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editorial Q Q uando Jet Jackson, acossado por um perigo mortal em algum canto remoto do planeta, tira- va do seu cinturão metálico um aparelhinho quadrado dotado de antena retrátil e pedia socorro, num diálogo cheio de tensão e urgência, a uma distante central de operações, a meninada dos anos 50 e 60, pregada diante de enormes TVs em preto e branco — e chuviscos — , era tomada pela sensação maravi- lhosa de estar diante do futuro. O maravilhamento atin- gia o ponto máximo quando surgiam, no correr da trama, os telefones acoplados a telas que juntavam à voz a imagem do interlocutor. Além de se prestarem ao diálogo, esses telefones também respondiam a compli- cadas indagações, forneciam dados e, às vezes, davam até conselhos. A ficção daqueles deliciosos seriados futuristas classe B (ou C), produzidos em algum fundo de estúdio de Hollywood, longe de ser inócua, colocou para aque- la geração de meninos marcos de modernidade que foram, de forma consciente ou inconsciente, persegui- dos em sua vida adulta, e adquiriu, aos olhos de hoje, foros de premonitória. Alguns anos antes, George Orwell havia apre- sentado ao mundo, com 1984, sua novela de terror político publicada em fins dos anos 40, uma visão menos benigna do futuro. A teletela, o onipresente olho tecnológico que disponibilizava ao Grande Irmão, chefe supremo de um regime totalitário, a visão da intimidade das pessoas, era a essência tecnológica de uma sociedade de pensamento único, violenta e sombria. E hoje, em nova profecia auto-realizada, quem duvida que esse implacável olho já começa a ser perigosamente instalado entre nós? Da forma como vão as coisas, a vida privada já se delineia como o tributo que os indivíduos devem pagar pelo direito de usar seus maravilhosos brinque- dinhos eletrônicos. Nossas contas, nossos hábitos de consumo, nossos interlocutores, nada mais escapa de uma implacável teletela candidamente introduzida em nossas vidas por nós mesmos e monitorada por não se sabe quem. A presente edição de Fonte trata direta e exaus- tivamente do futuro antevisto na ficção risonha de Hollywood. Analisa suas implicações na vida das pes- soas e detalha seus aspectos funcionais. Aprofunda-se nas questões de tecnologia, mas não deixa também de induzir em alguns pontos, aqui e ali, em sutis pince- ladas, o reclame urgente de uma reflexão menos otimista, como nos sugere o alerta de Orwell. Os artigos, entrevistas e as matérias desta edição falam de uma tecnologia que nasceu e desenvolveu-se múltipla e heterogênea e que agora, para se postar a serviço da sociedade como fator de simplificação da vida das pessoas, de otimização do esforço humano no seu labor do dia-a-dia e como provedora de possibili- dades crescentes de lazer e contemplação estética, deve empreender o gigantesco esforço da convergência. É hora de se juntar as pontas de um complexo enredo tec- nológico. Ao focar sua pauta nisso que vem sendo chama- do convergência digital, a revista aborda temas varia- dos. Fala dos marcos regulatórios que orientam a implantação das diferentes tecnologias. Discute em dois excelentes artigos algumas questões jurídicas que não se colocavam há ainda muito pouco tempo. Em novo salto premonitório, agora racionalmente classifi- cado como tendências de curto prazo, fala do futuro da integração de diversas tecnologias. Aborda as possibi- lidades econômicas que o negócio pode oferecer. E adverte: com o modelo educacional vigente no Brasil, estamos condenados a perder mais este bonde da história. Muito breve, só nos restará o destino de meros caudatários de Índia e China. É urgente uma rápida inflexão em nossas políticas, estratégias e metas nesse campo. Em suma, temos aqui um panorama abrangente desse tema que mobiliza os meios universitários, os institutos de pesquisa, os laboratórios, a indústria ele- trônica, a indústria do lazer, os governos, os investi- dores e a cidadania no mundo todo. Esperamos, com esta edição de Fonte, ter dado uma mínima contribuição para o entendimento e qua- lificação do debate. Um abraço, Maurício Azeredo Dias Costa Editorial Caro leitor, 5

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editorial

QQuando Jet Jackson, acossado por um perigomortal em algum canto remoto do planeta, tira-va do seu cinturão metálico um aparelhinhoquadrado dotado de antena retrátil e pedia

socorro, num diálogo cheio de tensão e urgência, a umadistante central de operações, a meninada dos anos 50 e60, pregada diante de enormes TVs em preto e branco— e chuviscos — , era tomada pela sensação maravi-lhosa de estar diante do futuro. O maravilhamento atin-gia o ponto máximo quando surgiam, no correr datrama, os telefones acoplados a telas que juntavam àvoz a imagem do interlocutor. Além de se prestarem aodiálogo, esses telefones também respondiam a compli-cadas indagações, forneciam dados e, às vezes, davamaté conselhos.

A ficção daqueles deliciosos seriados futuristasclasse B (ou C), produzidos em algum fundo de estúdiode Hollywood, longe de ser inócua, colocou para aque-la geração de meninos marcos de modernidade queforam, de forma consciente ou inconsciente, persegui-dos em sua vida adulta, e adquiriu, aos olhos de hoje,foros de premonitória.

Alguns anos antes, George Orwell havia apre-sentado ao mundo, com 1984, sua novela de terrorpolítico publicada em fins dos anos 40, uma visãomenos benigna do futuro. A teletela, o onipresente olhotecnológico que disponibilizava ao Grande Irmão,chefe supremo de um regime totalitário, a visão daintimidade das pessoas, era a essência tecnológica de uma sociedade de pensamento único, violenta esombria.

E hoje, em nova profecia auto-realizada, quemduvida que esse implacável olho já começa a serperigosamente instalado entre nós?

Da forma como vão as coisas, a vida privada jáse delineia como o tributo que os indivíduos devempagar pelo direito de usar seus maravilhosos brinque-dinhos eletrônicos. Nossas contas, nossos hábitos deconsumo, nossos interlocutores, nada mais escapa deuma implacável teletela candidamente introduzida emnossas vidas por nós mesmos e monitorada por não sesabe quem.

A presente edição de Fonte trata direta e exaus-tivamente do futuro antevisto na ficção risonha de

Hollywood. Analisa suas implicações na vida das pes-soas e detalha seus aspectos funcionais. Aprofunda-senas questões de tecnologia, mas não deixa também deinduzir em alguns pontos, aqui e ali, em sutis pince-ladas, o reclame urgente de uma reflexão menosotimista, como nos sugere o alerta de Orwell.

Os artigos, entrevistas e as matérias desta ediçãofalam de uma tecnologia que nasceu e desenvolveu-semúltipla e heterogênea e que agora, para se postar aserviço da sociedade como fator de simplificação davida das pessoas, de otimização do esforço humano noseu labor do dia-a-dia e como provedora de possibili-dades crescentes de lazer e contemplação estética, deveempreender o gigantesco esforço da convergência. Éhora de se juntar as pontas de um complexo enredo tec-nológico.

Ao focar sua pauta nisso que vem sendo chama-do convergência digital, a revista aborda temas varia-dos. Fala dos marcos regulatórios que orientam aimplantação das diferentes tecnologias. Discute emdois excelentes artigos algumas questões jurídicas quenão se colocavam há ainda muito pouco tempo. Emnovo salto premonitório, agora racionalmente classifi-cado como tendências de curto prazo, fala do futuro daintegração de diversas tecnologias. Aborda as possibi-lidades econômicas que o negócio pode oferecer.

E adverte: com o modelo educacional vigente noBrasil, estamos condenados a perder mais este bonde dahistória. Muito breve, só nos restará o destino de meroscaudatários de Índia e China. É urgente uma rápidainflexão em nossas políticas, estratégias e metas nessecampo.

Em suma, temos aqui um panorama abrangentedesse tema que mobiliza os meios universitários, osinstitutos de pesquisa, os laboratórios, a indústria ele-trônica, a indústria do lazer, os governos, os investi-dores e a cidadania no mundo todo.

Esperamos, com esta edição de Fonte, ter dadouma mínima contribuição para o entendimento e qua-lificação do debate.

Um abraço,

Maurício Azeredo Dias Costa

EditorialCaro leitor,

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Inter@çãoA equipe da revista Fonte agradece o grande número de mensagensenviadas à redação, dentre as quais selecionamos algumas parapublicação neste espaço destinado a acolher as opiniões e suges-tões de nossos leitores. Continuem participando: o retorno de vocêsé fundamental para que a revista evolua a cada edição.

e-mail: [email protected]

Rua da Bahia, 2277, Lourdes, Belo Horizonte, MG - CEP: 30160-012,aos cuidados da Assessoria de Comunicação da Prodemge - Compa-nhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais.

Recentemente "descobri" a revistaFonte na empresa onde trabalho e acheia publicação interessante. Gostaria de sa-ber como posso adquiri-la, se existe assi-natura ou qual o formato de distribuiçãoda revista.

Matheus Eduardo Machado MoreiraSun Certified Programmer

for the Java 2 Plataform 1.4

A Biblioteca Setorial de Informáticada PUC-Rio gostaria de saber da possi-bilidade de receber, em doação, a revistaFonte, a partir de seus primeiros fascí-culos.

Rosane Telles Lins CastilhoAssessoria de Biblioteca,

Documentação e Informação

Gostei muito do conteúdo da revista,bastante informativo e bem formatado,com assuntos atuais e abordagem bastan-te abrangente. Vocês estão de parabéns.Observei a revista de um amigo e suaversão via web. Como funciona a distri-buição da versão impressa?

Carlos LacerdaAnalista de Sistemas - Sun Certified Instructor

Casa do Software S/A

Gostaria de receber os exemplares darevista Fonte. Tive oportunidade de ler osegundo volume e percebi a qualidade doconteúdo abordado.

Céssia Freitas de FigueiredoDiretoria de Tecnologia do Banco do Brasil

Tomei contato com esta revista a par-tir do volume 2, por meio do exemplar deum colega de trabalho. Para minha gratasurpresa, dois dos assuntos nos quaistenho amplo interesse, sendo inclusiveobjetos de minhas atividades profis-sionais e de estudo, foram abordados narevista: software livre e geoprocessamen-to. Gostaria, portanto, de perguntar-lhesos procedimentos para adquirir os doisnúmeros da revista Fonte, bem como os demais a serem publicados, pois

certamente muitos dos relevantes assun-tos que serão tratados auxiliarão a mim, ameus colegas de trabalho e à comunidadeque se interesse pelos assuntos relaciona-dos à informática, sobretudo a pública.

Carlos Alberto da CostaTécnico de Recursos Estratégicos

Unidade de Coordenação de Informática em Gestão Urbana - Prodabel

Conheci a revista Fonte, já em seunúmero 2, e fiquei impressionada com aqualidade. Quero parabenizar o Conse-lho Editorial pela iniciativa. Gostariaimensamente de receber um exemplardessa edição e um exemplar da ediçãoanterior, se for possível. A partir deagora, gostaria de ser assinante darevista, recebendo-a a cada publicação.

Glauciene da Costa BertiniProdabel

Gostaríamos de assinar a revistaFonte, visto que é uma publicação muitorica em informações.

Daniela Rodrigues DiasFinanceiro - Unimed João Monlevade

Faço parte do comitê para implan-tação do software livre no Serpro, alémde pertencer ao PSL/MG (ProjetoSoftware Livre de Minas Gerais). Ficofeliz em saber que a Prodemge começa adesenvolver ações de fortalecimento dosoftware livre e da liberdade de conheci-mento. Nesse sentido, solicito a gentilezade me enviar um exemplar da revistaFonte.

Margareth Alves de AlmeidaDivisão de Metodologias e Tecnologias Educacionais

Universidade Corporativa Serpro

Queremos parabenizá-los pela publi-cação da revista Fonte. Estamos inte-ressados em recebê-la periodicamenteem nossa instituição.

Maria Lúcia Coimbra ScalabriniBibliotecária - Biblioteca OAB/MG

SOLICITAÇÕES DE ASSINATURA

Uma publicação da:

Prodemge - Rua da Bahia, 2277 - Bairro LourdesCEP 30160-012 - Belo Horizonte - MG - Brasil

[email protected]

A revista Fonte visa à abertura de espaço para a divul-gação técnica, a reflexão e a promoção do debate acercade visões plurais no âmbito da tecnologia da informação,sendo que o conteúdo dos artigos publicados nesta ediçãoé de responsabilidade exclusiva de seus autores.

Ano 2 - nº 03 - Julho/Dezembro de 2005

Filiada à Aberje

Esta edição contou com o apoio:

Governador do Estado de Minas GeraisAécio Neves da CunhaSecretário de Estado de Planejamento e GestãoAntonio Augusto Junho AnastasiaDiretor-PresidenteMaurício Azeredo Dias CostaDiretora de Projetos e NegóciosGlória Maria Menezes Mendes FerreiraDiretor de Tecnologia e ProduçãoRaul Monteiro de Barros FulgêncioDiretor Administrativo e FinanceiroPaulo Márcio BrunoDiretor de Desenvolvimento EmpresarialNathan Lerman

CONSELHO EDITORIALAntonio Augusto Junho AnastasiaMaurício Azeredo Dias CostaMarcio Luiz Bunte de CarvalhoAmílcar Vianna Martins FilhoGustavo da Gama TorresPaulo Kléber Duarte PereiraMarcos Brafman

EDIÇÃO EXECUTIVAAssessoria de ComunicaçãoDênis Kleber Gomide LeiteAssessoria da PresidênciaPedro Marcos Fonte Boa BuenoEdição, Reportagem e RedaçãoIsabela Moreira de Abreu - MG 02378 JPCoordenação do Projeto Editorial e GráficoGustavo Grossi de LacerdaReportagem e RedaçãoJúlia de Magalhães Carvalho - MG 10249 JPUniversidade Corporativa ProdemgeEnilton Ferreira RochaMarta Beatriz Brandão P. e AlbuquerqueLuiz Cláudio Silva CaldasRenata Moutinho VilellaConsultoria TécnicaSergio de Melo DaherRevisãoMárcio Rubens PradoDiagramaçãoCarlos WeyneCapaGabriel Jacques do Couto e SilvaImpressãoGráfica e Editora SigmaTiragemQuatro mil exemplaresPeriodicidadeSemestralPatrocínio/Apoio InstitucionalLívia Maria Amaral Queiroga MafraGustavo Grossi de Lacerda(31) 3339-1204 / [email protected] especialAssespro - MG

FONTEFONTE8

O interessado em assinar a revista Fonte deve enviar para o e-mail [email protected] seu nome e endereço completo,informando, quando for o caso, a empresa ou instituição a que é

vinculado. Os exemplares da revista seguirão via Correios, de acordo com a disponibilidade de exemplares.

Agradeço o envio da revista e infor-mo que já recebi o exemplar. Parabeni-zo-os pela eficiência e presteza doatendimento. Fico orgulhoso dessaProdemge por abordar assuntos atuais deinteresse de municípios e sociedade.Acho muito importante esse tipo de ini-ciativa: mais uma vez, parabéns, e dese-jo pleno êxito à revista.

Demétrios Batista da SilvaPesquisador-adjunto da

Secretaria Municipal Adjunta de Tecnologia

da Informação -

Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

Gostei muito da revista Fonte. Boadiagramação, bons artigos, bons autores.Fiquei muito feliz em ver amigos meusescrevendo na revista e, ainda por cima,com propriedade e técnica. Parabéns pelarevista.

Paulo Jurza, MScMestre em Geografia

Analista em Ciência e Tecnologia - IBGE

AGRADECIMENTOS

Tive contato com um exemplar da revista Fonte e gostaria de dar os parabéns pelotrabalho, que se mostrou muito interessante, atual e de alta qualidade técnica, abordan-do temas que vêm preencher uma lacuna em se tratando de publicações para área degestão pública, em especial a tecnologia da informação na administração pública.Gostaria de aproveitar a oportunidade para sugerir um tema que acredito ser de grandeinteresse para os profissionais e gestores de tecnologia da informação, tanto na áreapública quanto na iniciativa privada: licitações e contratos administrativos em tecnolo-gia da informação.

Ubiratan C. PeloteiroEngenheiro de Computação

Núcleo de Processamento de Dados Universidade Federal do Espírito Santo

Gostaria de parabenizá-los pelo número 2 da nossa Fonte. Está uma obra de arte.Parabéns a todos os que participaram desse projeto, que só engrandece o nome da infor-mática mineira, seja pelo conteúdo, seja pela forma. Qual o tema da número 3?

Luiz Morato Jr.Analista de Sistemas Prodemge

TEMAS

DiálogoDiálogo

Pollyana Ferrari, jornalista formada pela PUC/SP e mestre em Ciênciada Comunicação pela Escola de Comunicação e Arte da USP(ECA/USP), com a tese Usabilidade e Exercício de Jornalismo dentro do Formato Portal no Brasil. Atualmente é doutoranda naECA/USP na área de narrativas hipertextuais. Há 17 anos atua no mercado editorial de informática, tendo dedicado os últimos dez anos àinternet, acumulando os cargos de diretora de conteúdo da Mandic, diretora de portal do iG e diretora da Editora Globo On-line. Ministraaulas nos cursos de Jornalismo (Edição Jornalística e Jornalismo On-line) e Multimeios (Hipertexto 4), na graduação da PUC/SP. Na pós-graduação da PUC/SP, ministra os cursos de Design,Programação Visual e Infografia e Jornalismo On-line. No CentroUniversitário Fieo (Unifieo), responde pela disciplina de Jornalismo On-line. É autora do livro Jornalismo Digital, editado pela Contexto.

Tecnologia e convergência:os impactos na comunicação social

Diálogo

FONTEFONTE 9

Os reflexos da convergência de diferentes tecnologias na comunicação social se concretizam na forma de

uma nova linguagem, mais adequada às mídias que se integram, e na transformação profunda de para-

digmas para a produção de conteúdos. Os impactos da digitalização da informação estão na forma, no conteú-

do, na relação entre as pessoas e entre pessoas e equipamentos e, naturalmente, na percepção que a sociedade

passa a ter do mundo; na exigência de competências específicas para os profissionais que atuam nos diversos

setores envolvidos com novas tecnologias; e nas organizações que produzem ou utilizam recursos para essa

nova realidade.

Nesta entrevista, a jornalista Pollyana Ferrari, especialista na produção de conteúdos web e design para

ambientes digitais, mostra um panorama dessa transformação, enfocando a questão da comunicação. Ela fala

dos reflexos das novas mídias nas relações pessoais, da oferta de novos produtos e serviços e das peculiaridades

dos conteúdos para dispositivos móveis. Aponta as perspectivas da transmissão de recursos multimídia em

novas aplicações, considerando uma forma diferente de captação da informação pelo usuário.

Divulgação

FONTEFONTE10

Fonte: Quais as aplicações práticas pos-síveis com as novas mídias digitais, especialmenteas móveis? Por favor, enumere novos serviços esoluções possíveis.

Há dez anos tínhamos apenas 1,4 milhão depessoas com celulares no Brasil. A chegada da tec-nologia CDMA EV-DO, de 3G, por exemplo, comos primeiros trechos oferecidos pela Vivo, trará umgrande diferencial na transmissão de recursos MMS- Multimedia Message Service e taxas de downloadde até 2,4 Mbps, o que representa receber em seissegundos um videoclipe de 15 MB. Possuir umcelular com capacidade multimídia, ou seja, comreal possibilidade de trafegar som, imagem, vídeo,animação, faz toda a diferença em matéria de apli-cações móveis, pois há um ano os aparelhos nãoestavam preparados para essa realidade.

Fonte: A Anatel anunciou em outubro que oBrasil já tem 80 milhões de celulares habilitados. O que isso significa em termos de uso dessesequipamentos como veículos potenciais para outrasaplicações além da transmissão de voz?

A primeira geração de celular (1G) foianalógica e, a segunda (2G), digital de banda estrei-ta. Surge agora, comercialmente, a terceira geração(3G), digital de banda larga para multimídia. Comessa conexão, os dispositivos móveis serão capazes

de enviar fotos de alta definição, vídeos, apresen-tações, textos extraídos dos moblogs (blogsmantidos por dispositivos móveis); editar galeriaspessoais com arquivos de som e imagem, enviarbroadcast, customizar layout de sites, jogos, quiz emuito mais.

Fonte: O celular ameaça o espaço da TV, aotransmitir conteúdo multimídia?

Não acredito nisso, pelo menos a curto prazo. O conteúdo para dispositivos móveis temoutra abordagem, outra formatação. Produzir con-teúdo para uma tela de 150 x 150 pixels, por exem-plo, exige um alto poder de síntese e condensaçãode informação, o que não ocorre no formato televi-sivo.

Fonte: Quais as peculiaridades na criaçãode conteúdos para celulares, considerando-se suasespecificidades - como restrições de espaço (tela) eambiente em que o usuário se encontra ao recebera informação?

Você tem que pensar diferentemente a ediçãodo conteúdo, captar de outra forma a informação,levando em conta o tempo de transmissão, o tempode concentração do usuário em absorver aquelainformação, além da questão do espaço restrito quejá expliquei na questão acima.

Com a experiência conquistada como editora de sites de informação, Pollyana Ferrari aborda a questão

da TV interativa e a perspectiva de maior participação do telespectador, orientando a elaboração de conteúdos

personalizados de acordo com as suas preferências; e a conseqüente possibilidade da comunicação individua-

lizada, por parte das produtoras, com a elaboração de conteúdos sob medida.

Ela fala dos reflexos que a convergência digital traz para o mercado, destacando as novas exigências para

os profissionais envolvidos no setor, e dos desafios para o setor público na prestação de serviços ao cidadão

dentro de novos padrões.

FONTEFONTE 11

Fonte: Como os governos podem adotar aconvergência de tecnologias para melhoria daprestação de serviços à população em seus progra-mas de e-Gov?

Atualmente o setor das telecomunicaçõestem uma série de desafios para enfrentar. O que sedeve fazer para dotar as redes de conteúdo? Comodevemos incentivar o desenvolvimento de apli-cações e conteúdos? Como criar serviços realmentemassivos? O que se pode fazer para educar e fami-liarizar o usuário comum com o uso dessas novastecnologias e serviços? Acredito que essas pergun-tas deveriam estar na pauta diária do Ministério daEducação. O sistema pré-pago tem uma penetraçãode mais de 70% na América Latina devido às carac-terísticas das economiase os níveis de renda dosusuários, que mantêmum controle rigoroso doconsumo familiar. Comessa constatação, os go-vernos deveriam incenti-var e até subsidiar apli-cações educacionais paracelulares pré-pagos, porexemplo.

Fonte: As novas tecnologias são causa ouefeito da transformação da sociedade?

É muito difícil separar uma coisa da outra.Na Coréia do Sul, por exemplo, já existem 60 milusuários que pagam 13 dólares, por mês, para rece-ber a programação de televisão e rádio diretamentede um satélite para seus telefones celulares, tudoatravés de um sinal captado por uma pequena ante-na presa ao aparelho móvel. Havia a demanda doscoreanos e a tecnologia a supriu? Ou a tecnologiamóvel avançou e criou a demanda no país citado?Cada vez mais não saberemos distinguir o que veioprimeiro, pois a rapidez de assimilação de um novoserviço é muito grande e se mistura com o cresci-mento das teles.

Fonte: Em que medida a convergência demídias, na velocidade em que se propagam, inter-fere na percepção que as pessoas têm da realidade,de seu ambiente, valores e papel social?

O leitor tem papel fundamental, ele quedecide onde quer clicar, por onde vai começar a ler.A TV aberta, por exemplo, trabalha com o conceitode mídia de massa no que diz respeito a disseminaruma informação para milhares de receptores pas-sivos, com exceção de programas em que o telespec-tador participa. Na internet, temos uma mídia quefala diretamente para o indivíduo, de um para um.Quando um usuário responde a uma enquete, par-ticipa de um fórum, ele está exprimindo a suaopinião sobre o fato e não apenas assistindo e

assimilando. O impactoé grande, o jornalistaprecisa estar preparadopara responder rapida-mente e de forma con-vincente ao leitor. E comessa rapidez, corporifica-se um novo sujeito, mui-to mais crítico e partici-pativo. Acredito, comoPierre Lévy, que a redeseja a grande revolução

do século XXI. Em que as relações pessoaiscomeçam a se construir num outro espaço de trocas,não mais o geográfico, mas o virtual.

Fonte: Quais os produtos possíveis a partirdo encontro da convergência tecnológica e dainterdisciplinaridade?

Todos. A tecnologia já foi incorporada aonosso dia-a-dia. Não pensamos mais em suportes,hardwares; mas em aplicações, softwares.

Fonte: Comente sua afirmação de que ainternet está causando uma simplificação do códi-go dos signos, resultando num "retorno quaseorgânico ao código primário" (II Congresso

"As relações pessoais começam a

se construir num outro espaço de trocas,

não mais geográfico, mas virtual"

FONTEFONTE12

Internacional - Mídias: Multiplicação e Conver-gências - 2004).

A oralidade nunca esteve tão em uso comoagora, graças aos dispositivos móveis; e a facili-dade de produção de arquivos de áudio virou quaseuma brincadeira, um passatempo.

Fonte: A TV digital, por utilizar um suportejá conhecido da população, irá facilitar a inclusãodigital e social?

A televisão interativa deve ser digital, masnem por isso as televisões digitais serão necessaria-mente interativas; existem aparelhos baseados emtecnologia digital utilizados apenas para os finsconvencionais, isso porque essa tecnologia propor-ciona uma melhor quali-dade de imagem. Já anecessidade de digita-lização para a interativi-dade fica clara quandoentendemos o que signi-fica digital e o que essadigitalização proporcio-na em termos de proba-bilidades de desenvolvi-mento de uma inclusãodigital e social.

A sociedade está abordando pouco a questãodos formatos e a situação do país perante a disputados fabricantes internacionais por um monopólio demercado. Nossa estagnação como desenvolvedoresde uma versão brasileira de TV digital e a poucadiscussão sobre o futuro da TV podem atrapalhar aevolução dessa mídia no país para sempre.

Fonte: Qual o papel da usabilidade nessainclusão?

Acredito numa democratização da televisão.Ao invés de alguns poucos canais, teremos milhõesde opções. Nesse novo cenário, produzir televisãose torna tão acessível quanto as possibilidades da internet. E, levando isso em conta, o papel da

usabilidade será total, pois teremos que produziruma TV interativa de fácil acesso e que facilite avida do usuário. Para se chegar a esse grau de pro-dução de serviços, sugiro que adotemos as ava-liações heurísticas, em que os estudos, em profun-didade, de interface, podem nos ajudar a observaras propriedades inerentes ao meio e também apren-der com a experiência do usuário.

Fonte: Tendo como referência a experiênciada TV a cabo, quais são as perspectivas que a tele-visão digital proporciona à produção de conteúdobrasileiro?

Na TV interativa, poderemos ver os progra-mas que queremos ver e não os programas impostos

pelas redes. A comuni-cação individualizadatorna-se possível graçasà produção de conteúdosob medida, um conteú-do personalizado deacordo com as preferên-cias do telespectador.

O projeto da In-dependent World Tele-vision, por exemplo, jápode ser visto em qual-

quer lugar do mundo. Alguns telejornais na Europapassaram a convocar a participação "ao vivo" detelespectadores. O uso de webcams em telejornaistambém nos mostra essa tendência, assim como ostelefones se tornaram essenciais para os programasao vivo nas rádios. Todos estes exemplos podem nosajudar a pensar a produção de conteúdo para TV nainternet, algo ainda pouco explorado no Brasil.

Fonte: Como a convergência tecnológica e amobilidade criam um novo canal e uma nova lin-guagem para a comunicação das corporações comseus diversos públicos de relacionamento?

Gosto muito do exemplo da CurrentTV(www.current.tv), uma TV feita pelo público. O

"A comunicação individualizada torna-se

possível graças à produção de

conteúdosob medida"

FONTEFONTE 13

canal, lançado pelo ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, tem como parceiro o Google e,em agosto, mês de estréia, já estava presente em cerca de 20 milhões de lares nos EUA. Goredisse em entrevistas que acredita que o projeto possibilitará aos jovens se engajarem no diálogo da democracia. Acho que esse exemplo nos inspiraa pensar em novas possibilidades de se fazer televisão.

Fonte: Que reflexos a convergência digital traz para o mercado na produção de con-teúdos?

Antes de tudo, precisamos criar novas formasde fazer televisão. Enquanto os apresentadores secolocarem na frente dascâmeras, segurando omicrofone, não teremosum novo mote de pro-dução de conteúdo. Nãoadianta uma diversidadede conteúdos "empacota-dos" no padrão Globo dejornalismo. Isso ocorreuem todos os portais esuas tentativas de pro-duzir noticiários televi-sivos na internet. E foi um fracasso. TV interativanão é a simples transposição do formato televisivoatual.

Fonte: Em seu livro Jornalismo Digitalvocê destaca a importância do profissional na produção de conteúdo on-line hipermidiático. Qualseria o perfil desse profissional e as principaiscompetências desejadas?

Primeiramente, você tem uma mudança deparadigma; o jornalista precisará trabalhar comrecursos multimídia (áudio, vídeo, texto, imagens,animações) para construção de uma narrativa hiper-midiática. Pensar digitalmente significa esquecer opensamento analógico. É preciso esquecer o papel,a tinta, a impressão. Olhar o espaço virtual comopossibilidade de interação entre o jornalista e ousuário. Mas, para um profissional que passou, porexemplo, os últimos 15 anos trabalhando exclu-sivamente com TV, ainda é difícil entender uma mídia que não tem fechamento e que precisade uma edição primorosa para o texto, para aseleção das imagens, para o áudio, enfim, o repórterprecisa pensar em tudo ao mesmo tempo, para que

o trabalho fique prontoem um curto espaço detempo.

Fonte: O que querdizer exatamente o termocrossmídia?

Troca entre for-matos midiáticos. Sem-pre recorro ao exemplode Época On-line pararelembrar o primeiro

exemplo de crossmídia da imprensa brasileira. No dia 23 de novembro de 1998, a revista Épocapublicou a capa Leia e ouça o grampo, propor-cionando uma experiência única aos leitores: ler e ouvir (na internet) as fitas que estavam no gram-po do BNDES. Recurso que nos concedeu, na época, uma reportagem de meia página no jornal francês Le Monde e vários estudos acadê-micos.

"Pensar digitalmente significa esquecer

o pensamento analógico. É preciso esquecer o papel,

a tinta, a impressão"

14

D o s s i ê

As transformações vividas pela humanidade nosúltimos anos, com o crescimento e diversificação dastecnologias, apenas sinalizam o muito que ainda estápor vir num futuro muito próximo. Um novo movimentode abrangência mundial direciona essas várias tecnolo-gias para uma mesma linguagem - a digitalização - con-vergindo dados, voz, imagens, vídeo e som para redescomuns. Uma verdadeira revolução, que traz reflexosimportantes para o mercado, organizações públicas eprivadas, pessoas e para a sociedade.

A convergência digital provoca um autêntico movi-mento cultural, ao criar novos hábitos sociais, inaugurarnecessidades, estabelecer valores, exigir regras e regu-lamentações. Por um lado, gera oportunidades de negó-cios e, por outro, ameaça de forma implacável organiza-

ções estabelecidas sobre velhos paradigmas. Sinaliza ainda um alerta para as empre-sas que ainda podem se adequar a essa nova ordem, sob pena de se desintegraremem meio à turbulência e à velocidade das mudanças.

Mas afinal, o que vem a ser a convergência digital? Segundo o assessor doConselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), MarceloAndrade Pimenta, numa mesma infra-estrutura de rede podem hoje ser transporta-dos e disponibilizados serviços de voz, dados e imagem; ou um mesmo serviço podeestar disponível em diferentes tipos de redes; ou, ainda, um usuário pode, através deum mesmo equipamento, acessar diversos serviços, de forma integrada. A con-vergência se apóia, de forma mais efetiva, na própria internet ou nas redes a cabo,que propiciam conexões de alta velocidade, na chamada banda larga.

O Livro Verde da Convergência da Comissão Européia define convergênciacomo "a capacidade de diferentes plataformas de rede servirem de veículo aserviços essencialmente semelhantes ou a junção de equipamentos terminais parauso do consumidor, como o telefone, a televisão e o computador pessoal".

Convergência no séculoda mobilidade:a história vem de longe, a revolução ainda está no começo

15

MAS NA PRÁTICA, O QUE ISSO SIGNIFICA?Para Marcelo Pimenta, da Anatel, a convergência

tecnológica e de serviços tem propiciado os meios

necessários para que os produtores de conteúdo

(TV, rádio, internet, etc.) tenham capacidade de

disponibilizá-lo em vários terminais (TV digital,

computador, celular, etc.) através de diferentes

redes (satélite, ADSL, Wi-Fi, etc.).

A convergência abre, para o usuário comum,

um leque de novos serviços e aplicações, conside-

rado ilimitado pelos especialistas. O chamado

"século da mobilidade" se inicia com novas utili-

dades oferecidas pelos telefones celulares, que

extrapolam suas funções originais de comunicação

de voz e se transformam em verdadeiros computa-

dores capazes de transmitir dados, informações,

imagens e serviços. As perspectivas para a telefo-

nia 3G, com taxas de transmissão de até 2Mbps, são

de tráfego multimídia com base no protocolo IP, o

que fomentará um enorme mercado para a disponi-

bilização de conteúdos que hoje utilizam outros ter-

minais, como a TV e o computador.

A TV digital, por sua vez, promete um novo

padrão de qualidade na recepção e a possibilidade

de oferta de novos serviços e aplicações por meio

da interatividade. Com previsão para início de ope-

ração no Brasil em 2006, a TV digital neste

momento é tema de discussões para a definição do

padrão a ser adotado no país, envolvendo governo,

fabricantes de aparelhos e concessionárias de TV,

além de outros atores envolvidos no processo.

Já é realidade e se consolida de forma avas-

saladora em todo o mundo a comunicação de voz

utilizando o protocolo internet - o VoIP - que muda

o conceito de telefonia ao viabilizar um serviço

com a mesma qualidade dos telefones tradicionais,

porém gratuito - para ligações de computador para

computador - e com tarifas reduzidas para chama-

das de computador para telefone fixo. Nesse ser-

viço, a voz, um sinal analógico, é digitalizada, pas-

sando a trafegar pela internet como pacote de

dados, convertendo-se em voz novamente ao

chegar a seu destino.

Em teste no Brasil desde o mês de setembro,

o rádio digital significa uma nova realidade também

para os ouvintes: o novo sistema representa, para

quem tem um aparelho digital, uma melhor quali-

dade do som, com transmissões AM sem interferên-

cia e com qualidade FM; e FM com qualidade de

CD. As possibilidades da nova tecnologia são

muitas, especialmente relacionadas à interativi-

dade. Exemplo disso é a transmissão simultânea de

até três programas, na mesma freqüência e para

públicos diferentes, e a transmissão de informações

como autor e intérprete de músicas, notícias, pre-

visão do tempo, situação do trânsito e outros ser-

viços, além de imagens de shows e capas de CD no

visor do aparelho.

Todas as novas perspectivas de serviços e

aplicações são possíveis pela popularização da

banda larga, que amplia a utilização da internet para

tráfego de arquivos multimídia, ao lado do tradi-

cional tráfego de dados. Aliado a isso, o surgimen-

to de inovações como as redes wireless - banda

larga sem fio, como Wi-Fi e Wi-Max - e novos

equipamentos, viabilizam a conectividade entre os

mais diversos meios e sob as mais variadas

condições.

Na opinião do professor e pesquisador

da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Mohammed Elhajji, no ensaio "Mídia Convergente

enquanto meio e objeto de estudo" (em Tensões e

Objetos da pesquisa em comunicação, editora

Sulina),"... não se trata apenas da substituição de

um suporte físico por outro ou da otimização dos

meios ou métodos de armazenamento e gestão de

dados, mas antes, de uma maneira inédita e revolu-

cionária de produção de sentido, uma mudança

radical em nossos modos de apreensão do fato sen-

sível ou observável e sua transdução em fenômeno

quantificável, inteligível e cientificamente anali-

sável".

Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

16

Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

A restrição orçamentária comum na adminis-tração pública encontra na convergência digitaluma série de benefícios, especialmente relaciona-dos à redução de custos e melhoria na prestação deseus serviços.

Um exemplo é o VoIP (tráfego de voz emprotocolo IP), que promete reduções substanciaisnos gastos com telefonia. Se as organizações pri-vadas já adotam o serviço em todo o mundo, o setorpúblico tem também procurado adequar-se paraobter da tecnologia reduções que possibilitem oinvestimento dessa economia em ou-tras atividades.

Em Minas Gerais, a Prodemgeconduz um importante projeto deimplementação de serviço de voz uti-lizando a infra-estrutura de comuni-cações já existente para a transmissãode dados, que serve à administraçãopública estadual. O objetivo é a ma-ximização de uso da estrutura instala-da, com o cuidado de manutenção daqualidade das aplicações e tráfego dedados.

Segundo o superintendente de Tecnologia daProdemge, Sergio Daher, são cinco os aspectos con-siderados no projeto, na análise custo/benefíciopara o Estado: a sinalização e encaminhamento dospacotes de voz; a qualidade do sinal de voz; oimpacto do tráfego adicional de dados digitalizadosna rede; a qualidade necessária ao serviço; e a inter-conexão com os serviços públicos de telefonia.(Veja detalhes do projeto no artigo Uma solução devoz sobre IP para Rede Estadual de Minas Gerais,nesta edição).

Outras iniciativas têm sido empregadas pelasadministrações públicas, especialmente no âmbitomunicipal. Leia na seção Benchmarking experiên-cias de sucesso na cidade de Piraí (RJ) e o projeto

da cidade de Ouro Preto (MG), que, além dos bene-fícios próprios dos novos serviços, atende limi-tações de uma cidade tombada pelo patrimônio,onde há restrições à instalação de cabos e fios.

Com relação aos ganhos sociais, o assessorda Anatel, Marcelo Pimenta, comenta resultados daCúpula Mundial sobre Sociedade da Informação(CMSI), cuja segunda fase se encerrou em novem-bro deste ano, em Túnis (Tunísia). Segundo ele, oencontro deixou claros os desejos e compromissosdos representantes dos povos no mundo, ou seja,

"construir uma Sociedade da Infor-mação centrada na pessoa, incluída evoltada para o desenvolvimento, naqual todos possam criar, acessar, uti-lizar e compartilhar a informação e oconhecimento, para que as pessoas, ascomunidades e os povos possamdesenvolver seu pleno potencial napromoção de um desenvolvimentosustentável e melhorar sua qualidadede vida, de acordo com os objetivos eprincípios da Carta das Nações

Unidas e respeitando e defendendo plenamente aDeclaração Universal dos Direitos Humanos".

Reconhece também a Declaração de Prin-cípios que "as vantagens da revolução da tecnologiada informação estão desigualmente distribuídasentre os países desenvolvidos e em desenvolvimen-to, bem como nas sociedades"; segundo o docu-mento, os representantes dos países se comprome-tem "a tornar esta brecha digital uma oportunidadepara todos, especialmente aqueles que correm peri-go de ficar renegados e ainda mais marginalizados".

A partir dessas constatações, MarceloPimenta acrescenta que se deve considerar algunsdesafios que são impostos principalmente aos paí-ses menos desenvolvidos ou em desenvolvimento e promover políticas que permitam superá-los.

Marcelo Pimenta, da Anatel

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ulga

ção

Aplicações públicas e ganhos sociais

VoIP: novos paradigmas para a comunicação de voz

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"O papel dos agentes reguladores assume caráterimportante, principalmente no setor de telecomuni-cações, comunicação de massa e tecnologias dainformação e comunicação - TIC. Uma análise maisprofunda das Diretrizes e do Plano de Ação daCMSI demonstra a necessidade de fomentar marcosregulatórios através de um modelo que considere ainterdisciplinaridade, complementaridade e a con-vergência entre esses setores. É importante que pos-samos construir políticas que motivem o desen-volvimento tecnológico, aumentando a usabilidade

dos equipamentos terminais no que diz respeito aosconteúdos acessados e integrando a infra-estruturade rede para transportar serviços diversos".

Para Marcelo Pimenta, a regulamentaçãodeve considerar a convergência, de forma equili-brada, como um fator que motive o surgimento constante de novas empresas e serviços, que imple-mentando soluções avançadas e alternativas de co-municação, alteram a todo momento a configuraçãodo mercado, trazendo mais competição, redução decusto e maior conforto para o usuário.

Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

"VoIP representa a mais significativa mu-dança de paradigma em toda a história das teleco-municações modernas desde a invenção do tele-fone". A afirmação de Michael Porter, chairman doFCC - Federal Communications Co-mission (órgão regulador das teleco-municações nos EUA), pode parecer,num primeiro momento, exagerada.Mas o crescimento em todo o mundodo serviço que permite a comunicaçãopor voz através do computador, uti-lizando o protocolo da internet, com-prova que o VoIP veio para ficar.

Daí ser considerado uma tec-nologia de ruptura ou de "disrupção",nomes dados a uma invenção ou ino-vação que abala uma tecnologia já existente, poden-do representar, nesse caso, prenúncio de problemaspara as empresas de telefonia já estabelecidas. Temse mostrado, por outro lado, agente poderoso deaquecimento do mercado, oportunidade para novosinvestimentos e surgimento de grandes organiza-ções. Somente no Brasil já existem nada menos que32 operadores de VoIP em atuação.

Desse modo, considerado por especialistas agrande revolução das últimas décadas, destaca-sena linha de frente das mudanças viabilizadas pela

convergência. Obedecendo ao parâmetro de digita-lização de conteúdos para tráfego em redes comuns,a transformação da voz em dados e sua transmissãovia internet é uma realidade que ganha espaço em

todo o mundo em escala geométrica,muito embora ainda prescinda de for-mas de regulamentação que garantamseu lugar no mercado junto aosserviços tradicionais de comunicaçãode voz, prestados pelas operadoras detelefonia fixa e móvel.

O "telefone pela internet" requer do usuário uma conexão embanda larga, microfone, placa e cai-xinha de som, e um dos softwaresespecíficos para a conexão, normal-

mente distribuídos de forma gratuita, como oSkype, MSN Messenger, ICQ ou Yahoo Messenger,entre outros.

Na comunicação de computador para com-putador, chamada peer-to-peer, o próprio equipa-mento é responsável pela sinalização e controle dechamadas, diferentemente da comunicação de com-putador para telefone convencional, na qual o gate-way é responsável por esse serviço. O gateway,junto com a rede de telefonia fixa (Serviço deTelefonia Fixa Comutada - STFC), é necessário

Cezar Taurion

Div

ulga

ção

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Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

para essa comunicação e utiliza serviços pagoscomo o SkypeOut, Net2Phone e V59.

Também é possível acessar o VoIP através deum aparelho chamado Telefone IP, que possui asfuncionalidades necessárias para processamento desinais de áudio e conexão à rede, e é muito pareci-do com um telefone comum.

No Brasil, estima-se a existência de novemilhões de usuários da internet por meio de bandalarga. Desses, 10% deverão usar serviços de telefo-nia IP até 2008.

Um dos problemas que o serviço VoIP podetrazer é o chamado "phone-spam", uma alusão aose-mails indesejados e invasivos que circulam pelainternet. A maior parte dos novos serviços computa-dorizados permite a criação de "máscaras" de iden-tidade, utilizadas por hackers e piratas e que podempassar também a utilizar o VoIP para seus golpes.Outro problema é com relação à sua dependência daenergia elétrica para funcionamento, o que nãoocorre com a telefonia tradicional.

O site do Skype, um dos programas maispopulares para a realização de chamadas VoIP,comemorou em novembro a superação da marca de200 milhões de downloads. São 57 milhões deusuários cadastrados, dos quais 2,8 milhões noBrasil, o maior contingente mundial de usuáriosSkype. O crescimento é de 150 mil novos usuáriospor dia, dos quais 7.000 no Brasil.

A tendência baseia-se principalmente noscustos dos serviços: o pagamento de uma mensali-dade de cerca de R$80 - pelo serviço de banda larga- garante ao usuário a gratuidade das ligações locaisde computador para computador; e uma tarifareduzida para chamadas de longa distância, ou decomputador para telefone fixo.

É justamente esse, na opinião dos especialis-tas, o grande apelo para a crescente disseminaçãoda tecnologia, especialmente entre as organizações.No Brasil, a estimativa é de que cerca de 15% dotráfego de voz já são feitos em redes IP, ainda con-centrados no segmento corporativo, mas já se

delineia um crescimento bastante rápido para as ligações pessoais. No mundo inteiro, dos 150 bilhões de minutos de voz que trafegam por ano nas ligações de longa distância, cerca de25% já são em redes IP.

Outros aspectos que incentivam a popula-rização do VoIP são a expansão no número deprovedores de banda larga e a adoção da tecnologiapor um número cada vez maior de operadoras.

Para o gerente de Novas TecnologiasAplicadas da IBM, Cézar Taurion, estamos diantede uma tecnologia de "disrupção", tecnologia deruptura que traz ao mercado uma nova proposiçãode valor, com o potencial de quebrar modelos denegócio já existentes. "VoIP afeta toda a indústriade telefonia, pois permite mudarmos por completosua estrutura de custos e seus modelos de negócio.Por exemplo: tarifas baseadas em distância, horárioe tempo de ligação perdem seu significado. VoIPtambém permite criarmos novos modelos de negó-cio, diferentes dos tradicionais".

Para ele, adotar VoIP não é uma questão dese, mas de quando. "A dúvida não é se VoIP vai ounão varrer a telefonia tradicional, mas sim a rapidezcom que isso vai acontecer", afirma.

Taurion alerta também para o aspecto dasegurança na convergência de mídias distintas:VoIP é uma rede de dados sujeita a todas as limi-tações das redes de dados existentes hoje: "Alémdas condições de segurança, devemos pensar emaspectos de privacidade, uma vez que toda conver-sa pode ser armazenada como dados e eventual-mente manuseada e modificada. Segurança é umponto que merece muita atenção".

Os fabricantes de equipamentos se adaptamrapidamente ao novo serviço: já é possível adquiriraparelhos conversores para telefones analógicos ouequipamentos em diferentes modelos de telefonesIP ou até mesmo PABX sob medida para o protoco-lo internet.

Segundo dados da pesquisa da consulto-ria Signals Telecom, compilados pela União

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Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

Internacional de Telecomunicações (UIT), numestudo que faz um panorama da telefonia no conti-nente americano (Valor Econômico, 4/10), o serviçomovimentará US$ 1,4 bilhão, até 2010, somente no

Brasil. O mercado residencial de voz sobre protoco-lo de internet no país deverá movimentar cerca de US$ 100 milhões neste ano e saltar para quaseUS$ 1,4 bilhão, até 2010.

Novo cenário para as operadoras de telefonia

O crescimento desenfreado do uso do VoIPtem levado as operadoras de telefonia fixa a seadaptarem a essa nova realidade, buscando solu-ções criativas que garantam seus resultados. Se porum lado o novo serviço resulta para o usuário emuma alternativa vantajosa, para as operadoras asituação pode representar quedas significativas nofaturamento.

O governo federal recomenda, através do mi-nistério das Comunicações, que as operadoras de te-lefonia fixa voltem seus investimentos para as clas-ses C e D, para quem o acesso à internet é limitadopelo poder aquisitivo. Para atender a população demenor poder aquisitivo, no entanto, as teles terãoque adaptar as tarifas atuais, que são também restri-tivas. Entre as opções, estão a gratuidade da assi-natura básica e barateamento das tarifas.

No mínimo, o VoIP reconfigura o modelo detarifação existente hoje, uma vez que, com a inter-net em banda larga, questões como horário, distân-cia e tempo das chamadas se tornam parâmetrossem nenhum valor.

Parte das chamadas de voz perdidas para oVoIP pelas operadoras tradicionais de telefonia pas-sam a ser recuperadas também pelo tráfego dedados. Muitas dessas organizações já oferecem emseus portfólios de serviços a comunicação de dadosem banda larga, o que pode fazer com que umaestratégia eficaz provoque a migração de clientes deum serviço para o outro.

Na opinião de Cezar Taurion, de maneirageral as empresas que dominam o mercado tendem,no início, "a ignorar uma nova e ameaçadora (paraelas) tecnologia. Depois tentam eliminá-las - seja

por meio de uso das restrições legais e regulatórias- as regulações sempre estão atrasadas em relaçãoàs novas tecnologias - ou mesmo por contra-ataquescomerciais, baixando o preço de seus próprios pro-dutos. Finalmente, acabam se rendendo e adotandoas novas tecnologias".

Segundo ele, as empresas de telefonia já esta-belecidas estão diante de um grande desafio e avelocidade de suas respostas irá definir o futurodessas empresas. "Se ignorarem a nova tecnologiaou remarem contra a maré por tempo excessivo,correm o risco de sair do mercado ou ser absorvidaspor outras", adverte. Por outro lado, se a adotarem,incorporando-a em seus negócios - de maneiratransformadora -, têm o potencial de cresceremainda mais. "VoIP não será o fim das empresas detelefonia, mas será o fim do modelo atual da telefo-nia, como a própria telefonia decretou o fim do telé-grafo".

O governo do Japão informou que pretendeoferecer serviço de VoIP para celulares em 2007.Com esse serviço, os usuários não precisariamacessar redes Wi-Fi ou ter computador para fazerligações de longa distância com custo reduzido. Aprevisão é de que a taxa de transmissão de dadosnessa rede seja de 15 Mbps (muitas vezes mais rápi-do que os telefones de terceira geração disponíveisatualmente), que pode diminuir de acordo com ovolume de tráfego ou a quantidade de assinantesnuma área. A proposta está sendo discutida entreministros e especialistas do setor e a decisão oficialdeve ser tomada em dezembro deste ano. Segundoa agência de notícias Associated Press, outros países planejam fazer o mesmo.

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Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

A flexibilidade e a velocidade com que a tec-nologia evolui não encontram eco na legislação quea regulamenta. Essa é a opinião quase unânime dosdiversos setores interessados em definir sua estraté-gia de posicionamento no mercado de forma plane-jada. No Brasil, ainda não existe uma regulamen-tação específica para VoIP, uma vez que a AgênciaNacional de Telecomunicações (Anatel) regula-menta os serviços de telecomunicações e não as tec-nologias usadas para implementá-los. No caso doVoIP, essas tecnologias são o meio e não o fim paraos serviços de telefonia. Ou, segundoo juiz de Direito e diretor do InstitutoBrasileiro de Política e Direito daInformática (IBDI), Demócrito Rei-naldo Filho, trata-se de uma tecnolo-gia com características que reúnemelementos comuns às telecomuni-cações tradicionais e à comunicaçãona internet.

O VoIP é uma questão de fatopolêmica. Atualmente as empresasque prestam o serviço o fazem me-diante uma licença específica expedida pela Anatelpara prestação de serviço de comunicação multimí-dia - SCM.

A própria Anatel reconhece a necessidade delegislação específica para disciplinar os serviços noBrasil. A discussão não se limita à tecnologia ado-tada, mas à natureza do serviço prestado, se telefo-nia ou não.

Para Demócrito Reinaldo Filho, a atual si-tuação do VoIP envolve interesses de empresas jáestabelecidas no mercado, ameaçando o sistematradicional de telefonia. Esse fator justificaria anecessidade de regulamentação, mas há outrasquestões que devem ser consideradas, como anecessidade de arrecadação de taxas de fiscaliza-ção e licenças para exploração da atividade. Ele

argumenta ainda que as prestadoras de serviços detelecomunicações pagam tributos, taxas de acesso econcessão de licenças.

"O problema da regulamentação do VoIPpassa necessariamente pela questão legal", argu-menta. A questão que destaca é: "Afinal, trata-se deum serviço de telecomunicação, uma tecnologiadiferente, não enquadrada nesse conceito; ou umaplicativo para a internet?" A resposta a essaquestão levaria o problema a diferentes fóruns dediscussão e regulamentação.

"Caso se considere como umaplicativo", explica, "estaria na alça-da do Comitê Gestor da Internet noBrasil - CGI-Brasil; se na área detelecomunicações, na Anatel". Eleconclui afirmando tratar-se de umserviço de telecom, "é telefonia porcabo. Nesse caso, a Anatel é que temcompetência para regulamentar."

Segundo o assessor do Con-selho Diretor da Anatel, MarceloPimenta, "a Agência ainda não regu-

lamenta explicitamente o ambiente convergente,embora venha estudando profundamente o assuntoe acompanhando os movimentos internacionais".Ele explica que o serviço de telecomunicações quemais se aproxima atualmente de um modelo con-vergente é o SCM - Serviço de Comunicações Mul-timídia: um serviço fixo de telecomunicações deinteresse coletivo, prestado em âmbito nacional einternacional, que possibilita a oferta de capacidadede transmissão, emissão e recepção de informaçõesmultimídia, utilizando quaisquer meios, a assi-nantes dentro de uma área de prestação de serviço.

"Neste caso - explica - são consideradas in-formações multimídia os sinais de áudio, vídeo, voze outros sons, imagens, textos e outras informaçõesde qualquer natureza. Ao SCM, entretanto, não é

Demócrito Filho

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A questão da regulamentação do VoIP

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permitida a oferta de serviço com as característicasdo Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC), emespecial o encaminhamento de tráfego telefônicopor meio da rede de SCM simultaneamente origina-do e terminado nas redes de STFC".

Iniciativa importante dentro do conceito con-vergente - ainda não efetivada - é o SCD - Serviçode Comunicações Digitais, acrescenta MarceloPimenta. O SCD é classificado, quanto à suaabrangência, como serviço de telecomunicações deinteresse coletivo, prestado em âmbito nacional einternacional. O SCD é o serviço de telecomuni-cações que permite, dentre outras, a utilização deserviços de redes digitais de informações, em alta velocidade, destinadas ao acesso público, inclusive para conexão aos provedores de acesso à

internet, de escolha do usuário. Basicamente, para propiciar inclusão digital, usando recursos do Fust.

A Anatel esclarece, em comunicado do dia 9de novembro de 2005, que não há restrição regula-mentar que impeça uma prestadora de Serviço deComunicação Multimídia (SCM) de usar a tecno-logia Voz sobre IP no provimento de comunicaçãode voz. Também ressalta que contratos de prestaçãode SCM não podem impor restrições à transmissãode nenhum tipo de sinal (áudio, vídeo, dados, voz e outros sons, imagens, textos e outras infor-mações), por ser um serviço abrangente que, pordefinição, possibilita a oferta de capacidade detransmissão, emissão e recepção de todo tipo deinformações.

Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

Entrevista com

Otávio Marques Azevedo,

Dossiê Entrevista Dossiê Entrevista

Nesta entrevista, o presidente da AG Telecom e conselheiro da Telemar, Otávio MarquesAzevedo, sugere aplicações práticas da convergência na melhoria dos serviços prestadospela administração pública, fala sobre o impacto da convergência nas empresas de telefoniae defende uma regulamentação com foco no cidadão.

Seb

astiã

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da AG Telecom

Como os governos podem adotar a conver-gência de tecnologias para melhoria da prestaçãode serviços à população em seus programas de e-Gov?

Há várias formas. Vamos falar especifica-mente do governo de Minas e dos Psius. Nóspoderíamos, com a convergência e atendimento em

banda larga, por exemplo, instalar Postos deServiços Integrados Urbanos em várias cidades dointerior. O atendimento em banda larga e um apa-relho integrado - um telefone público conectado auma tela - permite que você, com um tecladoacoplado, possa acessar a internet, conferir contas,solicitar a emissão de segunda via de documentos.

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Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

Se for acoplado também um leitor de código de bar-ras, é possível fazer a leitura da conta, e com umslot para uso do cartão de débito, pagar a conta semter que ir ao banco. Tudo isso num único sistema,numa única máquina e até, eventualmente, semassistência de outras pessoas.

Você tem, nesse caso, um terminal de com-pras, podendo fazer convênios com magazines oulojas virtuais; pode fazer compras, pagar comcartão de débito, fazer pagamento de compras, usaro telefone para fazer uma ligação, desde que esse

sistema seja ligado em banda larga. Só para se teruma idéia bem clara do benefício que a populaçãopode ter, além do mais esse sistema poderia, numambiente adequado, ser acoplado a uma tela maiore acessar sistemas de vídeo on demand paraexibição de filmes para a comunidade; o espaço setransformaria, então, numa sala de cinema.

Com um único equipamento, você pode teruma variedade de aplicações. Além do mais,estando ligado ao sistema de e-gov dos governosestadual ou federal, através da internet, nesse termi-nal você poderia fazer qualquer tipo de serviço,como cadastrar pequenas e microempresas, parti-cipar de licitações para pequena e média empresasde fornecimento de materiais e serviços. Tambémon demand, realizar um tour guiado num museu no

exterior ou no Brasil. Não se trata do Psiu como ode hoje - o espaço físico teria uma utilização dife-rente.

A convergência de mídias distintas requeruma regulamentação específica? Como a questãolegal tem interferido no desenvolvimento do setor?Quais seriam as perspectivas?

Deveria haver uma convergência de leis.Hoje, as leis tratam de perspectivas diferenciadas.Uma com foco específico na telefonia, na teleco-municação, e outra muito na mídia. E esse mundoconvergido é um mundo em que a convergênciaestá, na verdade, no cidadão, uma entidade única e também convergida. É um ser único e como tal consome as mídias, as informações, os mecanismosde comunicação e telecomunicações, de acordocom a vontade dele. Na minha opinião, a conver-gência das leis é um compromisso com a vontadedo consumidor, do cidadão.

Qual o impacto do VoIP sobre as operado-ras tradicionais de telefonia?

Na medida em que os acessos se dêem numaconexão em banda larga, qualquer conexão, qual-quer serviço que venha dentro dessa conexão teráque ser disponibilizado. Se isso causa impacto àsempresas de telefonia fixa no começo, ou na empre-sa de telefonia móvel, não é um grande problema. É parte da vontade do consumidor, que está tendoacesso aos benefícios da evolução tecnológica. Asempresas têm que se preparar para essa nova ge-ração de serviços, porque o impacto na longa dis-tância já é absolutamente visível. Têm que entenderque isso é uma nova geração de serviços, não é umserviço novo. É comunicação de voz do mesmojeito, só que dentro de uma nova geração deprestação de serviços. Por outro lado, o VoIP deveter um compromisso com a qualidade, com a con-tinuidade, e deveria ter um compromisso tambémcom o sigilo. Desde que esses princípios que regemo desejo do consumidor sejam preservados, a forma

“A convergência das leis é um

compromisso com a vontade do

consumidor, do cidadão”

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Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

em que a comunicação se estabelece é uma questãoda tecnologia que está sendo oferecida.

Como as empresas de telefonia podem seadequar a esse novo movimento do mercado?

Podem oferecer também VoIP, por exemplo,com qualidade melhor do que está sendo oferecido.Com mais garantia de sigilo, com menos risco deinvasão. Por exemplo, quando você utiliza um site decomunicação de voz sobre IP, por meio do seu com-putador, tem que saber que o seu firewall precisa serpotente o suficiente para protegê-lo de potenciaisinvasões que essa porta aberta possibilita a terceiros.

O que esperar, em termos de conteúdo, comos celulares 3G? Quando teremos essa realidadeno Brasil? Por enquanto, o que esperar com oCDMA e GSM?

Telefonia 3G está sendo implantada agora, éuma tecnologia muito nova. No Brasil, eu acreditoque o serviço estará operando, de fato, com a co-mercialização de telefones, a partir de 2008. OBrasil, nesse momento, irá se beneficiar da escalamundial dos equipamentos, de sistemas a serem im-plantados, e também dos preços que estarão mais adequados. Também a população irá se benefi-ciar dos handsets (aparelhos): hoje a quantidade dehandset no mercado mundial é pequena, o custoainda é muito alto. Não é razoável você oferecer umserviço ao qual a população não tenha acesso. Masmuitos dos serviços de 3G já estão sendo prestadosem 2G, como é o caso dos sistemas de vídeo, ofe-recidos por empresas de GSM e CDMA ou o GPS.O serviço mais visível de 3G, que costuma ser oprimeiro a ser oferecido, é o de videoconferência - évocê se comunicar vendo e falando com a outra pes-soa. Mas há muitas outras aplicações, como jogos,filmes, a própria televisão; enfim, coisas que vãotrazendo melhorias de qualidade. Mas temos quenos lembrar sempre que hoje, no Brasil, nós temosuma base de telefones celulares instalada em que80% utilizam o sistema pré-pago, com uma receita

média mensal de menos de R$20. Temos que noslembrar que há nicho de alto consumo, que está den-tro do pós-pago, para acesso aos novos conteúdos,uma vez que os preços são altos. Dentro dos 20% deusuários do sistema pós-pago há cerca de 25% - emtorno de quatro milhões de usuários - com real capa-cidade de pagamento de serviços mais avançados.São quatro milhões de um total de 80 milhões. Comoa tecnologia é nova, está tudo muito caro, mas daquia dois anos os preços estarão em condições muitomais acessíveis e o Brasil irá se beneficiar disso.

Quais os reflexos da convergência na rotinadas pessoas?

Eu acho que realmente a convergência em comunicações é muito fruto das necessidades,das demandas do ser humano, do cidadão, quebusca uma vida mais confortável. Ele quer pagar de maneira mais adequada pelos serviços,podendo ter o conforto de utilizar-se da con-vergência para facilitar sua vida; evitar entrar emfilas; comprar ingressos de jogos, de teatro e decinema pelo telefone, até pelo celular. Poder fazerpagamentos via celular ou via telefone fixo,estando em casa, em telecentros ou no Psiu.Enfim, poder usufruir, fazer com que a tecnologiasirva no seu máximo de esplendor em benefíciodele, cidadão.

“Daqui a dois anos os preços estarão em condições

muito mais acessíveis e o Brasilirá se beneficiar disso”

Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

24

Os reflexos da convergência de tecnologiasse concretizam na mesma velocidade na convergên-cia dos mercados, que passam a conviver com no-vos desafios e a necessidade de respostas imediataspara sua adequação. Para o assessor da Anatel,Marcelo Pimenta, assiste-se a um ciclo econômicopropenso à convergência de mercados, resultanteprecisamente da convergência de redes, equipa-mentos e serviços.

"Essa tendência consubstancia-se na asso-ciação de conglomerados posicionados em áreas denegócios diferenciadas e na correlativa abertura aoutros setores" - explica. Por exemplo, os opera-dores de televisão por cabo têm expandido a suaatividade aos domínios das telecomunicações e dastecnologias da informação, prestando serviços tele-fônicos e de acesso à internet. “Por seu turno, osoperadores de telecomunicações estendem as suaslinhas de interesse à produção e distribuição de con-teúdos audiovisuais e multimídia, através de ope-rações de aquisição de empresas de conteúdos".

Marcelo Pimenta explica que o que ocorre éuma reconfiguração no mercado, nas várias partesda cadeia de valor, que precisa ter um certo nível deregulamentação para evitar concentrações, horizon-tais e verticais, que possam representar práticasanticompetitivas e restrições à liberdade de escolhae acesso a conteúdos.

A Associação das Empresas Brasileiras deSoftware, Tecnologia da Informação e Internet(Assespro) reconhece a oportunidade que essastransformações representam e se mobiliza com opropósito de conquistar novos mercados, tanto na-cionais quanto internacionais. Segundo o vice-pre-sidente da entidade, Marcos Brafman, o software é,em última análise, a base de todas as inovações tec-nológicas e "seguramente será o responsável, nospróximos anos, pelos maiores índices de crescimen-to da economia mundial".

"O Brasil é o sétimo mercado de software nomundo, movimenta cerca de nove bilhões dedólares/ano e vem crescendo, desde 1995, a umataxa média anual de 11%, sendo três vezes maior doque a de hardware e cerca de cinco vezes maior doque a taxa de crescimento do PIB", explica.

Brafman defende uma indústria de softwarerealmente competitiva em termos mundiais:"Estaremos garantindo a participação em um dosúltimos mercados globais de considerável valorintrínseco e que ainda está em formação". A conso-lidação dessa realidade, para ele, é a criação de umfórum permanente de debate e adoção de açõesnecessárias e urgentes, tais como: a inclusão no sis-tema tributário simplificado; a definição clara danatureza jurídica do software e demais marcos regulatórios das operações de mercado; a regula-mentação profissional; a utilização correta do poderde compra governamental; a possibilidade legal deuso da terceirização em atividades produtivas;incentivos à exportação, dentre outras. (Leia nestaedição o artigo O desafio do software nacional perante a convergência digital).

Outra iniciativa para aquecimento do merca-do brasileiro de software vem do Instituto Brasi-leiro para Convergência Digital, que desenvolveprojeto para o setor de software e serviços de TI eBPO (Business Process Outsourcing). O objetivo émobilizar o governo brasileiro para que sejam in-corporados os interesses das empresas exportadorasnas negociações de acordos internacionais decomércio de serviços, além de procurar conhecer asexperiências de outros países e seu posicionamentona Organização Mundial do Comércio.

O secretário do Desenvolvimento daProdução do Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior, Antônio SérgioMartins Mello, define a convergência digital, doponto de vista empresarial, como o ambiente de

O mercado: oportunidades, ameaças

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mercado e de políticas públicas que faz com que as indústrias tenham de atuar juntas, criando umecossistema industrial de novo tipo, assentadonuma convergência tecnológica que proporciona,como conseqüência, a passagem dos processosanalógicos para digitais e oferece à sociedade pro-dutos, serviços e formas de organização não expe-rimentadas. (Leia nesta edição o artigo Os desafiosda sociedade brasileira frente à convergência digital).

O secretário defende, para isso, a integraçãoentre empresários, trabalhadores, governo eCongresso Nacional para solução dos problemas de

cada cadeia produtiva. Defende ainda o estabeleci-mento de ações e metas, configurando uma políticapara o desenvolvimento do complexo eletrônicocomo um todo. As discussões iniciais destacamcomo pontos a serem aprofundados: políticas dedesenvolvimento econômico-social centradas emconvergência digital; capacitação tecnológica; mar-co regulatório e propriedade intelectual e industrial;inserção externa; e apoio à cadeia de convergênciadigital, nos pontos de relação com a política industrial, tecnológica e de comércio exterior,como elementos sinérgicos da sociedade do conhe-cimento.

Nesse sentido, o governo federal anunciou acriação de um Fórum de Competitividade deConvergência Digital, que agregará todas as áreasde tecnologia da informação e mídia relacionadascom a questão da convergência digital e deverádefinir uma agenda objetiva para o setor.

O Fórum será uma instância de diálogo e dedebate com o objetivo de inserir o país nos padrõesinternacionais de desenvolvimento de empresas desoftware, hardware, serviços da tecnologia da infor-

mação, telecomunicações e mídia, a fim de colocaro Brasil numa posição de destaque e aumentar aparticipação no mercado mundial.

Uma das ações prioritárias é a estruturaçãode uma agenda objetiva, com ênfase na ampliaçãodo mercado interno e no aumento das exporta-ções. Há preocupação em buscar unidade das leis emarcos regulatórios do setor e auxiliar nas políticasde exportação, investimentos e financiamentos.

Fórum de convergência digital

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Oportunidades no mercado internacional

O consultor norte-americano, especialista em tecnologia, John Wen, esteve em Belo Horizonte a convite da Assespro, para participar do Encontro Nacional das EmpresasBrasileiras de Software, Tecnologia da Informação e Internet (Enesi), promovido pela entidade.Em entrevista concedida à Hipertexto Comunicação Empresarial,

ele fala da posição do Brasil no cenário mundial e faz recomendações paraque o país se enquadre nesse quadro de oportunidades.

"O mercado sempre é de oportunidades em TI. E é importante reconhecer e explorar essas oportunidades quando aparecem". Esse é o principal conselho do especialista. A princípio pode parecer simples, massaber aproveitar as chances exige bem mais que apenas bom tino comercial.

Mesmo que timidamente, o Brasil tem atentado para o mercado mundialde tecnologia, principalmente no que tange ao desenvolvimento de soluçõespara clientes estrangeiros, que buscam nos países em desenvolvimento mão-de-obra com custo mais baixo. A expectativa do governo brasileiro naárea de TI é de atingir US$2 bilhões em exportações nos próximos cincoanos. Soa grandioso, mas o quadro muda se lembrarmos que, somente as trêsprincipais companhias de tecnologia de informação da Índia têm,

individualmente, rendimentos anuais de aproximadamente US$2 bilhões. Wen aponta alternativas para empresários brasileiros do setor de TI e saídas bastante viáveis parao mercado.

Quais são os principais mercados para a"venda" desse tipo de desenvolvimento?

Primeiramente, é importante definir o quevocê quer dizer com "desenvolvimento". Algunsusam esse termo para significar apenas serviços deTI "além-mar", como a Índia. Eu prefiro umadefinição mais ampla que inclui produtos de soft-ware, serviços e soluções integradas.

Na área de serviços, o maior importador con-tinuam sendo os Estados Unidos; a Europa Ocidentalvem longe em segundo e o Japão está em um dis-tante terceiro lugar. Os motivos continuam sendo oscustos. Contudo, nas áreas de produtos e integraçãode soluções, virtualmente cada país no mundoprocura ou procurará essas ofertas. Não somente ospaíses avançados como os da Europa, EUA e Japão,mas todos os países G-21 (grupo formado por

Sebastião Jacinto Júnior

John Wen*

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países em desenvolvimento). O Brasil deveria olharos países G-21 como mercados potenciais para seusprodutos e expertise em integração.

Qual a posição do Brasil nesse quadro?O Brasil não é um exportador significativo de

TI, embora o país esteja entre os três maiores do G-21 (China, Índia, Brasil). Nos termos do podereconômico e de desenvolvimento, o Brasil ficasubstancialmente atrás dos outros dois na indústriade exportação de tecnologia. Historicamente, amaioria dos produtos e serviços de software criadospelo Brasil tem sido para consumo interno. Desde ofinal da década de 90, diversas das maiores empre-sas de TI brasileiras tentaram penetrar nos merca-dos internacionais, especialmente nos EUA, masfizeram um progresso insignificante. Como umexportador de TI, o Brasil continua um país com umpotencial considerável a ser preenchido. Para darum sentido relativo de valor, o governo brasileirodeclarou recentemente que um de seus objetivosnacionais é atingir US$2 bilhões nas exportações datecnologia de informação em cinco anos. Contudo,somente as três principais companhias de tecnolo-gia de informação indianas, Tata (TCS), Infosys eWipro têm, individualmente, rendimentos anuais deaproximadamente U$2 bilhões.

O que falta ao país para melhorar seu posi-cionamento?

A longo prazo, o Brasil precisa realmentemelhorar seu sistema de ensino, aumentando onúmero de talentos, conciliando os interesses eatraindo os melhores e mais inteligentes profissio-nais para participar numa economia baseada eminformação. O percentual de brasileiros que têmacesso ao ensino superior e a porcentagem queentra na área da ciência e engenharia são mínimos,atrasados, e ainda figuram atrás da China e Índia.Os estudantes também devem ser melhor prepara-dos e estimulados para seguir os estudos de pós-graduação na área da tecnologia e negócios no exte-rior, especialmente nos EUA e Reino Unido.

Além disso, o governo também deve ir atrásde sua rede de contatos em outros países, para ele-var a valorização da tecnologia brasileira e propor-cionar incentivos para os clientes estrangeiros nacompra de produtos locais, além de criar produtoscom a marca nacional. O governo também deve fortalecer e impor os direitos de propriedade inte-lectual. Isso promoverá o trabalho de terceirizaçãode P&D no Brasil, proveniente de países avança-dos. Outro ponto importante é que o Brasil deve serduro com os hackers. A segurança, em todas as for-mas, é um assunto sensível em países desenvolvidos.

Ainda existem muitas oportunidades aserem exploradas?

O mercado sempre é de oportunidades em TI.E é importante reconhecer e explorar essas oportu-nidades quando aparecem. Entretanto, essa habili-dade (de reconhecer e reagir às oportunidades) setorna mais fácil se você tem presença no mercado.A inteligência de mercado em tempo real e umarede dos contatos são a chave para manter o pulsodentro desse mercado. Obviamente, todos esperamfazer muito dinheiro inventando uma aplicação quevai desbancar o mercado. Entretanto, há tambémmuito dinheiro a ser feito melhorando produtosexistentes, "construindo melhor a ratoeira", ou,ainda, desenvolvendo alguma coisa que permitaque outras empresas trabalhem melhor.

Como as novas tecnologias de convergênciadigital, como o VoIP ou SMS, podem gerar novosnegócios nos países?

A maioria de países em desenvolvimento,incluindo o Brasil, está concluindo que é maiseconômico investir em infra-estrutura wireless (semfio) do que em uma tradicional. Conseqüentemente,eu espero um crescimento explosivo no wireless, ouo mobile, desde as aplicações até os serviços.Enquanto os EUA tendem a favorecer os PDAs(palm tops), o resto do mundo adotou telefonescelulares como o dispositivo wireless de escolha,um middleware que permite o acesso a conteúdo

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em dispositivos múltiplos. Essa será uma áreaquente.

A segurança é atualmente a preocupaçãonúmero um, tanto entre o mercado quanto com osconsumidores. As aplicações que operam sobretelefones celulares estão em alta na Ásia e naEuropa. Há enormes oportunidades nos países emdesenvolvimento, especialmente no setor do con-sumo, porque esses países vão investir na infra-estrutura de wireless.

Qual país está mais avançado nesse setor?De uma forma geral, todos os países G-7

continuam como líderes em incubação das novastecnologias, devido ao fato de suas economiasserem maiores, com infra-estrutura avançada e alo-cação eficiente de capital. Embora eu considere osEUA como líderes em novas tecnologias, nenhumpaís tem monopólio. Alguns peritos da indústriaacreditam que a próxima onda da inovação está nocomputador móvel, especialmente na área de con-vergência digital - acessando e movendo a voz econteúdo "através do ar" - ou seja, através dosmúltiplos dispositivos e plataformas.

No setor de criação, entrega e uso de tecnolo-gia wireless, a Ásia é o líder, e Europa ocidental ficabem de perto, em segundo lugar. Até o momento, osEUA não são vistos como líderes em computaçãomóvel, mas o mercado é enorme.

Prediz-se que China, Índia e Brasil experi-mentarão um crescimento substancial em vendas detelefone móvel e, com isso, haverá demanda paraaplicações wireless em telefones. Isso, bemprovavelmente, irá incubar novos produtos eserviços dentro dos mercados locais. A demanda emserviços wireless também crescerá rapidamente emtodos os países G-21.

Em sua visão, qual a posição do Brasil emrelação a produtos e serviços que utilizam váriastecnologias emergentes?

Ainda está na infância, mas desenvolvendo-se rapidamente desde 2004, à medida que a indús-tria de telecomunicações se recupera. Existe umpoder considerável nas mãos dos profissionais detelecomunicações que agem como "os cobradoresde pedágio" controlando o fluxo de conteúdoatravés das redes. À medida que a indústria das tele-comunicações se consolida, esse controle se tornarámais concentrado. É importante que o governomonitore esse controle de modo que não se trans-forme em um oligopólio. O Brasil deve apostar emuma maior capacidade de banda larga e abaixar oscustos de telecomunicações. Deve também encora-jar a padronização de voz e dados. Se o governoconseguir isso sem criar grande burocracia ou taxaraté a morte a indústria, a população brasileira e abase de tecnologia da informação terão uma ge-ração de produtos wireless inovadora.

Em sua opinião, quais as novas oportuni-dades que o Brasil ainda pode aproveitar nessaárea?

Na área de computação wireless, as oportu-nidades estão sendo criadas enquanto nos falamos.O Brasil deve focar tanto o setor de consumo quan-to o de negócios. Na África, os fazendeiros estãousando telefones celulares conectados à internetpara pegar preços no mercado de futuros, a fim dedeterminar se vale a pena transportar a colheita paraos centros de leilões. Não pense só na tecnologia.Pense em oferecer soluções para os problemas daspessoas. Uma tecnologia comum, mas aplicada emuma situação comercial específica, pode ter um

* John Wen - Consultor internacional, especialista em análises de 'offshore development.'Diretor da JP Wen & Associates, empresa especializada em prospecção,

análise e consultoria de tercerização offshore de projetos de desenvolvimento em TI. Tem 25 anos de experiência em finanças e em gerenciamento de risco de projetos de tecnologia.

Nesta capacidade, já trabalhou para Merrill Lynch, JP Morgan, Irving Trust Company e American Express. Tem vários trabalhos desenvolvidos no Brasil na orientação de oportunidades de exportação para empresas brasileiras.

TV Digital:qualidade e interatividade

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A televisão aberta no Brasil surgiu em 1950 eregistrou um crescimento vertiginoso desde suaimplantação. Hoje, são aproximadamente 53 mi-lhões de aparelhos de TV, presentes em 38 milhõesde lares. Ela é fonte de cultura, informação,entretenimento e lazer e exerce papel importante navida social, política e econômica do país. Por essesmotivos, é de extrema relevância a transição pelaqual o meio passa: a migração da tecnologiaanalógica para a digital. Esse novo sistema deve setornar padrão dentro de alguns anos no mundo todo.

A nova tecnologia não mudará, no entanto, ascaracterísticas da televisão, mas agregará novosserviços e vantagens ao meio. A televisão digital(DTV) inclui, por exemplo, a televisão de altadefinição (HDTV - High Definition Television), queé um conjunto de padrões de qualidade para sinaisde vídeo e áudio.

Os televisores atuais recebem sinais de rádioatravés de ondas ou sinais elétricos via cabo. Aamplitude das ondas de rádio ou a variação deintensidade dos sinais elétricos é que informam aoaparelho qual a cor e que brilho apresentar em cadapixel específico da tela. Com a tecnologia digital, otelevisor também recebe sinais elétricos, mas elesrepresentam zeros ou uns. É necessário, então, umdecodificador, que transforma esses bits em padrõesde pixels na tela.

O novo sistema possui qualidade de som eimagem semelhante ao das exibições em telas decinema. São cinco canais de áudio surround e semruídos; as imagens são formadas por até 1.080 li-nhas horizontais e possuem cerca de dois milhõesde pixels. Elas também têm maior nitidez de cores,texturas e contornos, não desaparecendo da tela se o receptor estiver distante. Para se ter uma idéiada diferença entre os dois sistemas, os aparelhos

atuais de televisão possuem 525 linhas e menos de500 mil pixels. Outras vantagens que a TV digital proporciona são a multiprogramação, que é a possi-bilidade de transmitir vários programas em ummesmo canal, permitindo ao usuário escolher qual oângulo do programa ou jogo que ele quer ver; inte-ratividade; acesso a e-mails e serviços.

O uso de algumas aplicações da TV digital,como aquelas viabilizadas pela interatividade, semnecessidade de troca de aparelho pelo usuário, serápossível através de conversores, chamados set-top-box, que custam aproximadamente US$150. Parausufruir da alta definição da imagem, no entanto,será necessário adquirir uma TV adequada à tec-nologia digital.

A transição vem gerando debates e estudosem vários países do mundo, que devem decidir seadotam um padrão de tecnologia já desenvolvido(como o dos Estados Unidos, da Europa e doJapão); se trabalham na adaptação desses padrões,agregando características próprias; ou se criam umpadrão próprio.

O padrão tecnológico adotado pelos EstadosUnidos é o ATSC (Advanced Television SystemsCommittee), primeiro sistema a ser desenvolvido,no início dos anos 90. Seu lançamento aconteceuem 1998 e foi também adotado pelo Canadá, Coréiado Sul e Taiwan. Ele utiliza a modulação 8-VSB,que usa apenas uma portadora para que os bitssejam transmitidos para os receptores dentro daárea de cobertura do canal. Sua principal aplicaçãoé a TV de alta definição.

O modelo europeu, ou DVB (Digital VideoBroadcasting), está sendo adotado por vários paísesdesse continente, além de Austrália e Cingapura.Ele privilegia a multiprogramação, por causa dademanda reprimida existente na Europa por mais

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emissoras e também pela pouca receptividade dessemercado aos aparelhos de tela grande. Sua modu-lação é a Codificação por Multiplexação deFreqüências Ortogonais (COFDM), que usa mi-lhares de portadoras para que os bits sejam transmi-tidos para os receptores dentro da área de coberturado canal.

O último padrão criado foi o japonês, chama-do ISDB (Integrated Services Digital Broadcasting).

Homologado em 1999, é uma derivação do modeloDVB, utilizando a mesma modulação. Ele integra atelevisão de alta definição, múltiplos programas,TV móvel e portátil e datacasting (transmissão deinformações e outros serviços usando o canal de TVdigital); e foi desenvolvido pensando na convergên-cia com outros equipamentos, como celulares 3G ecomputadores de mão, que devem possuir um chipreceptor.

Nos Estados Unidos, a história da TV digital começou em 1987, com o reconheci-mento, por parte do governo e de empresas do setor, da importância tecnológica eestratégica do novo serviço. Mas somente em 1991 o Federal CommunicationsCommission (FCC) - agência governamental independente, responsável por comandara regulamentação interestadual e internacional das comunicações via rádio, televisão,telefonia, satélite e cabo nos EUA - estabeleceu as diretrizes do emprego da tecnolo-gia digital. Várias empresas então estabeleceram propostas e, depois de testes, osdesenvolvedores dos quatro melhores sistemas entraram em um acordo, formando aGrande Aliança em 1993. Ela então propôs um sistema comum, que agregava carac-terísticas de cada um dos sistemas propostos, e, em 1995, esse sistema foi recomen-dado pelo comitê consultor. No ano seguinte, o FCC adotou o padrão ATSC para a TVdigital e, em 1998, aconteceram as primeiras transmissões.

Na Europa, as discussões sobre TV digital começaram em 1991, quando empresastransmissoras, produtoras de equipamentos eletrônicos e órgãos reguladores se uni-ram para formar o European Lauching Group (ELG), grupo responsável por examinara viabilidade de desenvolver a televisão digital. Ele se expandiu e agregou outros gru-pos, públicos e privados, interessados no tema. Foi então elaborado um memorando,chamado MoU (Memorandum of Understanding), que estabelecia regras para o ELG, eassinado pelos participantes em 1993. Nessa data, o MoU passou a ser chamadoDigital Video Broadcasting (DVB). Estudos foram conduzidos sobre a viabilidade e perspectivas da TV digital terrestre no continente, cujo objetivo era desenvolver um sis-tema digital baseado em um padrão único para atender aos vários países e suasespecificidades. E as primeiras transmissões aconteceram em 1995. A decisão da Aus-trália de adotar o padrão DVB foi tomada pelo Australian Broadcasting Authority (ABA).

Já o padrão japonês foi desenvolvido mais tarde. Começou em 1995 com a criaçãodo Advanced Digital Television Broadcasting Laboratory (ADTV-LAB), formado poremissoras de TV e indústrias do setor com o apoio do governo e que tinha o objetivode digitalizar as transmissões de TV no país. O laboratório adotou então o padrão demodulação COFDM, também utilizado pela Europa. Dois anos mais tarde, foi formadoo Digital Broadcasting Experts Group (Dibeg) pelos integrantes do ADTV-LAB junto comoutras empresas não japonesas. Os objetivos são promover o intercâmbio de infor-mações técnicas e realizar a cooperação técnica. Foi somente em 1999 que o padrãodigital japonês, Integrated Services of Digital Broadcasting (ISDB), foi criado.

A história da TV Digital no mundo

Sistema brasileiro em discussão

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No Brasil, as discussões em torno da TV digi-tal iniciaram-se há algum tempo. O governo fede-ral, responsável pelo sistema de telecomunicações,assumiu a responsabilidade de decidir o que vaiacontecer no país ao criar o Sistema Brasileiro deTelevisão Digital (SBTVD). Ele foi instituído pelodecreto 4.901, de 26 de novembro de 2003, e temcomo objetivos, dentre outros: planejar e viabilizaro processo de transição do padrão tecnológico detelevisão de analógico para digital; estimular aexpansão do setor de tecnologia digital e o desen-volvimento de seus serviços; estabelecer ações emodelos de negócios para a televisão digital; eestimular a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias brasileiras de informação e comuni-cação (veja box).

O SBTVD é composto por um ComitêConsultivo, um Conselho Gestor e um Comitê deDesenvolvimento, vinculados à Presidência daRepública e composto por representantes da CasaCivil, Secretaria de Comunicação e Ministérios daComunicação; Ciência e Tecnologia; Cultura;Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;Educação; Fazenda; Planejamento; Orçamento eGestão; e Relações Exteriores.

Caberá a esse Comitê apresentar o relatóriocom propostas para a definição do modelo de refe-rência do sistema brasileiro de televisão digital, opadrão a ser adotado pelo país, a forma como a TVdigital será explorada e o modelo de transição dosistema analógico para o digital. Já o ComitêConsultivo, formado por representantes de enti-dades que trabalham com tecnologia de televisãodigital, tem a finalidade de propor ações e diretrizesfundamentais relativas ao SBTVD. E o ConselhoGestor deve executar ações de gestão operacional eadministrativa, voltadas para o cumprimento dasestratégias e diretrizes estabelecidas pelo Comitê deDesenvolvimento.

A execução do projeto do SBTVD foi dividi-da em três fases. A primeira está em andamento e échamada de "apoio à decisão". Consiste no estudodas diferentes alternativas e na sugestão de ummodelo de referência. Ao mesmo tempo em queavalia os três padrões de TV digital já existentes edisponíveis no mercado, o Brasil estuda a possibi-lidade de desenvolver um sistema e um padrãopróprios, sozinho, ou em conjunto com outros paí-ses, como a China.

Para isso, estão trabalhando em rede 79 insti-tuições de pesquisa, incluindo empresas e universi-dades de várias regiões do país, agrupadas em 22consórcios. As pesquisas envolvem seis temas prio-ritários: transmissão, recepção e codificação; trans-porte; interatividade; codificação de sinais-fonte;middleware; e serviços, aplicações e conteúdo.

O gerenciamento técnico é do ConselhoNacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) eo gerenciamento financeiro é da Financiadora deEstudos e Projetos (Finep), que administra e repas-sa recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tec-nológico das Telecomunicações (Funttel). O prazopara que o CPqD entregue o relatório de análise daspesquisas realizadas pelas instituições é no final dedezembro de 2005.

De acordo com o analista de projetos daFinep, André de Castro Pereira Nunes, o SBTVD jáestá trazendo benefícios ao Brasil, uma vez queenvolve um grande número de institutos de pes-quisas e está capacitando 1.200 pesquisadores naárea de TV digital. Isso permite ao país negociarmelhor o padrão escolhido, atendendo às suas ne-cessidades, e com a participação dos pesquisadores.

Após a entrega das conclusões dos consór-cios, o governo estabeleceu até a primeira semanade janeiro de 2006 para definir o padrão tecnológi-co de TV digital. Imediatamente após essa defini-ção, inicia-se a segunda etapa: o desenvolvimento,

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quando o modelo de referência produzido na etapaanterior começa a ser preparado para implantação.

Essa é a terceira fase. Segundo o ministro dasComunicações, Hélio Costa, em entrevista para ojornal Diário do Comércio de 28 de setembro de2005, até julho de 2006 o sistema poderá ser im-plantado em quatro capitais (inicialmente, Brasília,São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte). A inten-ção é que muitos telespectadores já possam assistir àCopa do Mundo da Alemanha através de imagensdigitais. O evento será o primeiro a ser transmitidodigitalmente em alta definição para o mundo todo.

Daí a pressa da indústria brasileira para que ogoverno não adie para depois de fevereiro a decisão

sobre o padrão digital brasileiro. Representantes dosetor afirmam que já estão preparados para a tele-visão digital. Aparelhos de plasma ou LCD fabrica-dos no país podem transmitir DTV, só necessitandode um decodificador (set-top-box) adaptado aopadrão que o Brasil definir. Mas após a definição,os aparelhos sairão da fábrica prontos, com osdecodificadores incorporados.

O cronograma da transmissão digital serádecidido pela Anatel. O que já se sabe é que a tran-sição para o sistema digital será gradual, com osdois sistemas coexistindo e as emissoras transmitin-do sua programação por ambos. O objetivo é permi-tir que os usuários tenham tempo para se adaptar,

- Promover a inclusão social, a diversidade cultural do país e a língua pátria por meiodo acesso à tecnologia digital, visando à democratização da informação

- Propiciar a criação de rede universal de educação a distância

- Estimular a pesquisa e o desenvolvimento e propiciar a expansão de tecnologiasbrasileiras e da indústria nacional relacionadas à tecnologia de informação e comuni-cação

- Planejar o processo de transição da televisão analógica para a digital, de modo agarantir a gradual adesão de usuários a custos compatíveis com sua renda

- Viabilizar a transição do sistema analógico para o digital, possibilitando às conces-sionárias do serviço de radiodifusão de sons e imagens, se necessário, o uso de faixaadicional de radiofreqüência, observada a legislação específica

- Estimular a evolução das atuais exploradoras de serviço de televisão analógica, bemcomo o ingresso de novas empresas, propiciando a expansão do setor e possibilitan-do o desenvolvimento de inúmeros serviços decorrentes da tecnologia digital, con-forme legislação específica

- Estabelecer ações e modelos de negócios para a televisão digital adequados à rea-lidade econômica e empresarial do país

- Aperfeiçoar o uso do espectro de radiofreqüências

- Contribuir para a convergência tecnológica e empresarial dos serviços de comuni-cações

- Aprimorar a qualidade de áudio, vídeo e serviços, consideradas as atuais condiçõesdo parque de receptores instalado no Brasil; e

- Incentivar a indústria regional e local na produção de instrumentos e serviços digitais.

Finalidades da TV Digital brasileira

Fonte: www.planalto.gov.br

Resultados práticos

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adquirindo o receptor. No Japão, Estados Unidos,

Canadá, Austrália e muitos países europeus, esta-

ções que transmitem televisão digital já existem. E

a data para o fim da televisão analógica também já

foi marcada: o prazo varia de 2006 a 2012.

Um passo importante para a adoção da tec-

nologia digital no Brasil aconteceu no dia 30 de

junho de 2005. Nessa data, a Anatel publicou o

Plano Básico de Distribuição de Canais de Tele-

visão Digital (PBTVD), aprovado pela agência no

mês anterior. Ele atende às técnicas de modulação

de transmissão terrestre de televisão digital ado-

tadas pelos padrões da União Internacional de Te-

lecomunicações (UIT) e assegura a possibilidade de

transmissão simultânea em formatos analógico e di-

gital, com a mesma área de cobertura e faixa de fre-

qüência para cada emissora em operação no país.

São 1.893 canais e 296 localidades, que

englobam todas as cidades que possuíam pelo

menos uma estação geradora de televisão em ope-

ração em maio de 2003, quando o PBTVD foi con-

cluído. Segundo a Agência, esses são requisitos

necessários para garantir que a TV digital seja intro-

duzida com sucesso. E como o padrão ainda não foi

definido pelo Governo, o Plano engloba um outro

grupo de localidades, com duas alternativas para

atender a capacidade técnica de modulação do sis-

tema a ser adotado.

Os primeiros resultados práticos do SBTVD

foram apresentados na Exposição de Equipamentos

e Serviços - Broadcast & Cable e no congresso

anual da Sociedade Brasileira de Engenharia de

Televisão e Telecomunicações (SET), em setembro

de 2005. Foram demonstrados o sistema de modu-

lação, o terminal de acesso, o middleware, apli-

cações interativas e o Serviço de Saúde, resultados

dos primeiros seis meses de pesquisa e da inte-

gração entre os trabalhos desenvolvidos. Os testes e

as integrações foram centralizados na Universidade

Federal da Paraíba, que também desenvolveu

o middleware. Ele foi integrado inicialmente

ao Serviço de Saúde, seguido pelas aplicações

interativas e, por último, pelo sistema de modu-

lação.

Esse sistema foi desenvolvido pela

Universidade Mackenzie, focado nas necessidades

de transmissão da TV brasileira e baseado na tec-

nologia BST-OFDM. Segundo o coordenador do

projeto, Gunnar Bedicks, ele permite uma área de

cobertura maior, com imagens livres de fantasmas e

ruídos. Já o middleware, chamado FlexTV, é uma

base que permite que a mesma aplicação seja exe-

cutada em todos os receptores de televisão digital,

sem importar o fabricante. Ele oferece suporte para

aplicações desenvolvidas para vídeos HDTV,

SDTV e LDTV e está alinhado com os padrões

internacionais. Essa característica permite a expor-

tação de conteúdo televisivo brasileiro e a impor-

tação de conteúdo de outros países.

Já o Serviço de Saúde desenvolve aplicações

interativas na área médica, facilitando o acesso aos

serviços de saúde pública e trabalhando também

como ferramenta de inclusão digital. Além dele, foi

apresentada uma aplicação de governo eletrônico,

desenvolvida pela Universidade Federal do Ceará,

que permite ao cidadão simular sua participação em

votações do Congresso Nacional e outras esferas

legislativas. Outra apresentação foi da Universi-

dade de São Paulo: um terminal de acesso baseado

numa placa Intel com decodificação MPEG-2 em

hardware e estudos da codificação MPEG-4 para

SDTV e HDTV.

Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

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Contribuições e críticas

O governo brasileiro também está recebendocontribuições de outros membros da sociedade. Em1994, um grupo técnico de TV digital foi formadopela SET e pela Associação Brasileira de Emissorasde Rádio e Televisão (Abert), também conhecidocomo Grupo Abert/SET, com o objetivo de acom-panhar o desenvolvimento da DTV no mundo erealizar estudos e análises sobre os padrões tec-nológicos e sistemas de televisão existentes e suasaplicações para ajudar na definição do padrão a seradotado pelo Brasil.

Testes regulamentados pela Anatel foramrealizados no período de 1998 a 2000 por empresasligadas às duas instituições para avaliar comparati-vamente os sistemas existentes. Para isso, a Abert ea SET firmaram um convênio de cooperação técni-ca com o Instituto Mackenzie, que instalou o labo-ratório com uma unidade móvel necessária àsmedições. Todos os trabalhos foram coordenadospelo Grupo Abert/SET, sob orientação e supervisãoda Anatel e do CPqD. O resultado foi um documen-to intitulado Conjunto de Requisitos para a TVDigital Brasileira, entregue à Anatel em maio de2000, que recomenda tecnicamente a utilização dopadrão ISDB-T, referenda o DVB-T e aponta opadrão ATSC como o menos adequado às condiçõesnacionais.

Segundo o Grupo Abert/SET, para que a tele-visão aberta continue sendo viável no país, énecessário que o padrão a ser escolhido pelo gover-no ofereça televisão de alta definição com múltiplosprogramas, recepção móvel, recepção portátil,interatividade e multimídia. Essas aplicaçõesdevem ser flexíveis, para que cada emissora decidaqual é a mais viável ou adequada a ela, semprelevando em consideração suas características.

O grupo, entretanto, apresenta-se reticenteem relação ao desenvolvimento de um padrão deTV digital brasileiro, pois acredita que isso levaria

o país a uma situação de isolamento tecnológico.Além de não permitir que o Brasil acompanhe todosos avanços e investimentos feitos para a evoluçãodos padrões internacionais e que o forçariam ainvestir permanentemente na atualização do padrãobrasileiro.

Uma outra preocupação do Grupo é emrelação à transmissão permanente de múltiplos pro-gramas, que ele não considera economicamenteviável. O problema refere-se às verbas do mercadopublicitário, que são o que sustenta as emissoras detelevisão no país e que, provavelmente, não acom-panhariam o crescimento de programas na TV. Aopção de múltiplos programas, dizem, deve sertemporária, para o período de transição das tecnolo-gias.

Na opinião do Grupo Abert/SET, "a únicamaneira de alcançarmos o desejado sucesso da tele-visão digital brasileira, que não acontecerá sem oHDTV, é a disponibilização em todos os receptoresda capacidade de receber a TV de alta definição". Ereitera: "Somos os principais interessados no suces-so da TV digital brasileira, pois dele depende anossa sobrevivência como indústria, geradora deempregos e de produção de conteúdo e culturabrasileiros".

Na contramão do Grupo, entidades dasociedade civil estão se manifestando criticamentea respeito do modo como o governo está coorde-nando a tomada de decisão sobre a televisão digitalno Brasil. A carta TV digital: um debate que precisade audiência, assinada pelo Congresso Brasileirode Cinema (CBC), Articulação Nacional peloDireito Humano à Comunicação (Cris Brasil),Fórum Nacional pela Democratização daComunicação (FNDC), Associação Brasileira deCanais Comunitários (ABBCOM), AssociaçãoBrasileira de TV Universitária (ABTU) eAssociação Brasileira de ONGs (Abong), atenta

- contribui para popularização detelas de alta definição

- reduz preço de telas de altadefinição

- beneficia mercado de altadefinição, independentementedo padrão de transmissão

- interface entre sistema e aplicativos tende a ser adotadamundialmente

- concepção mais flexível que oATSC

- recepção em dispositivosmóveis está sendo desenvolvida, o que permitiráconvergência com 3G

- transmite alta definição paratelevisores fixos, equipadoscom antenas internas ou exter-nas, e imagens standard paradispositivos móveis ou portáteis

- convergência total com celulares 3G

- flexibilidade, permitindo todasas aplicações imagináveis

para a necessidade de envolver nas discussões todaa sociedade.

Segundo o grupo, as decisões do governo"produzirão forte impacto no modo como assisti-mos televisão, podem alterar o cenário de concen-tração dos meios, contribuir para as políticas deinclusão digital e permitir uma apropriação dopúblico sobre o privado". Outra crítica é em relaçãoà posição da mídia comercial, que polarizou todo oprocesso em duas possibilidades: adotar um dospadrões existentes ou desenvolver um próprio

brasileiro. Segundo ele, as pesquisas já em anda-mento sobre a televisão digital mostram a necessi-dade da adoção das características dos padrõesamericano, europeu e japonês, agregando elemen-tos que devam ser desenvolvidos no Brasil.

O número de canais também é motivo de pre-ocupação para o grupo, que não vê interesse dosempresários de comunicação em mudar a situaçãoatual de concentração. Para ele, a implantação daTV digital é a oportunidade que se tem de mudar talcenário, já que no final da transição, a TV digital

Vantagens Desvantagens

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ATSC

DVB

ISDB

- receptores comerciais só funcionam razoavelmente comantenas externas

- controlado pela Zenith, da LG,que não abre mão de pagamento de royalties

- não oferece opção de televisãomóvel ou portátil

- sujeito a interferências prejudiciais de eletrodomésticose motores elétricos

- padrão tradicional apresentarestrições à recepção móvel eportátil

- não permite transmissão simultânea de alta definiçãopara receptores fixos e dedefinição standard para receptores portáteis

- distanciamento entre culturas elínguas dificulta a comunicaçãocom firmas e órgãos governamentais japoneses

- o middleware ARIB B-24 é totalmente voltado para caracteres orientais e necessitaria de adaptações

- só foi adotado no Japão

Vantagens e desvantagens dos modelos

Fonte: Instituto Brasil Para Convergência Digital, Centro de Mídia Independente e Revista Exame

Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

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Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

irá ocupar o espaço do canal 7 do VHF ao 69 doUHF. Suficiente para a ampliação de emissoras detelevisão e, conseqüentemente, ampliação de pro-dutores de conteúdo televisivo.

No final do documento, as entidades reivin-dicam o aumento da participação da sociedade civilno processo, com a realização de audiências e dis-cussões com setores organizados e a população em

geral. "Para que o interesse público prevaleça, asociedade civil deve, com urgência, tornar-se pro-tagonista dos debates que envolvem a TV digital,tanto pela valorização do Comitê Consultivo comopela introdução de mecanismos que possibilitem aparticipação da sociedade civil nas principaisdecisões relativas à digitalização da televisãobrasileira."

Primeira transmissão

A primeira transmissão de TV digital de altadefinição do Brasil, com sinal aberto, foi realizadano dia 12 de janeiro de 2005, em Santa Rita doSapucaí, Minas Gerais. O teste foi parte do projetode desenvolvimento de sistemas de transmissão deTV digital, realizado desde fevereiro de 2003 peloInstituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) emparceria com a empresa Linear Equipamentos Ele-trônicos. O projeto é financiado pelo Fundo Setorialpara Desenvolvimento Tecnológico das Telecomu-nicações (Funttel) e o prazo para conclusão dos tra-balhos é de três anos.

Para o teste, foi utilizado um canal concedidopela Agência Nacional de Telecomunicações(Anatel) especificamente para esse fim. O canal pôdeser utilizado durante três meses, período em queforam avaliados a qualidade da transmissão, arobustez do sistema, efeitos de multipercurso, sincro-nismo, ruídos, dentre outros aspectos. Todos osequipamentos usados nos testes foram de fabricaçãonacional. Segundo o pró-diretor de DesenvolvimentoInstitucional do Inatel, professor Adonias Costa daSilveira, a transmissão comprovou a capacidade doBrasil na produção de equipamentos para a TV digital.

Inclusão social

O sistema brasileiro de televisão aberta é um dos maiores do mundo e, considerando-se arealidade social brasileira, o fato de atingir aproxi-madamente 80% dos lares brasileiros torna aindamais importante sua característica de ser um serviçogratuito aos usuários. É esse o meio que grandeparte da população brasileira utiliza para ter acessoa informações e entretenimento. Por isso, a impor-tância de o sistema digital brasileiro continuarsendo gratuito.

Essa é também a oportunidade de inclusãosocial desse enorme contigente de brasileiros queassistem televisão, mas estão afastados das políticaspúblicas e da vida econômica, política e social do

país. De acordo com a professora Esther Hamburger,da Escola de Comunicação e Arte da Universidadede São Paulo, "as tecnologias possibilitam uma di-versificação de opções e podem contribuir para ainclusão social". As discussões a respeito da TVdigital sempre tocam nesse assunto e atentam paraa necessidade de uma legislação que vá além damera regulação tecnológica.

A TV digital também poderá ajudar nainclusão digital dos brasileiros, já que permite oacesso à internet. O televisor será, então, o primeirocontato do cidadão com a interatividade. Mesmoque não tenha acesso imediato à internet (o quepode ser facilitado pelo Governo), o processo de

37

Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

datacasting lhe permitirá receber informaçõescomo as de governo eletrônico.

O problema brasileiro é muito maior quesomente decidir qual padrão adotar. Envolve

questões como inclusão social e digital, desenvolvi-mento tecnológico do país e pagamento de royaltiese, portanto, devem estar em constante processo dediscussão pelo governo e também pela sociedade.

Telecomunicações

A convergência digital, mais que a idéia devários aparelhos e funções em um só, significa apadronização de dados. Esse novo cenário, entran-do cada vez mais nos lares das pessoas no mundotodo, traz à tona discussões políticas e econômicasno Brasil. Um exemplo é a luta das emissoras detelevisão para regulamentar o setor.

Com a convergência digital e, conseqüente-mente, a televisão digital, as emissoras de radiodi-fusão estão preocupadas em se proteger das empre-sas de telecomunicações, que estão cada vez maisaptas a enviar conteúdo televisivo para os celularese com qualidade. Existe a preocupação das emisso-ras com a possível queda de audiência e perda dereceita.

As emissoras de radiodifusão são regulamen-tadas pelo Congresso Nacional e o Ministério dasComunicações. Sócios internacionais não podemter mais de 30% de participação, toda a receita vemde anunciantes e, por isso, enfrentam problemas nocaixa. Já as empresas de telecomunicações obede-cem a regras da Agência Nacional de Telecomu-nicações (Anatel). Não há restrições para a partici-pação de sócios estrangeiros, sua fonte de receitasão os consumidores e há boas perspectivas deresultados.

Com a fusão de habilidades trazidas pelaconvergência, quem passa a controlar o quê? A pro-posta da Associação Brasileira de Emissoras deRádio e Televisão (Abert) é regulamentar a pro-dução, programação e transmissão de conteúdo,visto que não podem mais mexer na infra-estrutura.Já as ações do governo se referem às alterações nosartigos 221 e 222 da Constituição Federal,chamadas de Lei Geral de Comunicação Eletrônicade Massa.

Esses artigos tratam da responsabilidadesocial da radiodifusão e da propriedade. Para discu-ti-los, foi criado no governo um grupo de trabalhointerministerial. As emissoras, principalmente,lutam para separar juridicamente radiodifusão etelecomunicações, mas outros setores da sociedadepedem a junção das duas, para evitar a concentraçãodo setor.

Mas de acordo com o ex-presidente daAnatel, Elifas Gurgel, a questão da TV digital nos telefones celulares ainda está distante da reali-dade brasileira. A primeira preocupação, afirma, é como a televisão digital será construída no país. Enquanto isso, continua somente a trans-missão de conteúdo televisivo analógico pelo celu-lar.

Rádio digital

O rádio também está entrando na era da convergência. Nada mais vai lembrar os antigosaparelhos de válvulas de 1930 a 1950. Agora, coma digitalização, os sinais de voz serão comprimidos

e abrirão o canal de rádio para a transmissão dedados como textos e imagens.

No Brasil, os novos tempos começaram nodia 26 de setembro de 2005, quando foram feitas,

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em caráter experimental, as transmissões digitais derádio em 12 emissoras do Sistema Globo, Ban-deirantes, Jovem Pan, RBS e Eldorado nas regiõesmetropolitanas de Belo Horizonte, São Paulo, Riode Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Curitiba.

As transmissões foram aprovadas pela Anatelno dia 12 de setembro para um prazo inicial de seismeses, que pode ser prorrogado. Nesse período,estão sendo avaliados o desempenho do sistema,qualidade do áudio, área de cobertura e robustezcom relação a ruídos, interferências e efeitos dosmúltiplos percursos.

O sistema utilizado, chamado In Band OnChannel (Iboc), é americano, permite utilizar asmesmas freqüências de hoje e funciona tanto nomodelo analógico quanto no digital. Esse sistemafoi aprovado pela União Internacional de Teleco-municações e, além dos Estados Unidos, é tambémaplicado no México e Canadá.

Somente com a escolha do sistema de rádiodigital a ser utilizado é que será possível saber quala nova cara do rádio no Brasil. Outros sistemasexistentes são o europeu, chamado Digital AudioBroadcasting (DAB) para FM; Digital RadioMondiale (DRM) para AM; e o japonês, chamadoIntegrated Services Digital Broadcasting (ISDB) ouIntegrated Services Digital BroadcastingTerrestrial (ISDB-T).

De acordo com a Anatel, a decisão de realizaras transmissões experimentais com o sistema Inbocfoi tomada de acordo com avaliações do mercado,já que ele se mostrou o mais adequado às necessi-dades da indústria. Mas somente os testes poderãomostrar se ele deve ser o sistema definitivo ou não.O governo também já solicitou à Agência autoriza-ção para que as rádios públicas iniciem testes como sistema europeu (DRM). Para os outros sistemas

disponíveis no mundo, ainda não há previsão de umcronograma para testes.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, no dia 26de setembro de 2005, o coordenador de Imple-mentação dos Pontos de Cultura Digital do Mi-nistério da Cultura, Thiago Novaes, afirma que aimplantação da rádio digital no Brasil deve estaratrelada ao projeto de TV digital, o que seria deter-minante para a convergência tecnológica de ambasas mídias.

Para se adaptar, as emissoras de rádiobrasileiras (aproximadamente quatro mil) terão quecomprar novos transmissores ou "excitadores", eadaptadores dos transmissores analógicos paragerar o sinal. Por ser caro realizar essa transição (oscustos são de, no mínimo, US$ 35 mil), o governopretende estimular o desenvolvimento desses apa-relhos no país, barateando o processo e possibilitan-do que pequenas emissoras e rádios comunitáriaspassem a transmitir digitalmente.

O rádio digital apresenta uma melhor quali-dade do som, com transmissões AM sem interferên-cia e FM com qualidade de CD. As possibilidadesda nova tecnologia são muitas, especialmente rela-cionadas à interatividade, como a transmissãosimultânea de até três programas na mesma fre-qüência para públicos diferentes, e transmissão deinformações (como autor e intérprete de músicas,notícias, previsão do tempo, situação do trânsito eoutros serviços), e imagens de shows e capas de CDno visor do aparelho.

Essas mudanças na qualidade só são per-ceptíveis com a utilização de receptores de rádiodigital. Esses aparelhos ainda não estão disponíveisno mercado brasileiro, mas espera-se que comecema ser vendidos em breve, já que as transmissõesexperimentais foram iniciadas.

Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê Dossiê

39

Convergência digital é, em poucas palavras, aaproximação de diversas tecnologias em um

mesmo meio. Especificamente, telecomunicações,radiodifusão e tecnologia da informação estão sefundindo em ritmo acelerado. O resultado é a ine-xistência de sistemas isolados. Vídeo, voz e dadospassam a coexistir no mesmo meio e ambiente detransporte, tornando-se desnecessária a manutençãode uma rede de telecomunicações em paralelo comuma rede de comunicação de dados.

E não estamos a falar sobre algo inédito oufuturista. As diversas aplicações para essa nova eratecnológica estão presentes hoje no dia-a-dia demilhares de pessoas, movimentando um mercadonovo e altamente rentável. Quem nunca recebeu umamensagem promocional em seu celular? Ou assistiuà reprise do gol de seu time pelo telefone? Umvideoclipe? Ou ainda falou (voz) com parentes e co-laboradores de trabalho através de seu computador?

Vivemos hoje a era da convergência digital.Nossa sociedade está, aos poucos, tendo que seacostumar com novos padrões de tecnologia.Interessante é pensar que, há cerca de dez anos,pouquíssimas pessoas utilizavam o celular ou ocomputador como ferramenta de trabalho. Hoje,seria impossível imaginar qualquer atividade semessas ferramentas. E dentro desse contexto, valedizer, a internet foi e continua sendo o meio propul-sor de todo esse processo de convergência digital.

Paralelamente, enquanto as tecnologias e apli-cações do mundo moderno avançam a largos passos,as empresas, os mercados e, principalmente, o Di-reito, enfrentam situações limítrofes, que impõemaos cidadãos e empresários uma etiqueta cercada dedúvidas, oportunidades e uma nova ordem social.

Nesse contexto, vale ressaltar que o Direito,como instrumento de harmonização do convívio

social, sempre enfrentou, em todos os ramos, umprocesso constante de aprimoramento e modifi-cação. Como ciência humana, a evolução da so-ciedade exige uma constante adequação das normasà realidade social vivenciada. Portanto, não seriapor demais equivocado dizer que o Direito vivesempre um passo atrás da sociedade.

Basta lembrar que, no Direito Penal, até hábem pouco tempo, mulher honesta seria aquela quenunca havia tido uma experiência sexual; e, no anti-go Direito Comercial, todas as atividades comer-ciais seriam derivadas da mercancia, ou troca demercadorias.

Nesse enredo, é no Direito da Tecnologia queteremos, talvez, um dos ramos mais novos e, para-doxalmente, com maior defasagem jurídico-norma-tiva. Isso porque, na área da tecnologia, os avançostêm acontecido de maneira tão intensa e em interva-los tão pequenos que, quando o legislador se senteconfortável para realizar a norma, esta já nasceriaultrapassada, produzindo pouco resultado prático.

Desta feita, várias correntes foram criadaspara conceituar essa nova seara do Direito comoDireito Eletrônico, Direito Virtual ou Direito deInformática. Em verdade, a nosso ver, todas essasdenominações são um pouco inadequadas, uma vezque se referem a uma tecnologia (e portanto sus-ceptível de transformação), razão pela qual enten-demos que esse novo ramo deve se ater a um con-ceito mais abrangente. Assim, segundo conceitodesenvolvido por nossa banca de advogados, defi-nimos esse ramo como o Direito da Tecnologia,cuja conceituação seria "o ramo jurídico que visaresponder em caráter multidisciplinar todas asimplicações, criações e transformações de naturezatecnológica na sociedade, que constituam direitos,deveres e obrigações". Sendo assim, acreditamos

A convergência e o direito

Ricardo Capucio Borges*

Div

ulga

ção

digital

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que a única forma de o Direito responder com rapi-dez e seriedade aos avanços tecnológicos do merca-do é traçando apenas os parâmetros básicosnorteadores, não adentrando no mérito técnico quecada tecnologia proporciona, o que permitirá que anorma não fique rapidamente defasada.

E tendo em vista o momento de ebulição tecnológica que vivemos com a fusão das tecno-logias das telecomunicações, da radiodifusão e dainformação, quais seriam os direitos, deveres e

obrigações daspessoas que estãoprofissionalmenteenvolvidas nessenovo universo? Po-deriam as empre-sas de telefonia ou

radiodifusão, mercados restritos e operados me-diante regime de outorgas e concessões, convivercom mercados de livre ingresso, como o da tecnolo-gia da informação?

Existem atualmente três mercados que deve-rão estar no foco de nossas atenções nos próximosdois anos e que implicarão significativas mudançaslegais e regulatórias: voz IP (telecomunicações +TI); TV digital (radiodifusão + TI); e telefonia mul-timídia (radiodifusão + telecomunicações).

Como ainda não existe uma legislaçãoespecífica para o setor ditando a forma de se explo-rar esse mercado, as empresas que já atuam, ou te-nham interesse em atuar nesse segmento, devemobservar as regras anteriormente vigentes quesejam aplicáveis. Por exemplo, uma empresa quepretenda atuar no mercado de voz sobre IP deveráobter previamente uma licença SCM (Serviço deComunicação Multimídia), respeitando os limitesde atuação desse tipo de serviço, bem como daslimitações de propriedade intelectual dos softwarese tecnologias que utilizará. Vale ressaltar que, se osserviços forem prestados concomitantemente comos serviços de provimento de acesso à internet, sugerimos que a empresa ingresse com medidajudicial preventiva, a fim de obter maior segurançaquanto aos tributos aplicáveis, tendo em vista asinúmeras divergências existentes quanto ao enqua-dramento tributário da referida atividade. Como emcada segmento ou modelo de negócios os requisitos

são diferentes, os pressupostos jurídicos devem seranalisados caso a caso, de acordo com o modelo decada negócio. Assim, concluímos que um bom tra-balho de planejamento e a assessoria jurídica sãofundamentais para que as empresas possam desde jáatuar com segurança nesses novos segmentos.

Finalmente, ressalte-se que, para preencher aslacunas legais existentes e garantir o mínimo desegurança jurídica às empresas, a cada mês são ela-boradas normas e regulamentos administrativos demodo a formar uma malha jurídica inóspita e commargem a inúmeros questionamentos. Vale lembrarque, por serem normas hierarquicamente inferioresàs leis e diretamente emanadas do poder executivo,estas passam a receber uma forte influência de gru-pos de interesses, desvirtuando, em muitos casos, ointeresse legítimo da sociedade.

Assim, estamos caminhando a passos largospara uma renovada estrutura legal que ditará asregras desse novo e importante mercado. Como ésabido, já tramitaram no Congresso Nacionalalguns projetos de lei dando tratamento jurídicounificado ao presente assunto como, por exemplo, oProjeto de Lei Geral de Conteúdo Eletrônico. Masnenhum deles logrou êxito nessa difícil missão.

Vivemos hoje um momento propício para osurgimento de um novo marco regulatório. Asociedade está se conscientizando, e o presente te-ma está em debate nos principais eventos e agendasdo país. Reiteramos, então, nosso alerta para quecada um dos segmentos (TI, telecomunicações eradiodifusão) se organize e acompanhe de pertotodo o processo, participando, influindo, mobilizan-do nossas lideranças e, principalmente, apoiandopessoas competentes que poderão elaborar, comconhecimento, esse novo arcabouço jurídico. Comodito, as normas definirão o futuro e os meandrosdesse mercado que nos afeta tão diretamente; e cadaum de nós definirá aqueles que irão elaborar as normas.

* Ricardo Capucio BorgesAdvogado. Especialista em Direito

da Tecnologia da Informação.Diretor Secretário da Assespro.

Diretor de Assuntos Jurídicos da Assespro.

“VIVEMOS HOJE UM

momento propício para osurgimento de um novomarco regulatório”

41

OEncontro Nacional das Empresas Brasileirasde Software, Tecnologia da Informação e

Internet (Enesi 2005), realizado pela Assespro-MGem Belo Horizonte no mês de outubro de 2005, tevecomo tema-âncora a convergência digital. Durantedois dias, tivemos palestras e debates abordandoessa nova realidade tecnológica e as conseqüentesmudanças mercadológicas.

Voz sobre IP; internet móvel banda larga; emensagens instantâneas SMS, TV digital e trans-missão de áudio e vídeo pelo celular (TV no celu-lar) são algumas das inovações alcançadas atravésda convergência digital. No Japão, por exemplo,34% do uso de celular são para ouvir música e 23%para assistir televisão. O Skype, em menos de doisanos, conquistou 43 milhões de usuários no mundo,sendo três milhões no Brasil.

Mas, além da convergência de tecnologias,existe por trás disso tudo um elemento fundamental:o software! Esse produto exemplar da inteligênciahumana transformado em programa de computadorestá inserido em praticamente todos os equipa-mentos utilizados atualmente pelo ser humano (automóveis, celulares, máquinas industriais, eletro-domésticos, brinquedos), facilitando a rotina daspessoas e proporcionando melhor qualidade de vida.

O software seguramente será o responsável,nos próximos anos, pelos maiores índices de cresci-mento na economia mundial. Vários países já têmna indústria do software um dos pilares mais impor-tantes no seu desenvolvimento econômico.

O Brasil é o sétimo mercado de software nomundo, movimenta cerca de nove bilhões dedólares/ano e vem crescendo, desde 1995, a uma

taxa média anual de 11%, sendo três vezes maior doque a de hardware e cerca de cinco vezes maior doque a taxa de crescimento do PIB. Esses dadosdemonstram que não foi por acaso que o governofederal definiu o software como um dos quatrosetores estratégicos para o desenvolvimento eco-nômico do nosso país e para as exportações.

O desafio é tornar a indústria nacional desoftware cada vez mais competitiva nesse mercadoglobalizado, tanto interna quanto externamente, demodo que possamos aproveitar esse enorme lequede oportunidades comerciais que surge com a con-vergência digital!

Qualidade, criatividade e empreendedorismosão características inerentes às empresas brasileirasde software e fundamentais para o sucesso nessemercado. Mas como as empresas podem ser com-petitivas se o país não é competitivo? Aliás, vemperdendo competitividade, tendo caído, este ano, da57ª posição para a 65ª posição no ranking mundialde competitividade, ficando atrás de países como oChile e o Uruguai.

As empresas brasileiras de software con-vivem com as mesmas dificuldades de todos ossetores econômicos. Exagerada carga tributária de36% do PIB; legislação trabalhista arcaica, caducae incompatível com a atividade de desenvolvimen-to de software; disputa em igualdade de condiçõescom os gigantes multinacionais; rotina tumultuadapor excessos burocráticos e fiscais; as mais altastaxas de juros do mundo, entre outros obstáculospara uma atividade empresarial competitiva.

Mas as dificuldades do setor de software, noBrasil, ainda vão muito além disso. Apesar de

O desafio do

perante a

Marcos Brafman*

Seb

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nior

software nacional

convergência digital

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estratégico, não existe um projeto nacional paraimpulsionar o desenvolvimento desse setor. Usandoo jargão empresarial, o nosso país precisa de umplano de negócios para o software nacional.

As oportunidades estão aí, batendo à nossaporta todos os dias, mostrando um imenso mercadoansioso por usufruir das novas tecnologias de que jáfalamos no início deste artigo. As empresasbrasileiras de software valem ouro para o futuroeconômico e social do nosso país. Se tivermos umaindústria de software realmente competitiva

mundialmente, es-taremos garantindoa participação emum dos últimosmercados globaisde considerávelvalor intrínseco eque ainda está emformação. Alémdisso, é semprebom lembrar que osoftware é ferra-

menta fundamental para alavancar todos os demaissetores da economia, permitindo que se produzamais, em menos tempo e com menos esforço.

Mais que melhorar o desempenho financeirodas empresas, o aumento da produtividade, da efi-ciência e eficácia através do uso de softwares trazuma cadeia de ganhos para todos. Produzindo maise com custos adequados, a empresa tem umamargem maior para investir, expandir e gerar maiscontribuição fiscal. Assim, o Estado arrecada maise melhor e pode aumentar seus investimentos, tantosociais quanto de infra-estrutura. Com mais investi-mentos do Estado, a economia se desenvolve, geramais empregos e aplica mais em produtividade etecnologia, renovando esse círculo virtuoso.

A Associação das Empresas Brasileiras deTecnologia da Informação, Software e Internet(Assespro) vem promovendo constante debate acada Enesi que realiza, no intuito de contribuir para o desenvolvimento de um programa espe-cífico que envolva poder público, setor pri-vado, academia e sociedade, apresentando suges-tões de apoio e estímulo para o software brasileiro

que permitam remover os entraves ao seu cresci-mento.

O primeiro passo, com certeza, é o entendi-mento claro das necessidades do setor de software,de modo que possam ser construídas políticaspúblicas e parcerias entre os principais atoresenvolvidos nesse processo. É fundamental a criaçãode um fórum permanente de debate e consolidação,em nível nacional; e de ações necessárias eurgentes, tais como a inclusão no sistema tributáriosimplificado, a definição clara da natureza jurídicado software e demais marcos regulatórios das ope-rações de mercado, regulamentação profissional,utilização correta do poder de compra governamen-tal, possibilidade legal de uso da terceirização ematividades produtivas, incentivos à exportação,entre outros temas.

Em nível regional tivemos, há um ano, a criação da Câmara Setorial de Tecnologia daInformação de Minas Gerais, reunindo 30 entidadesdos setores empresarial, público e acadêmico para aformulação de políticas públicas e inserção definiti-va do setor de software na pauta de desenvolvimen-to econômico do nosso Estado.

Os resultados já estão surgindo através docrescimento da indústria de software mineira, aatração de investimentos nacionais e internacionaispara o nosso Estado, o aumento significativo deempregos no setor e, principalmente, a confiança eo sentimento de parceria entre o setor empresarial eo governo mineiro.

Esse é um belo exemplo a ser seguido noâmbito federal!

* Marcos BrafmanEngenheiro, empresário,

diretor da Maxis Informática, ex-presidente da Assespro-MG e

atual vice-presidente da Assespro Nacional.

“MAIS QUE MELHORAR O

desempenho financeirodas empresas, o aumento da produtivi-dade, da eficiência eeficácia através do uso de softwares trazuma cadeia de ganhospara todos”

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Aconvergência digital é um fenômeno bemmaior do que parece. Essa verdadeira mutação

tecnológica não abrange apenas todas as mídias e osartefatos com os quais lidamos no dia-a-dia, quegradativamente abandonam seus suportes analógi-cos para se digitalizarem. Se adotarmos uma pers-pectiva mais vasta - antropológica, filosófica ou atémesmo cosmológica - logo vislumbraremos algoinquietante: os tentáculos desses processos atingemzonas inesperadas, afetando inclusive as nossasmais caras idéias sobre o que é a vida.

O mundo e a natureza não são entidadesestáticas: ao sabor da história, costumam mudar asformas com que os pensamos e vivenciamos. E asturbulências atuais são evidentes: à medida que seestende a vocação digitalizante da nossa tecnociên-cia, vão perdendo força as velhas metáforasmecanicistas destiladas pela era industrial. Diantedas novidades informáticas, esvaem-se aquelasimagens mais antigas, que explicavam a naturezacomo um mecanismo de relojoaria e o corpohumano como uma máquina de ossos, músculos eórgãos.

Foi no longínquo século XVII, quando o uni-verso começou a ser percebido, explicado e mani-pulado em termos mecânicos. A ciência daquelaépoca dedicou-se a observar um mundo que fun-cionava de acordo com um conjunto de leis precisa-mente definidas e universalmente válidas. Em1859, foi instalada a última roldana nesse universorigorosamente sincronizado: com a publicação do

livro A Origem das Espécies, de Darwin, a vidatambém foi mecanizada. Para se adequar aosseveros ritmos e exigências do século XIX, anatureza foi reformulada, abandonando o ar miste-rioso e sagrado que a envolvera na Idade Média. Onovo quadro revelava uma feroz arena de luta, naqual o nascimento era um acidente e a morte a únicacerteza.

Agora, porém, o nascimento pode ser plane-jado e a morte está deixando de ser uma conde-nação certa, pelo menos no ambicioso horizonte damais nova tecnociência. E aquela natureza queacompanhou o desenvolvimento do capitalismoindustrial está em mutação. Hoje as espéciesbiológicas desaparecem a uma velocidade inusita-da: antes da era industrial, a taxa de extinção era deuma a cada mil anos, mas a seleção que atualmenteelimina várias espécies por mês não parece mais seenquadrar na velha categoria de natural. Aquelemecanismo era extremamente lento: a criação deuma nova espécie demorava um milhão de anos, eperdurava uns quatro milhões. Agora, não só aextinção se acelerou: graças à engenharia genética,novas espécies podem ser geradas mediante arti-manhas não-naturais. Na última década, vegetais eanimais geneticamente modificados saíram dos la-boratórios para invadir a Terra: são os famososOGMs.

Estaremos ingressando na era da pós-natu-reza? Afetadas pelas incríveis proezas da tecnociên-cia, tanto a vida como a natureza perderam sua

A digitalização da vida:

ao código genéticoPaula Sibilia*

Vag

ner

Fal

l

do universo mecânico

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* Paula Sibiliaautora do livro

O Homem Pós-Orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais.

antiga definição. Em 1952, o alfabeto da vidacomeçou a ser decifrado, quando se soube que qua-tro letras químicas eram capazes de assumir infini-tas combinações na dupla hélice do DNA, umacomplexa linguagem que permitiria captar a "essên-cia" de todos os organismos. O código da vida émuito eficaz na compactação de informações: bi-lhões de letras são arquivadas no núcleo das células.Dessa forma, a biologia molecular contribuiu paradigitalizar os seres vivos.

Poderíamos dizer, inclusive, que essasinstruções de DNA constituem software compatível.O genoma do chimpanzé, por exemplo, difere dohumano em menos de quatro por cento. Afinal, ohomem foi reduzido aos três bilhões de letras quecompõem seu genoma, e esses ingredientes básicos

são idênticos aosque conformam to-dos os demais se-res vivos com osquais compartilha-mos o planeta, sejauma cenoura, umcavalo ou umabactéria. Podería-mos dizer que osistema operacio-

nal é o mesmo para todos os organismos, mudandoapenas a complexidade do programa, do código ougenoma de cada espécie.

Assim, manipulando e reorganizando asinformações contidas nos códigos dos diversosorganismos, os engenheiros da vida podem recon-figurar a natureza como quem edita software vital.A barreira que sempre separou as diversas espéciespode ser atravessada, superando a clássica cisãoentre natureza e artifício. Com todas essas novi-dades, a Natureza está perdendo sua opacidade esua rigidez tipicamente analógicas, para ingressarno caminho da digitalização universal. O ProjetoGenoma Humano, por exemplo, foi divulgadocomo um mapeamento que permitiria desprogra-mar as doenças, o envelhecimento e a morte. Poisuma vez decifrada a programação genética de cadacriatura, o grande sonho tecnocientífico consiste em

corrigir eventuais problemas, prevenir certastendências e efetuar outros ajustes.

A distância com relação às velhas metáforasmecânicas não cessa de aumentar, pois aquela ciên-cia clássica que confiava no progresso gradativo enas leis lentas, sábias e inexoráveis da Natureza,hoje assume novos tons e ambições. Não se tratamais de aperfeiçoar o material genético que aevolução natural legou a uma espécie; agora, oobjetivo é produzir seres com fins explícitos e uti-litários. Essa reconfiguração tecnocientífica dosorganismos vivos já não obedece às ordens arcaicase vagarosas da evolução natural descrita pelos bió-logos do século XIX. E o homem não está àmargem dessa atualização compulsória que vigorapara todos os seres vivos: definidos como organica-mente obsoletos, os corpos humanos devem se sub-meter às tiranias (e às delícias) do upgrade cons-tante - tanto do seu hardware corporal, como do seusoftware mental.

A intenção deste artigo é desnaturalizartodas estas questões, assinalando sua raiz históricae inventada, e portanto mutável. Assim como háalgum tempo o mundo era pensado em termosmecânicos, como um grande relógio que podia (edevia) ser azeitado e aperfeiçoado em seu funciona-mento regular, hoje o universo é compreendido emtermos informáticos: como um imenso programa decomputador que pode (e deve) ser eficazmente edi-tado e atualizado. Tais mutações obedecem a umprojeto de sociedade que vigora em boa parte donosso planeta globalizado, e levam a questionar: o que é, hoje, a vida? Uma pergunta fascinante e assustadora, cuja resposta não deveria ser deixadaao acaso.

“UMA VEZ DECIFRADA A

programação genética, o grande sonho consisteem manipular a vida queanima cada organismo:corrigir defeitos, prevenir tendências eefetuar ajustes”

45

Benchmarking

O uso crescente das tecnologias convergentes nas administrações públicas e privadas

revela uma série de aplicações, que agrega agilidade às organizações e redução

de custos. Há casos, no entanto, em que os benefícios extrapolam as questões

econômicas e contemplam aspectos sociais para grandes comunidades.

É o caso da adoção de redes - especialmente sem fio - por administrações municipais,

que promovem a democratização do acesso à informação através de novas tecnolo-

gias, com reflexos diretos na educação, na cultura e na economia dos municípios.

Nesta edição, a experiência da cidade fluminense de Piraí, que já conquistou prêmios

nacionais e internacionais, e da mineira Ouro Preto, que procura, na convergência, a

democratização de acesso à informação, vencendo os desafios impostos por seu

status de patrimônio cultural da humanidade.

sociedade: concebido em 2003,em parceria do Ministério da Edu-cação e Cultura e Intel, o projetopiloto de estruturação de uma redesem fio na cidade, baseada na tec-nologia Wi-Max, é coordenado poruma equipe de representantes daprefeitura municipal de OuroPreto, da Universidade Federal deOuro Preto (UFOP) e do CentroFederal de Educação Tecnológica(Cefet). O projeto conta ainda como apoio da Telemar (provimentoda conexão); o provedor local,Barroco; a Fundação Gorceix; aRNP (rede educação); a Anatel; oMinistério das Comunicações e a

Na cidade mineira de OuroPreto, a cem km de Belo Hori-zonte, a convergência está não sóna aplicação de novas tecnologias,mas também em fatores que fazemda cidade um verdadeiro desafiopara os pesquisadores, como a to-pografia (a cidade está entre mon-tanhas) e sua condição de patri-mônio histórico da humanidade,que restringe a instalação de cabose fios.

Convergem também paraum objetivo maior - acesso à in-formação em locais onde as redestradicionais não chegam - o inte-resse de vários segmentos da

Ouro PretoConvergência no

patrimônio mundial

Em Ouro Preto, laboratório móvel experimental com rede Wi-Max

Projeto Ouro Preto Cidade Digital

46

Secretaria de Estado da Educa-ção/MG.

Segundo um dos coorde-nadores do projeto, o professorAmérico Bernardes, do Departa-mento de Física da UFOP, a cons-trução de uma vontade política,expressa por representantes da co-munidade, é um dos pontos fortesque garantem a continuidade daexperiência.

O projeto inicial previa aconexão de escolas em uma redecomunitária e então sua ligação àinternet. A escolha da cidade deOuro Preto para o projeto, segun-do o professor Américo, reuniuuma série de argumentos: "Trata-sede um realidade ideal para estudaro uso de tecnologia sem fio, devi-do às restrições de uma cidade queé patrimônio histórico. A topogra-fia é um desafio, uma vez que

estamos entre montanhas e háescolas justamente atrás das mon-tanhas; seria necessária a instala-ção de muitas antenas, o que tam-bém não é uma opção ideal",explica.

Ele enumera outros pontosfavoráveis, como a existência, nacidade, da universidade e doCefet, "duas instituições aptas adar suporte, fazer aporte de tec-nologia e capacitar". Do ponto devista sócioeconômico e de taman-ho, Ouro Preto é consideradaainda representativa de muitosmunicípios brasileiros. "É uma ci-dade com aproximadamente 50 milhabitantes e índice de desenvolvi-mento humano na média do país.É portanto semelhante à médiados municípios brasileiros. Se oprojeto dá certo em Ouro Preto, do ponto de vista topográfico e

comercial, dará certo em inúmerosmunicípios. Queremos testar ummodelo que seja reaplicável Brasilafora".

Segundo o professor AméricoBernardes, uma premissa do pro-jeto é que o acesso não é um ser-viço, mas patrimônio comunitário.Outra preocupação é que o negóciotenha sustentabilidade: "Entende-mos que é importante basear-senuma iniciativa comunitária. Háinteresses distintos por parte degrandes e pequenas empresas. Hánichos que podem ser exploradospor empresas locais".

O projeto está estruturadoem três frentes: a educação, com odesenvolvimento de ferramentaseducacionais apoiadas em TIC; aaplicação de um novo modelo denegócios; e a pesquisa em tecnolo-gia sem fio Wi-Max.

ResultadosCom relação ao aspecto tec-

nológico, a equipe do projeto jáconseguiu conexões com alcancede dez km sem visada. Isso querdizer que, apesar das montanhas,foi possível ligar pontos distantessem que antenas estivessemvisíveis mutuamente. Mais oumenos como acontece com a telefo-nia celular. "Temos uma nuvem deconectividade cobrindo a cidadeinteira", comemora.

O projeto piloto de OuroPreto contempla laboratórios emescolas - já são seis concluídos ouem fase de finalização, com pers-pectiva de um total de dez até2006. Nessas primeiras escolasestá todo o ensino médio dacidade, além do de quinta a oitava

séries, reunindo cerca de cinco milalunos. Há ainda departamentosda prefeitura utilizando a redeexperimental, além do Departa-mento de Computação da UFOP,com fins de pesquisa.

Até meados de 2005 o proje-to utilizava uma "Kombi digital" -um laboratório digital móvel, comtrês computadores. "Há experiên-cias com laboratórios montados emcarretas", explica Américo Bernar-des. "A Kombi oferece maior mo-bilidade. Fizemos essa adaptaçãodevido às exigências da cidade,onde não é permitido o tráfego decaminhões. Testamos, enfim, ummodelo que pode chegar a qualquerlugar, independente de condiçõesde estradas, no meio do mato".

Segundo Américo, no Bra-sil há cerca de 90 mil escolas commenos de cem alunos, um poten-cial expressivo para esse tipo delaboratório móvel. "É a possibili-dade de inclusão digital em distri-tos afastados", assegura.

Com relação aos custos deaplicação da tecnologia, o profes-sor Américo explica que a apostado projeto é de que a definição deum padrão e o crescimento do usotornem a tecnologia mais acessí-vel. Ele demonstra o que ocorreucom a rede sem fio Wi-Fi: a insta-lação de um ponto de rede con-vencional custa cerca de R$50. Aum custo de R$100, é possível ainstalação de uma antena e, por-tanto, de uma rede Wi-Fi.

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Piraí Digital:informação é um direito,

tecnologia é o meio

O site da cidade de Piraíconta a história de uma comu-nidade que vive a transformaçãode suas rotinas viabilizada pelatecnologia. É exemplo reconheci-do internacionalmente de aplica-ção da convergência digital naadministração pública, num proje-to que envolveu seus mais de 22mil habitantes no uso intenso derecursos tecnológicos. A cidadeaprendeu a usufruir os benefíciosda revolução digital.

O Piraí Digital baseia-seatualmente em uma rede SHSW -Sistema Híbrido com SuporteWireless - que interliga toda a ci-dade, um total de 400 estações detrabalho, com alcance de até 20km do seu ponto central. A redecontempla todos os prédios daadministração municipal, escolase telecentros, que atendem, emmédia, 220 pessoas por dia.

Segundo o vice-prefeito e se-cretário Municipal de Planejamentoe Ciência e Tecnologia, LuizAntônio da Silva Neves, gestor doprojeto, a convergência das tec-nologias digitais acontece "magní-fica e apressadamente" na chama-da internet em banda larga. "En-tretanto - questiona - a quem servetanta tecnologia? Para entender oque estamos fazendo em Piraí, énecessário compreender que trata-mos a questão da informação e doconhecimento como um direito decidadania. E, portanto, devemoslevar a cada cidadão a oportu-nidade de acesso às tecnologias,bem como o conhecimento neces-sário para que seja capaz de operá-las com autonomia".

Ele explica que em Piraí foinecessária a construção de umarede de comunicação que operasseem todo o território do município

com acesso à internet em bandalarga, disponibilizando telecentrosem cada distrito e diversos termi-nais de acesso comunitário, todosgratuitos. Ao mesmo tempo, cadaescola municipal passou a ter umlaboratório digital. "Em paralelo,são trabalhados com a populaçãoem geral e, em especial, com pro-fessores e alunos, os usos da tec-nologia e de conteúdos digitaisdiversos".

Luiz Neves explica que aPrefeitura vem se estruturando naoferta de serviços, inclusive decomunicação pública usando Vozsobre IP, disponibilizando contade correio eletrônico para cadacidadão e estimulando os micro

Luiz Neves, gestor do projeto

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Pira

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Telecentros atendem cerca de 200 pessoas por dia

Divulgação “Projeto Piraí”

48

e pequenos empresários a atuaremefetivamente em e-commerce."Enfim, as conquistas sociais e econômicas são muitas, e as possibilidades, infinitas, para umasociedade informacional que colo-ca o cidadão e a cidadania no cen-tro das atenções".

O assessor Executivo daSecretaria Municipal de Plane-jamento, Ciência e Tecnologia dePiraí, Fábio Marcelo de Souza eSilva, explica que está em anda-mento estudo de viabilidade paraabertura das escolas nos fins desemana, a fim de atender a comu-nidade no acesso à internet.

Além de serviços e infor-mações dos governos estadual efederal, alguns serviços munici-pais, como segunda via de impos-tos e consulta a processos, já estão

disponíveis para a população. Emandamento também a versão webdo atendimento de Ouvidoria; e aimplantação da Casa do Futuro,iniciativa já em funcionamento emoutras cidades, visando ao desen-volvimento de cursos, empreende-dorismo e artesanato, entre outrasatividades.

Segundo Fábio Souza eSilva, o projeto Piraí Digitalnasceu no Plano Diretor deInformática da cidade, como uma proposta para a área admi-nistrativa, mas a obtenção derecursos do BNDES e o estabe-lecimento de parcerias públicas eprivadas - com universidades,empresas privadas, ONGs e ogoverno do Estado - ampliou seuescopo, contemplando toda acomunidade.

ResultadosO projeto Piraí Digital con-

quistou o reconhecimento na-cional e internacional: ganhou em2001 o Prêmio Gestão Pública eCidadania da Fundação Ford eFGV-SP; foi representado nacúpula mundial da Sociedade daInformação em Genebra, em de-zembro de 2003; foi vencedor doPrêmio Cidades Digitais Latino-americanas, categoria Cidades dePequeno Porte, conferido peloInstituto para a Conectividade nasAméricas e pela Associação His-pano-americana de Centros deInvestigação e Empresas de Telecomunicações, recebendo oprêmio em Bogotá, Colômbia, emjunho de 2004. Foi escolhidopelos autores do livro e-gov.br - apróxima revolução brasileira (SãoPaulo: Financial Times PrenticeHall, 2004) para rece-ber direitos autorais provenien-tes da venda do livro, porque

exemplifica os princípios defendi-dos na obra.

Piraí recebeu ainda o TopSeven Intelligent Communities emNova York, em junho de 2005,destacando-se entre as sete cida-des mais inteligentes do mundo noano de 2005. Recebeu a premia-ção de melhor iniciativa públicano planejamento e desenvolvi-mento de uma região com infra-estrutura tecnológica wireless,concedida pela W2i, organizaçãonorte-americana que estuda aadoção e as melhores práticas nouso da tecnologia sem fio nomundo. A entrega do prêmio foiem outubro, na cidade de SãoFrancisco - Califórnia.

A Prefeitura de Piraí rece-beu em 2005 a chancela daUnesco, pela iniciativa de demo-cratizar o acesso aos meios deinformação e comunicação atravésdas novas tecnologias.

Escolas do município estão conectadas à rede Piraí Digital

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“Pro

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Pira

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Convergência digital é um termo que já parececansado. Ultimamente, muito se tem falado

sobre convergência, suas vantagens e ameaças.Mas, afinal de contas, o que vem a ser essaevolução tecnológica? Faz parte de um modismo?Algo que os fabricantes de tecnologia tradicional-mente criam, desenvolvem e ofertam às operadorasde telecomunicações?

Nos anos 90, essa visão de convergência deredes foi compartilhada por todos os agentes domercado de dados e voz, sem que tal convergênciase mostrasse convincente; pelo contrário, acentuou-se a divergência geral em torno dos padrões earquiteturas a serem adotados. E, hoje, o que fazesse assunto voltar com um interesse tão forte eamplo? Que fatores e agentes envolvidos podemmudar o cenário atual, de forma a ameaçar um mo-delo de negócios que vem sendo utilizado hádécadas? Bom, podemos listar alguns fatores técni-co-comerciais responsáveis por essa tendência deconvergência entre as redes fixas e móveis. Porémtodos são conseqüências de uma inovação que, paraa maioria das empresas do mercado, surge com umconceito disruptivo de seus modelos de negócios:VoIP - a possibilidade de transmitir voz sobre a redeIP da internet.

Michael Porter, um dos ícones da adminis-tração empresarial mundial e chairman do FCC (a

Anatel americana), definiu essa inovação daseguinte forma: "VoIP representa a mais significati-va mudança de paradigma em toda a história dastelecomunicações modernas desde a invenção dotelefone." Segundo Clayton Crhistensen, renomadoprofessor da universidade norte-americana deHarvard, em seu livro O Dilema da Inovação, não éa tecnologia em si que é sustentadora ou disruptiva,mas como ela afeta o modelo de negócios existente.E, neste caso, a comunicação de voz sobre IP põe em xeque o velho modelo de cobrança por pulsotelefônico e está originando um novo tipo deempresa.

Nas informações divulgadas no site oficial daAnatel, existem atualmente 32 operadoras VoIPatuando no Brasil. São novos entrantes, queaproveitam a baixa barreira de entrada para lançarserviços de voz a preços que chegam a 45% abaixodo aplicado no mercado. Acompanhando a evo-lução da qualidade de voz na comunicação VoIP,surgem tecnologias de convergência que possibili-tarão a gerência e a utilização do melhor de cadarede - telefonia fixa, celular e rede de dados via IP- permitindo a total mobilidade do usuário indepen-dentemente do serviço ou aplicativo utilizado.Dentre elas, podemos ressaltar o IMS (IPMultimedia Subsystem) e NGN (Next GenerationNetwork ou rede de próxima geração).

A era da

Marcellus Louroza*

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convergência digital

A dinâmica VoIP revolucionará a indústria da telecomunicação

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Diversos profissionais de telecomunicaçõesconceituam a NGN de maneiras diferentes; noentanto, há um consenso: toda operadora precisa teruma estratégia de nova geração de rede para sobre-viver. As redes de nova geração baseiam-se intrin-secamente em arquiteturas de protocolo IP e esseprotocolo tem se mostrado a forma mais flexível deoferecer serviço de voz, dados e vídeo através deuma mesma rede.

Também não podemos nos esquecer das redesde dados sem fio (WLAN), que complementarão asredes celulares 3G em cobertura e disponibili-

dade de comuni-cação de dados em alta velocidade(Bluetooth, Wi-Fi,Wi-Mesh e Wi-Max).As chamadas ci-dades-digitais sãoexemplos da rápi-da evolução dessecenário, utilizandoas redes de dados

sem fio para acesso à internet e comunicação devoz. Cidades como Filadélfia, nos Estados Unidos,e Taipé, em Taiwan, são pioneiras nesse projeto.

No Brasil existem dois exemplos de reper-cussão internacional: Piraí (Estado do Rio de Janei-ro) e Sud Mennucci (Estado de São Paulo). No casodeste último, a prefeitura disponibilizou acesso gra-tuito à internet via rede sem fio para toda a popu-lação, promovendo uma até então inexistente di-nâmica na economia e no cotidiano dessa pequenacidade de 7.500 habitantes. Essa iniciativa demons-tra ser possível efetuar uma inclusão digital deforma simples, barata e eficiente.

A crescente demanda por serviços multimí-dia - talvez esta seja a palavra-chave - tanto noambiente residencial como no corporativo, viabilizauma extensa gama de novas aplicações e oportu-nidades de crescimento. Da convergência de redesresultam serviços integrados de voz, dados e mul-timídia, oferecendo ao usuário a conveniência do melhor meio de comunicação adequado ao

conteúdo. O que também beneficia as operadoras,que poderão balancear e gerir de forma mais efi-ciente todos os recursos disponíveis de sua infra-estrutura.

Do outro lado das redes está a importante econtínua evolução dos aparelhos celulares, que per-mitirão a rápida concretização desse cenário de con-vergência digital: aparelhos com maior capacidadede memória, melhor resolução de tela, comunicaçãoVoIP, videocâmeras digitais megapixels, soluçõesde e-mails e acesso banda larga. Da mesma forma,novos conteúdos e aplicações multimídia atenderãoa uma nova demanda por elevada flexibilidade emobilidade, tais quais vídeo on demand, TV intera-tiva, jogos interativos on-line, telemedicina, confe-rência web, mobile meeting, compartilhamento devídeo, etc.

Questões importantes, como regulamen-tação, portabilidade numérica, penetração de bandalarga e interoperabilidade exercerão grandeimpacto na velocidade de assimilação desse novomodelo de negócios. A convergência de redes eserviços multimídia traz para os operadores de co-municações (fixos, móveis, TV paga e VoIP)oportunidades e ameaças que dependerão de suasvisões estratégicas de negócios. Algumas, comoSBC Comm, Telemar e BRT, já entenderam o reca-do e iniciaram a unificação de suas redes, serviçose parcerias. A telefonia, como tradicionalmente aconhecemos, nunca mais será a mesma.

* Marcellus Louroza Engenheiro de telecomunicações, com longa

experiência em telefonia celular e fixa.

“DA CONVERGÊNCIA DE

redes resultam serviçosintegrados de voz, dados e multimída, oferecendo ao usuário aconveniência do melhormeio de comunicaçãoadequado ao conteúdo”

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Na atualidade, não seria exagero dizer que aquase totalidade das práticas de leitura e pro-

dução de escrita está ligada à utilização de com-putadores. Afora certas formas teimosas e resis-tentes do manuscrito - grafites, recados ocasionaisao correr da caneta, mensagens de amor fatal ras-cunhadas com batom no espelho de um banheiro,tatuagens? - a maioria de nossas letras passa, maiscedo ou mais tarde, pela digitalização informática.

É verdade que a história da escrita e da leitu-ra sempre esteve vinculada às modificações de seussuportes materiais (papiros, códices, livros impres-sos, etc.). Nesse sentido, a convergência das práti-cas da linguagem com a tecnologia informáticaapresentaria apenas um novo estágio evolutivo, quepoderíamos denominar de hipertextual. Este possuipelo menos seis vantagens práticas, já amplamentedifundidas: a edição eletrônica (que baixa o custodas publicações e conta com ferramentas úteiscomo a busca por palavras-chave); os links (quepermitem incorporar vários textos diferentes e tam-bém imagens ou sons); as redes (que servem paraatualizar permanentemente as pesquisas e pro-movem aproximações interdisciplinares e coletivassobre um mesmo trabalho); as aplicações pedagó-gicas (tanto no apoio à docência como na explo-ração e interação dos alunos com os textos); a pos-sibilidade de uma circulação realmente massiva(em teoria, irrestrita e instantânea graças à internet);

e a redução do espaço para a armazenagem dainformação (até magnitudes que fariam parecergigantes os cidadãos liliputianos).

A arte literária não se deixou abalar por essatendência de modificações tecnológicas da palavra,que começou a vislumbrar já em meados do séculoXX. Logo apropriou-se delas com a imaginação eas aproveitou em benefício da criação ficcional. Aolongo de várias décadas, a região digital incipientefoi alargando seus domínios, partindo do gênero daficção-científica (por exemplo, no bem lembradocomputador HAL do romance 2001 Odisséia doEspaço, de Arthur Clarke) para invadir a literatura"séria", atingindo nos últimos anos uma onipresen-ça verificável em romances tão diversos quanto Opêndulo de Foucault, do famoso Umberto Eco, ouSonhos digitais, do boliviano Edmundo Paz Soldán.De fato, a quantidade de obras literárias que temati-zam a convergência digital já é da ordem dos infini-tos numeráveis. Não são essas, porém, as obras quelevaram (nem saberiam levar) o ritmo da harmoniadigital no tempo adequado, pois todas elas apenas"mostram" o universo digital e não o "utilizam".

Ao contrário, herdeiras do gesto vanguardistada transgressão e da surpresa coruscante, as hiper-ficções (ou "hipertextos ficcionais") surgiram nofinal da década de 1980. A obra inaugural dessegênero que usava muitas das novas possibilidadesdo digital foi Afternoon, a story, de Michael Joyce,

Existe a

Rodrigo Labriola*

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literatura digital?

Ascenso e declínio dos sonhos da ficção em hipertexto

52

cuja primeira versão data de 1987. Composto paraser lido mediante um programa chamadoStoryspace na plataforma MacIntosh, ainda é a obramais conhecida desse tipo de engendro literário-di-gital. Trata-se de uma narrativa fragmentária queaproveita os links para criar múltiplos enredossimultâneos. Com o advento da internet e as novaspossibilidades inauguradas pela rede global,Afternoon iria se acrescentando com renovadosleitores-autores, até sua morte por esquecimento.

Outras hiperficçõesdessa época vira-ram lenda, como omítico Agrippa: ABook of the Dead(1992), do roman-cista WilliamGibson, que aliásfoi o inventor dotermo "ciberespa-ço" em seu livro

Neuromancer; curiosamente, ninguém se lembramais de como era seu Agrippa, pois o texto seautodeletava após cada leitura. No âmbito da críticaliterária, a publicação do livro Hypertext (1992), deGeorge Landow, foi um ícone que tentava rela-cionar essas novas formas da literatura com ensaís-tas como Roland Barthes ou Jacques Derrida.

Gostaria certamente de explicar quem foi ogeneral Agripa no século de Augusto na RomaImperial (há mais de 2000 anos), ou bem qual é aimportância política de Barthes e Derrida para osestudos humanísticos (na América Imperial, queagora padecemos); no entanto, receio que nãoadiantaria. Apesar do ar high-tech que a literaturaganhara no suporte digital (entre as quais estãoagora na moda os weblogs e fotologs), mesmo queesses textos destinados ao esquecimento não cos-tumem seduzir leitores apaixonados, o importante éque essas formas extremas do literário, inspiradasna convergência digital (que antes estava nascendo

e hoje é hegemônica) tinham um âmago paranóicocom relação às formas mutantes do hipertexto queutilizavam. Condenados como estamos à analógicaambigüidade da língua, cada vez que interatuamoscom um texto eletrônico, nas suas profundezas es-taria sempre operando um outro código invisível,diferente (e talvez incompatível) com a linguagem,e cujo leitor não seria humano.

Estranho? Nem tanto: trata-se da consciênciaindolente de que qualquer coisa que escrevamos ouleiamos irá se transformar (ou foi antes transforma-da) em elétrons. Pois todo o código da língua e suaestetização literária mostra apenas a superfície plá-cida ou tempestuosa de um oceano, cujos abismosestão formados por uns e zeros organizados numalinguagem-máquina e destinados à leitura certa deum Céu Digital, um mundo cujo leitor informáticoé o Estado, e no qual a Verdade existe: Um ou Zero,não há nuanças (indeterminações livres), nem se-riam necessárias... Assim, é pouco o que a literatu-ra tem para contribuir à convergência digital. Enada de realmente novo (nem sequer leitores)surgiu nos últimos anos, depois daquela primeiraparanóia hipertextual - apenas alguns simpósios desábios e financiamentos para centros culturais.

Ainda bem que continuam a proliferar, poraí, os espelhos dos banheiros, os corpos das tatua-gens e os amores fatais! Clarice Lispector já sabiadisso na manhã do 13 de julho de 1968. Com umafita de papel perfurada na mão, a grande escritorabrasileira escreveu: “Mas o amor é mais misteriosodo que o cérebro eletrônico e no entanto já ouseifalar de amor. É timidamente, é audaciosamente,que ouso falar sobre o mundo”.*1

* Rodrigo Labriola Graduado em Letras na Universidade de

Buenos Aires, mestre pela UFF e doutorando em Literatura Comparada pela UERJ.

Bolsista da FAPERJ.

*1 Lispector, Clarice. A descoberta do mundo. RJ: Francisco Alves, 1992. p. 116.

“A OBRA INAUGURAL DO

gênero de ficção emhipertexto foi Afternoon,a story de MichaelJoyce, cuja primeira versão data de 1987.Hoje já é obsoleta eimpossível de ser lida”

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Embora a Educação a Distância (EAD), noBrasil, tenha surgido em 1904 em sua forma

mais primitiva, com as Escolas Internacionais erepresentação no Brasil oferecendo cursos pagospor correspondência por meio de anúncios em jor-nais do Rio de Janeiro, temos ainda a sensação desua adolescência nos dias atuais, dadas a complexi-dade e as possibilidades de sua proposta. Haja vistao desenvolvimento acelerado das tecnologias deinformação e comunicação (TIC), a virtualidade di-gital e o impacto dessa evolução sobre as possibili-dades educacionais decorrentes.

Mesmo acanhada, naquela época a EADdava sinais dos seus desafios e convidava os maisincrédulos a experimentar uma nova forma de ensi-nar e aprender sem a presença física do professor.Em 1923, com a criação do Rádio Educativo, porEdgard Roquete Pinto, surgem os primeiros sinaisda mediação tecnológica, oferecendo cursos de por-tuguês, literatura e outros, mas ainda no campo dastecnologias da comunicação.

Credita-se a essa iniciativa um grande passona proposta da educação fora da sala de aula. Já em1941, surge a ousadia dos cursos profissionalizantesoferecidos pelo Instituto Universal Brasileiro, tam-bém na modalidade de ensino por correspondência.Foi um espanto: como acreditar que alguém seria ca-paz de se profissionalizar, sem o professor e a sala deaula, na modalidade a distância e recebendo peloscorreios o material necessário para estudar? O IUBexperimentava, assim, os primeiros passos na quebrados paradigmas educacionais brasileiros, demons-trando de certa forma uma nova possibilidade e a

competência do brasileiro em lidar com essa proposta.Grandes eram as dificuldades, se considerar-

mos a precariedade da logística dos correios, dotransporte brasileiro da época e o tempo gasto entreo registro da apostila para o destinatário e o seurecebimento. Em 2003, durante o meu trabalho depesquisa na iniciação científica do CentroUniversitário Newton Paiva: "EAD: resistência ecriação de uma visão portadora de sentido", tiveoportunidade de entrevistar um funcionário aposen-tado dos correios em Divinópolis e confesso quefiquei surpreso com o que ouvi:

"Em 1962, fiz o curso de Radiotelegrafiapelo Instituto e recebia não só os equipamen-tos, como também o material de leitura. Asapostilas demoravam em torno de 20 a 35dias para chegar até a gente. Isso de certaforma atrapalhava, porque o curso demoravamais do que o necessário, mas não interferiano resultado da aprendizagem. As dúvidaseram respondidas por meio de cartas e confir-madas por telegramas". Observa-se que, nesse cenário, o rompimen-

to da barreira da sala de aula era difícil, mas nãoimpossível, e que as dificuldades da época nãoimpediam que essa nova forma de aprender tomasseum novo rumo.

Pois bem, veio então, na década de 70, achamada era do "otimismo" brasileiro e a EADsoube pegar carona. De 1971 a 1974, o Ministérioda Educação (MEC) lança o Supletivo PrimeiroGrau - Fase I, programa radiofônico de ensinosupletivo. Dessa forma, preparava-se para, no final

EAD e a

Enilton Ferreira Rocha*

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convergência digital

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do século passado, apresentar-se como uma alterna-tiva de reconhecimento público. Surgiram então osnovos modelos para o ensino a distância e, dessavez, com os primeiros sinais da mediação tecnoló-gica na aprendizagem. Dentre eles, destaco o Tele-curso Segundo Grau, uma parceria entre aFundação Roberto Marinho e a Fundação PadreAnchieta, que disponibilizava cursos de preparaçãode candidatos aos exames oficiais de supletivo, aoestilo do antigo Madureza Colegial, pela progra-mação regular da TV Globo e TV Cultura.

Novas dimensões e a convergência digital

Com o avanço das tecnologias de comuni-cação e informação, a mediação tecnológica e aconvergência entre elas passaram a ser estudadas e

observadas como agrande oportunida-de de implemen-tação e difusão daproposta da EADno Brasil. Daí, osurgimento de dis-sertações de mes-trado e pesquisasnessa área com oobjetivo de avaliaras diversas formas

e modelos de aderência ao cenário educacionalbrasileiro.

Nas minhas andanças e pesquisas pela EAD,pude observar que existem duas realidades nessaproposta: como permitir que o sujeito da aprendiza-gem pudesse se integrar e usufruir dessa novaforma de estudar e reaprender; e como as tecnolo-gias educacionais poderiam encurtar esse caminho.

Observa-se que a convergência digital deserviços, redes virtuais e equipamentos ligados àsociedade da informação e aos "internautas" final-mente tornou-se uma realidade do nosso cotidiano.

Segundo especialistas do Instituto de Pesqui-sas Tecnológicas (IPT):

"As TIC ganharão em inteligência, miniatu-rização, segurança, rapidez e facilidade de

utilização, de modo a prover o apoio tec-nológico ao setor produtivo, dar suporte àconcepção e à execução de políticas públicase aprimorar e disponibilizar seu acervo tec-nológico."Tenho a convicção de que na EAD os conteú-

dos virtuais e o software de interação e colaboraçãoevoluirão para formatos multimídia tridimensionais.

A convergência digital na mediação daaprendizagem tem demonstrado ser um caminhosem volta. Entre janeiro de 2004 e janeiro de 2005,coordenei o planejamento, execução e gestão deresultados do curso de pós-graduação em GestãoFiscal, na modalidade a distância, para 52 fun-cionários de várias prefeituras dos Estados deMinas, Rio e São Paulo, cujas tecnologias se inte-gravam e se ajustavam ao modelo blended deaprendizagem.

Utilizamos no modelo misto os recursos tec-nológicos da internet, DVD, Ambiente Virtual deAprendizagem (AVA) e material impresso, integra-dos às atividades dos encontros presenciais. Temosoutras experiências brasileiras de sucesso, com omix da internet, DVD, teleconferência, videocon-ferência e material impresso. Vejo também commuito otimismo a chegada da TV digital e Web TV,pois, além de incrementar a dialógica na relaçãoprofessor (tutor) e aluno (participante) virtuais,introduzirão o modelo de colaboração síncrona naaprendizagem virtual pela TV.

Do ponto de vista social, essa união tec-nológica em prol da modernidade na educaçãoassusta. No Brasil, notadamente, ainda perdura adesconfiança, aliada ao fantasma da exclusão digi-tal. Não acredito que essa situação nos deixe foradesse novo cenário, mas o que me preocupa é ogrande contingente de pobreza e as classes menosfavorecidas que poderiam não participar da rededigital. Porém, não são objetos de discussão aquialgumas considerações sobre o papel do Estado nainversão desses valores.

Observa-se que o Estado e o cidadão têm se encontrado no guichê virtual durante as relaçõesde cunho social, legal, do trabalho, cultural e educacional, oficializando uma nova era entre a transparência do poder público e a cidadania.

“É PRECISO INVESTIR NO

sujeito dessa novasociedade, de modo apermitir que a con-vergência digital, doponto de vista educa-cional, atinja o seu prin-cipal objetivo: estabele-cer e socializar a EAD”

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Reforça-se, dessa forma, a conveniência e a con-tinuidade do e-gov na proposta de modernidade daadministração pública.

É preciso investir no sujeito dessa novasociedade, de modo a permitir que a convergênciadigital, do ponto de vista educacional, atinja o seuprincipal objetivo: estabelecer e socializar a EADnão só como uma nova modalidade de estudar ereaprender, mas, principalmente, como um veículopara levar o conhecimento aos quatro cantos do mundo, sem restrições, rompendo as barreiras da distância, das diferenças políticas, sociais eculturais. Só assim poderei entender a dimensão e arelevância dos benefícios do avanço tecnológico esua diversidade na mediação da aprendizagem em suas várias instâncias. Não consigo perceber apossibilidade de massificação da virtualidade naeducação sem o conforto tecnológico dos seusatores.

Entendo que a convergência digital, repre-sentada pela união das multimídias e multimeios,tem contribuído significativamente para o sucesso

da EAD no Brasil e no mundo; mas, embora estejaatrás dessa resposta há mais de oito anos, aindatenho dúvidas sobre a sua eficácia. Isso em decor-rência das desigualdades entre o estrutural e osujeito na maioria dos modelos educacionais paraEAD existentes no Brasil.

Foi para mim motivo de muita alegria parti-cipar dessa oportunidade, deixando aqui um extratodo meu pensamento, da minha vivência e da expe-riência sobre a relação entre a EAD e a convergên-cia digital.

* Enilton Ferreira Rocha Administrador de Empresas, com especializaçãolato sensu em Docência para o Ensino Superior,

Administração Financeira e Análise de Sistemas deInformação. Pesquisador em Educação a Distância.

No Centro Universitário Newton Paiva, é professor e consultor em Educação a Distância.

Na Prodemge, é responsável pelaSuperintendência da Universidade Corporativa.

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A televisão no Brasil incorpo-ra o modelo americano, baseadona geração de receitas opera-cionais a partir do bolo da mídiapublicitária, que hoje se encontraestagnada em 1% do PIB.

Com o início de suas opera-ções a partir dos anos 50, coinci-dindo com o das transmissõesregulares nos padrões de 525 ou625 linhas nos países do chamadoprimeiro mundo, a televisão

brasileira tinha o seguinte perfil,seis anos após o início das trans-missões:1- As três emissoras de televisão

de São Paulo já arrecadavammais que todas as emissorasde rádio.

2- A televisão já dispunha de 1,5milhão de telespectadores noBrasil.

3- Como ainda não existiamequipamentos para gravação

de vídeo, toda a programaçãoera ao vivo, incluída a propa-ganda comercial.Os seriados, filmes de longametragem e alguns comer-ciais eram exibidos em pelí-culas de 16mm.

4- A programação de televisãoera eminentemente regional(o país ainda não dispunha derede nacional de microon-das).

O desenvolvimento das tecnologias e equipamentos de televisão e asTVEs neste contexto

Luiz Meireles

Radialista, engenheiro eletricista pela PUC MG, projetista de equipamentos daindústria de rádio e televisão, chefe de manutenção da Rede Globo Minas, Engenheiro da indústria de alto vácuo, coordenador técnico de implantação e diretor técnico da Rede Minas de Televisão, projetista e coordenador de implantação de sistemas de televisão.

RESUMO

O artigo traça um histórico do desenvolvimento da televisão no Brasil, comênfase no aspecto das tecnologias adotadas, contextualizando o cenáriobrasileiro no panorama mundial. É mostrada a evolução tecnológica aplicadaà produção e à veiculação na TV, apoiada no crescimento da indústria da infor-mática, e a revolução no cenário das telecomunicações provocada pela adoçãoda tecnologia digital. O autor situa a criação e a evolução das TVs Educativase sua adesão às novas tecnologias. Traça ainda uma perspectiva para o desen-volvimento da TV digital no Brasil, fazendo uma análise comparativa com osmodelos adotados em outros países.

Júlia

Mag

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5- Toda a infra-estrutura técnicaera de procedência estran-geira, fabricada sob enco-menda, com dispositivos detubos de vácuo, de baixa con-fiabilidade e alto custo deimplantação, operação e ma-nutenção.

Esse perfil vai se modificarde forma significativa na segundametade da década de 60, a partirda utilização intensiva do vi-deoteipe na TV, da inauguraçãoda Rede Nacional de Microon-das, do sistema de transmissãovia satélite e do programa definanciamento para a compra dereceptores de TV. Tais projetosforam fomentados pelo GovernoFederal com o objetivo de im-plantar o Programa Nacional deTelecomunicações e incentivar odesenvolvimento da indústrialocal de televisores.

Foi exatamente nessa épocaque ficou definido o arcabouçodo modelo de televisão atual doBrasil e que também surgiram asemissoras classificadas como"educativas".

Dessas emissoras, a primeirafoi a TV Cultura, canal 2 de SãoPaulo, que inicialmente faziaparte dos Diários Associados.Contava com infra-estrutura técni-ca reduzidíssima e finalizou suasoperações em janeiro de 1968.

A criação da Fundação Cen-tro Brasileiro de Televisão Edu-cativa (FCBTVE), em 1967, davao respaldo do governo para osurgimento de canais com pro-gramação voltada para a edu-cação e a cultura.

A Fundação Padre Anchieta,órgão gestor da TV Cultura, criada pelo Governo do Estado de São Paulo, com dotação orçamentária e autonomia admi-nistrativa, iniciava a nova fase da TV Cultura, que começousuas transmissões em junho de1969.

Nessa época, a tecnologia deequipamentos começava a suamigração de dispositivos de tubode vácuo para eletrônica de esta-do sólido.

Não existiam ainda os equi-pamentos ou padrões de equipa-mentos que viriam a ser adotadosem escala mundial, como o queaconteceu mais tarde, nas déca-das de 80 e 90.

A grande questão era que osinvestimentos demandados para aconstituição de centros de pro-dução de televisão com capaci-dade de produção de conteúdo doponto de vista qualitativo e quan-titativo significavam alguns mi-lhões de dólares americanos.

Só para se ter uma idéia, ascâmeras de televisão, denomi-nadas portáteis, categoria profis-sional à época, eram constituídasde um módulo, denominadocabeça da câmera, e uma unidadeadicional (processador), sendovendidas no mercado pela quan-tia "irrisória" de US$ 75 mil.

Como então compatibilizar oalto investimento requerido coma capacidade de faturamento dasemissoras comerciais? E quantoàs Educativas?

Vários fatores contribuírampara a viabilização do negócio de

televisão do ponto de vista deinvestimentos:1. A implantação da Rede Na-

cional de Microondas. 2. O parque de televisores insta-

lados. Em 1970, o Brasil já contavacom quatro milhões de larescom TV (25 milhões de teles-pectadores), resultado dasações do governo nos anos 60.

3. Os investimentos dos empre-sários da área de TV broad-casting em equipamentos jáutilizados nos Estados Uni-dos. Esses equipamentos fo-ram reformados no Brasil etiveram uma utilização poste-rior de pelo menos mais dezanos.

4. O início da fabricação noBrasil de equipamentos bási-cos utilizados em sistemas detelevisão por empresários daindústria eletrônica.

5. A utilização de equipamentosde tecnologias alternativas,no caso da TV Educativa,nessa época e até mesmo re-centemente. Como exemplodesse caso, podemos citar autilização do formatoUmatic, ao invés do Betacam,e assim por diante.

6. A regulamentação da for-mação de Rede Nacional deTelevisão pelo Programa Na-cional de Telecomunicações.A criação de redes nacionais

e a legislação que limita em cincoo número de emissoras que cadaconcessionário pode ter levaramesses concessionários a buscarparcerias com empresários do

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ramo em outros Estados, com oobjetivo de aumentar a sua cober-tura, formando assim a categoriade emissoras afiliadas. Trata-sede emissoras que mantêm oarcabouço de sua programaçãofundamentado no de uma redenacional, gerando uma partereduzida de programação local emantendo a mesma identidadevisual e compromisso de progra-mação da emissora "mãe".

A necessidade de investimen-tos por parte dessas emissorasafiliadas, considerando-se o bai-xo índice de programação local,resumia-se ao essencial paraveicular o intervalo comercial, aprogramação jornalística e unspoucos programas locais.

Essa situação é a que vem seapresentando desde a segundametade da década de 70, explora-da intensivamente pela RedeGlobo de Televisão, que criou ochamado "Padrão Globo deQualidade", e que detém 70% dobolo publicitário.

Até o início da segunda me-tade dos anos 70, as matérias dejornalismo e os comerciais detelevisão eram produzidos e vei-culados através de filmes de16mm.

Nas cabeças de rede dasgrandes geradoras nacionais, aexibição de comerciais começoua ser efetuada através de sistemasautomatizados de videoteipes,construídos especificamente paraessa aplicação.

Devido a seu elevado custo,tais sistemas só se justificavamem estações de porte nacional e

sua tecnologia básica era a mes-ma usada nas máquinas de vi-deoteipe convencionais, que uti-lizavam fitas de duas polegadasde largura.

Nessa época, só se falava emvídeo composto e nem se cogita-va em vídeo componente, isto é,formato de vídeo intermediáriopara a formação do vídeo com-posto.

Foi nessa ocasião que foilançado no Brasil, pela Sony, oformato Umatic como alternativade substituição do filme de 16mmpara aplicações de jornalismo.

Quando falamos em alternati-va para jornalismo, isso significaque a tecnologia não é recomen-dada para outras aplicações emque se requer gerações de múlti-plas cópias.

A tecnologia Umatic foimuito utilizada para aplicaçõesde jornalismo e mesmo para apli-cações de exibição de comerciaisem emissoras geradoras fora oeixo Rio-São Paulo, sede das ge-radoras nacionais.

O início dos anos 80 é marca-do pela introdução do formato degravação analógica em vídeocomponente, que viria a se tornaro padrão de gravação broadcastem todo o mundo.

No Brasil, esse formato foiadotado para aplicações de jorna-lismo e produção pelas principaiscabeças de rede nacionais, pelasprodutoras de vídeo convencio-nais e como mídia de distribuiçãode produções "HI END".

Na área de pós-produção,com efeitos especiais, a utilização

de equipamentos dedicados, ba-seados em circuitos lógicos se-qüenciais (estruturas de hardwareprogramáveis), davam o diferen-cial dos grandes centros de pro-dução.

Foi nessa época que surgiramos Digital Video Effects (DVEs),como, por exemplo, os fabrica-dos pela empresa inglesaQuantel, e o ADO da Ampex.

O surgimento de novas tec-nologias digitais, o desenvolvi-mento e a adaptação dos com-putadores à indústria de televisãoprovocavam uma rápida obso-lescência dos equipamentos em-pregados para efeitos digitais devídeo.

A segunda metade dos anos80 foi marcada pelo lançamentodo primeiro equipamento quefazia gravação digital de áudio evídeo. Estávamos então entrandona era da "televisão numérica",como dizem os europeus.

Nessa época, esses equipa-mentos de gravação digital deáudio e vídeo tinham custos proi-bitivos e sua utilização no Brasilficou restrita a aplicações muitoespecíficas.

O grande volume das aplica-ções nas emissoras de televisão eprodutoras convencionais ficavapor conta das tecnologias analó-gicas (Betacam, Umatic, HIEight, Super VHS).

Gravar sinais de áudio evídeo no formato digital significaimpressionar a mídia com nú-meros binários obtidos a partir desinais analógicos, isto é, varia-ções contínuas no tempo de tensão

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elétrica em função das varia-ções das ondas de pressão ou daintensidade da cor e da luz.

Essa técnica estava prestes arevolucionar o cenário das teleco-municações e, especialmente, oda indústria da televisão no mun-do.

Captar, gravar e transmitirsinais no formato digital signifi-ca:a) Melhorar a qualidade sinal/

ruído do produto final.b) Viabilizar múltiplas gerações

de cópias sem degradaçãosignificativa do material.

c) Utilizar a mídia de formamais eficiente através da eli-minação de redundânciasespaço-temporais e de fre-qüência.

d) Utilização mais eficiente doespectro radioelétrico.

e) Melhora da autonomia eportabilidade dos equipamen-tos de recepção.Em 1987, nos Estados Uni-

dos, a Federal CommunicationsCommission (FCC), atendendo a uma demanda de 58 emis-soras de televisão locais, inicia assuas pesquisas sobre TV avança-da.

Essas pesquisas culminaramcom a definição do padrão ameri-cano de televisão digital terrestre,que foi sancionado pela FCC emdezembro de 1996.

O projeto, que regulamentavaum período de transmissão si-multânea de 15 anos, sofreu umarevisão no ano seguinte, bai-xando esse tempo para oito

anos. Essa iniciativa foi umamedida de proteção do segmentode radiodifusão, em virtude daprobabilidade de outros serviçosdigitais se implantarem muitorapidamente, gerando prejuízopara a mídia televisão.

Esse projeto, que durou de1987 a 1999, desde a sua con-cepção até a sua consolidação,consumiu recursos estimados emUS$ 500 bilhões.

Na Europa, em 1993, foi constituído o consórcio DVB,composto por 240 membros emtodo o mundo, com o propósitoda definição dos diversos padrõesde transmissão digital (DVB-C,DVB-DSNG, DVB-S, DVB-T eoutros).

Todas as normas relativas aesses padrões foram publicadasem 98/99.

Cada um desses padrões de-fine as regras para as diversasmodalidades de transmissão. Co-mo exemplo, pode-se citar o pa-drão DVB-DSNG, que define aestrutura do quadro, a codifi-cação do canal, e o tipo de modu-lação utilizada para a transmissãodigital via satélite, o tipo de captação para jornalismo e outrascontribuições.

Da mesma forma, o DVB-Tapresenta as mesmas definiçõespara transmissão digital terrestre.

Na década de 90, a indústriade equipamentos para emissorasde televisão continuava os seusdesenvolvimentos em novas tec-nologias de gravação de áudio evídeo com compressão (forma de

utilização da mídia de modo maiseficaz), desenvolvimento esseque iria culminar no surgimentodos formatos de gravação deáudio e vídeo tipo DV, DVCAM,D V C P R O , D V C P R O 5 0 ,DVCPRO100, Digital S, DigitalBetacam, Betacam SX, BetacamIMX.

Enquanto isso, o desenvol-vimento vertiginoso da indús-tria de informática gerava tec-nologias que passaram a influirdiretamente na estrutura dasemissoras de televisão, reduzindoseus custos de implantação e via-bilizando recursos de edição epós-produção antes só disponí-veis em grandes centros de pro-dução.

A proposta de emissoras detelevisão inteiramente digitais jáse tornou uma realidade e, noBrasil, já temos implantados e emoperação vários canais comer-ciais, educativos e de notíciascom os seus sistemas de estúdiosparcialmente ou totalmente digi-tais.

Desde 1998, grande parte dasemissoras brasileiras vem desen-volvendo o aumento de suacobertura territorial, utilizandosistemas de transmissão digitalvia satélite que usam o padrãoDVB.

Em Belo Horizonte, cincodas seis concessionárias da faixade VHF, uma da faixa de UHF,uma TV do Legislativo e uma de cabo fazem regularmente suas transmissões digitais viasatélite.

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A televisão digital terrestre

O título sugere o conjunto detécnicas utilizadas para procederà transmissão aberta de sons eimagens usando o espectro radio-elétrico, através do uso de técni-cas de modulação digital.

Como vimos anteriormente,simultaneamente ao desenvolvi-mento das tecnologias digitaispara captação e gravação digitalde áudio e vídeo em mídias óticase magnéticas, foram desenvolvi-dos projetos de televisão digitalterrestre que culminaram nospadrões ATSC (AdvancedTelevision System Committee),DVB-T (Digital Video BroadcastTerrestrial) e o ISDB (IntegratedSystem Digital Broadcasting),nos Estados Unidos, Europa eJapão, respectivamente.

O padrão chinês encontra-seem desenvolvimento e cincomodelos já se encontram emtestes. Existe a probabilidade daadoção na China do padrão ATSCmodificado.

Cada um destes sistemas ex-plora algumas das característicasproporcionadas pela transmissãoda televisão digital terrestre.

O padrão ATSC foi desenvol-vido com o intuito de suportartransmissões de televisão de altadefinição (tela no formato de16x9).

Utiliza o tipo de modula-ção denominado 8-VSB (modu-lação de oito níveis utilizando téc-nica de banda lateral vestigial),ideal para recepção com antenas

externas e em ambientes de pou-co ruído impulsivo (interferên-cias eletromagnéticas provocadaspor sistemas de ignição de auto-móveis, motores elétricos, des-cargas elétricas atmosféricas,etc.), não sendo adequado parafuncionar em operações móveis ecom antenas internas.

O padrão DVB-T prioriza arecepção de sinais com antenasinternas que, através da modu-lação COFDM (Coded OrtogonalFrequency Division Multiplex),apresenta ótimo resultado.

Na Europa, privilegia-se amultiprogramação (transmissãode múltiplos canais de definiçãopadrão - SDTV) com o propósitode suprir a demanda reprimidapor mais emissoras.

O espaço radioelétrico é um meio escasso e a tecnologiade transmissão de televisão digital terrestre abriu a possibili-dade de se alocar até quatrocanais de televisão no mesmoespaço ocupado por um canalanalógico.

Outro fator importante naescolha da multiprogramação é aaparente falta de receptividade domercado europeu aos aparelhosde telas grandes.

O padrão DVB-T, além dospaíses europeus, foi adotado pelaAustrália e por Cingapura.

O padrão japonês (ISDB) éuma derivação do padrão DVB-Teuropeu, utilizando inclusive omesmo tipo de modulação.

O grande diferencial dessepadrão é a questão da recepçãomóvel, o ponto fraco do padrãoeuropeu.

A avaliação brasileira

Com o objetivo de avaliar ossistemas de TV digital até entãoexistentes no mundo, em 1998 foicelebrado um convênio envol-vendo a Universidade Mackenzie,a Associação Brasileira deEmissoras de Rádio e Televisão(Abert) e a Sociedade de En-genharia de Televisão (SET).

Foram desenvolvidos testesde laboratório e de campo dostrês sistemas e emitido relatóriofinal, enviado à Anatel como sub-sídio para decisão do sistema deTV Digital a ser adotado no Bra-sil, sob o ponto de vista técnico.

A recomendação técnica pro-posta pelo grupo de trabalhoSET-Abert pela utilização dopadrão ISDB-T, as referendas aoDVB-T e o apontamento do ATSCcomo o padrão menos adequadoàs condições de nosso país rever-teram uma situação que parecia jádefinida pela Argentina.

Vários países da América La-tina esperam a solução brasileirapara a escolha de seus padrões detelevisão de próxima geração.

A escolha do padrão, nessecaso, não depende somente daexcelência técnica, passando por questões de ordem econô-mica e política. Além do que, a

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possibilidade de um padrão bra-sileiro não representa escala deprodução no contexto mundial enão reduziria significativamenteas transferências de royalties,

pois as tecnologias, base do mo-delo de transmissão digital ter-restre, continuarão presentes.

As vantagens tecnológicasapresentadas por um ou outro dos

padrões podem ser apenas tem-porárias, sendo que o país estáfazendo a escolha de um sistemade transmissão para os próximos50 anos.

Dimensão dos mercados de DTV terrestre já definidos

A tabela a seguir mostra a di-mensão dos mercados já definidos.

Os dados do nosso país foramconsiderados somente para finsde comparação.

Deve-se lembrar que o alto

conteúdo tecnológico existentenos set top boxes (receptores edecodificadores de DTV) e nosaparelhos de DTV totalmenteintegrados, necessita de altos volumes de produção para a

amortização dos custos depesquisa e desenvolvimento.

A adoção de um padrão porum número cada vez maior depaíses pode viabilizar a sua con-solidação.

Número atualde TVs(Milhões)

Lares com TV(Milhões)

PaísesPadrão

ATSCEUA, Canadá, Coréia do Sul 125 257

Taiwan* e Argentina* 15 18

DVBPaíses da União Européia, Austrália,Nova Zelândia, Cingapura e Índia

205 270

ISDB Japão 45 100

A definir Brasil 38 53

* Revisão de padrão possível Fonte: Fundação CPqD / 2001

Estimativa do volume de negócios

Estima-se que o negócio deDTV no Brasil irá movimentar,nos próximos 15 anos, durante operíodo de transmissão simultâ-nea, aproximadamente US$ 100bilhões, decorrentes de:

- Pagamento de royalties- Fabricação de set-top-

boxes e receptores de DTV- Implantação dos sistemas

de transmissão de DTV- Implantação de novas

unidades geradoras de conteúdo

A análise do mercado de tele-visores do Brasil (85% dos apare-lhos têm tela entre 14 e 21 polega-das) sugere que a grande deman-da inicial ficará por conta dos settop boxes (receptores decodifica-dores integrados), que fazeminterface imediata com esses tele-visores, sendo portanto a melhoropção de investimento para oconsumidor de baixa renda.

Dependendo do porte e layoutda emissora, deverão ser investidosaté US$ 4,5 milhões per capitapara a implantação da transmissãodigital (estúdios, controle mestre,torres, transmissores, etc.).

Somente para a instalação desistemas de transmissão digitalterrestre deverão ser investidosaté US$ 2 bilhões, consideran-do-se as outorgas de geradoras eretransmissoras atuais.

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Os desafios da sociedade brasileirafrente à convergência digital

Antônio Sérgio Martins Mello

Economista. Comendador da Ordem de Rio Branco e da Ordem do MéritoForte São Joaquim do Governo do Estado de Roraima. Especializado emQualidade Total pela Union of Japanese Scientists and Engineers (Juce),Tóquio, Japão, 1991. Secretário do Desenvolvimento da Produção no Minis-tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, tendo exercido, nomesmo Ministério, os cargos de Diretor do Departamento de Setores Inten-sivos em Capital e Tecnologia, de 2001 a 2004, Superintendente da ZonaFranca Manaus (Suframa), de 1999 a 2001 e de Secretário de PolíticaIndustrial, de 1993 a 1999.

RESUMO

O artigo analisa o papel da tecnologia como elemento transformador dasociedade e sua importância para o desenvolvimento de uma nação no âmbitoeconômico e social. Apresenta alguns pontos da agenda tecnológica de outrospaíses e a experiência brasileira em políticas públicas de desenvolvimento dosetor produtivo nas áreas relacionadas com a cadeia produtiva de convergênciadigital, em especial a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior.Aborda a convergência digital como um novo paradigma para a indústria doconhecimento e aponta temas para discussão sobre uma política para o setor.

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cir

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O papel da tecnologia como elemento transformador da sociedade

A tecnologia é fator determi-nante da competitividade de em-presas de todos os setores produ-tivos e razão da sua própria subsistência. A tecnologia dainformação (e o processo de digi-talização da sociedade) e o pro-missor campo da exploração sus-tentável da biodiversidade via

biotecnologia são exemplos deáreas que, por sua sinergia comos demais setores da economia,tornam-se a melhor alternativa deum projeto de desenvolvimentode uma sociedade.

A nanotecnologia tambémmerece destaque. Consideradacomo a tecnologia voltada para

uma escala dimensional abaixode 100 nm, engloba uma amplavariedade de áreas de atuação,tais como: nanoeletrônica; indús-tria química (em especial, catali-sadores); sensores (tanto paraaplicações eletrônicas como bio-lógicas e em medicina); entregacontrolada de princípios ativos

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(drogas, fertilizantes, defensivosagrícolas); etc.

Não há dúvidas que os avan-ços científicos proporcionadospela tecnologia da informaçãovão gradualmente moldando asociedade contemporânea, modi-ficando o cotidiano das pessoas esuas interações sociais. Dessaforma, políticas ativas nessa áreadestacam-se como importantesinstrumentos no processo de ca-pacitação econômica das socie-dades atualmente.

A tecnologia confere maiorautonomia e oportunidades deprogresso. Hoje, a internet e asnovas tecnologias da informaçãotêm servido para estabelecernovos valores e crenças, uma vezque democratizam as oportunida-des de comunicação, formação einformação.

A verdade é que, com o pro-cesso de digitalização da socie-dade experimentado nas últimasdécadas, torna-se impossível imaginá-la sem os avanços obti-dos pela interação entre comuni-cação instantânea, baixo custo,

entretenimento, informação e for-mação proporcionados.

Na prática, os cidadãos cons-cientizaram-se de que só integra-rão uma sociedade desenvolvidase forem educados no mundo dainformática e tiverem acesso acomputadores, internet, celularese aos produtos oferecidos pelasnovas tecnologias. Na indústria(mesmo em setores mais tradi-cionais da economia, como aagropecuária), muito pouco, nofuturo, será realizado sem essesrecursos. A formulação de novosmedicamentos, novos equipa-mentos médicos, o aumento daprodutividade agrícola, tudo passa pelo desenvolvimento daeletrônica e pelo aumento dacapacidade de processamento eda transmissão de dados.

As oportunidades oferecidaspelo agronegócio brasileiro, des-de novos métodos de fertilizaçãodo solo e aplicação de defensivosagrícolas, passando pelo senso-riamento e controle de pragas,pelo monitoramento e controle donível de poluentes, até a entrega

do produto ao consumidor final,são significativas.

Pesquisadores da Petrobras eda Universidade Federal de SãoCarlos anunciaram, em 2004,como a nanotecnologia está au-xiliando um ambicioso projeto dedesenvolvimento sustentável naplanície amazônica.

O objetivo da empresa é evi-tar qualquer tipo de impactobiológico, social e econômico naregião e preparar a reação paracasos extremos, como o de umderrame de óleo. Com essa meta,um grupo de 40 pesquisadoresdesenvolveu biossensores em na-noescala para medir diversosprocessos na biosfera local. Elesdevem detectar mudanças como acheia do rio Solimões que, emmeses como junho e julho, sobeaté 14 metros. A idéia, inédita,usa as reações químicas de umaproteína e um sistema desen-volvido especialmente para regis-trar as alterações nessas molécu-las. A previsão é que, em 2008, osistema esteja operando a todovapor.

Experiência internacional

A história recente demonstraque países que optaram por in-vestir maciçamente na digitali-zação da sociedade apresentaram,em pouco tempo, excelentes ní-veis de desenvolvimento.

Levantamento realizado peloInstituto Brasil para Convergên-cia Digital (IBCD), acerca dasagendas de tecnologia de alguns

países, mostra que a preocupaçãocom tecnologia está presente empraticamente todos os países,sejam desenvolvidos ou não, eem qualquer continente.

IrlandaAs exportações de software e

serviços já alcançam 5% do totaldas exportações do país, empregan-

do cerca de 21 mil pessoas e ge-rando receitas de U$ 7,4 bilhões.

Grã-BretanhaBusca colocar a tecnologia

como centro dos negócios. Paraisso, pretende transformar os ser-viços públicos, estimular e am-pliar o uso de tecnologias digitaisde maior qualidade e segurança.

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Hoje, por exemplo, cerca de 50% da população têm acesso àinternet em casa, dos quais 25%em banda larga; e 74% dos servi-ços governamentais estão habili-tados eletronicamente.

ÍndiaTem por objetivo alcançar a

convergência de tecnologia deinformação, comunicação e mí-dia; implementar um plano na-cional de governo eletrônico eproporcionar melhorias na infra-estrutura de comunicação. Teminvestido fortemente na prestaçãode serviços de TI, sendo o destinoda maior parte dos serviços deterceirização das empresas norte-americanas. As exportações de

software já chegam a US$ 12 bi-lhões, sendo que estão trabalhan-do para aumentar o valor agrega-do dos serviços prestados.

ChinaBusca aliar baixo custo e boa

oferta de mão-de-obra, alto cres-cimento econômico e estabilida-de política para atrair e desenvol-ver tecnologias. Investe fortementena educação para a formação tec-nológica, bem como oferecebenefícios fiscais para empresasnascentes.

ChileConta com 34 iniciativas nas

áreas de acesso, educação e trei-namento, governo eletrônico,

empresas, tecnologia da informa-ção e estrutura legal e de regula-mentação. Pretende, entre outrasiniciativas, ampliar a utilizaçãoda internet e a conectividade dosserviços públicos.

CanadáEstão investindo para melho-

rar a infra-estrutura de comunica-ção e o acesso à internet. O focoé na pesquisa e no desenvolvi-mento em telecomunicações.

África do SulDesde 2003 conta com um

sistema de entrega de declaraçãode imposto de renda pela internete está disponibilizando outros ser-viços públicos por via eletrônica.

A experiência brasileira

O governo lançou a PolíticaIndustrial, Tecnológica e de Co-mércio Exterior (PITCE), que in-corpora em suas prioridades oschamados setores do conheci-mento como semicondutores, bio-tecnologia e fármacos e medica-mentos. O propósito é criar osrequisitos necessários para que sepossa viabilizar a fabricação, noBrasil, de produtos que hoje res-pondem pelas transformações naatividade produtiva.

A Política Industrial conferenovo alento às perspectivas de opaís dispor de base industrial dealta tecnologia. Encerra-se a fasede questionamento sobre as opçõesestratégicas. O momento agora éde se estabelecer parcerias que

permitam ao país trilhar um cami-nho na direção do fortalecimentode suas instituições acadêmicas eempresariais, bem como possadespertar o interesse de investi-dores internacionais. Há, por par-te de todos, consciência quanto àsdificuldades em alcançar resulta-dos de curto prazo. O êxito naimplementação desses objetivosdemandará um esforço nacional.

Os estudos que precederam olançamento da política indicaramalguns pré-requisitos: o fortaleci-mento do capital intelectual atra-vés de maciços investimentos na formação de recursoshumanos e, no caso das opçõesestratégicas, a simplificação dasregras vigentes para entrada e

saída de mercadorias e o estabe-lecimento de isonomia no trata-mento fiscal e tributário. Esses,entre outros, são procedimentosque estão sendo trabalhados pelogoverno brasileiro, nessa fase deimplementação da política.

Em relação à capacitação, oêxito da política está condiciona-do ao esforço do país na for-mação do capital intelectual.Quando se compara o acúmulo deconhecimento nos países líderes,bem como o número de seuspesquisadores, cria-se uma pers-pectiva pessimista, dado que oacervo intelectual do Brasil é,ainda, bastante tímido.

Por fim, ainda que o desafioseja ousado, o Brasil precisa

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superar o paradigma da insufi-ciência tecnológica e pavimentarum caminho pelo qual venha aocupar um papel de destaque nocenário internacional.

A experiência acumulada nosúltimos anos mostra que a indús-tria do complexo eletrônico1 émuito sensível às políticas públi-cas. No período da reserva demercado, o Brasil ficou à mar-gem do processo de evoluçãodessa indústria no mundo. Aprimeira Lei de Informática, quese seguiu a esse período, foi a res-posta do governo ao movimentode desnacionalização decorrenteda abertura comercial do inícioda década de 90 e atraiu para opaís os principais fabricantes deprodutos finais. Hoje, o consumi-dor brasileiro tem à sua dispo-sição bens que agregam a mesmatecnologia existente nos merca-dos dos países mais desenvolvi-dos.

Os maiores desafios nessesetor são: (i) zerar o déficit dabalança comercial do setor atra-vés da substituição das impor-tações e da transformação do paísem plataforma exportadora, co-mo ocorreu com o telefone celu-lar; (ii) aumentar a competitivi-dade das indústrias do setor viaadensamento da cadeia produtivae capacitação tecnológica e,(iii), disseminar o processo de

digitalização da sociedade, popu-larizando as oportunidades decomunicação, informação e for-mação.

Às indústrias do complexoeletrônico estão associados umrápido ritmo de inovação e umelevado investimento em pes-quisa e desenvolvimento (P&D),o que gera crescentes oportu-nidades de empregos qualifica-dos, tanto na indústria quanto nainfra-estrutura de P&D exigida pa-ra suportar a atividade produtiva.

Em semicondutores, as açõesde mobilização realizadas pelogoverno serviram para inserir oBrasil no mapa de possíveislocais para receber investimen-tos. E os resultados já começam aaparecer com o anúncio dos in-vestimentos da Smart ModularTechnologies, em São Paulo, quejá abriu processo seletivo para acontratação de novos funcioná-rios e da criação do pólo de mi-croeletrônica em Minas Gerais,onde está sendo discutida a cons-trução de uma unidade que, aofinal, contemplará todas as fasesde produção, inclusive a difusão.

No caso de políticas de inclu-são digital, o governo anunciourecentemente o Programa Com-putador para Todos, que retirou o PIS e a Cofins dos microcom-putadores com valor inferior a R$ 2,5 mil.

Além disso, está em dis-cussão a proposta originada noMIT de um programa interna-cional de educação focado naidéia de um computador portátilpor aluno. Propõe-se o desen-volvimento de uma solução tec-nológica de baixo custo que aten-da as necessidades dos alunos. OBrasil pode se credenciar para serfornecedor de partes ou de mon-tagem final desse produto parafornecimento aos mercados inter-no e externo.

No caso da indústria de soft-ware, trata-se de setor de maiorcrescimento mundial: estima-seque o mercado de software passede US$ 300 bilhões, em 2003,para US$ 900 bilhões, em 2008.

A contratação de serviçosoutsourcing/offshoring como umtodo (hardware, infra-estrutura,aplicativos e processos de negó-cios) deve superar US$ 1 trilhãojá em 2006; segundo a IDC, em 2001 atingiu US$ 712 bi-lhões.

O Brasil já dispõe de amplomercado e produção sofisticada:o mercado brasileiro é o sétimodo mundo (US$ 7,7 bilhões em2001) e estamos no estado da arteem vários segmentos, como ofinanceiro e bancário (ex.: Sis-tema Brasileiro de Pagamentos,Sistemas Integrados de Acompa-nhamento Financeiro (Siaf), etc.),

1 No complexo eletrônico, encontram-se agrupados, por sua base tecnológica comum, os segmentos de informática (hardware e software), bens de consumo (áudio e vídeo), telecomunicações e componentes.

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negócios eletrônicos, gestãoempresarial e automação de ser-viços públicos (ex.: Imposto deRenda). O setor possui cerca de5.400 empresas e emprega 158mil pessoas.

A infra-estrutura de teleco-municações brasileira é excelentee a incidência do custo Brasil nosetor é relativamente baixa, tor-nando-o amplamente competitivona produção mundial, inclusivede soluções completas, em que ovalor agregado é maior.

As empresas nacionais apre-sentam um alto grau de flexibili-dade e criatividade, destacando-seem diversos nichos de mercado.A sofisticação dos mercados-alvoda indústria de software temservido como indutora de solu-ções de elevada complexidade,valor adicionado e qualidade.

A meta mobilizadora daPITCE é o aumento das expor-tações brasileiras de software eserviços para US$ 2 bilhões anuais, em 2007. Entre as açõesjá implementadas, ou em dis-cussão, para a concretizaçãodessa meta, estão:

Novo Prosoft (BNDES): pro-grama para o desenvolvimento daindústria nacional de software eserviços correlatos. Janeiro de2005: 42 operações com um mon-tante de financiamento de R$ 194milhões.

Repes - Regime Especial deTributação para a Plataformade Exportação de Serviços deTecnologia da Informação: tempor objetivo possibilitar ao Brasil

maior inserção nas exportações deserviços de tecnologia da informa-ção (TI), com preços compatíveiscom os oferecidos no mercado in-ternacional, criando conseqüente-mente estímulo à geração de divi-sas, incentivos à exportação deserviços com valor agregado e altatecnologia, suporte a programasde inclusão digital e facilitação doacesso das pequenas e médiasempresas ao mercado de expor-tação de serviços de TI. Propostaeditada em medida provisória eem discussão no Congresso Na-cional para sua conversão em lei.

O Repes contempla a sus-pensão das contribuições doPIS/Pasep, da Cofins e do Im-posto de Importação, na aquisiçãono mercado interno ou na impor-tação de produtos incorporadosao ativo imobilizado, destinadosao desenvolvimento, no país, desoftware e de serviços de tecnolo-gia da informação para exportação,quando adquiridos ou importadosdiretamente pelos beneficiáriosdo Repes, e incorporados ao seuativo imobilizado ou para comer-cialização no mercado externo.

Além disso, propõe-se que asuspensão dos tributos referentesa aquisições de bens do ativoimobilizado se converta em isen-ção após o decurso do prazo decinco anos, contado da data daocorrência do respectivo fato ge-rador, ou no caso do bem serdestruído ou reexportado.

O governo redesenhou as prioridades de investimentos dosfundos tecnológicos setoriais,

tendo a Finep lançado vários editais previstos no Programa deSoftware.

O governo também apóia a Sociedade Brasscom na exe-cução de um amplo e detalhadoestudo internacional sobre osetor, em especial para com-preender as oportunidades para ooutsourcing, divulgar as poten-cialidades do Brasil e unir as em-presas nacionais em seu esforçoexportador.

O Instituto Nacional deMetrologia, Normalização eQualidade Industrial (Inmetro),em conjunto com o Ministério doDesenvolvimento, Indústria eComércio Exterior (MDIC) e oMinistério da Ciência e Tecno-logia (MCT), lidera um processoque irá definir as bases para o sis-tema de certificação da qualidadedo software, com a definição desuas guias de implementação(aderente ao modelo CMMI e àsnormas ISO), em processo apoia-do pela Financiadora de Estudose Projetos (Finep). A implemen-tação do programa em 240 em-presas contará com investimentosdo MDIC.

Com as medidas que estãosendo tomadas pode-se esperaruma injeção de ânimo no setor desoftware brasileiro. O crescimen-to desse setor deve obedecer auma curva exponencial, parecidacom a que se observa hoje em re-lação às empresas exportadoras.

O permanente desafio lança-do pelo governo nos últimosanos, para que as empresas

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busquem o mercado externo,começa a produzir seus efeitos de forma mais significativa nosdias de hoje (em 2005, atingimosUS$ 100 bilhões de exportações).O desempenho das exporta-ções surpreende os especialistas,tanto em volume como em sustentabilidade. A elevaçãoconstante das taxas de juros e a apreciação do câmbio nãoimpediram o crescimento das

exportações.No caso da indústria de soft-

ware, espera-se que os casos desucesso de conquista de mercadoexterno por algumas empresasque começam a aparecer, venhaminfluenciar outros empreende-dores a buscar o mesmo caminho.

Por isso, a meta mobilizadorade US$ 2 bilhões não pode servista como fantasia, mas comofactível (previsão compartilhada

por alguns empresários do setor).Algumas multinacionais já es-

tão trazendo para o país parte sig-nificativa de seus negócios na áreade software (Novartis, IBM) e essesexemplos serão seguidos. Atual-mente, HSBC, Johnson&Johnsone Rhodia estão organizando seuscentros globais de desenvolvimen-to e o Brasil deve concorrer paraatrair esses investimentos.

Um novo paradigma: a convergência tecnológica

Entende-se convergência di-gital, do ponto de vista empresa-rial, como o ambiente de merca-do e de políticas públicas que fazcom que as indústrias tenham deatuar juntas, criando um ecossis-tema industrial de novo tipoassentado numa convergênciatecnológica que proporciona,como conseqüência, a passagemdos processos analógicos paradigitais e oferece à sociedadeprodutos, serviços e formas orga-nizativas não experimentadas.

O desenvolvimento da cadeiaprodutiva da convergência tec-nológica necessita da elaboraçãode um bom diagnóstico queaponte as vantagens comparati-vas locais e as deficiências quedevem ser alvo de uma açãoestatal para sua superação. É pre-ciso identificar os fluxos interna-cionais de capital e comércio,pois a cadeia produtiva de con-vergência digital deve ser consi-derada em sua dimensão interna-cional.

Para tal, é importante a inte-gração entre empresários, traba-lhadores, governo e CongressoNacional para solução dos pro-blemas de cada cadeia produtivae estabelecimento de ações emetas, configurando uma políticapara o desenvolvimento do com-plexo eletrônico como um todo.

As discussões iniciais com osetor apontam como pontos a se-rem aprofundados: políticas dedesenvolvimento econômico-so-cial centradas em convergênciadigital; capacitação tecnológica;marco regulatório e PropriedadeIntelectual e Industrial; inserçãoexterna; e apoio à cadeia de con-vergência digital, nos pontos derelação com a PITCE, como ele-mentos sinérgicos da sociedadedo conhecimento.

Políticas de desenvolvimentoeconômico-social centradasem convergência digital

- Desenvolver ações para

estimular a geração de conteúdos que envolvam asvárias mídias.

- Programa Brasileiro de TVDigital: estimular a produ-ção de conteúdos, bem comoa de aplicativos. A intera-tividade é o ponto forte damudança para o sistema deTV digital e excelenteoportunidade de aproveita-mento da convergência di-gital.

- Expansão do número detelecentros.

O Telecentro de Informação eNegócios é um ambiente virtualconcebido para oferecer condi-ções de acesso às novas tecnolo-gias de informação e comunica-ção, em especial à internet.Insere-se como mais uma inicia-tiva para difundir a utilização detecnologias digitais pela popu-lação.

Nesse ambiente, o empresá-rio e a população em geral po-derão participar de programas de

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capacitação e treinamento, obterinformações sobre temas comocomércio exterior, empreende-dorismo, comércio eletrônico eoportunidades de negócios, tec-nologia e inovação, financiamen-to e créditos, etc.

- Promoção e incentivo doaprendizado da língua in-glesa, em nível de profi-ciência, para melhorar oacesso dos cidadãos às tec-nologias digitais, e qualifi-car os profissionais queatuam na área. Requisitoindispensável no caso deprestação de serviços para oexterior.

- Demais programas de in-clusão digital, como o Pro-grama Um Computador porAluno, em discussão nogoverno.

Capacitação Tecnológica

A capacitação tecnológicadas empresas também é requisitoobrigatório para a manutenção doparque industrial da cadeia pro-dutiva. O domínio da tecnologiaé a palavra chave da competitivi-dade dessa indústria, e investirem P&D&I é o instrumento paraa sua obtenção. A sua ausênciagera dependência de fornecedo-res externos e é um limite aocrescimento da empresa local.

- Promover a formação derecursos humanos nas áreasde conhecimento que con-centrem as tendências deevolução tecnológica.

- Desenvolver tecnologialocal, reduzindo a depen-dência externa e, ainda, odéficit na balança de servi-ços do setor (ex.: pagamen-to de royalties).

- Desenvolver articulaçõesjunto aos fundos tecnológi-cos que permitam canalizarfontes de recursos para oatendimento de demandasempresariais.

Marco regulatório ePropriedade Intelectual eIndustrial

- Utilização do poder decompra do governo.

- Avaliar os efeitos da atualsistemática de concessão dodireito à propriedade inte-lectual no desenvolvimentoda capacitação tecnológicanacional.

- Programas de certificaçãono caso de softwares (dis-cussão acerca da criação ounão de uma certificaçãonacional).

- Aprovação da lei de pro-totipagem de circuitos im-pressos.

- Estabelecer uma agendalegislativa para aprimoraros instrumentos normativosque regulam o ecossistemade convergência digital.

Inserção externa

- Diagnosticar os fatores queinibem uma maior partici-

pação do Brasil no fluxo in-ternacional de comércio dacadeia produtiva, propormedidas para superaçãodesses obstáculos e paratransformar o país em pla-taforma exportadora de pro-dutos e serviços envolvidoscom a convergência digital.Acompanhar a implementa-ção dessas medidas e moni-torar a eficácia das mesmas.

- Construir, com o setor pro-dutivo, propostas de nego-ciação visando a subsidiar aparticipação brasileira nasnegociações internacionais:Mercosul, Alca, UE e PactoAndino. Deve-se buscar ga-rantir as condições de ma-nutenção e crescimento dosinvestimentos locais, bemcomo viabilizar exporta-ções para os mercados par-ticipantes dos acordos fir-mados pelo Brasil.

- Promoção da marca Brasil.

Apoio à cadeia de convergência digital, nospontos de relação com aPitce, como elementossinérgicos da sociedade doconhecimento

- Nesse caso, deve-se buscara maior integração da Pitce com a cadeia produti-va de convergência digital,com destaque para as açõesrelacionadas com os setoresde software e semicon-dutores.

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Um país é feito de pessoas econhecimento. O sucesso na rea-lização de um projeto para oBrasil está na otimização dessesrecursos; nesse sentido, percebe-se a importância da tecnologia dainformação como instrumentotransformador da sociedade.

A convergência digital pro-porciona oportunidades tanto naotimização de produtos e proces-sos tradicionais como na criaçãode novos negócios. A grandequestão da atualidade está emcomo preparar as sociedades paraenfrentar os desafios impostospor um mundo globalizado e cadavez mais dependente do conheci-mento.

É preciso trabalhar a questãoda educação (tanto em termos da

formação de recursos humanosqualificados quanto no incentivoà pesquisa, desenvolvimento einovação) e a questão da políticade comércio exterior; superar asdificuldades regulatórias e au-mentar a competitividade dossetores produtivos, como formade expandir a capacidade dedesenvolvimento da cadeia pro-dutiva da convergência digital.

Por fim, é preciso investirmaciçamente para aproveitar to-da essa sinergia em prol de políti-cas de inclusão social. Devemostrabalhar para preparar as gera-ções futuras para enfrentar osdesafios que se apresentam eoferecer caminhos para a mini-mização das desigualdades so-ciais.

Conclusão

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A convergência digital e a interpenetração de mercados nas tecnologias da informação

João Antonio Zuffo

Professor titular da Escola Politécnica da USP e Coordenador Geral do Labo-ratório de Sistemas Integráveis da USP. Autor de 19 livros, dentre eles "ASociedade e a Economia no Novo Milênio", tema de uma série de livrosrecém-publicados, abordando as transformações em que a sociedade estámergulhada em função do desenvolvimento das tecnologias da informação.

RESUMO

O autor contextualiza historicamente a evolução da tecnologia da informação,reflete sobre o aumento da complexidade dos circuitos integrados e a conver-gência de diferentes tecnologias e suas implicações mercadológicas e sociais.Descreve a evolução da telefonia fixa, o surgimento da telefonia celular, acomunicação sem fio na computação, a digitalização aplicada à fotografia, eaos equipamentos de áudio e TV, destacando o novo ritmo imposto aos ciclostecnológicos e impactos dessas inovações na sociedade.

Div

ulga

ção

O que discutiremos no pre-sente artigo certamente criará umcerto sentimento de apreensão namaior parte das pessoas, resul-tante da crescente e gigantescavelocidade da evolução tecnoló-gica e de suas conseqüênciassociais e econômicas em nossocotidiano. Todavia, observamosque as coisas ligadas à vida e àinteligência, não só à tecnologia,tendem a desenvolver-se e acrescer exponencialmente de talforma que, atualmente, atingimosuma dinâmica de mudanças e um

nível informativo tão acentuadosque apenas são limitados pelacapacidade do cérebro humanoem absorvê-los e pela adaptabili-dade dos seres humanos às novascondições de vivência, ou mesmode sobrevivência. Esse comporta-mento obcecativo dos seres vi-vos, e da própria inteligência, équase uma reação ao comporta-mento geral das coisas inani-madas que, inexoravelmente,obedecem à segunda lei da ter-modinâmica, caminhando paraum estado de máxima entropia.

Focalizando essa dinâmicaevolutiva no objeto do presentetrabalho, há pelo menos dez anosque especialistas em ciências etecnologias da informação (TIs)prevêem, face à crescente com-plexidade dos circuitos integra-dos, a convergência das dife-rentes tecnologias, no sentido emque redes de comunicação de da-dos, computadores, radiodifusãoe televisão difusora, radiocomu-nicação, telefonia fixa e celular,sistemas de gravação e reprodu-ção de vídeo e som tenderiam, e

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tendem, a serem combinadas ecolocadas em um único, oumesmo distribuídas, em poucostipos de equipamentos. Essavisão, um tanto simplista porestar baseada em apenas umaárea das TIs, tornou-se não sórealidade, como vem trazendoimplicações mercadológicas esociais que dificilmente pode-riam ser previstas, há poucotempo, pelos mais argutos econo-mistas e sociólogos.

Ampliemos um pouco mais ofoco da evolução tecnológicanum pequeno período histórico,entre dez e quinze anos do passa-do recente, e notemos a rápidaocupação do mercado por produ-tos resultantes de diferentes tec-nologias. Na área de telefonia, atelefonia fixa evoluiu no sentidoda digitalização generalizada dascentrais telefônicas, melhorandoa qualidade de serviço e ofere-cendo Rede Digital de ServiçosIntegrados (RDSI, ou ISDN, eminglês) em faixa larga, possibili-tando internet faixa larga a seususuários. Concomitantemente,assistimos nos últimos 15 anos,não só no Brasil mas em todo omundo, o crescimento espetacu-lar da telefonia celular, que vempassando pelas sucessivas gera-ções (1ª, 2ª, 2,5ª e 3ª) e se tornoutotalmente digital, com crescentefaixa passante, prometendo acurto prazo uma plêiade de novosserviços, incluindo internet evídeo móvel, além do acesso asítios da teia de âmbito mundial(web) pela voz. Os telefones digi-tais fundiram-se com câmeras

fotográficas e de vídeo e tendem,cada vez mais, a serem sensíveisa comando de voz.

Um outro aspecto operacionalfundamental ligado à telefoniamóvel, que fugiu aos planeja-dores do sistema, é que o telefonemóvel atende a uma pessoa, ouseja, é um dispositivo de naturezapessoal, contrariamente ao tele-fone fixo, que atende um local.Daí o fato de algumas cidades, emesmo países, terem um númerode telefones celulares muitosuperior ao de telefones fixos esuperior ao número de seus habi-tantes. No Brasil, no início deoutubro de 2005, a Anatel anun-ciou que temos ativados mais de80 milhões de celulares, mais doque o dobro do número de tele-fones fixos. Em Brasília, já exis-tem cerca de 1,2 telefone celularper capita.

Na mesma linha evolutiva, naárea de computação, a mobili-dade e a comunicação sem fio(wireless) têm sido os grandesagentes motivadores da inovaçãonos últimos cinco anos. Os pa-drões de comunicação sem fio,como Home PNA, Blue-Tooth eWi-Fi, já estão todos estabeleci-dos e consolidados, sendo rapida-mente implementados e aperfei-çoados. Esses padrões operam,quer pela utilização das própriaslinhas de alimentação de potên-cia; quer pela utilização de raiosinfravermelhos; quer pela utiliza-ção de sistemas de microondas,na faixa de gigahertz.

Já é comum no exterior, eestá se tornando comum em

nosso país, a utilização de redeslocais sem fio para acesso à internet, inclusive redes abertas eserviços de acesso a cibercafésvirtuais, prevalecendo hoje ospadrões Wi-Fi, IEEE 802.11b e802.11g, que permitem alcancesde até 200m. Já está em fase deprototipagem, e para o final de2006 estará disponível no merca-do internacional, o padrão Wi-FiIEEE 802.11n, o qual permitealcance de até 500m e faixa pas-sante muito mais ampla, per-mitindo, por exemplo, em redessem fio domésticas, tanto TV dealta definição ou vídeo de altaqualidade, como também umanova plêiade de serviços de aces-so e atendimento de comuni-cações sem fio em faixa larga.

Porém, as coisas não parampor aqui. O padrão Wi-Max ouIEEE 802.16 de comunicaçãosem fio visa, sobretudo, à áreacorporativa e opera em frequên-cias acima de 10 GHz, permitin-do, desse modo, faixas de pas-santes muito amplas, abrangendoum alcance de até um raio de 50km da antena, raio este muitomaior do que o atingido pela tele-fonia celular convencional. NoBrasil, já existem instalados, emfase experimental, três pontos Wi-Max em Brasília, Rio deJaneiro e Curitiba.

No caso de Brasília, a antenaWi-Max cobre uma extensa área,relativamente pouco povoada, emque a telefonia fixa seria anti-econômica e a telefonia móvelexigiria um número elevado deantenas, a um custo também

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elevado. Não devemos nos es-quecer que o número de antenascom determinado raio de alcancecresce com o quadrado da área aser coberta. O que prevaleceránesse confronto tecnológico? Atecnologia Wi-Max ou a quartageração de telefonia celular?Haverá espaço de mercado paraessa quarta geração?

A combinação das tecnolo-gias de microeletrônica com astecnologias de fabricação demicrodispositivos, os microssen-sores, microatuadores e micro enanofotônica estão produzindo, eproduzirão, uma nova geração de equipamentos, utensílios eobjetos que, combinados com acomunicação sem fio e com o

conceito de mobilidade, darão umimenso impulso inovador, não sóao setor industrial, mas a toda asociedade, tornando as tecnolo-gias da informação extremamen-te pervasivas, desde as aplicaçõesno campo até as aplicações emnosso cotidiano.

Como fruto disso, podemosdestacar uma outra tecnologia, deutilização maciça pela população,que surgiu nos últimos dez anos eque se tornou dominante a partirde 2001: a fotografia digital.Hoje é possível a aquisiçãodessas máquinas digitais, desdesistemas de altíssima definição,com 16 ou 24 megapontéis(megapixels) em cada foto, atémáquinas fotográficas digitais de

baixo custo, inferior a R$ 50,com resolução VGA (640 x 480pontéis). As pastilhas (chips)dessas máquinas atingem a capa-cidade de armazenamento de atéquatro gigabytes, permitindo queesses dispositivos operem inclu-sive como câmeras de vídeo.

Outrossim, considerando aárea de áudio, os iPods de áudioestão substituindo rapidamenteos próprios discos compactos(CDs) e já estão sendo lançadosdispositivos equivalentes em vídeocom crescente capacidade dememória, que poderão, até 2010,substituir os próprios Discos deVídeo Digital (DVDs), inclusivearmazenando centenas de horasde vídeo de alta definição.

MP3Compact Disc

(CD)Long-Play

(LP)Disco de 78

rotações

Capacidadecinco minutos em

cada lado20 minutos em

cada ladoUma hora e20 minutos

Até mil horas

Qualidade degravação

Ruim Regular Boa Ótima

Período áureo 1910-1955 1955-1985 1985-2010 Início em 2003

Duração 45 anos 30 anos 25 anos Não se sabe

Figura 1 - Os aparelhos de CD devem ser substituídos pelos reprodutores de MP3 num prazo de apenascinco anos, pois as tecnologias de áudio demoram cada vez menos tempo para serem trocadas.

Ciclos tecnológicos cada vez mais curtos - O fim do CD

Paralelamente ao aumento dacapacidade de armazenamento, te-mos observado também um gran-de desenvolvimento das técnicasde compressão/descompressão

(CODECs) de áudio e de vídeo.Essas técnicas operam através daeliminação de redundâncias, per-mitindo faixas de compressãocada vez mais significativas.

A rigor, essas técnicas podem serclassificadas em duas grandescategorias:

a) Técnicas que admitempequenas perdas, como

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é o caso do MP-3 emáudio.

b) Técnicas que não admitemperdas, restaurando a plenaqualidade do som ou dovídeo originais.

No caso de vídeo, estão setornando prevalentes em nívelinternacional, para TV digital, osmétodos de compressão utiliza-dos dentro do padrão MPEG-4(H.264), que não só permitemsignificativa compressão de ar-quivos, como também permitemsignificativa redução da taxa detransmissão de bits.

Destacamos, todavia, que aspossibilidades de compressão dearquivos de áudio e de vídeo,com pequenas perdas (lossies) ousem perdas, não param por aqui.Existem sistemas experimentaisem nível de laboratório, queatravés da eliminação total dasredundâncias espaciais e tempo-rais das imagens de vídeo, con-seguem reduzir a faixa de trans-missão de um vídeo conven-cional a uns meros quilohertz, àcusta, obviamente, de uma quan-tidade maior de processamentono equipamento receptor.

É preciso ter presente, tam-bém, que estamos em frente a umnovo e gigantesco salto de quali-dade em relação aos próprios com-putadores pessoais e aos microspessoais portáteis. Na verdade, apartir de 2006, os micros pessoaise laptops sofrerão uma ampliaçãode potência de processamento ecomunicação muito acentuadas,com a introdução dos modelosmultinúcleos (multicore) de 64

bits e com a introdução genera-lizada dos dutos PCI express, quepodem permitir, no limite, umataxa de comunicação com o exte-rior de 16 Gbps (16 bilhões debits por segundo), ampliando emum fator de dez sua capacidadede processamento e revolucio-nando a área de computação grá-fica e de imagens. Máquinas comessa capacidade de processamen-to permitirão, sem margem dedúvida, operações muito maiscomplexas de recuperação rápidaem tempo real de imagens quetenham sido armazenadas comalta taxa de compressão, além depermitirem também sistemasneuronais complexos operandoem tempo real, tornando, porexemplo, muito mais precisa erobusta a comunicação homem-máquina pela voz, bem como ainterpretação de fonemas, inde-pendentemente do locutor. Emum prazo de cinco anos, podemospensar em tradutores de voz emtempo real, de um idioma para ooutro, com taxas de erros razoa-velmente baixas, possibilitandoteleconferências com pessoas emdiferentes países, falando suaslínguas nativas.

Há poucas semanas, o gover-no brasileiro anunciou a escolhado sistema norte-americano derádio digital que, compatível comos atuais rádio AM e FM, permitedobrar o número de estações,passando a transmissão AM a terqualidade de transmissão FM e asestações FM qualidade de trans-missão de CD, desde que existamos receptores digitais adequados.

A dificuldade maior desse siste-ma é justamente esta: a necessi-dade de aquisição de rádios digi-tais compatíveis para garantia dequalidade e recebimento de men-sagens, embora esteja asseguradae mantida a qualidade atual e acompatibilidade com receptoresatualmente existentes no merca-do. Aperfeiçoamentos futuros nas taxas de compressão poderãonão só ampliar a qualidade mastambém possibilitar maior núme-ro ainda de estações transmisso-ras.

Aos poucos, a televisão digi-tal está se estabelecendo em nívelplanetário e os padrões de TVdigital estão, atualmente, sendoescolhidos e fixados no Brasil.No sistema brasileiro, pretende-se estabelecer compatibilidadecom os demais sistemas existen-tes (japonês, americano, europeue eventual chinês) e permitir quea atual faixa passante de seisMHz possibilite várias opções:ou uma estação de TV digital dealta definição, ou duas de defini-ção média ou quatro de definiçãoconvencional, permitindo dessaforma, dependendo da finalidadee do público-alvo, multiplicar onúmero de estações. Procura-setambém garantir a mobilidade e ainteratividade, de modo que o sis-tema de TV digital brasileiro sejatambém um agente da inclusãodigital. Dentro da faixa de seisMHz, espera-se também reservaruma pequena faixa de frequên-cias para uso governamental, interatividade e para situaçõesemergenciais.

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Acreditamos piamente que odesenvolvimento do sistema deTV digital brasileiro por brasi-leiros possa alavancar não só aengenharia de sistemas eletrôni-cos, como também a própria mi-croeletrônica nacional, puxandoo correspondente setor industrial,em termos de qualidade e confia-bilidade, e tornando-o competiti-vo internacionalmente.

No meio de toda essa agi-tação e efervescência, temos osurgimento e a generalização denovos sistemas de comunicação,como Voz sobre ProtocoloInternet (VoIP). Não só pelo usodo Skype, como também pelosurgimento de pequenas empre-sas nacionais, que junto comempresas internacionais já esta-belecidas, oferecem serviços detelefonia a baixo custo para qual-quer parte do mundo. Em breve,teremos também vídeo sobre pro-tocolo internet, permitindo orecebimento de televisão abertade todo mundo pela internet.

Embora até agora tenhamosnos concentrado em aspectos tecnológicos, naturalmente emer-gem novos ângulos da con-vergência, agora do ponto devista do mercado. Focalizandoinicialmente o caso da telefoniafixa, perguntamos: os sistemas deVoz sobre Protocolo Internet(VoIP) irão tumultuar completa-mente, em futuro próximo, omercado de telefonia? E a Vozsobre Protocolo Internet não seráseguida quase que imediata-mente por Vídeo sobre ProtocoloInternet?

Os especialistas internacio-nais não têm dúvidas de que osmodelos de exploração do merca-do deverão ser reformulados. Adúvida será de quão profunda eveloz será essa mudança.

As mudanças mercadológicasna área de tecnologia da informa-ção, entretanto, não se restringemapenas ao subsetor de telefoniafixa. Na verdade, a convergênciadessas diferentes tecnologias estáfazendo emergir todo um novoambiente de convergência mer-cadológica: estamos assistindo àfusão rápida dos mercados detelefonia, radiodifusão, televisãodifusora, TV a cabo, TV porsatélite, fibras ópticas, internet,teia de âmbito mundial (www),telefonia através de linhas depotência. Enfim, todos os possí-veis mercados de serviços emtelecomunicações convergindopara uma nova forma de atendi-mento ao usuário final, para oqual o número de opções tecno-lógicas e de serviços será muitoampliado.

Nesse novo ambiente, tere-mos as concessionárias de telefo-nias fixas oferecendo mobilidadee faixa larga através da internetlocalizada nos Laços Locais SemFio (WLL) e de sistemas Wi-Max, oferecendo serviços deáudio e vídeo generalizados,nacionais e internacionais. Tere-mos os provedores da internetnacionais e internacionais ofere-cendo, em muitos casos gratui-tamente, internet em faixa larga e acesso à TV mundial. Exis-tem rumores de que a Google

pretende, através do sistema Wi-Max, oferecer faixa larga gratuitaa todos os seus usuários, comtodos os benefícios de telefoniagratuita e acesso a canais de TVem nível mundial. Teremos asconcessionárias de fibras ópticase TV a cabo oferecendo internetfaixa larga e telefonia sobreProtocolo Internet. Teremos asTVs difusoras e as transmissorasde TV por satélite permitindo TVdigital interativa e oferecendoacesso à internet. Enfim, todaessa efervescência está a exigirum estudo profundo do intensoremanejamento que irá ocorrer nomercado de TIs, levando inclu-sive a novos sistemas que estarãodisponíveis ao usuário final comoos apoiadores digitais pessoais(PDA) e os micros pessoais por-táteis, comandados pela voz.

A tendência para a mobili-dade e para o uso muito intensoda internet é avassaladora. Nãotemos dúvida que é apenas ques-tão de tempo que ocorra com osmicros pessoais portáteis o mes-mo fenômeno de migração queocorreu com a telefonia fixa ecelular. O micro de mesa atende aum local. O micro pessoal portá-til atende a um indivíduo. Com oadensamento da rede de comuni-cação sem fio, o micro portátiltornar-se-á indispensável aosindivíduos, já que todas as ope-rações tendem a ser eletrônicas,realizadas pela internet, desde ogoverno eletrônico (Governo-E),passando pelo home banking,electronic broker, até compras ereservas de passagens e tíquetes

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para jogos de futebol. Por exem-plo, hoje as reservas em muitoshotéis e o aluguel e a reserva decarros no exterior, incluindo pa-gamentos e seus respectivos reci-bos, são feitos e enviados exclu-sivamente pela internet. Em bre-ve, a maior parte das atividadesserá comandada e dependerá deacessos à internet, à teia deâmbito mundial. Essas operaçõesestender-se-ão rapidamente nãosó à área financeira, mas a todasas demais áreas da atividadehumana e, provavelmente, aspessoas terão seus micros indivi-dualizados por chaves privadaspróprias, dependendo deles comose dependessem de um elementoessencial para as atividades numasociedade moderna. O micro por-tátil de mão, o telefone celular ouo acesso à internet e à teia deâmbito mundial já estão ou po-derão estar em futuro próximoincorporados numa espécie demicro pessoal de bolso, coman-dado diretamente pela voz.

A mobilidade associada como micro pessoal portátil, emprazo médio, ampliará uma sériede novos serviços, como o lar vir-tual, onde uma pessoa, onde querque esteja, pode comandar qual-quer dispositivo em seu lar ligadona rede, desde microondas egeladeiras, até câmeras de vídeode segurança e fechamento dejanelas. Será possível a essa pes-soa observar cada cômodo de suaresidência a distância. O traba-lhador em futuro próximo poderáutilizar conceito de escritório virtual móvel, em que poderá

levar todo acervo de seu trabalhoa distância para qualquer lugarque esteja, em viagens de negó-cios ou em lazer, entrando imedi-atamente em teleconferência emcaso de necessidade. Poderá,também em movimento, praticaratividades de lazer ou mesmo vi-sitar mundos virtuais, através desistemas de realidade virtual erealidade aumentada. Os serviçosaplicativos para essas novas áreasestão sendo rapidamente desen-volvidos.

É claro que essas intensas in-formatização social e utilizaçãodas comunicações sem fio trarãouma série de consequências nospróximos anos. Os micros pes-soais portáteis poderão e deverãoobrigatoriamente cair substan-cialmente de preço, já que,estando permanentemente conec-tados em rede por ter seu sistemaoperacional colocado em memó-ria apenas de leitura (ROM),podem ter a maior parte de seusdados e processamentos feitosatravés da rede. Acreditamos queem cinco anos esses dispositivosirão custar naturalmente menosque US$ 100, prometido peloMIT. Só essa possibilidade abriráum extenso leque de novas ativi-dades para as micro, pequenas emédias empresas, não só comoprovedoras de novos serviços,como também atendendo neces-sidades de entretenimento, comode identificação de locais associa-dos com serviços de GPS e outrosde localização e segurança.Tecnicamente, uma das maioresdificuldades atuais dos micros

pessoais portáteis é a duração desua bateria, problema que, infe-lizmente, está sendo contornadode forma relativamente lenta.

Sob o manto das discussõesque aqui colocamos, existe umaspecto extremamente impor-tante, que é bastante valorizadoagora e deverá ser muito mais nofuturo: a geração de conteúdoscriativos e a comercialização des-ses conteúdos. Quando nos refe-rimos a conteúdos, englobamosnão só as logicionarias (soft-wares), mas também toda a imen-sidade de trabalhos intelectuais eartísticos, como obras literárias eartísticas, criações e interpre-tações musicais, novelas, filmes,apresentações, enfim, qualquermanifestação científica, tecno-lógica ou artístico-cultural. Aqualidade e a originalidade nageração de conteúdo serão cadavez mais fundamentais, face a umconsumidor pleno de opções delazer.

No Brasil, já estamos assis-tindo uma intensa disputa dasconcessionárias de telefonia mó-vel pelo uso de sinais de TV difu-siva aberta no atendimento dosseus clientes, com a particulari-dade de não quererem utilizaresse conteúdo gratuitamente, tal-vez eliminando a própria propa-ganda. À medida que se expandaa teia de âmbito mundial (www),essa disputa estender-se-á natu-ralmente aos provedores, abrindoum amplo leque de debates edireitos de uso.

Novos aspectos informativose educacionais estarão em grande

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alta, no sentido de atendimentodo usuário, não só com relação àssuas necessidades, mas tambémem termos de educação a distân-cia, com caráter lúdico, bemcomo em atividades culturais. Ousuário, o cliente, o radiouvinte,o telespectador de amanhã serãocada vez mais exigentes e terãomais consciência do valor do seutempo. Não desejarão desperdi-çar seu tempo com assuntos forado seu gosto particular, exigindotambém uma interatividade cres-cente com o meio de comunica-ção. Essa mudança de atitudeenvolve inclusive mudanças pro-fundas de hábitos. Nos paísesdesenvolvidos, apenas para citar-mos um caso da profundidade

dessas mudanças, um númerosignificativo de jornais está nãosó perdendo anunciantes, comotambém perdendo seus leitorespara as novas mídias, natural-mente mais dinâmicas e interati-vas.

No mundo de serviços deamanhã, poderemos ter uma plêiade de possibilidades comotraduções simultâneas em confe-rências de vídeo internacionais eoutras funcionalidades que aquijá discutimos. Em nenhum mo-mento podemos esquecer queestamos diante de um oceano deinovações e novidades que afe-tarão drasticamente e rapida-mente nosso modo de vida. E ofator mais lentamente adaptável a

todas estas mudanças é exata-mente o ser humano. Sem umaverdadeira cruzada educacional,grande parte de nossa sociedadeestará alijada de todo esse proces-so. No mundo extremamentedinâmico, essa situação será ex-tremamente indesejável, diriamesmo explosiva, pois emboraalijados do processo de informa-tização social, essas pessoassaberão e se conscientizarão desua situação injusta e inevitavel-mente se revoltarão. Cabe a nósestabelecermos a base de ummundo que pode ser muito me-lhor do que este em que vivemose onde o homem e a mulher final-mente possam se realizar comoseres humanos dignos.

Agradecimento: agradeço, de forma especial, minha secretária,Sra. Claudia Ferreira de Souza Leite,

pela contribuição ativa na didática e digitação deste trabalho.

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Sistema Brasileiro de Televisão Digital: uma televisão livre e soberana para todos?

Regina Mota

Professora do Departamento de Comunicação Social/UFMG, doutora em Comunicação e Semiótica - Tecnologias da Informação

pela PUC-SP, fez bolsa-sanduíche na Sorbonne I e III, em Paris, França. É pesquisadora das áreas do audiovisual eletrônico

e digital e de políticas públicas de comunicação. Coordenou a pesquisa para o CPqD sobre inclusão social na

plataforma digital do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD).

Júlia

Mag

alhã

es

RESUMO

O decreto nº 4.901, de 23 de novembro de 2003, que institui o Sistema Brasileiro de Televisão Digital(SBTVD), afirma, em seu art. 1º, inciso I 1, que seu objetivo precípuo é promover a inclusão social. Esteartigo faz uma reflexão acerca do impacto sociotécnico da digitalização da plataforma analógica de sinaisterrestres de televisão na sociedade brasileira, marcada, sobretudo, pela profunda diferença do grau deacesso aos bens simbólicos, tais como livros, discos, filmes e informações diversas em suporte digital.Ao privilegiar o fenômeno cultural, a análise põe em relevo os principais aspectos a serem consideradospara a elaboração de uma possível política pública para a televisão digital brasileira.

1 Art. 1º - Fica instituído o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), que tem por finalidade alcançar, entre outros, osseguintes objetivos:

I- promover a inclusão social, a diversidade cultural do país e a língua pátria, por meio do acesso à tecnologia digital, visando àdemocratização da informação; II- propiciar a criação de rede universal de educação a distância; III- estimular a pesquisa e o desen-volvimento e propiciar a expansão de tecnologias brasileiras e da indústria nacional relacionadas à tecnologia de informação e comu-nicação; IV- planejar o processo de transição da televisão analógica para a digital, de modo a garantir a gradual adesão de usuáriosa custos compatíveis com sua renda; V- viabilizar a transição do sistema analógico para o digital, possibilitando às concessionáriasdo serviço de radiodifusão de sons e imagens, se necessário, o uso de faixa adicional de radiofreqüência, possibilitando o desen-volvimento de inúmeros serviços decorrentes da tecnologia digital, conforme legislação específica; VI- estimular a evolução dasatuais exploradoras de serviço de televisão analógica, bem assim o ingresso de novas empresas, propiciando a expansão do setor epossibilitando o desenvolvimento de inúmeros serviços decorrentes da tecnologia digital, conforme legislação específica; VII- esta-belecer ações e modelos de negócios para a televisão digital adequados à realidade econômica e empresarial do país; VIII- aper-feiçoar o uso do espectro de radiofreqüências a legislação específica; IX- estimular a evolução das atuais exploradoras de serviçode televisão analógica, bem assim o ingresso de novas empresas, propiciando a expansão do setor; X- contribuir para a convergên-cia tecnológica e empresarial dos serviços de comunicações; XI- aprimorar a qualidade de áudio, vídeo e serviços, consideradas asatuais condições do parque instalado de receptores no Brasil; e, XII- incentivar a indústria regional e local na produção de instru-mentos e serviços digitais.

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“A democracia não é um modelo ou uma estrutura acabada; é algo que constantemente deve ser sonhado, imaginado ou recriado.

A busca de ser livre, igual, diverso, solidário e participante é um princípio que deve fermentar nosso constante sonhar e imaginar

a democracia como guia de intervenção cidadã.”

Betinho

Um outro conceito para a técnica

Os artistas modernistas, emparticular os futuristas, foram osprimeiros a perceber as mu-danças culturais operadas pelaproliferação de fábricas, má-quinas a vapor, meios de loco-moção e de entretenimento, noinício do século XX. Essa per-cepção ficou registrada nas obrasliterárias, artes plásticas, música,teatro, cinema e fotografia, queincorporavam, na linguagem, osnovos modos de ser e ver dohomem urbano. Um século de-pois, na fronteira de outra radicalmudança nos hábitos de vida,podemos pensar que, se é possí-vel aprender com a visão históri-ca dos acontecimentos, é precisogarantir que a forma de circu-lação e de acesso à informação,permitida pelos novos meios,não sirva apenas para ampliar asdiferenças e injustiças crescentesnas sociedades ditas avançadas eem desenvolvimento.

O que estamos afirmando éque não existe técnica neutra eque cada dispositivo sociotécnicocolocado à disposição de umasociedade depende da compreen-são e domínio conceitual de suanatureza, para ser direcionado aobem comum. Como afirmaMacLuhan, pouco importa o quea luz elétrica ilumina, se umcampo de futebol ou uma cirur-gia, mas sim como ela reconfigu-ra o espaço e as formas de inte-ração decorrentes do evento emquestão. Portanto, a insistênciaem pautar a discussão sobre atelevisão digital apenas a partirda melhoria da qualidade de seusprodutos, do som e da imagem,assemelha-se à artimanha do la-drão que oferece a bola de carneenvenenada para distrair o cão deguarda, antes de invadir a casa.Segundo essa metáfora, propostapelo mesmo autor, a bola decarne é o conteúdo para distrair a

atenção do verdadeiro negócioimplicado na mudança que iráocorrer, a partir das possibilida-des de convergência tecnológicapermitidas pela televisão digital.

A meu ver, o maior problemado debate da TV digital no Brasilé a persistência da visão do mo-delo analógico, cuja estruturavertical e centralizada, de umpara todos, ainda orienta as aná-lises e perspectivas mercadológi-cas, viciando boa parte dos rela-tórios que servirão de medidapara a tomada de decisão. O mo-delo mais correto para se pensar amudança em questão é o da redeInternet, que é horizontal, descen-tralizada e cujo direcionamento dainformação é de todos para todos.Digo isso para defender a neces-sidade de se pensar o modelo deimplantação de uma nova tec-nologia a partir de suas própriascaracterísticas e não das caracte-rísticas da tecnologia precedente.

Qual é o negócio da TV digital

Temos então duas perspecti-vas conflitantes para a definiçãodo novo modelo. De um lado, umnegócio gigantesco, liderado por

cinco redes abertas de televisão,que disputam, de forma desigual,o mercado publicitário que sus-tenta as programações voltadas

para a informação e o entreteni-mento. Por isso, a AssociaçãoBrasileira de Emissoras de Rádioe Televisão (Abert) quer um

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sistema que permita a alta de-finição, garantindo que o conteú-do possa ter melhor recepção,mesmo que isso signifique aaquisição de aparelhos hoje aocusto de US$500. A briga ficaentão pela faixa do espectro queserá utilizada só para um canalde HDTV (televisão de alta defi-nição) ou para quatro canais, quepoderiam ser veiculados no modostandard SDTV, que ocupa ape-nas um quarto dessa mesma faixa.

Dentro da perspectiva queestou privilegiando, tais proble-mas são falsos. O verdadeironegócio da TV digital é a con-vergência tecnológica que terá ainteratividade e a reversibilidadecomo autênticos diferenciais. Aoser empacotada, toda informaçãopoderá ser utilizada da maneiracomo hoje funciona a internet,baseada no espaço e não notempo, ampliando a autonomiado espectador, transformado emusuário, que poderá utilizar asofertas a partir de suas própriasdemandas e não da prisão dagrade de programação, que orde-na, ainda hoje, a vida de boaparte da população brasileira.Essa interação está prevista nosestudos que visam assegurar ouso de merchandising para avenda direta, já que será impos-sível manter a funcionalidadedos atuais intervalos comerciais.Ou seja, mesmo quando o recur-so é novo, o pensamento sobre oseu uso é conservador. Para man-ter o negócio da televisão lucrati-vo, será preciso transformá-lanum imenso shoptime, no qual os

produtos anunciados estarão pre-sentes em todas as imagens, nastelenovelas, no telejornal ou,como já é corrente, nos progra-mas de auditório, à distância deapenas um clique na tela.

Seria útil visitar algumas for-mas de relacionamento, criação ecirculação de informação que ainternet possibilita e que podemser potencializadas pela TV digi-tal, quando forem solucionadosos desafios tecnológicos de cria-ção de canais de retorno, prove-dores e processadores das pági-nas de HTML. Essa nova mídia,que não será nem televisão neminternet, teoricamente permitiráuma ampliação sem precedentesde comunidades virtuais, nãoapenas daquelas alfabetizadas nalinearidade do texto escrito, maspossivelmente uma outra, quepossa emergir de novas lingua-gens, que se utilizam de sons,imagens e da tatibilidade. O es-pantoso sucesso da televisão bra-sileira, presente em 99% dos mu-nicípios e domicílios brasileiros,e seus milhões de telespectadoresantenados nos acontecimentosreais e fictícios, que vão ao ar desul a norte do país, se deve, emgrande medida, à nossa tradiçãooral, que se mantém viva, adespeito da pasteurização sofridanas interpretações generalistasque ela veicula.

O aspecto fático de canal demão dupla, ensejado pela rever-sibilidade da TV digital, permi-tirá um desdobramento de usosque hoje só podem ser timida-mente imaginados. Mas podemos

nos colocar em acordo comrelação ao que é mais evidenteno uso da internet e que dizrespeito ao acesso a ferramentasmais simples, melhoria da comu-nicação e ampliação de domíniotécnico, que se traduz, a meu ver, num desejo ilimitado decompartilhamento. Os copyleft,Wikipedia, Creative Commons e afilosofia do software livre, bemcomo a multiplicação exponen-cial de blogs são apenas algunsexemplos de reversão da lógicado mercado na luta pelo domínioda internet.

Por isso, insisto em afirmarque o verdadeiro mercado da TVdigital é a ampliação do acesso àcomunicação. Um fenômenocorrelato que pode ser observa-do, já que se reproduz mais entreos desconectados, é o da rádiocomunitária. Hoje, é praticamen-te impossível precisar o númerode rádios de baixa potência queestão no ar, apesar da repressãodos órgãos fiscalizadores. Maisdo que uma desobediência, essefato sinaliza claramente que aoferta e a qualidade da comuni-cação gerada pelas emissoras derádio e pelas grandes redes detelevisão não suprem totalmenteos anseios de comunicação departe da população. Ao ladodisso, as iniciativas de inclusãodigital, que hoje se multiplicamno país por meio de acesso a telecentros, demonstram o quan-to é necessário e desejável o contato com essas tecnologiaspor uma população marginali-zada.

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Novas regras para um novo meio

Ao afirmar que a televisãonão se transforma quando digita-lizada, mas apenas muda a formade veiculação do seu conteúdo,os atuais concessionários da tele-visão comercial no Brasil queremduas coisas: que as concessões semantenham com as mesmas ca-racterísticas da época em queforam outorgadas para a TV ana-lógica (6 MHz e faixa de segu-rança) e que não se construa umnovo marco regulatório. Ora,essa seria a grande oportunidadepara rever direitos e deveres daexploração comercial, garantirmelhores condições de financia-mento para as emissoras públi-cas, estabelecer regras viáveis pa-ra a ocupação da baixa potênciade rádio e televisão, definir re-gras que controlem as possibili-dades de comunicação e novosserviços permitidos pela conver-gência tecnológica, tanto públi-cos quanto privados.

Esse último ponto é nevrálgi-co, já que as atuais concessõessão apenas para a produção eemissão de imagem e som.Qualquer outro tipo de serviçonão está previsto nem autorizado

pelo anacrônico Código Nacionaldas Telecomunicações de 1962.Apesar de revogado pela Lei Geraldas Telecomunicações de 1997,ele se manteve válido apenas paraa radiodifusão de som e imagem,por meio de uma estranha emen-da constitucional (nº 8), que se-parou radiodifusão e telecomuni-cações. Por pressão dos radiodi-fusores, também a Anatel, agên-cia reguladora do setor, não temjurisdição sobre as concessões,limitando-se a definir o plano bá-sico de utilização das freqüên-cias. Essa questão primordial estásendo resolvida sem qualquerdebate, como se se tratasse de umaspecto burocrático. Pelo planobásico de distribuição dos canaisdigitais2, as emissoras consegui-ram garantir aquilo que desejavam,ou seja, tudo ficará como está.

É incompreensível que não setenha garantido, na verba de R$65 milhões arrecadados peloFunttel3 e alocados para oSBTVD, a criação de um grupode especialistas nas áreas de di-reito, comunicação, educação, in-formática e engenharias, para aelaboração da proposta de um

marco regulatório, cuja principalfunção seria garantir a inclusãosocial, que não virá em conse-qüência do privilégio que histori-camente tem sido conferido aosexploradores comerciais do ser-viço público de radiodifusão so-nora e de sons e imagens.

Mais do que definir se o pa-drão de digitalização que interes-sa ao país é o japonês ou o eu-ropeu, acoplado ou não a módu-los nacionais aqui e acolá, oSBTVD poderia criar as condi-ções para que essa mudança be-neficiasse todos os brasileiros,especialmente aqueles que estãoisolados dos grandes centros, dis-tantes dos principais serviços doEstado e sem acesso à informa-ção que possa permitir o exercí-cio pleno da cidadania, como figurar em cadastros que garan-tam a sua existência.

Um novo marco regulatóriopermitiria a definição de serviçosque prioritariamente devem serprestados pelo Estado, para cum-prir preceitos constitucionais quedeterminam que é sua obrigaçãoestabelecer políticas capazes dediminuir as desigualdades4.

2 CF. Site Anatel. http://www.anatel.gov.br/biblioteca/templates/leis/leis.asp

3 Chamada Pública MC/MCT/Finep/Funttel - 01/2004

4 Art. 3º, inciso III - "Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais".

Política pública de comunicação não é censura

Há uma unanimidade emrelação à qualidade da televisãobrasileira, particularmente a produ-

ção da Rede Globo de Televisão,que se situa entre as melhoresredes de TV de todo o mundo. No

que diz respeito à produção deconteúdo, apesar da constanteredução de público, ela se man-

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5 CF. a análise feita por QUERINO (2002).

6 MOTA, M.R.P. Televisão Pública, a democracia no ar. Dissertação de mestrado, FAE/UFMG, 1993. 200p.

7 As leis de imprensa e eletrônica de comunicação de massas devem somar mais de 30 versões. A última consulta pública foi durantea gestão de Pimenta da Veiga no MiniCom, retirada após receber um sem número de críticas.

tém em níveis sempre superioresà audiência (jamais inferiores a30%) das redes norte-americanase de qualquer outra televisão, emqualquer parte do mundo ondehaja algum tipo de concorrência.Esses evidentes sinais de prefe-rência e concentração de audiên-cia são denotativos de um atraso,quando se levam em conta os sis-temas de regulação e controle damídia eletrônica e seus cruza-mentos com a mídia impressa,em países desenvolvidos.

Nesse particular, figuramosentre os piores modelos de regu-lação existentes, juntamente comPortugal, Espanha, Itália e Méxi-co, que tendem, como o Brasil, auma fraca regulação que possalimitar a concentração e cruza-mento da propriedade de mídianesses países.5 Esse traço reforçauma perspectiva liberal e se justi-fica sobretudo pelo princípio daliberdade de expressão. Parado-xalmente, se há algo em comumentre quase todos os países cita-dos é o fato de terem passado porlongos períodos de ditadura e cer-ceamento de liberdades políticas

e individuais. A ausência de ins-trumentos de controle socialdesses meios é uma herança degovernos autoritários e não doprocesso de democratização.

A sociedade civil no Brasilvem se manifestando há duasdécadas, desde a AssembléiaConstituinte6 (1986-1988), pro-pondo e politizando o debatesobre a comunicação, com vistasa estabelecer regras que possamampliar o direito à comunicação,que não se limita ao acesso à in-formação e ao entretenimento,amplamente suprido pelas redesde televisão e emissoras de rádiobrasileiras.

Uma política pública de mí-dia eletrônica e digital, já ensaia-da em inúmeros documentosengavetados pelo Ministério dasComunicações7, esbarra num úni-co e temido instrumento – a par-ticipação dos interessados, odebate público e a transparênciaem processos deliberativos des-ses agenciamentos sociotécnicos,historicamente submetidos aospoderosos lobbies dos interessesdo mercado e dos interesses

políticos, muitas vezes coinci-dentes.

A meu ver, a televisão digital,por suas potencialidades inclusi-vas, proporciona apropriaçãopara todos, pelo menos teorica-mente, já que amplia a utilizaçãodo espectro eletromagnético; permite a descentralização dasoperações de programação etransmissão, multiplicando osconcessionários; promove o de-senvolvimento de pesquisas nasuniversidades e a criação de pro-dutos para um mercado nacional.Sua possível convergência com arede Internet propiciará, em algunsanos, um novo modelo de comu-nicação, não apenas plenamenteinterativo, mas reversível, com osurgimento de novas mídias eserviços, unindo o telefone, a TV,o rádio, o CD, o DVD, a tele-ducação, a telemedicina, o acessoao governo eletrônico, a banco dedados, a bibliotecas virtuais e,principalmente, à conexão entreum número ilimitado de pessoasque querem compartilhar o quesabem e aprender juntas aquiloque ainda não conhecemos.

Referências bibliográficas

MCLUHAN, Marshall (1969). O meio é a mensagem. IN: Os meios como extensões do homem. São Paulo, Cultrix, p.21-37.

MOTA, M.R. Proposições de políticas públicas de inclusão social através da plataforma de TV Digital Interativa. FUN-DEP/CPqD. Outubro de 2004.

QUERINO, Ana Carolina (2002). Legislação de radiodifusão e democracia: uma perspectiva comparada. In: Comunicaçãoe política. Vol. IX, nº 2, nova série, maio-agosto, 2002. p.152-189.

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Gestão Eletrônica de Documentos: a convergência digital da informação

Nelson Spangler

Analista consultor em tecnologia da informação da Prodemge. Graduado emEngenharia Elétrica, com especialização em Engenharia de Sistemas pelaPUC - RJ. Mestre em "Sistemas de Gestão - Informática e AdministraçãoPública" pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro e Departa-mento da Ciência da Computação da UFMG. MBA em Gestão Empresarialpela Fundação Getúlio Vargas. Possui trabalhos em publicações técnicas eapresentados em congressos de informática no Brasil e exterior.

RESUMO

O Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED), embora raramente foca-lizado quando se trata de convergência digital, representa uma das primeirasiniciativas bem sucedidas de integração da informação analógica e da infor-mação digital. Baseado nas ciências da informação e da computação, o GED,vem agregando, ano a ano, novas tecnologias que o tornam uma das maisprofícuas ferramentas para acesso e recuperação de informações através deredes de computadores, principalmente a internet.As novas premissas de mobilidade da convergência digital estão agregandonovas funcionalidades ao GED e estendendo sua área de atuação.

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Convergência digital

A expressão “convergência di-gital” está em voga nos dias atuais.É tema de simpósios, seminários,discussões, painéis, livros e arti-gos. Convergência digital refleteintegração e interação de tecnolo-gias, como atestam as definiçõesabaixo, disponíveis na internet:

- Fusão de vários nichos tecnológicos através dedispositivos que trocaminformações em formatodigital. Estes nichos são,principalmente: computa-ção, telecomunicação, ele-trônica, comunicação de

massas e entretenimento.- Tendência tecnológica pela

qual dispositivos digitaiscomo computadores, tele-visores, telefones móveis eaté geladeiras e fornos demicroondas estão conver-gindo para aplicações

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Documento analógico e digital

O documento é comumentedefinido como a unidade de re-gistro de informações indepen-dentemente de seu suporte. Su-porte é o meio em que a infor-mação é registrada. No correr dosséculos, desde que o homemaprendeu a preservar sua históriaatravés dos símbolos e da escrita,tem sido utilizado o suporte físi-co ou analógico para represen-tação da informação: pedras, ma-deira, placas de argila, pergami-nho, papiro, etc. Nos últimosséculos, principalmente após adescoberta de Gutemberg noséculo XV, o papel, produzido emlarga escala, é o principal suportepara a preservação da história edo conhecimento. Muito poste-riormente, na primeira metade do

século XX, surgiu o microfilmecomo outro tipo de suporte uti-lizado em larga escala para arma-zenamento massivo de infor-mações. Ambos, entretanto, papele microfilme, continuam, como osanteriormente citados, sendosuportes analógicos.

A ciência e tecnologia dacomputação introduziram, a partirda década de 40, os computadorese com eles a informação digital,representada por arquivos consti-tuídos por cadeias de símbolosbinários (zero e um), formandouma unidade interpretável por umsoftware ou programa. Surge umcontraponto irreversível ao domí-nio da informação analógica.

A rápida evolução tecnológi-ca, que caracteriza a informática,

permitiu que em poucas décadasa informação digital ou o docu-mento em suporte digital ga-nhassem uma série de vantagenscompetitivas sobre a informaçãoem meio analógico. A evoluçãoteórica e prática de disciplinascomo a multimídia, as redes decomunicação, o processamentodigital de imagens, os modelos debancos de dados, o reconheci-mento de padrões, as técnicas de compactação e as arquiteturasde computadores, permitiu que se tornassem tecnologicamentedisponíveis alternativas de recu-peração e acesso, on-line e con-corrente, com volumes de in-formações inimagináveis para osuporte analógico. E com custoscada vez mais exeqüíveis.

multiuso, geralmente atra-vés da internet.

Trata-se, de fato, de umaclara tendência tecnológica eindustrial, representada por temascomo redes sem fio, televisãodigital de alta resolução, servi-dores de mídia, voz sobre IP, casadigital, carro digital, entreteni-

mento portátil, robótica, nano-tecnologia...

De maneira mais abrangente,citando o professor EduardoMorgado, da Universidade Esta-dual de São Paulo (Unesp):"Convergência digital é a macro-tendência tecnológica que marcaa integração de dispositivos,

serviços e mercados sobre umabase tecnológica de comunica-ção, baseada em tecnologia da informação".

Um mote da convergênciadigital é a convergência da infor-mação analógica para a informa-ção digital. Ou a convivência deambas.

A tecnologia GED

O documento sempre estaráatrelado ao compartilhamento doconhecimento, à tomada de deci-sões, à concretização de negó-cios, aos processos de compra evenda, à jurisprudência e outrasimportantes ações do dia-a-dia

das empresas e das pessoas. Ain-da hoje, é gerada e armazenadaimensa quantidade de documentosem papel ou microfilme. Devidoa isso, as empresas estão semprecriando estratégias para gerenciá-los de forma eficiente e rápida,

considerando cada vez mais enfa-ticamente a alternativa de trans-formação do documento analógi-co em documento digital.

A Gestão Eletrônica de Docu-mentos ou Gerência Eletrônica deDocumentos ou, abreviadamente,

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GED, é uma disciplina que une aciência da informação e a ciênciada computação, sendo compostapor um conjunto de ferramentasque permite a convergência e aadministração de documentosanalógicos e digitais através douso de computadores. Tais docu-mentos podem ser das mais va-riadas origens e mídias, comopapel, microfilme, arquivos desom e imagem e arquivos, já criados ou convertidos em forma-to digital. A literatura técnicadefine também a Gerência deDocumentos Eletrônicos (GDE),como um subconjunto do GED,que trata exclusivamente de do-cumentos no formato digital.

Tecnologias, como workflow,document imaging, documentmanagement e outras, foramsendo agregadas ao GED namedida em que, com o passar dotempo, surgiu a necessidade deferramentas mais completas parao gerenciamento de documentos.Para implementar um sistema deGED é necessário unir novosrecursos aos já existentes nostradicionais sistemas de infor-mação.

Existem várias nomencla-turas e divisões de serviços deGED na literatura. Citam-se aseguir alguns dos mais referen-ciados pelo mercado:

- Document Imaging ou Ge-renciamento de Imagensde Documentos (DI): tratado processamento, arqui-vamento, indexação e re-cuperação de documentosdigitalizados. Considera a

transposição do documen-to analógico (papel, micro-filme) para o meio digital.Esse tipo de serviço é ge-ralmente usado para docu-mentos prontos, estáveis,que não sofrerão altera-ções, como por ex.: docu-mentos fiscais, leis edecretos, documentos his-tóricos, e que necessitamser recuperados e exibidoscom rapidez e freqüência.

- Document Management(DM): trata do controle dofluxo do documento desdea sua criação até o descarteou arquivamento definiti-vo. Está naturalmente asso-ciado a processos de work-flow.

- Engineering Document Ma-nagement System (EDMS):trata-se do GED aplicadoao gerenciamento de docu-mentos técnicos, como ma-pas, plantas, projetos, etc.Em geral, são documentosde grandes dimensões físi-cas.

- Enterprise Report Mana-gement (ERM): tem porobjetivo manejar relatóriosoriundos de sistemas lega-dos, normalmente de am-biente mainframe.

Cada um desses tipos deserviço envolve software, equipa-mentos, funcionalidades e conhe-cimentos específicos.

Por que as empresas estão, nosúltimos anos, se voltando para oGED, para a substituição dosuporte analógico pelo digital?

A par da grande evolução tec-nológica que torna cada vez mais eficaz e barato o desen-volvimento de soluções GED,uma série de benefícios incentivasua adoção:

- Alta velocidade e precisãona localização de documen-tos, através de ilimitadaspossibilidades para inde-xação.

- Integração com a web, uni-versalizando o acesso si-multâneo e concorrente.

- Gerenciamento automati-zado de processos, aumen-tando a produtividade.

- Auxílio no processo de to-mada de decisões.

- Melhor aproveitamento deespaço físico.

- Integração com outros sis-temas e tecnologias.

- Aproveitamento da base deinformática já instaladanas empresas.

- Maior agilidade nas transa-ções entre empresas.

- Redução de custos comcópias, já que há disponi-bilidade dos documentosem rede.

O GED pode ser aplicado emqualquer atividade que trabalhacom documentos, ou seja, em to-das as áreas de atuação humana:gestão de pessoas; gestão admi-nistrativa, financeira e contábil;medicina; engenharia, projetos;geoprocessamento; arquivologia,museologia, biblioteconomia,história; jornalismo; jurispru-dência, legislação, cartórios;marketing, vendas, propaganda;

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seguridade; educação, capacita-ção, treinamento; finanças; servi-ços públicos.

A rigor, já existem capaci-tação tecnológica e viabilidadeeconômica para se substituir odocumento analógico pelo digital.O jornal, a revista, o livro já sãoconfrontados pelas publicaçõesdigitais, mais ágeis e dinâmicas, abiblioteca tradicional pelas biblio-tecas digitais. Mesmo arquivospúblicos e privados, que tratamcom acervos permanentes, estãoaderindo ao documento digital.

A força dos suportes analógi-cos, principalmente o papel, sesustenta pela sua tradição, pelasua praticidade em algumas situações (é mais cômodo e

confortável ler um livro impressodo que através de uma tela demonitor), e pela base industrialinstalada.

A burocracia instituída du-rante séculos, a cultura cartorial,a existência de toda uma juris-prudência baseada no papel sãooutros fatores para a sobrevidados suportes analógicos da infor-mação. O valor legal do docu-mento digital foi sempre umentrave à proliferação do uso dodocumento digital no Brasil.

Estas barreiras estão sendoprogressivamente derrubadas.

A convergência digital agre-ga novas facilidades ao GED. A mobilidade e a abrangência das redes sem fio interligando

equipamentos portáteis de usopessoal e doméstico, capazes deacessar a miríade de informaçõesdisponíveis na internet, eliminammuitas das restrições de descon-forto ainda associadas ao suportedigital e permitem a difusãoirrestrita da informação.

Um outro grande benefício doGED é que a conversão do analó-gico para o digital pode ser feitade modo gradual, mantendo osdois suportes pelo tempo neces-sário para se alcançar uma con-versão definitiva. O suporte ana-lógico (papel e microfilme) podeser reservado para fins de pre-servação e backup, encarregando-se o suporte digital pela pesquisae acesso imediato à informação.

GED e o mercado nacional

O Gerenciamento Eletrônicode Documentos começou a serutilizado no Brasil na década de80. Seu uso vem crescendo, prin-cipalmente a partir do final dadécada seguinte. Trata-se de ummercado atualmente em franca ex-pansão, que está longe de demons-trar esgotamento ou saturação.

Segundo pesquisa do CentroNacional de Desenvolvimento doGerenciamento da Informação(Cenadem), após o século XX ademanda por serviços e produtosde GED vem crescendo a taxasanuais próximas de 50%. Apesardisso, trata-se de uma tecnologiaainda pouco disseminada no mer-cado nacional.

A constante evolução tecno-lógica, gerando mais e melhores

soluções com custo decrescente,aliada ao crescimento da deman-da por soluções capazes de fornecer informações confiáveisa qualquer hora e em qualquer lu-gar, coloca o GED como uma li-nha de negócio promissora paraas empresas prestadoras de servi-ços em tecnologia da informação.

O GED é suportado por umsoftware, um sistema capaz deaumentar a produtividade dasvárias etapas do processo, envol-vendo documentos analógicos edigitais: digitalização, controlede qualidade, edição, armazena-mento, indexação, pesquisa erecuperação. Alguns softwares,abarcando a Gestão Documental,também dão suporte às etapas declassificação e organização de

acervos documentais analógicos. Aproximadamente 150 pro-

dutos, nacionais e estrangeiros,segundo o Cenadem, estão dis-poníveis atualmente no mercadobrasileiro de GED.

No início, década de 80, atotalidade dos produtos era es-trangeira. Atualmente, apesar daainda forte presença do softwareimportado, é considerável o nú-mero de opções de produtosnacionais. Estes últimos têm avantagem de serem mais facil-mente customizáveis para as nos-sas necessidades, podendo evo-luir com as necessidades e osobjetivos do cliente. O softwarenacional contorna a barreira doidioma e permite uma maior fa-cilidade de treinamento e suporte.

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O GED e a administração pública

A administração pública noBrasil ainda funciona predomi-nantemente através da utilizaçãode documentos em papel. Osprocessos relativos à gestão depessoal, controle da máquinapública, execução e arrecadaçãofinanceira, tramitação de proces-sos, elaboração de atos e normas,formulação de políticas públicas,educação, segurança, saúde emuitos outros, baseiam-se na ge-ração, tramitação, controle eguarda de documentos.

No decorrer dos anos, osórgãos públicos municipais, esta-duais e federais vêm gerando eacumulando dezenas de milhões dedocumentos em mídia analógica(papel e microfilme). Com esteaumento progressivo e contínuoda massa documental analógicaevidenciam-se as suas maioresdeficiências: dificuldade de orga-nização, de indexação dos docu-mentos e acesso às informaçõesnos locais e momentos necessá-rios, e a necessidade de grande

espaço físico para armazenamen-to. Os métodos de classificação eindexação para a mídia analógicasão restritos e não suportam ademanda de informações rápidase geograficamente distribuídas,exigidas nos processos atuais degestão. Os acervos analógicosainda podem ser relevantes doponto de vista legal e probatório ecomo backup, devido à sua dura-bilidade e custo, mas são insufi-cientes quanto ao acesso e dis-tribuição.

O aspecto legal do documento digital

Para os documentos produzi-dos em papel já está disciplinado,por vasta legislação, seu valorlegal e probatório. Os documen-tos gerados pelo poder públicosão regulados por legislação quedisciplina sua produção, armaze-namento e descarte. A lei federal8.159 de 08/01/1991 dispõe sobrea política nacional de arquivospúblicos, define a gestão docu-mental, a competência para rea-lizá-la e trata da produção e des-carte de documentos públicos.Em junho de 1994, foi criado oConselho Nacional de Arquivos(Conarq), decreto 1.173, que tratados documentos produzidos porórgãos públicos. Esse Conselho,ao longo dos anos, vem tratando

de uma série de resoluções sobrea gestão documental pública. AConstituição Federal de 1988 citaa responsabilidade do Estado emproteger e dar acesso à documen-tação pública, salvo em casosespecíficos.

A microfilmagem teve seuvalor legal estabelecido pela leifederal 5.433 de 08/05/1968 etem sido por este e outros fatores(como o custo e longevidade) lar-gamente utilizada como alterna-tiva ou complemento ao docu-mento em papel, apesar de suasclaras deficiências com relação àdisponibilidade, pesquisa e acesso.

A definição da legalidade dodocumento digitalizado não foi,durante muitos anos, claramente

estabelecida no Brasil. Projetosde leis apresentados no Con-gresso Nacional não lograramêxito, principalmente pelo temorda adulteração de um documentodigital através das técnicas decomputação.

Nos últimos anos, entretanto,o cenário se altera: as tecnologiasde assinatura e certificação digital, que agregam veracidade econfiabilidade ao documento digital, vêm sendo adotadas pelo poder público, primeira-mente no governo federal edepois nos Estados e municípios.Essa prática vem aumentando autilização do documento digitalna administração pública e nosetor privado.

Possui boa qualidade e facilidadede treinamento. Os softwares importados, muitos de altíssima

qualidade, têm, geralmente, custoalto para os padrões nacionais,interface restrita ao idioma inglês,

dificuldade de customização e deacesso ao fabricante para suportee treinamento.

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O GED como negócio para a Prodemge

A Prodemge tem na adminis-tração pública mineira uma sériede clientes em que o GED se apli-ca e se faz necessário. Alguns ór-gãos já demandam soluções.Trata-se de oportunidade paraaumentar o portfólio da Pro-demge com produtos necessáriosao poder público.

A Prodemge foi designadapelo governo do Estado como aautoridade certificadora no âm-bito do poder público, função quepassou a exercer plenamente apartir de dezembro de 2004. Ocasamento entre GED, workflow

e certificação digital significanovas e reais possibilidades denegócio e vai ao encontro dasnecessidades de muitos clientes.

As oportunidades inserem-se:- No aumento da produção e

arquivamento de registrosde informação analógicos.

- Na iminência de aprovaçãode projeto lei que esta-beleça definitivamente ovalor legal do documentodigital.

- No surgimento de equipa-mentos de digitalização,processamento e armazena-

mento, apresentando custosprogressivamente baixos.

- Na dificuldade de acesso erecuperação de documen-tos em grandes acervos empapel e microfilme.

- Na economia de escalarepresentada pela digitali-zação de grandes volumesde documentos.

- No alto nível de exigênciada sociedade, resultantedas facilidades na utiliza-ção e visualização da in-formação, principalmenteatravés da web.

Referências

___ Guia de software para GED e ECM. São Paulo: Cenadem, 2005.

Baldam R. et al. GED - Gerenciamento eletrônico de documentos. São Paulo: Érica, 200p.

Koch, K. K. Gerenciamento eletrônico de documentos - GED - Conceitos, tecnologias e considerações gerais. São Paulo:Cenadem, 150 p.

Siqueira, E. Dez tendências da convergência digital. Disponível em novembro/2005 no sítio http://www.estadao.com.br/tecnologia/coluna/ethevaldo/2005/jan/29/6.htm

Zuffo, João Antônio. A convergência digital e a interpenetração de mercados nas Tecnologias da Informação.

Com a criação da Infra-estrutura de Chaves PúblicasBrasileira (ICP Brasil), através da medida provisória 2.200

de 24/08/2001, estabeleceu-se a legalidade do documento certi-ficado de forma digital. Umasérie de Autoridades Certi-

ficadoras foram criadas e se jun-taram ao ICP Brasil, constituindouma cadeia que abrange todo opaís.

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Formação profissional em tempos deconvergência tecnológica

José Geraldo de Souza

Professor. Mestre em Educação pela PUC-Campinas e Doutor em Educaçãopela Unicamp. Pró-diretor Acadêmico do Instituto Nacional de Telecomunica-ções (Inatel), em Santa Rita do Sapucaí (MG). Professor no Departamentode Física e Matemática do Inatel e no Instituto Superior de Educação doEducandário Santa-ritense.

RESUMO

Os cenários sociais e os ambientes de produção de tecnologias oferecem sem-pre desafios à concepção e estruturação da formação profissional, especial-mente na área tecnológica. Neste texto, são expostas reflexões e consideraçõessobre a formação profissional tecnológica, nos contextos de convergência tecnológica, responsabilidade social e diretrizes curriculares nacionais. Relata-se um projeto de educação tecnológica estruturado sob as referências dessescontextos.

Div

ulga

ção

Palavras-chave: convergência tecnológica, responsabilidade social, educação tecnológica.

Introdução

É uma questão de sobrevi-vência as instituições de ensinosuperior perceberem e entende-rem as transformações estruturaise educacionais na sociedade mun-dial e brasileira, para repensareme atualizarem seus projetos políti-co-pedagógicos, para atender asdemandas sociais presentes.

Os cenários sociais e edu-cacionais e os ambientes de

produção de tecnologias nosquais emergem conceitos comoética planetária, responsabilidadesocial e convergência tecnológi-ca, obrigam à definição de novosparâmetros e orientações para aformação profissional na áreatecnológica.

As Diretrizes CurricularesNacionais para o Curso deGraduação em Engenharia [1],

publicadas pelo Ministério daEducação em 2002, já apontammudanças estruturais nos currícu-los dos cursos de Engenharia,incluindo-se aí o ensino por com-petências e habilidades.

Este texto oferece à discussãoum conjunto de reflexões e con-siderações acerca da formaçãoprofissional do engenheiro, noscontextos da convergência

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tecnológica e da responsabilidadesocial, pessoal e institucional. Aescolha desses dois contextosalicerça-se na relevância do seuconteúdo para a discussão da for-mação profissional na área tec-nológica. Em nenhum momento

pensou-se em subvalorizar outroscontextos influentes na educaçãotecnológica.

A questão que se coloca é oque se tem e o que esperar daeducação tecnológica nos contex-tos da convergência tecnológica e

da responsabilidade social. Nessesentido, o texto relata uma expe-riência de organização curricularque se orienta por parâmetros quepromovem interessante aproxi-mação entre o modelo de edu-cação e aqueles contextos sociais.

Convergência tecnológica e responsabilidade social

O aumento significativo deconteúdos produzidos e distribuí-dos em formato digital é respon-sável pela invasão de novos produtos e serviços de telecomu-nicações e comunicação social navida do cidadão comum, afirmamatentos observadores das trans-formações sociais provocadaspelo desenvolvimento tecnológi-co. Serviços e produtos de telefo-nia, de vídeo, de música e deinternet são providos por umamesma rede de telecomunica-ções. Aí está a convergência tec-nológica transformando a vidados cidadãos, criando novospadrões de relações sociais, igno-rando fronteiras entre nações edesenhando novos modelos denegócios entre as empresas e derelações de trabalho.

A convergência tecnológicabate à nossa porta, já está dentrodo quarto dos nossos filhos enetos, se eles estiverem entre osprivilegiados 14% da populaçãobrasileira que têm acesso a com-putadores em casa, segundodados oficiais do governo federalem 2005. Está disponível também para outros 12% da

população em locais de trabalho,escolas, universidades e telecen-tros [2].

No Brasil e em outras partesdo planeta também, a convergên-cia tecnológica é um fato parauma pequena parcela da popu-lação. Esses números trazemjunto com a "boa nova" a cons-tatação: para mais de 70% dapopulação brasileira a convergên-cia tecnológica é (e por quantotempo continuará a ser?) umaficção. Aliás, para boa parte des-ses 70%, o computador ainda éuma ficção. A responsabilidadesocial institucional não podeignorar essa realidade. Ao con-trário, sem deixar de incorporaras facilidades da convergênciatecnológica aos seus procedimen-tos e programas de estudo, ainstituição de educação tecnoló-gica, principalmente, não podedeixar de refletir e agir sobre essarealidade, considerando as possi-bilidades da inclusão social doscidadãos pela utilização dosrecursos da tecnologia.

A responsabilidade educa-cional da instituição de ensinoimpõe que se realize a formação

do cidadão e do profissional paraos contextos sociais presentes(operar, intervir e decidir emambientes de negócios pactuadospela competitividade, pela ino-vação, pela cooperação em rede,pela qualidade dos serviços, pelo melhor preço). Por outrolado, é urgente que se reflita nosambientes acadêmicos e nos laboratórios de produção de tec-nologias sobre a utilização dosaparatos tecnológicos, conver-gentes ou isolados, não apenaspara o mercado, mas tambémpara o desenvolvimento socialdas comunidades e do país, o que exige inclusão sócio-eco-nômica.

Que esperança a academia écapaz (ainda) de produzir para apopulação excluída, digital esocialmente? Que pensamentos eatitudes a academia pode provo-car nos seus freqüentadores pri-vilegiados em relação à exclusãodigital da população? Não seencontra aqui, nessa produção depensamentos e atitudes, uma dasmissões da universidade? Nãoseria essa a sua função maisnobre?

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Educação tecnológica: apenas saber fazer?

A educação das pessoas éuma ação humana para o futuro.Educa-se agora, realizam-se nopresente as ações educativas e osresultados são esperados nofuturo (muito próximo, próximoou distante). Espera-se que osresultados e os efeitos dessasações permaneçam e se desen-volvam no futuro, estimulandomudanças e transformações naspessoas, nos ambientes onde vi-vem as pessoas e nas culturas porelas produzidas. A educação dásignificação à sociedade e produzpertinência do ser humano ao seugrupo social restrito ou amplo.

Essas considerações iniciaissão apresentadas a propósito dareflexão sobre a educação tec-nológica ou formação profissio-nal para as áreas tecnológicas, noensino superior, especificamente.

Nesse caso, a palavra deordem é o desenvolvimento decompetências para a vida profis-sional, como se pode verificar,por exemplo, nas DiretrizesCurriculares Nacionais para aárea da engenharia, já mencio-nadas neste texto.

O que se quer considerar aquié que o conceito de competêncianão pode ser reduzido apenas aosaber fazer ou mesmo ao saberfazer bem. Vários autores têm sedebruçado sobre esse tema, lan-çando luzes sobre ele e aprofun-dando-o [3], [4], [5]. Recente-mente, GIOSTRI [6] publicouinteressante análise do tema quereferencia as reflexões aqui postas.

O saber fazer, em qualquermodalidade de educação, inclu-sive na tecnológica, é competên-cia a ser desenvolvida juntamentecom outras que conduzam à

...capacidade de pensar erefletir sobre a pluralidadedos problemas que enfrenta ahumanidade, diante dos dife-rentes contextos culturaisde uma sociedade que semodifica e se ressignificacontinuamente [7].

A formação profissional éaparato educacional para o ho-mem intervir nos contextos so-ciais a que está ligado, munido deconteúdos e atitudes (habilidadese competências) em benefício dohomem. As tecnologias, novas eantigas, são recursos poderososdo homem para o homem ou con-tra o homem; a convergência tecnológica é um novíssimoresultado do desenvolvimentotecnológico que está ressignifi-cando a sociedade, neste exatomomento, e tornando melhor osaber fazer bem; a responsabili-dade ambiental é atitude ética quediz respeito à preservação da vidano planeta; a responsabilidadesocial é demanda e condição paraa vida em comunidade.

Como dar conta dessas ques-tões - e elas todas são, neste exato momento, determinantesdo tipo de vida que estamos pro-jetando para os que virão depoisde nós - apenas sabendo fazer

bem? Não há que se produzirmais saberes sem descuidar dosfazeres?

Especificamente, a EducaçãoTecnológica não pode ignorar enem subestimar os contextos tec-nológicos e sociais que têminfluência direta sobre seuspropósitos e procedimentos. Issocomporta um rol de ações deacompanhamento, avaliação eadequação que passam pela con-cepção de projetos político-pedagógicos, pela arquitetura decurrículos, pela formação dosdocentes, pela gestão acadêmica,entre outros, cujos resultados são, em determinado momento, a educação de profissionais para o futuro (muito próximo,próximo ou distante, repetimos).Se essa educação é fiel aos obje-tivos maiores da educação dohomem, se a escola assume aresponsabilidade por uma edu-cação para a preservação da vidacom qualidade no planeta, elatem que ir além do saber fazerbem.

As instituições de educaçãotecnológica podem construir esse caminho, através de seusprojetos de educação, e precisamestar dispostas a aprender o cami-nho na medida que o empreen-dem. O Instituto Nacional deTelecomunicações (Inatel) temprocurado, há vários anos, cons-truir seu projeto de educação ori-entado pelas reflexões aquiexpostas, como é exposto aseguir.

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Educação em engenharia: o projeto de educação do Inatel

O Inatel foi criado em 1965 eestá localizado em Santa Rita doSapucaí, no sul do Estado deMinas Gerais. É pioneiro, noBrasil, no ensino de engenhariade telecomunicações. Atualmen-te, oferece os cursos de gradua-ção em engenharia elétrica (comespecificidade em telecomuni-cações) e em engenharia da com-putação; programas de pós-gra-duação em engenharia de redes esistemas de telecomunicações eem engenharia de TV digital; emestrado em telecomunicações.Possui um Centro de Desenvolvi-mento de Software para Tele-comunicações e de Educação Continuada para empresas eprofissionais do mercado.

O Inatel foi importante par-ceiro do município para a criaçãoe implantação do Pólo Tecno-lógico de Santa Rita do Sapucaí ehoje é um dos seus destacadosapoiadores [8].

Conforme relatam KALLÁSe SOUZA [9], ao longo de suahistória o Inatel vem desenvol-vendo um projeto de educaçãoque resulte na formação de umengenheiro qualificado tecnica-mente para as atividades deengenharia e atento às impli-cações sociais da tecnologia navida das pessoas e das comu-nidades. A esse modelo de edu-cação tecnológica imprime-se,internamente, o lema de Formaro Homem para a Engenharia.

O projeto educativo do Inatelpropõe desenvolver as seguintes

competências necessárias para oengenheiro referenciar o seuexercício profissional: competên-cias técnico-científicas, que com-preendem competências e ha-bilidades científicas e técnicas da formação profissional doengenheiro; competências com-plementares, que reúnem com-petências e habilidades para oengenheiro compreender, contex-tualizar e desenvolver seu traba-lho (visão empreendedora, plane-jamento do trabalho e do tempo,capacidade de trabalho em equi-pe, capacidade de relacionamen-tos, etc.); atitudes complemen-tares, que resultam de uma basede educação para relacionarsociedade e tecnologia através deuma visão sistêmica da enge-nharia e de uma compreensãocrítica da realidade.

Tais competências e habili-dades, que, no propósito, vãoalém do saber fazer bem e quecongregam ação e atitude, sãodesenvolvidas no âmbito dos cur-sos de graduação do Inatel, queprivilegiam uma formação pro-fissional generalista sustentadaem referências éticas, huma-nísticas e educacionais para aten-der às demandas da sociedade.Elas sintetizam o propósito dedesenvolvimento integral dohomem e sua formação profis-sional para atuar na sociedade,através do exercício da enge-nharia e se orientam por princí-pios basilares de respeito ao indivíduo, aos diferentes e às

diferenças; de liberdade comresponsabilidade em relação àsconseqüências e aos limites dasações individuais e grupais; desolidariedade com as pessoas ecom os grupos sociais; de recusaà injustiça e às desigualdadessociais.

Para a realização dessespropósitos e dessas finalidades, oInstituto assume sua condição deinstituição de educação tecnoló-gica em uma sociedade em trans-formação, compreende o proces-so de ensino e aprendizagemcomo um processo contínuo parao desenvolvimento autônomo doseducandos, através da elaboraçãoe reelaboração do conhecimentoem situações e ambientes de edu-cação diversificados, nos quaissão compartilhadas vivências eexperiências dos sujeitos doprocesso educativo.

Atividades diversificadas,além das atividades acadêmicastradicionais, oferecem aos estu-dantes oportunidades de testar eaplicar o modelo de educação querecebem: feira para a apresen-tação de projetos e produtos de-senvolvidos por alunos; Progra-ma Institucional de IniciaçãoCientífica; desenvolvimento deprojetos em disciplinas; Progra-ma de Pré-incubação de Projetos;Programa de Incubação deEmpresas e Produtos; concursode planos de negócio; partici-pação voluntária em programas eprojetos de alcance social e cultural desenvolvidos para a

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comunidade local; Empresa Jú-nior; entre outros.

Três princípios orientadorescaracterizam o projeto pedagógi-co do Inatel: construção do conhecimento; interação entreestudantes, professores e o am-biente educacional; e reelabo-ração do conhecimento e práticas interdisciplinares. Tais

princípios dão consistência àconcepção do projeto pedagógicopara aplicar-se à formação profis-sional dos engenheiros num fu-turo próximo. Porém, a estruturaatual, o modelo estrutural atual doscursos de engenharia, em geral,não incrementam a formação dosprofissionais que as necessidadestecnológicas, econômicas, sociais

e ecológicas têm apontado. Parao futuro, estão reservados para oInatel (e para as instituições deeducação tecnológica) estareflexão e este desafio: como seorganizar, como se estruturar ecomo gerir um curso de formaçãoprofissional na área tecnológica,a partir de um projeto educativopertinente e consistente?

Considerações finais

A convergência tecnológica,como todas as conquistas tec-nológicas anteriores e posterioresa ela, está aí para estabelecer pro-fundas mudanças nas relaçõessociais, nos negócios, no acessoàs informações, na produção do conhecimento. Traz tambémenorme desafio para a formaçãoprofissional, principalmente na

área tecnológica, porque alterasubstancialmente as demandassociais, impõe cuidados novoscom o meio ambiente e com osrecursos naturais, estabelecenovas bases para a produção debens e serviços, projeta novasrelações de trabalho.

Com isso, a educação tec-nológica tem que se reestruturar e

se reorganizar para formar profis-sionais para os novos contextos eas novas demandas sociais. Saberfazer melhor não será (não é)mais suficiente, porque tambémhá que se saber conhecer, se sa-ber conviver e se saber ser [3],saberes esses demandados hojepelo mundo do trabalho e tam-bém pelo futuro da humanidade.

Referências

[1] BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução n.º 11, de 11 de março de 2002.

Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia.

Brasília, DF: DOU de 09/04/2002, seção I, p.32.

[2] CASTRO, Cosette. Tempos de Convergência Tecnológica.

http://www.comunicacao.pro.br/setepontos/convtec.htm, 01/11/2005.

[3] DELORS, Jacques (coord.). Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo/Brasília: Cortez/UNESCO/MEC, 1998.

[4] MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

[5] BAZZO, W. A.; PEREIRA, L. T. V.; LINSINGEN, I. Educação Tecnológica: enfoques para o ensino de engenharia.Florianópolis: Editora da UFSC, 2000.

[6] GIOSTRI, E. C. As Diretrizes Curriculares e a Polêmica do Ensino por Competências. Revista ABENGE (Revista deEnsino de Engenharia), Brasília, n.º 2 , dez 2004, p.1 a 8.

[7] Idem, idem, p. 2.

[8] INATEL, home page: http://www.inatel.br

[9] KALLÁS, E.; SOUZA, J. G. Formação para a Responsabilidade Social em Ambientes de Tecnologia. São Paulo:BRASILTEC - Salão e Seminário Internacional de Convergência Digital, julho de 2003.

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Aspectos jurídicos do VoIP - as dificuldades para sua regulamentação

Demócrito Reinaldo Filho

Juiz de Direito em PE. Presidente do Instituto Brasileiro de Política e Direitoda Informática (IBDI).

RESUMO

O artigo trata do desenvolvimento do VoIP no Brasil e as ações adotadas pelasempresas para se adaptarem ao novo serviço. Define o processo de transmissãode voz pela internet e os reflexos do crescimento da tecnologia no mercado,abordando a urgência de criação de mecanismos regulatórios, considerando osinteresses da sociedade e dos diversos segmentos envolvidos no processo.Trata ainda da questão da ameaça que o VoIP pode representar para o serviçode telefonia fixa e discute as competências para regulamentar o serviço.Aborda ainda a natureza do serviço e seu enquadramento no setor de tecnolo-gia da informação ou telecomunicações, propondo soluções para essa exigên-cia do mercado.

Seb

astiã

o Ja

cint

o Jú

nior

1- Introdução

No presente trabalho, explo-

ramos as dificuldades de enten-

der e definir o que exatamente

constitui a "Telefonia Internet".

Também discorremos sobre o

crescimento da telefonia na inter-

net como uma potencial ameaça

ao tradicional sistema de telefo-

nia, com especial ênfase para as

atividades regulatórias, que se

espera sejam desenvolvidas pela

Anatel. Como órgão regulador

dos serviços de telecomunicações

no país, a Anatel ainda não

definiu regras claras sobre as

atividades de empresas que ofe-

recem serviços de telefonia de

voz, mediante protocolo IP. O

que se espera é que venha, dentro

de algum tempo, a exercer sua

atividade regulatória para disci-

plinar esse setor específico das

telecomunicações, o que, obvia-

mente, irá apresentar algumas

dificuldades, sabendo-se que o

VoIP é uma nova tecnologia com

características que reúnem ele-

mentos comuns às telecomuni-

cações tradicionais e à comuni-

cação na internet. Mencionamos

essas dificuldades e apontamos

tendências para a resolução des-

ses problemas.

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2- O desenvolvimento do VoIP no mercado corporativo brasileiro

Várias empresas estão mi-grando para a telefonia IP, trocan-do suas centrais telefônicas pelanova tecnologia, com o objetivoprincipal de redução de custos.Ainda assim, por mais rapida-mente que ocorra a evolução dastelecomunicações, poucas são asempresas que se sentem seguraspara ingressar na tecnologia VoIP.Algumas estão optando, nummomento inicial, por soluçõeshíbridas, deixando centrais tradi-cionais e IP convivendo de ma-neira integrada, ou centrais IPque suportam também ramaistradicionais. Mas, como parecenão haver dúvidas de que a evo-lução tecnológica passa pelaadoção de telefonia IP, e como adiminuição dos custos de liga-ções de longa distância nacional einternacional é fator sensível paraos usuários corporativos, é fácil

prever que as empresas decidamtrocar suas antigas redes de tele-fonia pelas novas soluções dentrodos próximos anos, ainda que,num primeiro momento, essa mi-gração se limite àquelas de médioe grande porte.

De acordo com estudo daFrost & Sullivan, o mercado lati-no-americano de telefonia IPteria movimentado receita daordem de US$ 150 milhões em2004, volume que correspondeu aum incremento de 44,2% sobreos US$ 103,7 milhões registradosno ano anterior. Mantida a parti-cipação do Brasil nesse bolo emtorno dos 12%, os contratos fe-chados no país ao longo do anopassado alcançaram US$ 31 milhões, com a venda deequipamentos e software. Dototal negociado na região noperíodo, as instalações de IP

puro sustentaram 71% das ven-das, enquanto as soluções do tipoIP-enable (que suportam linhasTDM e IP) responderam pelosrestantes 29%.

Em termos de ramais instala-dos, a participação ainda é peque-na frente à base instalada.Especialistas afirmam que 90%das portas em uso no Brasil sãoanalógicas. Os outros 10% esta-riam divididos entre ramais digi-tais e IP, com tendência para oequilíbrio entre as duas tecnolo-gias. A Associação Brasileira daIndústria Elétrica e Eletrônica(Abinee) estima que foram ven-didos 1,4 milhão de ramais para omercado corporativo em 2004,mas não especifica a participaçãoIP nesse total. No mundo, aspesquisas indicam que foramcomercializados 10 milhões deaparelhos IP.

3- O que é a telefonia sobre internet?

Como o próprio nome sugere,a telefonia na internet ou VoIP(Voice over IP), ou ainda VON(Voice on the Net), envolve o usoda rede internet para a transmis-são em tempo real de sons(arquivos de áudio) de um com-putador para outro ou, em algunscasos, de um computador paraum aparelho de telefone.

O processo de transmissão devoz sobre a internet ocorre daseguinte maneira: o arquivo deáudio é comprimido e dividido empedaços (pacotes) de informação

que, assim, trafegam sobre a redeaté chegar ao local do destina-tário final da mensagem, ondesão reagrupados. Na telefoniatradicional, formada pelas redesconvencionais de circuitos comu-tados, uma banda fixa (ou circui-to, em outras palavras) entre asduas extremidades das pessoasque se comunicam fica disponibi-lizada somente para aquela co-municação, com a banda ficandoinutilizada durante os minutos desilêncio ou intervalos da conver-sa. Por isso, a faixa de banda de

comunicação utilizada fica in-disponível para outras chamadas.Na telefonia que se baseia numarede de protocolo IP, todos os ele-mentos da comunicação (sejamtextos, gráficos ou arquivos deáudio) são comprimidos e que-brados em pequenos pedaços("pacotes" de informação), assimtransitando até atingir o receptorda mensagem. O canal ou bandade comunicação que está sendoutilizado, por esse motivo podeser recuperado e ficar disponívelpara outros usuários durante os

97

momentos de silêncio que ocor-rem na conversação originária.

A grande vantagem do VoIPé que, utilizando-se da rede

mundial de comunicação (a internet), os usuários po-dem fazer ligações de longa distância sem qualquer custo

ou a um custo bem abaixo dos valores cobrados pelas companhias telefônicas tradicio-nais.

3.1- O VoIP "phone-to-phone": a terceira geração da telefonia na internet

A simples definição da telefo-nia VoIP como a transmissão emtempo real de sinais de áudio(voz) através da rede internet nãoé suficientemente clara de modoa explicar a verdadeira dimensãodesse tipo de serviço de comuni-cação. A falha da definição estáem omitir uma modalidade deVoIP cada vez mais promissora eem expansão, que poderíamoschamar de "telefonia internet deterceira geração", justamente aque permite uma chamada de vozentre dois aparelhos telefônicos.

As duas primeiras modali-dades da telefonia internet seriamaquelas que permitem a realiza-ção de ligações de computadorpara computador (PC-to-PC) oude computador para telefone(PC-to-phone). A terceira gera-ção seria a que possibilita a rea-lização de uma conversa emtempo real entre duas pessoas,utilizando-se ambas de aparelhosde telefone (phone-to-phone), aoinvés de computadores.

As duas primeiras modali-dades estão essencialmente vin-culadas à utilização de um com-putador pessoal (PC), pelo menosem uma das extremidades. Umdos atores dessas modalidades decomunicação participa fazendouso de um computador. Ele se

conecta à internet e, através dautilização de um programaespecífico, realiza uma "ligação"para o computador ou aparelhotelefônico da outra. A terceiraespécie de telefonia VoIP, consi-derada a modalidade de telefoniapura via internet (em contra-posição às duas outras espécies,que seriam modalidades "híbri-das" de telefonia), é aquela pelaqual as pessoas tanto fazem comorecebem chamadas de qualqueraparelho telefônico comum, pormeio de um acessório denomina-do ATA (adaptador de telefoneanalógico). Nessa terceira moda-lidade, os usuários não se utili-zam de computador.

Numa ligação de telefonepara telefone via internet, ousuário se utiliza de um aparelhotelefônico comum (com o adapta-dor conectado à entrada da co-nexão de internet banda larga)para fazer a chamada, que é feitapara um número de telefone deacordo com o sistema de dis-tribuição de números da telefoniatradicional (que obedece a planosde outorga dentro do territórionacional e, no que diz respeitoaos códigos dos países, a tratadose convenções internacionais). Do ponto de vista técnico, a rea-lização de uma chamada de um

telefone para outro via internetfunciona assim: o usuário faz aligação através de um aparelhotelefônico comum, discando parao número desejado. O adaptador,que trabalha como uma porta deentrada (gateway) para a redeinternet, converte os sinais deáudio (voz) para arquivos dedados ("pacotes" de informação)compatíveis com o protocolo IP,que trafegam desse modo na redeaté chegar ao ponto de destino,onde são decodificados e trans-formados novamente em voz.

A grande desvantagem dosserviços de telefonia VoIP pura éque o usuário necessita trocar denúmero telefônico e (em algumasmodalidades do serviço) ter quemanter uma conta de acesso(banda larga) à internet. A van-tagem, além da economia doscustos com as ligações, está namobilidade que algumas soluçõesdesse tipo de serviço propor-cionam. Não é uma comodidadeque se compare aos telefonescelulares, mas quando for de um lugar a outro e dispuser de um ponto de conexão (bandalarga) à internet, o usuário po-derá utilizar o serviço VoIPcomo se estivesse em casa, bas-tando carregar consigo o adapta-dor.

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4- A concorrência no mercado de telefonia e a necessidade de regulamentação da telefonia VoIP

À primeira vista, a nova tec-nologia de telefonia somenteaparenta trazer benefícios, já quepermite sensível redução de cus-tos nas ligações de longa distân-cia. Como permite que aplicaçõesde telefones e computadores ope-rem numa mesma rede, favoreceo uso mais eficaz dessa infra-estrutura, gerando a redução decustos.

No entanto, justamente porter esse potencial de se tornaruma alternativa viável à telefoniatradicional, um setor específicose sente contrariado em seusinteresses, justamente o que con-grega as atuais prestadoras doServiço Telefônico Fixo Comuta-do (STFC). Algumas das presta-doras desses serviços enxergam atecnologia VoIP como uma po-tencial ameaça ao sistema de tele-fonia tradicional. As grandescompanhias de telefonia fizerampesados investimentos em termosde infra-estrutura de rede (após oprocesso de desestatização dosistema Telebrás) e não queremperder poder econômico ou abrirmão de monopólios regionais nastelecomunicações. Essas empre-sas detêm o controle de parte físi-ca essencial das redes de telefo-nia fixa e se sentem ameaçadasdiante de qualquer possibilidadede perda de lucros ou comprome-timento de seus modelos comer-ciais já estabelecidos.

Já se pode pressentir, portan-to, um movimento desse setor

específico no sentido de exigir daAnatel ou de outro órgão regu-lador, a definição de um marcoregulatório para a telefonia sobreinternet. Afinal, como se disse, asempresas privadas que adquiri-ram o controle acionário das antigas empresas estatais de tele-fonia fixa (e mesmo suas sub-sidiárias criadas para exploraçãodo serviço móvel celular) fizerama implantação e expansão dasredes de telecomunicações, nãosó como obrigação prevista noprocesso de alienação - que pre-via a reestruturação das redes detelefonia - mas também para darmelhor suporte de qualidade téc-nica à prestação dos serviços.Depois do processo de reestrutu-ração e desestatização das empre-sas federais de telecomunicações,as companhias privadas queadquiriram o direito à exploraçãodesses serviços fizeram pesadosinvestimentos para o desenvolvi-mento desse setor em nosso país,e esperam ver o retorno dessescustos de operação e melhoria damalha de telefonia através delucros na cobrança de tarifas pelaprestação dos serviços, dentro deum ambiente de competição livree justa.

A garantia de regras ade-quadas de competição (de umajusta competição) não é uma exi-gência irrazoável. Visando a pro-piciar competição efetiva e justa,a Agência regulatória brasileirapoderia estabelecer condições a

empresas ou grupos empresariaisquanto à obtenção de licença(concessões, permissões ou auto-rizações) para exploração deserviços de telefona IP. Nos ter-mos do art. 6º da lei 9.472/97, osserviços de telecomunicaçõesdevem ser organizados "combase no princípio da livre, amplae justa competição entre todas asprestadoras, devendo o PoderPúblico atuar para propiciá-la,bem como para corrigir os efeitosda competição imperfeita ereprimir as infrações da ordemeconômica". Como se observa, asnormas gerais de proteção àordem econômica são aplicáveisao setor de telecomunicações(art. 7º), devendo o Estado asse-gurar às empresas que atuamnesse campo não apenas o direitoà livre competição, mas que estase faça de uma maneira justa.

Considerando-se o novo qua-dro que se desenha no ambientede competição, observados oprincípio do maior benefício aousuário e o interesse social eeconômico do país, de modo apropiciar a justa remuneração dasprestadoras das diversas modali-dades de serviços de telecomuni-cações e a justa competição entreelas, o órgão regulador deverádecidir se o aparecimento da tele-fonia VoIP provoca uma com-petição imperfeita no setor dastelecomunicações, de modo a sefazer necessária a edição de umnovo feixe regulatório.

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5- Tem a Anatel competência para regular a telefonia sobre IP?

Se alguma demanda regula-tória sobre empresas que hojeexploram soluções de telefoniana internet vier a se tornar umfato irreversível, quer tenha ori-gem em reclamações das opera-doras de telefonia fixa nacionais(do STFC) ou mesmo comoexigência governamental paraimpulsionar a arrecadação detributos, uma pergunta vem logoà tona: teria a Anatel competênciapara regular o mercado da telefo-nia na internet?

Até o presente momento,pelo que se saiba, a Anatel nãobaixou normas específicas regu-lando a prestação do serviço deVoIP, nem há indicações de quevenha a fazê-lo em breve.

O problema da regulamen-tação da telefonia na internetpassa necessariamente pela suadefinição. Podemos considerar oVoIP como um serviço de teleco-municação, uma tecnologia di-ferente não enquadrada nesse conceito ou simplesmente umaplicativo para a internet?

Se considerarmos que o VoIPé um simples aplicativo parainternet, e não propriamente umserviço de telecomunicação, difi-cilmente se pode pretender umpapel regulatório da Anatel(órgão regulador da União), nadefinição de políticas para orga-nização e exploração dessa tec-nologia.

Em sendo esse o caso, outrosórgãos não estariam mais aptos

para regular os serviços de VoIP?Por exemplo, o Comitê Gestor daInternet no Brasil (CGI.br), aquem cabe coordenar todas asiniciativas de serviços de internetno país, não seria responsável porassegurar a regulação da presta-ção do serviço de telefonia sobreIP? Como se sabe, o Comitê Ges-tor foi criado pela portaria in-terministerial nº 147, de 31 demaio de 1995 e alterada pelo de-creto presidencial nº 4.829, de 3de setembro de 2003, para coor-denar e integrar todas as iniciati-vas de serviços internet no país,promovendo a qualidade técnica,a inovação e a disseminação dosserviços ofertados. Também éresponsável por assegurar a justae livre competição entre os pro-vedores e garantir a manutençãode adequados padrões de condutade usuários e provedores. Com-posto por membros do governo,do setor empresarial, do terceirosetor e da comunidade acadêmi-ca, o CGI.br representa um mo-delo de governança na internet,pioneiro no que diz respeito àefetivação da participação da so-ciedade nas decisões envolvendoa implantação, administração euso da rede. Não seria, portanto,mais condizente com suas fun-ções institucionais entregar a esseórgão a regulação dos serviços deVoIP, já que ele toma decisões emtudo que envolva a implantação,a administração e, sobretudo, ouso da internet no Brasil?

Pensamos que não. O ComitêGestor da Internet no Brasil(CGI.br), embora tenha atribui-ções amplas quanto à adminis-tração e uso da rede mundial,exerce com preponderância ape-nas a função de administração earrecadação dos valores de re-gistros de nomes de domínio (doccTLD.br). Tudo o que estiverrelacionado à organização eexploração dos serviços de tele-comunicações, nos termos dasleis brasileiras, fica a cargo daAgência Nacional de Telecomu-nicações (Anatel), entidade inte-grante da administração federalindireta, submetida a regime au-tárquico especial e vinculada aoMinistério das Comunicações,com sede no Distrito Federal. Éessa autarquia que tem a funçãode órgão regulador das telecomu-nicações no Brasil, agência cria-da pela lei 9.472, de 16 de julhode 1997 (art. 8º), podendo, nostermos das políticas estabelecidaspelos poderes executivo e legis-lativo (art. 1º), definir o discipli-namento e a fiscalização da exe-cução, comercialização e uso dosserviços e da implantação e fun-cionamento de redes de teleco-municações, bem como da uti-lização dos recursos de órbita eespectro de radiofreqüências (parágrafo único do art. 1º).Como órgão regulador das tele-comunicações, à Anatel competea adoção das medidas necessáriaspara o desenvolvimento das

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telecomunicações brasileiras, es-pecialmente expedindo normassobre a prestação desses serviços,quer quando prestados no regimepúblico (art. 19, IV) ou no regimeprivado (art. 19, X).

O serviço de telefonia de vozsobre IP se enquadra juridica-mente, sob vários ângulos, comoserviço de telecomunicações.

Como se sabe, a telefonia éuma forma de telecomunicação,que se caracteriza pela transmis-são, emissão ou recepção desinais de áudio (sons) através de fios e cabos. É o "meio datransmissão", portanto, que qua-lifica a telefonia e a difere de ou-tras formas de telecomunicação,mais propriamente do que o ma-terial informacional (tipo dainformação) que é transmitida.Outras formas de telecomuni-cação, dentre as quais a tele-grafia, a comunicação de dados ea transmissão de imagens, pro-porcionam a transmissão, emis-são ou recepção de informações(de natureza diversa, como sím-bolos, caracteres, sinais, escritos,imagens e sons) por meio deradioeletricidade, meios ópticosou qualquer outro processoeletromagnético. A própria lei(9.472/97), que dispõe sobre osserviços de telecomunicações emnosso país, deixa isso bem claro,ao dizer que "forma de telecomu-nicação é o modo específico detransmitir informação, decorrentede características particulares detransdução, de transmissão, deapresentação da informação ou

de combinação destas, conside-rando-se formas de telecomuni-cação, entre outras, a telefonia, atelegrafia, a comunicação de da-dos e a transmissão de imagens"(parágrafo único do art. 69).

Dentre as diversas formas detelecomunicações, o serviço deVoIP pode ser classificado comotelefonia, porque possibilita atransmissão de informações (si-nais de áudio) por meio de fios ecabos. O serviço de VoIP é típicoserviço de telefonia, pois a redeinternet é formada pela reuniãode pequenas redes de telecomuni-cações, cabos e fios que se inter-conectam, em que se destacamgrandes cabos de conexão queformam sua "espinha dorsal" (osbackbones). A maior parte damalha da rede internet é formadapor fios e cabos, daí porque acomunicação que nela trafegapode ser incluída no conceito detelefonia, para efeitos legais. Éuma rede formada pela reuniãode pequenas redes de telecomu-nicações, que, embora tenhamsurgido paralelamente às redes detelefonia fixa das companhiastelefônicas, hoje com elas seinterconectam, num processo de"convergência" que levou justa-mente ao aparecimento da telefo-nia VoIP, possibilitada pelos softwares e adaptadores para pro-tocolo IP, que permitiram apli-cações de telefones e computa-dores operarem como se estives-sem numa mesma rede.

Em algum ponto, a comunica-ção possibilitada pela tecnologia

VoIP termina se utilizando darede fixa de telefonia tradicional,nem que seja somente no trechoentre a central da operadora locale a sede (escritório ou residência)da pessoa que recebe uma chama-da em telefone convencional. Asredes de telecomunicações cadavez mais se fundem e se inter-conectam, num processo de con-vergência. Como a tecnologia IPpermite que o usuário dos seusserviços se comunique com umusuário da rede de telefonia fixatradicional, em algum momentoda comunicação haverá um ponto de interconexão. Assim, sea comunicação via VoIP se inter-penetra ou cruza em algum trechocom as redes de serviços da tele-fonia fixa tradicional, pode serconceituada como serviço detelefonia e, portanto, sujeita aoscondicionamentos regulamenta-res da Anatel.

Mesmo que se considere queo acesso à rede internet pode serfeito por ondas de rádio ou sa-télite, ainda assim a tecnologiaVoIP não escapa à qualificação deserviço de telecomunicações e,portanto, sujeita aos poderes defiscalização e regulamentação daAnatel. O art. 60 e seu parágrafo1º da lei 9.472, de 16 de julho de1997, define como serviço detelecomunicações "o conjunto deatividades que possibilita a ofertade telecomunicação", sendo estaa "transmissão, emissão ou re-cepção, por fio, radioeletricidade,meios ópticos ou qualquer outroprocesso eletromagnético, de

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símbolos, caracteres, sinais,escritos, imagens, sons ou infor-mações de qualquer natureza".Serviço de telecomunicaçõescomo um todo, independente-mente da forma de transmissão,está sujeito à competência doórgão regulador no Brasil - aAnatel. Então, mesmo que acomunicação por protocolo IPnão se operasse por meio de umarede física de cabos e fios, masexclusivamente por qualquerprocesso radioelétrico ou eletro-magnético, a forma de transmis-são (por ondas) não a retiraria doâmbito de regulamentação daAnatel, pois continuaria dentroda conceituação de serviço detelecomunicações.

Conclui-se, portanto, quequanto ao "meio de transmissão",a telefonia IP pode ser conceitua-da como serviço de telecomuni-cações. É uma forma de teleco-municação surgida em função dodesenvolvimento de uma novatecnologia. Ainda que a redeinternet não pudesse ser consi-derada uma rede de telefonia(mas somente de telecomuni-cação), a Anatel não perderia seupoder regulador sobre o serviçoVoIP.

Pela conclusão acima esta-belecida, afasta-se o argumentode que o VoIP se trata de simples"serviço de valor adicionado".Nos termos do art. 61 da Lei9.472/97, "serviço de valor adi-cionado é a atividade que acres-centa, a um serviço de telecomu-nicações que lhe dá suporte e

com o qual não se confunde,novas utilidades relacionadas aoacesso, armazenamento, apresen-tação, movimentação ou recupe-ração de informações". Nessesentido, "serviço de valor adicio-nado" não constitui propriamenteum serviço de telecomunicações,sendo o seu provedor tratadocomo mero usuário do serviço detelecomunicações que lhe dá su-porte, com os direitos e deveresinerentes a essa condição (par. 1ºdo art. 61). Existe uma correnteque defende que, por ser ofereci-da através de um protocolo apli-cado à internet, e sendo o serviçode acesso à internet um serviçode valor adicionado (o qual acres-centa novas funcionalidades a umserviço de telecomunicações pre-existente), o VoIP também deve-ria ser considerado um serviço devalor adicionado, não sujeita àsregras e obrigações impostas aosprestadores de serviços de teleco-municações.

Uma conceituação do VoIPcomo simples "serviço de valoradicionado", todavia, seria acei-tável apenas para uma de suasmodalidades, aquela em que acomunicação é feita de computa-dor para computador (PC-to-PC).Nas duas outras modalidades,como se sabe, a comunicação serealiza através ou entrecruza arede de telefonia tradicional, pelomenos em uma das extremidadesda ligação - por essa razão essasmodalidades também são chama-das de "interconnected VOIP".Nesses casos, não há dificuldade

em se considerar a Voz sobre IPum serviço de telecomunicações,haja vista que a transmissão dainformação passa necessaria-mente pela rede de telefoniatradicional. Já quando a comuni-cação se opera exclusivamentesobre a rede internet (de com-putador-para-computador), ficadifícil aceitar que esse tipo decomunicação não possa ser com-preendido dentro do conceito de"serviço de valor adicionado",pois sua utilização depende ape-nas de uma conta de acesso àinternet, serviço esse que já édefinido como tal e prestado porprovedores que são tratados, parafins legais, como usuários dosserviços de telecomunicações. Osprovedores de acesso à internetsão considerados prestadores de"serviço de valor adicionado",tratados como meros usuários doserviço de telecomunicações quelhes dá suporte, com os direitos edeveres inerentes a essa condi-ção. A comunicação VoIP que serealiza toda sobre a internet, jáque depende exclusivamente de ousuário ter que pagar pelo direitoa uma conta de acesso à redemundial, se confunde com esseserviço (de valor adicionado).Em outras palavras, quem dispõede serviço de acesso à internet -que se enquadra na definição de"serviço de valor adicionado"-,automaticamente adquire a possi-bilidade de se utilizar do serviçode Voz sobre IP, já que os progra-mas de comunicação PC-to-PCsão oferecidos na rede mundial

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de forma gratuita. Não haveriacomo se taxar ou regular dife-rentemente o serviço de VoIP quese confunde e depende exclusiva-mente do serviço de acesso àinternet.

Em um relatório feito peranteo Congresso dos EUA, em 10 deabril de 1998, a Federal Commu-nications Commission (mais co-nhecida simplesmente pela siglaFCC), entidade que vem a ser oórgão regulador das telecomuni-cações naquele país, expressouseu entendimento de que a telefo-nia PC-to-PC se confunde com oserviço de acesso à internet, nãohavendo como separá-los ouatribuir-lhes disciplina diferente,na seguinte afirmação:

"Os provedores de internetsobre cujas redes a infor-mação passa podem nemsequer estar cientes que umparticular usuário estejausando um software paratelefonia IP, isso porquepacotes IP, carregando comu-nicação de voz, são indistin-guíveis de outros tipos de

pacotes.... [em tal caso] oprovedor de serviço internetnão parece estar 'provendo'telecomunicações para o seusubscritor".

Se a telefonia PC-to-PC pa-rece não poder ser regulada, porse confundir com o serviço deacesso à internet, pelo menos aque permite ligações entre apare-lhos telefônicos não pode sertratada como simples serviço devalor adicionado. Do ponto devista do usuário, que utiliza umaparelho de telefonia VoIP ou detelefonia comum (do STFC), nãohá alteração na forma ou conteú-do da informação. O usuário doserviço obtém apenas a transmis-são de voz, ao contrário de outrosserviços de informação na inter-net. Por não utilizar um computa-dor, e sim um aparelho telefôni-co, o usuário dessa modalidadede serviço VoIP não tem acesso aoutras comodidades, como nave-gação na internet (por meio debrowser), acesso a arquivosarmazenados, envio de e-mails,etc. Se a telefonia PC-to-PC se

confunde com o serviço de aces-so à internet, a telefonia VoIP pormeio de aparelhos telefônicos seassemelha à telefonia tradicional,e como tal parece que deve sertratada.

Cabe à Anatel regular os con-dicionamentos da telefonia VoIP(excluída a modalidade PC-to-PC), bem como o relacionamentoentre os prestadores dessa tec-nologia com as prestadoras deserviço comutado de telefoniafixa. Parece que das empresasque oferecem serviço VoIPphone-to-phone devem ser cobra-das tarifas pelo uso da rede detelefonia tradicional, em relaçãoaos trechos das redes das com-panhias telefônicas locais. Alémdisso, a exploração desse serviçodeve ficar sujeita à licença defuncionamento e fiscalizaçãopermanente, sob pena de nossopaís perder milhões em termos detaxas de licença e fiscalização,que deveriam ser cobradas decompanhias estrangeiras que es-tão oferecendo livremente servi-ços de VoIP, sobretudo compa-nhias norte-americanas.

6- Da definição da telefonia de voz sobre IP dentre as modalidades deserviços de telecomunicações

Nos termos do art. 69 da lei9.472/97, as modalidades deserviços de telecomunicações sãodefinidas pela Anatel em funçãode sua finalidade, âmbito deprestação, forma, meio de trans-missão, tecnologia empregada eoutros atributos. Discute-se se a

exploração da prestação de ser-viços VoIP pode ser realizadaatravés de licenças e outorgasprevistas para modalidades deserviços de telecomunicações járegulamentadas ou se, ao con-trário, a Anatel deve tratá-lacomo uma nova modalidade,

com regulamentação inteiramen-te nova e específica.

Acreditamos que, pela impor-tância, disseminação e caráterestratégico que o VoIP já tem epassará a ter ainda mais nos próximos anos, talvez não escape de uma regulamentação mais

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estrita e especialmente criada, ten-do em vista suas característicastécnicas e importância sócio-econômica. O desenvolvimentotecnológico do setor de telecomu-nicações implica em novos condi-cionamentos impostos por lei epela regulamentação da agênciareguladora. Nesse sentido, certa-mente o VoIP será tratada embreve como nova modalidade deserviço de telecomunicações,objeto de licença distinta, comclara determinação dos direitos edeveres da empresa exploradora edos direitos dos usuários, além deser objeto de uma estrutura ta-rifária também nova e distinta.

Em artigo publicado no sitedo IBDI, as advogadas MarcelaW. Ejnisman e Fernanda B.Casella França apontam que aAnatel apenas está indicando, demaneira informal, que os interes-sados em explorar serviços VoIPdevem requerer a mesma licençaconferida para a prestação doServiço de Comunicação Multi-mídia (SCM). Pensamos que talposição do órgão regulador deveser encarada como uma soluçãopaliativa e temporária, até que sepossa fazer um estudo mais com-pleto das peculiaridades técnicasdo VoIP e de sua participação nomercado de telefonia. De qual-quer maneira, o que não pode é aexploração de serviços de tele-comunicação - sob qualquer novamodalidade tecnológica ou formade transmissão dos sinais -,deixar de estar sujeita à licençade funcionamento prévia e à

fiscalização permanente (nos ter-mos de uma regulamentaçãoprópria ou submetida aos condi-cionamentos gerais do setor).

No exercício do seu poderregulatório, a Anatel não poderáescapar de definir uma questãoque tem a ver com política deefeitos sociais, mais especifica-mente se a telefonia VoIP deveser classificada como serviço deinteresse coletivo ou serviço deinteresse restrito. Como se sabe,de acordo com a abrangência dosinteresses que atendem, os ser-viços de telecomunicações po-dem ser classificados em serviçosde interesse coletivo e serviços deinteresse restrito (art. 62 da Lei9.472/97). Dependendo da classi-ficação que se adote, os deveres eobrigações das empresas presta-doras de telefonia VoIP serãomais ou menos extensos. Issoporque os serviços de interessecoletivo, considerados essenciais,são prestados sob o regime jurídi-co público (na forma de conces-são ou permissão), que sofre con-dicionamentos bem mais severosdo que aqueles reservados aosserviços prestados sob o regimejurídico privado (na forma deautorização), a exemplo das exi-gências de obrigações de univer-salização e de continuidade paraa prestadora (arts. 63, par. únic., e64). Por exemplo, as empresasque exploram o serviço telefôni-co fixo comutado (STFC) sofremuma estrita regulação da Anatelsobre suas atividades, com exi-gências de garantia de acesso à

população, deveres de expansãoda rede de telecomunicações eserviços, dentre outras, por serconsiderado serviço de interessepúblico. Os condicionamentos re-gulatórios são muito maiores emse tratando de serviço considera-do de interesse público. As moda-lidades de interesse público, porserem essenciais e sujeitas adeveres de universalização e con-tinuidade, não são deixadas àexploração sob o regime jurídicoprivado (art. 65, par. 1º), em queos níveis de exigência são meno-res. As prestadoras dos serviçosde telecomunicações sob o regi-me privado (autorizatárias) podemprover acesso somente a merca-dos de maior interesse econômi-co, sem as mesmas obrigaçõescontratuais que as concessioná-rias (do regime público).

É preciso que a Anatel façauma avaliação criteriosa antes dese decidir pelo enquadramentodos serviços VoIP em um dosregimes jurídicos. Qualquer mu-dança menos cuidadosa podetrazer impacto suficiente paraquebrar o equilíbrio econômico-financeiro do setor de telecomu-nicações. Se é certo que a exigên-cia de licenças em valores maiselevados e de obrigações sociaispode dificultar ou impedir o de-senvolvimento dos pequenos em-preendedores, que começam aexplorar a nova tecnologia VoIP,também não é menos certo queum nível de exigências exage-radamente baixo pode inviabi-lizar a atividade econômica das

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prestadoras do serviço comutadode telefonia fixa (que é prestadosob o regime jurídico público).Estas últimas fizeram altos inves-timentos em infra-estrutura, com

expectativa de retorno de longoprazo. À Anatel caberá escolherum nível de exigências regu-latórias para a telefonia VoIP quenão desestimule nem um nem

outro grupo de empresas. O fun-damental é a garantia de um nívelrazoável de segurança jurídicapara o setor das telecomuni-cações.

1. As empresas que exploramo serviço telefônico fixo comuta-do, em vista do aparecimento edas facilidades e conveniênciasda telefonia internet, não só parao usuário como para o próprioempresário, tenderão a oferecertambém (ainda que sob a formade outras pessoas jurídicas) ser-viços VoIP, caso a Anatel nãodefina ou demore a definir umnovo esqueleto regulatório paraesta última modalidade deserviço de telecomunicações.

2. Os serviços VoIP, pelo me-nos a modalidade que permitefazer chamadas entre aparelhostelefônicos, devem ser considera-dos serviços de telecomunica-ções, para fins legais.

3. Enquanto não for editadauma nova regulamentação espe-cífica para o VoIP, as empresasque pretendam explorar esse ser-viço deverão obter alguma formade concessão, permissão ou auto-rização previstas para as outras

modalidades de serviços de tele-comunicações, ficando submeti-das aos regulamentos e normasgerais das telecomunicações esob a fiscalização da Anatel.

4. O poder regulamentar (ouos regulamentos já existentessobre as modalidades de serviçosde telecomunicação) da Anatelnão deve alcançar a atividade dosfabricantes de softwares parasoluções VoIP, que não são pro-priamente prestadores de servi-ços de telecomunicações.

5. Na regulamentação sobre atelefonia VoIP, a Anatel terá quedefinir se enquadra sua prestaçãodentro do regime público ou pri-vado, levando em conta qualpúblico pretende atingir com essamodalidade de telefonia, em ter-mos de promoção da qualidade euniversalização dos serviços.

6. Uma avaliação mal feitapela Anatel sobre a natureza doserviço VoIP e as obrigações de-correntes dos prestadores pode

resultar em benefícios para umsegmento específico do setor deserviços de telecomunicações,provocando desequilíbrio entreos competidores. O modelo de te-lecomunicações em vigor foiestabelecido com o objetivo depromover a universalização, aqualidade do serviço e a justacompetição entre os prestadores.A evolução regulatória não podese desprender desses valores ini-ciais, ligados à defesa da livreconcorrência e aos princípios daordem econômica (esculpidos naConstituição) para o setor de tele-comunicações. Deve ser planeja-da com base em análises de sus-tentabilidade, do espectro deusuários a ser atingido e da obe-diência a políticas de interessepúblico, o que contribuirá positi-vamente para a estabilidade dosetor de telecomunicações e amanutenção de conquistas sociais(em especial a da universalizaçãodos serviços).

Conclusão

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Uma solução de Voz sobre IPpara a Rede Estadual de Minas Gerais

Sergio de Melo Daher

Graduado em Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica deMinas Gerais e MBA pela Fundação Getúlio Vargas.

RESUMO

Este artigo avalia as diversas tecnologias disponíveis para a implementação deuma rede de comunicação de voz corporativa estadual, fazendo uso da rede decomunicação de dados que serve à administração pública do Estado de MinasGerais, apontando as alternativas mais adequadas ao seu estabelecimento.

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O tema da presente edição darevista Fonte, a convergênciadigital, tem sido objeto de inú-meros debates sobre o futuro devariados setores da economia,principalmente o de telecomuni-cações, que, pelas suas caracterís-ticas, certamente terá, como já seobserva no cenário mundial, omaior impacto em suas ope-rações.

O estabelecimento de cone-xões de voz ainda representa umaparcela significativa das despesasdo Estado com serviços públicos.Suplanta com vantagem aquelasdecorrentes das conexões para a comunicação de dados entre as instalações das entidades governamentais, distribuídas no

território de interesse da adminis-tração pública estadual.

Este artigo abordará a possibilidade da utilização darede de dados, já estabelecida no Estado, para comportar também o tráfego de voz origi-nado e destinado às entidades por ela servidas, com o objetivode reduzir custos e, conseqüente-mente, obter uma maior inte-gração entre as diversas ativi-dades inerentes aos interessesestaduais.

No final do ano de 2003, foirealizada uma licitação para oregistro de preços de recursos decomunicação de dados para todoo Estado, substituindo o modelovigente à época, em que os

contratos da quase totalidade dasconexões de dados eram celebra-dos entre as concessionárias e aProdemge. Pelo modelo hoje emvigor, os órgãos e entidades esta-duais contratam diretamente dasconcessionárias de telecomuni-cações as suas conexões, queconvergem para um único pontoda rede, a Prodemge. Na Compa-nhia são alocados os equipamen-tos de roteamento e é estabeleci-da a interoperabilidade dos ser-viços.

Esse modelo obteve uma re-dução dos custos de comunicaçãode dados do Estado da ordem de45%, além de ter permitido aampliação das taxas de trans-missão com que são servidos os

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pontos de presença da adminis-tração pública estadual.

Uma da exigências contidasna especificação técnica da con-tratação é o suporte ao estabele-cimento de conexões de vozsobre o protocolo IP, de forma apreparar a infra-estrutura esta-dual de comunicação de dadospara absorver o tráfego de voz emsua intranet.

Como resultado da licitação,que foi distribuída em lotes queincentivaram uma acirrada con-corrência nas áreas de concessãodos serviços, tivemos como ven-cedoras as empresas CTBC, queopera na região do TriânguloMineiro; a Embratel e a Telemar,estabelecendo conexões baseadas

em circuitos terrestres; a Telemarprovê ainda, através do uso desatélites, conexões em localida-des ainda não atendidas pelosmeios tradicionais, em veloci-dades que variam de 64 Kbps a 2Mbps, de acordo com a demandaidentificada.

Diante desse cenário, pode-mos então vislumbrar as possibi-lidades do aproveitamento dosrecursos alocados para a conver-gência voz/dados.

Para que possamos tomar a decisão acertada na imple-mentação dos serviços de voz,utilizando a infra-estrutura de comunicações disponível da redede comunicação de dados queserve à administração estadual,

sem que isso traga impactos ne-gativos do ponto de vista opera-cional e financeiro, devemosanalisar cinco aspectos que influ-enciam diretamente a razão custo- benefício de suas opções, quesão:

- a sinalização e o encami-nhamento dos pacotes devoz;

- a qualidade do sinal devoz;

- impacto do tráfego adi-cional de dados digitaliza-dos na rede;

- qualidade necessária aoserviço; e

- a interconexão com osserviços públicos de tele-fonia.

Sinalização e encaminhamento dos pacotes de voz

Do ponto de vista tecnológi-co, existem dois principais pa-drões de mercado, o SIP (SessionInitiation Protocol) padronizadopelo IETF (Internet EngineeringTask Force) através da RFC-3261(Request for Comments) e oH.323, advindo de recomendaçãodo ITU-T (International Teleco-mmunications Union - TelecomStandardization).

O protocolo SIP foi estabele-cido pela comunidade da internetbuscando uma implementaçãosimples que suportasse o tráfegode voz digitalizada pela rede. Atransmissão dos pacotes de voz éiniciada através da consulta, pelodispositivo de comunicação de

voz, a um servidor, que possui astabelas de números de destino eseus respectivos endereços derede, que traduz o destino deseja-do pelo seu endereçamento IP. Apartir deste momento, a conver-sação poderá ser obtida em duasmodalidades: na primeira, os pa-cotes de voz são roteados peloequipamento que hospeda o ser-viço SIP; e, na segunda, a cone-xão é estabelecida apenas entreos equipamentos terminais de voz,sem a interferência do servidor.

Já o protocolo H.323 foi produzido pela demanda das concessionárias dos serviços detelecomunicação como umasolução para as demandas de

tráfego de voz e vídeo na rede,sendo, por este motivo, bastantemais complexo que o proto-colo SIP e especialmente impor-tante no estabelecimento desessões de videoconferência,tanto nos ambientes baseados nosserviços tradicionais de comuni-cação quanto na internet.

Uma primeira decisão pareceestar clara no estabelecimento doserviço de voz sobre IP (VoIP)utilizando a rede de comunicaçãode dados estadual: a escolha doprotocolo SIP, na modalidade doestabelecimento das conexõesentre os terminais de voz, dada asua simplicidade e facilidade deimplementação.

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Digitalização do sinal de voz

O sistema auditivo humanofunciona através da percepçãodas variações de pressão acústicaque atingem, em última análise, otímpano, uma fina membrana quecapta as oscilações da pressão domeio ambiente e as traduz emsinais nervosos compreensíveispelo cérebro.

O processo de escutar e en-tender traz consigo as peculiari-dades físicas dos componentesenvolvidos, como o meio de pro-pagação, a amplitude e a freqüên-cia das variações de pressão nessemeio acústico; e cognitivas, comoa capacidade de reconhecimentode padrões de sons do cérebro.

De forma geral, o ser humanoé capaz de ouvir sinais acústicoslimitados na faixa de 20 a 20 miloscilações por segundo ou 20 a20 mil hertz (Hz), sendo a vozuma estreita fatia dessa faixa. Oser humano é capaz de compreen-der uma conversação utilizandoum canal que possua um espectrode freqüência de 300 a 2.400 Hz,como o tradicional telefone queutilizamos habitualmente.

De acordo com a teoria dainformação, um sinal analógicodigitalizado, para ser recompostocom inteligibilidade, deve sermostrado com freqüência, nomínimo, duas vezes superior à

maior freqüência presente nosinal original, ou seja, para umsinal de voz, teoricamente, neces-sitaríamos de uma taxa de amos-tragem de 4.800 Hz.

Conforme pode ser observa-do na figura abaixo, um sinalanalógico, recomposto matemati-camente após ter sido digitaliza-do com taxas de 72 e 18 amostraspor ciclo da freqüência originaldo sinal, mostra claramente asdistorções de fase e amplitu-de introduzidas no sinal original,ilustrando os efeitos indesejá-veis inseridos na recuperação do sinal no receptor da men-sagem.

Sinal reconstituído com taxa de amostragem 18 vezes superior à freqüência original

Sinal Original

Sinal reconstituído com taxa de amostragem 72 vezes

superior à freqüência original

Processamento(ms)

0.75

30

30

3 a 5

10

10

Taxa(Kbps)

64

6.3

5.3

16

8

8

Algoritmo

m -law / A-law

MPC-MLQ

ACELP

LD-CELP

CS-ACELP

CS-ACELP

RecomendaçãoITU

G.711

G723.1

G.723.1

G.728

G.729

G.729a

108

Também podemos observarna figura o processo de digitaliza-ção em que tomamos uma amos-tra do sinal e convertemos em sinal binário o seu valor deamplitude, que será armazenadoaté que a próxima amostra sejacapturada, momento em quenovo armazenamento é realizado,e assim sucessivamente.

Os sinais mostrados são então processados pelo dispo-sitivo de digitalização, podendoser armazenados ou transmiti-dos, como no caso de voz sobreIP.

O processamento do sinal devoz digitalizado é realizado poralgoritmos de codificação e deco-dificação de sinais de áudio, co-nhecidos pela sigla Codec, quetratam o sinal digitalizado atravésde técnicas de compressão desinais digitais, preservando ainteligibilidade da informaçãooriginal; este é o caso do formatoMP3, globalmente conhecido epadronizado na distribuição deáudio de alta fidelidade emarquivos de pequenas dimensões.

No campo da voz sobre IP, utilizamos padrões menos

conhecidos pelo público em geral,que são as técnicas padronizadaspelo organismo internacionalITU-T, que estabelecem, atravésda série G.700, os mecanismosusuais de compressão de voz.

Essas recomendações garan-tem a interoperabilidade com osdiversos fabricantes de equipa-mentos de telecomunicações, pro-vendo várias opções de tratamen-to de sinais, que serão escolhidasconforme a relação custo/ benefí-cio requerida pela solução deseja-da, de acordo com o que pode seravaliado na tabela a seguir:

Outra decisão já pode serdefinida quanto ao padrão decompressão de voz a ser utili-zado na rede estadual, para a

implementação da facilidade devoz sobre IP, o G.723.1, uma vezque o mesmo requer a menorbanda dentre os padrões

disponíveis, preserva a qualidadede voz desejada e traz o menorimpacto no tráfego corporativoexistente.

Tráfego adicional de dados digitalizados na rede

Considerando-se a utilizaçãoda recomendação G.723.1 para aimplementação da rede de comu-nicação de voz sobre IP da admi-nistração pública estadual, teremos

um tráfego bidirecional adicional,útil, de 5,3 Kbps para cada canalde comunicação de voz estabeleci-do entre as diversas localidadesatendidas pela atual rede de dados.

Considerando que possuímoshoje conexões operando com ve-locidade de 64 Kbps e levando-seem conta o tráfego dos elementosde controle do protocolo TCP-IP,

109

que facilmente ultrapassa 10% dabanda útil necessária à comuni-cação de voz, estaremos reduzin-do em cerca de um oitavo acapacidade de tráfego de dados

de cada ponto envolvido paracada conversação simultânea emcurso em determinado instante.

Tal constatação nos obriga auma avaliação meticulosa do

nível de utilização de cada umdos pontos a serem atendidoscom a solução de VoIP confronta-da com a demanda de voz e dadospretendida.

Qualidade necessária ao serviço

Inicialmente, as aplicaçõesque faziam uso de redes baseadasno protocolo IP não exigiam umcontrole rígido da qualidade doserviço que era disponibilizado; talsituação não trazia maiores conse-qüências, uma vez que as aplica-ções não requeriam um tempo deretardo pequeno e constante entreos pontos de comunicação.

Diferentemente das aplica-ções convencionais, como a na-vegação na internet (HTTP), atransferência de arquivos (FTP),o envio de mensagens de correioeletrônico (SMTP), dentre outras,a comunicação de voz apresentarequisitos de qualidade de ser-viço relacionada com atraso naentrega dos pacotes; a variaçãodesses atrasos, conhecida como

jitter, largura de banda, perda depacotes e disponibilidade, nãoeram garantidos pelos mecanis-mos implementados no protocoloIP em sua versão usual e corrente,a versão 4.

Sem um mecanismo que prio-rize os pacotes de voz digitaliza-da, denominado habitualmenteQOS (Quality of Service), a co-municação apresenta pequenasinterrupções e ruídos que com-prometem a qualidade percebidapelas pessoas envolvidas na con-versação, tornando-se incômodoo diálogo entre os interlocutores.

Atrasos de aproximadamenteum décimo de segundo não são per-cebidos pelo processo de audiçãodos seres humanos durante umaconversação; atrasos superiores

são claramente percebidos, dandoa impressão semelhante àquelaexperimentada quando utilizamosum canal de satélite para o esta-belecimento da chamada.

Originalmente, o protocoloIP possuía um mecanismo declassificação de pacotes denomi-nado TOS (Type of Service), quepoderia ser utilizado para diferen-ciar os diversos tipos de tráfegoque disputavam o recurso físicode comunicação que interligavaos roteadores que compunham ainternet; variados pacotes de da-dos provenientes das aplicaçõesimplementadas sob os protocolosTCP e UDP concorriam pelocanal de comunicação de acordocom a classificação marcada nocabeçalho do pacote.

Ver4 IHL TOS ...

Cabeçalho de um Pacote IP Versão 4

0 1 2 3 4 5 6 7

0Precedência DTS (Delay, Throughput, Reliability)

111 - Controle da Rede

110 - Controle entre Redes

101 - Crítico

100 - Urgentíssimo

011 - Urgente

101 - Imediato

001 - Prioritário

000 - Rotina

0000 - Normal

1000 - Minimizar Atraso

0100 - Maximizar Taxa de Transferência

0010 - Maximizar Confiabilidade

0001 - Minimizar Custo

Byte TOS

110

O byte TOS do cabeçalho IPpossui três bits denominados pre-cedência, que classificam os pa-cotes em uma das oito categoriaspossíveis, conforme a sua priori-dade na rede, ou seja, os de menorprecedência poderão ser descar-tados no caso de congestiona-mento dos recursos físicos aloca-dos na rede, preservando ospacotes de maior precedência.

Adicionalmente, cada pacotepoderá ser marcado para receberum dos dois níveis de atraso, taxade transferência e confiabilidadepara o seu prosseguimento, osbits DTS.

Pode parecer que esse meca-nismo seja suficiente para a im-plementação de qualidade de ser-viço na rede; entretanto, apresen-ta limitações que não satisfazemos requisitos necessários:

• entre dois pacotes de mes-ma prioridade, não podemos

estabelecer a ordem de des-carte que prevalecerá;

• a pequena quantidade deoito categorias de priorida-de, aliada ao fato de que asduas categorias de maiorrelevância estão reservadasaos dispositivos de rotea-mento, reduzindo o númeroútil de categorias para seis;e

• a implementação práticadesse mecanismo pelos di-versos fabricantes não apre-senta consistência, além doque os bits DTS foramredefinidos por RFC poste-rior, eliminando o seu con-ceito.

Outro mecanismo disponívelé o protocolo RSVP (ResourceReservation Protocol) que reser-va uma determinada qualidade deserviço, em todos os dispositivosenvolvidos em um determinado

fluxo de dados, sendo os pacotesidentificados pelo conjunto dequatro parâmetros: endereço, nú-mero da porta de origem e de des-tino, e o protocolo de transporte.

O RSVP, apesar de adequadoao tráfego de dados sensíveis aosfenômenos associados com gran-des redes como a internet, traz oinconveniente de exigir a aloca-ção em memória de todas as in-formações pertinentes às sessõesestabelecidas utilizando esse pro-tocolo, inviabilizando-o para autilização em aplicações de gran-de abrangência.

Com a identificação da neces-sidade de garantia de níveis rigo-rosos de serviço na rede, o IETFoptou pela redefinição do esque-ma de priorização de pacotes esta-belecido pelo campo TOS, substi-tuindo-o pelo DiffServ (Differen-tiated Service), conforme pode serobservado na ilustração a seguir:

0 1 2 3 4 5 6 7

Sem usoSeletor de Classes

DSCP Differentiated Services Codepoint

Esse pequeno conjunto debits presente em cada pacote, noocteto TOS do IP versão 4 e noocteto Classe de Tráfego no IPversão 6, marca como deverá sertratado quando enviado por cadanó de rede.

Agora possuímos seis bits de-nominados DSCP (Differentiated

Service Codepoint) para classifi-carmos os pacotes, permitindoque tenhamos até 64 diferentesclasses ou agregados de classesaos quais podemos associar osserviços necessários na rede.

A implementação desse me-canismo de priorização dos pa-cotes mantém compatibilidade

com a implementação anterior,uma vez que preservou os estadosdos três primeiros bits, o seletorde classes, com os valores asso-ciados à precedência do mecanis-mo TOS anteriormente descrito.

Para o tráfego de voz sobre IPe demais aplicações que requei-ram um tratamento privilegiado,

Byte DiffServ

111

foi estabelecida uma classe que

determina a necessidade de enca-

minhamento urgente dos pacotes

marcados com um determinado

padrão de bits. O IETF recomen-

da que o valor para estes seis bits

deva estar ajustado na seqüência

binária "101110", conforme foi

estabelecido na RFC-2598.

Tal padronização é clara-

mente necessária para obtermos a

qualidade de serviço desejada e a

garantia da interoperabilidade

com os diversos fornecedores de

dispositivos de roteamento de

rede, quanto ao tratamento

prioritário que deve estar asso-

ciado aos pacotes privilegiados,

em nosso caso, os pacotes de

voz.

Os pacotes identificados co-

mo prioritários são encaminha-

dos e preservados em precedên-

cia aos demais, garantindo dessa

forma a qualidade requerida pelas

conversações de voz que trafe-

gam pela rede, desde que todos

os dispositivos por onde os paco-

tes trafeguem implementem o

mesmo mecanismo ou sejam

capazes de compreendê-los e

os regenerarem conforme as

tecnologias envolvidas em cada

um dos trechos trafegados, garan-

tindo-se a interoperabilidade dos

ambientes envolvidos.

Analisando as possibilidades

apresentadas e a constatação de

que a esmagadora maioria de

roteadores de que dispõe a

administração pública estadual é

compatível com o mecanismo

DiffServ, torna-se evidente que a

adoção desse mecanismo de

priorização de pacotes é a mais

adequada à implementação do

desejado projeto que disponibi-

lizará voz sobre IP.

Interconexão com os serviços públicos de telefonia

A implementação do serviço

de voz sobre IP pode ser conse-

guida com o uso de computa-

dores pessoais, telefones IP,

adaptadores para telefones analó-

gicos, roteadores com portas es-

pecíficas para conexão de tele-

fones analógicos, ou equipamen-

tos PABX através de entronca-

mentos digitais e os próprios

equipamentos PABX equipados

com portas para conexão em rede

local.

Em qualquer que seja a con-

figuração da solução, é impres-

cindível a sua interoperabilidade

com a rede pública de telefonia,

de forma que as pessoas não

sejam obrigadas a procedimentos

diversos para o estabelecimento

de suas conversações, produzin-

do resistência na implantação do

projeto.

Com esse objetivo, devere-

mos optar pelo uso de equipa-

mentos roteadores modulares,

capazes de se interconectarem

com os recursos de telefonia

pública através de entroncamen-

tos digitais ou analógicos, bem

como com a rede interna da

entidade, seus aparelhos telefôni-

cos analógicos ou mesmo seu

PABX, também disponibili-

zando o recurso de voz sobre

IP em sua rede local para a

conexão de adaptadores ou tele-

fones IP.

Para o funcionamento da im-

plementação, deverá ser também

estabelecido um plano de numera-

ção para toda a administração pú-

blica estadual, de forma a obter-

mos uma solução administrativa-

mente coerente, expansível e mo-

dular, permitindo um crescimento

suave em conformidade com os

recursos orçamentários disponíveis.

Esse plano de numeração de-

verá estabelecer os prefixos dos

números de cada uma das enti-

dades envolvidas, podendo tam-

bém trazer um identificador da

localidade geográfica em que o

escritório esteja instalado, faci-

litando a compreensão de todos

os usuários do sistema.

113

1. DENTRO DA EMISSORA DE RÁDIO, UMA

emissora de TV. Mas como a rádioainda não tem conteúdo para trans-mitir, terceirizou a TV para umaigreja evangélica. Não que seja tu-do digital. A rádio é FM, meio ca-minho entre as emissoras AM e asfuturas rádios digitais. E a TV é acabo, também meio caminho entre aTV aberta e a futura TV digital.Mas, ainda que as saídas não sejamdigitais, toda a parte operacional jáé. Com grande economia: há 15anos a rádio tinha 93 funcionários,hoje são 33.

2. A PRIMEIRA VÍTIMA DA DIGITALIZAÇÃO

foi a tabela de logaritmo. A maiscomum era uma editada pelo MEC,de capa vinho, obrigatória para osestudantes até os anos 60. Nos anos70 vieram as calculadoras e, comelas, o fim da tabela de logaritmo.Os logaritmos continuam nas fór-mulas, mas as máquinas passarama fazer tudo direto, sem necessi-dade de idas e vindas na tabela.Depois, nos anos 80, o CD-ROMmatou as enciclopédias de papel. A

Britânica demorou a acreditar noCD-ROM, e quando o fez, já eratarde: os consumidores tinham mi-grado para os micros, que eram me-nores, mais baratos e vinham comutilitários, jogos, dicionários e atécom uma enciclopédia mais ou me-nos. Hoje existem os programas debusca e a Wikipedia na internet.

3. A CONVERGÊNCIA NAS REDAÇÕES DOS

jornais. Até os anos 80 (a data variaconforme a empresa), o jornalistabatia suas mal traçadas linhas (pa-pel rascunho, tipos desalinhados,fita gasta, impressão irregular)numa Olivetti manual. O texto iapara o editor, que o arrumava napágina com o diagramador. Os tex-tos e o desenho da página seguiampara os digitadores. As máquinasimprimiam as tiras, que eram nova-mente montadas numa página. Es-sa página era fotografada para virarfotolito. E o fotolito seguia para serimpresso na oficina. Com a "con-vergência", o jornalista faz o seutrabalho e o dos digitadores, o dia-gramador faz uma única montagemda página; na Superinteressante,por exemplo, não há fotolito, ocomputador da montagem é o

Algumas convergênciase outras nem tanto

FIM

de

PA

PO

FIM

de

PA

PO

Luís Carlos Silva Eiras

Rádio, TV, internet, cinema, celular, sons e imagens: a convergência avança, deixando vítimas e lixo

“Dentro das

casas, o lixo da

convergência

à espera

de novas

companhias”

Analista de sistema e mestreem Ciência da Informação

Saí por aí procurando a chamada "convergência digital" e achei oseguinte:

Pro

dem

ge

114

mesmo das impressoras. Do barulho infernal, asredações silenciaram como nos hospitais deluxo. Não há estatísticas sobre a redução de pes-soal.

4. ATV A CABO VAI OFERECER SERVIÇO DE TELEFONIA?É uma luta contra o tempo, já que, quem teminternet a cabo, pode usar programas gratuitospara telefonar entre computadores (e pagos paraligar para telefones). O problema é que algumasempresas de TV a cabo têm como sócias empre-sas de telefonia de longa distância: se demorar,a voz sobre IP da internet a cabo domina; secomeçar logo, provoca autofagia.

5. MAS TENTE HOJE ALTERAR A PROGRAMAÇÃO DE SUA

TV a cabo, alugar outros canais, por exemplo.Você não pode fazer isso pela própria TV, quenão é interativa. Você tenta o telefone, quenunca atende. Então, tenta outro veículo: mandaum e-mail pela internet, que não é respondido.Então você manda uma carta pelo correio. Épossível que esteja faltando aí uma certa con-vergência.

6. O CINEMA É QUE COMEÇOU SENDO CONVERGENTE.Lá estavam o enredo como nos romances, osatores como no teatro, a música como nos con-certos, as fusões da fotografia, a montagemcomo no pensamento. Hoje a convergência dámais um salto. O roteiro vai para os atores epara o programa de edição. Depois chegam asimagens, que podem vir tanto do set como deprogramas de computador. A música e o somficam a cargo dos "desenhistas de sons". E oproduto final vai para as salas de cinema e paraas fábricas de DVD pela internet.

7. TV DIGITAL OU TV DE ALTA DEFINIÇÃO? A TV DE

alta definição vai ser ou quatro emissoras debaixa definição ou um programa de alta, con-forme o horário, com imagem até sete vezesmelhor do que a TV atual e som surround. Asatrizes e apresentadoras não gostam - essa TVmostrará, digamos, as imperfeições. Daí exi-girem uma outra câmara, que faz automatica-mente aquilo que os maquiadores fazem noPhotoshop. Já a TV digital, com resolução dosatuais computadores, promete ser interativa;

por exemplo, você irá votar ou fazer comprasdurante as novelas. Como consolo, elas irãooferecer para a Copa de 2006 um aparelho paraque sua atual TV possa pegar o sinal delas atéque você compre os novos aparelhos exigidos.

8. AS TVS NÃO QUEREM QUE AS EMPRESAS DE CELU-lar transmitam conteúdo próprio. Nada de pro-duzir filmes, músicas, sons e programas intera-tivos. O alerta veio quando a série de TV "24horas" teve a versão "24 minutos" disponívelpara celulares e as TVs bronquearam: empresade celular é só para transmitir, o conteúdo é dosusuários, suas conversas, fotos, vídeos e men-sagens. Essa tese não se sustenta, já que asemissoras deveriam, então, apenas transmitirimagens de terceiros. Em tempo: "24 minutos"tem uma vantagem - Kiefer Sutherland não tra-balha.

9. PAGAR PARA OUVIR RÁDIO? BOM, VOCÊ JÁ PAGA

para ver TV a cabo. Com o rádio digital, vai sera mesma coisa: pagamento mensal para ouvirestações especializadas: uma de bossa nova,outra de rock anos 50, mais outra de jazz anos40 e por aí vai. Como já são hoje as emissorasda internet. Mas o rádio terá um visor e láestarão os nomes da música, do cantor, autorese notícias.

10. OUTRA QUE DEMOROU A ENTENDER A CONVER-gência digital foi a Kodak. Primeiro, não acre-ditou que fotografar tinha ido para as máquinasde baixa resolução, e que revelar tinha ido paraas copiadoras e impressoras. Depois, quandolançou suas máquinas, fotografar já tinha idopara os celulares.

11. DENTRO DAS CASAS, O LIXO DA CONVERGÊNCIA.Verifique você mesmo a parte de cima dosarmários, as gavetas e caixas, que há muitotempo ninguém abre; verifique o que temmesmo no quarto do fundo. Lá estão celularesanalógicos, máquinas fotográficas de filmesquímicos, filmadoras, LPs, videolaser, equipa-mentos de som, calculadoras de bolso, video-cassetes, consoles de videogames, TVs de telapequena, rádio portátil, gravadores de fita, etc. -à espera de novas companhias.

FIM

de

PA

PO

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