educaÇÃo no campo e paisagem: uma ponte … · ensino de geografia. paisagem e cotidiano....

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EDUCAÇÃO NO CAMPO E PAISAGEM: UMA PONTE INTERATIVA COM REALIDADE VIVIDA DA ESCOLA PROFª VITALINA MOTTA EM BELTERRA/PA. Francilene Sales da Conceição Universidade Federal do Oeste do Paraná -UFOPA [email protected] Ednéa do Nascimento Carvalho Universidade Federal do Oeste do Paraná -UFOPA [email protected] Resumo Este presente trabalho tem como objetivo propor uma prática metodológica no ensino de geografia sobre a categoria geográfica Paisagem para os alunos do meio rural no município de Belterra/PA, fazendo uma relação com a realidade vivida pelos estudantes da Escola Municipal Professora Vitalina Motta. Para tanto, a metodologia utilizada foi o estudo bibliográfico, a observação direta das aulas de geografia para o ensino fundamental II e a utilização de imagens da escola estudada. Busca-se entender os impasses enfrentados pelos alunos e professores no ensino de geografia na tentativa de conciliar suas realidades com os conteúdos geográficos, especificamente com a categoria Paisagem. Mediante a esse contexto, houve a necessidade de propor uma metodologia diferenciada para o ensino, perfazendo uma correlação com a realidade vivida pelos discentes residentes no campo no município em estudo. Palavras-chave: Educação no campo. Ensino de geografia. Paisagem e Cotidiano. Introdução Este trabalho apresenta o pensar para uma pratica metodológica diferenciada acerca do ensino da categoria geográfica Paisagem para os alunos do meio rural no Municipio de Belterra/PA, tendo como lócus a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Vitalina Motta, situada na rodovia Br 163 km 37 Santarém-Cuiabá, na comunidade do Trevo no Oeste Paraense. A proposta aqui recorrente é de que o trabalho seja desenvolvido a partir de uma metodologia que trate a categoria geográfica paisagem para os alunos do campo no ensino de geografia perfazendo uma correlação com a realidade vivida pelos estudantes da escola. Como pressuposto metodológico, utilizar- se-á revisão bibliográfica, observação in locu e imagens do ambiente estudado. Dessa forma, caracteriza-se os impasses enfrentados pelos alunos e professores no que diz respeito ao ensino de geografia nas séries finais do ensino fundamental II. Mediante a observação feita com relação às aulas de geografia tem se a necessidade de pensar

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EDUCAÇÃO NO CAMPO E PAISAGEM: UMA PONTE INTERATIVA COM REALIDADE VIVIDA DA ESCOLA PROFª VITALINA MOTTA EM

BELTERRA/PA.

Francilene Sales da Conceição

Universidade Federal do Oeste do Paraná -UFOPA [email protected]

Ednéa do Nascimento Carvalho

Universidade Federal do Oeste do Paraná -UFOPA [email protected]

Resumo

Este presente trabalho tem como objetivo propor uma prática metodológica no ensino de geografia sobre a categoria geográfica Paisagem para os alunos do meio rural no município de Belterra/PA, fazendo uma relação com a realidade vivida pelos estudantes da Escola Municipal Professora Vitalina Motta. Para tanto, a metodologia utilizada foi o estudo bibliográfico, a observação direta das aulas de geografia para o ensino fundamental II e a utilização de imagens da escola estudada. Busca-se entender os impasses enfrentados pelos alunos e professores no ensino de geografia na tentativa de conciliar suas realidades com os conteúdos geográficos, especificamente com a categoria Paisagem. Mediante a esse contexto, houve a necessidade de propor uma metodologia diferenciada para o ensino, perfazendo uma correlação com a realidade vivida pelos discentes residentes no campo no município em estudo. Palavras-chave: Educação no campo. Ensino de geografia. Paisagem e Cotidiano. Introdução

Este trabalho apresenta o pensar para uma pratica metodológica diferenciada acerca do

ensino da categoria geográfica Paisagem para os alunos do meio rural no Municipio de

Belterra/PA, tendo como lócus a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora

Vitalina Motta, situada na rodovia Br 163 km 37 Santarém-Cuiabá, na comunidade do

Trevo no Oeste Paraense. A proposta aqui recorrente é de que o trabalho seja

desenvolvido a partir de uma metodologia que trate a categoria geográfica paisagem

para os alunos do campo no ensino de geografia perfazendo uma correlação com a

realidade vivida pelos estudantes da escola. Como pressuposto metodológico, utilizar-

se-á revisão bibliográfica, observação in locu e imagens do ambiente estudado. Dessa

forma, caracteriza-se os impasses enfrentados pelos alunos e professores no que diz

respeito ao ensino de geografia nas séries finais do ensino fundamental II. Mediante a

observação feita com relação às aulas de geografia tem se a necessidade de pensar

práticas pedagógicas que contribua de forma consistente para o processo

ensino/aprendizagem dos conteúdos geográficos, no geral, e, especificamente, a

categoria Paisagem. Sendo assim, a contextualização dos conceitos teóricos

relacionados aos conteúdos geográficos, devem ser construídos a partir da realidade dos

alunos e do ambiente em que a escola se situa, estabelecendo o eixo de aprendizagem

que enfatize a estreita relação entre o que se busca aprender e o meio, o tempo e a

sociedade no qual o mesmo esteja inserido (SELBACH, ANTUNES, 2010, p. 113).

Diante das discussões quanto ao ensino de geografia no campo, é importante entender o

conceito de campo na visão de (ARROYO et al. 2009, p. 137) “ que o campo é o lugar

de vida, onde as pessoas podem morar, trabalhar, estudar com dignidade de quem tem

o seu lugar, a sua identidade cultural”. Desse modo, este trabalho contribui com

discussões teórico-metodológicas e, sobretudo, com práticas que estimulem o ensino-

aprendizagem.

Educação no campo e a relação com o espaço de vivência

A educação no campo é uma forma de resistência aos preceitos pedagógicos do campesinato, restringindo-se a um grupo que tem consigo uma identidade de pertencimento do local em que vive. Entretanto, não se deve excluir nem desvalorizar o seu contexto histórico, pois é nele que ocorrem relações sociais, culturais, políticas e de trabalho, por isso:

“Compreendemos a educação no campo como práxis de resistência e libertação dos camponeses, como uma prática pedagógica do campesinato e sua reflexão, de sua atuação no campo na defesa de seus valores culturais e a favor da ampliação da reforma agrária” (SILVA, ARAÚJO, ALENCAR, 2011).

O modo de vida no campo apresenta características peculiares, devendo ser abordado

nos conteúdos escolares. É nele que ocorrem as relações sociais e, também de como

estas relações se desenvolvem. Partindo desse pressuposto, haverá a valorização dos

saberes vividos por esse grupo social, facilitando a compreensão nos processos

educativos. Contudo, explorando os saberes vividos há uma contribuição para a

libertação dos camponeses no sistema educacional, por meio da valorização de seus

padrões culturais e sociais. Concorda-se com Caldart (2004), que a educação do Campo

é o resultado da luta do campesinato, bem como, um dos instrumentos de sua luta. De

fato, não se elimina o contexto no qual estão inseridos esses sujeitos, o que acaba

valorizando os padrões simbólicos identificados por esse grupo estabelecidos em função

de suas relações.

Segundo Fernandes (2005), o conceito de campo é um espaço de vida multidimensional

em que a educação, cultura, produção, trabalho, infraestrutura, organização, política,

mercado, etc., são elementos que constituem as dimensões desse território camponês.

Reconhece que o campo é resultado de múltiplas identidades que caracterizam esse

território, marcada por suas relações sociais, além de ser fonte de contribuição para os

processos educativos na Geografia.

Portanto, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia abordam os

conteúdos a serem trabalhados no sistema educacional brasileiro. A categoria geográfica

Paisagem é um dos temas tratados. Entretanto, é necessário ter cuidado ao se trabalhar

a temática, devendo respeitar as especificidades dos espaços de acordo com suas

realidades, pois a valorização do espaço vivido dos educandos do campo e sua relação

com o tema no ensino de Geografia é uma ferramenta em potencial para que se alcance

o ensino/aprendizagem a partir de seu cotidiano.

“Ao trabalhar temas que se desdobram desse eixo, como as relações tradicionais no campo e o processo de modernização, se estará inevitavelmente trabalhando com as ideias do novo e do antigo e os possíveis conflitos existentes em seus ajustamentos históricos. A sobrevivência de formas tradicionais de trabalho e de convívio com a natureza, expressa pelas relações do pequeno produtor agrícola com suas técnicas e formas de comercialização [...]”(PCNs, 1998, p. 65).

O aluno do campo conhece a realidade que está em sua volta, pois a partir do convívio

social e de suas mudanças percebidas momentaneamente e descobertas ao longo dos

tempos, do lugar onde mora, facilita sua compreensão. O cotidiano é a forma de

compreensão dos conceitos geográficos no ensino. O aluno do campo quando vai à

escola leva consigo todo um conhecimento locativo, carregado de valores culturais,

sociais e históricos.

Mendes e Mesquita (2009) enfatizam que o aluno do meio rural quando chega à escola

traz toda uma bagagem de conhecimento, mas no atual processo educativo a escola é em

contrapartida a negação do meio rural, pois realça a diferenças culturais deste aluno e,

por isso, negativiza-o, uma vez que não o reconhece enquanto sujeito desta relação.

A escola é um dos instrumentos que difunde cultura, portanto deve-se aproveitar o

conhecimento que o indivíduo tem do local em que vive para ser trabalhado nos

ambientes escolares do campo, ou seja, relacionar os conteúdos com seu espaço de

vivência. Mas o que acontece é que a escola exclui de seus planejamentos pedagógicos

conteúdos contextualizantes, negando ao estudante do campo o direito de produzir e

alcançar o saber.

A Cultura, enquanto elemento de sustentação da sociedade e patrimônio dos sujeitos que a constituem, precisa ser preservada e transmitida exatamente porque não está incorporada ao patrimônio natural (...), em sociedades como a nossa há uma instituição cuja função específica é a transmissão da cultura - esta instituição é a escola. Ela é o espaço de transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade. (RIOS, 1993, p. 34)

Pode-se dizer que por meio dos saberes locais acumulados e percebidos, o lugar passa a

ser visto como um elemento disseminador da cultura, preservando e transmitindo seus

valores culturais de acordo com sua identidade local. O relacionamento entre o modo de

vida do sujeito do campo com um dos temas de geografia, tratado em sala de aula,

permite ao aluno construir seu conhecimento e seus próprios conceitos, pois o que está

perto do cotidiano se torna mais fácil para nosso entendimento. E é partindo do local de

vivencia é que o aluno teria uma visão totalitária do mundo, de forma global, ou seja, é

fundamental que o espaço vivido pelos alunos continue sendo ponto de partida dos

estudos [...] e que esse estudo permita compreender como o local, o regional e o global

relacionam-se nesse espaço (PCNs, 1997, apud PEZATTO; PRADO, 2004, p. 48-49).

É interessante aproveitar o espaço escolar para fazer relação dos conteúdos geográficos

com a realidade que circunda os alunos, sendo ela um mecanismo de transmissão e

valorização dos saberes locais construídos historicamente a partir de seu

reconhecimento. Sendo assim, apontam os autores Campos, Pereira e Pontes (2011), no

ambiente escolar o aluno que constrói culturalmente e socialmente seu espaço de vida,

demonstra aspectos que levaram a construção de sua identidade, como sistema de sua

representação cultural, pois é na escola que esse sujeito, ao receber um saber

historicamente acumulado, tem a possibilidade de criar novos saberes, a partir da

compreensão de um conhecimento elaborado, fruto de seu processo histórico e de sua

atuação social e política.

No espaço escolar que o aluno produz conhecimento devido sua vivência com o qual ele

se identifica e se reconhece como um pertencente ao local, proporcionando o incentivo a

inúmeras possibilidades de trilhar caminhos para atingir sua aprendizagem e perceber

que ele também atua e interfere no círculo social e político, tem uma identidade

simbólica característica de um conhecimento estabelecido no decorrer dos tempos

devido seus padrões culturais.

É assim que Straforini (2004, p. 18), considera que estudar o lugar para compreender o

mundo significa para o aluno a possibilidade de consolidação do caminho que o leve a

sua identidade e sentimento de pertencimento. Faltam-nos muito esses valores de

identidade e pertencimento em mundo que tem a pretensão de ser homogêneo, mas que

é contraditório e diverso, tanto nas relações entre os homens, e destes com a natureza,

assim como no espaço que estamos construindo no cotidiano de nossas vidas.

Concorda-se com esse autor, ao abordar o lugar que gira em torno do alunado do

campo, ser o ponto de partida para a compreensão dos conteúdos de Geografia,

valorizando suas identidades locais. É o momento de reflexão do estudante, pois leva-o

a entender e interpretar conceitos geográficos e as diversas situações que extrapolam o

mundo, seus métodos perceptivos, contribuindo, assim, com o entendimento de que não

temos um mundo igualitário, mas um mundo marcado por muitas diferenças; tornando,

então, possível o desenvolvimento quanto a sua criticidade e, por conseguinte,

alcançando o aprendizado desejado.

Ao fazer a leitura da geografia devemos identificar os elementos que compõe o espaço e

de como esse se relaciona com a natureza e a sociedade, não apenas observando e

descrevendo, mas com atitude crítica referente às questões opositoras ocorridas no

mundo em que vive. A seguinte citação enfatiza:

Se o aluno entender o espaço que ele habita, isto é, uma forma de entender o seu mundo, o seu cotidiano, e as pessoas que ali habitam. O espaço são “pegadas” registros, “fosseis” que cada pessoa/sociedade deixa ao longo de sua vida. [...] Estar alfabetizado em geografia significa relacionar espaço com natureza, espaço com sociedade, isto é, perceber os aspectos econômicos, políticos e culturais, entre outros, do mundo em que vivemos. Ler e escrever em geografia são ler o mundo de maneira que o aluno saiba situar-se (e não só localizar-se e descrever) e posicionar-se. Que assuma um posicionamento crítico com relação às desigualdades sócias espaciais. Ler e escrever a geografia para dizer sua palavra e construir o seu espaço (KAERCHER, 2004, p. 82-83).

O cotidiano do aluno ajuda-o a compreender o mundo em que vive e suas relações

estabelecidas no seu espaço de vivência, fruto de um processo não apenas momentâneo,

mas que vem se desenvolvendo ao longo dos tempos, relacionando natureza e sociedade

e de como estas interações criam elementos econômicos, políticos e culturais, devendo

saber fazer uma leitura e interpretação geográfica do ambiente vivenciado por ele.

Sendo assim, o aluno teria um posicionamento crítico, percebendo que não ocorre

homogeneidade no seu cotidiano e de como ele é um ser importante para a construção

do seu espaço.

A paisagem e a realidade dos estudantes da escola Profª Vitalina Motta em Belterra/PA A relação entre paisagem e o cotidiano do aluno é uma das formas de contribuir para

sua aprendizagem. Aquilo que está próximo de nós facilita nossa compreensão. O

conceito geográfico de Paisagem trabalhado em sala de aula para os alunos do meio

rural no município de Belterra/PA deve ser pensado a partir de uma prática

metodológica diferenciada que facilite a compreensão dos mesmos nas aulas de

geografia, fazendo estreita relação com o seu espaço de vivência, pois o professor ao

utilizar recursos didáticos distintos, explorando a paisagem local valorizaria o

conhecimento que o estudante tem acerca do local em que vive para posteriormente

ampliar sua visão de forma global. Para tanto, Santos (1991) concebe a paisagem como:

Tudo aquilo que nós vemos, o que a nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca, não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc. (SANTOS, 1991, p. 61).

Partindo desse pressuposto, o estudante do campo que percebe a paisagem do seu

entorno consegue compreender de maneira aguçada os conteúdos geográficos,

desenvolvendo a percepção do local em que vive, considerando os vários elementos que

são de suma importância. Pois, considera-se que cada pessoa vê a paisagem de maneira

diferenciada, portanto, levar aluno a pensar e a interpretar a paisagem que gira ao seu

em torno possibilita a formulação de conceitos viáveis para atingir a aprendizagem em

geografia.

A atividade proposta para a categoria geográfica de paisagem nas aulas de geografia

baseia-se em imagens, figuras e desenhos, sendo estes recursos que vale a pena ser

utilizado em sala de aula, sobretudo para o aluno aprender a ler e a reconhecer

diferentes paisagens (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO

PAULO, 2006). O recurso visual é uma ferramenta a ser trabalhada em sala de aula na

escola Municipal Professora Vitalina Motta, em função de que os alunos ao ver as

paisagens antigas e atuais perceberiam que as mesmas sofreram transformações ao

longo dos tempos e de que existem diferentes tipos de paisagens despertando, assim,

diferentes conotações em cada um, pois cada sujeito tem uma percepção diferente do

outro.

Desse modo, o estudo aqui proposto visa pensar em uma prática metodológica distinta

acerca da categoria geográfica de paisagem no ensino de geografia e de sua relação com

realidade de vivência da escola em questão. A escola funciona em todos os turnos; é

dividida em educação infantil (alfabetização), educação fundamental de 1ª a 8ª série,

educação de jovens e adultos, como também atende ao ensino médio (1º e 3º ano) no

ensino regular, onde funciona como anexo da Escola Estadual de Ensino Médio

Valdemar Maués. Possui um papel fundamental no ensino da região, uma vez que é

uma um pólo que atende várias comunidades vizinhas do planalto no município de

Belterra/PA. Assim, ao se trabalhar a temática de paisagem, o professor deve dispor de

recursos que propiciem ao aluno a visualização, desenvolvendo a sensibilidade e a

percepção sobre as paisagens que o aluno vê em seu cotidiano (SECRETARIA

MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO, 2006).

[...] fazer a leitura da paisagem pode ser uma forma interessante de desvendar a história do espaço considerado [...] a história das pessoas que ali vivem. O que a paisagem mostra é o resultado do que aconteceu ali. [...] Descrever e analisar estas paisagens supõe [...] buscar as explicações que tal “retrato” nos permite. Os objetos, as construções, expressos nas ruas, nos prédios, nas praças, nos monumentos, podem ser frios e objetivos, porém a história deles é cheia de tensão, de sons, de luzes, de odores, e de sentimentos (CALLAI, 2005, p. 238).

Tendo uma visão da paisagem local e das relações que se estabelecem no seu mundo, o

alunado seria levado a percepção quanto as mudanças ocorridas no decorrer da história

e a detectar diferentes paisagens sabendo ler e a interpretá-las, pois, ao analisar e

descrevê-la, visualizará elementos que a compõe, sendo assim, ao entender a dinâmica

local expandiria para uma visão mais totalitária. Os recursos didáticos visuais ajudariam

na percepção e descrição do lugar de vivência do aluno para que estes detectem as

transformações ocorridas no ambiente no decorrer dos anos.

Segundo Schaffer (2004, p. 91), a leitura da paisagem vem se tornando uma expressão

corrente que indica uma tarefa específica e apropriada pela geografia no ensino. Tomar

a paisagem próxima, concreta, como a escola, a rua, um bairro ou a própria cidade, área

a ser visitada a certa distância ou uma imagem de paisagem, como uma foto ou outra

representação qualquer, como recurso para aprendizagem. Para tanto, a paisagem deve

ser abordada nas aulas como algo que se aproxime da realidade dos seus alunos,

tornando o ambiente do campo algo representativo que valorize a identidade local, no

qual ele conhece e mantêm uma relação muito forte de pertencimento.

Ler imagens em geografia ajuda a entender o significado de paisagem, da mesma forma

que um desenho de um aluno pode representar o seu entendimento acerca da paisagem,

portanto, é papel do professor mediar e orientar seus alunos, dispondo de metodologias

diferenciadas, diminuindo os impasses enfrentados na tentativa de conciliar suas

realidades com os conteúdos. Mas a paisagem aqui evocada é voltada para a realidade

dos estudantes do meio rural, onde eles conhecem e se identificam com o lugar de

vivência, por isso, a representação da categoria geográfica paisagem deve respeitar a

integridade cultural dos mesmos.

Na formação do raciocínio geográfico, o conceito de paisagem na análise de lugar está

ligado ao mesmo. É por ela, vista em seus determinantes e em suas dimensões, que se

vivencia empiricamente um primeiro nível de identificação com o lugar

(CAVALCANTE, 1998, p. 100). Portanto, fazendo a relação entre a categoria

geográfica de paisagem e o lugar nas aulas de geografia tornaria a aprendizagem mais

significativa. Paisagem e lugar têm uma grande afinidade, por isso, relacionando a

categoria de paisagem com o espaço de vivência dos alunos do campo valoriza todo o

conhecimento que ele tem a cerca do ambiente em que vive, facilitando sua

compreensão no decorrer das aulas. Essa aproximação com sua realidade devem

acontecer de modo ilustrativo ou construído pelo próprio aluno, pois perceber e

descrever a paisagem do ambiente onde mora é uma ferramenta em potencial para

alcançar a aprendizagem.

Para essa autora, não se deve definir a construção desse conceito pelos alunos no ensino

de geografia, porque ao se fazer isso tira a possibilidade da construção por eles.

Trazendo um conceito pronto para o aluno, retira-lhe o direito de construir conceitos no

decorre seu próprio conhecimento, impossibilitando-o de refletir acerca do conceito de

paisagem e ser um formador de opinião. Sugere-se ao educador preparar uma aula com

construções de murais, cartazes, desenhos feitos pelos próprios alunos, ou com a

utilização do recurso do data show com a exposição de imagens.

O estudo propõe uma prática metodológica diferenciada para os alunos do campo,

perfazendo uma correlação com a realidade vivida pelos estudantes. Assim, foi

realizada uma revisão bibliográfica, pois conforme Deslandes, Neto, Gomes e Minayo

(1994, p. 19), a teoria é um conhecimento de que nos servimos no processo de

investigação como um sistema organizado de proposições, que orientam a obtenção de

dados de análise dos mesmos, e de conceitos, que veiculam seu sentido, além de ter sido

realizada observações in lócus, onde esses mesmos autores apontam que o método de

observação serve como uma etapa descritiva; utilizou-se também imagens do ambiente

investigado, caracterizando os impasses enfrentados pelos alunos e professores no que

diz respeito ao ensino de geografia nas séries finais do ensino fundamental II.

Figura 1: Escola Profª Vitalina Motta/ Comunidade do Trevo - Belterra/PA

Fonte: Conceição, 2012.

A ação de aprendizagem é um desafio traçado ao professor, que deve ter a preocupação

de contribuir para a capacidade, nele próprio e no aluno, de pensar, refletir, criticar e

criar (CASTELLAR, 2005). O papel do docente de desenvolver ações diferenciada nas

aulas de geografia é um mecanismo que possibilita a evolução do estudante do campo

na capacidade de construir seu conhecimento e na contribuição e enriquecimento da

atuação profissional desempenhada pelo professor, pois ao dispor de metodologias

diferenciadas para trabalhar a categoria geográfica de paisagem no âmbito da geografia

escolar, o professor qualifica melhor o processo de ensino/aprendizagem de seus alunos.

O campo é um lugar marcado por muitas representações culturais, algo simbólico de

uma comunidade que caracterizam o modo de vida dos sujeitos camponeses. Todavia,

cultivar a paisagem do local em que vivem, fazendo comparações com o dia-a-dia dos

alunos é uma forma de contribuir para que os alunos compreendam outros lugares, não

ficando só no local, mas expandindo para uma visão mais global. O professor de

geografia como mediador tem uma função formidável no ensino: possibilitar ao aluno

leituras das paisagens que está em seu entorno, para que ele detecte os vários aspectos

por meio de sua percepção componentes da paisagem, sem excluir o contexto histórico

dos membros do ambiente campesino. Essa leitura das paisagens pode ser subsidiada,

por meio, das imagens, figuras e desenhos produzidos pelos próprios alunos durante as

aulas de geografia, daí um momento de fazer uma correlação com a realidade vivida

pelos mesmos.

Para tanto, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2006) enfatiza que a

paisagem não se resume como um lugar bonito ou feio que apresentam pouca

interferência humana; é importante entender que ela se configura um arranjo de vários

elementos pode ser naturais, como a vegetação, mar, serras, ou artificiais (antrópicos),

como conjunto de prédios, casas e ruas, que se acumularam ou substituíram outros ao

longo do tempo. A representação da paisagem do campo com recursos didáticos

diferenciados possibilitariam ao aluno identificar as diferentes paisagens e os elementos

que a compõe.

Por ser uma ciência das paisagens e por despertar a visão interligada entre o homem e seu mundo, a geografia é um instrumento formidável para que possamos nos conhecer e nos compreender melhor, percebe toda a dimensão do espaço e do tempo, onde estamos e para onde caminhamos, descobrir as populações e sua múltiplas relações com o ambiente. (SELBACH, 2010, p. 37).

A geografia tem a paisagem como uma de suas categorias geográficas, onde existe uma

interação entre a sociedade e o ambiente. Para que haja uma valorização e um melhor

entendimento dos alunos do campo, é necessário que o professor de geografia trabalhe

em sala de aula com práticas metodológicas diversificadas de modo ilustrativo que

propicie ao aluno a fazer uma leitura e interpretação da categoria geográfica de

paisagem, fazendo uma ponte de ligação com o seu cotidiano para a contribuição dos

processos educativos e de aprendizado no âmbito da geografia escolar.

Resultados

Neste trabalho, de acordo com as propostas de práticas metodológicas diferenciadas

acerca do ensino da categoria geográfica de Paisagem para os alunos do meio rural no

município de Belterra/PA efetuadas mediante as pesquisas teóricas e a observação in

lócus, contata-se que devemos ampliar cada vez mais nossa visão no ensino de

geografia sobre educação no campo, propondo novas didáticas para serem trabalhada

com os alunos nas aulas de geografia, representando a categoria de paisagem e ajudando

o aluno a fazer uma leitura a partir de sua realidade de vivência.

Ao utilizar os recursos didáticos como imagens, figuras e desenhos como ilustração e

exemplificação da categoria geográfica de paisagem e correlacionando com o lugar de

vivência do educando do campo, percebe-se que prende mais a atenção dos alunos nas

aulas de geografia, demonstrando um maior interesse por sua parte nessa disciplina.

Aquilo que está próximo de nossa realidade é mais fácil para a nossa compreensão,

portanto, isso é perceptível quando o aluno atribui conceitos a essa categoria geográfica

e associa ao recurso visual, levando-o a produzir conhecimento e alcançar seu ensino e

aprendizagem.

A confecção de materiais didáticos como: murais, painéis, cartazes, desenhos feito pelos

próprios alunos é um mecanismo essencial para o ensino de geografia acerca da

representatividade da categoria geográfica de Paisagem. Quando o aluno visualiza ou

quando ele mesmo produz se torna mais claro para seu entendimento, instigando o

aluno a pensar geograficamente e ser um formador de opinião.

Por isso, a escola Profª Vitalina Motta ao pensar em métodos diversificados para

representar a Paisagem utilizando diferentes recursos didáticos-pedagogicos como:

imagens, figuras e desenhos, insere a realidade vivida de seus alunos tornando o ensino

de geografia, nessa escola, concreto e perceptível, valorizando, assim, a aprendizagem

significativa para com os conteúdos geográficos.

Considerações Finais

Nesse contexto, a educação no campo para o ensino deve ser pensada em uma proposta

que venha valorizar realidade local dos sujeitos. Isso é possível quando ao trabalhar a

categoria geográfica Paisagem, o professor dispor de técnicas diversificadas, algo que

caracterize e exemplifique o estudo da paisagem no campo, elaborando propostas que

viabilizam o modo de ensinar geografia e que promovam a facilitação para compreensão

dessa categoria geográfica pelos alunos.

A escola é o principal instrumento que contribui para melhorar os processos educativos

no âmbito da geografia, escolhendo metodologias diversificadas em suas aulas e

fazendo relação de conteúdos para que contribua na formação de um indivíduo crítico e

que este tenha uma concepção de mundo, sem desvalorizar seus padrões culturais. Para

a educação no campo, o ensino de geografia carece estabelecer diretrizes para serem

trabalhadas em sala de aula para que contribuam com o melhoramento dessa disciplina,

pois, o motivo de muitos alunos não gostarem dessa disciplina, é o destoamento da

mesma com a realidade local e a maneira como as aula são conduzidas. Ao diversificar

a natureza de gerência das aulas, mudará a direção de percurso na disciplina de

geografia, tomando um rumo diferente, que só contribuirá para seu ensino.

A contextualização da categoria geográfica paisagem e sua relação com o espaço de

vivência mostrou como ainda é irrelevante o modo de ensinar geografia nas escolas do

campo. O ensino de geografia no campo ainda se encontra muito restrito, além de

apresentar muitos entraves no que se refere à viabilização de suas aulas.

Por fim, considera-se que a utilização de práticas pedagógicas diferenciadas na sala de

aula acerca da categoria geográfica de paisagem é um caminho que deve ser traçado

pelos professores de geografia da escola Profª Vitalina Motta no Município de

Belterra/PA. Entretanto, a proposta da utilização do recurso visual e ilustrativo é um

mecanismo de superar o modelo tradicional imposto nas escolas do campo, cujo

professor traz um conceito pronto e não caracteriza e exemplifica esse conceito por

meio dos recursos didáticos disponíveis, dificultando o entendimento do estudante. A

confecção e a visualização de paisagens referente ao seu lugar de vivência é uma prática

metodológica indispensável para caracterizar o estudo da paisagem no campo. Dessa

forma, amenizará os impasses enfrentados pelos alunos e professores no ensino de

geografia, possibilitando-os a desenvolver ações que melhore os processos educativos.

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