eduardo fortuna - a aplicao em

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Eduardo Fortuna A Aplicação em Fundos de Investimento I 09/09/2002 A Aplicação em Fundos de Investimento I Ao analisarmos o histórico durante o período pós real, dos retornos obtidos pelos fundos mútuos de investimento em renda fixa, quando comparados com as outras aplicações disponíveis no mercado brasileiro, tais como as cadernetas de poupança e os CDB/RDB, podemos observar que os fundos mantém a dianteira, para qualquer horizonte de avaliação, que não seja de curtíssimo prazo. Eles permitiram aos pequenos e médios, a possibilidade de retornos, através do investimento em uma carteira diversificada em ativos de renda fixa e renda variável, gerida por profissionais especializados que, antes, só estavam disponíveis aos grandes investidores. Não resta a dúvida, portanto, que os fundos mútuos representaram uma revolução definitiva, que veio para incrementar a maneira como aplicamos os nossos recursos, a saber: evoluindo da mentalidade de poupadores (aqueles que, essencialmente, estão preocupados em apenas proteger o seu capital); para a noção de investidores (aqueles que, assumem um determinado nível de risco previamente calculado, para obter um maior retorno de longo prazo sobre seu capital) Evidentemente que, ao introduzir o componente risco, refletido pelo tema da marcação a mercado (ver as cinco matérias anteriores a essa), o investidor deve estar preparado para, em momentos de crise interna ou externa, política ou econômica, aceitar uma possível volatilidade de curto prazo no valor de um fundo mútuo de investimento, em contrapartida à certeza da estabilidade permanente das outras alternativas de poupança, disponibilizadas ao poupador. Entretanto, o investidor que assustado por uma eventual redução de curto prazo, no valor de sua aplicação em um fundo de investimento, dela se desfaz, perde a oportunidade de obtenção do benefício de seu maior ganho de longo prazo, e segue a lógica perversa do mau investidor de "vender na baixa e comprar na alta" que é a oposta à estratégia vencedora de "comprar na baixa e vender na alta", acumulando os ganhos.. Não é necessário ser um gênio das finanças nem gastar todo o seu tempo na pesquisa de informações sobre a indústria de fundos, para se ter sucesso como investidor. O que se precisa é de boa orientação, muito bom senso e muita disciplina, para desenhar, e acompanhar a performance, de uma estratégia de aplicação que esteja de acordo com: o risco admitido para o retorno desejado; os seus objetivos financeiros

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Eduardo Fortuna A Aplicação em Fundos de Investimento I 09/09/2002

A Aplicação em Fundos de Investimento I

Ao analisarmos o histórico durante o período pós real, dos retornos obtidos pelos fundos mútuos de investimento em renda fixa, quando comparados com as outras aplicações disponíveis no mercado brasileiro, tais como as cadernetas de poupança e os CDB/RDB, podemos observar que os fundos mantém a dianteira, para qualquer horizonte de avaliação, que não seja de curtíssimo prazo.

Eles permitiram aos pequenos e médios, a possibilidade de retornos, através do investimento em uma carteira diversificada em ativos de renda fixa e renda variável, gerida por profissionais especializados que, antes, só estavam disponíveis aos grandes investidores.

Não resta a dúvida, portanto, que os fundos mútuos representaram uma revolução definitiva, que veio para incrementar a maneira como aplicamos os nossos recursos, a saber:

• evoluindo da mentalidade de poupadores (aqueles que, essencialmente, estão preocupados em apenas proteger o seu capital);

• para a noção de investidores (aqueles que, assumem um determinado nível de risco previamente calculado, para obter um maior retorno de longo prazo sobre seu capital)

Evidentemente que, ao introduzir o componente risco, refletido pelo tema da marcação a mercado (ver as cinco matérias anteriores a essa), o investidor deve estar preparado para, em momentos de crise interna ou externa, política ou econômica, aceitar uma possível volatilidade de curto prazo no valor de um fundo mútuo de investimento, em contrapartida à certeza da estabilidade permanente das outras alternativas de poupança, disponibilizadas ao poupador.

Entretanto, o investidor que assustado por uma eventual redução de curto prazo, no valor de sua aplicação em um fundo de investimento, dela se desfaz, perde a oportunidade de obtenção do benefício de seu maior ganho de longo prazo, e segue a lógica perversa do mau investidor de "vender na baixa e comprar na alta" que é a oposta à estratégia vencedora de "comprar na baixa e vender na alta", acumulando os ganhos..

Não é necessário ser um gênio das finanças nem gastar todo o seu tempo na pesquisa de informações sobre a indústria de fundos, para se ter sucesso como investidor.

O que se precisa é de boa orientação, muito bom senso e muita disciplina, para desenhar, e acompanhar a performance, de uma estratégia de aplicação que esteja de acordo com:

• o risco admitido para o retorno desejado; • os seus objetivos financeiros

• o seu horizonte de investimento

Assim, o princípio básico a ser seguido na escolha de um fundo mútuo de investimento é o de que:

"A escolha do fundo, em termos de probabilidade de risco e retorno, no qual o investidor aplica os seus recursos, deve estar sintonizada com os seus objetivos financeiros desejáveis, para o tempo em que ele pretende manter os seus recursos aplicados - o seu horizonte de investimento".

Este princípio deve sempre ser suportado pelo corolário de que:

"Os retornos históricos passados de um fundo mútuo, quando comparados à média de retornos de sua categoria, não representam uma certeza de idêntica performance futura, mas se os gestores que a obtiveram forem os mesmos, eles servem como um indicador comparativo da possibilidade de sua repetição no futuro".

Algumas regras específicas que devem ser aprendidas, para serem seguidas na formulação de uma estratégia financeira global, em relação aos fundos mútuos de investimento a serem escolhidos para compor uma carteira de fundos, onde serão diversificados os recursos do investidor, são:

Entenda as estratégias de aplicação do fundo, que caracterizam as suas políticas de investimento na abordagem risco / retorno das diferentes categorias de fundos mútuos de investimento disponíveis no mercado, como por exemplo dos:

• Fundos Referenciados

o seu objetivo de retorno deve seguir um indicador de referência ou benchmark, o que limita o grau de liberdade das aplicações, e reduz a volatilidade do fundo a uma volatilidade próxima a de seu benchmark, dependendo da capacidade do gestor.

• Fundos Não Referenciados

o seu objetivo de retorno, não está vinculado a nenhum benchmark, mas está sujeito a algumas restrições de aplicação e, assim, com maior liberdade, resulta em retorno e volatilidade menos previsíveis e mais dependentes da capacidade do gestor.

• Fundos Genéricos

o seu objetivo de retorno, praticamente, não tem restrições de aplicação, podendo inclusive alavancar o patrimônio do fundo dentro de limites (tomar recursos emprestados), o que resulta em retorno e volatilidade imprevisíveis e fortemente dependentes da capacidade do gestor.

• Fundos Genéricos Agressivos

o seu objetivo de retorno não tem nenhuma restrição de aplicação nem de alavancagem, o que resulta em retorno e volatilidade mais imprevisíveis e dependentes da capacidade do gestor, do que as dos fundos genéricos.

• Fundos de Capital Garantido

o seu objetivo de retorno é garantir, a partir de determinado prazo de carência intrínseco ao fundo, pelo menos a devolução do principal aplicado, acrescido ou não, de um retorno adicional sobre um determinado benchmark.

• Fundos de Investimento no Exterior - FIEx

o seu objetivo de retorno é garantir retorno vinculado à valorização do dólar e a queda do risco do Brasil e, conseqüente valorização dos títulos da dívida externa, especialmente o C Bond.

• Fundos de Investimento em Títulos e Valores Mobiliários - FITVM,

o seu objetivo de retorno depende de suas características de gestão, se for passiva procura replicar um índice de referência, como o Ibovespa ou o IBX, se for ativa vai procurar o melhor resultado utilizando as estratégias de seleção de ações e de momento de mercado, sujeitando-se a volatilidade típica do mercado de ações.

Eduardo Fortuna A Aplicação em Fundos de Investimento II 16/09/2002

A Aplicação em Fundos de Investimento II

Dando continuidade ao tema do título, iniciado na matéria anterior, vejamos outras regras específicas que devem ser aprendidas, na formulação de uma estratégia financeira global, em relação aos fundos mútuos de investimento a serem escolhidos para compor uma carteira de fundos, onde serão diversificados os recursos do investidor.

Verifique como cada uma das categorias de fundos mútuos de investimento, acima mencionadas, e suas variações, se adaptam aos seus objetivos financeiros, dentro do horizonte de investimento desejado;

O conceito inerente a esta regra é que, considerando as diferentes possibilidades de investimento vis a vis a relação retorno - risco (volatilidade), não existe uma melhor alternativa, mas sim àquela que melhor se adapta as suas necessidades específicas, e permite que seus objetivos financeiros sejam atendidos no prazo desejado.

Para estabelecer a disposição ao risco de um determinado fundo, podemos analisar sua volatilidade, medida pelo desvio padrão de seus retornos em relação ao retorno médio em determinado período. Assim, a medida da volatilidade de um fundo é realizada, considerando-se a variação diária do valor de sua cota em determinado período de dias úteis.

O próximo passo é comparar a volatilidade dessa cota com o valor da rentabilidade calculada no mesmo período obtendo-se um índice de retorno / volatilidade que, de certa forma, meça o grau de risco a que se expõe o investidor para obter um determinado nível de retorno.

O exemplo mais simples e mais tradicional deste tipo de medida é o Índice de Sharpe - IS, que indica ao investidor se os riscos assumidos pelo fundo foram adequadamente remunerados.

O cálculo deste índice leva em conta a rentabilidade histórica ajustada, isto é, após a subtração de um benchmark que, por exemplo, no caso dos fundos referenciados ao DI, é a taxa do CDI.

O conceito intrínseco é que todo retorno tem o seu preço e, portanto, quanto maior o IS melhor. Um IS negativo para um fundo, estaria indicando que este fundo teria tido, no período medido, um retorno abaixo do seu benchmark.

IS = (Rc - Rb) / sc

Onde: Rc = Retorno da Carteira do Fundo Rb = Retorno do Benchmark sc = Volatilidade da Carteira do Fundo

Um IS de 5, por exemplo, indica que a carteira oferece 5 unidades de retorno adicional sobre o benchmark , para cada unidade de risco da carteira.

Ao se analisar o comportamento histórico de um fundo é sempre melhor dar atenção ao sucesso do seu IS do que considerar, apenas, o sucesso de sua performance de rentabilidade.

Aprenda a assumir riscos de forma prudente, em sintonia com seus objetivos financeiros, e dentro do horizonte de investimento desejado;

Por exemplo, supondo que o objetivo financeiro do investidor seja ter uma renda confortável na aposentadoria, ou então, acumular recursos do momento do nascimento de seu filho, até a idade de sua entrada na universidade de forma a cobrir os custos de seus estudos universitários.

Nesses casos, como o investimento em fundo de ações, historicamente, é mais rentável no longo prazo, quando comparado aos investimentos nos fundos de renda fixa, então, o risco de não se atingir aqueles objetivos de acumulação de recursos em um fundo de renda fixa, pode superar o maior risco de perda intrínseco aos títulos de renda variável

Obtenha o maior valor possível do seu investimento, conhecendo as diferentes taxas que são cobradas pelos fundos mútuos de investimento.

O investidor deve se informar previamente das taxas que são cobradas pelo fundo, dentro do princípio de que tais taxas sempre representam um redutor de sua rentabilidade.

A taxa de administração, por exemplo, cuja finalidade e cobrir os custos administrativos e operacionais do fundo, dependendo de seu valor, pode representar uma parte substancial de receita esperada do fundo.

Se um Fundo Referenciado ao DI, que tenha uma retorno bruto anual esperado de, digamos, 18 % ao ano, cobra uma taxa de administração de 1,8 % ao ano, então, tal taxa representa de cara, a perspectiva de uma redução imediata de 10 % (1,8 / 18) da rentabilidade bruta esperada.

Assim, quanto maior a taxa de administração de um fundo, maior deverá ser o retorno esperado para compensá-la e, por via de conseqüência, em um mercado altamente competitivo, maior deverá ser sua exposição ao risco para alcançar seus objetivos, vis a vis um fundo de idênticas características de aplicação, mas com uma menor taxa de administração

A taxa de performance, por exemplo, cuja finalidade é remunerar o sucesso do gestor do fundo em superar um índice de referência ou benchmark estabelecido com meta de retorno, deve respeitar pelo menos, algumas regras básicas, de forma a minimizar a perda do investidor, a saber:

• o momento e a periodicidade de cobrança da taxa de performance, deve ser compatível com a performance de retorno do fundo; e,

• o índice de referência da taxa de performance, deve estar sintonizado com o índice de referência, ou com as metas de retorno objetivadas pelo gestor, como determinadas e divulgadas na política de investimentos do fundo.

Uma outra taxa que eventualmente pode ser cobrada é a taxa de saída, cuja finalidade é estimular o investidor a permanecer por mais tempo aplicado no fundo, e desta forma, permitir um melhor retorno dos recursos aplicados.

Continuaremos no tema.

Eduardo Fortuna A Aplicação em Fundos de Investimento IV 30/09/2002

A Aplicação em Fundos de Investimento IV

Na matéria anterior relembramos alguns conceitos fundamentais aplicáveis a todos os fundos mútuos de investimento abertos, e examinamos algumas das boas razões que podem e devem dar suporte à decisão do investidor, na escolha da aplicação da sua poupança.

Verifiquemos agora, algumas das relativas deficiências dos fundos mútuos de investimento, para depois complementar com algumas situações em que a sua escolha pode não ser totalmente recomendada:

• Os fundos de investimento não necessariamente nos protegem de uma crise de mercado;

Uma boa estratégia de diversificação das aplicações de um fundo, nos protege contra os chamados riscos não sistemáticos ou diversificáveis, ou seja, o risco de perda de cada um dos ativos específicos que compõem sua carteira ou de um conjunto deles, mas não nos protege contra o risco sistemático ou não diversificável, ou seja, o risco de uma perda do mercado, como um todo.

A intensidade da exposição de um fundo ao risco sistemático depende, na sua essência, de dois fatores:

• a volatilidade negativa dos preços de mercado, como conseqüência: • do aumento das taxas de juros no mercado de renda fixa, • da queda do preço das ações no mercado de renda variável, • do aumento da taxa de câmbio no mercado de dólar e, • do aumento do risco Brasil no mercado dos títulos da dívida externa ; e, • a duração média do conjunto de títulos de renda fixa na sua carteira (o seu prazo

médio restante para o vencimento, considerando o valor presente de cada título).

Uma proteção total só poderá ser obtida com a utilização de instrumentos derivativos como proteção, mas a um custo significativo e, portanto, com uma perda competitiva de rentabilidade.

Os fundos de curtíssimo prazo, também representam uma solução para este risco sistemático, pelo fato de concentrarem suas aplicações em operações compromissadas e títulos de renda fixa de curtíssimo prazo, cujo preço de mercado pouco flutua. Entretanto, suas taxas de administração devem ser maiores e sua rentabilidade é, provavelmente, pouco competitiva vis a vis as demais aplicações.

• Os fundos de investimento não garantem que a performance de retorno passada será repetida no futuro;

Jamais devemos aplicar em um fundo de investimento, apenas porque o seu passado é recheado de grandes performances positivas. Tal fato, quando muito, poderá nos indicar que, mantidas as mesmas condições de mercado, e desde que a equipe gestora do fundo se mantenha, ele é competitivo e o sucesso de seus retornos, poderá se repetir.

• Os fundos de investimento não têm a proteção do Fundo Garantidor de Crédito - FGC;

As aplicações em caderneta de poupança e em CDB/RDB, ou outros títulos emitidos por instituições financeiras são, juntamente com os recursos depositados em conta corrente, protegidas, no seu somatório, pelo FGC, até o limite de R$ 20.000,00 por CPF.

Os fundos mútuos de investimento não têm esta proteção, entretanto, a possibilidade de quebra de um fundo que seja administrado por uma instituição financeira tradicional é, acreditamos, uma possibilidade remota.

· Os fundos de investimento de renda fixa recolhem mensalmente, no último dia útil do mês, o imposto de renda sobre os ganhos de capital obtidos no período, independente do fato de ter sido efetivado um resgate;

O recolhimento antecipado do IR sobre ganhos de capital reduz a rentabilidade da aplicação em fundos, pois diminui o valor aplicado para o período seguinte.

Tal fato, entretanto, na média, não tem sido um fator de redução de sua competitividade vis a vis as alternativas acima mencionadas, mas certamente, permitiria um melhor retorno, caso não existisse.

• Os fundos de investimento de renda fixa pagam IOF, de acordo com tabela regressiva para resgates até os primeiros 30 dias corridos seguintes a cada aplicação;

Essa restrição estabelece uma carência branca para os fundos, mas não é um fator de redução de sua competitividade vis a vis as alternativas acima mencionadas, pois enquanto todas as demais aplicações em renda fixa também estão sujeitas a este tipo de restrição, as cadernetas de poupança só apropriam rendimentos nas datas de aniversário das suas aplicações.

• Os fundos de investimento podem se desviar de sua estratégia original, como definida em sua política de investimentos;

Ao aplicar em um fundo o investidor está transferindo ao seu gestor o controle total sobre os resultados do seu investimento.

Se o gestor cumprir o que está estabelecido em sua política de investimentos, motivo da escolha do investidor, então tudo bem, foi o contratado. Caso contrário, o gestor estará expondo o investidor a uma relação de retorno / risco esperado, diferente do estabelecido, e que pode lhe representar um risco de perda não esperado, então tudo mal, não foi o combinado.

Algumas das situações em que a aplicação em fundos mútuos de investimento, poderiam não ser recomendadas aos investidores, ocorrem quando:

• O investidor conhece suficientemente os mecanismos e as estratégias do mercado de ações, para não necessitar da ajuda de um especialista;

• O investidor conhece suficientemente os mecanismos, as estratégias e as alternativas do mercado de renda fixa, e especialmente, do mercado de títulos do Tesouro, para não necessitar da ajuda de um especialista;

• O investidor tem necessidades de aplicação, traduzidas em termos de objetivos financeiros e horizontes de investimento, tão específicas, que não se justifica sua vinculação a um fundo mútuo de investimento.

Continuaremos no tema.

Eduardo Fortuna A Aplicação em Fundos de Investimento VI 14/10/2002

A Aplicação em Fundos de Investimento VI

Na matéria anterior analisamos, as etapas a serem seguidas na escolha do(s) fundo(s) mútuo(s) de investimento, que mais se adapta(m) as nossas necessidades tendo como base: o quanto de retorno desejamos de um fundo de investimento; por quanto tempo; e, com que quantidade de risco.

Feito isso, vamos examinar agora, alguns dos mecanismos utilizados para avaliar o(s) fundo(s) de investimento(s) que melhor se ajusta(m) aos objetivos, então estabelecidos.

O primeiro mecanismo de avaliação de um fundo, antes de nele efetivar um investimento, é a estratégia de investimento do gestor, como definida na Política de Investimentos do fundo, sob análise.

Nesta etapa queremos saber como o gestor pretende alocar os recursos aplicados pelo fundo, a saber:

• Na visão estratégica, estaria a definição da distribuição percentual dos recursos, nas diferentes classes de ativos disponíveis em mercado, tais como renda fixa, renda variável, ou instrumentos derivativos - a alocação de ativos, ou asset allocation;

• Na visão tática estaria a definição da distribuição percentual dos recursos em ativos específicos - o stock picking, dentro de cada uma das classes escolhidas, tais como:

• títulos públicos federais, títulos privados financeiros, ou títulos privados empresariais, na classe de ativos de renda fixa;

• ações de maior liquidez do Ibovespa, ações de maior valor de mercado do IBX, ações que compõem o índice FGV 100, que fazem parte do índice brasileiro de governança corporativa, ou ações de pequenas empresas com potencial, negociadas na Bovespa ou no SOMA, mas pouco conhecidas, na classe de ativos de renda variável; e,

• opções de compra, opções de venda, operações no mercado futuro, ou contratos de swap, na classe de instrumentos derivativos.

• Na visão operacional estaria a definição da forma e do momento de operar os mercados das diferentes classes de ativos, as estratégias e táticas relacionados aos momentos de compra, de venda e de montagem de operações combinadas, dentro de cada classe de ativos e entre elas - o market timing.

O conhecimento destes elementos de gestão são fundamentais, porque nos permite ter uma idéia de como a performance do fundo de investimento vai se desenvolver sob determinadas condições de mercado.

Exemplos:

Um fundo muito carregado em ações de grandes empresas e que pagam ótimos dividendos, tende a ter uma melhor performance quando o mercado de ações está em queda, do que um outro fundo muito carregado com ações de pequenas empresas, pela simples razão de que àquelas ações são mais estáveis do que essas últimas.

Por outro lado, se o mercado de ações está em alta, a melhor performance tende a ocorrer no fundo mais carregado com as ações das pequenas empresas.

Um fundo muito carregado em títulos de renda fixa pré-fixada tende a ter uma melhor performance quando há uma queda nas taxas de juros do que um outro fundo que esteja mais concentrado em títulos pós-fixados, respeitados os prazos dos títulos e as condições de credibilidade conjuntural do mercado.

Por outro lado, no caso de alta das taxas de juros e respeitadas as mesmas condições anteriores, o inverso tende a ocorrer.

Para se ter acesso à verdadeira política de investimentos, como definida para um fundo de investimento específico, e que normalmente não está totalmente clara na sua denominação e folheto de propaganda, faz-se necessário obter e examinar com atenção e curiosidade o Regulamento do Fundo registrado na CVM, como publicado pelo seu administrador.

O segundo mecanismo de avaliação de um fundo sob análise, antes de nele efetivar um investimento, é a performance passada do fundo, embora sem jamais esquecer a máxima de que: "a performance passada de um fundo não representa a garantia de uma mesma performance futura", mas é apenas, e desde que tenha sido mantido o mesmo gestor, uma referência de comportamento de gestão, em relação às oscilações dos mercados.

Na realidade, o histórico de performance de um fundo de investimento representa uma boa indicação sobre como esse fundo, em tese, pode reagir às diferentes condições de mercado que poderão ocorrer no futuro, e como ele pode ser comparado com fundos de investimento com políticas de investimento similares.

Assim, antes de se decidir pela aplicação em um fundo de investimento, sempre se deve comparar os retornos obtidos por fundos de investimento, com políticas de investimento similares, em um significativo número de janelas de períodos de tempo diferentes.

Essas janelas de períodos de tempo podem incluir períodos contínuos de 3, 6, 12, 24, 36 ou 60 meses, ou então, períodos discretos nas mesmas dimensões anteriores, aleatórios, ou específicos de períodos de crise, e que se sobreponham, quer sejam curtos (de até 12 meses) ou longos (acima de 12 meses)

O fundo que tiver tido a melhor e mais consistente performance no maior número desses períodos - pois será muito pouco provável que um mesmo fundo tenha sido o melhor em todos eles -, certamente é um sério candidato a ser o escolhido.

Neste tipo de avaliação, não devemos ficar muito assustados com a volatilidade da performance de um fundo, desde que estejamos cientes de que, apesar dela, o fundo de investimento escolhido tem o melhor histórico de performance de retornos.

Continuaremos no tema.

Eduardo Fortuna A Aplicação em Fundos de Investimento VII 22/10/2002

A Aplicação em Fundos de Investimento VII

Na matéria anterior iniciamos o exame de alguns dos mecanismos utilizados na avaliação do(s) fundo(s) de investimento(s) que melhor se ajusta(m) aos objetivos de retorno, risco e prazo de aplicação anteriormente estabelecido, apresentando dois deles.

Vamos continuar no tema, analisando outros desses mecanismos.

O terceiro mecanismo de avaliação de um fundo, antes de nele se efetivar um investimento, é o do julgamento dos riscos associados ao fundo sob avaliação.

Para tanto, a partir dos dois mecanismos anteriormente citados, é necessário que o investidor compreenda que, uma vez definida a política de investimentos de um fundo o retorno que provavelmente por ele será obtido, será uma função direta da capacidade do gestor do fundo de gerir as escolhas e a movimentação dos ativos em sua carteira, ao levar em consideração todos os riscos genéricos de mercado e específicos do tipo de fundo sob análise.

É sempre bom recordar que o risco de um investimento, qualquer que seja ele, é a possibilidade de perda em relação a um valor de retorno esperado pelo investidor, e que todos os investimentos estão sujeitos ao risco, com maior ou menor grau de intensidade, sempre de acordo com as premissas da escolha prévia do investimento desejado e do acerto da sua gestão posterior.

Um fundo poderá ter dois tipos de gestão:

A gestão passiva, através da qual um fundo de investimentos estrutura sua carteira de ativos, de forma a associar seus riscos e retornos esperados ao comportamento de um índice ou indicador – um benchmark, escolhido como referência tais como CDI, no caso de fundos de renda fixa, ou o Ibovespa, no caso de fundos de ações.

Os fundos de investimento de renda fixa classificados como referenciados, representam o mais clássico exemplo desta categoria de gestão.

A gestão ativa, através da qual um fundo de investimentos estrutura sua carteira de ativos, de forma a obter o melhor retorno possível de acordo com a sua política de investimentos.

De certa forma, todos os fundos de investimento de renda fixa não classificados como referenciados, estão incluídos nesta categoria de gestão.

Uma das mais freqüentes reclamações dos investidores em fundos de investimento, é a de ter investido em um fundo de renda fixa que lhes tenha produzido uma perda temporária não esperada.

A recorrência dessa situação ocorre porque, provavelmente, eles ainda não tenham conseguido compreender o fato de que todas as aplicações de renda fixa, cujo resgate possa ocorrer antes da data de seu vencimento, estão sujeitas ao risco de taxas de juros, e por esta razão, deverão ser contabilizadas na carteira dos fundos de investimento pelo seu valor negociado em mercado.

(Para compreender melhor este mecanismo leia a série de cinco matérias sobre marcação a mercado, publicadas entre os dias 05/08 e 02/09 deste ano).

No caso dos fundos de investimento em renda variável, mais especificamente os fundos de investimento em ações, os investidores estão mais conscientes, e portanto mais preparados, para a possibilidade de uma eventual perda.

Entretanto, mesmo nessas situações, eles podem ser surpreendidos pela magnitude dessas perdas, ou então, podem ficar surpresos por não entenderem como se deram os seus fatos geradores.

A grande pergunta a ser feita é:

"Como podemos avaliar antecipadamente, e de forma generalizada e comparativa, os riscos de performance de retornos que estamos assumindo ao adquirir um fundo de investimento?"

E a difícil e frágil resposta pode ser:

"Através das diversas medidas de risco de performance que podem ser utilizadas pela indústria de fundos de investimento".

A resposta é difícil porque, quando mencionamos medidas de risco de performance, estamos falando em medidas relacionadas a incertezas e, portanto, há algo que tem probabilidade de acontecer, ou não.

A resposta é frágil porque todas as medidas de risco de performance estão fundamentadas em eventos ocorridos em períodos de tempo passados, e que jamais representam a certeza de sua repetição no futuro, mas apenas uma referência de comportamento, sob as mais variadas circunstâncias.

Entre algumas das principais medidas de referência de risco de performance, podemos citar:

• o máximo Draw Down;

• o Índice de Sucesso;

• o Erro Quadrático Médio;

• o Índice Beta;

• o Desvio Padrão ou a Volatilidade;

• o Prazo Médio de Vencimento ou a Duração; e,

• o histórico dos índices de risco e retorno.

Vamos conhece-las na próxima matéria.