educaÇÃo e sustentabilidade - oficina de cosmÉticos Á base de palma
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EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: OFICINA DE COSMÉTICOS Á BASE DE PALMA
FORRAGEIRA UMA ALTERNATIVA VIÁVEL NO PROEJA
AUTORA: JACQUELINE MORAIS DA COSTA
CO-AUTORES: LEONARDO ARCANJO DE ANDRADE; MARIA DE FATIMA NASCIMENTO SOUSA
Resumo: O presente artigo trata-se de uma experiência metodológica, baseada na perspectiva do
desenvolvimento sustentável, a partir de uma Oficina de Cosméticos (fabricação de xampu, sabonete sólido e
líquido) à base de palma forrageira, realizada com estudantes de turmas do PROEJA da Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio “Marechal Almeida Barreto”, localizada na cidade de Juazeirinho no sertão da
Paraíba. Essa iniciativa surgiu, partindo da premissa de sustentabilidade e criação de uma proposta inovadora de
ensino que adote uma perspectiva sustentável. A palma forrageira (Opuntia fícus indica mill), cactácea do
semiárido do Nordeste, utilizada principalmente na alimentação animal em época de seca. Na possibilidade de
uma prática sustentável, a palma forrageira é beneficiada e utilizada como matéria prima na fabricação de
cosméticos e outros derivados, devido as suas propriedades, rica em vitaminas e minerais. A utilização da palma
como ativo na produção de cosméticos está sendo muito disseminada pela UEPB, Universidade Estadual da
Paraíba, através de projetos de capacitação. De início os estudantes foram submetidos a um questionário 'pré'
comprovando que 72%, desconhecem que a palma pode ser utilizada na fabricação de cosméticos. Após a
execução da oficina um questionário 'pós' foi aplicado onde 80% acreditam que a fabricação artesanal destes
cosméticos poderia contribuir para a melhoria da renda familiar. Portando, no paradigma da gestão de políticas
ambientais, é proposta a utilização da palma forrageira na formação de cosmético como uma maneira viável de
atividade sustentável.
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Introdução
A palma é uma planta comum na região Nordeste, muito resistente à seca, armazena grande quantidade
de água, e é uma fonte de fibras e vitamina A e C. Seu uso varia desde a alimentação ao gado e humana,
paisagístico e cerca-viva, como para a produção de corante natural, extraído de inseto parasita (TEXEIRA,
1999).
A palma é uma planta que desafia a adversidade de clima árido, solos arenosos, pedregosos, muito
quentes e de escassa fertilidade, dotando-se de notáveis qualidades de resistência e rusticidade que lhe permitem
vegetar sob essa desfavorável condição a qual é sempre associada.
A palma, apesar da sua disseminação e utilização é amplamente utilizada para diversos fins comerciais.
Segundo Galvão (2007), pesquisadores da Centene (Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste) desenvolve
pesquisa quanto à adequação da palma na indústria. Motta (2009) diz, que a palma forrageira pode ser utilizada
como matéria-prima na fabricação de adubo, fertilizantes, medicamento e também na produção de biogás, etanol
e metanol.
A fabricação de cosméticos a partir do broto da palma agrega valor ao produto o que pode trazer
melhoria na renda familiar para os pequenos produtores, já que o produto é rustico e possui facilidade de manejo.
Os cosméticos fabricados a partir da Palma Forrageira torna-se uma excelente opção para a higiene da
família, bem como geração de emprego e renda na fabricação artesanal e industrial, contribuindo para o aumento
da renda familiar e consequentemente a melhoria da qualidade de vida das famílias de baixa renda, oriundas do
semiárido do nordestino, embora sua utilização adequa-se a qualquer região.
No cenário de desenvolvimento de novas alternativas sustentáveis de subsistência, a interação da palma
forrageira no agronegócio é defendida cordialmente pelos consumidores que exigem cada vez mais produtos
autênticos, principalmente regionais. De acordo com Brito (2006), a tendência da utilização da palma na
indústria é seguir em crescimento, até satisfazer as demandas globais, a fim de estabelecer uma prática
“sustentável” na sociedade.
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Partindo dessa premissa, oficinas de fabricação de cosméticos a base de palma forrageira contribuem para
a promoção de atividades sustentáveis, baseado na perspectiva do contexto sociocultural que permeia a busca de
alternativas equiparantes a realidade de uma sociedade.
Referencial Teórico
O PROEJA busca resgatar e reinserir, no sistema escolar regular brasileiro, jovens e adultos que se
encontram afastados do mesmo, devido aos problemas internos e externos à escola, através do acesso à educação
geral e, mais especificamente, ao ensino profissional na perspectiva de uma formação integrada. (BRASIL, -
PROEJA, 2010).
A Educação de Jovens e Adultos, baseada na teoria de Paulo Freire, se refere a uma educação que leva o
educando a refletir e tornar-se um ser autônomo e crítico, que ao final do processo educativo, seja capaz de
transformar sua realidade (SANTOS 2010).
Nesse contexto o programa de alfabetização de jovens e adultos em sua dinâmica de ensino busca trazer a
inclusão social, resgatando os valores humanos que vem a ser uma ação de promoção social utilizando os
aspectos da educação não formal, valorizando os saberes endógenos dos atores sociais (FREIRE, 1987).
Para isso devemos inserir metodologias de ensino que estejam inseridos na vida cotidiana do indivíduo e
que estas atividades tenham sentido real no fazer pedagógico por parte dos professores, os conduzindo a refletir
sobre o futuro.
Cabe aos professores comprometidos com o ensino na sua essência, buscar métodos cotidianizáveis, que
possam favorecer a compreensão de conteúdos, como também a apreensão dos caminhos necessários e viáveis
rumo à sustentabilidade.
Sabemos que a escola é o lugar ideal para mudanças de atitudes, valores, e de ações pedagógicas
dialeticamente visando a totalidade do educando, para transformá-lo e transformar o meio em que vive.
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O desenvolvimento sustentável é aquele que atende ás necessidades do presente sem comprometer as
possibilidades das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades (BRITO, 2006).
De acordo com Neto (2006) a educação é a principal ferramenta no desenvolvimento sustentável pois, na
elaboração de políticas governamentais tornam-se necessários uma reflexão teórica e empírica da relação homem
natureza. O contexto social que cada indivíduo compõe deve ser entendido de maneira socioeducativo bem como
suas obrigações e responsabilidades.
No paradigma da educação atual percebe-se a urgente mudança da maneira de pensar e ensinar em sala de
aula, onde o estudante possa correlacionar sua vida cotidiana com o futuro mais consciente educando para o
futuro.
Mesmo sabendo que unir a educação aos conceitos sustentáveis é um desafio, devemos buscar
referenciais teóricos para isso. Inúmeras pesquisa a cerca da implementação de metodologias que garantam a
promoção e desenvolvimento do homem são postas a tese. A adoção efetiva de práticas como estas na produção
de palma, bem como sua utilização na fabricação de cosméticos é uma alternativa viável no que se refere a
criação de uma atividade sustentável, que garante não só a sobrevivência de quem produz, mais como o resgate a
uma cultura estritamente regional à uma disseminação nacional.
Metodologia:
Este trabalho foi desenvolvido na perspectiva da pesquisa-ação, segundo Gil (2002), essa metodologia se
caracteriza por ser realizada em estreita associação com uma ação ou resolução de um problema coletivo e no
qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo.
A pesquisa foi realizada na Escola Estadual de Ensino fundamental e Médio Marechal Almeida Barreto
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localizada na cidade Juazeirinho no sertão da Paraíba. Para isso foram disponibilizadas 20 (vinte) vagas, para as
oficinas, sendo divididas em duas turmas de 10 (dez) estudantes, destinadas a turmas do 1°,2° e 3° ano do
PROEJA.
A metodologia baseia-se na execução da oficina e na elaboração e aplicação de um questionário 'pré' e
'pós' mediante análise qualitativa dos resultados.
Os materiais necessários para a execução desta atividade foram fornecidos pelo SENAR-Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural em parceria com a FAEPA- Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba e
a UEPB- Universidade Estadual da Paraíba.
A oficina foi ministrada por uma professora pertencente ao corpo docente do Departamento de Química
da UEPB com o auxílio de estudantes voluntários do curso de licenciatura plena em química.
Para iniciar a oficina aplicou-se um questionário (pré), contendo cinco questões de múltipla escolha,
voltado para o interesse dos estudantes na participação da oficina, e conhecimentos pré-existentes a respeito da
utilização da palma forrageira.
Feita a avaliação foram iniciadas as oficinas, sendo ministradas simultaneamente, nas quais foram
seguidos roteiros para a execução do processo com participação dos estudantes na parte prática.
Ao finalizar as oficinas, amostras dos produtos foram entregues aos estudantes participantes.
Por fim, foi aplicado um questionário (pós),contendo cinco questões de múltipla escolha, voltado para a
análise desta atividade como um meio sustentável para a comunidade e a possível importância da atividade
extraclasse na Escola.
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Resultados e Discussões
Mediante a metodologia utilizada no projeto, espera-se ainda a obtenção e aquisição de novas atitudes,
hábitos e um despertar para a conservação dos recursos naturais pautados na melhoria da qualidade de vida da
população local e sem sombra de dúvida valorizar a economia local.
Através da operalização dos resultados podemos destacar os seguintes resultados:
- Para o questionário Pré:
72% dos estudantes afirmam que desconhecem a utilização da palma forrageira como ativo na fabricação
de cosméticos.
59% destacam que a palma naquela região é utilizada apenas como alimentação para o gado.
83% acreditam que atividades como essa tornam as aulas mais dinâmicas e interativas.
- Para o questionário Pós
80% responderam que a fabricação artesanal de cosméticos poderia melhorar a renda das famílias
daquela região.
55% afirmam que usariam os produtos no seu dia a dia.
Diante dos resultados ficou evidente, o desconhecimento da palma com matéria prima na fabricação de
cosméticos, em uma das maiores regiões produtoras de palma do Brasil. O desconhecimento da população dessa
prática se dá pela ausência de divulgação e homogeneização da utilização da palma na fabricação de produtos.
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Além do alto índice de aceitação destes produtos, a fabricação artesanal de cosméticos garante renda que se
beneficia da urgência na busca de atividades sustentáveis de consumo. A palma, como já mencionada, é muito
resistente e sua produção não necessita de muitos custos, portanto, sua utilização pode ser facilmente difundida
como uma possibilidade viável de atividade sustentável, bem como uma ferramenta pedagógica disseminativa.
Considerações finais
Com esse trabalho foi possível verificar que os estudantes ampliaram sua percepção de que cada cidade
tem sua forma de gerar renda e sustento econômico, considerando que as atividades propostas antes da saída de
campo abriram espaço para que eles percebessem a relevância da proposta de se trabalhar como a
sustentabilidade econômica.
Alguns alunos se envolveram de tal forma com as atividades propostas que os conhecimentos construídos
passam a fazer parte de seu cotidiano, por exemplo, alguns já tinham práticas de fazer artesanato (bordado,
pintura de toalhas, confecção de bijuterias entre outros) e retomaram a fazer para revenda. Além disso, muitos se
tornam multiplicadores desses conhecimentos, mostrando que a educação realmente tem feito sentido para eles.
Referencia:
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Programa de Integração da Educação Profissional com a Educação
Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos –
http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf2/proejafundamental_ok.pdf - PROEJA
BRITO, Túlio Dias. Competitividade e sustentabilidade no agronegócio: o caso do óleo de palma.
Dissertação de Mestrado em Agronegócios. DF: Brasília, 2006.
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FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17º ed. Rio de janeiro, Paz e Terra. 1987.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MOTTA, Daniel. Sustentabilidade: o cultivo da palma como fonte de geração de emprego e renda no
município de Juazeirinho-PB. In.: Revista online Normatividade, 2009
NETO, Nagib Anderáos. Educação e sustentabilidade. Disponível em:
www.webartigos.com/articles/831/1/educacao-E-Sustentabilidade/pagina1.html, acesso em 06/06/2011 ás
16h30min.
SANTOS, A. A. M.; BENTO, J. S. A percepção ambiental dos professores e alunos da educação de jovens e
adultos. In: VIII congresso Internacional de Tecnologia na Educação, Olinda - PE. Anais.
TEXEIRAS, Júlio César; et al. Cinética da Digestão Ruminal da palma forrageira (Nopalea cochenillifera (L.)
Lyons-Cactaceae) em Bovinos e Caprinos. In.: Ciênc. e Agrotec, 1999, V.23
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ANEXOS
Oficina na produção de cosméticos na cidade de Juazeirinho-PB, com estudantes do PROEJA.
Materiais produzidos