eduardo da costa macedo - Á natureza

1
Á Natureza Nascimento: Favaios, 15 de Novembro de 1859 Morte: Santo Tirso, 20 de Maio de 1916 (57 anos) á natureza Ó Natureza mãe, ó mãe sagrada, Que o Céu azul vestiste de fulgor, Dando-lhe o sol,-a rutilante flor, Como a nós uma alma apaixonada: Tu não puniste essa cruenta espada, Que traspassou o seio deste amor; Deixaste-nos cobrir a nuvem, -dor, E soltaste por cima uma risada. Para que existem fulgidas e belas, Dispersar sobre nós, febris estrelas? Vamos antes vagar na escuridão. O que importa beber a fé num lírio? Se o amor nos serve só para martírio, Mais vale assassinar o coração! 1 Porto, 11 de Julho de 1881 Eduardo da Costa Macedo Advogado, escritor, poeta, publicista e pensador Português

Upload: arq-alberto-costa-macedo

Post on 04-Aug-2015

85 views

Category:

Education


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: Eduardo da Costa Macedo - Á natureza

Á Natureza

Nascimento: Favaios, 15 de Novembro de 1859

Morte: Santo Tirso, 20 de Maio de 1916 (57 anos)

á natureza

Ó Natureza mãe, ó mãe sagrada,

Que o Céu azul vestiste de fulgor,

Dando-lhe o sol,-a rutilante flor,

Como a nós uma alma apaixonada:

Tu não puniste essa cruenta espada,

Que traspassou o seio deste amor;

Deixaste-nos cobrir a nuvem, -dor,

E soltaste por cima uma risada.

Para que existem fulgidas e belas,

Dispersar sobre nós, febris estrelas?

Vamos antes vagar na escuridão.

O que importa beber a fé num lírio?

Se o amor nos serve só para martírio,

Mais vale assassinar o coração!

1

Porto, 11 de Julho de 1881

Eduardo da Costa MacedoAdvogado, escritor, poeta, publicista e pensador Português