeiro fotoquímico é

prejudicial à saúde humana, animal e vegetal. Ao nível do solo, em centros urbanos, o poluente

atmosférico característico do nevoeiro fotoquímico é o ozono.

Figura 2.2 – Sequência de reações de oxidação do metano (Law, 2006).

6

Em 1952, foram reportadas cerca de 4000 mortes e mais de 100000 pessoas doentes em Londres

em consequência dos efeitos do nevoeiro fotoquímico. Desde então têm-se realizado estudos para

melhor compreender o fenómeno. Um dos primeiros estudos nesta área foi feito por Haagen-Smit

(1952). O mecanismo do nevoeiro fotoquímico é descrito da seguinte forma (Glassman & Yetter,

2008):

NO� + ℎ� �3000 ! 1/� ! 4200 & → NO + O ��P� (2.10)

O + O� + M → O� + M (2.11)

O� + NO → O� + NO� (2.12)

Neste sistema, a irradiação solar estabelece o equilíbrio dinâmico:

NO� + O� ()↔ NO + O� (2.13)

A formação dos óxidos de azoto é descrita por quatro mecanismos, nomeadamente:

• Mecanismo térmico, predominante a elevada temperaturas (superiores a 1800 K) para

diversas gamas de razões de equivalência.

• Mecanismo imediato, ou de Fenimore, no qual o azoto reage com radicais de hidrocarbonetos

formando HCN e CN que conduzem a formação de NO; a importância deste mecanismo é

intensificada para misturas ricas.

• Mecanismo com óxido nitroso (N2O) como intermediário, o qual desempenha um papel

importante na produção de NO em chamas pobres de pré-mistura com baixas temperaturas.

• Mecanismo do combustível, no qual o NO resulta da oxidação dos compostos de azoto

presentes no combustível; importante e, por vezes, dominante no caso de combustíveis como

fuelóleos residuais e carvão.

Figura 2.3 – Nevoeiro fotoquímico em Nova Iorque visto do World Trade Center em 1988.

7

NO térmico

O NO térmico é obtido a partir da reação de azoto presente no ar atmosférico com o oxigénio

dissociado pelas altas temperaturas que ocorrem em processos de combustão. As principais reações

envolvidas na formação do NO térmico, segundo o mecanismo proposto por Zeldovich, são as

seguintes:

N� + O → NO + N (2.14)

N + O� → NO + O (2.15)

N + OH → NO + H (2.16)

O nome térmico é utilizado porque a reação (2.14) possui elevada energia de ativação devido à

ligação tripla presente na molécula de azoto. Deste modo, a reação (2.14) só é rápida para

temperaturas superiores a 1800 K. Devido à sua baixa taxa de reação, a reação (2.14) é a etapa

limitante no processo de formação de NO térmico.

A velocidade de formação de NO é menor do que a velocidade da maioria das reações de

combustão, verificando-se que na região da chama pouco NO térmico é formado, sendo uma grande

parcela gerada na região de pós-chama (Chigier, 1981).

A formação de NO térmico aumenta com a temperatura e com o tempo de residência. O aumento da

temperatura contribui com a energia que acelera a reação de dissociação do azoto molecular,

necessitando de menor tempo de residência para que esta ocorra.

Segundo Lefebvre (1995) os pontos-chaves relativos à formação de NO térmico podem ser

resumidos da seguinte forma:

• A formação de NO térmico é controlada pela temperatura da chama.

• Em processos de combustão com temperaturas inferiores a 1850 K, a formação de NO

térmico é marginal.

• Para misturas pobres (razão combustível/ar < 0,5), o NO formado é independente do tempo

de residência.

8

NO imediato

O termo imediato (prompt, na literature inglesa) foi apresentado por Fenimore (1971), que o

caracterizou pelo rápido aparecimento de NO na frente de chama. O NO imediato resulta da reação

do azoto molecular com radicais de hidrocarbonetos (CH, C, etc.) existentes na frente de chama, os

quais originam os denominados compostos de ciano. Estes, por sua vez, são convertidos em

compostos intermédiarios que potenciam a formação de NO. Ignorando os mecanismos que

conduzem à formação de CH, o mecanismo de Fenimore pode ser descrito através das seguintes

reações:

CH + N� → HCN + N (2.17)

C + N� → CN + N (2.18)

De acordo com Miller & Bowman (1989), a reação entre o radical CH e o azoto molecular (N2) é a que

mais contribui para a formação de NO via mecanismo imediato. A conversão do HCN, formado

através da reação (2.17), em NO segue o seguinte conjunto de reações sequenciais:

HCN + O → NCO + H (2.19)

NCO + H → NH + CO (2.20)

NH + H → N + H� (2.21)

N + OH → NO + H (2.16)

Segundo Bowman (1992), este mecanismo tem expressão a baixas temperaturas e pode, nestes

casos, contribuir significativamente para a emissão total de NO. Rokke et al. (1992) e Meunier et al.

(1998) concluiram que o mecanismo imediato é dominante em chamas de difusão turbulentas, não

confinadas, de metano e propano.

Algumas características do NO imediato são apresentadas por Chigier (1981):

• A absoluta dependência da presença de hidrocarbonetos ativos.

• A relativa independência da temperatura, tipo de combustível ou mistura. Em experiências

realizadas em condições estequiométricas foram obtidos níveis de NO imediato entre 50 ppm

e 90 ppm; ao alterar a temperatura de 1900 K para 2350 K não houve significativo aumento

do NO imediato. Em contrapartida, ao aumentar a razão de equivalência de 0.9 para 2 a 1900

K observou-se um aumento significativo da produção de NO imediato.

• Em processos com temperaturas de chama relativamente baixos, longos tempos de

residência na zona de reação promovem a destruição do NO formado a partir de reações

deste com os hidrocarbonetos.

9

NO com óxido nitroso (N2O) como intermediário

Este mecanismo é iniciado pela reação de recombinação de átomos de O com azoto molecular

formando N2O, principalmente através da reação:

O + N� + M → N�O + M (2.22)

O N2O poderá ser subsequentemente oxidado para NO ou reduzido para N2. Em condições de

mistura pobre tem-se:

N�O + O → NO + NO (2.23)

N�O + O → N� + O� (2.24)

Bonturi et al. (1996) indicam a reação (2.23) como a principal fonte de NO para este mecanismo.

Para misturas estequiometricas e ricas, o N2O é principalmente reduzido a N2. As reações envolvidas

no processo são:

N�O + H → N� + OH (2.25)

N�O + H → NH + NO (2.26)

N�O + OH → N� + HO� (2.27)

Esta sequência de reações torna-se importante em condições de excesso de ar (Turns, 2000).

NO do combustível

O NO combustível é formado a partir da reação do oxigénio com o azoto contido no combustível

durante o processo de combustão. Refira-se que alguns combustíveis líquidos (e.g., fuelóleos

residuais) e sólidos (e.g., carvão) podem apresentar frações mássicas de azoto até 2% na sua

composição.

A oxidação de moléculas de baixo peso molecular que contêm azoto, presente no combustível ou

formada durante o processo de combustão (NH3, HCN, CN), é muito rápida, ocorrendo em escala de

tempo similar à das outras reações do processo de combustão (Bowman, 1972). A formação de NO

do combustível é fortemente influenciada pela relação ar/combustível da reação de combustão, mas a

sua dependência da temperatura da chama é marginal (Hayhurst & Vince, 1980).

10

O HCN é a espécie intermediária formada em maior concentração, mas a sequência de reações

dependem do ambiente em que a reação ocorre. Para chamas pobres em combustível, o esquema

reacional sugerido por Bachmaier et al. (1973) é o seguinte:

HCN + O → HCO + N (2.28)

HCO + N → NH + CO (2.29)

Para chamas ricas em combustível o esquema fica:

HCN + OH → HNCO + H (2.30)

HNCO + H → NH� + CO (2.31)

NH� + CO → NH + H + CO (2.32)

As espécies aminas assim formadas podem seguir dois caminhos, dependendo da disponibilidade de

oxigénio na região da combustão:

NH + H → H� + N → NO �condição pobre em combustível� (2.33)

NH + H → H� + N → N� �condição rica em combustível� (2.34)

De acordo com Lefebvre (1983), o mecanismo de formação do NO combustível segue os seguintes

critérios:

• A conversão do azoto (N) presente no combustível para óxido de azoto (NO) é praticamente

total para condições de excesso de ar, quando operando com combustível que possui baixas

concentrações de azoto (< 0.5% em massa).

• A conversão do N presente no combustível para NO decresce com o aumento da

concentração do azoto no combustível, especialmente para misturas ricas.

• A conversão do N presente no combustível para NO aumenta lentamente com o aumento da

temperatura da chama.

Importa realçar que não existem regras definitivas para avaliar a importância relativa de cada um dos

mecanismos de formação de NO num dado sistema de combustão. Com efeito, a importância relativa

de cada um é uma função complexa da configuração do sistema (queimador e câmara de

combustão), combustível, natureza da chama (pré-mistura ou difusão) e condições de operação do

equipamento, entre outras (Coelho & Costa, 2007).

11

2.2. Combustão sem Chama Visível

2.2.1. Contexto Histórico

Em outubro de 1973, ocorre o primeiro choque petrolífero, com o culminar da guerra Israelo-Árabe e

é declarado um embargo total por parte das nações árabes. A situação durou cinco meses e teve

consequências nefastas na economia ocidental e nos mercados financeiros. O choque petrolífero

obrigou os países afetados a tomarem medidas estratégicas, como o incentivo à criação de energias

alternativas e o desenvolvimento de sistemas mais eficientes de combustão, para reduzir a sua

dependência em relação aos principais fornecedores de petróleo.

O método mais eficaz para aumentar a eficiência de sistemas de combustão utilizados em processos

de elevadas temperaturas é recorrer ao pré-aquecimento do ar de combustão. A Figura 2.4 apresenta

valores típicos de eficiência dos sistemas de combustão em função da temperatura de pré-

aquecimento (Wünning, 2003).

Durante o mesmo período, a conscientização dos efeitos negativos das emissões dos óxidos de

azoto (NOx) na saúde humana e no ambiente colocaram pressão nos operadores e produtores dos

equipamentos de combustão. Enquanto as emissões dos óxidos de azoto eram minimizadas com

medidas secundárias em automóveis (e.g., redução catalítica), a indústria faz uso de medidas

primárias para redução daquelas emissões (e.g., estagiamento do combustível e reburning). Estas

técnicas de redução das emissões dos óxidos de azoto não serão, todavia, capazes de cumprir a

legislação futura para as emissões de óxidos de azoto, nomeadamente em sistemas que operam com

Figura 2.4 – Eficiência de sistemas de combustão em função da temperatura de pré-aquecimento do ar de combustão (Wünning, 2003).

12

temperaturas de chama acima de 1500 K e pré-aquecimento do ar de combustão de

aproximadamente 1000 K (Wünning, 2003).

Em 1989, foi observado um fenómeno surpreendente durante ensaios num forno recuperativo. Para

uma temperatura forno de 1000 ºC e pré-aquecimento do ar de combustão de aproximadamente 650

ºC não era possível observar visualmente nenhum tipo de chama (ver Figura 2.5), não sendo também

detetado nenhum sinal de radiação pelo sistema (de segurança) de deteção de UV. Mas, apesar

disso, o combustível era completamente consumido, enquanto os analisadores detetavam

concentrações de CO e NOx praticamente nulas. A combustão era estável e suave. Esta condição de

operação foi chamada de regime de combustão sem chama visível (flameless oxidation, na literatura

inglesa, ou, abreviadamente, FLOX).

O uso de pré-aquecimento do ar de combustão para reduzir os custos energéticos possui o

inconveniente de aumentar as emissões de NOx. No entanto, esta nova tecnologia permitir tirar

partido dos benefícios do pré-aquecimento sem os prejuízos associados ao aumento das emissões

de NOx.

2.2.2. Fundamentos do Regime de Combustão Sem Chama Visível

A Figura 2.6 representa de forma esquemática o processo idealizado por Wünning e Wünning (1997)

para uma câmara de combustão operar no regime sem chama visível. Na primeira etapa do processo,

na região I, o ar de combustão é misturado com os gases recirculados, provenientes da combustão.

Na segunda etapa do processo, após a mistura completa entre o ar e os produtos de combustão, o

combustível é adicionado à mistura, na região II, para que ocorra combustão. Nesta parte do

processo, a temperatura não deve ser superior a 1850 K, devido à presença de elevadas quantidades

de inertes. Finalmente, no terceiro estágio do processo, na região III, parte do calor produzido deve

Figura 2. 5 – Chama convencional (esquerda) e combustão sem chama visível (Wünning,2003).

13

ser retirado dos produtos de combustão, a fim de manter uma dada temperatura na região II, de modo

a sustentar as reações químicas do sistema.

A Figura 2.7 representa a variação da temperatura do processo de combustão com recirculação de

calor. As tecnologias de combustão que utilizam a recirculação de produtos de combustão

normalmente obtêm temperaturas de trabalho mais elevadas. A Figura 2.8 representa os limites de

flamabilidade da mistura em função do poder calorífico do combustível, Qf, temperatura inicial da

mistura, Ti, e razão de equivalência da mistura, φ. Nota-se que a de recirculação de produtos de

combustão aumenta os limites de flamabililidade da mistura devido à temperatura.

O regime de combustão sem chama visível pode ser caracterizado em termos da concentração de

oxigénio na zona de reação (ar diluído com produtos de combustão, representado na região I da

Figura 2.6) e da temperatura. A Figura 2.9 representa os diferentes regimes de combustão em função

da concentração de oxigénio e da sua temperatura. O regime sem chama visível é obtido a partir de

misturas com temperatura superior a cerca de 800 ºC e concentrações de oxigénio inferiores a cerca

de 13%. É possível verificar a possibilidade de estabelecer o regime sem chama visível sem pré-

aquecimento do ar de combustão. Rao et. al. (2010) realizaram um trabalho mais detalhado na

identificação dos regimes de combustão, cujos resultados se apresentam na Figura 2.10.

Figura 2.6 – Esquema representativo de um sistema a operar em FLOX (Delacroix).

14

Figura 2.7 – Representação da variação da temperatura do processo de combustão com recirculação de calor (Choi & Katsuki, 2001).

Heat recirculating combustion

Heat to berecycled

Tem

pe

ratu

re Heat ofcombustion

Heat of combustion

Combustion withoutheat recirculation

Preheating

Process progression

Figura 2.8 – Limites de flamabilidade da mistura em função do poder calorífico do combustível, Qf, temperatura inicial da mistura, Ti, e razão de equivalência da mistura, φ (Choi & Katsuki, 2001).

Flammable region1300

45

φst

φ

10300 Qf

(MJ/Kg)

Lean

Rich

Ti (K)

15

A Figura 2.11 apresenta os limites de autoignição e limites de extinção de chama para gás natural

com ar pré-aquecido e/ou ar diluído com CO2 e N2. A medida que a concentração de oxigénio se

reduz devido à diluição com gases inertes, como o CO2 e N2, o limite de autoignição em termos de ar

Figura 2.9 – Representação dos regimes de combustão em função do grau de diluição e da temperatura do ar de combustão (Delacroix).

Figura 2.10 – Representação dos regimes de combustão (Rao et al., 2010).

16

pré-aquecido aumenta ligeiramente, mas para a situação de ignição forçada o limite aumenta

bruscamente com a diluição de oxigénio.

A Figura 2.12 apresenta o campo de temperaturas para o regime de combustão convencional e para

o regime sem chama visível. Como se pode observar, o regime convencional exibe temperaturas

mais elevadas, principalmente na proximidade do queimador.

Figura 2.11 – Limites de autoignição e limites de extinção de chama para gás natural com ar pré-aquecido e/ou ar diluído com CO2 e N2 (Choi & Katsuki, 2001).

Figura 2.12 – Campo de temperaturas em FLOX e em chama visível (Wünning, 2003).

17

Plessing et al. (1998) compararam o regime sem chama visível com um regime de pré-mistura

altamente turbulento. Os autores utilizaram técnicas opticas para avaliar o campo de temperaturas e

de concentração de OH no interior da fornalha (ver Figura 2.13). Os autores obervaram o seguinte:

• A queima realizada em pré-mistura turbulenta apresentou elevados gradientes de

temperatura.

• Na situação em que não há chama visível observaram-se baixos gradientes de temperatura e

concentrações de OH consideravelmente menores relativamente ao caso de pré-mistura

turbulenta.

• A diluição com gases de exaustão aumenta o tempo caracteristico das reações quimicas

quando comparando com o tempo caracteristico da turbulência.

• O regime sem chama visível pode ser descrito como um reator de mistura perfeita onde os

fenómenos de ignição e extinção não estão presentes.

Veríssimo (2011) fez um estudo detalhado do regime de combustão sem chama visível utilizando

uma câmara laboratorial. A Figura 2.14 apresenta a aparência do modo de combustão ao longo da

câmara para diferentes valores do coeficiente de excesso de ar (λ). Foi verificado que para baixos

valores de λ, a combustão ocorria de modo extremamente suave, e não foi possível observar a

Figura 2. 13 – Comparação entre imagens de temperatura e OH-LIPF obtidas simultaneamente sobre os regimes de pré-mistura e sem chama visível (Plessing et al.,1998).

FLAME

Temperature OHLIPF Intensity

FLOX®

18.0

12.0

6.0

0.0

[mm]

18.0

[mm]

12.0

6.0

0.0

18.0

12.0

6.0

0.00.0

0.0

300 0 800 1600 2400 3200900 1500 2100

12.03.0 6.0 9.0 0.0 12.03.0 6.0 9.0

0.012.0 10.06.0 0.0 12.06.05.0

[mm]

6.0

0.0

[mm]

18.0

12.0

300

900

1500

[K]

2100

300

900

1500

2100

Flameless Oxidation (Φ = 1)

Highly turbulent premixed methane flame (Φ = 1)

[K]

0

800

1600

2400[a.U.]

3200

0

800

1600

2400

3200

[a.U.]

[mm] [mm][mm]

[mm][mm]

Height = 13.0 mm

Height = 15.13 mm

[mm]0.0 10.05.0

18

presença da chama. Ao aumentar o coeficiente de excesso de ar verificou-se que o ruído aumentava

e a chama passava gradualmente a ser visível. Para elevados valores de λ existem mais gases

quentes e oxigénio na proximidade do queimador, o que proporciona o estabelecimento de uma

chama convencional.

Veríssimo et al. (2013) realizaram um estudo na câmara laboratorial referida acima variando a carga

térmica entre 7 kW e 13 kW e o excesso de ar entre 1,3 e 1,4, utilizando metano como combustível. É

possível retirar as seguintes conclusões deste estudo:

• O aumento da carga térmica levou ao aumento da zona de reação e ao posicionamento da

mesma para a proximidade da zona de exautão da câmara de combustão (Figura 2.15), efeito

este devido ao aumento do caudal com a carga térmica.

• As concentrações de NOx foram praticamente independentes da carga térmica e houve um

ligeiro aumento da concentração de CO devido à redução do tempo de residência dos gases

na câmara de combustão.

Figura 2.14 – Aparência do modo de combustão ao longo da câmara de combustão para diferentes λ. a) λ = 1,1; b) λ = 1,3; c) λ = 1,5; d) λ = 1,7; e) λ = 1,9 e f) λ = 2,1 (Veríssimo, 2011).

a) b) c) d) e) f)

Ø100

34

0

19

Rebola et al. (2013) realizaram um estudo detalhado sobre o efeito do excesso de ar, velocidade de

entrada do ar na câmara de combustão, carga térmica e temperatura de pré-aquecimento do ar no

regime de combustão sem chama visível. As principais conclusões foram:

• Os gradientes de temperatura no interior da câmara de combustão foram atenuados com o

aumento do excesso de ar. O valor das temperaturas máximas também diminuiram, assim

como o posicionamento da sua zona, que passou a estar mais próximo da zona de exautão

da câmara de combustão. Consistentemente, as frações molares de CO e HC exibiram perfis

mais suaves

• Para todas as medidas efetuadas foram obtidas concentrações de NOx inferiores a 6

ppm@15% O2. Observou-se também a tendência linear do crescimento da concentração de

CO com o excesso de ar para valores de λ > 2, explicado pela redução na temperatura com o

aumenta da quantidade de inertes.

• Para temperaturas de pré-aquecimento do ar acima de 600 ºC, as variações na velocidade de

entrada do ar afetam de forma marginal as emissões de CO e HC. Para baixos valores da

velocidade de entrada do ar, as emissões de CO e HC são significantes.

• Variações na carga térmica alimentada à fornalha não afetou as emissões de NOx em regime

de combustão sem chama visível. As emissões de CO e HC são, todavia, importantes para

baixos valores da carga térmica.

• O aumento da temperatura de pré-aquecimento do ar de 500 ºC para 700 ºC originou perfis

de temperatura no interior da câmara semelhantes mas desfazados em aproximadamente

200 ºC. O aumento da temperatura de pré-aquecimento do ar introduziu maiores gradientes

nos perfis das frações molares de CO e HC, indicando a existência de uma reação pior

distribuída pelo volume da câmara de combustão.

Figura 2.15 – Imagens de quimiluminescência do radical hidroxila (OH*) em função da carga térmica de combustível. a) 7 kW, b) 8 kW, c) 9 kW, d) 10 kW, e) 11 kW, f) 12 kW e g) 13 kW (Veríssimo et al., 2013).

AirFuel Fuel

AirFuel Fuel

AirFuel Fuel

AirFuel Fuel

AirFuel Fuel

AirFuel Fuel

AirFuel Fuel

8

0

10Counts

642

a) b) c) d)

150

100

50

0

200

250

3000-50 50

z

r

e) f) g)

20

Veríssimo et al. (2013) estudaram o efeito da velocidade do ar de combustão no regime de

combustão sem chama visível. Os ensaios foram realizados com uma carga térmica constante de 10

kW, excesso de ar de 30% e temperatura de pré-aquecimento do ar de combustão de 400 ºC. Foi

utilizado metano como combustível. As principais conclusões foram as seguintes:

• O aumento da velocidade de entrada do ar provocou diminuições da temperatura na zona de

reação e aumentou o limite de flamibilidade da mistura até dados limites.

• Outro efeito do aumento da velocidade foi a diminuição das emissões de NOx, devido à

diminuição das temperaturas e aumento da diluição provocado pelo aumento da taxa de

recirculação.

Arghode et al. (2010) realizaram um estudo sobre o efeito da configuração das entradas de ar e

combustível na obtenção do regime de combustão sem chama visível. A principal diferença entre as

configurações está no atraso na mistura entre o ar e o combustível. Os ensaios foram realizado para

uma carga térmica constante de 25 kW e razões de equivalência entre 0,7 e 0,9. Utilizou-se metano

como combustível. As principais conclusões foram as seguintes:

• As configurações com maior atraso na mistura ar/combustível permitiram obter campos de

temperatura mais uniformes e menores valores de NO (7 ppm@15% O2) e CO (20

ppm@15% O2).

• Para a configuração em que o combustível entrava em contato mais cedo com o ar observou-

se um regime instável e com maiores emissões de NO e CO relativamente à situação de

maior atraso.

Posteriormente, Arghode et al. (2011) realizaram outro estudo sobre o efeito do diâmetro das

entradas de ar e de combustível no regime de combustão sem chama vísivel. Os ensaios foram

realizados nas mesmas condições do estudo de 2010. As principais conclusões foram as seguintes:

• Com o aumento do diâmetro da entrada de combustível, a mistura entre o ar e o combustível

ocorreu mais rapidamente. Notou-se que as emissões de NO permaneceram

aproximadamente constantes e houve um ligeiro aumento nas emissões de CO.

• Com o aumento do diâmetro da entrada de ar verificou-se menor recirculação de gases de

combustão e um aumento das emissões de NO e CO. As emissões NOx permaneceram,

todavia, sempre abaixo de 15 ppm@15% O2.

Mais tarde, Arghode et al. (2012) estudaram o efeito da pré-mistura do ar e combustível na obtenção

do regime de combustão sem chama visível. Os testes foram realizados para cargas térmicas entre

3,91 kW e 6,25 kW e razões de equivalência entre 0,5 e 0,8. O ar de combustão foi alimentado à

câmara de combustão a 300 K e 600 K. Foi utilizado metano como combustível. A Figura 2.16

apresenta as imagens do processo de combustão para as diferentes condições analizadas. Os

principais conclusões foram as seguintes:

• Para a mesma temperatura do ar de combustão, as emissões de CO e NO foram inferiores

para as condições com pré-mistura.

21

• É possível obter o regime sem chama visível com e sem pré-mistura, sendo que as condições

com pré-mistura apresentaram melhores resultados.

Ayoub et al. (2012) estudaram o efeito da composição combustível (H2 e metano) no regime de

combustão sem chama visível. Os ensaios foram realizados para uma carga térmica constante de 20

kW e excessos de ar entre 1,1 e 1,14. Os autores concluiram:

• Para condições em que o combustível possui composição de H2 entre 0 a 70%, observou-se

que o aumento da concentração de H2 na mistuta combustível provoca um aproximação da

zona de reação aos injetores, e que concentração de NOx aumenta.

• Para proporções de H2 na mistura combustível entre 70% e 100%, a zona de reação

permanece na mesma posição e a concentração de NOx diminui com o aumento de H2.

Yu et al. (2010) obteram resultados semelhantes aos de Ayoub et al. (2012) num estudo teórico

realizado com o Chemkin 4.0.

Szegö et al. (2008) estudaram o efeito da pré-mistura de CO2 e N2 com gás natural, em diversas

proporções, tendo concluído que para uma diluição de 76%, em massa, quer de CO2, quer de N2 as

emissões de NOx reduzem em cerca de 48% e 10%, respetivamente. Mais tarde, Szegö et al. (2009)

estudaram o regime de combustão sem chama visível numa câmara de combustão laboratorial com a

injeção e o escape localizados na mesma base. Adicionalmente, é possível instalar um permutador

de calor arrefecido a água no interior da câmara em quatro posições distintas. Os ensaios foram

feitos com e sem pré-aquecimento do ar. As principais conclusões foram as seguintes:

Figura 2.16 – Imagens do processo de combustão para diferente condições (Arghode et al., 2012).

22

• Ao contrário do que inicialmente foi enunciado por Wünning (1997) foi possível estabelecer o

regime sem pré-aquecimento do ar.

• Para uma variação de 500 ºC na temperatura de pré-aquecimento do ar foi obtido um

aumento da temperatura no interior da câmara de apenas 9% e a concentração de NOx

aumentou entre 18% e 34%.

Sánchez et al. (2013) estudaram o efeito do enriquecimento de oxigénio em um queimador

recuperativo operando em regimes de combustão convencional e sem chama visível. Os testes foram

realizados com concentrações de oxigénio no oxidante variando entre 21% e 35% O2. Foi utilizado

gás natural como combustível, com uma carga térmica de 20 kW, e coeficiente de excessos de ar

entre 1,12 e 1,2. As principais conclusões foram as seguintes:

• O enrequecimento do ar de combustão até 35% em O2 originou um aumento na temperatura

máxima de combustão de apenas 60 ºC (ver Figura 2.17); e um aumento da zona de reação.

• A concentração de oxigénio na zona de reação foi sempre inferior a 8%, independemente da

concentração de oxigénio no oxidante.

• As emissões de CO e NOx foram sempre inferiores a 25 ppm e 5 ppm, respetivamente.

Recentemente, Ahmed et al. (2014) estudaram o efeito da configuração da exaustão no processo de

combustão e nas emissões de poluentes. As configurações são caracterizadas pela presença de um

Figura 2.17 – Temperatura experimental no plano central do queimador (ºC): (a) 21% O2, (b) 25% O2, (c) 30% O2, (d) 35% O2, (e) 21% O2 chama convencional (Sánchez et al., 2013).

23

vortice, ou não, na região central da câmara de combustão. A configuração “AT” possui o tubo de

escape posicionado axialmente e ligeiramente para dentro da câmara. Esta configuração permite criar

um vortice na região central. A configuração sem vortice é a configuração “N” (ver Figura 2.18). Os

autores utilizaram técnicas opticas para medir a quimiluminescência do radical OH* e concluíram o

seguinte:

• A presença do vortice provocou drásticas mudanças no campo de velocidades no interior da

câmara de combustão (ver Figura 2.18). As elevadas velocidades na região central exibidas

na configuração “AT” evitaram a fixação da chama (ver Figura 2.19).

• A presença do vortice na configuração “AT” foi responsável pela redução das emissões de

NOx em 33% das emissões de CO em 66%. Este efeito foi provocado pelo aumento da taxa

de recirculação de 0,4, obtido na configuração “N”, para 1,25 obtido na configuração “AT”.

• O aumento da taxa de recirculação na configuração “AT” foi responsável pelo aumento da

zona de reação no interior da câmara. A Figura 2.20 mostra a quimiluminescencia do radical

OH* para as duas configurações.

Figura 2.18 – Vetores de velocidades coloridos por magnitude (m/s). Imagem da esquerda representa a configuração “N” e a imagem da direita a configuração “AT” (Ahmed et al., 2014).

24

Zhenjun et al. (2012) estudaram o efeito da adição de CO2 no tempo de atraso à ignição no regime de

combustão sem chama visível. O aumento da concentração de CO2 levou a um aumento no tempo de

atraso à ignição. As principais razões para este resultado foram, de acordo com os autores, (i) o

aumento da concentração de CO2 tem efeito no calor específico e nas propriedades de transporte da

mistura, e (ii) o efeito químico associado ao aumento da concentração de CO2 – a presença de CO2

diminui a taxa de oxidação do combustível.

A câmara de combustão do presente trabalho foi alvo de estudos anteriores realizados por Melo et al.

(2010). Foi caracterizado o funcionamento da câmara de combustão em termos de temperaturas e

concentracão de espécies químicas. Os ensaios foram realizados para diferentes cargas térmicas,

entre 10 kW e 21,5 kW. O combustível utilizado foi o metano. A Figura 2.21 apresenta as medidas de

temperatura e concentrações de espécies químicas no interior da câmara para a condição de 21,5

kW. As principais conclusçoes do trabalho foram as seguintes:

Figura 2.19 – Interior da câmara de combustão para as configurações “N” (imagem da esquerda) e “AT” (imagem da direita) (Ahmed et al., 2014).

Figura 2.20 - Quimiluminescência do radical OH* para as configurações “N” e “AT” (Ahmed et al., 2014).

25

• As emissões de NOx foram sempre inferiores a 11 ppm @15% O2. É interessante observar

que nas regiões no interior da câmara onde a temperatura é relativamente elevada tem-se

que a concentração de oxigénio é bastante reduzida. Este facto ajuda a suprimir a formação

de NO via mecanismo térmico.

• As emissões de CO e HC eram relativamente elevadas, em média 925 ppm @15%O2 para as

emissões de CO e 185 ppm @15%O2 para as emissões de HC. Estes valores relativamente

elevados devem-se ao reduzido tempo de residência dos reagentes no interior da câmara de

combustão.

Ainda na presente câmara, Quaresma (2010) estudou o efeito da composição do combustível no

desempenho daquela. O combustível era uma mistura entre CH4, H2 e CO2. A gama da concentração

de cada constituinte do combustível no conjunto de misturas estudadas foram: 39,2 a 100% de CH4, 0

a 43,3% de H2 e 0 a 17,5% de CO2. Para todas as misturas de combustíveis estabelecidas manteve-

se a carga térmica constante (4 kW). Foram estudados casos em que o combustível era inserido com

Figura 2. 21 – Representação da temperatura e das concentrações de O2, CO, CO2, HC e NOx no plano de simetria da câmara de combustão. φ = 0,28; Tair = 425 K. (Melo, 2010).

26

e sem pré-mistura em condições de ultra lean combustion. As principais conclusões deste trabalho

foram:

• Para a vasta gama de condições estudadas verificou-se que as emissões de NOx foram

sempre inferiores a 30 ppm@ 15% O2 e a eficiência global de combustão sempre superior a

97%.

• A adição de pequenas quantidades de hidrogénio ou de dióxido de carbono à mistura de

combustível combinada com a aplicação de pré-mistura parcial ao combustível, ao invés da

operação com chamas de difusão puras, é benéfica para o desempenho da presente câmara

de combustão dado que promove a diminuição das emissões de NOx mantendo, ou

aumentando, os níveis da eficiência de combustão.

• A aplicação de pré-mistura parcial à mistura de combustível alarga a zona de operação da

câmara de combustão onde o seu desempenho é o mais apropriado (emissões de

NOx.inferiores a.10.ppm@15% O2 e eficiências de combustão superiores a..99,5%).

• O aumento da velocidade de entrada do ar de combustão na câmara de combustão reduz as

emissões de NOx, presumivelmente devido ao aumento da taxa de recirculação interna

provocada pelo aumento da velocidade do ar, mas, no entanto, não altera a eficiência global

de combustão, a qual permanece elevada.

A revisão bibliográfica revela que o efeito da concentração de vapor de água no oxidante no regime

de combustão sem chama visível não foi praticamente objecto de nenhum estudo. Em sistemas com

combustão convencional, Richard et al. (2003) realizaram um estudo sobre a adição de vapor de

água e azoto em uma chama livre estabelecida em uma placa pré-aquecida. A Figura 2.22 apresenta

a distribuição da temperatura ao longo do eixo da placa para as diferentes condições de estudo. As

principais conclusões obtidas deste trabalho foram:

• O vapor de água atua como um diluente inerte e como um poço de energia. A temperatura

máxima obtida é menor para a situação em que há adição de vapor de água relativamente a

situação com ausência de adição.

• A adição de azoto e vapor de água reduzem as emissões de CO, sendo esta redução mais

significativa quando se adiciona vapor de água.

Kobayashi et al. (2009) estudaram o efeito da adição de vapor de água a uma câmara a operar no

regime de combustão HiTAC (High Temperature Air Combustion). O estudo foi realizado na gama de

pressão entre 0,1 a 1 MPa. Para as condições atmosféricas não se observaram alterações

significativas nas emissões de CO. Verificou-se uma redução das emissões de NOx, via mecanismo

térmico, devido ao arrefecimento da chama com a adição de vapor de água.

O presente trabalho pretende preencher a lacuna que atualmente existe na literatura em relação aos

efeitos da adição de vapor de água no regime de combustão sem chama visível. Pretende-se também

verificar o efeito da diluição da concentração de O2 no oxidante conciliado com a presença de vapor

de água.

27

Figura 2. 22 – Distribuição da temperatura ao longo do eixo da placa para as condições sem adição, com adição de vapor de água e com adição de azoto.

28

3. Instalação e Técnicas Experimentais

3.1. Instalação experimental

A Figura 3.1 mostra fotografias do pleno (lado esquerdo) onde se encontra instalada a câmara de

combustão e da própria câmara de combustão (lado direito). O pleno é utilizado para proteger a

câmara de combustão e possui duas janelas de quartzo através das quais é possível visualizar o

interior da câmara de combustão. O ar primário é injetado através dos dois orifícios colineares

situados na parte superior do pleno. Os gases de escape deixam o pleno através da parte superior do

pleno. A base do pleno é desmontável para possibilitar o acesso ao interior do pleno.

As fotografias do lado direito da Figura 3.1 mostram uma fotografia da câmara de combustão com as

janelas de quartzo montadas (baixo) e uma fotografia da câmara de combustão (topo). Na fotografia

debaixo é possível observar três tubos conectados à câmara de combustão, um na parte superior e

os outros dois na parte lateral. O tubo localizado na parte superior é utilizado para injetar por forma a

manter limpas as janelas de quartzo. Os tubos localizados na parte lateral da câmara de combustão

são usados para injetar o ar secundário e o combustível na câmara.

A Figura 3.2 mostra fotografias de toda a instalação experimental, na qual é possível observar o pleno

revestido com manta cerâmica de lã de vidro e papel alumínio. Na fotografia da direita da Figura 3.2 é

possível observar a entrada da conduta para a alimentação do ar primário ao pleno e posteriormente

Figura 3.1 – Fotografias do pleno (lado esquerdo) onde se encontra instalada a câmara de combustão e a câmara de combustão (lado direito).

29

à câmara de combustão no inferior do pleno. Na fotografia da esquerda da Figura 3.2 é possível

observar a conduta de exaustão e a sonda utilizada para a recolha de gases de combustão para

determinação das emissões gasosos.

A Figura 3.3 mostra esquematicamente a instalação experimental. O sistema de alimentação é

constituído pelo ar secundário, inserido diretamente na zona de reação à temperatura ambiente, e

pelo oxidante primário constituído por O2, N2 e H2O. O oxidante primário entra no pleno à temperatura

de 200 °C, onde é controlada através do painel de controlo do pré-aquecedor. Um segundo termopar

do tipo K é utilizado para medir a temperatura do oxidante no interior do pleno, antes da sua entrada

na câmara de combustão. Finalmente, existe um terceiro termopar do tipo K localizado na conduta de

exaustão da câmara de combustão para medir a temperatura dos gases de escape. A saída do CEM

foi montada após o pré-aquecedor para evitar que o azoto húmido entrasse em contacto com o ar frio,

evitando assim a possibilidade de ocorrer condensação.

Figura 3.2 – Instalação com todos os componentes montados.

30

O ar necessário para os ensaios é fornecido a partir de um compressor (10 bar). A Figura 3.4 mostra

fotografias dos rotâmetros utilizados na monitoração do caudal de ar. O rotâmetro de maior

dimensão, com capacidade de 300 L/min, foi utilizado para medição do ar injetado no oxidante

primário, e o rotâmetro de menor dimensão, com capacidade de 100 L/min, foi utilizado para medição

do caudal de ar secundário. Os caudais de metano, azoto e água foram medidos com o auxílio do

caudalimetros mostrados na Figura 3.4. A Tabela 3.1 mostra as características dos medidores de

caudal utilizados.

Figura 3.3 – Esquema da instalação experimental.

Analisador O2 Analisador CO e CO2Analisador NOx

Tg

Tox

Analisador HC

Silica gel Filtro

Algodão

Combustível, GNPré-aquecedor

Oxidante

Termopar KTermopar K

Sonda

Condensador

Água

Água

Ar primário

Ar secundário

Orifíciocalibrado

Garrafasde calibração

Bomba de diafragma

CEM

H2O

N2

Água dearrefecimento

12 bit A/D

31

Figura 3.4 – Rotâmetros (esquerda) utilizados para medição dos caudais de ar e caudalímetros (direita) para medição dos caudais de metano, azoto e água.

Tabela 3.1 – Características dos medidores de caudal utilizados.

Equipamento Figura Marca-Modelo Gama de Operação Incerteza

Caudalimetro

metano

3.4 OMEGA FMA-

A2317

0 – 50 SLM +/- 4%

Rotâmetro ar

primário

3.4 Fischer & Porter

10A1197

0 – 300 NL/min +/- 2%

Rotâmetro ar

secundário

3.4 Fischer & Porter 0 – 92 NL/min +/- 2%

Caudalimetro

azoto

3.4 EL-FLOW F-211AV

(cor vermelho)

0,4 – 100 NL/min +/- 0,5%

Caudalimetro

água

3.4 LIQUI-FLOW

L23V12 (cor azul)

20 – 1200 g/h +/- 1%

32

Para diluir o ar primário e adicionar vapor de água à sua composição foi utilizado um misturador da

Bronkhorst designado por CEM (Controlled Evaporation and Mixing) mostrado na Figura 3.5. O

sistema CEM é constituído de um controlador de caudal mássico calibrado para água, um controlador

de caudal mássico calibrado para azoto e um dispositivo de evaporação e mistura com temperatura

controlável. O sistema CEM permite obter caudais de água entre 0,25 g/h e 1200 g/h. À saída do

CEM obtém-se azoto humidificado com a quantidade de água desejada em função da quantidade de

caudal de azoto introduzida no dispositivo. A Figura 3.6 mostra a quantidade de água introduzida em

função do caudal de azoto utilizado à temperatura de 200 °C. O sistema CEM é controlado através de

um programa de computador no qual é possível definir os caudais de água e azoto e também a

temperatura utilizada no processo. Foi utilizado azoto de garrafas com um grau de pureza superior a

99,8%.

Figura 3.5 – Sistema (CEM) utilizado para injetar vapor de água no oxidante.

33

O oxidante primário é constituído pelo ar primário diluído com o azoto humidificado que sai do CEM à

temperatura de 200 ºC. Para evitar que a água condense quando entra em contato com o ar à

temperatura ambiente foi utilizado um sistema de aquecimento para aumentar a temperatura do ar

antes da mistura com o azoto húmido. A Figura 3.7 mostra o pré-aquecedor de ar utilizado, composto

por resistências elétricas da Osram Sylvania, modelo SureHeat Max 30 kW. O sistema de

aquecimento possui cinco serpentinas constituídas por elementos triangulares de aquecimento,

fabricadas com fios de resistência Níquel-Cromo, inseridos em cinco tubos cerâmicos, por onde o ar

se escoa. As temperaturas são monitorizadas por termopares do tipo K, com tempo de resposta de 2

ms, localizados à entrada e à saída do pré-aquecedor, e controladas por meio de um circuito digital.

O pré-aquecedor tem a capacidade máxima de pré-aquecer 2045 NL/min de ar à temperatura de 760

°C e à pressão de 4 bar. O pré-aquecedor encontra-se posicionado à entrada do tubo de admissão de

para o pleno, antes da ligação com o fluido que vem do sistema CEM – ver Figura 3.3.

Figura 3.6 – Quantidade de água introduzida em função da quantidade de azoto à temperatura de 200 ºC.

34

Para o sistema de ignição foi utilizado um par de elétrodos modelo 01-FAG-060. O aparelho utilizado

para provocar a descarga elétrica foi um Satronic ZT 930, 2x7 kV. A Figura 3.8 apresenta os

principais componentes do sistema de ignição.

3.2. Câmara de Combustão

A Figura 3.9 mostra um esquema da câmara de combustão, no qual é identificar as entradas dos

oxidantes e combustível. O oxidante primário é constituído por uma mistura composta por ar e azoto

húmido. As entradas do oxidante primário são constituídas por 14 furos de 4 mm de diâmetro

espaçados de 6,5 mm e dispostos de forma faseada, como se pode observar na Figura 3.10. A

entrada de ar secundário possui 19 furos de 1 mm de diâmetro, espaçados de 2 mm. A injeção de

combustível para o interior da câmara é feita através de 15 furos de 1 mm de diâmetro, espaçados de

2 mm. A Figura 3.11 apresenta um esquema da câmara de combustão, com todas as dimensões

relevantes.

Figura 3.7 – Pré-aquecedor de ar (à esquerda) e o seu painel de controlo (à direita).

Figura 3.8 – Equipamentos utilizados no sistema de ignição.

35

Figura 3.9 – Câmara de combustão em perspetiva.

Figura 3.10 – Geometria utilizada na câmara de combustão para a injeção do oxidante primário.

Figura 3.11 – Esquema da câmara de combustão, com todas as dimensões relevantes.

Oxidant

194

R18

0

Left inlet

Secondary air

Right inletR35

ø4

ø4

Exhaust

Fuel

R4

0

20

164

130

r

θz

120o

45o

20o

210o

36

3.3. Operação e Procedimento Experimental

O funcionamento do sistema inicia-se com a abertura da valvula de gás, seguida da descarga elétrica

para o estabelecimento da ignição. Devido às perdas de carga presentes na linha de injeção de gás

apenas é possível introduzir 0,46 m3/h na câmara de combustão quando a válvula de corte se

encontra completamente aberta (o correspondente a aproximadamente 5 kW). Abre-se

completamente a válvula de corte e liga-se o pré-aquecedor para uma temperatura de trabalho de

200 ºC. Em geral o tempo de espera para que no interior do pleno a atmosfera possua uma

temperatura de 300 ºC é de aproximadamente 5 horas. A Figura 3.12 mostra uma fotografia do

aspeto inicial da chama, sem ar secundário e azoto húmido, e a Figura 3.13 uma fotografia da chama

após a introdução do ar secundário, onde é possível observar o estabelecimento de um vórtice

central.

Após o pré-aquecimento da câmara de combustão estabelecem-se os caudais de combustível e ar

primário (sem o azoto húmido), de acordo com a condição de teste. Nas condições da Figura 3.13,

liga-se o dispositivo CEM, iniciando-se a introdução de azoto húmido. Ao fim de cerca de 1 hora após

a introdução do azoto húmido estabelece-se o regime de combustão sem chama visível, como

mostrado na imagem da direita da Figura 3.14. Na imagem da esquerda da Figura 3.14 ainda se

observa uma ligeira zona azul, imediatamente antes de se atingir o regime de combustão sem chama

visível.

Figura 3.12 – Fotografia da chama inicial, sem ar secundário.

37

3.4. Técnicas Experimentais

3.4.1. Concentrações das Espécies Químicas

A Figura 3.15 mostra um esquema da sonda usada para realizar a amostragem dos gases de

exaustão. A sonda foi fabricada em aço inoxidável, sendo constituída por três tubos concêntricos: o

tubo interior destina-se à recolha dos gases de exaustão e os outros dois são utilizados para o

congelamento da amostra e arrefecimento da sonda com água. O material da linha de recolha do

sistema de amostragem é politetrafluoretileno, o qual é quimicamente inerte. A linha é aquecida por

intermédio de uma resistência elétrica de forma a manter amostra acima de 110 °C e evitar a

condensação do vapor de água na linha, eliminando assim a possibilidade de dissolução de algumas

espécies químicas, em particular NO2, em água. No decurso das medidas, a sonda foi posicionada na

zona central na conduta de exaustão.

Figura 3.14 - Aspeto visual do regime sem chama visível. A imagem da esquerda indica o momento que precede o estabelecimento do regime.

Figura 3.13 – Aspeto da chama após a introdução do ar secundário.

38

O sistema de amostragem, associada à sonda, é constituído por um condensador, um secador e um

filtro. O condensador e o secador permitem a eliminação do vapor de água contido na amostra,

enquanto o filtro se destina a eliminar eventuais partículas presentes nos gases, resultantes do

processo de combustão e recolhidas durante o processo de recolha da amostra. Uma bomba de

diafragma promove a aspiração da amostra através do sistema de amostragem. Assim, o sistema de

amostragem permite o envio de uma amostra seca e limpa aos analisadores, onde as concentrações

das principais espécies químicas são medidas em base seca. A Tabela 3.2 lista as principais

características dos analisadores usados neste trabalho.

Tabela 3. 2 – Característica dos analisadores utilizados.

Antes e após cada sessão experimental os analisadores eram devidamente calibrados. Inicialmente

os valores de concentração de O2, CO, CO2, HC e NOx eram ajustados a zero, fazendo passar azoto

puro através dos analisadores. Em seguida, a concentração de O2 era ajustada de acordo com a

respectiva percentagem no ar atmosférico (20,9% em volume). Para as restantes espécies fazia-se

passar através dos analisadores misturas padrão de CO, CO2, HC e NOx em azoto. A Tabela 3.3

apresenta as misturas padrão utilizadas na calibração dos analisadores.

Espécie Marca/Modelo Método de Análise Gama de medida

O2 Horiba PG – 250 Célula Galvânica 0 – 25% vol

CO2 Horiba PG – 250 Não dispersivo de infravermelhos 0 – 15% vol

CO Horiba PG – 250 Não dispersivo de infravermelhos 0 – 1000/5000 ppm

NOx Horiba PG – 250 Quimiluminiscência 0 – 100 ppm

HC Amluk FID E 2020 Detecção por ionização de chama 0 – 1000/10000 ppm

Figura 3. 15 – Esquema da sonda usada para a recolha de gases de exaustão.

39

Tabela 3. 3 – Misturas padrão utilizadas na calibração dos analisadores.

O tempo de aquisição para amostragem foi escolhido tendo em conta a variação dos sinais contínuos

enviados à placa de aquisição. Assim, no presente trabalho, a aquisição dos dados iniciava-se a partir

do momento em que as concentrações das espécies químicas estabilizavam, e durava 60 s. A

frequência de aquisição é de 100 Hz. Durante o tempo de aquisição de dados os sinais analógicos

provenientes dos analisadores eram conduzidos a uma placa de aquisição (Data Translation DT

9802), onde eram convertidos em sinais digitais. A partir desta placa os valores médios eram

calculados por intermédio de um software dedicado (HP VEE-LAB v.5.0.2), instalado num

computador.

3.4.2. Temperatura

Para as medidas de temperatura no interior do pleno e na exaustão da câmara de combustão foram

utilizados dois termopares do tipo K. Este tipo de termopares apresenta uma elevada estabilidade nas

medições e uma incerteza experimental de ±3 ºC ou 0,75% do valor medido. A gama de temperatura

medidas neste trabalho variou entre a temperatura ambiente e cerca de 350 ºC. Os termopares são

revestidos a aço inoxidável, com diâmetro de 3 mm, de modo a garantir suficiente robustez.

3.4.3. Incerteza dos resultados

Concentrações das Espécies Químicas

A precisão das medidas das espécies químicas recorrendo a métodos intrusivos, como os utilizados

neste trabalho, é condicionada pelos seguintes fatores: (a) perturbações aerodinâmicas introduzidas

pela sonda e erros associados a amostragem não isocinética, (b) eficiência de congelamento das

reações químicas à entrada da sonda, e (c) dissolução de certas espécies gasosas em água. Como

as medidas das espécies foram efetuadas apenas na exaustão da câmara, somente a eficiência de

congelamento das reações químicas e a dissolução de certas espécies gasosas em água poderiam

ter introduzido alguma incerteza nos resultados.

Espécie Concentração

O2 0; 20,9%

CO2 0; 12%

CO 0; 100 ppm

NOx 0; 150 ppm

HC 0; 80 ppm (C3H8)

40

Nas sondas de amostragem como a da Figura 3.15, o congelamento das reações químicas na

amostra imediatamente a jusante do orifício de aspiração é um requisito fundamental para a obtenção

de medidas fiáveis. As sondas de arrefecimento convectivo indireto, como a utilizada no presente

trabalho, devem proporcionar um arrefecimento brusco da amostra para assegurarem o

congelamento eficaz das reações químicas dos gases que constituem a amostra. O arrefecimento é

proporcionado pelo contato da amostra com a própria sonda. Dado que a temperatura dos gases de

exaustão esteve sempre abaixo de 400 °C, o arrefecimento brusco passa ter um caráter secundário,

visto que a esta temperatura quase todas reações foram suprimidas. O fato das concentrações

medidas se revelarem independentes da velocidade de aspiração indica que o arrefecimento foi

adequado. Foi verificado também que, independentemente do caudal de água utilizado para arrefecer

a sonda, o valor das concentrações permaneceram semelhantes.

O contato da amostra com água ao longo do sistema de amostragem, nomeadamente no

condensador, favorece a possibilidade de dissolução de certas espécies químicas gasosas na água,

especialmente NO2, como foi referido anteriormente. Os erros estudados por este fenómeno foram

estudados por Costa et al. (1996) e considerados desprezáveis para condições semelhantes às do

presente trabalho.

Temperatura

A precisão das medidas de temperatura é fundamentalmente condicionada pelos erros associados à

transferência de calor por condução e radiação. Os erros sistemáticos devido à condução de calor

através dos fios dos termopares ocorrem se estes estiverem expostos a um gradiente de

temperatura, que pode ser originado pela proximidade da junção do termopar com o suporte dos fios.

Tal não se verificou, e, como tal, os erros associados às perdas de calor por condução foram aqui

desprezáveis. Os erros associados à transferência de calor por radiação entre a junção do termopar e

o meio envolvente são superiores à transferência por condução. Todavia, uma vez que a temperatura

máxima medida foi inferior a 400 °C e o diâmetro do revestimento é reduzido (3 mm), também as

perdas por radiação foram minimizadas. Assim, conclui-se que a incerteza associada à medição de

temperaturas neste trabalho foram essencialmente aquelas associadas ao erro do termopar referido

acima, isto é, ±3 ºC ou 0,75% do valor medido.

41

4. Apresentação e Discussão dos Resultados

4.1. Princípios de Funcionamento da Câmara de Combustão

O princípio de operação da presente câmara baseia-se no estabelecimento de uma região com

elevadas taxas de recirculação, no interior da câmara de combustão, onde parte do oxidante se

mistura com os produtos de combustão, tal como idealizado por Levy et al. (2004). A Figura 4.1 ilustra

esquematicamente a aerodinâmica interna da presente câmara de combustão. A Figura 4.1a mostra

a secção longitudinal da câmara de combustão anular, contendo duas secções com orifícios

circulares destinados à entrada do ar, circunferencialmente distribuídos ao longo da parede exterior

da câmara, e uma linha de injetores de combustível, montado na sua parede interna; e a Figura 4.1b

mostra de forma esquemática o padrão do escoamento na câmara de combustão, permitindo assim

uma melhor perceção do escoamento e do seu princípio de funcionamento. O contorno da câmara de

combustão e a orientação das entradas de ar e de combustível proporcionam a criação de um vórtice,

permitindo assim misturar os produtos da combustão com o caudal de ar fresco, antes do local da

injeção do combustível. Como foi referido, a presente câmara de combustão recorre a elevadas taxas

de recirculação internas dos produtos de combustão com a finalidade de manter as temperaturas no

seu interior moderadas e relativamente uniformes e, assim, inibir principalmente a formação de NO

térmico.

De acordo com a Figura 4.1b, o oxidante entra pela junção 1 onde é dividido em duas partes: ar de

combustão e ar de diluição. O ar de combustão mistura-se com os produtos da combustão na junção

2. O combustível é, entretanto, injetado no ponto 3 e mistura-se com o ar de combustão e com os

produtos de combustão (ar viciado). Após a mistura estar completa, inicia-se o processo de

combustão (entre 3 e 4). Na junção 4, uma parte dos produtos da combustão retorna à zona de

combustão (junção 2) e a restante parte mistura-se com o ar de diluição (junção 5), saindo a mistura

da câmara de combustão através da zona de exaustão (ponto 6).

Nas circunstâncias acima referidas, o funcionamento da câmara de combustão é largamente

determinado pela taxa de recirculação interna no escoamento, o que determina em grande parte as

emissões de NOx e a eficiência de combustão. É ainda importante salientar que os valores de Kv

obtidos por Melo (2008) na presente câmara variam entre 0,4 e 1.

42

4.2. Condições Experimentais

Os testes foram realizados utilizando gás natural como combustível. Para todas as condições

manteve-se a carga térmica de combustível constante e igual a 4 kW. O estudo foi realizado variando

os seguintes parâmetros enquanto os restantes mantiveram-se constante:

• Excesso de ar (λ): 1,2; 1,4; 1,6 e 1,8;

• Concentração de vapor de água no oxidante: 0, 4%, 6% e 8%;

• Concentração de oxigénio no oxidante: 21%, 18%, 16% e 14%;

No total foi examinadas 52 condições distintas obtidas pela combinação dos parâmetros acima. Os

Anexos 7.1 e 7.2 apresentam a metodologia seguida para os cálculos das condições de teste. A

Tabela 4.1 apresenta de forma compacta as condições experimentais, a eficiência da combustão

calculada (ver Anexo 7.3) e as emissões de poluentes medidas neste trabalho. Refira-se que o Anexo

Figura 4.1 – Representação da aerodinâmica interna da câmara de combustão. a) Secção longitudinal da câmara de combustão anular, b) processo de funcionamento da presente câmara de combustão tal como idealizado por Levy et al. (2004).

43

7.4 apresenta fotografias dos modos de combustão para as diferentes condições de testes

estudadas.

λ % H2O % O2 ���� �%��%��%��%� CO (ppm)* NOx (ppm)*

1,2 0 - 8 14 - 21 99,81 - 99,97 21,7 - 99,5 0,3 - 7,5

1,4 0 - 8 14 - 21 99,96 - 99,98 14,2 - 22,6 2,4 - 9,7

1,6 0 - 8 14 - 21 99,92 - 99,97 14,8 - 21,0 1,5 - 9,7

1,8 0 - 8 14 - 21 99,90 - 99,97 16,1 - 20,9 1,6 - 9,8

Tabela 4.1 – Condições experimentais, eficiência da combustão calculada e as emissões de

poluentes medidas. * Emissões corrigidas para 15% de O2.

4.3. Efeitos das Condições de Operação da Câmara nas Emissões de

CO

A Figura 4.2 apresenta a evolução das emissões de CO em função do coeficiente de excesso de ar

para diferentes concentrações de vapor de água e oxigénio no oxidante. Os gráficos revelam que a

evolução do CO em função do excesso de ar, independentemente da concentração de oxigénio ou

vapor de água no oxidante, possui a mesma forma, ou seja, elevadas concentrações de CO para

valores de λ próximos da estequiometria e independentes do excesso de ar para valores de λ

superiores a 1,4. Nestes casos a concentração de CO apresenta um patamar de emissão próximo de

20 ppm@15% de O2.

Pelo facto de a câmara de combustão ter sido projetada para obter elevadas taxas de recirculação,

quando esta funciona com baixos valores de λ, por exemplo 1,2, é possível obter no interior da zona

de recirculação regiões onde a concentração de oxigénio é muito baixa o que inibe a oxidação de CO.

Resultados semelhantes foram obtidos por outros autores, incluindo Szegö et al. (2009), Veríssimo et

al. (2011), Arghode & Gupta (2011) e Arghode et al. (2012).

Para uma dada concentração de água no oxidante é possível observar que quanto menor a

concentração de oxigénio no oxidante, maior é a emissão de CO. Esta tendência era esperada pela

mesma razão apresentada acima. Para valores de λ acima de 1,4 não existe nenhuma diferença nas

emissões de CO entre as diferentes concentrações de oxigénio no oxidante, o que significa que para

estes casos, a zona de reação possui quantidades suficientes de oxigénio para oxidar quase todo o

CO em CO2.

Na realidade, é possível observar na Figura 4.2 que à medida que se aumenta a concentração de

vapor de água no oxidante as emissões de CO, para baixos valores de λ, também aumentam. Este

44

efeito não pode ser explicado por variações na temperatura. A temperatura adiabática é mais sensível

ao aumento do coeficiente de excesso de ar e, no entanto, é possível notar que ao aumentar o

excesso de ar não existem grandes variações nas emissões de CO para além de 1,4. Isto sugere que

para as condições de operação estudadas o impacto da variação da temperatura nas emissões de

CO é marginal. O efeito da adição de vapor de água é mais proeminente em condições de escassez

de oxigénio na zona de reação devido ao elevado grau de recirculação intrínseco à geometria da

câmara. Porém, o mesmo não acontece quando se substitui vapor de água por azoto, que atua como

inerte. Disto é possível concluir que, para condições com pouco excesso de ar, o vapor de água deve

ser quimicamente ativo para explicar o fenómeno observado.

No estudo realizado por Richard et al. (2003) foi observado que a adição de água na forma de spray

na zona da chama reduz as emissões de CO devido a importânica da reação (2.3), a qual aumenta a

quantidade de radicais hidroxilos na zona de reação. Este aumento favorece a oxidação do CO

devido a reação (2.2). A reação (2.2) é a reação mais relevante na oxidação do CO para CO2.

O aumento das emissões de CO com a adição de vapor de água pode ser explicado através da

redução da taxa de reação da reação (2.2). Esta redução acontece por duas razões. Em primeiro

lugar, para excessos de ar inferiores a 40% obtém-se regiões no interior da zona de reação com

reduzidas concentrações de oxigénio. Esta escassez de oxigénio reduz a taxa de reação da seguinte

reação:

H + O → OH

(4.1)

Dado que a reação (2.3) é uma reação global das reações elementares (4.1) e

H�O → H + OH

(4.2)

tem-se que a formação de radicais hidroxilos deixa de ser de segunda ordem para passar a ser de

primeira ordem devido somente à reação (4.1). Em segundo lugar, as elevadas taxas de recirculação

presentes nesta câmara de combustão deverão originar elevadas concentrações de CO2 na zona de

reação em relação à situação da chama de difusão apresentada por Richard et al. (2003), e, como a

reação (4.2) não tem um papel importante, para condições que proporcionem defice de oxigenio no

interior da câmara há um aumento na concentração de radicais H. Em equilibrio, a presença de

maiores quantidades de CO2 e H aumentam a taxa de reação inversa da reação (2.2), o que se

manifesta numa redução da taxa de oxidação do CO.

45

4.4. Efeitos das Condições de Operação da Câmara nas Emissões de

NOx

A Figura 4.2 mostra a evolução das emissões de NOx em função do coeficiente de excesso de ar para

diferentes condições de concentração de vapor de água e oxigénio no oxidante. Para uma dada

concentração de vapor de água e oxigénio é possível notar que as emissões de NOx aumentam para

valores de λ entre 1,2 e 1,4 e depois estabilizam. Esta tendência está de acordo com os resultados

obtidos por outros autores, Verissímo et al. (2011), Szegö et al. (2009) e Arghode et al. (2011).

Os resultados obtidos por Melo (2008) na presente câmara de combustão mostraram que a

temperatura máxima obtida no interior da câmara foi de 1850 K, em regiões onde a concentração de

O2 está entre 0 – 1%. Os resultados de temperaturas medidos por Melo (2008) são representativos

das temperaturas obtidas no interior do reator para as condições atuais, os quais sugerem que a

formação de NO via mecanismo térmico é fortemente suprimida.

Para uma dada concentração de vapor de água tem-se que à medida que se aumenta a

concentração de oxigénio no oxidante maior é a emissão de NOx. Este resultado é esperado devido à

influência do oxigénio na formação do NOx. Para uma dada concentração de oxigénio no oxidante

tem-se que um aumento na concentração de vapor de água resulta em uma diminuição na

concentração de NOx. Tal como foi explicado anteriormente, a variação de temperatura não possui

um impacto significativo, portanto a diminuição da concentração de NOx deve-se não à variação da

temperatura, mas antes ao facto de que ao aumentar a concentração de vapor de água no oxidante

ser necessário diminuir a concentração de azoto na mesma proporção. Devido à dependência do

azoto na formação do NOx é expectável que as emissões de NOx diminuam com a diminuição da

quantidade de azoto na zona de reação.

46

NO

x (

pp

m@

15%

O2)

CO

(p

pm

@1

5%O

2)

CO

(p

pm

@1

5%O

2)

CO

(p

pm

@1

5%O

2)

CO

(p

pm

@1

5%O

2)

NO

x (

pp

m@

15%

O2)

NO

x (

pp

m@

15%

O2)

NO

x (

pp

m@

15%

O2)

0

20

40

60

80

100

120

0

20

40

60

80

100

120

0

20

40

60

80

100

120

0

20

40

60

80

100

120

0

2

4

6

8

10

12

0

2

4

6

8

10

12

0

2

4

6

8

10

12

0

2

4

6

8

10

12

1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2

1 1.2 1.4 1.6 1.8 21 1.2 1.4 1.6 1.8 2

1 1.2 1.4 1.6 1.8 21 1.2 1.4 1.6 1.8 2

1 1.2 1.4 1.6 1.8 2

λ λ1 1.2 1.4 1.6 1.8 2

18%O2

16%O2

14%O2

18%O2

16%O2

14%O2

21%O2

18%O2

16%O2

14%O2

18%O2 16%O214%O2 21%O2

CO vs lambda (%H2O = 8)

CO vs lambda (%H2O = 6)

CO vs lambda (%H2O = 4)

CO vs lambda (%H2O = 0)

NOx vs lambda (%H2O = 8)

NOx vs lambda (%H2O = 6)

NOx vs lambda (%H2O = 4)

NOx vs lambda (%H2O = 0)

Figura 4.2 – Evolução das emissões de CO e NOx com o excesso de ar (λ) para diferentes concentrações de H2O e oxigénio no oxidante.

47

4.5. Eficiência da Combustão

A Figura 4.3 apresenta os valores das emissões de NOx corrigidas a 15 % O2 em função da eficiência

da combustão. A eficiência foi calculada com recurso à equação presente no Anexo 7.3. Este gráfico

indica o “preço” em termos de eficiência que se “paga” para reduzir a emissão de NOx. Pode-se notar

que à medida que a eficiência da combustão aumenta, as emissões de NOx também aumentam.

A Figura 4.3 inclui os resultados obtidos por Quaresma (2010) em conjunto com os resultados obtidos

neste trabalho. Quaresma (2010) trabalhou em regime de ultra lean combustion. Em contraste, os

dados atuais são retirados de medidas feitas utilizando o regime de combustão sem chama visível.

Pode-se verificar que as emissões de NOx obtidas no regime de combustão sem chama visível são,

em geral, menores do que as obtidas em ultra lean combustion e a eficiência de combustão é sempre

superior a 99,8%, enquanto no caso de ultra lean combustion se verificou que a eficiência tinha

valores de 97%.

O gráfico da Figura 4.3 em conjunto com os valores obtidos das emissões de CO são indicadores da

importância que o regime de combustão sem chama visível poderá ter no futuro no que diz respeito a

economia energética e baixas emissões de poluentes gasosos.

Figura 4. 3 – Relação entre NOx e eficiência de combustão para os regimes de combustão sem chama visível e ultra lean combustion.

Quaresma (2010)

Estudo Atual

NO

x (d

ry v

olu

me

pp

m @

15%

O2)

96,597,097,598,098,599,099,5100,00

5

10

15

20

25

30

35

η, Combustion efficiency [%]

48

5. Fecho

5.1. Conclusões

As principais conclusões deste estudo são:

1. A presente câmara opera seguramente em regime de combustão sem chama visível para um

largo conjunto de condições de operação.

2. Para elevados excessos de ar, as emissões de CO apresentam valores de cerca de 20

ppm@15% O2, enquanto as emissões de NOx são sempre inferiores a 10 ppm@15% O2.

3. A diluição do oxigénio no oxidante promoveu o aumento das emissões de CO para baixos

valores de excesso de ar. Para excessos de ar superiores a 40% não foi observado nenhum

efeito significativo nas emissões de CO com a diluição do oxigénio no oxidante.

4. O aumento da concentração de vapor de água no oxidante aumenta as emissões de CO,

particularmente no caso de baixos valores de excesso de ar. Para coeficientes de excesso de

ar superiores a 1,4 não foi observado nenhum efeito da adição de vapor de água nas

emissões de CO.

5. A redução da concentração de oxigénio no oxidante minimiza as emissões de NOx, enquanto

o aumento da concentração de vapor de água no oxidante origina menores emissões de NOx.

6. A presente câmara apresenta eficiências de combustão superiores a 99,8% para todas as

condições estudadas.

5.2. Sugestões para Trabalhos Futuros

Para melhor caracterizar o funcionamento da presente câmara de combustão é necessário

caracterizar os campos de temperatura e de concentração das espécies químicas gasosas no interior

da câmara de combustão. Para melhor compreender o efeito da diluição do oxigénio e da adição de

vapor água no oxidante é interessante realizar mais testes com diferentes cargas térmicas.

Seria também interessante realizar um estudo cinético, usando, por exemplo, o ChemKin, para

compreender melhor o efeito da presença de vapor de água no oxidante nos processos de formação

de CO e NOx na presente câmara de combustão.

49

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53

7. Anexos

7.1. Reação de Combustão de um Hidrocarboneto do Tipo CxHy

A reação química de um hidrocarboneto do tipo CxHy com um oxidante com proporções de O2, N2 e

H2O de X, Y e K, respectivamente, escreve-se da seguinte forma:

?@AB + �C + D4�E

F �FG� + HI� + JA�G�

→ C?G� + �D2 + KC + D

4L MEJF N�A�G + KC + D

4L EHF I� + �C + D

4��E − 1�G�

onde X, Y e K representam as percentagens da espécies químicas respetivas no oxidante. λ

representa o coeficiente de excesso de oxidante na reação.

7.2. Cálculo dos Caudais Utilizados nos Testes

Característica do combustível:

������ = �� ��������

Caudais de entrada:

�0.79I� + 0.21G�� + �I� + TA�G

A proporção desejada é um valor dado e é caracterizado pelos parâmetros X, Y e K.

Balanço O2:

F = 0.21 + � + T

Balanço N2:

H = 0.79 + � + � + T

Balanço H2O:

J = T + � + T

Balanço de massa à reação quimica:

+ � + T = 2.2685 ∗ ������ ∗ EF

54

Resolvendo este sistema encontra-se a seguinte solução para o problema:

T = JF ∗ 2.2685 ∗ ������ ∗ E

= 10.80 ∗ ������ ∗ E

� = 2.2685 ∗ ������ ∗ E M1F − J

F − 4.7619N

7.3. Cálculo da Eficiência da Combustão

A eficiência da combustão foi calculada de acordo com a seguinte equação (Quaresma,2010):

� = 1 − Y?Z[\Y?Z����

∗ ]Z[\ − Y?Z[^_Y?Z����

∗ ]Z [

7.4. Imagens do Regime de Combustão para Diferentes Condições

Figura 7.1 – Excesso de ar (λ) = 1,6 e %O2 = 14

55

Figura 7.2 – Excesso de ar (λ) = 1,8 e %O2 = 16

Figura 7.3 – Excesso de ar (λ) = 1,8 e % O2 = 18

56

Figura 7.4 – Excesso de ar (λ) = 1,4 e % O2 = 14