educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática EDUCAÇÃO EM ENERGIA ELÉTRICA UMA PROPOSTA DIDÁTICA PARA EJA Augusto Rodrigues Torres Belo Horizonte 2013

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Page 1: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

EDUCAÇÃO EM ENERGIA ELÉTRICA – UMA

PROPOSTA DIDÁTICA PARA EJA

Augusto Rodrigues Torres

Belo Horizonte

2013

Page 2: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

Augusto Rodrigues Torres

EDUCAÇÃO EM ENERGIA ELÉTRICA – UMA

PROPOSTA DIDÁTICA PARA EJA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ensino Ciências e Matemática

da Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Ensino de Ciências e

Matemática.

Área de concentração: Ensino de Física

Orientadora: Profª. Dra. Yassuko Hosoume

Belo Horizonte

2013

Page 3: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Torres, Augusto Rodrigues

T693e Educação em energia elétrica: uma proposta didática para EJA / Augusto

Rodrigues Torres. Belo Horizonte, 2013.

98f.: il.

Orientadora: Yassuko Hosoume

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática.

1. Energia elétrica – Estudo e ensino. 2. Educação de adultos. 3. Jovens -

Educação. 4. Ensino médio. 5. Física – Estudo e ensino. I. Hosoume, Yassuko. II.

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação

em Ensino de Ciências e Matemática. III. Título.

CDU: 53:373

Page 4: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

Augusto Rodrigues Torres

EDUCAÇÃO EM ENERGIA ELÉTRICA – UMA

PROPOSTA DIDÁTICA PARA EJA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ensino Ciências e Matemática

da Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Ensino de Ciências e

Matemática.

______________________________________________________

Profª. Dra. Yassuko Hosoume Orientadora - PUC Minas

______________________________________________________

Profª. Dra. Adriana Gomes Dickman - PUC Minas

____________________________________________

Prof. Dr. Nilson Marcos Dias Garcia – UTFPR

Belo Horizonte, 15 de abril de 2013.

Page 5: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por tudo.

À minha orientadora Yassuko, por ter me dado o privilégio de ser seu orientado, e por

ter tido muita paciência comigo, sei que não sou fácil.

À minha esposa, Júnia, pelo amor, dedicação e por ter ficado no mínimo seis meses

longe de mim para que eu pudesse me dedicar exclusivamente a essa dissertação.

Ao meu filho peço desculpas por ter ficado também seis meses longe, já que seus vídeos

infantis como Patati Patatá não me deixavam concentrar para escrever.

Aos meus pais por todo amor e apoio financeiro, sem vocês esse momento não teria

chegado.

Ao corpo docente do curso de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da PUC

Minas, pelos conhecimentos possibilitados.

Aos alunos do PROEJA do IFAC que me ajudaram em muito na produção desse

material.

Enfim, a todos, MUITO OBRIGADO!!!

Page 6: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

RESUMO

Nesta dissertação é elaborada uma proposta de ensino de eletricidade para adultos do

programa PROEJA do Ensino médio. A proposta se apoia na pedagogia freireana, e as

discussões priorizam temas relacionados à vivência dos estudantes, tais como falta de

energia elétrica, tipos de fontes de energia elétrica na região, impactos ambientais e

possibilidade de novas fontes de energia para suprir suas necessidades. As atividades

didáticas consistem em discutir assuntos relacionados publicados nos jornais locais,

compreender a conta de energia elétrica e uma visita a uma usina elétrica. A proposta

foi aplicada a estudantes do curso técnico em Controle Ambiental do Instituto Federal

do Acre (IFAC). Cada atividade foi planejada, realizada com os estudantes, avaliada e

reelaborada com base nas observações feitas durante a aplicação. Uma avaliação final,

contendo questões de física e meio ambiente, mostrou a viabilidade desta proposta, não

apenas para programas PROEJA, mas para qualquer programa de ciências do Ensino

médio que tem como perspectiva desenvolver habilidades críticas no estudante.

Palavras-chaves: Educação de Jovens e Adultos - Ensino Médio; PROEJA; Energia

Elétrica; Ensino de Física.

Page 7: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

ABSTRACT

In this dissertation we elaborate a proposal for teaching electricity to adults at high

school level (PROEJA program). With the theory of Paulo Freire as a reference, the

discussion priorities were themes related to the students´ experience, such as blackouts,

types of electrical energy sources in the region, environmental impacts and possibilities

of new sources to supply their necessities. The didactic activities involve discussing

related issues published in local newspapers, understanding an electricity bill, and

visiting a power plant. The proposal was applied to students of the Environment control

technical course offered by the Federal Institute at Acre (IFAC). Each activity was

planned, realized with students, evaluated and re-elaborated based on the observations

made during the application. The final exam, containing physics and environmental

questions, proved the viability of this proposal, not only for PROEJA programs, but for

any High School science program intended to develop students´ critical skills.

Keywords: Physics Education, Electricity, Adult Education, High School, PROEJA.

Page 8: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Usina Maré Motriz de Shihwa localizada na Coréia do Sul.................. 40

FIGURA 2 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Maré Motriz............. 40

FIGURA 3 – Usina Hidrelétrica de Itaipú Localizada entre Brasil e Paraguai.......... 41

FIGURA 4 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Hidrelétrica......... 41

FIGURA 5 – Usina Termelétrica de Santa Cruz no Rio de Janeiro....................... 42

FIGURA 6 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Termelétrica........... 42

FIGURA 7 – Usina Termonuclear de Angra dos Reis no Rio de Janeiro.................. 43

FIGURA 8 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Termonuclear.......... 43

FIGURA 9 – Usina Eólica de Osório no Rio Grande do Sul................................. 44

FIGURA 10 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Eóloica................. 44

FIGURA 11 – Usina Solar da Califórnia nos Estados Unidos................................ 45

FIGURA 12 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Solar...................... 45

FIGURA 13 – Centrais Termelétricas a Diesel em Operação no Acre...................... 48

FIGURA 14 – Distribuição de energia elétrica no estado de Rondônia.................. 49

FIGURA 15 – Distribuição de energia elétrica no estado do Acre......................... 49

FIGURA 16 – Desenho apresentado por um dos alunos....................................... 51

FIGURA 17 – Esquema de uma Usina Termelétrica............................................... 52

FIGURA 18 – Emissão de poluentes da Usina termelétrica Presidente Médici, em

Candiota-RS...................................................................................................... 56

FIGURA 19 – Efeito Estufa................................................................................ 58

FIGURA 20 – Chuva Ácida................................................................................ 59

FIGURA 21 – Animação em Flash de uma Usina Termelétrica............................ 67

FIGURA 22 – Transformações de Energia........................................................... 68

FIGURA 23 – Usina Hidrelétrica de Itaipu.......................................................... 69

FIGURA 24 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Maré Motriz...... 71

FIGURA 25 – Usina Hidrelétrica........................................................................ 72

FIGURA 26 – Usina Termelétrica....................................................................... 73

FIGURA 27 – Usina Nuclear.............................................................................. 74

FIGURA 28 – Usina Eólica................................................................................. 75

FIGURA 29 – Usina Solar................................................................................... 77

Page 9: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

FIGURA 30 – Usina Termelétrica Guascor de Cruzeiro do Sul............................. 97

FIGURA 31 – Visita Técnica à Usina Termelétrica Guascor de Cruzeiro do Sul..... 97

FIGURA 32 – Visita Técnica à Usina Termelétrica Guascor de Cruzeiro do Sul..... 98

Page 10: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Matriz Curricular Curso Técnico em Controle Ambiental – PROEJA...32

QUADRO 2 – Cronograma do Curso ............................................................................ 33

QUADRO 3 – Usinas de Energia .................................................................................. 38

QUADRO 4 – Usinas que podem ser exploradas .......................................................... 39

QUADRO 5 – Usinas que não podem ser exploradas ................................................... 39

QUADRO 6 – Estimativa entre os alunos sobre as usinas citadas ............................... 46

QUADRO 7 –Lista de aparelhos eletrônicos em uma residência ...........................78

Page 11: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

LISTA DE SIGLAS

CES - Centro de Ensino Supletivo

CETEB - Centro Técnico de Brasília

DCN - Diretrizes Curriculares Nacionais

DCNEM - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

DESU - Departamento de Ensino Supletivo

EM – Ensino Médio

ER - Escolas-Referência

EJA - Educação de Jovens e Adultos

FNDE - Fundação Nacional de Desenvolvimento da Educação

GDP - Grupo de Desenvolvimento Profissional

HAPRONT - Habilitação para professores não titulados

IFAC - Instituto Federal do Acre

LD – Livro Didático

LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC - Ministério da Educação e Cultura

MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização

MOVA - Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos

NPCEM - Novo Plano Curricular Ensino Médio

OSD - Orientadores e Supervisores Docentes

PAJA - Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos

PEB - Programa de Educação Básica

PEI - Programa de Educação Integrada

PCNEM - Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

PCN+ - Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares

Nacionais

PDP - Programa de Desenvolvimento Profissional

PNLD - Programa Nacional do Livro Didático

PNLEM - Programa Nacional do Livro Didático Ensino Médio

PROGER - Projeto Escola-Referência

PUC - Pontifícia Universidade Católica

Page 12: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

SEE - Secretaria Estadual de Educação

SPG - Supletivo de 1º Grau

SSG - Supletivo de 2º Grau

SUDHÉVEA - Superintendência de Desenvolvimento da Borracha

TC 2000 - Tele Curso 2000

Page 13: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 13

2 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO

DE JOVENS E ADULTOS .............................................................................. 18

2.1 Conhecimentos (O Saber Socializado Pela Escola) ..................................... 22

2.2 Perfil do Aluno Jovem e Adulto da EJA ..................................................... 25

2.3 O Processo de Ensino-Aprendizagem.......................................................... 27

2.4 O Perfil do Educador da EJA..................................................................... 28

3 A PROPOSTA DIDÁTICA E SUA AVALIAÇÃO ........................................ 31

3.1 A PROPOSTA DIDÁTICA ......................................................................... 34

Atividade 1: Falta energia elétrica em sua casa? .................................................. 34

Atividade 2: Tipos de Usinas Elétricas. ................................................................38

Atividade 3: De onde vem a energia elétrica de sua cidade? ................................... 46

Atividade 4: Como funciona a Usina Elétrica de sua região? .................................. 50

Atividade 5: Quais os impactos ambientais de uma Usina Termelétrica? ................. 54

Atividade 6: Como entender sua conta de luz? ..................................................... 60

Atividade 7: Visita técnica a uma Usina Termelétrica. .......................................... 63

Atividade 8: Existe a necessidade de novas Usinas Elétricas? ................................. 65

Atividade 9: Como a energia elétrica é gerada nas usinas? .................................... 70

Atividade 10: Avaliação. .................................................................................. 77

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 79

REFERÊNCIAS................................................................................................ 81

ANEXOS ......................................................................................................... 84

I - A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO ACRE ........ 84

II - FOTOS DA VISITA TÉCNICA ......................................................................... 96

Page 14: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

13

1 INTRODUÇÃO

A física é o campo da ciência que investiga os fenômenos e as estruturas mais

fundamentais da natureza. Em dia de chuva quando relâmpagos cortam o céu e ofuscam

nossas vistas por alguns segundos e logo após ouvimos o som estrondoso do trovão

sabemos que se tratam de fenômenos associados à uma grande descarga elétrica, onde a

informação luminosa se propaga com a velocidade da luz que é cerca de 880 000 vezes

maior que a da onda mecânica do som provocada pelo aquecimento e expansão do ar.

Da mesma forma, é o conhecimento físico que nos possibilita compreender o fenômeno

do dia e da noite, as hipóteses sobre o aquecimento ou não do planeta Terra ou as novas

formas de obtenção de energia elétrica como as usinas eólicas. Também é no campo da

física que se procura compreender a realidade física pela criação de modelos sobre o

universo (por ex. o Big Bang) ou sobre partículas que compõem a matéria do universo

(modelo Padrão). O conhecimento acumulado neste campo da física tem possibilitado à

humanidade compreender aspectos cada vez mais complexos da natureza e, através

dele, criar sistemas, dispositivos e materiais artificiais que têm contribuído

decisivamente para o progresso tecnológico.

O mundo em que vivemos está em contínua transformação, e as soluções

encontradas hoje podem rapidamente perder atualidade ou coerência com seu tempo. É

preciso saber qual física ensinar para esses novos tempos, para possibilitar uma melhor

compreensão do mundo e uma formação para a cidadania mais adequada, ou seja, ser

capaz de atuar na sociedade e tomar decisões frente aos problemas sociais enfrentados.

Passam-se anos ensinando física em quadros-negros, transmitindo conhecimento

apenas no papel, sejam fórmulas, números, tabelas ou expressões matemáticas,

mecanizando o aprendizado, tentando fazer o aluno memorizar e não o deixando pensar.

Desta forma, esquecemo-nos, por vezes, da nossa responsabilidade na construção da

cidadania dos alunos, ao priorizar os valores internos e complexos desta ciência.

O ensino dessa disciplina, na maioria das vezes, realiza-se, mediante a

apresentação desarticulada e descontextualizada de conceitos, leis e fórmulas,

distanciados da vida do professor e do aluno e, portanto, desprovidos de significado.

Priorizando a teoria e a abstração, e insistindo na solução de exercícios repetitivos,

sendo seu aprendizado baseado na automatização ou memorização, e não na construção

Page 15: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

14

do conhecimento. De forma consistente, o conhecimento físico apresenta-se ao aluno

como um produto acabado, fruto da genialidade dos grandes cientistas.

O maior problema da escola é acreditar que a Física é feita de fórmulas. A

matemática é apenas a linguagem com a qual falamos com o mundo e com a natureza,

mas de forma alguma é o mundo e a natureza. Reduzir a Física às fórmulas matemáticas

é como reduzir um idioma às suas palavras. Um dicionário – que teoricamente contém

todas as palavras de uma língua – não é o idioma. (CHERMAN, 1997).

A aprendizagem é outro aspecto do processo de educação em física também

problemática. Geralmente, concebe-se a idéia de que o aluno não conhece nada sobre os

assuntos explorados e que suas interpretações são “distorcidas”, o que impediria a

aprendizagem de um novo conteúdo.

Os alunos conhecem fenômenos físicos e os constroem de suas observações e

ações cotidianas e modelos explicativos, diferentes da ciência. Para Paulo Freire a

construção do conhecimento pelo sujeito tem por base as dimensões políticas,

econômicas, sociais e culturais do espaço onde ele vive. Para o autor a construção do

conhecimento deve se basear num diálogo multipolar permanente entre todos os

intervenientes no processo de ensino e aprendizagem, quer eles estejam dentro ou fora

do espaço físico escolar. Freire reforça que a construção do conhecimento acontece a

todo o momento no seio do mundo e envolve variáveis que vão além do cognitivo,

envolvendo o sensitivo, o motor, o estético, o intuitivo e o emocional, etc. O sujeito, a

comunidade e o "mundo" têm um papel fundamental na construção do conhecimento

individual e coletivo. (FREIRE, 1995)

O ensino de física terá um significado real quando a aprendizagem partir de ideias

e fenômenos que façam parte do contexto do aluno, possibilitando analisar o senso

comum e fortalecer os conceitos científicos na sua experiência de vida. Nesse sentido,

os fenômenos físicos devem ser apresentados de modo prático e vivencial, privilegiando

a interdisciplinaridade e a visão não fragmentada da ciência, a fim de que o ensino possa

ser articulado e dinâmico.

Assim, retidas de um contexto mais amplo (e belo), “a física de nossa infância (ou

de nossa adolescência) torna-se algo árido e penoso, uma sucessão de regras pouco

claras e bem distantes do nosso dia-a-dia. Uma sucessão de planos inclinados, pêndulos,

Page 16: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

15

giroscópios, circuitos elétricos, transformações adiabáticas e o que mais houver nos

livros didáticos, tudo isso vai afastando as pessoas da beleza de que trata a física”.

(CHERMAN, 1997).

Nesse contexto, deve-se, então, dar ao ensino de física novas dimensões.

Apresentar uma física que explique não só a queda dos corpos, o movimento da Lua ou

das estrelas no céu, o arco-íris, mas também os raios laser, as imagens de televisão e as

formas de comunicação. Uma física que trate da geladeira ou dos motores a combustão,

das células fotoelétricas, das radiações presentes no dia-a-dia, mas também dos

princípios gerais que permitem generalizar todas essas compreensões. Uma física que

explique os gastos da conta de luz ou o consumo diário de combustível, e ainda, as

questões referentes ao uso das diferentes formas de energia em escala social, com seus

riscos e benefícios, incluída a energia nuclear. Uma física que consiga estar presente na

resolução dos problemas enfrentados na escola e na comunidade inserida. (BRASIL,

2002)

Ensinar física no Ensino Médio para a EJA é um desafio ainda maior, pois os

alunos são adultos que na sua maioria trabalham e que chegam às vezes tarde na escola,

cansados e com sono e querem sair mais cedo, isso quando eles vêm para a aula. Eles

acham que não são capazes de acompanhar os conteúdos ou que o programa não traz a

realidade para o seu cotidiano, são vários os motivos para evadirem. E como quase não

existe um material didático voltado para este público, os professores em sua grande

maioria adotam livros de ensino médio, onde seguem até as páginas intermediárias,

acreditando dar pouca matéria, mas com “substância” e outros que “pincelam” os

conteúdos de cada tópico, na idéia de proporcionarem um “pouco de tudo”. Por isso,

toda critica ao ensino regular, nesse sentido, se estabelece em proporções agravantes à

EJA nos moldes atuais que, ao negligenciar o seu propósito original, estabelece grandes

distanciamentos entre o conhecimento dos alunos e os conteúdos propostos.

Vencer o medo dos alunos com relação à Física é o maior desafio dos professores

dessa disciplina no Ensino Médio para a EJA. É necessário discutir o papel da Física no

ambiente escolar, procurando possibilitar uma melhor compreensão do mundo e uma

formação mais adequada, voltada à construção da cidadania. Na Educação de Jovens e

Adultos, como parte da educação básica, faz-se necessário uma visão diferenciada do

Page 17: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

16

mundo atual, problematizando e desenvolvendo propostas educacionais que tenham

relação com a vida cotidiana dos nossos alunos, formando-os para o exercício de sua

cidadania.

É nesse aspecto que se baseia esse trabalho, que é uma proposta de um material

didático voltado para a EJA e enfatizando assuntos que os alunos do curso Técnico de

Controle ambiental do IFAC irão vivenciar no futuro em seus trabalhos profissionais.

Isso pode ser verificado em algumas das competências do Projeto Pedagógico do Curso,

tais como:

Identificar as atividades de exploração dos recursos naturais, bem como a

amplitude da influência das mesmas sobre meio ambiente;

Identificar situações de risco ambiental;

Com isso o nosso produto foi dividido em 10 atividades onde começamos, na

atividade 1, com o tema: Falta energia elétrica em sua casa? Onde os alunos tiveram um

primeiro contato com artigos tirados de jornais eletrônicos locais, discutindo sobre a

falta de energia elétrica na cidade e suas consequências. Na atividade 2, o tema proposto

foi: Tipos de Usinas Elétricas. Foi exposto para eles todos os tipos de usinas elétricas e

explicado, superficialmente, como funciona cada uma delas. Já na atividade 3: De onde

vem a energia elétrica de sua cidade? Teve como objetivo mostrar aos alunos de onde

vem a energia elétrica que eles consomem na sua cidade, e também no estado do Acre

como um todo. A atividade 4, com o tema: Como funciona a Usina Elétrica de sua

região? Foi pedido inicialmente para eles que desenhassem como achavam que

funcionava a usina elétrica de Cruzeiro do Sul, logo em seguida explicamos como ela

realmente funciona, atividade esta que teve uma grande participação dos alunos. Na

atividade 5: Quais os impactos ambientais de uma Usina Termelétrica? Seguindo as

competências do PPC do Curso Técnico em Controle Ambiental – PROEJA, esta

atividade teve como objetivo identificar os impactos ambientais que a usina termelétrica

de sua região gera. Já na atividade 6: Como entender sua conta de luz? Foi a atividade

mais participativa, já que explicamos o quanto que se gasta de energia elétrica em cada

equipamento elétrico de uma residência, também como entender a sua conta de energia,

para quem sabe evitar gastos desnecessários. Na atividade 7: Visita técnica a uma Usina

Termelétrica. Levamos os alunos para uma visita técnica à usina termelétrica de

Cruzeiro do Sul. A atividade 8: Existe a necessidade de novas Usinas Elétricas? Teve

Page 18: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

17

como objetivo conhecer outro tipo de Usina Elétrica que pode ser construída na sua

cidade, a usina hidrelétrica. Na atividade 9: Como a energia elétrica é gerada nas

usinas? Fechamos os conteúdos mostrando que na geração de energia elétrica tem um

princípio físico parecido em todas as Usinas Elétricas existentes. Na última atividade:

Avaliação. Voltamos aos assuntos que chamaram mais a atenção dos alunos e fizemos

duas questões, uma voltada a explicação do funcionamento da usina hidrelétrica e os

impactos ambientais causados e a outra na “confecção” e cálculo de uma conta de

energia supostamente da residência dos alunos.

Portanto, com uma proposta totalmente voltada para o curso Técnico em Controle

Ambiental do IFAC, os alunos poderão ter um contato maior com problemas que serão

vivenciados no seu dia-a-dia como profissionais, o que a torna uma proposta de grande

relevância.

Page 19: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

18

2 FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO

DE JOVENS E ADULTOS

Exige-se, hoje, uma educação que questione uma ação homogeneizadora que tem

ignorado ou calado, com frequência, as diferenças e as desigualdades dos seus alunos. É

preciso abolir essas práticas, valorizando a pluralidade cultural como possibilidade de

superar estereótipos, preconceitos e a hierarquização cultural. Numa perspectiva crítica,

questionam-se relações de poder estabelecidas no processo educativo que legitimam

valores, conhecimentos e práticas de certas culturas, em detrimento de outras.

A organização do trabalho pedagógico na Educação de Jovens e Adultos

fundamenta-se na concepção de Educação enquanto processo que representa a própria

história individual e coletiva dos seres humanos, estando vinculada à fase vivida pela

sociedade em sua contínua evolução, num processo constitutivo dos sujeitos históricos

que dela fazem parte. (PROJETO, 2011)

Nesse sentido, as ações da EJA no Instituto Federal do Acre se pautam na

perspectiva crítica e progressista de Educação, fundamentadas no universo de princípios

filosóficos e pedagógicos desenvolvidos por Paulo Freire. Essa concepção progressista

aqui referida pressupõe uma concepção de pessoa humana, de sociedade e da relação

que se estabelece com o mundo em que vivemos. (FREIRE, 1997)

Segundo a Declaração de Hamburgo realizada em 1997, a educação de adultos

engloba todo o processo de aprendizagem formal ou informal, onde as pessoas

consideradas “adultas” pela sociedade desenvolvem suas habilidades, enriquecem seu

conhecimento e aperfeiçoam suas qualificações técnicas e profissionais, direcionando-as

para a satisfação de suas necessidades e as de sua sociedade. (PADILHA, 2001)

Para tanto, as práticas educativas propostas no IFAC devem valorizar e relacionar

os conteúdos escolares às experiências vivenciadas pelos educandos na família e na

comunidade, com o objetivo de fortalecer a identidade cultural do grupo e, assim,

propiciar condições para o exercício pleno da cidadania dentro de suas diversas

realidades, sem deixar de considerar a complexidade das relações sociais, econômicas,

políticas e culturais que interferem na vida da sociedade.

A Educação de Jovens e Adultos do IFAC possui grande contribuição do

pensamento pedagógico de Paulo Freire, sendo entendida como conscientização, isto é,

como desenvolvimento da capacidade crítica sobre a realidade e a elaboração de uma

Page 20: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

19

identidade própria e aquisição de conhecimentos necessários a uma intervenção

transformadora. (PROJETO, 2011)

Freire falava da necessidade do aluno, além de se conhecer, conhecer também os

problemas sociais que o aflige. Ele não via a educação simplesmente como meio para

escolarização, mas falava da necessidade de estimular o educando a engajar-se no todo

social. (FREIRE, 1997)

Na proposta pedagógica freireana, o educando não é apenas um receptor de

conteúdos prontos e acabados, “educação bancária”, termo a que se referia para

conceituar esse tipo de educação, mas é um sujeito capaz de refletir sobre os

conhecimentos, ter uma visão crítica e entender-se como sujeito histórico, construtor e

transformador da realidade. Padilha, citando Freire, observa que, enquanto seres da

cultura que somos, “transformamos o mundo ao mesmo tempo em que somos por ele

transformados”. (PADILHA, 2001-)

A educação de jovens e adultos possui um caráter popular, por sua origem, por

seu fim e por seu conteúdo. Todavia para ser popular, ela deve ser uma possibilidade de

inclusão para todos, já que por seu intermédio o homem adquire o conhecimento

sistematizado pela escola, passa a ver o mundo e a si mesmo de outro ponto de vista.

A educação popular já conta com uma história muito rica, na qual estão

envolvidos numerosos educadores, movimentos sociais e populares e o próprio Estado.

Ela está ligada a todo um movimento, de um lado, pela extensão da educação formal

para todos e, de outro, pela formação social, política e profissional, sobretudo de jovens

e de adultos. (ROMÃO, 2008-)

Nesse sentido, a EJA dessa dissertação aqui proposta, deve levar em consideração

as exigências de um mundo de relações complexas e diversificadas, proporcionando ao

aluno, não só um conjunto de experiências que lhe assegurem a compreensão de sua

realidade, mas também, uma fundamentação sólida em termos de formação básica que o

instrumentalize para atuar sobre a realidade de forma crítica, sem restringir a ação que

exerce sobre a sua cultura de origem.

O educador de adultos não pode deixar de perceber que os indivíduos com os

quais atua são cidadãos, seres pensantes, portadores e produtores de idéias, dotados de

capacidade intelectual que se revela em suas interações. O educando é, por sua vez, um

sujeito atuante na sociedade, não apenas por ser trabalhador, mas também pelo conjunto

de ações que executa sobre um círculo de existência. Sendo assim, compete ao educador

Page 21: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

20

desenvolver uma prática pedagógica que possibilite ao aluno a oportunidade de alcançar

através de saberes adquiridos na escola, a consciência crítica instruída de si e do mundo.

Para isso, a EJA como modalidade da educação básica, e por atender a um público

jovem e adulto que por algum motivo se encontra fora do sistema de ensino regular,

deve ter um tratamento que atenda às suas especificidades, que considere as vivências,

os conhecimentos e a cultura que esses alunos trazem para a sala de aula. Assim, a

escola, em sua proposta pedagógica deve preocupar-se em como fazer para atender seu

alunado, de modo que seja assegurada a realização de atividades que oportunizem uma

ação dialógica, construtiva e transformadora. Desta forma, o fazer pedagógico

transforma-se em projeto de vida e deixa de ser, simplesmente, o projeto da escola.

A educação de jovens e adultos possui três funções importantes no sentido de

garantir uma educação de qualidade: a função reparadora, a função equalizadora e a

função qualificadora.

Ao criar situações pedagógicas que atendam as necessidades de aprendizagens

específicas de seus alunos, a EJA está assegurando não só a entrada desses jovens e

adultos no âmbito escolar, mas também a sua permanência, desempenhando, assim, uma

função reparadora.

Além de facilitar o ingresso à escola, a EJA tem buscado desenvolver uma prática

pedagógica voltada para a promoção das pessoas, priorizando a articulação dos

conhecimentos estudados com as experiências anteriores, a atualização dos

conhecimentos, o acesso a novas formas de trabalho e cultura, enfim, em proporcionar

possibilidades de novas inserções ao educando, seja na vida social ou no mundo de

trabalho. Assim, ao criar tais possibilidades, a EJA está cumprindo com sua função

equalizadora.

A terceira função desempenhada pela EJA é qualificadora, referindo-se ao

caráter incompleto do ser humano quando se trata de educação permanente, voltada para

a solidariedade, a igualdade e a diversidade, envolvendo todos os aspectos da ação

educativa. A função qualificadora é mais que uma função, é o próprio sentido da

educação de jovens e adultos.

Para Paulo Freire (1996), educar é construir, é libertar o homem do determinismo.

Essa apreensão da realidade da educação é o primeiro passo para a mudança das

desigualdades, proporcionando ao educando oportunidade para se assumirem como

sujeitos sócio-históricos capazes de intervir no mundo a partir de suas ações. Essa

Page 22: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

21

concepção é construída numa relação dialógica entre educador/educando, superando

uma relação vertical. Desse processo, advém um conhecimento crítico, porque foi

obtido de forma autenticamente reflexiva que implica num ato constante de desvelar a

realidade posicionando-se nela. Do “saber” construído dessa forma, surge a necessidade

de transformar o mundo, porque assim, os homens se descobrem como seres históricos,

compreendendo e transformando a realidade que os cercam. (FREIRE, 1997)

Portanto, a concepção de educação que norteia a EJA do IFAC é de uma educação

que ofereça acolhimento àqueles que não tiveram escolarização na idade própria,

respeitando suas singularidades, diferenças e reconhecendo toda a diversidade de

saberes trazidos por eles, oportunizando um processo que gere a promoção do “ser”

enquanto sujeito histórico, desafiando-o a buscar respostas para desafios propostos,

construindo nesse processo o conhecimento problematizado a partir de questões ligadas

ao seu cotidiano, oportunizando, assim, a reflexão e a ação sobre o ato de aprender.

Por último, o ideal da EJA se faz presente na luta por oferecer um ensino de

qualidade, baseado numa educação libertadora e cidadã, rompendo com toda forma de

exclusão, contribuindo para a promoção do educando em sua totalidade,

compreendendo que a educação é uma forma de intervenção no mundo.

Page 23: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

22

2.1 CONHECIMENTOS (O SABER SOCIALIZADO PELA ESCOLA)

Na concepção epistemológica interacionista/construtivista, o conhecimento é

entendido como uma relação de interdependência entre o sujeito e seu meio. Tem um

sentido de organização, estruturação e explicação a partir do experienciado. É

construído a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento, interagindo com

ele, sendo as trocas sociais condições necessárias para o desenvolvimento do

pensamento. (GROTTO; TERRAZZAN; FRANCO, 2000-)

O ensino de física propicia uma imensa riqueza no processo de criatividade, e tem

como papel principal o de construtor do conhecimento. A educação deve conter

elementos enriquecedores do pensamento na formação intelectual do aluno, tais como

pensamento lógico-demonstrativo, exercício criativo da intuição, da imaginação e dos

raciocínios por indução.

Ao ingressar em um curso da Educação de Jovens e Adultos, o aluno

não estará apenas sendo alfabetizado. Além da alfabetização, etapa

propedêutica, o aluno deve ter acesso aos conhecimentos que todo

indivíduo que frequenta a escola na idade convencional está

recebendo (BRASIL, 2002, p.307).

São crescentes as exigências educativas, impondo às pessoas a necessidade de

dominar instrumentos da cultura letrada, acompanhar o desenvolvimento tecnológico,

compreender os meios de comunicação e atualizar-se diante da complexidade do mundo

do trabalho. A importância dos saberes não se restringe somente à sua aplicação em

problemas práticos do cotidiano ou àqueles que tomam parte das atividades

predominantes no mundo do jovem e do adulto. São também instrumentos para produzir

e comunicar conhecimentos de diversas áreas.

Os desafios da Educação de Jovens e Adultos exigem do professor um olhar

cuidadoso sobre as questões que norteiam a relação entre professor, aluno e

conhecimento, e podem interferir no sucesso escolar dos alunos.

Ao apontar as relações entre o aluno e o conhecimento, Calmon, citando Freire,

coloca o aluno como sujeito, e não como objeto do processo educativo, afirmando sua

capacidade de organizar a própria aprendizagem em situações didáticas planejadas pelo

professor, num processo interativo, partindo da realidade desse aluno. (CALMON,

2008)

Page 24: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

23

Na proposta freireana, o processo educativo não se caracteriza pelo recebimento,

por parte dos alunos, de conhecimentos prontos e acabados, mas pela reflexão sobre os

conhecimentos que circulam e que estão em constante transformação; professores e

alunos são produtores de cultura; todos aprendem e todos ensinam, são sujeitos da

educação e estão permanentemente em processo de aprendizagem. Quando o homem é

levado a refletir sobre sua ação e buscar respostas aos desafios propostos, ele constrói

conhecimentos. Assim, o conhecimento nasce da ação, e é agindo que o educando se

confronta com a necessidade de aprender.

Os alunos da EJA, quando chegam à escola, trazem consigo muitos

conhecimentos, que podem não ser aqueles sistematizados, mas são “saberes nascidos

dos fazeres”. Esses saberes devem ser respeitados como ponto de partida para a

aquisição de outros. Com isso, o aluno irá compreender que os conhecimentos

construídos na escola têm relação com os já construídos em sua vida cotidiana,

inferindo, a partir dessa relação, a importância de ampliá-los. Para isso, é necessário

romper a preconceituosa barreira que separa “saberes populares” de “saberes

científicos”, pondo em discussão a própria concepção de conhecimento.

O conhecimento, portanto, é resultado de um complexo e intrincado processo de

construção, modificação e reorganização, utilizado pelos alunos para internalizar e

interpretar os novos conteúdos, estabelecendo relações entre seus conhecimentos

prévios sobre um assunto e o que está aprendendo sobre ele. Isso nem sempre é

aceitável para os alunos, pois, muitas vezes, não acreditam que seus conhecimentos

sejam válidos.

Logo, a disponibilidade para a aprendizagem exige ousadia para se colocar

problemas, buscar soluções e experimentar novos caminhos. Entretanto, os alunos,

muitas vezes, não acreditam que dessa forma possamos adquirir conhecimentos, pois

consideram que a aprendizagem passa necessariamente pela transmissão de informações

prontas e acabadas.

Na educação de jovens e adultos retomar conhecimentos e construir pré-requisitos

não significa revê-los do mesmo jeito que em etapas anteriores, mas sim iniciar com os

alunos um novo processo de aprendizagem efetiva e significativa das idéias

fundamentais envolvidas nos assuntos abordados. Comporta um amplo campo de

relações, regularidades e coerências que despertam e instigam a curiosidade. Dessa

forma, a aprendizagem, sendo desenvolvida de acordo com as orientações anteriores,

Page 25: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

24

favorece conquista de ferramentas que ampliam a capacidade de raciocinar, prever,

generalizar, projetar e abstrair.

As considerações centrais nas definições das aprendizagens mostram a presença

das ciências em situações do cotidiano e em situações relacionadas com outras áreas do

conhecimento. Sendo assim, o aprendizado dessas ciências na EJA cumpre um papel

fundamental: favorecer e fortalecer a participação dos educandos na sala de aula,

através do desenvolvimento de atividades contextualizadas e significativas.

Em outras palavras, partir de situações contextualizadas para garantir a

aprendizagem significativa dos educandos e evidenciar os vínculos da Matemática, da

Língua Portuguesa, das Ciências Naturais e Sociais com o cotidiano da maioria dos

jovens e adultos, significa promover situações nas quais professor e aluno estarão sendo

motivados a desenvolver atitudes, tais como:

Respeitar e valorizar os conhecimentos prévios, visando favorecer o

estabelecimento de relações entre conhecimentos já construídos e conhecimentos

novos.

Dar oportunidade para que os alunos expressem seus conhecimentos,

identifiquem e apresentem suas dúvidas, formulem hipóteses e questões, antes

da exposição do professor.

Considerar a bagagem cultural dos alunos, estabelecendo diálogo e interação

com eles, de modo que os professores atuem como mediadores, esclarecedores,

incentivadores e avaliadores da aprendizagem.

Levar em consideração que a avaliação deve ser realizada, observando as

especificidades desta modalidade de educação, considerando ainda a quantidade

de horas que os alunos estão expostos aos conteúdos. (MANSUTTI; VÓVIO;

2001)

Diante deste contexto, reconhecendo que todos os brasileiros, de qualquer idade

ou em qualquer situação social têm direito à educação e, por isso, não devem abrir mão

dela, esse curso não pode ser reduzido a uma mera sistematização de

disciplinas/conteúdos sem significação para o aluno, mas precisa habilitar o aluno a “ler

o mundo”. Conforme o pensamento de Paulo Freire: “Trata-se de aprender a ler a

realidade (conhecê-la) para, em seguida, poder reescrever essa realidade (transformá-

la.)”. (FREIRE, 1987)

Page 26: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

25

2.2 PERFIL DO ALUNO JOVEM E ADULTO DA EJA

A formação do educando, entendida como a promoção de aprendizagem, reflexão

sobre a própria prática e a busca de informações deve pautar-se em sua realidade, não

subestimando os saberes de experiências anteriores que traz para a escola. Determinar a

identidade desses alunos requer um olhar atento, voltado para as suas necessidades

cognitivas, articulando os conhecimentos já assimilados, construídos no curso de suas

relações sociais.

Assim, torna-se essencial organizar a escola de modo que atenda as

especificidades e perspectivas desses educandos, levando-se em conta também as

transformações pelas quais vem passando o sistema de ensino.

Segundo dados de levantamento realizado em 2004 pela Gerência Pedagógica da

Educação de Jovens e Adultos, no Acre, o perfil dos alunos em muito se assemelha ao

perfil nacional, cujo alunado trabalha, em sua grande maioria, tendo ingressado no

trabalho antes dos 14 anos. A faixa etária predominante é de 15 a 27 anos; 61,64% são

do sexo feminino e 36,58% do sexo masculino; 40,02% são trabalhadores que dedicam

ao emprego seis a oito horas diárias. Outro dado que chama a atenção é que 35,75%

deles começaram a trabalhar no período em que deveriam estar cursando as séries finais

do ensino fundamental, ou seja, com menos de 14 anos, para ajudar na renda familiar.

(SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE CRUZEIRO DO SUL, 2012)

Em geral, esses alunos buscam retomar seus estudos para superar as dificuldades

encontradas em seu percurso de vida, satisfazendo, desta forma, uma aspiração pessoal

e/ou profissional, uma vez que necessitam do estudo para alcançar melhores condições

nas diferentes esferas da sociedade, tais como: moradia, saúde, alimentação, transporte,

emprego e outras que estão na raiz do problema do analfabetismo.

Diante desse quadro e considerando que os alunos que buscam a formação

almejada na EJA estão submetidos à alternância de turnos de trabalho, cansaço, dentre

outras circunstâncias, a escola deve estar voltada para o desenvolvimento do educando

como ser social, sujeito ativo do processo histórico, comunicativo, transformador,

criador, realizador de sonhos. Essas condições possibilitam ao aprendiz questionar o

conhecimento já formado, (re) elaborar os saberes que possui e ampliá-los, na medida

em que interage com educador e os outros educandos.

Page 27: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

26

Nesse processo interativo, o educador tem um papel preponderante no sentido de

adotar procedimentos que dinamizem sua prática educacional e estimulem os alunos a

aprofundarem seus conhecimentos, percebendo a escola como espaço dialógico, onde as

oportunidades se vislumbram. Desta forma, o professor precisa ter consciência de que

“ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a própria

produção ou a sua construção” (FREIRE, 1997).

Portanto, o aluno que se quer formar deve caracterizar-se como um ser crítico,

capaz de agir conscientemente sobre a realidade, assumindo o papel de sujeito que faz e

refaz o mundo, articulando saberes de sua prática com os conhecimentos sistematizados.

Page 28: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

27

2.3 O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Para que a Educação de Jovens e Adultos possa cumprir sua principal função,

preparar o jovem e o adulto para o mundo do trabalho e para o exercício da cidadania é

necessário que seja pensada como um projeto pedagógico próprio, criando situações de

ensino-aprendizagem adequadas que atendam às necessidades e características

psicossociais dos educandos, que considerem a diversidade cultural e as diferentes

situações a que estão submetidos, além das habilidades e conhecimentos adquiridos ao

longo da vida.

Nessa perspectiva, a base teórica que fundamenta o processo de ensino e

aprendizagem das ações educativas desenvolvidas na educação de jovens e adultos

pressupõe: uma prática pedagógica que privilegie o ensino por resolução de problemas e

o desenvolvimento de projetos; o uso de diferentes estratégias metodológicas para a

aprendizagem de diferentes conteúdos; a aprendizagem partindo dos conhecimentos

prévios dos alunos; a interação entre sujeitos ativos envolvidos no processo visando à

troca de experiência e a construção de novos conhecimentos.

Portanto, se a interação entre o sujeito e o objeto os modifica, então, cada

interação entre sujeitos individuais irá modificar os sujeitos uns em relação aos outros.

Assim, o conhecimento, com as relações interpessoais é algo vivo, estando em

constante mudança. Para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem na educação

de jovens e adultos é importante considerar que os alunos constroem conhecimentos na

interação com o contexto social, mesmo sem ter passado pelo processo de escolarização.

Valorizar esses conhecimentos e relacioná-los com novos conteúdos é

imprescindível para uma aprendizagem significativa e o planejamento de situações de

aprendizagem em que possam ampliá-los e/ou transformá-los, pois quanto maior a

profundidade e qualidade das relações melhor a aprendizagem se efetivará.

A abordagem de novos conteúdos deve ser planejada com cautela, uma vez que os

mesmos devem ser significativos, bem construídos e ter funcionalidade. Além disso, ao

selecionar os conteúdos o professor deve considerar as capacidades dos alunos, suas

possibilidades cognitivas e afetivas para que o processo de produção e resignificação

possa permitir ao aluno o confronto com os conhecimentos construídos pelos mesmos

em suas experiências de vida.

Page 29: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

28

2.4 O PERFIL DO EDUCADOR DA EJA

Na Educação de Jovens e Adultos, o professor deve estar permanentemente se

atualizando, ter competência pedagógica para produzir e desenvolver o seu trabalho

através da elaboração de um planejamento integrado, contextualizado e vivido,

participando das formações continuadas.

Segundo Janssen “o educador é aquele que está continuamente buscando de forma

sistemática o aperfeiçoamento do seu trabalho e de si mesmo.” A busca dessas

capacidades vai contribuir para o desenvolvimento do professor no que se refere às

competências pedagógica, gerencial e política. (JASSEN, 2004)

Na proposta curricular da EJA, tem-se a perspectiva de que o professor seja um

agente capaz de promover o aprendizado e de estimular o aluno a refletir sobre o seu

comportamento em relação à disciplina e ao mundo que o cerca, pois no sistema de

educação para jovens e adultos, o relacionamento professor e aluno é um aspecto

fundamental para a aquisição de novos saberes.

Na concepção freireana, a missão do professor é possibilitar a criação e produção

de conhecimentos. Paulo Freire não comungava com a idéia de que o aluno precisa

apenas de que lhes fossem facilitadas as condições para o auto-aprendizado, de modo

que o sentido e o significado da aprendizagem precisavam estar evidenciados durante

todo o processo de escolaridade, estimulando nos alunos o compromisso e

responsabilidade, cabendo ao professor criar situações de aprendizagem, que

favorecessem, aos alunos, o acesso a materiais educativos, à formulação e resolução de

questionamentos, a problematizações e desafios. (FERRARI, 2008)

Para tanto, nesse processo de construção do conhecimento, é necessária a

interação entre educador e educando, de modo que sejam agentes e não meros

expectadores dessa construção. E isso só será possível no momento em que ambos

tiverem clareza quanto aos objetivos a serem perseguidos, às opções metodológicas e às

orientações didáticas que nortearão as atividades de ensino-aprendizagem.

Na sala de aula, o educador deve propiciar um relacionamento amistoso, não

paternalista, mas de respeito mútuo e atenção, sem distinção, porque o bom

relacionamento na sala de aula é tão importante quanto a variedade de métodos e

recursos instrumentais utilizados. Portanto, deve-se promover um ambiente onde haja

Page 30: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

29

compreensão, possibilitando o aprendizado e o gosto para a permanência do aluno na

escola.

A disposição física da sala de aula é outro elemento importante na construção da

aprendizagem, sendo fundamental ter um espaço onde se estimule a comunicação, a

participação, a solidariedade e o trabalho cooperativo entre os alunos.

O desafio do professor consiste, portanto, em dominar e aplicar metodologias e

estratégias na organização e execução do seu trabalho, fazendo da sala de aula um

laboratório que proporcione a construção e a utilização desses conhecimentos, sendo

importante que o aluno compreenda que os saberes construídos na escola têm relação

com os que já possuem.

A formação da cidadania participativa, a ser desenvolvida pelo educador da EJA,

deve transcender os muros da escola. Nesse sentido, as ações educativas trabalhadas no

espaço escolar devem ser desenvolvidas de modo a possibilitar ao aluno assumir-se

como elemento transformador dentro da comunidade em que está inserido,

principalmente, através da re-elaboração e da aplicação do conhecimento apreendido na

escola.

É importante, também, ressaltar o papel desempenhado pela família dos alunos

jovens e adultos no apoio a sua tomada de decisão em retornar à vida escolar, e na

compreensão em se estabelecer a divisão do espaço família/escola. O conhecimento e a

participação da família do aluno são indispensáveis para a eficácia do trabalho escolar.

Normalmente, como são pais e mães de família, com o apoio e incentivo de seus

familiares mais próximos ao estudo, essa retomada à sala de aula fica bem mais fácil e

prazerosa, tanto para os alunos como para os professores. Nesse sentido, a prática

pedagógica do professor pode levar em consideração o educando, seus códigos, suas

necessidades específicas e suas relações sócio-culturais.

Ao optar por trabalhar na educação de jovens e adultos, o professor poderá

assumir com responsabilidade o seu trabalho e acreditar na transformação de seus

alunos, pois é ele quem influencia também essa mudança. O aluno da EJA tem a

necessidade de um incentivo constante que contribua para o resgate de sua autoestima,

já que, normalmente, após um longo dia de trabalho regular ou de afazeres domésticos,

se estes alunos não encontrarem algo que lhes prendam a atenção, que eles já saiam de

casa esperando encontrar, desistem logo no início.

Page 31: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

30

O bom relacionamento entre professor e aluno contribuirá para a formação e

permanência desse aluno na escola. Portanto, é necessária a contínua atualização do

educador, através de sua participação em cursos, treinamentos, capacitações, projetos de

formação continuada, dentre outros, a fim de ampliar seus conhecimentos, aprimorar

sua prática e proporcionar aos alunos um ensino de qualidade.

Page 32: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

31

3 A PROPOSTA DIDÁTICA E SUA AVALIAÇÃO

Neste capítulo será apresentado o produto dessa dissertação bem como a

sequência adotada, estratégias, a carga horária, turma e colégio.

Para o desenvolvimento e aplicação deste trabalho, foi escolhida a modalidade

PROEJA - Técnico em Controle Ambiental do Instituto Federal do Acre. O ingresso ao

curso se dá por meio de inscrição e processo seletivo de sorteio, para os cidadãos

brasileiros ou estrangeiros que estejam residindo legalmente no País, que comprovem

ter concluído, com aproveitamento, o Ensino Fundamental ou equivalente e não tenham

concluído o Ensino Médio. O curso é gratuito e com um total de 40 vagas por semestre.

A EJA do IFAC está em constante mudança, já que o Projeto Político Pedagógico

do curso ainda está sendo construido. Quando este projeto começou e até a sua

aplicação, ano de 2012, as aulas eram regulares de segunda-feira a sexta-feira e de 19:00

às 22:30 horas, e os conteúdos das disciplinas poderiam ser escolhidos como os

professores achassem conveniente. Porém a partir de 2013 as aulas serão somente às

terças, quartas e quintas-feiras, e os conteúdos abordados nas disciplinas básicas, como

física, devem estar vinculados às disciplinas específicas da parte de Controle Ambiental.

O Curso Técnico em Controle Ambiental na modalidade PROEJA tem como

objetivo geral formar profissionais técnicos de nível médio para atuarem com eficiência

e eficácia no controle do meio ambiente, planejando, executando, avaliando e

gerenciando as questões ambientais, numa perspectiva de desenvolvimento

socioeconômico sustentável, visando à melhoria da qualidade de vida.

Esta proposta didática foi aplicada em duas turmas do curso Técnico de Controle

Ambiental – PROEJA: Turma 01/2011 e 01/2012, onde a turma de 2011 era composta

de 20 alunos com idades variando de 20 a 57 anos e a turma de 2012, uma turma mais

de jovens, era composta de 27 alunos com idades variando de 21 a 42 anos. Quase que

em sua totalidade os alunos das duas turmas trabalhavam em tempo integral durante o

dia e alguns se ausentavam das aulas por também trabalharem alguns dias à noite.

No IFAC as turmas de PROEJA, em 2012, eram tratadas absolutamente iguais às

turmas de Ensino Médio Integrado, inclusive adotando o mesmo material didático. Esse

foi um dos principais motivos à escolha desse público ao nosso produto final, já que a

produção de um material diferenciado para esse público serial algo extremamente

desafiador. A seguir no quadro 1 segue a matriz curricular desse curso:

Page 33: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

32

Quadro 1 – Matriz Curricular do Curso Técnico em Controle Ambiental -

PROEJA

Fonte: Elaborado pelo autor

Quando essa proposta começou a ser desenvolvida, buscamos assuntos de física

voltados ao dia a dia desse profissional, foi feita uma pesquisa entre os professores e os

alunos, em forma de um debate sobre o curso, para saber qual tema seria mais pertinente

a ser abordado e Impactos Ambientais foi o escolhido por conter tantos assuntos de

física como específicos para esses profissionais. Então esta proposta foi direcionada

para a parte de geração e produção de energia elétrica, bem como os impactos

ambientais causados pela criação de Usinas Elétricas.

Essa proposta foi dividida em 10 atividades que foram aplicadas nas duas turmas

com uma carga horária total de 22h dispostas de acordo com o quadro 2:

Page 34: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

33

Quadro 2 – Cronograma do Curso

ATIVIDADE CH OBJETIVOS

1 - Falta energia elétrica

em sua casa?

2 h/a Reconhecer a presença e a importância da energia elétrica na vida

cotidiana através da identificação das coisas que param de

funcionar com a sua falta

2 - Tipos de Usinas

Elétricas.

2 h/a Identificar os vários tipos de usinas elétricas, e uma breve e

superficial explicação de seus funcionamentos.

3 - De onde vem a

energia elétrica de sua

cidade?

2 h/a Conhecer de onde vem a energia elétrica consumida na cidade de

Cruzeiro de Sul e também no estado do Acre como um todo.

4 - Como funciona a

Usina Elétrica de sua

região?

2 h/a Saber como funciona a usina elétrica da sua cidade/região.

5 - Quais os impactos

ambientais de uma

Usina Termelétrica?

2 h/a Identificar os impactos ambientais que a usina elétrica de sua

região gera.

6 - Como entender sua

conta de luz?

2 h/a Saber o quanto que se gasta de energia elétrica em cada

equipamento elétrico de uma residência, também como entender a

sua conta de energia, para quem sabe evitar gastos desnecessários.

7 - Visita técnica a uma

Usina Termelétrica.

4 h/a Saber na prática como funciona a Usina Elétrica da sua cidade.

8 - Existe a necessidade

de novas Usinas

Elétricas?

2 h/a Conhecer outro tipo de Usina Elétrica que pode ser construída na

sua cidade.

9 - Como a energia

elétrica é gerada nas

usinas?

2 h/a Identificar que a geração de energia elétrica tem um princípio

físico parecido em todas as Usinas Elétricas existentes.

10 – Avaliação 2 h/a Avaliação da proposta.

Fonte: Elaborado pelo autor

Page 35: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

34

3.1 A PROPOSTA DIDÁTICA

Atividade 1: Falta energia elétrica em sua casa?

Nesta primeira atividade temos como objetivo, através de uma simples conversa, a

compreensão dos alunos sobre a presença da energia elétrica em nosso cotidiano: a sua

importância através da identificação das coisas que param de funcionar com a falta de

energia elétrica. Eles também devem entender que as redes de energia estão interligadas

e que a fonte de produção de energia está longe do local de consumo. O professor em

uma conversa com seus alunos deve, por exemplo, lhes perguntar se:

Costuma faltar energia elétrica em sua casa?

O que significa apagão e quais são as suas razões?

Quando falta energia na cidade, que tipo de atividades ficam prejudicadas?

O que para de funcionar?

Neste ponto, após vários exemplos dados pelos alunos, o professor pode levar

recortes de jornal, revistas ou até mesmo notícias de sites onde são abordados estes

assuntos, tais como:

Texto 1 – Notícias de Cruzeiro do Sul

Fonte: MOURA, 2012

Page 36: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

35

Texto 2 – Notícias de Cruzeiro do Sul

Fonte: REDAÇÃO, 2012

OBS: Ramal é uma estrada de terra que dá acesso a um vilarejo, sendo de difícil acesso

o trânsito por elas, já que nessa região chove quase todos os dias.

Neste ponto, o objetivo é que os alunos aprendam a ler artigos de jornal, material

de informação e divulgação para se situar no mundo e dele participar de forma ativa.

Para tal, o professor deve montar grupos pequenos de no máximo cinco alunos, onde

eles irão ler os textos e anotar suas dúvidas.

Após a leitura dos textos, durante a explicação das dúvidas dos alunos, o professor deve

verificar que termos eles desconhecem/ não sabem seus significados – pedir para eles

Page 37: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

36

indicarem ou escreverem as palavras que eles desconhecem ou coisa semelhante. Tais

como:

O que é um alimentador? - Circuito que transporta energia elétrica das subestações de

distribuição para os transformadores de distribuição. Parte de uma rede de distribuição

que alimenta, diretamente ou por intermédio de seus ramais, os primários dos

transformadores de distribuição do concessionário e/ou de consumidores.

Eletrobrás – Centrais Elétricas Brasileiras S.A. é uma empresa de capital aberto sob

controle acionário do Governo Federal e que atua na geração, transmissão e

distribuição de energia elétrica.

Eletroacre – Eletrobrás Distribuição Acre é uma concessionária federal de serviço

público responsável pela distribuição e comercialização de energia elétrica para todo o

Acre, subsidiária da Eletrobrás.

Programa Luz Para Todos – É um programa do Governo Federal que visa levar

energia elétrica para a população do meio rural, seja ela com ou sem recursos

financeiros, de forma gratuita.

Com isso o professor deve, além de esclarecer as dúvidas dos alunos, voltar nas

perguntas feitas no começo dessa atividade, associando-as aos textos lidos.

Comentários:

Abrindo essa discussão o professor traz para a sala de aula fatos do cotidiano, da

realidade dos alunos, tais como:

Falta de energia elétrica (Apagões).

Prejuízos que essa falta de energia acarreta.

E são estes questionamentos que no futuro abrirão portas para novos pontos

relacionados com o tema energia. A utilização de veículos de comunicação da própria

cidade facilita a compreensão do que se pretende abordar em sala de aula, como:

energia, fontes de energia, usinas elétricas, impactos ambientais causados pela

construção e funcionamento dessas usinas elétricas, entre outros, que serão vistos nas

próximas atividades. Também chama e prende a atenção dos alunos por serem fatos do

seu cotidiano. Com a leitura destes textos e uma discussão em grupo na sala de aula

vimos que é comum em Cruzeiro do Sul esse problema de falta de energia,

principalmente em finais de semana. Durante a leitura verificamos, em alguns alunos,

Page 38: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

37

um sério problema com a leitura, porém rapidamente contornado, onde outros alunos do

grupo leram em voz alta para esses outros alunos.

Page 39: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

38

Atividade 2: Tipos de Usinas Elétricas.

O objetivo dessa segunda atividade é a apresentação dos vários tipos de usinas

elétricas, e uma breve e superficial explicação de seus funcionamentos, já que

aprofundaremos nessa explicação em vários outros momentos. Para tal, sugerimos que

se faça um questionamento das possíveis fontes de energia elétrica da cidade, conforme

a visão do aluno. Com isso poderemos identificar outras formas de geração de energia,

citadas por eles, que serão abordadas em outra ocasião. Na apresentação de cada tipo de

usina o professor pode utilizar um Data Show, Retro Projetor, ou até mesmo levar

recortes de revistas ou jornais com fotos das usinas, bem como reproduzir este material,

e se não possuir estes recursos pode também desenhar os esquemas físicos de

funcionamento das usinas no quadro.

Fontes de Energia Elétrica

O professor iniciará esta atividade estabelecendo um diálogo com os alunos sobre

possíveis usinas de energia existentes em sua região, ou no estado. Sugerimos que o

professor faça um quadro com todos os tipos de usinas citadas. Por exemplo:

Quadro 3 – Fontes de Energia

Fonte: Elaborado pelo Autor

De todas as fontes de energia levantadas no quadro, quais são realmente possíveis

de existirem na região dos alunos? Nesse momento, o professor deve separar as usinas

que podem ser construídas na região, fazendo uma breve explicação, ou seja,

justificando o porquê da possível existência ou não destas usinas. Por exemplo:

Page 40: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

39

Quadro 4 – Usinas que podem ser exploradas

Fonte: Elaborado pelo Autor

Quadro 5 – Usinas que não podem ser exploradas

Fonte: Elaborado pelo Autor

Neste momento o professor pode utilizar imagens de usinas vinculadas com

esquemas físicos de seu funcionamento para facilitar a justificativa da existência de

cada tipo de usina elétrica, por exemplo:

Energia Maré Motriz é o modo de geração de energia através da utilização da

movimentação da água dos oceanos usando as variações de nível entre as marés alta e

baixa. Como o estado do Acre não é banhado por nenhum oceano e este efeito de maré

nos rios, por conta do volume de águas, pode ser considerado desprezível, isso

inviabiliza a construção desse tipo de usina. Em países como Japão, França e Inglaterra

esse tipo de Usina é muito explorado.

Page 41: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

40

Figura 1 – Usina Maré Motriz de Shihwa localizada na Coréia do Sul

Fonte: EEUWENS, 2012

Figura 2 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Maré Motriz

Fonte: MODERNA, 2010

Porém no Brasil, a universidade Federal do Maranhão possui um projeto, que

atualmente está na primeira etapa. O projeto visa à construção de uma usina piloto

destinada a estudos e aprimoramento dos conhecimentos de energia Maré Motriz.

Uma usina hidrelétrica ou central hidroelétrica tem por finalidade produzir

energia elétrica através do aproveitamento do potencial hidráulico existente em um rio.

O potencial hidráulico é proporcionado pela vazão hidráulica e pela concentração dos

desníveis existentes ao longo do curso de um rio. Isto pode se dar de uma forma natural,

quando o desnível está concentrado numa cachoeira; através de uma barragem, quando

pequenos desníveis são concentrados na altura da barragem ou através de desvio do rio

Page 42: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

41

de seu leito natural, concentrando-se os pequenos desníveis nesses desvios. No entanto

os rios do vale do Juruá diminuem muito seu volume de água na época de seca, além

das cidades serem totalmente construídas às margens destes rios, o que pode inviabilizar

sua construção, discussão que pode ser muito bem aproveitada, neste momento, pelo

professor.

Figura 3 – Usina Hidrelétrica de Itaipú Localizada entre Brasil e Paraguai

Fonte: ENEM, 1998

Figura 4 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Hidrelétrica

Fonte: MODERNA, 2010

Page 43: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

42

Central termoelétrica ou usina termoelétrica é usada para geração de energia

elétrica/eletricidade a partir da energia liberada por qualquer produto que possa gerar

calor, como a queima de bagaço de diversos tipos de planta, restos de madeira, óleo

combustível, óleo diesel, gás natural e carvão natural. Essa é a fonte de energia elétrica

mais utilizada no Estado do Acre.

Figura 5 –Usina Termelétrica de Santa Cruz no Rio de Janeiro

Fonte: VILELA, 2005

Figura 6 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Termelétrica

Fonte: NIEDERAUER, 2012

Page 44: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

43

Central nuclear ou usina nuclear tem como objetivo produzir eletricidade a partir de

energia nuclear, que se caracteriza pelo uso de materiais radioativos que através de uma

reação nuclear produzem calor. As centrais nucleares usam este calor para gerar vapor,

que é usado para girar turbinas e produzir energia elétrica.

Figura 7 – Usina Termonuclear de Angra dos Reis no Rio de Janeiro

Fonte: CRUZ, 2009

Figura 8 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Termonuclear

Fonte: INB, 2007

Page 45: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

44

A energia eólica é a energia produzida pelos ventos, ou seja, pelas correntes de ar

que se formam na atmosfera. Essas correntes incidem sobre as pás das turbinas,

movimentando-as. Essa forma de captar energia tem sido aproveitada desde a

antiguidade para mover os barcos impulsionados por velas ou para fazer funcionar a

engrenagem de moinhos, ao mover as suas pás. Nos moinhos de vento a energia eólica

era utilizada na moagem de grãos ou para bombear água. Os moinhos foram usados para

fabricação de farinhas e ainda para drenagem de canais, sobretudo nos Países Baixos.

Figura 9 – Usina Eólica de Osório no Rio Grande do Sul

Fonte: SERVICE, 2012.

Figura 10 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Eóloica

Fonte: FERREIRA, 2010

Page 46: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

45

A Energia solar é a designação dada a todo tipo de captação de energia luminosa

proveniente do Sol que é captada através de células fotovoltaicas. Quando a luz incide

sobre uma célula fotovoltaica, os fótons que a integram chocam contra os elétrons

presentes nas estruturas de silício, fornecendo-lhes energia. No interior de cada célula,

gera-se assim um fluxo de elétrons, e como as células estão ligadas em série, produz-se

corrente elétrica.

Figura 11 – Usina Solar da Califórnia nos Estados Unidos

Fonte: TULLOCH, 2012

Figura 12 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Solar

Fonte: CRESESB, 2000

O professor após uma explicação superficial de cada uma dessas usinas deve

mostrar para seus alunos que, excetuando a Maré Motriz, todas as outras usinas elétricas

Page 47: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

46

podem ser construídas, podendo umas serem mais viáveis que outras, comparado com

seu poder energético. Porém a explicação mais aprofundada dessas viabilidades será

abordada na Atividade 9.

Nesta etapa o professor também deve pedir aos alunos, após o conhecimento

prévio de todas as usinas, para citar dentre elas, as possíveis existentes em sua região,

qual ou quais existem em sua cidade. Fazendo também um levantamento de quantos

alunos citaram cada fonte de energia. Por exemplo:

Quadro 6 – Estimativa entre os alunos sobre as usinas citadas

Fonte: Elaborado pelo Autor

Na região de Vale do Juruá, onde está localizada a cidade de Cruzeiro do Sul, a

única usina elétrica existente é uma Termelétrica a Diesel, assim como em todo o

estado, sendo quase totalmente abastecido com esse tipo de usina. Nesta parte o

professor deve entrar na discussão:

Porque todas as Usinas existentes no Estado do Acre são Termelétricas a

Diesel?

Como os alunos já conhecem todos os tipos de usinas elétricas seria mais fácil pra

eles responderem essa pergunta.

Comentários:

Hidrelétrica, termelétrica, eólica, nuclear, solar, maré motriz, etc. Neste primeiro

momento é importante que o professor somente faça esta distinção entre realidade e

imaginário dos alunos com relação às possíveis fontes de energia existentes na região.

Page 48: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

47

Estes exemplos de usinas devem surgir nos “pré-conceitos” formados pelos alunos,

configurando uma existência ou não destas usinas de energia, que serve como uma

explicação física do funcionamento de cada uma delas, enfatizando as que realmente

são utilizadas na região onde moram.

Nesta atividade por mais que o professor deva somente explicar superficialmente

os esquemas físicos das usinas elétricas, provavelmente surgirão perguntas mais

profundas sobre o assunto, e devem ser respondidas de forma mais simples possível. Na

turma de Controle Ambiental 01/2011, tivemos um interesse muito grande na Usina

Maré Motriz, principalmente porque todos os alunos nunca tinham ouvido falar de uma

usina dessa e também o interesse pelo mar, já que ninguém na turma conhece uma praia.

Também tivemos um grande interesse, com inúmeras perguntas, sobre a Usina

Termonuclear. Mais já tivemos alunos indo ao quadro e mostrando para a turma, antes

mesmo de o professor comentar, que todas as usinas tinham em comum: Girar as

Turbinas do gerador, mudando apenas a forma.

Page 49: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

48

Atividade 3: De onde vem a energia elétrica de sua cidade?

O objetivo dessa atividade é mostrar aos alunos de onde vem a energia elétrica

que eles consomem na sua cidade, e também no estado do Acre como um todo. O

professor deve utilizar também um “Mapa Energético” contendo todas as usinas de

energia do estado para dar uma visão concreta da realidade elétrica do Acre. Ainda para

ajudar pode-se usar outras figuras para mostrar que parte da energia do estado vem de

Rondônia.

Energia Elétrica no Acre

Como foi visto na Atividade 2, no estado do Acre só existem Usinas

Termelétricas a Diesel, assim o professor deve então mostrar para os alunos, através de

um “Mapa Energético”, onde estão localizadas estas usinas e também o seu poder de

produção, enfatizando que próximo dos maiores centros urbanos estarão localizadas

usinas de um poder de produção de energia elétrica maior. Como mostra a figura

abaixo:

Figura 13 – Centrais Termelétricas a Diesel em Operação no Acre

Fonte: GUASCOR, 2009

A Eletrobrás Eletronorte produz 76% da energia elétrica gerada no Acre,

distribuída por 302 quilômetros de linhas de transmissão. O sistema conta ainda com

cinco subestações. Desde 2002, o estado, que faz parte do sistema isolado

Page 50: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

49

Acre/Rondônia, também é abastecido por uma linha de transmissão em que liga Rio

Branco à cidade de Abunã, em Rondônia, onde existe a hidrelétrica UHE Samuel,

esquema observado na figura 14:

Figura 14 - Distribuição de energia elétrica no estado de Rondônia

Fonte: ELETRONORTE, 2009

Além de Rio Branco, a energia transmitida por este sistema isolado

Acre/Rondônia, supre os mercados interligados de Senador Guiomard, Plácido de

Castro, Bujari, Porto Acre, Acrelândia, Redenção e Vila Campinas, como mostra a

figura 15:

Figura 15 - Distribuição de energia elétrica no estado do Acre

Fonte: ELETRONORTE, 2009

Page 51: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

50

Comentários:

Após apresentadas as usinas e seus respectivos esquemas físico de funcionamento

para os alunos na atividade 2, o professor deve fazer questionamentos a fim de saber se

eles já conheciam a usina de sua região? Como ela funciona? Como a energia produzida

lá chega à suas casas, entre outros. Porém sem muito aprofundamento, já que isso será

realizado em uma etapa futura. Com essa atividade o professor, após ter mostrado e

comentado um pouco sobre o funcionamento de cada usina, mesmo que

superficialmente, destacando somente os pontos principais, ele já dá um pequeno passo

para o entendimento do aluno sobre o assunto e o leva agora ao próximo passo onde

serão explicados como funciona a Usina existente na sua região, como exemplo utilizará

a Usina Termelétrica a diesel, já que é a única existente em Cruzeiro do Sul. Também

mostra aos alunos a realidade energética do Estado do Acre, onde atualmente só existem

usinas Termelétricas, e parte da energia que abastece a capital Rio Branco e outras

cidades próximas vem de outro estado, Rondônia.

O mapa energético foi muito bem aceito pelos alunos onde alguns, mais

experientes e vividos, podem explicar para outros, os aspectos das Usinas Termelétricas

das cidades acreanas vizinhas à Cruzeiro do Sul. Ocorreu também um interesse enorme

pela produção de energia vinda da Hidrelétrica de Samuel em Rondônia, e como na sala

de aula há um aluno que trabalha neste ramo, houve uma discussão sobre a construção

de uma linha de transmissão interligando a capital à Cruzeiro do sul, no interior, vinda

desde essa Usina de Samuel, bem como o porquê de não criar uma hidrelétrica no

estado do Acre.

Page 52: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

51

Atividade 4 : Como funciona a Usina Elétrica de sua região?

Para melhor direcionamento, dividimos esta atividade em duas partes. Na primeira

queremos saber se algum aluno conhece a usina elétrica da sua cidade/região, com isso

o professor motiva um interesse nos alunos sobre as indústrias da cidade. Retomando a

atividade 2 peça para eles desenharem o esquema físico dessa usina, o aluno que quiser

pode ir ao quadro fazer esse desenho que deve ser comparado com o da atividade 2,

sendo assim uma forma do professor observar se o conteúdo estudado está realmente

sendo “absorvido” pelos alunos. Neste presente caso estamos nos referindo a uma

Termelétrica a Diesel, única Usina Elétrica presente em Cruzeiro do Sul. Na segunda

parte, encaminhamos uma abordagem física mais aprofundada sobre o funcionamento

dessa usina, onde o professor deve interagir com os alunos na explicação de cada parte

do ciclo de transformação de energia utilizando figuras tornando assim o conhecimento

adquirido pelos alunos algo crescente.

Parte 1 – Você conhece a Usina Elétrica da sua Cidade?

O professor deve, primeiramente, continuar perguntando se os alunos sabem ou

têm idéia de como se obtém a energia elétrica nesta usina que abastece a sua casa com

energia elétrica. Peça para algum aluno desenhar a usina como ele imagina que seja. Se

tiver na classe um aluno que a conheça, pedir para ele explicar como funciona.

Figura 16 - Desenho apresentado por um dos alunos

Fonte: Elaborado pelo Autor

Page 53: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

52

Parte 2 – Como funciona uma Termelétrica a diesel?

Nesta parte o professor deve projetar a figura 11 para os alunos, ou levar cópias

do esquema da usina termelétrica para cada um. Assim a idéia é explicar como funciona

essa termelétrica desde a produção até o fornecimento de energia elétrica aos

consumidores. Para isso o professor deve explicar passo a passo a figura, podendo

utilizar a explicação abaixo:

A Usina Termelétrica é usada para geração de eletricidade a partir da energia

liberada em forma de calor, normalmente por meio da combustão de algum tipo de

combustível fóssil, onde os mais utilizados são o óleo diesel, carvão e o gás natural. Em

Cruzeiro do Sul, como em quase todo o Estado do Acre, o combustível mais utilizado é

óleo diesel. A figura 17 ajudará na explicação de cada parte da usina:

Figura 17 – Esquema de uma Usina Termelétrica

Fonte: ENEM, 2009

O funcionamento das usinas termelétricas é semelhante, independentemente do

combustível utilizado. O combustível é armazenado em parques ou depósitos

adjacentes, de onde é enviado para a usina, onde será queimado aquecendo a caldeira

(1). Esta gera vapor (2) a partir da água que circula por uma extensa rede de tubos que

Page 54: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

53

revestem suas paredes. A função do vapor é movimentar as pás de uma turbina (3), cujo

rotor gira juntamente com o eixo de um gerador (4) que produz a energia elétrica. Essa

energia é transportada por linhas de alta tensão (5) aos centros de consumo (6). O vapor

é resfriado em um condensador (7) e convertido outra vez em água (8), que volta aos

tubos da caldeira, dando início a um novo ciclo. A água em circulação que esfria o

condensador expulsa o calor extraído da atmosfera pelas torres de refrigeração, grandes

estruturas que identificam essas centrais. Parte do calor (10) extraído passa para um rio

próximo ou para o mar (11). Para minimizar os efeitos contaminantes da combustão

sobre as redondezas, a central dispõe de uma chaminé de grande altura (9) (algumas

chegam a 300 m) e de alguns precipitadores que retêm as cinzas e outros resíduos

voláteis da combustão. As cinzas são recuperadas para aproveitamento em processos de

metalurgia e no campo da construção, onde são misturadas com o cimento. A potência

mecânica obtida pela passagem do vapor através da turbina - fazendo com que esta gire

- e no gerador - que também gira acoplado mecanicamente à turbina - é que transforma

a potência mecânica em potência elétrica. A energia assim gerada é levada através de

cabos, dos terminais do gerador até o transformador elevador de tensão elétrica (12),

onde tem sua tensão elevada para adequada condução, através de linhas de transmissão

(13), até os centros de consumo. Daí, através de transformadores abaixadores de tensão

elétrica (14), a energia tem sua tensão levada a níveis adequados para utilização pelos

consumidores. Em Cruzeiro do Sul, a operação da Usina Termelétrica teve início sua

operação em fevereiro de 1999, e em 2012 atende a uma população de

aproximadamente 122 mil habitantes.

Comentários:

Neste capítulo o professor pode perceber se está existindo uma evolução no

aprendizado dos seus alunos, já que na parte 1 retomamos atividades anteriores visando

justamente fixar este assunto, onde vários alunos desenharam como imaginavam que era

o funcionamento de uma Usina Termelétrica. Logo em seguida, na parte 2, será

explicado como funciona uma Usina Termelétrica a Diesel, usina mais utilizada no

estado do Acre e única na cidade de Cruzeiro do Sul. O professor deve se preparar para

entrar em assuntos diferenciados, por exemplo: quando explicava o motivo das

chaminés serem tão altas, tivemos que discutir sobre a diferença de densidade do ar

Page 55: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

54

quente para o ar frio, o que levou a explicação de o porquê que os aparelhos de ar

condicionado são instalados na parte superior da sala de aula, bem como o motivo dos

congeladores ficarem na parte de cima das geladeiras e suas prateleiras serem gradeadas

e não placas contínuas. Logo após o professor pode conversar e agendar com seus

alunos uma visita técnica à Usina Termelétrica da cidade, podendo assim mostrar na

prática todo o conteúdo abordado em sala de aula (Atividade 7).

Page 56: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

55

Atividade 5: Quais os impactos ambientais de uma Usina Termelétrica?

Após o estudo detalhado de uma usina termelétrica na atividade anterior, agora o

professor deve mostrar aos alunos os impactos ambientais que essa usina gera, como o

efeito estufa e a chuva ácida, e deve também explicá-los utilizando artigos de jornal,

revista, um documentário, isso com o objetivo de explicar que embora seja necessária a

existência de usinas elétricas, todas acarretam algum tipo de impacto no meio ambiente,

o que é muito importante para os alunos aqui do IFAC já que eles serão Técnicos em

Controle Ambiental.

O professor pode também pedir a “ajuda” de um professor de biologia que terá

uma visão mais específica e diferenciada destes temas, utilizando assim a

interdisciplinaridade na sala de aula. Então o professor pode iniciar uma conversa com

os alunos a respeitos desses impactos ambientais causados pelas usinas termelétricas.

Podendo começar com perguntas do tipo:

Usinas Termelétricas causam impactos ao meio ambiente? Se sim, quais?

O pequeno texto abaixo serve para direcionar o professor nessa explicação, onde

se deverá discutir o que são: Efeito Estufa e Chuva Ácida.

Como todos os tipos de geração de energia, a termeletricidade também causa

impactos ambientais, contribuindo para o aquecimento global através do efeito estufa e

da chuva ácida. A queima de gás natural, óleo diesel e carvão lançam na atmosfera

grandes quantidades de poluentes, além de serem combustíveis fósseis que não se

recuperam. O uso desses combustíveis em grande escala, como ocorre em uma

termelétrica, pode ocasionar vazamentos, provocando intoxicação ou até mesmo

incêndios. Um exemplo desse tipo de acidente aconteceu em fevereiro de 2010 na Usina

Termelétrica em Middletown, nos Estados Unidos, que ainda estava em construção e se

fazia testes no momento da explosão, que pode ter sido provocada por um vazamento de

gás. Uma ruptura nos canos por superaquecimento também foi uma das hipóteses. Essa

reportagem pode ser levada para os alunos para enriquecer essa discussão.

O Brasil lança por ano 4,5 milhões de toneladas de carbono na atmosfera, com o

incremento na construção de usinas termelétricas esse indicador chegará a 16 milhões.

As termoelétricas apresentam um alto custo de operação, em virtude do dinheiro

utilizado na compra de combustíveis.

Page 57: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

56

Figura 18 – Emissão de poluentes da Usina termelétrica Presidente Médici,

em Candiota-RS

Fonte: VAZ, 2011

Na figura 18 é claramente visível a queima de combustível pelo gás que é lançado

na atmosfera. Grandes áreas são desmatadas para poder instalar usinas termelétricas.

Precisamos pensar em fontes de energia limpa se queremos realmente levantar a

bandeira de uma Amazônia Sustentável, por mais que tenham investimentos altos em

seus estudos e implantações, as boas iniciativas e incentivos são oportunidades para

enxergarmos que é viável produzir eletricidade de baixo impacto a partir de fontes

renováveis como o sol e o vento.

Neste ponto o professor deve explicar para os alunos esses dois efeitos nocivos ao

meio ambiente:

Efeito Estufa: Do total de raios solares que atingem o planeta, quase 50% ficam

retidos na atmosfera; o restante, que alcança a superfície terrestre e não volta para o

espaço, aquece e irradia calor. Esse processo é chamado de efeito estufa. Apesar de o

efeito estufa ser figurado como algo ruim, é um evento natural que permite a existência

da vida no planeta Terra. O efeito estufa tem como finalidade impedir que a Terra esfrie

demais, pois se a Terra tivesse a temperatura muito baixa, certamente não teríamos

Page 58: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

57

tantas variedades de vida. Contudo, recentemente, estudos realizados por pesquisadores

e cientistas, principalmente no século XX, têm indicado que as ações do homem têm

agravado esse processo por meio de emissão de gases na atmosfera, especialmente o

dióxido de carbono (CO2) que é produzido a partir da queima de combustíveis fósseis,

como por exemplo o usado em veículos automotores movidos à gasolina e óleo diesel.

Esse não é o único agente que contribui para emissão de gases, pois existem outros

como as queimadas em florestas, pastagens e lavouras após a colheita. Hoje se sabe que

a grande fonte de gás Metano é devido aos animais ruminantes. O Brasil é um grande

produtor de gás metano devido às grandes pastagens. Com o intenso crescimento da

emissão de gases e também de poeira que vão para a atmosfera, certamente a

temperatura do ar terá um aumento de aproximadamente 2ºC em médio prazo. Caso não

haja um retrocesso na emissão de gases, esse fenômeno ocasionará uma infinidade de

modificações no espaço natural e, automaticamente, na vida do homem. Dentre muitas,

as principais são:

• Mudanças climáticas drásticas, onde lugares de temperaturas extremamente frias

sofrem elevações de temperatura e áreas úmidas enfrentam períodos de estiagem. Além

disso, o fenômeno pode levar áreas cultiváveis e férteis a entrar em um processo de

desertificação.

• Aumento significativo na incidência de grandes tempestades, furacões ou tufões

e tornados.

• Perda de espécies da fauna e flora em distintos domínios naturais do planeta.

• O derretimento das calotas de gelo localizadas nos pólos e, consequentemente,

provocar uma elevação global nos níveis dos oceanos.

O tema "efeito estufa" é bem difundido nos mais variados meios de comunicação do

mundo, além de revistas científicas e livros, no entanto a explicação é razoavelmente

simples. Em razão de os gases se acumularem na atmosfera, a irradiação de calor da

superfície fica retida na atmosfera e o calor não é lançado para o espaço; dessa forma,

essa retenção provoca o efeito estufa artificial. Na figura 13 é mostrado um esboço de

como ocorre o efeito estufa natural e artificial ou provocado pelo homem.

Page 59: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

58

Figura 19 – Efeito Estufa

Fonte: TREVISAN, 2012

Chuva Ácida: é um dos grandes problemas ambientais da atualidade. Esse

fenômeno é muito comum nos centros urbanos e industrializados, onde ocorre a

poluição atmosférica decorrente da liberação de óxidos de nitrogênio (NOx), dióxido de

carbono (CO2) e do dióxido de enxofre (SO2), sobretudo pela queima do carvão

mineral e de outros combustíveis de origem fóssil.

É importante ressaltar que a chuva contém um pequeno grau natural de acidez, no

entanto, não gera danos à natureza. O problema é que o lançamento de gases poluentes

na atmosfera por veículos automotores, indústrias, usinas termelétricas, entre outros,

tem aumentado a acidez das chuvas.

O dióxido de carbono, o óxido de nitrogênio e o dióxido de enxofre reagem com

as partículas de água presentes nas nuvens, sendo que o resultado desse processo é a

formação do ácido nítrico (HNO3) e do ácido sulfúrico (H2SO4). Ao se precipitarem

em forma de chuva, neve ou neblina, ocorre o fenômeno conhecido como chuva ácida,

Page 60: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

59

que, em virtude da ação das correntes atmosféricas, também pode ser desencadeada em

locais distantes de onde os poluentes foram emitidos.

Entre os transtornos gerados pela chuva ácida estão a destruição de lavouras e de

florestas, modificação das propriedades do solo, alteração dos ecossistemas aquáticos,

contaminação da água potável, danificação de edifícios, corrosão de veículos e

monumentos históricos, etc. De acordo com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF),

cerca de 35% dos ecossistemas do continente europeu foram destruídos pelas chuvas

ácidas.

A maior ocorrência de chuvas ácidas até os anos 1990 era nos Estados Unidos da

América (EUA). Contudo, esse fenômeno se intensificou nos países asiáticos,

principalmente na China, que consome mais carvão mineral do que os EUA e os países

europeus juntos. No Brasil, a chuva ácida é mais comum nos estados do Rio de Janeiro

e São Paulo.

Algumas ações são necessárias para reduzir esse problema, tais como a redução

no consumo de energia, sistema de tratamento de gases industriais, utilização de carvão

com menor teor de enxofre e a popularização de fontes energéticas limpas: energia

solar, eólica, biocombustíveis, entre outras.

Figura 20 – Chuva Ácida

Fonte: HELENA, 2011

Page 61: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

60

Comentários:

No final foram abordados os aspectos ambientais que podem ocorrer com a

geração de energia de uma usina desse tipo, explicando com ênfase o Efeito Estufa e a

Chuva Ácida. Como são assuntos que envolvem totalmente o curso de Controle

Ambiental, os alunos se mostraram bem interessados com relação aos impactos

ambientais de uma termelétrica. Eles já haviam estudado o efeito estufa, porém nunca

tinham ouvido falar de chuva ácida. A discussão foi levada para o lado dos danos que os

dois impactos podem causar na agricultura, já que muitos alunos são agricultores aqui

na cidade. Com a presença de uma professora de biologia relembrando e explicando

estes conceitos na sala de aula junto com o professor de física a aula ficou mais

dinâmica e os alunos bem mais participativos.

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61

Atividade 6: Como entender sua conta de luz?

O objetivo dessa atividade é que os alunos entendam quanto que se gasta de

energia elétrica em cada equipamento elétrico de uma residência, também como

entender a sua conta de energia, para, quem sabe, evitar gastos desnecessários. Para tal,

na primeira parte, o professor pode utilizar o livro do estudante do Gref volume 3 parte

1, Capítulos: 4 e 5. Também pode utilizar qualquer outro material voltado para esse

tema. Na atividade anterior o professor pediu para os alunos trazerem para a próxima

aula uma conta de energia de sua casa para usar como exercício, sendo essa a segunda

parte.

Parte 1 – Alguns conceitos físicos sobre energia.

Nessa parte o professor deve explicar alguns conceitos de física utilizando o

Capítulo 4: Cuidado! É 110 ou 220? do Caderno do estudante do Gref, tais como:

1º) Tensão elétrica ou voltagem ( U )

2º) Potência ( P )

3º) Corrente elétrica ( i )

4º) Frequência (f )

Utilizando então parte desse capítulo, de uma forma “leve” sem muito

aprofundamento. Podemos observar que não existem equações nesse Capítulo 4 do

Gref, sendo o objetivo somente apresentar os conceitos relacionados com energia.

Parte 2 – Como entender “a conta de luz”?

Nessa parte os alunos devem estar com uma conta de luz de sua casa para facilitar

o entendimento. O professor deve se basear no material do Gref no Capítulo 5: A conta

de luz. Deve utilizar o material para explicar como se faz o cálculo de energia elétrica:

E = P x Δt

Também deve explicar o que é o kilo watt hora (kwh), unidade de medida de

energia utilizada nas contas de energia elétrica.

Logo após a explicação o professor pode pegar um aluno como exemplo e que

esteja com a conta de luz em mãos.

Page 63: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

62

Foram usados como exemplo vários aparelhos domésticos que os próprios alunos

foram citando que possuíam em casa.

Aparelho Potência (w) Quantidade Horas Consumo (kwh)

Ferro Elétrico 1200 1 1 h/mês 4,8

Microondas 900 1 1 h/mês 0,9

Lâmpadas 25 5 6 h/dia 22,5

Ventilador 30 1 8 h/dia 7,2

Máquina de Lavar 755 1 12 h/mês 9,06

Geladeira 55,3 1 24 h/dia 39,82

Televisão 72 1 10 h/dia 21,6

Total - - - 105,88

Foi explicado que as potências podem variar de aparelho para aparelho e que

como este é um exemplo, a ideia é somente ensinar como se faz os cálculos e não ser

“fiel” à realidade específica de uma casa em particular.

Esta tabela não foi lançada pronta no quadro, ela foi sendo preenchida item por

item calculando os consumos de cada aparelho doméstico. Após a soma de todos estes

aparelhos o total encontrado foi de 105,88 kwh. Foi explicado para os alunos que o

valor cobrado pelo kwh depende do consumo, quanto maior o consumo mais caro fica o

valor do kwh. Então para esse valor encontrado no exemplo um kwh custa R$ 0,526489

e fazendo o seguinte cálculo:

1 kwh ---------------- R$ 0,52648

105,88 kwh ---------------- R$ ______

O valor encontrado foi de R$ 55,74. Porém, ainda na conta de energia existe a

taxa de iluminação pública, que custa R$ 4,91. Então somando o valor gasto na

residência mais a taxa de iluminação o valor total dessa conta de energia é: R$ 60,65.

Page 64: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

63

Comentários:

Com essa atividade os alunos podem ter um contato a mais com conceitos de

física, mesmo que superficialmente, o que já levou direto à utilização dos mesmos para

que eles entendessem a conta de energia de suas casas, bem como quais equipamentos

elétricos gastam mais energia, podendo assim até economizar energia nas suas

residências. Este cálculo do consumo de energia elétrica em cada aparelho doméstico

prendeu a atenção da turma de uma forma tal que todos participaram e discussões do

tipo:

Como economizar energia?

Quais aparelhos consomem mais energia?

Foram presentes todo o tempo, bem como o relato de alunos sobre programas de

governo onde têm-se descontos na conta de energia por receber a “Bolsa Família”.

Page 65: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

64

Atividade 7 : Visita técnica a uma Usina Termelétrica.

Esta atividade foi distribuída em duas partes. Na primeira o professor deve levar

um grupo de alunos em uma visita técnica à Usina da cidade, que em Cruzeiro do Sul

foi na Usina Termelétrica a Diesel da Guascor LTDA. Esta visita, dependendo de

agendamento do professor, pode ser feita em um outro momento, não existe a

necessidade de seguir essa seqüência, porém se fosse após a explicação da Usina

Termelétrica seria melhor para os alunos, onde iriam ver na prática o conteúdo abordado

em sala de aula. Para a segunda parte deve ser feito entre os alunos um questionamento

sobre os temas abordados na visita a fim de saber, por exemplo, se a Termelétrica supre

as necessidades energéticas da cidade, caso contrário qual seria a solução mais viável?

Neste ponto o professor deve fazer um círculo com os alunos em sala de aula para

estimular um debate entre eles.

Parte 1 – A visita técnica a Usina

Seria interessante que o professor conhecesse a usina antes de levar seus alunos,

com isso ele pode preparar melhor seus alunos. Antes de chegar a Usina o professor

pode ajudar os alunos com algumas perguntas que poderão ser feitas ao técnico

responsável que irá guiá-los na visita, tais como:

1. Dizer dos cuidados que devem tomar na visita pois é um lugar que envolve altas

temperaturas e eletricidade.

2. Obedecer as condições impostas pelos técnicos como trajes adequados, uso do

capacete, andar em grupo, etc.

3. Como a energia elétrica é gerada?

4. De onde vem o diesel utilizado? Como é transportado até Cruzeiro do Sul?

5. Como a energia elétrica chega aos consumidores?

6. O que é Sistema de Transmissão?

7. Qual o impacto ambiental causado por esta usina?

8. Qual é a potência gerada por esta usina?

9. Quais cidades esta usina abastece e para quantos consumidores?

Porém na Usina o professor deve deixar os alunos à vontade para perguntar o que

quiserem para que possam ser o mais espontâneos possível.

Page 66: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

65

Parte 2 – Debate em sala de aula

Após retornar à sala de aula, o professor deve criar um debate em sala de aula,

para tal deve organizar os alunos em um círculo para que todos fiquem uns de frente

para os outros. Neste momento o professor deve unir toda a parte teórica com o que foi

visto na prática durante a visita técnica e realizar vários questionamentos sobre o tema

abordado.

Comentários:

Estas duas aulas da Atividade 7 são muito importantes no que se refere ao ensino-

aprendizagem, já que após uma longa explicação de uma teoria o professor dá a

oportunidade de seus alunos vivenciarem um local da produção de energia elétrica que

chega a suas residências. A visita à Usina é uma experiência que eles levarão para toda

a vida. Já em sala de aula, com relação ao debate, essa foi uma oportunidade do

professor saber como está sendo construído este conceito sobre energia por seus alunos.

Caso a usina não seja suficiente para suprir as necessidades energéticas da cidade, abre

a oportunidade de se conhecer outra forma de geração de energia, que será apresentada

na próxima atividade, a Usina Hidrelétrica.

Page 67: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

66

Atividade 8 : Existe a necessidade de novas Usinas Elétricas?

Distribuímos esta atividade em três partes. Na primeira parte, o professor deve

fazer uma junção, lembrando-se da Atividade 1 onde foram mostradas problemas na

cidade pela falta de energia elétrica, com a Atividade 7, através da visita à Usina

Termelétrica e o debate ocorrido em sala de aula. Na segunda parte, será uma

explicação do funcionamento físico de uma Usina Hidrelétrica através de uma

abordagem diferenciada. O professor também irá explicar aos seus alunos, de uma

forma simplificada, alguns tipos de energia da física bem como sua conservação. E para

terminar essa atividade o professor deve discutir com seus alunos sobre os impactos

ambientais dessa outra usina, assim como foi feito com a Termelétrica.

Parte 1 – A necessidade de uma nova Usina Elétrica

Utilizando a atividade 1 e a atividade 4, onde foram abordados os assuntos de falta de

energia elétrica e os transtornos causados, juntamente com a produtividade energética

atual de Cruzeiro do Sul da Termelétrica discutida no debate, o professor deve fazer

alguns questionamentos aos seus alunos sobre a possível construção de uma nova forma

de geração de energia. Dentre todas as alternativas citadas na Atividade 2 e como a

cidade de Cruzeiro do Sul é cortada por dois rios: Juruá e Moa, uma alternativa viável

seria a construção de uma Usina Hidrelétrica. Neste ponto o professor pode levar a

sugestão de outras usinas como, por exemplo, a Eólica ou a Solar. Escolhi a Hidrelétrica

pelos impactos ambientais causados com a construção de uma barragem, o que será

abordado na terceira parte dessa atividade, bem como a viabilidade dessas outras Usinas

Elétricas. Mas nada impede de ser escolhida outra Usina e que o professor explique o

seu funcionamento.

Parte 2 – Como funciona uma Usina Hidrelétrica?

A explicação do funcionamento físico de uma Usina Hidrelétrica pode ser feita de

várias maneiras diferentes, para fugir da lousa o professor pode utilizar algum vídeo

onde explique o funcionamento e após a apresentação ele acrescenta alguma informação

relevante. Um exemplo de vídeo pode ser o da Eletrobrás encontrado no site you tube.

Outra forma é utilizar uma animação em Flash, que pode ser obtida no site objetos

educacionais do MEC.

Page 68: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

67

Utilizaremos então a segunda opção, precisando então do uso de um computador e

um projetor em sala de aula. Para exemplificar, a figura 15 mostra a abertura da

animação:

Figura 21 - Animação em Flash de uma Usina Termelétrica

Fonte: MEC, 2008

Dentro dessa parte da atividade o professor deve aproveitar a animação em flash

da Usina Hidrelétrica para explicar o que é energia cinética e potencial gravitacional,

com isso dando um pouco mais de conhecimento físico aos seus alunos. Também pode

mostrar que a energia é conservada, sendo transformada em outros tipos de energia.

Para isso observando a figura 22 o professor deve explicar cada etapa:

Page 69: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

68

Figura 22 – Transformações de Energia

Fonte: RAMALHO, 2009

Parte 3 – Quais os impactos ambientais de uma Usina Hidrelétrica?

O primeiro impacto que se nota está relacionado com a chegada da empresa

construtora ao local da obra e a montagem do canteiro. O aumento súbito da população

pelos trabalhadores acarreta vários problemas como um acréscimo na produção de lixo e

esgoto sanitário, aumento na circulação de máquinas pesadas que danificam as vias e

modificam as características do trânsito local, crescimento da violência urbana, falta de

moradia, entre outros. A supressão da vegetação nativa, para ocupação da área, é

também um grave problema. Por outro lado, há um crescimento das atividades

econômicas por conta desse incremento populacional em regiões onde muitas vezes não

existe nem energia elétrica.

Há também o impacto relacionado com as populações atingidas pelo alagamento

das propriedades, casas, áreas produtivas e até cidades inteiras. Podem-se incluir neste

contexto os impactos pelas perdas de laços comunitários, separação de comunidades e

famílias, destruição de igrejas, capelas, locais sagrados para comunidades indígenas e

tradicionais que muitas vezes vivem isoladas.

Deve-se salientar que os deslocados não são os únicos atingidos pela construção

de uma barragem, pois pessoas que moravam em outro lugar e apenas trabalhavam no

local da barragem também devem ser consideradas atingidas. Empregados de áreas

inundadas, empresas transportadoras que trafegavam pela cidade, arrendatários de

terras, todas essas pessoas terão que procurar outra forma de sobrevivência.

Page 70: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

69

Existem problemas também relacionados à criação física da barragem. De uma

hora para outra, a floresta se transforma em um lago. Essa mudança radical do

ecossistema, se não for conduzida de maneira correta, tende a comprometer

negativamente a flora e fauna local.

Figura 23 – Usina Hidrelétrica de Itaipu

Fonte: VEJA, 2012

A submersão provoca a morte de árvores e plantas, e sua decomposição no fundo

dos lagos, libera gases causadores do efeito estufa como gás carbônico (CO2) e metano

(CH4). Além disso, os restos de troncos e galhos podem prejudicar o funcionamento das

próprias usinas.

Muitas espécies de animais acabam fugindo de seu habitat natural durante a

inundação. A estimativa, para este caso, é de que apenas 1% das espécies sobreviva a

esta mudança.

Já a ictiofauna sofre um impacto ainda maior por ter na barragem um obstáculo

artificial ao fluxo natural da correnteza do rio. A conseqüência pode ser a proliferação

desordenada de determinadas espécies e a extinção de outras. Outro fator está

relacionado àquelas espécies que necessitam subir o rio para a desova e que, agora,

precisam transpor uma barreira composta pela barragem da usina.

Soma-se a estes impactos, a eutrofização das águas do reservatório pela adição em

excesso, de matéria orgânica, que aumenta a proliferação de microorganismos e algas,

Page 71: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

70

podendo acarretar conseqüências também para o homem, como doenças relacionadas à

água. Por fim, a criação do lago pode gerar uma mudança no micro clima local, com

alteração da temperatura, umidade e do ciclo das chuvas.

Em algumas situações o turismo também pode ser afetado, pois além da perda da

fauna e flora, as barragens e seus lagos, também destroem paisagens de rara beleza.

Alguns exemplos são: Itaipu que inundou o Salto das Sete Quedas; Itá que inundou o

Estreito do Rio Uruguai; e Barra Grande que inundou o Cânion dos Encanados.

Praticamente todas as hidrelétricas acabam inundando paisagens belíssimas que são

perdidas para sempre. Em contrapartida os reservatórios podem constituir balneários

que servem às atividades lúdicas aquáticas como a pesca. Texto adaptado do site web

artigos.

Comentários:

Esta atividade interligou conteúdos e temas abordados em outras aulas anteriores,

acarretando um melhor aprendizado do aluno. Na primeira parte abordou a necessidade

de uma nova Usina Elétrica, que logo na segunda parte foi explicada seu funcionamento

físico com uma abordagem diferente e de mais fácil entendimento para os alunos,

fugindo do método tradicional de ensino. Foram utilizados um vídeo e uma animação

em Flash. Bem como a explicação física de tipos de energias como: cinética e potencial

gravitacional e como a energia é conservada. Já na terceira parte, o professor pode

explicar os vários impactos ambientais ocasionados pela construção de uma Usina

Hidrelétrica.

Page 72: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

71

Atividade 9: Como a energia elétrica é gerada nas usinas?

Para um fechamento a essa proposta de trabalho voltaremos à atividade 2 onde

foi exposto aos alunos os vários tipos de Usinas elétricas. Inicie conversando com os

alunos sobre o que foi estudado nessa atividade relembrando todas as usinas estudadas.

A ideia principal dessa atividade é mostrar que sempre tem um gerador, a diferença está

na forma de girar as pás do gerador. Novamente com o auxílio de um data show mostre

os esquemas de cada usina, pode-se utilizar os mesmos da atividade 2. Explicando

assim como é gerada a energia elétrica em cada usina, mostrando que sempre existe um

gerador e um “jeito” diferente de fazê-lo girar. Estes textos abaixo são para auxiliar na

explicação de cada usina.

Usina Marémotriz

As usinas marémotrizes têm esse nome por utilizarem as variações de nível entre

as marés alta e baixa. Para se aproveitar energia das marés constrói-se uma barragem

num local mais conveniente, onde seu comprimento seja o menor possível instalando

comportas e turbinas apropriadas. Quando a maré está subindo abrem-se as comportas e

a água é represada com o fechamento das mesmas quando a maré estiver num ponto

mais alto. Após o recuo da maré até um determinado nível, se solta a água represada

através das turbinas, gerando energia elétrica. Como o estado do Acre não é banhado

por nenhum oceano e este efeito de maré nos rios, por conta do volume de águas, pode

ser considerado desprezível isso inviabiliza a construção desse tipo de usina na região.

Figura 24 – Esquema Físico de funcionamento de uma Usina Maré Motriz

Fonte: MODERNA, 2010

Page 73: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

72

Impactos Ambientais: Exerce influência sobre a qualidade da água e a cadeia

alimentar de aves, peixes e invertebrados, além de ter efeitos sobre o alcance das marés,

das correntes e da área intermaré. A interferência na vida dos peixes pode causar

impactos econômicos também, já que em muitas regiões certas espécies representam

grande importância para a pesca comercial.

Usina Hidrelétrica

Nas usinas hidrelétricas, a água é represada por meio de barragens, que têm a

finalidade de propiciar um desnível de água capaz de movimentar enormes turbinas. As

turbinas são formadas por conjuntos de pás ligadas ao eixo do gerador de eletricidade,

que é posto a girar com a passagem da água. Nesse processo estão envolvidas as

transformações de energia já estudadas anteriormente, ou seja, transformação de energia

potencial da água em energia cinética que realiza o trabalho de movimentar as pás das

turbinas dando-as energia cinética de rotação. Essa energia cinética de rotação é

transformada em energia elétrica no gerador.

Figura 25 – Usina Hidrelétrica

Fonte: ENEM, 1998

Impactos Ambientais: O professor pode relembrar todos os impactos ambientais

citados no final da atividade 8.

Page 74: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

73

Usina Termoelétrica

Uma usina termelétrica tem como finalidade a geração de energia elétrica através

de um processo que consiste em três etapas. A primeira etapa consiste na queima de um

combustível fóssil, como carvão, óleo ou gás, transformando a água em vapor com o

calor gerado na caldeira. A segunda consiste na utilização deste vapor, em alta pressão,

para girar a turbina, que por sua vez, aciona o gerador elétrico. Na terceira etapa, o

vapor é condensado, transferindo o resíduo de sua energia térmica para um circuito

independente de refrigeração, retornando a água à caldeira, completando o ciclo.

Figura 26 – Usina Termelétrica

Fonte: NIEDERAUER, 2012

Impactos Ambientais: O professor pode relembrar todos os impactos ambientais

citados no final da atividade 6.

Usina Nuclear

A energia nuclear é proveniente da fissão do urânio em reator nuclear. Apesar da

complexidade de uma usina nuclear, seu princípio de funcionamento é similar ao de

uma termelétrica convencional, onde o calor gerado pela queima de um combustível

Page 75: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

74

produz vapor, que aciona uma turbina, acoplada a um gerador de corrente elétrica. Na

usina nuclear, o calor é produzido pela fissão do urânio no reator, cujo sistema mais

empregado é constituído de três circuitos, a saber: primário, secundário e de

refrigeração. No primeiro, a água é aquecida a uma temperatura de aproximadamente

320 oC. Em seguida, essa água passa por tubulações e vai até o gerador de vapor, onde

vaporiza a água do circuito secundário, sem que haja contato físico entre os dois

circuitos. O vapor gerado aciona uma turbina, que movimenta o gerador e produz

corrente elétrica.

Figura 27 – Usina Nuclear

Fonte: INB, 2007

Impactos Ambientais: Os problemas ambientais estão relacionados com os

acidentes que ocorrem nas usinas e com o destino do chamado lixo atômico. Os resíduos

que ficam no reator, por conter elevada quantidade de radiação, devem ser armazenados

em recipientes metálicos protegidos por caixas de concreto, que posteriormente são

lançados ao mar ou enterrados, mas se de alguma maneira vier a se romper e vazar pode

causar sérios danos ao ambiente marinho.

Com a crescente demanda na construção de usinas termonucleares, cresce também

a quantidade de lixo atômico, e o que o diferencia dos demais lixos produzidos

atualmente é sua radioatividade, e sua capacidade de permanecer ativo no ambiente por

muitos anos, dessa forma exigindo monitoria constante, assim impossibilitando o uso do

Page 76: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

75

terreno em que o lixo foi depositado. O vazamento desses materiais pode causar a morte

de animais, plantas e seres humanos.

Usina eólica

A energia é obtida pelo movimento do ar, pela força dos ventos. Neste tipo de

usina, a força dos ventos faz girar as hélices ligadas em um gerador (aerogerador).

Dessa forma, a energia cinética dos ventos se transforma em energia cinética de rotação

das hélices e depois em energia elétrica no gerador.

Figura 28 – Usina Eólica

Fonte: FERREIRA, 2010

Impactos Ambientais: Os equipamentos de pequeno porte têm impacto

ambiental geralmente desprezível. Já os impactos ambientais de parques eólicos podem

ser classificados em:

Uso da terra – em parques eólicos as turbinas devem estar suficientemente

distanciadas entre si para evitar a perturbação causada no escoamento do vento

entre uma unidade a outra.

Page 77: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

76

Ruído – as turbinas de grande porte geram ruído audível significativo, de forma

que existe regulamentação relativa à sua instalação na vizinhança de áreas

residenciais.

Impactos visuais – as pás das turbinas produzem sombras e/ou reflexos móveis

que são indesejáveis nas áreas residenciais.

Aves – em fazendas eólicas ocorre mortalidade de aves por impacto com as pás

das turbinas, por isso não é recomendável a sua instalação em áreas de migração

de aves, áreas de reprodução e áreas de proteção ambiental.

Interferência eletromagnética – esta acontece quando a turbina eólica é

instalada entre os receptores e transmissores de ondas de rádio, televisão e

microondas. As pás das turbinas podem refletir parte da radiação

eletromagnética em uma direção, tal que a onda refletida interfere no sinal

obtido.

Usina Solar

O Sol representa uma fonte limpa e inesgotável de energia para o nosso planeta.

Essa energia pode ser captada por aquecedores solares, armazenada e convertida

posteriormente em trabalho útil. Uma usina termossolar utiliza concentradores solares

parabólicos que chegam a dezenas de quilômetros de extensão. Nesses coletores solares

parabólicos, a luz refletida pela superfície parabólica espelhada é focalizada em um

receptor em forma de cano e aquece o óleo contido em seu interior a 400 °C. O calor

desse óleo é transferido para a água, vaporizando-a em uma caldeira. O vapor em alta

pressão movimenta uma turbina acoplada a um gerador de energia elétrica.

Um outro exemplo é través de células fotovoltaicas. Quando a luz incide sobre

uma célula fotovoltaica, os fótons que a integram chocam contra os elétrons presentes

nas estruturas de silício, fornecendo-lhes energia. No interior de cada célula, gera-se

assim um fluxo de elétrons, e como as células estão ligadas em série, produz-se corrente

elétrica.

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77

Figura 29 – Usina Solar

Fonte: GUARDIAN, 2012

Impactos ambientais: Os principais impactos ambientais dos geradores eólicos

são a geração de ruídos e a poluição visual devido a seu grande porte, assim como nas

Usinas Eólicas.

Comentários:

Após uma explicação sobre como se produz a energia elétrica em cada tipo de

usina, pergunte aos alunos se ficou clara a semelhança entre elas: como a usina

termelétrica tem o mesmo princípio da nuclear, o que diferencia é somente a forma de

gerar o calor, e que todas elas têm como objetivo girar as turbinas no gerador para a

geração de energia elétrica.

Page 79: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

78

Atividade 10 – Avaliação

A avaliação do nosso produto foi dividida em duas partes, onde foram usadas as

atividades que mais prenderam a atenção dos alunos nas aulas: A explicação da Usina

Hidrelétrica e principalmente a atividade envolvendo a conta de luz do alunos.

Primeira Parte:

De acordo com o que foi abordado em sala de aula explique como é gerada a

energia em uma Usina Hidrelétrica e quais são seus impactos ambientais.

Segunda Parte:

Dada a tabela abaixo preencha a coluna Horas, colocando a quantidade de horas

que cada aparelho fica ligado em média em sua residência, e também a coluna Consumo

(kwh), calculando o consumo de cada aparelho de acordo com os conhecimentos

adquiridos em sala de aula.

Quadro 7 – Lista de aparelhos eletrônicos em uma residência

Aparelho Potência (w) Quantidade Horas Consumo (kwh)

Ferro Elétrico 1100 1 h/mês

Microondas 850 1 h/mês

Lâmpadas 20 4 h/dia

Ventilador 25 2 h/dia

Máquina de Lavar 780 1 h/mês

Geladeira 50 1 h/dia

Televisão 70 1 h/dia

Total - - -

Fonte: Elaborado pelo autor

Sabendo que o valor do kwh é R$ 0,526489 de e que a taxa de iluminação pública

cobrada é de R$ 4,91 , qual é o valor final dessa conta de luz?

Page 80: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

79

Comentários:

Lembrando mais uma vez que essa avaliação foi aplicada em duas turmas de

PROEJA Técnico em Controle Ambiental do IFAC que possui 20 e 27 alunos

respectivamente.

O resultado da avaliação da Turma 01/2011 (20 alunos) foi o seguinte:

02 alunos faltaram a aula no dia da avaliação.

12 alunos acertaram como é gerada a energia em uma Usina Hidrelétrica.

13 alunos acertaram os impactos ambientais causados por essa usina.

15 alunos acertaram a segunda parte da avaliação.

O resultado da avaliação da Turma 01/2012 (27 alunos) foi o seguinte:

0 alunos faltaram a aula no dia da avaliação.

20 alunos acertaram como é gerada a energia em uma Usina Hidrelétrica.

22 alunos acertaram os impactos ambientais causados por essa usina.

23 alunos acertaram a segunda parte da avaliação.

Observando os resultados, podemos notar que houve um percentual bem maior de

acertos e se levarmos em consideração a parte prática dessa avaliação, a segunda parte,

tivemos 83,3 % de acerto na Turma 01/2011 e 85,2 % de acerto na Turma 02/2012, isso

mostra o alto grau de interesse dos alunos quanto aos assuntos de físicas que realmente

podem ajudar no seu dia a dia.

Page 81: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

80

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que o curso de Energia Elétrica que propusemos está na direção

oposta a esse ensino de física, que na maioria das vezes, realiza-se mediante a

apresentação desarticulada e descontextualizada de conceitos, leis e fórmulas,

distanciados da vida do professor e do aluno e, portanto, desprovidos de significado.

Onde se prioriza a teoria e a abstração, e insiste na solução de exercícios repetitivos,

sendo seu aprendizado baseado na automatização ou memorização, e não pela

construção do conhecimento. Procuramos em todas as atividades trabalhar com o ensino

contextualizado, seja partindo de situações reais, como a falta de energia elétrica na

cidade, ou de situações que envolvem consumo e custo de energia, situações

diretamente relacionadas com o cotidiano do aluno.

Este curso foi muito bem aceito pelos os alunos, principalmente nas atividades

voltadas para a parte ambiental, o que era uma grande frustração entre os alunos, já que

o mesmo curso de Controle Ambiental ministrado no ensino médio regular apresentava

um enfoque mais acentuado para essa prática profissional, e na EJA isso era deixado em

segundo plano. A atividade referente à “conta de luz” também teve uma excelente

participação, onde todos queriam entender melhor seus consumos de energia para

poderem economizar. O dinamismo das atividades também foi um fator que motivou os

alunos a estudarem os temas apresentados.

Os alunos obtiveram ótimos resultados na avaliação do curso e pudemos constatar

quais conceitos devem ser melhor trabalhados pelos professores que forem ministrar

este curso. Na apresentação das Usinas Elétricas alguns alunos tiveram um pouco de

dificuldade na apresentação das Usinas Marémotriz e Nuclear, sendo sugerido, se

possível, uma apresentação em vídeo ou animação em flash, como foi feita na atividade

8 na apresentação da Usina Hidrelétrica.

Destacamos que este trabalho é uma proposta de ensino de Energia Elétrica que

visa à formação para a cidadania, na qual trabalhamos questões de energia vivenciadas

pelos alunos no dia-a-dia. Demos ênfase a uma metodologia de ensino voltada à

Page 82: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

81

resolução de situação-problema, através de atividades desenvolvidas pelos alunos dentro

e fora da sala de aula.

Esta metodologia pode ser aplicada em outras áreas da física ou em outras

matérias. Este curso foi proposto para turmas de PROEJA, mas pode ser adaptado ao

ensino médio pois acreditamos que os temas tratados aqui são de interesse de alunos

deste nível de ensino. Na escola em que este curso foi ministrado, outros professores de

outras áreas manifestaram interesse em trabalhar com uma metodologia semelhante à

adotada neste curso. Desta forma, percebemos também uma mudança de postura por

parte do grupo de professores.

O IFAC estava em fase de discussão do projeto pedagógico do curso e o relato

dos resultados obtidos com o curso motivou os professores a mudar o foco de ensino da

EJA. Até então, nesta escola eram usados livros destinados a alunos do ensino médio

nas aulas ministradas aos alunos da EJA. Os professores disseram que não conheciam

livros ou apostilas próprios para a EJA. Isso foi um dos motivos de escolhermos essa

modalidade de ensino para a construção do curso. Esta aceitação por parte do corpo

docente é mais um fator que faz perceber que estamos no rumo certo.

Finalmente, acredito que durante o curso oferecido aos alunos da EJA, em muitos

momentos me senti como aluno e colega deles. Estes alunos trazem consigo uma

experiência de vida que torna o ambiente escolar um lugar muito agradável e

enriquecedor. Com eles aprendi muito e muito tenho ainda a aprender. Esta magia que

envolve uma turma de EJA faz com que nós educadores ainda acreditemos que a escola

pode ser um local de formação da cidadania. As noites que passei junto a estes alunos

foram momentos de aprendizagem para mim. E neste processo, alunos e eu,

vivenciamos momentos ímpares em nossas vidas naquele espaço escolar. Este trabalho

é fruto destes momentos. Acredito que aqui está o resultado do empenho e da dedicação

daqueles alunos. No último dia do módulo fizemos uma reflexão sobre o curso de

Energia Elétrica e todos disseram que o curso mudou a postura e a forma de encarar

certas situações do seu dia-a-dia. Este é o viés que procuramos enquanto formadores

para poder saber se estamos no caminho certo.

Page 83: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

82

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Ensino Médio. Brasília, 2002.

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Page 87: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

86

ANEXOS

ANEXO I

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO ACRE

Esta modalidade de ensino (EJA) teve um extenso e diversificado percurso, que

foi se constituindo através da adoção de práticas cada vez mais voltadas para o

atendimento das necessidades do cidadão no que se refere à formação escolar.

Quando o Acre ainda era Território Federal, já se procurava oferecer às pessoas

com idade fora da faixa etária permitida para frequentar os cursos do sistema

educacional, condições de retomada e continuidade de seus estudos.

Os caminhos trilhados por esta modalidade de ensino revelam uma crescente

busca pela excelência, de modo a possibilitar o acesso de todos à educação, condição

esta assegurada pela própria Constituição brasileira.

O primeiro passo para a efetivação deste direito no Estado foi formalizado através

do Primário Dinâmico, curso equivalente às quatro primeiras séries do ensino

fundamental, com duração de um ano. Os alunos recebiam um fascículo que era

trabalhado no 1º semestre, sendo que, no final desse período, era aplicada uma

avaliação. No 2º semestre, era trabalhado o segundo fascículo e os procedimentos eram

os mesmos do 1º semestre.

No final do ano, após a segunda avaliação, os alunos aprovados poderiam dar

continuidade nos cursos intensivos estabelecidos de acordo com o artigo 91 da Lei

Orgânica do Ensino Secundário (Decreto-Lei nº 4.244, de 09/4/42) que, no seu título

VII, franqueava certificado de licença ginasial, o que corresponde hoje aos anos do

Ensino Fundamental da educação básica, aos maiores de 16 anos, isto somente depois

de frequentarem o curso intensivo assegurado pelo artigo 91 e fazer os Exames de

Madureza, que era o exame final de aprovação do curso, e que constavam de provas

escritas e orais. Na prova oral, os alunos eram submetidos a uma sabatina realizada por

uma banca de professores.

Em 1957, a Lei nº 8531, de 29/10 do referido ano, modifica o artigo 91 da Lei

Orgânica do Ensino Secundário e eleva a idade dos alunos para prestarem exame de

madureza ginasial de 16 para 18 anos, estabelecendo a idade de 20 anos como mínima

para licença colegial, corresponde ao hoje ensino médio da educação básica.

Page 88: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

87

Após essa definição, a Lei 4024/61, em seu artigo 99, autoriza aos maiores de 16

anos o direito de fazer os Exames de Madureza para conclusão do curso ginasial,

considerando, inclusive, estudos realizados fora do regime escolar. A referida Lei

assegura, ainda, aos maiores de 19 anos, obtenção de certificado a nível colegial.

Posteriormente, a Lei 5379/67 cria uma fundação denominada MOBRAL

(Movimento Brasileiro de Alfabetização), cujo objetivo era erradicar o analfabetismo.

Após alguns anos de funcionamento do MOBRAL, sentiu-se a necessidade de

proporcionar aos alunos a continuidade dos estudos, sendo criado para esse fim o PEI

(Programa de Educação Integrada) com equivalência de conteúdos de 1ª a 4ª série, o

qual era desenvolvido em um ano e sua avaliação era feita durante o processo.

Dando continuidade ao atendimento oferecido aos alunos do PEI, em 1970, surgiu

o Projeto Minerva, cujo objetivo era de garantir o ensino aos concludentes do programa

anterior. Este novo curso tinha equivalência de conteúdos do 6o ao 9º ano do Ensino

Fundamental atual. Seu funcionamento era através do rádio, transmitido pela Rádio

Difusora Acreana, em fitas k7 enviadas pela Fundação Roberto Marinho. Em cada sala

de aula havia um rádio sintonizado na Difusora que, em um horário determinado pela

Secretaria de Educação, transmitia o curso para todos os municípios do Estado. Os

conteúdos eram organizados em 13 (treze) fascículos, sendo o de número 13 uma

revisão geral do curso. A avaliação era bimestral. A Fundação Roberto Marinho

elaborava as provas e encaminhava um modelo de cada disciplina para a coordenação

local reproduzir, fazer a distribuição e a aplicação.

Na década de 1980, tem-se o registro do Projeto João da Silva, com equivalência

ao ensino das quatro primeiras séries do ensino fundamental, paralelo ao PEI. Era

oferecido pela SUDHÉVEA (Superintendência de Desenvolvimento da Borracha) em

parceria com a Secretaria Estadual de Educação. O projeto era transmitido através da

emissora de televisão, TV Acre, para todos os municípios produtores de borracha. Em

cada sala de aula, havia um aparelho de televisão sintonizado no canal da TV Acre, em

horário estabelecido pela Secretaria de Educação.

O referido curso tinha duração de um ano letivo, não tinha seriação. A avaliação

final vinha da Fundação Padre Anchieta para a coordenação local, que se

responsabilizava pela aplicação e correção das provas.

Page 89: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

88

Com a extinção da Fundação Educar em 1990, criou-se um enorme vazio em

termos de políticas para a educação de jovens e adultos. Mesmo assim, dos cursos até

então desenvolvidos como projetos, surgiram outros, tais como:

• PEB – Programa de Educação Básica (1993) - Curso com equivalência às

quatro primeiras séries, dividido em duas etapas. A 1ª etapa, no 1º semestre, trabalhava

os conteúdos equivalentes à 1ª e 2ª séries; os alunos aprovados teriam que efetuar novas

matrículas para cursarem a 2ª etapa, em que estudavam os conteúdos equivalentes às 3ª

e 4ª séries. Ao final da referida etapa, se obtivessem a nota exigida para aprovação,

recebiam o certificado de conclusão e faziam matrícula no SPG (Supletivo de Primeiro

Grau), para dar continuidade com os estudos de 6º à 9º ano;

• SPG – Supletivo de 1º Grau - Curso com equivalência de 6º à 9º ano, era

dividido em 3 (três) etapas, com o oferecimento de duas disciplinas em cada uma, e

duração de seis meses, perfazendo uma carga horária total de 1200 (mil e duzentas)

horas. Para ingressar nesse curso, era necessário ter 14 anos completos. A avaliação era

feita bimestralmente. A média de aprovação de uma etapa para outra era de 6 (seis)

pontos, conforme norma estabelecida pela SEE (Secretaria Estadual de Educação). Ao

finalizar a 3ª etapa, e tendo aprovação em todas as disciplinas, com a média final por

disciplina de no mínimo seis, o aluno recebia o certificado de conclusão para ingressar

no 2.º Grau;

• SSG – Supletivo de 2º Grau - Para ingressar no SSG o aluno deveria ter 18

anos completos. O curso tinha uma carga horária total de 1.200 (mil e duzentas) horas,

divididas em 3 (três) etapas, com o número de disciplinas de acordo com suas cargas

horárias. As avaliações eram bimestrais (três bimestres por etapa), e para conseguir

aprovação de uma etapa para outra e conclusão de curso, a média mínima era também 6

(seis) pontos.

•Telecurso de 1.º e 2.º Graus - Cursos de 1º Grau (6º à 9º ano) e Ensino Médio,

respectivamente. Seu funcionamento era organizado através de teleaulas, transmitidas

pela emissora de televisão TV Acre. Utilizava fitas de vídeo VHS, enviadas à

coordenação local da Secretaria de Educação pela Fundação Roberto Marinho,

semanalmente, de onde eram conduzidas para a TV. Nesse curso existiam três recepções

para atendimento:

1ª - Recepção organizada: O aluno fazia sua matrícula na escola, e a freqüência

diária era obrigatória. O curso dividia-se em 3 (três) etapas, compostas pelas disciplinas

Page 90: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

89

de acordo com suas cargas horárias e duração de 6 meses cada uma. A avaliação ocorria

no processo.

2ª - Recepção controlada: O aluno fazia sua matrícula na escola, estudava de

acordo com o seu tempo e só voltava nos dias agendados para fazer as provas, em cada

etapa.

3ª - Recepção livre: Nesse caso, os alunos não faziam matrícula na escola.

Assistiam as teleaulas em qualquer lugar e, quando a SEE oferecia os Exames de

Suplência Geral, esses alunos faziam suas inscrições e se submetiam às provas. Os

aprovados em todas as disciplinas recebiam certificado de conclusão do curso para o

qual haviam sido inscritos, enquanto os que conseguiam aprovação parcial eram

certificados apenas nas disciplinas em que estavam aprovados.

•Projeto Conquista - Correspondia a um Curso de Ensino Fundamental de 6º à

9º ano. Funcionava em 3 (três) etapas de 6 meses cada uma, com as disciplinas

trabalhadas de acordo com suas cargas horárias.

As aulas eram transmitidas via TV Acre, em horário estabelecido pela Secretaria

de Educação. A Fundação Roberto Marinho encaminhava as fitas à coordenação local

na SEE, que se encarregava de enviá-las à TV. Em cada sala de aula era instalado um

aparelho de televisão sintonizado no canal e no horário pré-estabelecido. Após

assistirem a teleaula, professor e alunos davam continuidade à discussão do conteúdo

abordado. A avaliação era feita durante cada etapa, bimestralmente. Os alunos

aprovados numa etapa, para ingressar na etapa seguinte, teriam que mostrar o

comprovante de aprovação ao fazerem nova matrícula.

•Educação de Jovens e Adultos - Fases I e II - Estes cursos eram oferecidos em

nível de 2º à 5º ano e de 6º a 9º ano, respectivamente. As matrizes curriculares eram

vindas do Paraná, em caráter experimental, para serem trabalhadas apenas na zona

urbana de Rio Branco, enquanto na zona rural e demais municípios do Estado,

continuaram sendo ofertados o PEB e SPG.

A Fase I compreendia um Curso com equivalência de 2º à 5º ano, dividia-se em

quatro etapas, cada uma com 300 (trezentas) horas, perfazendo um total de 1.200 (mil e

duzentas) horas. Cada etapa durava 100 (cem) dias letivos, com 3 (três) horas diárias.

No final de cada etapa, quem obtivesse nota e conhecimentos suficientes para

prosseguir na etapa seguinte, apresentaria o comprovante de aprovação da etapa anterior

e faria nova matrícula. A avaliação era bimestral e mais uma final, por etapa.

Page 91: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

90

A Fase II compreendia um curso com equivalência de 6ª à 9ª ano. Tinha uma

carga horária total de 1200 horas, dividida em 4 (quatro) períodos. O 1º período,

equivalente ao 6º ano, com 300 horas; o 2º período, equivalente ao 7º ano, com 300

horas; o 3º período, equivalente ao 8º ano, com 300 horas; e 4º período, equivalente ao

9º ano, com 300 horas. A avaliação era feita observando as mesmas orientações da Fase

I: avaliação bimestral e uma prova final, ao término de cada período.

Além dos cursos presenciais, o Departamento de Ensino Supletivo da Secretaria

de Educação oferecia dois cursos semipresenciais, um de formação integral (1º e 2º

Graus) e outro de formação profissional (Magistério).

• Escola Aberta de 1º e 2º Graus - Estes cursos funcionavam no CES (Centro de

Ensino Supletivo), onde uma equipe de professores que atendia os alunos que

encontravam alguma dificuldade em relação aos conteúdos das disciplinas a serem

estudadas.

Os alunos se inscreviam em um dos cursos, recebiam o módulo inicial, estudavam

de acordo com o tempo disponível e, quando se sentiam preparados, faziam a avaliação.

Se reprovassem, tinham mais duas oportunidades; porém, eram aplicados testes

diferentes. Quando eram aprovados, a nota era lançada na ficha apropriada e recebiam o

livro seguinte. A nota mínima para aprovação era 8 (oito) e as provas já vinham

elaboradas pelo CETEB – Centro Técnico de Brasília.

• Projeto Logos II – Curso de Nível Médio Magistério - Este curso foi trazido

do Centro Técnico de Brasília – CETEB, com a finalidade de atender os professores

leigos em serviço. O professor lotado em sala de aula num turno diferente ao de seu

trabalho estudava e tirava dúvidas no Núcleo com os Orientadores e Supervisores

Docentes (OSD). Por estarem atuando em sala de aula, os professores tinham o estágio

supervisionado na própria sala. A avaliação era aplicada através de provas vindas do

CETEB, em cada módulo, totalizando 203, divididos por disciplina. Ainda existiam,

mensalmente, encontros pedagógicos chamados de micro-ensino. A nota mínima

exigida para aprovação era 8 (oito).

• Logos II de 1º e 2º Graus – Formação Integral - Após o término do Logos II -

Magistério, o CETEB autorizou o Departamento de Ensino Supletivo – DESU do Acre,

que fosse oferecido às pessoas interessadas o direito de fazer o Logos em nível de 1º e

2º Graus – Formação Integral, também através de módulos. A nota mínima para

aprovação também era 8 (oito) pontos, por módulo. A diferença entre Curso de

Page 92: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

91

Formação Integral e Magistério estava em o primeiro não oferecer as disciplinas

específicas do Magistério, o estágio supervisionado e o micro-ensino (encontros

pedagógicos realizados uma vez por mês), comumente aos sábados.

Para acessar o curso de 2º Grau, o educando deveria ter 21 (vinte e um) anos e,

para o ensino de 1º Grau, 18 (dezoito) anos completos. As provas de cada módulo

vinham prontas do CETEB, juntamente com a chave de correção. Ao esgotar o tempo

do projeto Logos II, em nível de Magistério, verificou-se que na zona rural, ainda, havia

um grande número de professores sem habilitação para o Magistério. Após esse

levantamento, a Secretaria de Educação autorizou ao DESU que oferecesse outro curso

equivalente ao Magistério para atender esses professores. A partir desta orientação foi

feito um planejamento para o referido curso.

• HAPRONT - Curso de habilitação para professores não titulados da zona rural.

Esse curso funcionava somente nas férias escolares. O professor ministrante trabalhava

os conteúdos de acordo com a proposta do curso e, como recurso, usava o material do

Logos II - Magistério, além de outros. A avaliação era feita durante o processo, sendo

elaborada pelo professor ministrante.

• PAJA – Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos (1996)- O referido

programa teve início em março de 1996 e tinha como meta alfabetizar 10.000 (dez mil)

alunos durante 2 (dois) anos. Era dividido em 4 (quatro) etapas de 192 (cento e noventa

e duas) horas, sendo que cada etapa tinha a duração de 6 meses. As turmas só poderiam

ter 25 (vinte e cinco) alunos. As aulas aconteciam de 2ª a 5ª feira e a 6ª feira destinava-

se a encontros pedagógicos e de planejamento. A avaliação se dava no final de cada

etapa e era classificatória: só avançava para a etapa seguinte quem obtivesse nota e

conhecimento suficiente para tal.

• Exames de Suplência Profissionalizante - Ainda amparado pela Lei 5.692/71,

o Departamento de Ensino Supletivo oferecia Exames de Suplência Profissionalizante

como: Auxiliar de Enfermagem, Técnico em Enfermagem, Técnico em Contabilidade,

Transações Imobiliárias, Edificações, Eletrônica, Eletrotécnica e Telecomunicações,

laboratórios Médicos, para pessoas engajadas no mercado de trabalho que não tinham a

devida habilitação.

• TC 2000 - Ensino Fundamental e Ensino Médio (1999)- A partir do ano de

1999, algumas mudanças começaram a ser realizadas com o objetivo de ampliar a oferta

da Educação de Jovens e Adultos e garantir maiores oportunidades de escolarização

Page 93: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

92

para jovens e adultos do Estado. A Secretaria de Estado de Educação, em parceria com

o SESI, iniciou um projeto piloto de atendimento em Rio Branco, utilizando a

Metodologia do TC 2000, na qual são previstos livros e aulas associadas em vídeos,

para o desenvolvimento da aprendizagem. Como a experiência teve reflexos positivos,

nos anos seguintes se ampliou os cursos para outros Municípios do Estado,

permanecendo até hoje.

Quando o TC 2000 (Ensino Fundamental) foi implantado, estava estruturado em 3

(três) etapas, de modo que os alunos cursavam todas as disciplinas em um ano e meio,

totalizando uma carga horária de 740 (setecentas e quarenta) horas. Já o Ensino Médio

era oferecido em 4 (quatro) etapas, com duração de dois anos, e carga horária total de

932 (novecentas e trinta e duas) horas. Com a parceria, o acompanhamento pedagógico

e a capacitação dos professores passaram a ser realizados pela equipe técnica do SESI e

a SEE. O TC 2000 adotava a avaliação formativa e contínua, obedecendo ao critério

interno de aplicação de, a cada dez teleaulas, uma avaliação para efeito de registro das

disciplinas que estavam sendo estudadas.

• O Período Pós-1999 a 2006 - Os registros relatados sobre os projetos de

Educação de Jovens e Adultos no Acre revelam as inúmeras tentativas de garantir à

população não escolarizada o direito à educação, estabelecido pela Constituição Federal.

No entanto, a ausência de políticas públicas definidas e defendidas para essa parcela da

população contribuiu para o insucesso de muitas ações já realizadas, de modo que a taxa

de analfabetismo no Estado em 2000 correspondia a 24,55 % da população de 15 anos a

mais de 60 anos.

Para reverter essa situação e levando em conta que “a alfabetização tem também o

papel de promover a participação em atividades sociais, econômicas, políticas e

culturais, além de ser requisito básico para a educação continuada durante toda a vida”

(Declaração de Hamburgo, 1997), o Governo do Estado implantou no ano de 2000, em

parceria com mais de cem organizações da sociedade civil, o Movimento de

Alfabetização de Jovens e Adultos – MOVA, cujo formato era similar a outros MOVA

já em curso no país, atendendo jovens e adultos das áreas urbana e rural, extrativista e

indígena, com duração que variava de 6 (seis) a 8 (oito) meses.

O MOVA Acre fundamentou suas ações nas experiências positivas desenvolvidas

por entidades do setor público e privado, governamentais e não governamentais no

campo da educação, tendo como educador um professor escolhido pela própria

Page 94: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

93

comunidade, o qual conhecia os alunos e desenvolvia o trabalho levando em conta a

realidade dos mesmos. Para atuar no MOVA o professor era submetido a um processo

de capacitação de 16 (dezesseis) horas durante seis dias, além de participar de encontros

pedagógicos mensais.

O sucesso do programa, que promoveu a inclusão de cerca de 40 mil pessoas em

apenas dois anos de funcionamento, impulsionado pelo Plano Nacional de Educação

que estabeleceu em 2001 como meta o desenvolvimento de programas visando a

alfabetizar 10 milhões de jovens e adultos, em cinco anos e, até o final da década,

erradicar o analfabetismo, firmou ainda mais o compromisso do governo estadual no

estabelecimento de uma política de combate ao analfabetismo, na intensificação do

atendimento e na criação de um novo formato de curso que valorizasse aspectos da

cultura regional, assegurando o direito à cidadania para os acreanos que não tiveram

acesso a informações básicas oferecidas pela linguagem escrita.

Para tanto, foi criado o Programa ALFA 100, com carga horária de 10 (dez) horas

semanais, totalizando 240 (duzentas e quarenta) horas em todo o curso que passou a ser

desenvolvido em seis meses. O material pedagógico utilizado foi produzido por

profissionais da Secretaria de Educação - “Caderno da Florestania” para os alunos, e

“Caderno com Orientações Pedagógicas” para os professores - baseados em educação

popular e fundamentados na pedagogia da libertação idealizada por Paulo Freire,

segundo a qual o cidadão constrói a leitura e a escrita, a partir da sua própria realidade.

A implementação do programa ALFA 100 possibilitou o estabelecimento de

parcerias com o Governo Federal, as empresas TIM, Pirelli e Banco do Brasil com o

objetivo de garantir à população assistida melhor atendimento e acompanhamento às

atividades desenvolvidas. O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelos

professores foi realizado por Monitores de Campo através de visitas pedagógicas e pela

equipe técnica do ALFA 100 que orienta, planeja e capacita os professores durante todo

o curso. Segundo a proposta pedagógica do programa a avaliação dos alfabetizandos é

realizada no decorrer do curso, sendo considerado alfabetizado o aluno que, ao final,

venha a escrever um bilhete aplicado pelos Monitores. Desde sua implantação até 2006,

já foram alfabetizados em todo o Estado 66.817 jovens e adultos.

Paralelo às ações de alfabetização e com a crescente demanda para o Ensino

Fundamental da EJA – 1º Segmento, em 2003, foi proposta a reestruturação curricular

para o referido segmento. Essa nova proposta foi elaborada tendo em vista a

Page 95: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

94

importância de se articular os conteúdos estudados com as necessidades dos jovens e

adultos, de assegurar aos egressos do programa de alfabetização a continuidade dos

estudos, bem como a inclusão de todos que foram alijados do sistema em idade regular

e que deixaram de concluir o ensino de 2º ao 5º ano. A carga horária do curso passou

para 600 (seiscentas) horas, conforme Resolução n.º 10/99-CEE, com duração de 10

meses ou 200 (duzentos) dias letivos.

Nesse novo formato, a avaliação passou a ser formativa e cumulativa e os alunos

que não desenvolviam as competências necessárias para cursar o 2º Segmento ficavam

retidos no processo para que, no ano seguinte, dessem continuidade nos estudos.

Completado o ciclo de aprendizagem os alunos retidos eram submetidos aos

Exames Especiais através do CEJA e encaminhados para matrícula no 2º Segmento do

Ensino Fundamental. Outro dado a ser considerado na evolução da história da EJA no

Acre foi a instituição da Gerência Pedagógica de Educação de Jovens e Adultos pela

SEE no ano de 2003 e a constituição de uma equipe técnica multidisciplinar em 2004.

Com a implantação dessa Gerência, a EJA passa a se estabelecer enquanto modalidade

de ensino e a se firmar enquanto política pública no Estado, visando garantir um ensino

de qualidade. Dentre as atividades desenvolvidas pela equipe destacam-se: a

reestruturação do TC 2000 em 2005 através da ampliação da carga horária do Ensino

Fundamental para 900 (novecentas) horas e do Ensino Médio para 1.200 (mil e duzentas

horas; a inclusão das disciplinas Educação Física, Ensino Religioso, Filosofia e

Sociologia nos cursos da EJA; realização de Curso de Formação Continuada para

Professores e Coordenadores da EJA em todo o Estado; ampliação a oferta em escolas e

espaços alternativos localizados na zona rural; incentivo ao trabalho com projetos

culminando com a instituição do “Prêmio EJA: Desafios de um Educador”; contratação

de professores licenciados; elaboração da Proposta Pedagógica e de Referenciais

Curriculares para EJA – Ensino Fundamental e Médio; criação do Fórum Estadual da

Educação de Jovens e Adultos; assessoramento pedagógico aos coordenadores das

escolas e dos Núcleos; intensificação da sistemática de acompanhamento às escolas da

EJA em todo o Estado; fortalecimento das ações de parcerias com as equipes dos

Núcleos; capacitação da equipe técnica da GPEJA para a elaboração de itens; aquisição

de livros didáticos e equipamentos para as escolas; aquisição de kits para os alunos e

kits para os professores da EJA de todo o Estado; atendimento aos jovens internos das

Page 96: educação em energia elétrica – uma proposta didática para eja

95

Casas de Medidas Sócio-Educativas e sistema penitenciário, além da realização anual de

Exames Supletivos Regionalizados e Unificados.

Embora a política de atendimento ao público da Educação de Jovens e Adultos

tenha sido fortalecida nos últimos anos, dados do IBGE/PNAD de 2003 indicavam uma

população de 71.473 jovens e adultos de 15 anos ou mais de idade com menos de quatro

anos de estudo no Acre. Considerando que de 2004 a 2006 foram matriculados no 1º

Segmento da EJA em todo o Estado um total de 38.245 alunos e que no mesmo período

o total de egressos do Programa Alfa 100 é de 32.049, conclui-se que cerca de 65.277

jovens e adultos ainda continuam fora da escola e com baixa escolarização. Tais dados

confirmam a necessidade de se estabelecer parcerias com os governos municipais,

instituições privadas, organizações não-governamentais e toda a sociedade civil, no

sentido de que sejam definidas metas e estratégias para ampliar o direito à educação a

toda a população jovem e adulta do Acre, com garantia de acesso, permanência e

sucesso, esteja ela localizada em áreas rurais ou em áreas urbanas. Contudo, para que a

Educação de Jovens e Adultos continue avançando com qualidade no ensino e

cumprindo com responsabilidade o seu papel de inclusão social, terá que continuar

vencendo desafios como: garantir professores licenciados para turmas rurais localizadas

em áreas mais isoladas, bem como o transporte de alunos; reduzir os índices de evasão

nas turmas da EJA; implementar a proposta pedagógica da EJA em todo o Estado;

articular parcerias com instituições que atuam no campo da educação profissional

visando assegurar o ingresso de alunos da EJA em cursos técnicos e/ou de formação

inicial e continuada; mobilizar a população não escolarizada para matrícula nos cursos

da EJA; produzir material didático para as oficinas de Formação para o Mundo do

Trabalho; intensificar as visitas de acompanhamento/monitoramento às escolas que

ofertam a EJA; prestar assessoramento pedagógico aos professores que lecionam em

turmas da zona rural “in loco”; fortalecer o trabalho na EJA através do desenvolvimento

de projetos, promovendo a capacitação dos professores para sua elaboração; articular

parcerias com instituições de ensino superior para o oferecimento de cursos de

especialização na área de Educação de Jovens e Adultos no formato presencial ou à

distância; desacelerar o processo de matrícula nos Exames Supletivos Regionalizados e

Unificados através da oferta de cursos da EJA na modalidade à distância ou

semipresencial, possibilitando o acesso ao conhecimento e não somente à certificação.

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Os avanços conquistados no decorrer do período de 1999 a 2006 reforçam a

convicção de que “não há sociedades que tenham resolvido seus problemas, sem

equacionar devidamente os problemas de educação e não há países que tenham

encontrado soluções de seus problemas educacionais sem equacionar devida e

simultaneamente a educação de adultos e da alfabetização” (Gadotti, 2001).

Atualmente no estado do Acre o tipo de EJA adotado é o Projovem Urbano

criado em parceria com o governo do Estado visando o atendimento a jovens que

possuem faixa etária de 18 a 29 anos e que, apesar de alfabetizados, não conseguiram

concluir o Ensino Fundamental no tempo certo, o programa foi implantado no ano de

2009, iniciado com uma meta de 1.100 alunos distribuídos nos municípios de Brasileia,

Epitaciolândia, Cruzeiro do Sul e Sena Madureira, ocorrendo à adesão posterior ao

programa dos municípios de Tarauacá, Feijó e Senador Guiomard.

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Anexo II

Figura 30 - Usina Termelétrica Guascor de Cruzeiro do Sul

Fonte: Elaborado pelo Autor

Figura 31: Visita Técnica à Usina Termelétrica Guascor de Cruzeiro do Sul

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Figura 32: Visita Técnica à Usina Termelétrica Guascor de Cruzeiro do Sul

Fonte: Elaborado pelo Autor