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Educação Matemática Financeira: Uma proposta de desenvolvimento
com alunos do Ensino Fundamental na perspectiva ambiental
Haroldo Aleixo de Lima Junior 1
Educação Matemática Financeira com alunos do Ensino Fundamental.
Este projeto de pesquisa visa analisar como uma intervenção que considera elementos da Educação
Financeira pode colaborar para o desenvolvimento da habilidade de tomada de decisões em situações que
envolvam finanças na perspectiva da ambiental. O projeto será realizado por alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública em Salto de Pirapora interior de São Paulo. Esse projeto de pesquisa terá
um cunho qualitativo e está a princípio fundamentado na concepção de Matemática crítica de Skovsmose, e
na constituição do entendimento de sociedade moderna do consumo descrita por Bauman. Para as atividades
práticas, pretendemos utilizar a modelagem Matemática conceituada por Barbosa, para tentar construir uma
pesquisa que desperte nos envolvidos uma condição de entendimento da realidade de maneira mais crítica,
principalmente perante as questões que envolvam a Educação Matemática Financeira com enfoque na
perspectiva ambiental e sobre tudo na economia da água.
Palavras-chave: Decisões Financeiras; Cotidiano; Educação Matemática; Elementos da Educação Financeira;
Finanças.
Introdução
Minha2 inquietação a respeito do tema Educação Financeira se deve à percepção, a
partir de minha vivência cotidiana, de que muitas pessoas não se dão conta de que a saúde
financeira de um sujeito está atrelada ao consumo em excesso de bens e produtos que nem
sempre se fazem necessários, não somente bens de consumo, mas também desperdício de
recursos naturais. Em vista disso, esse trabalho será uma pesquisa em Educação
Matemática Financeira, voltada para questões ambientais, com foco na economia de água.
O objetivo desta pesquisa é desenvolver uma possibilidade de Ensino de Educação
1Universidade Anhanguera de São Paulo- UNIAN-SP, [email protected], orientadora: Rosana
Nogueira de Lima.
2 Nesta introdução, usaremos a primeira pessoa do singular quando se tratar da experiência pessoal do autor.
Matemática Financeira ligada à questão ambiental, com alunos de uma turma do 9º ano do
Ensino Fundamental da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo.
A importância dessa pesquisa se deve às dificuldades que a sociedade vem enfrentando na
questão ambiental, e se o consumo de maneira geral não for realizado de forma consciente,
isso pode acarretar os mais diversos problemas financeiros e humanitários. Para isso, é
importante a condução de uma pesquisa que verifique a possibilidade da inserção de
elementos advindos da Educação Financeira na Educação Básica, em específico no Ensino
Fundamental II, por acreditarmos que esses alunos já têm maturidade e conhecimento de
matérias curriculares suficientes para compreender e analisar diversos fatos que estão
presentes na Educação Financeira, e que essa pesquisa possa refletir na construção de
pessoas mais responsáveis perante a complexidade do tema.
Com esta pesquisa, discutiremos a questão do consumo, que está ligado a vários fatores,
entre eles aspectos comportamentais e culturais fatores esses que podem ser discutidos a
partir da Educação Matemática Financeira. O consumo pelo consumo causa vários
problemas na sociedade moderna, um deles é a utilização de recursos naturais de forma
desenfreada para produção de bens de consumo, como ,por exemplo, o gasto de água na
indústria e na agropecuária, como apresentado na Figura 1.
Essa alta taxa de utilização pode ocasionar sérios problemas de ordem ambientais, seja pela
falta de conscientização das pessoas ou pela falta de ações de órgãos governamentais com
políticas públicas que favoreçam a compreensão da problemática citada. Um exemplo
disso é a crise hídrica do Estado de São Paulo, que afetará milhares de pessoas, tanto do
ponto de vista da economia do país, quanto da sobrevivência das pessoas.
Para discutir essa problemática neste projeto de pesquisa, precisamos promover o
pensamento crítico, por meio do desenvolvimento de práticas educativas que contribuam
para a compreensão, ação e reflexão sobre questões que envolvam o consumo de
mercadorias, para que os envolvidos possam apresentar um pensamento crítico perante o
uso racional da água e ao consumo de mercadorias, a fim de provocar uma mudança de
postura das pessoas perante o tema proposto.
Figura 1: Gasto de água na indústria e na agropecuária
Fonte: site da Revista Nova Escola. Gasto de água na indústria e na agropecuária. Disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/fundamentos/meio-ambiente-agua-consumo-sustentabilidade-
industria-agropecuaria-561812.shtml>
Para isso, antes de iniciar esse projeto, procuramos verificara existência de trabalhos e
práticas pedagógicas que abordassem o tema Educação Financeira nas instituições
escolares que continham as séries finais do Ensino Fundamental II na cidade de Salto de
Pirapora-SP, e realizamos também pesquisas na internet sobre o tema, construindo uma
revisão de literatura que será apresentada a seguir.
No processo de busca por informações sobre o tema, observamos em algumas pesquisas
encontradas no aspecto que tange a formação do indivíduo, a Educação Financeira pode ser
tratada de modo a promover a consciência crítica do cidadão, uma discussão importante a
ser desenvolvida em sala de aula, pois, segundo Skovsmose (2008):
As questões econômicas por trás das fórmulas matemáticas e os problemas
matemáticos, devem ter significado para o aluno e estarem relacionadas a
processos importantes da sociedade. Assim, o aluno tem um comprometimento
social e político, pois identifica o que de fato é relevante no seu meio cultural.
(SKOVSMOSE, 2008, p.12)
Com a introdução da Educação Matemática Financeira no 9º ano do Ensino Fundamental
II, espera-se que o sujeito perceba que alguns dos elementos presentes em seu cotidiano
também fazem parte da Educação Financeira, e que a compreensão deles possibilita uma
melhoria em sua qualidade de vida, abrir novas possibilidades de enxergar o mundo, sejam
essas possibilidades para o presente, ou criar expectativas futuras.
Para que isso de fato ocorra, o sujeito precisa ter bem claro qual é o seu papel perante a
sociedade de consumo e possuir compreensão mais ampla de mundo
(economia/finanças/sociedade/meio-ambiente). A Educação Financeira pode contribuir
para que as pessoas modifiquem seu comportamento perante o consumo na sociedade
moderna. Um dos fatores que classificam essa sociedade moderna é o excesso de consumo,
e indo nessa vertente, Bauman (2008) descreve esse modelo de sociedade como sendo que
está cada vez mais focada para uma sociedade do consumo de mercadorias, na qual o
sujeito é levado, muitas vezes pela influência da mídia, a consumir. A Educação
Matemática Financeira pode instigar o aluno à reflexão mais crítica sobre esse tipo de
sociedade, a qual todos nós estamos inseridos.
Com a presente pesquisa, discutiremos também a relação existente entre a Educação
Financeira e a questão da preservação do meio ambiente, pois discutiremos nas atividades
que serão realizadas, fatores que podem colaborar ou não para a ampliação da importância
de um modelo de sociedade que seja sustentável, que os sujeitos envolvidos (alunos do
Ensino Fundamental II) na pesquisa, possam estar de fato participando coletivamente da
construção de projetos que promovam uma mudança de postura nas pessoas envolvidas,
principalmente em relação ao modelo de consumo e ao meio ambiente.
Educação financeira no Brasil
Em 2010 houve a criação de um decreto que instituiu a Estratégia Nacional de Educação
Financeira (ENEF), a criação desse decreto permitiu a implantação da Educação Financeira
Fica instituída a Estratégia Nacional de Educação Financeira–ENEF, pelo
Decreto nº 7.397, de 22 de dezembro de 2010 com a finalidade de promover a
educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da
cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de
decisões conscientes por parte dos consumidores. (DOU, 2010, p.8)
A Educação Financeira nas escolas pode ser tratada de forma problematizada no Ensino
Fundamental II. Para garantir isso, podemos utilizar situações que enfoquem a realidade do
sujeito a ser pesquisado. Infelizmente, em alguns casos, essa preocupação com a
problematizarão acaba não acontecendo de forma natural, com problemas com os quais se
tenta contextualizar, mas que não fazem parte do cotidiano das pessoas envolvidas, o que
acaba atrapalhando esse processo.
Neste projeto de pesquisa, adotamos a Educação Financeira de acordo com a Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (2005), como sendo:
O processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua
compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que,
com informação, formação e orientação, possam desenvolver os valores e as
competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e
riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber
onde procurar ajuda e adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim,
podem contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e
sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro. (OCDE, 2005, p.2)
Seguindo essa postura, nesta pesquisa, teremos como objetivo analisar como uma
intervenção que considera elementos da Educação Financeira pode colaborar para o
desenvolvimento da habilidade de tomada de decisões em situações que envolvam
finanças, por alunos do 9º ano do Ensino fundamental. A questão de pesquisa é: quais
elementos da Educação Financeira aliada à perspectiva ambiental focada na economia de
água colaboram para que alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II tomem decisões de
maneira crítica em situações que envolvam a utilização da água?
Buscando elementos que possam contribuir para esta pesquisa, considerando assim a
literatura sobre o tema, temos Kistemam Jr. (2012) tratando sobre a formação de
professores de Matemática, apresentando os resultados de uma pesquisa referente à
produção de significados e às tomadas de decisões de indivíduos consumidores numa
sociedade de consumo líquido-moderna. Para isso, Kistemam Jr. (2012) realizou
entrevistas e desenvolveu situações-problemas com sujeitos que ele denomina como
indivíduos consumidores. Para as reflexões, utilizou pressupostos teóricos da Educação
Matemática Crítica de Skovsmose (2001) e o Modelo dos Campos Semânticos de Lins
(1997, apud KISTEMAM JR., 2012). O autor investigou como os indivíduos-
consumidores se comportam e tomam decisões quando se deparam com situações de
consumo reais, bem como que matemáticas utilizam nessas decisões, buscando, por meio
do que o autor denomina de Matemática Financeiro-Econômica, possibilitar outros
caminhos na trilha do consumo crítico.
Araújo (2007) teve como objetivo investigar o pensamento econômico de crianças
brasileiras, entre 9 e 11 anos, antes e após o desenvolvimento de um Programa de
Educação Econômica. Segundo a autora, a principal relevância dessa investigação foi
introduzir o estudo da formação do pensamento econômico a crianças, no contexto da
pesquisa educacional no Brasil. A pesquisa foi desenvolvida em três etapas. A primeira
consistiu na tradução, adaptação e preparação do instrumento de medida, escala TAE-N
(taxa de alfabetização econômica), que foi desenvolvida e validada no Chile e replicada
naquele trabalho no Brasil. A pesquisa foi realizada com uma amostra de 132 crianças,
alunos e alunas de 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental, da rede particular de ensino da
cidade de São Bernardo do Campo, São Paulo. Ainda nesta fase, foi realizada, numa
amostra de 30 crianças, uma entrevista clínica sobre o tema, com o propósito de
caracterizar os sujeitos envolvidos. Os resultados desta primeira etapa mostraram, tendo
como parâmetro os Níveis de Desenvolvimento do Pensamento Econômico proposto por
Denegri (1993, apud ARAÚJO, 2007), que as crianças apresentavam um pensamento
econômico primitivo, orientado para uma compreensão específica dos fenômenos
econômicos e com uma capacidade de estabelecer relações e explicar a realidade
econômica a partir de suas vivências e das informações que recebem do meio familiar,
escolar e da mídia. A segunda etapa foi desenvolvida com turmas de um Programa de
Educação Econômica, intitulado “Educando para o Consumo Consciente”, utilizando a
metodologia de trabalho com projetos, numa perspectiva, segundo a autora, interdisciplinar
e transversal. Na terceira e última etapa desta pesquisa, a Escala TAE-N foi novamente
aplicada aos alunos. A autora verificou que, nesta segunda aplicação, todas as turmas
apresentaram um aumento na média das pontuações, o que segundo ela sinalizava um
desenvolvimento da compreensão de fenômenos econômicos. Os resultados indicaram,
ainda, que houve um crescimento igual nas diferentes idades e um melhor desempenho dos
meninos em relação às meninas no espaço entre os tempos de aplicação da Escala. Em
relação às turmas, todas apresentaram crescimento na segunda aplicação do TAE-N,
embora em percentuais diferentes. As análises, segundo Araújo (2007), permitiram tanto
uma compreensão mais específica de como as crianças brasileiras compreendem o mundo
econômico, quanto uma visão mais abrangente da importância de se trabalhar esse tema no
âmbito das escolas de Educação Básica.
A revisão de literatura descrita acima mostra a carência de trabalhos em nível de
Doutoramento no campo de pesquisa mostrado, portanto, a relevância da continuação das
investigações e o aprofundamento da pesquisa em Educação Matemática Financeira em
nível de Doutorado. Além disso, acreditamos que, ao trabalhar conceitos de Educação
Financeira com alunos desde o Ensino Fundamental, teremos a possibilidade de
potencializar expectativas de que se tornem adultos mais preparados para tomarem
decisões financeiras de forma mais crítica e consciente.
Aporte teórico
Para discutirmos a questão do consumo na sociedade atual e analisar os resultados
desta pesquisa será utilizada a teoria da sociedade líquido-moderna conceituada por
Bauman (2008), pois ele procura examinar o impacto da conduta consumista em diversos
aspectos da vida social e na sociedade denominada por ele como líquido-moderna, na qual,
em muitos casos, o consumo gera um sentimento de satisfação simplesmente pelo ato de
consumir, que envolvem em muitos casos, diversos fatores psico-sociais.
Sociedade do consumo tem como base de suas alegações a promessa de
satisfazer os desejos humanos em um grau que nenhuma sociedade do passado
pôde alcançar, ou mesmo sonhar, a promessa de satisfação só permanece
sedutora enquanto o desejo continua insatisfeito; mais importante ainda, quando
o cliente não estiver plenamente satisfeito - ou seja, enquanto não se acredita que
os desejos que motivaram e colocaram em movimento a busca da satisfação e
estimularam experimentos consumistas tenham sido verdadeira e totalmente
realizados. (BAUMAN, 2008, p.63)
Bauman (2007) também descreve a sociedade atual como sendo a sociedade Liquido-
moderna:
Líquido-moderna é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus
membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a
consolidação, em hábitos, rotinas, das formas de agir. (...) As condições de ação e
estratégia de reação envelhecem rapidamente e se tornam obsoletas antes de os
atores terem uma chance de aprendê-las efetivamente. (BAUMAN, 2007, p. 7).
A sociedade líquido-moderna está pautada em uma má Educação Financeira. Para sanar
essa problemática citada por Bauman (2007), essa pesquisa com alunos de 9º ano do
Ensino Fundamental II, pretendemos propor atividades que contemplem questões de
tomadas de decisões financeiras, para que possamos modificar esse panorama citado por
Bauman (2007), e possamos tornar a sociedade um pouco mais “sólida”.
Já o conceito de Educação Matemática crítica será também utilizado nesta pesquisa,
principalmente na concepção de Skovsmose (2008), como sendo a oportunidade de
transformação do sujeito por meio da Matemática, para que o indivíduo possa se tornar um
cidadão crítico a respeito mundo, e para isso a Matemática tem um papel fundamental na
construção e consolidação desse sujeito crítico.
Tem havido observações consideráveis sobre o que poderia significar
desenvolver a educação matemática, não para um trabalho em particular, mas
para preparar cidadão. Essa cidadania poderia ser passiva, mas faz sentido
perguntar como a educação matemática poderia prepará-los para a cidadania
crítica. Tais considerações emergem do tipo de demanda ética que a educação
em matemática tem que enfrentar. (SKOVSMOSE, 2007, p.188)
A Educação Matemática Crítica nos moldes de Skovsmose (2007) possibilita aos alunos
pensarem de modo crítico e com a oportunidade de relacionar os conteúdos aprendidos
com as práticas sociais cotidianas. É então de suma importância a utilização da teoria
crítica na construção desta pesquisa, por ela pode dar oportunidade ao sujeito de
compreender a Educação Matemática Financeira e atuar de forma mais crítica e consciente
perante o consumo da água.
Procedimentos metodológicos
Antes de se dar início a pesquisa com os alunos, o trabalho será submetido ao comitê de
ética da Universidade Anhanguera de São Paulo-SP, para validar os instrumentos
metodológicos de coleta e análise de dados.
No primeiro momento da pesquisa, será solicitada a permissão da direção da unidade
escolar para que o projeto possa ser desenvolvido na unidade, mostrando um panorama
geral da pesquisa para que a direção tenha conhecimento do será realizado na unidade,
quais alunos anos/série participaram, qual o enfoque da pesquisa, qual o tempo estimado, e
em qual período os alunos participaram das atividades.
Esta pesquisa será desenvolvida com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II, por
acreditarmos que alunos nesse nível de ensino possuem conhecimentos de determinados
conteúdos matemáticos que os auxiliariam no desenvolvimento desse projeto, como por
exemplo, o cálculo de porcentagens, proporcionalidade, estimativas, temas esses que são
desenvolvidos nas séries anteriores do Ensino Fundamental II. Para isso, será escolhida
uma das turmas de9º ano de uma escola pública de Salto de Pirapora-SP. Para a turma,
escolhida será exposta a proposta da pesquisa, e será feito o convite a todos os alunos dessa
sala para participar da pesquisa. Será, também, promovida uma reunião com os pais dos
alunos que farão parte da pesquisa, para esclarecer a pesquisa, o tempo estimado da
pesquisa, horário, período e dia em que serão realizadas as atividades. Após essa reunião,
coletaremos a assinatura dos responsáveis legais pelos alunos que farão parte dos estudos
por meio do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido.
Na primeira fase do projeto, pretendemos aplicar uma atividade que provoque a tomada de
uma decisão financeira com enfoque na perspectiva ambiental, mais especificamente na
economia da água, para verificar como esses alunos se comportam ao se depararem com
situações que necessitem de uma tomada de decisão financeira. Nessa primeira fase, não
pretendemos interferir nas decisões que forem tomadas pelos alunos.
Na segunda fase do projeto, pretendemos realizar algumas atividades que possibilitem
mostrar aos alunos várias possibilidades para atuar e em diversas situações que envolvam
decisões financeiras, mostrando a importância que tem uma tomada de decisão, e que a
opção realizada hoje pode influenciar diretamente suas vidas a curto, médio e longo prazo,
principalmente na questão que tange a economia de recurso natural na questão hídrica.
Nesta segunda fase, pretendemos utilizar a modelagem matemática nos moldes a que é
conceituada por Barbosa (2001, p.8) “como sendo um ambiente de aprendizagem no qual
os alunos são convidados a investigar, por meio da Matemática, situações com referência
na realidade”. Essa situação que Barbosa (2001) descreve se mostra pertinente a pesquisa
que queremos desenvolver, pois a modelagem mostra a possibilidade de exploração do
cotidiano, já que se caracteriza por ser livre e surge na medida em que se faz necessária,
quando pessoas querem entender e descrever os objetos e situações que as circundam, pois
isso dá a possibilidade de aliar as experiências trazidas pelos alunos de fora do âmbito
escolar ao conhecimento do professor, criando, assim, um ambiente mútuo de troca de
aprendizagens. A modelagem se faz importante nessa pesquisa pois pode agregar
motivação aos sujeitos envolvidos, sejam alunos ou professores, podendo, assim, facilitar
os processos de ensino e de aprendizagem, pois o conteúdo a ser desenvolvido pode ser
desenvolvido de forma interdisciplinar e transitar entre as demais disciplinas do currículo,
auxiliando no processo de construção do cidadão crítico, que pode,por meio de sua prática,
entender e modificar a sua realidade.
Já na terceira fase da pesquisa, pretendemos realizar uma nova atividade com elementos
que possibilitem verificar se houve ou não uma mudança na forma pela qual os alunos
tomam suas decisões financeiras, e analisar se essas decisões podem propiciar uma conduta
mais crítica em relação ao consumo e economia de recursos naturais, sobretudo na questão
do uso consciente da água.
Para analisar os dados coletados, nos apoiaremos nas concepções apontadas por
Skovsmose (2008) no que diz respeito à matemática crítica, para verificar se houve
mudança na postura crítica dos sujeitos envolvidos na pesquisa, perante assuntos que
relacionam decisões financeiras e o consumo de água no cotidiano dos envolvidos.
Utilizaremos também Bauman (2007), que tem uma postura crítica perante o novo estilo de
consumo das pessoas na sociedade que ele chama de líquido moderna, para podermos
analisar que impacto a pesquisa teve nos envolvidos, e se a pesquisa propiciou ou não uma
reflexão sobre o tema do consumo desmedido de produtos e que relação os sujeitos
estabeleceram com problemas que envolvem a questão financeira na perspectiva da
utilização de recursos ambientais, e em especial a utilização racional da água, para
verificar se houve ou não mudança na postura dos alunos perante o pensamento consumista
ao qual afligem a sociedade líquido-moderna descrita por Bauman (2007).
CRONOGRAMA
2º semestre de 2015 Pesquisas bibliográficas (livros, teses, dissertações e trabalhos
apresentados em congressos sobre o tema). Submissão da
pesquisa ao comitê de ética da Universidade.
1º semestre de 2015 Apresentação da proposta aos participantes da pesquisa e
implementação da mesma. Coleta análise e organização dos
dados.
2º semestre de 2015 Apresentação dos dados coletados em congressos e seminários
sobre o tema proposto. Análise e interpretação de dados.
1º semestre de 2016 Construção e organização da tese.
2º semestre de 2016 Finalização da pesquisa, ajustes e modificações necessárias para
o exame de qualificação.
1º semestre de 2017 Reformulação pós-qualificação.
2º semestre de 2017 Apresentação da defesa do trabalho.
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