educaÇÃo infantil no contexto neoliberal.pdf

Upload: priurado

Post on 26-Feb-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    1/11

    EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL: RECORTE AOSDOCUMENTOS PRODUZIDOS PELAS AGNCIAS MULTILATERAIS

    Maria Reilta Dantas Cirino Mestranda em Educao/PPGEd/UFRN.

    [email protected]

    Denise Maria de Carvalho Lopes Professora Dra. DEPED/PPGEd/ UFRN.

    [email protected]

    As discusses sobre a educao infantil tm se ampliado de forma significativatransformando pelo menos no plano terico e legal as concepes dessa etapaeducativa, cuja histria apresenta uma trajetria de omisso ou reducionismo desua funo. Estudos como os de Del Priori (2000); Freitas (2001); Campos (2002)Formosinho et al (2002); Oliveira (2002); Penn (2002); Kohan (2003); Rosemberg(2002a; 2002b, 2003); Rossetti-Ferreira et al (2002); Stearns (2006), entre outros,nos mostram que essa transformao no tem sido linear, mas marcada por

    avanos e recuos presentes ao longo da histria no que concerne s polticaspblicas nessa rea, bem como implicam que sejam situados no mbito doredimensionamento da conjuntura poltica que se configura, no contexto atual, emuma poltica neoliberal fortemente influenciada pela ao dos organismosinternacionais nos pases ditos em desenvolvimento na Amrica Latina e Caribe.Esse artigo objetiva refletir sobre o lugar ocupado pela educao infantil no mbitodas polticas pblicas educacionais propostas em documentos publicados pelaCEPAL e UNESCO evidenciando como esses documentos tm, apresentado e/ouomitido a educao infantil. Percebe-se que a educao infantil trilhou um longopercurso de ausncias e indefinies no contexto das polticas neoliberais at serentendida como bom investimento com potencial de retorno econmico e includa

    nos documentos norteadores de polticas. Contudo, mais que um potencial debenefcios econmicos e sociais, a promoo, pelos governos e sociedade emgeral, de uma educao infantil de qualidade cujos princpios estofundamentados na vasta e fecunda produo cientfica da rea tem ainda vriosdesafios a serem superados na perspectiva da dignidade e cidadania infantil. Entreestes est o de garantia de educao infantil como direito das crianas desde onascimento at os cinco anos em instituies educativas que promovam seudesenvolvimento como pessoa em sua globalidade.

    Palavras-chave: educao infantil; conjuntura poltica e neoliberal.

    mailto:[email protected]:[email protected]
  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    2/11

    2

    EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL: RECORTE AOSDOCUMENTOS PRODUZIDOS PELAS AGNCIAS MULTILATERAIS

    Maria Reilta Dantas Cirino Mestranda em Educao/PPGEd/UFRN.

    [email protected]

    Denise Maria de Carvalho Lopes Professora Dra. DEPED/PPGEd/ UFRN.

    [email protected]

    As discusses sobre a educao infantil tm se ampliado, nas ltimas

    dcadas, de forma significativa transformando pelo menos no plano terico e legal

    as concepes dessa etapa educativa, cuja histria apresenta uma trajetria de

    omisso ou reducionismo de sua funo assistencialista/custodial, compensatria,

    preparatria para a escola, entre outras.

    Estudos como os de Del Priori (2000); Freitas (2001); Campos (2002)

    Formosinho et al (2002); Oliveira (2002); Penn (2002); Kohan (2003); Rosemberg

    (2002a 2002b, 2003); Rossetti-Ferreira et al (2002); Stearns (2006), entre outros,

    nos mostram que essa transformao no tem sido linear, mas um processo

    marcado por avanos e recuos presentes ao longo da histria at nossos dias no

    que concerne s polticas pblicas nessa rea.

    Um desses avanos fundamentais a compreenso da criana comosujeito de direitos que tem, como marcos fundamentais, a Declarao Universal dos

    Direitos da Criana, de 1959, e a Conveno Mundial dos Direitos da Criana, de

    1989 (BARRETO,1995). Contudo, a compreenso desses avanos, bem como dos

    recuos, implicam que sejam situados no mbito do redimensionamento da

    conjuntura poltica que se configura, no contexto atual, em uma poltica neoliberal

    fortemente influenciada pela ao dos organismos internacionais nos pases ditos

    em desenvolvimento na Amrica Latina e Caribe.Esse artigo objetiva refletir sobre o lugar dado educao infantil no

    mbito das polticas pblicas educacionais propostas em documentos publicados

    pela CEPAL (Comisso Econmica para a Amrica Latina) e UNESCO

    (Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura) buscando

    evidenciar como esses documentos tm, em sua trajetria, apresentado e/ou

    omitido a educao infantil.

    De acordo com Cabral Neto e Castro (2005, p.1-2), as polticas

    educacionais inserem-se dentro [...] do processo de reformas estruturais em curso

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    3/11

    3

    nesse continente nas ltimas dcadas e na [...] redefinio do papel do Estado em

    relao s polticas sociais [...] as quais decorrem dos compromissos assumidos

    pelos governos com as agncias multilaterais em um entendimento segundo o qual

    a educao assume importncia substancial no processo de transformao social.

    Ainda segundo os autores citados, essas polticas visam preparar os pases em

    desenvolvimento para o enfrentamento da concorrncia em uma economia

    globalizada.

    A educao infantil em alguns dos documentos produzidos no contexto das polticas

    direcionadas pela CEPAL e UNESCO

    Os avanos registrados no mbito da educao infantil no se distanciam

    do contexto acima apresentado. Mas, para que a educao infantil se tornasse

    oficialmente presente nos documentos norteadores de polticas dos organismos

    internacionais e das agncias multilaterais dos pases membros da CEPAL foi

    preciso enfrentar um longo percurso de esquecimento.

    A CEPAL e a UNESCO so agncias que se destacam no direcionamento

    das polticas educacionais na Amrica Latina e no Caribe, polticas essas

    desencadeadas frente os baixos nveis de crescimento do Produto Interno Bruto

    (PIB) e de um cenrio de baixa escolaridade, grande contingente de analfabetos

    adultos, altos ndices de evaso escolar, desajuste entre educao e trabalho,

    escassa articulao da educao com os desenvolvimentos econmicos, sociais e

    culturais e centralizao da gesto.

    A partir desse quadro articulam-se eixos para o seu enfrentamento

    expressos no Projeto Principal da Educao (PPE/1981-2001) aprovado em 1981,

    no Mxico, durante a Conferncia Regional de Ministros de Educao e deMinistros de Planejamento Econmico, a qual estabelece os princpios e

    fundamentos de superao desse cenrio e aponta como metas a serem

    superadas em 20 (vinte) anos: 1) assegurar a escolaridade antes de 1999 a todas

    as crianas em idade escolar e ofertar uma educao geral mnima de 8 a 10 anos;

    2) eliminar o analfabetismo antes do final do sculo e desenvolver e ampliar os

    servios educativos para os adultos, e 3) melhorar a qualidade e eficincia dos

    sistemas educativos atravs da realizao das reformas necessrias (PRELAC,

  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    4/11

    4

    2004). Observa-se que nem no cenrio que precede o PPE (1981-2001) e nem nas

    metas projetadas para os 20 (vinte) anos seguintes h meno educao infantil.

    Os pases membros do PPE (1981-2001) assumem o compromisso de, a

    cada dois anos, participarem de uma reunio regional de avaliao e

    redirecionamento de metas, a qual coordenada pela UNESCO, denominada pela

    sigla PROMEDLAC (Reunies do Comit Regional Intergovernamental do PPE da

    Amrica Latina e do Caribe). As PROMEDLAC foram assim realizadas: I

    PROMEDLAC, Mxico/1984; II PROMEDLAC, Bogot, Colmbia/1987; III

    PROMEDLAC, Guatemala/ 1989. Nos documentos dessas reunies no h,

    novamente, referncias educao infantil.

    Nesse contexto, no Brasil, desencadeia-se o movimento em prol da

    promulgao da Constituio Federal/1988, a qual inclui, em decorrncia de intensa

    movimentao reivindicatria de setores da sociedade civil organizada, bem como

    de representantes do setor acadmico-cientfico envolvidos com a educao da

    criana pequena, a educao infantil como direito da criana e dever do Estado e

    indica que o Estado deve garantir o atendimento em creches e pr-escolas s

    crianas de zero a seis1anos, consideradas a partir de ento, sujeitos de direitos.

    Antes da IV PROMEDLAC um acontecimento converte-se em um marco de

    substancial importncia por seu carter de evento mundial: a Conferncia de

    Educao para Todos, em Jomtien/Tailndia, em 1990, a qual identifica, entre

    outros aspectos, a educao como elemento central do desenvolvimento

    econmico, sendo a criana pequena aqui definida como a criana menor de sete

    anos - includa nesse entendimento. Instaura-se, ento, o conceito de necessidades

    bsicas de aprendizagem assumindo-se a compreenso de que a aprendizagem se

    inicia com o nascimento e ocorre durante toda a vida e envolve, portanto, crianas,

    jovens e adultos. (CASASSUS, 2001). Essa Conferncia apontada a nvelmundial, como responsvel, em grande parte, pelo redirecionamento de polticas de

    ateno criana.

    preciso salientar que o entendimento assumido pelos participantes da

    Conferncia, representantes de vrios pases do mundo, acerca da educao da

    criana e do ser humano como um todo ancorava-se, por sua vez, na produo

    1

    A emenda constitucional N 53, de 20 de dezembro de 2006, modifica entre outros aspectos, o Art. 208,Inciso IV, para atendimento em creches e pr-escola, s crianas at 5 (cinco) anos de idade.

  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    5/11

    5

    terica fundamentada nos conhecimentos cientficos de vrias reas como a

    medicina, a antropologia, a sociologia, a psicologia, acerca do desenvolvimento do

    ser humano em suas diferentes fases da vida, em especial, da primeira infncia,

    caracterizada como perodo de desenvolvimento/transformaes intensas,

    fortemente vinculado/as s condies objetivas de vida das crianas, o que inclui a

    assistncia, os cuidados, os estmulos s aprendizagens e ao desenvolvimento em

    todas as suas dimenses.

    Em cumprimento agenda dos pases membros, seguiram-se a IV

    PROMEDLAC, Equador/ 1991, a V PROMEDLAC, Santiago do Chile, 1993 e a VI

    PROMEDLAC, Kingston, Jamaica/1996, as quais analisam e reafirmam os

    compromissos assumidos anteriormente, mas no fazem, em que pese a

    repercusso das discusses da Conferncia de Jomtien, meno especfica

    educao infantil.

    Nesse nterim, no Brasil, era realizada a Conferncia Nacional de Educao

    para Todos, em 1994 e, ao mesmo tempo, era elaborado o Plano Decenal de

    Educao para Todos, o qual respeita as recomendaes de Jomtien/1990 e inclui

    dois itens referentes educao infantil: criar oportunidades de educao infantil

    para cerca de 3,2 milhes de crianas do segmento social mais pobre; proporcionar

    ateno integral a crianas e adolescentes, sendo 1,2 milho do Programa Nacional

    de Ateno Integral Criana e ao Adolescente (PRONAICA) em reas urbanas

    perifricas (GADOTTI, 2007, p.6). O mesmo autor analisa que esse plano cumpriu

    alguns dos compromissos estabelecidos, mas [...] no conseguiu atingir as metas

    de qualidade e de terminalidade, principalmente em relao educao infantil e

    educao de jovens e adultos. (idem, p.9).

    Nesse contexto ocorria tambm a aprovao da Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional-LDB, n. 9.394/96, que cumpria o j estabelecido pelaConstituio Federal e inclua a educao infantil como a primeira etapa da

    educao bsica, bem como em relao ao financiamento era regulamentado o

    Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

    Valorizao do Magistrio-FUNDEF, atravs da Emenda 14/96, e pela Lei Federal,

    n. 9.424/96, o qual no inclui recursos para a educao infantil.

    Na viso de Rosemberg (2002, pp.64-65) o cenrio nacional e internacional

    em que se configuram as polticas de educao infantil carregado de tenses,observando-se que entre a promulgao da Constituio e a aprovao da LDB/96

  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    6/11

    6

    ocorre uma significativa mudana de concepo poltica que ir influenciar

    decisivamente o setor educacional: o paradigma econmico passa de Estado do

    bem estar social ao de redutor do papel do Estado e, nesse ltimo, que permanece

    no contexto contemporneo, predomina o incentivo iniciativa privada e um novo

    conceito entra em cena: o de polticas focalizadas. (VILLALOBOS, 2000 apud

    ROSEMBERG, 2002).

    Em 2000 acontece o Frum Mundial de Dakar, no Senegal, que teve como

    objetivo avaliar os avanos da ltima dcada e estabelecer novas metas. Elabora-

    se ento o plano de Educao para Todos (EPT/2000), o qual indica cinco

    objetivos, sendo o primeiro referente infncia: Estender e melhorar a proteo e

    educao integral da primeira infncia, especialmente para as crianas mais

    vulnerveis e desfavorecidas. (PRELAC/UNESCO, 2005, p.23). Analisando o

    cenrio em que se estabelece esse objetivo Rosemberg (2002, p. 66) aponta a

    inviabilidade dessa estratgia, em vista de que ao se considerar os vulnerveis ...

    no Brasil teramos 33,8% de pobres e 14,3% de indigentes, conforme IPEA (2001).

    [...] as polticas para carentes seriam praticamente para metade da populao.

    As influncias do documento de Dakar/2000 podem ser percebidas no

    Brasil j em 2001 com a aprovao do Plano Nacional de Educao

    PNE/2001(2001-2010) quando apresenta a concepo de que a ... educao

    infantil inaugura a educao da pessoa e prev ampliao de atendimento para

    educao infantil [...] a 30% da populao de at 3 anos e 60% da populao de 4

    a 6 anos (PNE/2001, p.61), elevando esse atendimento para, ao final da dcada,

    chegar a 50% das crianas de 0 a 3 anos e 80% das 4 a 6 anos, bem como prev o

    atendimento progressivo de forma integral s crianas de 0 a 6 anos. Em relao

    definio dos recursos, determina que [...] em todos os municpios, alm de outros

    recursos municipais os 10% dos recursos de manuteno e desenvolvimento doensino no vinculados ao Fundef sejam aplicados, prioritariamente, na educao

    infantil. (PNE/2001, p.64). Comentando esse aspecto Didonet (2005) afirma que a

    meno da destinao desse percentual no tem fora suficiente para suplantar as

    demandas do ensino fundamental que no so cobertas pelo Fundef.

    A VII PROMEDLAC, realizada em Cochabamba, Bolvia/2001, reafirma os

    compromissos assumidos no Frum de Dakar, contudo, reconhece o no alcance

    das metas estabelecidas pelo PPE (1981-2001) e, em vista de haver decorrido oprazo de 20 (vinte) anos, os ministros dos pases membros solicitam UNESCO

  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    7/11

    7

    que seja elaborado um novo projeto regional para orientar o salto qualitativo em

    termos educacionais, desta feita com prazo de 15 (quinze anos) para sua execuo

    e alcance de metas.

    Atendendo a essa solicitao, a UNESCO elabora o Projeto Regional de

    Educao para Todos - PRELAC, aprovado em Havana, novembro de 2002, o qual

    ao ser elaborado analisa o cenrio atual que envolve a Amrica Latina e o Caribe

    identificando dois grandes problemas regionais: nveis de desigualdade mais altos

    do mundo e vulnerabilidade das instituies, os quais desencadeiam, na viso

    documento, vrias conseqncias: 211 (duzentos e onze) milhes de pessoas em

    nvel de pobreza, 80 (oitenta) milhes de indigentes, acentuados ndices de

    desemprego e subemprego e condies que vo alm da regio (evoluo do

    conhecimento, ruptura dos espaos e tempos, novas comunicaes, mudanas em

    padres de conduta e de valores, movimentos migratrios, etc.) (PRELAC, 2004).

    O PRELAC (2002) considera esse contexto e reconhece os esforos

    empreendidos pelos pases no PPE (1981-2001), contudo considera-os

    insuficientes e elabora objetivos, princpios e focos estratgicos a serem alcanados

    at o ano de 2015, em vista de promover a Educao para Todos compreendida

    como uma das formas de superao desse quadro. Esse documento, embora no

    cite especificamente a educao infantil, mantm os princpios dos documentos

    anteriores entendendo que a educao se d ao longo da vida e comea, portanto,

    na primeira infncia.

    A partir dessa trajetria de reunies e documentos e dos focos estratgicos

    do PRELAC (2002), a UNESCO e a CEPAL elaboram um documento denominado

    Investir melhor para investir mais: financiamento e gesto da educao na Amrica

    Latina e no Caribe (Santiago do Chile, 2005), o qual defende a educao como

    mola do desenvolvimento econmico [...] na medida em que aumenta as opespara ascender no trabalho, aos cuidados da sade e nutrio, [...] capacita para um

    melhor exerccio dos direitos civis e polticos (CEPAL, 2005, p.12).

    Esse documento estabelece quatro metas para o alcance desses objetivos

    e, entre elas, uma que se refere especificamente educao infantil nomeada pelo

    referido documento como educao pr-primria: [...] universalizar a educao pr-

    primria, elevar a 100% a taxa de matrcula de crianas entre trs e cinco anos de

    idade em todos os pases da regio at o ano de 2015 (CEPAL, 2005, p.30).

  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    8/11

    8

    Na tabela abaixo podemos observar o real aumento percentual de

    matrculas em relao ao ano imediatamente anterior, verificando-se que o ano de

    2001 houve o ndice mais significativo, de 15,15% (quinze, vrgula um por cento) e o

    ano de 2006 registra um decrscimo nas matrculas de -2,6% (dois, vrgula seis por

    cento negativos) Ressalte-se que esse aspecto possivelmente seja devido ao

    processo de adaptao do sistema ao ensino fundamental de nove anos (Lei n.

    11.274/2006) do qual a criana de seis anos passa a fazer parte.

    TABELA 01 MATRCULAS EM CRECHES E PR-ESCOLAS NO BRASIL POR CRITRIO DE IDADE.

    ANOMATRCULAS EM

    CRECHE0 a 3 anos

    MATRCULAS EM PR-ESCOLA4 a 6 anos

    TOTAL CRECHE EPR-ESCOLA TOTAL %

    1999 831.978 4.235.278 5.067.256 -

    2.000 916.864 4.221.552 5.138.416 1,4

    2.001 1.093.347 4.818.803 5.912.150 15,1

    2.002 1.152.511 4.977.847 6.130.358 3,7

    2.003 1.237.558 5.155.676 6.393.234 4,3

    2004 1.348.237 5.555.525 6.903.762 8,0

    2005 1.414.343 5.790.670 7.205.013 4,4

    2006 1.427.942 5.588.153 7.016.095 - 2,6

    Fonte: INEP, Censo Escolar: 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006.

    Nessa conjuntura poltica em que se percebe a educao da criana com

    potencial de benefcios econmicos futuros, vai impulsionar investimentos dos

    organismos internacionais em programas de desenvolvimento para a infncia, bem

    como associados aos movimentos sociais de reivindicao de respeito aos direitos

    da criana, aos avanos do conhecimento cientfico sobre a criana, seusprocessos de desenvolvimento e aprendizagem, a conscientizao da sociedade

    sobre o direito da criana educao e a necessidade de sua insero, cada vez

    mais cedo, em instituies que assumem a funo de educ-las.

    Analisando a influencia do BM nas polticas para a infncia, Rosemberg

    (2002) identifica que essa agncia introduz o termo desenvolvimento infantil, o qual

    para a autora significa um retrocesso s concepes anteriores, pois nessa

    concepo subjaz o entendimento da focalizao que prioriza o baixo custo e

    defende que [...] programas para desenvolvimento infantil podem ser implantados

  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    9/11

    9

    pelas mes, por visitadoras domiciliares, no contexto da casa, da rua [...] sob a

    responsabilidade de qualquer instncia administrativa. (idem, p. 66). A autora

    alerta, ainda, para a possibilidade desses programas emergenciais tornarem-se via

    de regra substitutos dos programas setoriais universais.

    Esses aspectos, embora ainda estejam distantes das metas estabelecidas

    vo repercutir na elaborao de leis e polticas de atendimento, em favor do

    reconhecimento da educao infantil como direito de todas as crianas de zero a

    cinco anos ampliando os dados referentes educao infantil e expanso no

    atendimento.

    Como resultante dessa repercusso pode-se apontar a recente incluso da

    educao infantil integral no novo fundo da educao, o Fundo de Manuteno e

    Desenvolvimento da Educao Bsica, o FUNDEB/2006. Esse fato significativo,

    pois define, objetivamente, uma fonte de recursos para educao infantil, o que cria

    possibilidades de reivindicaes e ampliaes. Outro fato digno de nota a Lei n.

    11.274/2006, que cria o ensino fundamental de nove anos incluindo as crianas de

    seis anos com carter de obrigatoriedade e gratuidade.

    Com esse conjunto de dados, evidencia-se que a educao infantil teve que

    fazer um longo percurso de ausncia e indefinies nas discusses educacionais

    no contexto das polticas para a Amrica Latina e Caribe at ocupar um lugar

    efetivo, ainda que tenha tido que ser entendida como um bom investimento com

    potencial de retorno econmico no contexto das polticas neoliberais para que fosse

    includa nos documentos produzidos nessas discusses (CHOI, 2004, apud

    CORSINO, 2006), o qual identifica os benefcios da educao da primeira infncia

    como: benefcios pessoais, educacionais, econmicos e sociais.

    Contudo, mais que como um potencial de benefcios econmicos e sociais,

    a promoo, pelos governos, de educao infantil de qualidade cujos princpios eparmetros encontram-se ancorados pela vasta produo cientfica tem ainda

    vrios desafios a serem superados em prol da dignidade e cidadania infantil. Entre

    esses est o de garantir o direito das crianas educao desde o nascimento em

    instituies educativas que promovam aprendizagens e desenvolvimento efetivo

    para o que preciso atender a critrios bsicos de qualidade, como formao de

    profissionais, estmulo construo de propostas pedaggicas adequadas s

    especificidades infantis, garantia de condies adequadas de funcionamento, de

  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    10/11

    10

    prticas educativas significativas e de relaes inclusivas com as famlias

    (ZABALZA, 1998; MOSS et al, 2003).

    2 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BARRETO, ngela M.R.F. Educao infantil no Brasil: desafios colocados.Cadernos CEDES: Grandes polticas para os pequenos. Educao Infantil.Campinas, 37, 1995.

    _____. Congresso Nacional. Imprensa Nacional. Emenda Constitucional N. 53.D nova redao aos arts. 7, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituio Federal eao art. 60 das Disposies Constitucionais Transitrias. Dirio Oficial da Unio.Edio N. 243, de 20/12/2006. Atos do Congresso Nacional. Disponvel emhttp://65.55.135.124/cgi-bin/getmsg/2483952%2exml?&msg=4A59E701-EC02-4CC1... Acesso em 30/12/2006.CABRAL NETO, Antnio; ARAJO, Alda Maria Duarte. Reflexes sobre os atuaiscenrios da poltica educacional na Amrica Latina. In: O pblico e o privado.

    Fortaleza, n. 5, jan/jun, 2005.CAMPOS, Maria Malta. A legislao, as polticas nacionais de educao infantil e arealidade: encontros e desencontros. In MACHADO, Maria Lucia de A. (Org.). SoPaulo: Cortez, 2002.CASASSUS, Juan. A reforma educacional na Amrica Latina no contexto deglobalizao. In: Caderno de Pesquisa, n. 14, So Paulo, nov. 2001.CEPAL/UNESCO. Invertir mejor para invertir ms. Financiamento y gesto dela educacin em Amrica Latina y el Caribe. Santiago do Chile, enero Del 2005.CORSINO, Patrcia. Proposta pedaggica: o cotidiano na educao infantil. In:Salto para o futuro. TV Escola. O cotidiano na educao infantil, boletim 23,nov/2006. 78 p.DEL PRIORI, Mary. (org.). Histrias das crianas no Brasil. 2. ed. So Paulo:Contexto, 2000. 445 p.FREITAS, Marcos Cezar de. (org.). Histria social da infncia no Brasil.3. ed.(revista e ampliada). So Paulo-SP: Cortez, 2001. 334 p.FORMOSINHO, Jlia Oliveira -; KISHIMOTO, Tizuko Morchida. (orgs.). Formaoem contexto: uma estratgia de integrao. So Paulo: Pioneira, Thomson Larning,2002.GADOTTI, Moacir. Os compromissos de Jomtien: Estado e sociedade civil. In: ISeminrio Nacional sobre Educao para Todos. Braslia, 10-11 jun. 1999.Disponvel em: http://www.paulofreire.org/Moacir_Gadotti/Artigos/ Acesso em:

    03/06/2007.Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica- IBGE. Estatstica e populao.Disponvel em: http://www. Ibge.gov.br/home/estatistica/populao/ censo2000/tabelabrasil111.shtm Acesso em: 29/05/2007.KOHAN, Walter O. Infncia. Entre educao e filosofia. Belo Horizonte: Autntica,2003.MOSS, Peter; DAHLBERG, Gunilla; PENCE, Alan. Qualidade a educao daprimeira infncia: perspectivas ps-modernas. Porto Alegre: Artmed, 2003.OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educao Infantil : fundamentos e mtodos. 2. ed.So Paulo : Cortez, 2002. (Coleo Docncia em Formao).STEARNS, Peter N. A infncia. Traduo de MirnaPinky. So Paulo: Contexto,

    2006. 214 p. (Coleo histria mundial).

    http://65.55.135.124/cgi-bin/getmsg/2483952.xml?&msg=4A59E701-EC02-4CC1http://65.55.135.124/cgi-bin/getmsg/2483952.xml?&msg=4A59E701-EC02-4CC1http://www.paulofreire.org/Moacir_Gadotti/Artigos/http://www.paulofreire.org/Moacir_Gadotti/Artigos/http://65.55.135.124/cgi-bin/getmsg/2483952.xml?&msg=4A59E701-EC02-4CC1http://65.55.135.124/cgi-bin/getmsg/2483952.xml?&msg=4A59E701-EC02-4CC1
  • 7/25/2019 EDUCAO INFANTIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL.pdf

    11/11

    11

    VASCONCELOS, Vera Maria Ramos de. (org.). Educao da infncia: histria epoltica. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.PAIVA, Edil Vasconcellos de. Questes atuais sobre a formao deprofessores: a poltica de formao de professores da UNESCO no ProjetoPrincipal de Educao(1981-2001). pp. 1-23.

    PENN, Helen. Primeira infncia; viso do Banco Mundial. In Cadernos de Pesquisa.N. 115. mar. 2002. Fundao Carlos Chagas. So Paulo, 2002.PRELAC: uma trajetria regional em direo educao para todos. RevistaPRELAC. Ano 1, n. 0, agosto de 2004. pp. 7-11.ROSEMBERG, Flvia. Do embate para o debate: educao e assistncia no campoda educao infantil. In: MACHADO, Maria Lucia de A. (org.). Encontros edesencontros em educao infantil. So Paulo: Cortez, 2002. pp. 63-82.

    ______. Organizaes multilaterais, estado e polticas de educao infantil. InCadernos de Pesquisa. N. 115. mar. 2002. Fundao Carlos Chagas. So Paulo,2002. pp. 25-64.

    ______. Panorama da educao infantil brasileira contempornea. In: Simpsio

    Educao Infantil: construindo o presente. Anais. Braslia: UNESCO Brasil, 2003.pp. 33-82.ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde; RAMON, Fabola; SILVA, Ana PaulaSoares. Polticas de atendimento criana pequena nos pases emdesenvolvimento. In: Cadernos de Pesquisa. N. 115. mar. 2002. Fundao CarlosChagas. So Paulo, 2002. pp. 65-100.