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Comemorando a Restauração da independência
Bandeira Nacional com D. João IV, o Restaurador
Pela terceira vez em 105 anos o dia 1 de dezembro não foi feriado nacional, devido a
uma decisão política do governo chefiado por Pedro Passos Coelho. Como é lógico, os
argumentos utilizados para a eliminação do feriado não serviram para nada a não ser
gerar revolta no povo. Esta situação a que os portugueses foram sujeitos teve como
principal consequência uma maior consciência nacionalista e, certamente, muitos de nós
passaram a olhar para aquele dia de forma diferente.
Para além do 1 dezembro, o governo anterior eliminou ainda o 5 de outubro e dois
feriados religiosos, sendo curioso notar que nem Oliveira Salazar tocou no 5 de outubro,
também uma data marcante na nossa história coletiva. Porém, os deputados que detêm a
maioria na atual composição da Assembleia da República já disseram que esta situação
irá ser alterada no próximo ano, pelo que, em 2016, esperamos voltar a celebrar
condignamente as datas que marcam o nosso passado.
O primeiro de dezembro de 1640 foi o dia em que nos libertamos definitivamente da
coroa espanhola e em que foi aclamado D. João IV como rei de Portugal, dando início à
dinastia dos Braganças que iria estar à frente dos destinos do nosso país até 1910, ano
em que a revolução republicana triunfa.
Contudo, a causa monárquica não desapareceu com a revolução de 1910 e embora a
república tenha sido implantada em todo o país, os seguidores da monarquia não
baixaram os braços.
Para comemorar devidamente o primeiro de dezembro deste ano de 2015, a Folha traz
este mês uma longa entrevista feita aos principais defensores do ideal monárquico em
Montemor, que nos revelam as vantagens deste sistema ainda hoje existente em 12
países europeus.
Embora num passado mais longínquo o rei tenha tido um poder absoluto, os últimos
reis, principalmente após o regresso da Corte a Lisboa depois das invasões francesas,
tiveram de se sujeitar a uma Constituição que lhes limitou substancialmente o poder. A
partir de 1826, o poder do rei passou a ser um poder moderador, que estava acima das
guerras políticas e, principalmente, acima dos partidos políticos.
Na atualidade, e nas monarquias europeias, é esse o poder do rei, para além de constituir
um fator de união nacionalista muito forte. Em Espanha, por exemplo, o rei é
claramente visto como o principal elemento da unidade nacional, sendo de igual modo
representativo da história de cada país, isto é, traz com ele todo um passado
representativo de muitas situações de que uma nação se orgulha.
Quando comparamos, nos dias de hoje, as funções de presidente da república e de rei,
elas acabam por não ser muito diferentes na forma, mas são, substancialmente diferentes
no conteúdo. Ao ser eleito, o presidente sente que está sempre a prazo e muitas vezes
dependente da conjuntura política, ao ser aclamado o rei sabe que se irá manter nessa
posição, seja qual for a conjuntura política, por isso a sua forma de estar e de atuar será
sempre diferente.
Em Portugal, durante o regime republicano, os apoiantes da monarquia sentiram que o
regresso à monarquia seria algo muito difícil, mas não deixaram de referir que isso
apenas acontecerá se for essa a vontade do povo. Contudo, chamam a atenção para o
facto das três revoluções que em Portugal sacudiram o século XX e mudaram os
regimes, o 5 de outubro de 1910, o 28 de maio de 1926 e o 25 de abril de 1974 terem
sido feitas através da força das armas, sem nunca terem sido referendadas. O ‘escolhido’
para ser rei, D. Duarte Pio, continua disponível, mas espera um apelo do povo que tarda
em chegar.
A.M. Santos Nabo
Dezembro 2015