editorial - cip.org.pt · gerar uma oferta competitiva. neste ponto, pensamos que, com tantas...

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IndústrIa 3

a

Editorial

Francisco van ZellerPresidente da CiP

EnErGIa Há que pensar, mesmo sem pararA energia é um tema que tem ocupado um espaço cada vez maior no conjunto das questões que nos preocupam.Realidade complexa e variada, deu origem a múltiplos temas: mercados e sua liberalização, energias renová-veis, emissões de gases de estufa, biocombustíveis.Para cada um destes temas, a União Europeia está a fixar objectivos vinculativos e Portugal está a adoptá-los, por vezes, cedendo à tentação de os ultrapassar.Além disso, as correntes de opinião e a sensibilidade pública tornam a análise e discussão destes temas ex-traordinariamente difícil; por esta razão, já se cometeram erros, já se adiaram decisões e ainda há demasiado por fazer.Somos defensores, naturalmente, da liberdade de convicções e de visão dos problemas; é igualmente certo que, nas questões energéticas, não existem opções únicas.Mas a política energética é um todo e deve sempre ser pensada nesses termos; mesmo no tratamento e decisão de temas específicos, não poderemos nem deveremos descurar a análise das implicações no todo.Concretamente, uma abertura de mercado da qual resulte o aumento das tarifas é um contra senso; a prio-ridade excessiva a energias renováveis de produção não garantida pode resultar na instabilidade das redes; objectivos demasiado ambiciosos no que respeita à emissão de gases de estufa serão desastrosos para o desenvolvimento do país.No que respeita às energias renováveis, tudo se conjuga para que Portugal, em 2020, tenha de atingir uma quota de 31% de energias de origem renovável face à energia total consumida.É evidente que este objectivo que, em princípio, será vinculativo, só será atingido se o país der toda a priori-dade ao programa hidroeléctrico e ao uso competitivo da biomassa.Lembramos que só assim o conjunto da produção de energia de origem renovável será competitivo e que a alternativa, neste caso, será a maior importação de electricidade que, para ser barata, terá, seguramente, origem nuclear.E aqui recordamos que a opção nuclear é um dos modos de controlo das emissões de gases de estufa e que a fixação de objectivos demasiado exigentes neste capítulo cria especial apetência para este modo de produção de energia.Neste particular, vemos com a maior apreensão, quer o alargamento excessivo do sistema europeu de co-mércio de licenças de emissão, que esmagará em burocracia milhares de PME no espaço europeu, quer uma eventual decisão unilateral de imposição de pagamento de licenças de emissão a partir de 2013, sem correspondência com iguais decisões fora do espaço europeu, uma vez que disso resultará a redução da competitividade externa das empresas portuguesas.Esta competitividade passa também pela capacidade do sistema eléctrico nacional, regulado ou liberalizado, gerar uma oferta competitiva.Neste ponto, pensamos que, com tantas condicionantes políticas ou ambientais, só a possibilidade sem constrangimentos de trocas físi-cas de energia permitirá a criação de um mercado de electricidade.Em nosso entender, a existência de interligações eléctricas entre Portugal e Espanha devem preceder a consolidação do MIBEL e que todo este esforço será incompleto se, entretanto, não se criarem condições de trânsito de electricidade entre Espanha e França.Concluindo, pretendemos com esta reflexão lembrar que o país tem como prioridades o crescimento e o emprego e que tal só se con-cretizará com soluções competitivas e pragmáticas no domínio da energia.

SUMÁrio

IndústrIarEVIsta dE EMPrEsÁrIOs E nEGÓCIOs

SUMÁrioEditorial

informação Económica

Código do trabalho• Revisão do Código do Trabalho, Negociabilidade e Flexibilidade: palavras chave, por Gregório Rocha Novo• Livro Branco das Relações Laborais - CIP pede flexibilidade

Presidência Portuguesa da UE Entrevista a João Gomes Esteves

dossiêMadeiras e Mobiliário

CiP Plano de actividade para 2008

EnergiaEnergias Renováveis no Mercado Liberalizado

investigação Científica

Mercado• “Pagar a Tempo e Horas”, CIP pede urgência na execução do programa• Subprime, a crise da globalização

Formação • A porta para o futuro, por Mário Baptista

destaque Promover o Desenvolvimento Industrial, por Diogo Costa

Notícias

ainda a tempo

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DirectorFrancisco van Zeller

Director AdjuntoDaniel Soares de Oliveira

Conselho EditorialJoão Mendes de AlmeidaHenrique Salles da FonsecaHeitor SalgueiroGregório Rocha NovoManuela GameiroJaime BragaSofia Baião Horta

SecretariadoFilomena Mendes

Administração e PropriedadeCIP - Confederação da Indústria PortuguesaAv. 5 de Outubro, 35 - 1º 1069-193 LisboaTel.: 213 164 700 Fax: 213 579 986E-mail: [email protected]: 500 835 934

N.º de registo na ERCS - 108372Depósito Legal 0870 - 9602

Produção e EdiçãoBleed - Sociedade Editorial e Organização de EventosCampo Grande, 30 - 9.º C1700-093 Lisboa

Tel.: 21 795 70 45/6Fax: 21 795 70 [email protected]

Director EditorialMiguel [email protected]

Director ComercialMário [email protected]

Gestora de MeiosSusana Ramos

Editor FotográficoSérgio Saavedra

Design e PaginaçãoJosé Santos

ImpressãoImpriluzRua Faustino da Fonseca, 1 Alfragide 2610-070 Amadora

PeriodicidadeBimestral

Tiragem10.000 exemplares

N.º 67 Janeiro/FevereiroAno XXI

Design de capa: FREEPAINT, LDAwww.freepaint.pt

4 IndústrIa

6 IndústrIa

petróleo, com um arrefecimento económico mundial, a que se soma a apreciação do euro em relação ao dólar, vão penalizar as nossas exportações, forçando a uma revisão em bai-xa do nosso anémico crescimento económico para 2008, como o Banco de Portugal subli-nhou;• é exagerado o regozijo por um crescimen-to de 1.8% em 2007, o qual é extremamente baixo e inferior à média europeia, o que leva à continuação da nossa divergência estrutural com a Europa;• a despesa pública não está sob controle, apenas houve moderação no seu cresci-mento devido ao congelamento de salários e progressão de carreiras na função pública, moderação essa que vai terminar sem se ter feito a reforma da Administração Pública e o consequente corte nas despesas correntes de funcionamento. Assim sendo, vamos assistir a um novo e maior aumento da despesa pú-blica em 2008, sendo mais uma vez o sector privado aquele que, pelo lado da receita, vai contribuir para a redução do défice;• a situação do desemprego e das PME’s por-tuguesas mostra a nossa falta de competiti-

2007, é a mesma desde Dezembro/2005), o valor mais alto dos últimos 7 anos;• a percepção de que a despesa pública está sob controlo cria um melhor ponto de partida para o crescimento da economia em 2008;• Portugal está hoje mais bem preparado para enfrentar os eventuais riscos do contexto in-ternacional do que estava há dois anos.Em conferência de imprensa no dia 21/01/2008, o Ministro de Estado e das Finanças apresen-tou os dados provisórios de que dispõe sobre a execução orçamental de 2007, e reafirmou que o défice orçamental, em 2007, se situou abaixo dos 3.0% do PIB.Na opinião da CIP, o cenário traçado pelo Mi-nistro das Finanças é demasiado optimista face aos riscos e incertezas que o enquadra-mento externo apresenta para 2008, face ao modelo de ajustamento orçamental seguido (com o défice reduzido graças ao contributo da receita que cresceu sempre de forma su-perior ao aumento da despesa) e face à situ-ação da economia real com grandes dificulda-des para as PME’s.Com efeito:• a crise financeira e a subida dos preços do

CoNjUNtUraCoNjUNtUra

Informação económica

FIGUra IProjecções do Banco de Portugal

Boletim Económico de inverno/2007 (taxas de variação, em %)

Banco de Portugal:

Boletim Económico

– Inverno de 2007

No início de Janeiro de 2008, o Banco de Portugal divulgou o Boletim Económico de Inverno/2007, onde apresentou as suas pers-pectivas para a economia portuguesa para o período 2008-2009 (ver figura I).Em síntese, o Banco de Portugal refere o se-guinte:• manutenção da recuperação da actividade económica (como reflexo da evolução da pro-cura interna, nomeadamente do investimento empresarial e do consumo privado): o PIB deverá ter crescido 1.9% em 2007 e deverá crescer 2% em 2008 e 2.3% em 2009 (o Ban-co de Portugal reviu em alta o valor da taxa de crescimento do PIB de 2007 de 1.8% para 1.9%, mas reviu em baixa o valor da taxa de crescimento do PIB, para 2008, de 2.2% para 2%);• descida da inflação para valores próximos de 2%, em 2009.

Finanças Públicas

No intervalo do Conselho de Ministros informal realizado

em Lisboa no dia 06/01/2008, o Ministro de Estado e das Finanças, Prof. Teixeira dos Santos, declarou o seguinte:• o défice orçamental de 2007 ficou abaixo dos 3%; o número final, como é habitual, será anunciado por uma comissão constituída pelo Banco de Portugal, INE e Direcção-Geral do Orçamento;• em 2007, a economia cresceu mais do que os 1.8% previstos no Orçamento do Estado para 2007 (note-se que a previsão do Gover-no para o crescimento de 1.8% do PIB, em

1.

2.

2006 2007 2008 2009

PIB 1.2 1.9 2.0 2.3

Consumo privado 1.2 1.2 1.1 1.6

Consumo público -0.7 0.0 0.0 0.4

Investimento -1.8 2.6 3.3 3.1

Exportações 9.1 7.0 4.9 6.0

Importações 4.3 4.1 2.9 3.7

Inflação 3.0 2.4 2.4 2.0

vidade e as dificuldades que vamos ter para gerir um enquadramento externo adverso. Essa situação mostra, aliás, os atrasos nas reformas estruturais e a ausência de políticas microeconómicas de apoio à economia real.

InE - Instituto

nacional de

Estatística:

Índice de Preços

no Consumidor 2007

Em 2007, a taxa de inflação em Portugal, me-dida pelo Índice de Preços no Consumidor, foi de 2.5% (menos 0.6 pontos percentuais que em 2006; ver figura II).As três classes que, em 2007, mais contribuí-ram para a formação da taxa de variação mé-dia anual do Índice de Preços no Consumidor (cerca de 49%) foram as seguintes:• produtos alimentares e bebidas não alcoó-licas;• habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis;• saúde.

As classes que registaram os maiores aumen-tos, em 2007, foram as seguintes:• saúde (+7.4%);• bebidas alcoólicas e tabaco (+4.9%);• educação (+3.7%).A taxa de inflação medida pelo IHPC – Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (indi-cador de inflação para comparação entre os diferentes países da União Europeia) foi de 2.4%, em 2007, ou seja, menos 0.6 pontos percentuais que o verificado em 2006.

Eurostat: European

Business – Facts

and Figures

O Eurostat divulgou, em meados de Janei-ro/2008, uma nova edição da publicação “Eu-ropean Business – Facts and Figures”, onde é feito um retrato estatístico das empresas da União Europeia.Do conjunto dos muitos dados que constam deste documento referimos alguns, por forma a que se possa ter uma noção do que nele se pode encontrar:

• em 2004, existiam na UE cerca de 19 mi-lhões de empresas não financeiras que em-pregavam 125 milhões de pessoas; destas empresas, as maiores percentagens, quer em relação ao número de empresas (20.6%) quer em relação ao número de pessoas nelas em-pregadas (15.5%), pertenciam ao sector dos serviços às empresas;• em 2006: (i) 64.2% das pessoas empre-gadas eram do sexo masculino e 35.8% do sexo feminino; (ii) têxtil e vestuário, comércio a retalho, hotéis e restaurantes e serviços fi-nanceiros foram os quatro sectores em que a proporção de pessoas empregadas do sexo feminino foi superior à proporção de pessoas empregadas do sexo masculino; (iii) 85.6% das pessoas empregadas trabalharam a tem-po completo e 14.4% a tempo parcial; (iv) os dois grupos de produtos industriais mais ex-portados foram o do equipamento eléctrico, electrónico e de óptica e o dos químicos, bor-racha e plástico.Para mais informações consultar o website do Eurostat (http://epp.eurostat.cec.eu.int).

CIP/DAEM

aCtUalidadE CiPCoNjUNtUra

3.4.

FIGUra IIiNE - instituto Nacional de Estatística

Evolução do iPC - Índice de Preços no Consumidor (%)

IndústrIa 7

8 IndústrIa8 IndústrIa8 IndústrIa

Código do traBalho

rEviSão do Código do traBalho

EEstamos perante uma ocasião particularmen-te propícia para a introdução no quadro jus laboral de alterações que alavanquem uma maior competitividade, condição de sobrevi-vência no mercado global que as empresas têm de enfrentar. Atenuando a rigidez em que o regime vigente se mostra tão pródigo. E fazê-lo, salvaguardando e melhorando o que de positivo o Código trouxe.Desde logo, ao nível da negociação colectiva. As soluções legais, pela sua generalidade e abstracção, deixam sem resposta muitas es-pecificidades que não podem ser lateralizadas e muito menos totalmente desatendidas.O Código, tendo muito presente que a nego-ciação colectiva é o instrumento mais adequa-do à obtenção dessa resposta, reservou-lhe um espaço alargado de intervenção.Depois de definir aspectos que entendeu sub-trair à liberdade contratual, estabelecendo soluções pura e simplesmente intocáveis ou para cujo afastamento fixou o sentido e alcan-ce, consagrou, no nº 1 do seu artigo 4º, como princípio geral, a negociabilidade.Assim resultou um equilíbrio global – o equilí-brio que ao legislador se afigurou razoável.E foi com base naquele princípio geral, e ine-rentes virtualidades, que relevantes sectores da actividade económica viram incorporadas, nas convenções que entretanto outorgaram, soluções bem mais operativas do que as constantes da Lei. Em domínios tão destaca-dos como a organização do tempo de trabalho ou as formas de contratação.O legislador tem de olhar o princípio geral da livre negociação como realidade cujas poten-cialidades importa aprofundar e fazer frutificar e não como algo a esvaziar ou subverter.O aprofundamento passa, por um lado, pelo

O processo de revisão do Código do Trabalho está em curso. A Comissão do Livro Branco apresentou o seu Re-latório Final e os Parceiros Sociais formularam sobre o mesmo os considerandos que tiveram por pertinentes. Presentemente, o Governo redige a proposta que levará à Comissão Permanente de Concertação Social. Depois, com ou sem o aval desta, virá a Lei

Gregório rocha novodirector da CiP

Negociabilidade e Flexibilidade: palavras chave

respeito, na íntegra, de quanto aquelas con-venções adoptaram, no espaço de que le-galmente dispunham; e, por outro lado, pela preservação e garantia, aos demais Sectores, dos limites em que tais convenções puderam mover-se, com Associações e Sindicatos a obterem consensos bem próprios, ajustados aos parâmetros que, em representação dos interessados directos, melhor do que ninguém conheciam.A frutificação prende-se com a operacionali-zação dos mecanismos que fomentam a ne-gociação.A possibilidade de ocorrer a caducidade das convenções tem esse condão. Sempre o dis-semos e, recentemente, vários exemplos o confirmaram. Uma possibilidade que tem de ser real e não quimérica. Que não possa ser administrativamente contornada ou obsta-culizada. Sem prazos dilatados, de molde a induzir ritmo e celeridade. Com um caminho facilmente perceptível e percorrível. A operar automaticamente quando esgotado o tempo

legal. Inserível num ambiente de confiança – o que passa pelo prévio saldar do passivo criado “na secretaria” e que, nesse domínio, persiste.Sob um regime da caducidade com as ca-racterísticas assim ressaltadas, o princípio geral da negociabilidade constitui parâmetro verdadeiramente essencial à modernização e revitalização dos conteúdos negociais, dir-se-á mesmo, à existência, com utilidade real, da própria contratação colectiva. A sua manu-tenção, tal como inserto no nº 1 do artigo 4º vigente e sem quaisquer reduções, torna-se absolutamente imperiosa.Já outro tanto se não diz relativamente ao quadro da flexibilidade, encarada esta na sua dupla vertente: interna e externa.Na flexibilidade interna, particular destaque para a adaptabilidade na organização do tem-po de trabalho.O regime especial constante do artigo 165º do Código do Trabalho não prima pela clareza no que respeita à sua operacionalização nem

Código do traBalho

IndústrIa 9

Pub.

responde, de modo satisfatório, às necessida-des que o acelerado ritmo da actividade eco-nómica coloca.Ao nível da empresa, assumem foros do maior relevo tanto a adaptabilidade colectiva como a adaptabilidade individual.Na adaptabilidade colectiva, a necessidade de aceitação dos envolvidos não pode redun-dar, em caso algum, na descaracterização do poder de direcção do empregador nem situ-ar-se, para efeitos de implementação ou para eficácia genérica, em limites percentuais difi-cilmente atingíveis.Destinada a um conjunto de trabalhadores, não esgota, porém, o leque de hipóteses que a vida real patenteia. É que, não raro, o uni-verso abrangível compreende um único tra-balhador ou, sendo estes vários, não actuam como grupo.À adaptabilidade individual, particularmen-te na modalidade de “banco de horas”, há que reconhecer ainda a virtude de ser a que melhor permite a articulação entre a vida profissional e a vida pessoal e fami-

liar e, por essa via, a gestão do absentismo.Daí que, também para ela, tenha de ser le-galmente reconhecido um espaço significati-vo, definindo-se, com a abertura necessária a uma utilização razoável, os parâmetros a que deve ater-se.Julga-se seguro que um dos principais óbices à utilização do regime da adaptabilidade é a dilatada antecedência – 21 dias – com que tem de ser apresentada aos trabalhadores a respectiva proposta.Quando o mercado exige resposta pronta, com frequência escassos dias, o prazo de 21 dias de antecedência afasta qualquer possibi-lidade de utilização dessa forma de organiza-ção. A sua operacionalização é muito função desta exigência.Quanto à flexibilidade externa, duas notas breves: uma para a contratação a termo, outra para os fundamentos do despedimento.A contratação a termo foi precisamente um dos domínios em que convenções colectivas emblemáticas utilizaram o espaço que o Có-digo lhes deixou possibilitado, dando satisfa-

ção a exigências que o terreno fazia ressal-tar, numa avaliação feita pelos destinatários. Tanto ao nível da duração máxima do contrato - e seu preenchimento - como ao nível dos fundamentos. Ora, é na realidade e nas soluções que ob-viam aos problemas dela emergentes, que as orientações têm de buscar raízes e, conse-quentemente, ser traçadas.Quanto aos fundamentos do despedimento, impõe-se uma referência expressa à neces-sidade da renovação dos quadros - o que, no respectivo âmbito, muito mais abrangente, também poderia integrar a perda de capaci-dades pelo trabalhador com reflexos no de-sempenho (inaptidão superveniente).Quando é comummente afirmado que, para triunfarmos, como economia e como País, temos de fazer apelo ao melhor de que dis-pomos, a renovação dos quadros não pode deixar de ser posta em cima da mesa. Balizadamente, sem dúvida. Com esquemas de apoios e valorização profissional, com cer-teza. Pura e simplesmente ignorada, não.

10 IndústrIa

Código do traBalho

livro BraNCo daS rElaçõES laBoraiS

CiP pede flexibilidadeA rigidez do quadro regulador das relações laborais impede as empresas portuguesas de serem mais competitivas e de se adaptarem às mutações impostas pela concorrência global – considera a CIP no parecer sobre o Livro Branco das Relações Laborais entregue à Comissão Permanente de Concertação Social

sSegundo a CIP, a revisão do Código do Tra-balho constitui uma assinalável oportunida-de para introduzir maior flexibilidade àquele quadro e, assim, contribuir significativamente para a redução dos obstáculos que, desde há muito tempo, se colocam à competitividade das empresas portuguesas.Chamando a atenção para o facto de, “quan-do se fala em flexibilidade, não se visa ape-nas facilidade em despedir”, a Confederação sublinha que “essa exigência, compreende-se também – e muito – outras condições bem viradas para a potenciação da criação de em-prego, só alcançável, como o próprio Livro Branco ressalta, através da criação de novas empresas ou desenvolvimento das empresas existentes. Em tal criação e desenvolvimento, avulta, com especial impacto, a possibilidade

de se utilizarem racionalmente os recursos disponíveis e a racionalização desses mes-mos recursos”.No seu parecer, que pode ser consultado no Portal da CIP na internet (www.cip.org.pt), a Confederação emite opinião, entre outras, so-bre as seguintes questões:

1.Uma utilização racional da força de tra-balho, visando não só incrementos de

produtividade mas também ajustamentos às flutuações do mercado, contende, particu-larmente, com a organização do tempo de trabalho. A adaptabilidade, neste domínio, tornou-se questão vital. Como vital se torna que muitos dos seus contornos e concreta aplicação sejam, com vantagens recíprocas, definíveis e acertáveis ao nível da própria em-presa. Nuns casos, com o colectivo dos traba-

lhadores envolvidos; noutros, individualmen-te, articulando, temporalmente, necessidades da empresa e sua atempada satisfação, com disponibilidade do trabalhador para a sua vida pessoal e familiar. O regime de adaptabilidade é um instrumento tão vital que não pode ficar anormalmente dificultado.

2. Em matéria de trabalho suplementar, para além das limitações relativas

às condições da sua prestação, previstas no artigo 199º do CT, e do respectivo registo e comunicação, é anormalmente restrito o nú-mero de horas anuais legalmente permitidas (v. artigo 200º do mesmo Código). A limitação legal, actualmente verificável, do número de horas de trabalho suplementar por ano signi-fica um enorme constrangimento para o nor-mal e eficaz funcionamento de grande parte

IndústrIa 11

Código do traBalho

das empresas e, em particular, das micro, pequenas e médias, que dispõem de meno-res recursos humanos e denotam particulares dificuldades na implementação do regime da adaptabilidade.

3. Em matéria de descanso compensa-tório, a CIP entende que não pode

perdurar um quadro em que é patente a exor-bitância a que os acréscimos retributivos pela prestação de trabalho suplementar, em alguns instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho (IRCT’s), ascendem, a tornar neces-sária a sua imperativa redução para limites razoáveis, no máximo 50% acima dos limites legais.

4. No capítulo das férias, a majoração da duração do período de férias prevista

no artigo 213º, n.º 3 do CT, nunca teve nem tem justificação consistente que a suporte. Daí que se torne absolutamente imperiosa a eliminação do aumento da duração das férias previsto no n.º 3 do artigo 213º do Código do Trabalho.

5. A possibilidade de recurso ao des-pedimento, que não assente em mo-

tivos disciplinares ou inadaptação, não pode circunscrever-se à “redução de pessoal”, devendo compreender também a renovação deste.

6. É absolutamente imperioso fazer dos requisitos consubstanciados sob a

fórmula «comportamento culposo do traba-lhador que, pela sua gravidade e consequên-cias, torne imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho», não pressupostos genéricos do despedimento, mas tão-só a funcionar subsidiariamente no despedimento por infracções disciplinares (“justa causa”), i.e., na ausência dos motivos enumerados exemplificativamente no actual artigo 396º, n.º 3 do CT.

7. A possibilidade de cessação da rela-ção laboral por inadaptação não pode

cingir-se às hipóteses de introdução de modi-ficações no posto de trabalho. Aí tem de ficar igualmente subsumida a perda de capacida-des por parte do trabalhador, com reflexos na produtividade ou qualidade do seu desempe-nho – o que se torna ainda mais agudo quan-do se constata o comportamento recente-mente assumido pela Segurança Social, com reflexos neste domínio.

8. No âmbito do despedimento por extinção do posto de trabalho, a

existência de critérios preferenciais na con-cretização dos postos de trabalho a extinguir, mormente quando se constata que, entre os mesmos critérios, não relevam decisivamente parâmetros como competência, polivalência ou capacidade de progressão, retira a esta figura toda a operacionalidade prática.

9. Os montantes das indemnizações e compensações previstos para as

várias formas de cessação do contrato de trabalho (individual ou colectiva) revelam-se, com frequência, absolutamente incomportá-veis face às disponibilidades financeiras das empresas e, mesmo quando comportáveis, absorvem recursos indispensáveis ao seu re-apetrechamento tecnológico, condição da sua viabilidade e preservação de postos de tra-balho que, assim, em muitos casos, também acabam por desaparecer.

10. Torna-se absolutamente neces-sário rever o artigo 53º da CRP,

sob cuja invocação não só se tem bloqueado o alargamento das justas causas objectivas como se tem mantido para o despedimento ilícito consequências absolutamente insus-tentáveis. Entre essas consequências, avulta, destacadamente, a reintegração do trabalha-dor despedido.A CIP chama ainda a atenção para matérias omitidas no Livro Branco que, pela sua impor-tância não podem deixar de integrar a revisão do Código do Trabalho: - eliminação da exclusividade das estruturas sindicais na legitimidade para a negociação colectiva (artigo 56º, n.º 3 da CRP);- previsão expressa de que o princípio do “trabalho igual, salário igual”, tem como refe-rência o âmbito de um mesmo instrumento de regulamentação colectiva de trabalho;- adequada definição do direito à greve (n.ºs 1 e 2 do artigo 57º da CRP);- eliminação do direito ao controlo de gestão (comissões de trabalhadores) e direito de

participar nos processos de reestruturação (comissões de trabalhadores e associações sindicais) (artigo 54º, n.º 5, alíneas b) e c) e artigo 56º, n.º 2, alínea e), da CRP);- a adequada reformulação do regime das fal-tas;- operacionalização da concretização do cré-dito de horas para formação profissional, atra-vés da sua utilização fora do período normal de trabalho e previsão expressa da prescrição do crédito pelo não exercício do direito;- aumento da duração do período experimen-tal;- tornar mais flexível e menos burocrático o re-gime de suspensão dos contratos de trabalho e de redução dos horários (lay-off) e reduzir o montante da compensação a pagar pela em-presa;- prever a comparticipação pelo Estado nas indemnizações a pagar nos processos de despedimento colectivo no âmbito de reestru-turações;- prever a possibilidade de realizar encerra-mentos defensivos, i.é, encerramentos das instalações, por razões técnicas ou para evitar prejuízos graves nos equipamentos;- Previsão expressa da não neutralização dos efeitos da caducidade das convenções colectivas pelos efeitos dos regulamentos de extensão.Segundo a CIP, o Livro Branco das Relações Laborais, nas recomendações que faz e pro-postas que adianta, não corresponde, bem longe disso, às necessidades das empresas.Na apreciação na especialidade, a CIP apre-cia com profundidade: (1) a sistematização e simplificação do acervo legislativo, (2) a arti-culação entre a lei, a regulamentação colec-tiva e o contrato individual de trabalho, (3) a caracterização das situações laborais, (4) as formas de flexibilidade interna, (5) os regimes de cessação dos contratos de trabalho e (6) o direito colectivo do trabalho.

12 IndústrIa

sSe tivesse que, numa palavra, fazer o balanço da pre-sidência portuguesa do Conselho da União Europeia, qual escolheria?Valiosa. É a palavra certa. De facto, a presidência portu-guesa foi valiosa para a Europa, para o País e para as empresas. Antes de mais, para a Europa.A assinatura do Tratado de Lisboa constitui um marco im-portante para o futuro da Europa e do projecto europeu, assente no princípio da igualdade entre os Estados. A melhoria na eficácia do processo de decisão, as altera-ções no sistema de governação, com a eleição do Pre-sidente do Conselho Europeu pelo Parlamento Europeu para mandatos de 30 meses, com possibilidade de uma renovação, as mudanças na composição e nas compe-tências do Parlamento Europeu, o reforço dos poderes dos parlamentos nacionais, a salvaguarda da posição central da Comissão Europeia e do sistema judicial eu-ropeu constituem traços essenciais caracterizadores do novo espírito da Europa.Foi reconhecido, e estou de acordo com essa ideia, que estas mudanças representam um equilíbrio entre os Esta-dos e proporcionam uma melhoria no funcionamento das instituições, garantindo à Europa novas condições para afirmar a sua voz, a sua economia e os seus valores.Depois, foi valiosa para Portugal, que revelou-se, uma vez mais, como um país capaz de se mobilizar para gerir e projectar grandes empreendimentos. Dizia-se nos cor-redores de Bruxelas que a Presidência Portuguesa esta-va a ser de uma grande discrição.Eu diria que foi de uma tremenda eficácia. Sem alaridos, a Presidência Portuguesa orientou toda a sua estratégia para conseguir resultados que deixassem uma marca para o futuro.Foi eficaz, porque produziu resultados positivos. Mas foi também eficiente, porque soube gerir os processos que levaram a que tivessem sucesso todas as iniciativas em que se envolveu. Acho que não se poderia exigir mais e que não teria sido possível fazer melhor.Mas foi também valiosa para as empresas. No espa-ço europeu concorrem hoje 20 milhões de empresas,

Num oportuno balanço sobre a Presidência Portuguesa do Conselho da UE, João Gomes Esteves sublinha os seus impactos empresariais, destacando que deve valorizar-se a importância deste semestre, “porque ele representou a oportunidade de as empresas portuguesas, através da AIP e da CIP, afirmarem o que as preocupa e traçarem os grandes objectivos para a melhoria da competitividade e o crescimento económico sustentado”

PrESidÊNCia PortUgUESa da UE

JOãO GOMEs EstEVEs, VICE PrEsIdEntE da aIP E da CIP

Presidência Portuguesa foi valiosa

IndústrIa 13

PrESidÊNCia PortUgUESa da UE

a maior parte das quais pequenas e muito pequenas.Em 6 meses, os empresários europeus tiveram oportuni-dade de se encontrar, ao mais alto nível, com empresários brasileiros, russos, indianos, chineses e africanos. Tratou-se de um importante conjunto de iniciativas desenvolvidas pela CIP e pela AIP, com o apoio da BusinessEurope, a organização europeia de empresários de que nós e a AIP fazemos parte e que representa 39 associações empre-sariais de 33 países europeus. Organizámos, em paralelo com as cimeiras políticas, as cimeiras empresariais, o que constituiu uma iniciativa de grande relevância e impacto.

As empresas tiveram, de facto, um papel relevante du-rante a presidência portuguesa, não só pelas iniciativas que referiu mas também pelas propostas que apresen-tou. Quando se começou a preparar esse trabalho? A AIP e a CIP começaram a organizar a sua intervenção ainda antes da presidência alemã. Representamos as empresas portuguesas na organização que, no quadro europeu, assegura a defesa dos interesses da economia e das empresas. Os presidentes das duas estruturas são vice-presidentes da BusinessEurope e entenderam, em princípios de 2006, que deveriam ter uma intervenção ac-tiva e influenciar a agenda da presidência portuguesa.

Qual foi a visão que traçaram?A economia é global. Logo, as empresas têm que ter uma visão global e uma estratégia de crescimento que per-mita a satisfação de novas necessidades. Não podemos fechar-nos no nosso pequeno rectângulo e esperar que sejam os outros a fazer o nosso trabalho.A visão que traçamos foi, por isso, a de abrir um contac-to entre as empresas europeias e as empresas de ou-tras regiões do globo, desde a Ásia, onde o crescimento económico e a investigação em novas tecnologias está a estimular novas oportunidades para a Europa, até África, onde a Europa tem que procurar encontrar projectos e iniciativas orientadas para o desenvolvimento, passando pelo Brasil, onde a Europa e, em especial, Portugal de-vem apostar em domínios tão importantes como os da energia ou biocombustíveis.

As prioridades das empresas portuguesas, apresen-tadas pela AIP e CIP antes do início da Presidência de Portugal, foram alcançadas?É cedo para responder a essa pergunta. As leis da eco-nomia ainda não nos permitem dizer que a uma certa me-dida corresponde um certo resultado. Mas a primeira res-posta seria obviamente que ainda não estão atingidas.Por um lado, as propostas da AIP e da CIP são ambicio-sas e não se esgotam num mandato de 6 meses. Bem ao contrário, são propostas orientadas para o futuro.Por outro lado, projectos e ideias – e também ideais como, para citar apenas os mais importantes, a “ pro-moção da competitividade”, a “realização do mercado

interno” ou a “flexibilização dos mercados laborais” são metas de longo prazo, que perpassarão várias presidên-cias e vários dirigentes.Mas há uma coisa que posso dizer com toda a tranqui-lidade: as empresas portuguesas colocaram na agenda europeia questões tão importantes como a política ma-rítima integrada, o relacionamento económico com os chamados BRIC´s (Brasil, Rússia, Índia e China) e as parcerias para o desenvolvimento de África.

A AIP e a CIP têm a mesma visão e estratégia?A CIP e a AIP são organizações empresariais distintas. Mas temos objectivos comuns: promover o crescimento económico sustentável. Estamos unidos nos objectivos e, de um modo geral, temos a mesma estratégia para alcan-çar esses objectivos. Esta é que é a questão essencial. Podem, obviamente, sur-gir divergências tácticas em relação a um ou outro dossiê, mas isso é salutar e estimula o debate. Ninguém é dono da verdade e duas ou três cabeças pensam melhor que uma.O que ficou provado – e o Presidente da CIP afirmou-o com clareza – é que, perante um projecto concreto, a AIP e a CIP souberam ultrapassar divergências e consegui-ram construir, em conjunto, um excelente programa de intervenção na defesa dos interesses da economia e das empresas portuguesas que influenciou a agenda política. Esta é uma realidade que não se pode negar e que há que ter presente no futuro.Entre a AIP e a CIP são mais as semelhanças que as dife-renças. Não percamos tempo à procura das diferenças. O país e as empresas ficam a ganhar se nos concentrarmos no que é essencial.

Mas o projecto concreto de que falou terminou em Dezembro. Haverá novas oportunidades no futuro?O projecto não acabou. Deixou de ter o “marco” da Presi-dência Portuguesa mas vai continuar no futuro. Portugal e as empresas portuguesas assumiram responsabilidades durante as cimeiras empresariais, designada e principal-mente com o Brasil e com África. Há compromissos que vão ter que ser cumpridos. As Declarações Conjuntas tra-çam metas e objectivos. Novas reuniões bilaterais terão lu-gar em breve e nós vamos estar presentes, fazendo o que nos compete fazer. Não vamos deixar a meio o trabalho que iniciámos. Mas não podemos ficar apenas por aqui. O envolvimento das empresas portuguesas com o Brasil e com África tem que ser estimulado, não só no quadro do re-lacionamento comunitário mas também no plano bilateral.Como já disse, a visão das empresas prolonga-se para além de um curto semestre. Mas não podemos desvalo-rizar a importância desse semestre, porque ele represen-tou a oportunidade de as empresas portuguesas, através da AIP e da CIP, afirmarem o que as preocupa e traçarem os grandes objectivos para a melhoria da competitividade e o crescimento económico sustentado.

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doSSiÊ-MadEiraS

Fileira de Madeira com os olhos

postos no futuro

É um dos sectores com maior peso na socioeconomia de Portugal e da Europa. Falamos

da Fileira de Madeira que enfrenta um mercado cada vez mais exigente, com a emer-

gência de novos concorrentes. A hora é de inovar e exportar, como apontam os estudos

e projectos da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP),

que, nesta edição, são dados a conhecer. Saiba mais sobre estes e outros desafios que

a fileira enfrenta, neste dossiê.

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doSSiÊ-MadEiraS

FErnandO rOlIn, PrEsIdEntE da aIMMP

“o sector da madeira em Portugal está em mutação”Após a celebração dos seus 50 anos de actividade em prol da Fileira de Madeira, a Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) põe os olhos no futuro. Fernando Rolin, presidente desta organização, revela à revista “Indústria” as dificuldades e as oportunidades que o sector irá atravessar este ano

ÉÉ verdade que a indústria de madeira na-cional está a atravessar uma crise?A indústria de madeira, não só a de Portugal, mas também a de toda a Europa, está a viver uma das suas conjunturas mais complicadas, devido sobretudo à escassez de matéria-pri-ma. Contudo, penso que a crise está mais na cabeça das pessoas, que a vivem porque não

a sabem resolver. Esperamos que os proble-mas se resolvam por si, como já aconteceu no passado. Mas, se continuarmos com esta atitude passiva, a crise vai persistir.

Então, acredita no futuro do sector?Acredito que, até agora, temos trilhado cami-nhos errados, mas estamos na indústria cer-

ta. O sector da madeira em Portugal está em mutação, adaptando-se às exigências de um mundo global. A própria Confederação Euro-peia da Indústrias da Madeira sustenta que o sector está mais competitivo. Há hoje uma clara tendência para novas políticas estratégi-cas, que apostam no marketing, nas marcas nacionais, na melhoria dos seus processos de

Fotos: AIMMP

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doSSiÊ-MadEiraS

produção, no desenvolvimento de novos pro-dutos, na qualidade, na tecnologia… Muitas indústrias do sector já se transformaram, au-mentando a sua produtividade e com respeito pelo ambiente.

E, face à concorrência de produtos alterna-tivos, ainda há espaço para a compra dos produtos de madeira portugueses?Não temos qualquer dúvida a esse respeito. Além de verdes e sustentáveis, os produtos de madeira são excelentes materiais em rela-ção às aplicações de construção, ao design de interiores, às embalagens ou aos transportes. Também há uma apetência do consumidor para os produtos de madeira. Tudo depende da definição de políticas de consolidação no mercado por parte das empresas.

O fenómeno IKEA não é uma ameaça?Não, o fenómeno IKEA é, sobretudo, um de-safio. Cabe às empresas portuguesas trans-formar esse desafio numa oportunidade, até porque têm capacidade para montar um con-ceito desse género. Mas, para isso, têm de sair da inércia.

Concentração será por via

exógena

Considera, então, que o futuro passa pelas grandes superfícies? Para falarmos em grandes superfícies, temos de falar de progressão. É preciso ver que 80% do comércio tradicional vai desaparecer. A grande ambição deste comércio é ver as suas lojas compradas por comerciantes chineses. Acho que é um erro entregar este nicho aos concorrentes asiáticos, porque nele se situa 80% da população, com um baixo poder de compra. Defendo, antes, que devemos igualar a nossa oferta à China, fabricando móveis ba-ratos, mas com qualidade e serviço superior. A nova distribuição, liderada pela IKEA, assim o demonstra. A tecnologia actual assim nos permite. Apostar só em produtos de alto va-lor significa renunciar a um nicho de mercado que nos pode levar ao desaparecimento.

Neste contexto, os processos de concen-tração são uma solução?As melhores empresas entrarão, seguramen-te, num processo de concentração nos próxi-mos três anos. Mas, lamentavelmente, isso acontecerá por via exógena, como já aconte-

Mobiliário e produtos de madeira para a construção com marcas nacionais

Foram criadas para diferenciar os produtos made in Portugal, fazendo face às exigên-cias de um mercado cada vez mais global. Falamos da Marca Nacional de Mobiliário Português e da Marca Nacional dos Produ-tos Portugueses de Madeira para a Cons-trução.Duas iniciativas da AIMMP, para quem as marcas são “instrumentos privilegiados de

promoção”. “Ao melhorar a imagem e a per-cepção de qualidade dos nossos produtos, potenciamos a sua prescrição e vendas, contribuindo para o prestígio do sector e do país”, afiança Fernando Rolin.A AIMMP defende, pois, a adesão das em-presas a estas marcas como meios poten-ciadores do desenvolvimento das exporta-ções.

Equipa da AIMMP num encontro internacional do sector das paletes, realizado no último ano.

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ceu noutros países. Como não temos dinheiro para comprarmo-nos uns aos outros, não é seguramente do nosso lado que vai começar a concentração. Esse processo surgirá, pro-vavelmente, do capital institucional, que um dia destes vai descobrir que existem uns des-graçadinhos na área da transformação da ma-deira, que não se entendem e não têm massa crítica suficiente para resistir a uma concen-tração vinda de fora.

Também já tem apontado a falta de coope-ração entre as associações sectoriais, afir-mando que “o sistema associativo está em pandarecos”.O problema começa exactamente aí: as asso-ciações não cooperam; os associados não são participativos; o Governo não nos liga nenhu-ma. Em suma, o movimento associativo é fra-co. Faz-me lembrar aqueles miúdos que jogam à bola e, quando alguém se zanga, o dono da bola agarra a bola e vai-se embora. O futuro exi-ge cooperação. Os problemas devem ser vistos de uma forma alargada e discutidos por todos, caso contrário corre-se um risco maior e defini-tivo. Só unidos é que conseguimos reclamar do Governo as medidas de apoio adequadas.

Que medidas são prementes reclamar do Governo?É urgente o estudo de medidas que possam subsidiar o transporte de madeira. Já é co-nhecida a situação da diminuição de áreas de povoamento e de fonte de matéria-prima em Portugal. Como resultado, o preço da

madeira subiu, as empresas descapitali-zaram-se e os encerramentos dispararam. Desde o ano 2000, fecharam quase dois terços das serrações, 40% das carpintarias e cerca de 30% das empresas de mobiliário.

Congresso vai reunir sector

Portanto, os industriais têm sido obriga-dos a recorrer à importação…É a única forma de estabilizarem os preços e competirem no mercado global, ao mesmo tempo que defendemos a madeira nacional. E isto durante um período previsível de 17 anos sobre a data de início de reflorestação de pinheiros nas áreas ardidas desde 2001. O problema é que as nossas empresas não têm capacidade para importações de vários milhões de euros, pelo que precisam do aval do Estado. Caso contrário, muitas mais vão fechar até ao final deste ano, com os conse-quentes custos sociais e para o próprio Orça-mento de Estado.

Como pode ser alterado este cenário?A partir do momento que haja matéria-prima em Portugal, certamente que as empresas vão deixar de ter na importação uma prática corrente. Por isso, a solução passa pela im-plementação de uma verdadeira política in-tegrada de gestão florestal. Porque é que já falamos de gestão florestal há 30 anos e da praga de incêndios há 500? Todos os Gover-nos têm falhado nesse sentido. Muito falam do combate aos fogos, mas não apostam na pro-

tecção da floresta! A floresta continua a não ser limpa, o que é, inclusivamente, prejudicial para o desenvolvimento e qualidade da ma-deira. É essencial uma política de prevenção.

O QREN não poderá trazer os apoios ne-cessários?Não podemos estar à espera de subsídios de fundo perdido. Se um dia as verbas do QREN ficarem disponíveis, ficaremos satisfei-tos. Contudo, na nossa Associação, trabalha-mos com os nossos associados como se não houvesse QREN. Os nossos projectos serão implementados independentemente dos sub-sídios que os suportem.

E, para quando uma iniciativa que reúna todo o sector, com capacidade de influen-ciar novas políticas?Precisamente na intenção de reunir toda a Fi-leira de Madeira, dando-lhe voz e procurando influenciar novas políticas para o desenvol-vimento de todas as indústrias de madeira, estamos já a organizar o 3.º Congresso das Indústrias de Madeira, Mobiliário e Afins. Este irá decorrer entre 19 e 21 de Junho, tendo como objectivo ajudar as empresas do sector a rentabilizar os seus negócios. Porque che-gou a altura de aprendermos a ganhar. Esta-mos ainda a realizar esforços para que este congresso seja também o primeiro internacio-nal – já apresentamos uma proposta à EFIC (Confederação das Indústrias de Mobiliário Europeu), que mereceu a melhor atenção.

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Com sede no Porto, a AIMMP – Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Por-tugal “é a única organização nacional repre-sentativa de toda a Fileira de Madeira”. Quem o garante são os actuais membros da Comis-são Executiva da associação, Vasco Pedro e Maria Fernanda Carmo. Assim, representa, promove e defende os interesses das cinco divisões sectoriais que compõem esta fileira: empresas de corte, abate e serração de madeira; painéis de ma-deira; carpintaria e outros produtos de madei-ra; mobiliário; e importação e exportação de madeiras. Criar condições favoráveis aos negócios das empresas, contribuir para a utilização sus-tentável dos recursos humanos, satisfazer as necessidades dos associados e promover o aumento do uso da madeira e dos seus pro-dutos, melhorando a sua imagem global, são os principais objectivos desta associação.Para isso, oferece aos associados - os seus clientes - uma diversidade de serviços: diag-nósticos e estudos empresariais; assistência técnica e tecnológica, em qualidade, saúde e segurança no trabalho; formação profissio-nal; estratégias de inovação e de marketing; apoio jurídico; cooperação empresarial; entre outros.Na prossecução dos seus objectivos, a AIMMP desenvolve, ainda, um vasto conjun-to de parcerias, participando activamente na gestão das principais instituições dedicadas ao desenvolvimento do sector, como acontece no CFPIMM (Centro de Formação Profissional de Madeira e Mobiliário), na CEI-Bois (Confe-deração Europeia da Indústria de Madeira) e

aSSoCiação EMPrESarial CoMPlEtoU 50 aNoS

aiMMP promove o desenvolvimento da Fileira de Madeira

na CIP. A adesão à EFIC (Confederação das Indústrias de Mobiliário Europeu), no início deste ano, é o último exemplo da participação da AIMMP em organismos internacionais.

“respeitar a história,

construir o futuro”

As origens da AIMMP remontam a 12 de Ju-nho de 1957, quando nasceu o Grémio dos Industriais de Madeira dos distritos do Porto e de Aveiro. A designação pela qual é hoje conhecida foi assumida em 1995, já após o alargamento do Grémio a nível nacional (em 1962) e a todas as indústrias da fileira florestal (1970). A fusão de diferentes associações da Fileira de Madeira, em 1996, consagrou a filo-sofia AIMMP: falar a uma só voz, fomentando

a qualidade do movimento associativo. Das comemorações do cinquentenário da as-sociação, surgiu o lema “Respeitar a história, construir o futuro”. Deste modo, “a AIMMP apresenta-se já com um logótipo e suportes informativos renovados, estando previstas muitas mais novidades”, conta a Comissão executiva. E avança: “Uma delas é a reestru-turação dos nossos serviços, entre os quais se destaca a criação de um Gabinete de In-ternacionalização, para dar resposta às novas exigências do mercado.”AIMMP - Associação das Indústrias de Madei-ra e Mobiliário de PortugalRua Álvares Cabral, 281 - 4050 - 041 PortoTel.: 223 394 200 | Fax: 223 394 [email protected]

Maria Fernanda Carmo e Vasco Pedro, da Comissão Executiva da AIMMP Fotos: AIMMP

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ProjECto iNtErwood

aiMMP apoia a internacionalização da Fileira de Madeira

Porque internacionalizar é palavra de ordem no mercado actual, a AIMMP arranca este ano com o Interwood. Um projecto de fundo dirigido às empresas que pretendam entrar em novos mercados, e que a Associação, numa candidatura conjunta, apresentou ao novo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN)

MMais do que um projecto, é um novo conceito de inter-nacionalização. Desenvolvido pela AIMMP, o Interwood contraria a noção corrente que incentiva os empresários desejosos de entrar em mercados internacionais a parti-cipar em feiras de forma subsidiada, mas sem qualquer preparação.“Entendemos que a participação isolada das empresas nesse género de eventos não é uma prática que lhes permita desenvolver, de uma forma consolidada, a sua internacionalização. Expor numa feira é apenas uma das etapas daquele processo”, assevera Fernando Ro-lin, presidente da Associação.Por isso, o Interwood dirige-se a todos aqueles que têm a percepção de que os eventos no estrangeiro não lhes

aposta nos mercados emergentes

Sem prejudicar a manutenção da União Europeia como mercado natural, o projecto Interwood privi-legia os chamados mercados emergentes, onde a procura deverá aumentar fortemente nos próximos anos. É o caso do Médio Oriente (Dubai e Arábia Saudita), Norte de África (Marrocos, Argélia e Egip-to), PALOPS (Angola, Moçambique e Cabo Verde), Reino Unido (Inglaterra e Irlanda) e América do Norte (Canadá, Zona Latina e Mayflower).

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Definição dos mercados alvo

Inscrição e selecção das empresas

Mini-diagnóstico às empresas inscritas

Missões aos mercados

Estudos de mercado

Workshops sobre como participar em feiras

Participação em feiras ou eventos

Follow-up e workshops de reflexão

Visita de compradores de referência a Portugal

Análise de sustentação

trazem os resultados esperados ou que não sabem como abordar os mercados internacionais. Em suma, trata-se de um conjunto de acções integradas e sucessi-vas que garante às empresas uma boa preparação e o seu estabelecimento no mercado alvo de forma susten-tada. A AIMMP pretende, assim, “transformar o grau de 20% de incerteza de êxito com que actualmente se vai a feiras em 80% de certeza de êxito”.

Incremento das exportações

O projecto já foi apresentado pela AIMMP ao AICEP Por-tugal e enquadrado no novo Quadro de Incentivos Co-munitários, elaborada uma candidatura em conjunto com empresas do sector que manifestaram o seu interesse. Mas, Fernando Rolin defende que “a sua implementa-ção se impõe”, garantindo a execução do Interwood “in-dependentemente da existência de medidas de apoio ou subsídios que o suportem”.Sendo a Fileira de Madeira uma das mais representa-tivas em termos de exportação e com capacidade de-monstrada ao longo dos anos, a AIMMP acredita esta-rem as empresas em boa posição para chegar quer aos grandes centros de consumo, quer a nichos de mercado como a hotelaria e a restauração.Deste modo, o projecto prevê que, no final de todo o processo de internacionalização, as empresas aderen-tes estejam a exportar 30% da sua produção para os mercados alvo.

seis anos, três ciclos, dez fases

O Interwood consubstancia, assim, um trabalho profun-do e paciente. Com a duração de seis anos, o programa de acções terá por base a realização de três círculos de internacionalização, compreendendo períodos de 24 meses. Em cada ciclo, a abordagem do mercado será feita em dez fases [ver caixa], que prevêem: diagnósticos às em-presas para análise da oferta e das suas capacidades fi-nanceira, técnica e tecnológica; missões de prospecção para conhecimento das características da procura; es-tudos que identifiquem os preços praticados, os canais de distribuição e as formas de promoção nos mercados externos; formação de empresários; identificação de oportunidades de cooperação, tendo em conta as soli-citações que surjam nos eventos; avaliação do impacto das actividades desenvolvidas. Paralelamente, serão realizadas nas empresas acções de formação em marketing e negociação internacional.As feiras resumem-se, portanto, à face visível de todo um trabalho integrado, sendo a presença nestas enca-rada como uma resposta àquilo que os mercados ne-cessitam.

10 PassOs Para ExPOrtar10 PassOs Para ExPOrtar

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iNovação NaS iNdúStriaS dE MadEira E MoBiliÁrio

Estudo liderado por daniel Bessa apresenta modelo de competitividade

Com o mercado interno em recessão e uma concorrência cada vez mais feroz, exige-se à indústria de madeira e mobiliário organização, estratégia e produtividade. No sentido de oferecer ao sector uma estratégia para a inova-ção e competitividade, a AIMMP promoveu, em conjunto com a Escola de Gestão do Porto (EGP), um estudo que comprova que o futuro reside na exportação

a“A indústria portuguesa de mobiliário de madeira deixou de se caracterizar pela relativa amenidade do mercado interno, protegido da concorrência externa. A hora é de uma concorrência cada vez mais intensa, que não dei-xa margem nem para amadorismo, nem para ineficácia. Exige-se organização, estratégia, produtividade, numa palavra, inovação.”Quem o diz é o professor Daniel Bessa, que liderou o “Estudo Estratégico das Indústrias de Madeira e Mobili-ário”, desenvolvido por uma equipa consultora da EGP. Uma obra de inquestionável importância para o sector, que apresenta um modelo de competitividade baseado em estratégias de inovação.Encetado no ano passado, este estudo foi promovido e

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editado pela AIMMP, no âmbito do projecto “Inovação nas indústrias de madeira e mobiliário”, financiado pela CCDRN – Comissão de Coordenação e Desenvolvimen-to Regional do Norte. Trata-se, sobretudo, da formulação de uma proposta de actuação dirigida tanto às empresas como às entidades com intervenção pública no sector, nomeadamente aos responsáveis pelo QREN (Quadro de Referência Es-tratégico Nacional), cuja implementação contará com o apoio da CCDRN e do IAPMEI.

Exportar para sobreviver

O programa definido pela equipa da EGP dá prioridade à penetração nos mercados externos, preconizando um sistema de incentivos semelhante ao já utilizado, com êxito, noutros sectores da indústria portuguesa ditos tra-dicionais. “Com o mercado interno em retracção (decréscimo acentuado da construção de habitação e estagnação do consumo interno), a oportunidade parece residir, cada vez mais, na exportação”, defende Daniel Bessa.Analisando a evolução do sector, regista-se um aumento das exportações e uma progressiva orientação para o mercado externo nos últimos anos. O economista consi-dera mesmo esta ser uma “evolução considerável, que diz muito sobre a capacidade de sobrevivência das em-presas portuguesas de mobiliário de madeira”.Contudo, o líder do estudo alerta para uma certa am-biguidade no material estatístico disponível, sendo, por isso, necessários “alguns cuidados” na sua análise. “Se, nas estatísticas oficiais, excluirmos a produção e a exportação de componentes para a indústria automóvel,

as exportações de mobiliário de madeira propriamente dito descerão para os 163 milhões de euros por ano, ou seja, 27% da produção do sector, muito abaixo dos mais de 50% anunciados”, revela.Além disso, refere que as exportações constituem “um movimento protagonizado por um número muito redu-zido de empresas de maior dimensão, e a preços que estarão longe de assegurar a necessidade de rentabili-dade”. A este nível existe, pois, uma “janela” de oportuni-dades, mas sobra um grande número de empresas que se encontram no limiar da competitividade.

“Um longo caminho a percorrer”

Segundo Daniel Bessa, as indústrias de mobiliário por-tuguesas têm inovado (sobretudo, no design, nos equi-pamentos, nos produtos e nos materiais), mas “a seu modo”. Por isso, diz, “há ainda um longo caminho a per-correr”. A propósito, exemplifica, a evolução do sector fez-se “de costas absolutamente voltadas” para as Universidades e os centros de I&D, consideradas as componentes mais qualificadas de um sistema de inovação.Assim, o programa de intervenção da EGP incentiva ain-da: a redução do gap de produtividade (por exemplo, com a aquisição de software); a formação das pessoas nas áreas de gestão, tecnologia, marketing e design; a “injecção de competências”, através da contratação de jovens qualificados ou criação de bolsas de estudo; a implementação de sistemas de apoios à celebração de contratos de I&D, de índole predominantemente fiscal; a intervenção de capital de risco público; e a recuperação do Centro Tecnológico do sector.

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afirmou-se como o segundo maior produtor, ao contribuir com 25,5% do bolo da produção europeia. Já Portugal encontrava-se no 11.º lugar deste ranking, com uma pro-dução de 1,261 mil milhões de euros, o que representou 1,6% da produção total.

2. Em Portugal

As indústrias portuguesas da fileira florestal são respon-sáveis por cerca de 5,3% do VAB total da economia, 12% do PIB industrial e 12% do emprego industrial. Em Portugal, existem cerca de 8.500 empresas do sec-tor, que empregam 73.700 trabalhadores, distribuídos predominantemente pelas empresas de pequena di-mensão (de 10 a 49 trabalhadores).

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Fileira de Madeira, um sector de peso na socioeconomia portuguesa

InFOrMaçãO ECOnÓMICa

São cinco as grandes divisões que compõem a Fileira de Madeira: serração; painéis e embalagens de madeira; carpintaria; mobiliário; e empresas dedicadas ao comércio internacional destes produtos. Caracterizadas por rea-lidades muito diferentes, no conjunto representam 5,3% do VAB total da economia

1.1. na Europa

A Fileira de Madeira é um dos mais importantes secto-res da socioeconomia europeia, assim como da nacio-nal. As suas indústrias representam na Europa 340.000 empresas e empregam 2,9 milhões de trabalhadores. Em 2005, este sector atingiu uma produção de cerca de 230 mil milhões de euros, dos quais 117 mil milhões se deveram sobretudo ao subsector do mobiliário.As importações de madeira e mobiliário realizadas pe-los países da EU-25 representaram 20,8 mil milhões de euros em 2005, enquanto que as exportações somaram os 19 mil milhões. Destes países, em 2003, a Itália foi quem mais produziu mobiliário, num total de 20 mil milhões de euros, o que representa 26% da produção europeia total. A Alemanha

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2.1. Comércio Internacional

A Fileira de Madeira é responsável por 2% do total das exportações, e é um dos sectores que mantêm a ba-lança do comércio internacional equilibrada, com saldo positivo no que diz respeito à diferença entre as impor-tações e exportações.

Gráfico IIdistribuição do número de pessoas ao serviço, nas empresas da fileira da madeira e mobiliário

Gráfico ICaracterização das empresas da fileira

tabela Ivalores do Comércio internacional, em 2006

Gráfico IIIExportação de mobiliário de madeira, pelas empresas

Portuguesas em 2006

Gráfico IVExportação de produtos de madeira em 2006, pelas

empresas Portuguesas

Gráfico Vimportação de mobiliário em madeira em 2006

Gráfico VIimportação de produtos de madeira em 2006

Valor das exportações(milhões €)

% exportaçõesValor das

importações(milhões €)

% importaçõesSaldo comercial

internacional

Produtos de madeira 495,7 1,44 392,2 0,739 103,5

Mobiliário de madeira 186,9 0,541 178,1 0,336 8,79

Total fileira madeira 682,6 1,98 570,3 1,07 112,3

Total Portugal 34503 - 53057 - -18554

2.2. Caracterização dos subsecto-

res da fileira

SerraçãoEste subsector é fornecedor de todos os outros que se encontram a jusante e que dependem das matérias-pri-mas que aqui são transformadas. Comparativamente a 2005, as exportações de madeira subiram 14,6%, enquanto que as importações diminuí-ram 2,5%. Uma tendência que aponta para um equilíbrio entre a importação e a exportação.Em 2006, o principal destino das exportações destes produtos foi Espanha (78% do valor total de exporta-

As exportações ascendem a 682,6 milhões de eu-ros, sendo o mobiliário (27,2%), os painéis de madei-ra (30,7%) e as madeiras de pinho e de eucalipto, em rolaria e serradas, os principais responsáveis por estes valores.

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serração

295 milhões de euros de produção total (em 2006), tendo como produtos principais:

q30% madeira serrada de pinheiro para construção civil e carpintaria;

q25% folha de madeira;

q11 % madeira impregnada para postes e vedações;

q9% madeira em estilha para painéis.

Painéis de derivados de Madeira

1,3 milhões m3 de produção total (em 2006), da qual:

q34% MDF - Aglomerado de fibras de média densi-dade;

q26% aglomerado de partículas revestido;

q21% aglomerado de partículas;

q4% contraplacado.

Carpintaria e outros produtos de madeira

298 milhões de euros de produção total (em 2006), sendo:

q55% portas e seus aros;

q24% outras obras em madeira (excepto portas, janelas, cofragens);

q10% painéis para pavimentos;

q6% construções de madeira, pré-fabricadas;

q4% janelas.

Mobiliário de madeira

645 milhões euros de produção total, sendo:

q26% mobiliário de sala

q26% mobiliário de quarto

q19% móveis de cozinha;

q18% outros móveis de cozinha;

q11% assentos de madeira (estofados ou com arma-ção de madeira).

ção), seguida de Marrocos e França (8% e 4%, respecti-vamente). Os produtos mais exportados são o eucalipto em rolaria e as madeiras de pinho.As importações com origem em Espanha foram cerca de 18% do total das importações destes produtos; dos EUA as importações são 17% do valor total, e referem-se sobretudo a madeira de carvalho americano e faia, em toro, prancha ou folha.

Painéis de derivados de madeiraOs principais clientes deste subsector são a Espanha (63% do valor total das exportações, em 2006), o Reino Unido e Israel (6%, cada um).O fluxo comercial com Espanha é balançado com uma importação também elevada de painéis mdf não-reco-bertos (85% do valor total de importação). Da Alemanha chegam-nos 12% dos painéis importados e do Brasil cerca de 6% (valores de 2006).Comparativamente a 2005, as exportações de painéis subiram 11%, enquanto que as importações diminuí-ram 18%. Este subsector apresenta um saldo sempre

positivo, estando actualmente com um forte reforço da exportação.

Carpintaria e outros produtos de madeiraAs exportações de carpintaria subiram 28%, enquan-to que as importações diminuíram 10%, em relação a 2005.Angola é um potencial destino deste subsector, graças ao momento favorável que atravessa em termos de construção civil, tendo recebido em 2006 uns 4% do total das exportações deste tipo de produtos. Espanha representa 42% das exportações, provavelmente pela presença de empresas portuguesas a laborar nas suas empreitadas. Em termos de importação, Espanha forneceu 43% dos produtos adquiridos por Portugal, em 2006; 8% teve como origem a Alemanha, 7% a Áustria e 5% França.

Mobiliário de madeiraEm 2006, houve um aumento de produção de quase 10%. Nesse mesmo ano, as exportações cresceram 15%, comparativamente a 2005. Ainda assim, as impor-tações sofreram um ligeiro aumento de 5,3%. Analisan-do o consumo interno, isto significa que, em Portugal, a procura diminuiu cerca de 2,6%, daí a aposta nos mer-cados externos.França recebeu 29% do mobiliário exportado por Por-tugal, seguindo-se a Espanha (28%) e Angola (13,5%), este último a crescer como cliente seguro dos móveis portugueses. O mobiliário Espanhol (40% da importação total), fran-cês (19%) e italiano (16%) continuam a ser muito requi-sitados pelos portugueses, servindo também de fonte de inspiração para as criações nacionais.

Fontes: Instituto Nacional de Estatística, AICEP Portugal, CEI-Bois, “ProdCom 2006” (EUROSTAT)

Gráfico VIIPerspectiva geral da situação dos subsectores da fileira

da madeira e mobiliário, em 2006

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doSSiÊ-MadEiraS

BioMaSSa FlorEStal

Negócio do “petróleo verde” em expansão

PPor todo o mundo várias iniciativas têm sido encetadas com o objectivo de preservar o meio ambiente e a sustentabilidade dos recur-sos do planeta. A adesão a fontes de energias alternativas ao petróleo e ao carvão, renová-veis e com baixos índices de poluição, para fazer face ao aumento dos consumos energé-ticos, é disso exemplo.Neste contexto, a produção de energia a partir de biomassa florestal constitui uma alternati-va significativa e possui um forte potencial de exploração.

Sendo a responsabilidade ambiental uma exigência da sociedade actual, é cada vez mais incentivada a utilização de fontes renováveis para a produção de energia. Neste contexto, em poucos meses, o negócio da biomassa flo-restal sofreu uma explosão na Europa. Mas a discussão em torno das vantagens e desvantagens continua

FONTE DGEG

Evolução da energia produzida a partir de fontes renováveis

Fotos: DR

InFOrMaçãO

IndústrIa 31

doSSiÊ-MadEiraS

Um dos mais importantes benefícios subjacen-tes à sua utilização é a redução dos fogos flo-restais – ao implicar a limpeza de matas e flo-restas, previne os incêndios, reduzindo os seus impactos ambientais e socio-económicos.No que se refere aos índices de poluição, em-bora a queima de biomassa provoque a liberta-ção de dióxido de carbono na atmosfera, como este composto havia sido previamente absorvi-do pelas plantas que deram origem ao combus-tível, o balanço de emissões de CO2 é nulo.A recolha e a utilização de biomassa permi-tem, ainda, o desenvolvimento de uma nova actividade económica, sendo expectável que a construção de 15 centrais termoeléctricas levem a um aumento de 225 milhões de euros em investimento no sector e à criação de cerca de 500 empregos directos e três mil indirectos.

Centrais de cogeração mais

rentáveis

Para uma exploração rentável das centrais de biomassa, e dada a falta de recursos em quantidade suficiente para abastecer a pro-dução instalada, a utilização da biomassa para produção de energia deve ser feita em centrais de cogeração. Esta consiste no apro-veitamento local do calor residual, originado nos processos termodinâmicos de geração de energia eléctrica, podendo chegar aos 85% da energia contida no combustível.Uma central deve garantir o seu abastecimen-to a partir de matos e resíduos da exploração florestal, dispensando o uso da matéria-prima nobre: a madeira. E, por forma a assegurar a protecção do solo contra a erosão, as nutrientes cinzas geradas na biomassa, depois de queimada nas caldei-ras das centrais de cogeração, devem ser lan-çadas nas áreas florestais limpas.

Presente e futuro

Actualmente, existem em Portugal apenas duas centrais que utilizam a biomassa flo-restal como principal combustível: a central da EDP em Mortágua e a da Centroliva, em Vila Velha de Ródão. No final de Novembro de 2007, o total de potência instalada renovável atingiu os 7.397 MW [ver gráfico].O Plano Nacional de Alterações Climáticas estabelece que a potência adicional em coge-ração, a instalar até 2010, deverá ser de apro-

ximadamente 800MW. Até 2020 objectiva-se uma redução em 20% das emissões de CO2 e um aumento para 20% do consumo de ener-gia a partir de fontes renováveis.Até lá, o aproveitamento de todo o potencial do que é já conhecido como “petróleo verde”

InFOrMaçãO

BiomassaÉ a fracção biodegradável dos desperdícios e resíduos provenientes da agricultura (incluin-do as substâncias vegetais e animais), da silvicultura e das indústrias conexas, bem como dos resíduos industriais e municipais, que pode ser transformado em biocombustíveis.

Biocombustíveis derivados de madeiraSão os produtos resultantes da transformação dos desperdícios de madeira, que, segundo o tamanho e a forma, assumem a seguinte tipologia: lenha, estilhas, briquetes e pellets.

Biomassa lenhosaResulta da reutilização dos sobrantes da exploração florestal ou de resíduos da indústria transformadora de madeira, apresentando:Desvantagens- Conteúdo energético geralmente baixo;- Concorrência ao nível das aplicações do recurso em aglomerados ou pasta de papel;- Custos de investimento mais elevados do que os de combustíveis fósseis.Vantagens- Segurança do abastecimento energético e menor dependência externa;- Pode ser armazenada em grandes quantidades;- Criação de emprego nas zonas rurais;- Desenvolvimento de novas tecnologias;- Mitigação das emissões de dióxido de carbono e de outros gases com efeito de estufa.

terá de ver ultrapassados alguns entraves, tais como a falta de equipamentos para siste-mas de recolha apropriados, de estrutura do sector, de tratamento fiscal adequado, bem como o receio dos industriais de madeira rela-tivamente à escassez de matéria-prima.

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General Vizela CardosoMafrel – Manuel de Freitas lopes & Ca, lda.

a problemática da biomassa

aA consciencialização de que o desequilibrado desenvolvimento industrial do último século deixou o nosso planeta com graves sequelas ambientais, levou os mais prudentes a irem em busca dos primitivos processos de gerar ener-gia a partir de material orgânico, feito à base de animais e plantas. Este ancestral e natural material, capaz de produzir energia, recebeu a pomposa designação de biomassa.A biomassa é hoje considerada uma atractiva alternativa ao petróleo, pelas seguintes ra-zões: é renovável; pode ser explorada usan-do tecnologias mais amigas do ambiente; as cinzas produzidas na sua combustão podem e devem ser usadas como nutriente de terras e florestas; é uma natural recicladora de car-bono - está universalmente convencionado de que a quantidade de carbono contido na bio-massa é 50% do seu peso.O Dr. Christian Rakos, uma sumidade mundial no domínio dos Combustíveis Alternativos, numa recente intervenção revelou que há já mais de cinco milhões de empresas em todo o globo a consumirem biomassa, e que a pro-cura deste recurso nos próximos dez anos vai ter um aumento exponencial, sendo previsível que 50% da energia consumida para aqueci-mento tenha por base material orgânico.

“Estado não deve permitir uso

de madeira nobre”

Desde o virar do século, que se assiste à co-mercialização de produtos de biomassa opti-mizados nas suas capacidades energéticas, como é o caso das peletes, que cedem 3.077 Kw/h, enquanto que a simples estilha do mes-mo tipo de madeira de que elas são feitas, ape-nas tem capacidade para libertar 750 kw/h.Observa-se também o invulgar crescimento da plantação de certo tipo de plantas que são possíveis converter, com sensível rendimento, em etanol ou biodiesel.O esforço de investigação já feito no campo da biomassa começa, assim, a dar os seus frutos,

e tudo indica não se estar longe do controlo da tecnologia que dominará as transformações de resíduos em elevados teores energéticos.O inevitável aumento da procura de biomassa vai determinar a regulamentação do uso dos principais componentes da sua energia: mate-rial lenhoso/ desperdício de madeira/ resíduos florestais; lixos, em especial os que são biode-gradáveis; e combustíveis alcoólicos. Relativamente ao primeiro grupo, o Estado não pode abstrair-se da sua função reguladora, de-vendo legislar de modo a não permitir o uso de madeira nobre, que é essencial ao desenvolvi-mento sustentado da economia de um país. Há que produzir uma legislação justa e que salvaguarde o interesse nacional e não o de determinados grupos económicos.

“ter em mente o interesse

nacional”

Neste contexto, o primeiro componente de biomassa deverá ter por base os resíduos de floresta, assegurando a sua limpeza controla-da e minimizando o risco de incêndios.As pragas, que vêm ganhando terreno nas áreas outrora ocupadas por uma espécie de floresta do nosso país que nos últimos 30 anos nunca beneficiou de qualquer política

que lhe proporcionasse sustentabilidade, or-denamento e segurança contra incêndios, são uma fonte quase inesgotável de biomassa. Se houvesse uma entidade verdadeiramente res-ponsável por uma política florestal virada para o interesse nacional, as áreas hoje ocupadas pelas pragas de acácias, carrasqueiros e ou-tros arbustos seriam limpas e replantadas de espécies nobres, como o pinheiro, donde se poderia extrair madeira e biocombustível de elevado teor energético com base na vulgar aguarrás (ou essência de terebentina).Tendo por referência factos históricos, tudo in-dica que, para esta problemática da biomassa e da floresta em Portugal conseguir o espe-rado sucesso, ter-se-á de pôr à frente do or-ganismo que superintenda estes assuntos um líder que, mesmo sabendo destas matérias, saiba mandar, mas tendo sempre em mente o interesse nacional.Com menos técnicos e com menos disponibi-lidade em equipamentos e outros recursos, no século XIII, D. Dinis evitou que o nosso país fosse hoje um deserto arenoso, plantando uma floresta com a árvore mais desprezada no nosso país: o pinheiro!Não pensemos muito! Façamos o que ele fez com determinação, o que, de facto, hoje pare-ce não existir.

doSSiÊ-MadEiraS

Foto

: DR

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CENtro dE ForMação ProFiSSioNal daS iNdúStriaS

da MadEira E do MoBiliÁrio

instituição de excelência responde às necessidades de qualificação do sector

A valorização dos recursos humanos da Fileira de Madeira é o objectivo fulcral do Centro de Formação Profissional das Indústrias da Madeira e do Mobiliário (CFPIMM). Uma instituição pública, sem fins lucrativos, criada através de protocolo celebrado entre o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e a Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP)

sSituado em Lordelo (Paredes) e vocacionado para as indústrias da madeira e do mobiliário, o CFPIMM dispõe não só de instalações de grande qualidade, equipadas com os mais modernos meios pedagógicos e oficinais, mas também de um quadro de técnicos e forma-dores com vasta experiência de formação e profundos conhecimentos do sector.O logótipo deste centro de formação conjuga graficamente o “Q” de “Qualidade” e uma “ár-vore”, evidenciando a importância estratégica do Sistema de Gestão da Qualidade no seu desenvolvimento organizacional, numa lógica de prestação de serviços e de oferta de res-postas eficientes às necessidades de forma-ção da fileira florestal.Efectivamente, o CFPIMM dispõe de um Sis-tema de Gestão da Qualidade certificado pela APCER (Associação Portuguesa de Certifica-ção) e pela IQNET (International Certification Network). Este sistema aplica-se a toda a ac-tividade formativa – Formação Inicial, Forma-ção Contínua e Formação em Prestação de Serviços –, bem como à realização de estu-dos, diagnósticos e participação em parcerias transnacionais.

Certificação e acreditação

Na implementação do seu Sistema de Ges-tão de Qualidade, a instituição desenvolve uma metodologia sistemática de avaliação

pós-formação, cujos objectivos principais são os de analisar e avaliar a integração dos for-mandos nas empresas do sector, bem como os de validar as competências adquiridas em formação. Desta forma, o CFPIMM assegura aos seus clientes um melhor planeamento dos seus serviços e melhorias na eficácia operacional e na rentabilidade dos recursos utilizados.A Qualidade é, assim, o foco da cultura desta organização, sendo a aprendizagem perma-nente, a eficácia, a comunicação, a inovação e a melhoria contínua as palavras-chave que definem a sua política e os seus objectivos es-tratégicos.

Formação inicial e contínua

Procurando dar resposta às necessidades das empresas e tendo como prioridade a Forma-ção Contínua, o CFPIMM, na elaboração do seu plano de acções anual, cruza as solicita-ções daquelas com informação recolhida de estudos sectoriais, questionários e visitas às empresas. Os cursos incidem, sobretudo, nas áreas téc-nicas, novas tecnologias e sector comercial, e são organizados, quer nas instalações do Centro, quer em Braga, Vila Nova de Gaia, Vi-seu, Águeda, Aveiro, Ourém e Pataias. O Pla-no de Formação integra, ainda, a realização

Fotos: CFPIMM

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doSSiÊ-MadEiraS

Política de Qualidade: objectivos estratégicos

Reconhecimento do CFPIMM como instituição de excelência para a formação no sector;

Melhoria contínua em função da avalia-ção da actividade e da auscultação dos for-mandos e das empresas;

Promoção da aquisição de competên-cias de adaptabilidade a novas situações pro-fissionais e pessoais;

Envolvimento e desenvolvimento dos trabalhadores do Centro, através da partici-pação no processo de tomada de decisão e de estímulos à sua auto-aprendizagem e for-mação;

Rigor no planeamento da actividade pro-movendo uma utilização eficaz e eficiente dos recursos;

Rigor e eficácia na comunicação.

Orientações estratégicas

O planeamento e a gestão da actividade for-mativa do CFPIMM apoiam-se no seguinte elenco de Orientações Estratégicas:

Assunção da Formação Contínua como primeira prioridade na actividade formativa do Centro, com oferta para todos os níveis de for-mação e maior diversificação regional;

Dinamização da procura da Formação e da Consultadoria em Recursos Humanos, por parte das PME’s do sector;

Promoção de uma resposta integrada às mutações estruturais em curso no sector, privilegiando factores determinantes da com-petitividade como a Gestão da Produção, os Sistemas de Gestão da Qualidade e o Design; desenvolvimento da intervenção formativa na área do Design, apoiado na experiência da estrutura piramidal existente na formação em desenho, na participação em júris de Concur-sos de Design e em parcerias que promovam projectos direccionados para o design, alar-gando, sempre que possível essas parcerias a empresas;

Desenvolvimento do trabalho em parce-rias, nomeadamente em Programas de Inicia-tiva Comunitária (Leonardo da Vinci, ADAPT);

Optimização dos recursos humanos e físicos existentes no Centro, tendo presentes os indicadores e objectivos aprovados no âm-bito do Sistema de Gestão da Qualidade.

Painel marca o 10.º aniversário do CFPIMM nas instalações de Lordelo

de diversos seminários, focando temas-chave como a qualidade, o design e o mercado.O CFPIMM dá ainda apoio de consultoria às PME’s do sector, promovendo formação nas próprias instalações das empresas aos seus colaboradores. Este tipo de apoio é feito atra-vés de programas em vigor no actual Quadro Comunitário da União Europeia (POE e PO-EFDS), bem como de programas do IEFP (Rede e Rede Expresso). Ao nível da Formação Inicial, o CFPIMM dis-põe de cursos com a duração de três anos e equivalência escolar ao 12.º ano, formando técnicos de Gestão da Produção, de Mecatró-nica Industrial, de Programação de Máquinas CNC, de Desenho, Comerciais, e de Madeiras e Mobiliário. Neste nível, são oferecidos está-gios e Formação Prática em empresa. Aqui integra-se também acções de Formação Pedagógica para Formadores e Monitores e acções para Jovens Quadros com Formação Superior em domínios essenciais à melhoria da gestão das empresas.

novas Oportunidades

e Projectos

O CFPIMM dispõe também de um Centro No-vas Oportunidades. Este permite aos adultos interessados em ver reconhecidas competên-cias adquiridas que se possam candidatar ao processo RVCC, obtendo um certificado de equivalência ao 4.º, 6.º, 9.º ou 12.º ano de es-colaridade, emitido com base na sua experi-ência de vida.

O Centro de Formação integra ainda a Rede de Escolas Associadas da UNESCO, partici-pando activamente em projectos destinados a preparar melhor os jovens para enfrentarem os desafios de um mundo cada vez mais com-plexo e interdependente. Tem também apostado na Educação Ambien-tal, angariando o reconhecimento da Associa-ção Bandeira Azul da Europa com a atribuição do Galardão do Programa Eco-Escolas.Obtenha mais informações em www.cfpimm.pt ou através do número 255 880 480.

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Plano para 2008 aponta para novos projectosO Plano de Actividades da CIP para 2008, aprovado em Assembleia Geral realizada no dia 21 de Fevereiro, aponta para o alargamento das fontes de financiamento, designadamente aquelas que os fundos comunitários destinam à agora designada “capacitação institucional”

PPor outro lado, a intervenção da CIP é cada vez mais solicitada pelas Associações para a promoção de projectos intersectoriais. Estes projectos, devido à sua dimensão, requerem um grande reforço na estrutura de recursos hu-manos e de coordenação com as Associações. Na maior parte dos casos, estas iniciativas são financiadas através do QREN ou pelo paga-mento dos serviços prestados.A abertura de um novo Departamento de As-suntos Industriais autónomo para coordenar estes programas implicará grandes alterações na actual estrutura, envolvendo mudanças de pessoas e a revisão das competências e res-ponsabilidades de cada um. O projecto está a ser desenvolvido e aperfeiço-ado, estando dependente das conversações em curso com os Ministérios do Trabalho, da Econo-mia, do Ambiente e das Finanças e com a AIP.O Plano de Actividades da CIP para 2008 re-fere que a Confederação procurará, a partir de 2008 e num horizonte e com visão de médio prazo, diversificar as fontes de financiamento.Sustentada nas contribuições das Associações e empresas directamente filiadas, a Confede-ração vai ponderar o recurso a outras fontes de financiamento, designadamente aquelas que os fundos comunitários destinam à agora designada “capacitação institucional”. Por outro lado, a Confederação procurará re-forçar o orçamento do Conselho Económico e Social e da Comissão Permanente de Concer-tação Social por forma a que as comparticipa-ções do Estado para o exercício do princípio do partenariado social sejam aumentadas, cor-respondendo deste modo ao esforço acrescido que o Governo tem pedido e continuará certa-mente a exigir no futuro aos parceiros sociais e, em particular, à CIP.A Direcção foi eleita com base num programa

de trabalho, a levar durante o mandato, do qual se destaca o objectivo estratégico dominante de “promover a competitividade das empresas e o crescimento da economia intervindo na ne-gociação e preparação de reformas junto do Governo e outros parceiros sociais, defenden-do os interesses da Indústria bem como dos seus associados sectoriais e regionais”.O plano de trabalho assinala ainda que a “legi-timidade e capacidade negocial da CIP provem não só do seu estatuto de Parceiro Social como principalmente da representação da maior par-te dos sectores industriais, da sua independên-cia financeira face ao poder político e da ca-pacidade técnica de intervenção nos assuntos regulatórios que interferem na competitividade e sustentabilidade das empresas”.As iniciativas a desenvolver pela Direcção da CIP durante o mandato são as seguintes:Assuntos Jurídico-Laborais: Código do Traba-lho, contratação colectiva, Segurança Social, formação profissional, responsabilidade social das Empresas, assuntos sociais diversos.Economia: inquérito de conjuntura, análise e divulgação; Inovação. Intervenção pública.

Empreendedorismo e PME’s

Sustentabilidade: alterações climáticas, KIO-TO, PNALE, assuntos regulamentares (Água, Ar, Ruído, Resíduos); Energia; IPPC.Desburocratização: simplificação administra-tiva (Simplex, PRACE, Better Regulation), sim-plificação fiscal, licenciamento, INE, Justiça.Segurança: Química (REACH), alimentar, saúde e bem estar; Concorrência, Mercados e Regulação: Au-toridades de Concorrência e entidades regula-doras; relações Indústria / Distribuição; defesa das PME´s

Comunicações e Logística: Infraestruturas (aé-reas, terrestres, marítimas); Telecomunicações.Comunicação e Relações Institucionais: Comunicação Social, relação com Associa-ções, Protocolos interassociativos; Representação Internacional: Bruxelas (RE-PER, UE, UNICE/BusinessEurope), Presidên-cias, Cooperação, América Latina. Ao longo do ano de 2008, será definida a orga-nização e o programa de trabalho das diferen-tes áreas estratégicas de intervenção da CIP, com a designação do responsável por cada uma delas.A Direcção não perderá de vista outros objec-tivos importantes, como os de aumentar o di-álogo com as nossas congéneres nacionais e estrangeiras e alargar a nossa base de apoio a novos sectores industriais e novas empresas. De igual modo, a Direcção reforçará as liga-ções formais e informais com os associados de forma a facilitar a realização dos seus próprios objectivos.No domínio da comunicação institucional, será remodelado o Portal da CIP – que constitui, a par da Revista Indústria, o instrumento privile-giado de contacto da Confederação com os pú-blicos externos. Uma imagem renovada, mais moderna e apelativa bem como um mais fácil e intuitivo acesso aos conteúdos vão caracterizar o novo Portal da CIP, que deverá ser lançado no 1º trimestre de 2008.A e-news, uma newsletter quinzenal em forma-to electrónico com informação muito sintética e objectiva sobre as iniciativas da CIP destinada às Associações filiadas, vai também beneficiar de alterações de imagem – a par das modifica-ções no Portal – e passará a ser distribuída a outros públicos, designadamente a jornalistas, assinantes da Revista Indústria e visitantes do Portal que peçam para a receber.

CiP - PlaNo dE aCtividadES

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ENErgia

Energias renováveis no mercado liberalizadoPortugal está a procurar cumprir a legislação comunitária em matéria de abertura do seu mercado da electrici-dade, mas a verdade é que está num extremo da Europa, tem ainda carências nas interligações com Espanha e é afectado pela falta de capacidade de trânsito de energia eléctrica entre França e Espanha – considera o Presi-dente da CIP em declarações ao semanário “Vida Económica” em que se pronuncia sobre asa energias renováveis num contexto de mercado liberalizado

Trata-se de um tema crítico para o país e todos temos de o encarar de acordo com as verdadeiras prioridades: o sistema eléctrico nacional tem de ser tecnicamente viável, hoje e no futuro, e tem de ser competitivo, também hoje e no futuro.A questão da energia está na ordem do dia. A inserção das energias renováveis no mercado da electricidade é tema cheio de condicionan-tes e, naturalmente, complexo, até porque, sob a denominação “renovável”, estão conti-das realidades muito diferenciadas, desde a hidroelectricidade até à produção fotovoltaica, passando pela biomassa, pelas ondas e ma-rés, pela geotermia e, por último, mas cada vez mais importante, pela produção de ener-gia eólica.Destas diferentes origens, as produções hí-drica e eólica, pela sua importância, merecem especial destaque.As outras origens renováveis não têm ainda expressão significativa, ou por terem impor-tância local, ou porque ainda têm um longo percurso tecnológico a fazer.Francisco van Zeller considera que há que es-timular o seu desenvolvimento, mas adverte que esse esforço não deverá nem desviar as atenções dos reais problemas de produção,

transporte e distribuição de electricidade, nem criar pressões descabidas sobre as tarifas, nem perturbar as regras que deverão imperar num mercado liberalizado.No horizonte mais próximo, o país, para sus-tentar o seu esforço no programa eólico, terá de, em paralelo, investir em produção térmi-ca e em aproveitamentos hidroeléctricos que compensem as irregularidades da disponibili-dade de vento.Mas, no que respeita à produção térmica, só estão em construção dois dos oito grupos de ciclo combinado a gás natural e o programa de barragens, essencial ao equilíbrio e sus-tentabilidade do sistema eléctrico nacional, só agora foi decidido.Segundo o Presidente da CIP, estas condicio-nantes criam grandes constrangimentos ao funcionamento do mercado, obrigando a im-portações muito significativas de energia, da qual grande parte é de origem nuclear, e a um indesejável recurso às centrais termoeléctri-cas a fuelóleo devido às irregularidades climá-ticas: o mercado, neste caso, não responde a tudo, muito menos no curto prazo.Mas a produção renovável de origem hídrica é, em si mesma, competitiva se for bem gerida; a produção hidroeléctrica pode ser liberaliza-

da, mas deverá ser concedida a quem puder dispor de um portfolio conveniente de outros meios de produção – afirma Francisco van Zel-ler, acrescentando que a aposta em aproveita-mentos hidroeléctricos tem ainda a vantagem de ser alavanca do desenvolvimento económi-co, uma vez que o país possui todo o know how necessário e a incorporação nacional nestes investimentos não deverá ser inferior a 80%.Já a produção eólica tem outras condicionan-tes, uma vez que, pese embora um enorme progresso, ainda tem de receber apoios para ser competitiva e o cluster eólico nacional é muito recente.A verdade é que, segundo a CIP, a energia eóli-ca cresce porque é apoiada nas tarifas, mas tal situação não será sustentável a prazo; teremos de tender, neste caso, para a criação de pré-mios ambientais a acrescer aos preços de mer-cado, com os riscos que a eles são inerentes.Já no que respeita à comercialização, que constitui a outra parcela do mercado que está liberalizada, o Presidente da CIP afirma que temos de ter e consciência de que a parte “fixa”, ou seja, a soma das tarifas de uso geral do sistema, de transporte e de distribuição, é uma parte determinante dos preços e está a ser um obstáculo à criação deste mercado.Pensamos que, nestes custos fixos, estão componentes que nada têm a ver com a ener-gia e que será de encarar, no todo ou em par-te, tal como acontece noutros países, a sua não consideração nos custos a considerar para os comercializadores em mercado livre – diz Francisco van Zeller, que entende que talvez por este meio possa vir a ser possível que os promotores de energias renováveis se libertem de subsídios concedidos por contrato ou em base anual e possam participar num mercado de electricidade liberalizado.

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iNvEStigação CiENtÍFiCa

ShiC’8 - Solvay & hovioNE idEaS ChallENgE

Prémios científicos para investigadores

A SOLVAY PORTUGAL e a HOVIONE, em parceria, desafiam os investigadores portugueses a apresentar projectos inovadores, no quadro de um concurso de ideias direccionado ao meio académico e aos centros de investigação públicos

EEsta iniciativa conjunta, designada por “Sol-vay & Hovione Ideas Challenge” (SHIC’08), deseja promover a inovação no País, posicio-nar aquelas empresas industriais como par-ceiros activos do meio académico e distinguir projectos susceptíveis de gerar valor nas áre-as da engenharia química, química, materiais, ambiente, química fina e desenvolvimento far-macêutico.O concurso, cuja candidatura decorrerá entre 1 de Fevereiro e 30 Setembro, conta com o apoio da Sociedade Portuguesa de Química, do Colégio de Engenharia Química da Ordem dos Engenheiros, do Colégio de Especialida-de em Indústria Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos e da Agência de Inovação, en-tidades com as quais foram celebrados proto-colos de cooperação.Serão atribuídos dois prémios no valor de 10 mil euros cada (cinco mil a título pecuniário e o restante como financiamento imediato do projecto) e às candidaturas vencedoras serão proporcionadas oportunidades de contacto privilegiado com a comunidade empresarial.

O SHIC’08 será aberto a projectos inovadores em duas plataformas.

• O prémio Solvay distinguirá ideias, produ-tos ou processos inovadores preferencial-mente nas áreas dos produtos de base inorgânica, electroquímica e química do cloro e flúor, peroxidados e detergência, polímeros, energias renováveis, química sustentável e electrónica.

• O prémio Hovione orienta-se para a inova-ção na produção em “batch”, novos méto-dos na produção industrial de APIs (Active Pharmaceutical Ingredients), química ver-de com aplicação na produção de APIs, supergenéricos, engenharia de partículas, nanotecnologia e inalação pulmonar.

O concurso destina-se a docentes, investiga-dores e estudantes de universidades e institu-tos públicos, devendo as candidaturas ser for-malizadas através do website www.shic2008.com. O júri de avaliação, composto por perso-nalidades de reconhecido mérito e por repre-sentantes das duas empresas e dos parceiros institucionais, divulgará a sua selecção em

sessão pública prevista para Novembro. A Solvay é um grupo químico e farmacêutico internacional, com sede em Bruxelas. Empre-ga 29 mil pessoas em 50 países. Em 2006, realizou um volume de negócios de 9,4 mil milhões de euros, gerado por três sectores: Químico, Plásticos e Farmacêutico. No com-plexo de Póvoa de Santa Iria, a Solvay produz químicos de base para as indústrias do vidro, pasta e papel, detergência e química, entre outras, sendo responsável por quase 300 pos-tos de trabalho directos e 200 indirectos. Mais informação em www.solvay.pt.A Hovione é uma empresa portuguesa dedica-da à saúde humana, especializada no fabrico de substâncias activas farmacêuticas, funda-da em 1959. Em 2006, registou um volume de negócios de US$93.7m (70,2 milhões de euros). Com fábricas em Loures, Macau e New Jersey (EUA), a empresa emprega 625 profissionais, tem presença a nível mundial e exporta os seus produtos para os mercados mais exigentes do Mundo. Mais informação em www.hovione.pt e www.hovione.com.

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Pub.

MErCado

CiP PEdE UrgÊNCia Na ExECUção do PrograMa

“Pagar a tempo e horas”“Actualmente recaem sobre as empresas, particularmente as de pequena e média dimensão, encargos adminis-trativos e financeiros em resultado de atrasos de pagamento e prazos excessivamente longos. Estes problemas são uma das principais causas de insolvência dessas empresas, ameaçando a sua sobrevivência e os postos de trabalho correspondentes”

Esta afirmação consta do preâmbulo do Dec.Lei nº 32/2003, de 17 de Fevereiro, que trans-pôs para o direito português a Directiva comu-nitária de Junho de 2000 contendo medidas para evitar os atrasos de pagamento.O Programa “Pagar a Tempo e Horas”, agora anunciado pelo Governo, já devia ter sido apli-cado há muito tempo, considerando os enor-mes atrasos de pagamento e os elevadíssimos valores das dívidas da Administração Pública, das regiões autónomas, das autarquias, das E.P.E.’s e demais serviços públicos.

A CIP não compreende que as medidas ago-ra anunciadas estejam ainda dependentes de “consultas”, como refere o comunicado do Conselho de Ministros ontem divulgado.Bastaria ao Governo aplicar o que a lei deter-mina desde há 5 anos. Se tal tivesse sucedido “a tempo e horas”, não seria necessário anun-ciar novas medidas que serão muito mais difí-ceis de cumprir agora.O novo programa vem finalmente inverter uma grave situação que afecta toda a activi-dade das empresas e põe em causa a con-

fiança dos agentes económicos no Estado. Esse programa, para ser eficaz, tem que envol-ver todo o Estado, aí incluindo E.P.E.’s, regiões autónomas, autarquias e empresas municipais, que representam, no conjunto, a maior concen-tração das dívidas às empresas, quer em valor quer em atrasos de pagamento.Mas não basta anunciar programas. É neces-sário cumprir a lei e os programas definidos pelo Governo, dando provas inequívocas de que as medidas propostas vão efectivamente ser aplicadas.

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MErCado

SUBPriME

a crise da globalizaçãoA bolha financeira que explodiu no Verão de 2007 pode recomeçar a encher no sector das energias alternativas

QQuando, no Verão do ano passado, os jornais de economia norte-americanos começaram a dedicar manchetes sucessivas a uma coisa es-tranha e difícil de pronunciar, o mundo come-çou a preocupar-se. Afinal, poucos na Europa sabiam o que era o subprime, os empréstimos hipotecários de alto risco e das carteiras finan-ceiras tão disseminadas e diversificadas que era difícil saber quem controla o quê, e quem é o responsável último.A crise das hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos deixou de ser um problema dos norte-americanos pouco tempo depois dessas primei-ras manchetes, no início de Agosto. A história conta-se em quatro etapas, e desagua numa cri-se que, acreditam os economistas, vai afundar os Estados Unidos numa recessão económica, em pleno ano de eleições para a Casa Branca.

Os quatro capítulos da crise

do subprime

1. Até aos anos 80, o mercado bancário nos Estados Unidos era dominado pelas Savings & Loans, pequenos bancos que serviam qua-se exclusivamente para os norte-americanos colocarem as suas poupanças e obterem em-préstimos para habitação. A crise de 1982-83 levou muitos destes bancos à falência, mas para evitar o pânico social, o tio Sam interveio e assumiu os créditos destes bancos.2. O objectivo da Reserva Federal norte-ame-ricana era vender estes títulos, mas o seu ele-vado valor tornava o negócio difícil – afinal, não há assim tantos investidores dispostos a gastar 400 mil milhões para serem ‘donos’ de emprés-timos rurais. A solução encontrada pela Fed foi entrar no jogo da titularização e embrulhar estes empréstimos no meio de outros pacotes financeiros, tornando-os mais apetecíveis para os possíveis compradores.3. Esta diversificação do crédito foi um verda-deiro ovo de Colombo. A partir dos anos 90, qualquer família tinha acesso ao crédito, não só nos Estados Unidos, mas também na Euro-pa, precisamente porque os bancos começa-ram a trocar entre si os alicerces das carteiras de clientes e fazendo com que alguns em-préstimos de risco pudessem ser concedidos.

Porquê? Precisamente porque era possível transferi-los para outras instituições, o que per-mitia aos bancos iniciais limparem dos seus relatórios as eventuais perdas financeiras por incumprimento de quem pede o empréstimo (é daí, aliás, que vem o nome de subprime: estes empréstimos estão abaixo da categoria mais alta, a A-Prime).4. A quarta etapa acontece no princípio do Ve-rão de 2007. As estimativas diziam que a taxa de incumprimento destes empréstimos ronda-va os 5%, mas ninguém esperava que fossem o triplo. Os bancos assustaram-se e tentaram vender as suas carteiras, só que a confiden-cialidade garantida aos clientes faz com que seja difícil saber quem tem, de facto, o fardo sobre estas operações financeiras. Como os mercados financeiros estão interligados, e há fundos europeus ligados aos bancos norte-americanos que operam nestes mercados, a crise de liquidez não tardou a transferir-se para o Velho Continente. A notícia de um fundo li-gado ao subprime ir à falência nem sempre é conhecida, mas uma descida acentuada das acções de uma instituição financeira dá sem-pre nas vistas. O resto… bom, o resto é o com-portamento típico dos mercados, que obrigou a Fed a injectar dinheiro na economia e o Banco Central Europeu, meses depois de manchetes seguidas nos jornais mundiais, a rever as ta-xas de juro. E assim se explica que os Estados Unidos estejam à beira da recessão, e que um país como a Espanha, que espera crescer per-to dos 3% este ano, esteja a pensar seriamente nas consequências desta bolha imobiliária.

E depois do subprime?

“Uma bolha financeira é uma aberração do

mercado fabricada pelo governo, pelo sector financeiro e pela indústria, uma alucinação es-peculativa partilhada, seguida de uma queda nas bolsas, que termina com uma recessão”. A definição, dada por Eric Janszen na última edição da revista de economia Harper’s, apli-ca-se bem à crise do subprime. Diz o autor, no artigo que faz a capa da edição de Fevereiro, que a crise do crédito hipotecário de alto risco só vai terminar quando outra bolha rebentar. E explica porquê: a banca e a economia, cada vez mais, vivem de períodos de euforia segui-dos de estagnação ou recessão, ao contrário do que acontecia há décadas, quando uma depressão bolsista fazia com que a oferta de emprego em Wall Street quase parasse duran-te anos. Depois da bolha das empresas tecno-lógicas, glorificadas pelos jovens em garagens com inovações que valiam milhões na bolsa, aí está a bolha do mercado imobiliário. E a pró-xima, qual será? Para Eric Janszen, há vários concorrentes que reúnem as características necessárias (o sector tem que estar em cres-cimento ao mesmo tempo que a bolha anterior se esvazia, por um lado, e tem de merecer dos governos um olhar favorável, para além de ter de estar na boca do mundo). A indústria far-macêutica é uma forte candidata, mas a FDA (o regulador) ainda mantém um poder consi-derável de controlo. Não, a aposta de Janszen vai para a área das energias alternativas, que merece de todos os candidatos presidenciais extensos e frequentes comentários e que tem em Al Gore a credibilidade e o mediatismo sufi-cientes para convencer os investidores.Veremos se tem razão. De preferência, com consequências menos gravosas que os cerca de 17 biliões de dólares de perdas financeiras registadas até agora.

M.B

QQue curso académico aconselhar a um aluno que vá agora entrar numa universidade? Que tipo de educação deve ser dada a quem está agora a escolher os instrumentos para traba-lhar no futuro? Como pode o Estado educar e formar os jovens, num mundo que muda a cada dia? E como devem as famílias prepa-rar-se para uma sociedade de contornos ain-da desconhecidos?Perguntas difíceis que não têm uma só res-posta, nem tão pouco uma resposta fácil. Em Novembro, foi publicado um ranking onde que mostrava que um dos cursos que era até agora encarado como um trunfo seguro na hora de procurar emprego – a Gestão – está, afinal, entre os cursos que têm uma taxa de desemprego maior. As ciências empresa-riais, encaradas como um conjunto de cursos destinados a formar os estudantes para o marketing, a contabilidade e a fiscalidade, o secretariado e o trabalho administrativo, a pu-blicidade, a banca ou os seguros, estão a ficar sobrelotadas. As razões são muitas, e passam essencialmente pelo fraco desenvolvimento

económico português dos últimos anos e pela criação desenfreada de cursos e mais cursos, universidades e mais universidades. Comecemos pela primeira: o crescimento eco-nómico de Portugal durante os últimos anos, sempre abaixo da média da União Europeia, não permite a criação de empresas que con-sigam absorver toda a mão-de-obra que está a ser criada pelas universidades, ou seja, a economia não cresce suficientemente depres-sa para conseguir absorver toda a força de trabalho jovem e qualificada que está dispo-nível à porta das universidades. Assim, Portu-gal não está a conseguir absorver as hordas de estudantes que saem, todos os anos, das faculdades. Mas há uma outra razão: as em-presas que existem não estão a renovar-se, preferindo apostar nos trabalhadores sólidos, mas eventualmente desactualizados face ao novo mundo globalizado, do que tentar novos talentos, que precisam de aconselhamento e encaminhamento nos primeiros anos de acti-vidade profissional para poderem render tanto como se espera do seu potencial.

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ForMação

O papel do EstadoA culpa, claro, não é só das empresas. O Esta-do é também o culpado, ao permitir a criação de universidades e cursos como se fossem cogumelos numa floresta (embora, agora, te-nha já prometido a criação de uma entidade cujo objectivo será aferir a qualidade dos cur-sos actuais e aprovar obrigatoriamente a cria-ção de novos, tentando contrariar a tendência de fazer dinheiro fácil à custa de uma porta de entrada no ensino superior). O resultado da conjugação destes factores durante os últi-mos anos está, aliás, à vista: as universidades privadas mergulharam numa crise profunda, com custos sociais gravíssimos para os alu-nos, que depois de investirem vários anos e muitos milhares de euros na sua formação, chegam à conclusão de que o mercado não valoriza a educação dada pela sua universi-dade. Consequência? Simples: o desemprego entre os licenciados disparou para valores que são um recorde face à evolução que estava a ser feita. Num país onde a maioria da força de trabalho ainda é pouco qualificada, as con-

Formar um adulto demora uma geração. Mas na próxima geração as necessidades do mercado de trabalho não serão as mesmas. Como resolver o problema?

a porta para o futuroPor Mário Baptista

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ForMação

sequência são bastante graves, porque não permitem o desenvolvimento de uma nova for-ça de trabalho que permita ajudar Portugal a mudar o paradigma do país periférico europeu pouco desenvolvido e assente em salários e mão-de-obra barata.A economia portuguesa, assim, fica numa en-cruzilhada: a mão-de-obra pouco qualificada já não é competitiva face aos novos concor-rentes do leste europeu, e portanto não se consegue diferenciar por aí – daí a facilidade com que se ouve, nos jornais, a palavra des-localização, normalmente feita por multina-cionais para o Leste europeu. Mas, por outro lado, também não temos ainda a possibilida-de de ser uma espécie de Sillicon Valley da Europa, onde a diferenciação tecnológica faz, realmente, a diferença na hora de captar in-vestimento.Como, então, aconselhar um curso a quem vai entrar para a universidade? Uma resposta possível passar por apostar numa educação sólida, baseada em conhecimentos de várias áreas, a que é absolutamente imprescindível acrescentar uma formação contínua ao lon-go da vida laboral e, claro, uma actualização constante dos conhecimentos à luz das me-lhores práticas.

O fim do emprego para a vidaUma das ajudas para a ideia de que o mer-cado de trabalho já não pode ser encarado como uma arena segura e tranquila, da qual não mais se sai depois de se entrar, está a ser dada pelo Estado. A reforma da Adminis-tração Pública, lançada em Portugal há anos, mas com um significativo impulso no Governo de José Sócrates, está a ter um efeito positi-vo na mudança das mentalidades: acabou a ideia do emprego para a vida, do funcionário público pouco competente, mas com empre-go assegurado para sempre e com a pro-gressão na carreira garantida todos os anos. Não há nenhum partido político em Portugal que discorde da necessidade de reformar a Administração Pública e nenhum está contra a ideia de que as progressões automáticas, olhando apenas para os anos de antiguida-de, são injustas. Claro que uns são mais li-berais que outros, mas todos aceitam a ideia de que deve ser o trabalho de cada um, a qualidade e o empenho colocado no trabalho diário, a determinar os aumentos salariais, as promoções e as subidas na carreira (tudo isto, claro, limitado pelas restrições orçamen-

tais e pelo crescimento da despesa pública).Aqui, o Governo está no bom caminho. Por uma simples razão: está a levar para o sec-tor público os principais eixos do mercado de trabalho privado, mas tendo a cautela de não descurar as especificidades do trabalho pú-blico. O mercado liberal tem muitas virtudes, mas não pode existir sem uma mão regulado-ra, que deve ser assegurada pelo Estado.Onde o Estado não está a conseguir dar res-posta é na Educação. Aliás, é aqui que tem residido o calcanhar de Aquiles das políticas nas últimas décadas. Seria redutor lembrar que os sindicatos dos professores, a par dos funcionários públicos, são dos que ainda man-têm um considerável poder junto dos gover-nos e dos próprios trabalhadores, mas tam-bém seria injusto não o sublinhar. A verdade, porém, é que a culpa não pode ser apenas dos sindicatos. Os sucessivos governantes e, principalmente, as políticas que têm delineado para o sector, não têm sido suficientes para melhorar o nível geral da educação em Por-tugal. Assim se explica, por exemplo, que no ranking divulgado, no final de Outubro, pelo Diário de Notícias, nove das dez melhores es-colas estejam no sector privado. O que nos leva à inevitável conclusão de que o acesso à Educação que dá resultados concretos é feito em função do nível de rendimento das famílias. Assiste-se, portanto, à manutenção do ciclo vicioso: os portugueses continuam a não ter uma Educação que justifique e eleva-da carga fiscal aplicada às empresas e às fa-mílias. Uma das soluções defendidas sempre que se fala na diferença de qualidade entre o sector público e o sector privado na Educação é a tese do cheque-ensino, um instrumento que daria mais liberdade de escolha aos alu-nos e mais responsabilidade às escolas. Mas o que é inultrapassável é o facto de, a maior poder de compra, corresponder sempre um sem número de possibilidades fechadas aos estratos mais baixos da população.

Emigrar é a solução?Não existe uma varinha mágica que permita misturar todos os ingredientes fundamentais a uma vida laboral de sucesso. Há demasiadas condicionantes naturais que não são passíveis de ser influenciadas – basta falar nas aptidões naturais e na sorte que às vezes é preciso ter para se estar no lugar certo à hora certa. Mas isso não serve de factor de desculpabilização para quem não procura ser bafejado pela sor-

te. Apostar numa educação sólida, variada e explorando todas as potencialidades que nem sempre são conhecidas antes de serem tentadas são algumas das coisas que podem ser feitas. Escolher bem o curso, procurar o acompanhamento dos profissionais que de-tectam as habilidades mentais e proporcionar ao futuro aluno universitário uma bagagem cultural que lhe permita fazer a diferença nos momentos-chaves são outras possibilidades a explorar.Assim como é uma experiência internacional, que tantas vezes serve de factor de escolha na hora de seleccionar um candidato a um novo emprego. É assim, também, que se ex-plica o enorme sucesso de programas como o Erasmus, nascido há vinte anos na União Europeia, e que atrai cada vez mais portu-gueses. Não é apenas, claro, a vontade de aprender uma nova língua, ou de beneficiar de uma liberdade impossível de alcançar num ambiente familiar tradicional. A nova geração de jovens universitários interioriza o espaço europeu de uma forma que os mais velhos ainda não conseguem. Já pensam em euros automaticamente, e Badajoz já não é uma terra distante de outro país, mas sim a con-tinuação natural de Elvas. Todo o mundo de hoje, com informação instantânea dos quatro cantos do mundo, com novas auto-estradas, com viagens de avião ao preço de um almo-ço, enfim, a criação de um verdadeiro espaço europeu, está a abrir portas que até há bem pouco tempo eram consideradas impossíveis de abrir pelos estudantes da geração anterior. Daí virão vantagens para Portugal, porque o atraso relativamente aos outros países euro-peus é mais facilmente colmatado se as boas experiências internacionais aterrarem em Por-tugal pela mão de quem as vai implementar, de facto, e não pela mão de um legislador central, muitas vezes afastado da realidade, e sem conhecimento directo dos problemas concretos do dia-a-dia. Mas para isso é preci-so que o Estado e as empresas ofereçam as condições para que esses alunos que conse-guiram ganhar conhecimentos e experiências na cena académica internacional consigam, em Portugal, aplicar o que aprenderam lá fora. E, depois, claro, é preciso trabalho, muito tra-balho. Afinal, como dizia o publicitário Edson Athaí-de num livro sobre publicidade, “o dicionário é o único sítio onde o sucesso vem antes do trabalho”.

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dEStaqUE

Promover o desenvolvimento industrialA economia portuguesa atravessa há vários anos uma crise que se caracteriza pelo baixo crescimento económico e aumento do desemprego, para o qual contribui o enceramento de empresas industriais que as politicas publica não conseguiram controlar

Por diogo Costa

aAtribuem-se essas dificuldades à nossa es-trutura industrial e à falta de competitividade das empresas industriais, com uma especia-lização inadequada à evolução da economia mundial, em que predominam as empresas de baixa intensidade tecnológica. Esta situação deve procurar alterar-se com o investimento em sectores económicos em crescimento, como é o caso dos seguintes: produtos quí-micos, máquinas e equipamentos, máquinas eléctricas, rádios, tv e equipamento de teleco-municações, instrumentos médicos e de pre-cisão, veículos a motor e produtos plásticos.No que respeita ao crescimento económico deve também salientar-se a importância da mobilidade dos agentes, quer seja social, eco-nómica ou internacional.Nesta situação é necessário que o Governo tome as iniciativas adequadas para resolver os problemas existentes, para o que se apre-sentam algumas intervenções que poderiam contribuir para o relançamento da actividade económica que será sempre uma tarefa de médio prazo, tendo em vista a realidade na-cional.Estas preocupações não devem esquecer a atribuição de fundos do Quadro Comunitário de apoio de 2007-13, que condiciona as pos-

sibilidades existentes ao nível nacional cuja herança mostra que a aplicação das anterio-res ajudas comunitárias não produziram os resultados pretendidos.

ajudas ao desenvolvimento económico

Com a nossa adesão à União Europeia foram lançados várias iniciativas destinadas a mo-dernizar a indústria portuguesa, que ao longo do tempo foram sendo modificadas de modo a resolver os problemas relativos ao nosso crescimento económico.O último instrumento de intervenção desig-nava-se por PRIME e foi criado piela resolu-ção do Conselho de Ministros nº 101/2003.e visava reforçar a competitividade e a produ-tividade das empresas e promover o nosso desenvolvimento económico e industrial. Este programa estabelecia 3 eixos de actuação: Di-namização de empresas / Qualificação de re-cursos humanos / Dinamização da envolvente empresarial.Na situação actual verifica-se que o PRIME não resolveu o problema do nosso crescimen-to económico, nem a mudança da estrutura industrial.

Deve mencionar-se que um relatório de ava-liação deste Programa referia problemas re-lativos ao Sistema nacional de inovação, in-ternacionalização das empresas portuguesas, investimento estrangeiro, temas que vão ser abordados neste trabalho.A partir de 2008 vai vigorar o Quadro de re-ferência estratégico nacional que constitui o enquadramento para a política de coesão economia e social em Portugal, tendo como objectivo a promoção de níveis elevados e sustentados de desenvolvimento económico e social.Para esse fim definiram-se 3 Agendas a sa-ber: Potencial Humano, Factores de Competi-tividade, Valorização dos Territórios.A Agenda para a Competitividade diz respeito a intervenções que visam estimular a inovação e o desenvolvimento científico e tecnológico, incentivos à modernização e internacionaliza-ção e promoção do investimento estrangeiro, apoio à sociedade de informação e conhe-cimento e a redução dos custos públicos de contexto.Acontece porém que estas intervenções con-sideradas ao nível europeu devem ter em con-sideração os diferentes estágios de desenvol-vimento dos Países membros, sem o que não

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dEStaqUE

permitirá atingir os objectivos pretendidos no nosso caso, cuja situação industrial tem ca-racterísticas específicas.No seguimento destas considerações defi-nem-se os sistemas de incentivos ao inves-timento industrial destinado a reforçar a base produtiva da economia portuguesa sendo de-finidas 2 prioridades: -Prioridades Horizontais relativas aos factores de competitividade das quais destaco as se-guintes:1-Investimento de inovação (produção de no-vos bens e serviços ou up-grading da produ-ção actual, etc. 2-Utilização pela PME de factores de com-petitividade imaterial (Organização, gestão, concepção, desenvolvimento de produtos e serviços etc.)-Estratégias de eficiências colectivas em que se destaca:1-Promoção de pólos de competitividade 2- Desenvolvimento de outras lógicas secto-riais ou actividades relacionadas e organiza-das em Clusters.De forma a concretizar as intervenções pre-vistas são criados 3 sistemas de incentivos SI investigação e Desenvolvimento, SI Inovação, SI Factores dinâmicos das PME, que em prin-cípio devem ser utilizados pelas empresas em 2008 Acontece que não se conhece em que vão ser utilizados estes incentivos, o que põe em causa a eficácia do sistema com conse-quências inaceitáveis para todos nós.No que respeita ao Sistema de incentivos para a Investigação e desenvolvimento a aplicar através da Agencia de Inovação, considero que tem poucas possibilidades de obter resul-tados aceitáveis devido a deficiências desta entidade.

O desenvolvimento das PME

Nos últimos anos os dirigentes nacionais fo-ram obrigados a dar uma maior atenção ao desenvolvimento das PME, devido à sua im-portância na economia traduzida pelo seu elevado numero, cerca de 95% do total, das empresas existentes, mas também pela cria-ção de emprego.Também a globalização obrigou os Países industrializados a procurar encontrar respos-ta para a deslocalização das empresas in-dustriais através de intervenções de ordem regional, que favoreçam a criação de condi-ções de competitividade das PME, como tinha sido comprovado pela existência de tais situ-ações em várias regiões especializadas que os trabalhos do Prof. M: Porter divulgaram em 1990, que esteve na origem da designação de Clusters para tais aglomerados.A nossa intervenção nesta matéria iniciou-se em 94 com o trabalho do Prof. M. Porter sobre a Competitividade da Industria Portuguesa, cuja aplicação foi prejudicada pela mudança

de Governo, com as consequências negativas que daí resultaram em termos económicos e sociais.Deve salientar-se que na mesma altura outros Países Europeus recorreram ao mesmo con-ceito para definir e aplicar a sua politica indus-trial e que são hoje os líderes nesta matéria.Acontece também que a União Europeia apesar das suas preocupações de desen-volvimento económico e industrial não deu a atenção adequada ao conceito de Clusters o que influenciou de forma negativa o nosso de-senvolvimento economia.Recentemente porém devido aos bons resul-tados económicos obtidos pelos Países Nórdi-cos a Comissão Europeia tem vindo a estudar os problemas relacionados com a aplicação deste conceito tendo criado em 2007 o Ob-servatório Europeu para os Clusters, que recentemente divulgou uma lista de clusters existentes nos Países da U.E. entre os quais Portugal, da qual recuperamos as seguintes informaçõesOs principais Clusters existentes em Portugal são os seguintes: Construção civil, Vestuário, Serviços financeiros, Têxteis, Calçado, Mobi-liário, Distribuição, Materiais de construção, Produtos alimentares e Pesca. que estão lo-calizados nas regiões do Norte e Centro.Todos estes Clusters devem definir-se como estáticos, pois não existe qualquer politica de apoio a sua competitividade, o que con-siderando as suas características tem como consequência dificuldades económicas nas regiões em que estão localizados.Conforme mencionado no QREN está pre-visto utilizar o conceito de Pólo de competi-tividade, que é sobretudo aplicado num País Europeu há cerca de 3 anos cujo estágio de desenvolvimento económico e industrial e o padrão de especialização produtivo e comer-cial é bastante diferente do nosso, pelo que a sua utilização para a resolução dos nossos problemas industriais nos deve deixar preocu-pados, pois os erros cometidos nesta matéria são de difícil correcção.Também no que respeita ao sistema de in-centivos à qualificação das PME em que as intervenções mencionadas tem um carácter geral, o que dificulta a sua aplicação às em-presas industriais com diferentes actividades económicas, podem induzir erros que afectem a melhoria da competitividade das mesmas.Entre esta declaração de intenções até a apli-cação de uma política pública de apoios aos Clusters, há um longo caminho a percorrer, em que, na minha opinião o primeiro passo é o interesse manifesto ao nível do Ministro da Economia por uma iniciativa nesta matéria.De acordo com as experiências internacionais conhecidas que tem obtido resultados positi-vos, o que está em causa é a resolução dos problemas que afectam as empresas indus-triais que participam nos programas de apoio

e cuja solução carece de intervenções ao ní-vel ministerial, sem o que, o processo fica pre-judicado como acontece actualmente.

desenvolvimento das exportações

O Governo Português tem dado uma grande importância à evolução das exportações de produtos industriais devido à nossa situação económica, em que o défice do comércio ex-terno de mercadorias atingiu em 2006 o eleva-do valor de 18 mil milhões de euros, pelo que merecem uma atenção especial os aspectos relacionados com o suporte das exportações conforme se apresenta a seguir.Deve ter-se presente que a Politica Comer-cial da União Europeia condiciona a margem de manobra que temos nesta matéria, com a agravante que nalguns casos essa politica nos é prejudicial, conforme se verifica com os produtos têxteis, vestuário e calçado que são as nossas principais actividades industrias.A entidade pública encarregue de promover o desenvolvimento das exportações é o AICEP, Agencia para o Investimento e Comércio Ex-terno de Portugal resultante da fusão em 2007 do ICEP com a API que se encontra em fase de reestruturação devendo estar operacional no inicio de 2008.Parece que a causa desta fusão diz respeito a preocupações relativas à economia de re-cursos, mais que à capacidade de intervenção das entidades existentes.Para incentivar o desenvolvimento das expor-tações dos produtos nacionais o ICEP definiu os principais mercados, para exportação e dispõe um conjunto de apoios as empresas exportadoras.Outra preocupação passa pela projecção da imagem de um novo Portugal, de modo a au-mentar a nossa notoriedade e facilitar o refor-ço da nossa posição internacional.No que respeita à promoção das exportações salientar-se a introdução do conceito de fileira (sectores, mercados ou tipos de acções).No que respeita ás fileiras destacam-se as seguintes: Fileira Agro-alimentar, fileira casa, fileira moda, materiais de construção, produ-tos industriais, etc.Os sectores industriais nacionais com melho-res resultados na exportação em 2005 são os seguintes máquinas: material de transporte, vestuário e calçado, químicos, madeira, cor-tiça e papel, minérios e metais, agro-alimen-tares, onde as nossas exportações para U:E: atingem cerca de 80%, sendo os principais destinos, Espanha, Alemanha, França, Ingla-terra e Itália, e os principais clientes extra UE: os Estados-Unidos, Angola e Singapura. De acordo com os valores da exportação do 1º trimestre de 2006 os 20 maiores exportado-res em Portugal representavam 30% das ven-das ao exterior, mas a maioria dessas empre-

aSSoCiaçõES

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sas é controlada por accionistas estrangeiros e apenas 4 empresas tem capital maioritário português.As maiores empresas exportadoras eram as seguintes: Petrogal, Infeneon, Auto-Europa, Repsol, Soporcel, Blaupunkt, Peuogot-Citro-en, Portucel, Continental-Mabor, Hydro-Alumi-nio, Aveirense, Somincor, Viseon, Tabaqueira, Amorim & Irmãos, Dow Europa, Vulcano, Si-derurgia Nacional.No futuro poderá ser dada uma maior atenção ao financiamento das empresas exportadoras de acordo com as seguintes intervenções:- Financiamento das empresas com contratos de exportação ou investimento no estrangeiro.- Suporte das exportações através de progra-mas de cooperação, tanto no quadro de acor-dos bilaterais, como fundos de cooperação técnica, ligados a entidades bancárias como o Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Europeu Reestruturação e Desenvolvimento e Sociedade Financeira Internacional.Estas intervenções devem aparecer no segui-mento das medidas em curso e devem contri-buir para a resolução de problemas concretos que enfrentam as empresas portuguesas na sua internacionalização.Deve salientar-se que o sucesso da aplicação das medidas mencionadas avalia-se pelos re-sultados obtidos na exportação de produtos fabricados em Portugal, o que implica análise das nossas exportações num prazo de tem-po nunca inferior a 3 anos, muito embora os especialistas possam corrigir algumas trajec-tórias em menos tempo com vantagem de me-lhorar resultados no curto prazo.

Investimento Estrangeiro

O investimento estrangeiro pode ser um meio para estimular o crescimento económico quando a oferta interna for insuficiente para atender as necessidades potenciais de inves-timento, embora isso tenha como consequên-cia. aumentar a dependência externa do País em relação aos investidores.Com a adesão de Portugal à União Euro-peia em 1986, o País tornou-se num local atractivo para o investimento estrangeiro por oferecer além de vários incentivos, os sa-lários mais baixos da Europa dos 15, e um

mercado interno de dimensão considerável.Estas vantagens atraíram o investimento de empresas europeias à procura de baixos sa-lários e de Países terceiros interessados no mercado Europeu, o que nos permitiu um de-senvolvimento económico considerável que modificou as nossas estruturas produtivas com especial relevo para implementação da Auto-Europa resultante de um acordo entre a Volkswagen e a Ford, para o fabrico em conjunto de um novo automóvel, que por sua vez arrastou a instalação de outras empresas estrangeiras e o desenvolvimento das empre-sas portuguesas fabricantes de componentes para a industria automóvel.Com o alargamento da Europa a leste e com a globalização reduziu-se a nossa capacidade de atrair o investimento industrial estrangeiro, o que poderá ser alterado com politicas pu-blicas que melhorem o interesse em localizar entre nós o investimento industrial em secto-res de média e alta intensidade tecnológica.O Banco Mundial publica todos os anos um relatório sobre a facilidade de fazer negócios em 178 Países Doing Business, que é uma medida objectiva dos regulamentos existen-tes, que permite conhecer a nossa posição relativa nesta matéria e tomar medidas cor-rectivas da nossa posição.A entidade responsável em promover o inves-timento estrangeiro em Portugal foi a Agencia Portuguesa de Investimento criada no fim de 2002, e que a reestruturação do Ministério da Economia e Inovação fundiu com o ICEP para constituir o AICEP.A sua missão principal era negociar os incen-tivos a conceder ás empresas que pretendiam investir em Portugal o que é condicionado pe-las regras europeias das ajudas de Estado de apoio ao invetimento.Um dos principais contributos que a API deu para o desenvolvimento da economia portu-guesa consistiu em chamar a atenção para importância que tem a envolvente económi-ca e social no desenvolvimento da industria, divulgando um trabalho sobre os chamados custos de contexto, que ainda hoje pode ser-vir de referencia para as medidas de politica económica que o Governo deve tomar para promover o nosso desenvolvimento.Nos últimos anos o investimento estrangeiro

teve uma queda acentuada devido à conjuntura internacional que parece ter sido atenuado em 2006 com o anúncio de investimentos na indús-tria química e dos petróleos, do vidro, do papel e do mobiliário. que atingiram 4 mil milhões de euros,.com destaque para as empresas Pe-trogal, Ikea.e Auto Europa. Esta empresa irá produzir 3 ou 4 novos modelos de automóveis com o consequente investimento industrial e a criação de cerca de 2 mil novos postos de tra-balho e contribuir para o desenvolvimento da industria nacional de componentes.Considerando a concorrência que nos é movi-da pelos Países do Leste europeu no que res-peita ao investimento estrangeiro, devemos procurar atrair outras actividades económicas, de que damos algumas sugestões: ambiente e energia, indústrias intermédias, indústrias da saúde e ciências da vida, tecnologias de infirmação e comunicação, material de trans-porte. Industria transformadora mesmo indús-trias tradicionais e serviços.

Considerações Finais

Com a finalidade de vencer a crise económi-ca que o País atravessa há vários anos, as Politicas Publicas Nacionais a aplicar devem apoiar o crescimento económica para que este atinja pelo menos 3% ao ano, ao mesmo tempo contribua para modificar a nossa estru-tura industrial, de forma a aumentar de forma significativa a proporção de empresas de mé-dia e alta intensidade tecnológica.Num País como o nosso o motor do cresci-mento não são as obras públicas mas o inves-timento das empresas.Para atingir esse objectivo dispõem os agen-tes económicos portugueses de um conjunto de programas de incentivos à modernização industrial, à inovação empresarial, à promo-ção das exportações à captação do investi-mento estrangeiro que foram mencionados anteriormente.Nesta situação os agentes económicos dis-põem de condições que bem aproveitadas de-vem permitir atingir os objectivos pretendidos, criando novas empresas com maior conteúdo tecnológico e realizando sempre que neces-sário o up-grading das existentes.Para realizar a modernização industrial as empresas portuguesas devem também contar com o apoio técnico-administrativo das suas associações sectoriais, que tem por missão ajudá.las a resolver os difíceis problemas que enfrentam, nomeadamente no que respeita ás relações comerciais internacionais.Deve salientar-se que existem a nível inter-nacional exemplos que podem ser utilizados como referência para a implementação de po-líticas públicas nacionais. sem o que não será possível atingir os objectivos consentâneos com o nosso crescimento económico, neces-sário para a melhoria do nosso nível de vida.

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anuário da CiP

NotÍCiaS

Serviço público de televisão

No parecer que emitiu sobre o projecto de contrato de conces-são do serviço público de televi-são, o Conselho de Opinião da RTP, de que a CIP faz parte, con-siderou como aspectos positivos, entre outros, “o reconhecimento de que o serviço público de au-diovisual é necessário no contex-

to de concentração de meios de comunicação social” e “a recusa da “ditadura das audiências” e como pontos negativos “as inde-finições sobre a missão e o papel dos programas internacionais” ou a insuficiente definição dos con-ceitos de publicidade institucional e patrocínios, nomeadamente.

Formação profissional

A adequação dos programas de formação profissional às ne-cessidades do mercado e o melhor aproveitamento da actual oferta de formação constituem dois dos

objectivos do plano de activida-des da Comissão Permanente “Educação ao Longo da Vida” do Conselho Nacional de Educação, de que a CIP faz parte.

tempo de antena na rtP

A CAP, CCP, CIP e CTP de-fendem, em posição conjunta, a manutenção do tempo de ante-na na RTP nos moldes actuais, reagindo assim a uma proposta das Associações Profissionais no sentido de reduzir o direito das 4 confederações patronais. Estas consideram que a actual repar-tição dos 90 minutos globais (34 para as organizações profissio-nais e 56 para as organizações,

dos quais 22 reservados às con-federações) é desproporcionada face aos 90 minutos concedidos aos Sindicatos.As Confederações, embora enten-dam que os tempos têm sido repar-tidos de forma que não correspon-de à efectiva representatividade, sustentam que devem ser manti-dos os critérios actuais, sob pena de se criarem mais problemas que os que se pretenderia resolver.

imposto no gasóleo para aquecimento

A CIP criticou o aumento do Imposto sobre os Produtos Pe-trolíferos (ISP) no gasóleo para aquecimento (cerca de 0,039€/li-tro) por contrariar o princípio da harmonização progressiva do im-posto definido na lei 55/2207, de 31 de Agosto. A CIP considera a situação desajustada e inaceitá-vel porque se traduz num aumen-

to real de impostos sobre a indús-tria, que foi dito não ir acontecer, e reclama que, também para a in-dústria, seja considerado o princí-pio da neutralidade fiscal e, onde tal não for aplicável, sejam con-templadas medidas de correcção da perda de competitividade que, nestas situações, não deixarão de ocorrer.

Dando realce à conjuntura económica, o novo Anuário da CIP tem um aspecto diferente dos anteriores em que, mais do que diferenças gráficas, se trata de introduzir uma análise dinâmica, nomeadamente baseada na opinião dos Associados – afirma o Presidente da CIP na Nota de Abertura do Anuário 2007-2008 da CIP, que se encontra em distribuição. Tomando por base os elementos estatísticos mais actuais disponibiliza-dos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) bem como informações mais específicas fornecidas pelos próprios Associados, construiu-se uma base de dados do volume de negócios sectorial, do número de empresas em cada sector e do pessoal a elas directamente afecto. O Anuário abre com a Análise da Conjuntura Industrial Portuguesa a que se segue a apreciação da prospectiva da economia portuguesa e das economias dos principais parceiros económicos de Portugal sob a denominação.

iNtErNaCioNal

50 IndústrIa

aiNda a tEMPo

O Ministério da Justiça, em cujo âmbito funciona a Comissão para a Desformaliza-ção, onde a CIP tem tido uma participação

muito influente, adoptou um conjunto de medidas orien-tadas no sentido da desmaterialização de expedientes burocráticos que, de um modo geral, representam uma significativa simplificação de processos e determinam poupanças para as empresas, quer em tempo quer em dinheiro.Pode dizer-se que, neste caso, está a ser cumprido o que se anunciou. O facto de as escrituras públicas passarem a ser faculta-tivas para alguns actos, a eliminação dos livros de escri-turação mercantil, a criação, dissolução e liquidação das empresas na hora, fusões e aquisições mais rápidas e fáceis determinam vantagens objectivas para as empre-sas existentes e proporcionam um ambiente favorável para as novas empresas. Já não se pode dizer que, em Portugal, é um pesadelo constituir ou dissolver uma em-presa, registar os seus diferentes actos, prestar contas e as informações estatísticas. É também mais fácil regis-tar uma marca (o prazo passou de 15 meses em 2002 para 5 meses em 2007) e manter permanentemente ac-tualizadas as certidões.São medidas positivas, que temos que encarar como tal uma vez que criam um ambiente mais favorável aos ne-gócios e ao investimento, sempre na convicção de que não é afectada a indispensável segurança no comércio jurídico.Num Estado em que se continua a privilegiar o acto de

legislar e de regular em vez de promover a auto-regu-lação, num sistema em que a regulação económica segue, por vezes, práticas invasivas e efectivamente limitadoras da competitividade e desincentivadoras do investimento, em especial quando se trata de avaliar operações de fusões e aquisições, é um bom sinal per-ceber que, em algumas áreas, estão a ser dados passos dirigidos no sentido da simplificação.

Mas, se o que se pretende é dar sinais de querer andar mais depressa ou com menos passos, este não pode ser o único

sinal. O Estado – não só o Governo, mas também o Governo – tem que proporcionar um funcionamento mais célere da justiça. É possível e é necessário julgar com ponde-ração em prazos mais curtos. Não se diga que a morosi-dade da justiça é indiferente para as empresas. Bem ao contrário: uma justiça lenta não favorece o ambiente dos negócios e protege os incumpridores.É também preciso ser mais rápido nos pagamentos do Estado (Administração Central, Regional e empresas municipais, designadamente) aos seus fornecedores. O Ministério das Finanças veio recentemente retomar os compromissos de legislação de Fevereiro de 2003 que obrigam o Estado a pagar as dívidas, nos prazos definidos. Não é preciso lembrar. O que é preciso é cumprir. Até porque, neste processo, o Estado que legisla é o mesmo Estado que vai ser chamado a cumprir.

desformalização a dois tempos

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