EDITORIAL

Quem não gosta de um bom e velho duelo no Velho Oeste? O clima seco e

selvagem que vai além do cenário e invade também as personagens. Suas

roupas, olhares e gestos? O saloon que pulsa com jogos de pôquer,

dançarinas de cancan e uísque barato sempre como estopim para uma

iminente desavença que venha a explodir com dinamite nas minas de prata.

Fora tudo isso iremos agregar mais dois ingredientes famosos em boas

histórias: a vingança e o terror!

Então, prepare-se para ler, sete capítulos deste e-zine minissérie cravados de

morte, ressurreição, pacto com demônios, vingança, morte, ódio, morte,

sangue, morte, amor. Morte, tiros, morte, criaturas do mal, morte, sobrenatural,

morte e morte... Muita morte!

São seis balas de prata...

Uma para McGrim, o Vampiro,

outra para Garra Sombria, o índio Lobisomem,

uma para Dirty Joe, o Zumbi,

uma para Garyman, o bruxo,

Uma para Jhonny Horns, o demônio

E a derradeira para...

Jonatas Turcato Syrayama

www.syrayama.com

Seis Balas de Prata – cap.1 “O cowboy do Inferno”

Masterson sentiu as juntas de seus dedos estalarem quando ele fez o rápido

movimento do saque. O movimento foi rápido como um raio e mais rápido do

que seu adversário, fez sua colt 45 saltar do coldre e cuspir fogo. Realmente

ele era rápido! Talvez o mais rápido por aquelas bandas, talvez até mesmo o

mais rápido do Texas. Era o que todos diziam. Ele conseguia ler os

movimentos e todos os sinais corporais do adversário e isso lhe dava

vantagem. Por isso sacou primeiro, atirou e acertou na cabeça do adversário,

para ser mais exato acertou bem no olho esquerdo. Vitória certa...

McGrim cambaleou para trás e colocou a mão no rosto cobrindo seu olho

ferido. Deu apenas um passo para trás e então parou firme e sólido como uma

estátua. Olhou com seu único olho para Masterson e sorriu furiosamente:

- Você vai pagar caro por isso forasteiro! – McGrim acenou. Antes mesmo de

escutar o disparo Masterson sentiu o fogo do chumbo queimando suas costas.

Sentiu seus joelhos dobrarem contra sua vontade e caiu ajoelhado no duro

chão de terra. A poeira levantou pesadamente.

Escutou o que deveria ser um rifle sendo recarregado e passos nas suas

costas. Mais dois homens se aproximaram. Um deles chutou a colt de suas

mãos e o outro enterrou uma faca em suas costelas. Masterson enxergava

apenas sombras e o sol parecia apenas fogo queimando seus olhos. Abaixou

os olhos e quando levantou viu mais quatro vultos além de seu adversário.

Sentiu o sangue na garganta, mas sabia o que deveria fazer. Sacou sua outra

colt 45, irmã gêmea da primeira perdida e com a ajuda de Deus ou do diabo

descarregou os seis tiros nos cinco homens, reservando dois para McGrim e

um para cada um de seus comparsas. Todos certeiros e mortais. Eles

gargalhavam em meio a fumaça.

Ajoelhado Masterson não podia entender o que acontecia. Ele nunca perdia um

tiro. Não gostava de matar, mas quando era necessário e ele sacava... Nunca o

adversário continuava de pé e nunca vivo. O que estava acontecendo? Eles

eram imortais? Feiticeiros?

Ao comando de McGrim os 4 homens atiraram ao mesmo tempo fuzilando o

forasteiro de joelhos. Masterson caiu de costas e com os braços abertos,

apenas esperando a morte de forma brava e viril. E a morte veio sob a forma

derradeira de uma Smith & Wesson Volcanic. McGrim apontou a arma para o

coração de Masterson e com seu olho vazado e sangrando sorriu rubro como

a morte.

- Te vejo no inferno cowboy! – Masterson escutou o estrondo. Apenas escutou

e sentiu o fogo penetrando duro em seu peito. Apenas escutou, pois não via

mais nada. As trevas dominaram seus olhos e bem devagar foi dominando os

outros sentidos até não restar nada. E essa era a morte.

**********

A tábua de madeira estava velha, carcomida e pendurada por uma corrente

enferrujada. Meio apagada ainda dava pra ler “Cemitério de La Venganza”.

O cemitério era pobre e velho. Muito velho! Tudo nele aparentava decadência e

podridão. Era um excelente contraste para um cemitério. Tudo era morte e nem

plantas se atreviam a crescer neste pedaço de terra. Apenas algumas

eventuais ervas daninhas e antigas árvores secas e retorcidas ousavam

permanecer neste hediondo quadro de trevas e solidão. O silêncio era digno

do termo sepulcral. Não havia som de vento, nem de insetos nem coiotes

uivavam nas redondezas. Era uma terra morta e pertencia ao diabo. Era isso

que diziam os rancheiros da região.

O céu negro e denso de repente estourou num clarão seguido de um trovão

que pareceu chicotear todo o velho oeste. Um coiote uivou de medo sentindo

um medo irracional e instintivo de algo medonho que estava por vir. A chuva

começou a judiar as terras vermelhas ressecadas. Para muitos uma chuva no

deserto é uma benção, mas nesta noite palavras como benção, santo ou

sagrado não deveriam ser proferidas. Pois o diabo estava para cavalgar na

terra dos homens.

A chuva era quente e pesada. O céu era iluminado com raios que estalavam

como chicotes nas costas de corcéis desembestados, então um trovão ecoou

mais alto do que os outros e um raio caiu em cima de uma túmulo recente

estourando uma lápide nova, com poucos anos de poeira em seu lombo.

Pedaços de pedra com os dizeres “Aqui jaz John Mastersom, morto pelo

próprio demônio” voaram para todos os lados. Na terra o chão tremeu e o solo

molhado começou a pipocar e então uma mão surge negra na escuridão

molhada. A mão apalpa esfaimada e atrás dela surge um braço, um ombro,

uma cabeça... Um homem brota como água do solo maldito. Masterson brota

do próprio túmulo saindo do ventre da terra num parto macabro e misterioso.

Masterson tenta levantar e cambaleia alguns metros. Cai pesadamente

sentindo dor e desorientação. Seus olhos doem, mas seus pulmões se enchem

de ar e areia fina. Ele estava vivo e isto era contra tudo o que ele acreditava.

Ainda no chão sente o cheio de enxofre e o vapor da chuva começa a

preencher o terreno. As árvores mais próximas pegam fogo e a areia começa a

derreter. Eis que surge o cavaleiro rubro.

O cavalo corre na velocidade do vendo e suas ferraduras são arcos de fogo

infernal. De suas narinas flamas são expelidas a cada lufada. Uma não

esquelética puxa um arreio feito de vísceras, olhos e tendões. De cima da

montaria Masterson pode ver o verdadeiro cowboy do inferno. Suas roupas e

chapes são tão negros quando o corcel que monta. O cowboy desmonta e

quando pisa no chão vapor sobe de suas pegadas que afundam derretendo

parte da terra dura do oeste. Masterson percebeu na hora que estava diante do

próprio...

- Diabo, Coisa Ruim, Belzebú, Satanás, Pé Chato, Tinhoso, Capeta, Costa

Oca, Cabrunco, Chifrudo, Capiroto, Cramulhão, Azucrim, Anhanguera, Cão-

Tinhoso, Pé de Bode, Guaxumão, Zarapelho, Satã, Beiçudo, Besta Fera,

Cafuçu, Exú, Tranca Rua, Zé Pilintra, Canhoto, Gato Preto... – falou em tom de

zombaria, mas sua voz saiu profunda e sibilante com ou ma serpente e

mortífera e venenosa como sua peçonha.

Masterson resolveu entrar no jogo:

- Lúcifer!

- Nem tanto caro amigo. Não tão ilustre. Tenho lá meu canto e minha infâmia,

mas nem tanto quanto o anjo caído.

- Como assim? O diabo é o diabo...

- Não caro colega. Existem tantos diabos quanto existem humanos na face da

terra. Uns mais importantes quantos outros. De acordo com nossa hierarquia. E

todos sedentos por poder, assim como os humanos. Teu amigo que vós fala

tem lá a sua importância. Chama-me Mefisto e isso basta.

- O que você quer... Mefisto?

- Ora... Vim atender a teu pedido.

- Não pedi nada!

- Claro que pediu. Não proferiste uma só palavra. Mas sua alma clamou por

mim a cada segundo da sua danação. Desde o momento do seu desencarne

até agora sua alma gritava por vingança. Era vingança que você queria em vida

e é vingança que você gritava em morte. Não mintas para mim! NOSCE TE

IPSUM... Conhece a ti mesmo.

O homem no chão olhou para a criatura e algo dentro de sua alma o impediu

de responder ao contrário.

- Você está morto e assim seguirá em breve. Arranquei a sua alma e a

acorrentei a este corpo sobrenatural que animei com necromatéria. Você terá

poucos dias na Terra com este corpo para liquidar sua vingança e satisfazer

tua fome de justiça.

- O que você ganha com isso?

- Ahhh hahahaha! Ganho tudo! Ganho mais soldados, mais escravos mais

poder e poder. E você não perde nada com isso!

- Como vou conseguir minha vingança! Atirei bem na cara de McGrim e a

queima roupa em seus capangas e eles apenas riram em minha cara como

monstros numa história para assustar crianças.

- Você tem razão! Aqueles traídos eram meus servos e por isso você não os

matou. McGrim é um maldito vampiro que vem sugando sangue a centenas de

anos e acha que pode dar as costas a mim agora. Seus capangas são: Garra

de Sombria, um índio e um lobisomem. A noite o maldito índio se transforma

num homem lobo que dilacera qualquer coisa viva. Dirty Joe é um zumbi, sua

cara pobre e seu corpo em decomposição precisam se alimentar de carne

humana o tempo todo para não desmanchar em pleno sol. Garyman é um

bruxo e isso já explica muito. E por último e tão perigoso quanto os outros meu

irmão conhecido como Jhonny Horns, um demônio que se sujeita a seres

humanos... Nojento!

Agora tudo fazia sentido. Se ele estava diante do próprio diabo era óbvio que o

que ele dizia era verdade. Era por isso que não conseguira matar tais criatura

com sua simples arma de fogo.

- E como você quer que eu mate estes monstros que não morrem?

- Ahhh ele morrem sim. Basta a arma certa e o tiro certo. - Mefisto jogou para

Masterson a sua antiga Colt 45. Ele a apanhou no ar e se levantou. Por

instinto abriu o tambor da arma e conferiu a munição.

- Seis balas de pratas. Forjadas no fogo do Quinto Ciclo do Inferno. Um tiro

destes pode matar qualquer criatura, viva ou morta, deste ou de qualquer

mundo. Você possuiu seis balas de prata que podem matar qualquer um ou

qualquer coisa...

- São cinco criaturas e seis balas. O que faço com a sexta?

- No final você deve voltar ao inferno comigo. Por isso use sua imaginação. Se

você aceitar meu trato, basta engatilhar a colt.

Masterson lembrou de todo o ódio e fúria antes de sua morte e após a sua

morte. Pensou em toda sua vida e lembrou de McGrim. Lembrou do inferno e

do tempo que passou nele...

Engatilhou a colt e jurou que os cinco passariam por tudo aquilo que ele

passou e mais...Muito mais!

Colocou a arma no coldre e pensou nas seis balas de prata. Uma para cada

inimigo e uma para sua própria cabeça no final da empreitada...

- Vai valer à pena!

Continua...

Próximo capítulo:

Seis Balas de Prata – cap.2 “A primeira bala é do lobisomem”

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