educaÇÃo no campo e paisagem: uma ponte … · ensino de geografia. paisagem e cotidiano....
TRANSCRIPT
EDUCAÇÃO NO CAMPO E PAISAGEM: UMA PONTE INTERATIVA COM REALIDADE VIVIDA DA ESCOLA PROFª VITALINA MOTTA EM
BELTERRA/PA.
Francilene Sales da Conceição
Universidade Federal do Oeste do Paraná -UFOPA [email protected]
Ednéa do Nascimento Carvalho
Universidade Federal do Oeste do Paraná -UFOPA [email protected]
Resumo
Este presente trabalho tem como objetivo propor uma prática metodológica no ensino de geografia sobre a categoria geográfica Paisagem para os alunos do meio rural no município de Belterra/PA, fazendo uma relação com a realidade vivida pelos estudantes da Escola Municipal Professora Vitalina Motta. Para tanto, a metodologia utilizada foi o estudo bibliográfico, a observação direta das aulas de geografia para o ensino fundamental II e a utilização de imagens da escola estudada. Busca-se entender os impasses enfrentados pelos alunos e professores no ensino de geografia na tentativa de conciliar suas realidades com os conteúdos geográficos, especificamente com a categoria Paisagem. Mediante a esse contexto, houve a necessidade de propor uma metodologia diferenciada para o ensino, perfazendo uma correlação com a realidade vivida pelos discentes residentes no campo no município em estudo. Palavras-chave: Educação no campo. Ensino de geografia. Paisagem e Cotidiano. Introdução
Este trabalho apresenta o pensar para uma pratica metodológica diferenciada acerca do
ensino da categoria geográfica Paisagem para os alunos do meio rural no Municipio de
Belterra/PA, tendo como lócus a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora
Vitalina Motta, situada na rodovia Br 163 km 37 Santarém-Cuiabá, na comunidade do
Trevo no Oeste Paraense. A proposta aqui recorrente é de que o trabalho seja
desenvolvido a partir de uma metodologia que trate a categoria geográfica paisagem
para os alunos do campo no ensino de geografia perfazendo uma correlação com a
realidade vivida pelos estudantes da escola. Como pressuposto metodológico, utilizar-
se-á revisão bibliográfica, observação in locu e imagens do ambiente estudado. Dessa
forma, caracteriza-se os impasses enfrentados pelos alunos e professores no que diz
respeito ao ensino de geografia nas séries finais do ensino fundamental II. Mediante a
observação feita com relação às aulas de geografia tem se a necessidade de pensar
práticas pedagógicas que contribua de forma consistente para o processo
ensino/aprendizagem dos conteúdos geográficos, no geral, e, especificamente, a
categoria Paisagem. Sendo assim, a contextualização dos conceitos teóricos
relacionados aos conteúdos geográficos, devem ser construídos a partir da realidade dos
alunos e do ambiente em que a escola se situa, estabelecendo o eixo de aprendizagem
que enfatize a estreita relação entre o que se busca aprender e o meio, o tempo e a
sociedade no qual o mesmo esteja inserido (SELBACH, ANTUNES, 2010, p. 113).
Diante das discussões quanto ao ensino de geografia no campo, é importante entender o
conceito de campo na visão de (ARROYO et al. 2009, p. 137) “ que o campo é o lugar
de vida, onde as pessoas podem morar, trabalhar, estudar com dignidade de quem tem
o seu lugar, a sua identidade cultural”. Desse modo, este trabalho contribui com
discussões teórico-metodológicas e, sobretudo, com práticas que estimulem o ensino-
aprendizagem.
Educação no campo e a relação com o espaço de vivência
A educação no campo é uma forma de resistência aos preceitos pedagógicos do campesinato, restringindo-se a um grupo que tem consigo uma identidade de pertencimento do local em que vive. Entretanto, não se deve excluir nem desvalorizar o seu contexto histórico, pois é nele que ocorrem relações sociais, culturais, políticas e de trabalho, por isso:
“Compreendemos a educação no campo como práxis de resistência e libertação dos camponeses, como uma prática pedagógica do campesinato e sua reflexão, de sua atuação no campo na defesa de seus valores culturais e a favor da ampliação da reforma agrária” (SILVA, ARAÚJO, ALENCAR, 2011).
O modo de vida no campo apresenta características peculiares, devendo ser abordado
nos conteúdos escolares. É nele que ocorrem as relações sociais e, também de como
estas relações se desenvolvem. Partindo desse pressuposto, haverá a valorização dos
saberes vividos por esse grupo social, facilitando a compreensão nos processos
educativos. Contudo, explorando os saberes vividos há uma contribuição para a
libertação dos camponeses no sistema educacional, por meio da valorização de seus
padrões culturais e sociais. Concorda-se com Caldart (2004), que a educação do Campo
é o resultado da luta do campesinato, bem como, um dos instrumentos de sua luta. De
fato, não se elimina o contexto no qual estão inseridos esses sujeitos, o que acaba
valorizando os padrões simbólicos identificados por esse grupo estabelecidos em função
de suas relações.
Segundo Fernandes (2005), o conceito de campo é um espaço de vida multidimensional
em que a educação, cultura, produção, trabalho, infraestrutura, organização, política,
mercado, etc., são elementos que constituem as dimensões desse território camponês.
Reconhece que o campo é resultado de múltiplas identidades que caracterizam esse
território, marcada por suas relações sociais, além de ser fonte de contribuição para os
processos educativos na Geografia.
Portanto, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia abordam os
conteúdos a serem trabalhados no sistema educacional brasileiro. A categoria geográfica
Paisagem é um dos temas tratados. Entretanto, é necessário ter cuidado ao se trabalhar
a temática, devendo respeitar as especificidades dos espaços de acordo com suas
realidades, pois a valorização do espaço vivido dos educandos do campo e sua relação
com o tema no ensino de Geografia é uma ferramenta em potencial para que se alcance
o ensino/aprendizagem a partir de seu cotidiano.
“Ao trabalhar temas que se desdobram desse eixo, como as relações tradicionais no campo e o processo de modernização, se estará inevitavelmente trabalhando com as ideias do novo e do antigo e os possíveis conflitos existentes em seus ajustamentos históricos. A sobrevivência de formas tradicionais de trabalho e de convívio com a natureza, expressa pelas relações do pequeno produtor agrícola com suas técnicas e formas de comercialização [...]”(PCNs, 1998, p. 65).
O aluno do campo conhece a realidade que está em sua volta, pois a partir do convívio
social e de suas mudanças percebidas momentaneamente e descobertas ao longo dos
tempos, do lugar onde mora, facilita sua compreensão. O cotidiano é a forma de
compreensão dos conceitos geográficos no ensino. O aluno do campo quando vai à
escola leva consigo todo um conhecimento locativo, carregado de valores culturais,
sociais e históricos.
Mendes e Mesquita (2009) enfatizam que o aluno do meio rural quando chega à escola
traz toda uma bagagem de conhecimento, mas no atual processo educativo a escola é em
contrapartida a negação do meio rural, pois realça a diferenças culturais deste aluno e,
por isso, negativiza-o, uma vez que não o reconhece enquanto sujeito desta relação.
A escola é um dos instrumentos que difunde cultura, portanto deve-se aproveitar o
conhecimento que o indivíduo tem do local em que vive para ser trabalhado nos
ambientes escolares do campo, ou seja, relacionar os conteúdos com seu espaço de
vivência. Mas o que acontece é que a escola exclui de seus planejamentos pedagógicos
conteúdos contextualizantes, negando ao estudante do campo o direito de produzir e
alcançar o saber.
A Cultura, enquanto elemento de sustentação da sociedade e patrimônio dos sujeitos que a constituem, precisa ser preservada e transmitida exatamente porque não está incorporada ao patrimônio natural (...), em sociedades como a nossa há uma instituição cuja função específica é a transmissão da cultura - esta instituição é a escola. Ela é o espaço de transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade. (RIOS, 1993, p. 34)
Pode-se dizer que por meio dos saberes locais acumulados e percebidos, o lugar passa a
ser visto como um elemento disseminador da cultura, preservando e transmitindo seus
valores culturais de acordo com sua identidade local. O relacionamento entre o modo de
vida do sujeito do campo com um dos temas de geografia, tratado em sala de aula,
permite ao aluno construir seu conhecimento e seus próprios conceitos, pois o que está
perto do cotidiano se torna mais fácil para nosso entendimento. E é partindo do local de
vivencia é que o aluno teria uma visão totalitária do mundo, de forma global, ou seja, é
fundamental que o espaço vivido pelos alunos continue sendo ponto de partida dos
estudos [...] e que esse estudo permita compreender como o local, o regional e o global
relacionam-se nesse espaço (PCNs, 1997, apud PEZATTO; PRADO, 2004, p. 48-49).
É interessante aproveitar o espaço escolar para fazer relação dos conteúdos geográficos
com a realidade que circunda os alunos, sendo ela um mecanismo de transmissão e
valorização dos saberes locais construídos historicamente a partir de seu
reconhecimento. Sendo assim, apontam os autores Campos, Pereira e Pontes (2011), no
ambiente escolar o aluno que constrói culturalmente e socialmente seu espaço de vida,
demonstra aspectos que levaram a construção de sua identidade, como sistema de sua
representação cultural, pois é na escola que esse sujeito, ao receber um saber
historicamente acumulado, tem a possibilidade de criar novos saberes, a partir da
compreensão de um conhecimento elaborado, fruto de seu processo histórico e de sua
atuação social e política.
No espaço escolar que o aluno produz conhecimento devido sua vivência com o qual ele
se identifica e se reconhece como um pertencente ao local, proporcionando o incentivo a
inúmeras possibilidades de trilhar caminhos para atingir sua aprendizagem e perceber
que ele também atua e interfere no círculo social e político, tem uma identidade
simbólica característica de um conhecimento estabelecido no decorrer dos tempos
devido seus padrões culturais.
É assim que Straforini (2004, p. 18), considera que estudar o lugar para compreender o
mundo significa para o aluno a possibilidade de consolidação do caminho que o leve a
sua identidade e sentimento de pertencimento. Faltam-nos muito esses valores de
identidade e pertencimento em mundo que tem a pretensão de ser homogêneo, mas que
é contraditório e diverso, tanto nas relações entre os homens, e destes com a natureza,
assim como no espaço que estamos construindo no cotidiano de nossas vidas.
Concorda-se com esse autor, ao abordar o lugar que gira em torno do alunado do
campo, ser o ponto de partida para a compreensão dos conteúdos de Geografia,
valorizando suas identidades locais. É o momento de reflexão do estudante, pois leva-o
a entender e interpretar conceitos geográficos e as diversas situações que extrapolam o
mundo, seus métodos perceptivos, contribuindo, assim, com o entendimento de que não
temos um mundo igualitário, mas um mundo marcado por muitas diferenças; tornando,
então, possível o desenvolvimento quanto a sua criticidade e, por conseguinte,
alcançando o aprendizado desejado.
Ao fazer a leitura da geografia devemos identificar os elementos que compõe o espaço e
de como esse se relaciona com a natureza e a sociedade, não apenas observando e
descrevendo, mas com atitude crítica referente às questões opositoras ocorridas no
mundo em que vive. A seguinte citação enfatiza:
Se o aluno entender o espaço que ele habita, isto é, uma forma de entender o seu mundo, o seu cotidiano, e as pessoas que ali habitam. O espaço são “pegadas” registros, “fosseis” que cada pessoa/sociedade deixa ao longo de sua vida. [...] Estar alfabetizado em geografia significa relacionar espaço com natureza, espaço com sociedade, isto é, perceber os aspectos econômicos, políticos e culturais, entre outros, do mundo em que vivemos. Ler e escrever em geografia são ler o mundo de maneira que o aluno saiba situar-se (e não só localizar-se e descrever) e posicionar-se. Que assuma um posicionamento crítico com relação às desigualdades sócias espaciais. Ler e escrever a geografia para dizer sua palavra e construir o seu espaço (KAERCHER, 2004, p. 82-83).
O cotidiano do aluno ajuda-o a compreender o mundo em que vive e suas relações
estabelecidas no seu espaço de vivência, fruto de um processo não apenas momentâneo,
mas que vem se desenvolvendo ao longo dos tempos, relacionando natureza e sociedade
e de como estas interações criam elementos econômicos, políticos e culturais, devendo
saber fazer uma leitura e interpretação geográfica do ambiente vivenciado por ele.
Sendo assim, o aluno teria um posicionamento crítico, percebendo que não ocorre
homogeneidade no seu cotidiano e de como ele é um ser importante para a construção
do seu espaço.
A paisagem e a realidade dos estudantes da escola Profª Vitalina Motta em Belterra/PA A relação entre paisagem e o cotidiano do aluno é uma das formas de contribuir para
sua aprendizagem. Aquilo que está próximo de nós facilita nossa compreensão. O
conceito geográfico de Paisagem trabalhado em sala de aula para os alunos do meio
rural no município de Belterra/PA deve ser pensado a partir de uma prática
metodológica diferenciada que facilite a compreensão dos mesmos nas aulas de
geografia, fazendo estreita relação com o seu espaço de vivência, pois o professor ao
utilizar recursos didáticos distintos, explorando a paisagem local valorizaria o
conhecimento que o estudante tem acerca do local em que vive para posteriormente
ampliar sua visão de forma global. Para tanto, Santos (1991) concebe a paisagem como:
Tudo aquilo que nós vemos, o que a nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca, não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc. (SANTOS, 1991, p. 61).
Partindo desse pressuposto, o estudante do campo que percebe a paisagem do seu
entorno consegue compreender de maneira aguçada os conteúdos geográficos,
desenvolvendo a percepção do local em que vive, considerando os vários elementos que
são de suma importância. Pois, considera-se que cada pessoa vê a paisagem de maneira
diferenciada, portanto, levar aluno a pensar e a interpretar a paisagem que gira ao seu
em torno possibilita a formulação de conceitos viáveis para atingir a aprendizagem em
geografia.
A atividade proposta para a categoria geográfica de paisagem nas aulas de geografia
baseia-se em imagens, figuras e desenhos, sendo estes recursos que vale a pena ser
utilizado em sala de aula, sobretudo para o aluno aprender a ler e a reconhecer
diferentes paisagens (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO
PAULO, 2006). O recurso visual é uma ferramenta a ser trabalhada em sala de aula na
escola Municipal Professora Vitalina Motta, em função de que os alunos ao ver as
paisagens antigas e atuais perceberiam que as mesmas sofreram transformações ao
longo dos tempos e de que existem diferentes tipos de paisagens despertando, assim,
diferentes conotações em cada um, pois cada sujeito tem uma percepção diferente do
outro.
Desse modo, o estudo aqui proposto visa pensar em uma prática metodológica distinta
acerca da categoria geográfica de paisagem no ensino de geografia e de sua relação com
realidade de vivência da escola em questão. A escola funciona em todos os turnos; é
dividida em educação infantil (alfabetização), educação fundamental de 1ª a 8ª série,
educação de jovens e adultos, como também atende ao ensino médio (1º e 3º ano) no
ensino regular, onde funciona como anexo da Escola Estadual de Ensino Médio
Valdemar Maués. Possui um papel fundamental no ensino da região, uma vez que é
uma um pólo que atende várias comunidades vizinhas do planalto no município de
Belterra/PA. Assim, ao se trabalhar a temática de paisagem, o professor deve dispor de
recursos que propiciem ao aluno a visualização, desenvolvendo a sensibilidade e a
percepção sobre as paisagens que o aluno vê em seu cotidiano (SECRETARIA
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO, 2006).
[...] fazer a leitura da paisagem pode ser uma forma interessante de desvendar a história do espaço considerado [...] a história das pessoas que ali vivem. O que a paisagem mostra é o resultado do que aconteceu ali. [...] Descrever e analisar estas paisagens supõe [...] buscar as explicações que tal “retrato” nos permite. Os objetos, as construções, expressos nas ruas, nos prédios, nas praças, nos monumentos, podem ser frios e objetivos, porém a história deles é cheia de tensão, de sons, de luzes, de odores, e de sentimentos (CALLAI, 2005, p. 238).
Tendo uma visão da paisagem local e das relações que se estabelecem no seu mundo, o
alunado seria levado a percepção quanto as mudanças ocorridas no decorrer da história
e a detectar diferentes paisagens sabendo ler e a interpretá-las, pois, ao analisar e
descrevê-la, visualizará elementos que a compõe, sendo assim, ao entender a dinâmica
local expandiria para uma visão mais totalitária. Os recursos didáticos visuais ajudariam
na percepção e descrição do lugar de vivência do aluno para que estes detectem as
transformações ocorridas no ambiente no decorrer dos anos.
Segundo Schaffer (2004, p. 91), a leitura da paisagem vem se tornando uma expressão
corrente que indica uma tarefa específica e apropriada pela geografia no ensino. Tomar
a paisagem próxima, concreta, como a escola, a rua, um bairro ou a própria cidade, área
a ser visitada a certa distância ou uma imagem de paisagem, como uma foto ou outra
representação qualquer, como recurso para aprendizagem. Para tanto, a paisagem deve
ser abordada nas aulas como algo que se aproxime da realidade dos seus alunos,
tornando o ambiente do campo algo representativo que valorize a identidade local, no
qual ele conhece e mantêm uma relação muito forte de pertencimento.
Ler imagens em geografia ajuda a entender o significado de paisagem, da mesma forma
que um desenho de um aluno pode representar o seu entendimento acerca da paisagem,
portanto, é papel do professor mediar e orientar seus alunos, dispondo de metodologias
diferenciadas, diminuindo os impasses enfrentados na tentativa de conciliar suas
realidades com os conteúdos. Mas a paisagem aqui evocada é voltada para a realidade
dos estudantes do meio rural, onde eles conhecem e se identificam com o lugar de
vivência, por isso, a representação da categoria geográfica paisagem deve respeitar a
integridade cultural dos mesmos.
Na formação do raciocínio geográfico, o conceito de paisagem na análise de lugar está
ligado ao mesmo. É por ela, vista em seus determinantes e em suas dimensões, que se
vivencia empiricamente um primeiro nível de identificação com o lugar
(CAVALCANTE, 1998, p. 100). Portanto, fazendo a relação entre a categoria
geográfica de paisagem e o lugar nas aulas de geografia tornaria a aprendizagem mais
significativa. Paisagem e lugar têm uma grande afinidade, por isso, relacionando a
categoria de paisagem com o espaço de vivência dos alunos do campo valoriza todo o
conhecimento que ele tem a cerca do ambiente em que vive, facilitando sua
compreensão no decorrer das aulas. Essa aproximação com sua realidade devem
acontecer de modo ilustrativo ou construído pelo próprio aluno, pois perceber e
descrever a paisagem do ambiente onde mora é uma ferramenta em potencial para
alcançar a aprendizagem.
Para essa autora, não se deve definir a construção desse conceito pelos alunos no ensino
de geografia, porque ao se fazer isso tira a possibilidade da construção por eles.
Trazendo um conceito pronto para o aluno, retira-lhe o direito de construir conceitos no
decorre seu próprio conhecimento, impossibilitando-o de refletir acerca do conceito de
paisagem e ser um formador de opinião. Sugere-se ao educador preparar uma aula com
construções de murais, cartazes, desenhos feitos pelos próprios alunos, ou com a
utilização do recurso do data show com a exposição de imagens.
O estudo propõe uma prática metodológica diferenciada para os alunos do campo,
perfazendo uma correlação com a realidade vivida pelos estudantes. Assim, foi
realizada uma revisão bibliográfica, pois conforme Deslandes, Neto, Gomes e Minayo
(1994, p. 19), a teoria é um conhecimento de que nos servimos no processo de
investigação como um sistema organizado de proposições, que orientam a obtenção de
dados de análise dos mesmos, e de conceitos, que veiculam seu sentido, além de ter sido
realizada observações in lócus, onde esses mesmos autores apontam que o método de
observação serve como uma etapa descritiva; utilizou-se também imagens do ambiente
investigado, caracterizando os impasses enfrentados pelos alunos e professores no que
diz respeito ao ensino de geografia nas séries finais do ensino fundamental II.
Figura 1: Escola Profª Vitalina Motta/ Comunidade do Trevo - Belterra/PA
Fonte: Conceição, 2012.
A ação de aprendizagem é um desafio traçado ao professor, que deve ter a preocupação
de contribuir para a capacidade, nele próprio e no aluno, de pensar, refletir, criticar e
criar (CASTELLAR, 2005). O papel do docente de desenvolver ações diferenciada nas
aulas de geografia é um mecanismo que possibilita a evolução do estudante do campo
na capacidade de construir seu conhecimento e na contribuição e enriquecimento da
atuação profissional desempenhada pelo professor, pois ao dispor de metodologias
diferenciadas para trabalhar a categoria geográfica de paisagem no âmbito da geografia
escolar, o professor qualifica melhor o processo de ensino/aprendizagem de seus alunos.
O campo é um lugar marcado por muitas representações culturais, algo simbólico de
uma comunidade que caracterizam o modo de vida dos sujeitos camponeses. Todavia,
cultivar a paisagem do local em que vivem, fazendo comparações com o dia-a-dia dos
alunos é uma forma de contribuir para que os alunos compreendam outros lugares, não
ficando só no local, mas expandindo para uma visão mais global. O professor de
geografia como mediador tem uma função formidável no ensino: possibilitar ao aluno
leituras das paisagens que está em seu entorno, para que ele detecte os vários aspectos
por meio de sua percepção componentes da paisagem, sem excluir o contexto histórico
dos membros do ambiente campesino. Essa leitura das paisagens pode ser subsidiada,
por meio, das imagens, figuras e desenhos produzidos pelos próprios alunos durante as
aulas de geografia, daí um momento de fazer uma correlação com a realidade vivida
pelos mesmos.
Para tanto, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2006) enfatiza que a
paisagem não se resume como um lugar bonito ou feio que apresentam pouca
interferência humana; é importante entender que ela se configura um arranjo de vários
elementos pode ser naturais, como a vegetação, mar, serras, ou artificiais (antrópicos),
como conjunto de prédios, casas e ruas, que se acumularam ou substituíram outros ao
longo do tempo. A representação da paisagem do campo com recursos didáticos
diferenciados possibilitariam ao aluno identificar as diferentes paisagens e os elementos
que a compõe.
Por ser uma ciência das paisagens e por despertar a visão interligada entre o homem e seu mundo, a geografia é um instrumento formidável para que possamos nos conhecer e nos compreender melhor, percebe toda a dimensão do espaço e do tempo, onde estamos e para onde caminhamos, descobrir as populações e sua múltiplas relações com o ambiente. (SELBACH, 2010, p. 37).
A geografia tem a paisagem como uma de suas categorias geográficas, onde existe uma
interação entre a sociedade e o ambiente. Para que haja uma valorização e um melhor
entendimento dos alunos do campo, é necessário que o professor de geografia trabalhe
em sala de aula com práticas metodológicas diversificadas de modo ilustrativo que
propicie ao aluno a fazer uma leitura e interpretação da categoria geográfica de
paisagem, fazendo uma ponte de ligação com o seu cotidiano para a contribuição dos
processos educativos e de aprendizado no âmbito da geografia escolar.
Resultados
Neste trabalho, de acordo com as propostas de práticas metodológicas diferenciadas
acerca do ensino da categoria geográfica de Paisagem para os alunos do meio rural no
município de Belterra/PA efetuadas mediante as pesquisas teóricas e a observação in
lócus, contata-se que devemos ampliar cada vez mais nossa visão no ensino de
geografia sobre educação no campo, propondo novas didáticas para serem trabalhada
com os alunos nas aulas de geografia, representando a categoria de paisagem e ajudando
o aluno a fazer uma leitura a partir de sua realidade de vivência.
Ao utilizar os recursos didáticos como imagens, figuras e desenhos como ilustração e
exemplificação da categoria geográfica de paisagem e correlacionando com o lugar de
vivência do educando do campo, percebe-se que prende mais a atenção dos alunos nas
aulas de geografia, demonstrando um maior interesse por sua parte nessa disciplina.
Aquilo que está próximo de nossa realidade é mais fácil para a nossa compreensão,
portanto, isso é perceptível quando o aluno atribui conceitos a essa categoria geográfica
e associa ao recurso visual, levando-o a produzir conhecimento e alcançar seu ensino e
aprendizagem.
A confecção de materiais didáticos como: murais, painéis, cartazes, desenhos feito pelos
próprios alunos é um mecanismo essencial para o ensino de geografia acerca da
representatividade da categoria geográfica de Paisagem. Quando o aluno visualiza ou
quando ele mesmo produz se torna mais claro para seu entendimento, instigando o
aluno a pensar geograficamente e ser um formador de opinião.
Por isso, a escola Profª Vitalina Motta ao pensar em métodos diversificados para
representar a Paisagem utilizando diferentes recursos didáticos-pedagogicos como:
imagens, figuras e desenhos, insere a realidade vivida de seus alunos tornando o ensino
de geografia, nessa escola, concreto e perceptível, valorizando, assim, a aprendizagem
significativa para com os conteúdos geográficos.
Considerações Finais
Nesse contexto, a educação no campo para o ensino deve ser pensada em uma proposta
que venha valorizar realidade local dos sujeitos. Isso é possível quando ao trabalhar a
categoria geográfica Paisagem, o professor dispor de técnicas diversificadas, algo que
caracterize e exemplifique o estudo da paisagem no campo, elaborando propostas que
viabilizam o modo de ensinar geografia e que promovam a facilitação para compreensão
dessa categoria geográfica pelos alunos.
A escola é o principal instrumento que contribui para melhorar os processos educativos
no âmbito da geografia, escolhendo metodologias diversificadas em suas aulas e
fazendo relação de conteúdos para que contribua na formação de um indivíduo crítico e
que este tenha uma concepção de mundo, sem desvalorizar seus padrões culturais. Para
a educação no campo, o ensino de geografia carece estabelecer diretrizes para serem
trabalhadas em sala de aula para que contribuam com o melhoramento dessa disciplina,
pois, o motivo de muitos alunos não gostarem dessa disciplina, é o destoamento da
mesma com a realidade local e a maneira como as aula são conduzidas. Ao diversificar
a natureza de gerência das aulas, mudará a direção de percurso na disciplina de
geografia, tomando um rumo diferente, que só contribuirá para seu ensino.
A contextualização da categoria geográfica paisagem e sua relação com o espaço de
vivência mostrou como ainda é irrelevante o modo de ensinar geografia nas escolas do
campo. O ensino de geografia no campo ainda se encontra muito restrito, além de
apresentar muitos entraves no que se refere à viabilização de suas aulas.
Por fim, considera-se que a utilização de práticas pedagógicas diferenciadas na sala de
aula acerca da categoria geográfica de paisagem é um caminho que deve ser traçado
pelos professores de geografia da escola Profª Vitalina Motta no Município de
Belterra/PA. Entretanto, a proposta da utilização do recurso visual e ilustrativo é um
mecanismo de superar o modelo tradicional imposto nas escolas do campo, cujo
professor traz um conceito pronto e não caracteriza e exemplifica esse conceito por
meio dos recursos didáticos disponíveis, dificultando o entendimento do estudante. A
confecção e a visualização de paisagens referente ao seu lugar de vivência é uma prática
metodológica indispensável para caracterizar o estudo da paisagem no campo. Dessa
forma, amenizará os impasses enfrentados pelos alunos e professores no ensino de
geografia, possibilitando-os a desenvolver ações que melhore os processos educativos.
Referências
ARROYO, M. G.; CALDART, R. S.; MOLINA, M. C. (org.). Por Uma Educação do Campo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. 216p. AUED, B. W.; PAULILO, M. I. S. (org.). Agricultura Familiar. Florianópolis: Insular, 2004. 328 p. CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. 3ª edição. São Paulo. Expressão Popular, 2004. CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: A geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cadernos Cedes, Campinas, v. 25, n. 66, Educação geográfica e as teorias de aprendizagens, maio/ago. 2005, p. 238. CAMPOS, L. R.; PEREIRA, R. R. L.; PONTES, D. R. L. A cultura camponesa, as representações sociais e o ensino de geografia na escola do campo: um olhar sobre a escola João Braga de Cristo Nordeste do Pará. 2011. CASTELLAR, Sônia Maria Vanzella. Educação geográfica: a psicogenética e o conhecimento escolar. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n.66, p. 209-225, mai/ago. 2005. CAVALCANTE, Lana de Sousa. Geografia, escola e construção de conhecimentos. – Campinas, SP: Papirus, 1998 p. 100-101. DESLANDES, Suely Ferreira; NETO, Otávio Cruz; GOMES, Romeu; MINAYO, Cecília de Sousa. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. p.19. FERNANDES, Bernardo M. Os campos da pesquisa em educação do campo. In. : I Encontro Nacional de Pesquisa em Educação do Campo. Brasília, 2005. KAERCHER, Nestor André. Ler e escrever a Geografia para dizer a sua palavra e construir o seu espaço. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt et. al. (org.) Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 6ª edição. Porto Alegre: Editora UFGRS, 2004. p. 73-85. MENDES, E. de P. P; MESQUITA, L. A. P. de. Geografia, educação rural e pertencimento: a valorização dos saberes e expressões culturais no ambiente escolar. Anais do XI – EREGEO. Simpósio regional de geografia. UFG – Campos Jataí, 2009. Parâmetros Curriculares Nacionais: geografia/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/ SEF, 1998, 156 p. p. 65. PEZZATO, João Pedro; PRADO, Guilherme do Val Toledo. Panorama, Concepções e Questionamentos sobre a Alfabetização no Brasil. Educação: Teoria e prática, Rio Claro, v.13, n. 24/25, p. 39-51, 2005. Referencial de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora no ciclo II: caderno de orientação didática de Geografia/ Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2006. 68 p.
RIOS, Terezinha Azevêdo. Ética e Competência. 3ª ed.SãoPaulo: Cortez, 1993, p.34. SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. Ed. Hucitec, São Paulo: 1991-8. 61-74. SCHAFFER, Neiva Otero. Ler a paisagem, o mapa, o livro... Escrever nas linguagens da Geografia. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt et. al. (org). Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 6ª edição. Porto Alegre: Editora da UFGRS, 2004, p. 91. SELBACH, Simone; ANTUNES, Celso. Geografia e didática. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010 p. 37-113. SILVA, H. B.; ARAÚJO, B. D. X.; ALENCAR, F. A. G. A educação do campo e a geografia como instrumento de compreensão e valorização do modo de vida camponês - a experiência de estagiar na escola ativa chico mendes – CE. UFCE, 2011. STRAFORINI, Rafael. Ensinar geografia: o desafio da totalidade-mundo nas séries iniciais. 2. ed. São Paulo: Annablume, 2004. VITALINA MOTTA. Histórico da escola. Disponível em <vitalinamotta.blogspot.com.br>. Acesso em 08 de junho de 2012.