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15 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política Sexta-feira e fim de semana 24, 25 e 26 de junho de 2016 Editora: Paula Coutinho [email protected] Custos dos medicamentos O aumento no preço dos medicamentos, de 12,5% em março desse ano, foi longe do suficiente para sanar as dificuldades das empresas farmacêuticas, afirma o presidente da Indústria Farma- cêutica do Rio Grande do Sul, Thomaz Nunnenkamp. Argumenta que entre outubro de 2014 e outubro de 2015, houve um aumento de 100% na energia elétrica. Ao mesmo tempo, as empresas do ramo sofreram com uma queda de produtividade por conta da re- dução do volume produzido e da impossibilidade de demitir, já que é bastante difícil treinar gente nova num ramo que precisa de tra- balhadores qualificados. “Há muitas empresas pequenas que se in- viabilizariam por conta dos custos maiores e das exigências cada vez mais restritas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ao mesmo tempo, as grandes empresas sofreram o baque da alta do dólar”, diz Nunnenkamp. Ele explica que o aumento nos remédios é dividido em três faixas. A mais alta, cuja participação dos gené- ricos é superior a 20% do mercado, segue o Índice Nacional de Pre- ços ao Consumidor Amplo (IPCA). O custo ao consumidor é regu- lado por conta da concorrência. Há uma faixa intermediária, com representação de genéricos de 15% a 20%. A terceira faixa, com participação de menos de 15% de genéricos, teve um aumento de 34% entre 2004 a 2014, sendo que o IPCA no período foi de 70%. Nessa faixa, estão 43% dos produtos vendidos. Remédio para a indústria Para Thomaz Nunnenkamp, a desoneração dos medicamentos não resolve o problema do custo. “Não adianta querer tirar imposto do medicamento sendo que os insumos são taxados. Assim, as em- presas não conseguirão repassar a desoneração ao consumidor.” Segundo ele, um caminho intermediário, com redução do ICMS, seria melhor. “O remédio é um bem essencial, como a cesta bási- ca.” Nunnenkamp acredita que o custo é a ponta de um problema muito maior: a pequena renda do brasileiro. E, para resolver esse problema, ganhos de produtividade são necessários. “Não significa ter que trabalhar mais, mas sim racionalizar a produção, adotar no- vas tecnologias, qualificar melhor. Desde a adoção da luz elétrica, ninguém tem saudade das acendedoras de lampião.” Erva-mate em APP Projeto do deputado federal gaúcho Afonso Hamm (PP, foto) autoriza o plantio de erva-mate em Área de Preservação Perma- nente (APP) na pequena proprie- dade. Para ele, a obrigatoriedade de se manter áreas de preserva- ção afeta bastante os pequenos agricultores. “Pode não ser um problema ao grande ou médio produtor rural, mas impõe uma limitação significativa, do ponto de vista econômico, para os pequenos proprietários, sobretudo nas regiões mais acidentadas e com muitos cursos d’água, re- duzindo a renda e aumentando a vulnerabilidade financeira.” LÚCIO BERNARDO JR/CÂMARA DOS DEPUTADOS/JC No dia em que a sede na- cional do PT sofreu operação de busca e apreensão da Polícia Fe- deral, o ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), fez um discurso duro nesta quin- ta-feira sobre a necessidade da prevalência dos padrões éticos que a sociedade brasileira exige. Em evento no Palácio do Pla- nalto, o ministro da Suprema Corte avaliou que é preciso ter coragem para administrar “re- médios amargos”, uma vez que “o País está enfermo”. Segundo ele, é preciso “acertar as contas com o passado”, mas tendo tam- bém um “olhar para o futuro”. “Estamos passando no Brasil momentos de grandes dificulda- des. O País está enfermo, às vol- tas com graves crises de natu- reza econômica, política e ética. Sem dúvida, é preciso que as en- fermidades sejam tratadas como estão sendo e tenhamos a cora- gem de administrar os remédios amargos para quando for neces- sário”, disse. Na presença do presidente interino Michel Temer (PMDB), o ministro ressaltou ainda que é preciso empenho para formar os alicerces do reencontro com a “prosperidade econômica” e com a “prevalência dos padrões éticos” que, segundo ele, “a na- ção exige”. OPERAÇÃO LAVA JATO Teori defende ‘remédios amargos’ contra a crise ‘Nação exige prosperidade econômica e padrões éticos’, diz ministro “Nesse aspecto, o segundo pacto republicano é um paradig- ma de alento e esperança e seu sucesso nos mostra que a conver- gência de esforços entre os pode- res do Estado é o caminho vir- tuoso para a construção do País que queremos”, afirmou. O ministro participou nesta quinta-feira de cerimônia de san- ção do projeto de lei que regula- menta o processo e o julgamento do chamado mandado de injun- ção, dispositivo legal que permi- te ao cidadão reclamar efetivida- de de direitos constitucionais. A proposta delimita a vali- dade de uma decisão judicial to- mada com base em um manda- do de injunção até a publicação de uma regulamentação sobre o tema e permite que ela se es- tenda também para grupos ou categorias, como no caso, por exemplo, de greves no setor pú- blico ou concessão de aposenta- doria especial. Ao discursar na cerimônia, o presidente interino leu um trecho de um livro de sua autoria que fa- lava sobre mandado de injunção e elogiou a proposta. “Vamos sau- dar, portanto, esse remédio doce que o STF acabou de produzir.” ANTONIO CRUZ/ABR/JC Teori Zavascki discursou em evento com a presença de Michel Temer Ex-diretor da Petrobras, Nes- tor Cerveró colocou uma torno- zeleira eletrônica nesta quinta- -feira na sede da Justiça Federal, em Curitiba. Preso em janeiro de 2015, durante a 8ª fase da Opera- ção Lava Jato, Cerveró firmou um acordo de colaboração com o Mi- nistério Público Federal (MPF) que lhe garantiu a saída da carcera- gem da Polícia Federal (PF), o que deve acontecer nesta sexta-feira e deve deixar a cidade no mesmo dia, quando embarca em um voo comercial para o Rio de Janeiro. Nestor Cerveró já foi conde- nado duas vezes no âmbito da Lava Jato a um total de 27 anos e quatro meses de reclusão. O ex-diretor da Diretoria Interna- cional da Petrobras foi condena- do por privilegiar empresas em contratos realizados pela esta- tal e iniciou o acordo de delação premiada para reduzir sua pena, que não poderá superar os 20 anos. Como já está preso há mais de 1 ano e 5 meses, poderá dei- xar o regime fechado, utilizando uma tornozeleira eletrônica. Além disso, Nestor Cerveró esteve no centro da gravação que levou à prisão do senador Delcí- dio Amaral (ex-PT), quando seu filho, Bernardo, gravou o sena- dor sugerindo pagamento de pro- pina à sua família em troca da não assinatura da delação. Condenado em dois proces- sos julgados pelo juiz federal Sér- gio Moro, da Lava Jato, em Curiti- ba, Cerveró é alvo ainda de outra ação penal e inquéritos. Pelo acordo de delação premiada, fe- chado com a Procuradoria-Ge- ral da República (PGR) - dos pro- cessos envolvendo políticos com foro especial -, suas penas não podem ultrapassar os 25 anos. Com isso, o período de re- gime fechado ficou estabeleci- do em 1 ano, 5 meses e 9 dias. O resto será cumprido em casa, no Rio de Janeiro, sua terra na- tal. Ao ser ouvido no ano pas- sado, pelo juiz Sérgio Moro, ele brincou “eu não chego a ser um garoto de Ipanema, mas morei 45 anos em Ipanema”. Delator das propinas na compra da Refinaria de Pasade- na, nos Estados Unidos, um dos primeiros episódios ruidosos do escândalo Petrobras, e respon- sável pela prisão de Delcídio e do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, ele aceitou devol- ver R$ 17 milhões em seu acordo de delação. Nestor Cerveró coloca tornozeleira e deixará prisão

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Page 1: Editora: PaulaCoutinho OPERAÇÃO LAVA JATO Teoridefende ... · Jornal do Comércio-Porto Alegre 15 Política Sexta-feiraefimdesemana 24, 25 e26dejunho de 2016 Editora: PaulaCoutinho

15Jornal do Comércio - Porto Alegre

Política

Sexta-feira e fim de semana24, 25 e 26 de junho de 2016

Editora: Paula [email protected]

Custos dos medicamentosO aumento no preço dos medicamentos, de 12,5% em março

desse ano, foi longe do suficiente para sanar as dificuldades dasempresas farmacêuticas, afirma o presidente da Indústria Farma-cêutica do Rio Grande do Sul, Thomaz Nunnenkamp. Argumentaque entre outubro de 2014 e outubro de 2015, houve um aumentode 100% na energia elétrica. Ao mesmo tempo, as empresas doramo sofreram com uma queda de produtividade por conta da re-dução do volume produzido e da impossibilidade de demitir, já queé bastante difícil treinar gente nova num ramo que precisa de tra-balhadores qualificados. “Há muitas empresas pequenas que se in-viabilizariam por conta dos custos maiores e das exigências cadavez mais restritas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Aomesmo tempo, as grandes empresas sofreram o baque da alta dodólar”, diz Nunnenkamp. Ele explica que o aumento nos remédiosé dividido em três faixas. A mais alta, cuja participação dos gené-ricos é superior a 20% do mercado, segue o Índice Nacional de Pre-ços ao Consumidor Amplo (IPCA). O custo ao consumidor é regu-lado por conta da concorrência. Há uma faixa intermediária, comrepresentação de genéricos de 15% a 20%. A terceira faixa, comparticipação de menos de 15% de genéricos, teve um aumento de34% entre 2004 a 2014, sendo que o IPCA no período foi de 70%.Nessa faixa, estão 43% dos produtos vendidos.

Remédio para a indústriaPara Thomaz Nunnenkamp, a desoneração dos medicamentos

não resolve o problema do custo. “Não adianta querer tirar impostodo medicamento sendo que os insumos são taxados. Assim, as em-presas não conseguirão repassar a desoneração ao consumidor.”Segundo ele, um caminho intermediário, com redução do ICMS,seria melhor. “O remédio é um bem essencial, como a cesta bási-ca.” Nunnenkamp acredita que o custo é a ponta de um problemamuito maior: a pequena renda do brasileiro. E, para resolver esseproblema, ganhos de produtividade são necessários. “Não significater que trabalhar mais, mas sim racionalizar a produção, adotar no-vas tecnologias, qualificar melhor. Desde a adoção da luz elétrica,ninguém tem saudade das acendedoras de lampião.”

Erva-mate em APPProjeto do deputado federal

gaúcho Afonso Hamm (PP, foto)autoriza o plantio de erva-mateem Área de Preservação Perma-nente (APP) na pequena proprie-dade. Para ele, a obrigatoriedadede se manter áreas de preserva-ção afeta bastante os pequenosagricultores. “Pode não ser umproblema ao grande ou médioprodutor rural, mas impõe umalimitação significativa, do pontode vista econômico, para os pequenos proprietários, sobretudonas regiões mais acidentadas e com muitos cursos d’água, re-duzindo a renda e aumentando a vulnerabilidade financeira.”

LÚCIO BERNARDO JR/CÂMARA DOS DEPUTADOS/JC

No dia em que a sede na-cional do PT sofreu operação debusca e apreensão da Polícia Fe-deral, o ministro Teori Zavascki,relator da Operação Lava Jato noSupremo Tribunal Federal (STF),fez um discurso duro nesta quin-ta-feira sobre a necessidade daprevalência dos padrões éticosque a sociedade brasileira exige.

Em evento no Palácio do Pla-nalto, o ministro da SupremaCorte avaliou que é preciso tercoragem para administrar “re-médios amargos”, uma vez que“o País está enfermo”. Segundoele, é preciso “acertar as contascom o passado”, mas tendo tam-bém um “olhar para o futuro”.

“Estamos passando no Brasilmomentos de grandes dificulda-des. O País está enfermo, às vol-tas com graves crises de natu-reza econômica, política e ética.Sem dúvida, é preciso que as en-fermidades sejam tratadas comoestão sendo e tenhamos a cora-gem de administrar os remédiosamargos para quando for neces-sário”, disse.

Na presença do presidenteinterino Michel Temer (PMDB),o ministro ressaltou ainda queé preciso empenho para formaros alicerces do reencontro coma “prosperidade econômica” ecom a “prevalência dos padrõeséticos” que, segundo ele, “a na-ção exige”.

OPERAÇÃO LAVA JATO

Teori defende ‘remédiosamargos’ contra a crise‘Nação exige prosperidade econômica e padrões éticos’, diz ministro

“Nesse aspecto, o segundopacto republicano é um paradig-ma de alento e esperança e seusucesso nos mostra que a conver-gência de esforços entre os pode-res do Estado é o caminho vir-tuoso para a construção do Paísque queremos”, afirmou.

O ministro participou nestaquinta-feira de cerimônia de san-ção do projeto de lei que regula-menta o processo e o julgamentodo chamado mandado de injun-ção, dispositivo legal que permi-te ao cidadão reclamar efetivida-de de direitos constitucionais.

A proposta delimita a vali-

dade de uma decisão judicial to-mada com base em um manda-do de injunção até a publicaçãode uma regulamentação sobreo tema e permite que ela se es-tenda também para grupos oucategorias, como no caso, porexemplo, de greves no setor pú-blico ou concessão de aposenta-doria especial.

Ao discursar na cerimônia, opresidente interino leu um trechode um livro de sua autoria que fa-lava sobre mandado de injunçãoe elogiou a proposta. “Vamos sau-dar, portanto, esse remédio doceque o STF acabou de produzir.”

ANTONIO CRUZ/ABR/JC

Teori Zavascki discursou emevento comapresença deMichel Temer

Ex-diretor da Petrobras, Nes-tor Cerveró colocou uma torno-zeleira eletrônica nesta quinta--feira na sede da Justiça Federal,em Curitiba. Preso em janeiro de2015, durante a 8ª fase da Opera-ção Lava Jato, Cerveró firmou umacordo de colaboração com o Mi-nistério Público Federal (MPF) quelhe garantiu a saída da carcera-gem da Polícia Federal (PF), o quedeve acontecer nesta sexta-feira edeve deixar a cidade no mesmodia, quando embarca em um voocomercial para o Rio de Janeiro.

Nestor Cerveró já foi conde-nado duas vezes no âmbito daLava Jato a um total de 27 anose quatro meses de reclusão. Oex-diretor da Diretoria Interna-cional da Petrobras foi condena-do por privilegiar empresas emcontratos realizados pela esta-

tal e iniciou o acordo de delaçãopremiada para reduzir sua pena,que não poderá superar os 20anos. Como já está preso há maisde 1 ano e 5 meses, poderá dei-xar o regime fechado, utilizandouma tornozeleira eletrônica.

Além disso, Nestor Cerveróesteve no centro da gravação quelevou à prisão do senador Delcí-dio Amaral (ex-PT), quando seufilho, Bernardo, gravou o sena-dor sugerindo pagamento de pro-pina à sua família em troca danão assinatura da delação.

Condenado em dois proces-sos julgados pelo juiz federal Sér-gio Moro, da Lava Jato, em Curiti-ba, Cerveró é alvo ainda de outraação penal e inquéritos. Peloacordo de delação premiada, fe-chado com a Procuradoria-Ge-ral da República (PGR) - dos pro-

cessos envolvendo políticos comforo especial -, suas penas nãopodem ultrapassar os 25 anos.

Com isso, o período de re-gime fechado ficou estabeleci-do em 1 ano, 5 meses e 9 dias.O resto será cumprido em casa,no Rio de Janeiro, sua terra na-tal. Ao ser ouvido no ano pas-sado, pelo juiz Sérgio Moro, elebrincou “eu não chego a ser umgaroto de Ipanema, mas morei 45anos em Ipanema”.

Delator das propinas nacompra da Refinaria de Pasade-na, nos Estados Unidos, um dosprimeiros episódios ruidosos doescândalo Petrobras, e respon-sável pela prisão de Delcídio edo banqueiro André Esteves, doBTG Pactual, ele aceitou devol-ver R$ 17 milhões em seu acordode delação.

Nestor Cerveró coloca tornozeleira e deixará prisão