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  • Revista Portuguesa de Educao, 2009, 22(2), pp. 35-52 2009, CIEd - Universidade do Minho

    Educao, globalizaes e cosmopolitismos:novos direitos, novas desigualdades

    Carlos Vilar EstvoUniversidade do Minho, Portugal

    ResumoTendo presente o contexto actual onde emergem novas desigualdades enovas injustias pretende-se articular o processo de globalizao com aconstruo do cosmopolitismo e da justia social, distinguindo nestadiscusso diversas modalidades de cosmopolitismo, nomeadamente aneoliberal e a democrtica. Na linha desta ltima, o autor aprofunda a noode cosmopoliticidade para vincar no apenas a ideia de universalidade mastambm a de dialogicidade global e de politicidade. A partir desteenquadramento analtico, o autor desenvolve as implicaes dacosmopoliticidade democrtica na educao em geral e na gesto dasorganizaes educativas em particular, no sentido de esta contribuir tambmpara o reforo da justia global e para o "cultivo da humanidade".

    Palavras-chaveCosmopolitismo; Justia; Educao; Desigualdades

    J h muito que o discurso da crise se instalou entre ns: com a crisedo Estado-Providncia, assistimos reformulao das condies do laosocial e cvico, uma vez que as instituies de instaurao do lao social e dasolidariedade, deixam de funcionar. Com a crise econmico-financeira,questionam-se as ortodoxias relativas ao funcionamento dos mercados; coma crise do trabalho, alteram-se as formas de relao entre economia esociedade; com a crise do sujeito, modificam-se os modos de constituio dasidentidades individuais e colectivas.

  • Merc destas transformaes, o tempo actual apresenta-se como umtempo de grande vulnerabilidade social, em que noes como: precariedadee desemprego, emprego temporrio, diferenciao, debilidade do movimentosocial, individualizao das relaes sociais, desigualdades, insegurana,incerteza, desregulao, fragilidade dos laos comunitrios, feminizao dapobreza, desqualificao e atomizao social demarcam um camposemntico claro de inquietaes profundas, apontando para mltiplas formascomo muitos so atingidos por um trabalho de verdadeira decomposio, dedessocializao que os vulnerabiliza como seres humanos.

    As nossas sociedades desiguais, marcadamente injustas eexcludentes, no s no conseguiram cumprir uma das promessas damodernidade que apontava para a gesto controlada das desigualdadesatravs de polticas redistributivas e do pleno emprego, como vem agoradespontar, por novos processos econmicos, polticos e culturais, novossistemas de desigualdades, seja no campo da educao, no da economia, noda cultura ou no da poltica. Acresce a tudo isto, o escndalo da pobreza quepermanece profundamente enraizado na sociedade global actual e que afectatambm a relao entre pases (de alta e baixa produtividade, por exemplo) eo modo como se integram ou no na economia global, reforando a convicode que as desigualdades so tambm cada vez mais intersocietalmenteglobais.

    Por outro lado, no deixa de ser verdade que hoje se raciocina notanto em termos de igualdade mas antes em parmetros de custo e eficcia,de maximizao da eficincia mercantil, independentemente dos efeitos deexplorao, competio e desigualdade que geram, acolhendo-sepacificamente a ideia, por exemplo, de que exigncia de progresso aseparao entre o econmico e o social, devendo pugnar-se simultaneamentepela integrao econmica e pela desintegrao social. Assim, oestabelecimento de solidariedades, seja entre indivduos, seja entre grupos noconjunto social torna-se difcil, cabendo a cada um assumir asresponsabilidades pelos encargos assistenciais e de realizao pessoal eprofissional, ou ento delegar no Estado essas mesmas responsabilidades,dentro do slogan: "eficcia para as empresas e a solidariedade para osEstados" (como nos diz Rosanvallon, 1999: 204). O mais grave, porm, quando se verifica que o prprio Estado est actualmente mais preocupado

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    Ivo FonsecaSticky Note

    Ivo FonsecaSticky NoteNovas desigualdes sociais, gerada pela novo modelo Econmico

    Ivo FonsecaSticky Note

    Ivo FonsecaSticky Note

  • com o financiamento do sistema financeiro do que com a previdncia social,em nome, por exemplo, da salvao no apenas do sistema financeiro mastambm do sistema econmico e produtivo.

    A estes e outros desafios as diferentes globalizaes tentam darrespostas, umas mais na lgica mercantil, outras na lgica mais democrticaou contra-hegemnica, ambas, no entanto, recorrendo a formas decosmopolitismo que por vezes esquecem as suas maldades ou enobrecemexageradamente as suas virtudes, nomeadamente em termos de direitos e decombate s novas desigualdades sociais, dentro da nova cartografia doespao social em que vivemos, induzida, embora no exclusivamente, pelaglobalizao.

    Globalizao, desigualdades e cosmopolitismosA nossa poca caracterizada pelos processos de globalizao, que

    tm sido analisados, do ponto de vista normativo, de muitos modos: uns maiscomplementares, outros mais contraditrios; uns acentuando a sua bondade,outros a sua malignidade essencial; uns apontando para o efeito do aumentodas desigualdades, outros relevando precisamente os seus efeitos positivosem termos de justia e de igualdade.

    Isto significa que o debate sobre a globalizao e a sua relao com adesigualdade e o bem-estar dos seres humanos no linear, apesar dasanlises que o simplificam: ao omitirem as diferentes concepes e modosdiscrepantes de medir a desigualdade; ao esquecerem que a melhoria domodo de vida dos cidados muito desigual consoante os pases; aopassarem ao lado das novas desigualdades inter e intra-pases; ao ignorarema capacidade de veto dos poderosos sobre a vida dos mais dbeis evulnerveis (fenmeno que Santos apelida de "fascismo social"); aosilenciarem o peso diferenciado do global na explicao das decisespolticas nacionais, uma vez que os factores macroeconmicos, por exemplo,tm impactos diferenciados nos diversos pases e regies, dependendo osseus efeitos da posio global das economias de cada pas e de cada regio(ver Galbraith, 2007).

    Para evitar, ento, a simplificao desta questo das desigualdades nomundo actual, h que atender igualmente ao peso diferenciado do global na

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  • explicao das decises polticas nacionais, uma vez que a globalizaocondiciona as decises sobre o bem-estar dos cidados dos diferentespases. Alis, cada vez mais consensual a ideia de que as desigualdadesnacionais podem ser mais determinadas globalmente do que nacionalmente,devido s crises, movimentos de capitais, etc., o que torna difcil, desde logo,e no dizer de Beck (2006: 39), estabelecer fronteiras entre o nacional e ointernacional no campo das desigualdades sociais.

    No sentido de esclarecer melhor este ponto, terei em conta sobretudouma das concepes resultante da investigao deste tpico em CinciasSociais, que entende a globalizao como interconexo ou interdependnciamundial cada vez mais extensa, profunda, rpida e ampla em todos osaspectos da vida social contempornea, com particular incidncia ao nvel docapital, bens, trabalho, servios e ideias. Tendo em conta esta compreensodo conceito de globalizao, comearei por realar, como uma questo defacto, a governamentalidade neoliberal, enquanto processo que se temrevelado decididamente parcial no que concerne justia, favorecendo osmais favorecidos, num claro contraste com o "princpio da diferena" queRawls (1993) apontava como caracterizando uma sociedade justa e bemordenada.

    Deixando de lado o pensamento liberal mais moderado que parecepreocupar-se, apesar de tudo, com o combate s desigualdades deoportunidades embora no tanto com o combate s desigualdades deresultados, torna-se claro que os adeptos da globalizao neoliberalizada noesto preocupados com a ideia de que parte dos benefcios dos sempreganhadores se faa custa das perdas dos eternos perdedores (ver Khor,2000) ou, num plano mais amplo, que a globalizao funcione como umaespcie de apartheid (na expresso deste autor) que propicia oneocolonialismo e enfraquece os Estados mais fracos, dentro dos padres deestratificao global em que alguns Estados, regies, sociedades ecomunidades se apresentam crescentemente mais integrados na nova ordemglobal enquanto outros, pelo contrrio, tendem a ser centrifugados.

    Por outro lado, ainda, desde 1970 que alguns economistas tm exigidoque a eficincia e a distribuio devem ser consideradas separadamente,interessando, por isso, propor medidas que aumentem a eficinciaindependentemente dos seus efeitos redistributivos, at porque os

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  • ganhadores deste jogo podem potencialmente vir a compensar osperdedores. E alm disso, uma maior desigualdade pode proporcionar ascondies para um crescimento mais rpido. Consequentemente, as polticaspblicas devem preocupar-se apenas com os processos de mercado de modoa que estes funcionem correctamente e livremente, at porque os mercadosem geral so bons para fornecerem oportunidades de riqueza e outrosprivilgios a todos, independentemente do pas de nascimento, ou da classe,ou do gnero, ou da etnia. Nesta linha, os idelogos do globalismo,apresentados como cientistas desinteressados, concluem que dos livresmercados e da mobilidade no trabalho, assim como do capital, pode resultarum mundo mais equitativo, justo e cosmopolita, j no importando at aquesto da cidadania uma vez que ela no central identidade individualpor esta ser entendida como identidade em concorrncia. Mesmo a questoda explorao do trabalho e os processos da sua denncia deixaram de fazermuito sentido na lgica da globalizao da acumulao capitalista actual, poisos prprios trabalhadores lutam presentemente, no tanto contra aexplorao, mas pela oportunidade de serem explorados pelo capital, ou seja,pela oportunidade de emprego (ver Romo, 2004: 9).

    Outro aspecto relevante a sublinhar que o cosmopolitismo daquiresultante se apresenta, de facto, com roupagens humanistas e socialmentepreocupadas, escondendo eventuais efeitos perniciosos decorrentes da suaidealizao e do seu imperialismo. Trata-se, enfim, de um cosmopolitismomercantilizado, consumista, que afina pelo diapaso do prpriocosmopolitismo inerente lgica de expanso do capital j denunciado porMarx e Stuart Mill. De facto, o capital foi e essencialmente cosmopolita, oque no invalida o facto de a actividade econmica e financeira, desde aproduo investigao, comercializao e ao consumo se produzir emespaos que so bem reais persistindo o seu carcter eminentementenacional apesar das operaes internacionais a que est sujeita.

    Perante este cenrio, podemos concluir que a viso cosmopolitamercantilizada uma viso que apropria uma dimenso sedutora do conceitode cosmopolitismo, embora omitindo, entre outras coisas, a fractura internaque secciona a cidadania, dando o estatuto de cidados cosmopolitassobretudo queles que so vencedores nas condies do actual mercado earredando os outros como "incompetentes" ou "irrelevantes". Mesmo a

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  • diversidade e o respeito pela diferena, quando so defendidas, no passamde um meio ao servio da estratgia de mercado, ao servio, enfim, dagovernana mundial levada a cabo por agncias poderosas (como o BancoMundial, FMI, OMC). Simultaneamente, o cosmopolitismo mercantilizadovende-nos, atravs dos seus meios poderosos, no apenas os seus produtosmas tambm a ordem existente como inevitvel.

    Em oposio a esta forma de globalizao e do cosmopolitismohegemnico que induz (herdeiro do discurso centrado frequentemente naviso ocidental e elitista do mundo e avesso por vezes afirmao darealidade do social), os cientistas sociais vm propondo uma outraglobalizao, a globalizao democrtica, e uma outra forma decosmopolitismo, de sabor Gramsciano: o cosmopolitismo bottom-up, ou, comoprefiro dizer, a cosmopoliticidade democrtica1, construda a partir de baixo(por consensos sobrepostos), que tem a vantagem de valorizar mltiplascidadanias e poderes, de promover a conversao, de mobilizar asinterpretaes e aces polticas de alcance global e de desocultar afragilidade do ser humano, com nfase particular no apenas na denncia dacrueldade humana mas tambm na solidariedade com os outros e naoposio activa a todas as formas de injustia (Lu, 2000: 244-67).

    Este tipo de cosmopolitismo contra-hegemnico, reconhecendoembora que a cidadanizao e a democratizao tambm passam peloEstado, enraza-se claramente numa outra concepo de democracia: nademocracia cosmopolita (ou "cosmopoltica"), que aponta para umadesestatizao da cidadania e da democracia, no sentido de as tornar maisabertas aos desafios da globalizao, refundando-as num conjunto de valoressupra-nacionais (como, por exemplo, nos direitos humanos2, como o casode Habermas, 2000).

    Do lado da sociedade, esta forma de cosmopolitismo, resultado decampos polticos e argumentativos, assume a possibilidade de se construiruma sociedade civil global mais densa, coerente com a ideia de que aconscincia global se expande (embora de uma forma no determinista),como visvel, por exemplo: na criao de um novo sentido de pertena esensibilidade cuja expresso so as novas "formaes sociais ps-nacionais"(onde se incluem, por exemplo, os movimentos sociais transnacionais e queultrapassam as lealdades ao Estado-nao); na proteco dos recursos

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  • naturais e do meio ambiente; na crescente institucionalizao deorganizaes polticas regionais e mundiais (como a ONU); no compromissocom os direitos humanos. Estes movimentos reafirmam de algum modo acaminhada em direco, nas palavras de Archibugi (2008), a uma"commonwealth global de cidados", importando no entanto no esquecerque as aces destas organizaes esto tambm frequentementecondicionadas pela agenda global mercantilizada e que a maior densidade dasociedade civil global propicia igualmente a criao de novos papisgeopolticos dos Estados.

    Educao no contexto da globalizao e justiaA noo de globalizao tem sido usada para comparar e analisar

    polticas educativas (Ball, 1998), com nfase particular nas questes do podere do conhecimento, na tecnologia, no princpio da igualdade deoportunidades, nas polticas da diferena no interior da educao, entreoutros temas.

    Por outro lado, a globalizao tem vindo a impor um novo mandato aosdiferentes pases no sentido de, em nome das vantagens competitivas quepodem alcanar, terem de redefinir os seus sistemas de ensino e de formaonacionais em termos de qualidade, avaliada segundo padres internacionais.

    Isto exige que os sistemas educacionais se rendam cultura daperformatividade sistmica, atravs da imposio de indicadores dedesempenho como os novos mecanismos de ligao entre o centro queproduz a poltica e as periferias que a pem em prtica. Ou seja, enquanto ossistemas educativos eram tradicionalmente locais protegidos por discursos debem comum, de servio pblico, actualmente interessa posicionar a educaocomo um dos sectores de servio cruciais para a economia, tal como TonyBlair, referindo-se aprendizagem, reconheceu numa interveno pblica,nos finais da ltima dcada: "a educao a melhor poltica econmica quens temos, em 1998".

    Claro que no estamos perante uma educao qualquer. Integradanesse imaginrio econmico de que estamos a viver numa economia baseadano conhecimento, a educao sobretudo "conhecimento bytificado" (outransformado num sistema automtico baseado na pronta disponibilizao de

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  • informao e skills), que deve ser retrabalhado como uma mercadoria econtribuir para reforar os quatro pilares de uma economia s e competitiva:o da inovao, o das novas tecnologias, o do capital humano e o da dinmicaempresarial. O resto, tal como a poltica, deve ser remetido para o sto das"quinquilharias".

    Consequentemente, a educao, embalada no discurso daaprendizagem on-line, j no deve ser sensvel s origens sociais, polticas eculturais de um pas; o que importa so os valores que se encaixem na ticada anlise custo-benefcio. Na nova retrica poltica global, onde predomina omais globalizado e engenhoso dos discursos, que o discurso daaprendizagem ao longo da vida (e que , segundo Olssen, 2004, uminstrumento da governamentalidade flexvel) parece que os sistemaseducativos esto a perder a sua funo Durkheimiana original de transmitirculturas nacionais e de promover a coeso social, uma vez que se verifica noensino uma oportunidade comercial que beneficiar claramente com ainternacionalizao, com a mercantilizao do sector escolar e com oreconhecimento global.

    Estes processos passam pela criao de escolas de iniciativaempresarial, desburocratizadas, descentralizadas e mais autnomas, escolasinternacionais, patrocnios privados, novas parcerias pblico-privadas,penetrao curricular por tendncias globais e produo de materiaiseducativos, com o desenvolvimento de uma pedagogia tecnologicamentemediada, com a reorganizao da educao bsica e secundria e formaode professores (que corresponde s capacidades e competncias requeridaspelos trabalhadores num mundo globalizado), com a mercantilizao daeducao superior.

    No caso especfico da aprendizagem, um outro conjunto de estratgiasvisa reforar precisamente a sua centralidade tornando-a mais personalizada,fluida e flexvel, para produzir, j no tanto cidados consumidores mascidados activos. Ou seja, esta personalizao, adequada actual narrativamestra da economia do conhecimento, teria as mesmas intenes mercantismas agora atravs do apelo a uma maior participao. Esta "personalizaocomo pedagogia" para a economia baseada no conhecimento faria avanar,como refere Hartley (2007), a mercantilizao da educao colocando-a nocorao do processo pedaggico, ao mesmo tempo que reintroduziria os

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  • mecanismos de consumismo na educao: o indivduo seria, agora, oprodutor-consumidor, que constri a sociedade.

    Concluindo este ponto: a educao sofre os impactos directamente daglobalizao, mas tambm indirectamente atravs de violao dos direitosdas crianas, da dvida pblica, das crises financeiras, como a actual. Ser,ento, que mesmo assim poderemos continuar a afirmar que os processos deglobalizao apenas mudaram a posio relativa dos fenmenos educativossem alterar a sua substncia? Ou que Estados relativamente marginais efrgeis no contexto da globalizao devem omitir que a educao simultaneamente causa e efeito, problema e uma possvel soluo para afragilidade em causa?

    Tudo o que ficou dito remete-nos para uma outra reflexo querelaciona a educao em tempos de globalizao com a questo da justia.Na verdade, e independentemente do modo como pensamos a globalizao, um facto que esta est a mudar o modo como argumentamos acerca dajustia (ver Fraser, 2007: 252). Isto significa que a justia como redistribuio,na linha da justia econmica, e a concepo de justia como reconhecimentocultural j no podem mais confinar-se ao espao nacional estatizado e aosseus beneficirios (os cidados nacionais).

    Neste sentido, uma viso mais global, mais cosmopolita da justia temvindo a ser reivindicada, de modo a potenciar no apenas a suabidimensionalidade (econmica e cultural) mas tambm a dimenso polticada representao, isto , a justia como paridade de participao, quereivindica o estabelecimento de regras de deciso para dirimir conflitos quernas vertentes econmicas quer culturais, dando voz s minorias, sejam elaspovos, minorias ou mulheres Estamos, ento, num outro paradigma queexige uma nova teoria da justia social ou, na terminologia de Fraser (2007),uma teoria da "justia democrtica ps-westfaliana".

    Este novo paradigma impe educao novas exigncias,designadamente em termos de aprofundamento das suas razesdemocrticas e participativas (que de modo algum podem restringir-se aocampo das territorialidades soberanas actuais), pugnando por uma maiorsimetria estrutural de poder nos diferentes nveis de relaes sociais (relaesde trabalho, organizaes, interaces) e independentemente das formasem que a desigualdade de poder emerge (explorao, dominao, opresso,

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  • discriminao, excluso, marginalizao). Por outro lado, este modo deconceber a justia refora tambm a cosmopoliticidade que a educaodever ter sempre presente.

    Educao cosmopolticaFace descrio anterior sobre o globalismo e o seu cosmopolitismo,

    reforados com a emergncia de um Estado ps-social minimalista, cada vezmais ps-democrtico, em que novas desigualdades assomam perante umclaro declnio da esfera pblica (ou da sua contaminao pelainstrumentalidade e interesses particularsticos) e em que muitas sociedadesse transformam em "parasos divididos", com alguns a procurarem asmximas vantagens das oportunidades oferecidas pelo mercado e outros asentirem-se cada vez mais perifricos e socialmente irrelevantes, interessa-me analisar agora como a educao pode ser resgatada luz dacosmopoliticidade democrtica que aqui proponho (veja-se a nota 1).

    Em primeiro lugar, uma das intencionalidades da cosmopoliticidadedemocrtica no campo da educao vai no sentido de reteorizar as relaesentre escola pblica e democracia, revendo, desde logo, a concepo dedemocracia no mundo global (Reid, 2005). A criao de uma "democraciamoral cosmopolita" (que aponta para a possibilidade de cada cidado podergozar de cidadanias mltiplas, tendo em conta os contextos que os afectam)dever, segundo este autor, ser reforada, obrigando as escolas a que: (i)ofeream um currculo que desenvolva um determinado nmero decapacidades acordadas publicamente; (ii) reflictam e dem expresso aprincpios democrticos nas pedagogias, estruturas e processos escolares;(iii) operem em modos que valorizem a diversidade atravs da construo dacomunidade; (iv) no excluam nenhum estudante da participao na vidaescolar por razes de diferena; (v) enformem a sua gesto por princpios dedemocraticidade e participao.

    Do mesmo modo, a aprendizagem deve tambm, neste contexto, serencarada como um processo de compromisso com o "outro", com a razo eos direitos humanos, numa distribuio igual das oportunidades eperspectivas de vida (Olssen, 2004: 26-27). Com efeito, a aprendizagem deveentender-se, na linha de pensamento deste autor, como um compromisso

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  • poltico e social numa comunidade global, constituindo, deste modo, umaforma de participao poltica e democrtica, que deve atender:

    i) igualdade, pois o desenvolvimento de qualquer concepo dejustia democrtica, que implica um conceito de aprendizagem,deve incluir a distribuio de recursos e oportunidades de vida;

    ii) ao papel do Estado, garantindo, como um direito fundamental, oacesso educao e ao conhecimento assim como informao eao desenvolvimento de capacidades;

    iii) ao desenvolvimento da sociedade civil, aqui entendida como osector autnomo do Estado e da economia, reconhecendo-lhe odireito ao dilogo, mas tambm contestao, ao desafio ou oposio;

    iv) ao papel da educao, como crucial aprendizagem para ademocracia.

    Ento, a proposta mais congruente para compreender a escola dentrodesta contextualizao terica conceb-la como "organizao democrtica"e como "arena poltica", em que se fomentam prticas de democraciadeliberativa/comunicativa; em que se questionam os modelos polticos,econmicos e sociais de acordo com a justia que promovem; em que sedenunciam as perverses e as injustias geradas pelos modelos de produocapitalista hegemnicos; em que se desocultam os processos de legitimaodas opes culturais dominantes; em que se expem os tipos dominantes darelao entre poder e conhecimento; em que se alerta para a invasoasfixiante da vida quotidiana e das instituies escolares pela racionalidadecientfica (Torres, 2008).

    Em sentido mais amplo, a educao cosmopoltica deve posicionar-sede modo a potenciar novos direitos, como o da solidariedade (que deveatravessar divises e hierarquias de linguagem, etnicidade, religio, territrio,cultura ou cidadania), contrariando o movimento da educao focada no selfmais individualizado, ou da educao baseada na criao do "cosmopolitaestratgico", do cidado como jogador econmico globalmente orientado,investindo antes na promoo do "self cosmopolita" (ver Mitchell, 2003),participativo, integrando as redes de solidariedades locais e transnacionais decooperao, mas tambm de oposio, nunca obscurecendo a importnciadas relaes sociais e da cultura.

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  • Dentro do mesmo esforo, a educao cosmopoltica pode reforar aidentidade cultural, abrindo-se esta para a anlise das reconfiguraes detempo e espao, para a criao de novas espacialidades e mobilidades, paraa considerao de novas racionalidades, desde logo, a racionalidadecosmopolita que , segundo Santos (2002), aquela que aumenta e densificaas possibilidades de a Humanidade encontrar respostas concretas eadequadas para os seus problemas, partindo da ideia, implcita no conceito de"hermenutica diatpica", de que todas as culturas so incompletas e quepodem, por isso, ser enriquecidas pelo dilogo e pelo confronto com outrasculturas.

    esta racionalidade que eu prefiro caracterizar como cosmopoltica que, no meu entender, contribuir para reconfigurar a noo de pblicocomo uma "forma de solidariedade social" (Calhoun, 2002: 159) ao mesmotempo que aumentar a abrangncia e a inclusividade da esfera pblica,fertilizada pelos valores da democracia cosmopoltica. Tambm ela permitirir alm das identidades nacionais territorializadas, apontando antes para acompreenso do lao social como compromisso com os princpios polticosque devem reger uma comunidade poltica aberta s outras comunidades.

    Estamos, consequentemente, num outro registo que coloca aeducao numa nova ordem emancipatria, sintonizada com novasexigncias em termos de justia, que considera que os afectados por umadada estrutura ou instituio social tm o direito moral de ser tratados comosujeitos de justia. E os afectados no so apenas os situados naterritorialidade estatal e condicionados pelo contrato social moderno. Nareconfigurao do contrato social da modernidade a que vimos assistindo,levada a cabo na tenso entre factores de ordem econmica, cultural epoltica (ver Stoer, Magalhes & Rodrigues, 2004), as cidadanias emergentes,nomeadamente as culturais, reclamam a sua soberania face ao Estado emarcam as suas diferenas, ao mesmo tempo que invocam outras justias,para alm da estatal.

    Neste sentido, as polticas de redistribuio e a cidadania social devemser repensadas na base de outros territrios (ou instncias), entre os quais omundial. Ento, a concepo de justia mais congruente com estas novasexigncias a ps-westfaliana e dialgica a todos os nveis, orientada para acriao de uma nova ordem mundial mais democrtica e maisdemocraticamente controlada.

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  • Tambm aqui a educao cosmopoltica deve apoiar a construo doacordo cada vez mais amplo e entrecruzado entre distintos lugares, pelaconversao ou interdialogao (ver Appiah, 2004 e Santos, 2004),construindo-se uma universalidade tica concreta, de confluncia, que "vemde baixo", cordial e sensvel s necessidades das vtimas dos projectostotalizadores. Para tal, a educao deve fomentar a mobilizao, entre outros,de dois processos claramente relacionados com a "no dominao" (Olssen,2004; Olssen, Codd & Neilli, 2004): a "deliberao" que implica obter umadeciso que represente um balano justo entre diferentes pontos de vista ea "contestao", entendida como central deliberao e liberdade e quesubstitui a arbitrariedade na tomada de deciso.

    ConclusoNesta nova configurao histrica em que se constitui a sociedade

    global, mltipla e heterognea, em que se generalizam as relaes, osprocessos e estruturas de dominao e apropriao, antagonismo eintegrao, como diz Ianni (2001: 171), no podemos ficar indiferentes aosdesafios epistemolgicos, ontolgicos e tericos que do aos fenmenossociais uma dimenso global.

    Depois, a complexidade da globalizao e dos seus impactos exigeuma nova cartografia geopoltica que trace os fluxos de efeitos globais e ospadres de imitao, diferena, dominao e subordinao na poltica e naprtica da educao.

    Por outro lado, a globalizao no supera as desigualdades nem ascontradies, antes as recria, as desenvolve a outros nveis e com novosingredientes e com novas linguagens (por exemplo, atravs de programas deajustamento estrutural). Contudo, a soluo no est tanto em saber se aglobalizao deve ou no ser rejeitada, "mas como pode ser regulada emtermos de princpios que promovam a justia social" (MacDonald, & Midgley,2007: 11).

    nesta trajectria que devemos reorientar o cosmopolitismo, fazendono apenas que ele no recubra misrias e decepes, sob o manto dohumanitarismo, da segurana, da salvao dos mercados, da securitizao dodesenvolvimento imposta aos pases mais pobres, mas tambm que

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  • direccione as lealdades primeiras para o conjunto da Humanidade e no paraos Estados, "porque as diferenas entre quem est dentro ou quem est fora[dos Estados] so moralmente irrelevantes", como nos diz Linklater (1998:56).

    Foi neste sentido que propus neste artigo a noo decosmopoliticidade democrtica, visando reorientar o cosmopolitismo ligando-o a formas de contra-globalizao, de justia cognitiva, de combate a rituaisde desigualdade e de monopolizao de oportunidades, de denncia denovas formas de regulao da incluso/excluso e de limitao da mobilidadesocial; ligando-o, enfim, a formas de solidariedade social, ainda quedesarticule ou afrouxe a sua vinculao aos conceitos de soberania ou denacionalidade territorializada.

    Perante isto, onde situar as funes da educao, considerando que oprprio cidado crtico actual um actor algo paradoxal, pois solidrio, maspouco participativo; crente na justia equitativa, mas h muito tempo querenunciou poltica como meio para transformar o mundo?

    A minha proposta desenvolveu-se congruentemente a partir da noode educao cosmopoltica, investindo numa outra justia educacional,constituda em alternativa para a construo de uma nova ordem mundial,pela participao socialmente empenhada de cidados e cidads numaredistribuio e num reconhecimento que se afastem do "modelo dagenerosidade" e se aproximem do de justia global.

    No se trata, por conseguinte, de conceber o Outro nossa imagem esemelhana ou de propor, atravs do cosmopolitismo, a universalizao dedireitos e deveres tendo por base a generalizao do Outro, isto , aconsiderao de que o Outro possui as mesmas caractersticas, a mesmaracionalidade, os mesmos desejos e as mesmas necessidades que o Eu.

    Com a noo de cosmopoliticidade reiteradamente expressa nestetrabalho, pretende-se, antes, enfatizar a universalidade concreta, valorizar adiversidade e a interlocuo culturais, reconciliar as diferenas, aprofundar oque temos em comum3. Aponta-se, por conseguinte, para um universalismodialgico, de confluncia, que tem como objectivo a construo de umacomunidade de comunidades, reconhecendo, como princpio, que todos osindivduos so de valor moral igual e que devem fazer parte da nossacomunidade de dilogo e ateno.

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  • Notas1 Tenho vindo a utilizar o conceito de cosmopoliticidade democrtica no sentido de

    inscrever a natureza do esprit cosmopolite (que transcende o particularismoregional, quer este seja definido territorialmente, culturalmente, linguisticamente ouracialmente) e a dimenso tico-poltica democrtica, dialecticamente construda.Por outras palavras, com esta expresso pretendo ressaltar, recolhendo oscontributos de Daniele Archibugi e de Paulo Freire, um campo de fora global, denatureza tica, cultural e poltica, construdo e reconstrudo em tenso dialgica, apartir de redes e consensos entrecruzados, que no respeitam mais a distinocentro-periferia, mas que apontam antes para outra espacializao da poltica e dosdireitos humanos e tambm para formas de redistribuio social mais globais.

    2 Pese embora a crtica de a solidariedade dos cidados mundiais, fundada apenasno universalismo moral dos direitos humanos, ser demasiadamente fraca para gerara coeso requerida para a implementao de polticas globais, como nos diz Cheah(2006: 7).

    3 Para outros autores, nomeadamente Casa-Nova (2008: 93), to ou maisimportante do que tentar perceber o que une as diferentes culturas para tornarpossvel o dilogo, compreender o que as separa. De acordo com a mesmaautora, O desafio terico consiste em de como, a partir da compreenso da(in)comensurabilidade das diferenas, tornar possvel a construo de dilogosentre diferentes.

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    50 Carlos Vilar Estvo

  • EDUCATION, GLOBALISATIONS AND COSMOPOLITANISMS: NEW RIGHTS, NEWINEQUALITIES

    AbstractConsidering the actual context where new inequalities and new injusticesemerge, I aim to articulate the process of globalisation with the construction ofcosmopolitanism and social justice as I distinguish in this discussion varioustypes of cosmopolitanism such as the neoliberal and democratic types. Withinthe latter, I deepen the notion of cosmopoliticity in order to stress the idea ofuniversality as well as global dialogicity and politicity. The end of this essayexplains how democratic cosmopoliticity influences education and educationaladministration so that it contributes to a stronger global justice and the"cultivating humanity".

    KeywordsCosmopolitanism; Justice; Education; Inequalities

    51Cosmopolitismos e novas desigualdades

  • DUCATION, GLOBALISATIONS ET COSMOPOLITISMES. NOUVEAUX DROITS,NOUVELLES INGALITS

    RsumVu le contexte actuel o mergent de nouvelles ingalits et de nouvellesinjustices, on prtend articuler le processus de globalisation avec laconstruction du cosmopolitisme et de la justice sociale, en distinguant, danscette discussion, les diverses modalits de cosmopolitisme, notamment lanolibrale et la dmocratique. Dans la ligne danalyse de cette derniremodalit, l'auteur approfondit la notion de cosmopoliticit pour friser nonseulement l'ide d'universalit mais aussi celle de dialogicit globale et depoliticit. partir de cet encadrement analytique, l'auteur dveloppe lesimplications de la cosmopoliticit dmocratique dans l'ducation en gnral etdans la gstion des organisations ducatives en particulier, tenant en comptele sens que celle-ci acquire, aussi, quand on parle dune contribution aurenforcement de la justice globale et de la "cultivation de l'humanit".

    Mots-clCosmopolitisme; Justice; ducation; Ingalits

    Recebido em Junho/2009Aceite para publicao em Setembro/2009

    52 Carlos Vilar Estvo

    Toda a correspondncia relativa a este artigo deve ser enviada para: Carlos Vilar Estvo, Institutode Educao, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 Braga, Portugal. E-mail:[email protected]