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INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA IEP Curso de Pós-graduação Scritu sensu Mestrado Profissional em Educação em Diabetes Andrelle Caroline Bernardes Afonso Educação em Diabetes: Calendário Educativo Um passo seguro na prevenção do pé diabético Belo Horizonte 2014

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INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA – IEP

Curso de Pós-graduação Scritu sensu

Mestrado Profissional em Educação em Diabetes

Andrelle Caroline Bernardes Afonso

Educação em Diabetes: Calendário Educativo

Um passo seguro na prevenção do pé diabético

Belo Horizonte

2014

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Andrelle Caroline Bernardes Afonso

Educação em Diabetes: Calendário Educativo

Um passo seguro na prevenção do pé diabético

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós Graduação Strictu-Sensu do Instituto de

Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo

Horizonte, para obtenção de título de Mestre

em Educação em Diabetes

Orientador: Profª. Drª. Maria Elisabeth

Rennó de Castro Santos

BELO HORIZONTE

2014

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Educação em Diabetes: Calendário Educativo

Um passo seguro na prevenção do pé diabético

Aluna: Andrelle Caroline Bernardes Afonso

Orientador: Profª. Drª. Maria Elisabeth Renno de Castro Santos

_____/_____/_____

Data

BANCA EXAMINADORA

Dr.

Dr.

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Dedicatória

Aos pacientes, por me permitir fazer parte de sua individualidade, que durante todo o

processo levaram a sério o compromisso firmado comigo. Sem vocês este trabalho

jamais seria possível, obrigada pelo respeito e consideração.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, minha maior certeza de que tudo vale pena, pois sei que sempre está ao meu lado, me amparando e segurando minha mão. Ao Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa Belo Horizonte, por ter me acolhido e me permitido explorar minha capacidade de aprendizado; A Dra. Janice Reis Sepúlveda, Coordenadora da Especialização em Educação em Diabetes, por ampliar as minhas oportunidades no campo profissional, bem como aguçar meu intelecto para esta linha de pesquisa. Meu maior aprendizado ao seu lado foi a seriedade e dedicação em tudo que você faz. A minha Mestra Profª. Beth Rennó que me orientou com competência, confiança e respeito. Dedicou parte de seu tempo, e me passou importantes ensinamentos. Esteve do meu lado todo o momento, me dando força e coragem, e também muita calma para que esta caminhada se tornasse a melhor possível. As vezes que me sentia desanimada me encontravam com você e buscava novo fôlego. Professora, obrigada por tudo, eu não poderia estar em melhores mãos. À Secretaria Municipal de Saúde de Sete Lagoas, por permitir que este estudo fosse possível. A Ex-coordenadora da Atenção Primária de Sete Lagoas, Eliane da Costa Melo Badaró, que entendeu a necessidade da realização deste trabalho e que partilhou dos meus objetivos me autorizando realizar a pesquisa. Ao meu colega Daniel Dutra por ser colaborador brilhante e fornecer idéias na criação do calendário. Aos meus queridos amigos do mestrado, que dividiram comigo momentos únicos de aprendizado, trocas de experiência. Sempre prontos a me ajudar, a todos vocês meu carinho e respeito eterno. Obrigado especial para Pauline, amiga da vida inteira, que me estimulou a realizar o mestrado e apoiou durante toda caminhada. À Georgia por ceder sua casa e sempre me receber com tanto carinho. Aos profissionais da ESF Padre Teodoro, em especial às ACS Leka, Ninha, Margô, Jane, Claudinha e Cris por estarem dispostas a colaborar com este estudo e brilhantemente me ajudarem na realização da coleta de dados. Vocês são maravilhosas, presente de Deus na minha vida. Aos meus pais, que dedicaram toda a vida deles para que eu me tornasse alguém melhor. Vocês são meus tesouros e preenchem minha vida de amor. Minhas irmãs Sheila, Thaísa, Helen e Nathália pela confiança e apoio. Aos meus sobrinhos leiéu, Gigi, Davizinho e Letícia, por alegrar minha vida e enchê-la de paz. Ao meu amor, Rô, por toda paciência, incentivo, apoio e dedicação. Você me estimulou a realizar este sonho. Obrigado por estar sempre ao meu lado! TGS Aos meus amigos, colegas de trabalho que participaram comigo da minha busca por esse sonho. À Sueli Lacerda, por entender minha busca e apoiar nos momentos que precisei. E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que este trabalho se tornasse possível, obrigada!

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“Os homens prudentes sabem tirar proveito de todas as suas ações, mesmo daquelas a que são obrigados pela necessidade”

Maquiavel

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RESUMO

Introdução: A prevalência crescente de diabetes no mundo tem tomado mais

espaço na saúde pública, devido suas complicações e os gastos decorrentes de seu

tratamento e acompanhamento. Uma das principais complicações decorrentes desta

patologia é o pé diabético, que contribui expressivamente para o número de

amputações e consequentemente para o afastamento destes indivíduos da

população produtiva. A educação em diabetes desempenha um papel fundamental

na prevenção desta complicação. Objetivo: a implantação de um programa de

educação em diabetes, voltado para o autocuidado com os pés. Metodologia: Foi

elaborado um calendário, em material permanente e barato, com instruções diárias e

semanais para o cuidado com os pés. Para cada atividade relacionada com o

autocuidado o indivíduo marca neste calendário e assim ao final do mês é

contabilizado um escore de acerto, para todas as atividades de auto cuidado. Para

comparação da média de acertos foi utilizado o teste t pareado. Para todos os testes

estatísticos utilizados, foi considerado um nível de significância de 5%. As análises

foram realizadas no software estatístico SPSS (Statistical Package for Social

Science) versão 20.0, 2012. Resultados: Observa-se que o percentual de acerto

tanto para atenção aos calçados, cuidados com os pés e inspeção dos pés, foi

significativa após a intervenção. Nossos resultados também mostram que 95,7% dos

indivíduos responderam que mudaram os seus conhecimentos acerca dos cuidados

com os pés. Para o quesito atenção aos calçados observamos um aumento médio

percentual de 19%. Para o cuidado com os pés o aumento percentual foi de 33% e

para a inspeção com os pés foi de 24%. Houve um aumento da inspeção diária dos

pés de 47,9% para 79,2%, um aumento percentual correspondente a 31,3%. O uso

de chinelos de dedos e sandálias diminui após a intervenção, dos 100% dos

pacientes que usam este tipo de calçado diminuiu para 58,3%. Concluímos que o

uso do calendário PASSO SEGURO é um meio eficiente para promover a

consciência do autocuidado, bem como prevenir lesões em membros inferiores de

pacientes diagnosticados com diabetes.

Palavras chaves: Pé diabético, Calendário, Educação, prevenção

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ABSTRACT

Introduction: The increasing prevalence of diabetes in the world has taken more

space in public health, because its complications and expenses resulting from their

treatment and monitoring. A major complication of this disease is diabetic foot, which

contributes significantly to the number of amputations and consequently for there

moval of these individuals from the productive population. The diabetes education

plays a key role in preventing this complication. Objective: to implement a diabetes

education program, focused on self-care with their feet. Methodology: A calendar

was drawn up in permanent and inexpensive material, with daily and weekly

instructions for foot care. For each activity related to self-care the patient marks in the

calendar and thus, in the end of the month, a score of accuracy is counted, for all

activities of self-care. For comparison of average correct answers the paired test was

used. For all statistical tests, was considered a significance level of 5%. The

analyzes were performed using SPSS software (Statistical Package for Social

Science) version20.0, 2012. Results: It was observed that the percentage of correct

answers for attention on foot wear, foot care and foot inspection was significant after

the intervention. Our results also showed that 95.7% of subjects responded that

using the calendar changed their knowledge of foot care. For the item attention to

foot wear observed a mean percentage increase of 19%. For foot care the

percentage increase was of 33% and for inspection with the feet was 24% .There

was an increase in daily foot inspection from 47.9% to79.2%, a percentage increase

equal to 313%. The use of slippers and flip-flops decreases after the intervention,

100% of patients who use this type of foot wear decreased to 58.3%. We conclude

that the use of the calendar SAFESTE P is an efficient means to promote a wariness

of self-care as well as prevent injuries in the lower limbs of patients diagnosed with

diabetes.

Key words: Diabetic foot, diaries, education, prevention and control

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES E FIGURAS

Figura 01. Patogênese das úlceras diabéticas (pés).................................................21 Figura 02. Diagnostico diferencial de ulceras em pés de pacientes com diabetes....22 Figura 03. Modelo de Classificação de Wagner.........................................................23 Figura 04. Modelo de classificação de Edmonds.......................................................23 Figura 05. Análise da sobrevida de pacientes com diabetes e úlceras nos pés........26 Figura 06. Capacitação da equipe de agentes de saúde...........................................36 Figura 07. Capacitação da equipe de agentes de saúde...........................................36 Figura 08. Capacitação da equipe de agentes de saúde...........................................36 Figura 09. Capacitação da equipe de agentes de saúde...........................................36 Figura 10. Orientação e treinamento para uso do calendário....................................37 Figura 11. Orientação e treinamento para uso do calendário....................................37 Figura 12. Orientação e treinamento para uso do calendário....................................37 Figura 13. Orientação e treinamento para uso do calendário....................................37

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LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01. Distribuição percentual do uso de insulina dos 48 indivíduos analisados...............................................................................................................42 Gráfico 02. Distribuição percentual da frequência de indivíduos segundo avaliação dos pés após o diagnóstico de DM.........................................................42 Gráfico 03. Aumento percentual da variável inspeção diária dos pés....................43 Gráfico 04. Distribuição percentual do uso de calçados (chinelo de dedos e sandálias) entre os pacientes, antes e após a intervenção...................................44 Gráfico 05. Distribuição percentual do tipo de calçado entre os pacientes, antes e após a intervenção...................................................................................................44 Gráfico 06. Distribuição percentual dos indivíduos que relataram ter mudados seus conhecimentos acerca dos cuidados com os pés..........................48 Gráfico 07. Distribuição percentual da frequência do uso do calendário.................................................................................................................48 Gráfico 08. Distribuição percentual dos motivos que levaram ao uso do calendário e a dificuldade em seguir as instruções.............................................49

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01. Características epidemiológicas dos 48 indivíduos analisados...............40 Tabela 02. Análise percentual das respostas referentes aos cuidados com os pés antes e depois da intervenção...................................................................................45 Tabela 03. Análise paramétrica da intervenção em relação ao percentual de acertos para os critérios: atenção aos calçados, cuidados com os pés e inspeção dos pés.....................................................................................................47

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ADA – American Diabetic Association

ACS - Agente Comunitário de Saúde

DM - diabetes mellitus

ESF- Estratégia de Saúde da Família

EUA – Estados Unidos da America

DCNT- Doenças crônicas não transmissíveis

SUS – Sistema Único de Saúde

SPSS –Statistical Package for Social Science

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... Erro! Indicador não definido.

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO: PÉ DIABÉTICO .............................................................................................. 17

2.1 Epidemiologia .............................................................................................................................. 17

2.1 Fisiopatologia .............................................................................................................................. 18

2.3 Implicações para a saúde pública................................................................................................ 24

2.4 Prevenção do pé diabético .......................................................................................................... 27

2.5 Educação em saúde ..................................................................................................................... 28

3 OBJETIVOS .......................................................................................................................................... 31

3.1 Objetivo geral .............................................................................................................................. 31

3.2 Objetivos específicos ................................................................................................................... 31

4 SUJEITOS E METODOS ........................................................................................................................ 32

4.1 Aspectos éticos ............................................................................................................................ 32

4.2 População e local do estudo ....................................................................................................... 32

4.3 Critérios de inclusão e exclusão .................................................................................................. 34

4.4 Materiais ..................................................................................................................................... 34

4.4.1 Instrumento de avaliação (calendário: PASSO SEGURO) ..................................................... 34

4.4.2 Instrumento de coleta de dados .......................................................................................... 35

4.5 Delineamento do estudo e coleta dos dados .............................................................................. 36

4.6 Análise dos dados ....................................................................................................................... 38

5 RESULTADOS ...................................................................................................................................... 39

6 DISCUSSÃO ......................................................................................................................................... 50

7 CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 55

8 LIMITAÇÕES ....................................................................................................................................... 56

9 PROPOSIÇÕES ..................................................................................................................................... 57

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................... 59

APÊNDICES ............................................................................................................................................ 64

APÊNDICE 1. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................................................. 64

APÊNDICE 2 – CÁLCULO AMOSTRAL ................................................................................................. 66

APENDICE 3- CALENDÁRIO EDUCATIVO PASSO SEGURO .................................................................. 67

APENDICE 4- CERTIFICADO DE REGISTRO DO CALENDÁRIO EDUCATIVO PASSO SEGURO ............... 68

APENDICE 5- QUESTIONÁRIO DA PRIMEIRA ENTREVISTA................................................................. 69

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APENDICE 6- QUESTIONÁRIO DA SEGUNDA ENTREVISTA ................................................................ 71

APÊNDICE 7- ARTIGO CIENTÍFICO ...................................................................................................... 73

ANEXOS ................................................................................................................................................. 82

ANEXO 1- APROVAÇÃO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA DO INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA DA

SANTA CASA DE BELO HORIZONTE ................................................................................................... 82

ANEXO 2. FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA EM SERES HUMANOS................................................ 85

ANEXO 3. AUTORIZAÇÃO DO MUNICIPIO ......................................................................................... 86

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1. INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus (DM) é considerado uma das principais doenças crônicas da

atualidade, em virtude de sua grande incidência, prevalência, grande número de

complicações associadas e o aumento da expectativa de vida da população.

(IPONEMA, COSTA 2007).

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (2014) a prevalência média de

diabetes no mundo está em 10% da população, embora muitas regiões, como as

ilhas do Pacífico, esse valor chegue a 33%. A prevalência é bastante heterogênea

em todo o mundo, dados de Portugal estimam a prevalência e 12% (WHO, 2014;

Observatório da Diabetes, 2012). O que se sabe hoje, é que há em todo o mundo

246 milhões de pessoas convivendo com diabetes, de acordo com a Federação

Internacional de Diabetes (IDF) (BRASILSUS, 2014).

As alterações decorrentes das complicações do diabetes são numerosas e podem

comprometer todo o organismo, com mais intensidade naqueles que apresentam a

fase mais avançada da doença. Em relação ao corpo como um todo, destacam-se

os membros inferiores, especialmente os pés nas chamadas vasculopatia e

neuropatia diabéticas (ALVES, 2004).

Para Alves (2004), o pé diabético é uma entidade que representa uma complicação

do DM, caracterizando-se por infecção, ulceração ou destruição dos tecidos

profundos dos pés, associadas a anormalidades neurológicas e vparios graus de

doença vascular periférica nos membros inferiores.

Virgini-Magalhães; Bouskela (2008) afirmam que a cada 30 segundos um membro

inferior é amputado no mundo, e que a diabetes contribui em aproximadamente 70%

destas amputações.

Diante do que foi apresentado, em diversos atendimentos realizados pela

pesquisadora na atenção básica de saúde, o discurso freqüente dos usuários com

diabetes é que não possuíam o hábito de avaliar os pés e não sabiam nem mesmo

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para quê o fariam. Fatos como estes, motivaram a pesquisadora a buscar outras

estratégias que fugiam ao convencional, uma vez que a possível causa da não

realização do autocuidado dos pés poderia ocorrer por desconhecimento.

Baseada na opinião de que apostar na educação como meio fértil para adquirir

determinado propósito e estimular o usuário para o autoconhecimento foi o que a

pesquisadora se pautou como forma propulsora do processo metodológico de

estimulação da reflexão e contemplação do individuo com DM. Neste cenário, o foco

é o usuário como o dono do saber, cabendo-lhe o primeiro passo para busca

incessante do autocuidado e do bem estar.

Neste contexto, trata-se de um grande provocador para a prática dos profissionais

de saúde em realizar tais abordagens e que sejam efetivamente educacionais, de

maneira que sensibilize realmente o usuário em estabelecer o autocuidado como

prática do cotidiano. Nesta perspectiva que a pesquisadora discute se a intervenção

com o calendário educativo é um instrumento efetivo para estimular o usuário a

realizar o autocuidado, e verdadeiramente capaz de aguçar a curiosidade instigada

pelo lúdico, para que possam conhecer mais sobre o assunto. Justifica-se o

desenvolvimento deste estudo mediante as interferências que o indivíduo

diagnosticado com DM sofre com risco contínuo de desenvolver o pé diabético, caso

desconheça as maneiras preventivas. Ao que parece, a intervenção proposta,

através do calendário educativo “Passo Seguro” criado pela pesquisadora, poderá

assim, retardar ou até mesmo minimizar o surgimento das lesões e complicações

nos pés, bem como sensibilizar os usuários quanto à necessidade de realizar o

autocuidado.

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2. REFERÊNCIAL TEÓRICO: PÉ DIABÉTICO

2.1 Epidemiologia

Para Jorge e Dantas (2003), o diabetes encontra-se entre as primeiras causas de

morte em vários países do mundo, e cerca de 20% de todos os usuários com DM

tipo 2 desenvolvem úlceras de membros inferiores em algum momento de suas

vidas.

A cada dez segundos, uma pessoa morre no mundo em consequência das

complicações do diabetes – são 3,2 milhões de mortes por ano. Pelo menos, uma

em cada dez mortes entre adultos de 35 a 64 anos no mundo ocorre devido à

doença (BRASILSUS, 2014).

Segundo a Federação Internacional de Diabetes a maior prevalência do pé diabético

ocorrerá em países em desenvolvimento. No entanto, estudos que apontem a

prevalência específica do pé diabético no Brasil ainda são escassos. No estudo

realizado por Vieira-Santos et al. (2008) em Recife, com uma amostra de 1374

pacientes com diabetes, observou-se uma prevalência de 9% de pé diabético.

A prevalência de pé diabético é bastante variada em todo o mundo. No Reino Unido

é de aproximadamente 7,4%, no Oriente Médio de 5,9%, nos Países Baixos em

torno de 2,1% e nos EUA de 5,8% (WINKLEYet al., 2012). Em um estudo realizado

no Noroeste da Inglaterra mostrou que 5% dos 1000 indivíduos com diabetes

entrevistados já haviam desenvolvido úlceras nos pés em algum momento, sendo

que 67% apresentavam fatores de risco para o seu desenvolvimento. Estudos

europeus apontam que a incidência está em torno de 2%, mas que todos os fatores

de risco estão crescendo muito rapidamente (DUARTE; GONÇALVES, 2011).

A literatura aponta como fatores de risco determinantes no desenvolvimento das

úlceras nos pés o aumento da idade, tempo de doença, gênero, baixo grau de

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instrução, consumo de álcool, uso de tabaco, desnutrição, co-morbidades,

obesidade, alterações no perfil glicêmico e lipídico (MS, 1992; ERIKSSON et al.,

1992; SKYLER, 2002; SOUZA et al., 2003; CORREA et al., 2003; BRASILEIRO et

al., 2005; ATAIDE, 2006).

2.1 Fisiopatologia

Anatomicamente podemos dizer que o pé humano é uma estrutura altamente

especializada, cuja função é o suporte e a locomoção do ser humano. Sua estrutura

contém um conjunto de vários ossos e articulações, que em harmonia permitem a

adaptação a diferentes tipos de superfícies, além de aumentar a sua ação

propulsora. Há também uma rede vascular especializada, constituída de artérias,

veias e vasos linfáticos (IWGDF,2007).

Azevedo, (1997) afirma que o indivíduo com diabetes pode desencadear vários

problemas em todo o corpo, mas em todos os casos estes podem agravar-se em

consequência do mal controle glicêmico. Especialmente as lesões ocasionadas nos

membros inferiores.

O termo pé diabético está associado à ocorrência de infecção, ulcerações e

destruição de tecidos profundos, associados com anormalidades neurológicas e

vários graus de doença vascular periférica, nos membros inferiores (KHATIB, 2006).

Assim, quando é mencionada a síndrome do pé diabético, é importante considerar

sua fisiopatologia, pois esta deve ser relacionada às complicações vasculares,

neuropáticas e aquelas decorrentes de baixas no sistema imune. A maioria das

úlceras de pé é provavelmente de origem neuropática nos países subdesenvolvidos,

isto porque, os dados apontam que 45-60% das úlceras são puramente

neuropáticas, cerca de 10% são puramente isquêmicas e que 25-45% são mistas

(neuro-isquêmicas) (DUARTE; GONÇALVES, 2011).

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Veveset al. (1992) por meio de um aparelho de pedografia óptica, avaliaram 86

pacientes diagnosticados com diabetes, com idade média de 53,3 (intervalo 17-77)

anos, e duração média de diabetes de 17,1 (variação 1-36) anos. Estes pacientes

foram acompanhados por um período de 30 (variação 15-34) meses. Os autores

observaram que a neuropatia clínica estava presente em 58 (67%) dos pacientes e a

ulceração plantar estava presente em 35% dos pacientes diabéticos.

Mateus (2011) afirma que as complicações vasculares são as que desencadeiam

situações mais graves. Isto se deve à microangiopatia, que pode ocasionar

retinopatia, nefropatia, ou neuropatia diabéticas. Em relação à macroangiopatia, as

consequências podem ser doenças coronárias, doenças cérebro-vasculares e

doença vascular periférica manifestada na patologia do pé diabético.

Para American Diabetic Association (ADA; 1999) um dos principais fatores que

causa o pé diabético é a doença vascular de origem aterosclerótica, que é duas

vezes mais comum em pessoas com diabetes, quando comparados em pacientes

sem diabetes. Tal complicação ocorre particularmente na região femoropoplítea e

nas artérias de médio calibre abaixo do joelho. Smeltzer e Bare (2002) confirmam

que a ateroesclerose é responsável por toda a fisiopatologia da obstrução ou

isquemia arterial. As paredes dos vasos sofrem espessamento, esclerose e tornam-

se ocluídas pelas placas, impedindo o fluxo sanguíneo.

As úlceras isquêmicas são provenientes da doença vascular periférica e engloba

pequenos traumas que podem evoluir para ulcerações e infecções, em virtude do

déficit do aporte sanguíneo (IPONEMA, COSTA 2007).

Serra (2001) descreve que a polineuropatia periférica (sensitiva, motora e autônoma)

é derivada da degenerescência dos axônios iniciada em sua parte terminal. Em

muitos usuários com pés diabéticos há hiperperfusão e não isquemia, devido ao

desequilíbrio metabólico característico da doença. A neuropatia está presente em

todos os pés dos usuários com diabéticos, no entanto, às vezes, pode estar

associada aos efeitos da aterosclerose. Quando isolada, caracteriza “pé

neuropático”, a forma mais frequente do pé diabético.

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Outro fator associado à neuropatia diabética é a insuficiência microvascular, devido

à ocorrência de isquemia absoluta ou relativa dos vasos do endoneuro ou epineuro.

Estudos histopatológicos confirmam achados de alteração microvascular e

espessamento da membrana basal, e estudos funcionais demonstram diminuição de

fluxo sanguíneo, aumento da resistência periférica e alterações de permeabilidade

vascular (GAGLIARD, 2003).

Segundo Pecoraro (1990) a neuropatia é o agente causal, ou seja, aquele no qual

há o desencadeamento de todo o processo fisiopatológico, levando à ulceração e à

amputação. Além disso, também é capaz por si só de levar a parestesia dolorosa,

ataxia sensorial e deformidade de Charcot. A detecção e identificação precoce do

processo neuropático oferece uma oportunidade crucial para o paciente com DM de

ativamente procurar o controle glicêmico ótimo e implementar cuidados com o seu

pé antes da morbidade se tornar significante.

As úlceras neuropáticas possuem a etiologia relacionada à neuropatia que

corresponde à úlcera plantar ou mal perfurante e à úlcera por pressão localizada no

dorso do pé (IPONEMA, COSTA 2007). A fisiopatologia das úlceras nos pés de

pacientes com diabetes estão descritas na figura 01, publicada pela Diabetes Care

em 1995. A classificação do tipo de lesão é um fator decisivo para o tratamento,

acompanhamento e tomadas decisões terapêuticas direcionadas.

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Patogênese das úlceras diabéticas (pés)

O diagnóstico diferencial também é importantíssimo para estes pacientes,

fomentando assim, a propedêutica correta para cada caso. Na figura 02 estão

descritas as principais diferenças entre os sinais e sintomas dos tipos de úlceras em

pés de pacientes com diabetes.

Figura 1- Fonte: Patogênese das úlceras diabéticas. Traduzido e adaptado LEVIN. M.E. Prevening

amputation in the patient with diabetes. Diabetes Care, 1995. P.1384

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Diagnostico diferencial de úlceras em pés de pacientes com diabetes

Figura 2- Fonte: Duarte; Gonçalves (2011)

Além das lesões iniciais, as infecções secundárias são de extrema importância no

quadro clinico destes pacientes. Segundo Meirelles e Guimarães (2003), vários

mecanismos alteram a imunidade do paciente, deixando-o mais vulnerável aos

micro-organismos invasores. A hiperglicemia, assim como a acidose, alteram a

capacidade das células fagocitárias (células de defesa) de se movimentarem para os

locais de infecção e reduzem sua atividade antimicrobiana.

Quanto à classificação os dois modelos mais utilizados são o modelo de Wagner e o

modelo de Edmonds, ambos descritos nas figuras 03 e 04

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Modelo de Classificação de Wagner

Figura 3- Fonte: Duarte; Gonçalves, 2011

Modelo de classificação de Edmonds

Figura 4- Fonte: Duarte; Gonçalves, 2011

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2.3 Implicações para a saúde pública

É expressivo o ônus econômico atual do diabetes, representando aproximadamente

98.000 milhões de dólares com custos diretos e indiretos anualmente. Os cuidados

com diabetes são responsáveis por 9% de todas as despesas destinadas para a

área de saúde nos Estados Unidos da America (EUA). A Espanha gasta em média

39,5 milhões de dólares com os tratamentos de úlceras nos pés de pacientes com

DM (DIABETES CARE, 2001). No Brasil, são estimadas 484.400 úlceras baseando

em uma população de 7,12 milhões de indivíduos com DM, sendo que 169.600

serão hospitalizadas e 80.900 realizarão amputações, considerando que 21.700 irão

a óbito. Diante do exposto a SBD, 2014 refere que os gastos anuais serão

equivalentes a 461 milhões de dólares.

Dentre as várias complicações, as amputações são sem dúvida uma das que mais

geram custos para a saúde pública, isto porque além dos custos diretos com o

tratamento, as sequelas deixam os indivíduos incapacitados, e se somam a isto os

enormes prejuízos em decorrência de seu afastamento da parte produtiva da

sociedade. Além disso, dados da América do Norte mostram que entre 9% e 20%

das pessoas com diabetes precisaram ser submetidas a uma segunda amputação,

no decorrer de um ano, e que nos cinco anos seguintes à amputação inicial, de 28%

a 51% dos que sobreviveram precisarão submeter-se a uma segunda intervenção no

mesmo membro (RIEBIER, 1996).

O Pé diabético é uma das complicações mais graves e dispendiosas do DM, sendo

o principal motivo de ocupações dos leitos hospitalares pelos diabéticos. Tal

situação é responsável por cerca de 70% de todas as amputações efetuadas por

causas não traumáticas, sendo que 85% destas amputações são precedidas por

úlcera no pé. Anualmente cerca quatro milhões de diabéticos desenvolvem uma

úlcera no pé. (IWGDF, 2007).

Boultonet al. (2005) apontam que a cada 30 segundos um membro inferior é

amputado como consequência de complicações do diabetes, e segundo Sanches

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(2008) 85% dos casos de amputações de membros inferiores de pacientes com

diabetes foram precedidas por úlceras nos pés que não cicatrizaram.

Úlceras em pacientes com diabetes é uma queixa comum. No entanto a cura é lenta

e incerta, e o prognóstico geral é ruim. Todos os governos afirmam que úlceras nos

pés são onerosas para a saúde publica. No entanto, estimar da carga total sobre as

pessoas e o orçamento final é difícil, porque o cuidado é multiprofissional e o

paciente normalmente convive com outras comorbidades (Van Houtum; Lavery,

1996; Reiberet al., 1998; Ramsey et al., 1999).

A incidência das amputações gira em torno de 27%, mesmo nos centros

especializados em tratamento de pessoas com DM, segundo Armstrong et al.

(1998). Wexleret al. (2006) mostraram ao estudar 909 pacientes com diabetes tipo 2,

que as complicações microvasculares, como as úlceras por pressão, são fortemente

relacionados com a piora da qualidade de vida.

Dado o encargo financeiro significativo do diabetes, os sistemas de saúde estão

buscando cada vez mais meios eficazes e eficientes de assistência ao pacientes

com diabetes.

A educação é o pilar da prevenção das amputações, e isto já se sabe desde 1989,

quando Malone et al. em seu estudo mostraram que a educação levou a uma grande

redução na incidência de úlcera e amputação dentro de um período de 13 meses.

No entanto em 2008, Lincoln et al. (2008) realizaram um estudo randomizado, cego

e controlado para avaliar o papel da educação na prevenção de úlcera em pé de

pacientes com diabetes, após um follow-up de 3, 6 e 12 meses, não observaram

diferenças significativas entre as taxas de incidência de amputações entre os

grupos.

Além disso, a depressão é duas vezes mais comum em pessoas com diabetes que

na população em geral está associada com resultados adversos, como o aumento

da morbidade e mortalidade (WILLIANS ET al., 2011). Winkleyet al. (2012),

analisaram a sobrevida de pacientes com úlcera nos pés, com e sem depressão

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(Figura 05). Observa-se que os pacientes com depressão possuem uma sobrevida

menor e significativa quando comparados com os pacientes sem depressão.

Um estudo analisou então, se a depressão poderia ser um preditor para úlceras nos

pés. Dos 333 pacientes acompanhados por Gonzalez et al. (2010) 63

desenvolveram úlceras nos pés. Estes autores observaram que a depressão foi

significativamente relacionada com o desenvolvimento das primeiras úlceras, mas

não com as recorrentes, e esta relação foi independente de fatores de risco

biológicos. Em sua avaliação final, observaram que a cada aumento de desvio

padrão nos valores dos sintomas de depressão foi significativamente associado com

risco aumentado de desenvolvimento das primeiras úlceras no pé (ODDS 1,68, 95%

CI 1,20-2,35), enquanto que o autocuidado dos pés foi associado com menor risco

(ODDS 0,61, IC 95% 0,40-0,94).

Análise da sobrevida de pacientes com diabetes e úlceras nos pés.

Figura 5- Tracejado escuro: pacientes sem depressão. Tracejado pontilhado: pacientes com

depressão. Fonte: Winkleyet al. (2012)

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2.4 Prevenção do pé diabético

Na prevenção da incidência das úlceras do pé, é fundamental ter alguns aspectos

presentes. Devem-se considerar os fatores de riscos associados, presença de

história prévia de feridas, dores isquêmicas ou de sintomas de neuropatia; exame

positivo para isquemia, idade avançada, tempo do diagnóstico (MATEUS, 2011).

Culleton (2000) afirma sobre a importância de manter o nível glicêmico o mais

normal possível. Este cuidado ajudará a reduzir o surgimento de neuropatia sensitiva

e a manter a função imunológica.

A avaliação dos pés constitui-se passo fundamental na identificação dos fatores de

risco que podem ser modificados, o que, consequentemente, reduzirá o risco de

ulceração e amputação de membros inferiores nas pessoas com diabetes

(MAYFIELD, 1998).

O uso de monofilamento Semmes-Weistein (SW) 5.07 e o biotesiômetro (VPT) são

ferramentas importantes para avaliar a diminuição da sensação protetora, bem como

a ausência parcial ou total do reflexo Aquileu, os quais são sinais precoces de

futuros processos ulcerativos nos pés (CAPUTO et al., 1994; BOULTON, 2004).

Além disso, alterações ósseas e deformidades estruturais como hálux valgo,

pododáctilos em garra, pé plano e pé cavo podem contribuir para uma distribuição

anormal da pressão plantar, favorecendo a formação de calosidades, que por sua

vez podem predispor a ulcerações. Neste contexto, a educação tem como objetivo

sensibilizar, motivar e mudar atitudes da pessoa, fazendo com que esta incorpore a

informação recebida sobre os cuidados com os pés e calçados em seu cotidiano,

reduzindo o risco de ferimento, úlceras e infecção (PEDROSA et al., 1998;

SPOLLET, 1998; OCHOA-VIGO; PACE, 2005).

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2.5. Educação em saúde

Para Oliveira (2002), a educação de pacientes pode ser definida como o

fornecimento de informações a fim de proporcionar habilidades e atitudes que

resultarão num ambiente necessário para se conseguir o desejado sucesso do

tratamento. O processo educacional começa quando o paciente recebe seu

diagnóstico. Nessa ocasião, deve ser informado sobre o que é o diabetes e como

adaptar sua vida à situação de ser uma pessoa com diabetes, como se monitorizar,

sinais e sintomas de hipoglicemia e de hiperglicemia. As informações devem ser

complementadas a cada visita, e o ingresso desse indivíduo em uma associação vai

lhe facilitar a aquisição de conhecimentos pelo contato com outros pacientes com

DM há mais tempo, mais experientes e preferencialmente bem controlados.

Corrobora Bowker (2001) que o atendimento ao paciente diabético deve ser voltado

para a educação, priorizando-a como fator primordial no processo saúde-doença

dessa clientela, bem como a inserção nos programas de saúde voltados para o DM.

Perante o exposto, a educação para o autocuidado em diabetes é reconhecida como

essencial para a obtenção de resultados positivos (Cyrino et al., 2009), tendo em

vista sua efetividade não somente para o controle da doença, mas também para a

prevenção de complicações. O educar para o autocuidado trata-se de um processo

contínuo, que visa facilitar o conhecimento, habilidade e capacidade necessária para

o cuidado do paciente com DM. Este processo busca incorporar as necessidades,

objetivos e experiências de vida da pessoa com diabetes, visando subsidiar a

tomada de decisões cotidianas no que se refere à doença, os comportamentos de

auto atendimento, resolução de problemas e procura da equipe de saúde, além de

melhorar os resultados clínicos, estado de saúde e qualidade de vida (FUNNELL et

al., 2010).

É válido mencionar que para se obter o real entendimento que o usuário com DM

traz consigo sobre a prevenção do pé diabético, é necessário o desenvolvimento do

ouvir o outro. Desta forma o indivíduo saberá os limites de sua abordagem. Para

Freire, (2006) escutar é algo que perpassa a possibilidade auditiva.

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A educação do doente, da família e dos prestadores de cuidados de saúde

desempenha um papel primordial na prevenção. Deve-se considerar que uma lesão

do pé não tratada a tempo gera uma incapacitação permanente no doente. E que a

prevenção e a educação são as pedras basilares na prestação de cuidados ao

indivíduo com DM e com riscos de desenvolver lesões do pé. (MATEUS, 2011)

Steinsbekket al. (2012), realizaram uma metanálise para avaliar a eficácia da

educação em grupo para diabéticos. Esta metanálise continha 21 estudos,

totalizando 2833 participantes selecionados. O perfil dos pacientes selecionados era:

aproximadamente 40% de mulheres, com idade média de 60 anos, apresentavam

em média índice de massa corpórea de 31,6kg/m², tempo de doença em torno de 8

anos, sendo que 82% faziam uso de medicações. Esta metanálise concluiu que não

houve diferença nas taxas de mortalidade, índice de massa corpórea, pressão

sanguínea ou mesmo perfil lipídico após as intervenções educacionais, no entanto

houve melhora significativa nos seguintes itens: perfil de HbA1c após 6 meses para

1883 participantes, após 12 meses para 1503 participantes e após 2 anos para 397

participantes; melhora do nível glicêmico após 1 ano para 690 participantes; melhora

do estilo de vida após 6 meses para 955 participantes e após 2 anos para 355

participantes. Observou-se também melhora psicológica após 6 meses para 326

participantes.

O aumento da prevalência do DM aliado à complexidade de seu tratamento reforça a

necessidade de programas educativos eficazes e viáveis aos serviços públicos de

saúde no sentido de promover o alcance das metas de tratamento. A mudança de

comportamento, como adoção de uma dieta balanceada e da prática de atividades

físicas é essencial para que o controle e o tratamento do indivíduo com DM tenham

êxito e o controle e a prevenção de complicações do diabetes sejam possíveis por

meio de programas educativos. (TORRES, 2010).

A realização de atividades educativas é uma das atribuições dos trabalhadores da

área da saúde que lidam na atenção primária, preconizado por legislação sólida que

visa à prevenção das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Refere

Policarpo, 2005 que são necessárias as capacitações e que os profissionais da

saúde estejam sempre voltados para o processo de educação, e que isso envolva

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desde a abordagem do autocuidado, bem como o monitoramento da manutenção

das ações aprendidas pelo portador de diabetes.

É medida importante a ser tomada pelos profissionais envolvidos, a detecção

precoce dos pacientes em risco eminente de ulcerações dos pés. E para tal, tem-se

que envolver com as práticas de educação propulsora para minimizar o surgimento

das lesões e também tornar o paciente corresponsável pelo seu tratamento e

protagonista das ações de autocuidado.

O atendimento ao indivíduo com DM é realizado por todos profissionais inseridos na

equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF), e utiliza-se como elo ao paciente o

Agente Comunitário de Saúde (ACS), que acolhe as demandas do usuário e repassa

suas necessidades à equipe. É válido ressaltar que se considera importante o

trabalho multidisciplinar como meio propulsor para melhoria da educação do

paciente diabético. Esta dinâmica, cada vez mais presente nas ESF, é um aspecto

central a ser discutido na integralidade da assistência e na sua correlação com o

processo de gestão. Desta forma, os profissionais de saúde buscarão prestar uma

assistência de qualidade para atender as necessidades de atenção à saúde, como o

propósito maior, voltado para a educação.

Diante o exposto, é importante mencionar que o profissional de saúde estabeleça

vínculos com o paciente portador de DM, a fim de estabelecer junto a ele, maneiras

de intervenção precoce para prevenir o pé diabético.

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo geral

Avaliar a eficácia de um modelo de educação em diabetes, por meio de um

instrumento (calendário) para aumentar os conhecimentos relacionados à prevenção

e cuidados com o pé diabético dos usuários inseridos na Estratégia Saúde da

Família.

3.2 Objetivos específicos

Descrever o perfil epidemiológico dos usuários,

Descrever o perfil dos usuários quanto aos cuidados acerca dos pés

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4. SUJEITOS E METODOS

4.1 Aspectos éticos

Conforme a Resolução 466/12 que trata de Pesquisa Envolvendo os Seres

Humanos foram obedecidos os seguintes princípios;

- O presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa

de Belo Horizonte, sendo o parecer aprovado sob o registro CAE

12413713.0.0000.5138, na data de 29 de janeiro de 2014. (ANEXO 1).

- Feito a solicitação para que fosse autorizada a pesquisa com seres humanos.

(ANEXO 2)

- Foi solicitada autorização prévia do Serviço onde a pesquisa foi desenvolvida;

(ANEXO 3)

- Aos participantes da pesquisa foi solicitada a concordância por meio do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, sendo garantido o anonimato e o direito de

desistência em qualquer fase da mesma (APÊNDICE 1)

4.2 População e local do estudo

Foram selecionados aleatoriamente 48 usuários com DM tipo 2, atendidos em uma

unidade de saúde da família da cidade de Sete Lagoas, com população cadastrada

no programa ESF correspondendo a 3656 pessoas, sendo que destas 110 possuem

o diagnóstico DM tipo 2.

Realizado o cálculo amostral (APENDICE 2) para definição do n, seguido os

seguintes passos:

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1- No programa são cadastradas 3586 pessoas e os diabéticos totalizam 110.

Então a porcentagem de diabéticos em relação às pessoas cadastradas no

programa é de 3,1%.

2- Utilizou-se da fórmula

Onde:

n - amostra calculada

N - população

Z - variável normal padronizada associada ao nível de confiança

p - verdadeira probabilidade do evento

e - erro amostral

Erro amostral: é a diferença entre o valor estimado pela pesquisa e o verdadeiro

valor. Em geral esse valor é definido pelo próprio pesquisador. Freqüentemente o

valor definido é 5%.

Nível de confiança: é a probabilidade de que o erro amostral efetivo seja menor do

que o erro amostral admitido pela pesquisa. Freqüentemente o nível de confiança

utilizado nas pesquisas é de 95%.

População: é o número de elementos existentes no universo da pesquisa. Neste

caso são as pessoas cadastradas no programa.

Percentual p: neste caso 3,1% que representa a proporção de interesse

(diabéticos).

Baseado em todas as informações anteriores o tamanho mínimo da amostra é de 46

indivíduos diabéticos. A pesquisadora realizou com 48 usuários com DM tipo 2, pois

os mesmos ao ficarem sabendo da pesquisa, foram pessoalmente fazer pedido para

participarem do estudo.

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Sete Lagoas, município com população estimada de 220.000 habitantes está situada

a 70 km de Belo Horizonte. A comunidade estudada tem condição de vida

socioeconômica variada, mas em sua maioria, a situação financeira não é bem

estruturada e muitas vezes os recursos institucionais de saúde destinados aos

usuários são precários e morosos. Estes indivíduos são usuários do SUS, vivem em

situação precária de vida, higiene e contam apenas com o apoio dos programas

oriundos do governo.

4.3 Critérios de inclusão e exclusão

Inclusão: (1) residir na área de abrangência da unidade de saúde, (2) ter

disponibilidade e aceitação em participar (3) ser portador de diabetes tipo 2.

Exclusão: (1) quaisquer outros tipos de diabetes, (2) gestantes, (3) usuários que

apresentarem debilidade do autocuidado, (4) pacientes que já possuam lesões nos

pés decorrentes do diabetes.

4.4 Materiais

4.4.1 Instrumento de avaliação (calendário: PASSO SEGURO)

Trata-se de um calendário educativo, permanente, confeccionado com material

resistente, durável e prático que foi entregue a cada diabético inserido na pesquisa,

com a finalidade de manuseio do mesmo de forma dinâmica e diária e ao mesmo

tempo levando-o a relembrar as orientações primordiais para o cuidado com os pés,

que estão expostas no calendário de maneira clara, fácil entendimento, priorizando

figuras ilustrativas (APENDICE 03).

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Este calendário contém dias, dias da semana e meses do ano, podendo ser utilizado

por vários anos. A marcação diária é realizada pelo paciente através de imãs em

forma de pezinhos vermelhos. Existem espaços em branco no calendário nos quais

o paciente pode escrever com caneta ou canetinha a numeração dos passos que ele

realizou no dia, caso ele tenha realizado os onze passos, ele pode escrever a

palavra “todos”.

Quando finaliza o mês, ele apaga com papel toalha e álcool e recomeça um novo

mês com calendário limpo. Todos pacientes receberam o calendário e cada passo

foi revisado um a um, para melhor fixação do conhecimento e em seguida o próprio

paciente explicou ao entrevistador, como ele deveria proceder com o calendário e

assim confirmar a compreensão do aprendizado.

Este instrumento foi devidamente certificado e registrado na Biblioteca Pública

Nacional (APENDICE 4).

4.4.2 Instrumento de coleta de dados

Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento, elaborado pela própria

pesquisadora, questionário (APÊNDICE 5) composto por perguntas objetivas e de

fácil entendimento. A aplicação deste foi realizada por meio de entrevista. Para a

aplicação dos instrumentos realizou-se a capacitação dos seis agentes de saúde

envolvidos na pesquisa (FIG 6, FIG 7, FIG 8 e FIG 9). Para tal foi preparado um

curso com duração de três horas, sobre diabetes e o manejo das informações

contidas nos calendários.

Esta capacitação foi realizada nas dependências do serviço de saúde, dentro da

rotina de trabalho das mesmas. Cada agente de saúde ganhou um calendário para

prática e instruções dos pacientes. A pesquisadora acompanhou as primeiras visitas,

para verificar a apreensão do conhecimento das ACS e as seguintes, foram

realizadas sozinhas. Em caso de dúvidas, tanto os usuários quanto as agentes

poderiam estabelecer contato com a pesquisadora quantas vezes necessárias.

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Figura 06. Capacitação da equipe de

agentes de saúde

Figura 07. Capacitação da equipe de

agentes de saúde

Figura 8. Capacitação da equipe de

agentes de saúde

Figura 9. Capacitação da equipe de

agentes de saúde

4.5. Delineamento do estudo e coleta dos dados

A coleta dos dados iniciou-se em fevereiro de 2014 até meados de abril de 2014, e

ocorreu em duas etapas ambas em visita domiciliar. Na primeira visita foi realizada

entrevista para avaliar o conhecimento sem as orientações prévias(APÊNDICE 5),

em seguida foi entregue o calendário e direcionado o modo de utilizá-lo. (FIG 10,

FIG11 e FIG 12). Os pacientes participantes receberam orientações individualizadas

no domicílio, onde foi abordado cada item do calendário. O tempo dedicado à visita

domiciliar variou de 2 às 3h conforme o entendimento de cada um. Importante

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mencionar que após as orientações, cada paciente explicou para a entrevistadora o

que havia compreendido, uma maneira de revisar o conhecimento adquirido e

também uma garantia do aprendizado.

Após o primeiro mês de uso diário, o diabético recebeu a segunda visita, onde foi

aplicada outra entrevista adaptada ao contexto (APÊNDICE 6) com finalidade de

conhecer a dimensão do aprendizado adquirido que foi reforçado com o uso diário

do calendário e também solicitado pelos entrevistadores para conferir o calendário

preenchido e confirmar a afirmação da freqüência do uso do mesmo. (FIG 13).

Figura 10. Orientação e treinamento para

uso do calendário

Figura 11. Orientação e treinamento

para uso do calendário

Figura 12. Orientação e treinamento para

uso do calendário

Figura 13. Comprovação do uso do

calendário.

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4.6. Análise dos dados

Em um primeiro momento, a análise estatística objetivou uma caracterização da

amostra, sendo para isso utilizada medidas descritivas (média e desvio-padrão,

mediana, mínimo e máximo) para as variáveis quantitativas e distribuições de

frequências para as variáveis qualitativas. A amostra foi subdividida em dois

momentos (pré e pós-intervenção – uso do calendário).

Para todos os testes estatísticos utilizados, foi considerado um nível de significância

de 5%. Dessa forma, são consideradas associações estatisticamente significativas

aquelas cujo valor p foi inferior a 0,05.

As variáveis foram testadas em relação ao tipo de distribuição e para as análises

utilizamos a classe dos testes paramétricos, pois a distribuição dos dados seguiu

distribuição Normal.

Após aplicação dos questionários, foi criada uma variável que representa os acertos

e erros referentes a cada pergunta. Sendo assim foram calculadas as porcentagens

de acertos em cada pergunta e comparamos os momentos pré e pós.

Para comparação da proporção de acertos em cada pergunta pré e pós utilizamos o

teste qui-quadrado. Para comparação da média de acertos pre e pós dos blocos

criados foi utilizado o teste t pareado, pois se trata de uma análise em dois

momentos referentes ao mesmo paciente.

As análises foram realizadas no software estatístico SPSS (Statistical Package for

Social Science) versão 20.0, 2012.

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5. RESULTADOS

A presente amostra deste estudo foi composta em sua maioria por pacientes do

gênero feminino 81,3% (39), residentes de área urbana 100% (48), e morando com

a família 91,7% (44). Em relação à maior frequência, foram observados pacientes

com grau de escolaridade primário completo 56,3% (27) seguido de ensino

fundamental 20,8% (10). Por se tratar de uma amostra predominantemente feminina,

observa-se 47,9% (23) tendo como profissão a categoria “do lar”, seguida da

categoria “autônomo”. A maior frequência observada para a variável estado civil foi

58,3% na categoria “casado”. O número de filhos também foi avaliado e a maior

frequência observada foi de 3 filhos 31,3% (15). Demais características encontram-

se na tabela 01.

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Tabela 01. Características epidemiológicas dos 48 indivíduos analisados.

Variáveis Detalhamento n %

Gênero Feminino 39 81,3

Masculino 9 18,8

Residência (como) Sozinho 4 8,3

Em família 44 91,7

Residência (onde) Urbana 48 100,0

Escolaridade Não alfabetizado 1 2,1

Primário completo 27 56,3

Ensino fundamental 10 20,8

Ensino médio completo 4 8,3

Ensino Superior 6 12,5

Profissão Aposentado 10 20,8

Autônomo 7 14,6

Do lar 23 47,9

Porteiro 1 2,1

Motorista 3 6,3

Doméstica 2 4,2

Professor 1 2,1

Lavrador 1 2,1

Estado civil Casado 28 58,3

Viúvo 14 29,2

Separado/divorciado 4 8,3

n: número de pacientes na amostra %: porcentagem.

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Tabela 01. Características epidemiológicas dos 48 indivíduos analisados

(continuação)

Variáveis Detalhamento n %

Estado Civil Solteiro 1 2,1

Outro 1 2,1

Número de Filhos Nenhum 1 2,1

1 5 10,4

2 11 22,9

3 15 31,3

4 8 16,7

5 2 4,2

6 1 2,1

7 1 2,1

8 1 2,1

9 2 4,2

10 1 2,1

Média ± desvio padrão 3,39 ± 1,52

n: número de pacientes na amostra %: porcentagem.

No gráfico 01 podemos observar que 27,1% (13) dos indivíduos fazem uso de

insulina. A distribuição percentual da frequência dos indivíduos que tiveram os pés

avaliados após o diagnóstico de DM está no gráfico 01. A maior frequência

observada 85,4% (41) é de indivíduos que afirmam que nunca tiveram os pés

avaliados após o diagnóstico de DM, abordados no gráfico 02.

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Gráfico 01. Distribuição percentual do uso de insulina dos 48 indivíduos analisados.

Gráfico 02. Distribuição percentual da frequência de indivíduos segundo avaliação

dos pés após o diagnóstico de DM.

Sim27%

Não73%

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

NUNCA 1 VEZ 2 VEZES 3 OU MAIS VEZES

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Por meio do gráfico 03 podemos observar que a inspeção diária dos pés aumentou

de 47,9% (23) para 79,2% (38), um aumento percentual significativo, correspondente

a 31,3% (15).

Gráfico 03. Aumento percentual da variável inspeção diária dos pés.

O uso de chinelos de dedos e sandálias diminui após a intervenção, dos 100% dos

pacientes (48) que usam este tipo de calçado diminuiu para 58,3% (28) (GRAF 04).

A distribuição percentual dos tipos de calçados entre aqueles pacientes que ainda

fazem o uso destes estão descritos no gráfico 05.

47,9

79,2

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Antes depois

%

Porcentagem

P=0,00

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44

Gráfico 04. Distribuição percentual do uso de calçados (chinelo de dedos e

sandálias) entre os pacientes, antes e após a intervenção.

Gráfico 05. Distribuição percentual do tipo de calçado entre os pacientes, antes e

após a intervenção.

As análises referentes aos cuidados com os pés estão descritas na tabela 02.

Podemos observar de forma geral que os cuidados com os pés avaliados por meio

das perguntas abordadas no presente estudo, melhoraram significativamente. O

percentual de procura ao atendimento médico após o aparecimento de uma lesão

nos pés aumentou de 52,1% (25) (antes da intervenção) para 79,2% (38) (após a

intervenção), além disso, podemos observar também que os cuidados como a

0

20

40

60

80

100

120

Antes Depois

72,9

6,3

20,816,7

6,3

33,3

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Chinelos Sandálias Os dois

Antes Depois

Po

rcen

tage

m

Po

rcen

tage

m

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inspeção e palpação diária dos pés tiveram um aumento de 33,3% (16) após a

intervenção.

Tabela 02. Análise percentual das respostas referentes aos cuidados com os pés

antes e depois da intervenção.

VARIÁVEIS ANTES

n %

DEPOIS

n %

P

Se tem dificuldades visuais

alguém inspeciona seus pés

Sim 16 33,3 23 47,9 0,14

Como corta as unhas Quadrada 22 31,9 36 75,0 0,00

Redonda 19 27,5 4 8,3

Mexe nos cantos 24 34,8 8 16,7

Anda descalço Só dentro de

casa

8 16,7 3 6,3 0,06

Não 39 81,3 45 93,8

Em qualquer

lugar

1 2,1 0 0

Testa a temperatura da água

antes de lavar os pé

Sim 28 58,3 36 75,0 0,08

Caso surja qualquer lesão no pé

você procura atendimento de

saúde

Sim 25 52,1 38 79,2 0,05

Usa sapatos apertados Sim 9 18,8 12 25,0 0,45

Como seca os pés

Todo e entre os

dedos

23

47,9

45

93,8

0,00

Todo menos entre

os dedos

17 35,4 3 6,3

Não seco 8 16,7

Teste qui-quadrado

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46

Tabela 02. Análise percentual das respostas referentes aos cuidados com os pés

antes e depois da intervenção. (Continuação)

VARIÁVEIS ANTES DEPOIS p

n % n %

Inspeciona e palpa diariamente

dentro dos sapatos

Sim 24 50,0 40 83,3 0,00

Qual tipo de meias usa

diariamente

Algodão 21 42,0 31 64,6 0,02

Tipo social 7 14,0 17 35,4

Não uso meias

18 36,0 0 0

Outras: 3 6,0 0 0

Outras:Lã 1 2,1 0 0

Outras: Meias de

compressão

2 4,2 0 0

Como utiliza as meias Costuras para fora 5 10,4 34 70,8 0,00

Sem costuras 4 8,3 0 0

Não tem diferença 21 43,8 0 0

Nao uso meias 37,5 18 14 29,2

Aplica óleos e cremes entre os

dedos

Sim 22 45,8 7 14,6 0,00

Você ou outra pessoa retira as

calosidades que surgem nos pés

Sim 16 33,3 6 12,5 0,01

Teste qui-quadrado

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47

Os resultados relacionados à análise paramétrica do percentual de acerto estão

descritos na tabela 03. Observa-se que o percentual de acerto tanto para atenção

aos calçados, cuidados com os pés e inspeção dos pés, foi significativa após a

intervenção.

Tabela 03. Análise paramétrica da intervenção em relação ao percentual de acertos

para os critérios: atenção aos calçados, cuidados com os pés e inspeção dos pés.

Variáveis % Acertos Antes/DP Após/DP p

Atenção aos calçados 40,28+/- 16,78

59,72+/- 22,50

0,000

Cuidado com os pés 53,47 +/- 22,53 80,90 +/- 21,47 0,000

Inspeção dos pés 44,44 +/- 35,29 68,75 +/- 33,27 0,002

Teste paramétrico: Teste t pareado/ DP: Desvio padrão

Observamos por meio do gráfico 06 que 95,7% (45) dos indivíduos responderam

que mudaram os seus conhecimentos acerca dos cuidados com os pés. Destes

95,7% (45), responderam que aprenderam a se cuidar melhor 39,1% (27), e

passaram a se preocupar mais com os pés 56,5% (39).

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Gráfico 06. Distribuição percentual dos indivíduos que relataram ter mudados seus

conhecimentos acerca dos cuidados com os pés.

Em relação ao uso do calendário educativo, observa-se que a maioria 77% (37) o

fez diariamente, seguido do uso semanal 19% ( 9 ) (GRÁFICO 07).

Gráfico 07. Distribuição percentual da frequência do uso do calendário

Os motivos que levaram os pacientes a fazerem o uso do calendário estão

apresentados no gráfico 08. Podemos observar que 29,7% (7) dos pacientes

afirmaram querer aprender mais sobre a própria patologia, 37,5% (9) porque

acharam que era importante para sua saúde, 20,8% (5) o fez porque foi o

Sim Não

Diário77%

Semanal19%

Mensal2%

Não uso2%

4,3%

Nad

mud

oum

udou

mud

ouNA

DA%

%%

95,7%

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recomendado pelos agentes de saúde e 12,5% (3) tiveram dificuldades em seguir o

calendário.

Gráfico 08. Distribuição percentual dos motivos que levaram ao uso do calendário e

a dificuldade em seguir as instruções.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Aprender Importante Teve dificuldade Foi recomendado

29,7

37,5

12,5

20,8

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6. DISCUSSÃO

Este é o primeiro trabalho na literatura a usar o calendário “PASSO SEGURO” para

avaliar o auto cuidado dos diabéticos após um treinamento sobre a importância do

auto cuidado. Programas de educação em diabetes tem sido foco de muitas

pesquisas, pois se sabe que este é o melhor caminho para a prevenção dos agravos

a saúde, particularmente neste grupo de pacientes. Como resultado principal

observou uma grande evolução no autocuidado.

Os resultados em relação à intervenção por meio do calendário foram bastante

significativos. O percentual de condutas acertadas após a intervenção foi

expressivamente maior. Para o quesito atenção aos calçados observamos um

aumento médio percentual de 19% (9). Para o cuidado com os pés o aumento

percentual foi de 33% (16) e para a inspeção com os pés foi de 24% (12).

A utilização de um calendário que funciona não só como um lembrete para que

estes cuidados sejam realizados diariamente, mas que também permite sua

memorização e integração na rotina diária é uma tentativa de reduzir o número de

lesões nos pés, através de um instrumento simples e de fácil compreensão,

provavelmente com melhor aceitabilidade que cartilhas extensas ou impressos com

descrições detalhadas. Assim sendo, o calendário constitui um elemento importante

no cuidado dos pés.

A implementação bem sucedida de alguns programas de prevenção e sua relação

custo-eficácia tem sido já demonstrados. Estudo realizado por Goodarziet al. (2012)

em 81 pacientes com DM tipo 2, no Irã, utilizando mensagens de texto via SMS

sobre alimentação, atividade física e medicação, durante 12 semanas, mostrou que

a educação em diabetes mesmo não presencial, é uma importante ferramenta. Isto

porque os níveis de HbA1c, colesterol, microalbumina, bem como o conhecimento e

o autocuidado melhoram de forma significativa.

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Alguns outros estudos menores, incluindo o estudo FINISH (LINDSTROM;

LOUHERANTA) o estudo Da Qing (chinês) (PAN et al., 1997) e o estudo

denominado Programa Indiano de Prevenção ao Diabetes (IDPP) confirmam que a

prevenção ao diabetes é possível por meio de mudanças no estilo de vida de forma

agressiva em todos os grupos étnicos (RAMACHANDRAN et al., 2006).

O que respalda nossos resultados em relação à melhora no comportamento pode

ser visto também nos resultados relacionados à inspeção diária dos pés, onde

observamos um aumento percentual de 31,3% (15). Houve uma queda de quase

50% (24) no uso de chinelos de dedos e sandálias entre os pacientes.

RagnarsonTennvall; Apelqvist (2001), em seu estudo, observaram 1677 pacientes

com diabetes tipo 2 em relação à prevenção de úlceras nos pés e mortalidade geral.

Estes autores mostraram que boa prevenção de úlceras nos pés, definida de acordo

com o Consenso Internacional de Pé Diabético, diminuiu significativamente o risco

do desenvolvimento de úlceras nos pés, e reduziu em 25% chances de amputações.

No entanto, em nosso trabalho, as questões como andar descalço, usar sapatos

apertados mostraram quedas nos percentuais, mas não de forma significativa. Isto

pode ser explicado em parte, por se tratar de hábitos de vida mais duradoura, ou até

mesmo, baixa condições financeiras para aquisição de calçados adequados. Isto

exige mais tempo e outras intervenções para uma mudança significativa.

Estudo prospectivo, realizado em um hospital de ensino, para avaliar pessoas com

diabetes de alto risco, identificou menor recorrência de ulcerações no grupo que

havia recebido calçados especialmente confeccionados (UCCIOLI et al., 1995).

Outro estudo mostrou também que a recorrência de úlceras e amputações são

menores entre os pacientes que usam calçados terapêuticos e recebem intenso

treinamento educativo (FAGLIA et al., 2005).

Este é um ponto bastante importante, uma vez que Fajardo (2006) aponta os fatores

mecânicos, dentre eles calçado inadequado, caminhar descalço, objetos no interior

dos calçados e grau de atividade como pilares na etiologia das úlceras nos pés.

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Em nosso trabalho observamos um percentual de 85,4% (41) de indivíduos que não

tiveram os pés avaliados após o diagnóstico de diabetes mellitus, mesmo sabendo

que os problemas com os pés representam uma das mais importantes complicações

crônicas do diabetes (VIERA-SANTOS et al., 2008). Após o uso do calendário

observamos que dentre os pacientes que aprenderam a se cuidar melhor, 39% (19)

passaram a se preocupar com os pés.

Embora tenha na literatura estudos mostrando a prevalência crescente de úlceras

em pés de pacientes com diabetes, estudos mostrando a relação entre o diagnóstico

e a avaliação dos pés ainda são escassos. Segundo Macedo (1999) apenas 12%

dos médicos examinam os pés dos diabéticos sem que estes tenham queixas a

apresentar durante a consulta.

Apesar dos avanços obtidos na assistência básica à saúde, as amputações ainda

são muito frequentes nos portadores de diabetes, e na maioria das pessoas (85%),

as amputações dos membros inferiores relacionadas ao diabetes são precedidas de

uma úlcera no pé. Mesmo assim não há um programa nacional de controle mensal

da avaliação (PEDROSA, 2001). Alguns estudos demonstram que estas

amputações poderiam ser reduzidas por ações de prevenção e pela reorganização

dos serviços de vigilância e assistência integral à saúde em todos os níveis de

complexidade do sistema de assistência.

Os hábitos de cortar corretamente as unhas, secar os pés adequadamente,

inspecionar os sapatos e o uso de meias adequadas aumentaram entre os

indivíduos. Elementos básicos na educação incluem: inspeção diária de pés, meias

e calçados; higiene dos pés com água morna e sabonete neutro, evitando deixá-los

em imersão, com orientação de enxugá-los cuidadosamente; remoção de pequenas

calosidades com lixa de papel ou pedra pomes; corte de unhas retas não muito

rentes; uso de creme ou óleo hidratante; calçados apropriados que propiciem

conforto aos dedos, com um mínimo de costuras internas, devendo o forro permitir a

evaporação do suor. Não se devem utilizar produtos químicos para remoção de

calos/verrugas, nem objetos cortantes ou pontiagudos, devido ao perigo de

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provocarem ferimentos na pele (LEVIN, 1996; SOLETTI, 1998; GLOBAL

RESOURSE CENTRE, 2001; FRITSCHI, 2001).

Embora o uso de cremes e óleos hidratantes seja benéfico, e incentivado pelo uso

de calendário, observamos uma queda significativa pelos usuários. Se esta

informação é ruim do ponto de vista que pode propiciar condições para o

aparecimento de úlceras, por outro lado, mostra que o uso do calendário pode

apontar onde os agentes comunitários de saúde e os profissionais de saúde têm que

reforçar suas orientações.

Outro estudo também mostrou redução efetiva de úlceras, após o desenvolvimento

de um programa educativo que durou seis anos. Nesse período, o percentual

acumulado de úlceras no grupo de intervenção foi de 3,1% e no controle, de 31,6%.

O programa se torna eficiente na medida em que é utilizado e observamos que 77%

(37) dos nossos pacientes fizeram o uso diário. Como em qualquer programa de

educação, não foi possível adesão total da maneira para o qual este instrumento foi

criado. O que pode ter contribuído para esse resultado está fundamentado

basicamente nas características socioculturais da população, e, portanto requer

mais estudos.

Dentre os motivos que levaram os pacientes a fazerem uso deste instrumento pode-

se observar que 29,7% (14) querem aprender mais sobre a própria patologia, 37,5%

acharam importante para sua saúde, 20,8% (10) o fez porque foi recomendado pelos

agentes de saúde. O restante 12,5% (3) que tiveram dificuldades em seguir o

calendário referiram às restrições físicas (baixa acuidade visual e motora).

Segundo diretrizes do Ministério da Saúde (2001) o cuidado ao portador de diabetes

deve ser feito dentro de um sistema hierarquizado de assistência, tendo sua base no

nível primário de atenção à saúde, onde se prioriza ações relativamente simples,

mas de grande impacto na redução de seus agravos. Neste contexto medidas que

proporcionem o auto cuidado devem ser incentivadas.

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Revisão de estudos prospectivos sobre intervenções educativas bem estruturadas

identificou melhoria relativa do conhecimento com cuidado dos pés, assim como

mudança de conduta das pessoas com diabetes (CONSENSO INTERNACIONAL,

2001).

Dentre os motivos notórios que justificam a necessidade do diagnóstico precoce não

só do diabetes mellitus, mas como de sua principal complicação, o pé diabético, é

urgente a necessidade de criar a consciência do auto cuidado. É preciso que o

exame minucioso do pé do paciente com diabetes faça parte do exame físico, além

de ações educativas. Assim é imperativo que todos os profissionais de saúde que

trabalham com pessoas com diabetes devem estar habilitados a educar e orientar

estes pacientes.

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7. CONCLUSÃO

Concluímos que a aplicação do modelo de educação em diabetes, por meio do

calendário “PASSO SEGURO” aumenta significativamente os conhecimentos

relacionados à prevenção e cuidados com o pé diabético dos usuários inseridos na

Estratégia Saúde da Família.

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8. LIMITAÇÕES

Uma limitação importante é que grande parte da população com DM não puderam

participar da presente pesquisa, uma vez que o horário de trabalho das agentes de

saúde é o comercial (7h às 17h), o que de fato, impossibilitou o acompanhamento

dos pacientes que também trabalham neste período.

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9. PROPOSIÇÕES

Este estudo tem como proposta, a inserção do instrumento educativo para todo o

município. Diante dos resultados aqui encontrados, dirigiremos a discussão para as

possibilidades e limites no que concerne à implementação da proposta para

melhoria da educação em saúde voltada para busca constante de qualidade nos

serviços de saúde.

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10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias atuais, observa-se a importância do desenvolvimento de estratégias para

abarcar as complicações trazidas pelo diabetes não controlado. É de grande valia

compreender e melhorar o processo de integração do paciente diabético e os

profissionais da saúde, para que seja exercida a promoção e prevenção da saúde.

Através da estratégia de saúde da família, pode-se favorecer, mediante

reformulações em práticas cotidianas, a consolidação de intervenções que atendam

às necessidades dos pacientes com DM 2 com ou sem ulcerações nos pés. Assim

este trabalho propôs uma reflexão sistemática sobre a educação, na luz de uma

nova ferramenta.

Além disso, sabe-se que a redução das complicações nos pés, que conduzem à

amputação, não depende unicamente dos recursos hospitalares, mas sim, da

disponibilidade de medidas preventivas efetivas sobre os cuidados com os pés, bem

como da oferta de programas educativos a toda a comunidade (KUMAR, 1994).

Mostramos aqui, que a intervenção por meio do calendário educativo, fornece

subsídios para as orientações dos profissionais de saúde e educadores em diabetes

em relação aos cuidados pessoais dos pacientes, sendo um importante facilitador na

prática do cuidado.

É importante mencionar que o “Calendário Educativo Passo Seguro”, foi submetido à

Fundação Biblioteca Nacional, para proteção intelectual da obra. (ANEXO 5)

O sucesso de ações educativas em saúde está em desvendar maneiras estratégicas

de transmitir informações à determinada população, com a finalidade de levar aos

pacientes com DM a obterem conhecimentos que facilitarão, no futuro, adaptações e

modificações voluntárias de comportamento que conduzam à saúde e à qualidade

de vida, pois o processo educativo possibilita um maior nível de conhecimento e

promove esclarecimentos sobre a temática

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11 REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

APÊNDICE 1 ENTREVISTA 1

APÊNDICE 1. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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APÊNDICE 2 – CÁLCULO AMOSTRAL

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APENDICE 3- CALENDÁRIO EDUCATIVO PASSO SEGURO

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APENDICE 4- CERTIDÃO DE REGISTRO DO CALENDÁRIO EDUCATIVO PASSO

SEGURO

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APENDICE 5- QUESTIONÁRIO DA PRIMEIRA ENTREVISTA

Educação em Diabetes: Calendário Educativo- Um passo seguro na prevenção

do pé diabético

DADOS PESSOAIS Idade: _____

Data de nascimento ____/____/____

Profissão _______________________

Data da entrevista: ____/____/____ Sexo: ( )feminino ( )masculino

Reside: ( )sozinho ( )família ( )outros

Zona: Urbana ( ) Zona Rural ( )

Situação civil:( )casado ( )viúvo

( )separado/divorciado ( )solteiro ( )outro

Numero de pessoas da família: _____ Numero de filhos:____

ENTREVISTA ESPECÍFICA

1)Usa insulina: ( ) S ( ) N 10) Usa calçados apertados? ( ) S ( ) N

2)Os pés já foram avaliados após

diagnóstico de diabetes? ( ) nunca ( ) 1

vez ( ) 2 vezes

( ) 3 ou mais vezes

11) Como seca os pés?

( ) todo e entre os dedos ( ) todo, só não

seco entre os dedos

3)Realiza inspeção diária dos pés?

( ) S ( ) N Se não por quê?________

12) Usa chinelos de dedos ou sandálias?

( ) S ( ) N Se sim, quais

4)Se tem dificuldades visuais alguém

inspeciona seus pés para você? ( )S ( )

N

13)Inspeciona e palpa diariamente dentro

dos sapatos? ( ) S( ) N

5)Se tem dificuldades visuais alguém

inspeciona seus pés para você?

( ) S ( ) N

14)Qual tipo de meias usa diariamente?

( ) algodão ( ) tipo social ( )Se outras,

quais?

6)Anda descalço?

( ) não ( ) só dentro de casa ( ) em

qualquer lugar

15)Como utiliza as meias?( )costuras

para fora ( ) meias sem costura ( ) não

existe diferença ( ) não uso meias

7)Testa a temperatura da água, antes de

lavar os pés? ( ) S ( ) N

16)Aplica óleos e cremes entre os

dedos?( ) S ( ) N

8)Sabe informar qual a temperatura

adequada da água para lavar os pés? (

)muito quente ( ) quente ( ) morna ( ) fria

17)Você ou outra pessoa retira as

calosidades que surgem nos pés?

( ) S ( ) N ( ) se sim, quem?

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( ) gelado

9)Como corta as unhas? ( ) quadrada

( ) redonda ( ) mexe nos cantos ( ) não

sei

18)Caso surja qualquer lesão no pé você

procura atendimento de saúde? ( ) S

( ) N ( ) não sei

Pesquisadora: Andrelle Caroline Bernardes

Afonso

Colaborador: Daniel Dutra Romualdo da

Siva

Orientadora:Profª Maria Elisabeth Rennó

de Castro Santos

LEGENDA: S= SIM / N =NÃO

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APENDICE 6- QUESTIONÁRIO DA SEGUNDA ENTREVISTA

DADOS PESSOAIS Idade: _____

Data de nascimento ____/____/____

Profissão _______________________

Data da entrevista: ____/____/____ Sexo: ( )feminino ( )masculino

Reside: ( )sozinho ( )família ( )outros

Zona: Urbana ( ) Zona Rural ( )

Situação civil:( )casado ( )viúvo

( )separado/divorciado ( )solteiro ( )outro

Numero de pessoas da família: _____ Numero de filhos:____

ENTREVISTA ESPECÍFICA

1)O que mudou no seu conhecimento, sobre o diabetes e cuidado com pés? Pode marcar mais de 1 opção

( ) aprendi a me cuidar melhor ( ) preocupo

mais com meu pés ( ) nada mudou

12) Usa calçados apertados? ( ) S ( ) N

2)Com que freqüência utilizou o calendário

educativo?

( )diário ( ) semanal ( ) mensal ( ) não utilizei

Por quê?

13) Como seca os pés?

( ) todo e entre os dedos ( ) todo, só não

seco entre os dedos

3)Usa insulina: ( ) S ( ) N 14) Usa chinelos de dedos ou sandálias?

( ) S ( ) N Se sim, quais

4)Os pés já foram avaliados após diagnóstico

de diabetes? ( ) nunca ( ) 1 vez ( ) 2 vezes

( ) 3 ou mais vezes

15)Inspeciona e palpa diariamente dentro

dos sapatos? ( ) S( ) N

5)Realiza inspeção diária dos pés?

( ) S ( ) N Se não por quê?________

16)Qual tipo de meias usa diariamente?

( ) algodão ( ) tipo social ( )Se outras,

quais?

6)Se tem dificuldades visuais alguém

inspeciona seus pés para você? ( )S ( ) N

17)Como utiliza as meias?( )costuras para

fora ( ) meias sem costura ( ) não existe

diferença ( ) não uso meias

7)Se tem dificuldades visuais alguém

inspeciona seus pés para você? ( )S ( ) N

18)Aplica óleos e cremes entre os dedos?(

) S ( ) N

8)Anda descalço? ( ) não ( ) só dentro de

casa ( ) em qualquer lugar

19)Você ou outra pessoa retira as

calosidades que surgem nos pés?

( ) S ( ) N ( ) se sim, quem?

9)Testa a temperatura da água, antes de lavar

os pés? ( ) S ( ) N

20)Caso surja qualquer lesão no pé você

procura atendimento de saúde? ( ) S

( ) N ( ) não sei

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10)Sabe informar qual a temperatura

adequada da água para lavar os pés? ( )muito

quente ( ) quente ( ) morna ( ) fria ( ) gelado

Pesquisadora: Andrelle Caroline Bernardes

Afonso

Colaborador: Daniel Dutra Romualdo da Siva

Orientadora: Profª Maria Elisabeth Rennó de

Castro Santos

11)Como corta as unhas? ( ) quadrada

( ) redonda ( ) mexe nos cantos ( ) não sei

LEGENDA: S= SIM / N =NÃO

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APÊNDICE 7- ARTIGO CIENTÍFICO

Andrelle Caroline Bernardes Afonso*

Daniel Dutra Romualdo da Siva**

Maria Elisabeth Rennó de Castro Santos***

*Mestranda. Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte

Endereço: Rua Júlio Ribeiro, 200 Vila Brasil Tel: 31- 30266525 Email.:

[email protected]

**Mestre. Professor do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo

Horizonte

***Doutora. Professora do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de

Belo Horizonte

RESUMO

Introdução: A prevalência crescente de diabetes no mundo tem tomado mais

espaço na saúde pública, devido suas complicações e os gastos decorrentes

de seu tratamento e acompanhamento. Uma das principais complicações

decorrentes desta patologia é o pé diabético, que contribui expressivamente

para o número de amputações e consequentemente para o afastamento destes

indivíduos da população produtiva. A educação em diabetes desempenha um

papel fundamental na prevenção desta complicação. Objetivo: a implantação

de um programa de educação em diabetes, voltado para o autocuidado com os

pés. Metodologia: Foi elaborado um calendário, em material permanente e

barato, com instruções diárias e semanais para o cuidado com os pés. Para

cada atividade relacionada com ao autocuidado, o indivíduo marca neste

calendário e assim ao final do mês é contabilizado um escore de acerto, para

todas as atividades de auto cuidado. Para comparação da média de acertos foi

utilizado o teste t pareado. Para todos os testes estatísticos utilizados, foi

considerado um nível de significância de 5%. As análises foram realizadas no

software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science) versão 20.0,

2012. Resultados: Observa-se que o percentual de acerto tanto para atenção

aos calçados, cuidados com os pés e inspeção dos pés, foi significativa após a

intervenção. Nossos resultados também mostram que 95,7% dos indivíduos

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responderam que mudaram os seus conhecimentos acerca dos cuidados com

os pés. Para o quesito atenção aos calçados observamos um aumento médio

percentual de 19%. Para o cuidado com os pés o aumento percentual foi de

33% e para a inspeção com os pés foi de 24%. Houve um aumento da

inspeção diária dos pés de 47,9% para 79,2%, um aumento percentual

correspondente a 31,3%. O uso de chinelos de dedos e sandálias diminui após

a intervenção, dos 100% dos pacientes que usam este tipo de calçado diminuiu

para 58,3%. Concluímos que o uso do calendário PASSO SEGURO é um meio

eficiente para promover a consciência do auto cuidado, bem como prevenir

lesões em membros inferiores de pacientes diagnosticados com diabetes.

Palavras chaves: Pé diabético, Calendário, Educação, prevenção

ABSTRACT

Introduction: The increasing prevalence of diabetes in the world has taken

more space in public health, because its complications and expenses resulting

from their treatment and monitoring. A major complication of this disease is

diabetic foot, which contributes significantly to the number of amputations and

consequently for there moval of these individuals from the productive

population. The diabetes education plays a key role in preventing this

complication. Objective: to implement a diabetes education program, focused

on self-care with their feet. Methodology: A calendar was drawn up in

permanent and inexpensive material, with daily and weekly instructions for foot

care. For each activity related to self-care the patient marks in the calendar and

thus, in the end of the month, a score of accuracy is counted, for all activities of

self-care. For comparison of average correct answers the paired test was used.

For all statistical tests, was considered a significance level of 5%. The analyzes

were performed using SPSS software (Statistical Package for Social Science)

version 20.0, 2012. Results: It was observed that the percentage of correct

answers for attention on footwear, foot care and foot inspection was significant

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after the intervention. Our results also showed that95.7% of subjects responded

that using the calendar changed their knowledge of foot care. For the item

attention to foot wear observed a mean percentage increase of19%. For foot

care the percentage increase was of 33% and for inspection with the feet was

24% .There was an increase in daily foot inspection from 47.9% to 79.2%, a

percentage increase equal to 31.3%. The use of slipper sand flip-flops

decreases after the intervention, 100% of patients who use this type of foot

wear decreased to 58.3%. We conclude that the use of the calendar

SAFESTEP is an efficient means to promote awareness of self-care as well as

prevent injuries in the lower limbs of patients diagnosed with diabetes.

Key words: Diabetic foot, Diaries, Education, prevention

Introdução:

O diabetes mellitus (DM) é considerado uma das principais doenças crônicas

da atualidade. Sua prevalência é bastante heterogênea, e as estimativas

revelam que até 2025 serão 350 milhões convivendo com a diabetes em todo o

mundo¹ ². Segundo Duarte; Gonçalves (2011)³ o pé diabético é uma

complicação comum da diabetes. Virgini-Magalhães; Bouskela (2008)4 afirmam

que a cada 30 segundo um membro inferior é amputado no mundo, e que a

diabetes contribui em aproximadamente 70% destas amputações.

Os impactos econômicos decorrentes dos desfechos das úlceras nos pés de

pacientes com diabetes são enormes. Porém estes custos são reduzidos

drasticamente com intervenções para prevenção e tratamento imediato, uma

vez que estratégias direcionadas podem prevenir, diminuir o tempo de

cicatrização das úlceras, detectar precocemente e evitar as amputações5.

Neste contexto, justifica-se o desenvolvimento deste estudo mediante as

interferências que o paciente diagnosticado com diabetes mellitus sofre com

risco contínuo de desenvolver o pé diabético, se desconhecer as maneiras

preventivas. A intervenção educacional, através do calendário educativo criado

pela pesquisadora, poderá assim retardar ou até mesmo eliminar o surgimento

das lesões e complicações. Assim o presente trabalho teve por objetivo avaliar

a eficácia de um modelo de educação em diabetes, por meio de um

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instrumento (calendário: PASSO SEGURO) para aumentar os conhecimentos

relacionados à prevenção e cuidados com o pé diabético dos usuários

inseridos na Estratégia Saúde da Família.

Metodologia:

O presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Santa

Casa de Belo Horizonte, sendo o parecer aprovado sob o registro CAE

12413713.0.0000.5138. Foram selecionados aleatoriamente 48 usuários com

DM2, atendidos em uma unidade de saúde da família da cidade de Sete

Lagoas. O instrumento, calendário educativo é permanente, foi confeccionado

com material resistente, durável e prático e foi entregue a cada diabético

inserido na pesquisa, com a finalidade de manuseio do mesmo de forma

dinâmica e diária e ao mesmo tempo levando-o a relembrar as orientações

primordiais para o cuidado com os pés, que estão expostas no calendário de

maneira clara, fácil entendimento, priorizando figuras ilustrativas.

Este calendário contém dias, meses e dias da semana e pode ser utilizado por

vários anos. Foram marcados diariamente pelo paciente através de imãs em

forma de pezinhos vermelhos. Existem espaços em branco no calendário em

que o paciente pode escrever com caneta ou canetinha a numeração dos

passos que ele realizou no dia, caso ele tenha realizado os onze passos, ele

poderia escrever a palavra “todos”. Quando finaliza o mês, ele apaga com

papel toalha e álcool e recomeça um novo mês com calendário limpo. Todos

pacientes receberam o calendário e cada passo foi revisado um a um, para

melhor fixação do conhecimento e em seguida o próprio paciente explicou ao

entrevistador, como ele deveria proceder com o calendário e assim confirmar a

compreensão do aprendizado

Para todos os testes estatísticos utilizados, foi considerado um nível de

significância de 5%. Dessa forma, são consideradas associações

estatisticamente significativas aquelas cujo valor p foi inferior a 0,05. As

variáveis foram testadas em relação ao tipo de distribuição e para as análises

utilizamos a classe dos testes paramétricos, pois a distribuição dos dados

seguiu distribuição Normal. Após aplicação dos questionários, foi criada uma

variável que representa os acertos e erros referentes a cada pergunta. Sendo

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assim foram calculadas as porcentagens de acertos em cada pergunta e

comparamos os momentos pré e pós. Para comparação da proporção de

acertos em cada pergunta pré e pós utilizamos o teste qui-quadrado.Para

comparação da média de acertos pre e pós dos blocos criados foi utilizado o

teste t pareado,pois se trata de uma análise em dois momentos referentes ao

mesmo paciente.As análises foram realizadas no software estatístico SPSS

(Statistical Package for Social Science) versão 20.0, 2012.

Resultados:

A presente amostra deste estudo foi composta em sua maioria por pacientes

do gênero feminino (81,3%), residentes de área urbana (100%), e morando

com a família (91,7%). Em relação à maior frequência, foram observados

pacientes com grau de escolaridade primário completo (56,3%) seguido de

ensino fundamental (20,8%). Por se tratar de uma amostra predominantemente

feminina, observa-se 47,9% tendo como profissão a categoria do lar, seguida

da categoria autônomo. A maior frequência observada para a variável estado

civil foi 58,3% na categoria casado. O número de filhos também foi avaliado e a

maior frequência observada foi de 3 filhos (31,3%). Demais características

encontram-se na tabela 01. A maior frequência observada (85,4%) de

indivíduos que afirmam que nunca tiveram os pés avaliados após o diagnóstico

de DM. Houve um aumento da inspeção diária dos pés de 47,9% para 79,2%,

um aumento percentual correspondente a 31,3%. O uso de chinelos de dedos

e sandálias diminui após a intervenção, dos 100% dos pacientes que usam

este tipo de calçado diminuiu para 58,3%. O percentual de procura ao

atendimento médico após o aparecimento de uma lesão nos pés aumentou de

52,1% (antes da intervenção) para 79,2% (após a intervenção), além disso,

podemos observar também que cuidados como a inspeção e palpação diária

dos pés tiveram um aumento de 33,3% após a intervenção. Os resultados

relacionados à análise paramétrica do percentual de acerto estão descritos na

tabela 02. Observa-se que o percentual de acerto tanto para atenção aos

calçados, cuidados com os pés e inspeção dos pés, foi significativa após a

intervenção. Nossos resultados também mostram que 95,7% dos indivíduos

responderam que mudaram os seus conhecimentos acerca dos cuidados com

os pés. Destes 95,7%, responderam que aprenderam a se cuidar melhor

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39,1%, e passaram a se preocupar mais com os pés 56,5% (27). Em relação

aos motivos que levaram os pacientes a fazerem o uso do calendário, podemos

observar que 29,7% (7) dos pacientes afirmaram querer aprender mais sobre a

própria patologia, 37,5% (9) porque acharam que era importante para sua

saúde, 20,8 % (5) o fez porque foi o recomendado pelos agentes de saúde e

12,5% (3) tiveram dificuldades em seguir o calendário.

Discussão:

Programas de educação em diabetes tem sido foco de muitas pesquisas, pois

se sabe que este é o melhor caminho para a prevenção dos agravos a saúde,

particularmente neste grupo de pacientes. Os resultados desta pesquisa, em

relação à intervenção por meio do calendário, foram bastante significativos. O

percentual de condutas acertadas após a intervenção foi expressivamente

maior. Para o quesito atenção aos calçados observamos um aumento médio

percentual de 19% (9). Para o cuidado com os pés o aumento percentual foi de

33% e para a inspeção com os pés foi de 24% (12).

A utilização de um calendário que funciona não só como um lembrete para que

estes cuidados sejam realizados diariamente, mas que também permite sua

memorização e integração na rotina diária é uma tentativa de reduzir o número

de lesões nos pés, através de um instrumento simples e de fácil compreensão,

provavelmente com melhor aceitabilidade que cartilhas extensas ou impressos

com descrições detalhadas. Assim sendo, o calendário constitui um elemento

importante no cuidado dos pés. A implementação bem sucedida de alguns

programas de prevenção e sua relação custo-eficácia tem sido já

demonstrados6 7.

O que respalda nossos resultados em relação à melhora no comportamento

pode ser visto também nos resultados relacionados à inspeção diária dos pés,

onde observamos um aumento percentual de 31,3% (15). Houve uma queda de

quase 50% (24) no uso de chinelos de dedos e sandálias entre os pacientes.

No entanto, em nosso trabalho, as questões como, andar descalço, usar

sapatos apertados mostraram quedas nos percentuais, mas não de forma

significativa. Isto pode ser explicado em parte, por se tratar de hábitos de vida

mais duradouros, ou até mesmo condições financeiras para aquisição de

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calçados adequados. Isto exige mais tempo e outras intervenções para uma

mudança significativa.

Estudo prospectivo, realizado em um hospital de ensino, para avaliar pessoas

com diabetes de alto risco, identificou menor recorrência de ulcerações no

grupo que havia recebido calçados especialmente confeccionados8. Em nosso

trabalho observamos um percentual de 85,4% (41) de indivíduos que não

tiveram os pés avaliados após o diagnóstico de diabetes mellitus, mesmo

sabendo que os problemas com os pés representam uma das mais importantes

complicações crônicas dodiabetes9. Após o uso do calendário observamos que

dentre os pacientes que aprenderam a se cuidar melhor, 39% (19) passaram a

se preocupar com os pés.

Embora tenha na literatura estudos mostrando a prevalência crescente de

ulceras em pés de pacientes com diabetes, estudos mostrando a relação entre

o diagnóstico e a avaliação dos pés ainda são escassos. Segundo Macedo

(1999)10apenas 12% (6) dos médicos examinamos pés dos diabéticos sem

estes tenham queixas a apresentar durante a consulta. O programa se torna

eficiente na medida em que se usa e observamos que 77% (37) dos nossos

pacientes fizeram o uso diário. Como em qualquer programa de educação, não

foi possível adesão total da maneira para o qual este instrumento foi criado. O

que pode ter contribuído para esse resultado está fundamentado basicamente

nas características sociocultural da população e, portanto requer mais estudos.

Dentre os motivos que levaram os pacientes a fazerem uso deste instrumento

pode-se observar que 29,7% (7) querem aprender mais sobre a própria

patologia, 37,5% (9) acharam importante para sua saúde, 20,8% (5) o fez

porque foi recomendado pelos agentes de saúde e 12,5% (3) tiveram

dificuldades em seguir o calendário. Estas dificuldades referem-se a restrições

físicas (baixa acuidade visual e motora).

Segundo diretrizes do Ministério da Saúde (2001)11 o cuidado ao portador de

diabetes deve ser feito dentro de um sistema hierarquizado de assistência,

tendo sua base no nível primário de atenção à saúde, onde se prioriza ações

relativamente simples, mas de grande impacto na redução de seus agravos.

Neste contexto medidas que proporcionem o auto cuidado devem ser

incentivadas. Revisão de estudos prospectivos sobre intervenções educativas

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bem estruturadas identificou melhoria relativa do conhecimento com cuidado

dos pés, assim como mudança de conduta das pessoas com diabetes12.

Dentre os motivos notórios que justificam a necessidade do diagnóstico

precoce não só do diabetes mellitus, mas como de sua principal complicação, o

pé diabético, é urgente a necessidade de criar a consciência do auto cuidado.

É preciso que o exame minucioso do pé do paciente com diabetes faça parte

do exame físico, além de ações educativas, assim é imperativo que todos os

profissionais de saúde que trabalham com pessoas com diabetes devem estar

habilitados a educar e orientar estes pacientes. Concluímos que o uso do

calendário PASSO SEGURO é um meio eficiente para promover a consciência

do auto cuidado bem como prevenir lesões em membros inferiores de

pacientes diagnosticados com diabetes.

Referências: 1 Iponema, E. C.; Costa, M.M. Úlceras no pé diabético. In: Feridas- Fundamentos e atualizações em enfermagem. 2ª Ed. São Caetano do Sul, SP: Yendis Editora, 2007. 2 IDF. International Diabetes Federation. 2014. Disponível em: www.idf.org 3 Duarte N.; Gonçalves A. Pé diabetic. Angiologia e Cirurgia Vascular. 7(2), 2011 4 Virgini-Magalhaes, CE.; Bouskela, E. Pé diabético e doença vascular: entre o conhecimento acadêmico e a realidade clínica. ArqBrasEndocrinolMetab, São Paulo , v. 52, n. 7, Oct. 2008 . 5 IWGDF. Diretivas Práticas Sobre o Tratamento e a Prevenção do pé Diabético. International Working Group on the Diabetic Foot. Sociedade Portuguesa de Diabetologia, 2002 6 Goodarzi M. et al. Impact of distance education via mobile phone text messaging on knowledge, attitude, practice and self efficacy of patients with type 2 diabetes mellitus in Iran.Journal of Diabetes & Metabolic Disorders. 11:10, 2012 7 Faglia E, Favales F, Morabito A. New ulceration, new major amputation, and survival rates in diabetic subjects hospitalized for foot ulceration from1990 to 1993.Diabetes Care2001; 24 (1):78-83. 8 Uccioli, L. et al. Manufatured shoes in the prevention of diabetic foot ulcers. Diabete care. 18 (10), 1995.

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9 Vieira-Santos ICR et al. Prevalência de pé diabético e fatores associados nas unidades de saúde da família da cidade do Recife, Pernambuco, Brasil, em 2005, Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(12): 2861-2870, dez, 2008 10 Macedo G. Conduta no pé diabético. In: Endocrinologia Clínica. Rio de Janeiro: Medsi. 1999. 484-89 11 Ministério da Saúde. Estudo multicêntrico sobre a prevalência do diabetes mellitus no Brasil. InfEpidemiolSUS 1992; 1:47-73. 12 Consenso Internacional Sobre Pé Diabético. Brasília: Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. 2001

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ANEXOS

ANEXO 1- APROVAÇÃO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA DO INSTITUTO

DE ENSINO E PESQUISA DA SANTA CASA DE BELO HORIZONTE

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ANEXO 2. FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES

HUMANOS

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ANEXO 3. AUTORIZAÇÃO DO MUNICÍPIO