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Educação e Desigualdade no Brasil * Naércio Aquino Menezes-Filho IBMEC-SP e USP 1 – Introdução A questão da desigualdade sempre esteve presente, com maior ou menor intensidade, entre as questões mais debatidas em economia. Por que o problema da desigualdade desperta tanto atenção entre os economistas? Afinal, não seria mais importante debater as questões relativas ao nível de bem estar dos indivíduos, medido pelo seu consumo, por exemplo, e pelas medidas de pobreza? Por que a diferença entre os níveis de renda auferidos pelos indivíduos de uma sociedade provoca tanto interesse entre os economistas e público em geral? Uma possibilidade é que a sociedade tenha critérios de justiça social que não são plenamente satisfeitos no caso de grande parte da renda nacional estar concentrada nas mãos de uma parcela pequena da sociedade, especialmente se a pobreza é elevada nesta sociedade. Além disto, pode ser que as pessoas realmente estejam mais preocupadas com o nível de bem-estar, mas que a desigualdade gere reações na sociedade que provocam uma diminuição deste bem-estar. Isto pode ocorrer, por exemplo, na forma de uma maior criminalidade, que tende a crescer com a desigualdade, dado o nível de pobreza de uma região. Os indivíduos menos qualificados, ao decidirem sobre o engajamento na criminalidade, comparam o rendimento potencial do trabalho legal com o do trabalho ilegal (crime). O aumento da desigualdade tende a diminuir o primeiro e aumentar o segundo. Freeman (1999) resenha vários estudos que confirmam uma relação positiva entre desigualdade e criminalidade. Além disto, um aumento da desigualdade pode provocar uma diminuição na taxa de crescimento da renda futura, que obviamente vai afetar o bem-estar e a pobreza da sociedade. Aghion et al (1999), por exemplo, argumentam que a desigualdade tende a ter * Este trabalho foi preparado para a coordenação da área social do Projeto Brasil 3 Tempos.

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Educação e Desigualdade no Brasil*

Naércio Aquino Menezes-FilhoIBMEC-SP e USP

1 – Introdução

A questão da desigualdade sempre esteve presente, com maior ou menor

intensidade, entre as questões mais debatidas em economia. Por que o problema da

desigualdade desperta tanto atenção entre os economistas? Afinal, não seria mais

importante debater as questões relativas ao nível de bem estar dos indivíduos, medido pelo

seu consumo, por exemplo, e pelas medidas de pobreza? Por que a diferença entre os níveis

de renda auferidos pelos indivíduos de uma sociedade provoca tanto interesse entre os

economistas e público em geral?

Uma possibilidade é que a sociedade tenha critérios de justiça social que não

são plenamente satisfeitos no caso de grande parte da renda nacional estar concentrada nas

mãos de uma parcela pequena da sociedade, especialmente se a pobreza é elevada nesta

sociedade. Além disto, pode ser que as pessoas realmente estejam mais preocupadas com o

nível de bem-estar, mas que a desigualdade gere reações na sociedade que provocam uma

diminuição deste bem-estar.

Isto pode ocorrer, por exemplo, na forma de uma maior criminalidade, que

tende a crescer com a desigualdade, dado o nível de pobreza de uma região. Os indivíduos

menos qualificados, ao decidirem sobre o engajamento na criminalidade, comparam o

rendimento potencial do trabalho legal com o do trabalho ilegal (crime). O aumento da

desigualdade tende a diminuir o primeiro e aumentar o segundo. Freeman (1999) resenha

vários estudos que confirmam uma relação positiva entre desigualdade e criminalidade.

Além disto, um aumento da desigualdade pode provocar uma diminuição na

taxa de crescimento da renda futura, que obviamente vai afetar o bem-estar e a pobreza da

sociedade. Aghion et al (1999), por exemplo, argumentam que a desigualdade tende a ter

* Este trabalho foi preparado para a coordenação da área social do Projeto Brasil 3 Tempos.

efeitos negativos diretos sobre o crescimento, pois ela reduz oportunidades de investimento

(principalmente em capital humano), piora os incentivos dos emprestadores e gera

volatilidade macroeconômica. Além disto, vários estudos empíricos, na linha de regressões

“cross-country”, encontraram uma relação negativa entre desigualdade e crescimento (ver,

entre outros, Perotti, 1996 e Deininger and Squire, 1999). Quando a literatura estava

caminhando para um consenso, Forbes (2000) apresentou evidências de uma correlação

positiva no curto e médio prazo entre desigualdade e crescimento, de forma que o debate

ainda está em aberto.

Este trabalho se propõe a fazer um diagnóstico sobre a desigualdade de

rendimentos no Brasil. Dada a amplitude de temas possíveis relacionados com

desigualdade, o presente texto vai se concentrar nos determinantes da desigualdade de

rendimentos entre pessoas e entre famílias no Brasil nos últimos 30 anos. Por razões de

espaço, não iremos discutir aqui a distribuição funcional da renda entre capital e trabalho

(ver Lisboa 2001), nem a questão da mensuração da desigualdade (ver Hoffmann, 1998).

Este diagnóstico começará abordando o panorama internacional e depois analisará os

determinantes da desigualdade de renda no Brasil, com ênfase no papel da educação. Na

parte final, as conclusões gerais serão apresentadas.

2 – Panorama Internacional

Depois de um longo período fora do foco das atenções, o debate acerca dos

determinantes da desigualdade ressurgiu de forma intensa na literatura econômica nos

últimos dez anos (Atkinson, 1997) 1. Este aumento no interesse pelo tema adveio do

aumento na dispersão de rendimentos que teve lugar nos Estados Unidos e em vários países

desenvolvidos (ver abaixo).

O debate sobre a desigualdade nos países desenvolvidos tende a seguir uma

estrutura comum. Em primeiro lugar, a força de trabalho de um determinado país é dividida

em grupos, definidos segundo critérios demográficos, educacionais e ocupacionais. Em

seguida, a distribuição de salários é decomposta em diferenças entre grupos (explicada) e

1 No mundo menos desenvolvido a academia sempre se interessou pelo tema (ver abaixo).

dentro dos grupos (residual). Por fim, há uma tentativa de explicar a parcela entre grupos,

seja através das forças de mercado (oferta e demanda) ou através de instituições (sindicatos,

salário mínimo, etc.).

No caso dos estados Unidos, os principais resultados recentes foram resumidos

por Katz e Autor (1999). A diferença entre o 90o. percentil e o 10o. percentil da

distribuição de salários aumentou cerca de 25% entre 1979 e 19952. Este aumento foi

resultado de um aumento da diferença salarial tanto entre grupos (principalmente entre

grupos educacionais) como dentro dos grupos. Houve uma redução no salário real dos

trabalhadores mais jovens e menos educados, mas a ordem de magnitude depende do

deflator escolhido (alguns estudos estimam esta queda em 30%). O aumento na

desigualdade entre indivíduos foi o fator determinante para o aumento na desigualdade de

renda familiar per capita, tanto através de uma maior desigualdade entre os chefes de

família como por um aumento na correlação entre os rendimentos dos chefes e dos não

chefes. Finalmente, a desigualdade no consumo também aumentou no período.

Há na literatura várias tentativas de explicar o comportamento destes

diferenciais entre países e ao longo do tempo, geralmente utilizando o instrumental descrito

no início desta seção, ou seja, Oferta-Demanda-Instituições. Katz e Autor (1999) mostram

que os deslocamentos na oferta de trabalhadores por nível educacional, principalmente na

década de 70, combinados com um aumento secular na demanda por trabalhadores mais

educados têm um poder explicativo elevado para os diferenciais salariais nos Estados

Unidos. Este aumento secular na demanda parece ter sido ocasionado por mudanças

tecnológicas enviesadas para trabalhadores qualificados. Por outro lado, DiNardo et al

(1996) mostram que a evolução do salário mínimo real também teve impacto decisivo na

evolução da desigualdade salarial nos Estados Unidos. Finalmente, Card (1998) mostra que

o declínio da sindicalização nos Estados Unidos pode explicar até 12% do aumento da

desigualdade entre 1973 e 1993.

2 A média salarial real dos diretores-presidentes das maiores empresas americanas aumentou 140% entre 1982e 1994, comparada com um aumento de 7% na economia como um todo. O salário médio real dos jogadoresde basebol e basquetebol nos EUA aumentou 207% e 378% respectivamente, no mesmo período.

A tabela 1 mostra a evolução da desigualdade para vários países da OCDE3. A

desigualdade aumentou na grande maioria dos países, com exceção da Alemanha e da

Noruega. Os maiores aumentos ocorreram nos Estados Unidos e Inglaterra e, enquanto

Itália e Nova Zelândia tiveram aumentos significativos, os demais países apresentaram

elevações de pequena magnitude em termos relativos. É interessante notar que só houve

diminuição da desigualdade na Alemanha e Noruega.

Tabela 1- Dispersão Salarial em vários países do OCDE

País 1979 1984 1989 1994 Final-inicial

Austrália 1,01 1,01 1,03 1,08 0,07

Áustria 0,97 - 1,00 - 0,03

Canadá 1,24 1,39 1,38 1,33 0,09

Finlândia 0,89 0,92 0,96 0,93 0,04

França 1,22 1,20 1,25 1,23 0,01

Alemanha - 0,87 0,83 0,81 -0,06

Itália 0,83 0,83 0,77 0,97 0,14

Japão 0,95 1,02 1,05 1,02 0,07

Holanda - 0,92 0,96 0,95 0,03

Nova Zelândia - 1,00 1,12 1,15 0,15

Noruega 0,72 0,72 0,77 0,68 -0,04

Suécia 0,75 0,71 0,77 0,79 0,04

Reino Unido 0,90 1,02 1,12 1,17 0,27

EUA 1,16 1,30 1,38 1,45 0,29

Fonte: OCDE (1996) – Logaritmo da razão entre o 90o e o 10o Percentil da Distribuiçãode Salários Blau e Kahn (1999) desenvolvem um instrumental analítico para identificar o

efeito das diferenças institucionais entre os países na desigualdade, aproveitando a grande

variação institucional existente entre países com níveis similares de educação, padrão de

vida e desenvolvimento tecnológico. A conclusão principal é que a barganha centralizada

3 Uma razão igual a 1 significa que o 90o percentil é aproximadamente 2,7 vezes maior que o 10o. A últimacoluna pode ser vista como uma variação percentual.

entre sindicados, empresas e governo conduz a uma menor dispersão de salários,

principalmente na parte inferior da distribuição de salários. Além disto, Murphy et al

(1998) argumentam que movimentos na oferta e demanda por educação podem explicar

toda a diferença existente entre o comportamento dos diferenciais de salários nos Estados

Unidos e Canadá. Enfim, parece que a combinação oferta-demanda-instituições é

novamente necessária para que se possa entender o comportamento da desigualdade nos

países da OCDE.

3 – Evolução da Desigualdade de Renda no Brasil

Um dos primeiros estudos a destacar a alta desigualdade de renda

prevalecente no Brasil e seus efeitos sobre o crescimento econômico foi o de Furtado

(1968). Logo em seguida, o estudo de Duarte e Hoffmann (1972) documentou o aumento

da desigualdade entre 1960 e 1970, baseado em estudos anteriores dos dois autores4. Em

seguida, Fishlow (1972) e Langoni (1973) debateram as causas do aumento da

desigualdade entre 1960 e 1970.

Combinando os dados de Langoni (1973) com os de Bonelli e Ramos (1995)

e Hoffmann (2001), é possível acompanhar a evolução da parcela da renda apropriada pelos

vários segmentos da força de trabalho, como mostra a figura 1. A figura mostra que houve

um grande processo de concentração de renda entre 1960 e 1970, com um aumento da

parcela da renda apropriada pelos 10% situados nos topo da distribuição e uma diminuição

da parcela destinada aos 40% inferiores. A desigualdade parece ter permanecido

basicamente constante na década de 70, seguindo-se um novo processo concentrador de

renda na década de 80 e uma forte tendência igualitária na década de 90. A evolução do

coeficiente de Gini, indicada na tabela 2, indica um aumento continuado da desigualdade

entre 1960 e 1990 e uma diminuição na década de 90, quase retornando aos níveis

encontrados em 1970.

4 Hoffmann (1971) analisou o censo de 1960 e Duarte (1971) analisou o censo de 1970.

Fonte Langoni (1973), Bonelli e Ramos (1995) e Hoffmann (2001). 1960 e 1970 (censo), 1979 , 1980 e 1999

(pnads). Pessoas economicamente ativas com rendimentos não nulos.

Tabela 2 – Desigualdade de Renda Individual ao Longo do Tempo

Medida 1960 1970 1979 1990 2002

Gini 0,500 0,568 0,580 0,615 0,57

Fonte Langoni (1973), Bonelli e Ramos (1995) e Hoffmann (2001). 1960 e 1970 (censo), 1979 , 1980 e 2002

(pnads). Pessoas economicamente ativas com rendimentos não nulos.

Tabela 3 – Desigualdade de Renda Familiar per Capita ao Longo do Tempo

Medida 1977 1982 1989 1992 2002

Gini 0,62 0,60 0,64 0,58 0,59

Fonte Barros et al (2000b) e Hoffmann (2001). Fonte: Pnads.. Pessoas de domicílios particulares ordenadas

conforme seu rendimento familiar per capita.

No caso da renda familiar per capita, que reflete mais acuradamente o nível de

bem-estar dos indivíduos, não existem evidências sobre desigualdade para o período

anterior a 1977, ano da primeira Pnad. Entre 1977 e 2002, as evidências disponíveis

mostram um comportamento cíclico acentuado da desigualdade (tabela 3) , caracterizado

por uma queda entre 1977 e 1982, um aumento na década de 80, uma redução acentuada

Figura 1 - Desigualdade ao Longo do Tempo

0

10

20

30

40

50

60

1960 1970 1979 1990 2002

40% inferiores 10% superiores

entre 1989 e 1992 e um ligeiro aumento entre 1992 e 2002. No período como um todo, há,

nas palavras de Barros et. al (2000), uma “estabilidade inaceitável”.

A tabela 4, baseada em Hoffmann (2001) mostra os vários percentis da

distribuição de rendimentos individuais e familiares (per capita) no Brasil em 2002. A nível

individual, aqueles que ganham mais de R$2.000,00 estão entre os 5% com maior renda

auferida na população trabalhadora brasileira. Se considerarmos a renda familiar per capita,

uma renda acima de R$1410,00 coloca o indivíduo na mesma situação. O logaritmo da

razão entre o 90o e o 10o percentil da distribuição de salários é equivalente a 2,49, duas

vezes superior a todos os países listados na tabela 1, com exceção dos Estados Unidos

(1,45).

Tabela 4 – A distribuição de Rendimentos Mensais no Brasil – 1999

10 20 30 40 50 60 70 80 90 95 99

Individua

l

102 205 206 256 307 410 512 717 1230 2050 5126

Fam. p/c 50 80 115 150 196 254 335 480 815 1410 3291

Fonte: IETS (2004). A primeira linha refere-se às pessoas economicamente ativas com rendimentos não

nulos. A segunda linha trata das pessoas de domicílios particulares ordenadas conforme seu rendimento

familiar per capita.

A tabela 5 compara os decis da distribuição de renda (em U$1996) no Brasil e

nos Estados Unidos. Podemos perceber que a razão entre renda de dois decis consecutivos

é sempre maior no Brasil que nos Estados Unidos, o que mostra que a desigualdade de

renda no Brasil é superior à dos Estados Unidos em toda a distribuição. Além disto, a

diferença salarial entre um trabalhador americano e um brasileiro diminui à medida que

subimos a distribuição. Enquanto o primeiro decil nos Estados Unidos é mais de 8 vezes

superior ao Brasileiro, o percentil mais alto é apenas 1,41 maior5.

5 Sacconato e Menezes-Filho (2001) tentam explicar este comportamento.

Tabela 5– A Distribuição de Rendimentos no Brasil e nos Estados Unidos – 1997

10 20 30 40 50 60 70 80 90 99

Brasil 0,67 0,88 1,17 1,52 1,91 2,44 3,34 4,78 8,37 30,36

10/ −ii PP - 1,31 1,33 1,30 1,26 1,28 1,37 1,43 1,75 3,62

EUA 5,53 7 8,05 9,61 11,21 13 15,45 19 24,1 42,73

10/ −ii PP - 1,27 1,15 1,19 1,16 1,16 1,19 1,27 1,27 1,77

EUA/Brasil 8,25 7,95 6,88 6,32 5,87 5,32 4,62 3,97 2,87 1,41

Fonte: Sacconato e Menezes-Filho (2001). Pessoas economicamente ativas com rendimentos não nulos.

Quando comparada a outros países da América Latina e do Caribe, a sociedade

brasileira está entre as mais desiguais, com coeficientes de Gini entre 55 e 60, como mostra

a tabela 5, baseada em Székely (2001). Na verdade, na América Latina e Caribe, os países

menos desiguais podem ser considerados como exceções à regra, como a Argentina, Costa

Rica, República Dominicana, Peru, Uruguai e Venezuela, todos com coeficiente de Gini

menores que 40. Como base de comparação, o índice de Gini nos Estados Unidos, em

2000, era de 0,44 (ver Bourguignon et al 2001). Além disto, a variação ocorrida (quase

sempre positiva) durante a década de 90 foi muito pequena em todos os países, o que deixa

clara a dificuldade que se encontra para alterar significativamente a dispersão dos salários

no mundo menos desenvolvido.

Tabela 6- Dispersão Salarial Na América Latina e Caribe – Década de 90

País Início da

Década

Meados da

Década

Final da

Década

Final - Inicial

Argentina - 0,47 0,49 0,02

Bolívia 0,55 0,52 0,60 0,05

Brasil 0,57 0,59 0,58 0,01

Chile 0,55 0,56 0,56 0,01

Colômbia 0,57 0,57 0,56 -0,01

Costa Rica 0,46 0,46 0,46 0,00

Rep. Dominicana - 0,48 0,48 0,00

Equador - 0,56 0,56 0,00

Honduras 0,57 0,53 0,58 0,01

México 0,53 0,54 0,54 0,01

Nicarágua - 0,57 0,60 0,03

Panamá 0,56 0,56 0,56 0,04

Paraguai - 0,57 0,59 0,02

Peru 0,46 0,48 0,48 0,02

El Salvador - 0,51 0,55 0,04

Uruguai 0,40 0,42 0,44 0,04

Venezuela 0,44 0,47 0,47 0,03

Fonte: Székely (2001). Renda Familiar per Capita. Ver Székely (2001) para os anosespecíficos.

3.2.1 – O Início do Debate

Com relação às causas da desigualdade de renda no Brasil, o debate sempre foi

muito intenso. Uma das principais questões que se coloca desde o início do debate refere-

se ao peso da educação como fator explicativo da desigualdade de renda existente no

Brasil. De um lado existem aqueles que defendem que a escolaridade é o principal fator

explicativo causal da desigualdade, por gerar diferenças de produtividade entre os

indivíduos que vão perdurar por todo o seu ciclo de vida. De outro lado, existe a corrente

que enfatiza o acesso à propriedade (terra e capital) e as políticas salariais definidas pelo

governo, incluindo a do salário mínimo, como fatores explicativos da desigualdade.

A utilização de micro dados pelo pensamento econômico no Brasil tem seu começo

mais provável em Langoni (1970) que utilizou o censo de 1960 e a PNAD de 1969 para

analisar a taxa de retorno da educação no Brasil e compará-la com a taxa de retorno do

investimento em capital físico. Seu objetivo principal era investigar qual deveria ser a

prioridade da política pública no provimento de incentivos aos diversos tipos de

investimento. Sua pergunta principal era: quais as formas de investimento mais lucrativas,

quando consideramos as decisões de investimento em capital humano nas suas diversas

modalidades, primeiro, segundo e terceiro grau, em conjunto com os investimentos em

capital físico?

Neste trabalho, Langoni é especialmente crítico com as tentativas de identificar o

crescimento no longo prazo com a taxa de poupança da economia, enfatizando os contra-

exemplos históricos, ou seja, países com elevadas taxas de poupança e baixas taxas de

crescimento (Argentina). Mais ainda, Langoni enfatizava a importância da composição do

investimento, que deveria ser centrada nos setores com maior impacto sobre a taxa de

crescimento da economia e com a maior taxa de retorno social. A introdução de novas

tecnologias e bens de capital poderia, segundo ele, permitir o aumento da taxa de

crescimento, mesmo que não ocorra acumulação de fatores de produção.

A principal conclusão de Langoni (1970) é que a taxa de retorno em capital

humano, sobretudo em educação básica, era significativamente superior à taxa obtida no

investimento em capital físico, no final dos anos sessenta. As taxas internas de retorno do

capital humano estimadas variam de 32% para o ensino primário a 12% para o ensino

superior. No caso do capital físico, as taxas de retorno oscilavam entre 22% para a indústria

de mineração a 4% para a indústria têxtil. Além disto, os dados do censo de sessenta são

utilizados para analisar a tendência da taxa de retorno da educação na década, destacando-

se a redução do retorno da educação primária, que era de 48% em 1960, e o aumento no

caso do ensino superior, que era de 5% naquele mesmo ano. Langoni atribui essa mudança

à alteração do perfil de demanda por mão de obra, decorrente do processo de

industrialização e da modernização das técnicas produtivas no período, que teria resultado

em um aumento na demanda por mão de obra especializada.

No que se refere à contribuição para o crescimento econômico, Langoni estima que

cerca de 40% da taxa de aumento do produto real pode ser explicada pela acumulação de

fatores de produção, capital e mão de obra, enquanto a contribuição líquida da educação

chega a quase 16%. A maior parte do resíduo obtido, equivalente à parcela do crescimento

não explicada pela acumulação dos fatores de produção, seria devido ao desenvolvimento

tecnológico e à adoção de novas tecnologias, processo este que poderia ser acelerado com

um aumento do investimento em capital humano.

Nas conclusões da sua tese, Langoni discute as perspectivas de longo prazo da

economia brasileira, em particular com relação à distribuição de renda. Segundo ele, o

aumento da qualificação da mão de obra poderia ter impactos positivos significativos sobre

a taxa de crescimento e provocar, simultaneamente, uma redução da desigualdade de renda.

A principal proposição de política econômica de Langoni (1970), portanto, refere-se à

necessidade de uma política de qualificação da força de trabalho, tendo em vista a

acumulação de capital tecnológico e a adoção de novas tecnologias e processos de

produção. Entretanto, o desenvolvimento e a incorporação de novas tecnologias levariam

não só a uma rápida obsolescência do capital físico como também do capital humano. Dada

a natureza dinâmica das novas tecnologias e as dificuldades em se antecipar as novas

técnicas que estarão disponíveis, Langoni (1970) defende uma ativa política educacional

centrada no ensino básico e na formação geral e não no ensino profissionalizante.

Com a publicação em 1971 do censo de 1970, alguns economistas passaram a

estudar com maior detalhe a evolução da distribuição da renda no Brasil na década de

sessenta. Hoffmann (1971), Duarte (1971) e Hoffmann e Duarte (1972) utilizam os dados

disponibilizados pelos censos de 1960 e 1970 para estudar a evolução da distribuição de

renda no Brasil na década de sessenta. Os autores utilizam medidas de concentração de

renda como as curvas de Lorentz e Preto e os índices de Gini e Theil. Os diversos

indicadores analisados indicam uma significativa tendência ao aumento da concentração de

renda no Brasil nesse período. Talvez a principal característica da concentração de renda no

Brasil se refere à parcela apropriada pelos 10% mais ricos que passou de cerca de 40% em

1960 para 50% em 1970.

Uma das primeiras tentativas de explicar a concentração de renda ocorrida entre

1960 e 1970 foi a de Fishlow (1972). Neste artigo, o autor argumenta que o aumento da

desigualdade ocorreu devido a fatores “estruturais” e devido à condução da política

econômica no período. Fishlow discute diversas possíveis causas da importância da

educação na explicação da desigualdade de renda no Brasil. Por um lado, a evidência

encontrada parecia dar suporte à teoria do capital humano, desenvolvida em particular por

Gary Becker, segundo a qual a produtividade dos indivíduos depende em parte do seu

investimento em capital humano. Por outro lado, essa causalidade pode ser espúria, na

medida em que o nível de educação seja uma função da renda familiar. Segundo Fishlow, o

desenho institucional do sistema educacional brasileiro ao privilegia o acesso à educação

dos grupos de renda mais elevadas e com pais mais bem educados.

Na parte final de seu artigo, Fishlow propõe que o aumento da desigualdade de

renda na década de sessenta esteve em boa parte associado às políticas de estabilização

adotadas, sobretudo na segunda metade da década. Em primeiro lugar, o ajuste nominal do

salário mínimo foi significativamente menor do que a variação observada dos preços. Esse

maior aumento dos preços refletiria o relativo fracasso das políticas monetárias e fiscais

adotadas no governo Castello Branco, que teriam resultado em níveis de inflação maior do

que o esperado. “In a larger sense, however, the result was accurately indicative of

priorities: destruction of urban proletariat as a political threat, and reestabilishment of an

economic order geared to private capital accumulation.” (Fishlow, 1972, pag. 400)

Fishlow enfatiza ainda o papel desempenhado pelas políticas fiscais e pela

concessão de incentivos fiscais para investimentos no mercado de capital assim como em

regiões e setores específicos, que teria beneficiado os grupos de renda mais elevada.

Entretanto, mesmo a adoção de políticas fiscais progressivas, como as então observadas em

alguns países desenvolvidos, não seria capaz de reduzir significativamente a desigualdade

de renda no Brasil.

Com relação à educação, Fishlow enfatiza o aumento na desigualdade educacional

como uma das evidências mais significativas das mudanças de fatores estruturais na piora

da desigualdade. Em particular, enquanto a educação média da população economicamente

ativa passou de cerca de 2,24 anos de estudo para 2,95 entre 1960 e 1970, a variância do

nível educacional aumentou mais de 48% nesse mesmo período. Esse aumento da variância

refletiria a falta de uma política pública que privilegiasse a educação dos grupos de menor

renda, em especial os jovens analfabetos. A política pública, por outro lado, parecia

enfatizar a educação secundária e superior, agravando a desigualdade educacional e,

consequentemente a desigualdade de renda.6

O artigo de Fishlow (1972) desencadeou um vasto debate na literatura econômica

no Brasil sobre as causas da desigualdade de renda. Em um trabalho fundamental, que deu

origem à microeconometria no Brasil, Langoni (1973) utiliza e desenvolve diversas

técnicas econométricas de análise de microdados, para estudar os determinantes da

evolução da desigualdade de renda no Brasil entre 1960 e 1970. A importância fundamental

desta contribuição de Langoni está relacionada em grande medida a forma como os

determinantes da desigualdade são analisados no seu trabalho.

Langoni (1973) utiliza como base de dados para a análise da desigualdade não

apenas os censos de 1960 e 1970 mas também a base de dados decorrente da lei dos 2/3

assim como os dados de arrecadação do imposto de renda. As séries analisadas por Langoni

(1973) indicam uma inequívoca tendência ao aumento da concentração de renda no Brasil

nos anos sessenta, com o aumento significativo da parcela apropriada pelos 10% mais ricos

da população. Além disso, confirmando observações feitas por Fishlow (1972), Langoni

(1973) aponta a maior desigualdade no setor urbano em relação ao setor agrícola e,

portanto, parte da desigualdade estaria associada a mudança na ocupação da mão de obra

de nesse período, caracterizado por uma significativa migração do campo para os principais

centros urbanos. Além disso, os dados do imposto de renda indicam a maior desigualdade

na remuneração do capital, no qual o índice de Gini chega a 78%, do que na remuneração

da mão de obra, que era de 47%.

Langoni (1973) minimiza a importância da política salarial no período entre

censos, com o argumento de que todas as parcelas da distribuição obtiveram aumentos de

6 Fishlow também enfatiza que a alteração da composição setorial da ocupação, redução da parcela dapopulação na produção agrícola e aumento da parcela na produção industrial teria contribuído para o aumento

renda real entre 1960 e 1970. Segundo ele, “as mudanças clássicas que acompanham o

processo de desenvolvimento econômico levam a um aumento nos índices agregados de

concentração (de renda), sem que seja possível atribuir-lhes qualquer sentido de

deterioração de bem-estar. Este é o caso típico do fluxo de mão-de-obra que deixa regiões e

setores cuja renda real é relativamente baixa; da entrada no mercado de trabalho de jovens

e mulheres e, principalmente, da melhoria ou ascensão educacional da força de trabalho,

existente e em formação” (p.97).

Estes argumentos são baseados nas idéias de Kuznetz (1955), que afirmava que a

relação entre desigualdade e desenvolvimento econômico tem a forma de um U invertido.

Segundo Kuznetz (1955), nos estágios iniciais de desenvolvimento a desigualdade de renda

tenderia a aumentar com a industrialização, urbanização e educação de uma parcela da

população. Em seguida, com a continuação do crescimento, a desigualdade tenderia a

declinar, pois grande parte da população já partilharia dos benefícios do desenvolvimento

econômico.

Como pudemos observar, tanto Langoni (1973) como Fishlow (1972) enfatizam a

importância da desigualdade educacional como determinante do processo de concentração

de renda ocorrido entre 1960 e 1970. Entretanto, para Langoni (1973) “a aceleração do

crescimento fatalmente leva a um aumento no grau de concentração (de renda)” (p. 214).

Por outro lado, Fishlow (1972) enfatizava a necessidade de alterações profundas nas

atividades governamentais argumentando, quanto ao processo de concentração de renda,

que “é um engano encarar esse resultado como conseqüência desafortunada, porém

inevitável, do crescimento rápido” (p. 402).

Fields (1980) enfatizou o crescimento de renda que foi obtido pelos mais

pobres entre 1960 e 1970, argumentando que, apesar do crescimento ocorrido no período

ter beneficiado principalmente os não-pobres (82%), o aumento percentual de renda dos

pobres foi maior que o dos não-pobres e houve uma diminuição do gap de pobreza, em

cerca de 41% . Segundo Fields (1980) estes números são similares aos atingidos nos EUA

na mesma década e são interpretados, na linha de Kuznetz (1955), como naturais, pois “não

é surpreendente que a maior parte do crescimento econômico de um país beneficie os não –

pobres” (p.576).

da desigualdade.

O livro de Langoni (1973) provocou uma forte reação academia brasileira, que

pode ser encontrada em Tolipan e Tinelli (1978). Wells (1978), por exemplo, afirma que a

política salarial foi o principal determinante do aumento da desigualdade, já que o Brasil

tinha abundância de mão-de-obra não qualificada, sem a existência de sindicatos fortes ou

uma política de salário mínimo. Hoffmann (1978) afirma que “uma distribuição de renda

mais igualitária exigiria profundas modificação numa estrutura de produção organizada em

função de uma demanda condicionada por elevado grau de concentração (p.120). Bacha

(1978) argumenta que houve um descolamento dos salários dos gerentes e dos demais

trabalhadores, e que portanto, “é a hierarquia e não a qualificação a variável chave para

explicar a abertura do leque salarial na década de sessenta” (p.151).

Malan e Wells (1978) e Serra (1978) questionam a interpretação causal dada à

correlação observada entre educação e rendimentos e enfatizam o fato de que uma

substancial parcela da variância permanece inexplicada, principalmente entre pessoas com

o mesmo nível educacional. Prefaciando o livro, Cardoso (1978) argumenta que “é óbvio

que uma democratização educacional acaba por ter efeitos na distribuição funcional das

rendas e isto poderia explicar parte da variância. Entretanto, a relação é, como se diz

tecnicamente, espúria. Tanto educação como oportunidades de trabalho estão permeadas

por uma terceira variável, independente delas, constituída pela riqueza das famílias e pela

distribuição desigual anterior da propriedade e do capital. De pouco vale argumentar

apenas com a distribuição de salários e rendimentos pessoais, deixando-se de lado a

concentração de riqueza, se realmente se quiser tocar o fundo das questões” (p.10).7

O debate sobre as causas da desigualdade no Brasil perde importância na década

de 80, tanto na academia como na sociedade, em função da preocupação com os temas

macroeconômicos, como a inflação e a dívida externa. O tema ressurge a partir do final da

década com os livros de Sedlacek e Barros (1989), Camargo e Giambiagi (1991) e Ramos

(1993). Nestes livros, vários autores passam a utilizar as bases de dados das PNADS

7 Vale lembrar que Langoni (1972) havia incluído a variável posição na ocupação naregressão de salários e que seu efeito foi pequeno, não alterando significativamente opoder explicativo da educação.

(Pesquisas Nacionais por Amostra Domiciliares – IBGE) para estender os estudos iniciais

sobre a desigualdade para as décadas de 80 e 90.8.

Barros e Mendonça (1995) argumentam que o crescimento da renda média entre

1960 e 1990 foi tão grande que o bem-estar cresceu e a pobreza diminuiu, apesar de um

grande aumento na desigualdade. Hoffmann (1995) enfatiza que a década de 80 foi perdida,

pois o baixo crescimento econômico provocou um aumento da pobreza. Ramos (1993)

estuda detalhadamente o comportamento dos determinantes da desigualdade no período

entre 1976 e 1985. Segundo ele, a visão kuznetziana, mostrou-se limitada como explicação

do comportamento da dispersão salarial neste período. Em contraposição a esta visão, o

autor enfatiza os diferenciais de renda relativa associados à educação e à posição na

ocupação, como proxies para efeitos cíclicos e estruturais, no processo de determinação da

desigualdade.

3.2 - Educação e Desigualdade

Com relação às causas da desigualdade de renda no Brasil, o debate sempre

foi muito intenso. Uma das principais questões que se coloca desde o início do debate

refere-se ao peso da educação como fator explicativo da desigualdade de renda existente no

Brasil. De um lado existem aqueles que defendem que a escolaridade é o principal fator

explicativo causal da desigualdade, por gerar diferenças de produtividade entre os

indivíduos que vão perdurar por todo o seu ciclo de vida. De outro lado, existe a corrente

que enfatiza o acesso à propriedade (terra e capital) e as políticas salariais definidas pelo

governo, incluindo a do salário mínimo, como fatores explicativos da desigualdade.

Langoni (1973) como Fishlow (1972) chamaram a atenção para o papel da

educação na evolução da desigualdade de rendimentos no Brasil. Este tema tem sido

bastante discutido na literatura brasileira, iniciando-se com os artigos de Reis e Barros

(1991) e Leal e Werlang (1991) e prosseguindo com uma série de estudos de Ricardo

Barros e seus co-autores (ver, por exemplo, Barros et al, 2000a).

8 Ver Ramos e Reis (1991) e Bonelli e Sedlacek (1989, 1991), Barros e Mendonça (1995), Hoffmann (1995),Bonelli e Ramos (1995) e Fishlow, Fizbein e Ramos (1993) e Ramos (1993)

Fonte: Menezes-Filho (2001).

A figura 2 resume a importância da educação para a desigualdade de

rendimentos e de salários no Brasil. Como vimos acima, uma pessoa no topo da

distribuição de rendimentos mensais (90o percentil), recebia em torno de 12 vezes mais do

que uma pessoa no 10o percentil, em 1981. Quando são descontados os diferenciais de

rendimentos ligados à educação, esta diferença cai para 9 vezes, ou seja, a educação

“explica” em torno de 26% da desigualdade9. Em 2002 a razão de rendimentos declinou

levemente para 11 vezes e a educação continua explicando em torno de 26%, ou seja, o

papel da educação permaneceu relativamente constante.

Quando examinamos a distribuição de rendimentos do trabalho (normalizados

pela jornada), o quadro é diferente10. Em 1981, a educação “explicava” em torno de 40% da

desigualdade salarial, que girava em torno de 13,5 vezes. Já em 2002, a desigualdade caiu

para 11,2 vezes, e a parcela líquida da educação caiu de 7,9 para 6,7 vezes. Isto evidencia

que a queda observada na desigualdade está relacionada com educação, mas que os outros

determinantes também contribuíram para a queda. Desta forma, as diferenças educacionais

explicam mais a dispersão dos rendimentos do trabalho do que a dispersão de rendimentos

em geral, e houve uma queda no poder explicativo da educação no primeiro caso, mas não

no segundo. Explicar estes fatos estilizados é uma importante agenda de pesquisa futura.

9 Ver abaixo para uma discussão a respeito da causalidade do efeito da educação sobre os salários.

Fig 2 - Educação e Desigualdade

0

2

4

6

8

10

12

14

16

1981 2002

(p90

)/(p1

0)

desig. renda desig. renda s/ educação desig. salários (horário) desig. salários s/ educação

Será que esta relação entre educação e desigualdade reflete uma relação causal ou

espúria, como afirmou Cardoso (1978)? Existem evidências sobre esta questão tanto para o

caso brasileiro como para outros países. Por exemplo, Lam e Schoeni (1993) utilizam dados

brasileiros da PNAD de 1982 e incluem a educação do pai, da mãe, do sogro e da sogra

como determinantes dos rendimentos dos indivíduos, para tentar capturar parte da

influência da riqueza familiar, das oportunidades no mercado de trabalho e das habilidades

não observadas11 na relação entre educação e salários. A inclusão de todas estas variáveis

fez com que os retornos à educação no Brasil diminuíssem de 16% (em média) por ano

completo de estudo para cerca de 11%. Os autores a concluem que “o viés de background

familiar é modesto e não necessariamente reflete retornos às conexões familiares”. Desta

forma, o efeito da educação sobre os salários dos indivíduos cujos pais, mães, sogros e

sogras têm o mesmo nível educacional (e portanto uma renda permanente muito similar)

permanece bastante elevado, em torno de 11%.

Ashenfelter e Krueger (1994) coletaram dados nos Estados Unidos sobre salários

e educação para 198 gêmeos univitelinos12 com diferentes níveis de escolaridade entre si.

Os resultados indicaram que “nem o background familiar nem habilidades não-

observáveis enviesam a estimativa de retornos à educação para cima”. Isto significa que,

mesmo entre os indivíduos nascidos na mesma família e com características genéticas

idênticas, aqueles que estudaram mais recebem, em média, um salário maior e que, além

disto, a relação entre educação e salários para os gêmeos é a mesma que na economia como

um todo.

Langoni (1973) enfatizou o papel da evolução da demanda e da oferta por

educação no Brasil como tendo um papel importante na determinação dos diferenciais de

salários por educação no Brasil. Segundo ele, os diferenciais observados entre 1960 e 1970

poderiam estar relacionados à pequena oferta de pessoal mais educado no Brasil, conjugada

com “a opção tecnológica implícita no nosso processo de industrialização, ou seja, o de

importar pura e simplesmente tecnologia estrangeira, cuja característica é não apenas a

10 Os rendimentos do trabalho incluem os rendimentos dos trabalhadores por conta-própria ou autônomos.11 O efeito da educação do indivíduo sobre seus rendimentos pode estar capturando também o efeito de outrashabilidades não observadas, como criatividade e perseverança, que são correlacionadas tanto com educaçãocomo com os salários.12 Os dados foram coletados no 16º Festival anual de gêmeos idênticos de Twinsburg, Ohio, 1991.

relativa intensidade de capital, mas também a relativa intensidade de mão de obra

qualificada” (p.90).

Fonte Langoni (1973), e Menezes-Filho (2001). 1960 e 1970 (censo), 1981 , 1990 e 1999 (pnads). Pessoas

economicamente ativas com rendimentos não nulos.

Para tentar entender a evolução dos diferencias de salário por educação, as

figuras 3 e 4 mostram a evolução da oferta educacional no Brasil nas décadas de 60, 70, 80

e 90 em termos percentuais e relativos respectivamente. A figura 3 mostra que, em 1960,

cerca de 90% da força de trabalho brasileira tinha no máximo 4 anos de estudo, o

equivalente ao ensino elementar básico de hoje. Esta porcentagem vai declinando ao longo

do tempo, até que em 2002 ela corresponde a 34% dos empregados. Ao mesmo tempo, há

um aumento contínuo da parcela com algum ensino elementar mais avançado e daqueles

com ensino médio. Finalmente, há um aumento do percentual da população com ensino

superior entre 1960 e 1981 e entre 1990 e 2002.

O comportamento da composição educacional se reflete na oferta relativa dos

grupos educacionais mais avançados. Como mostra a figura 4, a razão entre os

trabalhadores com ensino elementar avançado e aqueles com ensino elementar básico

aumenta continuamente ao longo das três décadas, o mesmo ocorrendo com a oferta de

indivíduos com ensino médio, relativamente aos com ensino elementar avançado.

Entretanto, a oferta de pessoas com (algum) ensino superior, relativamente às pessoas com

Fig. 3 - Composição Educacional da Força de Trabalho

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1960 1970 1981 1990 2002

% d

a Fo

rça

de T

raba

lho

elementar 1o (1) elementar 2o. (2) médio (3) superior (4)

ensino médio, diminuiu levemente entre 1960 e 1970, aumentou significativamente entre

70 e 80, e declinou continuamente a partir daí, atingindo seu valor mais baixo em 2002.

Fonte Langoni (1973), e Menezes-Filho (2001). 1960 e 1970 (censo), 1981 , 1990 e 1999 (pnads). Pessoas

economicamente ativas com rendimentos não nulos.

O comportamento dos diferenciais de renda parece ter refletido em parte o

comportamento da oferta relativa, como mostra a figura 513 14. O prêmio pelo avanço no

ensino elementar caiu continuamente no período, principalmente entre 1970 e 1980,

período de maior aumento na oferta relativa. O prêmio pelo ensino médio, por sua vez,

aumentou continuamente entre 1960 e 1990, apesar do aumento da sua oferta relativa, o

que sugere um aumento na demanda por trabalhadores com este nível de qualificação. A

partir de 1990 o diferencial começa a declinar, o que parece sugerir um esgotamento da

demanda relativa. O diferencial associado ao nível superior, por sua vez, tem

comportamento exatamente simétrico à oferta relativa, aumentando entre 1960 e 1970,

declinando entre 1970 e 1981 e aumentando continuamente a partir daí. Isto sugere que a

oferta relativa tem um papel importante para explicar a parcela da desigualdade relativa à

educação.

13 Cabe notar que Hoffmann (1995) aponta alguns problemas de compatibilização entre os Censos e as Pnadsno que tange à pergunta sobre rendimentos.14 É lógico que os diferenciais de salários refletem não apenas a quantidade relativa de pessoas em cada níveleducacional, mas também a qualidade do ensino destas pessoas. Este é um aspecto pouco estudado no Brasil.

Fig. 4 - Oferta Relativa de educação

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1960 1970 1981 1990 2002

Raz

ão

2/1 3/2 4/3

Fig. 5 - Diferenciais de Rendimentos por Nível Educacional

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

1960 1970 1981 1990 2002

Raz

ão

2/1 3/2 4/3

Fonte Langoni (1973), e Menezes-Filho (2001). 1960 e 1970 (censo), 1981 , 1990 e 2002 (pnads). Pessoas

economicamente ativas com rendimentos não nulos.

Como a maior parte da população encontra-se nos dois primeiros grupos

educacionais, (figura 2) o declínio nos diferenciais salariais entre estes dois grupos domina

o comportamento do retorno médio à educação descrito na figura 6, o que faz com que ele

decline continuamente entre 1977 (15,2%) e 2002 (12,2%).

Fonte: Menezes-Filho (2001)

3.3 – Interpretação dos Resultados Após o estudo de Langoni (1973), vários autores se debruçaram sobre o papel da

educação na determinação da desigualdade de rendimentos no Brasil. Reis e Barros

(1991), por exemplo, mostram que educação e idade explicam cerca de 50% da

desigualdade de rendimentos do trabalho, sendo que a eliminação dos diferenciais salariais

associados à educação por si só reduziria a desigualdade em 40% (mesmo percentual

encontrado para o ano de 1981 pela figura 2 acima). Isto ocorre tanto devido à má

distribuição da educação na força de trabalho como aos elevados retornos econômicos à

educação existentes no Brasil.

Fig. 6 - Retornos à Educação no Brasil

10,00%

11,00%

12,00%

13,00%

14,00%

15,00%

16,00%

1977 1982 1987 1992 1997 2002

Lam e Levinson (1990) mostram que a desigualdade na distribuição de

rendimentos no Brasil era em 1986 quatro vezes maior que nos Estados Unidos e que os

salários aumentavam cerca de 15% por ano de estudo, uma das maiores taxas do mundo.

Isto é confirmado pela figura 7, baseada em Menezes-Filho (2001a), que encontra no Brasil

os maiores retornos à educação entre vários países da América Latina e Caribe, usando

micro dados de pesquisas domiciliares realizadas em torno de 1997.

Fonte: Menezes-Filho (2001)

Dada a importância da educação para a desigualdade brasileira, Reis e Barros

(1991) discutem qual o tipo de política educacional que teria efeitos mais imediatos sobre a

Fig. 7 - Retorno salarial por Ano de Estudo

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

12,0%

14,0%

16,0%

Rep.D

omini

cana

Hondu

ras

Argenti

na

El Salv

ador

Venez

uela

Costa

Rica

Urugua

i

Equad

orChil

ePeru

Paragu

aiBras

il

desigualdade. Segundo os autores, o governo deveria enfatizar uma política de redução de

analfabetismo, que levaria a uma diminuição na cauda inferior da distribuição educacional

e, conseqüentemente, da desigualdade. Investimentos no ensino superior, pelo contrário,

levariam a um aumento da desigualdade num primeiro momento, tornando a distribuição

educacional mais desigual, só agindo sobre a desigualdade quando o aumento da oferta

educacional diminuísse os retornos à educação superior. Leal e Werlang (1991) concordam

com esta política, sugerindo aumentos do investimento público no ensino elementar

(primário e secundário), financiado através do ensino superior pago e da postergação dos

investimentos públicos com taxa de retorno inferior a 14%15.

Como evoluiu a oferta educacional através das gerações? A figura 8, baseada

em Menezes-Filho et al (2000) mostra que a geração nascida em 1910 era basicamente

composta de pessoas com, no máximo, ensino elementar básico (cerca de 92%). Esta

proporção caiu para 30% entre os nascidos em 1970. A maior parte desta queda ocorreu

entre a geração de 40 e a de 70 e este grande avanço educacional se fez sentir entre 1970 e

1980, como mostra a figura 3 acima.

Fonte: Menezes-Filho et al (2000)

15 A realocação dos fundos públicos do ensino superior para o ensino básico já havia sido defendida por

Fig 8 - Evolução da Educação por Coortes no Brasil

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980

% d

a Po

pula

ção

elementar 1o elementar 2o médio superior

A proporção de pessoas com o 2o ciclo do ensino elementar (entre 5 e 8 anos de

estudo) era muito pequena até a geração de 1940, começa a aumentar a partir daí (assim

como a parcela com ensino médio), mas parece ter estacionado a partir da geração de 70,

enquanto a parcela da população com ensino médio continua crescendo. Um dos fatos mais

marcantes da figura é o aumento observado na proporção de pessoas com ensino médio

entre a geração de 1970 (25%) e 1980 (42%). Por outro lado, o comportamento da parcela

da população com nível superior mostra uma leve tendência de aumento entre as nascidos

entre 1910 e 1940, seguido de um aumento repentino entre as gerações de 40 e 50 e um

estacionamento a partir daí. Portanto, os dados demonstram que parece haver um

estrangulamento na proporção de pessoas com ensino superior, com um leve aumento

ocorrendo a partir da geração de 2002.

Barros et al (2000) mostram que quando levamos em conta o grau de

desenvolvimento do país, o principal atraso educacional brasileiro (medido como

porcentagem de matriculados) encontra-se no ensino secundário (elementar 2o ciclo). No

elementar 1o ciclo e no nível superior, a parcela de matriculados é parecida com países no

mesmo grau de desenvolvimento. Barros et al (2000) também mostram que o progresso

educacional brasileiro ocorreu muito lentamente, mesmo se comparado, por exemplo, com

países com nível de desenvolvimento menor que o brasileiro.

Langoni (1973), p.220.

Fig. 9 - Escolaridade dos Jovens Pobres

0

20

40

60

80

100

120

Cam

arõe

s

Rw

anda

Indi

a

Rep

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omin

ican

a

Col

ômbi

a

Bra

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Uga

nda

Tanz

ânia

Zim

babw

e

Turq

uia

%

1o. Ano 5o. Ano

Fonte: Menezes-Filho (2001)

O problema brasileiro parece concentrar-se entre os jovens pobres. A figura

9, baseada em Filmer and Prichett (1998), mostra que a taxa de conclusão do primeiro ano

entre os jovens (entre de 15 e 19 anos) no Brasil (92%) é alta em comparação com os

demais países analisados, pobres em sua maioria. Porém, a taxa de conclusão da quinta-

série, entre aqueles que terminam a 1a , é de apenas 50%, a menor entre todos os países da

amostra, com exceção de Uganda. No nordeste brasileiro a situação é ainda mais grave,

com um taxa de conclusão de apenas 16%. Além disto, a taxa de conclusão da 9a serie

(primeira serie do ensino médio), para aqueles que completaram a 5a série, é de 17%,

novamente uma das maiores de toda a mostra.

Estes dados mostram que o problema da educação no Brasil não é um

problema de vagas, mas, nas palavras de Filmer and Prichett (1998), “essencialmente de

manter os pobres na escola” (p.25)16. É possível especular que o mesmo esteja ocorrendo

no ensino superior, ou seja, que a estagnação da sua parcela na população esteja refletindo

um esgotamento da parcela da população que pode pagar a faculdade ou o curso

preparatório que a levará ao ensino superior público. Sérgio Costa Ribeiro, num estudo

clássico sobre educação no Brasil (Ribeiro, 1994), mostrou que a alta evasão reflete, na

verdade, o alto grau de repetência que tem lugar no sistema educacional brasileiro. É a

partir destes dados que os responsáveis pelas políticas educacionais no Brasil introduziram

os ciclos básicos, que eliminam a probabilidade de repetência nos primeiros anos de estudo.

Barros e Lam (1993) verificam em que medida o menor nível educacional no

Nordeste é resultado da baixa educação dos pais, que se perpetua devido à baixa

mobilidade existente no Brasil. Os autores encontram que do hiato de 1,5 ano de estudo

entre São Paulo e a região Nordeste, em torno de 20% pode ser explicada pelas diferenças

na educação dos pais. Entretanto, Barros et al (2000) mostram evidências de que o principal

fator explicando a diferença educacional entre três estados do Nordeste (Ceará, Bahia e

16 Os autores usam os Demographic Health Surveys (DHS) para computar as taxas de conclusão escolar edefinem como pobres os adolescentes cujas famílias estão entre as 40% mais pobres do país, segundo ummétodo de componentes principais aplicado a vários indicadores de riqueza aparente.

Pernambuco) e o Rio Grande do Sul em 1991 (de 2,5 anos em média) é a escolaridade dos

pais (34%). Mais importante, a escolaridade dos pais explica quase 77% do progresso

educacional ocorrido entre 1991 e 1999 neste estados. Surpreendentemente, os autores não

encontram papéis importantes para a razão entre o número de professores e o número de

alunos e para a educação média dos professores no Estado.

O fato de que a escolaridade dos pais é um dos mais importantes determinantes

do desempenho educacional no Brasil é confirmado por Andersen et al (2000). Ao

comparar a mobilidade social entre 18 países da América Latina e Caribe, os autores

mostram que o Brasil e o Equador são os países com menor mobilidade, medida pelo poder

explicativo da educação dos pais e da renda familiar per capita na escolaridade dos

adolescentes. Menezes-Filho et al (2000b) encontram, para a América Latina como um

todo, que um aumento na escolaridade dos pais de 2 para 16 anos de estudo, aumenta a

probabilidade dos adolescentes (entre 16 e 17 anos) estarem freqüentando a escola (sem

trabalhar) de 30% para 80%. Estes estudos demonstram que um esforço educacional

focado em uma geração terá efeitos importantes sobre as gerações seguintes.

3.4 – Como a Educação Afeta a Desigualdade?

Os efeitos de um processo de expansão educacional sobre a desigualdade de

rendimentos são complexos, como foi apontado pioneiramente por Chiswick (1971) e

depois confirmado por Ram (1990) e Knight and Salbot (1985). Segundo estes autores,

existem duas formas através das quais a educação pode afetar a desigualdade de

rendimentos. Uma expansão educacional, a partir de níveis educacionais baixos, tende a

aumentar a desigualdade educacional, uma vez que as pessoas que recebem a educação

adicional muitas vezes são de gerações mais novas e vão conviver com pessoas ainda com a

média educacional antiga. Mais ainda, nem todas as pessoas das gerações mais novas vão

se beneficiar do maior nível educacional, o que contribui para o aumento da desigualdade

de escolaridade. Dada a relação existente entre educação e rendimentos, esta desigualdade

educacional tende a se traduzir em desigualdade salarial. Ram (1990) usa dados para vários

países e estima que a desigualdade tende a atingir seu ponto máximo quando o país atinge a

média de 6 anos de estudo.

Por outro lado, a expansão educacional tende a diminuir os diferenciais de

salários associados à educação, como vimos nas figuras 4 e 5 acima. Este processo depende

da taxa de expansão da oferta relativa dos vários grupos educacionais e da demanda relativa

por estes mesmos grupos. A demanda, por sua vez, depende do viés do progresso

tecnológico, do comércio internacional, dos padrões de consumo e do crescimento da

renda.

Como se dá a relação entre expansão educacional e desigualdade de renda no

Brasil? Segundo Lam e Levison (1992) a variância dos anos de estudo cresceu até a coorte

nascida entre 1949 e 1951, declinando continuamente a partir daí. Isto causou uma redução

na desigualdade de rendimentos intra-geracional através das gerações, a partir dos nascidos

nos anos 50. Entretanto, Lam e Levison (1992) argumentam que este efeito redutor da

desigualdade de educação foi contrabalançado por outros fatores, que tenderam a aumentar

a desigualdade ao longo do tempo.

Para investigar a importância da distribuição de educação vis-à-vis seus retornos

para explicar a desigualdade, Reis e Barros (1991) comparam a desigualdade de

rendimentos nas regiões metropolitanas de São Paulo e Fortaleza. Os autores encontram um

nível de desigualdade maior em Fortaleza (em cerca de 40%), apesar do seu menor nível de

desigualdade educacional. Isto se explica, segundo eles, porque os diferenciais salariais

associados à educação são maiores em Fortaleza, o que explica 27% do diferencial entre as

duas regiões. Tanto a menor desigualdade educacional como os maiores diferenciais

salariais seriam explicados pelo menor nível educacional em Fortaleza.

Ferreira e Barros (1999) aplicam um modelo desenvolvido por Bourguignon et.

al. (1998), que endogeniza as rendas do trabalho, as escolhas ocupacionais e a demanda por

educação, para identificar os efeitos das mudanças nestas variáveis sobre a distribuição de

renda no Brasil entre 1976 e 1996. Segundo os autores, a mudança nos retornos à educação

provocou uma pequena diminuição na dispersão de rendimentos, enquanto o processo de

expansão educacional teve vários efeitos sobre a renda, as escolhas ocupacionais e a

demanda por crianças. O resultado final destes efeitos foi uma melhora na renda ao longo

da distribuição de rendimentos, sem provocar grandes alterações na desigualdade de renda.

Bourguignon et al (2001) usam esta mesma metodologia para comparar os

determinantes da desigualdade no Brasil, Estados Unidos e México. Os autores encontram

uma diferença de 13 pontos entre os coeficientes de Gini (renda familiar per capita) do

Brasil e dos Estados Unidos. Decompondo esta diferença, os autores argumentam que 4 ou

5 pontos estão associados à composição educacional, seja diretamente ou através de seus

efeitos na participação e na fertilidade. Cerca de 3 pontos são devidos a efeitos preço,

principalmente aos retornos à educação e à experiência. O restante pode ser explicado pela

distribuição de rendimentos não associados ao trabalho, principalmente a renda de

aposentadoria. Os autores concluem que “as maiores causas da desigualdade brasileira

parecem ser o pouco acesso à educação e o direito a ativos e transferências que geram

rendimentos não associados ao trabalho” (p.29).

Fernandes e Menezes-Filho (2000) acompanham a evolução da desigualdade de

rendimentos no Brasil entre 1983 e 1997, utilizando as duas pesquisas domiciliares mais

utilizadas (PNAD e as PME). A evolução da desigualdade é decomposta em um

componente entre grupos (de educação, idade, região e gênero) e outro dentro dos grupos.

Os autores concluem que o componente entre grupos educacionais foi o mais importante no

comportamento da dispersão salarial neste período, em ambas as pesquisas, principalmente

devido à queda nos retornos à educação.

Menezes-Filho et al (2000a) também decompõem a desigualdade e os resultados,

reproduzidos na figura 10 abaixo, mostram a contribuição dos retornos à educação e da

composição educacional para a desigualdade entre grupos, sempre com relação ao ano base

de 1977. Pode-se perceber que a estabilidade da desigualdade entre grupos e

conseqüentemente, da desigualdade total, é resultado de dois efeitos que agem em direções

opostas. A queda nos retornos médios à educação, evidenciada na figura 6, contribuiu para

uma redução da desigualdade ao longo do período. Entretanto, este efeito foi

contrabalançado pela composição educacional, que agiu no sentido de aumentar a

desigualdade, como discutido acima.

Com base neste resultado, os autores simulam quanto tempo levará para a

composição educacional contribuir para a diminuição da desigualdade entre grupos. Para

simular a composição educacional, dois cenários foram formulados com relação à parcela

de cada grupo educacional da coorte que nascerá em 2013, reproduzidos na tabela 7. Com

estes cenários, os autores projetam a composição educacional da força de trabalho que

estará em atividade nas próximas quatro décadas, através de uma interpolação simples.

Fonte: Menezes-Filho et al (2000)

Tabela 7 – Composição educacional Prevista para a Geração nascida em 2013.

Anos de Estudo Otimista Pessimista

0 0% 2%

1 a 3 0% 8%

4 a 5 10% 15%

6 a 8 30% 30%

9 a 11 40% 30%

>11 20% 15%

Fonte: Menezes-Filho et al (2000)

Os resultados da simulação encontram-se na figura 11. Mesmo na hipótese

otimista, de que apenas 10% dos nascidos em 2013 terão menos do que 6 anos de estudo, a

Fig. 10 - Desigualdade Entre Grupos

-0,15

-0,1

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

Retornos Composição Entre-Grupos

composição educacional só começará a contribuir significativamente para o declínio da

desigualdade a partir de 2007 e só voltará aos níveis observados em 1977 por volta de

2027. Na hipótese mais pessimista, o retorno aos níveis de 1977 somente ocorrerá por volta

de 2037. Para diminuir a desigualdade antes disto, outras políticas seriam necessárias. Vale

lembrar que o efeito final sobre a desigualdade entre grupos educacionais dependerá

também do que ocorrer com os retornos à educação neste período, já que neste exercício

eles estão fixados em 197717.

Fonte: Menezes-Filho et al (2000)

O comportamento dos retornos à educação, por sua vez, depende da interação

entre a oferta e a demanda por qualificação no Brasil. Fernandes e Menezes-Filho (2001),

desenvolvem um modelo que supõe que todos os trabalhadores qualificados (mais que 11

anos de estudo) realizam tarefas complexas, e que todos os trabalhadores não qualificados

(menos que 5 anos de estudo) realizam tarefas simples. Entretanto, os trabalhadores

intermediários (5 a 11 anos de estudo) estão distribuídos entre os dois tipos de tarefas. A

distribuição dos trabalhadores intermediários entre as tarefas simples e complexas é

17 Fixando os preços em 1997 não altera de forma qualitativa os resultados desta análise.

Fig. 11 - Composiçao Educacional e Desigualdade Entre Grupos

-0,06

-0,04

-0,02

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

1977 1987 1997 2007 2017 2027 2037

Pessimista Otimista

determinada endogenamente e a análise empírica é realizada para o Brasil no período entre

1981 a 1999.

Fonte: Fernandes e Menezes-Filho (2001)

Os resultados do modelo, calibrado com dados de oferta e salário relativo das

PNADS, apontam para uma tendência de longo prazo de crescimento na demanda relativa

por trabalhadores qualificados e por trabalhadores intermediários em tarefas simples

conforme demonstram as figuras 12 e 13. Nestas figuras supõe-se que a elasticidade de

demanda entre dois tipos quaisquer de trabalhadores é igual a 1,518. Este crescimento da

demanda relativa, somado ao crescimento da oferta relativa de trabalhadores

intermediários, teve como conseqüência um aumento significativo tanto da proporção de

trabalhadores intermediários entre aqueles realizando tarefas simples, como na proporção

dos trabalhadores intermediários que são alocados em tarefas simples.

18 Fernandes e Menezes-Filho (2001) simulam resultados com elasticidades de substituição diferentes entre osdois grupos de trabalhadores, mas os resultados não se alteram qualitativamente.

Figura 12: Demanda Relativa: Não Qualificados/Intermediários

-0,9000-0,8000-0,7000-0,6000-0,5000-0,4000-0,3000-0,2000-0,10000,00000,1000

1.98

1

1.98

2

1.98

3

1.98

4

1.98

5

1.98

6

1.98

7

1.98

8

1.98

9

1.99

0

1.99

1

1.99

2

1.99

3

1.99

4

1.99

5

1.99

6

1.99

7

1.99

8

1.99

9

Ano

Fonte: Fernandes e Menezes-Filho (2001)

4- Discriminação, Ocupação e Salário-Mínimo

Passamos agora a fazer uma análise do comportamento dos demais determinantes da

desigualdade no período mais recente. Para isto faremos uso de tabulações das Pnads

disponibilizadas pelo IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).

A figura 14 mostra o comportamento do coeficiente de Gini na última década, entre 1992 e

2002. Podemos notar que, apesar do coeficiente iniciar e terminar a década num patamar

parecido, houve muitas flutuações no período. A desigualdade elevou-se substancialmente

entre 1992 e 1993, decaindo suavemente a partir daí. Interessante notar que a queda da

inflação trazida pelo plano Real (1994) não provocou uma redução imediata da

desigualdade, mas o período de estabilidade parece ter permitido a atuação dos

determinantes mais estruturais da desigualdade. Em seguida, passamos a analisar esta

atuação.

A figura 15 mostra a evolução das taxas de desemprego por nível de escolaridade neste

período. Apesar das medidas de desigualdade normalmente levarem em conta somente as

Figura 13: Demanda Relativa: Qualificados/Intermediários

-0,10000,00000,10000,20000,30000,40000,50000,60000,70000,80000,9000

1.98

1

1.98

2

1.98

3

1.98

4

1.98

5

1.98

6

1.98

7

1.98

8

1.98

9

1.99

0

1.99

1

1.99

2

1.99

3

1.99

4

1.99

5

1.99

6

1.99

7

1.99

8

1.99

9

Ano

pessoas empregadas, é óbvio que o desemprego contribuí para a desigualdade na medida

em que aumenta a porcentagem de pessoas sem remuneração. A figura mostra que a taxa de

desemprego aumentou para todos os níveis educacionais, mas principalmente para aqueles

com 2o grau completo e incompleto. É interessante notar que foram justamente estes grupos

cuja oferta aumentou mais intensamente no período, como mostrou a figura 8 acima.

Assim, parece que este aumento da oferta, causado pela falta de transição para o ensino

superior, causou tanto um declínio salarial em termos relativos como um aumento do

desemprego para estes grupos.

A figura 16 mostra a evolução das diferenças de salário entre as regiões do Brasil entre

1992 e 2002. A região com o pior nível salarial é obviamente o Nordeste e aquela com a

melhor remuneração é o Sudeste. Mais importante, as desigualdades regionais não parecem

arrefecer ao longo da década. A única diferença que pode ser notada é o crescimento

acentuado da remuneração na região Centro-Oeste, que está se aproximando rapidamente

na região Sudeste, muito provavelmente em função do agro-negócio.

A figura 17, por sua vez, mostra a evolução do diferencial de salários entre homens e

mulheres entre 1992 e 2002. Em primeiro lugar pode-se notar que em 1992 os homens

tinham uma remuneração aproximadamente duas vezes superior à das mulheres. Entre 1992

e 2002 a diferença caiu para 1 vez e meia. Leme e Wajnman (2000) acompanham a

evolução do diferencial de salários para duas coortes, a de 1952 e a de 1962, durante 11

anos, isto é, quando essas pessoas tinham entre 25 e 35 anos de idade. Na coorte de 1952 os

homens ganhavam em média 38% a mais do que as mulheres embora essas tivessem cerca

de 1,5 anos de estudo a mais. Na coorte de 1962 a diferença de rendimentos caiu para 22%

enquanto a diferença de escolaridade se manteve. Estimando uma equação de salários

(salários em função da educação, posição na ocupação, região e setor de atividade,

idade/tempo) para cada um dos sexos os resultados podem ser resumidos da seguinte

maneira: na coorte de 1952, o diferencial de 38% a favor dos homens se transformaria num

diferencial de 17% a favor das mulheres se a escolaridade dos homens fosse remunerada

como é remunerada a escolaridade das mulheres. Os demais atributos explicam uma parte

marginal do diferencial, sendo que os que podem ser considerados justificáveis dariam a

mulher uma vantagem de 4%, além dos 17% da educação. O grande peso está na constante,

que mede a diferença entre os salários dos homens e mulheres com as dummies omitidas da

regressão, que levaria o salário dos homens a ser 86% mais elevado do que as mulheres. No

total dos 38,8% do diferencial de salário a parte não justificada e que pode ser associada à

discriminação daria uma vantagem de 76% aos homens enquanto a parte do diferencial

justificável por atributos daria uma vantagem de 21% para as mulheres.

A figura 18 mostra a evolução do diferencial de rendimentos do trabalho por cor no Brasil

entre 1992 e 2002. Pode-se notar que os brancos tinham uma remuneração cerca de duas

vezes maior que os negros em 1992, diferença esta que permaneceu a mesma em 2002.

Como as diferenças de educação entre brancos e negros permaneceu constante neste

período (ver Henriques, 2001), parece claro que os termos discriminatórios tampouco se

alteraram.

A figura 19 mostra a evolução do diferencial de remuneração entre três grupos etários (15-

24, 25-49 e 50 ou mais) no Brasil na última década. O auge em termos salariais em 1992

ocorria na faixa entre 25 e 49 anos de idade, sendo que as pessoas nesta faixa ganhavam em

média mais de duas vezes mais do que os mais novos e cerca de 30% mais do que os mais

velhos. Entre 1992 e 2002 a diferença de remuneração deste grupo com relação aos mais

novos permaneceu constante, mas com relação aos mais velhos ela caiu significativamente,

o que demonstra que o pico salarial está se movendo para uma idade mais avançada no

Brasil

A figura 20 mostra os diferenciais de salário associados à posição na ocupação no Brasil e

sua evolução ao longo do tempo. A figura deixa claro que o grupo com maior remuneração

é claramente aquele composto pelos empregadores, que recebem uma remuneração média

cerca de duas vezes maior que os militares e funcionários públicos, três vezes maior que os

empregados com carteira assinada, quatro vezes maior que os empregados por conta-

própria e cerca de oito vezes maior que os empregados sem carteira. Ao longo do tempo, a

diferença de remuneração entre o empregador e o trabalhador sem carteira diminuiu, assim

como a diferença entre o trabalhador com e sem carteira.

Com relação ao salário mínimo, Rodrigues e Menezes-Filho (2002) mostram que a queda

no valor real do salário mínimo aumentou a desigualdade de renda no Brasil entre 1981 e

1988. As figuras 21 e 22 mostram que as distribuições de rendimentos de 1981 são mais

compactas que as de 1988. Há dois pontos interessantes a notar aqui: primeiro, as

distribuições apresentam um pico em torno dos respectivos salários mínimos – embora para

os homens seja um pouco mais sutil, o que pode sugerir que o salário mínimo é uma

restrição mais efetiva para elas que para eles, ou ainda pode ser apenas um problema de

supersuavização da estimação. Em segundo lugar, a densidade das mulheres é mais

concentrada em torno do mínimo que a dos homens.

Ainda olhamos para as figuras 21 e 22, percebemos que o efeito do aumento do mínimo,

tanto para homens como para mulheres, é o de achatar a cauda inferior e aumentar a

densidade dos salários acima do mínimo, empurrando a distribuição para a direita. Esse

efeito é particularmente forte entre as mulheres. O salário mínimo empurrou a distribuição

para a direita (o que aumentou a média) e diminuiu o logaritmo da variância. Além disso,

podemos ver que os maiores efeitos estão logo acima do mínimo e caem à medida que os

salários aumentam, o que está de acordo com o que vem sendo encontrado na literatura

brasileira.

4 – Conclusões

Este diagnóstico procurou entender a evolução e os determinantes da

desigualdade no Brasil nas últimas três décadas. Os dados apresentados mostraram que,

depois de um aumento contínuo entre 1960 e 1990, a desigualdade de renda retrocedeu no

final da década de 90, voltando praticamente aos níveis observados em 1970. No final da

década de 90, cerca de 26% da desigualdade de rendimentos de todas as fontes e cerca de

40% da desigualdade de rendimentos do trabalho estava associada à educação.

Entre 1960 e 1970, cerca de metade do aumento observado na dispersão de

rendimentos pode ser atribuída à composição educacional da mão de obra. Nas décadas de

80 e 90 o efeito composição parece ter atuado no sentido de aumentar ainda mais a

desigualdade, devido ao aumento da desigualdade educacional, enquanto os diferenciais

salariais médios têm-se reduzido, apesar de ainda permanecerem entre os mais elevados do

mundo.

A queda dos diferenciais salariais parece não ter sido mais rápida porque houve

uma redução na oferta de pessoas com nível superior, quando comparada à oferta de

pessoas com nível médio e também porque houve um aumento na demanda relativa por

trabalhadores com nível médio e superior. Uma agenda de pesquisa promissora nesta área é

encontrar mais evidências a respeito do comportamento da demanda por trabalhadores mais

qualificados e examinar os determinantes desta demanda, incluindo aí o papel da tecnologia

e do comércio internacional19. Além disto, é preciso entender a razão por trás da estagnação

no ritmo de crescimento da população com nível superior e verificar se a abertura de novas

faculdades tem condições de diminuir este problema. Finalmente, é preciso saber se a

suspeita de deterioração na qualidade do ensino público e privado está tendo efeitos sobre a

desigualdade de renda, dada a escolaridade média da população. Segundo os exercícios

analisados nesta resenha, a desigualdade de renda só começará a cair de forma consistente

no Brasil a partir de 2017, se os avanços educacionais e os retornos à educação

continuarem a evoluir da forma como tem feito nos últimos anos.

Também analisamos neste artigo o comportamento dos outros determinantes da

desigualdade de renda entre 1992 e 2002. Parece que a taxa de desemprego aumentou

significativamente neste período, principalmente entre os indivíduos com ensino médio.

Além disto, os diferenciais de salário por região permaneceram constantes, os diferenciais

por gênero diminuíram, os diferenciais por cor permaneceram constantes, os diferençais por

idade se reduziram, e a diferença de remuneração entre os trabalhadores com carteira e sem

carteira se reduziram neste período. Finalmente, mostramos que a redução do valor real do

salário mínimo teve um papel importante de aumentar a desigualdade de renda no Brasil na

década de 80.

5 – Referências

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Figura 14- Coeficiente de Gini - Brasil

0,570

0,575

0,580

0,585

0,590

0,595

0,600

0,605

0,610

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002

Figura 15- Taxa de Desemprego por escolaridade no Brasil

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0

18,0

20,0

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002

%

1º grau incompleto 1º grau completo 2º grau incompleto 2º grau completo Superior incompleto ou mais

Figura 16 - Renda real média do trabalho principal por Região

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1992 1993 1995 1996 1997 1998

Norte Nordeste Centro-Oeste Sude

Figura 17 - Renda real média do trabalho principal por se

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1992 1993 1995 1996 1997 1998

Homem Mulher

1999 2001 2002

ste Sul

xo no Brasil

1999 2001 2002

Figura 18 - Renda real média do trabalho principal por raça no Brasil

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002

Branco Negros (preto e pardo)

Figura 19 - Renda real média do trabalho principal por idade no Brasil

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002

15-24 25-49 50 ou mais

Figura 20 - Renda real média do trabalho principal por posição na ocupação no Brasil

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Empregado com carteira Militar Funcionário público Empregado sem carteira Conta própria Empregador

Mudanças Totaislw

0 5 10

0

.2

.4

.6

Efeito do Salario Minimolw

0 5 10

0

.2

.4

.6

Figura 21: Estimativa da Densidade do Log do Salário Real dos Homens de 1988

Mudanças Totaislw

0 5 10

0

.2

.4

.6

Efeito do Salario Minimolw

0 5 10

0

.2

.4

.6

.8

Figura 22: Estimativa da Densidade do Log do Salário Real das Mulheres de 1988

1988 1981

Antes do ajusteDepois do ajuste

Salário Mínimo

19881981

1988 1981

Salário Mínimo

19881981

Antes do ajusteDepois do ajuste