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Presidente Presidente Presidente Presidente Presidente Delmar Stahnke Vice-Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente João Rosado Maldonado COMISSÃO EDITORIAL COMISSÃO EDITORIAL COMISSÃO EDITORIAL COMISSÃO EDITORIAL COMISSÃO EDITORIAL Prof. MS. Carlos Santos Gottschall Profa. Dra. Norma Centeno Rodrigues Prof. Dr. Sérgio José De Oliveira CONSELHO EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Adil K. Vaz (Univ Estadual de Lages) Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP- Jaboticabal) Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG) Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS) Prof. Dr. David E. S. N. Barcellos (UFRGS) Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha) Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL) Prof. Dr. Hamilton Luiz de Souza Moraes (ULBRA e UFRGS) Prof. Dr. Jamir Luis Silva da Silva (ULBRA) Prof. Dr. Joaquim José Ceron (Univ. Murcia/Espanha) Prof. Dr. Julio Otávio Jardim Barcellos (UFRGS) Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS) Profa. MSC. Mariangela da Costa Allgayer (ULBRA) Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO) Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ Austral do Chile) Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA) Reitor Reitor Reitor Reitor Reitor Ruben Eugen Becker Vice-Reitor Vice-Reitor Vice-Reitor Vice-Reitor Vice-Reitor Leandro Eugênio Becker Pró-Reitor de Administração Pró-Reitor de Administração Pró-Reitor de Administração Pró-Reitor de Administração Pró-Reitor de Administração Pedro Menegat Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Nestor Luiz João Beck Pró-Reitor de Graduação das Unidades Pró-Reitor de Graduação das Unidades Pró-Reitor de Graduação das Unidades Pró-Reitor de Graduação das Unidades Pró-Reitor de Graduação das Unidades Externas Externas Externas Externas Externas Osmar Rufatto Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Edmundo Kanan Marques Capelão Geral Capelão Geral Capelão Geral Capelão Geral Capelão Geral Gerhard Grasel Ouvidor Geral Ouvidor Geral Ouvidor Geral Ouvidor Geral Ouvidor Geral Eurilda Dias Roman EDITORA DA ULBRA EDITORA DA ULBRA EDITORA DA ULBRA EDITORA DA ULBRA EDITORA DA ULBRA Diretor Valter Kuchenbecker Coordenador de periódicos Roger Kessler Gomes Capa Juliano Dall’Agnol Projeto Gráfico Isabel Kubaski Editoração Roseli Menzen E-mail: [email protected] Secretaria do curso de Medicina Veterinária Secretaria do curso de Medicina Veterinária Secretaria do curso de Medicina Veterinária Secretaria do curso de Medicina Veterinária Secretaria do curso de Medicina Veterinária ULBRA - Av. Farroupilha, 8001 - Canoas - Prédio 14 - Sala 127 Fone/fax: 3477.9284 CEP: 92425-900 E-mail: [email protected] Carlos Gottschall: [email protected] Sergio Oliveira: [email protected] Endereço para permuta Endereço para permuta Endereço para permuta Endereço para permuta Endereço para permuta Universidade Luterana do Brasil Biblioteca Central - Setor Aquisição Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 05 CEP: 92425-900 - Canoas/RS, Brasil E-mail: [email protected] Indexadores Indexadores Indexadores Indexadores Indexadores AGROBASE - Base de Dados da Pesquisa Agropecuária (BDPA) CAB Abstracts Disponível eletronicamente no site www.editoradaulbra.com.br ou www.ulbra.br/veterinaria Solicita-se permuta. We request exchange. On demande l’échange. Wir erbitten Austausch. O conteúdo e estilo lingüístico são de responsabili- dade exclusiva dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida, com referência à fonte. COMUNIDADE EVANGÉLICA LUTERANA “SÃO PAULO” V586 Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. Vol. 1, n. 1 (maio/out. 2003) Canoas : Ed. ULBRA, 2003. v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1679-5237 1. Medicina veterinária – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil. CDU 619(05)

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 1

Pres identePres identePres identePres identePres identeDelmar StahnkeVice-PresidenteVice-PresidenteVice-PresidenteVice-PresidenteVice-PresidenteJoão Rosado Maldonado

COMISSÃO EDITORIALCOMISSÃO EDITORIALCOMISSÃO EDITORIALCOMISSÃO EDITORIALCOMISSÃO EDITORIALProf. MS. Carlos Santos GottschallProfa. Dra. Norma Centeno RodriguesProf. Dr. Sérgio José De Oliveira

CONSELHO EDITORIALCONSELHO EDITORIALCONSELHO EDITORIALCONSELHO EDITORIALCONSELHO EDITORIALProf. Dr. Adil K. Vaz (Univ Estadual de Lages)Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP- Jaboticabal)Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG)Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS)Prof. Dr. David E. S. N. Barcellos (UFRGS)Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha)Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL)Prof. Dr. Hamilton Luiz de Souza Moraes (ULBRA e UFRGS)Prof. Dr. Jamir Luis Silva da Silva (ULBRA)Prof. Dr. Joaquim José Ceron (Univ. Murcia/Espanha)Prof. Dr. Julio Otávio Jardim Barcellos (UFRGS)Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS)Profa. MSC. Mariangela da Costa Allgayer (ULBRA)Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO)Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ Austral do Chile)Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA)

Re i to rRe i to rRe i to rRe i to rRe i to rRuben Eugen BeckerVice-Rei torVice-Rei torVice-Rei torVice-Rei torVice-Rei torLeandro Eugênio Becker

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Capelão GeralCapelão GeralCapelão GeralCapelão GeralCapelão GeralGerhard GraselOuvidor GeralOuvidor GeralOuvidor GeralOuvidor GeralOuvidor GeralEurilda Dias Roman

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Secretaria do curso de Medicina VeterináriaSecretaria do curso de Medicina VeterináriaSecretaria do curso de Medicina VeterináriaSecretaria do curso de Medicina VeterináriaSecretaria do curso de Medicina VeterináriaULBRA - Av. Farroupilha, 8001 - Canoas - Prédio 14 - Sala 127Fone/fax: 3477.9284CEP: 92425-900E-mail: [email protected] Gottschall: [email protected] Oliveira: [email protected]

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Disponível eletronicamente no sitewww.editoradaulbra.com.br ou www.ulbra.br/veterinaria

Solicita-se permuta.We request exchange.On demande l’échange.Wir erbitten Austausch.

O conteúdo e estilo lingüístico são de responsabili-dade exclusiva dos autores.Direitos autorais reservados.Citação parcial permitida, com referência à fonte.

COMUNIDADE EVANGÉLICA LUTERANA “SÃO PAULO”

V586 Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. – Vol. 1, n. 1 (maio/out. 2003) – Canoas : Ed. ULBRA, 2003. v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1679-5237 1. Medicina veterinária – periódicos. I. Universidade Luterana do

Brasil. CDU 619(05)

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2 v.3, n.1, maio/dez. 2005 - Veterinária em Foco

Revista Veterinária em FocoISSN 1679-5237

Vol.3, n.1, maio/dez. 2005

Sumário

03 Editorial

05 Erisipela suína: isolamento de Erysipelothrix spp de amígdalas de animais de abate e realizaçãode testes de suscetibilidade a antimicrobianosSergio J. de Oliveira; Paulo. R. C. Rodrigues; Vagner R. Lunge e Vilson B. Silva Júnior

11 Miopatia peitoral profunda em frangos de corteRosecler Alves Pereira; Laura Beatriz Rodrigues; Mariangela da Costa Allgayer; Elci Lotar Dickel;Luciana Ruschel Santos; Elisabete Gabrielli e André da Silva Caríssimi

17 Avaliação do uso de Piper methysticum quanto ao desenvolvimento de hepatotoxicidade emratos WistarViviane Machado Pinto; Mariangela da Costa Allgayer; Rosecler Alves Pereira; João RobertoBraga de Mello; Adriana Schneider Breyer e Maria Eugênia Menezes de Oliveira

29 Avaliação da função renal de cães submetidos a administração de Flunixin Meglumine durantea anestesia geralRenato Silvano Pulz; Jussara Maia; Bianca do Prado Lima Petrucci; Fabiana Schiochet; RodrigoFiori S. Silveira e Queti Ferrari

37 Avaliação do tempo de sobrevida e das taxas de recidiva de cães com tumor de mastócitosCristiano Gomes; Maria Inês Witz; Letícia Fioravanti; Kairuza Paixão e Anamaria TellesEsmeraldino

43 Hemorragia pulmonar induzida pelo exercício em cavalos de póloRenato Silvano Pulz; Alexandre Fontana Pezzi; Clério Alves Silva; Bianca do P. L. Petrucci; LucianoPicawy e Rodrigo F. S. Silveira

51 Hematoma etmoidal progressivo em eqüino da raça crioula: relato de casoAnamaria Esmeraldino; Keli Cristiane Tolotti Ayala; Norma Centeno Rodrigues; Celso Pianta eLuiz César Bello Fallavena

55 Efeito da utilização de diferentes protocolos de sincronização de estro sobre a respostareprodutiva de vacas de corteCarlos S. Gottschall; Paulo C. Rodrigues; Paulo L. Aguiar; Eduardo T. Ferreira; Leonardo Canellas;Antonio Augusto G. Rosa; Pedro R. Marques; Guilherme Lourenzen; Francisco Gusso e RicardoMonaco Lopes

67 Desempenho de novilhos e novilhas de corte de diferentes idades terminados em regime desuplementação alimentar em pastagem cultivada e campo nativoCarlos S. Gottschall; Leonardo C. Canellas; Eduardo T. Ferreira; Pedro R. Marques; GuilhermeLourenzen; Cristiane Sommer e Hélio R. Bittencourt

79 Envenenamento por picada de serpente – gênero Crotalus: revisãoGloria Jancowski Boff

93 Normas Editoriais

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 3

Editorial

A revista Veterinária em Foco caracteriza-se por abranger pesquisas emáreas diversas, sem o atrelamento a uma determinada espécie animal oua determinada atividade na Ciência Veterinária. Essa abrangência, essaabertura ao conhecimento tem ocorrido e deverá ser mantida,considerando-se cada resultado obtido através do uso de métodoscientíficos, de importância a profissionais e alunos.

A Medicina Veterinária cada vez mais evolui, e a Ciência tem sido acrescidacom novas disciplinas de reconhecida importância que vêm aprimorandoa formação do médico veterinário. Nossa revista deverá ser sempre umveículo de divulgação que não discrimina áreas de atividade em Veterinária,visto que muitas destas ainda são carentes no que se refere a pesquisascientíficas em nosso país. Não cabe aqui relacionar os temas, uma vezque os conhecimentos necessários ao exercício da profissão sediversificaram consideravelmente na última década.

Embora tenham, até o momento, predominado publicações na revistaoriginárias dos laboratórios de pesquisa e diagnóstico do HospitalVeterinário do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA, através dosprofessores pesquisadores com mestrado e doutorado, torna-se necessáriaa participação em maior número de outros grupos de pesquisa comocontribuição essencial para o futuro de nosso periódico.

Portanto, pretende-se continuar com nossa revista abrindo espaço a todosos pesquisadores e bolsistas, tanto do Curso de Medicina Veterinária daULBRA quanto de outras Instituições, os quais terão um veículo ágil ecientífico.

Comissão Editorial

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 5Veterinária em Foco Canoas v. 3 n.1 maio/dez. 2005 p.5-10

Erisipela suína: isolamento deErysipelothrix spp de amígdalas deanimais de abate e realização detestes de suscetibilidade aantimicrobianosSwine erysipela: culture of Erysipelothrix spp from the tonsils ofslaughtered pigs – results of antimicrobial susceptibility tests

OLIVEIRA, Sergio J. de – Médico Veterinário, Doutor, Professor doCurso de Medicina Veterinária da ULBRA Canoas/RS

RODRIGUES, Paulo. R. C. Médico Veterinário, Professor do Curso deMedicina Veterinária da ULBRA Canoas/RS

LUNGE, Vagner R. Prof. Doutor, Curso de Medicina Veterinária daULBRA Canoas/RS

SILVA JÚNIOR, Vilson B. Bolsista de Iniciação Científica, Curso deMedicina Veterinária, Laboratório de Bacteriologia e Micologia, ULBRACanoas/RS

Data de recebimento: 11/08/05Data de aprovação: 31/10/05

Endereço para correspondência: Laboratório de Bacteriologia e Micologia,Hospital Veterinário – ULBRA. Av. Farroupilha, 8001, prédio 25, 92420-280, Canoas,RS – Brasil. E-mail: [email protected]

RESUMO

Foram isoladas 56 (14,9 %) amostras de Erysipelothrix spp de amígdalasde suínos colhidas em dois frigoríficos no Rio Grande do Sul,respectivamente 13 de suínos vacinados (4,7 % entre 275 amígdalastrabalhadas) e 43 de suínos não vacinados (43 % entre 100 amígdalas),bem como foi obtido um isolado de lesão de pele. Foi verificadosuscetibilidade de todas as amostras para amoxicilina, amoxicilina e ácido

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clavulânico, ceftiofur, cefalexina, clindamicina, florfenicol e penicilina G.Casos de resistência foram observados para cloranfenicol (20,63 %),doxiciclina (20,63 %), oxitetraciclina (19,04 %), lincomicina (15,87 %),tiamulina (15,87 %) e enrofloxacina (7,83 %). Importante salientar que5 amostras isoladas de casos clínicos de erisipela foram resistentes adoxiciclina, oxitetraciclina e tiamulina, antimicrobianos de uso freqüentenas granjas.

Palavras-chave: erisipela suína, suscetibilidade a antimicrobianos.

ABSTRACT

From the tonsils of slaughtered pigs were isolateds 56 (14.9%) Erysipelothrixspp samples, from two abattoirs in Rio Grande do Sul, Brazil, respectively13 from vaccinated pigs (4.7 % among 275 tonsils) and 43 from nonvaccinated pigs (43 % among 100 tonsils). Also it was isolated one samplefrom skin lesion. Antimicrobial tests showed susceptibility to amoxicilin,amoxicilin and clavulanic acid, ceftiofur, cephalexin, clindamicin,florfenicol, and penicillin G for all de samples. Cases of resistance wereshown to chloranphenicol (20.63 %), doxiciclin (20.63 %), oxitetracyclin(19.04 %), lincomycin (15.87 %), tiamulin (15.87 %) and enrofloxacin(7.83 %). It is important to stress that 5 isolates from clinical cases showedresistance to doxicyclin, oxitetracyclin and tiamulin, frequent usedantimicrobials in the farms.

Key words: swine erysipelas, antimicrobial susceptibility tests.

INTRODUÇÃO

Erysipelothrix rhusiopathiae foi considerado durante muitos anos como aúnica espécie de bactérias causadoras de erisipela suína. Maisrecentemente foi reconhecido outra espécie, o Erysipelothrix tonsillarum(TAKAHASHI et al., 1987). Erysipelothrix spp são negativos à prova decatalase e produzem H2S em triple sugar iron (TSI) na linha de inoculação,características que os diferenciam de Corynebacterium spp. Em pesquisarealizada no Brasil, foram classificadas sorologicamente amostras de E.rhusiopathiae isoladas de amígdalas de suínos e da superfície corporal depeixes, demonstrando a presença dos sorotipos 1, 2, 3, 4, 9, 10, 11 e N(CASTRO et al., 1972). Em outra pesquisa, em nosso país, a classificaçãosorológica de isolados de amígdalas, baço e fezes de suínos, revelou apresença dos sorotipos 1, 2, 3, 5 e 11, ressaltando a importância do suínoportador na epidemiologia da doença (BARCELLOS et al., 1984).Atualmente, reconhece-se 24 sorotipos, distribuídos entre as espécies E.rhusiopathiae (compreende os sorotipos 1, 2, 4, 5, 6, 8, 9, 11, 12, 13, 15,

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16, 17, 18, 19, 21 e N) e E. tonsillarum (com os sorotipos 3, 7, 10, 14, 20,22 e 23). Estudos de hibridização de DNA sugerem que o gêneroErysipelothrix compreende quatro espécies, sendo E. rhusiopathiae, E.tonsillarum, e que E. rhusiopathiae sorovar 13 e E. rhusiopathiae sorovar18 seriam espécies diferentes (TAKAHASHI et al., 1992). O presente trabalhoteve como objetivos o isolamento das bactérias de suínos abatidos emfrigorífico, procedentes de granjas que vacinam e não vacinam,identificação dos microorganismos por características fenotípicas, bemcomo a verificação da suscetibilidade a antimicrobianos.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram trabalhadas 375 amígdalas de suínos colhidas em dois frigoríficosno Rio Grande do Sul, respectivamente 275 de granjas que vacinam contraerisipela (13 colheitas) e 100 de granjas que não vacinam (4 colheitas).Cada amígdala foi colhida e embalada em plástico individualmente, sendoprocessada no Laboratório de Bacteriologia do Hospital Veterinário daULBRA, como segue: a superfície era flambada e era feito um corte combisturi estéril, colhendo-se material com “swab” estéril, sendo inoculadoem meio de cultura líquido de BHI em tubos, adicionado de soro eqüino(5%) e antibióticos (vancomicina, canamicina e gentamicina), sendoincubado a 37 oC por 48 horas em aerobiose. Após este período inoculava-se em agar-sangue, incubando-se igualmente como para os tubos.Bactérias foram identificadas considerando-se a apresentação de hemólisefraca em agar-sangue, tipo de colônias e através de microscopia em lâminascoradas pelo Gram, provas de catalase e oxidase, inoculação em TSI(OLIVEIRA, 2000), comparando-se com duas amostras de E. rhusiopathiaerespectivamente do sorotipo 1A e 2 obtidas de pesquisa anterior(BARCELLOS et al., 1984). As bactérias serão classificadas por sorologia,em publicação posterior. Os testes de suscetibilidade a antimicrobianosforam realizados pela prova de disco-difusão (técnica de Kirby-Bauer),inoculando-se as bactérias em agar-sangue, sendo adicionados discos deamoxicilina, 10 μg; amoxicilina e ácido clavulânico, 30 μg; ceftiofur, 30 μg;cefalexina, 30 μg; cloranfenicol, 30 μg; clindamicina, 2 μg; doxiciclina,30 μg; enrofloxacina, 5 μg; eritromicina, 15 μg; florfenicol, 30 μg;lincomicina, 2 μg; oxitetraciclina, 30 μg; penicilina G, 10 UI; tiamulin,30 μg. Os halos de inibição foram medidos após 48 horas de incubação a37oC, em aerobiose.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram isoladas 56 (14,9%) amostras de Erysipelothrix spp, de amígdalasde suínos abatidos em frigorífico, respectivamente 13 de suínos vacinados(4,7 % entre 275 amígdalas trabalhadas) e 43 de suínos não vacinados

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(43 % entre 100 amígdalas) bem como foi obtido um isolado de lesão depele também colhida em frigorífico. Os microorganismos foramidentificados pelo crescimento em BHI contendo canamicina, (400 mg/L), gentamicina, (25 mg/L), vancomicina, (25 mg/L), pelo aspecto dascolônias pequenas apresentando alfa hemólise em agar-sangue, pelavisualização ao microscópio de bastonetes Gram positivos, pequenos efinos, retos ou encurvados. Foram considerados para identificação degênero reação negativa para catalase e oxidase e produção de H2S deforma a revelar coloração escura (negra) em meio de TSI apenas na linhade semeadura. Os resultados dos testes de suscetibilidade estão na Tabela1. Além dos 57 isolados, foram incluídas 6 amostras já classificadasanteriormente como E. rhusiopathiae, isoladas de casos clínicos de erisipelasuína, completando o total de 63 amostras para os testes de suscetibilidadea antimicrobianos. Takahashi et al., (1989) revelaram que todos os sorotiposisolados foram suscetíveis a penicilina G, ampicilina e eritromicina.Amostras testadas por Yamamoto et al. (2001) revelaram maiorsuscetibilidade a ampicilina, cloxacilina, benzil-penicilina, ceftiofur,tilosina, enrofloxacina e danofloxacina. Em casos de erisipela septicêmicaaguda foi verificada resistência a oxitetraciclina e dihidroestreptomicina(YAMAMOTO et al., 1999). No presente trabalho foi verificadosensibilidade de todas as amostras para amoxicilina, amoxicilina e ácidoclavulânico, ceftiofur, cefalexina, clindamicina, florfenicol e penicilina G,com apenas uma amostra resistente a eritromicina. Casos de resistênciaforam verificados para cloranfenicol (20,63 %), doxiciclina (20,63 %),oxitetraciclina (19,04 %), lincomicina (15,87 %), tiamulin (15,87 %), eenrofloxacina (7,93 %). Importante salientar que 5 amostras isoladas decasos clínicos de erisipela foram resistentes a doxiciclina, oxitetraciclina etiamulina, antimicrobianos de uso freqüente nas granjas.

Tabela 1. Resultado dos testes de suscetibilidade a antimicrobianos realizados em63 amostras de Erysipelothrix spp.

Antimicrobianos Número de amostras

Resistentes (%)

Número de amostras

Suscetíveis (%) Amoxicilina 0 63 (100) Amoxicilina + ácido clavulânico 0 63 (100)

Ceftiofur 0 63 (100) Cefalexina 0 63 (100) Clindamicina 0 63 (100) Cloranfenicol 13 (20,63) 50 (79,36) Doxiciclina 13 (20,63) 50 (79,36) Enrofloxacina 05 (7,93) 58 (92,06) Eritromicina 01 (1,58) 62 (98,41) Florfenicol 0 63 (100) Lincomicina 10 (15,87) 53 (84,12) Oxitetraciclina 12 (19,04) 51 (80,95) Penicilina G 0 63 (100) Tiamulin 12 (19,04) 51 (80,95)

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CONCLUSÕES

Foi constatada a presença de Erysipelothrix spp em amígdalas de suínosaparentemente sadios abatidos em frigorífico, em granjas que vacinamcontra a doença e que não vacinam (respectivamente 4,7 % e 43 % deisolamentos). Houve resistência de algumas amostras obtidas tanto deamígdalas quanto de lesões (casos clínicos), a antibióticos de uso freqüentenas granjas.

AGRADECIMENTO

Os autores agradecem a colaboração de Jane Mendes Brasil, doLaboratório de Bacteriologia e Micologia do Hospital Veterinário da ULBRA.

REFERÊNCIAS

BARCELLOS, D. E. S. N.; OLIVEIRA, S. J. DE; BOROWSKI, S. M.Classificação sorológica de amostras de Erysipelothrix rhusiopathiae,isoladas de suínos no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista deMicrobiologia, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 45-47, 1984.

CASTRO, A. F. P.; TRABULSI, L. R.; CAMPEDELLI Fo.; TROISE, C.Characteristics of strains of Erysipelothrix rhusiopathiae isolated in Brazil.Revista de Microbiologia, S. Paulo, v. 3, p. 11-24, 1972.

OLIVEIRA, S. J. DE. Microbiologia Veterinária. Guia Bacteriológico Prático.2. ed., Canoas, Editora da ULBRA, 237 p., 2002.

TAKAHASHI, T.; FUJISAWA, T.; BENNO, Y. et al. Erysipelothrix tonsillarumsp. nov. isolated from tonsils of apparently healthy pigs. Int. J. Syst. Bacteriol.v. 37, p. 166-168, 1987.

TAKAHASHI, T.; ZARKASIE, K.; MARIANA, S. et al. Serological andpathogenic characterization of Erysipelothrix rhusiopathiae isolates fromtonsils of slaughter pigs in Indonesia. Veterinary Microbiology, v. 21, p.165-175, 1989.

TAKAHASHI, T.; FUJISAWA, T.; TAMURA, Y. et al. DNA relatedness amongErysipelothrix rhusiopathiae strains representing all twenty three serovarsand Erysipelothrix tonsillarum. Int. J. Syst. Bacteriol. v. 42, p. 469-473,1992.

YAMAMOTO, K.; KIJIMA, M; TAKAHASHI, T. et al. Serovar, pathogenicityand antimicrobial susceptibility of E. rhusiopathiae isolates from farmed

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YAMAMOTO, K.; KIJIMA, M.; YOSHIMURA, H., TAKAHASHI, T.Antimicrobial susceptibilities of Erysipelothrix rhusiopathiae isolated frompigs with swine erysipelas in Japan, 1988-1998. J. Vet. Med. B. InfectiousDis. Vet. Public Health v. 48, n.2, p. 115-126, 2001.

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 11Veterinária em Foco Canoas v. 3 n.1 maio/dez. 2005 p.11-16

Miopatia peitoral profunda emfrangos de corteDeep pectoral myopathy in poultry

PEREIRA, Rosecler Alves – Curso de Medicina Veterinária daUniversidade de Passo Fundo – RS

RODRIGUES, Laura Beatriz – Curso de Medicina Veterinária –Universidade de Passo Fundo – RS

ALLGAYER, Mariangela da Costa – Curso de Medicina Veterináriada Universidade Luterana do Brasil – RS

DICKEL, Elci Lotar – Curso de Medicina Veterinária da Universidadede Passo Fundo – RS

SANTOS, Luciana Ruschel – Curso de Medicina Veterinária daUniversidade de Passo Fundo – RS

GABRIELLI, Elisabete – Curso de Medicina Veterinária daUniversidade Luterana do Brasil – RS

CARÍSSIMI, André da Silva – Faculdade de Medicina Veterinária –Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS

Data de recebimento: 22/08/05Data de aprovação: 20/10/05

Endereço para correspondência: Rosecler Alves Pereira. Laboratório de PatologiaAnimal – Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – Universidade de PassoFundo – Passo Fundo/RS. E-mail: [email protected]

RESUMO

Amostras de peitos de frangos apresentando lesões esverdeadas foramenviadas em formalina a 10% ao Laboratório de Patologia Animal (LPA),Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV) da Universidadede Passo Fundo (UPF), Passo Fundo/RS. Neste trabalho são descritos osachados histopatológicos compatíveis com Miopatia Peitoral Profunda

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(MPP) dessas dez amostras de músculo esquelético, diferenciando-os dastecnopatias comuns no abate.

Palavras-chave: frangos de corte, miopatia peitoral profunda, síndromedo músculo verde.

ABSTRACT

In this paper are presented and discussed hystopathologic findings ofchicken deep pectoral muscle in tem samples. These were sent to thelaboratory in 10% buffered formalin and processed in the Animal PathologyLaboratory from the Agronomic and Veterinary School at the University ofPasso Fundo, Rio Grande do Sul State, Brazil.

Key words: chicken, deep pectoral miopathy, green muscle disease.

INTRODUÇÃO

A evolução na produção de carne de aves oportunizou uma grandediversificação de produtos, com maior elaboração de itens deconveniência, praticidade e valor agregado, em detrimento dacomercialização de carcaças inteiras. Os músculos da região do peitodas aves apresentam grande valor comercial e dentre os produtosatualmente oferecidos, o filezinho de peito tem grande aceitação entreos consumidores. Entretanto, a intensa seleção genética das linhagens,pela necessidade econômica de abater aves em menor tempo de vida,com rápido ganho de peso, tem causado comportamentos fisiológicosanormais, com danos ao tecido muscular, como a Miopatia PeitoralProfunda (MPP).

A MPP foi descrita primeiramente em criações de perus no Oregon/USAem fêmeas de com mais de 10 meses de idade (DICKINSON et al., 1968),sendo também descritas em criações de matrizes (HARPER, et al. 1971;JONES, et al. 1978) e frangos de corte (RICHARDSON, et al. 1980). Crespoet al. (2002) relataram que ambos os sexos são afetados.

Esta alteração afeta principalmente o músculo peitoral profundo causandodegeneração, necrose e fibrose dos tecidos e aparência esverdeada(FIGURA 1 e 2), razão pela qual esta miopatia também é conhecida porDoença do Músculo Verde. As lesões não causam sinais clínicos e sãogeralmente encontradas na linha de abate de frangos de corte onde adoença encontra-se em estágio inicial sendo esta patologia comumenteconfundida com um simples hematoma causado pelo manejo e transporteaos abatedouros, sendo este considerado uma tecnopatia.

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Segundo Crespo e Shivaprasad (2003), as lesões podem ser uni ou bilaterais.Nas lesões agudas, todo músculo peitoral profundo está amolecido, pálidoe edematoso com extensas áreas de necrose. A fáscia está opaca com edemaentre os músculos profundos e superficiais. Em lesões subagudas, o edemadesaparece, e o músculo necrótico torna-se mais proeminente e seco comáreas esverdeadas. Nas lesões crônicas, o músculo está atrofiado euniformemente verde, seco, friável e envolvido por uma cápsula fribrosa,podendo tornar-se uma cicatriz. O músculo posterior ao músculonecrosado torna-se atrofiado, pálido e algumas vezes fibrosado. O esternoadjacente ao músculo necrosado está rugoso e irregular.

Quando examinadas microscopicamente, as fibras musculares necróticasestão degeneradas e uniformemente eosinofílicas com necrose discóide.Os núcleos estão ausentes ou picnóticos. Os vasos sangüíneos no interiordo tecido necrótico contêm somente núcleos de eritrócitos lisados. Ao redordeste tecido necrótico, há reação inflamatória com heterófilos, macrófagose células gigantes; em casos crônicos pode-se encontrar uma cápsulafibrosa. No músculo adjacente ao tecido necrosado as fibras podem estaratrofiadas ou substituídas por gordura. As lesões vasculares encontradasno músculo necrosado consistem em trombose, proliferação da túnicaíntima e formação de aneurisma.

Figura 1 – Músculo Peitoral Profundo. Áreas esverdeadas (seta).

Figura 2 – Músculos apresentando áreas esverdeadas após a filetagem.

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Alguns autores indicam que a MPP pode ser um resultado de isquemiasecundária ao intenso exercício muscular, como movimentos voluntáriosdas asas. Em perus é possível que a alta incidência de MPP deva-se emparte pelo intenso manejo destas aves durante a inseminação artificial.As alterações no manejo podem reduzir a incidência e não pode serdescartada uma predisposição genética.

O objetivo deste trabalho é relatar os achados histopatológicos em amostrasde peito de frango enviados para análise que foram compatíveis commiopatia peitoral profunda, diferenciando-os das tecnopatias comuns noabate de frangos.

MATERIAL E MÉTODOS

Dez amostras de músculo esquelético que apresentavam lesões esverdeadasevidenciadas quando do corte para filetagem do peito foram encaminhadasao Laboratório de Patologia Animal da UPF. Este material foi coletado defrangos de corte com 45 dias de idade, proveniente de uma integraçãoavícola de grande porte do sul do País. Após a clivagem, as amostras foramprocessadas segundo as técnicas histológicas, coradas por HE, eexaminadas ao microscópio óptico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os exames histopatológicos das amostras de músculo esquelético revelaram:hialinização das fibras esqueléticas, extensas áreas de necrose coagulativa,infiltração de células inflamatórias (heterófilos e mononucleadas) e célulasgigantes, além de fibrose (FIGURAS 3 e 4). O quadro microscópico écompatível com MPP que causa poucos problemas clínicos, sendo que osprejuízos são detectados no momento do abate, com condenação ou descartedas peças (BRASIL, 1998; CRESPO E SHIVAPRASAD, 2003).

Figura 3 – Infiltração de células inflamatórias (objetiva 5 x).

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No Brasil, esta miopatia é um problema real em linha de abate de frangos,pois a sua incidência é representativa e acarreta o descarte da peça pelainspeção de linha. Dados de Olivo (2004) mostraram uma incidência deaproximadamente 0,1% em frangos e 7% em matrizes de descarte. Este éum dado importante em termos de controle de qualidade dos produtos deorigem aviária, uma vez que a MPP é uma doença degenerativa isquêmicadecorrente do aumento acelerado da massa muscular, e não umatecnopatia, como indica apenas a análise macroscópica.

A idade é um fator importante na ocorrência da patologia, sendo que oproblema aumenta com o desenvolvimento das aves e apresenta altaincidência em galinhas pesadas adultas. Dados de Berto Filho e Olivo (2004)demonstraram que, em amostragem realizada em um abatedouro degrande porte, foi possível quantificar a incidência da MPP. Durante trêsmeses, foram observadas 7,6 milhões de carcaças de frango de corte commédia de 7 semanas de idade e 377 mil carcaças de galinhas em fase dedescarte de diferentes linhagens, apresentando 0,096% de ocorrência emfrangos e 7,8% em matrizes pesadas. A incidência em frangos de corte eem galinhas poedeiras matrizes tem importância considerável,principalmente porque sua a observação somente é possível após a desossae separação dos músculos peitorais (OLIVO, 2004).

Segundo Berto Filho e Olivo (2004), a suplementação dietética de vitaminaE e Se não reduziu a taxa de ocorrência da doença nos lotes pesquisados.No entanto, vale a pena salientar que o lote das aves examinadas nestetrabalho, apresentou em fases iniciais lesões compatíveis comencefalomalácia nutricional.

Por tratar-se de uma enfermidade resultante da seleção genética e dascondições de manejo, agravada pelo movimento não natural e repetitivoda asa sobre os músculos, não deve ser confundida com lesões obtidasdurante a apanha e o transporte das aves. Assim, o diagnóstico precisofaz-se necessário, e a histopatologia destaca-se como uma eficienteferramenta para diferenciar os achados na linha de abate, servindo comosuporte para tomada de medidas que venham minimizar o problema.

Figura 4 – Hialinização das fibras esqueléticas (objetiva de 10 x).

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CONCLUSÕES

A Miopatia Peitoral Profunda é considerada um grave problema dequalidade em linhas de abate de aves. Por seu aspecto macroscópico serfacilmente confundido com hematomas decorrentes da apanha etransporte pré-abate, faz-se necessário o diagnóstico preciso da patologia,o que implica em modificações no manejo, nutrição e genética das aves.Por outro lado, ao constatar-se que a lesão macroscópica trata-se naverdade de uma tecnopatia e não de MPP, é possível avaliar e adequar omanejo pré-abate, minimizando os prejuízos decorrentes deste tipo dedescarte.

REFERÊNCIAS

BERTO FILHO, R.Z.; OLIVO, R. Miopatia peitoral profunda em frangos.Revista Ciência da Carne, n.330, 2004.

BRASIL. Portaria no. 210, de 10 de novembro de 1998. Regulamento técnicoda inspeção tecnológica e higiênico-sanitária de carnes de aves. DIPOA, DAS,MAPA, 1998.

CRESPO, R.; HALL, C.; GHAZIKHANIAN, G. Y. Avulsion of the commonretinaculum in meat turkeys. Avian Diseases, v.46, p.245–248, 2002.

CRESPO, R.; SHIVAPRASAD, H. L. Developmental, Metabolic, and otherNoninfectious Disorders. In: SAIF, Y. M. Diseases of Poultry. 11th. Iowa StatePress, 2003.

DICKINSON, E. M.; STEVENS, J. O.; HELFER, D. H. A degenerativemyopathy in turkeys. Proceedings 17th Western Poultry Disease Conference,7, 1968.

HARPER, J. A.; HELFER, D. H.; DICKINSON, E. M. Hereditary myopathyin turkeys. Proceedings of the 20th, Western Disease Conference, 76, 1971.

JONES, H. G. R.; RANDALL, C. J.; MILLS, C. P. J. A survey of mortality inthree adult broiler breeder flocks. Avian Pathology, v.7, p.619–628., 1978.

OLIVO, R. Atualidades na qualidade da carne de aves. Revista Ciência daCarne, n. 331, 2004.

RICHARDSON, J. A.; BURGENER, J.; WINTERFIELD, R. W.; DHILLON, A.S. Deep Pectoral myopathy in seven-week-old broiler chickens. AvianDiseases, v.24, p.1054–1059, 1980.

SILLER, W. G.; WIGHT, P. A. The pathology of deep pectoral myopathy ofturkeys. Avian Pathology, v.7, p.583–617, 1978.

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 17Veterinária em Foco Canoas v. 3 n.1 maio/dez. 2005 p.17-28

Avaliação do uso de Piper methysticumquanto ao desenvolvimento dehepatotoxicidade em ratos WistarEvaluation of the Piper methysticum use as for the development of hepatictoxicity in Wistar rats

PINTO, Viviane Machado – Med. Vet., MSc. Professora do Curso deMedicina Veterinária da Universidade Luterana do Brasil – RS

ALLGAYER, Mariangela da Costa – Bióloga, Med. Vet., MSc.Professora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Luteranado Brasil – RS

PEREIRA, Rosecler Alves – Med. Vet., MSc. Professora do Curso deMedicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo – RS

MELLO, João Roberto Braga de – Med. Vet., Doutor, Professor doCurso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grandedo Sul – RS

BREYER, Adriana Schneider – Aluna graduação do Curso deMedicina Veterinária da Universidade Luterana do Brasil – RS

OLIVEIRA, Maria Eugênia Menezes de – Méd. Vet. Aluna da Pós-Graduação em Residência Médico Veterinária da Universidade Luteranado Brasil – RS

Data de recebimento: 05/05/05Data de aprovação: 10/10/05

Endereço para correspondência: Viviane Machado Pinto. Av. Farroupilha, nº8001, Bairro São José, Cep. 92425-900, Prédio 25 ULBRA, Canoas RS. E-mail:[email protected]

RESUMO

A kava kava® (Piper methysticum), pertencente à família Piperaceae, éutilizada popular e terapeuticamente para diminuir a ansiedade, medo edistúrbios comportamentais. É um fitoterápico utilizado em vários paísese, devido a recentes relatos associando o uso da kava kava® com possíveis

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efeitos hepatotóxicos e nenhuma informação sobre esses efeitos no períodogestacional, optou-se por realizar avaliação hepática utilizando ratasWistar prenhes como modelo. Para tanto, as ratas foram tratadas com0mg.kg–1, 5mg.kg–1; 35mg.kg–1 e 50mg.kg–1 de kava kava®, por via oral,do 6° ao 15° dia de prenhez. A avaliação da hepatoxicidade foi realizadaatravés da mensuração das enzimas séricas alanina aminotransferase(ALT) e fosfatase alcalina (FA), bem como a realização de examehistopatológico do fígado dessas ratas. Os resultados evidenciaram que ouso do fitoterápico kava kava® no período e doses utilizadas nãodesencadeou alterações histológicas significativas no parênquima hepáticonem nas enzimas séricas mensuradas. Outros estudos são necessários parauma maior segurança em relação aos efeitos hepatotóxicos destefitoterápico.

Palavras-chave: kava kava, prenhez, hepatotoxicidade, ratos Wistar.

ABSTRACT

The kava kava (Piper methysticum), belonging to Piperaceae family, is usedto reduce anxiety and fear and to treat behavior disturbs. In spite of beinga phytotherapeutic used in several countries and, due to recent reportsassociating the use of kava kava with hepatotoxic effects and noinformation about those effects over the pregnancy period, the hepaticevaluation was realized with pregnant Wistar rats as models. The ratswere treated with 0mg.kg–1, 5mg.kg–1, 35mg.kg–1 and 50mg.kg–1 of thephytotherapic preparation, through oral administration, from day 6 up today 15 of pregnancy. The hepatic toxicity was mesured by alanineaminotrasferase (ALT) and alkaline phosphatase (ALP) enzymes, as wellas histopathologic changes on the liver. The phytotherapic use of kava kavaon the period and with the utilized doses, didn’t demonstratehistopathologic changes on hepatic parenquima neither on measuredenzymes. Other studies are necessary for a better safety related with theuse during pregnancy.

Key words: kava kava, pregnancy, hepatic toxicity, Wistar rats.

INTRODUÇÃO

O Piper methysticum (kava kava®) é um fitoterápico amplamente utilizadosozinho ou associado ao Hypericum perforatum (BRUNETON, 1993) comoansiolítico e sedativo (MALSCH e KIESER, 2001), originário e usado emquase todas as ilhas do Oceano Pacífico, embora ocorra principalmentena Polinésia Ocidental, com exceção da Nova Zelândia, Nova Caledônia, ea maioria das ilhas Salomão (SINGH, 1992; NORTON e RUZE, 1994).

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Originalmente, era usado apenas em ritos religiosos, com seu consumolimitado ao chefe e seus sacerdotes. Além dos aspectos sociais, em muitasáreas do Pacífico pensava-se que a kava kava ® tinha efeito benéfico sobrea saúde e por isso era usada para muitos fins, tais como: calmante, induziro relaxamento, contrabalançar a fadiga, congestão no trato urinário, asma,reumatismo, para perder peso, entre outros. Nos anos 80, também foiintroduzida nas comunidades aborígenes da Austrália, onde se tornouuma droga de abuso pela ausência de controle ritualístico de seu consumo(SINGH, 1992).

Produtos contendo extratos ou mesmo pó de raízes e rizomas de kavakava ® têm sido comercializados na Europa, sendo indicados em casos deansiedade e insônia. Estudos farmacológicos em animais indicaram açõessedativas, relacionadas com a ativação da transmissão dopaminérgica eserotoninérgica na região mesolímbica, o que estaria associado com aredução da excitabilidade emocional e alterações comportamentais(SIMÕES, 2001).

Como componentes ativos do P. methysticum, foram identificadas dezoitocavalactonas. Destas, seis têm maior relevância farmacológica: cavaína,iangonina, desmetoxiangonina, 7,8-dihidrocavaína, metisticina e 7,8-di-hidromesticina (LECHTENBERG et al., 1999). As cavalactonas contidas nasraízes do P. methysticum podem variar significativamete de planta para planta(3-20%), dependendo do crescimento, colheita e condições de processamento(KAVA, 1988). Posteriormente, foram desenvolvidas preparações enriquecidascom essas substâncias (teor no extrato bruto de 5 a 8% e, no extratoenriquecido, em torno de 70%). Estudos de biodisponibilidade foramrealizados em animais, demonstrando a absorção e eliminação rápida daslactonas cavaína e di-hidrocavaína (SIMÕES, 2001).

O mecanismo de ação das cavalactonas ainda não está bem esclarecido,existindo na literatura relatos contraditórios sobre a interação dascavalactonas com o receptor do ácido gama-aminobutírico (GABA). Umtrabalho indica aumento dos sítios de ligação (modulação de receptores),enquanto outro relata ausência de atividade significativa nos sítios deligação GABA-A e GABA-B e no sítio de ligação de benzodiazepínicos(DAVIES et al., 1992). São descritos ensaios clínicos controlados emhumanos, com resultados positivos em ansiedade usando uma preparaçãocontendo 70 ou 100mg de extrato enriquecido, administrada três vezesao dia, pelo período de quatro semanas (SIMÕES, 2001). A dosagemindicada para humanos varia de 70 a 240mg de extrato seco da raiz.Dosagens acima de 330mg/dia têm sido testadas sem aumentar afreqüência de efeitos adversos (ERNST, 2002). Já no caso de pequenosanimais, como os caninos e felinos, a dosagem recomendada varia de 5,5a 11mg/kg (BASKO, 2002).

Entre as atividades relatadas da kava kava®, se pode citar: relaxantemuscular, analgésica, sedativa (SEITZ et al., 1997; KELEDJIAN, et al.,

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1998; SCHIRMACHER et al., 1999), anticonvulsivante e anestésica(GRUNZE et al., 2001), espasmolítica, ansiolítica (MALSCH e KIESER,2001; SMITH et al., 2001) e neuroprotetor (SCHMIDT e FERGER, 2001).A maioria dos relatos é em sistemas “in vitro” ou estudos pré-clínicos emanimais. A ação ansiolítica e sedativa são respaldadas por ensaios clínicosem humanos (MALSCH e KIESER, 2001; PITTLER, et al., 2002).

A kava kava® pode apresentar como efeitos adversos reações alérgicas,pigmentação da pele (LITT, 2001). A ingestão da bebida em dosesequivalentes a mais de 300g da raiz de P. methysticum por semana,durante alguns meses pode causar dermopatia, caracterizada poredema de face, coloração amarelada dos cabelos e unhas, lesõesescamosas nos membros torácicos e pélvicos. Estes sinais clínicosdesaparecem algumas semanas após a interrupção do tratamento. Osprincipais efeitos adversos são a fadiga matinal no início do tratamento,movimentos involuntários estereotipados, prejuízos na deglutição erespiração, contrações involuntárias arrítmicas e contínuas dasextremidades (ROBBERS et al., 1996).

Os medicamentos preparados com P. methysticum têm eficácia ansiolíticasem apresentar os mesmos efeitos adversos dos benzodiazepínicos, comoprejuízo das funções cognitivas, sonolência e redução da coordenaçãomotora (TYLER e ROBBERS, 2000). Este fitoterápico potencializa a açãode outros depressores do SNC, não devendo ser utilizada concomitantecom essas substâncias depressoras, nem previamente a procedimentosque requeiram anestesia geral (RATES et al., 2002).

Por ter ação antidepressiva, antiestresse, ansiolítica, relaxante musculare sedativa, a kava kava® passou a ter uma demanda crescente, sendo queatualmente são encontrados no mercado brasileiros números expressivosdeste fitoterápico, entre eles: KAVA KAVA (FLORA MEDICINAL)®, KAVAKAVA (TEUTO)®, KAVA KAVA (HERBARIUM)®, CALMINTON®,ANSIOPAX®, KAVASEDON® (ANVISA, 2004). Em farmácias demanipulação, são preparadas formulas magistrais, em geral cápsulas,utilizando-se como matéria-prima o extrato seco padronizado com 70%de kavalactonas (RATES et al., 2002).

Casos de hepatotoxicidade associados ao uso de fitoterápicos à base dekava kava® foram relatados na Suíça e Alemanha (STRAHL et al., 2002).Esses casos incluem hepatite, cirrose e insuficiência hepática (RATES etal., 2002). Estes fatos conduziram à retirada deste fitoterápico do mercadofrancês, alemão, suíço, canadense e do Reino Unido de todos os produtosque apresentassem P. methysticum em sua formulação. Nos EUA, onde osprodutos preparados são classificados como suplementos dietéticos, apenasfoi lançado um programa de notificação voluntária de efeitos adversos(FDA, 2004).

No Brasil, após relatos mundiais de hepatotoxicidade relacionados ao usode kava kava®, foi determinada a apreensão, em todo o território nacional,

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de qualquer produto farmacêutico à base de P. methysticum, que não possuatarja vermelha com os dizeres “Venda sob prescrição médica”, ou nãopossua registro (BRASIL, 2002). Na Europa, o uso de kava kava® foiassociado ao aparecimento de 25 casos relacionados a problemas hepáticoscomo hepatite, cirrose e insuficiência hepática. Estes fatos salientam aimportância de mais estudos relacionados à farmacologia e efeitosadversos associados a este fitoterápico.

Stickel et al. (2003), analisaram 36 casos de hepatite relacionados com aingestão de kava kava®, ocorridos entre 1990 e 2002. Para tanto,utilizaram uma escala diagnóstica clínica estabelecida para reaçõesadversas hepáticas da droga. Obtiveram como resultado necrose hepáticaou hepatite colestática, ambas associadas a extratos alcoólicos e acetônicosde kava kava®. Nove pacientes desenvolveram falência hepáticafulminante. Todos os outros pacientes tiveram uma completa recuperaçãoapós a interrupção do uso da kava kava®. Este estudo enfatiza o potencialhepatotóxico severo da kava kava®.

Segundo Ernst (2002), não está esclarecido se os casos de hepatoxicidade,associados ao uso da kava kava®, estão relacionados a doses elevadas,uso em longo prazo, associação com outras drogas ou, até mesmo, àexistência de danos hepáticos preexistentes.

Visando um melhor esclarecimento sobre a hepatoxicidade destefitoterápico, este trabalho avaliou as alterações hepatobiliares através damensuração das enzimas séricas alanina aminotransferase (ALT) efosfatase alcalina (FA) e as alterações histológicas do parênquima hepáticoem fêmeas de ratos Wistar prenhes tratadas com P. methysticum (kavakava®) durante dez dias do período gestacional.

MATERIAIS E MÉTODOS

População-alvo

Foram utilizadas 72 fêmeas prenhes de ratos Wistar com idade de 90 dias,provenientes do Centro de Criação e Experimentação de Animais deLaboratório da UFRGS (CREAL). Os animais foram mantidos sob condiçõesconstantes de umidade, temperatura (21°C±2) e obedecendo a ciclo declaro/escuro de 12 horas (das 9 às 21h). Eles receberam ração comerciale água ad libitum durante todo o período experimental.

As fêmeas prenhes foram colocadas em gaiolas plásticas individuais, commaravalha limpa e medindo 29,5 x 18,8 x 11cm, recebendo 200g de raçãoe 500mL de água, pesados e renovados a cada dois dias.

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Preparação fitoterápica testada

Foi utilizada a formulação fitoterápica contendo Piper methysticum,denominada kava kava®, lote 774201, produzido em outubro de 2001,pelo Herbarium Laboratório Botânico LTDA. (Av. Santos Dumont, 1111 –Colombo – PR), com validade até outubro de 2004. Registrado no Ministérioda Saúde sob o número 11860023, este fitoterápico é comercializado emforma de pó de rizoma de kava kava®, em cápsulas de 400mg.

Tratamento

Para a avaliação da toxicidade do fitoterápico kava kava® foi utilizado osegmento II de avaliação de toxicidade pré-natal conforme normas da“Environmental Protection Agency” (EPA, 1996) e recomendações da Foodand Drug Administration (FDA) e da Organization for EconomicCooperation and Development (OECD).

Conforme este segmento, as fêmeas gestantes foram tratadas do 6° ao 15°dia de gestação, por via oral com auxílio de sonda oro-gástrica. Foramconstituídos 4 grupos. O grupo I que recebeu 0mg.kg-1 (água destiladaem volume idêntico aos demais grupos); o grupo II que recebeu 5mg.kg-1;o grupo III que recebeu 35mg.kg-1; e o grupo IV que recebeu 50mg.kg-1. Ofármaco foi diluído em água, de forma que as diferentes concentraçõespudessem ser administradas em volume de 5mL/kg.

Colheita

No 21° dia de gestação, as fêmeas foram anestesiadas com 50mg/kg detiopental sódico utilizando a via intraperitoneal e posteriormente forameutanasiadas por abertura do tórax. Foram colhidos de cada animal 2 mLde sangue, por punção da veia cava caudal, sendo armazenado em tubosde ensaio sem anticoagulante devidamente identificados e enviados aoLaboratório de Análises Clínicas Veterinárias da Universidade Luteranado Brasil (ULBRA) para a realização de dosagens séricas das enzimas ALTe FA. As enzimas foram mensuradas pelo método colorimétrico-cinético,utilizando-se os “kits comerciais” ALT Liquiform e Fosfatase AlcalinaLiquiform (LABTEST®) e espectrofotômetro SB 205S /E225 D.

Após o sacrifício das ratas, o fígado de cada fêmea foi removido eacondicionado em formol tamponado e encaminhado para avaliaçãohistopatológica, a qual foi realizada no Laboratório de Patologia Animalda Universidade de Passo Fundo (UPF), através de cortes no lobo direito ecoloração de hematoxilina e eosina.

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Análise estatística

Os dados foram avaliados estatisticamente utilizando o teste de análise devariância de uma via (ANOVA). Foram utilizados os programas SPSS 10.0para Windows 8.0 e o EXCEL 2000. As proporções foram analisadas peloQui-quadrado, ou alternativamente pelo teste exato de Fisher. As diferençasforam consideradas significativas para p<0,05.

RESULTADOS

O Piper methysticum nas doses 5mg.kg-1, 35m./kg-1 e 50mg.kg-1; não provocouum aumento significativo na atividade da FA (p = 0,62) e ALT (p = 0,51)(TABELA 1). No exame histopatológico dos fígados, foram evidenciadosnecrose coagulativa centrolobular, colestase e severa dissociação doshepatócitos em 6 animais, três do grupo III (35mg.kg-1) e três do grupo IV(50mg.kg-1), sendo que estas alterações (p=0,096) não foram significativas(TABELA 2) nem obtiveram correlação com os valores enzimáticos. No fígado,dos demais animais, foram encontradas áreas com discreta tumefação celulare áreas com leve dissociação dos hepatócitos.

TABELA 1. Níveis séricos da atividade da FA e ALT dos grupos das ratas tratadas com 0mg.kg-1,5mg.kg-1, 35mg.kg-1, 50mg.kg-1 de P. methysticum, por via oral, do 6° ao 15° dia de prenhez. Dadosexpressos em média (X) e desvio padrão (S).

TABELA 2. Alterações no parênquima hepático encontradas no exame histopatógico dos gruposdas ratas tratadas com 0mg.kg-1, 5mg.kg-1, 35mg.kg-1, 50mg.kg-1 de P. methysticum, por via oral, do6° ao 15° dia de prenhez.

*Valor de p do teste Qui-quadrado foi obtido por simulações através do método de Monte Carlo.ns Diferença não-significativa entre os grupos (p> 0,05, ANOVA).

Enzimas Grupo N X S Valor de p I 11 41,32 17,17 0,518ns

FA (U/L) II 10 42,10 11,80 III 10 35,77 13,48 IV 11 45,97 18,02

I 11 30,31 13,29 0,625ns

ALT (U/L) II 10 27,67 3,88 III 10 26,10 3,67 IV 11 30,87 11,71

ns Diferença não-significativa entre os grupos (p> 0,05, ANOVA).

Alteração histopatológica Grupo N Não Sim Valor de p*

I 12 12 0 0,096 ns II 13 13 0 III 13 10 3 IV 12 9 3

Total 50 44 6

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DISCUSSÃO

Segundo Borges (2001), o termo lesão hepática deve ser usado somenteapós estudo histológico do fígado; onde as principais alteraçõesencontradas incluem degenerações, depósito de pigmentos endógenos eexógenos e amiloidose. Além disso, pode ocorrer degeneração gordurosa,fibrose e hiperplasia biliar sendo, as duas últimas, consideradasmanifestações mais importante de doença hepática tóxica (MACLACHLANe CULLEN, 1998). Nos exames histopatológicos dos fígados das ratas queforam tratadas com P. methysticum, neste experimento, foram evidenciadosem seis ratas necrose coagulativa centrolobular, colestase e severadissociação de hepatócitos. As alterações histopatológicas encontradasnestas fêmeas não foram estatisticamente significativas nem obtiveramcorrelação com os valores enzimáticos.

Segundo Pearson (1993), o fígado tem maior propensão a sofrer lesões porexposições tóxicas crônicas, porque a intoxicação aguda a doses elevadasfreqüentemente leva à morte antes que tenha ocorrido a destruição hepática.O grau de lesão hepática é mensurado através da avaliação das enzimashepáticas e dos sinais clínicos inespecíficos como: anorexia, vômito, perdade peso, poliúria e polidipsia (JOHNSON, 1997). Casos iniciais de moléstiahepática geralmente são detectados apenas pelo aumento dos níveis daatividade de enzimas hepáticas no soro (PEARSON, 1993).

A ALT é uma enzima encontrada em grande quantidade nos hepatócitosdos ratos sendo considerada específica para lesão hepática nestasespécies (SILVEIRA, 1988; LOEB, 1997). Dentre as principais patologiasdo fígado em que encontramos níveis elevados desta enzima está ahepatite infecciosa, hepatite tóxica, processos tóxico-químicos, tumoreshepáticos, uso de drogas (corticóides e hormônios) entre outras. Asconcentrações maiores desta enzima são evidenciadas nas lesões agudas(SILVEIRA, 1988). O tempo de meia-vida da ALT varia de 3 horas a 3dias. O aumento da atividade desta enzima é diretamente proporcionalao número de hepatócitos lesados e não ao grau da lesão (BUSH, 1991).No presente estudo as amostras de sangue, para a realização dos testesdas enzimas hepáticas, foram coletadas no dia da eutanásia das ratas(21° dia), ou seja, seis dias após o último tratamento com o P.methysticum. Este fato poderia ter colaborado para que os valoresenzimáticos estivessem dentro dos parâmetros da normalidade pois, apresença de alterações histopatológicas não corrobora com os níveisnormais encontrados.

Um estudo em ratos, utilizando dosagens de 200 e 500mg de infusãoaquosa cavalactonas/kg/dia, por duas ou quatro semanas com o objetivode avaliar o nível de toxicidade, induzido pela kava kava® na funçãohepática em ratos jovens por mensuração de enzimas hepáticas (alaninaaminotransferase, aspartato aminotransferase, fosfatase alcalina e lactatodesidrogenase). Como resultado, nenhuma destas enzimas apresentou

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elevação, sugerindo falta de efeitos tóxicos da kava kava® no fígado(SINGH e DEVKOTA, 2003).

Nos ratos, os níveis séricos de fosfatase alcalina de origem hepatobiliar,estão elevados na colestase e em resposta a indução por barbitúrios;resultando num espessamento do retículo endoplasmático hepatocelular(LOEB, 1997). Neste experimento, não houve elevação dos níveis séricosdessa enzima, indicando que o tratamento não desencadeou colestasesignificativa, como foi evidenciado por Clough et al. (2003) em um estudorealizado em uma comunidade indígena na Austrália; onde foi avaliada afunção hepática de pessoas acima de quinze anos, que utilizavam dosesmédias de 118g/semana de extrato aquoso de kava kava®. Comoresultado, eles obtiveram um aumento significativo das enzimas GGT eFA dos grupos que haviam tomado o extrato aquoso nas últimas 24 horase do grupo que havia tomado o extrato há mais de uma ou duas semanas.Este resultado confirma que o extrato aquoso de kava kava® pode causarelevação das enzimas GGT e FA, mas estas alterações parecem serreversíveis. A maioria dos usuários da kava kava® teve retorno dos níveisnormais da FA após um a dois meses de abstinência.

Entretanto Stickel et al. (2003) analisaram 36 casos de danos hepáticosassociados ao consumo de extratos alcoólico e acetônico de kava kava®,e concluíram que estes extratos apresentam um potencial hepatotóxico.Os pacientes apresentaram necrose hepática ou hepatite colestática, sendoque nove pacientes necessitaram de transplante de fígado.

Neste estudo, a ausência de elevações enzimáticas e poucas alteraçõeshistológicas hepáticas podem ser atribuídas devido ao fato de que ofitoterápico foi testado como extrato aquoso e por um curto período (dezdias). Na literatura os casos de alterações das enzimas hepáticas associadasa kava kava® foram posteriores à utilização por um período de mais detrês meses do extrato aquoso sendo, estas alterações mais severas noscasos onde houve o uso do extrato alcoólico ou acetônico.

O fato do fitoterápico kava kava® do laboratório Herbarium utilizadoneste experimento não ter causado hepatotoxicidade em ratas Wistarprenhes tratadas com 5mg.kg-1, 35mg.kg-1 e 50mg.kg-1, não descarta anecessidade de maiores estudos utilizando outras doses; extratospadronizados (aquoso, alcoólico, acetônico) e outras espécies animais paraaumentar a segurança deste produto. Deve-se levar em consideraçãotambém que fatores como tipo de solo, região onde é plantada, época dacolheita, armazenamento, podem interferir na toxicidade das plantas. Nosrelatos de hepatotoxicidade em humanos pelo uso deste fitoterápico, existeuma forte suspeita que estejam associados ao tipo de extrato (acetônicoou alcoólico) utilizado, e não à própria kava kava®.

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CONCLUSÕES

Na avaliação hepática do uso do extrato aquoso do fitoterápico kavakava®, nas dosagens de 5mg.kg-1, 35mg.kg-1 e 50mg.kg-1 em ratas Wistar,por via oral, do 6° ao 15° dia de gestação, não foram observadas alteraçõesdas enzimas ALT e FA, assim como não foram encontradas alteraçõeshistopatológicas significativas no fígado das referidas ratas, evidenciandonão haver toxicidade hepática no período e doses utilizadas.

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 29Veterinária em Foco Canoas v. 3 n.1 maio/dez. 2005 p.29-36

Avaliação da função renal de cãessubmetidos a administração deFlunixin Meglumine durante aanestesia geralEvaluation of renal function in dogs that undergo the administration ofFlunixin Meglumine during general anaesthesia

PULZ, Renato Silvano – Médico Veterinário – Msc, Professor daFaculdade de Medicina Veterinária da ULBRA – disciplina de cirurgia

MAIA, Jussara – Médica Veterinária – Msc, Professora da Faculdadede Medicina Veterinária da ULBRA – disciplina de cirurgia

PETRUCCI, Bianca do Prado Lima – Médica Veterinária – Alunade Mestrado da UFRGS

SCHIOCHET, Fabiana – Médica Veterinária – Aluna de Mestrado daUFRGS

SLVEIRA, Rodrigo Fiori S. – Aluno de graduação da Faculdade deMedicina Veterinária da ULBRA

FERRARI, Queti – Aluna de graduação da Faculdade de MedicinaVeterinária da ULBRA

Data de recebimento: 14/09/05Data de aprovação: 22/10/05

Endereço para correspondência: Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA,Av. Farroupilha, 8001, Canoas, RS, CEP 92425-900

RESUMO

A administração de antiinflamatórios não-esteróides (AINEs) paragarantir a analgesia pós-operatória é uma prática comum na MedicinaVeterinária. Esses agentes constituem um grupo de fármacos de amplaaplicação na analgesia de animais de pequeno porte. Os AINEsdiminuem a inflamação por bloquearem a enzima responsável pela

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transformação do ácido aracdônico em uma série de substâncias quedesencadeiam o processo inflamatório, como por exemplo asprostaglandinas. O flunixin meglumine é um dos analgésicos maisutilizados no controle da dor aguda e de pós – operatório. O enfoqueprincipal deste trabalho foi verificar os efeitos sobre a função renal decães submetidos à administração de flunixin meglumine durante aanestesia geral. Foram avaliados vinte e quatro cães adultos, sem raçadefinida e pesando entre 5 e 20 quilos. Os animais foram mantidos sobanestesia geral inalatória e receberam a administração de 1,1 mg/Kgde flunixin meglumine via intravenosa durante o trans-anestésico.Foram aferidas a pressão arterial média e a freqüência cardíaca nomomento da administração e os níveis sangüíneos de uréia e creatininaforam avaliados 24 horas após. Os valores médios obtidos da pressãoarterial média e freqüência cardíaca foram respectivamente de 118,9±18,1 e 88,5±12,4. Os valores médios obtidos pós-tratamento, foramrespectivamente, uréia (15,52±4,9) e creatinina (0,7±0,13). Diantedos dados resultados frente à utilização de flunixin meglumine, épossível concluir que a administração deste fármaco realizada em cãessob anestesia geral e com pressão arterial média mantida em valoresnormais, não causou alterações na função renal.

Palavras-chave: antiinflamatórios não-esteróides, flunixin meglumine,função renal.

ABSTRACT

The administration of non steroid antiinflammatory (AINEs) to guaranteethe post – operation analgesia is a common practice in veterinary medicine.These agents constitute a group of drugs of wide application in analgesiaof small sized animals. The AINEs reduce the inflammation by blockingthe enzynes which are responsible for the transformation of arachnoidalacid into a series of substances that cause the inflammatory process, suchas the prostaglandins. Flunixin Meglumine is one of the most usedanalgesics to control the post operation and acute pain. The main focusof this study was to check the effects on to the renal function of dogs thatundergo the administration of Flunixin Meglumine during the generalanaesthesia. Twenty four adult dogs without a defined race and weighingbetween 5 and 20 Kg were evaluated. The animals were kept underinhalant general anaesthesia and received an administration of 1,1 mg/kg of Flunixin Meglumine via intravenous during the trans-anaesthetics.The medium arterial pressure and cardiac frequency were measured themoment of administration and blood level of urea and creatinine wereevaluated 24 hours later. The media valves obtained from the mediumarterial pressure and the cardiac frequency ranged from 118,9 ±18,1 and88,5±12,4 respectively. The media valves obtained after the treatment ofurea was 15,52 ± 4,9 and creatinine was 0,7 ± 0,13. With the above data

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we can conclude that the administration of these drugs performed in dogsunder general anaesthesia and with medium arterial pressure kept normalhas not produced any alteration to the renal function.

Key words: anti-inflammatory, non-steroid, flunixin meglumine, renalfunction.

INTRODUÇÃO

A administração de drogas analgésicas visando o tratamento de condiçõesdolorosas e inflamatórias agudas ou crônicas é uma técnica amplamentedifundida na clínica de pequenos animais. A presente pesquisa tem porobjetivo estabelecer o grau de segurança da administração deantiinflamatórios não esteróides (AINEs) no trans-operatório de cãessubmetidos à anestesia geral.

A administração de AINEs para garantir analgesia pós-operatória é umaprática comum na rotina veterinária. A dor acompanha todas as cirurgiasenvolvendo tecido enervado. A dor pós-operatória não somente é um fatorde tensão, mas também contribui consideravelmente para a morbidadepós-operatória e conseqüentemente, deve ser tratada de forma adequada(HANSEN, 1996). Os processos dolorosos acarretam uma série dealterações fisiológicas que podem ser gravemente deletérias. A diminuiçãona ingestão de água e comida resulta em perda de peso, catabolismoprotéico e até desidratação (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). Crane (1987)recomendou o uso de analgésicos no período peri-operatório como meiode normalizar as respostas neuroendócrinas à dor e otimizar o cenáriopara a cicatrização do tecido.

O processo inflamatório envolve uma série de mediadores químicos, dentrevários, ressalta-se as prostaglandinas, que são derivados de ácidos graxoscom intensas atividades biológicas. Os efeitos biológicos das prostaglandinasabrangem praticamente toda a atividade corporal, incluindo várias funçõesda reprodução, do controle da pressão sanguínea, da função renal, gástrica,formação de trombo, inflamação, atividade do músculo liso, fluxo sanguíneoregional, descarga neuronal, etc. (ANDRADE, 2002). A administração doanalgésico no pré-operatório ou no trans-operatório, antes que tenha seiniciado a síntese das prostaglandinas, pode diminuir os efeitos dasprostaglandinas nas áreas de dano tecidual, minimizando ou abolindo oestímulo seletivo ao Sistema Nervoso Central (HANSEN, 1996; TVERSKOYet al., 1990; CONCEIÇÃO, 1997).

O mecanismo de ação dos AINEs consiste basicamente na inibição dacicloxigenase (COX), que acarretará na diminuição das prostaglandinas.Sua inibição provoca efeitos colaterais tradicionais como gastrite, lesõesrenais ou hepáticas (ANDRADE, 2002). O uso intra-operatório de flunixin

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meglumine em cães foi associado com falência renal (ELWOOD et al.,1992; SMITHERMAN, 1992; STOFF e CLIVE, 1983; McNEIL, 1992).Existem prostaglandinas vasodilatadoras que têm a função fundamentalna preservação renal quando há um estímulo vasoconstritor (ANDREUCCI,1984). As prostaglandinas, especificamente PGF2 e PGI2 são importantesmoduladoras do fluxo sangüíneo renal causando uma vasodilataçãoprotetora da arteríola aferente em circunstâncias sob influênciasvasoconstritivas, como a hipovolemia, a hipotensão, a ação da adrenalina,a angiotensina II e o estresse cirúrgico (RUBIN, 1986).

O funixin meglumine é um bom analgésico para o controle da dor agudae de pós-operatório. A nefrotoxidade na literatura relacionadas ao seuemprego são especulativas. A ocorrência de falência renal, após o empregode flunixin foi associada ao uso de metoxifluorano, agente sabidamentenefrotóxico, e em dois casos de uso pré-operatório, nos quais os animaisforam submetidos a procedimentos cirúrgicos de longa duração semcontrole de pressão arterial e com fluidoterapia inapropriada. Deve-se terem mente que este fármaco, assim como outros AINEs, não é seletivopara COX-2, ou seja, na presença de outros fatores que diminuam a taxade filtração glomerular (hipotensão, hipovolemia), o uso associado do AINEpode precipitar a falência renal, fato que não ocorrerá se as devidasprecauções forem tomadas (FANTONI e CORTOPASSI, 2002).Considerando o flunixin meglumine um tóxico renal e gastrointestinalem potencial, Elwood et al. (1992) recomendaram o uso cauteloso durantesituações potencialmente hipotensivas ou hipovolêmicas, incluindocirurgias eletivas.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados neste estudo 24 cães adultos, pesando entre 5 e 20 Kg,sem raça definida, de ambos os sexos. Os cães, após jejum alimentar de12 horas, foram submetidos à anestesia geral. Foi administrado comomedicação pré-anestésica (MPA), acepromazina na dose de 0,1 mg/Kg,por via intramuscular e butorfanol na dose de 0,2 mg/Kg por viaintramuscular. Os pacientes receberam administração de Ringer Lactatona dose de 10 ml/Kg/hora durante a manutenção da anestesia até a fasede recuperação. A indução da anestesia foi realizada com tiletamina-zolazepan na dose de 2 mg/Kg, via intravenosa. A manutenção daanestesia foi realizada por via inalatória com halotano ao efeito. Todos osanimias receberam a administração de flunixin meglumine na dose de1,1 mg/Kg, via intravenosa durante o trans-anestésico.

Todos os animais foram submetidos a coleta de dados, para exame dafunção renal, em dois momentos, imediatamente antes da administraçãoda MPA (C0) e vinte e quatro horas após o término da anestesia (C1).Também foram anotados parâmetros circulatórios como a freqüência

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cardíaca, pressão arterial média no momento da administração do flunixinmeglumine (To). A pressão arterial será mensurada diretamente atravésda canulação, de forma asséptica, da artéria femural com um catéter deteflon 20G, permitindo registrar em manômetro anaeróide a pressão emmmHg, conforme técnica descrita por Hall e Clarke (1983).

RESULTADOS

Na tabela 1 constam os resultados médios de uréia sangüínea nos temposC0 e C1.

Tabela 1. Valores de uréia sangüínea em mg/dl (média±desvio padrão).

Na tabela 2 constam os resultados médios de creatinina nos tempos C0 e C1.

Tabela 2. Valores de creatinina sangüínea em mg/dl (média±desvio padrão).

Na tabela 3 observam-se os resultados médios de freqüência cardíaca epressão arterial média no momento T0.

Tabela 3. Valores de freqüência cardíaca em batimentos/minuto e pressão arterial média emmmHg (média±desvio padrão).

DISCUSSÃO

A ocorrência da interação medicamentosa entre anestésicos eantiinflamatórios e seus efeitos sobre a função renal de cães submetidos àanestesia geral vem sendo discutida já há algum tempo. Como comentaramElwood et al. (1992) e McNeil (1992) o uso intra-operatório do flunixinmeglumine foi associado com falência renal em cães. Com o uso daanestesia preemptiva e os potenciais benefícios da administração dos AINEspreviamente ao dano tecidual (HANSEN, 1996) surge a preocupação coma segurança no uso do antiinflamatório.

Stoff e Clive (1983) ao estudarem os efeitos supressivos da inibição daciclooxigenase no fluxo sangüíneo renal e a taxa de filtração glomerular,

Total de cães C0 C1

24 14,17±3,7 15,52±4,9

Total de cães C0 C1

24 0,65±0,23 0,7±0,13

Total de cães Freqüência cardíaca Pressão arterial média

24 118,9±18,1 88,5±12,4

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verificaram que os efeitos foram mais pronunciados nos animaisanestesiados que nos conscientes. Os autores consideraram que estadiferença ocorreu pela necessidade das prostaglandinas na manutençãodo fluxo sangüíneo renal frente as influências vasoconstritivas das altasconcentrações de angiotensina II e catecolaminas presentes nas condiçõesde anestesia geral. McNeil (1992) ao associar o óbito de um cão a falênciarenal devido a combinação de eventos tóxicos e isquêmicos, citou o flunixinmeglumine como um dos fatores envolvidos além da hipoperfusão eisquemia associada a hipotensão durante a anestesia geral. Devido aosdanos renais induzidos pelos AINEs em geral, recomenda-se que ospacientes estejam sempre bem hidratados e mantidos em bom estadopressórico e volêmico (SPINOSA et al., 2002).

No presente estudo a administração do flunixin meglumine foi realizadadurante o trans-anestésico, porém todos os animais apresentavam boascondições circulatórias. A pressão arterial média verificada no grupo foi de88,5 mmHg no momento da administração e nenhum dos pacientesdemonstrava pressão arterial menor que 70 mmHg. De acordo com Nelson eCouto (2001) os rins podem manter uma pressão de perfusão renal adequadapor mecanismos de auto-regulação, desde que a pressão arterial exceda 60mmHg. O fluxo sangüíneo renal e a pressão de perfusão devem ser mantidospara que ocorra filtração glomerular e aporte de oxigênio e nutrientes.

Apesar dos efeitos hipotensivos do halotano e da anestesia geral poraproximadamente 60 minutos, a pressão arterial média foi mantida dentrodos limites aceitáveis. Os efeitos simpaticomiméticos da tiletamina e aconstante administração de ringer lactato (10 ml/Kg/hora) durante amanutenção da anestesia provavelmente tenham contribuído para isto.Os rins recebem 15 a 25% do débito cardíaco (KAIKARA et al., 1969) e ataxa de filtração glomerular e o fluxo sangüíneo renal permanecemconstantes durante variações na pressão arterial sistêmica entre 80 a 180mmHg (FINCO, 1997). Considerando o valore médio da pressão arterialmédia registrada neste estudo no momento da administração do flunixinmeglumine podemos verificar que não houve combinação de fatores econsequentemente o suprimento sangüíneo renal no momento daadministração do AINEs era adequado

As concentrações séricas de uréia e creatinina são comumente usadascomo índice da função renal (CHEW e DIBARTOLA, 1992). Os valoresmédios de uréia pós-tratamento verificados neste estudo foram de 15,52mg/dl, comparando com os valores de 8 a 25 mg/dl, normais em cãesconforme Meyer et al. (1995) podemos afirmar que não houve variaçãoalém da normal para este parâmetro. Os valores médios de creatinina,registrados após o tratamento foram de 0,7 mg/dl e também nãoultrapassaram os valores de cães saudáveis, que são de 0,3 a 1,3 mg/dl,registrados pelos mesmos autores. Verificou-se que os valores de uréia ecreatinina não apresentaram variações além do normal no momento C1(pós-tratamento) em nenhum dos pacientes.

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CONCLUSÕES

A interação medicamentosa entre os anestésicos e os antiinflamatóriosnão esteróides pode causar a falência renal em cães. Os efeitos da anestesiageral sobre o sistema circulatório ou condições clínicas cursando comhipotensão ou hipovolemia por si só podem ser responsáveis por máperfusão e isquemia renal. Ao estudarmos as potenciais causas da falênciarenal podemos afirmar que o uso do flunixin meglumine nestas situaçõespode potencializar a isquemia renal.

Conclui-se que a administração de flunixin meglumine durante o trans-anestésico de cães submetidos a anestesia geral e mantidos com a pressãoarterial média adequada, isto é, acima de 70 mmHg, não causou alteraçõesna função renal.

REFERÊNCIAS

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 37Veterinária em Foco Canoas v. 3 n.1 maio/dez. 2005 p.37-42

Avaliação do tempo de sobrevida edas taxas de recidiva de cães comtumor de mastócitosEvaluation of the survival time and recurrence rates of dogs with mastcell tumor

GOMES, Cristiano – Médico Veterinário Residente do Hospital deClínicas Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

WITZ, Maria Inês – MSc, Faculdade de Medicina Veterinária,Universidade Luterana do Brasil

FIORAVANTI, Letícia – Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária,Universidade Luterana do Brasil

PAIXÃO, Kairuza – Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária,Universidade Luterana do Brasil

ESMERALDINO, Anamaria Telles – MSc, Doutor, Faculdade deMedicina Veterinária, Universidade Luterana do Brasil

Data de recebimento: 02/08/05Data de aprovação: 07/11/05

Endereço para correspondência: Cristiano Gomes – Av. Ramiro Barcelos n°60, Bairro Parque Universitário, Canoas/RS. E-mail: [email protected]

RESUMOForam analisados 18 cães submetidos à cirurgia para remoção de tumorde mastócitos. A porcentagem de cães com tumor de mastócitos tratadoscirurgicamente que sobreviveram após 18 meses da cirurgia foi de 100%,44,44% e 28,57% para tumores de grau I, II e III respectivamente. 55,55%dos cães (5/9) com tumor de mastócitos de grau II vieram a óbito nesteperíodo, dos quais em 4 houve a recorrência do tumor e um cão veio aóbito 30 dias após a cirurgia sem a recidiva do tumor. Entre os cães comtumor de mastócitos de grau III, 71,43% deles (5/7) vieram a óbito duranteo mesmo período, sendo que em 3 houve recorrência do tumor e 2 cãesvieram a óbito 20 e 30 dias após a cirurgia sem a recidiva do tumor.

Palavras-chave: tumor de mastócitos, câncer, cães.

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ABSTRACT

A retrospective study was performed on 18 dogs with mast cell tumorsubmitted to surgery alone. The percentage of dogs surviving at least 18months after surgery was 100%, 44,44% and 28,57% to grade I, II, andIII, respectively. 55,55% of the dogs (5/9) with mast cell tumor grade IIdied at the time of this study, 4 of those dogs had tumor recurrence andanother dog died 30 days after the surgery without tumor recurrence.71,43% of the dogs (5/7) with mast cell tumor grade III died during thisstudy, Three of them had tumor recurrence and 2 dogs died 20 and 30days after the surgery without tumor recurrence.

Key words: mast cell tumor, cancer, dogs.

INTRODUÇÃO

O tumor de mastócitos é o tumor cutâneo mais comum em cães,representando de 7 a 21% de todos os tumores cutâneos caninos (SÉGUINet al., 2001; MICHELS et al., 2002). Os mastocitomas ou tumor demastócitos são definidos como uma proliferação excessiva das células demastócitos (CUNHA et al., 2002). Estas células tem como principal funçãoarmazenar potentes mediadores químicos do processo inflamatório nointerior de seus grânulos citoplasmáticos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 1990).O termo preferível para esta patologia é tumor de mastócitos, devido aoseu variável comportamento biológico (COUTO, 2001).

Estes tumores podem variar de um tumor solitário facilmente curávelatravés da excisão cirúrgica até possuir um alto potencial de recidiva e deproduzir metástases, apresentando um comportamento biológicoextremamente variável (VAIL, 1996; SÉGUIN et al., 2001). Muitos fatorestêm sido estudados para prever o comportamento biológico dos tumores eo prognóstico do paciente (GOVIER, 2003; MURPHY, 2003), como o grauhistopatológico, que classifica os tumores em grau I, II, III, para tumoresbem, moderadamente e mal diferenciados, o que parece ser o métodomais confiável de avaliação (SÉGUIN et al., 2001; MURPHY, 2003).

A cirurgia é o tratamento de escolha, entretanto outros tratamentos têmsido utilizados para tentar aumentar a sobrevida dos pacientes como aradioterapia e a quimioterapia isoladamente ou uma combinação delas(WEISSE et al., 2002).

MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizada uma pesquisa nos arquivos do setor de patologia veterináriada Universidade Luterana do Brasil e nas fichas clínicas dos animais que,

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através do exame histopatológico, foram diagnosticados tumor demastócitos e tratados cirurgicamente durante o período de janeiro de 1999à julho de 2002, sendo excluídos do trabalho os animais com dados clínicosincompletos e os que não foram localizados.

Procedeu-se o contato telefônico com os proprietários para o preenchimentode um questionário avaliando-se a taxa de recidiva local e distante daregião cirúrgica, o tempo médio livre do tumor antes da recidiva e o tempode sobrevida após a realização da cirurgia.

RESULTADOS

Dos 18 cães com tumor de mastócitos 2 apresentaram tumor de grau I(11,11%), 9 de grau II (50%) e 7 de grau III (38,89%). Os dois cães comtumor de mastócitos de grau I tiveram um ótimo prognóstico, sem recidivado mesmo e com uma sobrevida de mais de 18 meses após a remoção dotumor.

O tempo médio de sobrevida dos cães com tumor de mastócitos de grau IIfoi de 11 meses após a cirurgia. Dos 9 cães com tumor de mastócitos degrau II, 4 (44,44%) tiveram um ótimo prognóstico e sobreviveram pormais de 18 meses após o procedimento cirúrgico, sem apresentar recidiva.Entretanto, 5 dos cães (55,55%) vieram a óbito dentro deste período,ocorrendo a recidiva em 4 casos (44,44%), dos quais em 2 (22,22%) arecidiva situou-se em local distante, em 1 (11,11%) ocorreu somente nolocal e em outro (11,1%) a recidiva do tumor foi tanto local quanto distantedo local original. Em um dos casos (11,11%) o animal veio a óbito 1 mêsapós a cirurgia, sem a recidiva do tumor apresentando anorexia e apatia(Tabela 1). O tempo médio livre do tumor naqueles cães que tiveram arecidiva foi de 2,5 meses, variando de 1 a 6 meses.

Tabela 1: Tempo de sobrevida e das taxas de recidivas de cães com tumor de mastócitos de grau II

Ocorrências Valor Absoluto Valor Relativo

n° de cães livres do tumor 18 meses após a cirurgia sem recidiva

4/9 44,44%

n° de cães que vieram a óbito com a recidiva do tumor dentro do período de 18 meses

4/9 44,44%

n° de cães em que a recidiva foi no local da excisão cirúrgica

1/9 11,11%

n° de cães em que a recidiva foi distante do local da excisão cirúrgica

2/9 22,22%

n° de cães em que a recidiva foi tanto distante quanto no local da excisão cirúrgica

1/9 11,11%

n° de cães que vieram a óbito dias após a cirurgia sem a recidiva do tumor

1/9 11,11%

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O tempo médio de sobrevida dos 7 cães com tumor de mastócitos de grauIII foi de 6 meses e meio após a cirurgia. Destes, somente 2 cães (28,57%)sobreviveram por mais de 18 meses após a cirurgia. Em 3 casos (42,85%)ocorreu a recidiva do tumor, sendo 2 (28,57%) em local distante e 1(14,28%) tanto distante quanto no local onde foi realizada a cirurgia. Otempo livre do tumor foi de 1 mês nestes 3 cães. Os outros 2 cães (28,57%)vieram a óbito no 10º e 20º dia do pós-operatório, apresentando anorexiae vômitos, sem apresentar recidiva do tumor (Tabela 2).

Tabela 2: Tempo de sobrevida e das taxas de recidivas de cães com tumor de mastócitos de grau III

Ocorrências Valor Absoluto Valor Relativo

n° de cães livres do tumor 18 meses após a cirurgia sem recidiva

2/7 28,57%

n° de cães que vieram a óbito com a recidiva do tumor dentro do período de 18 meses

3/7 42,85%

n° de cães em que a recidiva foi no local da excisão cirúrgica

0 0

n° de cães em que a recidiva foi distante do local da excisão cirúrgica

2/7 28,57%

n° de cães em que a recidiva foi tanto distante quanto no local da excisão cirúrgica

1/7 14,28%

n° de cães que vieram a óbito dias após a cirurgia sem a recidiva do tumor

2/7 28,57%

DISCUSSÃO

A boa sobrevida dos cães com tumor de mastócitos de grau I confirmouos relatos de London e Séguin (2003). A sobrevida dos cães com tumor demastócitos de grau II foi semelhante ao apresentado por London e Séguin(2003) e Murphy (2003), embora contraponha o estudo realizado porSéguin et al. (2001) que verificaram que 84% dos 55 cães tratadoscirurgicamente sobreviveram por mais de 18 meses, sem apresentarrecidiva do tumor.

A taxa de recidiva também foi maior que a encontrada por Séguin et al.(2001) que verificaram recidiva em 16% dos 55 casos analisados (9/55),sendo 5% (3/55) local e 11% (6/55) distante, entretanto os resultadosforam muito próximos aos encontrados por Weisse et al. (2002) e porMichels et al. (2002), onde os primeiros constataram a recidiva em 30%dos cães com tumor de mastócitos de grau II tratados cirurgicamente (8/27), sendo que em 22% (6/27) a recidiva ocorreu em um local distante daremoção tumoral e em 11% dos casos (3/27) ocorreu a recorrência local.Um dos animais apresentou tanto recidiva local quanto distante. Notrabalho de Michels et al.(2002) ocorreu a recidiva em 45% dos cães comtumor de mastócitos de grau II (9/20), sendo 15% (3/20) recidivas locaise 35% (7/20) recidivas distante. O tempo médio livre do tumor de grau IIfoi menor do que o encontrados por Weisse et al. (2002) que verificaramo intervalo médio sem o tumor de 16 meses, variando de 2 a 27 meses.

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Apesar do tempo de sobrevida dos cães com tumor de mastócitos de grauIII obtidos neste trabalho ser um pouco maior do que os encontrados naliteratura (LONDON e SÉGUIN, 2003), estes valores são bem menoresquando comparados com os tumores de grau I e II deste trabalho, como otempo médio de sobrevida destes cães e o tempo livre do tumor antes deocorrer sua recidiva. Entretanto, os dados referentes a recidiva local edistante da lesão neoplásica original após a remoção cirúrgica foramsemelhantes aos encontrados nos cães com grau II.

Os dados relacionados ao número de óbitos de cães com tumor demastócitos de grau III com sinais de anorexia, apatia e vômitos dias apósa cirurgia foram maiores quando comparados com os tumores demastócitos de grau II. Estes sinais podem estar relacionados a complicaçõesdevido à liberação de enzimas vasoativas como a histamina, causandoulcerações gástricas, ou o tumor de mastócitos pode ter se tornadosistêmico (LONDON & SÉGUIN, 2003).

CONCLUSÕES

Foi observado neste estudo que a classificação histopatológica do tumorde mastócitos em grau I, II e III apresentou uma correlação direta com ocomportamento biológico deste tumor. Os tumores de grau I apresentaramum bom prognóstico, entretanto os de grau II e III apresentaram umataxa de recidiva maior e um tempo de sobrevida menor, sendo o últimocom o pior prognóstico quando comparado os três grupos.

Portanto, é importante a avaliação histopatológica do grau do tumor demastócito para uma avaliação do prognóstico dos pacientes e para oplanejamento de uma possível terapia adjuvante como quimioterapia ouradioterapia.

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 43Veterinária em Foco Canoas v. 3 n.1 maio/dez. 2005 p.43-50

Hemorragia pulmonar induzida peloexercício em cavalos de póloExercise induced pulmonary haemorrhage in polo horses

PULZ, Renato Silvano – Médico Veterinário – MSc, 10 TenenteVeterinário do 30 Regimento de Cavalaria de Guarda, Professor daFaculdade de Medicina Veterinária da ULBRA – Disciplina de Cirurgia

PEZZI, Alexandre Fontana – Médico Veterinário – 10 TenenteVeterinário do 30 Regimento de Cavalaria de Guarda

SILVA, Clério Alves – Médico Veterinário – 10 Tenente Veterinário do30 Regimento de Cavalaria de Guarda

PETRUCCI, Bianca do P. L. – Médica Veterinária – Aluna de Mestradoda UFRGS

PICAWY, Luciano - Aluno de graduação de Medicina Veterinária daULBRA

SILVEIRA, Rodrigo F. S. - Aluno de graduação de Medicina Veterináriada ULBRA

Data de recebimento: 28/07/05Data de aprovação: 12/09/05

Endereço para correspondência: Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA,Av. Farroupilha, 8001, Canoas, RS, CEP 92425-900

RESUMO

Os eqüinos submetidos ao exercício intenso podem sofrer hemorragiapulmonar e apresentar baixa performance. Este fenômeno é descrito hámais de 300 anos e tem elevada incidência em cavalos de esporte e aindapermanece sem causa conhecida. Devido a mínima ocorrência desangramento nasal, o diagnóstico nas diferentes categorias de eqüinosusados para o esporte pode ser subestimada. O exercício físico que exigealta velocidade é o principal fator predisponente e o jogo de pólo é umaatividade física intensa para os eqüinos. O presente estudo teve porfinalidade avaliar a ocorrência de hemorragia pulmonar induzida peloexercício em eqüinos utilizados na prática de pólo. Foram examinados

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através de endoscopia, 35 eqüinos, mestiços, usados em competições depólo no 30 Regimento de Cavalaria de Guarda, Porto Alegre, RS. O examefoi realizado imediatamente após o término dos jogos. Foram observados09 (25,7%) animais com algum grau de sangramento pulmonar e nenhumdos cavalos demonstravam epistaxe ao exame. Conclui-se que a hemorragiapulmonar induzida pelo exercício ocorre também em cavalos usados emcompetições de pólo e estes animais, quando é feito o diagnóstico prévio,poderão se beneficiar de medidas preventivas.

Palavras-chave: hemorragia pulmonar, eqüinos, pólo.

ABSTRACT

The equines that undergo internal exercises can suffer from pulmonaryhemorrhage and have a bad performance. This phenomenon has beendescribed for more than 300 years and has an increasingly high incidencein sports horses and it still remains without a known cause. Due to aminimum occurrence of nasal bleeding, the diagnosis in differentcategories of equines used in sports can be underestimated. The presentstudy aims at assessing the occurrence of pulmonary hemorrhage inducedby exercise in equines used in poles practices. Thirty five cross bred equinesused in competition of the 3o Regiment of Cavalry of Porto Alegre/ RS,have been examined through endoscope right after the end of the games.Animals (25,7%) with some degree of pulmonary bleeding were observedbut none of them presented epistaxis during the examination. It isconcluded that pulmonary bleeding induced by exercise also occurred inhorses used in pole competition and these previously diagnosed mightbenefit from preventive measures.

Key words: hemorrhage, pulmonary, equines, pole.

INTRODUÇÃO

Os eqüinos submetidos às diversas práticas desportivas com intenso esforçofísico podem ser acometidos por um sangramento pulmonar. SegundoColahan (1999) esta patologia já é descrita há mais de 300 anos e secaracteriza pelo sangramento da vascularização pulmonar emconseqüência de mudanças cardiopulmonares que ocorrem durante oexercício. Apesar de descoberta há muito tempo ainda não se estabeleceua origem da enfermidade e nem o tratamento adequado. Segundo Reed eBayly (2000) já foram propostos vários mecanismos e os autores afirmaramque a patologia é multifatorial e que não existe um fator etiológico único.West e Costello (1995) afirmaram que não deveria se considerar a HPIEcomo uma patologia propriamente dita e sim uma condição comum em

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cavalos de esporte. Hinchcliff (2000) considerou que este sangramentoapós o exercício é um fenômeno que resulta do esforço extremo, já que oeqüino é preparado geneticamente para um esforço submáximo. O pólo éuma modalidade de esforço físico intenso e os animais desenvolvem altavelocidade (Figura 1).

A hemorragia pulmonar induzida pelo exercício (HPIE) é caracterizadapela presença de sangue nas vias aéreas proveniente dos capilaresalveolares após o exercício, geralmente associada a competições como acorrida, mas também pode ocorrer em cavalos usados em outras atividadescomo competições de salto, rodeio e pólo (PASCOE, 1997). Conformeafirmou Pascoe (1991) a patologia é importante devido a sua elevadaincidência em eqüinos de esporte. O autor registrou em um estudo umaocorrência de 42 a 85% em eqüinos submetidos a exercícios de velocidade.Ainsworth e Biller (2000) registraram a prevalência da HPIE de 44 a 75%em cavalos de corrida, de 40% em cavalos de eventos de 3 dias e 11% nosde pólo. Suma et al. (2002) observaram a ocorrência de 65,7% em cavalosde corrida. Moran et al. (2003) ao avaliarem eqüinos jogando póloverificaram que 46% dos examinados tinham algum grau de sangramentopulmonar.

Evidências sugerem que o sangramento resulta do rompimento doscapilares pulmonares como conseqüência da elevada pressão vasculartransmural. Um reflexo do elevado débito cardíaco relacionado com ointenso exercício físico (PASCOE, 1997). Segundo Erickson (2000) éresultado de hipertensão vascular em combinação com uma grandepressão negativa intra-pleural, o que geraria um aumento na pressãocapilar pulmonar e conseqüente hemorragia. Schroter et al. (1998)também consideraram causas anatômicas e mecânicas.

Os pulmões de cavalos que apresentaram episódios repetidos de HPIE secaracterizam por várias alterações morfológicas, como a fibrose intersticial ea neovascularização arterial brônquica. Estudos do tecido pulmonar deeqüinos mediante microscopia eletrônica, realizados imediatamente após oexercício extremo, demonstraram ruptura dos capilares pulmonares e presençade eritrócitos no intersticio pulmonar e nos alvéolos (DERKSEN, 2001).

Figura 1. Partida de pólo.

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A presença de sangramento nasal é baixa, segundo Clarke (1992).Aproximadamente 5% dos animais afetados terão epistaxe evidentedurante ou após o exercício. Sweeney (1991) registrou o aparecimentoda epistaxe somente em 1 a 3% dos casos. O autor salientou que osangramento nasal pode ocorrer até 24 horas após o exercício. Devidoa existência de outras causas de epistaxe o exame endoscópico dasvias aéreas garante o diagnóstico definitivo. O exame é melhor realizadoentre 30 a 90 minutos após o exercício (SWEENEY e REILLY, 2001).Também podem ser sinais clínicos a deglutição, a tosse e oengasgamento. A morte é rara, mas pode ocorrer (KNOTTENBELT ePASCOE, 1998). Segundo Cook (2002) a morte ocorre por edemapulmonar e asfixia.

Medidas terapêuticas e de manejo são utilizadas como esforço de reduzirou prevenir a ocorrência da HPIE, mas a eficiência destas medidas aindapermanece controversa. Segundo Moran e Araya (2003) o uso dafurosemida administrada intravenosa de uma a quatro horas antes doexercício parece atenuar a pressão capilar pulmonar, beneficiando algunseqüinos sangradores. Conforme afirmou Clarke (1992) parece existir umaestreita relação entre as doenças pulmonares alérgicas e o desenvolvimentodesta patologia. O autor considera que medidas como a melhor ventilaçãodas baias e o uso de broncodilatadores podem ajudar, além de técnicas detreinamento adequado e melhor condicionamento físico, que melhorem aeficiência circulatória.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram examinados através de endoscopia 35 eqüinos, adultos, mestiços,com idade entre 8 a 12 anos, utilizados para prática de pólo no 30

Regimento de Cavalaria de Guarda, em Porto Alegre, RS. Nenhum dosanimais apresentava epistaxe antes do exame. Todos os animais foramexaminados em até 30 minutos após o jogo com um endoscópio flexívelde 1,6 metros de comprimento (Figura 2). Os animais foram contidoscom o uso do cachimbo e quando necessário foi administrado xilazina0,5 mg/kg, via intravenosa. Os animais que apresentaram HPIE foramclassificados conforme o grau de hemorragia e volume de sangue esua distribuição ao longo das vias aéreas, conforme Beech (1991). Ograu I apresenta pontos ou estrias de sangue no terço posterior datraquéia, o grau II apresenta filetes de sangue em 2/3 da traquéia, ograu III tem sangue distribuído uniformemente por toda extensão datraquéia, o grau IV tem sangue em abundância por toda extensão datraquéia, podendo aparecer na laringe e faringe e o grau V apresentasangue em abundância e epistaxe.

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RESULTADOS

Na tabela 1 verificam-se os resultados encontrados.

Tabela 1. Incidência de hemorragia pulmonar induzida por exercício (HPIE) em cavalos de pólo.

Na tabela 2 verifica-se os resultados obtidos quanto ao grau desangramento.

Tabela 2. Classificação quanto ao grau de sangramento dos 09 eqüinos com HPIE.

DISCUSSÃO

A hemorragia pulmonar induzida pelo exercício é uma patologia comelevada incidência em cavalos de esporte. No jogo de pólo o cavalotambém pode ser exigido desenvolvendo galopes de alta velocidade,portanto estes animais representam um grupo de risco. A HPIE é umadas maiores causas de queda na performance no cavalo atleta e ainfluência no rendimento é proporcional ao grau de sangramento

Figura 2. Endoscopia.

Eqüinos com HPIE 09 (25,7%)

26 (74,3%)

Total de Eqüinos examinados 35

GRAU I 01

GRAU II 0

GRAU III 01

GRAU IV 07

GRAU V 0

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(PASCOE, 1991; DERKSEN, 2001).

O objetivo deste estudo foi verificar a ocorrência da HPIE em eqüinos depólo, pois existe pouca literatura comentando a doença nesta modalidadeesportiva. Voynick e Sweeney (1986) registraram uma incidência de 11%em eqüinos de pólo, já Moran et al. (2003) verificaram uma incidência de46%, e relacionaram esta maior ocorrência com a falta de um exameprévio dos eqüinos. Os autores concluíram que sem o diagnóstico nenhumeqüino foi beneficiado por tratamento prévio. No presente estudo, dos 35cavalos examinados, foram diagnosticados 09 com HPIE, representando25,7 % dos animais examinados. Uma incidência intermediária aocompararmos com os 11% (VOYNICK e SWEENEY, 1986) e os 46%(MORAN et al., 2003). Segundo Derksen (2001) a ocorrência da HPIEpode variar dependendo do nível de exigência do exercício. Eqüinos quesangram em um dia podem não sangrar em outro. Conforme constatouPascoe (1991) o sangramento ocorre em cavalos que alcançam velocidadesmaiores que 840 m/minuto. Acreditamos que a maior incidência registradaneste estudo esteja relacionada ao nível de condicionamento físico ecardiovascular dos animais. Além disto, esta modalidade esportivaapresenta particularidades que podem influenciar nos resultadosencontrados. Diferente das corridas onde já se espera um determinadoesforço para uma determinada distância, no pólo o nível de exigênciapode variar conforme a qualidade técnica da partida, fatores como ocavaleiro e o time adversário podem influenciar.

É importante ressaltar que nenhum dos eqüinos apresentava epistaxe aoexame. Conforme afirmaram Clarke (1992) e Sweeney (1991) estefenômeno ocorre em menos de 5 % dos animais com HPIE. Assim, podemosconcluir que muitos cavalos com HPIE poderão ser submetidos ao exercíciosem tratamento e manejo apropriado por não ter um diagnóstico definitivo,portanto o uso do exame endoscópico como meio de diagnóstico definitivoé fundamental, conforme salientaram Ainsworth e Biller (2000).

Todos os eqüinos afetados eram de faixa etária acima de 12 anos, napresente pesquisa. Segundo Derksen (2001) os eqüinos mais velhos sãomais suscetíveis, e isto pode estar relacionado ao dano progressivo dosrepetidos episódios de hemorragia e o desenvolvimento de enfermidadesdas vias aéreas superiores. Nenhum dos animais examinados apresentavasinais de doença respiratória ou histórico de doença respiratória alérgica.

CONCLUSÃO

Através do presente estudo conclui-se que os eqüinos utilizados na práticade pólo podem ser acometidos pela hemorragia pulmonar induzida peloexercício. O sangramento nasal raramente ocorre, portanto ao avaliarmosas possíveis causas de má performance, o exame endoscópico após o

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exercício é fundamental. Os eqüinos diagnosticados poderão se beneficiarcom medidas terapêuticas e de manejo.

REFERÊNCIAS

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Hematoma etmoidal progressivo emeqüino da raça crioula: relato de casoProgressive ethmoidal haematoma in crioullo breed horse: case report

ESMERALDINO, Anamaria – Médica Veterinária, Dra., professorado Curso de Medicina Veterinária- ULBRA/RS

AYALA, Keli Cristiane Tolotti – Acadêmica do Curso de MedicinaVeterinária – ULBRA/RS

RODRIGUES, Norma Centeno – Médica Veterinária, Dra., professorado Curso de Medicina Veterinária da ULBRA – RS; Pesquisadora doInstituto de Pesquisas Veterinárias “Desidério Finamor”/FEPAGRO

PIANTA, Celso – Médico Veterinário, Dr., Prof. Adjunto do Curso deMedicina Veterinária da ULBRA/RS

FALLAVENA, Luiz César Bello – Médico Veterinário, Dr., professordo Curso de Medicina Veterinária- ULBRA/RS

Data de recebimento: 17/08/05Data de aprovação: 04/11/05

Endereço para correspondência: Anamaria Esmeraldino. Laboratório deHistopatologia/Hospital Veterinário ULBRA. Av. Farroupilha n. 8001, Canoas, RSCEP 92.425-900. [email protected]

RESUMO

É relatado pela primeira vez um caso de hematoma etmoidal progressivoem um eqüino adulto da raça crioula de 20 anos de idade. São descritosos achados anatomopatológicos e as lesões microscópicas.

Palavras-chave: hematoma etmoidal progressivo; eqüinos, raça crioula.

ABSTRACT

One case of progressive ethmoidal haematoma in a 20 years old crioullohorse is reported. The anatomohistopathologic findings are described.

Key words: progressive ethmoidal haematoma; horses, crioullo breed.

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INTRODUÇÃO

O hematoma etmoidal progressivo, também denominado de hematomaetmóide progressivo ou de pólipos nasais hemorrágicos, é formado pormassas angiomatosas expansivas encapsuladas aparentemente originadasdo revestimento mucoso das conchas etmoidais, a partir de lesões pré-existentes (PLATT, 1975). Não se conhece o fator predisponente dessaalteração, sendo sugerida sua origem congênita ou tumoral (ROONEY eROBERTSON, 1994). Não se trata de uma patologia comum, pois Tremainee Dixon (2001) verificaram apenas 6,1% de casos em 277 eqüinos portadoresde lesões sinusoidais. Os eqüinos afetados são geralmente jovens, de trabalho,embora também existam relatos de casos em animais idosos, com mais deoito anos de idade (PASCOE, 1993; LAING, HUTCHINS, 1992; FREES et al.,2001). A alteração é raramente bilateral (THOMASSIAN, 1984;KNOTTENBELT e PASCOE, 1998), e pode afetar tanto machos como fêmeas,tendo sido relatados casos em animais da raça Árabe e Puro Sangue Inglês(PASCOE, 1993; LAING, HUTCHINS, 1992; FREES et al., 2001). O diagnósticoda doença, na maioria dos casos descritos na literatura disponível, baseou-se na realização de biopsias. No presente relato, descreve-se um caso dehematoma etmoidal progressivo em um eqüino macho da raça crioula com20 anos de idade submetido à eutanásia e a exame pós-morte.

RELATO DO CASO

O animal chegou ao Hospital Veterinário da ULBRA com histórico clínicode epistaxe intermitente em ambas as narinas, acompanhada decorrimento mucoso a mucopurulento e respiração estertorosa. Comdiagnóstico inicial de habronemose, o animal havia sido tratado antes dachegada ao HV/ULBRA com ivermectina, sem apresentar melhora. Aoexame clínico, o animal apresentava dispnéia inspiratória e angústiarespiratória, tendo-se verificado uma massa tumoral que se pronunciavapelas duas narinas, provocando distorção facial. Foi realizadatraqueostomia permanente mas, devido à idade avançada do animal e aocaráter proliferativo da lesão, optou-se mais tarde pela realização daeutanásia. Ao exame de necropsia, observou-se bom estado nutricional,mucosas pálidas e aumento de volume na cavidade nasal com presençade secreção mucopurulenta. Ao exame interno, não havia alterações dignasde nota tanto na cavidade torácica como na abdominal, excetuando-seaquelas provocadas pela intervenção cirúrgica na traquéia. Na cavidadenasal, observou-se uma massa encapsulada bilateral, de aspecto gelatinoso,coloração amarelada, bordas arredondadas e consistência friável, a qualpodia ser facilmente removida (Figuras 1 e 2). O exame histopatológicoda lesão mostrou abundante formação de tecido de granulação, cominfiltração inflamatória secundária na superfície, a qual se apresentavaulcerada. As alterações observadas nos exames macroscópico emicroscópico permitiram o diagnóstico de hematoma etmoidal progressivo.

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DISCUSSÃO

Os sinais clínicos verificados no presente caso são semelhantes aosrelatados por Pascoe (1993) e permitiram o direcionamento do diagnóstico.As lesões observadas à necropsia, assim como as alterações verificadas noexame histopatológico, tendo sido semelhantes àquelas descritas por Heade Dixon (1999) e Tremaine et al. (1999), confirmaram o diagnóstico dehematoma etmoidal progressivo.

Até o momento, os relatos desta doença restringem-se a animais das raçasÁrabe, Puro Sangue Inglês e cruzamentos dessas raças (PASCOE, 1993;LAING, HUTCHINS, FREES et al., 2001), sendo este o primeiro caso descritoem eqüinos da raça crioula. A idade do animal acometido da enfermidadeno presente caso corresponde aos dados descritos na literatura pertinente,os quais relatam a ocorrência de hematoma etmoidal progressivo emanimais mais velhos (PASCOE, 1993; LAING, HUTCHINS, 1992; FREES etal., 2001).

Figura 1- Secção sagital do crânio. Massa encapsulada bilateral.

Figura 2- Secção sagital do crânio. Hematoma etmoidal progressivo bilateral.

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CONCLUSÃO

As alterações observadas à necropsia e o exame histopatológico permitiramo diagnóstico de hematoma etmoidal progressivo em um eqüino, sendoeste o primeiro relato desta doença em animais da raça crioula.

REFERÊNCIAS

FREES, K. E.; GAUGHAN, E. M.; LILLICH, J. D.; COX, J.; GORONDY, D.;NIETFELD, J. C.; KENNEDY, G. A.; CASH, W. Severe complication afteradministration of formalin for tretment of progressive ethmoidalhematoma in a horse. J.Am.Vet.Med.Assoc., v.7, n.219, p.950-952, 2001.

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 55Veterinária em Foco Canoas v. 3 n.1 maio/dez. 2005 p.55-66

Efeito da utilização de diferentesprotocolos de sincronização deestro sobre a resposta reprodutivade vacas de corteEffect of differents estrus synchronisation protocols on the reproductiveperformance in beef cows

GOTTSCHALL, Carlos S. – Médico Veterinário, Professor Adjunto daFaculdade de Medicina Veterinária da ULBRA

RODRIGUES, Paulo C. – Médico Veterinário, Professor Adjunto daFaculdade de Medicina Veterinária da ULBRA

AGUIAR, Paulo L. – Médico Veterinário, Especialista, ProfessorAssistente da Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA

FERREIRA, Eduardo T. – Aluno de graduação do curso de MedicinaVeterinária da ULBRA – Bolsista de Iniciação Científica (PROICT–ULBRA)

CANELLAS, Leonardo – Aluno de graduação do curso de MedicinaVeterinária da ULBRA – Bolsista de Iniciação Científica (FAPERGS)

ROSA, Antonio Augusto G.; MARQUES, Pedro R.; LOURENZEN,Guilherme; GUSSO Francisco; LOPES, Ricardo Mônaco –Alunos de graduação do curso de Medicina Veterinária da ULBRA

Data de recebimento: 28/07/05Data de aprovação: 24/10/05

Endereço para correspondência: Av. Farroupilha, 8001. Canoas, RS. BairroSão José. Prédio 14 Sala 127. CEP: 92425-900. Carlos Gottschall. E-mail:[email protected]

RESUMO

O trabalho realizado em 2004/05 no Centro experimental da ULBRAenvolveu 70 animais, sendo 58 vacas de 1ª cria (VC) e 12 vacas solteiras(VS), com objetivo de avaliar diferentes protocolos de sincronização sobrea taxa de prenhez de vacas de corte. Os animais foram distribuídosaleatoriamente em 4 grupos: GI-Testemunha; GII-Ovsynch; GIII-dia0-implante intravaginal de progesterona (P4) + 2mg de benzoato de estradiol

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(BE), dia7-retira implante, dia8-1mg de BE; GIV-dia0-implante intravaginalde P4 + 2mg de BE, dia7-retira implante, dia8-0,5mg de cipionato deestradiol. No dia ZERO (20/12) os animais do GI foram entourados e osdemais grupos submetidos aos respectivos protocolos. No dia 27/12, todasVC tiveram seus terneiros removidos por 60 horas. A inseminação emtempo fixo (IATF) ocorreu no dia 29/12. Um dia após a IATF os animaisforam reagrupados em lote único permanecendo com um touro até 28/02/05. Foram analisados condição corporal (ECC), peso ao início doacasalamento (PI), peso final (PF) em 05/04/05, ganho médio diário(GMD) entre 20/12 e 05/04 e taxa de prenhez (TP). A TP foi de 58,6%para a categoria VC e 83,3% para a VS (p= 0,11). A TP foi de 68,4%;70,6%; 66,7% e 43,8%, respectivamente para GI, GII, GIII, GIV (p= 0,35).O ECC, PI e PF entre vacas prenhes e vazias foram de 3,0 x 2,5; 433,55 Kgx 360,73 Kg e 431,77 Kg x 365,12 Kg; respectivamente (p<0,01). Entre ascategorias VC e VS as variáveis ECC, PF e GMD foram de 2,7 x 3,3 (p<0,01);396,76 Kg x 456,58 Kg (p<0,05) e -0,044 Kg x 0,241 Kg (p<0,01),respectivamente. Conclui-se que os diferentes protocolos de sincronizaçãode estro não influenciaram na taxa de prenhez. As fêmeas queemprenharam apresentaram maior escore de condição corporal e forammais pesadas ao inicio e final do experimento.

Palavras-chave: desempenho reprodutivo, acasalamento, estro,inseminação artificial.

ABSTRACT

The experiment was conducted during 2004/2005 at the Centro Experimentalda ULBRA with 70 animals. The study evaluated the reproductiveperformance in beef cows according to the estrus synchronization protocols.The primiparous cows group (PC) was composed of 58 females and theopen cows group (OC) was composed of 12 animals. The cows weredistributed randomly in 4 treatments groups: GI-Control group; GII-Ovsynch;GIII-day0-progesterone (P4) intravaginal implant + 2mg of estradiolbenzoate (EB), day7-take the implant out, day8-1 mg de EB; GIV-day0-P4intravaginal implant + 2 mg de EB, day7-take the implant out, day8-0,5 mgof estradiol cypionate (EC). On the day ZERO (12/20), the animals belongingto the GI were put with a bull and the other groups were submitted to therespective estrus synchronization protocols. On the day 12/27, whole VCgroup had their calves apart during 60 hours. The Fixed Time ArtificialInsemination (FTAI) was done in 12/29 and one day latter, the animalswere put together at the same place, staying all groups with one bull untill02/28/05. It was analyzed body condition score (BCS), weight at thebeginning of mating (WBM) and at the end of mating (WEM), avarageweight gain (AWG) between 12/20 and 04/05 and pregnancy rate (PR).The PR was 58,6% to the PC group and 83,3% to the VS group (p= 0,11).The PR was 68,4%; 70,6%; 66,7% e 43,8%, respectively for the treatments

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groups GI, GII, GIII, GIV (p= 0,35). The BCS, WBM and WEM, between thepregnant and not-pregnant cows, were 3,0 x 2,5; 433,55 Kg x 360,73 Kgand 431,77 Kg x 365,12 Kg; respectively (p<0,01). Between the PC and VSgroups, the variables BCS, WEM and AWG were 2,7 x 3,3 (p<0,01); 396,76Kg x 456,58 Kg (p<0,05) e -0,044 Kg x 0,241 Kg (p<0,01), respectively.Therefore, it is possible to conclude that the different estrus synchronizationprotocols did not influence the PR. The females that got pregnant showedhigher body condition score and they were heavier at the beginning and atthe end of mating.

Key words: reproductive performance, mating, estrus, artificialinsemination.

INTRODUÇÃO

A baixa rentabilidade apresentada pela pecuária de corte atual tem forçadoo pecuarista a buscar melhores índices reprodutivos em seu rebanho(RESTLE et al., 2002). Desta forma, elevados índices de produção,associados à alta eficiência reprodutiva, devem ser metas que norteiam ostécnicos e criadores a alcançarem melhor produtividade e satisfatórioretorno econômico na atividade (BARUSELLI e MARQUES, 2002).

A biotecnologia da sincronização de estros se torna assim uma ferramentaimportante no processo de otimização da eficiência reprodutiva de vacasde corte. Através da sincronização de estros em bovinos consegue-seconcentrar mais animais em estro em um curto espaço de tempo, inseminarum grande número de animais em período de tempo estabelecido, reduziro período de parição, padronizar terneiros facilitando práticas de manejoe comercialização, adequar períodos de lactação na vaca de leite e adequara utilização de alimentos disponíveis de acordo com a época de ano ecategorias animais (GREGORY, 2002).

Atualmente existem numerosos protocolos de sincronização de estro e deovulação e cada um deles tem suas vantagens e desvantagens. Por isso, omédico veterinário deve ter um conhecimento profundo sobre a fisiologiareprodutiva do bovino para determinar qual é o método mais adequadopara os diferentes ambientes e animais com que se irá trabalhar (BÓ etal., 2004). De uma maneira geral, dentre os programas existentes, podemosdividir os protocolos para sincronização da ovulação visando aInseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em aqueles que utilizam acombinação entre hormônio liberador de Gonadotropina (GnRH) eprostaglandina F2á (PGF), chamados protocolos Ovsynch (PURSLEY etal., 1995); e os que utilizam dispositivos com progesterona (P4).

De acordo com Cutaia et al. (2003), a seleção do protocolo mais adequadopara um determinado rodeo dependerá não só de fatores fisiológicos, tais

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como vaca com cria, solteira, novilhas primíparas, animais em anestro ouciclando, etc, mas também de outras variáveis como destreza do veterináriona palpação retal, dinheiro disponível por fêmea para gastar no tratamento,disponibilidade de mão de obra qualificada, instalações e, principalmente,o objetivo do programa de manejo do estabelecimento. Entretanto,independente do protocolo que será utilizado, o objetivo sempre será omesmo: otimizar a eficiência reprodutiva do rebanho bovino.

O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito dos diferentes tratamentos parasincronização de estro sobre a eficiência reprodutiva de vacas de corteinseminadas em tempo fixo.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido na Estação Experimental da UniversidadeLuterana do Brasil (CE-ULBRA), localizada no município de Montenegro(RS), durante as datas de 20/12/04 à 05/04/05. Foram utilizadas 70 fêmeasmanejadas em campo nativo, sendo 58 vacas de 1ª cria (VC) e 12 vacassolteiras (VS). Os animais foram distribuídos aleatoriamente em 4 grupos:GI-Testemunha; GII-Ovsynch; GIII-Benzoato de estradiol (BE) e GIV-Cipionato de estradiol. O número de animais para as diferentes categoriase tratamentos se encontram na Tabela 1.

O GI (formado por 19 vacas) não recebeu tratamento hormonal, sendo asfêmeas entouradas no dia ZERO (20/12). Os demais animais foramsubmetidos aos seus respectivos protocolos, como segue abaixo:

Ovsynch: No dia ZERO foi administrado ao GII um análogo do GnRH,seguida de uma injeção de PGF 7 dias depois e uma injeção de GnRH 36 a48 horas depois da PGF (prostaglandina F2á), sendo realizada a IATF após15 a 24 horas após a segunda aplicação de GnRH.

Benzoato de Estradiol: O tratamento para o GIII constou na aplicação de2 mg de Benzoato de estradiol (EB) por via intramuscular (IM) junto coma colocação do dispositivo intravaginal de progesterona (P4) (Cronipress– Biogenesis), ambos no dia ZERO. Após 7 dias foi retirado o implante eadministrado PGF e um dia após foi aplicado 1 mg de EB. A IATF foirealizada entre 52 – 56 horas após a remoção do dispositivo.

TRATAMENTO Testemunha Ovsynch Benzoato Cipionato Total

Categoria Vaca com cria 16 14 14 14 58 Vaca solteira 3 3 4 2 12

Total 19 17 18 16 70

Tabela 1. Distribuição dos tratamentos, com respectivo número e categorias po grupo.

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Cipionato de Estradiol: No dia ZERO, o GIV recebeu um implante intravaginalde P4 mais 2mg de BE. Após 7 dias foi retirado o implante e no dia seguintefoi aplicado 0,5mg de cipionato de estradiol (ECP) por via IM.

No dia 27/12, todas VC tiveram seus terneiros removidos por 60 horas. AIATF ocorreu no dia 29/12. Um dia após a IATF os animais foramreagrupados em lote único permanecendo com um touro até 28/02/05.

A análise estatística foi realizada a partir do software SPSS 10.0, sendo ataxa de prenhez (TP) testada pelo qui-quadrado. A comparação dasvariáveis escore de condição corporal (ECC), peso ao início doacasalamento (PI), peso final (PF) em 05/04/05, ganho médio diário(GMD) entre 20/12 e 05/04 entre os diferentes grupos de tratamento foiavaliada pela Análise de Variância (one-way ANOVA). Essas mesmasvariáveis (ECC, PI, PF e GMD) também foram analisadas entre animaisprenhez e vazios através do teste t de Student.

O diagnóstico de gestação foi realizado por palpação retal 70 dias após otérmino da estação de acasalamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As taxas de prenhez referente aos diferentes protocolos de sincronizaçãode estro se encontram na Tabela 2.

Grupos N TP (%) GI (Testemunha) 19 68,4

GII (Ovsynch) 17 70,6 GIII (Benzoato de estradiol) 18 66,7

GIV (Cipionato de estradiol) 16 43,8

TOTAL 70 62,9

Tabela 2 - Taxa de prenhez (TP) dos diferentes grupos submetidos a seus respectivos tratamentosde sincronização de estro.

Não houve diferença estatística significativa da taxa de prenhez (p>0,05)entre os diferentes grupos submetidos à sincronização de estro einseminados em tempo fixo. O mesmo ocorreu quando foi comparado odesempenho reprodutivo dos diferentes grupos de tratamento em relaçãoao grupo testemunha (Tabela 3).

Não houve diferença estatística significativa (p>0,05) entre os tratamentos.

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Resultados diferentes ao deste trabalho foram reportados por Martinez etal. (2000), onde utilizando Progesterona (P4) e Benzoato de estradiol (EB)em fêmeas lactantes, o autor encontrou diferença na taxa de prenhezentre o grupo testemunha e os animais tratados com seu respectivoprotocolo, sendo a TP de 38% e 76%, respectivamente.

A TP obtida pelo GII foi de 70,6%. Este resultado é superior ao encontradopor Stevenson (2000), que encontrou taxas de prenhez entre 26 e 55% emgado Bos taurus utilizando GnRH e prostaglandina F2á (PGF). Outrosestudos usando o protocolo Ovsynch, porém em vacas zebuínas com cria,também apresentaram taxas de prenhez inferior ao do presente trabalho,oscilando entre 42 e 48% (BARROS, 2002; WILLIAN et al., 2002).

Com relação ao tratamento com EB, a TP apresentada pelo GIII foi de66,7%. Esta prenhez está acima da verificada por Colazo (1999), ondeavaliando o uso de P4 e estradiol em vaquilhonas cruza Bos taurus x Bosindicus com CIDR -Controlled internal drug release-(1,9 g de P4), verificouuma TP de 54,1%. Resultado semelhante ao verificado neste experimentoé apresentado por Martinez et al. (2000) em um estudo com 84 vacas decorte lactantes sincronizadas com P4 e EB e inseminadas em tempo fixo.Este autor atingiu taxas de prenhez em torno de 63 %. Maiores taxas deprenhez, utilizando o mesmo protocolo do GIII, foram encontradas porLammoglia et al. (1998), onde a TP foi de 86% em novilhas que receberam0,38 mg de benzoato de estradiol. Martinez et al. (2002) também relatamelhor resposta reprodutiva em um experimento com novilhas tratadascom CIDR e EB, sendo a TP dessas novilhas de 78,8%. De acordo comCutaia et al. (2001) os animais ovulam aproximadamente após 66 horasda remoção do dispositivo (implante). Por isso, a IATF no GII foi realizadaentre 52 – 56 horas após a remoção do implante.

Uma menor resposta reprodutiva expressa por animais tratados com ECPem relação ao EB foi verificado por Ogando et al. (2005). Entretanto, emum experimento para comparar o desempenho reprodutivo de vaquilhonastratadas com Cipionato de estradiol (ECP), Cutaia et al. (2005) reportaresultados superiores. Este autor obteve uma TP de 63,2% quando utilizouo ECP 24 horas após a retirada do DIB (dispositivo intravaginal comprogesterona). Em outro estudo, Giacusa et al. (2005) também alcançamelhores taxas de prenhez (54,0%) em fêmeas com ECC de 2 a 2,5 tratadascom eCG (gonadotrofina corionica eqüina) no dia da retirada do DIB,

Tabela 3 - Comparação da taxa de prenhez (TP) dos diferentes grupos em relação ao grupotestemunha.

Comparação entre Grupos TP (%) Valor de p

GI X GII 68,4% x 70,6% 0,999 GI X GIII 68,4% x 66,7% 0,999 GI X GIV 68,4% x 43,8% 0,185

Não houve diferença estatística significativa (p>0,05) entre os tratamentos.

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mais 0,5 mg de ECP após 24 horas. No presente trabalho o GIV apresentouuma TP de 43,8%

Como podemos notar através dos resultados obtidos no presente trabalhoe da literatura citada, existe uma vasta revisão citando diferentes tipos etécnicas de protocolos para sincronização de estro com suas respectivasrespostas reprodutivas, sendo algumas satisfatórias e outras não. Comisso, conhecer os diferentes fatores que afetam a porcentagem de prenhezna IATF é fundamental e essencial.

Segundo Gottschall (2002), o estado corporal do animal está intimamenteligado à fertilidade do mesmo. Com isso, os benefícios da sincronizaçãode estro visando a IATF só serão atingidos caso o estado corporal das fêmeasnão esteja comprometido. Logo, um correto manejo nutricional napropriedade é imprescindível, uma vez que as características reprodutivassão de baixa herdabilidade e, conseqüentemente, são muito maisinfluenciadas pelo meio (VASCONCELOS, 1999). Humblot et al. (1996)sugerem que os animais tenham um escore de condição corporal mínimode 2,5 (escala de 1 a 5) para obter bons resultados de prenhez.

A Tabela 4 mostra as diferentes variáveis produtivas de cada grupo tratado.

Tabela 4 - Avaliação do escore de condição corporal (ECC), peso inicial (20/12/2004) e final (05/04/2005) e ganho médio diário (GMD) no período entre os diferentes grupos de tratamento.

Não houve diferença estatística significativa (p>0,05) entre os tratamentos.

Nota-se que não houve diferença significativa do ECC, PI, PF e GMDentre diferentes grupos submetidos ao tratamento de sincronização deestro. No entanto, quando essas variáveis são comparadas apenas entreanimais prenhes e não prenhes (Tabela 5), a diferença estatística passaa existir em nível de 1%. Como é possível observar na Tabela 4, os animaisque emprenharam foram justamente aqueles com um ECC superior(p<0,01), revelando uma relação entre ECC e desempenho reprodutivode vacas de corte.

TESTEMUNHA OVSYNCH BENZOATO CIPIONATO

N Média N Média n Média N Média

ECC 19 2,8 ± 0,541 17 2,7 ± 0,555 18 3 ± 0,495 16 2,8 ± 0,500

Peso 20/12/04

19 400,21 ± 57,89 17 411,24 ± 76,27 18 405,00 ± 50,08 16 403,50 ± 67,99

Peso 05/04/05

19 409,68 ± 61,48 17 416,70 ± 76,96 18 398,33 ± 50,53 16 403,31 ± 67,53

GMD 19 0,033 ± 0,198 17 0,052 ± 0,233 18 -0,063 ± 0,246 16 -0,002 ± 0,331

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O resultado apresentado neste e em outros trabalhos (HUMBLOT et al.,1996; SHORT et al., 1990) sugerem que animais provenientes de cruzasBos taurus x Bos indicus tenham um ECC em torno de 3 para apresentaremuma resposta reprodutiva satisfatória. Esses resultados vão ao encontrodos obtidos por Cutaia (2003), o qual também verificou uma melhora nodesempenho reprodutivo com o aumento do ECC. Além disso, como podemosverificar na tabela 4, o PI (433,55 kg) e o PF (431,77 kg) das vacas prenhestambém foram significativamente maiores (p<0,01) que o PI e PF das vacasnão prenhes (360,73 kg e 365,12 kg, respectivamente). Esta mesma relaçãoentre peso e taxa de prenhez encontrada neste estudo foi constatada emvários outros trabalhos, mostrando que quanto maior o peso ao início doacasalamento (neste caso, o PI), maiores serão as taxas de prenhezalcançadas pelos animais (BERETTA e LOBATO, 1996; PEREIRA NETO eLOBATO, 1998; ROCHA e LOBATO, 2002; ROVIRA, 1996).

Entretanto, é importante salientar que embora o manejo nutricional e oestado corporal exerçam forte influencia sobre o desempenho reprodutivo,existem outras variáveis que também são determinantes na eficiênciareprodutiva de vacas de corte, tais como raça, idade, genética e estadofisiológico (vaca seca, vaquilhona, vaca com cria, etc) (Short et al., 1990).Fernades et al. (2001), em um experimento avaliando a TP de vacas decorte em anestro, reforça claramente a idéia de que o estado fisiológicodo animal é extremamente importante quando se quer sincronizar cioem vacas de corte. O estudo revelou uma TP de 14,9% em 67 vacas tratadascom o protocolo Ovsynch, mostrando que este tipo de tratamento não éeficiente para fêmeas em anestro, devendo ser usado somente em animaiscom altas taxas de ciclicidade. O mesmo ocorreu no presente trabalho,onde as vacas com cria ao pé (as quais geralmente se encontram emanestro devido ao efeito da amamentação e mal manejo nutricional dogado de cria) apresentaram uma TP inferior às vacas solteiras, sendo de58,6% e 83,3%, respectivamente (Tabela 6).

Tabela 5 - Comparação do escore de condição corporal (ECC), peso inicial (PI) e final (PF) eganho médio diário (GMD) no período entre vacas prenhes e não-prenhes.

a,b. Médias na mesma coluna, seguidas de letras diferentes, diferem significativamente entre si(p<0,01).

Variáveis Prenhez N Média Desvio-padrão

ECC Não Prenhes 26 2,58 a 0,524

Prenhes 44 3,02 b 0,429 PI (20/12/2004) Não Prenhes 26 360,73 a 55,84

Prenhes 44 433,55 b 48,55 PF (05/04/2005) Não Prenhes 26 365,12 a 53,47

Prenhes 44 431,77 b 55,78 GMD Não Prenhes 26 0,041 0,199

Prenhes 44 -0,017 0,278

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Esses resultados diferem dos encontrados por Cutaia et al. (2003), em queutilizando a IATF em fêmeas cruza britânica e zebuína obteve uma TP de48% para vacas solteiras e 55,9% para vacas com cria.

Outro fator importante para o sucesso de protocolos de sincronização deestro em vacas com cria é a realização do desmame temporário. Estesautores, em um estudo avaliando o efeito do desmame temporário nataxa de prenhez de vacas nelore lactantes inseminadas em tempo fixo ecom um ECC de 3,0 (escala de 1 a 5), encontrou uma TP de 52,9% contra44,8% para as fêmeas que permaneceram com sua cria ao pé, mostrandoque a utilização do desmame temporário quando associado a umtratamento hormonal com dispositivos de P4 e estradiol, são ferramentasmuito valiosas para melhorar a resposta reprodutiva de vacas com cria.

A Tabela 7 vem a complementar a Tabela 6 através da comparação devariáveis produtivas entre as vacas com cria e as vacas solteiras.

Tabela 6 - Taxa de prenhez de vacas de cria (VC) e vacas solteiras (VS).

CATEGORIA N TP (%)

VC (Vaca com Cria) 58 58,6 VS (Vaca Solteira) 12 83,3

TOTAL 70 62,9

Não houve diferença estatística significativa (p>0,05) entre os tratamentos.

Tabela 7 - Comparação do escore de condição corporal (ECC), peso inicial (20/12/2004) e final(05/04/2005) e ganho médio diário (GMD) no período entre vacas com cria ao pé e vacas solteiras.

a,b. Médias na mesma coluna, seguidas de letras diferentes, diferem significativamente entre si(p<0,01).

A,B. Médias na mesma coluna, seguidas de letras diferentes, diferem significativamente entre si(p<0,05).

Analisando esta tabela, pode-se notar que as vacas solteiras obtiverammelhor ECC (p<0,01), maior PF (p<0,05), maior GMD no período (p<0,01)e maior taxa de prenhez do que as vacas com cria ao pé. Rovira (1996)explica este melhor desempenho por parte das vacas solteiras através das

Variáveis Categoria n Média Desvio-padrão

ECC VC (Vaca com cria) 58 2,740 a 0,477

VS (Vaca solteira) 12 3,317 b 0,478

PI (20/12/2004) VC (Vaca com cria) 58 401,414 60,579

VS (Vaca solteira) 12 431,083 66,052

PF (05/04/2005) VC (Vaca com cria) 58 396,759 A 58,351

VS (Vaca solteira) 12 456,583 B 66,225

GMD VC (Vaca com cria) 58 -0,044 a 0,231

VS (Vaca solteira) 12 0,241 b 0,218

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exigências nutricionais dos animais nas diferentes fases produtivas, ouseja, a vaca seca é uma categoria que apresenta uma exigência nutricionalmenor, sendo mais fácil atingir melhor desenvolvimento que fêmeas comcria ao pé, as quais são altamente exigentes do ponto de vista nutricional.

CONCLUSÕES

O desempenho reprodutivo dos animais não sofreu influencia dosdiferentes protocolos de sincronização de estro utilizados.

Vacas com melhor escore de condição corporal e maior peso ao inicio doacasalamento alcançaram maiores taxas de prenhez.

Vacas solteiras apresentaram melhor escore de condição corporal e maiorganho médio diário durante o período de estudo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a DASPPET – Distribuidora de produtos Veterinários,BIOGENESIS BRASIL e TORTUGA pelo apoio através da doação deProstaglandina F2alfa, GnRH e implantes intravaginais de progesteronapara o uso experimental.

REFERÊNCIAS

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Veterinária em Foco - v.3, n.1, maio/dez. 2005 67Veterinária em Foco Canoas v. 3 n.1 maio/dez. 2005 p.67-78

Desempenho de novilhos e novilhasde corte de diferentes idadesterminados em regime desuplementação alimentar empastagem cultivada e campo nativoPerformance of beef heifers or steers from different ages finished withsupplementary feeding on cultivate and natural pasture

GOTTSCHALL, Carlos S. – Méd. Vet. MSc. Professor Adjunto daFaculdade de Medicina Veterinária, ULBRA – RS

CANELLAS, Leonardo C. – Acadêmico em Medicina Veterinária,ULBRA – RS. Bolsista de Iniciação Científica FAPERGS

FERREIRA, Eduardo T. – Acadêmico em Medicina Veterinária, ULBRA– RS. Bolsista de Iniciação Científica PROBIC/ULBRA

MARQUES, Pedro R.; LOURENZEN, Guilherme; SOMMER,Cristiane – Acadêmicos em Medicina Veterinária, ULBRA – RS

BITTENCOURT, Hélio R. – Estatístico MSc. Faculdade de Matemática,PUCRS e ULBRA – RS

Data de recebimento: 18/08/05Data de aprovação: 20/10/05

Endereço para correspondência: Av. Farroupilha, 8001. Canoas, RS. BairroSão José. Prédio 14, Sala 127. CEP: 92425-900. Carlos Gottschall. E-mail:[email protected]

RESUMO

O objetivo do trabalho foi analisar o desempenho bioeconômico do processode terminação de 65 novilhos(as) de corte, sem padrão racial definido,submetidos à suplementação alimentar entre 28/12/2004 e 07/07/2005.Foram formados quatro grupos, levando em consideração idade (18 x 30

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meses) e sexo (machos x fêmeas). Dos 65 animais, 14 eram machos com 18meses (grupo 18M) e oito eram fêmeas da mesma idade (grupo 18F); 21eram machos com 30 meses (grupo 30M) e 22 eram fêmeas (grupo 30F)com 30 meses. Os 65 animais foram suplementados em pastagem de sorgoforrageiro, sendo 48 abatidos de forma escalonada até 27/4/05, quandohouve o término do ciclo dessa pastagem, representando o 1º Período (1ºP).Os 17 restantes continuaram sendo suplementados em campo nativo até 07/7/05, quando o último lote foi abatido, representando o 2º Período (2°P). Osuplemento fornecido na base de 0,8% do peso vivo era composto porquantidades variáveis de milho, farelo de trigo, calcário e sulfato de amônia.Os parâmetros utilizados para análise biológica dos diferentes grupos forampeso médio inicial (PI), peso médio final (PF), ganho médio diário no 1°período (GMD1), ganho médio diário no 2° período (GMD2), ganho médiodiário no período total (GMDt), porcentagem de ganho de peso (%GP),tempo médio de permanência (TMP). A análise estatística foi realizada noprograma SPSS, consistindo da utilização do teste t de Student, ANOVA eteste de Tukey. O PI foi de 278,9, 280,0, 310,9 e 302,1 kg para 18M, 18F,30M e 30F, respectivamente, sendo diferentes entre as idades (p<0,05),mas não entre sexos dentro das idades (p>0,05). O PF foi de 379,0, 373,5,411,9 e 393,8 kg, respectivamente para 18M, 18F, 30M e 30F, sendo que30M diferiu de 18M e 18F (p<0,05), enquanto 30F não se diferenciou denenhum grupo. O GMDt foi de 0,77, 0,93, 1,15 e 0,98 kg/dia, respectivamentepara os quatro grupos, 18M foi diferente de 30M (p<0,05), enquanto osdemais grupos não diferiram entre si. O TMP foi de 132,79, 103,75, 96,48 e100,05 dias respectivamente para 18M, 18F, 30M e 30F. Para o TMP, 18M foidiferente de 30M (p<0,05), enquanto os demais grupos não diferiram entresi. Na análise econômica foram computados os custos de produção bemcomo as receitas obtidas com a venda dos animais. O grupo 30M apresentoumaior GMD e menor TMP mostrando-se mais eficiente biologicamente emrelação aos demais grupos. O mesmo grupo também apresentou maioreficiência econômica, obtendo maior margem bruta, margem bruta/animal, lucratividade no período e lucratividade/mês do que os demaisgrupos. O processo de suplementação mostrou-se viável economicamente,pois as receitas foram maiores do que os custos de produção.

Palavras-chave: novilhos de corte, terminação, suplementaçãoalimentar, pastagem cultivada.

ABSTRACT

The aim of this experiment was analyze the economic-biologicalperformance of 65 beef steers, without a defined breed, submitted to thesupplemntary feeding between 12-28-2004 to 07-07-2005. It was madedfour groups, according to the age (18 x 30 months) and sex (male orfemale). Among 65 animals, 14 were males with 18 months (18M group)and eight were females with the same age (18F group); 21 were males 30

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months old(30M group) and 22 were females with the same age (30Fgroup). The 65 animals were supplemented with Sorghum vulgare L.Moench pasture, where 48 animals were periodically slaughtered untill04-24-2005, day that the cycle of these pasture was finished, called thefirst period (1stP). The other 17 animals continued with the supplementaryfeeding on the natural pasture untill 07-07-2005, when the last lot wasslaughtered, representing the 2nd Period (2ndP). The supplement givengot 0,8% of the life weight and it was composed of different amounts ofcorn, wheat brain, calcareous and ammonium sulphate. The parametersused to biological analysis of the different groups were average weightat the beginning(BW) and at the end (EW) of the experiment, averageweight gain during the 1st period (AWG1), average weight gain duringthe 2nd period (AWG2), average weight gain during whole period (AWGw),percent of weight gain (WG) and average time of staying (ATS).Thestatistic analysis was done through the software SPSS, consisting of theutilization of test t of Student, ANOVA and Tukey Test. The BW was278,93, 280,00, 310,95 and 302,09 kg to 18M, 18F, 30M and 30F,respectively, which was different between the ages (p<0,05), but notbetween sex inside the ages (p>0,05). The WE was of 379,0, 373,5, 411,9and 393,8 kg, respectively to the 18M, 18F, 30M and 30F, where the group30M was different than the 18M and 18F (p<0,05), while the 30F didnot get any differnce from the another groups. The AWGw was 0,77,0,93, 1,15 and 0,98kg/day, respectively to the four groups, 18M wasdifferent than the 30M (p<0,05), while the other group did not showdifference among them. The ATS was 132,79, 103,75, 96,48 and 100,05days, respectively to the 18M, 18F, 30M and 30F. According to the ATSvariable, the 18 M was different than the 30M (p<0,05), while the othergroups did not show difference among them. In the economic analysiswere analyzed the production costs as well as the profits with the animalsales. The group 30M showed higher AWG and less ATS, being morebiologically efficient than the other group. The same group also showedhigher economic efficiency, getting a higher gross profit, more profitableon the period and on the month than the other group. The process ofsupplementation was economically viable, because the profits werehigher than the production costs.

Key words: beef steers, fattening, supplementary feeding, cultivatepasture.

INTRODUÇÃO

A redução da idade de abate é um dos fatores fundamentais paraintensificar o sistema de produção em bovinos de corte (COSTA et al.,2002). Entretanto, para que isso ocorra, torna-se necessário a adoção detecnologias que permitam uma maior eficiência biológica animal e quesejam viáveis do ponto de vista econômico dentro desse sistema de produção.

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Algumas técnicas, entre elas a suplementação alimentar, têm sido utilizadasnesse sentido, permitindo não só maior produtividade e qualidade de carcaça,como também retorno mais rápido dos investimentos e melhor remuneraçãodo produto (JUNQUEIRA et al., 1998).

Nesse contexto, a complementação das pastagens com concentradosenergéticos e/ou protéicos, tem sido utilizada como ferramenta de manejopara potencializar o desempenho animal (PASCOAL e VAZ, 2004), podendoser utilizada tanto em pastagens nativas quanto em pastagens cultivadas(GOTTSCHALL, 1999a), proporcionando um melhor balanceamento dadieta (HORN et al., 2005). Segundo Pardo et al. (2003), os suplementospodem aumentar a produção animal em pastagens, provendo nutrientesadicionais. Além disso, a substituição de parte do consumo de forragempelo consumo de suplemento pode elevar a capacidade de carga até valoresque, sem redução acentuada do ganho por indivíduo, possibilitem melhorara produção animal por unidade de área (ROCHA et al., 2003).

A utilização de suplementos na alimentação animal depende doconhecimento de suas necessidades nutricionais, que variam conforme acategoria, a idade e a quantidade de suplemento que deve ser fornecidopara atingir os objetivos. Com o uso de suplementação, normalmente háum aumento no consumo total de energia e, conseqüentemente, ummelhor desempenho do animal (BRUSTOLIN et al., 2005). ConformeSantos et al. (2004), o incremento no consumo de alimentos pode aumentara disponibilidade de nutrientes para as funções produtivas, fazendo comque a energia, as proteínas e os minerais ingeridos sejam utilizados emmaior proporção para a produção, e em menor proporção para amantença.

Animais jovens apresentam maior crescimento de tecido muscular sobretecido adiposo, por isso levam mais dias até atingir um grau de acabamentode carcaça aceitável (GOTTSCHALL, 1999, citado por ALMEIDA et al.,2003). Essa afirmação justifica a utilização de um concentrado altamenteenergético na dieta de novilhos precoces em fase de terminação,principalmente quando a base da alimentação é constituída por pastagens.Conforme Gottschall (2001), à medida que o animal aumenta sua condiçãocorporal, acumula mais gordura, diminuindo a eficiência de ganho depeso, pois os requerimentos energéticos para a produção de músculo sãomenores que os requerimentos energéticos para produção de gordura.Por isso, dietas formuladas para a terminação dos animais devem contermaior concentração de energia, proporcionando acabamento rápido.

Contudo, deve-se levar em consideração a relação custo-benefício doprocesso (LANA e JUNIOR, 2002), avaliando economicamente asuplementação não apenas como uma atividade isolada, mas tambémcomo uma alternativa para aumentar a eficiência do processo comoum todo.

Considerando a necessidade do aumento da eficiência produtiva para

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viabilização comercial da atividade e a importância da nutrição nesseprocesso, o objetivo do presente trabalho foi analisar o desempenhobiológico e a viabilidade econômica de novilhos e novilhas de corte dediferentes idades submetidos à suplementação alimentar em pastagemcultivada e em campo nativo.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado entre 28/12/2004 e 07/07/2005 em umapropriedade particular situada no município de Glorinha/RS. Foramcoletados dados de 65 novilhos(as) de corte sem padrão racial definido,submetidos a um regime de suplementação alimentar em pastagem desorgo forrageiro e campo nativo para abate aos 18 ou aos 30 meses. Osanimais foram divididos em quatro grupos, separados por idade e sexo,sendo 14 machos e 8 fêmeas com idade média de abate de 18 meses,compondo, respectivamente os grupos 18M e 18F, e 21 machos e 22 fêmeascom idade média de abate de 30 meses, compondo, respectivamente, osgrupos 30M e 30F. Todos os machos utilizados no experimento eramcastrados e todas as fêmeas eram vazias. Os animais foram pesados eidentificados individualmente ao início do processo e submetidos apesagens periódicas para avaliação de desempenho e eventuais ajustes nadieta, sendo também pesados na saída da propriedade por ocasião dasvendas, sempre com jejum prévio de aproximadamente 14 horas. Não foiestabelecido um peso mínimo de abate. Esses ocorriam na medida em queos animais atingiam o grau acabamento desejado, expresso por deposiçãovisual de gordura subcutânea (GOTTSCHALL et al., 2004).

Os novilhos (as) passaram por um período de 12 dias de adaptação à dietaconcentrada, sendo a mesma introduzida de maneira gradual. Dos 65animais que iniciaram o processo, 48 foram alimentados até o abate comconcentrado na base de 0,8% do peso vivo em pastagem de sorgo forrageiro(1°P), com lotação animal variando entre 1.100 e 1.500 kg de peso vivo/ha. Com o término do ciclo dessa pastagem, em 27/4/2005, os 17 animaisrestantes continuaram sendo suplementados em campo nativo (2°P), comlotação média de 400 kg de peso vivo/ha, recebendo concentrado na basede 0,8 a 1,0% do peso vivo até o abate do último lote, em 07/7/2005. Oconcentrado utilizado, produzido na propriedade, era composto porquantidades variáveis de grão de milho moído, farelo de trigo, sulfato deamônia e calcário, contendo em média 13% de proteína bruta e 80% denutrientes digestíveis totais, sendo fornecido uma vez ao dia, no final datarde. Durante o período experimental os animais tiveram acesso livre àuma mistura mineral com 63 gramas de fósforo por kg de produto. Adieta foi ajustada para GMD de 1,0 kg/dia conforme NRC (1996).

O controle sanitário seguiu o calendário normal da propriedade, com autilização de anti-helmínticos por ocasião da entrada dos animais e

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posteriormente a cada 45 dias em média. Os novilhos (as) receberam aindaduas aplicações de ectoparasiticida à base de cipermetrina para o controlede carrapatos e moscas-do-chifre.

Os dados coletados (pesos, custos e tempo de permanência) foramtabulados e analisados em planilha de MS Excel. O GP foi obtido peladiferença entre PF e PI. O resultado foi dividido pelo número de dias decada tratamento, gerando os GMDs correspondentes para cada período.O TMP foi calculado pela média ponderada do tempo de permanência dosanimais em período de suplementação.

A análise estatística foi realizada no software SPSS e consistiu da utilizaçãode testes de hipóteses paramétricos. Apesar do tamanho amostral ser reduzido,todas as variáveis passaram no teste de normalidade dentro dos quatro gruposanalisados. As variáveis-resposta foram: peso médio inicial (PI), peso médiofinal (PF), ganho médio diário no 1° período (GMD1), ganho médio diário no2° período (GMD2), ganho médio diário no período total (GMDt), porcentagemde ganho de peso (%GP), tempo médio de permanência (TMP). O teste t deStudent foi utilizado para comparação do desempenho biológico de machos efêmeas, enquanto a Análise de Variância (ANOVA) comparou os quatrogrupos, sendo complementada pelo teste de Tukey.

As variáveis utilizadas para análise econômica foram: custo total; custototal/animal; custo de aquisição/animal; custo de aquisição/kg; custo dealimentação/animal; custo de produção/kg produzido; custo total/kgcomercializado; receita bruta; receita bruta/animal; margem bruta;margem bruta/animal; lucratividade no período; lucratividade/mês; ediferença de preço compra/venda. Foram calculados apenas os custosvariáveis (custo de aquisição dos animais e custo da alimentação), devidoà dificuldade de obtenção dos custos fixos, pelo fato desses custos seremdiluídos nas demais atividades da propriedade. As receitas foram obtidasa partir do valor de venda dos animais. A margem bruta foi calculada apartir da diferença entre a receita e o custo total. A lucratividade no períodofoi calculada pela divisão da margem bruta pelo custo total. A lucratividadeao mês foi calculada pela divisão da lucratividade no período por 30 dias.O custo de produção/kg produzido foi calculado pela razão entre o custoalimentação e o total de kg produzidos durante a suplementação. O custototal/kg comercializado foi calculado pela razão entre o custo total doprocesso e o total de kg comercializados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 mostra os resultados obtidos para PI, GMDt GMD1, GMD2,%GP e TMP, através da Análise de Variância (ANOVA) e do teste decomplementação de Tukey, para comparação entre grupos de idade e sexos.

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O PI foi de 278,9; 280,0; 310,9 e 302,1 kg, respectivamente para os grupos18M, 18F, 30M e 30F, sendo diferentes entre as idades (p<0,05), mas nãoentre sexos dentro das idades (p>0,05). O PF foi de 379,0; 373,5; 411,9 e393,8 kg, respectivamente para os quatro grupos, sendo que o grupo 30Mdiferiu significativamente dos grupos 18M e 18F (p<0,05), indicando queos machos de 30 meses necessitaram de um PF maior para atingirem ograu de deposição de gordura do que os machos e as fêmeas de 18 meses.Entretanto, o grupo 30F não se diferenciou de nenhum grupo, mostrandoque machos e fêmeas de mesma idade, com o mesmo tipo de alimentaçãoe de manejo, podem ser abatidos com pesos e graus deposição de gordurasemelhantes. %GP necessária para que os animais atingissem o grau deacabamento final foi de 35,94% (18M), 33,32% (18F), 32,53% (30M) e30,43% (30F), não apresentando variações significativas (p>0,05).

O TMP foi de 132,79 (18M), de 103,75 (18F), de 96,48 (30M) e de 100,05(30F) dias, variando significativamente apenas entre os grupos 18M e30M (p<0,05), indicando que machos mais jovens levam um maior númerode dias para atingirem o grau de acabamento adequado. Di Marco (1993)citado por Gottschall (2001) e Owens et al. (1993) explicam essa situação,afirmando que à medida que o animal aumenta de peso ou de idade,aumenta também a deposição de gordura em relação à proteína, ou seja,o animal irá direcionar a energia ingerida em maior proporção paraformação do tecido adiposo em detrimento do tecido muscular. SegundoRestle e Vaz (1999), o acúmulo de gordura ocorre cada vez que o aportede energia líquida ultrapassa o requerimento para manutenção ecrescimento muscular do animal, portanto, o seu maior acúmulo ocorreapós a redução do crescimento muscular, ou quando o aporte de energiadurante a fase de crescimento é bastante elevado. Carneiro et al. (2003),suplementando novilhos Nelore para abate aos 32 meses, obtiveram TMPde 156 dias até o abate, obtendo desempenho inferior aos animais damesma categoria no presente trabalho.

O GMDt foi de 0,77, 0,93, 1,15 e 0,98 kg/dia, respectivamente para osgrupos 18M, 18F, 30M e 30F, apresentando diferença significativa apenasentre os grupos 18M e 30M (p<0,05), indicando que na medida em queaumentou o tempo de suplementação, houve queda na eficiência de ganhode peso. Essa queda na eficiência de ganho ocorre, segundo Costa et al.

Tabela 1 – Análise de Variância (ANOVA), complementada pelo teste de Tukey, para comparaçãode PI, PF, GMDt, GMD1, GMD2, %GP e TMP entre os grupos 18M, 18F, 30M e 30F.

a, b – Médias na mesma coluna, seguidas por letras diferentes, diferem significativamente entresi ao nível de 5% (p<0,05).

Grupo Peso Inicial Peso Final GMDt GMD1 GMD2 % GP TMP

18M 278,9a 379,0 a 0,77 a 0,85 a 0,53 a 35,94 a 132,79 b

18F 280,0a 373,5 a 0,93ab 0,93 ab 0,74 a 33,32 a 103,75 ab 30M 310,9b 411,9 b 1,15 b 1,17 b 0,42 a 32,53 a 96,48 a 30F 302,1 b 393,8 ab 0,98 ab 1,00 ab 0,57 a 30,43 a 100,05 ab

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(2002), pela maior energia gasta pelo animal para manutenção e ganho depeso e pela maior demanda de energia em função da composição do ganho.Ou seja, na medida em que o animal melhora sua condição corporal, suasnecessidades nutricionais para o mesmo ganho de peso diário aumentamquantitativamente e qualitativamente, visando um maior aporte de energiaem relação ao aporte necessário anteriormente, quando sua condição corporalnão era tão boa. O GMD1 foi de 0,85, 0,93, 1,17 e 1,00 kg/dia,respectivamente para 18M, 18F, 30M, 30F, variando significativamente entreos grupos 18M e 30M (p<0,05) e não apresentando variações entre os demaisgrupos, enquanto o GMD2 foi de 0,53, 0,74, 0,42 e 0,57 kg/dia,respectivamente para 18M, 18F, 30M, 30F, não apresentando diferençassignificativas, possivelmente indicando que no 2ºP houve queda na qualidadedo volumoso, resultando em desaceleração na taxa de ganho de peso. Emboraa qualidade do volumoso não tenha sido avaliada bromatologicamente emnenhum dos períodos, a baixa qualidade das pastagens naturais nos mesesde outono-inverno é característica no Rio Grande do Sul, sendo citada porvários autores (ALVES FILHO et al. 2003; PÖTTER e LOBATO, 2004; WUNSCHet al., 2005). Segundo Roso et al. (2000), o campo nativo, compostobasicamente por espécies de crescimento estival, concentra sua produção deforragem no verão, com paralisação do crescimento e decréscimo da qualidadeda forragem no outono-inverno, acarretando em queda no desempenhoanimal nesse período. Em trabalho utilizando novilhos com idade média de24 meses em terminação na época da seca, Paulino et al. (2002), atingiramresultados semelhantes aos deste, com GMD de 1,06 kg/dia. Suplementandonovilhos com idade média de 17 meses, Santos et al. (2004), tambémobtiveram GMD semelhante, de 0,91 kg/dia. Zervoudakis et al. (2001),utilizando diferentes tipos de suplemento para novilhos mestiços de 18 meses,com peso inicial de 278 kg, obtiveram GMDs entre 0,89 e 1,01 kg/dia, obtendoresultados semelhantes aos do presente trabalho.

Em relação às fêmeas jovens (novilhas) em terminação, trabalhos de pesquisasão escassos, pois essa categoria é geralmente utilizada para reposição deventres, sendo apenas as vacas e as novilhas descartadas por baixodesempenho reprodutivo conduzidas ao abate, de maneira geral,exclusivamente à pasto. Isso ocorre principalmente devido à menoreficiência biológica (conversão alimentar e ganho de peso) de fêmeas emprocessos de terminação em relação à machos, que, segundo Gottschall(2001), ganham cerca de 8 a 15% de peso a mais do que fêmeas de mesmaidade e tamanho, justificando a não utilização do mesmo programanutricional para ambos os sexos nesses tipos de processo. Entretanto, senovilhas forem alimentadas corretamente para seu ponto ideal determinação, que ocorre com um peso menor do que em novilhos, essasapresentarão ganhos e eficiência alimentar semelhantes a machos damesma idade e tamanho (GOTTSCHALL, 1999b). Além disso, devido àoportunidades de mercado, a inclusão de fêmeas jovens em sistemas determinação pode tornar-se atraente do ponto de vista econômico, devidoao menor custo de aquisição e à boa velocidade de deposição de gordura,além de produzirem bom rendimento de carcaça e carne de alta qualidade,

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proporcionando uma melhor remuneração/kg em relação à fêmeas madurasde descarte.

A Tabela 2 mostra os custos de produção bem como as receitas obtidas coma venda dos animais.

Tabela 2 – Custos, receitas e análise econômica do processo de terminação de novilhos(as) dediferentes idades ao abate.

O custo de alimentação/animal foi de R$ 241,12 para o grupo 18M, de R$217,98 para o grupo 18F, de R$ 188,48 para o grupo 30M e de R$ 197,37 parao grupo 30F, indicando que animais mais jovens, que permaneceram maistempo sendo suplementados, geraram um maior custo com alimentação,levando a um maior custo de produção/kg produzido, que foi de R$ 2,41, R$2,33, R$ 1,87, R$ 2,15 respectivamente para os quatro grupos. O custo deaquisição/animal foi de R$ 404,44 (18M), R$ 378,00 (18F), R$ 419,78 (30M)e de R$ 377,61 (30F), enquanto o custo de aquisição/kg foi de R$ 1,45, R$1,35, R$ 1,35 e de R$ 1,25, respectivamente para os quatro grupos analisados,indicando um menor custo de aquisição de fêmeas em relação à machos damesma idade, sendo essa uma característica de mercado.

A receita bruta/animal foi de R$ 670,83, R$ 625,61, R$ 700,32 e de R$621,84 respectivamente para 18M, 18F, 30M e 30F, indicando que machos,comparados à fêmeas de mesma idade, geraram maior receita bruta,devido ao maior peso de abate e à maior receita bruta/kg. Essa, por suavez, foi de R$ 1,77, R$ 1,68, R$ 1,70 e de R$ 1,58, respectivamente,mostrando que a venda de animais mais jovens proporciona uma maiorremuneração/kg, por constituírem um produto de melhor qualidade.Entretanto, uma melhor remuneração/kg não significa, necessariamente,um maior retorno econômico. Este, por sua vez, é influenciado por diversosoutros fatores, entre eles o custo de aquisição, o custo da alimentação, o

18M 18F 30M 30F Número de animais 14 8 21 22

Custo total R$ 9.037,84 R$ 4.767,84 R$ 12.773,46 R$ 12.649,56 Custo total/animal R$ 645,56 R$ 595,98 R$ 608,26 R$ 574,98

Custo de aquisição/animal R$ 404,44 R$ 378,00 R$ 419,78 R$ 377,61 Custo de aquisição/kg R$ 1,45 R$ 1,35 R$ 1,35 R$ 1,25

Custo alimentação/animal R$ 241,12 R$ 217,98 R$ 188,48 R$ 197,37 Custo de produção/kg produzido R$ 2,41 R$ 2,33 R$ 1,87 R$ 2,15 Custo total/kg comercializado R$ 1,70 R$ 1,60 R$ 1,48 R$ 1,46

Receita bruta R$ 9.391,62 R$ 5.004,88 R$ 14.706,72 R$ 13.680,48 Receita bruta/animal R$ 670,83 R$ 625,61 R$ 700,32 R$ 621,84

Receita bruta/kg R$ 1,77 R$ 1,68 R$ 1,70 R$ 1,58 Margem bruta R$ 353,78 R$ 237,04 R$ 1.933,26 R$ 1.030,92 Margem bruta/animal R$ 25,27 R$ 29,63 R$ 92,06 R$ 46,86 Lucratividade/período (%) 3,77 4,74 13,15 7,54 Lucratividade/mês (%) 0,85 1,37 4,08 2,26 Diferença preço compra/venda (%) 18,08 19,64 20,59 20,89

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desempenho biológico, a época de comercialização, a relação entre preço decompra/venda, etc.

A diferença entre preço de compra/venda foi de 18,08% para o grupo 18M,de 19,64% para o grupo 18F, de 20,59% para o grupo 30M e de 20,89% parao grupo 30F, mostrando a importância do diferencial de preço/kg entre o“boi magro” e o “boi gordo” sobre o desempenho econômico do processo.Essa importância se evidencia em sistemas terminação onde os custos deprodução são altos ou quando a eficiência biológica é baixa, sendo, nessescasos, fator determinante para a viabilidade econômica do processo.

A margem bruta/animal foi de R$ 25,27 (18M), R$ 29,63 (18F), R$ 92,06(30M) e de R$ 46,86 (30F). A lucratividade no período foi de 3,77%, 4,74%,13,15% e 7,54% enquanto a lucratividade/mês foi de 0,85%, 1,37%, 4,08%e 2,26%, respectivamente para os quatro grupos analisados. Essesresultados mostram que o grupo 30M obteve o maior retorno econômicoentre os grupos analisados, pois alcançou maior margem bruta/animalbem como maior lucratividade no período e lucratividade/mês, indicandoque a maior eficiência biológica obtida pelos animais desse grupo teveinfluência positiva sobre o retorno econômico.

CONCLUSÕES

Machos mais velhos foram biologicamente mais eficientes, obtendo o maiorGMD e o menor TMP entre os grupos analisados. O mesmo grupo tambémfoi o mais eficiente economicamente, indicando uma relação positiva entredesempenho biológico e econômico. Observou-se que, se alimentadoscorretamente e manejados para seu ponto ideal de terminação, machos efêmeas podem apresentar desempenho biológico semelhante. A reduçãoda qualidade do volumoso no 2ºP teve influência negativa sobre odesempenho biológico, causando queda no GMD e com isso um aumentodo TMP dos animais em suplementação.

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Envenenamento por picada deserpente – gênero Crotalus: revisãoSnakebite poisoning – genus Crotalus: review

BOFF, Gloria Jancowski – Médica Veterinária, Doutora emVeterinária pela Universidade de León/Espanha; Toxicologista do Centrode Informação Toxicológica (CIT) da Secretária da Saúde do Estado doRS; Professora de Toxicologia dos Cursos de Medicina Veterinária,Farmácia, Graduação Tecnológica em Segurança do Trabalho e da Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho pela ULBRACanoas/RS e Toxicologia Aplicada pela PUCRS.

Data de recebimento: 13/09/05Data de aprovação: 04/11/05

Endereço para correspondência: Gloria Jancowski Boff. Rua Monsenhor Veras,186 – Bairro Santana – Porto Alegre/RS – 90610.010. E-mail: [email protected]

RESUMO

Acidentes por picada de serpentes peçonhentas em animais domésticossão comuns, principalmente nas zonas rurais do Estado do Rio Grande doSul, Brasil. Esta revisão caracteriza os acidentes produzidos por serpentesdo gênero Crotalus através das características biológicas ecomportamentais destes animais, do mecanismo de ação do veneno e domanejo na conduta do acidente.

Palavras-chave: picada de cobra, envenenamento, Crotalus spp.

ABSTRACT

Domestic animals accidents caused by poisonous snakebite are commonin rural areas in the Rio Grande do Sul State, Brazil. This review analyzesthe biology and behaviour of the genus Crotalus, the knowledge of its poisonaction and gives an overview on therapy, care and management of itssnakebites in order to describe related types of accidents.

Key words: snakebite, poisoning, Crotalus spp.

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1 INTRODUÇÃO

Freqüentemente, os animais domésticos, tanto de produção quanto decompanhia são vítimas de acidentes produzidos por ofídios peçonhentos(CARDOSO et al., 2003). Estes acidentes são de grande importância nãosó no Estado do Rio Grande do Sul (RS), como em todo o país (TU, 1991).As estatísticas sobre picadas de ofídios em animais domésticos, nãoexpressam a realidade (BARRAVIERA, 1994), devido à falta daobrigatoriedade da notificação compulsória, o que não ocorre em pacienteshumanos, pois estes necessitam justificar a utilização de soros antiofídicos,mediante acidente, por serem estes imunobiológicos produzidos pororganizações governamentais, sendo distribuídos gratuitamente eportanto, de utilização controlada (CARDOSO et al., 2003). Raramentenos acidentes com animais domésticos, a serpente é reconhecida ou mesmocapturada o que muitas vezes dificulta a terapêutica adequada(BARRAVIERA, 1994). Normalmente a identificação do acidente é baseadana sintomatologia e confirmada pelas análises laboratoriais. A presenterevisão tem por objetivo facilitar o diagnóstico diferencial, através dossintomas causados pelo mecanismo de ação dos venenos e recomendar otratamento adequado aos animais domésticos que sofrem picadas porserpentes do gênero Crotalus.

2 GENERALIDADES

Segundo alguns autores, os ofídios peçonhentos podem ser classificadosem uma única família, Viperidae (COOK, 1996; NISHIOKA, 1994; NUNES,1994). Outros autores, devido a estudos mais recentes, dividem as famíliasdas serpentes peçonhentas em duas: família Viperidae, que não possuifosseta loreal e família Crotalidae, com fosseta loreal, particularidade queaparece em um estágio filogenético mais avançado (MOSMANN, 2001).No Brasil, os ofídios da família Crotalidae são representados pelos gênerosBothrops, Crotalus y Lachesis (COOK, 1996; NISHIOKA, 1994; NUNES,1994; OSWEILER, 1998). Dois terços dos ofídios da família Crotalidae vivemna América, e não existem na África, Europa y Austrália (MOSMANN,2001). No Estado do Rio Grande do Sul encontra-se a subespécie: Crotalusdurissus terrificus (BARRAVIERA, 1990; TU, 1991).

Os ofídios da família Crotalidae apresentam dentição solenóglifa, quesignifica presença de um par de dentes (presas) anteriores, móveis ecaniculadas no maxilar superior (GOYFFON e CHIPPAUX, 1990; NUNES,1994). Este canal central se comunica com o canal excretor da glândula deveneno (GUIMARÃES, 1974; LEITÃO-DE-ARAÚJO e ALVES, 1976;ROSENFELD, 1961). Estes dentes são móveis e em repouso, estão voltadospara trás dentro de uma larga prega mucosa (BARRAVIERA, 1994; MORAet al., 1996). Quando a serpente abre a boca, estes dentes se deslocam parafrente, durante o mecanismo do bote (BUONONATO, 2001). O restante da

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dentição é maciça. Os ofídios com dentição solenóglifa, não mordem, batemcom a boca e os dentes “picam”, injetando o veneno pelo canal que possuem(ROSENFELD et al., 1971), como se observa na Figura 1.

Figura 1: Dentição solenóglifa

Estes ofídios possuem entre os olhos e o nariz um orifício denominado defosseta loreal ou lacrimal (BUSCHLE, 1985; OSWEILER, 1998; SANTOS,1981). É um órgão termoreceptor muito desenvolvido, vital para a suasobrevivência (GUIMARÃES, 1974; MORA et al., 1996). Estes orifíciospossuem uma membrana ricamente inervada, com terminações nervosascapazes de captar as variações de calor de até 0.5ºC em um raio de 5metros (BUONONATO, 2001). É através da fosseta loreal (Figura 2), queos ofídios peçonhentos percebem a aproximação dos animais,especialmente dos de sangue quente e orienta suas atitudes ofensivas oudefensivas, quando estão em busca de alimento ou diante de um inimigo(SANTOS, 1981).

3 DESCRIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS OFÍDIOSDO GÊNERO Crotalus NO RS

A espécie Crotalus durissus terrificus é conhecida popularmente comocascavel, boiçininga, cascavel de quatro ventas, cobra de cascavel,maracabóia e maracá (BRASIL, 2001; BARRAVIERA, 1990; CAMPBELL eLAMAR, 1989; TU, 1991). No Rio Grande do Sul aparece nas zonas secase arenosas dos campos e cercanias. Ultimamente podem ser encontradasna região dos Campos de Cima da Serra (BRASIL, 1991; LEITÃO-DE-

Figura 2: Fosseta loreal

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ARAÚJO e ALVES, 1993). Estes animais habitam, preferentemente rochedosespalhados pelo campo (RAMBO, 1994), dentro de buracos em geralinacessíveis a pessoas, em cupinzeiros e plantações de cereais entre outras.Alimentam-se de pequenos roedores como ratos, preás, filhotes de coelhose pequenas aves (BARRAVIERA, 1990; LEITÃO-DE-ARAÚJO e ALVES,1976). Tem coloração pardo-escuro, com escamas superiores pontiagudas.Seu corpo é maciço e musculoso de coloração parda, às vezes verdosa ouamarela (LEITÃO-DE-ARAÚJO e ALVES, 1976; TU, 1991). Seu tamanhovaria entre 1,20-1,80m (MOSMANN, 2001).

É um animal tranqüilo e pouco agressivo, não tem o costume de atacar, equando estão excitadas, através de um impulso nervoso faz soar ochocalho, entrechocando as escamas semi-soltas da ponta da cauda(BRASIL, 2001; BARRAVIERA, 1990; GUIMARÃES, 1974; LEITÃO-DE-ARAÚJO e ALVES, 1976; MUSSE e ALMEIDA, 1986; ROSENFELD, 1961).O chocalho é formado de matéria córnea (queratina) e se compõe de anéisparalelos articulados entre si (Figura 3).

4 MECANISMO DE AÇÃO DOS VENENOS CROTÁLICOS

Os venenos crotálicos têm três ações principais: neurotóxica, miotóxica(BRASIL, 2001; BARRAVIERA, 1994; CARDOSO et al., 2003; NISHIOKA,1994) e escassamente coagulante e proteolítico, por isso apenas provocampequena lesão local (PINHO e PEREIRA, 2001; ROSENFELD, 1961). Estesvenenos têm também escassa atividade hemolítica (LIMA et al., 1989).

4.1 Ação neurotóxica

Esta ação é responsável pela contração muscular, paralisias e pela altataxa de mortalidade. O veneno farmacologicamente ativo está compostode crotoxina (fosfolipase A e uma proteína básica chamada decrotapotina), crotamina, convulsina, giroxina, deltatoxina e histamina

Figura 3: Crotalus sp

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(VANCETTO et al., 1995; VÊNCIO, 1988). A crotoxina, que é umaneurotoxina pré-sináptica (AMARAL, 1937; JORGE e RIBEIRO, 1992),com peso molecular compreendido entre 14,5 – 16,4 kDa (BARRAVIERA,1990), atua nas terminações nervosas, liberando acetilcolina, responsávelpelo bloqueio das uniões neuromusculares e como conseqüência paralisiasmotora e respiratória (AMARAL, 1937; ELLENHORN, 1997; VÊNCIO,1988).

A convulxina exerce um efeito convulsivante quando é injetada por viaendovenosa em animais de experimentação (BARRAVIERA, 1990; MELLOet al., 1989), porém quando se injeta no hipocampo dorsal em ratas, nãoinduz um efeito convulsivante nem produz lesões celulares específicas(MELLO et al., 1989). Rapidamente ataca o sistema nervoso central (SNC),especificamente o terceiro par de nervos cranianos situados no mesencéfalo(ROSENFELD, 1961).

4.2 Ação miotóxica

A atividade miotóxica sistêmica se caracteriza pela liberação de mioglobinano sangue e na urina. Está bem estabelecida nas observações clínicas,baseadas em dados laboratoriais e biópsias musculares (BARRAVIERA,1990). Não se tem identificado a fração de veneno que produz o efeitomiotóxico sistêmico. De qualquer maneira, originam lesões muscularesesqueléticas (rabdomiólise) com liberação de enzimas e mioglobina(AMARAL, 1937; BARRAVIERA 1991; JORGE e RIBEIRO, 1992). Estaatividade parece ser responsável pelas dores musculares generalizadas(mialgias) e pelo edema que ocorre no local da picada. A urina apresentauma coloração enegrecida, de tonalidades variáveis que pode chegar aomarrom escuro, o que é um indicativo claro da intensidade da rabdomiólise(BRASIL, 1991).

4.3 Ação coagulante

A fração coagulante se assemelha à atividade do tipo trombina queconverte diretamente o fibrinogênio em fibrina (AMARAL, 1937;BARRAVIERA 1991), podendo levar ao consumo dos fatores de coagulaçãoe finalmente a incoagulabilidade do sangue (BRASIL, 2001; BARRAVIERA,1990), em mais ou menos 30 a 40% dos acidentes (BRASIL, 2001;ROSENFELD, 1961), principalmente se a penetração do veneno se realizaao nível de veias ou arteríola (BRASIL, 1991; NISHIOKA, 1994).Geralmente não induz a alteração nas plaquetas (BISTNER e FORD, 1996;CARDOSO et al., 2003) e as manifestações hemorrágicas quando presentes,são discretas (BRASIL, 2001).

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5 SINTOMATOLOGIA DOS ACIDENTES CROTÁLICOS

Os sinais das picadas por serpentes são variáveis e se manifestam desdeum simples arranhão, ou uma picada puntiforme, única ou dupla. Nemsempre existe uma relação entre a distancia dos sinais da picada, com otamanho do ofídio nem com a quantidade de veneno inoculado(GUIMARÃES, 1974; OSWEILER, 1998; ROSENFELD et al., 1971). A regiãoda picada pode permanecer normal ou apresentar um pequeno aumentode volume. Esta pequena alteração se deve a escassa atividade proteolíticado veneno (BUSCHLE, 1985; MUSSE e ALMEIDA, 1986; OSWEILER, 1998).O edema local é pouco evidente, com sensação de adormecimento(BISTNER, 1996; GUIMARÃES, 1974; ROSENFELD, 1961), parestesias(GFELLER e MESSONIER, 1998), eritema (BRASIL, 2001; PINHO ePEREIRA, 2001) e dor, pouco freqüente e não muito intensa (BISTNER,1996; OSWEILER. 1998).

As manifestações neurológicas surgem nas primeiras horas após a picadae são caracterizadas por “facies miastênicas ou neurotóxicas”,caracterizadas por ptose palpebral uni ou bilateral (BARRAVIERA, 1990;CARDOSO et al., 2003; GUIMARÃES, 1974; MUSSE e ALMEIDA, 1986) eflacidez da musculatura da cara, alteração no diâmetro da pupila,incapacitação do movimento ocular (oftalmoplegia), dificuldade deacomodação da visão (visão turva) e/ou diplopia (visão dupla)(BARRAVIERA, 1994; GOLDSFRANK´S et al., 1994; NISHIOKA, 1994;RIBEIRO, 1995) e midríase (OSWEILER, 1996; ROSENFELD, 1961),constatado na espécie humana e nos símios. Pode também ocorrer paralisiavelopalatina, com dificuldade de deglutição, diminuição do reflexo dovômito (BRASIL, 2001; BUSCHLE, 1985).

As manifestações musculares devidas à ação miotóxica do veneno(rabdomiólise) (BISTNER, 1996; CARDOSO et al, 2003; COOK, 1996), sãocaracterizadas por dores musculares generalizadas (mialgias) que podemaparecer precocemente com dor na região cervical posterior(BARRAVIERA, 1990; ELLENHORN, 1997; GFELLER e MESSONIER,1998).

As manifestações hemorrágicas são raras e restritas a gengivorragia, poraumento do tempo de coagulação com queda do fibrinogênio plasmático(COOK, 1996; GOLDSFRANK´S et al., 1994; HABERMEHL, 1981), daprotrombina, dos fatores V, VIII e das plaquetas (BARRAVIERA, 1994).

As alterações renais costumam ocorrer entre 24 a 48 horas do acidente(BARRAVIERA, 1994). Oligúria e anúria podem estar presentes devido ànecrose tubular, que leva à insuficiência renal aguda (IRA) (COOK, 1996;MUSSE e ALMEIDA, 1986; VÊNCIO, 1988). Mioglobinúria (CARDOSO etal., 2003; ELLENHORN, 1997; JORGE e RIBEIRO, 1992). Geralmente noquarto ou quinto dia após o acidente pode ocorrer poliúria, sinal de bomprognóstico (BRASIL, 2001).

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Pode ocorrer depressão respiratória, fasciculações (BARRAVIERA, 1994;BISTNER, 1996; HABERMEHL, 1981), decorrente da paralisia damusculatura torácica, intercostal e diafragmática, complicação nãohabitual (NISHIOKA, 1994).

Manifestações gerais com sudorese, secura de mucosas, sonolência,inquietação, prostração, torpor (BARRAVIERA, 1990; CARDOSO et al.,2003) podendo chegar ao coma (BRASIL, 2001). Letargia e fraqueza(BISTNER, 1996). Pode ocorrer infecção local (OSWEILER, 1998).

6 TRATAMENTO DOS ACIDENTES CROTÁLICOS

Os soros antivenenos são o único tratamento específico para oenvenenamento por ofídios peçonhentos (BISTNER, 1996; GOYFFON eCHIPPAUX, 1990). É muito importante instituir a soroterapia o mais rápidopossível, pois sua ação neutralizante somente se verifica sobre o venenocirculante (BLOOD e HENDERSON, 1978; KURECKI e BROWNLEE, 1987;OSWEILER, 1998). Utilizar soro anticrotálico (SAC), na sua ausência podeser utilizado o soro antibotropico-crotálico (SABC). A administração seráendovenosa (EV) (AZEVEDO-MARQUES, 1994; BLOOD e HENDERSON,1978; CARDOSO et al., 2003), diluído de 5 – 10% em solução fisiológicaou glicosada (CAMPBELL e LAMAR, 1989; COOK, 1996) ou diretamente,sem diluir, gota a gota, com pré-medicação de hidrocortisona EV; maleatode dextroclorfeniramina (CUPO, 1994; BRASIL, 2001).

O soro deve ser injetado de uma só vez, nunca parcelado em dosesconsecutivas (CAMPOS et al., 1987). Atentar para os pacientes jovens oucom baixo peso corporal, a fim de evitar alterações cardiorrespiratórias(BRASIL, 2001). Alternativamente, se a administração EV for inviável,utilizar a via subcutânea (SC) (CAMPBELL e LAMAR, 1989), mas atentarpara a lenta absorção (CARDOSO et al., 2003). A aplicação IM(intramuscular) deve ser evitada, devido ao grande volume de soro a seraplicado (CARDOSO et al., 2003). Não se aplicar o soro no local da picada,pois os tecidos ao redor estão lesionados, impedindo a absorção do antídoto.Além do mais não existe comprovação científica de que se injetado nestelocal, se neutralize rapidamente a ação do veneno (AZEVEDO-MARQUES,1994; BARRAVIERA, 1994; BISTNER, 1996; CARDOSO et al., 2003;NISHIOKA, 1994).

A administração do soro não está relacionada nem com a idade, nemcom o peso do paciente (BARRAVIERA, 1994; COIMBRA, 1982; NISHIOKA,1994; OSWEILER, 1998). Os soros antivenenos são mais efetivos se foremadministrados antes das 4 primeiras horas do acidente. Sua efetividadediminui quando se administra depois de 8 horas e sua eficácia équestionável depois de 24 horas (KURECKI e BROWNLEE, 1987).

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Os acidentes são classificados de moderados a graves (MUSSE e ALMEIDA,1986). A dose de soro administrada deve ser suficiente para neutralizar aquantidade de veneno inoculada (AZEVEDO-MARQUES, 1994; COIMBRA,1982; NISHIOKA, 1994), em doses para neutralizar 150 mg de venenonos acidentes classificados como moderados e 300 mg nos graves(BARRAVIERA, 1990; BUSCHLE, 1985; DUCAN et al., 2004).

Recomenda-se manter uma hidratação adequada a fim de prevenir ainsuficiência renal (BRASIL, 2001; CUPO, 1994). A diurese osmótica sepode induzir com solução de manitol a 20% (BARRAVIERA, 1990;ELLENHORN, 1997). Caso a oligúria persista, se recomenda a utilizaçãode furosemida EV (BRASIL, 2001; NISHIOKA, 1994). O pH urinário devemantido de acordo com cada espécie animal. Alcalinizar a urina(BARRAVIERA, 1994; ELLENHORN, 1997; NISHIOKA, 1994) com NaHCO3al 5% (BARRAVIERA, 1990) e fazer o controle gasométrico (BRASIL, 2001;PINHO e PEREIRA, 2001). A função renal deve ser monitorada pela análiseda creatinoquinasa (CK) e das aldolases (CAMPOS et al., 1987; GOYFFONe CHIPPAUX, 1990). Manter a diurese e tratar a IRA, como qualquer outraetiologia (BRASIL, 2001; GFELLER e MESSONIER, 1998); diálise peritoneale hemodiálise (CAMPBELL e LAMAR, 1989; ELLENHORN, 1997; VÊNCIO,1988).

Assistência respiratória e medidas contra o choque. Restauração da volemiacom hidratação adequada (BISTNER, 1996; GFELLER e MESSONIER,1998; NISHIOKA, 1994; OSWEILER, 1998), expansores (KURECKI eBROWNLEE, 1987) como soro fisiológico ou solução de Ringer lactato(BRASIL, 2001; CAMPBELL e LAMAR, 1989; GOLDSFRANK´S et al., 1994).

Para a dor utilizar analgésicos do tipo paracetamol (GFELLER eMESSONIER, 1998; NISHIOKA, 1994; RUSSEL et al., 1997) por via oral,evitando o uso de aspirina que além dos problemas gástricos pode induzira sangramentos em pacientes com alteração na coagulação (CAMPBELLe LAMAR, 1989; COOK, 1996; ELLENHORN, 1997). Não se recomenda ouso de depressores do SNC (BARRAVIERA, 1994). Complementarmentese recomenda a administração de cimetidina ou ranitidina, EV senecessário (BRASIL, 2001; CUPO, 1994).

Realizar a profilaxia de tétano (BLOOD e HENDERSON, 1978; CARDOSOet al., 2003; DUCAN et al., 2004; ELLENHORN, 1997; OLSON, 1994;RUSSEL et al., 1997). Estudos da microflora bacteriana da boca dasserpentes demonstram a existência de vários representantes do gêneroClostridium sp. (BRASIL, 1991).

Tratar a infecção secundária (BLOOD e HENDERSON, 1978) se a mesmaocorrer, mas NÃO se recomenda a antibioticoterapia profilática (BRASIL,1991; CARDOSO et al., 2003; KURECKI e BROWNLEE, 1987), a não serbanhos anti-sépticos no local da picada (CAMPOS et al., 1987;ELLENHORN, 1997). Nos casos de infecção secundaria os antimicrobianosque tem demonstrado eficiência são aqueles com atividade sobre bacilos

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gram-negativos, gram-positivos e anaeróbios, tais como, cloranfenicol eamoxicilina associada a ácido clavulânico (CARDOSO et al., 2003).

As alterações neurológicas e renais são completamente reversíveis(NISHIOKA, 1994). O paciente deve ser mantido em observação por umtempo mínimo de 24 (CAMPBELL e LAMAR, 1989; ELLENHORN, 1997;RUSSEL et al., 1997) a 72 horas (CARDOSO et al., 2003; PINHO e PEREIRA,2001).

7 ANÁLISES LABORATORIAIS NOS ACIDENTES CROTÁLICOS

Recomenda-se a monitorização laboratorial sangüínea, como hemograma,fibrinogênio, plaquetas, tempo de protrombina (TP) e tromboplastinaparcial ativado (TTPA) e tempo de coagulação (TC), exame comum deurina (EQU), uréia, creatinina, eletrólitos e creatinoquinase (CK) oucreatinofosfoquinase (CPK) (BISTNER e FORD, 1996; CARDOSO et al.,2003; KURECKI e BROWNLEE, 1987). As análises laboratoriais nosacidentes crotálicos mostram um incremento significativo do tempo decoagulação (TC) (BRASIL, 2001; ROSENFELD, 1961) que pode serincoagulável ao redor de 40% dos acidentes (BRASIL, 2001; PINHO ePEREIRA, 2001; ROSENFELD, 1961).

O diagnóstico do envenenamento pode ser comprovado pela elevaçãodos valores séricos da CPK, CK e lactato desidrogenasa (LDH) (BRASIL,2001; ELLENHORN, 1997; RUSSEL et al., 1997), aspartato amino-transferasa (AST) (nas primeiras 24 horas) (BARRAVIERA, 1994),alanina aminotransferase (ALT) e aldolasas (BRASIL, 2001; COOK,1996; CUPO, 1994) e da transaminasa glutámico (GOT) (BARRAVIERA,1990; CAMPBELL e LAMAR, 1989). Os níveis séricos de CK ou CPKaumentam nas primeiras fases do envenenamento, em geral de 4 a 8horas depois do acidente. A GOT se eleva nas primeiras 24 horas,seguido de um incremento da LDH que tem um pico entres 48 e 72horas, e que pode servir como complemento de um diagnostico tardiodo envenenamento crotálico (BRASIL, 2001; BARRAVIERA, 1990;PINHO e PEREIRA, 2001).

O aumento dos níveis de uréia, creatinina, ácido úrico, fósforo, potássio ea diminuição da calcemia, são igualmente esperados (BRASIL, 2001;ELLENHORN, 1997; GFELLER e MESSONIER, 1998). Pode haverprotenúria sem hematúria (CARDOSO et al., 2003) e glucosúria discretas(BARRAVIERA, 1990). O hemograma pode mostrar leucocitose comneutrofilia e desvio a esquerda (BRASIL, 2001; CAMPBELL e LAMAR,1989). A mioglobina pode ser detectada pelo teste de benzidina ou pelastiras reagentes para uroanálise, que dão reação igualmente positiva parahemoglobina (CARDOSO et al., 2003).

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8 COMPLICAÇÕES

A microflora oral dos ofídios, constituída fundamentalmente por bactériasanaeróbicas (Clostridium spp.) (BRASIL, 1991), os bacilos gran-negativos(Morganella morganii, Escherichia coli, Providentia rettgeri, Enterobacter eStreptococo do grupo D) e cocos gram-positivos associadas aosmicroorganismos da flora cutânea, predispõe às infecções (BRASIL, 2001;CARDOSO et al., 2003).

A insuficiência renal aguda tem uma patogenia de origem multifatorialainda não identificada. É uma complicação grave dos envenenamentoscrotálicos (BARRAVIERA, 1990; NISHIOKA, 1994; PINHO e PEREIRA,2001). As lesões renais podem ocorrer pela ação direta do veneno sobre oendotélio vascular renal provocando necrose e síndrome do néfron inferior(ROSENFELD, 1961); pela ação coagulante do veneno que ocasiona aformação de microcoagulos capazes de causar isquemia renal pelaobstrução da microcirculação, desidratação ou hipotensão arterial echoque. A IRA ocorre freqüentemente nos casos graves tratadostardiamente ou de forma inadequada (BRASIL, 2001; GOYFFON eCHIPPAUX, 1990). Nos acidentes crotálicos estas manifestações podemocorrer nas primeiras 48 horas (BARRAVIERA, 1990; NISHIOKA, 1994).

A desidratação e a provável ação nefrotóxica direta dos venenos crotálicos,deve também contribuir para a patologia que pode ter um curso gravedevido ao hipercatabolismo conseqüente da miotoxicidade do veneno,elevando rapidamente os níveis séricos da creatinina, uréia, fósforo epotássio (AMARAL, 1937; BRASIL, 2001). Possivelmente os mecanismosque conduzem à necrose tubular aguda, estão relacionados com umahipotensão prolongada, como conseqüência da coagulação intravasculardisseminada, pela ação direta dos venenos nos túbulos renais, pelamioglobinúria e pela hipercalcemia (COOK, 1996).

9 PROGNÓSTICO DOS ACIDENTES CROTÁLICOS

A evolução favorável dos acidentes ofídicos dependerá das condiçõesnutricionais, idade do paciente, quantidade de veneno inoculado e dotratamento instituído de forma mais precoce ou tardia (BRASIL, 2001;BARRAVIERA, 1994; OSWEILER, 1998).

O prognóstico destes acidentes pode ser considerado bom nos casosclassificados como moderados e reservado se ocorrer IRA (BRASIL, 2001).As lesões neurológicas, como ptose palpebral, diminuição ou perda da visão,desaparecem sem deixar vestígios, de igual maneira que as lesões renais(BARRAVIERA, 1990; NAHAS et al., 1963; ROSENFELD, 1961) depois dotratamento especifico. Os sintomas neurológicos desaparecem entre oterceiro (BRASIL, 2001; COOK, 1996) e o quinto dia (BUSCHLE, 1985).

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Os óbitos podem ocorrer devido a insuficiência renal aguda. Não havendodano renal a urina adquire sua coloração habitual em uno ou dois dias.Se tratada adequadamente o prognóstico geralmente é bom, comrecuperação funcional com uma media de quatro semanas (BRASIL, 2001).

10 CONCLUSÕES

A gravidade dos acidentes causados por serpentes do gênero Crotalusdepende da espécie animal envolvida, do tamanho ou peso do animal, dotempo entre a picada e o atendimento, da quantidade de veneno inoculado,do local da inoculação, bem como da intensidade dos sintomas. Asoroterapia específica é o único tratamento existente para picada porCrotalus sp. e deve estar em acordo com as necessidades da classificaçãodo acidente, baseada nos sintomas clínicos e associada aos resultados dasanálises laboratoriais. A evolução favorável do envenenamento crotálicodependerá da precocidade do tratamento adequadamente instituído, damanutenção dos sinais vitais, bem como da funcionalidade do sistemarenal do paciente.

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NORMAS EDITORIAIS

POLÍTICA E REGRAS GERAIS

A revista VETERINÁRIA EM FOCO, publicação científica da UniversidadeLuterana do Brasil (ULBRA), com periodicidade semestral, publica arti-gos científicos, revisões bibliográficas, relatos de casos e notas técnicasreferentes à área de Ciências Veterinárias, que a ela deverão ser destina-dos com exclusividade. É editada sob responsabilidade do Curso de Medi-cina Veterinária da Ulbra.

Os artigos científicos, revisões bibliográficas, relatos de casos e notas de-vem ser enviados em tres cópias redigidas em computador, em word, fon-te 12, Times New Roman, espaço duplo entre linhas, folha tamanho A4(21,0 x 30,0 cm), margem direita 2,5cm e esquerda 3cm. As páginas de-vem ser numeradas e rubricadas pelos autores. Os trabalhos devem seracompanhados de ofício assinado pelos autores.

Os artigos serão submetidos a exame por 3 pesquisadores com atividade nalinha de pesquisa do tema a ser publicado, tendo a Revista o cuidado de man-ter sob sigilo a identidade dos autores e dos consultores. Disquetes serão soli-citados após a submissão dos trabalhos e aprovação pelos consultores.

1- O artigo científico deverá conter os seguintes tópicos: Título(em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Keywords; INTRODUÇÃO (com revisão da literatura); MATERIAL EMÉTODOS; RESULTADOS E DISCUSSÃO; CONCLUSÃO; AGRADE-CIMENTOS; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

2- A revisão bibliográfica deverá conter: Título (em português einglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words;INTRODUÇÃO; DESENVOLVIMENTO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS.

3- A nota deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO;Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; seguido do texto, sem sub-divisão, abrangendo introdução, metodologia, resultados, discussãoe conclusão, com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

4- O relato de caso deverá conter: Título (em português e inglês);RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO(com revisão de literatura); RELATO DO CASO; RESULTADOS EDISCUSSÃO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Título

Deve ser claro e conciso, em caixa alta e negrito, sem ponto final, emportuguês e inglês.

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Autores

Deve constar o nome por extenso de cada autor, abaixo do título, seguidode informação sobre atividade profissional, maior titulação e lugar/anode obtenção, Instituição em que trabalha, endereço completo e E-mail.

Resumo e Abstract

O resumo deve ser suficientemente completo para fornecer um panorama ade-quado do que trata o artigo, sem, porém, ultrapassar 350 palavras. Logo após,indicar as palavras-chave / key words (mínimo de três) para indexação.

Citações e Referências Bibliográficas

Citações bibliográficas no texto deverão constar na INTRODUÇÃO, MA-TERIAL E MÉTODOS E DISCUSSÃO no artigo científico, conforme exem-plo: um único autor (SILVA, 1993); dois autores (SOARES & SILVA, 1994);mais de dois autores (SOARES et al., 1996). Quando são citados mais deum trabalho, separa-se por ponto e vírgula dentro do parênteses (SOA-RES, 1993; SOARES & SILVA, 1994; SILVA et al., 1998).

Referências devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabe-ticamente pelos sobrenomes dos autores, elaboradas conforme a ABNT(NBR-6023).

Tabelas e Figuras

As Tabelas e Figuras devem ser numeradas de forma independente, comnúmeros arábicos. As Tabelas devem ter o título acima das mesmas, escri-to em letra igual à do texto, mas em tamanho menor.

As Figuras devem ter o título abaixo das mesmas.

Tabelas e Figuras podem ser inseridas no texto.

Endereço para correspondência

Revista VETERINARIA EM FOCO

Av. Farroupilha, 8001 - Predio 14 - Sala 127

São José / RS - Brasil

CEP: 92425-900

E-mail: [email protected]

Disponível eletronicamente

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