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4 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA Monografia apresentada a AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Psicopedagogia Institucional. Orientador: Profª Fabiane Muniz SALVADOR 2015

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Page 1: EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA Monografia apresentada a AVM · 2015. 9. 12. · 1.1 Alunos com necessidades educativas especiais ... atender às necessidades físicas, emocionais

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA

Monografia apresentada a AVM

Faculdade Integrada como requisito

parcial para a obtenção do título de

especialista em Psicopedagogia

Institucional.

Orientador: Profª Fabiane Muniz

SALVADOR

2015

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AGRADECIMENTOS

Todos aqueles que envolvidos ou não

com a minha causa, proporcionaram

uma riqueza capaz de fortalecer o

significado da busca constante da

relação com o outro.

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DEDICATÓRIA

À minha esposa Valmira e as filhas

queridas: Kellen e Suelen são minha

razão de viver.

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RESUMO

A presente monografia tem como objetivo analisar, as mudanças teóricas que

se produziram no campo da educação especial ao longo do século XX.A

passagem da deficiência para as necessidades educativas especiais, o que

deslocou a responsabilidade dos problemas de aprendizagem do aluno para a

escola, mas ainda não totalmente para os seus representantes. Esta nova

proposta supõe a transferência do objetivo da reforma educativa não cabe

somente a reforma da educação especial, mas para que as escolas inclusivas

se consolidem, é preciso abordar a mudança do sistema educativo em seu

conjunto.

A compreensão de que a integração foi o caminho que naturalmente

encontrado para maior igualdade para todas as minorias que sofriam algum

tipo de exclusão. A compreensão da adoção do conceito necessidades

educativas especiais contribuiu para o surgimento de processos mais

sistêmicos, interativos e contextualizados. A identificação de que atualmente,

as escolas não estão suficientemente preparadas para receber alunos e/

necessidades especiais, embora avaliem possíveis envolvimentos dos pais no

processo de inclusão, principalmente nas soluções para as dificuldades

encontradas, com responsabilidade. A OMS propôs em 1954 o uso do termo

subnormalidade mental em sentido amplo e que o termo deficiência mental

designasse os casos biologicamente determinados, enquanto retardo mental,

ficava reservado para os de índole social.

O projeto de reforma para se obter escolas inclusivas não é tarefa simples,

enfrentar não só as resistências normais de qualquer mudança, mas também

aborda as contradições que o próprio processo de inclusão suscita. O objetivo

de criar escolas inclusivas que sejam de qualidade, atrativas e valorizadas pela

comunidade educacional, exige muito mais que boas intenções, declarações

oficiais e documentos escritas, exige que o conjunto da sociedade tome

consciência dessas tensões e trabalhe em prol de uma sociedade mais justa.

Uma parte da sociedade continua a estigmatizar e excluir, pois permanece

estabelecendo padrões normatizantes, impedindo assim que o portador de

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necessidades especiais sinta-se de verdade um cidadão com direitos e

deveres, os projetos políticos-pedagógicos das escolas devem ser elaborados

a partir de um conhecimento da diversidade dos alunos que nelas ingressam.

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METODOLOGIA

Este trabalho monográfico se propôs, a disponibilizar um espaço adequado

para que os alunos possam desenvolver suas atividades em condições

accessíveis:

• Entrevistar familiares e educadores de alunos especiais;

• Assistir s vídeos e documentários que foquem a questão;

• Conhecer realidades de escolas com educação inclusiva que funcionem

e que os educadores ainda não estão preparados para tal contexto;

• Elaborar questionários;

• Pesquisar os assuntos dentro do contexto social;

• Fazer pesquisas bibliográficas

• Potencializar a cooperação horizontal entre os alunos, atendendo a

diversidade;

• Aplicar estratégia de motivações entre os alunos;

• Aplicar sistemas de comunicação e linguagem, que todos os alunos da

turma possam usar;

• Priorizar as estratégias que permitam as atividades escolares em grupo;

A metodologia Científica – aborda o problema da natureza do conhecimento e

do método científico, obedecendo os Cânones da pesquisa científica. De

acordo com os Autores: Ruiz (1993), Rampazzo (2005) e Demo (2000), a

pesquisa exploratória tem sua importância, porque ela busca a constatação de

algo num organismo ou fenômeno.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 10

CAPITULO 1 – A Educação Especial ...................................................... 12

1.1 Alunos com necessidades educativas especiais............................... . 14

.................................................................................................................

1.2 Integrações Educativas...................................................................... 17

.................................................................................................................

CAPITULO 2 – O que é Inclusão ............................................................. 20

2.1 As escolas inclusivas e reforma da educação.................................... 22

2.2 Inclusão até a Declaração de Salamanca ........................................... 25

2.3 Integração após a Declaração de Salamanca ..................................... 28

2.4 A Legislação sobre a Integração Escolar na Espanha ......................... 31

CAPITULO 3 – Deficiência Motora .......................................... ................ ..36

3.1 Conceito de deficiência motora .......................................................... 38

3.2 Doenças e Causas da deficiência motora .......................................... 39

3.3 Classificação da deficiência motora ..................................................... 40

3.4 Paralisia Cerebral ................................................................................. 41

CAPITULO 4 – A Intervenção Psicopedagógica.........................................43

4.1 O Autismo..............................................................................................45

4.2 Definição: A Síndrome Autista...............................................................46

4.3 As causas do Autismo...........................................................................48

4.4 Descrição das Alterações......................................................................49

4.5 Interação Social.....................................................................................50

4.6 O Programa de Intervenção..................................................................50

4.7 O papel dos diversos agentes educativos: A escola e os pais..............52

CONCLUSÃO .............................................................................................54

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ ..56

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INTRODUÇÃO

Esta monografia tem por objetivo analisar as mudanças teóricas que se

produziram no campo da educação especial ao longo do século XX.

Descrevemos as mudanças conceituais que ocorreram no âmbito da educação

especial: a passagem da deficiência para as necessidades educativas

especiais, o que deslocou a responsabilidade dos problemas de aprendizagem

do aluno para a escola, mas ainda não totalmente para seus representantes.

Discutimos o aprofundamento dos conceitos de necessidades educativas

especiais e de integração, e o desenvolvimento de um novo modelo teórico,

baseado principalmente nos direitos de todos os alunos, sem exclusão, a uma

educação comum, em escolas inclusivas.

Esta nova proposta supõe a transferência do objetivo da reforma educativa.

Não cabe somente a reforma da educação especial, mas para que as escolas

inclusivas se consolidem, é preciso abordar a mudança do sistema educativo

em seu conjunto.

O objetivo da educação inclusiva opõe-se às tendências competitivas e

seletivas dos sistemas educacionais e as resistências da realidade,

principalmente em nosso país. Progredir no sentido das escolas inclusivas não

é tarefa rápida nem simples. Uma breve análise da situação nos coloca frente a

três grandes dilemas com os alunos com necessidades educativas especiais:

ensino comum frente ao ensino diferenciado; exigência de escolarização, com

o risco de rotular os alunos; recursos especiais, com a indesejável

consequência da falta de compromisso dos professores, frente às dificuldades

de recursos e de aperfeiçoamento técnico.

Entendemos que, diante das dificuldades e particularidades do assunto, a

educação especial e a inclusiva não são contextos independentes, embora

exista uma ampla margem de autonomia entre elas. Em alguns momentos

apoiam-se e reforçam-se mutuamente; em outros, manifestam-se contradições.

Para o sucesso e progresso que uma educação integradora exige, é

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fundamentalmente necessária uma profunda mudança de atitude em todas as

pessoas que têm alguma intervenção no âmbito educativo.

Por meio dos temas de que consta esta apresentação, esforçamo-nos para

oferecer ao leitor orientações para o atendimento à diversidade que combinam

aspectos psicológicos, pedagógicos, didáticos e técnicos. O objetivo é

favorecer e aprofundar as potencialidades dos indivíduos com necessidades

educativas especiais, desenvolver critérios de prevenção, avaliação e

tratamento no âmbito escolar, documentar sobre a legislação vigente

relacionada a esta temática e propor critérios para a aplicação de técnicas e

estratégias, bem como orientações e indicações para o projeto e execução dos

programas, que possam ser uma resposta efetiva às necessidades que a

idiossincrasia de qualquer aluno apresentar ao sistema educacional.

Esperamos que os leitores desta monografia aproveitem a desafiante aventura

do trabalho com alunos com necessidades educativas especiais.

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CAPITULO I - A EDUCAÇÃO ESPECIAL

A Educação Especial é o ramo da Educação que se ocupa do atendimento e

da educação de pessoas deficientes em instituições especializadas, tais como

escola para surdos, escola para cegos ou escolas para. Atender pessoas com

deficiência mental. A educação especial realiza-se fora do sistema regular de

ensino. Nesta abordagem, as demais necessidades educativas especiais que

não se classificam como deficiências não estão incluídas.

CONCEITO

É uma educação organizada para atender especifica e exclusivamente alunos

com determinadas necessidades especiais. Algumas escolas dedicam-se

apenas a um tipo de necessidade, enquanto que outras se dedicam a vários. O

ensino especial tem sido alvo de críticas por não promover o convívio entre as

crianças especiais e as demais crianças. No entanto, necessário ter em conta

que a escola regular nem sempre consegue oferecer uma resposta capaz de

atender às necessidades físicas, emocionais e intelectuais destas crianças.

Segundo Sola Martínez (2010), a escola direcionada para a educação especial

conta com materiais, equipamentos e professores especializados. O sistema

regular de ensino precisa adaptar-se, caso deseje atender de forma inclusiva.

Educação especial denomina tanto uma área de conhecimento quanto um

campo de atuação profissional. De um modo geral, a educação especial lida

com aqueles fenômenos de ensino e aprendizagem que não são os mesmos

com que lida a educação regular. Tal modalidade lida com a educação e

aperfeiçoamento de indivíduos que não se beneficiaram dos métodos e

procedimentos usados pela educação regular. Dentro de tal conceituação,

inclui-se em Educação Especial desde o ensino de pessoas com deficiências

sensoriais, passando pelo ensino de jovens e adultos, até mesmo ensino de

competências profissionais.

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Educação Especial deve ser congregada na pesquisa e no desenvolvimento de

novas formas de se navegar ensinar, apropriadas à heterogeneidade dos

alunos e compatíveis com os ideais democráticos, na função de orientação,

administração e acompanhamento das condições educacionais adequadas

num questionamento entre o real e o indispensável.

Em escolas ativas para todos, o ambiente de colaboração trabalha baseado na

evolução das trocas intelectuais e culturais. Para que o mestre trabalhe neste

ambiente ideal, faz-se necessário apoio emocional e estímulos profissionais

através da valorização docente e da capacitação ininterrupta, também, função

da Educação Especial.

Até pouco tempo, a Educação Especial trabalhava somente com o que dizia

respeito aos grupos excluídos em função de suas deficiências, planejando

atividades somente para os educadores que possuíam crianças "especiais" e

não toda a escola. Bastava que apenas o professor desses educandos

conseguisse o conhecimento sobre eles.

O professor que possuía somente alunos "normais" não adquiria o

conhecimento respeitável e necessário, comprovando, muitas vezes, seu

desinteresse e sua desvalorização acerca do alunado da educação especial.

No processo de redefinição da educação especial, a reformulação das aptidões

dos profissionais que se especializaram em “Educação Especial” permite

discernirmos os profissionais que lidam com os indivíduos com necessidades

especiais da mesma forma que seus alunos são sempre vistos: como meros

elementos a serem padronizados.

Educação especial é muito mais do que escola especial. Como tal, sua prática

não precisa (nem deve) estar limitada a um sistema paralelo de educação, e

sim fazer parte da educação como um todo, acontecendo nas escolas

regulares e constituindo-se em mais um sinal de qualidade em educação,

quando oferecida a qualquer aluno que dela necessite, por quaisquer que

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sejam os motivos (internos ou externos ao indivíduo). Portanto, nos casos em

que uma tradição paralela do oferecimento da educação especial ainda não

esteja consolidada, concentrar esforços e investimentos na inclusão em

educação já seria, de início, uma vantagem, além de demonstrar consonância

com as sugestões da Declaração de Salamanca.

1.1 - ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

Apesar do termo ter surgido ainda nos anos 60, não foi capaz de modificar os

esquemas de educação especial da época. Foi através de estudos feitos na

Inglaterra e publicados em 1978 com o nome de Informe Warnock (Warnock

Report,1978), que as primeiras modificações foram feitas, inicialmente no

Reino Unido, e depois para a maioria dos sistemas educacionais.

Segundo o Informe Warnock reconhece a dificuldade de agrupar as crianças a

partir de categorias fixas que não é benéfico para os alunos, professores e

pais. Sugere ainda o termo "necessidades educativas especiais", pois a partir

dessa nova definição, apresentam-se quatro características principais: afeta um

conjunto de alunos; é um conceito relativo; refere-se principalmente a

problemas de aprendizagem dos alunos em sala de aula; supõe a provisão de

recursos suplementares.

Segundo Kwee (2011), a abrangência do termo suporta tanto os alunos O

Importante com necessidades educativas de gravidade distinta, que segundo o

informe representava apenas 2% da população estudada, quanto os alunos

onde os problemas eram menos graves ou menos permanentes e que

recebiam alguma ajuda dentro da sala de aula. Eram os alunos com algum

problema de linguagem, conflitos emocionais, dificuldades de leitura e escrita,

atrasos na aprendizagem ou com alto índice de absenteísmo escolar.

Outra característica que surge com o uso deste novo conceito é o caráter

relativo e contextuai do termo. Na avaliação deste aluno, não se deve centrar

unicamente neles mesmos, mas considerar o contexto onde se produz a

aprendizagem: o funcionamento da escola, os recursos disponíveis, a

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flexibilidade do ensino, a metodologia e os critérios de avaliação. Além disso, o

ambiente familiar e social em que está inserido o aluno.

De acordo Francisco Mata (2012), com relação aos problemas de

aprendizagem dos alunos com necessidades educativas especiais, o abandono

do conceito, a partir da deficiência, situa a resposta na ação educativa da

escola. Não há negação do tipo específico do problema da criança, mas na

capacidade que a escola tem de adaptar a prática educativa às necessidades

desses alunos e apresentar uma resposta satisfatória. Além disso, o termo

também remete a necessidade de provisão de recursos específicos para

redução das dificuldades de aprendizagem que esses alunos possam

apresentar. Esses recursos variam desde a formação do professor

especializado até materiais curriculares específicos, adaptações arquitetônicas,

sistemas de comunicação alternativa ou qualquer meio educativo suplementar.

A adoção do conceito necessidades educativas contribuiu para o surgimento de

processos mais sistêmicos, interativos e contextualizados. Supõe conhecer

como foram geradas as dificuldades na criança, qual a influência do ambiente

social e familiar, qual o papel da escola e qual a resposta educativa mais

adequada. A finalidade primordial da avaliação do aluno é analisar as suas

potencialidades de desenvolvimento e aprendizagem e determinar quais as

estratégias de ensino. Essa formulação abre portas às possibilidades de

integração ao ensino regular, diferente da concepção baseada na deficiência e

limitação do aluno. Além disso, amplia as perspectivas da educação especial

incorporando-a ao sistema educacional regular e também situa, na escola, a

problemática da dificuldade de aprendizagem do aluno, impondo então sua

reformulação. Apesar das visíveis vantagens do conceito de necessidades

educativas especiais, as críticas aconteceram e procedem como

demonstraremos a seguir (Coll, 2004):

O termo é excessivamente vago - o que leva constantemente à formulação de

novos conceitos para a sua compreensão.

Excessiva amplitude - a educação especial passou de 2% de alunos para 20%

de alunos com necessidades educativas especiais. Esse número aumenta no

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ensino médio. A situação levou a se perguntar qual utilidade de uma nova

terminologia específica se a maioria dos alunos encontravam-se dentro dela.

Dificuldades de diferenciação - o uso do termo não auxilia na diferenciação dos

vários problemas de aprendizagem que podem variar desde um transtorno do

desenvolvimento a dificuldades sociais e familiares.

Sociologia da Educação - esta argumenta que o termo é uma construção social

usada ainda para situar determinados alunos em opções educativas

segregadoras. Muitas vezes estes alunos provêm de classes sociais menos

favorecidas, minorias étnicas, e acabam apresentando mais lentidão na

aprendizagem, o que não impede sua classificação como um aluno com

necessidades educativas especiais.

Excesso de otimismo - acusou-se que o uso desta terminologia procurou

apresentar uma imagem excessivamente otimista da educação especial. Ao se

suprimir o termo deficiência, estas ficaram menos graves, ou, como se

centrando os problemas na escola e na provisão de recursos, fosse possível

garantir o pleno desenvolvimento de todos os alunos em condições

normalizadoras. Ao contrário, os críticos destacam que os alunos apresentam

problemas muitas vezes além do universo escolar e, por isso, o sistema

educativo não poderá resolver tais problemas.

A partir de tais críticas, encontramos duas situações a se considerar: a que

alunos estende-se o conceito necessidades educativas especiais e que

informação pode ajudar a especificar suas demandas educativas. Além disso,

corremos o risco de novamente enfatizar os problemas relativos a cada uma

das deficiências e esquecer o caráter interativo e contextuai do conceito

necessidades educativas especiais, ou, não levar em conta suficientemente as

necessidades de cada aluno. Não podemos esquecer que existem diferenças e

características próprias vinculadas a cada tipo específico de limitação ou de

origem de cada problema.

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1.2 - INTEGRAÇÃO EDUCATIVA

Integração educativa é o termo que apareceu em consequência das mudanças

sociais que o conceito necessidades educativas especiais proporcionou nos

anos 60. Com as propostas de mudança sobre a educação especial, a

integração foi o caminho naturalmente encontrado para maior igualdade para

todas as minorias que sofriam algum tipo de exclusão.

Ao contrário das posições mais radicais que supõem o fechamento de todas as

escolas especiais, a integração é o processo que permite aos alunos, que

habitualmente foram escolarizados fora das escolas regulares, serem

educados dentro delas. Porém, a integração não deve ser entendida corno um

movimento que procura unicamente incorporar os alunos das escolas especiais

à escola regular, juntamente com seus professores e os recursos materiais e

técnicos. A integração tem como objetivo principal a educação dos alunos com

necessidades educativas especiais e exige uma reforma profunda do sistema

de educação.

Segundo León Guerrero (2012), os defensores da integração alegam que as

escolas integradoras, organizadas nas condições devidas, são positivas para

os alunos com necessidades educativas especiais, já que contribui para seu

melhor desenvolvimento e é benéfica para o conjunto de alunos regulares, que

se beneficiam com uma aprendizagem mais individualizada. A integração,

finalmente, desenvolve em todos os alunos atitudes de respeito e de

solidariedade em relação aos seus colegas com mais dificuldades.

Encontra-se, ainda, urna parcela importante de professores da educação

especial que tem certa prevenção quanto à ação integrativa pelo tipo de

organização das escolas regulares, pela homogeneidade habitual do seu

currículo e pelas dificuldades dos professores de se adaptarem às demandas

dos alunos com dificuldades moderadas de aprendizagem. Essa posição é

compartilhada por alguns pais de alunos com necessidades educativas

especiais, particularmente os mais graves. Eles manifestam maior confiança na

escolarização dos filhos em escola especiais.

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Devemos, então, entender a integração como um processo dinâmico e

mutável, cujo objetivo central é encontrar a melhor ação educativa para que um

aluno desenvolva ao máximo suas possibilidades. Por isso, a forma de

concretizar a integração pode variar à medida que as necessidades educativas

dos alunos vão se modificando.

Segundo o informe Warnock (1978) distinguiu três formas principais de

integração: física, social e funcional. A integração física ocorre quando as

classes ou unidades de educação especial são inseridas na escola regular mas

continuam com uma organização independente, embora possam compartilhar

alguns lugares como pátio e refeitório. A integração social supõe esta mesma

organização, só que os alunos da escola regular realizam atividades em

comum com os demais colegas com as atividades extraclasse e jogos. A

integração funcional é considerada a forma mais completa de integração, onde

os alunos com necessidades educativas especiais participam em tempo parcial

ou completo, nas classes de ensino regular e são incorporados à dinâmica da

escola.

A experiência mais completa é a realizada na Suécia e descrita por SÕDER

(1980). Sua proposta estabelece quatro formas possíveis de integração: física,

funcional, social e comunitária. Cada uma delas supõe uma aproximação maior

entre o grupo de alunos com e sem necessidades educativas especiais. A

integração física e social coincide com a física e a funcional do Informe

Warnock. É na definição da interação social e da comunitária que se encontra

maior elaboração e diferenciação.

A integração funcional é definida como "a progressiva redução da distância

funcional na utilização conjunta dos recursos educativos". Há três níveis:

• Utilização compartilhada: compartilham-se os mesmos meios em

horários diferentes.

• Utilização simultânea: utilizam-se os mesmos meios no mesmo

momento, mas de forma separada.

• Cooperação: os recursos são utilizados ao mesmo tempo e corri

objetivos educativos comuns.

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Finalmente, a integração comunitária é a que se produz na sociedade quando

os alunos deixam a escola. A integração comunitária exige mudanças

importantes na estrutura social, no acesso a emprego e nas atitudes dos

cidadãos. Por essa razão, pode ser que exista um processo de integração

educativa satisfatório, seguido de uma difícil incorporação à sociedade.

A partir de outra proposta, baseada na organização do currículo e no

atendimento educativo.

7 Convenção da Deficiência é o primeiro tratado dos direitos humanos do

Século XXI e é amplamente reconhecida como tendo uma participação da

sociedade civil sem precedentes na história, particularmente de organizações

de pessoas com deficiência. Foi assinada em 25 de agosto de 2006, em Nova

York (EUA) que os alunos recebem, foram propostos diferentes graus no

processo de integração (Hegarty, Pocklinton & Lucas, 1981), onde cada

modelo oferece diferentes alternativas organizacionais. Talvez seja um tanto

rígido e estático, pois não leva em conta as mudanças que se produzem nos

alunos e a importância de se considerar a integração como um processo, e não

apenas uma estrutura organizacional com recursos. Segue abaixo quadro

demonstrativo da organização do atendimento educativo aos alunos com

necessidades educativas especiais.

A - Classe comum sem apoio.

B - Classe comum, apoio para o professor, apoio para o atendimento pessoal.

C - Classe comum, trabalho para o especialista fora de sala.

D (1) - Classe comum como base, tempo parcial na classe especial.

D (2) - Classe especial como base, tempo parcial na classe comum. E - Classe

especial em tempo integral. F - Escola especial em tempo parcial, escola

comum em tempo parcial.

G - Escola especial em tempo integral.

A partir dessas alternativas, fica mais patente que a integração não é

necessariamente uma opção de tudo ou nada, mas, além de um processo, uma

estrutura com diferentes formas organizacionais.

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CAPÍTULO II - O QUE É INCLUSÃO

Para falar de educação inclusiva, temos que abordar, antes, a questão da

inclusão social, ou seja, o processo de tornar participantes do ambiente social

total (a sociedade humana vista como um todo, incluindo todos os aspectos e

dimensões da vida - o econômico, o cultural, o político, o religioso e todos os

demais, além do ambiental) todos aqueles que se encontram, por razões de

qualquer ordem, excluídos.

Exclusão social e inclusão social são conceitos dialéticos, polarizados,

simétricos e constituem uma das grandes preocupações da sociedade atual.

Como excluídos, podemos considerar todos os grupos de pessoas que não

participam, em nossa sociedade capitalista, do consumo de bens materiais. Ou

seja, aqueles que estão fora do processo produtivo (desempregados e

subempregados), do acesso a bens culturais, saúde, educação, lazer e outros

(direitos, cidadania). O conceito de exclusão social veio substituir, no Brasil, a

partir dos anos oitenta, conceitos menores e setoriais, como segregação,

marginalização, discriminação, miséria.

Organismos governamentais, organizações não-governamentais, e

organizações internacionais voltadas para o desenvolvimento econômico e

social (BID, Banco Mundial, ONU e suas subsidiárias - UNESCO, UNICEF,

FAO e outras), tendo em vista o avanço da globalização e do neoliberalismo,

têm se preocupado com o aumento significativo de populações marginalizadas.

Segundo León Guerrero (2012), assim a inclusão social se apresenta como um

processo de atitudes afirmativas, públicas e privadas, no sentido de inserir, no

contexto social mais amplo, todos aqueles grupos ou populações

marginalizados historicamente ou em consequência das radicais mudanças

políticas, econômicas ou tecnológicas. Uma das dimensões do processo de

inclusão social é a inclusão escolar, conjunto de políticas públicas e

particulares de levar a escolarização a todos os segmentos humanos da

sociedade, com ênfase na infância e juventude.

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Nesse contexto, recebem atenção especial a integração de portadores de

deficiências (físicas ou mentais) nas escolas regulares, o ensino voltado para a

formação profissionalizante e a constituição da consciência cidadã.

No Brasil, a Constituição de 1988, assim como a LDB 9.394/96 (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional), destacam a importância e urgência

de promover-se a inclusão educacional como elemento formador da

nacionalidade.

Os sistemas educacionais federais, estaduais e municipais, assim como a rede

privada de escolas, têm envidado alguns esforços no sentido de

operacionalizar os dispositivos legais que exigem ou amparam iniciativas no

caminho da inclusão escolar.

A legislação a respeito, recente e ainda pouco conhecida até pelo

professorado, coloca a questão nos termos os mais amplos possíveis: a

inclusão escolar é para todos aqueles que se encontram à margem do sistema

educacional.

Os questionamentos são de diferentes tipos, técnicos, administrativos,

institucionais, e a maior parte revelando dois aspectos fundamentais: a

ignorância sobre as características das clientelas a serem incluídas e o

preconceito gerado a partir da ignorância.

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2.1 - AS ESCOLAS INCLUSIVAS E REFORMA DA EDUCAÇÃO

As propostas de integração passaram a responsabilidade da educação dos

alunos com necessidades educativas especiais das escolas especiais para as

escolas regulares, impulsionadas pela reforma da educação especial.

Este enfoque, contudo, foi considerado insuficiente, visto que a integração não

levava em conta parte dos alunos que necessitavam de uma atenção mais

individualizada, que não vinham das classes especiais. Tais situações

acabaram em propostas mais radicais em torno de uma educação e escola

inclusiva.

O fundamento ideológico das escolas inclusivas não é baseado na vantagem

de que o aluno com necessidades educativas especiais aproveita em estudar

em uma educação regular ou na reforma da educação especial. Sua bas9 é a

declaração universal dos direitos humanos: os poderes públicos tem a

obrigação de garantir um ensino não-segregativo, que se prolongue,

posteriormente, na integração na sociedade, a todos os alunos, sejam quais

forem suas condig5es físicas, sociais ou culturais.

A partir desse ponto de vista, não importa mais analisar em que condições os

alunos com necessidades educativas especiais podem ser educados nas

escolas regulares, mas garantir uma educação de qualidade para todos eles e

realizar as transformações necessárias para conseguir isso.

Essa proposição foi incluída de forma explicita na declaração final da

Conferencia Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, realizada em

Salamanca (Espanha), de 7 a 10 de junho de 1994. Um dos seus

compromissos é formulado nos seguintes termos:

■ Todas as crianças de ambos os sexos tem o direito fundamental a educação

e deve-se dar a alas a oportunidade de alcançar e manter um nível aceitável de

conhecimentos;

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■ Cada criança tem características, interesses e necessidades de

aprendizagens que lhe são próprios;

■ Os sistemas educacionais devem ser projetados, e os programas aplicados

de modo a levarem em conta toda essa gama de diferentes características e

necessidades;

■ As pessoas com necessidades educativas especiais devem ter acesso às

escolas regulares, que deverão integra-las em uma pedagogia centrada na

criança, capaz de satisfazer essas necessidades;

■ As escolas regulares com orientação integradora representam o meio mais

eficaz para combater as atitudes discriminatórias, criar comunidades de

acolhimento, construir uma sociedade integradora e obter uma educação para

todos: além disso, proporcionam uma educação efetiva para a maioria das

crianças, melhoram a eficiência e, em suma, a relação custo-eficácia de todo o

sistema educacional. Além disso, proporcionam uma educação efetiva para a

maioria das crianças, melhoram a a eficiência e, em suma, a relação custo-

eficácia de todo o sistema educacional.

O movimento da educação inclusiva procede, em grande medida, do campo da

educação especial e se propôs atingir uma mudança profunda na educação

que seja capaz de integrar todos os alunos. Devemos citar aqui outros

movimentos que também visam atingir uma educação inclusiva não-

segregadora: a antropologia social e cultural, que impulsionou varias

estratégias para atingir uma educação intercultural, que seja ao mesmo tempo

integradora e respeite os valores de cada cultura; a sociologia da educação,

que apresentou propostas para educação mais igualitária dentro das

desigualdades sociais e a própria reflexão do sistema de educação e nas

teorias da aprendizagem, onde o objetivo é não só conseguir integração social

com os alunos, mas também maior facilitação na construção dos

conhecimentos.

Em todas as propostas, ha um claro reconhecimento das diversidades e a

resposta educativa a essa diversidade talvez seja o desafio mais importante e

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difícil que as escolas enfrentam atualmente. Pensar em inclusão é

necessariamente pensar em mudanças profundas se o que se deseja é

realmente que todos os alunos atinjam suas capacidades pessoais, sociais e

intelectuais.

Nas duas ultimas décadas, foram organizados dois tipos de estratégias de

integração (Vislie,1995): há países que veem a integração como a reforma do

seu sistema de educação especial. Seu objetivo é encontrar os sistemas mais

apropriados para incorporar os serviços e os programas de educação especial

as escolas regulares. Esse enfoque, segundo a pesquisa do autor, esta

presente na Alemanha, Inglaterra e Bélgica. Em outros países como

Dinamarca, Suécia, Noruega e Estados Unidos, entendem o movimento de

inclusão como uma reforma da educação regular, pois só é possível a pratica

da integração completa se as mudanças ocorrerem nesta estrutura.

Qualquer que seja a situação nos diferentes países, o movimento das escolas

inclusivas propõe-se a impulsionar uma mudança profunda nas escolas. Uma

transformação desta amplitude não pode ser responsabilidade única do

sistema educativo: é necessário um esforço conjunto de toda a sociedade, que

deve buscar caminhos para favorecer a integração de todos os cidadãos,

tornando nosso mundo mais igualitário e menos excludente. A tarefa é, no

mínimo, árdua.

Ha o risco de considerar que as escolas inclusivas, capazes de integrar todos

os alunos sem nenhum tipo de exclusão no currículo comum, é uma utopia

inalcançável. Esse pensamento pode levar a aceitar a atual situação educativa,

pois as dificuldades de transformação são enormes. Nesse caso, é preciso

entender que as escolas inclusivas fazem parte de um processo de mudança

progressivo.

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2.2 - INCLUSÃO ATÉ A DECLARAÇÃO DE SALAMANCA

Já se afirmou inúmeras vezes (ver, por exemplo: Fish, 1985; Cole, 1990) que a

educação especial na maioria das nações tem, a tolo modo, seguido padrão

semelhante de evolução. Num primeiro período, caracterizado pela segregação

e exclusão, a "clientela" é simplesmente ignorada, evitada, abandonada ou

aprisionada, quando não exterminada.

Num segundo, há uma modificação no olhar sobre a referida "clientela", que

passa a ser percebida como detentora de certas capacidades, ainda que

limitadas, como por exemplo, a de aprendizagem. Em função desta

modificação, ocorre o que poderíamos chamar de "velha integração", como

propõem Rieser & Mason (sem data). Ou seja, os excluídos começam a ser

integrados a certos setores sociais, mas ainda predomina um olhar de tutela, e

as praticas correspondentes, no que Ihes diz respeito, muito embora já não

seja mais a de rejeição e temor, ainda seria excludente, na medida em que se

propõe a "protege-los", utilizando-se, para tanto, de asilos, dos quais estes

indivíduos raramente sairiam, e nos quais seriam submetidos a tratamentos e

praticas, no mínimo alienantes.

E num terceiro momento, caracterizado pelo reconhecimento do valor humano

destes indivíduos, e como tal, o reconhecimento de seus direitos. Aqui

poderíamos caracterizar o segundo momento do movimento pela inclusão

como denominado de "nova integração" (Rieser & Mason, sem data), ou

inclusão propriamente dita. Na maioria dos países, este momento tem se

acirrado em especial a partir da década de 60 do presente século, e nele se

verifica uma predominância dos seguintes aspectos:

■Os avanços científicos, cuja produção e disseminação de conhecimento vem

não apenas promovendo a desmistificação de certos preconceitos fundados na

ausência de conhecimento sobre as diferenças da espécie humana, como

também alertando para a necessidade cada vez mais imprescindível da união

de povos em função da defesa do mundo por motivos ecológicos que hoje nos

são óbvios;

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■Um crescente pensar de cunho sociológico apontando e discutindo

consistentemente o significado de praticas discriminatórias bradando por um

mundo democrata;

■ O progresso tecnológico, principalmente no terreno das telecomunicações,

que vem aproximando ainda mais os povos difundindo ainda mais rapidamente

os conhecimentos, ao mesmo tempo em que provocando a necessidade de

uma força de trabalho cada vez mais formada e especializada, capacitada para

atender e à concorrência que o progresso tecnológico, entre outros aspectos,

impõe as sociedades modernas.

Por mais paradoxais e contraditórios que possam parecer, todos esses

aspectos vêm se refletindo conjuntamente nos sistemas educacionais dos mais

diversos países, ainda que em alguns estas imagens venham sendo

observadas mais tardiamente. O fato é que tais reflexos geram implicações

inevitáveis educação especial.

De acordo com a Declaração de Salamanca, ( UNESCO, 1994:18) por um lado,

o mundo prima pela igualdade de importância entre seres humanos, e como tal,

pela segurança da igualdade de direitos entre os mesmos. Por outro lado, este

mesmo mundo já não mais admite a existência da ignorância, seja porque ela

provoca o atrelamento que incapacita o deleite de direitos, ou seja, porque ela

exclui o ser humano de um ritmo de produção cada vez mais vital aquela

crescente competitividade, por Ihes dificultar o exercício pleno de um de seus

deveres como cidadãos: o de trabalhador produtivo e, consequentemente, o de

contribuinte.

Nasce, assim, a necessidade de indivíduos cidadãos, sabedores e conscientes

de seus valores e de seus direitos e deveres. Cresce, portanto, a importância

da educação, e, mais ainda, a importância da inserção de todos num programa

educacional que pelo menos Ihe tire da condição de ignorantes. Em

consequência cresce, também, a necessidade de se planejar programas

educacionais flexíveis que possam abranger o mais variado tipo de alunado e

que possam, ao mesmo tempo, oferecer o mesmo conteúdo curricular, sem

perda da qualidade do ensino e da aprendizagem.

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É neste espirito, acreditando que a indigência e o infortúnio verificados no

mundo atual são produtos, em grande parte, da falta de conhecimento a

respeito de seus deveres e direitos, e acreditando ainda que a própria falta de

segurança deste direito fundamental que é o da educação (e do acesso ao

conhecimento) constitui fonte de injustiça social, que a Conferencia Mundial de

Jomtiem sobre Educação para Todos aconteceu, em 1990, e adotou como

objetivo o oferecimento de educação para todos ate o ano 2000.

Entre os assuntos principais de discussão na mencionada Conferencia,

destacou-se a necessidade de se prover maiores oportunidades de uma

educação duradoura, que por sua vez implica três objetivos diretamente

relacionados, e que trarão consequências educação especial:

■ Estabelecimento de metas claras que aumentem o número de crianças

frequentando a escola;

■ Tomada de providencias que assegurem a permanência da criança na

escola por um tempo longo o suficiente que lhe possibilite obter um real

beneficio da escolarização;

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2.3 - INTEGRAÇÃO APÓS A DECLARAÇÃO DE SALAMANCA

Uma consequência imediatamente visível à educação especial reside na

ampliação da clientela potencialmente nomeada como possuindo necessidades

educacionais especiais. Uma outra se verifica na necessidade de inclusão da

própria educação especial dentro desta estrutura de "educação para todos",

oficializada em Jomtiem. Entre outras coisas, o aspecto inovador da

Declaração de Salamanca consiste justamente na retomada de discussões

sobre estas decorrências e no encaminhamento de diretrizes básicas para a

formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais.

De acordo Natividad López (2012) deste modo, o conceito de "necessidades

educacionais especiais" passara a abranger, além das crianças portadoras de

estejam experimentando permanentes na escola, deficiências, aquelas que

dificuldades passageiras ou as que estejam repetindo consecutivamente os

anos escolares, as que sejam obrigadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as

que moram afastadas de quaisquer escolas, as que vivem em condições de

extremada miséria ou que sejam desnutridas, as que sejam vitimas de guerra

ou conflitos armados, as que sofrem de abusos sucessivos físicos, emocionais

e sexuais, ou as que simplesmente estão fora da escola, por qualquer motivo

que seja.

Podemos completar que:

■ Ate duas ou três décadas atrás, o objeto-alvo da educação especial eram as

pessoas portadoras de deficiências;

■ Neste sentido, a educação especial poderia ser considerada

predominantemente em seu sentido pratico, enquanto provedora de serviços a

uma certa "clientela"; e quase invariavelmente, em um determinado ambiente

"especial" (segregado), mais propicio ao respectivo "tratamento" a ser dado a

sua a "clientela";

■ O que, por sua vez, implicava a existência de dois sistemas paralelos de

educação: o regular e o especial;

■ Dados os acontecimentos e progressão históricos de lá para cá, ou seja, o

fortalecimento de ideias democráticos e seus respectivos reflexos nas

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formulações de politicas em diversas áreas (educacionais), social, de saúde

etc.) de vários países, e no planejamento e implementação das respectivas

praticas (sugeridas por tais politicas ou resultantes do processo histórico em

direção a princípios igualitários), a "especialidade" da educação especial

(parafraseando Carvalho, em Conferencia no Congresso Internacional de

Educação Especial, em Curitiba, 1996) começa a ser colocada em questão;

■ Em outras palavras, se o objeto-alvo da educag5o especial passou a ser taco

aumentado, a persistência em sua definição em termos predominantemente

associados a apenas um tipo de "clientela" não Ihe permitiria mais dar conta de

suas próprias tarefas;

■ Isso sem levar em conta que, mesmo para algumas de suas tarefas

tradicionais, a educação especial já não vinha alcançando muito êxito em

fornecer respostas eficazes. A esse respeito, não são poucas as pesquisas que

verificam que a existência de um sistema paralelo de ensino não representa,

necessariamente, uma providencia educacional de maior qualidade, muito

menos garante o afastamento das "dificuldades" encaminhadas às escolas

especiais;

■ Tais conclusões são colocadas com embasamento em dados que mostram

que o grau de fracasso escolar apurado na "clientela" da educação especial é

quase tão espantoso quanto o do alunado da educação regular. Estes estudos,

em geral, apontam para a relatividade do conceito de "necessidades

educacionais especiais", e para a necessidade de haver um ensino

especializado que complemente a provisão educacional regular, fazendo,

portanto, parte desta, e não se constituindo num sistema parte, com instituições

próprias que encarecem ainda mais os serviços sem necessariamente

melhorar a qualidade (ver, por exemplo: Booth, 1987; Cole, 1990; Mittler,

1993);

• Da mesma forma que a educação especial, a educação regular também sofre

suas consequências: o aumento do contingente de fracassados' e excluídos

apenas formaliza a constatação de sua ineficácia e amplia a obviedade da

falácia dela ser um instrumento social de justiça e promoção social. Esta

educação, portanto, também precisava ser revista;

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■ Com isto, o que esta nova concepção, extremamente abrangente, de

"necessidades educacionais especiais" provoca é uma aproximação destes

dois tipos de ensino, o regular e o especial, na medida em que esta nova

definição implica que, potencialmente, todos nos possuímos ou podemos

possuir, temporária ou permanentemente, "necessidades educacionais

especiais", E, se assim o é, então não há porque haver dois sistemas

equivalentes de ensino, mas sim um sistema único, que seja capaz de prover

educação para todo o seu alunado (por oposição a clientela), por mais distinto

que este possa ser ou estar;

■ Educação inclusiva significa que os alunos com deficiência estão sendo

ensinados no mesmo contexto curricular e instrucional com os demais colegas

de sala de aula. Materiais curriculares comuns podem precisar ser adaptados,

mas somente ate o nível necessário para satisfazer as necessidades de

aprendizagem de qualquer aluno;

■ Não se trata, portanto, nem de abolir com um, nem de acabar com o outro

sistema de ensino, mas sim de unifica-los num sistema que partes do mesmo

princípio (de que todos os seres humanos possuem o mesmo valor, e os

mesmo direitos), otimizando seus empenhos e se utilizando de praticas

diferenciadas, sempre que necessário, para que tais direitos sejam garantidos.

E isto quer dizer, na pratica, incluir a educação especial na estrutura de

"educação para todos", conforme citado na declaração de Salamanca.

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2.4 - A LEGISLAÇÃO SOBRE A INTEGRAÇÃO ESCOLAR NA

ESPANHA

Outra via de esclarecimento sobre o movimento de integração escolar pode ser

a de sua análise legislativa no nível nacional.

A ideia da integração não aparece nas leis espanholas até a promulgação de

nossa Constituição, cujos artigos 14 e 49 aludem à igualdade dos deficientes

perante a lei, bem como à obrigação dos poderes públicos de oferecer-lhes

uma série de serviços específicos conforme suas necessidades concretas.

Quanto a isto, o artigo 49 estabelece: "Os poderes públicos realizarão uma

política de tratamento, reabilitação e integração dos deficientes físicos,

sensoriais e psíquicos, aos quais darão o atendimento especializado que

requererem e ampararão especialmente para o gozo dos direitos que este título

confere a todos os cidadãos".

Depois da sanção da Carta Magna, e especificamente dentro do âmbito da

educação, o primeiro texto que ressalta a integração escolar é o Plano

Nacional de Educação Especial (1978). O objetivo deste plano foi o de avaliar

as necessidades educativas dos deficientes mentais e os problemas que

existiam nesse setor, bem como o de servir como guia para sua solução.

Apresentava-se como um marco mínimo de referência global para qualquer

norma legal que pudesse ser elaborada a respeito da problemática dos

deficientes, estabelecendo os princípios básicos que deviam reger a educação

dessas pessoas: princípio de normalização dos serviços, princípio de

integração, princípio de setorização do atendimento multiprofissional e princípio

de individualização do ensino.

Com categoria de lei (Lei Social de Integração do Inválido), em 1982 é

sancionado o primeiro dispositivo legal pelo qual se dá prioridade ao sistema

educacional geral e não aos centros específicos onde as crianças com

deficiência vinham sendo educadas: "O inválido integrar-se-á no sistema

comum da Educação geral, recebendo, em seu caso, os programas de apoio e

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recursos que a presente Lei reconhece [...] somente-quando imprescindível em

razão da profundidade da invalidez, a educação para inválidos será ministrada

em centros específicos" (LISMI, 1992).

A seção terceira do título IV (artigos 23-31) aborda a educação especial,

concebida como um processo integral, flexível e dinâmico que visa alcançar os

seguintes objetivos (artigo 26): a) A superação das deficiências e das

consequências ou sequelas que delas decorrem. b) A aquisição de

conhecimentos e hábitos que lhe confiram a maior autonomia possível. c) A

promoção de todas as capacidades do inválido para o desenvolvimento

harmônico de sua personalidade. d) “A incorporação à vida social e a um

sistema de trabalho que permita aos inválidos servir a si mesmos e realizar-se”.

A aplicação da Logse pretende promover modificações na área educacional

que afetarão o modo de se entender a educação especial; neste sentido,

encontramos aqui a defesa de:

• Um modelo de escola baseado na diversidade e aberto ao meio.

• Modelos de ensino centrados no aluno.

• Aplicação de um novo currículo, que desloca o centro de atenção para o

processo de ensino-aprendizagem e não para o produto deste. O currículo

deve ser modificado, portanto, para dar resposta adequada às necessidades

educativas especiais, o que é feito basicamente em dois sentidos: a adequação

específica do currículo em aspectos de temporalização, sequenciamento e/ou

priorização de objetivos e conteúdos e o fornecimento de meios específicos de

acesso ao currículo, como situações educativas específicas, recursos pessoais

e materiais.

Vemos que a Logse traz uma modificação importante, pois seus fundamentos

teóricos apresentam os requisitos indispensáveis para pôr em prática um

programa de integração escolar como um elemento adicional da engrenagem

geral do sistema educativo, tendendo a potencializar sistemas abertos de

educação que concebem a aprendizagem como um processo efetuado pelo

próprio aluno, mediante suas trocas com o meio e partindo de suas atuais

formas de pensamento. Isto promove uma escola aberta para a diversidade e

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que permite a adequação e adaptação do currículo às necessidades educativas

de cada aluno.

Depois da Lei de Integração Social do Inválido (13/1982), outros instrumentos

legais (tanto da esfera nacional como das comunidades autônomas') vieram

complementá-la. Descreveremos aqui apenas os promulgados na comunidade

andaluza, especificando seu propósito básico:

• Real Decreto 334/1985, de 6 de março, de regulamentação da educação

especial. Seu propósito básico é regulamentar a educação especial já

estabelecida em leis anteriores, mas desenvolvida de maneira incompleta.

Determina que a instituição escolar conte com serviços que lhe permitam

facilitar a integração do aluno com deficiência na escola comum e que esta

mesma instituição contemple a existência de estabelecimentos específicos no

mesmo sistema e em contínua relação com os estabelecimentos comuns.

• Ordem de 30 de janeiro de 1986 pela qual, em conformidade com o

dispositivo final primeiro do Real Decreto 334/1985, de 6 de março, de

regulamentação da educação especial, são fixadas proporções pessoal/alunos

nesta modalidade educativa.

• Ordem de 25 de março de 1986, sobre planejamento da educação especial e

ampliação das experiências de integração na Comunidade Autônoma de

Andaluzia para o ano letivo 1986/87.

• Ordem de 13 de julho de 1994, que cria departamentos de orientação, regula

com caráter experimental os programas de diversificação curricular e autoriza

as experiências com integração, com os programas de garantia social e com os

módulos profissionais de níveis II e III em Centros de Ensino Médio e de

Educação Secundária.

• Ordem de 2 de junho de 1995, sobre critérios para a escolarização de alunos

com necessidades educativas especiais.

• Ordem de 14 de fevereiro de 1996, sobre a regulamentação do procedimento

para a realização da avaliação psicopedagógica e para a escolarização de

alunos com necessidades educativas especiais.

• Ordem de 1° de agosto de 1996, que regulamenta as condições e o

procedimento para flexibilizar, com caráter excepcional, a duração do período

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de escolarização obrigatória dos alunos com necessidades especiais

associadas a condições pessoais de superdotação intelectual.

Ao analisarmos estes dispositivos legais podemos extrair as seguintes

conclusões:

- Houve uma tomada de consciência da necessidade de que a educação

especial faça parte do sistema educacional geral, de modo a permitir a

integração das crianças com necessidades educativas especiais na vida social.

- Foram instaurados sistemas que permitem conhecer a realidade da educação

especial na Espanha e os critérios de ação que se fazem necessários por

consequência.

- Houve uma proposta e a regulamentação das condições adequadas (nos

centros, professorado, recursos, metodologias, projetos educativos etc.) para

que a educação especial chegue a ser considerada tema parte integrante do

sistema educacional geral.

- Conseguiu-se atender a criança com necessidades educativas especiais

como "mais um indivíduo" ao qual o sistema educacional "geral" deve se

adaptar conforme tais necessidades.

- Reconhece-se que qualquer criança pode necessitar desta educação especial

de maneira temporária ou continuamente.

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CAPITULO III – DEFICIÊNCIA MOTORA

Os estudos referentes à deficiência motora e a quaisquer outros transtornos

têm se concentrado principalmente no handicap, que apresentam as pessoas

afetadas, a fim de delimitar diversas categorias onde elas possam ser

classificadas. Embora a resposta clínica se baseie na imutabilidade da

característica estudada, o que se tenta no nível educacional é fazer propostas

de caráter diferenciado conforme as características dos indivíduos afetados e

suas potencialidades para futuros avanços. Nesse sentido, nosso objetivo mais

imediato deve ser o questionamento de propostas relativas à evolução dos

alunos afetados por deficiências motoras no que tange ao tratamento que eles

recebem nos centros de ensino. Também devemos analisar as interações que

ocorrem na sala de aula em torno de processos e situações de educação que,

de alguma maneira, possam chegar a influenciar significativamente a aquisição

e o desenvolvimento de habilidades, destrezas e conhecimentos.

Visando uma melhor reavaliação dos aspectos educacionais, é preciso orientar

a aprendizagem desses alunos para as capacidades e necessidades que eles

apresentam, abrangendo os aspectos que forem necessários e envolvendo

tanto a escola quanto a família e o contexto social como um todo num modelo

baseado no princípio de normalização. Isto fará possível tanto um ensino

individualizado como a utilização de recursos e técnicas curriculares Pará

conseguir o desenvolvimento integral da personalidade do indivíduo, que assim

poderá assumir com eficácia e dignidade qualquer tarefa numa sociedade

respeitosa das diferenças individuais (PEÑAFIEL, 1997: 95).

Trata-se então de apoiar um processo que garanta à pessoa com deficiência

motora a mais ampla participação na vida educativa e social, bem como maior

Independência ou autonomia pessoal.

Como se pode ver, desde o início tentamos deixar de lado o conceito de

integração, que às vezes pode gerar atitudes que reflitam necessidades de

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aceitação, superproteção etc., quando o que realmente importa é que "todos"

os alunos, sejam quais forem suas necessidades, possam ter um

desenvolvimento global e íntegro, sendo escolarizados no meio menos

restritivo possível e onde essas necessidades sejam atendidas da forma mais

adequada e satisfatória, sempre evitando soluções paralelas e traumáticas.

Com a implantação da Logse, ficou estabelecido que o sistema educativo terá

de dispor dos recursos necessários para que os alunos com necessidades

educativas especiais — temporárias ou permanentes — possam atingir dentro

do sistema os objetivos gerais fixados para todos os estudantes. Do ponto de

vista educacional, a deficiência motora não deve de modo algum constituir

empecilho à aquisição de destrezas, hábitos e conhecimentos e, até mesmo da

plenitude do desenvolvimento cognitivo e/ou emocional.

Por tudo isso, e com o propósito de desenvolver uma educação adaptada às

necessidades dessas pessoas, é preciso conhecer as peculiaridades da

deficiência em questão, bem como os tipos e manifestações que possibilitem

estratégias capazes de detectar tais necessidades, oferecer uma resposta

adequada e propor e desenvolver orientações e critérios de intervenção.

Falar em necessidades educativas especiais implica hoje abordar propostas no

contexto de um novo modelo educativo, a fim de atender de modo adequado e

global às necessidades que todos os alunos podem apresentar num

determinado momento da vida. A expressão surgiu em 1978 na Grã-Bretanha,

com o Relatório Warnock, na tentativa de delimitar e definir com precisão o

conceito; e o âmbito dos alunos que por qualquer circunstância se afastavam

do processo de ensino-aprendizagem normalizado.

Em nosso caso, os alunos com deficiência motora precisarão de atendimento

específico dentro de um modelo de currículo flexível e aberto, mas com todos

os ajustes considerados necessários para adaptar as programações às

necessidades desses alunos. O modelo abrange, portanto, uma determinada

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organização e um planejamento efetivo e eficaz dos recursos que a

administração educacional põe à nossa disposição.

Estudantes sem deficiência têm acesso a uma gama bem mais ampla de

papeis sociais; perdem o medo e o preconceito em relação ao diferente;

desenvolvem a cooperação e a tolerância; adquirem grande senso de

responsabilidade e melhoram o rendimento escolar; são mais bem preparados

para a vida adulta porque desde cedo assimilam que as pessoas, as famílias e

os espaços sociais não são homogêneos e que as diferenças são

enriquecedoras para o ser humano.

Educação especial é muito mais do que escola especial. Como tal, sua pratica

não precisa estar limitada a um sistema análogo de educação, e sim fazer

parte da educação como um todo, acontecendo nas escolas regulares e

constituindo-se em mais um sinal de atributo em educação, quando oferecida a

qualquer aluno que dela necessite, por quaisquer que sejam os motivos

(internos ou externos ao individuo). Portanto, nos casos em que uma tradição

paralela do oferecimento da educação especial ainda não esteja consolidada,

aplicar esforços e investimentos na inclusão em educação já seria de inicio, um

benefício, além de demonstrar consenso com as sugestões da Declaração de

Salamanca.

CONCEITO DE DEFICIÊNCIA MOTORA

Entendemos por deficiência motora toda e qualquer alteração ou deficiência

orgânica do aparelho motor ou de seu funcionamento que afetam o sistema

ósseo, articulações, nervos e/ou músculos. As pessoas afetadas têm clara

desvantagem em seu aparelho locomotor, decorrente de limitações posturais,

de deslocamento, coordenação e manejo, podendo sofrer de duas ou mais

destas. Por vezes elas são acompanhadas de outras alterações sensoriais,

perceptivas e da linguagem, com preservação da capacidade intelectual em

uma alta porcentagem dos casos.

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No nível educacional deparamo-nos com uma problemática quanto à

intervenção, pois cada indivíduo é afetado de maneira diferente, mas, como já

temos dito o processo de intervenção não deve atentar em primeiro lugar para

o déficit que apresenta o aluno, mas para suas possibilidades de aprendizagem

e potencialidades de desenvolvimento educativo.

3.2 - DOENÇAS E CAUSAS DA DEFICIÊNCIA MOTORA

Uma vez que as características que definem esta deficiência são muito amplas

e variadas, faremos referência a apenas algumas delas e às suas principais

consequências no momento de desenvolver um modelo adequado de'

aprendizagem: artrite reumática juvenil, transtornos ortopédicos, agenesias de

membros, poliomielite ou paralisia infantil e traumatismos e fraturas.

No desenvolvimento deste capítulo nos dedicaremos às deficiências de maior

incidência na idade escolar e que demandam maiores adaptações do currículo,

como a paralisia cerebral e a espinha bífida.

Esta patologia é originada por diversas causas. Em geral, podemos estabelecer

o seguinte esquema quanto às causas:

• Lesão do sistema nervoso central quer seja em nível cerebral ou medular

(paralisia cerebral, poliomielite, hemiplegia e espinha bífida).

• Lesões do sistema nervoso periférico. Geralmente, afecções ocasionadas

durante o parto e que impedem os movimentos que envolvem controle

voluntário (paralisia cerebral e outras).

• Lesões por traumatismos. Acidentes que afetam em diferentes graus

(paralisia cerebral e outras).

• Malformações congênitas. Originadas no período de gestação (paralisia

cerebral e outras).

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• Transtornos psicomotores. Decorrentes, em geral, de perturbações tônico-

emocionais precoces, hábitos e descargas motrizes na evolução (arritmias,

balançar da cabeça, debilidade motriz, instabilidade motriz e outras).

Do ponto de vista da prática educacional é importante conhecer as causas da

lesão, mas é muito mais importante efetuar um diagnóstico tão precoce quanto

possível que permita a elaboração e o projeto de programas de intervenção

adequados às necessidades e potencialidades do indivíduo.

3.3 - CLASSIFICAÇÃO DA DEFICIÊNCIA MOTORA

Segundo Martín Caro (1990), a deficiência motora abrange uma diversidade de

funções. Portanto, nós as classificaremos da seguinte maneira:

• Conforme a data de surgimento: malformações congênitas, espinha bífida,

luxação congênita do quadril, paralisia cerebral, traumatismos

cranioencefálicos, traumatismos vertebrais e tumores.

• Conforme a etiologia: transmissão genética (mãe portadora, um dos pais tem

a mesma deficiência, ambos os pais são portadores recessivos de uma mesma

alteração genética etc.), infecções microbianas (tuberculose óssea, poliomielite

anterior aguda etc.), acidentes (paralisia cerebral, coma por traumatismo

craniano, paraplegia pós-traumática, amputações, queimaduras etc.), origem

desconhecida (espinha bífida, escoliose idiopática, tumores etc.).

• Conforme a localização topográfica: paralisia (monoplegia, hemiplegia,

paraplegia, diplegia e tetraplegia) e paresia (monoparesia, hemiparesia,

paraparesia e tetraparesia).

• Conforme a origem: de origem cerebral (paralisia cerebral, traumatismos

cranioencefálicos e tumores), de origem espinhal (poliomielite anterior aguda,

espinha bífida, lesões medulares degenerativas, traumatismos medulares etc.),

de origem muscular (miopatia etc.) e de origem osteoarticular (malformações

congênitas, distrofias, infecções microbianas, reumatismo da infância e lesões

osteoarticulares por desvio da raque).

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Como temos dito, vamos fazer referência apenas às patologias mais frequentes

nos centros de ensino e que necessitam de uma série de adaptações para sua

posterior intervenção, como a paralisia cerebral e a espinha bífida.

3.4 - PARALISIA CEREBRAL

O termo "paralisia cerebral" é reconhecido como denominação geral que

abrange diversos transtornos específicos caracterizados por uma lesão dos

centros motores, do encéfalo e que se manifestam pela perda do controle

motor. Esta lesão é de caráter não progressivo e ocorre antes de o sistema

nervoso central (SNC) ter atingido seu' completo desenvolvimento. A síndrome

motora pode ser piramidal, extrapiramidal ou cerebelar, o que determina o tipo

de paralisia.

Alguns autores, como Corominas e Torras, definem a paralisia cerebral corno a

sequela de uma afecção encefálica caracterizada principalmente por um

transtorno persistente — embora não invariável — do tom, da postura e do

movimento, que surge na primeira infância e pode ser ocasionado pela

influência exercida por tal lesão sobre a maturação neurológica. Para a

Comissão Mundial da Paralisia Cerebral, reunida em Berlim em 1966, a

paralisia cerebral é um transtorno persistente — embora não invariável — da

postura e do movimento, decorrente de uma disfunção do encéfalo ocorrida

antes de seu crescimento e seu desenvolvimento concluírem.

Vemos que as definições desta patologia diferem entre os autores, mas há uma

série de características que nos permitem delimitar o conceito:

1) Em primeiro lugar, que os transtornos resultam de uma lesão cerebral

(encéfalo) que interfere com o desenvolvimento normal da criança. Ocorre

entre o primeiro e o terceiro ano de vida.

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2) Caracteriza-se por prejudicar predominantemente as funções motoras,

afetando o tom — contração muscular em repouso —, a postura — equilíbrio

da pessoa — e o movimento — ação motora voluntária.

3) Finalmente, o conceito generalizado é de que a lesão não é evolutiva, mas

suas consequências podem variar na criança. Na maioria dos casos, os

transtornos motores afetam os órgãos motores bucais da fonação e atrapalham

o desenvolvimento da alimentação e da fala.

Uma vez que as causas da paralisia cerebral variam de um caso para outro, a

doença não pode nem deve ser atribuída a um único fator, embora todos os

casos tenham como denominador comum a deficiente maturação do SNC, que

geralmente decorre de mais de uma causa, por exemplo:

• Pré-natal: A lesão ocorre durante a gravidez, podendo haver influência de

condições desfavoráveis da mãe na gestação. A lesão que acontece durante

os quatro primeiros meses da gestação é denominada embriopatia, enquanto a

ocorrida entre o quarto mês e o final da gravidez é chamada fetopatia.

Responde por cerca de 35% dos casos.

• Perinatal: As lesões ocorrem no momento do parto. Ocasionam 55% dos

casos e suas causas mais frequentes são anoxia, asfixia, traumatismo por

fórceps, prematuridade e, de modo geral, todo parto que provoque sofrimento à

criança.

• Pós-natal: A lesão resulta de doenças surgidas depois do nascimento.

Corresponde a 10% dos casos e pode ser causada por traumatismos

cranianos, infecções, acidentes vasculares, acidentes anestésicos,

desidratação etc.

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CAPÍTULO IV – A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Afirmamos categoricamente que os tratamentos psicopedagógicos aplicados

na criança especial funcionam. Isto já foi confirmado por uma série de

experiências. A integração da criança especial é, portanto, uma realidade. O

nível de normalização que a criança especial pode atingir em todos os âmbitos

vitais na família, na escola, no trabalho posteriormente etc., dependerá em

grande parte, como já temos dito, das capacidades cognitivo-linguísticas

infantis. Visar alcançar o mesmo nível de integração e normalização com todas

as crianças especiais é um desiderato, mas não menos que a pretensão similar

quanto a outras NEE. Neste sentido, o autismo não é diferente.

Conhecendo detalhadamente o nível de partida, isto é, o “ potencial de

trabalho” que a criança especial oferece aos seus educadores como resultado

de uma avaliação rigorosa, podemos começar a elaborar uma intervenção

psicopedagógica realista, adequada às necessidades e possibilidades da

criança e de sua família e que certamente trará um avanço no

desenvolvimento. No entanto, mesmo levando em consideração estas

questões no momento de projetar uma intervenção, há outros dois fatores, já

mencionados anteriormente, são externos à própria criança e tão fundamentais

como os fatores infantis antes descritos. Se eles não forem considerados, a

intervenção fracassará totalmente, mesmo que se trate de uma criança com

amplas possibilidades e um prognóstico favorável. Esses fatores são:

• A estruturação absoluta da intervenção que, de forma rigorosa, deve-se

colocar previamente a definição exaustiva de todos os elementos do

processo de ensino-aprendizagem, os recursos didáticos a utilizar, a

temporalização, a avaliação durante o processo etc. Com um bom

planejamento educativo obteremos melhores resultados com crianças

que a princípio parecerem ter maior déficit do que intervindo de maneira

menos sistemáticas com crianças que, por terem melhor nível intelectual

ou linguístico, deveriam conseguir resultados superiores.

• Dentro do processo de ensino-aprendizagem, mas separada pela sua

especial importância, encontra-se a coordenação de todas as pessoas

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que de uma maneira ou outra participam da educação da criança

especial. As experiências bem-sucedidas que conhecemos coincidem

significativamente em considerar essa coordenação imprescindível para

obterem avanços. Entre os agentes educativos salientamos aqui os pais,

em virtude do papel fundamental que desempenham e porque com

frequência precisam, por sua vez, do apoio de profissionais.

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4.1 O AUTISMO

Da avaliação, finalizando com uma parte que trata da intervenção. Nesta

última parte centraremos a atenção não só na intervenção mais formal, como

também numa série de conselhos que entendemos úteis para a comunicação

com a criança autista, posto que já se tem ressaltado sobejamente a

conveniência de coordenar os diversos agentes educativos para cuidar da

educação de crianças com graves problemas de generalização de

aprendizagens. Terminaremos sugerindo algumas diretrizes práticas de

orientação para toda pessoa interagir com crianças autistas. Conforme esta

estrutura, visamos os seguintes objetivos:

• Fornecer ao leitor um conhecimento tão preciso e objetivo quanto possível

sobre o autismo, sem otimismos que possam resultar facilmente em frustração,

mas limitando-nos às possibilidades da criança autista e ao modo de se obter o

máximo rendimento de sua potencialidade, rejeitando o mito de que seja

praticamente impossível ter "acesso" a esse mundo próprio em que o autista se

encontra recluso. • Apresentar os principais instrumentos — padronizados ou

não — de avaliação do autismo atualmente utilizados em nosso meio

educacional.

• Prover conhecimento das áreas alteradas e seu desenvolvimento,

necessariamente breve em razão do espaço disponível, tentando examinar as

hipóteses de se estamos diante de um desenvolvimento normativo, embora

atrasado, ou peculiar e próprio do autismo, pois isto pode ter importantes

consequências no momento de se intervir.

• Propor procedimentos práticos de intervenção que ajudem o educador da

criança autista a estabelecer uma série de princípios de intervenção claros e

detalhados que são hoje em dia, organizados de maneira sistemática, o melhor

instrumento de integração da criança autista.

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4.2 DEFINIÇÂO: A Síndrome Autista

À diferença do que acontece com crianças descritas em outros capítulos deste

livro, nos quais a delimitação do problema, suas causas, sua avaliação e seu

conseguinte diagnóstico são tarefas relativamente conhecidas, nestas páginas

começaremos por esclarecer que já no início nos deparamos com a primeira

dificuldade: o parco conhecimento que temos do autismo e até de sua

definição. Cabe mencionar aqui as dificuldades que sempre apresentou a

caracterização do autismo, mesmo levando em consideração que ela já foi

exposta por Kanner décadas atrás (sua descrição data de 1943). Por que os

pesquisadores se deparam com este problema? Há uma evidente dificuldade

de conceituação e rotulação diagnóstica pelo fato de ser uma síndrome e de

compartilhar padrões condutais com, por exemplo, a esquizofrenia infantil, o

mutismo elou déficits sensoriais ou o retardo mental. Das posturas tradicionais

e próximas à psicopatologia psiquiátrica, que consideraram o autismo incluído

entre as psicoses (mais precisamente como um estado psicótico próprio da

infância), aos poucos tem se evoluído para outra postura que opta por

considerá-lo um transtorno do desenvolvimento (DSM-IV, 1994), provavelmente

o protótipo dos transtornos profundos do desenvolvimento, embora esta nova

definição não esteja isenta de ambiguidade (RIV1ÈRE, 1988). As implicações

da adoção de uma destas posições têm de ser levadas em consideração, uma

vez que cada uma delas denota matizes diferentes que, portanto, favorecem

dois tipos de lógica quanto ao projeto de um programa educacional: a que

entende desejável uma assimilação da realidade "normal" e a que está focada

nas peculiaridades do desenvolvimento. Outro fator que dificulta muito a

pesquisa (RIVIÈRE, 1988) é a grande variabilidade existente neste grupo de

crianças (de retardos mentais significativos até uma inteligência "normal", na

capacidade de adquirir e utilizar uma linguagem de maneira mais ou menos

funcional etc.). Esta variabilidade manifesta-se em dois aspectos: • Por um

lado, existe no autismo uma grande variabilidade entre indivíduos, isto é, entre

as crianças autistas podemos encontrar grandes diferenças no nível de

competência social, intelectual, linguístico-comunicativa etc. Por outro lado,

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como já se tem salientado reiteradamente, também se observa variabilidade no

indivíduo, isto é, na própria criança, com diferenças de nível entre áreas de

desenvolvimento, o que tem sido chamado de "desarmonia evolutiva". De tudo

isso decorre uma dificuldade no duplo nível de estudo: a dificuldade descritiva,

referente aos instrumentos de medição, e a dificuldade explicativa, concernente

à atribuição de causas. Atualmente, desde que a especificidade do autismo

vem sendo definida cada vez com maior precisão, mesmo que apenas no nível

condutual, o problema é considerado uma síndrome caracterizada por uma

série de elementos e déficits que não necessariamente são exclusivos dele

(LEBLANC & PAGE, 1988), mas se combinam de diversas maneirasses

diferentes crianças, Também se observam diferentes graus de gravidade, o

que levou alguns autores (RAPIN, 1997) a proporem o termo "espectro autista"

como mais próximo à realidade. Adotaremos nestas páginas a definição

fornecida pelo DSM-IV (Associação Americana de Psiquiatria, 1994), que

caracteriza o autismo como síndrome que abrange: Alterações qualitativas na

relação interpessoal, apresentando-se comportamentos verbais e não verbais

alterados, bem como grandes dificuldades para o estabelecimento de

interações sociais, carência de reciprocidade emocional nos diante de ti subtipo

do espectro autista ou de uma síndrome de outra natureza. Assistimos

atualmente a um debate no qual ambas as posições têm defensores. Para

simplificar o panorama, muitos autores consideram as crianças com Síndrome

de Asperger como "autistas de alto nível" ou, o que é equivalente, autistas

inteligentes e com linguagem (GILCHRIST et al., 2001; MAYES & CALHOUN,

2001). Este tipo de filosofia faz com que, em muitas pesquisas, eles sejam

equiparados como grupos. Contudo, outros pesquisadores entendem que,

mesmo compartilhando traços diagnósticos importantes, há diferenças também

fundamentais de habilidades e medidas de execução entre autistas e

indivíduos com Síndrome de Asperger. Portanto, continua a ser motivo de

polêmica se o autismo e a Síndrome de Asperger são realmente entidades

noológicas independentes, uma vez que há mais semelhanças do que

diferenças, o que leva alguns autores a achar mais adequada uma visão

dimensional do que de taxonomias diferentes (LEEKMAN et al., 2000). Sendo

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assim, nas páginas seguintes reunimos ambos os rótulos diagnósticos,

referindo-nos explicitamente a qualquer uma delas quando for preciso

considerá-las de maneira independente.

4.3 As causas do autismo

Se com a definição ficávamos num terreno não muito claro, quando se trata de

examinar as causas do autismo nos deparamos com o mesmo panorama. O

primeiro dilema que enfrentamos é o do papel desempenhado pelas variáveis

biológicas e ambientais no autismo. Infelizmente, embora haja esforços de

pesquisa nas áreas da neurologia, da genética, da psicologia e de outras

disciplinas, ainda não temos uma resposta inequívoca.

Classicamente, a causa do autismo foi considerada afetiva. Isto é, a criança

autista era potencialmente normal ao nascer, mas variáveis ambientais

(principalmente parentais) favoreciam um bloqueio emocional ou trauma que

possibilitava o surgimento da síndrome condutual. Na atualidade, poucos

estudiosos do autismo consideram isto possível. Entretanto, esta opção teórica,

ainda que com matizes, conta com herdeiros provenientes da etologia

(TINBER-GEN & TINBERGEN, 1985), Para estes autores, as variáveis afetivas

foram descartadas de forma demasiada frente leviana, o que os leva a propor

como explicação do autismo um "conflito motivacional agudo", embora não

deixem de lado Os aspectos orgânicos ou genéticos. Todavia, a ênfase na

linha afetiva diferencia-os de outras teses etiológicas: "as diversas

peculiaridades nas habilidades perceptivas, cognitivas e motoras (inclusive a

fala) são, em nosso entender, secundárias, são sintomas em comparação com

a deterioração emocional central" (1985: 24). Do ponto de vista psicológico, a

ênfase vai deixando o plano emocional (explicação próxima a teorias

dinâmicas) para incidir num nível organicista, mais precisamente no plano

cognitivo, prevalente na atualidade.

Na pesquisa mais "orgânica", diversas alterações foram encontradas em

algumas crianças autistas, mas não em todas: dano cerebral, diferenças

estruturais em estruturas como o tronco cerebral ou a amígdala (BARON-

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COHEN et al. 2000), episódios de epilepsia, alterações em diversas estruturas

do SNC, transator: nos metabólicos, bioquímicos etc. Quanto ao componente

genético, a probabilidade de existência de autismo parece ser maior em

famílias nas quais a doença já se apresentou, mas não alta o bastante para

que se possa estabelecer claramente um padrão de transmissão hereditária.

Logo, alguns autores preferem a hipótese de uma herança genética recessiva.

Estudos recentes nesta linha (RODIER, 2000) indicam que provavelmente

estejam envolvidas as variantes de diversos genes, não de apenas um. O

campo da engenharia genética é certamente o contexto onde surgirão os

próximos achados importantes, Também parece haver fatores ambientais que

deflagram a transmissão hereditária, uma vez que em gêmeos monozigóticos,

se um deles é autista, a probabilidade de o outro padecer da síndrome é de

60%.

Uma vez que ainda não podemos afirmar categoricamente qual é a causa do

autismo, temos de continuar a trabalhar no terreno das hipóteses. Cresce o

número daqueles que consideram inadequado procurar uma única causa para

o autismo, de modo que a pesquisa tem de prosseguir em todas as frentes. No

campo da psicologia, a hipótese que hoje recebe maior apoio é a de um déficit

cognitivo básico e central (RUTTER, 1984) que afeta principalmente as

capacidades de simbolização (RIV1ÈRE, 1990), o que explica os problemas

em áreas tão diferentes quanto a brincadeira e a linguagem, pois as duas

necessitam da função simbólica. Todavia, devemos admitir que não

conhecemos a natureza desse déficit, mas apenas as alterações que ele pode

ocasionar e que apresentamos a seguir.

4.4. Descrição das Alterações

Seguindo a estrutura da definição que nos fornece o DSM-IV dividiram as

alterações características do autismo em transtornos na interação social, na

comunicação e na linhagem e presença de condutas estereotipadas.

Desenvolveremos a seguir cada um destes elementos. Convém esclarecer que

nem todas as crianças apresentam todos os sintomas e que, quando isto

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ocorre, eles não surgem com a mesma gravidade. Exporemos nestas páginas

uma lista geral que deve ser ponderada, levando em conta este

esclarecimento.

4.5 Interação social

Os transtornos na interação são provavelmente os mais característicos, para a

maioria das pessoas, ao pensar num indivíduo autista. Isto se deve por certo

ao fato de uma conduta de "afastamento do-inundo- chamar muito a atenção

quando observada em crianças; tanto é assim que, até algum tempo atrás.

existia a crença.

Ensino aprendizagem, os recursos didáticos a utilizar, a temporalização, a

avaliação durante o processo etc. Com um bom planejamento educativo

obteremos melhores resultados com crianças que a princípio parecerem ter

maior déficit do que intervindo de maneira menos sistemática com crianças

que, por terem melhor nível intelectual ou linguístico, deveriam conseguir

resultados superiores.

• Dentro do processo de ensino-aprendizagem, mas separada pela sua

especial importância, encontra-se a coordenação de todas as pessoas que de

uma maneira ou outra participam da educação da criança autista. As

experiências bem-sucedidas que conhecemos coincidem significativamente em

considerar essa coordenação imprescindível para obterem anos. Entre os

agentes educativos salientamos aqui os pais, em virtude do papel fundamental

que desempenham e porque com frequência precisam, por sua vez, do apoio

de profissionais.

4.6 O programa de Intervenção

Talvez o mais complexo seja o estabelecimento de objetivos educativos, uma

vez que é preciso conciliar o importante com o urgente. Estes objetivos devem

ser norteados por critérios de relevância, adaptação ao desenvolvimento

normal, funcionalidade e validade ecológica (RIVIÈRE, 1989). A intervenção

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tem tido como alvo principal os dois domínios que, como já vimos, são

especialmente deficitários. a linguagem e a interação social, que nem sempre

estão bem diferenciados no caso da criança autista.

Além do procedimento concreto que empregarmos, teremos de levar em

consideração que, como em todos os casos, mas em especial aqui, o adulto

educador tem uma tarefa fundamental a realizar que consiste justamente em

conseguir ser aceito pela criança nesse papel. Rivière (1989) fornece

orientações precisas sobre o padrão condutual que deve adotar o professor da

criança autista. O mais importante é contar, com base em princípios educativos

comuns assumidos, com um atendimento individualizado e baseado no

conhecimento profundo de cada criança, tendo presente a já mencionada

variabilidade que invalida qualquer tentativa de elaborar um "pacote

educacional" geral para todas as crianças autistas. A este respeito tem havido

discussão quanto à conveniência de urna maior ou menor estruturação do

ambiente e, foranto, das experiências educativas a que a criança autista deve

ser exposta. Os defensores da menor estruturação provêm principalmente das

posturas etológicas (TINBERGEN & TINBERGEN, 1984) antes mencionadas.

Entretanto, a balança parece pender mais para a maior eficácia da estruturação

(devido aos bons resultados obtidos pelos procedimentos de análise funcional

de conduta próximos às teorias da aprendizagem), como se verificou

empiricamente em diversos estudos (LOVAAS, 1981), embora se deva evitar.

Estruturar demais as experiências de aprendizagem, como recomenda Rivière

(1991), entre outros autores. A principal razão reside nos problemas de

generalização que se apresentam com muitas crianças autistas, se projetarmos

a pesquisa de modo a expor a criança a uma situação quase de laboratório, as

aprendizagens que nela ocorrerem serão dificilmente extrapoláveis a outras

situações mais "naturais". Logo, além de controlar a estruturação da situação

de aprendizagem, é preciso treinar especificamente a generalização

(FRONTERA, 1993).

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4.7 O papel dos diversos agentes educativos: A escola e os pais

As mudanças legais em relação aos alunos com Necessidades Educativas

Especiais (NEE) ultrapassam mais de urna década na Espanha, com a sanção

da Lei de Integração Social das Pessoas Deficientes, de 1982, e mais

concretamente na área educacional com o Real Decreto sobre Ordenamento

da Educação Especial, de 1985. A situação da educação das crianças com

NEE ficou ainda mais definida e diversificada com a Logse, em 1990.

Logicamente, estas mudanças legais também atingiram as crianças autistas.

Todavia, devemos ressaltar que o autismo tem sido prioritariamente acolhido

do ponto de vista educativo nos centros de ensino particulares e que só nos

últimos anos a escola pública passou a abrir suas portas às crianças autistas,

de maneira sistemática, daí que estejam começando, os estudos na escola

normal. As diferentes possibilidades de integração (combinada, absoluta etc.)

têm vantagens e inconvenientes e sua adoção dependerá em grande parte das

características da criança e do centro de ensino.

Os pais Nunca se de, e esquecer o papel fundamental desenfiado pelos pais

como colaboradores na educação. Em certos casos, talvez o primeiro trabalho

de motivação a ser realizado não seja com a própria criança, mas com seus

pais. Devemos ter sempre presente o desapontamento e a falta de

envolvimento que podemos observar em pais que parecem "não se importar"

com os filhos e que tendem a se culpar e a achar-se de alguma maneira

responsáveis pelo padrão anormal de interação que o autismo impõe na

família. (Para a justificação teórica e metodológica e a exposição de Programas

de treinamento para pais, cf. McMAHON, 1991; trabalhos específicos para pais

de crianças autistas, DE MYER, 1.'983; LOVAAS, 1984). Por sua vez, os pais

de crianças com Síndrome de Asperger de maiores dificuldades e frustrações,

pois o diagnóstico desta síndrome é mais tardio que o do autismo, ocorrendo

em geral por volta dos 11 anos de idade (HOWL1N & ASGHARIAN, 1999). -

Quanto aos pais da criança autista e à participação que eles podem ter, cabe

apontar dois níveis:

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1) No lar, os pais do autista têm de receber urna atenção especial, no só pelo

problema sócio emocional que implica o fato de interagirem com uma criança.

Que tem alteração justamente nesta área, mas também porque, vi5to que as

crianças autistas não tiram proveito da aprendizagem incidental (BERNAR-DO

& MARTIN, 1993), as estratégias de ensino informal de cite os pais lançam

mão de modo natural quando interagem com o filho parecem ser ineficazes.

Como o modo natural não funciona, os pais ficam sem recursos consumais de

interação, e isto se soma aos problemas motivacionais decorrentes do

desamparo aprendido que estes pais podem desenvolver. Teremos de tratar a

culpa que provavelmente eles sofram e evitar as duas condutas extremas: a

superproteção e a rejeição. 2)Um segundo nível é o do treinamento específico

dos pais nas técnicas que forem utilizadas com a criança (MARTINEZ, 1997;

LOVA AS, 1990; BERNARDO & MARTI-N, 1993), tanto para promover a

generalização de aprendizagens quanto para que os pais possam lidar com

condutas que surjam especificamente no lar. Também parece especialmente

útil a existência de grupos de apoio formados por outros pais, pois os encontros

periódicos com pessoas que vivenciam ou vivenciaram situações similares

melhoram substancialmente as capacidades e habilidades dos pais para

impera programas de intervenção em casa (STAHMER & GIST, 2001).

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CONCLUSÃO

O projeto de reforma para se obter escolas inclusivas não é tarefa simples.

Enfrenta não só as resistências normais de qualquer mudança, mas também

aborda as contradições que o próprio processo de inclusão suscita. Ao mesmo

tempo em que o currículo precisa ser comum, por exemplo, é preciso também

respeitar os ritmos e os estilos de aprendizagem de cada aluno.

É necessário combinar os traços comuns, com as características próprias de

cada aluno e de seu contexto. Deve haver um enfoque que analise de forma

interativa a situação de cada criança e que leve em conta os traços comuns

entre os outros alunos, e respeito pelas suas diferenças, e o que é específico

do seu ambiente familiar, pessoal e educativo. Essa combinação só existirá

quando houver um trabalho essencialmente transdisciplinar e um casamento

harmonioso entre os interesses da educação especial e inclusiva, atendendo

principalmente o aluno em questão.

O objetivo de criar escolas inclusivas que sejam de qualidade, atrativas e

valorizadas pela comunidade educacional, exige muito mais que boas

intenções, declarações oficiais e documentos escritos. Exige que o conjunto da

sociedade (escola, comunidade educativa, professores e pais) tome

consciência dessas tensões e trabalhe em prol de uma sociedade mais justa. É

preciso, sobretudo, compreender a realidade educacional como um processo

de mudança para formas mais completas de integração e de participação.

Vale a pena citar, aqui, algumas palavras da Professora Sônia Fernandes,

Diretora do Instituto Helena Antipoff/SME — RJ, no ano de 2000, durante o

Fórum sobre Educação e Saúde promovido pelo Ministério sobre Educação e

Saúde promovido pelo Ministério da Saúde, no Instituto Philippe Pinel/RJ:

A sociedade continua a estigmatizar e excluir,

pois permanece estabelecendo padrões

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normatizantes, impedindo assim que o

portador de necessidades especiais sinta-se

de verdade um cidadão com direitos e

deveres...

Ao mesmo tempo, a manutenção de atitudes

filantrópicas e assistencialistas por parte de

um número, anda que reduzido, de

profissionais e instituições fortalece a visão

social de impossibilidade e limites que precisa

ser superada. É comum, ainda hoje, encontrar

educadores que entendem que a integração

escolar tem como objetivo a socialização.

Outros propõem ainda toda a fase de

preparação que deve anteceder a integração

propriamente dita, com objetivo de

instrumentalizar os alunos para que consigam

se ajustar a uma estrutura pronta que não se

flexibiliza diante das necessidades educativas

especiais dos diferentes alunos.

Lembramos com isso que os projetos político-pedagógicos das escolas devem

ser elaborados a partir de um conhecimento da diversidade dos alunos que

nelas ingressam, considerando-se que desta diversidade também fazem parte

os portadores de necessidades educativas especiais. Tal situação exige uma

redefinição da prática pedagógica, da dinâmica da sala de aula e

principalmente dos critérios de avaliação.

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