educação prisional

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REDES, Santa Cruz do Sul, v. 14, n. 2, p. 198 - 211, mai./ago. 2009 198 Educação prisional como projeto de superação da subordinação Educação prisional como projeto de superação da subordinação Educação prisional como projeto de superação da subordinação Educação prisional como projeto de superação da subordinação feminina: prisão e estigma. feminina: prisão e estigma. feminina: prisão e estigma. feminina: prisão e estigma. Adriana Rivoire Menelli de Oliveira 1 Eunice Maria Nazarethe Nonato 2 Tarcísio Staudt 3 RESUMO RESUMO RESUMO RESUMO Este artigo apresenta as primeiras interpretações do estudo de caso realizado no Presídio Feminino Madre Pelletier, localizado em Porto Alegre-RS, onde acontece um Curso de Graduação em Serviço Social, oferecido pelo Centro Universitário Metodista IPA. Mostra que o fato de a população feminina ser minoria entre a população carcerária está associado à subordinação da mulher como um fato comum em todas as culturas. A exclusão da mulher, bem como o tratamento desigual em relação ao homem dá-se em decorrência dos papéis que lhe foram atribuídos pela sociedade. A análise do estigma como identidade social das mulheres presas aponta para a necessidade de políticas de inclusão que permitam à população carcerária feminina possibilidades de superação, por meio do acesso a processos educativos, dos papéis sociais que a estigmatiza, subordina e exclui. Palavras Palavras Palavras Palavras-chave chave chave chave: Estigma; Mulher; Exclusão;Educação Prisional. INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO Este artigo pretende abordar a temática da inclusão da mulher e propõe política de acesso ao ensino superior pela população carcerária como possibilidade de 1 Adriana Rivoire Menelli de Oliveira Adriana Rivoire Menelli de Oliveira Adriana Rivoire Menelli de Oliveira Adriana Rivoire Menelli de Oliveira, Doutoranda em Educação pela PUC-RS, Mestre em Educação pela PUC-RS, Graduada em Letras, Português e Literatura Brasileira pela PUC-RS, Diretora Geral da Rede Metodista de Educação do Sul e Reitora do Centro Universitário Metodista IPA e-mail: [email protected] . 2 Eunice Maria Nazarete Nonato Eunice Maria Nazarete Nonato Eunice Maria Nazarete Nonato Eunice Maria Nazarete Nonato, Doutoranda em Ciências Sociais pela UNISINOS, Mestre em Educação pela UNICOR-MG , Graduada em Direito e Pedagogia - UNIVALE-MG, Coordenadora de Extensão e Ação Comunitária e Professora no Centro Universitário Metodista IPA / RS e-mail: [email protected] . 3 Tarcísio Staudt Tarcísio Staudt Tarcísio Staudt Tarcísio Staudt, Mestre em Ciências Contábeis e Controladoria – UNISINOS, Graduado em Ciências Contábeis – FEEVALE, Professor de Ciências Contábeis, Administração, Turismo e Hotelaria no Centro Universitário Metodista – IPA e Faculdades Monteiro Lobato – FATO / RS – e-mail: [email protected] . Submetido em 11/09/2007. Aprovado em 06/08/2008.

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  • REDES, Santa Cruz do Sul, v. 14, n. 2, p. 198 - 211, mai./ago. 2009

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    Educao prisional como projeto de superao da subordinao Educao prisional como projeto de superao da subordinao Educao prisional como projeto de superao da subordinao Educao prisional como projeto de superao da subordinao feminina: priso e estigma.feminina: priso e estigma.feminina: priso e estigma.feminina: priso e estigma.

    Adriana Rivoire Menelli de Oliveira1 Eunice Maria Nazarethe Nonato2

    Tarcsio Staudt3

    RESUMORESUMORESUMORESUMO Este artigo apresenta as primeiras interpretaes do estudo de caso realizado no Presdio Feminino Madre Pelletier, localizado em Porto Alegre-RS, onde acontece um Curso de Graduao em Servio Social, oferecido pelo Centro Universitrio Metodista IPA. Mostra que o fato de a populao feminina ser minoria entre a populao carcerria est associado subordinao da mulher como um fato comum em todas as culturas. A excluso da mulher, bem como o tratamento desigual em relao ao homem d-se em decorrncia dos papis que lhe foram atribudos pela sociedade. A anlise do estigma como identidade social das mulheres presas aponta para a necessidade de polticas de incluso que permitam populao carcerria feminina possibilidades de superao, por meio do acesso a processos educativos, dos papis sociais que a estigmatiza, subordina e exclui. PalavrasPalavrasPalavrasPalavras----chavechavechavechave: Estigma; Mulher; Excluso;Educao Prisional.

    INTRODUOINTRODUOINTRODUOINTRODUO

    Este artigo pretende abordar a temtica da incluso da mulher e prope poltica de acesso ao ensino superior pela populao carcerria como possibilidade de

    1 Adriana Rivoire Menelli de OliveiraAdriana Rivoire Menelli de OliveiraAdriana Rivoire Menelli de OliveiraAdriana Rivoire Menelli de Oliveira, Doutoranda em Educao pela PUC-RS, Mestre em Educao pela PUC-RS, Graduada em Letras, Portugus e Literatura Brasileira pela PUC-RS, Diretora Geral da Rede Metodista de Educao do Sul e Reitora do Centro Universitrio Metodista IPA e-mail: [email protected].

    2 Eunice Maria Nazarete NonatoEunice Maria Nazarete NonatoEunice Maria Nazarete NonatoEunice Maria Nazarete Nonato, Doutoranda em Cincias Sociais pela UNISINOS, Mestre em Educao pela UNICOR-MG , Graduada em Direito e Pedagogia - UNIVALE-MG, Coordenadora de Extenso e Ao Comunitria e Professora no Centro Universitrio Metodista IPA / RS e-mail: [email protected].

    3 Tarcsio StaudtTarcsio StaudtTarcsio StaudtTarcsio Staudt, Mestre em Cincias Contbeis e Controladoria UNISINOS, Graduado em Cincias Contbeis FEEVALE, Professor de Cincias Contbeis, Administrao, Turismo e Hotelaria no Centro Universitrio Metodista IPA e Faculdades Monteiro Lobato FATO / RS e-mail: [email protected].

    Submetido em 11/09/2007. Aprovado em 06/08/2008.

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    ressignifio do tempo e da vida das pessoas condenadas pena privativa de liberdade. Defende-se a posio de que a pena retira a liberdade, mas mantm o direito da pessoa humana de ser educada e de ser tratada com dignidade e respeito. Entende-se que um projeto educativo para a populao carcerria contribuir para o enfrentamento da questo social.

    A metodologia utilizada neste estudo a abordagem das principais literaturas sobre o tema, caracterizando-se em um estudo bibliogrfico associado observaes de campo realizadas no Presdio Feminino Madre Pelettier, localizado na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

    O CASOO CASOO CASOO CASO

    Em maro de 2006, no presdio feminino Madre Pelettier, o Centro Universitrio Metodista IPA deu incio a um Curso de Servio Social, oferecido s apenadas e s agentes penitencirias que prestam servio no presdio, as quais tendo sido submetidas ao vestibular foram aprovadas e selecionadas.

    Tal ao efetivou-se em funo de Convnio firmado entre a SUSEPE-Superintendncia de Servio Penitencirio e o Centro Universitrio Metodista IPA, pertencente Rede Metodista de Educao do Sul, para a realizao de parceria e criao de uma turma de ensino superior para as apenadas da Penitenciria Madre Pelettier.

    Consideramos de extrema relevncia trazer tal experincia para estudo porque acreditamos que pelo carter inovador da iniciativa e pelos desafios a serem enfrentados na experincia de oferecer Ensino Superior a mulheres confinadas nas dependncias de uma penitenciria, tal anlise poder contribuir de forma significativa para as polticas de incluso e para necessria articulao entre educao, poltica carcerria e gnero.

    QUESTES CONTEXTUAIS IMPORTANTESQUESTES CONTEXTUAIS IMPORTANTESQUESTES CONTEXTUAIS IMPORTANTESQUESTES CONTEXTUAIS IMPORTANTES

    Segundo o Departamento Penitencirio Nacional, a populao feminina corresponde a 5,6% (18.790)4 da populao carcerria do Brasil, cujo total de aproximadamente 336 mil. Embora na condio de minoria em um nmero consideravelmente expressivo do conjunto da populao brasileira, estudos mostram crescimento ascendente da mulher neste espao.

    4 Dados do Departamento Penitencirio Nacional (Depen) referentes a 2004. Disponvel em: . Acesso em: 25/03/2007. Tambm mostra dados semelhantes, a revista brasileira de Cincias Criminais, a. 9, n. 36, out./dez. 2001, do Instituto Brasileiro de Cincias Criminais IBCCrim, publicada pela editora Revista dos Tribunais.

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    As mulheres constituem, em mdia, metade da populao livre nos diferentes pases e apenas cerca de 5% da populao carcerria. No obstante, na maior parte do mundo, o nmero de mulheres presas vem crescendo muito rapidamente e, em algumas regies, muito mais rapidamente do que o nmero de homens presos. Em alguns pases como a Inglaterra e os Estados Unidos, por exemplo, a populao carcerria feminina vem aumentando duas vezes mais rapidamente do que a masculina. No Brasil, e em particular no Estado do Rio de Janeiro, esse fenmeno se verifica de forma acentuada entre os anos 1988 e 2000. Em 1988, havia 230,4 presos em cada 100.000 homens maiores de 18 anos e 6,7 presas em cada 100.000 mulheres maiores de 18 anos. Os nmeros para 2000 apontam um salto da taxa de encarceramento para ambos os sexos, e maior ainda para as mulheres: so 364,4 presos e 12,6 presas por 100.000 habitantes do respectivo sexo com mais de 18 anos de idade (LEMGRUBER, 2001, p. 371).

    Tais dados desafiam a anlise dos fatos que levam as mulheres a serem minoria

    entre a populao carcerria. A mulher, com seus atributos peculiares, recebe da sociedade patriarcal uma forte marca estigmatizante que a torna possuidora de um status, de uma condio que lhe confere determinados papis, compreendidos quase como inerentes a sua condio de mulher.

    Segundo Sherry B. Ortner (1979), o status social secundrio da mulher um fato universal. A autora afirma que a associao da mulher natureza que precisa ser dominada a razo de sua subordinao, enquanto a associao do homem cultura a razo do domnio e prevalncia sobre o feminino. Para a autora, a lgica do seu argumento est assim construda:

    Especificamente minha tese que a mulher est sendo identificada com ou se desejar, parecer ser um smbolo de alguma coisa que cada cultura desvaloriza, alguma coisa que cada cultura determina como sendo uma ordem de existncia inferior a si prpria. Agora parece que h uma nica coisa que corresponde quela descrio e a natureza no sentido mais generalizado. Cada cultura, ou, genericamente cultura est engajada no processo de gerar e suster sistemas de formas de significados (smbolos, artefatos e etc.) por meio dos quais a humanidade transcende os atributos da existncia natural, ligando-as a seus propsitos, controlando-os de acordo com seus interesses. Podemos assim amplamente equacionar a cultura com a noo de conscincia humana (isto , sistemas de pensamento e tecnologia) por meio das quais a humanidade procura garantir o controle sobre a natureza (ORTNER, 1979, p. 100).

    A associao simblica da mulher natureza em oposio ao homem, que associado cultura, garante que a cultura homem submeta e transcenda a natureza. Se as mulheres so consideradas parte dela, ser natural a cultura subordin-las, oprimi-las. A autora prossegue em seus argumentos salientando que a mulher parece mais prxima da natureza em razo de que o corpo feminino possui a mera finalidade de reproduo de vida, enquanto o homem, no tendo funo natural

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    de criao, deve basear sua criatividade artificialmente, produzindo, criando objetos duradouros. A mulher, por sua vez, cria seres perecveis os seres humanos.

    A partir de tal associao, parece lgico que a sociedade, da forma como se encontra econmica culturalmente organizada, valorize mais a produo que a reproduo, e subordine essa quela. Dessa lgica decorrem outras que justificam a presena do homem em espaos que garantam sua superioridade e prevalncia em relao aos espaos de poder, comando, enquanto mulher reservado o espao domstico, no cuidado com os filhos e a famlia, numa legitimao discriminatria. Aquilo que deveria ser to somente uma diferena passou a ser desigualdade justificada.

    A menor incidncia das mulheres no espao prisional guarda relao com o espao que lhe reservado na sociedade. A grande diferena quantitativa (95% masculino para 5% feminino) revela tambm a enorme desigualdade de gnero existente em nossa sociedade. O papel social reservado mulher torna-se ainda mais cruel quando ela se depara com a condio de presa.

    Luiz Eduardo W. Wanderley (2004, p.195) comenta que a mulher a que tem de lograr maiores e melhores desempenhos possveis com as rendas disponveis trazidas famlia pelo homem ou por ela mesma; tem a responsabilidade pela educao dos filhos, os afazeres domsticos, a dimenso afetiva nas relaes de trabalho. O autor menciona ainda a maior presena da mulher no mercado de trabalho com menor remunerao, a maior ou menor conscincia da mulher sobre suas prprias necessidades e as dos (as) filhos (as).

    Em funo de todos esses papis, estar privada da liberdade representa, na verdade, alm de um grande encargo psicossocial que traz uma crise pessoal e familiar muito sria na sociedade, maior atribuio de estigma e culpa.

    Vrias pesquisas, e mesmo j os relatos das presas no Presdio Feminino evidenciam que a maioria dos crimes praticados que leva as mulheres a cumprirem pena privativa de liberdade est associada ao companheiro e/ou ao filho. O fato pode estar coligado subordinao direta ou indireta, consentida, tcita ou comissivamente pelas mulheres, o que torna a temtica o centro da preocupao internacional. A assemblia geral da Organizao das Naes Unidas, por meio da Resoluo 58/183, recomendou que a situao das presas fosse considerada de forma diferenciada, especialmente em relao aos/s filhos/filhas. Em decorrncia dessa recomendao, foi elaborado documento pela senhora Floriezelle OConnor apud (FELIPPE, 2005, p. 54), que indica em seus estudos a seguir citados:

    a. As mulheres constituem um percentual pequenssimo da populao carcerria em todo o mundo;

    b. Alta percentagem das mulheres presas so mes; c. No h polticas pblicas adequadas para o tratamento das presas;

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    d. H um aumento das taxas de encarceramento de mulheres presas em razo do aparecimento do trfico de entorpecentes, sendo usadas, de regra, como mulas e a maioria por delito de pouca quantidade de entorpecentes.

    assustador verificar que o retrato da situao da mulher presa esteja to relacionado questo de gnero. Embora seja um percentual mnimo de presas, as mulheres no tm garantido seus direitos, demonstrando a desigualdade de tratamento entre homens e mulheres (FELLIPE, 2005) por parte do Estado, que prioriza o atendimento aos homens, havendo frontal descumprimento dos tratados internacionais ratificados pelo Brasil.

    Os principais tratados e convenes que tm a mulher como foco so: Conveno Sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Contra a Mulher; Declarao de Pequim; Conveno Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violncia contra a Mulher; Conveno do Belm do Par. As orientaes constantes nestes documentos so visivelmente descumpridas.

    Embora todo esse aparato legal, ao qual pode-se acrescentar a Constituio Federal do Brasil de 1988, que considera a mulher sujeita aos mesmos direitos em relao ao homem, a mulher presa vive em condies desumanas, sem condies de receber os filhos e/ou de exercer o direito a visitas ntimas.

    Segundo Kenarik Boujikian Fellipe (2005), Juza de Direito da 16 Vara Criminal da Capital Porto Alegre - RS, co-fundadora e ex-presidente da Associao juizes para a Democracia e membro do Grupo de Estudos e Trabalho Mulheres Encarceradas, em algumas prises, as mulheres recebem o mesmo tratamento destinado aos homens, inclusive usando uniformes iguais, como se a primeira coisa a fazer como presa fosse a sua desconstruo como mulher.

    No censo penitencirio 2002, realizado pela Funap/SP (FELIPPE, 2005, p.55), o perfil das presas o seguinte: 73% so sozinhas (solteiras, vivas ou separadas), ao contrrio dos homens, dos quais 56% so casados, amasiados. Entre as mulheres, 67% moravam com os filhos antes de serem presas, categoria que reduzida para os homens cuja maioria tem os filhos assumidos pela me ou pelo cnjuge, reafirmando que a criao dos filhos recai sobre as mulheres. Ainda, 36% das mulheres presas no recebem visitas, e 11% recebem-nas menos de uma vez por ms, dado que revela que as mulheres so mais abandonadas quando em situao de priso. Entre os homens, 73% afirmaram que gastavam consigo sua remunerao, enquanto 58% das mulheres incluem a famlia entre os que mais recebem seus ganhos financeiros. A escolarizao das mulheres significativamente superior dos homens.

    O quadro retratado pelo censo penitencirio mostra um perfil diferenciado da mulher presa. Isso indica a necessidade de serem consideradas tambm de forma diferenciada no tratamento judicirio e prisional, com vistas ao alcance do princpio da eqidade, que requer que os diferentes recebam ateno conforme sua diferena,

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    com a finalidade de obter justia e igualdade em relao ao tratamento conferido ao homem nesta sociedade que por ele governada.

    O ESTIGMA FORMADOR DE IDENTIDADE SOCIALO ESTIGMA FORMADOR DE IDENTIDADE SOCIALO ESTIGMA FORMADOR DE IDENTIDADE SOCIALO ESTIGMA FORMADOR DE IDENTIDADE SOCIAL

    Aos papis atribudos mulher estigmatizada, Goffman (1988) chamou-os de identidade social, o que, por vezes, tem carter depreciativo relacionado a alguma espcie de atributo e esteretipo. Assim, na sociedade, convivem os detentores de uma identidade social normal e os que detm uma identidade social estigmatizada.

    Para o autor as atitudes que a categoria dos normais tem em relao a uma pessoa estigmatizada, e aos atos que empreendem em relao a ela so conhecidos na medida em que a ao social benevolente tenta suavizar e melhorar. Assim, algum estigmatizado no considerado completamente humano, o que justifica, em alguma medida, os vrios tipos de discriminaes que, inferidas a elas, comprometem suas oportunidades de vida e justificam algumas animosidades e a ideologia que se encarrega de evidenciar o perigo que essa pessoa representa para o conjunto da sociedade (GOFFMAN, 1988, p.15).

    A pessoa estigmatizada tende a confirmar sua identidade como deformada e anormal, e at mesmo aceita no ser uma pessoa humana cuja oportunidade de igualdade no legtima. Sua postura diante da sociedade passa ser de medo, de inferioridade, de recuo, de autodistanciamento e/ou de agressividade em relao aos considerados normais.

    O grande ataque do estigma identidade social o rompimento com o princpio da igualdade, num expresso sentimento de incompletude de anormalidade do estigmatizado em relao aos demais. A vida coletiva comprometida com um conjunto de justificativas, ideologicamente coerentes, do tipo: Como pode uma presidiria desejar ter os mesmos direitos que algum que jamais cometeu um crime? Cada um tem o que merece. No desejasse ser discriminada, no cometesse crime. Assuma agora as consequencias de seus erros. Ela que cuide para provar que merece o respeito social. Quem teve coragem para errar uma vez, o ter outras vezes. Essas so algumas das frases que cotidianamente ouvi-se das pessoas que sabiam que se realizou pesquisa em um presdio feminino.

    A vida das mulheres presas um misto de esperana e de tristeza. Esta em funo do tempo que no passa, da saudade, da necessidade de liberdade, de alegria pela sada de colegas, a quem se afeioaram, e pela chegada de outras que derramam lgrimas torrenciais, passando por crises de desespero como todas as que se encontram presas. Aquela pela necessidade de superao e pelo imenso desejo de liberdade.

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    O ESTIGMA PARA ALM DA PESSOA PRESAO ESTIGMA PARA ALM DA PESSOA PRESAO ESTIGMA PARA ALM DA PESSOA PRESAO ESTIGMA PARA ALM DA PESSOA PRESA

    O estigma atribudo mulher presa, diferentemente dos outros modelos de estigma, como o congnito, passa ser experimentado conforme relatam aps cair ficha. Ao chegarem priso, passam um tempo de adaptao nova condio at perceberem que pertencem agora a um grupo com um defeito moral contagioso. Ouvi relatos do tipo: Cada um de ns que chega aqui chora, e incomoda a companheira de cela com lamentaes desesperadoras at cair a ficha. No agento mais ouvi (sic) as mesmas histrias, at porque, com cada uma que chega, revivo minha prpria dor5.

    Nos muitos casos em que a estigmatizao do indivduo est associada com sua admisso a uma instituio de custdia, como uma priso, um sanatrio ou um orfanato, a maior parte do que ele aprende sobre o seu estigma ser-lhe- transmitida durante o prolongado contato ntimo com aqueles que iro transformar-se em seus companheiros de infortnio (GOFFMAN, 1988, p. 46).

    Goffman (1988) afirma que, dada ambivalncia da vinculao do indivduo com a sua categoria estigmatizada, compreensvel que ocorram oscilaes no apoio, na identificao e na participao que tem entre seus iguais. Haver perodos de incorporao atravs dos quais o estigmatizado vem a aceitar as oportunidades especiais de participao intragrupal ou a rejeit-las depois de hav-las aceito anteriormente.

    Da percebe-se que a frequncia s aulas do Curso de Servio Social, o banho de sol, o passeio no ptio e a adaptao ao trabalho sofrem freqentes oscilaes na identificao (GOFFMAN, 1988, p. 47). Um relato forte, feito por uma das alunas, mostrou esta situao: A professora da disciplina solicitou que fosse feito um dirio de campo em que deveriam ser registradas, em rascunho, suas experincias pessoais. Perguntado a cada uma se a tarefa havia sido feita, uma delas disse: No quis fazer professora. Indagada do motivo, disse serenamente: Professora, saa lgrimas, mas no saa palavras.

    O estigma no se restringe pessoa. Alcana quase sempre as pessoas de sua estrutura social, pai, me, filho/filha, companheiro/companheira, amigo/amiga. No caso da mulher, o exemplo mais impactante que h o daquela, cujo filho/filha menor de dois anos, passa a ser tambm preso, e a viver entre a experincia de ser privado/privada da companhia e dos cuidados da me, deixando a convivncia social que, nessa fase de desenvolvimento, -lhe to importante.

    5 Detenta do presdio Madre Pelletier e aluna do Curso de Graduao em Servio Social que oferecido pelo Centro Universitrio Metodista IPA. Relato feito durante a aula do dia 23 nov. 06.

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    Assim, o/a filho/filha de uma presidiria tambm carrega consigo o estigma, penalizando sua vida emocional e social, embora no seja criminoso/criminosa e jamais tenha sido preso/presa. Em geral, a tendncia para a difuso de um estigma do indivduo marcado para as suas relaes mais prximas explica por que tais relaes tendem a serem evitadas ou a terminar, caso j existam (GOFFMAN, 1988, p. 40 ).

    IDENTIDADE DEPRECIVELIDENTIDADE DEPRECIVELIDENTIDADE DEPRECIVELIDENTIDADE DEPRECIVEL O descrdito em relao s pessoas que por razes diversas cometem crime e

    recebem a pena de privao de liberdade perceptvel. O estigma incorporado mulher presa. Sua identidade real e pessoal passa a ser desnecessria. H um conceito que a intercepta do mundo social, e tenta impedir qualquer vnculo saudvel.

    Durante a realizao das visitas de campo, tornou-se muito interessante acompanhar as aulas ministradas na Penitenciria. Comeou-se a ouvir as conversas durante os intervalos de aula e a verificar como a convivncia entre os/as agentes penitencirios e as presas dava-se dentro da priso.

    Percebemos uma convivncia,,,, at certo ponto,,,, natural entre eles/elas. Se dirigem uns/umas aos/s outros (s), compartilham caf durante os intervalos das aulas, apesar dos enfrentamentos prprios da relao entre as presas e agentes penitencirios/as. Resolveu-se ouvir uma agente penitenciria fora da classe para conhecer qual era seu sentimento em relao a essa convivncia. Ela disse:

    Professora a presso muito grande. Algumas vezes somos impedidas de entrar na sala de aula sob a alegao de que estamos a correr risco de vida. Essa fala ameaadora constante, as buscas que so feitas repentinamente, o medo que nos imposto tremendo. H muita inveja, um desejo grande de que no convivamos. S no desisti por considerar que se acontecer alguma coisa comigo, quem sair perdendo so elas e porque no percebo nas colegas que so presas nenhuma inteno de nos fazer qualquer mal.6

    No obstante esse discurso, os/as agentes penitencirios/as sentam-se, na maioria das vezes, durante as aulas,,,, de um lado,,,, e as presas,,,, de outro, revelando, talvez, a ocultao do confronto existente. Contudo, durante a aula, houve muitos momentos de desabafo e confisso de sentimentos, momento em que os/as agentes assumiam a posio de conselheiros/as, acalentando e consolando as companheiras, enquanto a professora, embora ouvisse, conseguia transformar a fala de ambos/as em instrumento didtico-pedaggico para aprofundar o contedo estudado e avanar na teorizao.

    6 Depoimento de uma agente penitenciria, relatando conflito e presso sofridos por aceitarem estudar junto com as mulheres presas.

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    O engajamento luta da mulher presa pode dar-se por adeso ou pertinncia, mas necessariamente precisa entrar no foco daqueles/daquelas que pensam a questo social. Participar desse estudo tem-nos ensinado que existem muitos caminhos e possibilidades de liberdade.

    EDUCAO PRISIONALEDUCAO PRISIONALEDUCAO PRISIONALEDUCAO PRISIONAL Toda a exposio feita at aqui representa fundamentos que justificam a

    adoo de uma forma de pensar o espao prisional como um espao de aprendizagens. Aprendemos durante toda a vida, inclusive durante o tempo vivido em espao fechado. A desigualdade, que d cara e expresso aos processos de excluso, pode ser enfrentada com a negao da excluso que ela promove. Esse raciocnio permite objetivamente compreender a importante contribuio da educao para o processo de libertao e de promoo humana.

    Isso nos leva a pensar em garantir educaes formais, informais, regulares e demais modalidades que possam garantir aos/s presos/presas acesso ao ensino, qualificao, reflexo, produo de conhecimento. Precisa ser garantido inclusive o direito ao Ensino Superior em espaos de instituies prisionais. Tal proposta representa uma ao relevante para o enfrentamento da questo social. A contribuio de processo de formao e/ou de um curso de graduao num contexto de instituio fechada, como um presdio, alcana o que os estudiosos das relaes entre educao e trabalho apontam como participao efetiva na construo de teoria da formao humana.

    O reconhecimento dos direitos fundamentais a todos/todas preceituados na Constituio Federal de l988, dentre os quais est o direito educao, torna qualquer espao social, inclusive os crceres, campo de prxis formativa e humanizadora.

    O rpido crescimento dos saberes e nossa visvel dificuldade de nos manter atualizados, dado ao volume enorme de informao e conhecimento novo produzido cotidianamente, podem dimensionar o significado dessa proposta para a sociedade que, at ento, tem-se valido da priso como espao de segregao dos pobres, dos (as) negros(as) e das mulheres.

    Permanecer em um instituto prisional por anos seguidos sem acesso a novos saberes representa perda das capacidades de insero social dos/das detentos/detentas, implicando obviamente maior desigualdade daqueles/daquelas que j esto em condies desiguais.

    O prembulo e alguns artigos da Carta da Transdisciplinaridade, produzida no Primeiro Congresso Mundial de Transdiciplinaridade, no Convento de Arrbida, em 6 de novembro de l994, sustentaro nosso estudo no sentido de mostrar que:

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    [...] o crescimento dos saberes, sem precedente na histria, aumenta a desigualdade entre os que os possuem e os que deles esto desprovidos, gerando assim uma desigualdade crescente no seio dos povos e entre as naes de nosso planeta; Considerando, ao mesmo tempo, que todos os desafios enunciados tm sua contrapartida de esperana e que o crescimento extraordinrio dos saberes pode conduzir, a longo prazo, a uma mutao comparvel passagem dos homindeos espcie humana.(SOUZA e FOLLMANN, 2003, p. 116-117).

    A populao carcerria apresenta-se em nvel de crescimento ascendente,

    especialmente no que se refere a mulheres que vm engrossando as estatsticas dos presdios. O combate desigualdade e pobreza geradoras dos processos excludentes exige princpios sociais e democrticos, cujo alcance possa representar modificaes no modelo de sociedade que hoje temos.

    Um projeto educativo que alcance a populao carcerria pode representar grande contribuio para a construo de nova forma de apoio a grupos minoritrios e estigmatizados como o feminino que, em funo dos papis que ocupa, acaba se deparando com o mundo do crime do qual at ento vinha se mantendo distante.

    Para que cumpra essa finalidade, segundo Fonseca (1999) no pode ser um projeto educativo qualquer, h de ser uma educao no reprodutora das estruturas sociais e oligarquias conservadoras dos ideais e crenas promotoras de excluso e das desigualdades hoje vivenciadas pelos despossudos/as.

    necessrio otimizar e qualificar o tempo e as condies humanas da populao carcerria, de modo que as pessoas envolvidas em um projeto educativo possam passar por aprendizagens positivas, e tenham possibilidades reais de construo de uma identidade pessoal e social. Um projeto de educao pode reduzir a dimenso da vulnerabilidade, dentre a qual destacamos o distanciamento dos processos de construo do conhecimento (que tambm representam poder social) e consequente desqualificao para o trabalho.

    Importante destacar que a organizao social e a relao da sociedade com o tempo e com o espao demonstram que as grades, as paredes e os sistemas de segurana no separam mais os/as presos/presas do efeito globalizador7, o que indica que mobilizar essa significativa parcela da populao para fins que interessam sociedade representa cuidar da prpria segurana da sociedade, uma vez que a segregao pretendida at ento tem reforado a criminalidade e aumentado o nmero de reincidncia criminal. Mesmo dentro de prises cada vez mais seguras e com penas cada vez mais longas, a priso tem separado cada vez menos a realidade prisional da realidade da sociedade.

    7 Neste sentido concorda Anthony Giddens (1991), que afirma inclusive que a transformao local tanto uma parte da globalizao quanto a extenso lateral das conexes sociais atravs do tempo e do espao. (As As As As consequncias consequncias consequncias consequncias da modernidadeda modernidadeda modernidadeda modernidade. Traduo: Raul Fiker. So Paulo: UNESP, 1991).

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    Uma poltica social como alternativa para a atual poltica criminal deve mobilizar diversos atores que, a partir de uma responsabilidade coletiva em detrimento de interesses individuais, construam um novo referencial de justia. Diante das abordagens elencadas nesse estudo podem-se fazer algumas consideraes relevantes visando contribuir para a construo de polticas pblicas de educao prisional.

    CONSIDERAES FINAISCONSIDERAES FINAISCONSIDERAES FINAISCONSIDERAES FINAIS O tempo presente precisa ser de educao, inclusive nos processos de

    correo, disciplinamento e responsabilizao criminal. Deve-se clamar pelo princpio educativo, e fazer alto investimento na populao carcerria por razes simples:

    1. a priso no soluo para os problemas sociais. A superpopulao carcerria e o nvel crescente de criminalidade demonstram que, em pouco tempo, no haver mais condies de adoo dessa medida. Haver mais pessoas presas do que inseridas nos processos sociais. Alm disso, o sistema carcerrio muitas vezes fomenta a reincidncia, enquanto a lei de execuo penal prope-se a combat-la;

    2. no h, nas prises, processos de reinsero eficientes, o que propicia aumento da violncia e de prticas criminais por parte do/da preso/presa, que uma vez solto/solta, rapidamente volta condio de preso/presa;

    3. a priso, da forma como hoje se encontra organizada, aprofunda a desigualdade, inclusive em relao aos saberes;

    4. a ideia de que aprisionando as pessoas perigosas a sociedade estaria livre, tambm est demonstrado que no procede. A sociedade, a cada dia que passa, tranca-se mais e tem menos condies de obter do Estado aquilo que se pressupe ser sua responsabilidade: segurana. O ideal seria que buscssemos a liberdade e a humanidade para todos.

    necessrio, por isso, que se construam polticas pblicas de incluso que tratem as causas dos processos excludentes. Dentre essas polticas ressalta-se a importncia de uma poltica de educao para as populaes carcerrias, sem o que parece ser difcil perspectivas de enfrentamento da questo social.

    Uma proposta de educao prisional pode no ser simptica a muitos/muitas que, diante do alarmante quadro de criminalidade, reagem propondo que as pessoas merecem maus tratos, para sofrerem na pele pelo mal que cometeram contra a sociedade. Esquecem, no entanto, que a criminalidade um fato social, e carrega consigo inmeras causas, nem sempre de ordem pessoal.

    Diante do cenrio de excluso social das mulheres, organizaes no governamentais e movimentos sociais assumem papel de extrema importncia. indispensvel que o Estado cumpra sua responsabilidade de garantidor dos direitos e

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    inclua em sua agenda a questo agrria, a educao, a sade e todas as outras questes geradoras das condies mnimas de dignidade e humanidade. No mais possvel fechar os olhos para a misria humana a que os/as presos/presas esto submetidos/submetidas. As vtimas dessas iniqidades no tm mais nada a perder, por isso lanam-se plenamente no mundo da criminalidade e da violncia que atemoriza e vitimiza todas as sociedades. Recorre-se novamente s reflexes feitas por Martins8, para que a idia da pobreza digna, um discurso superado que no convence, nem comove mais ningum. Faz-se necessrio um projeto scio-poltico e econmico para combate pobreza, hoje, tambm,,,, globalizada (1997, p.18-19).

    Um projeto educativo para a populao carcerria, incluindo o acesso ao ensino superior,,,, vai contra uma ordem social que impera baseada no princpio meritrio, cuja dimenso no somente de ordem pessoal. Ao contrrio, o mrito, hoje to valorizado, tem grandes relaes com o processo histrico constitutivo do sujeito, o que impede, mais uma vez, a possibilidade de justia e igualdade.

    Existem milhes de pessoas que possuem curso superior, porm nem por isso esto includos nos processos de trabalho. O trabalho j no representa segurana e meio de integrao social positivo. Essa uma lgica dada pelo modo de produo capitalista que, segundo Jos de Souza Martins, (l997, p.32)9, a todos exclui. O que se pretende com um projeto educativo operar nos espaos possveis em nvel micro, sem perder de vista que tais aes no alcanam a ordem determinante da misria e da pobreza.

    O Estado deve reconhecer que as Universidades alcanando a populao carcerria podem contribuir em grande medida para o compartilhamento dos bens culturais historicamente acumulados pela humanidade, para a produo de uma tica minimizante das oligarquias, e para a promoo de uma cultura que prime pela produo de novos conhecimentos para o enfrentamento da questo social.

    Encerra-se este artigo, registrando mais uma fala inesquecvel de uma das presas, fala que recebeu total concordncia por parte de todas as demais que estavam presentes: Aqui nesta sala10, o nico lugar onde me sinto livre. A liberdade vai alm da relao com o espao fsico. possvel restringir a liberdade do ir e vir e manter o direito educao, de modo que possa ser essa uma nova dimenso de liberdade: a capacidade para a ao. Ao que transforme a subordinao, a excluso

    8 a presso dos movimentos sociais, alm da negociao dos partidos polticos por eles sensibilizados, que pe uma questo na agenda poltica do Estado. Obviamente, se os grandes proprietrios no forem convencidos pelas elites a abrir mo de seus privilgios em favor dos interesses do Pas, as vtimas desse regime inquo de propriedade tambm no sero convencidas a aceitar como fato natural a misria e a excluso. Os graves problemas sociais do Pas falam disso todos os dias. E eles, aparentemente j esto fora de controle (MARTINS, 1997, p. 53).

    9 Nesse sentido tambm concorda Gilberto Dupas. Economia global e excluso socialEconomia global e excluso socialEconomia global e excluso socialEconomia global e excluso social: Pobreza, emprego, estado e o futuro do capitalismo. So Paulo: Paz e Terra, 1999.

    10 Fazendo referncia sala onde ocorrem as aulas de graduao.

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    que, muitas vezes, leva a mulher para a priso como uma verdadeira nula, e confira-lhe a condio de liberdade, inclusive para assumir,,,, ou no, os papis sociais que lhe so atribudos de forma discriminatria e cruel.

    Prison education as an overcome project of female Prison education as an overcome project of female Prison education as an overcome project of female Prison education as an overcome project of female subordination: prision and stigmasubordination: prision and stigmasubordination: prision and stigmasubordination: prision and stigma

    AAAABSBSBSBSTRACTTRACTTRACTTRACT The article presents the first interpretations of the case study accomplished at

    the Feminine Prison Madre Pelletier, located in Porto Alegre, RS. There a degree course in Social Service is currently taking place, offered by Methodist Academical Center IPA. It shows what the female population is a minority within the prisonal population, which is associated to the womans subordination as a common fact among different cultures. The womens exclusion, as well as the unequal treatment in relation to men, is due to the role attributed to them by the society. The analysis of the stigma as the arrested womens social identity shows the necessity of inclusion policies that permit the female imprisoned population to overcome, through the access to educational processes, the social roles that stigmatize, subordinate and exclude them.

    KeywordsKeywordsKeywordsKeywords: Stigma. Woman. Exclusion. Prison Education. REFERNCIAS BIBLIOGRFICASREFERNCIAS BIBLIOGRFICASREFERNCIAS BIBLIOGRFICASREFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BECH, Ulrich; GIDDENS, Antony; LASH, Scott. Modernizao reflexiva: Poltica, tradio e esttica na ordem social moderna? Traduo: Magda Lopes. So Paulo: USP, 1997. DUPAS, Gilberto. Economia global e excluso social: pobreza, emprego, estado e o futuro do capitalismo. So Paulo: Paz e Terra, 1999. FELLIPPE, Kenarik Boujikian. Uma Nova Histria para as Mulheres Encarceradas. In: Re-Vivendo a Liberdade. Porto Alegre: Nova Prova, 2005. FONSECA, Tnia Mara Galli. Dos manicmios s salas de jantar: Consideraes a respeito da psicopatologia institucional. In: SANTOS, Jos Vicente Tavares dos (Org.). Violncia em tempo de globalizao. So Paulo: Hucitec, 1999.

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