eduardo coriolano de oliveira...planch & triana na neutralização de atividades biológicas...

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE FARMÁCIA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS APLICADAS A PRODUTOS PARA SAÚDE Avaliação de Extratos Vegetais de Clusia fluminensis Planch & Triana na Neutralização de Atividades Biológicas Provocadas pelo Veneno de Bothrops jararaca Dissertação de Mestrado EDUARDO CORIOLANO DE OLIVEIRA Orientadora: Prof a . Dr a . Selma Ribeiro de Paiva (UFF) Co-orientador: Prof. Dr. André Lopes Fuly (UFF) NITERÓI 2011

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Page 1: EDUARDO CORIOLANO DE OLIVEIRA...Planch & Triana na neutralização de atividades biológicas provocadas pelo veneno de Bothrops jararaca / Eduardo Coriolano de Oliveira; Orientadora:

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE FARMÁCIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS APLICADAS A PRODUTOS PARA SAÚDE

Avaliação de Extratos Vegetais de Clusia fluminensis

Planch & Triana na Neutralização de Atividades Biológicas

Provocadas pelo Veneno de Bothrops jararaca

Dissertação de Mestrado

EDUARDO CORIOLANO DE OLIVEIRA

Orientadora:

Profa. Dra. Selma Ribeiro de Paiva (UFF)

Co-orientador:

Prof. Dr. André Lopes Fuly (UFF)

NITERÓI

2011

Page 2: EDUARDO CORIOLANO DE OLIVEIRA...Planch & Triana na neutralização de atividades biológicas provocadas pelo veneno de Bothrops jararaca / Eduardo Coriolano de Oliveira; Orientadora:

II

Avaliação de Extratos Vegetais de Clusia fluminensis

Planch & Triana na Neutralização de Atividades Biológicas

Provocadas pelo Veneno de Bothrops jararaca

Por

Eduardo Coriolano de Oliveira

Orientadora: Profª. Drª Selma Ribeiro de Paiva

Co-Orientedor: Prof. Dr. André Lopes Fuly

NITERÓI

2011

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Ciências Aplicadas a Produtos

para a Saúde da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial para a

obtenção do grau de Mestre em Ciências.

Área de Concentração: Desenvolvimento de

Produtos para a Saúde.

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III

048 Oliveira, Eduardo Coriolano de

Avaliação dos Extratos Vegetais de Clusia fluminensis

Planch & Triana na neutralização de atividades biológicas

provocadas pelo veneno de Bothrops jararaca / Eduardo

Coriolano de Oliveira; Orientadora: Selma Ribeiro de Paiva. _

Niterói, 2011.

73f.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal Fluminense,

2011

1. Jararaca (cobra) 2. Farmacoepidemiologia 3. Terapêutica

4. Ofidismo 5. Clusiaceae I. Paiva, Sema Ribeiro de II. Título

CDD 615.942

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IV

Avaliação de Extratos Vegetais de Clusia fluminensis

Planch & Triana na Neutralização de Atividade Biológicas

Provocadas pelo Veneno de Bothrops jararaca

Por

Eduardo Coriolano de Oliveira

Aprovado em agosto de 2011.

Banca Examinadora

_______________________________________________________________

Dra. Selma Ribeiro de Paiva – Orientadora (UFF)

_______________________________________________________________

Drª. Luciana Moreira Chedier (UFJF)

_______________________________________________________________

Dr. Humberto Pinheiro de Araújo (FIOCRUZ)

NITERÓI

2011

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Ciências Aplicadas a Produtos

para a Saúde da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial para a

obtenção do grau de Mestre em Ciências.

Área de Concentração: Desenvolvimento de

Produtos para a Saúde.

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V

“A nossa maior glória não reside no

fato de nunca cairmos, mas sim em

levantarmo-nos sempre depois

de cada queda.”

Confúcio

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VI

Ao meu Filho Miguel,

Minha Esposa Aline

E aos meus Pais Serlio e Marcia,

Por todo amor e dedicação.

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VII

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por sempre mostrar o caminho, quando tudo

parece perdido.

À minha esposa Aline, por todo carinho, compreensão, amor e amizade,

fundamentais para a continuidade deste processo. E ao meu filho, Miguel, que me

impulsiona e motiva cada vez mais a superar os percalços da vida.

Aos meus pais, Serlio e Marcia, pelo amor, carinho e dedicação, sem vocês nada

disso seria possível.

À Ana Claudia Rodrigues e Mariane Assafim, pela amizade, carinho de sempre.

Aos colegas de laboratório, pela amizade, por toda ajuda, pela ótima convivência,

pelos bons momentos de descontração.

Aos meus orientadores Selma Ribeiro de Paiva e André Fuly por terem aceitado esta

orientação e por toda dedicação e paciência, para a realização deste trabalho. Sem dúvida

este trabalho não seria viável sem a ajuda de vocês. Muito obrigado!

Aos meus amigos por toda a força e confiança, mesmo quando eu não acreditava.

À mestre Maria Carolina por sempre estar disposta a ajudar, tirando minhas dúvidas,

e cedendo materiais (extratos e artigos).

À professora Drª. Kátia Lima, co-ordenadora da Pós-Graduação, por estar sempre a

disposição dos alunos.

Agradeço ao programa de pós-graduação em Ciências Aplicadas a Produtos para

Saúde, aos professores e alunos deste programa pelo constante apoio.

Agradeço aos professores da banca examinadora e a revisora da tese por terem

aceitado o convite.

A todas as pessoas que, direta e indiretamente, contribuíram para a realização deste

trabalho, principalmente aqueles que doaram e colheram sangue para os experimentos.

Aos animais de laboratório que, necessariamente, foram sacrificados para a

realização deste trabalho.

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VIII

ÍNDICE

ÍNDICE DE FIGURAS..............................................................................................................X

ÍNDICE DE TABELAS.............................................................................................................XI

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................XII

RESUMO ..............................................................................................................................XIII

ABSTRACT ..........................................................................................................................XIV

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................15

1.1 EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES OFÍDICOS ..........................................................16

1.2 ETIOLOGIA DOS ACIDENTES OFÍDICOS NO BRASIL ...............................................21

1.2.1 ESPÉCIE B. jararaca ....................................................................................................23

1.3 FUNÇÃO E COMPOSIÇÃO DO VENENO ....................................................................24

1.4 TRATAMENTO DOS ACIDENTES OFÍDICOS .............................................................28

1.5 PLANTAS MEDICINAIS ..................................................................................................31

1.5.1 Clusia fluminensis Planch & Triana ..............................................................................33

2. OBJETIVOS ......................................................................................................................35

2.1 OBJETIVO GERAL .........................................................................................................35

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..........................................................................................35

3. METERIAL E MÉTODOS .................................................................................................36

3.1 MATERIAL ......................................................................................................................36

3.2 OBTENÇÃO DO VENENO DE Bothrops jararaca ........................................................36

3.3 ANIMAIS .........................................................................................................................36

3.4 EXTRATO VEGETAL .....................................................................................................36

3.5 PROTOCOLO DE NEUTRALIZAÇÃO ..........................................................................37

3.6 ATIVIDADES BIOLÓGICAS ..........................................................................................38

3.6.1 ATIVIDADE PROTEOLÍTICA .....................................................................................38

3.6.2 ATIVIDADE HEMOLÍTICA ..........................................................................................39

3.6.3 ATIVIDADE COAGULANTE .......................................................................................40

3.6.4 ATIVIDADE HEMORRÁGICA ....................................................................................40

3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA ...............................................................................................41

4. RESULTADOS ................................................................................................................42

4.1 ATIVIDADE PROTEOLÍTICA ........................................................................................42

4.2 ATIVIDADE HEMOLÍTICA ............................................................................................45

4.3 ATIVIDADE COAGULANTE .........................................................................................47

4.4 ATIVIDADE HEMORRÁGICA ......................................................................................49

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IX

4.5 COMPARATIVO DOS EFEITOS DOS EXTRATOS VEGETAIS SOBRE O

VENENO DE Bothrops jararaca ........................................................................................51

5. DISCUSSÃO ......................................................................................................................54

6. CONCLUSÃO ....................................................................................................................58

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................59

8. ADENDO............................................................................................................................71

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X

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Acidentes com animais peçonhentos no Brasil ...............................................16

Figura 2: Distribuição Global de Serpentes Venenosas ..................................................17

Figura 3: Distribuição de casos ofídicos e óbitos (Brasil, 2010) ....................................20

Figura 4: Sistema de distinção entre serpentes peçonhentas e não peçonhentas

................................................................................................................................................22

Figura 5: Distribuição geográfica das principais espécies do gênero Bothrops no

Brasil .....................................................................................................................................24

Figura 6: Foto da serpente B. jararaca e sua distribuição ...............................................25

Figura 7: Componentes presentes no veneno de serpentes ..........................................27

Figura 8: Estrutura geral de um anticorpo. Local de clivagem pela pepsina/papaína

................................................................................................................................................29

Figura 9: Fotos de Clusia fluminensis ...............................................................................34

Figura 10: Efeito dos extratos de C. fluminensis na atividade proteolítica provocada

pelo veneno de B. jararaca .................................................................................................43

Figura 11: Comparação entre o efeito do extrato hexânico da flor de C. fluminensis e a

benzofenona isolada deste extrato na atividade proteolítica provocada pelo veneno de

B. jararaca ............................................................................................................................44

Figura 12: Efeito dos extratos de C. fluminensis na atividade hemolítica provocada

pelo veneno de B. jararaca .................................................................................................46

Figura 13: Comparação entre o efeito do extrato Hexânico da Flor de C. fluminensis e

a benzofenona isolada deste extrato na atividade hemolítica provocada pelo veneno

de B. jararaca .......................................................................................................................47

Figura 14: Efeito dos extratos de C. fluminensis na atividade coagulante provocada

pelo veneno de B. jararaca .................................................................................................48

Figura 15: Comparação entre o efeito do extrato hexânico da flor de C. fluminensis e a

benzofenona isolada deste extrato na atividade coagulante provocada pelo veneno de

B. jararaca ............................................................................................................................49

Figura 16: Efeito dos extratos de C. fluminensis na atividade hemorrágica provocada

pelo veneno de B. jararaca .................................................................................................50

Figura 17: Comparação entre o efeito do extrato hexânico da flor de C. fluminensis e a

benzofenona isolada deste extrato na atividade coagulante provocada pelo veneno de

B. jararaca ............................................................................................................................51

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XI

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Casos de Acidentes por serpentes, no Brasil, registrados pelo SINAN no

período de 2000 a 2010 .......................................................................................................18

Tabela 2: Casos de Acidentes por serpentes registrados pelo SINITOX para o ano de

2009 .......................................................................................................................................19

Tabela 3: Tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde, de acordo com a espécie

causadora do acidente e a gravidade dos sintomas ........................................................30

Tabela 4: Quadro indicativo dos solventes e partes do vegetal utilizadas para o

preparo dos extratos e os códigos dos extratos utilizados no trabalho

................................................................................................................................................37

Tabela 5: Comparação dos efeitos dos extratos vegetais sobre o veneno de B.

jararaca.................................................................................................................................52

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XII

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CaCl2 – Cloreto de Cálcio

CE – Concentração Efetiva

CEUA – Comissão de Ética no Uso de Animais

DMC - Dose Mínima Coagulante

DMH – Dose Mínima Hemorrágica

DMSO - Dimetilsulfóxido

EDTA – Ácido Etilenodiamino Tetra-acético

F(ab) – Fragmento monovalente do anticorpo

F(ab‟)2 – Fragmento divalente do anticorpo

FUNED – Fundação Ezequiel Dias

HCl – Ácido Clorídrico

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana

IgGs – Imunoglubulina G

IVB – Instituto Vital Brazil

NaCl – Cloreto de Sódio

NAL – Núcleo de Animais de Laboratório

NaOH – Hidróxido de Sódio

OMS – Organização Mundial de Saúde

PLA2 – Fosfolipase A2

RPM – Rotações por Minuto

SAB – Soro Antibotrópico

SABL – Soro antibotrópico-laquético

SAC – Soro Anticrotálico

SAE – Soro Antielapídico

SE – Erro Padrão

SIH/SUS – Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde

SIM – Sistema de Informação de Mortalidade

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas

TCA – Ácido tricloroacético

TRIS – Tris-hidroximetil Aminometano

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XIII

RESUMO

O envenenamento ofídico, dentre os acidentes com animais peçonhentos é o mais

importante deles, pela sua frequência e gravidade. No Brasil, as serpentes do

gênero Bothrops são responsáveis por 90 % dos acidentes ofídicos. Os extratos

vegetais apresentam uma diversidade de moléculas com diversas ações

farmacológicas. As espécies de Clusia são de grande interesse paisagístico, porém

duas espécies deste gênero, C. torresii Standl. e C. palmana Standl. apresentam

propriedades antiofídicas contra o veneno de B. asper. O objetivo do nosso trabalho

foi avaliar as propriedades antiofídicas da espécie Clusia fluminensis Planch &

Triana, utilizando diferentes partes vegetais e solventes de diferentes polaridades

para o preparo dos extratos, assim como uma benzofenona isolada do extrato

hexânico da flor, frente atividades biológicas do veneno de B. jararaca. Ensaios in

vitro mostraram que os extratos hexânicos e metanólicos das folhas e frutos, na

proporção de 1:50 (veneno:extrato) foram capazes de inibir 100 % a atividade

proteolítica do veneno de B. jararaca (9 µg/mL), usando-se azocaseína como

substrato; com exceção do extrato hexânico do caule e da benzofenona que inibiram

cerca de 50 %. Na atividade hemolítica do veneno de B. jararaca (88 µg/mL), a

inibição foi de 40 %, nas proporções de 1:10 e 1:20. Por outro lado, os extratos

nestas mesmas proporções não foram capazes de neutralizar a coagulação do

plasma induzida pelo veneno de B. jararaca (22 µg/mL), de forma significativa. Em

ensaios in vivo (atividade hemorrágica) apenas o extrato acetônico do fruto, na

proporção de 1:20, foi capaz de reverter totalmente a hemorragia causada pelo

veneno de B. jararaca (16,7 µg/g). Sendo assim, nossos resultados mostram que a

planta C. fluminensis pode ser uma fonte de moléculas com propriedades

antiofídicas, especificamente contra o veneno de B. jararaca, e que este efeito

neutralizante está diretamente relacionado a parte do vegetal e a polaridade do

solvente utilizado na extração, Além disso podemos concluir que a benzofenona não

é responsável, isoladamente, pelos resultados obtidos.

Palavras-Chaves: Acidente Ofídico, Antiofídico, Bothrops jararaca, Extrato Vegetal,

Clusia Fluminensis.

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XIV

ABSTRACT

Snake venom poisoning, among accidents with venomous animals is the most

important of them, by their frequency and severity. In Brazil, Bothrops are

responsible for 90 % of snake bites. The plant extracts have a variety of molecules

with several pharmacological actions. Clusia species are of great landscape interest,

but two species of this genus, C. torresii Standl. and C. palmana Standl. have

properties against snake venom B. asper. The aim of our study was to evaluate the

antivenom properties the species Clusia fluminensis Triana & Planch, using different

plant parts and solvents of different polarities for the preparation of extracts, as well

as a benzophenone isolated from the hexane extract of the flower, against biological

activity of the venom of B. jararaca. In vitro assays showed that the hexane and

methanolic extracts of leaves and fruits at a ratio of 1:50 (venom: extract) were able

to inhibit 100 % proteolytic activity of the venom of B.jararaca (9μg/mL), using

azocaseíne as substrate, with the exception of hexanic extract from stem and

benzophenone which inhibited about 50 %. In the hemolytic activity of the venom of

B. jararaca (88 µg/mL), inhibition was 40 %, the proportions of 1:10 and 1:20. On the

other hand, the same proportions in these extracts were not able to neutralize the

plasma coagulation induced by the venom of B. jararaca (22 μg/mL) significantly. In

vivo assays (hemorrhagic activity) only the acetone extract of the fruit was able to

totally reverse bleeding caused by the venom of B. jararaca (16,7 µg/g). Thus, our

results show that the plant C. fluminensis can be a source of molecules with

neutralizing properties of snake venom, specifically against the venom of B. jararaca,

and that the neutralizing effect is directly related to part of the plant and the polarity of

the solvent used in extraction, we can also conclude that benzophenone is not

responsible alone for the results.

Keywords: Snakebite, Antiophidian, Bothrops jararaca, Plant Extract, Clusia

fluminensis.

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15

1. INTRODUÇÃO

Os envenenamentos provocados por picadas de animais peçonhentos em

humanos constituem importante problema de saúde pública, especialmente em

países tropicais e em desenvolvimento. As serpentes, escorpiões e aranhas são os

principais agentes causadores de envenenamentos no Brasil (Figura 1). Mais

recentemente, acidentes com lagartas do gênero Lonomia e envenenamentos

causados por abelhas têm merecido atenção devido à gravidade e a alta letalidade.

Contudo, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN), o acidente ofídico é o principal dentre esses, devido ao grande número de

pessoas atingidas e pela própria gravidade que encerram, pois apresentam índices

significantes de morbidade e mortalidade (FUNASA, 2001; de Paula, 2009; Fox e

Serrano, 2009; Lira-da-Silva et al., 2009; Fita et al., 2010).

O mundo das serpentes é fascinante e misterioso, podendo despertar tanto a

admiração quanto o medo na mesma intensidade. No antigo Egito, estes animais

eram adorados. Os imperadores romanos tinham suas coroas decoradas com

réplicas de serpentes. Na mitologia grega, Asclépio (Deus da Medicina) é

representado por um bastão e uma serpente entrelaçada, símbolo utilizado até hoje,

para representar a medicina. De forma geral a serpente está presente nos símbolos

que representam as profissões da área da saúde. Este encantamento decorre das

características próprias e também em função da enorme diversidade de cores,

tamanhos e comportamentos observados nesses animais. O medo provém da

complexidade de sintomas e sequelas causados pelo envenenamento resultante da

picada das serpentes, o que representa um problema de convivência com estes

animais desde a Idade Antiga (4000 a.C.) (Terruggi, 2004; Koh et al., 2006; de

Paula, 2009; Fox & Serrano, 2009).

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16

Figura 1: Acidentes com animais peçonhentos no Brasil. Fonte: Modificado do SINAN (Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/tabnet /dh?sinan/animaisp/bases/animaisbr.def Acesso:25/05/2011)

1.1 Epidemiologia dos Acidentes Ofídicos

Existem cerca de 3.000 espécies de serpentes catalogadas no mundo sendo

apenas 10 % a 15 % venenosas, sendo encontradas em quase todas as partes do

mundo (Figura 2). A real incidência do acidente ofídico em todo mundo e a morbi-

mortalidade associada a este envenenamento é difícil de ser retratado. Porém,

estima-se que 2.5 milhões de pessoas sejam acometidas por picadas de serpentes,

das quais cerca de 125 mil perdem suas vidas. Apesar do índice de letalidade

relativamente baixo (5 %), há um grande índice de sequelas deixadas por estes

acidentes, por exemplo, paralisia e até mesmo a amputação do membro afetado.

(Pinho & Pereira, 2001; Koh et al., 2006; Kasturiratne et al., 2008; Gutiérrez et al.,

2009). Dados da OMS (2007) indicam que em cada sete acidentados sobreviventes,

pelo menos um indivíduo fica com sequelas permanentes provenientes do

envenenamento ofídico.

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17

Figura 2: Distribuição Global de Serpentes Venenosas. Fonte: OMS/2007

No Brasil existem aproximadamente 260 espécies de serpentes, sendo 56

peçonhentas, responsáveis por aproximadamente, 28 mil casos de envenenamento

por ano. Dados fornecidos pelo SINAN demonstram a ocorrência de 280.699 casos

de acidentes ofídicos (Tabela 1), durante os anos de 2000 a 2010 (média de 13,9

acidentes para cada 100.000 habitantes), sendo 2.163 fatais, o que representa 0,77

% dos casos (SINAN, 2011).

Estes acidentes são registrados por quatro sistemas de notificação vinculados

ao Ministério da Saúde: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN),

Sistema de Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX/FIOCRUZ),

Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) e o

Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Apesar da existência destes

sistemas, os dados registrados provavelmente subestimam a real magnitude dos

acidentes ofídicos no país, devido a deficiências na coleta e subnotificação de

dados, e principalmente por dificuldades de acesso aos serviços de saúde de muitos

municípios brasileiros; além da visível falta de comunicação entre as esferas

Municipal, Estadual e Federal do governo.

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18

Tabela 1: Casos de Acidentes por serpentes, no Brasil, registrados pelo SINAN no período de 2000 a 2010.

(Fonte SINAN - Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/tabela_caos_2000_2011_01_04_2011.pdf - acesso:25/05/2011)

Comparando a Tabela 1 e a Tabela 2 pode-se observar a deficiência destes

sistemas de notificação. Dados do SINITOX informam que em 2009 ocorreram 2.807

casos de envenenamentos ofídicos, número menor que os casos registrados

segundo o SINAN, apenas, na região Centro-Oeste do Brasil (2.959 casos), região

esta com o menor número de casos em todo o país (Lemos et al., 2009; Lira-da-

Silva et al., 2009; SINITOX, 2009; SINAN, 2011). Outro exemplo de subnotificação

foi publicado por Fiszon & Bochner (2008) onde eles descreveram que, apenas no

Estado do Rio de Janeiro, 1.181 casos não foram notificados ao SINAN no período

de 2001 a 2005, quando comparados com dados obtidos pela Secretaria Estadual

de Saúde do Rio de Janeiro.

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19

Tabela 2: Casos de Acidentes por serpentes registrados pelo SINITOX para o ano de 2009.

Fonte: SINITOX/FIOCRUZ

(Disponível em: http://www.fiocruz.br/sinitox_ novo/media/tab01 _serpentes_2009.pdf - acesso:25/05/2011)

As regiões Norte, Nordeste e Sudeste apresentam o maior número de casos,

sendo a maior incidência nas regiões Norte e Centro-Oeste (49,1 e 19,5 casos por

100.000 habitantes, respectivamente) (Figura 3). Em 2010, as regiões Nordeste e

Sudeste apresentaram a maior taxa de letalidade do país, com 1,4 % e 1,1 % dos

casos, respectivamente (BRASIL, 2010). Os acidentes por animais peçonhentos

apresentam uma sazonalidade, no qual os acidentes ofídicos têm predomínio nos

meses quentes e chuvosos. Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste observa-se

um aumento do número de acidentes no período de setembro a março. Entretanto,

na região Nordeste o maior número de casos é observado no período de Janeiro a

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20

Maio, enquanto na região Norte os acidentes ocorrem uniformemente durante todo o

ano (Brasil, 2010; SINAN, 2011).

Figura 3: Distribuição de casos ofídicos e óbitos (Brasil, 2010).

A epidemiologia dos acidentes ofídicos revela um perfil que se mantém ao

longo dos últimos 100 anos no Brasil, onde estes ocorrem com maior frequência no

período de setembro a março, pois coincide com o aumento de trabalho no campo

(FUNASA, 2001; Bochner & Struchiner, 2003; Koh et al., 2006). Cerca de 75 % dos

acidentes ocorre nas zonas rurais, sendo mais acometidos os indivíduos do sexo

masculino. A maioria dos acidentados está em uma faixa etária entre 15 e 49 anos.

E, em aproximadamente, 70 % dos casos as picadas ocorrem nos membros

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21

inferiores. A utilização de equipamentos de proteção individual como botas e

perneiras poderiam evitar tais acidentes, reduzindo assim as estatísticas destes

envenenamentos (Pinho & Pereira, 2001; FUNASA, 2001; Brasil, 2005).

Os acidentes ofídicos representam um problema de saúde pública grave em

países tropicais, tornando a pesquisa por agentes antiofídicos e o conhecimento de

seus efeitos tóxico-farmacológicos de grande relevância. Este problema também

leva a um transtorno sócio-econômico no país, pois por vezes a mordedura de uma

serpente gera sequelas irreversíveis que o impede o trabalhador de continuar sua

jornada vital de trabalho, ou até mesmo levando este indivíduo ao óbito, deixando

sua família sem proventos, já que muitas vezes essa família depende de sua força

de trabalho. (Koh et al., 2006).

1.2 Etiologia dos Acidentes Ofídicos no Brasil

Os acidentes ofídicos podem ser causados por serpentes peçonhentas ou

não peçonhentas. A diferença entre estas é a presença de um aparelho inoculador

conectado à glândula de veneno, que é responsável pela inoculação do veneno em

suas vítimas. Além da presença de presas, outras características permitem que se

diferenciem as serpentes peçonhentas das não peçonhentas, como por exemplo, a

fosseta loreal, presente nas serpentes da família Viperidae (Figura 4) (Pardal, et al.,

1997; Pinho & Pereira, 2001).

Das 3.000 serpentes catalogadas em todo o mundo, apenas algumas

centenas são venenosas e destas uma minoria é susceptível a causar

envenenamento significativo em seres humanos. Todas as serpentes venenosas são

encontradas em apenas quatro famílias: Colubridae, Astractaspidae, Elapidae e

Viperidae. No Brasil, apenas as duas últimas são de interesse médico, apesar de

haver relatos de algumas espécies pertencentes à família Colubridae (White, 2000;

FUNASA, 2001).

A família Elapidae é representada pelo gênero Micrurus, contendo 19

espécies em todo território nacional. Estas serpentes são conhecidas como corais

verdadeiras. Cerca de 0,4 % dos acidentes são causados pelas espécies deste

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gênero (Feitosa et al., 1997; FUNASA, 2001; BRASIL, 2005; Bucaretchi, et al., 2006;

Corrêa-Neto, et al., 2011).

Figura 4: Sistema de distinção entre serpentes peçonhentas e não peçonhentas.

Fonte: BRASIL, 2005

A família Viperidae é representada por três gêneros: Crotalus, Lachesis e

Bothrops. O gênero Crotalus é representado pela espécie C. durissus dividida em

sete subespécies, com ampla distribuição geográfica. Esta espécie é identificada

pela presença de um guizo na cauda, sendo conhecida como cascavel. É

responsável pelo maior índice de letalidade (1,8 %) dentre os acidentes ofídicos

ocorridos no país (FUNASA, 2001; BRASIL, 2005; Boldrini-França et al., 2010).

O gênero Lachesis apresenta somente uma espécie, L. muta, conhecida

como surucucu ou surucucu pico-de-jaca. É a maior serpente venenosa das

Américas, podendo alcançar 3 metros de comprimento. Apesar da baixa incidência

de acidentes, possui uma taxa letal de 0,95 %, possivelmente devido ao grande

volume de peçonha injetada e pela diversidade dos efeitos biológicos provocados

por esta. Esta espécie é encontrada na região Amazônica e regiões de Mata

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Atlântica (FUNASA, 2001; Fuly et al., 2002; Stephano et al., 2005; BRASIL, 2005; de

Paula, 2009).

As serpentes do gênero Bothrops são as principais responsáveis pelos

acidentes ofídicos no Brasil com um percentual aproximado de 90 % dos

envenenamentos (Feitosa et al., 1997; Gomes et al., 2009). Este gênero possui

cerca de 45 espécies, sendo encontrado principalmente na América do Sul. No

Brasil existem, aproximadamente, 30 espécies distribuídas em todo território

nacional. Tem uma vasta nomenclatura popular, sendo os principais nomes:

jararaca, jararacuçu, caiçara, urutu, entre outros. Habitam principalmente áreas

rurais e periferias de grandes cidades, com hábitos noturnos ou crepusculares. As

principais espécies são: B. atrox, encontrada principalmente na região Amazônica

(Figura 5A); B. erythromelas encontrada na região Nordeste (Figura 5B); B. jararaca

encontrada tanto em áreas agrícolas e periurbanas, como áreas silvestres. É a

espécie mais comum da região Sudeste (Figura 5C), sendo o principal agente

etiológico desta região; B. jararacussu é a maior serpente e a maior produtora de

veneno do gênero, encontrada nas regiões Sul e Sudeste (Figura 5D); B. alternatus

encontrada na região Centro-Oeste a Sul do país (Figura 5E) (Pinho & Pereira,

2001; BRASIL, 2005).

1.2.1 Espécie B. jararaca

A espécie Bothrops jararaca é encontrada nas regiões mais populosas do

Brasil, sendo responsável pelo maior número de casos nestas localidades. Por isso

o estudo de suas toxinas e de neutralização destas é de extrema importância

(Feitosa et al., 1997; Puzzi et al., 2008).

Bothrops jararaca (Figura 6) é uma serpente terrestre de tamanho médio

(1,20 m a 1,60 m), sendo as fêmeas maiores e mais volumosas que os machos. O

padrão de coloração desta espécie é bastante variado, apresentando desenhos

semelhantes a um “V” invertido de coloração marrom escura ao longo do dorso

(Campbell & Lamar, 2004; Puzzi et al., 2008).

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Figura 5: Distribuição geográfica das principais espécies do gênero Bothrops no Brasil. A) B. atrox; B) B. erythromelas; C) B. jararaca; D) B. jararacussu; E) B. alternatus Fonte: FUNASA/2001

Esta espécie ocorre no Brasil, Argentina e Paraguai, apresentando maior

distribuição no território brasileiro (Figura 6), desde o Sul da Bahia até o Rio Grande

do Sul. Têm hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares e quando

ameaçadas podem apresentar comportamento agressivo, desferindo botes sem

produzir ruídos. O veneno destas serpentes tem ação proteolítica, coagulante e

hemorrágica, sendo seus sinais e sintomas caracterizados por dor intensa, edema,

necrose, hemorragias locais e/ou sistêmicas, entre outros (Pinho & Pereira, 2001;

FUNASA, 2001; Brasil, 2005; Puzzi et al., 2008).

1.3 Função e Composição do Veneno

Os venenos das serpentes desempenham um papel de muita importância

para sua sobrevivência. São constituídos por toxinas que promovem a imobilização

A B C

D E

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25

da presa e sua posterior digestão, além de servir como um excelente arsenal

defensivo (Fletcher & Jiang, 1998; Dhananjaya & D‟Souza, 2010; Isbister, 2010).

Figura 6: Foto da serpente B. jararaca e sua distribuição. (Fonte: OMS – Foto Mark O‟Shea)

A peçonha da serpente é uma mistura complexa de toxinas com natureza

química bastante diferenciada e com amplo espectro de ação. Sua composição varia

de acordo com a espécie, localização geográfica, idade, sexo, dentre outros fatores

(Markland, 1998; Junqueira de Azevedo & Ho, 2002; Oliveira et al., 2003;

Dhananjaya & D‟Souza, 2010; Isbister, 2010).

Essas secreções são concentrados de proteínas e peptídeos (90 % a 95 % do

peso seco do veneno). Porém também se encontram aminas vasoativas,

carboidratos, lipídeos, nucleotídeos e íons inorgânicos, como cálcio, zinco, sódio

entre outros (Figura 7), que interferem no sistema nervoso central, cardiovascular,

muscular, hemostático, renal e vascular (Markland, 1998; Koh et al., 2006).

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Dentre as proteínas encontradas no veneno ofídico, destacam-se as

metaloproteases (Hite et al., 1994; Fox & Serrano, 2005, 2008; Escalante et al.,

2011; Takeda et al., 2011), fosfolipases A2 (PLA2) (Fuly et al., 1997, 2002; Tsai,

2007; Angulo & Lomonte, 2009; Doley & Kini, 2009; Galacci & Cavalcante, 2010;

Sun et al., 2010), serinoproteases (Koh et al., 2006; Angulo & Lomonte, 2009;

Teixeira et al., 2009), nucleotidases (Antunes et al., 2010; Dhananjaya & D‟Souza,

2010), dentre outras.

As metaloproteases presentes nos venenos das serpentes induzem intensa

hemorragia, sendo assim denominadas de hemorraginas. A hemorragia observada

ocorre pela ação direta das metaloproteases nos capilares, com destruição da

lâmina basal e degradação de proteínas da parede vascular, como integrinas,

laminina, fibronectina e colágeno. Além destes efeitos, estas proteínas promovem

alterações na coagulação sanguínea (Fox & Serrano, 2005, 2008; Escalante et al.,

2011).

As serinoproteases representam outra classe de enzimas que atuam

diretamente na coagulação sanguínea, conhecidas como trombina-símile. Estas

enzimas clivam o fibrinogênio gerando fibrina, porém não ativam o fator XIII da

coagulação, que o responsável pela estabilização do coágulo. Além da clivagem do

fibrinogênio, estas enzimas clivam outras proteínas da cascata da coagulação

sanguínea, gerando microcoágulos pelo organismo (Koh et al., 2006; Angulo &

Lomonte, 2009; Teixeira et al., 2009).

Outra classe de enzimas presentes nas secreções venenosas das serpentes

são as fosfolipases A2. Estas enzimas são responsáveis por diversas atividades

provocadas pelos venenos, dentre eles efeitos miotóxico, edematogênico, agregante

plaquetário, hemolítico e coagulante (Fuly et al., 1997, 2002; Tsai, 2007; Angulo &

Lomonte, 2009; Doley & Kini, 2009; Galacci & Cavalcante, 2010; Sun et al., 2010).

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Figura 7: Componentes presentes no veneno de serpentes.

(Fonte: Ramos, 2001 apud de Paula, 2009, p. 15)

Algumas destas toxinas presentes no veneno de B. jararaca vêm sendo

identificadas e isoladas. Serrano e colaboradores (1999) isolaram a BJ-PLA2, uma

fosfolipase A2 com efeito inibitório da agregação plaquetária. Zingali e colaboradores

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(1993) isolaram a bothrojaracina, uma enzima inibidora da trombina (anticoagulante).

Por outro lado, Berger e colaboradores (2008) purificaram bothrojaractivase, uma

metaloprotease pró-coagulante. Outras toxinas têm sido caracterizadas, como o

HF3, bothropasina (Oliveira et al., 2009), jararafibrases (I, II, III e IV) (Maruyama et

al., 2002), jarastatina (Coelho et al., 1999), entre outras.

É importante ressaltar que as manifestações clínicas do acidente ofídico estão

condicionadas a toxidez intrínseca e a quantidade de peçonha injetada (Matsui et al.,

2000; Koh et al., 2006).

1.4 Tratamento dos Acidentes Ofídicos

O tratamento indicado em todo o mundo é a administração intravenosa de

soro hiperimunizado (soroterapia), normalmente de cavalo. A produção de soro

antiveneno iniciou-se em 1894 por Calmette & Phisalix e Bertrand, impulsionado

pela soroterapia antitétano e antidiftérica. No Brasil, a produção de soro antiofídico

foi implantada por Vital Brazil, em 1901, utilizando o mesmo protocolo de Calmette

(Vilar et al., 2005; Gutiérrez & León, 2009).

O protocolo de produção do soro antiofídico é relativamente simples. Doses

de veneno são inoculadas em animais (equinos, normalmente), que produzem

anticorpos contra as proteínas imunogênicas do veneno. Esse animal é sangrado e

faz-se a separação do plasma e das hemácias, sendo estas devolvidas ao animal. A

fração de imunoglobulinas é precipitada com sulfato de amônia, podendo ser tratada

com pepsina ou papaína gerando fragmentos divalentes (F(ab‟)2) ou monovalentes

(Fab) das moléculas de anticorpo (Figura 8) que são responsáveis por neutralizar o

veneno (FUNASA, 2001; FIOCRUZ, 2002; Vilar et al., 2005; Gutiérrez & León,

2009). Esses passos de purificação se dão na tentativa de reduzir os riscos de

reações alergênicas, visto que o soro possui proteínas não-IgGs com alta incidência

de efeitos adversos (Gutiérrez & León, 2009).

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Figura 8: Estrutura geral de um anticorpo. Local de clivagem pela pepsina/papaína. (Modificado de Nelson & Cox, 2002)

Os soros podem ser classificados em monovalentes ou polivalentes quando

para sua produção são utilizados venenos de uma única espécie ou espécies

diferentes, respectivamente. No Brasil é produzido soro com fragmentos F(ab‟)2, em

três principais centros: Fundação Ezequiel Dias (FUNED), em Belo Horizonte,

Instituto Vital Brazil, em Niterói e Instituto Butantan, em São Paulo (Araújo et al.,

2008). No Brasil, o soro antibotrópico (soro utilizado contra o envenenamento

causado por serpentes do gênero Bothrops) é produzido através da obtenção do

veneno de cinco espécies diferentes (Bothrops jararaca 50%, Bothrops jararacussu,

Bothrops alternatus, Bothrops moojeni e Bothrops neuwedii, 12,5% cada) (Araújo et

al., 2008; Gutiérrez & León, 2009).

Apesar de reverter com bastante eficácia os efeitos sistêmicos provocados

pelo veneno no organismo da vítima, diversos estudos têm demonstrado que a

soroterapia é pouco eficaz na neutralização dos efeitos locais, efeitos estes que na

maioria das vezes, são responsáveis pela morbidade observada nos acidentados.

(Da Silva et al., 2007a; Segura et al., 2010). Além disso, o alto custo e a

termolabilidade dos soros geram dificuldades na distribuição e na estocagem dos

mesmos, dificultando ainda mais o tratamento de vítimas em regiões distantes da

rede hospitalar (Morais & Massaldi, 2009; Wen et al., 2009). Além do que, certos

paciente que recebem a soroterapia podem desenvolver reações alérgicas como

febre e urticária, porém em raros casos pode ocorrer anafilaxia e levar o paciente ao

óbito.

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A soroterapia deve ser realizada o mais rápido possível e a dose administrada

varia de acordo com o tipo e a gravidade do acidente (Tabela 3) (Brasil, 2005). De

acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) em 2009, dos 125 óbitos

registrados, 108 vitimados receberam o tratamento. De um modo geral, os

agravamentos são causados pela demora e pela baixa qualidade nos atendimentos.

Apesar de reverter com bastante eficácia os efeitos sistêmicos do veneno no

organismo da vítima, esta terapia se mostra pouco eficaz contra os efeitos locais,

que na maioria das vezes, são responsáveis pela morbidade observada nos

acidentados. Além disso, o alto custo e a termolabilidade dos soros geram

dificuldades na distribuição e na estocagem dos mesmos, dificultando ainda mais o

tratamento de vítimas em regiões distantes do polo produtor (região Sudeste)

(Morais & Massaldi, 2009; Wen et al., 2009). Além do que, certos paciente que

recebem a soroterapia podem desenvolver reações alérgicas, que podem gerar

febre e urticária e em poucos casos inclusive levar a óbito por choque anafilático.

Tabela 3: Tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde, de acordo com a espécie causadora do acidente e a gravidade dos sintomas.

Fonte: Brasil, 2005

Tendo em vista a problemática descrita anteriormente, torna-se importante a

busca por novos tratamentos que possam complementar e/ou ser uma alternativa a

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atual soroterapia para neutralização dos efeitos biológicos e toxicológicos do veneno

nas vítimas de acidentes com serpentes peçonhentas.

1.5 Plantas Medicinais

De acordo com a OMS (1998), planta medicinal é todo e qualquer vegetal que

possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins

terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semi-sintéticos.

O uso de plantas no tratamento e na cura de enfermidades é tão antigo

quanto a espécie humana. Entre as primeiras civilizações, como os sumérios e os

povos babilônicos, plantas como a canela e o coentro, já eram utilizadas com fins

terapêuticos sob a forma de decocto, infuso, vinho e emplastro (Castro, 2005; López,

2006).

Contudo, as primeiras descrições sobre plantas medicinais feitas pelo homem

remontam às sagradas escrituras e ao papiro de Ebers. Este papiro foi descoberto e

publicado por Georg Ebers, sendo traduzido pela primeira vez, em 1890, por H.

Joachin, onde enumera cerca de 100 doenças e descreve, aproximadamente, 800

receitas preparadas com diferentes plantas ou substâncias extraídas de espécies

vegetais (Pinto et al., 2002; Castro, 2005).

O século XVIII e o início do século XIX marcaram o início do processo de

isolamento de princípios ativos de plantas, como por exemplo, a morfina (analgésico,

sedativo) isolada da Papaver somniferum, quinina (antimalarial, antitérmico) isolada

da Cinchona officinalis e a tubocurarina (bloqueador neuromuscular) isolada da

Chondodendron tomentosum (Pinto et al., 2002; Castro, 2005).

Porém, com a revolução Industrial e Tecnológica houve um crescimento da

química experimental, permitindo a síntese laboratorial de novas substâncias

orgânicas, desencadeando a produção acelerada de novos medicamentos e a

medida que derivados mais puros e concentrados de plantas se tornaram

disponíveis, os médicos priorizaram os fármacos sintéticos e passaram a

desconsiderar o papel importante da fitoterapia (De França et al., 2008).

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O avanço da tecnologia e o surgimento de novas metodologias de isolamento

de substâncias naturais farmacologicamente ativas despertaram o interesse pelas

fontes naturais para o desenvolvimento de novos fármacos (Calixto, 2003). Em

2000, o mercado fitoterápico faturou US$ 6,6 bilhões nos EUA e US$ 8,5 bilhões na

Europa, sendo a Alemanha, de longe, a maior consumidora de fitoterápicos. No

Brasil, em 2001, este segmento atingiu cerca de US$ 270 milhões, correspondendo

a 5,9 % do mercado brasileiro de medicamentos, superando a comercialização de

genéricos com US$ 226 milhões. Atualmente o segmento de fitoterápicos movimenta

anualmente, no mundo, cerca de US$ 22 bilhões com um crescimento de 12 % ao

ano (Pinto et al., 2002; Calixto, 2003).

Uma variedade de espécies vegetais de diferentes famílias vem sendo

avaliada com propriedade antiofídica. Acredita-se que cerca de 80 % da população

mundial usam plantas como a primeira ajuda terapêutica em casos de

envenenamento (Oliveira et al., 2005; Lomonte et al., 2009).

De acordo com Vilar e colaboradores (2005), na década de 70 do século XX

houve um expressivo avanço nos estudos sobre plantas medicinais antiofídicas

visando, não apenas citar os usos das plantas com base nas representações

populares. E, sim avaliar seus efeitos inibitórios através de experimentos

controlados, com validação científica.

Biondo e colaboradores (2003) descreveram o extrato aquoso de Mandevilla

velutina com propriedades antiofídicas. Este extrato inibiu atividades biológicas

provocadas pelos venenos de Crotalus durissus e Bothrops sp., além de neutralizar

a ação de toxinas isoladas destes venenos, como por exemplo crotoxina (isolada de

C. durissus) e botrhopstoxina I e II (B. jararacussu). Em outro trabalho este extrato

foi capaz de neutralizar as atividades hemolítica, hemorrágica, coagulante e

proteolítica provocadas pelo veneno de Lachesis muta (De Paula et al., 2009). Além

da M. velutina, outras espécies vegetais apresentam perfis antiofídicos. Eclipta

prostata se mostrou eficiente na neutralização da atividade miotóxica e neurotóxica

da serpente C. durissus (Mors et al., 1989), atividade miotóxica e hemorrágica das

serpentes B. jararaca, B. jararacussu e L. muta. (Melo et al., 1994). Casearia

sylvestris foi identificadas com potencial antiofídico frente aos venenos de Bothrops

sp. (Borges et al., 2001), L. muta (De Paula et al., 2009).

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Mors e colaboradores (2000) associaram alguns metabólitos especiais de

plantas conhecidamente antiofídicas, com a sobrevivência de camundongos junto ao

envenenamento por B. jararaca. Dentre esses metabólitos podem-se citar os

terpenóides (triterpenos), esteróides, flavonóides, cumarinas, taninos e

pterocarpanos prenilados, sugerindo que a ação destas substâncias se deve a

capacidade de complexação com alvos macromoleculares (receptores e enzimas),

além de atividades quelantes de íons divalentes.

1.5.1 Clusia fluminensis Planch & Triana

A família Clusiaceae Lindley (Guttiferae Juss.) possui representantes nas

regiões semi-áridas da África, Ásia e Oceania, porém sua ampla distribuição ocorre

em regiões tropicais. De acordo com a classificação de Dahlgren (1980), esta família

é constituída por 50 gêneros e cerca de 1.200 espécies. No Brasil, está

representada por 19 gêneros com ampla distribuição, especialmente na região

Amazônica (Andrade et al., 2002; Gasparotto Junior, et al., 2005). No entanto de

acordo com Stevens (2011 onwards), a família Clusiaceae compreende apenas 14

gêneros.

Espécies de Clusia são de grande interesse paisagístico, no manejo

ambiental e reflorestamento de áreas de restinga (Correia et al., 1993), sendo alguns

representantes do gênero de grande importância na medicina popular, contra

hipertensão (García-Gonzáles & Matamoros, 1998), dores (Sanz-Biset et al., 2009),

úlceras e feridas (Langenheim, 2003).

Do ponto de vista químico a família apresenta-se caracterizada pela presença

de xantonas, benzofenonas, terpenóides, flavonóides, dentre outras classes de

metabólitos especiais, responsáveis por efeitos anti-hipertensivos, antibacterianos,

inibitório do vírus HIV e antiofídico (Castro et al., 1999; Gasparotto Junior, et al.,

2005; Noldin et al., 2006). Estudos com este gênero têm demonstrado a produção

de terpenóides e esteróides (lupenona, friedelina, sitosterol, entre outros) e algumas

benzofenonas (weddellianona A, clusianona e spiritona) (Nagen et al., 1993; Porto et

al., 2000).

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C. fluminensis Planch & Triana possui folhas obovadas, carnosas e coriáceas

(Figura 9A) e suas flores são brancas com estames amarelos e anteras laranja

(Figura 9B). Seu tipo foi coletado no Rio de Janeiro por Gaudichaud em 1833. É uma

espécie bastante utilizada em paisagismos (Fernandes, 2007).

Castro e colaboradores (1999) descreveram duas espécies de Clusia, C.

palmana e C. torresii com propriedade anti-hemorrágica provocada pelo veneno de

B. asper. Contudo, nenhuma outra espécie deste gênero fora testada frente as

atividades biológicas provocadas por venenos de serpente.

Figura 9: Fotos de Clusia fluminensis. A) Detalhe das folhas. B) Detalhe da flor. Fonte: da Silva, 2011 (Fotos cedidas por Maria Carolina Anholeti da Silva)

A B

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35

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Avaliar a capacidade do extrato vegetal e de uma substância pura isolada a

partir de C. fluminensis na neutralização do veneno de B. jararaca frente a atividades

proteolítica, hemolítica, coagulante e hemorrágica.

2.2. Objetivos Específicos

Avaliar o efeito de extratos brutos da planta Clusia fluminensis obtidos por

diferentes solventes e partes do vegetal na neutralização de atividades

biológicas:

o Atividade in vitro proteolítica.

o Atividade in vitro hemolítica.

o Atividade in vitro coagulante.

o Atividade in vivo hemorrágica.

Avaliar o potencial antiofídico da benzofenona isolada do extrato hexânico das

flores da Clusia fluminensis para as mesmas atividades acima.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Material

Azocaseína, EDTA, citrato de sódio, tri-hidroximetil-aminometano (Tris),

cloreto de cálcio (CaCl2), ácido tricloroacético (TCA) foram obtido da Sigma

Chemical Co. (St. Louis, USA). Os demais reagentes foram obtidos no mais alto

nível de pureza disponível no mercado.

3.2 Obtenção do veneno de Bothrops jararaca

O veneno bruto da serpente B. jararaca liofilizado foi gentilmente cedido pelo

Prof. Eládio F. Sanchez, Fundação Ezequiel Dias (FUNED), Belo Horizonte, MG e

mantido a -20 ºC até o momento dos ensaios biológicos.

3.3 Animais

Os camundongos da linhagem BALB-C, independente do sexo, pesando entre

18-22 g foram provenientes do Núcleo de Animais de Laboratório (NAL) da

Universidade Federal Fluminense mantidos sob controle de luminosidade,

temperatura e com ração e água filtrada à vontade. Este projeto foi aprovado pela

Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) desta Universidade, sob o número

00029/2010.

3.4 Extrato vegetal

O material vegetal da Clusia fluminensis foi coletado no forte Barão do

Imbuhy, em Jurujuba, Niterói. Exemplares férteis foram coletados, herborizados e

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identificados pelo Prof. Dr. Marcelo Guerra (FFP/UERJ), e encontram-se

depositados no Herbário da Faculdade de Formação de Professores da

Universidade do Estado do Rio de Janeiro sob o número de registro RFFP 9213.

Para a utilização nos ensaios, os extratos vegetais (Tabela 4) foram

preparados pela aluna de doutorado Maria Carolina Anholete da Silva, no

Laboratório de Botânica Estrutural e Funcional, sob coordenação da Professora Drª.

Selma Ribeiro de Paiva, do Instituto de Biologia, Universidade Federal Fluminense.

Os extratos foram preparados por maceração estática com trocas sucessivas dos

solventes até a exaustão. A benzofenona foi isolada a partir do extrato bruto das

flores por cromatografia contracorrente.

Os extratos foram ressuspensos em acetona, na concentração de 60 mg/mL e

armazenados a -20 ºC até o momento dos ensaios biológicos. A benzofenona foi

ressuspensa em DMSO, na concentração de 50 mg/mL e mantidos a temperatura

ambiente.

Tabela 4: Quadro indicativo dos solventes e partes do vegetal utilizadas para o preparo dos extratos e os códigos dos extratos utilizados no trabalho.

SOLVENTE PARTE DO VEGETAL CÓDIGO

HEXANO

FOLHA HEX. FOLHA

FRUTO HEX. FRUTO

CAULE HEX. CAULE

FLOR HEX. FLOR

METANOL

FOLHA MET. FOLHA

FRUTO MET. FRUTO

CAULE MET. CAULE

DICLOROMETANO FLOR DICLO. FLOR

ACETONA FRUTO ACET. FRUTO

CAULE ACET. CAULE

3.5 Protocolo de neutralização

Todos os ensaios de neutralização foram feitos usando diferentes proporções

(veneno:planta). O veneno de B. jararaca foi incubação por 30 ou 60 minutos a

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temperatura ambiente com os extratos das plantas. Após este período, os ensaios

biológicos (proteolítica, hemolítica, coagulante e hemorrágica) foram realizadas

como descrito a seguir, mantendo os seguintes grupos:

Grupo a: Veneno bruto + salina (controle do veneno)

Grupo b: Veneno bruto + solvente (controle positivo)

Grupo c: Extratos/benzofenona + salina (controle negativo)

Grupo d: Veneno bruto + extratos/benzofenona

3.6 Atividades biológicas

3.6.1 Atividade Proteolítica

A atividade proteolítica do veneno de B. jararaca foi determinada usando-se

azocaseína como substrato (Garcia et al., 1978), com algumas modificações.

Alíquotas do veneno de B. jararaca foram incubadas com azocaseína 0,2 % (p/v) em

tampão 200 mM Tris-HCl, 20 mM CaCl2, pH 8,8. O volume final (1,2 mL) da reação

foi completado pela adição de 150 mM NaCl. Em seguida as amostras foram

incubadas a 37 ºC e após 90 minutos a reação foi interrompida pela adição de 0,4

mL TCA 10 %. Em seguida, os tubos foram centrifugados a 12.000 rpm por 5

minutos, e 1 mL do sobrenadante foi adicionado a 0,5 mL NaOH 2 N. A atividade

proteolítica foi quantificada em espectrofotômetro (Biospectro SP-22) em

absorbância A 420 nm e a Concentração Efetiva (CE) foi designada como a

quantidade de veneno (μg/mL) capaz de produzir uma variação de 0,2 em A 420 nm.

O efeito neutralizante dos extratos vegetais foi avaliado através da pré-

incubação dos extratos nas proporções de 1:5, 1:10, 1:20 e 1:50 (veneno:extrato)

com o veneno bruto por 30 minutos a temperatura ambiente, e em seguida, o ensaio

biológico foi realizado como descrito acima.

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3.6.2 Atividade Hemolítica

A atividade hemolítica do veneno de B. jararaca foi determinada através da

hemólise indireta usando hemácias humanas lavadas e gema de ovo de galinha

como fonte de fosfolipídios como substrato (Fuly et al., 1997). A gema de ovo foi

diluída em NaCl (0,15 M) 1:1 (v/v), e em seguida a mistura foi centrifugada a 12.000

rpm por 60 minutos a 10 °C. O precipitado foi descartado e o sobrenadante contendo

os fosfolipídios foi utilizado como substrato no ensaio, que ocorreu em duas etapas:

A) incubação do veneno bruto de B. jararaca com o substrato e; B) avaliação da

atividade hemolítica através da liberação de hemoglobina pela produção de

lisolecitina gerada enzimaticamente na etapa anterior. Inicialmente, as amostras

contendo o veneno foram adicionados a um meio de reação contendo CaCl2 (8 mM,

concentração final) e gema de ovo (50 μL) em um volume final de 250 μL. Após 15

minutos a 37 °C, a reação enzimática foi interrompida com adição de EDTA

(concentração final, 10 mM). Em seguida 3,2 mL de NaCl (0,15 M) foram

adicionados aos tubos e 1,3 mL de uma suspensão a 2 % (v/v) de hemácias

humanas previamente lavadas por centrifugação com NaCl (0,15 M). Após 1 hora de

incubação a 37 °C, os tubos foram centrifugados a 2.000 rpm por 8 minutos a

temperatura ambiente e a hemoglobina liberada no sobrenadante quantificada em A

578 nm. A hemólise total (100 %) foi obtida na suspensão de eritrócitos após

completa lise com água destilada e comparada com o percentual de hemólise obtido

nos tubos contendo veneno ou os extratos vegetais. A quantidade de veneno

(μg/mL) que causou 70-80 % de hemólise foi usada nos experimentos de

neutralização e designada como Concentração Efetiva (CE).

O efeito neutralizante dos extratos vegetais na hemólise foi avaliado pré-

incubando os extratos aquosos com uma Concentração Efetiva (CE) do veneno

bruto por 30 minutos nas proporções de 1:10 e 1:20 e 60 minutos na proporção de

1:20 a temperatura ambiente, e em seguida o ensaio de hemólise realizado como

descrito acima.

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3.6.3 Atividade Coagulante

O plasma utilizado foi obtido através de um „‟pool de plasma‟‟ citratado (0,3 %

v/v, concentração final) cedido pelo Hospital Universitário Antônio Pedro do banco

de sangue que seriam descartados, de doadores humanos sadios. Este plasma (100

μL) foi diluído em salina (1:1, v/v) e transferido para tubos plásticos. Após 1 minuto a

37 °C, alíquotas do veneno de B. jararaca foram adicionadas ao plasma citratado e o

tempo de coagulação (em segundos) foi observado através de um coagulômetro

digital modelo Amelung KC 4A. Uma Dose Mínima Coagulante (DMC) foi designada

como a menor concentração de veneno de B. jararaca (μg veneno/ensaio) capaz de

coagular o plasma em 60 segundos, e utilizada neste ensaio.

O efeito neutralizante dos extratos vegetais na atividade coagulante do

veneno de B. jararaca foi avaliado pré-incubando os extratos por 30 minutos nas

proporções de 1:10 e 1:20 e 60 minutos na proporção de 1:20 a temperatura

ambiente com o veneno bruto. Em seguida esta mistura foi adicionada ao plasma e

a coagulação monitorada como descrito acima. O tempo considerado como 100 %

de inibição foi de 10 minutos.

3.6.4 Atividade Hemorrágica

A atividade hemorrágica do veneno de B. jararaca foi determinada utilizando o

método de Kondo e col (1960) modificado. Cem microlitros (100 μL) das amostras

foram injetadas intradermicamente (i.d) na região do abdômen dos camundongos

(n=3), e duas horas após a injeção, os animais foram sacrificados por inalação de

isofluorano e a pele retirada, estirada e os locais de injeção foram analisados

macroscopicamente. A atividade hemorrágica foi quantificada pela formação e

mensuração de halo hemorrágico, em milímetros. Uma Dose Mínima Hemorrágica

(DMH) foi determinada como a dose de veneno (μg veneno/g) capaz de causar um

halo hemorrágico de 10 mm de diâmetro.

O efeito neutralizante dos extratos vegetais foi avaliado pré-incubando os

extratos por 30 minutos na proporção de 1:20 a temperatura ambiente com uma

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DMH do veneno antes da injeção nos animais, sendo a hemorragia analisada como

descrito acima.

3.7 Análise estatística

Os experimentos foram representados graficamente utilizando-se o programa

Microcal Origin 6.0 e os valores demonstrados representam a média

± erro padrão (SE) utilizando Anova e teste T-Student com valores de p < 0,05.

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4. RESULTADOS

4.1 Atividade Proteolítica

Com o objetivo de avaliar o extrato de C. fluminensis como agente

neutralizante sobre a atividade proteolítica de B. jararaca, os extratos (Tabela 4)

foram pré-incubados em diferentes razões (1:5, 1:10, 1:20 e 1:50 - veneno:planta)

com o veneno (9 µg/mL) por 30 minutos a temperatura ambiente e em seguida a

atividade foi realizada. A Figura 10 mostra que, de modo geral, os extratos na

proporção 1:5 (Figura 10A) não inibiram com eficácia a proteólise causada pelo

veneno, com exceção dos extratos metanólico e acetônico do fruto, com 42,5 % e

76,7 % de inibição, respectivamente. Na proporção de 1:10 (Figura 10B), o extrato

acetônico do fruto apresentou uma inibição de aproximadamente, 100 %; enquanto

que os demais extratos inibiram parcialmente a proteólise provocada pelo veneno,

cerca de 11 % o extrato hexânico do fruto e 56 % o extrato hexânico do flor. Na

razão de 1:20, os extratos se mostraram mais eficazes, com exceção dos extratos

hexânicos do fruto e caule, com 17,3 % e 29,1 % de inibição, respectivamente

(Figura 10C). Os demais obtiveram um percentual de inibição que variou de 50 a

100 %, com destaque para os extratos metanólicos do fruto e do caule, ambos com

96 % de inibição e o extrato acetônico do caule (81 %) e do fruto (100 %) da inibição

da atividade proteolítica. Na razão de 1:50 (Figura 10D), com exceção do extrato

hexânico do caule, com uma inibição de 37 % na neutralização da atividade

proteolítica provocada pelo veneno de B. jararaca, os extratos se mostraram bem

mais eficientes com destaque para o extrato hexânico do fruto (100 %), metanólico

da folha (100 %) e do fruto (100 %) e acetônico do fruto (aproximadamente 100 %).

Os extratos hexânicos da folha e da flor foram capazes de inibir 92 %, o extrato

metanólico do caule inibiu 84 %, o extrato diclorometânico da flor 63 % e o extrato

acetônico do caule 82 %.

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Figura 10: Efeito dos extratos de C. fluminensis na atividade proteolítica provocada pelo veneno de B. jararaca. O veneno e os extratos foram pré-incubados durante 30 minutos a temperatura ambiente em diferentes proporções veneno:planta (1:5 (A); 1:10 (B); 1:20 (C) e 1:50 (D)).

*

*

*

*

*

*

*

*

* *

* *

* *

* *

*

*

*

*

* *

* *

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Os resultados expressam a média ± SE de três experimentos individuais (n= 3) com p < 0,05, valores comparados com o controle positivo (veneno + acetona) (dados não mostrados).

Além dos extratos brutos, também foi testado como inibidor da proteólise

causada pelo veneno da serpente B. jararaca uma benzofenona (clusianona) isolada

do extrato hexânico da flor, com as mesmas proporções utilizadas para os extratos

(Figura 11). Na proporção de 1:5 não houve inibição significativa. Entretanto, nas

demais proporções (1:10, 1:20 e 1:50) houve uma inibição em torno de 40 % a 50 %.

A benzofenona obteve uma resposta inibitória menor que a resposta para o extrato

bruto correspondente (Figura 11). Os extratos vegetais e a benzofenona quando

testados na ausência do veneno de B. jararaca não foram capazes de hidrolisar a

azocaseína; assim como o DMSO e a acetona testados com o veneno não inibiram

a atividade proteolítica provocada pelo mesmo (dados não mostrados).

HEX. FLOR

BENZOFENONA

0

20

40

60

80

100

% d

e I

nib

içã

o d

a P

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ólis

e

Figura 11: Comparação entre o efeito do extrato hexânico da flor de C. fluminensis e a benzofenona isolada deste extrato na atividade proteolítica provocada pelo veneno de B. jararaca. O veneno e o extrato/benzofenona foram pré-incubados durante 30 minutos a temperatura ambiente em diferentes proporções veneno:planta (1:5, colunas brancas; 1:10, colunas com listras na horizontal; 1:20, colunas com listras na vertical e 1:50, colunas pretas). Os resultados expressam a média ± SE de três experimentos individuais (n= 3) com p < 0,05, valores comparados com o controle positivo (veneno + acetona/DMSO) (dados não mostrados).

*

*

*

* * *

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45

4.2 Atividade Hemolítica

Para avaliar o efeito dos extratos de C. fluminensis sobre a atividade

hemolítica (Figura 12) causada pelo veneno de B. jararaca (88 µg/mL), inicialmente

os extratos foram pré-incubados em duas proporções diferentes (1:10 e 1:20) com o

veneno bruto por 30 minutos a temperatura ambiente e em seguida a atividade foi

realizada. Na proporção de 1:10, o extrato diclorometânico da flor não apresentou

inibição da hemólise provocada pelo veneno. Os extratos hexânico da flor e

metanólico do fruto apresentam uma inibição de 10 %, enquanto os demais extratos

inibiram entre 35 % a 43 % a hemólise. Na proporção de 1:20, o extrato metanólico

do caule apresentou uma inibição de 100 %. Os extratos hexânico da folha,

metanólico da folha e acetônico do caule inibiram 70 % a 88 % a hemólise.

Curiosamente, os extratos hexânico e acetônico do fruto na proporção 1:20

obtiveram uma inibição menor do que na proporção de 1:10, com inibições de 23 %

e 32 %, respectivamente (Figura 12). O extrato diclorometânico inibiu 4 %. Na

tentativa de melhorar o perfil inibitório dos extratos, estes foram préincubados com o

veneno, na proporção de 1:20, porém por 60 minutos a temperatura ambiente. Os

extratos hexânicos da folha, do fruto e da flor, o extrato metanólico do caule e o

extrato acetônico do fruto tiveram uma redução da inibição da hemólise, quando

comparado com a pré-incubação por 30 minutos na mesma proporção. Mesmo

assim, o extrato metanólico do caule obteve uma inibição de 96 %. Os extratos

hexânico do caule e metanólico do fruto melhoraram suas respostas inibitórias, com

percentuais 80 % de inibição. Apesar da melhora da inibição do extrato

diclorometânico da flor, a inibição não foi expressiva (18 %).

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HEX. FOLHA

HEX. FRUTO

HEX. CAULE

HEX. FLOR

DICL. F

LOR

ACET. FRUTO

ACET. CAULE

MET. F

OLHA

MET. F

RUTO

MET. C

AULE

0

20

40

60

80

100%

de

In

ibiç

ão

da

He

lise

Figura 12: Efeito dos extratos de C. fluminensis na atividade hemolítica provocada pelo veneno de B. jararaca. O veneno e os extratos foram pré-incubados durante 30 minutos a temperatura ambiente nas proporções veneno:planta 1:10 e 1:20 (colunas brancas e colunas listradas, respectivamente) e pré-incubados por 60 minutos na proporção 1:20 (colunas pretas). Os resultados expressam a média ± SE de três experimentos individuais (n= 3) com p < 0,05, valores comparados com o controle positivo (veneno + acetona) (dados não mostrados).

Além dos extratos também foi testado como inibidor da hemólise provocada

pelo veneno de B. jararaca a benzofenona (Figura 13), nas mesmas proporções

descritas anteriormente, porém apenas com o tempo de pré-incubação de 30

minutos. Em ambas as proporções avaliadas não houve inibição da hemólise

provocada pelo veneno. Os extratos vegetais e a benzofenona isoladamente não

foram capazes de produzir hemólise; assim como o DMSO e a acetona

preincubados com o veneno não inibiram a atividade hemolítica provocada pelo

mesmo (dados não mostrados).

*

*

* *

*

* *

*

*

*

*

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HEX. FLOR

BENZOFENONA

0

20

40

60

80

100

% d

e I

nib

içã

o d

a H

em

ólis

e

Figura 13: Comparação entre o efeito do extrato Hexânico da Flor de C. fluminensis e a benzofenona isolada deste extrato na atividade hemolítica provocada pelo veneno de B. jararaca. O veneno e o extrato/benzofenona foram pré-incubados durante 30 minutos a temperatura ambiente em diferentes proporções veneno:planta (1:10, colunas brancas; 1:20, colunas pretas). Os resultados expressam a média ± SE de três experimentos individuais (n= 3) com p < 0,05, valores comparados com o controle positivo (veneno + acetona/DMSO) (dados não mostrados).

4.3 Atividade Coagulante

Para avaliar o efeito dos extratos de C. fluminensis sobre a atividade

coagulante provocada pelo veneno de B. jararaca foi utilizado para este ensaio uma

Dose Mínima Coagulante (DMC) (32 µg/mL). Inicialmente os extratos foram pré-

incubados em duas proporções diferentes (1:10 e 1:20) com uma DMC de veneno

por 30 minutos a temperatura ambiente e em seguida a atividade foi realizada.

Nenhum dos extratos foi capaz de promover um aumento no tempo de coagulação

(Figura 14). Os extratos com melhores respostas foram os metanólico do caule e o

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acetônico do caule, onde o tempo de coagulação foi prolongado por cerca de 2

vezes quando comparado com o controle.

CONTROLE

CONTROLE ACETONA

HEX. FOLHA

HEX. FRUTO

HEX. CAULE

HEX. FLOR

DICL. F

LOR

ACET. FRUTO

ACET. CAULE

MET. F

OLHA

MET. F

RUTO

MET. C

AULE

0

50

100

150

200

250

300

Te

mp

o d

e C

oa

gu

laçã

o (

s)

Figura 14: Efeito dos extratos de C. fluminensis na atividade coagulante provocada pelo veneno de B. jararaca. O veneno e os extratos foram pré-incubados durante 30 minutos a temperatura ambiente nas proporções veneno:planta 1:10 e 1:20 (colunas brancas e colunas listradas, respectivamente) e pré-incubados por 60 minutos na proporção 1:20 (colunas pretas). CONTROLE: veneno + salina; CONTROLE ACETONA: veneno + acetona. Os resultados expressam a média ± SE de três experimentos individuais (n= 3) com p< 0,05, valores comparados com o controle positivo (veneno + acetona).

Do mesmo modo que na atividade hemolítica, na atividade coagulante foi

tentado um tempo maior, 60 minutos de pré-incubação dos extratos com o veneno e

na proporção de 1:20. Entretanto, não houve modificação no perfil inibitório (Figura

14).

A benzofenona também foi testada na atividade coagulante, numa proporção

de 1:10 (veneno:substância), assim como a maioria dos extratos a benzofenona não

foi capaz de prolongar, de maneira significativa, o tempo de coagulação plasmática

provocada pelo veneno de B. jararaca (Figura 15).

*

*

*

* * *

*

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CONTROLE

CONTROLE ACETONA

HEX. FLOR

CONTROLE DM

SO

BENZOFENONA

0

50

100

150

200

250

300

Tem

po

de

Co

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o (

s)

Figura 15: Comparação entre o efeito do extrato hexânico da flor de C. fluminensis e a benzofenona isolada deste extrato na atividade coagulante provocada pelo veneno de B. jararaca. O veneno e o extrato/benzofenona foram pré-incubados durante 30 minutos a temperatura ambiente na proporção de 1:10 veneno:planta. CONTROLE: veneno + salina; CONTROLE ACETONA: veneno + acetona. Os resultados expressam a média ± SD de três experimentos individuais (n= 3) com p< 0,05, valores comparados com o controle positivo (veneno + acetona/DMSO).

Os extratos vegetais e a benzofenona isoladamente não coagularam o

plasma sanguíneo (dados não mostrados); assim como o DMSO e a acetona

preincubados com o veneno não prolongaram o tempo de coagulação provocada

pelo mesmo.

4.4 Atividade Hemorrágica

Com a finalidade de avaliar a ação dos extratos de C. fluminensis in vivo, foi

observada a hemorragia causada pela injeção subcutânea do veneno de B. jararaca

(16,7 µg/g) em camundongos. Os extratos foram pré-incubados com o veneno por

* *

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30 minutos a temperatura ambiente, na proporção de 1:20. A Figura 16 mostra que o

extrato acetônico do fruto foi o único capaz de proteger os animais da hemorragia

causada pelo veneno. O extrato hexânico do fruto inibiu aproximadamente 45 % da

hemorragia provocada pelo veneno. Os demais extratos de C. fluminensis não

inibiram a hemorragia causada pelo veneno (Figura 16).

CONTROLE

CTR ACETONA

HEX. FOLHA

HEX. FRUTO

HEX. CAULE

HEX. FLOR

DICL. F

LOR

ACET. FRUTO

ACET. CAULE

MET. F

OLHA

MET. F

RUTO

MET. C

AULE

0

5

10

15

20

25

Ta

ma

nh

o d

o H

alo

(m

m)

Figura 16: Efeito dos extratos de C. fluminensis na atividade hemorrágica provocada pelo veneno de B. jararaca. O veneno e os extratos foram pré-incubados durante 30 minutos a temperatura ambiente na proporção veneno:planta de 1:20. CONTROLE: veneno + salina; CTR ACETONA: veneno + acetona. Os resultados expressam a média ± SD de três experimentos individuais (n= 3) com p< 0,05, valores comparados com o controle positivo (veneno + acetona).

A benzofenona também foi testada na tentativa de neutralizar a atividade

hemorrágica, na mesma proporção descrita anteriormente. Assim como a maioria

dos extratos a benzofenona não foi capaz neutralizar a hemorragia provocada pelo

veneno de B. jararaca (Figura 17). Os extratos vegetais e a benzofenona

isoladamente não provocaram hemorragia no animal (dados não mostrados); assim

como o DMSO e a acetona testada com o veneno não inibiram a hemorragia

provocada pelo mesmo.

*

*

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CONTROLE

CONTROLE ACETONA

HEX. FLOR

CONTROLE DM

SO

BENZOFENONA

0

5

10

15

20

25

Tam

an

ho

do

Ha

lo (

mm

)

Figura 17: Comparação entre o efeito do extrato hexânico da flor de C. fluminensis e a benzofenona isolada deste extrato na atividade coagulante provocada pelo veneno de B. jararaca. O veneno e o extrato/benzofenona foram pré-incubados durante 30 minutos a temperatura ambiente na proporção de 1:10 veneno:planta. CONTROLE: veneno + salina; CONTROLE ACETONA: veneno + acetona; CONTROLE DMSO: veneno + DMSO. Os resultados expressam a média ± SD de três experimentos individuais (n= 3) com p< 0,05, valores comparados com o controle positivo (veneno + acetona/DMSO).

4.5 Comparativo dos efeitos dos extratos vegetais sobre o veneno de

Bothrops jararaca.

A tabela 5 mostra o percentual de neutralização dos extratos vegetais e da

benzofenona testados sobre as atividades biológicas do veneno de B. jararaca. Os

valores da tabela são referentes aos ensaios biológicos realizados na proporção

veneno/planta de 1:20 e tempo de pré-incubação de 30 minutos, com exceção da

benzofenona na atividade coagulante, onde foi utilizada a proporção de 1:10.

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Tabela 5: Comparação dos efeitos dos extratos vegetais sobre o veneno de B.

jararaca.

EXTRATOS

INIBIÇÃO DA

PROTEÓLISE

(%)

INIBIÇÃO DA

HEMÓLISE

(%)

ATIVIDADE

COAGULANTE

(vezes de

aumento)

INIBIÇÃO DA

HEMORRAGIA

(%)

1:20 1:20 1:20 1:20

HEX. FOLHA 44,15 73,5 1,06 0

HEX. FRUTO 18,45 23,6 1,11 38,9

HEX. CAULE 33,18 40,53 0,92 0

HEX. FLOR 76,73 37,99 1,32 0

MET. FOLHA 51,79 71,97 1,09 0

MET. FRUTO 97,03 59,64 1,25 0

MET. CAULE 96,31 99,86 1,89 0

DICLO. FLOR 47,84 4,61 1,20 0

ACET.FRUTO 100,00 32,43 1,35 100,0

ACET.CAULE 77,84 88,75 2,14 4,4

BENZOFENONA 47,08 0 1,29* 0

* Valor referente a proporção de1:10.

De acordo com os resultados obtidos, na proporção 1:20 (Tabela 5), podemos

observar que o extrato acetônico do fruto foi capaz de inibir totalmente a proteólise

provocada pelo veneno de B. jararaca, os extratos metanólico do fruto e caule,

obtiveram inibição próxima a 100%, e os extratos hexânico da flor e acetônico do

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caule, inibições maiores de 75%. A atividade hemolítica provocada pelo veneno de

B. jararaca, foi inibida mais eficazmente pelo extrato metanólico do caule (99,86%),

seguido do extrato acetônico do caule com 88,75% de inibição e dos extratos

hexânico e metanólico da folha com 73,5% e 71,97%, respectivamente. O tempo de

coagulação causado pelo veneno de B. jararaca foi aumentado pelos extratos, com

destaque para os extratos metanólico e acetônico do caule, onde foram capazes de

dobrar, aproximadamente, o tempo de coagulação. O extrato acetônico do fruto foi

capaz de proteger totalmente os animais da hemorragia provocada pelo veneno de

B. jararaca. E o extrato hexânico do fruto protegeu parcialmente (38,9%) os animais

da hemorragia. Com isso, podemos destacar os extratos metanólico e acetônico do

caule, onde obtiveram resultados mais expressivos em pelo menos três atividades

testadas e o extrato acetônico do fruto, que foi capaz de inibir totalmente a proteólise

e a hemorragia provocadas pelo veneno de B. jararaca.

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5. DISCUSSÃO

O envenenamento ofídico representa um grave problema de saúde pública,

principalmente nos países tropicais em desenvolvimento, gerando 125 mil mortes

por ano. (Pinho e Pereira, 2001; Koh et al., 2006; Kasturiratne et al., 2008; Gutiérrez

et al., 2009). E, segundo a OMS são considerados doenças negligenciadas. Não

obstante, cerca de 370 mil pessoas adquirem alguma sequela irreversível, gerando

um grave problema sócio-econômico para estes indivíduos (OMS, 2007). Estes

acidentes produzem síndromes complexas envolvendo distúrbios graves

hemodinâmicos atingindo os sistemas renal, pulmonar e cardíaco, além de afetar a

pele, os músculos e a vascularização no entorno do local da picada (Matsui et al.,

2000; Koh et al., 2006). Com melhoramento biotecnológico e a introdução de novas

metodologias de isolamento, purificação e sequenciamento de macro e

micromoléculas, diversas toxinas encontradas nos venenos de serpentes já foram

identificadas e seus mecanismos de ação elucidados (Fox & Serrano, 2005; Koh et

al., 2006; Angulo & Lomonte, 2009; Dhananjaya & D‟Souza, 2010). O entendimento

sobre a ação dessas toxinas facilita a tentativa de neutralizá-las.

A utilização da terapia antiveneno ocorre há mais de um século, e neste

tempo nenhuma alternativa para o tratamento foi efetivada. Dados de literatura

apontam que a busca por terapias alternativas tem se intensificado destacando-se a

busca por substâncias de origem natural, como a utilização de soros de serpentes e

de marsupiais como inibidores em potencial de toxinas presente nos venenos de

serpentes, além de diversos trabalhos utilizando extratos vegetais e substâncias

isoladas (Mors et al., 2000; Vilar et al., 2005; Assafim et al., 2011).

Extratos vegetais, assim como substâncias isoladas têm sido utilizados na

tentativa de neutralizar os efeitos provocados pelo envenenamento ofídico, tais

como: Pentaclethra macroloba e saponinas isoladas desta planta (da Silva et al.,

2005, 2007b), Mikania glomerata (Maiorano et al., 2005; de Paula et al., 2009), entre

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outras. Mors e colaboradores (2000) listam algumas classes de metabólitos

especiais (terpenóides, flavonóides, além de outras substâncias fenólicas) como

responsáveis pelas inibições das toxinas de venenos.

Neste trabalho foram avaliados o efeito neutralizante de extratos da planta

Clusia fluminensis frente as atividades biológicas proteolítica, hemolítica, coagulante

e hemorrágica provocadas pelo veneno de B. jararaca, utilizando diferentes partes

do vegetal, bem como solventes de diferentes polaridades, com o intuito de avaliar

extratos contendo diferentes metabólitos especiais desta planta.

Os extratos em hexano apresentam substâncias de baixa polaridade como

hidrocarbonetos, terpenos e benzofenonas. Os extratos em acetona e diclorometano

apresentam substâncias de baixa a média polaridade como terpenos, benzofenonas,

ácidos graxos e substâncias fenólicas. Os extratos em metanol apresentam

substâncias de média a alta polaridade como substâncias fenólicas com destaque

para flavonóides (da Silva, 2011).

Os extratos testados neste trabalho foram capazes de neutralizar com

eficiência a proteólise in vitro provocada pelo veneno de B. jararaca. Porém a

inibição da atividade coagulante não foi observada. Borges e colaboradores (2001)

utilizando extrato aquoso de Casearia sylvestris encontraram resultados similares,

sugerindo uma possível especificidade sobre as metaloproteases.

O presente trabalho mostrou que o extrato acetônico do fruto foi capaz de

neutralizar totalmente a hemorragia provocada pelo veneno de B. jararaca e o

extrato hexânico dos frutos neutralizou parcialmente a hemorragia, sugerindo que

este gênero apresenta substâncias capazes de neutralizar as hemorraginas

presentes naquelas secreções, destacando os frutos de C. fluminensis como fonte

destes produtos. Compagnone e colaboradores (2008) descreveram a presença de

benzofenonas nos frutos de C. columnaris, porém os resultados obtidos neste

trabalho sugerem que a resposta inibitória da hemorragia não está diretamente

relacionada com esta classe de substância.

Da Silva (2011) demonstrou a presença de terpenóides e flavonóides nos

frutos de C. fluminensis, com um maior percentual de flavonóides encontrados no

extrato em acetona. Castro e colaboradores (1999) descrevem as espécies Clusia

torresii e Clusia palmana (folhas e frutos) como inibidores da hemorragia causada

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pelo veneno de B. asper. A caracterização química dos extratos em acetato de etila

das folhas destas espécies demonstrou a presença da epicatequina (flavonóide)

como substância majoritária, sendo sugerida como responsável pela ação anti-

hemorrágica dos extratos (Castro et al., 1999).

Os extratos de C. fluminensis também foram capazes de neutralizar a

atividade fosfolipásica do veneno de B. jararaca, com destaque para os extratos

hexânico, metanólico e acetônico do caule, sugerindo a presença de metabólitos

especiais com características inibitórias de PLA2, destacando esta parte vegetal

como fonte destas substâncias. Da Silva (2011) identificou a presença de terpenos

neste extratos. Bernard e colaboradores (2001) descrevem o ácido betulínico e a

betulina (terpenóides) isolado da Betula alba, como inibidor de PLA2. Extratos de

diversas espécies vegetais Mandevilla velutina (Biondo et al., 2003), Rosmarinus

officinalis, Cordia verbenacea (Ticli et al., 2005), Pavo cristatus (Murari et al., 2005),

Stryphnodendron barbatiman, Mikania glomerata, Miconia sp (de Paula, 2009)

também apresentam capacidade inibitória frente a fosfolipases A2.

O mecanismo inibitório de ação dos extratos vegetais na neutralização das

toxinas ainda é pouco entendido. Porém é importante ressaltar que as proteases e

as PLA2 são dependentes de íons divalentes (Zn2+ e Ca2+). Dados de literatura

sugerem que estes metabólitos possam ser quelantes naturais desses íons

impedindo a catálise destas enzimas. Contudo, uma possível interação direta dos

componentes de extratos vegetais com as proteínas presentes nos venenos não

está descartada (Borges et al., 2001; Biondo et al., 2003).

Além dos extratos brutos, também foi testada uma benzofenona (clusianona)

isolada do extrato hexânico das flores de C. fluminensis, sendo esta a substância

majoritária deste extrato (Da Silva, 2011). Este metabólito obteve um perfil

neutralizante das atividades proteolítica, hemolítica e coagulante inferior ao extrato

bruto. A clusianona e o extrato hexânico da flor não foram capazes de inibir a

atividade hemorrágica, estes dados sugerem que a clusianona atua em sinergismo

com outras substâncias do extrato (ou não é a principal responsável pela inibição

das toxinas do veneno). Assafim e colaboradores (2011) utilizaram o extrato

etanólico de Hypericum brasiliense e um flavonóide (quercetina) isolado obtendo

resultados semelhantes com os obtidos neste trabalho. Borges e colaboradores

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(2001) sugerem que o isolamento das substâncias pode ser problemático devido a

possível ação sinérgica entre os componentes do extrato, porém os autores

ressaltam que para um melhor entendimento do mecanismo de ação destas

substâncias é importante que se trabalhe com os produtos isolados.

Apesar do efeito inibitório observada neste trabalho de alguns extratos

vegetais de C. fluminensis sobre as atividades hemorrágica, coagulante, hemolítica

e proteolítica do veneno de B. jararaca, faz necessário avaliá-los frente a outras

atividades biológicas (edematogênica, nucleotidásica, miotóxica) e frente à

neutralização da letalidade promovida pela inoculação do veneno. Com isso pode-se

assegurar a propriedade antiofídica destes extratos (Gutiérrez & León, 2009).

Deve-se levar em consideração e atentar para o fato de que a composição

dos venenos de serpentes é influenciada por diferentes fatores inerentes as próprias

serpentes (sexo, idade, local, estação do ano) bem como o metabolismo do vegetal

que da mesma forma sofre influências similares. Este conjunto de fatores pode de

alguma forma interferir na capacidade neutralizante dos extratos vegetais, ou seja,

nas suas propriedades antiofídicas.

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6. CONCLUSÃO

Os extratos de Clusia fluminensis inibiram significativamente a

proteólise provocada pelo veneno de B. jararaca, com exceção dos extratos

hexânico do caule e diclorometânico da flor.

Os extratos hexânicos da folha e caule, metanólicos da folha, fruto e

caule e o extrato acetônico do caule inibiram de maneira significante a hemólise

provocada pelo veneno de B. jararaca.

Os extratos de C. fluminensis não prolongaram eficazmente o tempo de

coagulação sanguínea provocada pelo veneno de B. jararaca.

O extrato acetônico do fruto foi o único capaz de inibir totalmente a

hemorragia causada pelo veneno de B. jararaca; o extrato hexânico do fruto inibiu

parcialmente esta hemorragia, indicando as substâncias presentes no fruto

importantes para a neutralização de metaloproteases hemorrágicas presentes no

veneno.

A parte vegetal, bem como o solvente utilizado no preparo dos extratos

deve ser considerada, sendo importante para o efeito neutralizante dos mesmos.

Os resultados mostram que a clusianona não é a responsável,

isoladamente, pelos efeitos observados contra as atividades do veneno de B.

jararaca.

Estudos posteriores a fim de identificar e isolar outros componentes

dos extratos vegetais que possam ser responsáveis por estes efeitos neutralizantes

nas atividades biológicas do veneno de B. jararaca, deveram ser realizados a fim de

compreender melhor o mecanismo de ação destes extratos sobre as toxinas do

veneno.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ADENDO

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# Manuscrito submetido à revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz

Evaluation of the Plant Clusia fluminensis Planch & Triana in Neutralization of

Biological Activity of Bothrops jararaca venom

Eduardo Coriolano de Oliveira1,2, Maria Carolina A. da Silva2, Camila N. Faioli1,

Thaísa F. S. Domingos1, Eládio F. Sanches3, Selma R. de Paiva2, André L. Fuly1

1Laboratório de Venenos e Toxinas de Animais e Avaliação de Inibidores,

Departamento de Biologia Celular e Molecular, Instituto de Biologia, Universidade

Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil

2Laboratório de Botânica, Departamento de Biologia Geral, Instituto de Biologia,

Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil

3Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, Fundação Ezequiel Dias, Belo Horizonte,

MG, Brasil