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Edição Comemorativa de 9 Anos

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ANÚNCIO JCPM Revista Nordeste 6 final.pdf 1 8/11/15 14:53

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ANÚNCIO JCPM Revista Nordeste 6 final.pdf 1 8/11/15 14:53

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Chico Salles canta Rosil do BrasilEntrevista exclusiva com o cantor e compositor Chico Salles que fala sobre o seu novo CD

60 anos de avançosMatéria especial conta a história da UFPB, aponta avanços e desafios e traz entrevista exclusiva da reitora Margareth Diniz

Governo manterá o foco na regionalização da mídiaEm entrevista exclusiva ministro das comunicações, Edinho Silva, explica como funciona a distribuição das verbas de mídia do Governo Federal

Geopolítica do Nordeste expõe caras novas e progressistasAnálise aponta como novos nomes da política do Nordeste, com vínculos partidários à esquerda, têm desenvolvido seus governos. Do Maranhão à Bahia governadores expõem nova forma e mentalidade de lidar com a administração pública

Um ano sem Eduardo CamposHomenagem ao nascimento e morte do ex-governador de Pernambuco leva líderes da oposição e situação a fazem ato político

As vocações e desafios do Nordeste Na edição de aniversário da Revista NORDESTE economistas, sociólogos e cientistas traçam um painel sobre a realidade econômica, social e tecnológica da região

Política

Cultura

Caderno Especial

56

8

124

35

Entrevista

Capa

Seções6. Leitor7. Imagem Brasil

14. Plugado Walter Santos16. Opinião Flávio Dino28. Opinião Torquato Neto34. Opinião Ipojuca Pontes

22

Índice

30 Revista NORDESTE Agosto/20154

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A Democracia brasileira se mantém firme no seu propósito de seguir o rumo histó-rico abrigando diferenças e até conflitos de ideias e interesses entres setores na-cionais, mesmo assim sem se afastar da

lógica racional de que, apesar de tudo, precisamos res-peitar as regras do jogo democrático.

Esta é a essência do papel que devem jogar todos os Poderes e representações da sociedade civil ou militar, porque, do contrário, seria retroceder na mais impor-tante conquista recente que foi a redemocratização.

É importante que as manifestações possam ganhar as ruas, como os atos públicos dos dias 16 e 20 de agosto. O primeiro já mostrando um certo esvaziamento do movimento pautado pela oposição. Entretanto, qual-quer que seja o grau de exposição dos interesses sociais nada pode interromper o ciclo gerado pela disputa pre-sidencial do ano passado.

Ao que tudo indica, cada vez mais continuada, im-portantes setores da sociedade resolveram se manifes-tar também focando na necessidade de superação da crise política que tem sido motor para artificialização do problema na área econômica.

Ao Governo Federal, como aos partidos políticos in-cluindo os de Oposição, resta o cumprimento legal de cada missão oferecida pelo processo democrático fa-zendo existir normas e/ou iniciativas para a superação da crise, já que sua manutenção só interessa aos que

POLÍTICA

HORA dE BOm SENSO E GOvERNABILIdAdE

Walter SantosDiretor Presidente da Revista [email protected]

18

A volta por cima de dilmaA presidenta Dilma Rousseff consegue ampliar apoios entre empresários, sindicalistas e partidos e isolar Eduardo Cunha

estão contra o país. Chegou a hora! Mesmo com tempo estendido da crise desde o inicio do ano, chegou a hora da retomada dos procedimentos normais nos vários pla-nos de representação da sociedade. Cabe ao governo Dil-ma o papel de estimular o diálogo com todos, bem como a efetivação, de comum acordo com o Congresso Nacio-nal, das medidas que possam fazer com que a economia brasileira retome o seu curso natural.

Editorial

Revista NORDESTEAgosto/2015 5

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Leitor

diretor Presidente Walter Santos

diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos

diretor Comercial Pablo Forlan Santos

diretor de marketing Vinícius Paiva C. Santos

Logística Yvana Lemos

COmERCIALGerente Comercial

Marcos Paulo

REPRESENTANTEPernambuco

Gil Sabino [email protected] - Fone: (81) 9739-6489

REdAÇÃOEditor

Paulo DantasRepórter

Luan Matias e Pedro Calladodireção de Arte, Editoração Eletrônica

e Edição de Imagens Luciano Pereira

CapaVinícius Paiva C. Santos

Projeto visual Nordeste Comunicação

ATENdImENTO/ FINANCEIROSupervisora e Contas a Pagar

e Contas a Receber Milton CarvalhoContabilidade Big Consultoria

ASSINATURAS(83) 3041-3777

Segunda a sexta, das 8 às 18 horaswww.revistanordeste.com.br/assinatura

CARTAS PARA REdAÇÃ[email protected]

PARA ANUNCIARLigue: (83) 3041-3777

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SEdE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro

João Pessoa / PBCep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777

ImpressãoGráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João

Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200Circulação

DPA Consultores Editorias [email protected] - Fone: (11) 3935 5524

distribuição FC Comercial

A Revista NORdESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-ME

CNPJ: 19.658.268/0001-43

Ano 9 | Número 105 | Agosto | 2015

Carlos TorresSociólogo

aniTa de CasTroProfessora Fortaleza/CE Capa da Edição 104/Julho

Edinho SilvaMinistro das Comunicações do Brasil

NORdESTE On-lineFacebook: Revista NordesteTwitter: @RevistaNordeste

E-mail: [email protected]:www.revistanordeste.com.br

Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para:

[email protected] Agradecemos a sua participação.

“Fui tomado de um sentimento de que tem ações no mundo editorial de alto valor como é o caso de vossa publicação. Fantástica!

A violência no Brasil é algo que assombra. A matéria “A Barbárie no Nordeste” traça um painel ao mesmo tempo triste e pavoroso da situação. O problema não é só investimento do estado, é conjuntural. Ótima matéria

Paulo CâmaraGovernador de Pernambuco

É preciso apoiar iniciativas vanguardistas como da revista

Eu quero dar os parabéns a vocês. Primeiro os parabéns a você (Walter Santos) pela sua coragem nesses nove anos. Pela sua coragem e determinação e construir um veículo de comunicação que divulgue e mostre o Nordeste brasileiro, pois assim é um veículo importante para o nosso país. Certamente vemos com bons olhos, com muita alegria o Nordeste ter um veículo de credibilidade que dialogue com as instituições e com o povo nordestino

A entrevista com o ministro do Turismo na edição de Julho foi muito boa. Sabemos do alcance e da importância da Revista NORDESTEObrigado por esclarecer sobre a

doença de Pompe na matéria “Mal Genético”. Se possível gostaria de saber onde procurar tratamento em caso de suspeitas

Gostaria que vocês abordassem sobre as dificuldades de acesso dos novos escritores do nordeste a publicação de livros de ficção. Hoje, grande parte dos investimentos das editoras está no sul/sudeste

Cláudio HenriquesVendedorMaceió/AL

darse Júnior Assessor de imprensaMinistério do Turismo

João de albuquerque AposentadoJuazeiro/BA

Revista NORDESTE Agosto/20156

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O persOnagem dO bOm sensOem são paulo tem sido comentado o posicionamento do presidente do bradesco, Luiz Carlos Trabuco, como um dos primeiros que advertiram os partidos políticos, sociedade organizada e a grande mídia, para dar um basta nesta crise política.

Imagem BRASIL

Revista NORDESTEAgosto/2015 7

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GOvERNO mANTERá O FOCO NA REGIONALIzAÇÃO dA mídIAPor WALTER SANTOS

Entrevista EdINHO SILvA, mINISTRO dA COmUNICAÇÃO

atual ministro-che-fe da Secretaria de Comunicação So-cial (Secom) Edinho Silva é sociólogo e

professor. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, o ministro já foi ve-reador, deputado estadual e prefeito

O de Araraquara. Foi tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2014. Na função desde junho, o ministro tem enfrentando um verdadeiro furacão que vem sen-do estabelecido no país, com man-chetes quase diárias sobre uma crise econômica e política, inclusive com

pedidos de impeachment da pre-sidenta Dilma Rousseff (PT). Boa parte da crise, segundo setores do próprio PT, partem do que seria uma mídia comprometida com a oposição e com o desejo explícito de destruir as chances do PT se manter no poder com uma possível candi-datura de Lula em 2018.

Na entrevista concedida com ex-clusividade à Revista NORDES-TE, o ministro vai noutra verten-te e nega que o país esteja vivendo uma crise política. Silva considera normal a expressão de posições di-vergentes, apesar de reconhecer que existem veículos da grande mídia, TVs, revistas e jornais, que optaram por uma posição de ataque, refletin-do o que chama de posições hege-mônicas da oposição. Entretanto, o ministro nega que essa mudança tenha se dado por conta de algum corte em verbas de publicidade fe-deral feito a partir do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos veículos tradicionais da mídia brasi-leira. Silva garante que a distribui-ção das verbas para publicidade do Governo Federal obedecem crité-rios técnicos, mas admite que esse formato tem sofrido mudanças ao longo dos anos, pela própria dinâ-mica dos novos tempos. O ministro também garante que não faz parte das prioridades do governo uma re-gulação da Imprensa no Brasil. O foco agora é agenda positiva, pós Ajuste econômico. Confiram!

Revista NORDESTE Agosto/20158

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Revista NORdESTE: o Brasil vive uma realidade em que existem dois cenários em evidência. Uma crise política exposta em setores do Con-gresso nacional contra o governo e outra que é baseada na postura da mídia no trato dessa crise econô-mica e política. Quando o governo vai ter um diálogo com a mídia para evitar essa artificialização da crise?Edinho Silva: Primeiro eu penso que do ponto de vista político nós não estamos vivendo uma crise. É natu-ral num regime democrático, como o regime brasileiro, que é uma das maiores e mais robustas democracias do planeta, é natural que você tenha o contraditório e posições divergentes. É natural que você possa ter no co-tidiano a expressão de pensamentos que tenham uma concepção diferente de país e de nação. Portanto, o gover-no vê com naturalidade que essas di-vergências possam se expressar. Cla-ro que nós gostaríamos que muitas vezes aqueles que pensam diferentes colocassem em primeiro plano os interesses nacionais. Que pudessem fazer oposição, mas com maturida-de. Que pudessem fazer oposição sem estar buscando a todo momento criar instabilidade. Nós gostaríamos, portanto, que a oposição fosse dura, de debate de ideias, que expressasse as divergências, mas que fosse uma oposição que entendesse a importân-cia do país fortalecer a democracia, fortalecendo as suas relações institui-ções. Mas do ponto de vista econô-mico o Brasil... Em 2008 nós tivemos o início de uma crise internacional. Já naquela época nós dizíamos que para que a economia mundial reto-masse o crescimento, retomasse uma dinâmica onde o mundo voltasse a crescer de forma homogênea, o Bra-sil tomou todas as medidas necessá-rias naquele período para que a nossa economia não fosse arrastada para o centro dessa crise. Nós fortalecemos as relações econômicas internas, es-

timulamos para que o Brasil tivesse uma capacidade de geração e distri-buição de riquezas muito estrutura-do nas nossas relações econômicas internas. Portanto, o Brasil naquele momento investiu muito, irrigou o crédito e fortaleceu o sistema pro-dutivo para que nós não fôssemos ar-rastados para o centro da crise. Neste momento que nós estamos iniciando hoje o mundo ainda não retomou o seu crescimento. Nós estamos vendo a dificuldade da economia america-na de responder a crise. Nós estamos vendo a economia chinesa passando por dificuldades gravíssimas. Mesmo nos BRICS, certamente o Brasil tem um dos melhores posicionamentos

dentro dos BRICS. Portanto, o Brasil por mais que mundo esteja passando por dificuldades e nós tenhamos que nesse momento fazermos ajustes para que possamos retomar o crescimen-to econômico. Mesmo assim, se nós compararmos a situação brasileira ela é muito mais favorável que muitos países, inclusive países que estão no mesmo estágio, do momento econô-mico que o Brasil. Evidente que é um momento de dificuldades, mas é um momento que o Brasil está tomando as medidas corretas, para que o país possa, num curto espaço de tempo, retomar o crescimento econômico como geração de emprego e distri-buição de renda.

Fotos: Divulgação

“NA HISTóRIA BRASILEIRA NÃO TIvEmOS Um GOvERNO qUE ENxERGASSE O NORdESTE COm TANTA dIGNIdAdE”

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NORdESTE: Mas setores da mídia tem um posicionamento que às ve-zes coincide, ou aparenta, estar to-mando o papel de partidos políticos da oposição. o senhor não identifica isso?Silva: Sim. Tem setores da mídia que acabam se deixando hegemonizar por posições político-partidárias. Isso não é bom. Isso é ruim. O ideal é que nós possamos ter a mídia analisando fatos, divulgando fatos. Abrindo es-paço, inclusive, para as contradições de pensamento. Muitas vezes nós presenciamos matérias que são divul-gadas onde não têm lastro em fatos e muitas vezes elas são unilaterais, porque não há o direito do debate de ideias. Portanto, não tem o pen-samento, nem a posição divergente. Na mídia você não tem o outro lado, que é um dos princípios da Impren-sa. A Imprensa democrática sempre tem o outro lado. Infelizmente, mui-tas vezes além das matérias não te-rem o lastro em fatos reais, elas não proporcionam o outro lado. Mas eu repito, no meu entender é um setor minoritário da Imprensa brasileira e nós acreditamos muito que vamos superar esse nível de embate interno que nós estamos vivenciando com muito diálogo e muita capacidade de fortalecer os nossos instrumentos democráticos.

NORdESTE: desde o primeiro ano do governo lula que o governo pe-tista reclama desse tratamento de-sigual. Como os senhores tratam esses setores que continuam fazen-do um posicionamento editorial que não é plural, como é o caso de al-guns veículos como a veja, fazendo uma oposição direta e sistemática ao governo?Silva: Encaramos com naturalida-de. Claro que numa democracia, eu penso que você tem que lidar com todas as posições de impren-sa, inclusive aquelas, como eu já

disse, que se deixam hegemonizar por posições político-partidárias. O governo tem que lidar com na-turalidade e cada vez mais acreditar que a melhor forma de retorno que possa existir é o senso crítico. É a capacidade das pessoas raciocina-rem, refletirem, e intenderem o que é uma matéria séria, jornalística e o que é uma matéria que na verdade expressa uma posição político-par-tidária. Eu penso que o leitor, o ou-vinte, as pessoas que se informam por meio da televisão e por meio da internet, cada vez mais elas vão aprimorando o senso crítico e vão certamente conseguindo fazer a di-

ferença entre o que é notícia e o que é luta político-partidária.

NORdESTE: o senhor conversa com a veja, a Rede Globo... Com os veícu-los que em determinado momento tomam posição contra o governo?Silva: Eu tenho conversado com to-dos, com os editores do Blogs, com editoria das grandes revistas, das re-vistas regionais, com os órgãos de Imprensa. Já reuni aqui todas as en-tidades representativas dos jornais re-gionais, dos jornais do interior como eles gostam de ser chamados. E tam-bém dialogo com a grande Imprensa. Com as revistas, TVs e rádios mais

Revista NORDESTE Agosto/201510

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tradicionais. Eu penso que o pa-pel do governo é estar aberto ao diálogo com to-dos os veículos de comunicação, sejam regionais ou de grande cir-culação.

NORdESTE: a Secom traba-lha com recur-sos volumosos e que antes do governo lula se destinavam aos grandes veícu-los do sudeste, praticamente. a partir da era lula houve uma descentraliza-ção, embora o critério técnico esteja prevale-cendo. o senhor acha que esse é um dos fatores que tem gera-do a crise entre os governo e as empresas de

Comunicação?Silva: Eu não consigo enxergar um fato que seja originário no caso dessa Imprensa que infelizmente fez uma opção político-partidária. Eu repito, o governo não enxerga isso como pro-blema nenhum e acreditamos que o principal vetor é o senso crítico. Acre-ditamos muito que a sociedade tenha amadurecido muito a sua capacidade de ponderação e de leitura dos fatos. Quando falamos em critério técni-cos, o governo trabalha com critério que são normatizados. Portanto, não é aqui a vontade do ministro que esta-belece para onde os recursos vão. Tem uma normatização com amparo legal.

Evidente, que essa é uma normati-zação que pode ser mudada, como eu penso que ela pode ser mudada e adequada a todo o momento, porque a mídia tem mudado muito. O peso dos veículos e dos modais têm sido alterados a todo o momento. Mas nós temos uma normatização. O que é bom, porque você foge da subjeti-vidade. Aqui nenhum gestor escolhe um veículo pela sua vontade. Pela sua subjetividade para destinar recursos. Tem uma normatização que é técnica e nós a seguimos. O que nós temos feito e vamos continuar fazendo, é investir muito na regionalização. Por quê? O Brasil é um país com uma diversidade social, econômica e polí-tica muito grande. Portanto, quanto mais nós regionalizarmos respeitando essa diversidade, mais eficiente será a nossa comunicação. Então eu quero continuar defendendo a regionaliza-ção, trabalhando pela regionalização, para que nós possamos ter cada vez mais uma eficiência no alcance do nosso objetivo que é fazer com que a informação do governo chegue ao conjunto da sociedade brasileira.

NORdESTE: Tem uma palavra qua-se sinônima de normatização que é regulação. Esse aspecto têm deixa-do alguns veículos de comunicação assanhados que contra-argumen-tam que vêm aí uma perspectiva de censura. Como o senhor encara esse discurso e quando o governo vai colocar em discussão a regula-ção econômica do setor?Silva: A normatização que eu estou dizendo é a normatização na distri-buição de recursos, ou seja, o gover-

“A REGULAÇÃO NÃO ESTá NESTE mOmENTO NA AGENdA. ESTAmOS PRESTES A SUPERAR O AjUSTE PARA qUE POSSAmOS ENTRAR NA AGENdA dA RETOmAdA dO CRESCImENTO ECONômICO”

no hoje segue, e não é de hoje, uma norma. Ela é muito antiga. Ela se remete a outros governos e que vem seguindo o aprimoramento. Essa nor-ma técnica se estabelece com um vo-lume de recursos. Nenhum governo pode ter dogma, portanto ele não tem que deixar de debater nenhum tema. Mas evidente que neste momento, por mais que se debata, essa não é uma questão que está na agenda do governo neste momento.

NORdESTE: a regulação não está?Silva: Neste momento não. O gover-no tem enfrentado a questão econô-mica. Nós temos que continuar com a aprovação do Ajuste. Estamos prestes a superar a agenda do Ajuste para que possamos entrar na agenda da reto-mada do crescimento econômico. Nós lançamos agora o Plano Safra, o Pla-no do Programa de Investimento em Logística, lançamos o Programa de Apoio as Exportações, o Programa de Apoio a Agricultora Familiar. O governo melhorou a regulamenta-ção das relações de trabalho para as empregadas domésticas. Respondeu de forma muito coerente a crise vi-venciada pelos caminhoneiros. É um governo que renovou a sua política do salário mínimo, mexeu na tabela do Imposto de Renda favoravelmente. É um governo que enfrentou um debate ouvindo os trabalhadores, mas com muita responsabilidade administrati-va, o debate do Fator Previdenciário. É um governo que em breve entra numa agenda de lançar mais uma fase do Minha Casa, Minha Vida. É um go-verno que lança ainda neste semestre o programa da Banda Larga. É um

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governo que tem uma preocupação nos investimentos do Brasil, nós te-mos aí quase R$ 200 bilhões de reais em investimentos em infraestrutura. Claro que essa é a agenda! A agenda prioritária do governo é a retomada do crescimento econômico, geração de emprego e nós continuarmos fa-zendo com que o Brasil cresça com distribuição de renda. Nós tivemos agora um balanço de 5 milhões de mi-croempreendedores individuais. De-vemos fazer um balanço no próximo período, extremamente positivo, do Mais Médicos. Então tem uma agen-da que neste momento toma conta dos esforços do Governo Federal.

NORdESTE: o nordeste tem sido decisivo na trajetória da presiden-ta, na sua eleição. no início da cri-se os governadores se reuniram a apoiando e houve outro gesto nes-sa direção, recentemente. o que a presidenta sinaliza, após esse ajuste Fiscal, no alinhamento do apoio que os governos do nordes-te têm dado a ela ao longo desse tempo?Silva: Olha, na história brasileira não tivemos um governo que enxer-gasse o nordeste com tanta dignida-de como os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma. O que foi investido no Nordeste é histórico. São governos que mudaram respec-tivamente a vida do povo nordestino e não só com as ajudas emergenciais que são importantes. Mas mudou enxergando o nordeste como um região com capacidade de desenvol-vimento econômico. Com capaci-dade de ancorar cadeias produtivas importantes para o nosso país. Um governo que enxergou o nordeste como porta de saída para as expor-tações brasileiras. Um governo que investiu pesado levando universida-des, escolas técnicas, infraestrutura. Portanto, são governos que efetiva-mente mudaram a vida do povo nor-

destino. E essa vai continuar sendo a lógica desse governo até 2018.

NORdESTE: Como fica a relação com o presidente da Câmara, após o rompimento com Governo, de-pois que ele foi alvo de denúncias feitas pela operação lava Jato da Polícia Federal? Silva: Eu penso que nós não pode-mos entrar nessa dinâmica. A posi-ção do governo é o seguinte: Nós en-tendemos que o presidente Eduardo Campos vive um momento difícil. A posição do governo é que todo mun-do que recebe uma acusação tem o direito de defesa. Esse é o princípio da democracia. É o respeito dos pila-

res do estado democrático de direito. O governo espera que o presidente da casa possa o mais rápido possí-vel elaborar a sua defesa e exercer o seu direito de defesa. E nós vamos continuar, enquanto governo, cons-truindo uma agenda de governo. Uma agenda onde a presidenta Dil-ma possa viajar pelo país mostrando tudo aquilo que está sendo feito no Brasil. A presidenta vai continuar dialogando com o Legislativo Brasi-leiro, tanto com a Câmara, quanto com o Senado. Portanto, vai conti-nuar trabalhando. E esperamos que o presidente Eduardo Cunha supere o mais rápido possível esse momen-to que ele está enfrentando.

“EU PENSO qUE dO PONTO dE vISTA POLíTICO NóS NÃO ESTAmOS vIvENdO UmA CRISE”

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AN_Sao_Braz_DIA dos PAIS_202x266mm.indd 1 12/08/2015 15:36:29

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Chamou a atenção o fato do ex-sena-d o r d o D E M /SC, Jor-

ge Bornhausen, ter estado como convidado especial na cerimônia que marcou a lembrança da morte de 1 ano, em Recife, do ex-go-vernador Eduardo Campos. É que, o perfil ideológico do político catarinense se conflita com os ideários do socialismo praticado pelo PSB Brasileiro, que passa a ter um líder de Direito numa legenda à Esquerda.

PSB: embora SP resista, Ricardo Coutinho é novidadeBornhausen em Recife

Novidade nas Relações Internacionais

Os últimos meses do Partido Socialista Brasileiro (PSB) sob a presidência do veterano Carlos Siqueira têm sido de negociações, ora querendo levar a legenda aos braços do PSDB, ora buscando a fusão com o PPS – condição esta anunciada mas implodida, a partir da reação do go-vernador Ricardo Coutinho, da Paraíba, único chefe de executivo estadual com mandato renovado e contestador da posição do PSB contra o Governo Dilma Rousseff na mesma linha de postura contrária a uma composição com Roberto Freire.

Embora os diretórios de São Paulo e Rio Grande do Sul, através de Márcio França e Beto Albuquerque, se movimentem para uma composição com os tucanos em torno do governador Geraldo Alckmin, este cenário pró-PSDB acaba não reconhecendo o fato real de que, no partido, o líder em ascensão nacional até na condição de porta-voz dos governadores do Nordeste é Ricardo Coutinho.

O processo de crescimento de imagem do governador paraibano tem a ver também com o vazio causado pela morte do ex-governador Eduardo Campos sem que seus suces-sores, governador Paulo Câmara e o prefeito de Recife,Geraldo Júlio, e ainda o senador Fernando Bezerra Coelho, tenham tido capacidade de ocupar o espaço.

Como os fatos mostram, sem os Gomes (Cid e Ciro) no PSB e as derrotas de Beto Albuquerque e Casagrande no Espirito Santo, a legenda não consegue construir outro nome, senão o líder socialista da Paraíba, ultimamente crescendo com seus posiciona-mentos nacionais pro-governabilidade de Dilma e o saldo de sua gestão no Estado de forma surpreendente e positiva, apesar da crise econômica.

Seja qual for a resistência, Ricardo Coutinho é a bola da vez.

Quem acaba de assumir a titularidade da Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo é o expert Vicente Trevas, experiente curinga do Ser-viço Público, posto que já esteve em diversas missões diferentes no Governo Federal, na Caixa Econômica Federal e recentemente a PSP. Vicente Trevas foi per-seguido político exilando-se em Paris, onde teve sua formação intelectual.

BC e CooperativismoQuem resolveu ampliar as ações de instruir e qualifi-car o segmento de Coope-rativas no Brasil, em par-ticular no Nordeste, foi o Banco Central oferecendo palestras permanentes nas diversas. O BC entende que o mercado está aber-to, sobretudo na área de cooperativismo de crédi-to, favorecendo à expansão dos negócios no Nordeste, onde há registro de forte crescimento. Só a Unicred faturou R$ 3 Bi.

Plugadocom Walter sanTos

Revista NORDESTE Agosto/201514

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Tudo pronto para a edição do livro A influência do Nordeste - a relação com o Brasil e o mundo, da Edi-tora Patmus registrando as principais análises de Del-fim Netto, Tânia Barcelar, Ipojuca Pontes e Carlos Ro-berto de Oliveira.

O M i -nistro do Desenvol-vimento, Indústria e Comér-cio, Ar-mando Monteiro, decidiu fazer encontros com empre-sários em todas as Capitais nordestinas para avançar no Pós-ajuste.

P e l o m e n o s nas pes-quisas o prefeito Carlos Eduar-

do se mantém com alto ín-dice de aprovação levando-o ao patamar de pré-candida-to com chances na capital norte-riograndense. A de-cisão do governador Robin-son Faria afetará a escolha.

Quem chega à Capital fe-deral e busca informações ou adoção de projetos de inte-resse da Bahia convive com a agilidade do chefe do Escri-tório em BSB, Jonas Paulo, com resultados a curto prazo já merecendo repercussão.

Nos bastidores das negociações são registrados a cada semana lan-ces especiais promovidos pelos Governos do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte para atrair a opção da LATAN visando implantar na Capital de um desses estados a base ampliada do novo HUB da empresa aérea abrigando até voos internacionais. Diretores da companhia chileno-brasileira têm estado com fre-quência nas três capitais avaliando dados para tomada da decisão.

O Departamento mais famoso no trato e convivência com a prolongada estiagem no Nor-deste está se preparando para comemorar 105 anos de servi-ços indispensáveis, segundo o diretor geral Walter Sousa.

Usinas em crise

Nordeste, o livro

Debate no Nordeste

Disputa em Natal

A Bahia em Brasília

A “guerra” pelo novo HUB da LATAN

JCPM, agora no vinho DNOCS mira 105 anos

João Azevedo em João Pessoa

A volta de Jarbas?

Jaques Wagner na defesa

A cada dia cresce a projeção de que o Secretário de Ciên-cia, Tecnologia, Infraestrutura e Recursos Hidricos, João Azevedo, será candidato a prefeito de João Pessoa pelo PSB. Há chances.

Em Recife, onde se tem como certa a candidatura à reeleição do prefeito Geraldo Júlio, cresce a cada dia os co-mentários de que o deputado federal Jarbas Vasconcelos é nome certo para disputar a Prefeitura da cidade nas eleições de 2016.

Embora sejam muitos os co-mentários nos bastidores no sentido de apontar o ex-gover-nador da Bahia, Jaques Wag-ner, como futuro chefe da Casa Civil do Governo Dilma, esta hipótese inexiste porque a pre-sidenta não mexerá nesta Pas-ta, apesar do desejo de muitos petistas. O atual ministro da Defesa cumpre um papel de articulação maduro e consequente junto às diversas Armas. Não precisa ser especialis-

ta no setor para identificar uma fase de muita dificul-dade registrada ao longo dos últimos tempos no seg-mento sulcroalcooleiro.Passa já de 40 o número de usinas de cana-de-açúcar em condição pre-falimen-tar sem conseguir superar as dificuldades e queda de faturamento.

O empresário João Carlos Paes Mendonça está em festa com a sua nova atividade empre-sarial, agora voltada para o ramo de vinhos, já que há tempo adquiriu uma Quinta na região do Douro, em Portugal, e está com novo lan-çamento no mercado. Imperdível.

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 15

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a atual conjuntura, não tenho dúvidas de que a produção agropecuária é a principal estratégia para incremento das atividades econômicas do

nosso Estado, considerando a nossa tradição no setor, nossos recursos naturais e a capacidade de o segmen-to gerar resultados rapidamente, com um tempo mais curto de maturação dos empreendimentos. Além disso, tenho como essencial a aptidão que o setor possui de gerar trabalho e renda para milhões de pessoas, quando há uma política agrícola correta, levando aos pequenos produtores o acesso à terra e ao crédito, assistência téc-nica e apoio à comercialização.

Desde o começo do governo, avançamos muito em direção à valorização do setor agropecuário. Criamos a Secretaria da Agricultura Familiar, que na semana passada foi fortalecida com a criação da Secretaria Ad-junta de Extrativismo, reivindicada pelas quebradei-ras de côco e outros segmentos. Estamos contratando mais 90 técnicos para AGERP (assistência técnica) e 70 para o ITERMA (regularização fundiária). Temos apoiado todos os eventos da agropecuária já realizados no sul do Estado e na região tocantina. Distribuímos sementes e equipamentos agrícolas para milhares de produtores. A vacinação contra febre aftosa obteve o grande sucesso de mais de 99% do rebanho alcançado. E poderia falar mais, muito mais, a exemplo dos in-centivos fiscais à avicultura, que inauguram uma fase nova para tais empreendimentos.

Nesse conjunto de realizações, sublinho a relevância da criação do Sistema Estadual de Produção e Abas-tecimento, instrumento de planejamento e de concen-tração de esforços governamentais para crescimento da agropecuária, pesca e aquicultura no Maranhão. Nas reuniões até aqui realizadas, definimos como prioritá-rios para o Maranhão, além dos já bem-sucedidos seg-mentos da soja e do milho, os da produção do arroz, do feijão, da mandioca, do mel, do leite, de camarões e pescados, ovinos, caprinos, bovinos, hortaliças e frutas. Agora, com intenso diálogo com os produtores, vamos

N “Para vencer essa quadra difícil, Precisamos de múltiPlos esforços, um deles reside na crença de dias melhores Para a nossa naçÃo ”

Opinião

flávio dinomais produção e alimentos

GOVERNADOR DO MARANHÃO

lutar para viabilizar o crescimento de cada segmento, removendo obstáculos e fortalecendo aspectos virtuosos já identificados.

Outra grande novidade nesse segundo semestre será a realização de quatro Feiras Tecnológicas da Agricul-tura Familiar nos municípios de São Bento, Açailândia, Caxias e Bacabal, que levarão mais conhecimento para aumentar a produtividade e promoverão a comerciali-zação dos produtos oriundos das pequenas unidades de produção. A tais Feiras, se agregarão mais 20, destinadas exclusivamente à ligação direta entre produtores e con-sumidores. A propósito desses projetos, agradeço a par-ceria da FETAEMA, dos sindicatos, do SEBRAE e da EMBRAPA, além das prefeituras municipais.

Temos boas condições naturais e uma posição geo-gráfica estratégica, fatores que aliados à garra e a força trabalhadora de nossa gente, são garantidores de que programas como o Mais Produção e o Mais Empresas levarão a resultados crescentes, apesar da terrível crise econômica e da recessão que infelizmente se instala-ram no Brasil. Para vencer essa quadra difícil, precisa-mos de múltiplos esforços, um deles reside na crença revolucionária de dias melhores para a nossa Nação, em que bons exemplos proliferem e sejam exaltados. Tenho certeza de que entre tais sucessos estará o dos produtores maranhenses.

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ntes do recesso parlamen-tar, as projeções políticas produzidas por setores da classe política, da Grande

Mídia e de empresários eram de que agosto chegaria com a carga fatal para tirar de tempo e do Governo a presidenta Dilma Rousseff (PT). Os ensaios produzidos antes pelo presi-dente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB), constituindo CPIs a toque de caixa e aprovando medidas de impacto econômico no Executivo, além dos discursos ásperos de lide-res da Oposição como Aécio Neves, de fato indicavam a possibilidade de um tempo negro, algo que não se consolidou. Ao contrário, permitiu os primeiros grandes atos políticos conduzidas pela presidenta.

Depois da viagem feita aos Estados Unidos, Rússia e Itália, Dilma Rou-sseff se viu sem alternativa, a não ser encarar a grande articulação de seto-res organizados para apeá-la do Go-

Política

Por WALTER SANTOS

A “vOLTA POr CImA” dE dILmA rOuSSEff

A

presidenta recompõe forças para manter mandato com apoio de empresários, governadores e de parte do pmdb, isolando eduardo Cunha e amenizando pacote econômico. agenda cada vez mais está voltada para ações positivas

dilma em lançamento de programa que prevê r$ 186 bilhões para expansão da geração elétrica no país

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verno, através de manobras junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sequenciadas na Câmara Federal.

Posto o cenário à vista, ela passou a costurar encontros e entendimentos a partir da base aliada no Congresso tendo como um dos principais arti-culadores o vice-presidente Michel Temer (PMDB) tratado por oposi-cionistas como nome para suceder a presidenta numa hipótese de afasta-mento, algo que só criou corpo nas

A “vOLTA POr CImA” dE dILmA rOuSSEff

mentes dos que esnobam a capacida-de de Dilma fazer política – eis aí o primeiro elemento da transformação e/ou virada de jogo.

ACImA dA INTrIGAOs primeiros dias de agosto permi-

tiram novos acordos dela com o setor produtivo nacional chamando mui-tos dos principais empresários para a construção de um Pacto de governa-bilidade. As tratativas levaram até aos presidentes do BRADESCO, Fiesp

dilma em ações em Juazeiro na bahia, com Jaques Wagner e rui Costa, e no maranhão com Flávio dino. ao lado, pmdb tenta enquadrar eduardo Cunha

e Fierj, que soltaram notas públicas de apoio à superação da conjuntura.

O papel exercido por Michel Temer na articulação fez com que agentes da Oposição vissem neste jogo a hipótese de ungir o nome do vice-presidente numa hipótese, até então inexistente, de saída de Dilma do poder.

rECOmPONdO A BASECom a fragilidade continuada de

Eduardo Cunha tido como nome certo na lista de Rodrigo Janot como envolvido em desvios de recursos da Petrobras, restou ao núcleo político de Dilma costurar diferenças internas no PT, como se dava na relação entre o Ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim se estabe-lecendo com os demais partidos, em especial o PMDB enfraquecendo o presidente na Câmara.

Neste sentido, Dilma foi ágil ao

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chamar o presidente do Senado, Renan Calheiro (PMDB), para uma série de conversas celebrando a su-peração de crise de relacionamento entre eles como se deu durante o primeiro semestre do ano. Com este novo cenário, foi possível avançar em entendimentos com os Ministros da área econômica visando atenuar o Pa-cote de Ajustes abrigando sugestões do líder do PMDB no Senado.

Passo seguinte, coube à presidenta convocar todos os senadores para um jantar no Palácio do Planalto, cuja pauta central foi consolidar uma es-tratégia de barrar os exageros cometi-dos pela Câmara Federal de onerar as responsabilidades do Executivo com aumentos graciosos e sem amparo orçamentário para diversas categorias dos vários Poderes.

O PAPEL dECISIvO dOS GOvErNAdOrES

A reunião entre a presidenta e os 25 governadores não resultou em dividendos nem em anúncio de me-didas fortalecedoras de uma revisão do Pacto Federativo, mesmo assim serviu para distinguir o papel dos 9 governadores do Nordeste capi-taneado pela provocação do gover-nador Ricardo Coutinho (PSB), da

Paraiba, porta-voz dos lideres nor-destinos, nos encontros com Dilma Rousseff.

Outro que se credenciou também foi o governador do Maranhão, Flá-vio Dino (PCdoB), responsável pela agenda do meio de agosto receben-do a presidenta com diversas ações de programas sociais fortalecendo a imagem de Dilma e as críticas contra as tentativas de afastamento dela.

governabilidade, dilma se reúne com os governadores do brasil no palácio e Lula conversa com

a alta cúpula do pmdb

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A agenda de Dilma passou a cons-tar de viagens mais frequentes pelos Estados, em especial o Nordeste, bem como o anún-cio da melho-ra na situação hídrica nos reservatórios brasileiros de-vendo resultar em uma redu-ção entre 15% e 20% no valor adicional pago pela energia elétrica.

De acordo com lançamento em Brasília, o valor adicional é indica-do pelas bandeiras verde, amarela e vermelha, mecanismo adotado nas contas de luz para informar ao con-

sumidor se ele está pagando mais caro pela energia.

Apesar da melhora do nível dos reservatórios, a inda não está prevista mudança da bandeira ver-melha para a amarela, in-formou o mi-nistro de Mi-nas e Ener-gia, Eduardo Braga, du-rante o lan-

çamento do Programa de Investi-mento em Energia Elétrica (PIEE).

A redução dos valores será possível graças ao desligamento de 21 usinas termelétricas que produziam cerca

na pauta econômica, a busca da estabilidade

de 2 mil megawatts (MW) médios de energia a um custo alto. "Tenho certeza de que agora estamos numa situação bem melhor, e esse enca-recimento do fornecimento de luz começará a ser progressivamente re-vertido", disse a presidenta, ao lem-brar que, no último sábado (09/08), algumas termelétricas começaram a ser desligadas.

De acordo com a presidenta, tal cenário vai permitir a redução de até 20% do custo dentro da bandeira ver-melha. “Mas isso é uma estimativa”, destacou Dilma. O ministro Eduardo Braga informou que a Agência Na-cional de Energia Elétrica (Aneel) vai abrir audiências públicas para definir de quanto será essa redução da ban-deira vermelha.

“(A situação atual dos reservatórios) abre oportunidade para que a Aneel possa, a partir desta semana, abrir dis-cussão sobre novo valor par a bandeira vermelha. Todos os estudos apontam para uma redução de 15% a 20 % e que o novo valor da bandeira impacte nas contas a partir de setembro”, disse Braga. “Para o consumidor, o que pode acontecer é o valor da tarifa vermelha baixar dos atuais R$ 5,5 (por 100MW consumidos) para R$ 5 ou R$ 4,5. Essa é a nossa expectativa.”

“Para o consumidor, o que pode acontecer

é o valor da tarifa vermelha baixar dos atuais R$ 5,5 para

R$ 5 ou R$ 4,5” Eduardo Braga

Ministro das Minas e Energia

Fotos: Fotospublicas

ministro eduardo braga no lançamento do progrma de expansão eletríca. ao lado,

Joaquim Levy, agenda econômica mais amena

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GEOPOLÍTICA dO NOrdESTE ExPõE

CArAS NOvAS E PrOGrESSISTAS

Política

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ano de 2015 começou ex-pondo um novo quadro de lideranças nos nove esta-dos do Nordeste reluzindo

mudanças expressivas no comando das diversas unidades federativas e, além das caras novas, consolidando um sopro de governos à esquerda em sua maioria. De todos, somente os governadores Ricardo Coutinho (PSB), da Paraíba, e Jackson Barreto (PMDB), de Sergipe, foram reeleitos. De todos, seis são filiados a partidos progressistas (3 ao PT, 2 ao PSB e um

maioria dos governadores é jovem com vínculos partidários à esquerda e gestões mais ousadas diante de máquinas problemáticasPor WALTER SANTOS

O ao PC do B), dois ao PMDB e um ao PSD, com parte deles derrotando figuras carimbadas do jogo político nordestino, a exemplo do Maranhão, Bahia e Rio Grande do Norte onde José Sarney, Paulo Souto e Henrique Alves disputaram o poder como can-didatos diretos, ou apoiando alguém.

Ao final dos sete primeiros meses de Governo, é fácil identificar que a retração da economia afetou os esta-dos criando problemas de caixa para pagar compromissos básicos diante da redução dos aportes orçamentá-

rios advindos do FPE, ICMS, etc., sem contar os dramas sociais provo-cados pelo prolongamento da estia-gem no semiárido.

Nem mesmo os estados mais for-tes, a exemplo da Bahia – maior PIB, Ceará e Pernambuco conseguiram deslanchar no mesmo ritmo de antes, sobretudo o estado do ex-governador Eduardo Campos, apesar dos esfor-ços do governador Paulo Câmara para atrair dinheiro novo, algo não possível de se repetir na mesma escala de antes.

governadores tem se reunido com frequência para

elencar prioridades junto ao governo

Federal

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 23

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Um dos estados de maior enfrenta-mento entre o governo do PT e Opo-sição – esta comandada por ACM Neto (DEM) e Geddel Vieira Lima (PMDB) – é exatamente a Bahia, onde o atual governador Rui Cos-ta (PT) amplia projetos e ações do Governo passado, anteriormente co-mandado por Jaques Wagner.

Apesar dos enfrentamentos, Costa convive com civilidade com prefeito de Salvador, o próprio ACM Neto – nome que deve concorrer junto com o petista pelo Palácio Rio Banco, nas eleições de 2018.

Rui Costa conduz o Governo com equilíbrio das contas, até porque era secretário do governo Wagner, e co-nhecia de perto toda a geopolítica baiana e, em especial, os programas de ação no campo da infraestrutura e social.

Com base na realidade presente, o governador atende à expectativa de aprovação.

Bahia e o governo Rui Costa

O maior problema do governador Camilo Santana (PT) é um só: conseguir manter o mesmo pique de atra-tividade de recursos e obras produzidos pelo antecessor, o ex-governador Cid Gomes (PROS), sem dúvidas um reformulador de resultados na cena político – adminis-trativa do Ceará.

Camilo Santana foi escolhido pelo seu desempenho como secretário de Governo e, agora, diante de uma conjuntura conhecida de retração econômica faz de tudo para assegurar um saldo de gestão à altura de seu principal aliado, mesmo ele estando no PT e Cid no PROS.

No campo político-partidário, o governador convive com seu adversário de disputa, senador Eunicio Oliveira (PMDB), com muito prestigio junto ao Governo Federal tanto que indicou o presidente do BNB, da mesma forma que com o senador tucano, Tasso Jereissati (PSDB).

Por vários fatores, a luta do governador é no mínimo manter o alto nível de investimentos da fase Gomes. E trabalha firme para isso.

Ceará de resultados

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Esta não é a realidade do Rio Grande do Norte, onde o governador Robinson Faria (PSD) encontrou a gestão estadual destroçada, ou seja, com muitos compromissos atrasados e uma estrutura de serviço público tomada de deficiências. Não foi à toa que no Estado foram registra-dos inúmeros e graves problemas nos presídios levando o governo a passar semanas ocupado de conter a crise penitenciária.

Com base nos dados do governador, além da retração dos recursos ainda se agravaram os efeitos da seca continuada no semiárido potiguar.

No plano político, ele se mantém na base da presidenta Dilma Rousseff tendo que conviver com seu adversário Henrique Alves (PMDB) ocupando espaços no Ministé-rio do Turismo rivalizando prestigio com o Governo Fede-ral. Como tem produzido respostas e gestão de resultados sua performance no quadro das pesquisas é de aprovação expressiva (70%).

Embora seja considerado um go-vernador reformista, Ricardo Couti-nho (PSB) trouxe para a segunda ges-tão à frente da Paraíba o saldo de um líder político que destronou todas as demais lideranças estaduais, em par-ticular o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), pela primeira vez derrotado em disputa eleitoral. O líder socialista desbancou também o ex-governador José Maranhão (PMDB) e o ex-se-nador Vital do Rego Filho (PMDB).

O socialista promove um governo com repercussão nos vários níveis e apresenta um conjunto de obras em setores como infraestrutura, moradia, equipamentos de alta expressividade, a exemplo do Centro de Convenções de João Pessoa, hospitais em médias cidades, rodovias, etc. A pauta do go-vernador agora se estende para fora do estado. A perspectivas é promover sua imagem no Sudeste e Centro Sul. A ideia é construir a possibilidade de até ser candidato a presidente da República, algo ainda embrionário.

Ricardo ‘reina’ na Paraíba

Robinson, ação no Rio Grande do norte

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 25

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Eleito pelo saldo da impor-tância política de Eduardo Cam-pos, o governador Paulo Câmara (PSB) tem con-vivido com difi-culdades conti-nuadas diante da crise econômica do país afetan-do fortemente o nível de grandes investimentos em Pernambuco.

Mesmo po-dendo concluir e entregar diversas obras deixadas pelo governador João Lyra, Paulo Câmara não perde tempo em buscar alternati-vas de fora, mas como é óbvio admitir, o cenário econômico externo não ajuda.

Politicamente, ele convive com pro-blemas internos no PSB com o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) por

Quem chega à Capital São Luís, como de sorte às ci-dades de médio porte do Maranhão, se depara com um cenário político – administrativo inteiramente diferente do que era até 2014 com o predomínio total da família Sarney. Sete meses depois de assumir o poder, Flávio Dino dá demonstração de controle e de resultados no governo maranhense mudando paradigmas políticos.

Além de buscar dominar a máquina, o governador ex-pande ações pelo território do estado por inteiro, mesmo com sérias dificuldades advindas da crise financeira, por isso parte para a inovação de políticas segurando o dinhei-ro maximamente. Dino também tem se projetado como uma espécie ao marcar presença em ações pró-Dilma Rousseff (PT) e contra o impeachment.

Todavia, no campo da política, não dá para ignorar a Familia Sarney como o principal núcleo inimigo.

a luta de Paulo Câmara

Flávio dino e a nova fase no Maranhão

Em Alagoas, o governador Renan Filho (PMDB) tem conseguido im-plantar programas ante crise se fixan-do em ações no interior do estado. A impressão é de que a herança encon-trada pelo chefe do executivo alagoa-no não se traduziu em “casa destro-çada”, por isso faz uma gestão com

alagoas: saldo d e gestão

não seguir sua orientação, bem como com o Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comercio, Armando Mon-teiro (PTB), que acaba promovendo ações paralelas e de disputa com o governador pernambucano. Isto, sem contar com o senador Humberto Costa (PT) e agora o superintendente da

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Embora seja g o v e r n a d o r reeleito, Jack-s o n B a r r e t o (PMDB) não conseguiu eli-minar na fase do governo pas-sado os déficits orçamentários que têm feito ele amargar sérios problemas para honrar compro-missos básicos, como o de pa-gamento de pes-soal, bem como as condições de funcionamento dos serviços de saúde, educação, entre outros.

O governador sergipano não pou-pa oportunidades em entrevistas ou espaços públicos para reclamar das dificuldades e, para atenuar os pro-blemas, busca construir alternativas a

O segundo mandato do governador Wellington Dias (PT) lhe expõe com ritmo de iniciante em gestão estadual, o que não é o seu caso. Dias sempre esteve mais afeito ao Executivo do que ao Legislativo na condição de senador, cargo que já exerceu.

Wellington Dias usa de seu prestigio pessoal com a presidenta Dilma Rousseff (PT) para aplainar projetos e ações que mantenham o Estado em ritmo de desen-volvimento sustentável elevado, saindo dos péssimos índices de exclusão social quando antes dele assumir pela primeira vez.

O Piauí, por exemplo, tem se destacado no ensino pú-blico e em bases econômicas, como acontece no Sul do Estado, onde floresce desenvolvimento com o plantio e exportação de grãos, em especial a soja.

Na política, ele convive bem com o prefeito do PSDB, Firmino Filho, e se mantém soberano com o olhar crítico do deputado federal Heráclito Fortes (PSB).

Welington dias e as mudanças no Piauí

alagoas: saldo d e gestão Sergipe com problemasresultados a lhe granjear aprova-ção popular, se-gundo pesquisas.

O fato de ser filho do presi-dente do Senado Federal também contribuiu para, apesar da seca de recursos, ainda granjear parcos dividendos fe-derais. Segundo dados desta fase do ano, Renan Filho não en-contra dificulda-

des para governar diante da Oposição. Apesar disso, contingenciamento de recursos do Governo Federal tem afetado projetos importantes do es-tado, como os de mobilidade urbana e o Canal do Sertão. Renan já cogita prorrogar em dez dias o pagamento da folha de servidores.

exemplo da pressão que faz à Petro-bras por mais recursos diante de nova jazida de petróleo no Estado.

Esses problemas fazem seus adver-sários, em especial o senador Eduardo Amorim, do PSC, seu concorrente na disputa governamental, a tentar tirar proveito político deste difícil.

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general Jesus Baquedano, que participou das guerras contra a Confederação Peru-Bolívia e do Pacífico, nas revoluções da década de 1850, ado-

tava diante do inimigo uma única estratégia, que gritava a plenos pulmões: “Atacar”. Impetuoso e considerado por seus compatriotas homem de coragem suicida, dizia que seu método, mesmo à custa de milhares de mortos, economizava tempo. O militar chileno era adepto da estratégia direta, amparada na ação frontal, um contra o outro, que tem como principal formulador Carl Von Clausewitz, o general prussiano que escreveu Da Guer-ra (1832), livro apreciado por Hitler.

Ao oferecer continuados conselhos à Dilma, todos na direção de correr o país, mostrar serviço e deixar de res-ponder questões sobre a Operação Lava Jato, o ex-pre-sidente Lula sugere à pupila que pense com a cabeça e arremeta com o coração, evitando a síndrome do touro que faz exatamente o contrário. Ou seja, que escolha a estratégia indireta, a do toureiro, que dá voltas ao redor do animal até fazê-lo cansar. Ele mesmo vai seguir este caminho. Dessa forma, evitará o confronto direto, estilo Baquedano, fará rodeios pelo país, amortecendo o tiro-teio que procura abatê-la. Com o tempo, poderia recu-perar seu vetor de força, mesmo sob as larvas do vulcão econômico e da borrasca política.

O Brasil vive tempos de acirrados conflitos. O apa-rato que se formou no entorno da Operação Lava Jato é uma complexa engenharia de guerra, nos termos da definição clássica de Clausewitz: “a guerra não é só um ato político, como um autêntico instrumento político, uma continuação do comércio político, um modo de le-var o mesmo a cabo, mas por outros meios”. A teoria de guerra conserva semelhança com a teoria política. Am-bas trabalham com eixos comuns, como estratégia e tá-tica; fricção entre atores; interdependência (a eficácia de um jogador depende das jogadas do outro); força como conceito não apenas mecânico, na medida em que abri-ga valores morais como autoridade, paixão, motivação e coragem, dos quais o exemplo é Gandhi.

Oo teatro da guerra

Dito isto, vejamos como é nossa guerra política. Os principais exércitos na paisagem dos conflitos são: os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; o Minis-tério Público; os grupos de negócios privados; e os in-termediários. Para ganhar a guerra, cada qual possui um arsenal composto por acusações/defesas, hipóteses/teses, argumentos/contra-argumentos, delações, versões, percepções. Predomina, porém, o sentimento de que os atores que encarnam a luta do Bem contra o Mal leva-rão a melhor. O Mal, neste caso, é interpretado pelos indiciados na Operação Lava Jato. O juiz Sérgio Moro, os jovens procuradores do MP e os delegados da PF, sob a guarida das altas Cortes, saem-se bem como mo-cinhos e xerifes dos velhos faroestes.

Na guerra política, como no conflito militar, vale o princípio maquiavélico: “os meios justificam os fins.” Nesse caso, a propina foi o meio para se alcançar um fim. É o que dizem, agora, os delatores, cuja estratégia é a de confessar o crime para ter reduzida a pena, o que não o torna necessariamente um “herege arrependido”, eis que continua a usar armamento pesado para atacar ex-aliados e combatentes de exércitos até então coliga-dos. Ocorre uma inversão de papéis. Ao mudar de lado, o delator promove tiroteio entre advogados. Para alguns, importa garantir a liberdade provisória, mesmo sob o aperto de uma tornozeleira eletrônica.

Nas praças de guerra de Curitiba e Brasília, a pala-vra continua a ser a principal arma. É usada para des-vendar a guerra iniciada há anos, quando um grupo de combatentes começou a cercar a fortaleza da Petrobras, utilizando armas leves que, ao longo do tempo, ga-nharam maior calibre. Os recursos – doações, propi-nas – enchiam cofres de uma poderosa rede de mando. Conquistas foram alcançadas, suprindo, na vanguarda, campanhas políticas e, na retaguarda, cabos eleitorais e exércitos intermediários. As batalhas, ao se aproxima-rem dos Senhores da Guerra, chegaram a uma intensi-dade nunca d’antes vista. Na paisagem devastada, alguns chefes de exércitos usam estratégias diferentes.

Opinião

Gaudêncio TorquaToJORNALISTA, PROFESSOR TITULAR DA USP, CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO

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onsiderado por muitos ana-listas políticos como um dos nomes mais promissores da nova geração de líderes po-

líticos brasileiros, Eduardo Campos teve sua vida subitamente interrom-pida em agosto do ano passado. En-tão candidato à presidência da repú-blica, faleceu em um trágico acidente aéreo, no litoral paulista.

Na segunda-feira (10), um even-to realizado no Recife, em memória do ex-governador de Pernambuco, envolveu a viúva Renata Campos, os filhos e vários políticos brasilei-ros, como o ministro da Defesa, Ja-ques Wagner (PT); o presidente do PSDB, senador Aécio Neves; a ex-senadora Marina Silva (PSB); além dos governadores Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Paulo Câmara (PSB-PE) e Ricardo Coutinho (PSB-PB).

Várias homenagens estão sendo realizadas no mês que não apenas marca um ano da morte de Eduardo, mas celebraria os seus 50 anos. A in-tenção da família Campos é não dar ênfase a trágica morte. “Os eventos são para marcar a trajetória de um homem de 49 anos que fez tudo o que ele fez. O importante é dizer que estamos pensando no que Eduardo fez e no que ele faria se tivesse entre nós”, disse o jornalista Evaldo Cos-ta, presidente estadual da Fundação

Cheio de políticos da oposição e situação, homenagem ao ex-governador de pernambuco, ganha declarações emocionadas e tom político em recife

Política

Por LUAN mATIAS

João Mangabeira, entidade ligada ao PSB e responsável pelo calendário de atividades.

Conhecida por ser bastante ativa nos bastidores da vida política do ma-rido, Renata Campos fez um emocio-nante discurso no evento que abriu as homenagens. “Ele tinha uma grande vontade de transformar a vida das pessoas, de fazer de Pernambuco um bom lugar para trabalhar, mas ainda melhor para viver“, disse. Ela ainda acrescentou que Eduardo “faria dife-rença na construção do novo Brasil que ele tanto sonhava”, pois tinha grande “capacidade de diálogo e de realizar”.

O governador Ricardo Coutinho também destacou a capacidade ges-tora de Eduardo e a importância

um ANO SEm EduArdO CAmPOS

C

Família recebe busto do ex-governador. abaixo, marina

silva discursa em solenidade

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Homenagem a eduardo Campos reuniu alckmin, aécio e Jaques Wagner no mesmo espaço

ainda presente de suas ações. “Ele semeou uma visão estratégica de ges-tão, uma perspectiva diferenciada de se fazer política e fez muito bem a Paraíba”. Coutinho também frisou a necessidade do PSB superar a perda da sua maior liderança.

Como não poderia ser diferente, a presença de representantes de par-tidos rivais trouxe aos discursos um tom político, que variou entre crí-ticas e defesas ao Governo Federal. Embora em tom mais ameno do que costumeiramente tem adotado, o se-nador Aécio Neves não deixou de criticar o atual momento do Brasil. “Os governos são circunstanciais, efê-meros, passageiros. Por maior ou me-nor tempo, eles se vão. Mas o Brasil não, ele está aí para ser construído,

e será construído quando nós todos tivermos capacidade de olhar para o futuro, e não apenas para o dia de hoje”, declarou.

Já o ministro Jaques Wagner utili-zou a história de Eduardo Campos para defender o trabalho do governo. “Eduardo também enfrentou derro-tas e vitórias, mas nunca desistiu por-que quem trabalha por um ideal não desiste nunca. E por isso a frase dele de que não vamos desistir do Brasil, porque nós temos um trabalho”, disse o petista.

Além dos discursos emocionados e os políticos, a cerimônia contou com poesias, música e um vídeo que nar-rou a história pessoal e política de Eduardo. “Celebrar seus 50 anos sem a sua presença física é muito doído. A

saudade é enorme. Mas saber que sua vida, suas ideias, suas bandeiras, sua história nos trazem até aqui, nos man-têm unidos e vivos”, discursou Renata.

No dia 11/08, o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, assinou três projetos de Lei que nomeiam o Centro Comu-nitário da Paz - Compaz do Alto da Terezinha, a Creche-Escola da UR-5 e a Upa 24 Horas da Mangabeira/Bomba como “Governador Eduardo Campos”. A solenidade aconteceu na obra do Compaz e contou com a participação de Paulo Câmara e fami-liares de Eduardo. As homenagens ao ex-governador vão até o final do mês de agosto e as programações aconte-cem não só na capital pernambucana, mas também no interior do estado e em Brasília.

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 31

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Benefícios reemBolsáveis e sociais: mútua sempre ao lado do profissionalOs profissionais com registro nos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Cre-as) de todo o País, que buscam oportunidades de crescimento na carreira e segurança para eles próprios e suas famílias, encontram na Mútua (Caixa de Assistência dos Profissionais) a parceira ideal. A Instituição oferece soluções em benefícios diferenciados que proporcionam melhor qualidade de vida e ajudam os profissionais a alcançarem seus objetivos, seja um car-ro novo, uma viagem, uma pós-graduação, um upgrade no seu empreendimento, ou outros.

Na Paraíba, a sede da Mútua fica localizada na Av. Pedro I, 827 – Centro. São quase mil as-sociados, mas a Regional tem o objetivo de ampliar o número de profissionais inscritos, que poderão usufruir dos serviços disponibilizados pela Caixa de Assistência. Diretor Geral da Mútua na Paraíba, o engenheiro Antônio da Cunha Cavalcanti, destaca que está sendo feito um trabalho de divulgação entre os profissionais e isso acontece através da participação em eventos, palestras em instituições de ensino e, também, com ações desenvolvidas em parce-ria com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Paraíba (Crea-PB).

“São muitas as vantagens em ser sócio da Mútua. Disponibilizamos onze benefícios reembol-sáveis (linhas de crédito), com taxas de juros especiais, voltados a atender as diversas neces-sidades do profissional e seus dependentes. Eles têm à disposição os benefícios Ajuda Mútua, Garante Saúde, Equipa Bem, Férias Mais, Apoio Flex, Construa Já, Família Maior, Educação, Veículos, Empreendedorismo e Agropecuário”, elenca.

Além disso, a Caixa de Assistência está ao lado dos associados com o amparo necessário nas horas difíceis. A Mútua oferece benefícios sociais, de caráter não reembolsável, para os asso-ciados carentes de recursos por meio de ajuda de custo mensal e, em casos de falecimento do associado, o Auxílio Pecúlio por morte garante indenização a seus dependentes e também um auxílio para despesas com funeral e encargos. Na área de planos de saúde, o contrato da Mútua com a Qualicorp garante os melhores convênios do Estado.

O Diretor Geral da Mútua na Paraíba enfatiza ainda, que além dos benefícios reembolsáveis e sociais, os mutualistas podem contratar um plano de previdência complementar e, assim, garantir um futuro tranquilo com estabilidade financeira. Ganhar descontos em produtos e serviços é outra vantagem assegurada aos sócios da Mútua, através de convênios firmados com diversas empresas, dos mais variados ramos, como hotelaria e educação.

Para ser um mutualista, o profissional com registro no Crea-PB pode ir até a sede da Mútua ou acessar o site da Caixa de Assistência (www.mutua-pb.com.br) e efetuar o cadastro. Ou-tras informações podem ser obtidas através dos telefones (83) 3241-5233 ou 0800 61 0003.

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Família MaiorRecursos para custeio de despesas provenientes de gestação, adoção, matrimônio e núpcias.

EducaçãoAuxílio financeiro para a realização de cursos técnicos, aperfeiçoamento, graduação, especialização, extensão, mestrado, doutorado, oferecidos por instituições de ensino legalmente habilitadas para tal, visando promover uma melhor capacitação do associado.

EmpreendedorismoLinha de financiamento para utilização em investimentos fixos e capital de giro no intuito de colaborar com sua atividade microempreendedora.

VeículosPara o associado e dependentes na aquisição de veículos a serem utilizados para deslocamentos pessoais ou profissionais.

Garante SaúdeAssistência médica, hospitalar, odontológica e para aquisição de medicamentos.

Ajuda MútuaConceder, sob a forma de empréstimo, auxílio financeiro mensal ao associado, quando este encontrar-se desempregado temporariamente, se for profissional liberal com falta eventual de trabalho ou ainda em casos de invalidez temporária.

Construa jáRecursos financeiros para construção, reforma ou ampliação de residência ou escritório, pagamento de mão de obra, aquisição de equipamentos, móveis planejados e materiais.

conHeÇa alGuns dos Benefícios oferecidos aos associados da mútua

Mútua de assistência dos Profissionais do crea-PBav. dom Pedro i nº 827 – centro

www.mutua-pb.com.br / (83) 3241-5233 ou 0800 61 0003atendimento ao público: seg. a sex. / 8h às 16h30

PUBLIEDITORAL

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omo o Palhares, personagem de Nelson Rodrigues, Lula é o político que, por vezes, incorpora a má fé cínica que faz praça da obtusidade córnea. (Na crô-

nica do dramaturgo pernambucano, Palhares, certa feita, quando se viu sozinho num corredor de hospital, beijou a cunhada, enquanto a esposa, no leito da enfermaria, exalava os últimos suspiros de uma doença terminal – o câncer).

Já Leonel Brizola, o fogoso centauro dos pampas (metade homem, metade cavalo), enfrentando Lula em eleições presidências ordenadas pelos métodos de foice e martelo empregados pelo PT, não pestanejou em de-finir o oponente como um “sapo barbudo”, o sujeito que, para chegar ao poder, “seria capaz de pisar o pescoço da própria mãe”. E olha que em matéria de eleições cava-das e baixa politicalha, o cultor do “socialismo moreno” tinha atingido um grau de excelência.

De fato, o Lula é espeto. Agora mesmo, quando se vê acossado por acusações de que o seu Instituto Lula e a em-presa de Eventos e Palestras Lils (iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva) teriam recebido dinheiro de empreiteiras que espoliaram a Petrobras em mais de R$ 7 bilhões - o que faz o vosso líder carismático?

Ele faz o seguinte: no bunker do Instituto Lula, em São Paulo, cercado pela platéia cativa de sindicalistas aliados, vocifera, enfático, que a encalacrada facção do PT comunista “está sendo perseguida como os judeus pelos nazistas”.

Nesta afirmação enganosa, a obtusidade córnea atinge seu ponto crítico. De fato, mesmo levando em conta que Lula se mostra incapacitado para enfrentar a leitura de compêndio histórico mais complexo, nunca será demais lembrar que a inversão burlesca dos fatos tem seus limites. Como denunciam inúmeros historiadores isentos, a vio-lência nazista, levada adiante pelo Partido Nacional Socia-lista dos Trabalhadores Alemães, tem suas raízes fincadas nas práticas encetadas pelo Partido Comunista soviético, antes e depois da revolução Bolchevique de 1917. Em es-sência, Hitler copiou literalmente os métodos criminosos aplicados contra o povo russo por Lenin e sua camarilha vermelha para tomar e manter o poder na extinta URSS.

C

Opinião

ipojuca PonTesinversão burlesca

ESCRITOR E CINEASTA

(Paul Johnson, no enciclopédico “Tempos Modernos”, considera que, em matéria de perseguição, as diferenças entre nazismo e comunismo são basicamente as trocas do burguês pelo judeu e a substituição do símbolo da foice e martelo pela cruz suástica).

Os nazistas perseguiram, saquearam, isolaram os judeus em campos de concentração e, pela adoção da “Solução Final”, asfixiaram em câmaras de gás mais de seis milhões de prisioneiros. Ora, no Brasil, com os comunistas do PT, dá-se justamente o contrário. Aqui, basta olhar em redor para constatar que a vasta nomenclatura petista vive atre-lada aos empregos públicos das estatais, ongs e boquinhas ministeriais, abusando do uso de cartões corporativos, das mordomias palacianas e, o que é pior, impondo sua sanha revolucionária, impunemente, nos campos e nas cidades. O próprio Lula, de operário ascendeu à condição de bur-guês fidalgo, com casa de campo e apartamento (triplex) em balneário de luxo, nutrido em boas refeições e ternos da moda, deitando o seu falatório agressivo contra a realidade dos fatos,

No momento, temeroso das possíveis consequências, o líder petista recorreu ao Ministério Público pedindo a suspensão do procedimento investigativo criminal aberto para apurar sua conduta no questionado caso de tráfico de influência, no exterior, em favor da Odebrecht. (Como é público, a poderosa empreiteira fez do líder petista agen-te estratégico para facilitar negócios em Cuba, Venezuela, República Dominicana e países da África). A Corregedo-ria negou.

E enquanto o país desanda numa crise política e econô-mica grave, com inflação de dois dígitos pelo desacerto de um governo perdulário que fala muito em “ajuste fiscal”, um novo escândalo estoura na praça: a Polícia Federal e o Ministério Público estão investigando as obras do “Museu Lula”, orçadas em R$ 14.5 milhões, mas cuja licitação o Tribunal de Contas do Estado julgou irregular. O museu tem por objetivo realçar a figura do “Príncipe Moderno” (imagem de Gramsci), mas a construção está navegando em banho-maria, pois seus executores querem mais R$ 3 milhões da Viúva.

Revista NORDESTE Agosto/201534

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HISTÓRIA, deSAfIoS e peRSpecTIvAS

Universidade Federal da Paraíba

60 anos dE aVanÇos

Por Onivaldo Júniorfotos Oriel e Arion Farias

cAdeRNo eSpecIAL

Formação socioeconômica da Paraíba deve à UFPB as bases educativas e intelectuais. De José Américo a Margareth Diniz,

processo histórico constata crescimento continuado com necessidade de mais conquistas na Graduação,

Pós-Graduação e Extensão. Este é o desafio

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Há seis décadas, muito antes de existirem programas como Sisu, Prouni ou Ciência Sem

Fronteiras, eram poucas as oportu-nidades de se ter acesso a um curso superior no Brasil. O país vivia um contexto de ensino tecnicista, vol-tado para a mão de obra, e pouco valor era dado à pesquisa científica.

Criada no dia 02 de dezembro de 1955, como resultado da junção de algumas escolas superiores, a Uni-versidade Federal da Paraíba (UFPB) tem muito a contar sobre essa trans-formação no ensino desde a década de 50 até os dias de hoje. No ano em que comemora 60 anos de fundação, a Revista NORDESTE buscou conhe-cer os principais fatores que levaram a esta evolução quantitativa e qua-litativa no ensino superior oferecido atualmente pela instituição.

Hoje expandida em quatro Cam-pi – João Pessoa, Areia, Bananeiras, Litoral Norte, única com esse for-mato na federação, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) conta com mais de 37 mil alunos em 139 cursos de graduação, 15 de espe-cialização, 57 de mestrado e 34 de doutorado. A instituição tem 47% dos cursos com conceito 4 e 25% com conceito 5 pela Capes, confir-mando a excelência no ensino. O corpo funcional também revela a grandiosidade do órgão, são 2.665 docentes e 3.586 técnicos adminis-

UFPB sE ConsoLIda na FoRMaÇÃo da PaRaÍBa

Reitora Margareth Diniz em evento de lançamento da marca dos 60 anos da UFPB

Caderno Especial

Revista NORDESTE Agosto/201536

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trativos. Por esses e outros motivos, a UFPB tem desenvolvido papel importante no desenvolvimento do ensino e no fomento à pesquisa científica no estado e no país.

A atual reitora da Universidade Federal da Paraíba, a professora Margareth Diniz, ressalta a impor-tância da instituição: “A UFPB vem colaborando com o desenvolvimen-to do Brasil e, em particular, com o da Paraíba com contribuições ao ensino e à pesquisa, formando profissionais e pesquisadores de alto nível, há quase 60 anos”.

Segundo a reitora, essa colaboração pode ser percebida em como a universidade buscou e apresentou propostas de soluções objetivas para problemas regio-nais feitas pelos pes-quisadores do órgão. No quesito educação, Margareth explica que a UFPB tem contri-buído para atender as demandas da educação básica na Paraíba. Entre os projetos em execução, está o Pro-grama de Melhoria da Educação Básica – Promeb, que tem por finalidade contribuir para o aumento da qualidade de en-sino da Educação Básica - Infantil, Fundamental e Médio - e Superior no estado. O programa visa a me-lhoria do processo de ensino e de aprendizagem aos alunos das esco-las públicas, além de proporcionar aos estudantes universitários dos cursos de Licenciatura a prática pedagógica. A instituição coordena ainda Programas do MEC, em par-ceria com a Secretaria da Educação dos estados e municípios, onde já

No ensino de graduação, de 2005 para 2011, o número de cursos aumentou de 50 para 104. O número de estudantes matriculados aumentou de 18.759 para 29.629, hoje chega a 37 mil. No ensino de pós-graduação, o número de cursos de mestrado aumentou de 32 para 50 e os de doutorado de 470 para 1.290.A melhoria acadêmica da UFPB ao longo dos anos é incontestável. Nas avaliações do ensino superior, o MEC utiliza o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC), que vai de 1 a 5. A UFPB tem IGC igual a 4. Na pós-graduação, mais de 60% dos cursos obtiveram conceitos do sistema MEC/CAPES acima da nota média. A pesquisa e a produção científica da UFPB são muito bem referidas nacional e internacionalmente.Na Extensão, a UFPB também é referência atuando em oito áreas temáticas: Comunicação, Cultura, Direitos Humanos, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Tecnologia e Trabalho. A instituição oferece o Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX) para estudantes de graduação. As fontes de financiamento da extensão vêm de recursos da própria UFPB, de editais do Ministério da Educação(MEC), a exemplo do PROEXT, além de incentivos da Petrobrás e Banco do Nordeste.São 11 programas de Pós-graduação desenvolvidos em associação com outras Instituições de Ensino no Brasil. “Graças ao esforço empreendido, não só na Administração Central, mas em todos os Centros, o trabalho que vem sendo realizado já apresenta indicadores acadêmicos de qualidade, o que coloca a UFPB no lugar de destaque que merece”, pontua a reitora, garantindo que um trabalho coletivo e articulado.

NúmerOs dA excelêNciA

foram capacitados de 2014 a 2015 cerca de 14 mil educadores.

A interação da UFPB com a sociedade ao longo dos anos tem avançado em três frentes: o incen-tivo ao ensino, a pesquisa e produ-ção científica, três pilares caros à instituição observados desde a sua fundação e que têm sido ampliados com o passar dos anos. Para com-preender melhor como se deu esse crescimento e avanço, é preciso estabelecer uma relação entre as mudanças ocorridas na História

do Brasil e da Paraíba (veja matéria nesta edi-ção), que influencia-ram ou foram acompa-nhadas pela evolução da Universidade.

Desde sua criação e ao longo de toda sua história, a UFPB vem cumprindo um papel fundamental na promoção do ensino, da pesquisa e da ex-tensão. Outro aspecto onde o peso da univer-sidade é inegável vem de seu orçamento de mais de R$ 1,2 bilhão. Valores que configu-ram o segundo maior orçamento do estado, atrás apenas do da Ca-pital, João Pessoa.

Além da contribuição financei-ra, há o investimento na esfera da educação superior, naturalmente fazendo parte da missão da institui-ção. Através de todas essas frentes, a UFPB pode ver hoje o reconheci-mento social como resultado de sua histórica contribuição, tanto para o avanço científico e tecnológico re-gional, quanto para a formação de quadros profissionais de excelência para o Estado da Paraíba e para o restante do país.

37 mil Alunos

139 Cursos

73 Programas

Pós-graduação

103 Cursos de

Pós-graduação

4.500 Pós-graduandos nos cursos de mestrado

e doutorado

eNsiNO

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principais dirigentes do estado estudaram na ufpb

Para celebrar os 60 anos da ins-tituição, uma parte das ativi-dades comemorativas resgatará

um passado da UFPB, que atingiu, direta ou indiretamente, todas as famílias da Paraíba. “A Universida-de sempre foi aliada na busca de so-lução para este quadro crônico (do Nordeste). Se nós acompanharmos esses 60 anos, a UFPB formou os principais quadros di-rigentes do Estado em todos os níveis: Execu-tivo, Legislativo, Judi-ciário e nos quadros do setor privado. Ela tem um papel decisivo na construção do Estado da Paraíba. A História da UFPB se confun-de com a História da Paraíba no Século XX, e neste primeiro mo-mento do Século XXI”, destaca o vice-reitor Eduardo Rabenhorst. O vice-reitor coordena o evento comemorativo dos 60 anos e prepara uma série de ativida-des acadêmicas e cul-turais alusivas à data. As atividades começam no mês de julho e pros-seguem até dezembro.

“É um momento ex-tremamente importan-te, porque a data é, por demais, significativa. São 60 anos de criação da Universidade Federal da Paraíba. De lá pra cá, a UFPB tem desempenhado um papel importan-tíssimo. Ela é um motor do desen-volvimento econômico, cultural, em todos os sentidos, uma instância

promotora do desenvolvimento do estado”, considerou.

ComemoraçõesA comissão organizadora das

comemorações de 60 anos da UFPB conta com representantes de todos os 16 centros e dos quatro Campi da instituição. Rabenhorst destaca que nem todas as atividades pro-

gramadas acontecerão dentro do espaço físico dos Campi.

A programação de-finida por esta comis-são comportará even-tos diversos, de cunho científico, artístico, cultural, com exposi-ção de material foto-gráfico, de obras doa-das pelo artista plás-tico Hermano José, e também do acervo da pinacoteca da UFPB, concertos musicais com a Orquestra Sinfô-nica (OSUFPB), Coral Universitário Gazzi de Sá, o grupo Camena, o Quarteto de Trombo-nes, o Rubacão Jazz entre outros.

Ainda fazendo par-te das comemorações, a Editora Universitária estará lançando 70 livros, alguns específi-

cos à comemoração da UFPB.O calendário já existente de

eventos programados será adaptado para abrigar as atividades alusivas, como a Semana do Servidor, na úl-tima semana de outubro, que apro-veitará a ocasião para homenagear

2.665 Docentes

3.586 Técnicos

administrativos

52% De técnicos

administrativos têm especialização,

mestrado e doutorado

70% Dos docentes

são doutores, o que permitirá o credenciamento

da UFPB no Tordesilhas, formado

por renomadas universidades do

mundo

NúmerOs

os servidores ativos e inativos, por exemplo.

Além da participação de todos os Campi e centros, os festejos também terão participação direta dos diver-sos segmentos humanos da UFPB: alunos, docentes e servidores. Re-presentantes do corpo estudantil, dos sindicatos dos servidores téc-nicos e docentes, que construirão atividades que tenham a ver com sua particularidade. “É uma festa colaborativa”, sintetiza Eduardo Rabenhorst.

Eduardo RabenhorstVice-reitor da UFPB

“UFpb FOrmOU Os dirigenTes dO esTadO em TOdOs Os níveis:

exeCUTivO, LegisLaTivO, JUdiCiáriO e nOs

qUadrOs dO seTOr privadO. eLa Tem Um papeL deCisivO na

COnsTrUçãO dO esTadO da paraíba”

Caderno Especial

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Durmeval Bartolomeu Trigueiro Mendes

1955 a 1956

José Américo de Almeida

1956 a 1957

João Toscano Gonçalves de Medeiros1957 a 1960

Mário Moacyr Porto 1960 a 1964

Guilardo Martins Alves 1964 a 1971

Humberto Carneiro da Cunha Nóbrega

1971 a 1975

Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque

1976 a 1980

Milton Ferreira de Paiva

1980

Berilo Ramos Borba1980 a 1984

José Jackson Carneiro de Carvalho1984 a 1988

Antônio de Souza Sobrinho

1988 a 1992

Neroaldo Pontes de Azevedo1992 a 1996

Jader Nunes de Oliveira

1996 a 2004

Rômulo Soares Polari2004 a 2012

Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz

Desde 2012

galeria dos reitores

Revista NORDESTEAgosto/2015 39

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O ano era 1955. A educação bra-sileira, influenciada pelo mo-delo do presidente Juscelino

Kubitschek, era impulsionada pelas necessidades de desenvolvimento e valorização do ensino profissio-nalizante. Educar para o trabalho. A essa altura, metade da população brasileira não tinha domínio sobre o processo de leitura e escrita. É em meio a esse panorama que o gover-nador José Américo de Almeida, funda a Universidade da Paraíba, a partir do curso de Agronomia, um dos primeiros a ser oferecidos no estado, pela Escola Agronômica do Nordeste, que, desde a década de 1930, funcionava no município de Areia, a 130 km da capital, João Pessoa.

Após reunir outros dez cursos, a Universidade se fortaleceu e, em 1960, a partir da lei federal Nº 3.835, concretizou a sua federaliza-ção, ganhando o nome de Universi-dade Federal da Paraíba.

A partir de sua federalização, a UFPB desenvolveu uma crescente estrutura multicampi, distinguin-do-se, nesse aspecto, das demais universidades federais do sistema de ensino superior do país que, em geral, têm suas atividades concen-tradas num só espaço urbano. Essa singularidade expressou-se por sua atuação em sete campi implantados nas cidades de João Pessoa, Campi-na Grande, Areia, Bananeiras, Pa-tos, Sousa e Cajazeiras, até 2002.

A historiadora Solange Apare-cida Zotti relata que, entre 1961 e 1964, houve um aumento de 5,93% nos investimentos destinados à educação, o que desencadeara uma série de decretos que redireciona-

ram o ensino superior, o secundário e o ensino profissionalizante; po-rém, essa reforma não conseguiu efetivar a renovação cientifica da educação brasileira. Esse foi o pe-ríodo marcado por constantes de-safios, entre eles, o de acompanhar uma transformação na História do Brasil que afetaria, significa-tivamente, o comportamento da comunidade estudantil: a Ditadura Militar.

O Ato Institucional nº 5 instituiu o banimento do livre-arbítrio por parte da imprensa e reduziu a liber-dade de explanação, o que levou muitos professores, cientistas e ar-tistas brasileiros a deixarem o país por causa da perseguição política que proibia qualquer manifestação em universidades. O Estado atingiu o mais alto grau de autonomia, onde muitas pessoas foram de-saparecidas, torturadas, presas e assassinadas. A UFPB, no entanto, resistiu a este cenário, tendo em seu corpo docente e entre os alunos e servidores muitos militantes da luta contra a ditadura.

Os anos 70 foram de muita

Diretores da Universidade

da Paraíba inspecionam

obras do Campus

no decorrer dos anos, fatosmarcam HistÓria

Caderno Especial

Revista NORDESTE Agosto/201540

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produtividade e criação de novos cursos no ambiente acadêmico, sobretudo no Campus I, em João Pessoa, onde surgiram os cursos de Licenciatura em Educação Artística e de Bacharelado em Música, por exemplo. O início da década de 1980 viu a derrubada da ditadura e o surgimento da democracia, a par-tir da aprovação das eleições diretas para presidente.

A partir das décadas de 1970 e 1980, com modificações nas ma-trizes curriculares da educação básica, o ensino médio – então conhecido como “2º Grau” – passou a priorizar um ensino voltado a preparar os alunos para o ingresso nas universidades, por meio do con-curso vestibular. Foi uma época de intensificação de cursos supletivos, também preparatórios para o ensino superior. A procura pelos cursos de graduação ganhou maior impor-tância, sobretudo a partir do seu objetivo voltado à pesquisa, apesar de ainda serem poucas, na ocasião, as ofertas pela pós-graduação.

Esse foi o panorama do ensino na UFPB até a década de 1990, após a qual aconteceu uma redução no número de campi. Em 2002, a UFPB passou pelo desmembramento de quatro dos seus sete campi com a criação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A partir de então, a UFPB ficou composta le-galmente pelos campi de João Pes-soa (capital), Areia e Bananeiras. Em 2005, já na gestão de Rômulo Soares Polari, mais um campus foi implantado no Litoral Norte do Es-tado, abrangendo os municípios de Mamanguape e Rio Tinto.

Em 2012, a UFPB elegeu a pri-meira mulher a assumir o cargo de reitora. Trata-se da professora Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz, ex-diretora do Centro de Ciências da Saúde do Campus I.

Abaixo, construção do Hospital Universitário da UFPB

Ginásio de Esportes inicia trabalhos para sua construção

Governador Flávio Ribeiro Coutinho, à esquerda. Ao centro o ex-governador José Américo de Almeida e a direita Durmeval Trigueiro Mendes, reitor da Universidade da Paraíba

no decorrer dos anos, fatosmarcam HistÓria

Revista NORDESTEAgosto/2015 41

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A comemoração dos 60 anos de fundação da UFPB encontra a instituição buscando supe-

rar alguns obstáculos, como obras inacabadas deixadas por gestões anteriores e a ampliação da pesqui-sa. “Nos deparamos com problemas de toda ordem. Entretanto, o nosso compromisso com a UFPB é maior que o passivo recebido de adminis-trações anteriores”, lembra a reitora Margareth Diniz. A gestora destaca, por exemplo, o que classifica como mau planejamento e má execução do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidade (Reuni) feito pela gestão anterior. O Reuni possibilitou a construção de novos prédios para o Campus da UFPB, mas as obras so-freram atrasos por diversos motivos, entre eles a substituição de algumas construtoras.

“Com os recursos deste Programa do governo federal, a UFPB quase que dobrou de tamanho. No entanto, o fato é que crescemos quantitati-vamente, porém, o subdimensiona-mento ocorrido na elaboração dos projetos e a ineficiência constatada na execução do Plano, não permitiu que esse momento de bonança fos-se transformado em reciprocidade qualitativa”, explica Margareth, acrescentando que está trabalhan-do para concluir as obras do Reuni. “É preciso definir todos os projetos

gestão atual supera desafios complementares, além das licenças. Essa é uma tarefa extremamente difí-cil, considerando que temos de bus-car novos recursos para concluirmos essas obras”, completou.

Entre as obras paralisadas, a reitora lembra que uma delas está localizada exatamente na entrada do prédio onde funciona a Reitoria da UFPB. “Não é fácil entrar na reitoria e ver da janela do nosso gabinete de trabalho um prédio inacabado, considerando sua importância para as artes e a cultura, se estivesse em pleno funcionamento. Portanto, assim como os demais membros da comunidade universitária da UFPB, eu convivo diariamente com essa realidade”, conta. Atualmente, existem seis obras em andamento, 41 concluídas, 39 paralisadas e 19 a iniciar.

A reitora, entretanto, se diz atenta à resolução do problema, e ordenou a elaboração de um inven-tário, com memorial descritivo, e dos projetos complementares - elétrico, hidrosanitário e de lógica. “Res-tabelecemos a interlocução com o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura Municipal de João Pessoa, para rea-lização de Termo de Ajustamento de Conduta, que garanta a obtenção dos instrumentos legais exigidos no iní-cio da realização de toda e qualquer obra”, assegurou.

A UFPB desenvolve pesquisa com a Cissampelos sympodialis (também conhecida como Milona e Orelha de Onça). A planta está prestes a virar remédio e é utilizada no tratamento de asma, resfriados, bronquite e renite alérgica. Ela é encontrada no semiárido e consegue ser mais eficiente que alguns dos produtos químicos do

cOmbAte à AsmA

Margareth conta que apresentou ao Ministério de Educação um minu-cioso levantamento de todas as obras existentes na instituição, com os res-pectivos percentuais que aferem as fases de cada uma delas. “Esta ação garantiu recursos no valor de R$ 5 milhões, reforço que irá contribuir, juntamente com as outras medidas adotadas, de forma definitiva, para a conclusão da maioria das constru-ções em andamento”, garante Marga-

mercado. A UFPB detém a patente sobre fabricação do medicamento. A previsão é de que no início de 2013 o chá medicinal esteja à venda. A pesquisa é feita pelo Instituto de Pesquisa em Fármacos e Medicamentos (IPEFARM) e faz parte do programa de Pós-Graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, Capes nível 6, único na área de farmácia do Norte/Nordeste e Centro-Oeste com este nível.

reth, afirmando que há possibilidade concreta de novo aporte financeiro do Ministério da Educação.

Cortes no orçamentoA reitora vê com preocupação a

possibilidade de cortes orçamentá-rios pelo Governo Federal, e entende que os valores anunciados corres-pondem a redução de 10% de custeio e mais de 40% de capital, o que im-

Caderno Especial

Revista NORDESTE Agosto/201542

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plica em impacto significativo no de-senvolvimento do trabalho que a ins-tituição está realizando. Entretanto, revela confiança no enfrentamento do problema.

“Esta redução orçamentária que poderia inviabilizar o funcio-namento das rotinas dos cursos de pós-graduação, como a realização de bancas de qualificação e de defesa, aquisição de insumos para a pesqui-sa, funcionamento de laboratórios, manutenção de equipamentos, entre outros, além de impactar no cumpri-mento das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE) e no Plano Nacional de Pós-Gra-duação (PNPG), será suprida pela nossa gestão, que garantirá, com recursos do orçamento, igual valor dos recursos repassados pela CAPES”, adianta. “Trabalhamos para superar as dificuldades ocasionadas por esse momento do pais. Entendemos que esse fato não deve mudar a rota dos avanços científicos já conquistados”, completa.

CAPACITAÇÃO• Mais de 23% de servidores capacitados• Foram certificados mais de 1.500 servidores

GrAduAÇÃO• Aumento de vagas para bolsas-estágio e monitoria• Aumento no valor das bolsas de ensino • Programa de Licenciaturas foi ampliado de 762 em 2012 para mais de

1.200 bolsas• Programa de valorização da docência foi ampliado - 10 licenciaturas

em 2012, hoje 19• Será inaugurado núcleo interdisciplinar de ensino, pesquisa e

extensão em Mangabeira• InsTITuIÇÃO referênCIA de exTensÃO nO BrAsIl• UFPB foi a Instituição no Brasil que mais aprovou projetos no

Programa de Extensão Universitária de 2013/2014 e 2014/2015• No Mais Cultura nas Universidades foi aprovado projeto de mais de R$

1 milhão (só 18 projetos foram contemplados)

CIênCIA sem frOnTeIrAs• UFPB já concedeu 531 bolsas de estudo

InICIAÇÃO CIenTífICA• Cerca de 70 % dos alunos vindos do programa migram para a pós-

graduação• 3% dos alunos no ensino presencial (graduação) são bolsistas de

iniciação cientifica - número 3 vezes maior que a média nacional, • de 1%. • Enquanto as bolsas do CNPq aumentaram em 0,6 % entre 2012 e

2014, as bolsas financiadas com recursos da UFPB aumentaram em quase 50%

• Entre 2012-2014 houve incremento de 22% no número total de bolsas de Iniciação Científica

• Foi criado o Programa Pró-PIBIC que financia itens de custeio indispensáveis à execução dos projetos pela atual gestão

BIBlIOTeCA, TV e edITOrA• R$ 2 milhões para compra de livros para a Biblioteca da UFPB• Em 2013 e 2014 a Editora Universitária publicou 145 títulos• 70 títulos em processo de diagramação e editoração com lançamentos

previstos para outubro como parte das comemorações dos 60 anos• Projeto para criação de uma livraria móvel• Comercialização de livros via site da editora• Previsão de posterior publicação de e-books. • TV UFPB passa por reestruturação e está sendo pleiteando ao

Ministério das Comunicações concessão de rádio FM

mAis OPOrtUNidAdes

Novos prédios da UFPB. Obras inacabadas deverão ser retomadas com aporte financeiro federal

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reitora aValia conJuntura, VÊ aVanÇos e garante concurso

revista norDeste: A senhora tem uma carreira acadêmica de reco-nhecido sucesso como professora, pesquisadora e orientadora de Pós-Graduação. Como é ser Reitora da UFPB, nessa condição?margareth Diniz: Sou extremamen-te agraciada pelo fato de que a UFPB quis mudar o seu comando pelo viés da qualificação. Recebi a condição de Reitora como um gesto de con-fiança que me foi generosamente atribuído em parte pela minha histó-ria administrativa na Direção do Hos-pital Universitário Lauro Wanderley e na Direção do Centro de Ciências da Saúde. Mas, certamente foi muito mais no reconhecimento do trabalho docente meu, e do Vice-Reitor Profes-sor Doutor Eduardo Rabenhorst, nas ações de ensino, pesquisa e exten-são, que a comunidade universitária fez da autoridade acadêmica o requi-

Ao tomar posse em 2012, a reitora Margareth Diniz fez questão de agradecer a presidenta Dilma Rou-sseff (PT) por tê-la empossado sem se deixar “do-

brar a pressões nem a artifícios jurídicos”. A reitora esta-va conseguindo tomar a investidura do cargo após uma série de choques dentro instituição com a oposição, que até então estava no comando da UFPB, pedindo novas

“TrabaLHamOs para esgOTar Um passivO

desCOmUnaL qUe enCOnTramOs. TemOs

reCebidO O devidO sUpOrTe da advOCaCia geraL da UniãO, qUe

nesTa gesTãO esTá sOb nOva OrienTaçãO. mas é Um qUadrO gravOsO, de diFíCiL eqUaCiOnamenTO”

eleições, após amargar a derrota. A gestora encontrou uma instituição com obras paradas e estudantes descon-tentes. “Encontramos um passivo descomunal”, afirma a reitora ao se referir as dificuldades herdadas. Apesar disso, os números apresentados pela reitora mostram um avanço inequívoco e apontam para uma ação firma e equilibrada frente a crise econômica instalada no país.

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reitora aValia conJuntura, VÊ aVanÇos e garante concursosito prevalecente para aqueles que seriam as autoridades máximas de uma instituição de ensino da nature-za da UFPB. A nossa dedicação pro-fissional foi e continua sendo exclu-sivamente para a UFPB. Resistimos a todos os convites para o exercício de atividades fora da UFPB. Exercemos esse papel com responsabilidade e amor à causa universitária. Nunca é demais lembrar a grandeza da nossa instituição, no contexto do nosso Estado. A UFPB agiganta a Paraíba oferecendo educação de qualidade, além de propiciar alternativas do melhor quilate para atender aos seus anseios sociais.

norDeste: Como a senhora rece-beu a UFPB?margareth: Trabalhamos para es-gotar um passivo descomunal que encontramos. Temos recebido o de-vido suporte da Advocacia Geral da União - AGU, através da nossa Pro-curadoria, que nesta gestão está sob nova orientação. Mas é um quadro gravoso, de difícil equacionamento. Não recebi uma universidade prepa-rada ou aparelhada para contem-plar as demandas inerentes a uma instituição como a nossa. Nestes dois anos e alguns meses de nossa gestão, repercutiu negativamente tal despreparo do passado. Essa falta de estruturação, visão e de perspec-tiva de atualização operacional e acadêmica, foi agravada pelo legado de crescimento desordenado físico pela sua expansão com as obras do Reuni, e pelos cursos criados sem o adequado planejamento de implan-tação comprometendo a qualidade. Com ousadia e coragem essa gestão tem trabalhado com atenção para superar todas as insuficiências e despreparos, acumulados na última

década. Estamos pagando o preço dessas ausências de planejamento e de visão de futuro. Estamos atuali-zando a UFPB para abrigar o nível de qualidade que nela se constrói todos os dias, pelo trabalho de todos, do-centes, técnicos-administrativos e nossos estudantes.

norDeste: Quais os avanços do ponto de vista administrativo que

pessoas, patrimônio, administração e contratos, e gestão de atividades acadêmicas. A implantação efetiva do SIGA foi feita na nossa gestão. A UFPB tinha adquirido, há anos, mas não conseguia implantar o sistema de gestão acadêmico, o SIGAA, que inclusive não havia sido quitado. Tivemos que realizar pagamentos para a sua disponibilização comple-ta. A parte mais complexa referente a Pró-Reitoria de Graduação, que corresponde a quase 80% do SIGAA, foi implantada e será plenamente operada até o final de 2015. No apri-moramento de procedimentos admi-nistrativos destaca-se o fato da UFPB integrar uma das primeiras adesões de todas as instituições federais ao Sistema de Concessão de Diárias e Passagens – SCDP, estando na van-guarda entre os órgãos do Governo Federal. Procedimentos de aquisição de passagens que permeava dias, resume-se a minutos, naturalmente após o cumprimento do rito proces-sual. Estamos promovendo ações para a virtualização dos processos administrativos. Hoje, expedientes são gerados digitalmente, encami-nhados instantaneamente em docu-mento digital, evitando gasto des-necessário de papel e promovendo a celeridade processual.

norDeste: Como está sendo traba-lhada a questão dos servidores da instituição?margareth: Foram implantados os módulos do Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos - SI-GRH, que asseguram a modernização dos procedimentos e rotinas de tra-balho, através da otimização, racio-nalização e automação dos serviços que são prestados aos servidores professores e técnico-administrati-

• Pós-Graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos

• Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema)

• Agronomia • Física • Química• Ciências Biológicas • Zoologia• Ciências Jurídicas • Economia• Linguística • Psicologia Social• Administração

rANkiNgTem conceito 5 e 6*

47% dos cursos possuem conceito 4 e 25% tem conceito

5 pela Capes

podem ser referidos pela sua gestão? margareth: Do ponto de vista ad-ministrativo, avançamos quando reestruturamos os setores de modo a garantir maior eficiência e celerida-de nas ações das Pró-Reitorias e suas Coordenações, com a implantação dos Sistemas SIGRH, SIPAC e SIGAA, que funcionam agora de forma integrada, nas áreas de gestão de

*São atribuídas notas 6 e 7 aos cursos considerados de excelência

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vos, garantindo-lhes transparên-cia, eficiência e eficácia. Investimos muito nos Cursos de Capacitação e Qualificação. Anualmente, são aloca-dos recursos na ordem de um milhão e cem mil reais. Há um plano bianual, consolidado a partir do levantamen-to das necessidades de capacitação dos ambientes organizacionais, considerando as especificidades das unidades acadêmicas e administra-tivas da instituição. Em 2014, foram certificados mais de 1.500 servidores, em 60 ações de capacitação, o que representa mais de 23% do total de servidores. Ainda nesse campo, temos o Plano de Qualificação Institucional - PQITEC/UFPB, que visa a prospecção de vagas nos programas de Pós-Gra-duação stricto sensu, para formação de mestres e doutores na própria Instituição, como também o apoio à qualificação dos técnico-adminis-trativos em instituições nacionais e estrangeiras. Em relação a qualidade de vida, saúde e segurança no tra-balho, além das ações de promoção à saúde e vigilância aos ambientes e processos de trabalho, os exames mé-dicos periódicos, que incluem exames laboratoriais, de imagem e clínico de todos os servidores técnico-ad-ministrativos e docentes, vêm sendo realizados na nossa gestão. Antes, os recursos destinados pelo Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão para este fim, no final do exercício eram devolvidos. Nesse campo ainda, o Centro de Referência de Atenção à Saúde (CRAS), criado na nossa ges-tão, é um órgão que tem por finalida-de prestar assistência aos membros da comunidade acadêmica e aos seus dependentes, dando respostas às ne-cessidades básicas de saúde, além de contribuir na formação de estudantes universitários e de profissionais que atuam na rede assistencial do SUS, através de uma equipe interdiscipli-nar de graduação e pós-graduação

em Medicina, Psiquiatria, Psicologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Medicina Alternativa, cobrindo, inclusive, consultas médica, odon-tológica, psicológica, de assistência social, de nutrição, de farmácia, de fisioterapia, de terapia ocupacional, de fonoaudióloga e de enfermagem. Reestruturamos o Quadro de Referên-cia dos Servidores Técnico-Adminis-trativo e os Bancos de Professor Equi-valente do magistério superior e o de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, significando dizer, que os docentes poderão sair para realização de cursos

entre ingressantes e diplomados, nossa gestão criou em 2014 o progra-ma de tutoria (Protut) que tem por finalidade integrar estudantes com comprovada deficiência em conhe-cimentos prévios do ensino médio, repetentes ou com baixo índice de aproveitamento. O programa envolve 38 professores e 107 bolsistas. Os estudantes são pagos com recursos próprios da UFPB. Elevamos o valor das bolsas de ensino, além de termos aumentado o número de vagas para bolsa-estágio, monitoria, Prolicen que passaram de 762 em 2012 para mais de 1.200 bolsas, isso somente na graduação. Estimulamos programas, à exemplo do Prodocência, programa de consolidação das licenciaturas, que envolvia 10 licenciaturas em 2012 e hoje hoje está com 19, o que signi-fica um crescimento de quase 100%. Praticamente triplicamos o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Em setembro, inauguraremos o núcleo interdiscipli-nar de ensino, pesquisa e extensão - Niepe, que funcionará no bairro de Mangabeira. Criado pela necessidade de ampliação de espaços voltados para o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão dos cursos de graduação em licenciatura e pós-graduação na área de ensino da UFPB. O Niepe será também am-biente de convivência com professores e alunos da educação básica pública que envolva atividades de iniciação pedagógica, científica e tecnológica, contribuindo para a melhoria da qualidade de ensino da educação básica, infantil, fundamental e mé-dio, do estado da Paraíba. No Niepe funcionarão laboratórios onde serão ministradas aulas para estudantes universitários e de ensino fundamen-tal e médio.

norDeste: Quais as principais ações da Pós-Graduação na UFPB, hoje?

*Auxílio transporte, auxílio alimentação, assistência médica e odontológica, sentenças judiciais e capacitação de servidores, dentre outras

Despesas de capital

Fontes de recursos do tesouro e próprio, definido em Lei

Pagamento de pessoal ativo, inativo, pensionista e outras ações correlatas*

Manutenção básica da Universidade

r$ 1.268.179.016,00

r$ 1.022.250.184,00

r$ 173.584.082,00

r$ 72.344.750,00

OrÇAmeNtO

de pós-graduação com a garantia de um professor substituto. Iremos rea-lizar concurso para professor titular livre, tão logo o Ministério da Educa-ção autorize o provimento das vagas disponíveis.

norDeste: Quais os avanços regis-trados pelas ações da gestão na área dos cursos de Graduação?margareth: Para o ensino de gradua-ção, com vistas a equilibrar a relação

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margareth: O maior desafio já nos primeiros meses de gestão foi rever-ter o arquivamento de importantes convênios com o MCTI/FINEP. Eram mais de 21 milhões em recursos para aquisição de equipamentos de médio e grande porte, além de algumas obras. Há um esforço, ainda, para recebermos estes e outros recursos da FINEP. Atuamos para consolidar a base de pesquisa com recursos in-ternos, com ações como o Programa de Apoio aos Projetos de Iniciação Científica - PRÓ-PIBIC que tem como objetivo o financiamento de itens in-dispensáveis a execução dos projetos PIBIC. Trata-se de um Programa-Pilo-to inédito na UFPB e no país. Numa parceria da PRPG e Progep, foi criado o Programa de Qualificação Institu-cional – PQI/UFPB - que tem como objetivo primordial ampliar o número de servidores docentes e técnico-ad-ministrativos, da UFPB qualificados nos níveis de mestrado e doutorado. Para internacionalizar as atividades de pesquisa e pós-graduação da UFPB, implementamos o Programa de Tradução de Artigos através da con-tratação de uma das melhores empre-sas prestadoras deste tipo de serviço: a American Journal Experts - AJE, empresa de reconhecida competência internacional.

norDeste: E quanto a extensão?margareth: No nosso reitorado, a extensão Universitária vem sendo tratada como um importante pilar da missão da Universidade. Equipa-ramos o valor da bolsa de extensão com as de pesquisa e elevamos o número de concessões. Conseguimos colocar a UFPB como a Instituição que mais aprovou projetos no Proext 2013/2014 e 2014/2015. Com isto, obtivemos o 1º lugar dentre todas as Instituições Públicas de Ensino Supe-rior do Brasil. Estamos aguardando o resultado de 2015/2016. Acabamos

também de aprovar, no Edital Mais Cultura nas Universidades - MEC/MinC, o nosso projeto institucional, concorrendo com 101 outras, com re-cursos na ordem de mais de 1 milhão de reais. Vale salientar que só 18 pro-jetos foram contemplados e que cada Instituição só poderia enviar um úni-co projeto. Hoje, somos a Instituição referência de Extensão no Brasil.

norDeste: Quais as outras áreas de atuação da atual gestão que podem ser destacadas?margareth: Outros avanços que devem ser elencados são os in-

previstos para outubro como parte das comemorações dos 60 anos da UFPB. Ainda sobre a editora, estamos com projeto de criação de uma livraria móvel, para atender as demandas dos outros Campi. A proposta é customizar um caminhão que irá percorrer toda a UFPB, além de participar de feiras de livros da região, possibilitando a visibilida-de da nossa produção acadêmica. Adotou-se ainda a comercialização de livros via site da editora. Para o futuro próximo, teremos a publi-cação de e-books. A nossa TV UFPB passa por reestruturação e estamos pleiteando, junto ao Ministério das Comunicações, uma concessão de rádio FM para ampliarmos nossos canais de comunicação com a socie-dade, além de servir como labora-tório primordial para os estudantes dos cursos de Jornalismo e Rádio e TV. Está em curso a execução de sólido plano de ação que vem sendo implementado na Superintendência da Tecnologia da Informação, base imprescindível para o pleno funcio-namento das atividades meio e fins da instituição.

norDeste: Como funciona atual-mente a política de assistência es-tudantil?margareth: Na assistência estudan-til, em especial após a adesão ao SiSu/Mec, e com a inserção da Lei de Cotas, a UFPB criou e expandiu ações com vistas à permanência estudantil de forma qualificada, atuando pela primeira vez em todas os Campi e unidades acadêmicas. Os processos foram descentralizados e a seleção, hoje, acontece via coordenações de curso através do SIPAC, permitindo uma maior transparência, acompa-nhamento da tramitação, além da facilidade aos estudantes que não precisam mais esperar em longas fi-las nos corredores da Pró-Reitoria

“O maiOr desaFiO Já nOs primeirOs meses

de gesTãO FOi reverTer O arqUivamenTO de impOrTanTes

COnvêniOs COm O mCTi/Finep. eram mais de 21 miLHões em reCUrsOs

para aqUisiçãO de eqUipamenTOs de médiO

e grande pOrTe, aLém de aLgUmas Obras”

vestimentos na compra de livros, coordenados pela Direção da Biblio-teca Central, em torno de dos dois milhões de reais nesses quase três anos e o trabalho realizado pela Editora Universitária. Em 2013 e 2014 a editora publicou 145 títulos, impressos já entregues aos auto-res, além da publicação do Edital Pró-Publicação em parceria com a PRPG, para atender a demanda dos professores vinculados aos progra-mas de Pós-Graduação, totalizando 70 títulos em processo e diagrama-ção e editoração com lançamentos

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por horas como no passado. Implantamos pela primeira vez, o auxílio creche para toda a UFPB, auxílio transporte para as unidades acadêmicas de Santa Rita e Man-gabeira, um projeto piloto exitoso. Criamos nas unidades de Bananeiras e Areia o Auxílio Creche e o Auxílio Moradia. O aumento expressivo pra-ticado no auxílio moradia, de 275 para mais de 780 alunos assistidos, reflete o nosso compromisso com uma maior inclusão. Mais de 600 novos alunos foram contemplados com o auxílio alimentação. Desen-volvemos ações de reestruturação física, de mobiliário e equipamentos para as residências universitárias com a inauguração de novas resi-dências como a de Bananeiras, além do fomento de material esportivo em diversas modalidades para os residentes. A criação do Comitê de Inclusão e Acessibilidade (CIA), em 2013, permitiu a inclusão dos alu-nos com deficiência na instituição passando de 32 em 2012, para mais de 505 alunos em 2014. O projeto do Kit Acadêmico para os Centros Aca-dêmicos é outra ação aprovada pela comunidade, com mais de 42 dire-tórios estudantis contemplados em dois anos. Atualmente temos mais de 480 alunos inseridos no Programa Bolsa Permanência/Mec, criado em 2013, suporte psicológico e social na Pró-Reitoria, ampliação no número de vagas do Programa PEC-g para mais de 100, aumento na concessão de passagens aéreas e terrestres para eventos estudantis, além do sistema de restaurantes universitá-rios totalmente gratuito em todos os Campi. Desenvolver uma assistência estudantil qualificada e inclusiva é o nosso propósito todos os dias.

norDeste: Que outras ações além do eixo Ensino-Pesquisa e Extensão estão sendo desenvolvidas e que

mereceriam também destaques?margareth: Além das condições de instalações definitivas para a Ouvidoria e Serviço de Informação ao Cidadão – SIC que alocamos com destaque e toda infra-estrutura no Hall do Prédio da Reitoria, formamos uma Comissão nomeada Multicam-pi para dar suporte às demandas dos Campi do interior, a Comissão de Gestão Ambiental, Comissão de Bem-Estar Animal, Comissão de In-clusão e Acessibilidade, agora com espaço próprio, Comissão de Ética, Comissão Própria de Avaliação, Comissão Estatuinte e ampliamos o

de Desenvolvimento Institucional 2014/2018, visando a consolidação das linhas de ações na busca da excelência, da reciprocidade qualita-tiva, da inclusão, da acessibilidade; outro desastroso passivo recebido. Estamos construindo uma realidade acadêmica de peso qualitativo que a muito excede a estrutura física da pedra e do cal.

norDeste: Qual o tamanho atual da UFPB, em termos de número de estudantes de graduação de pós-graduação, de docentes e técnicos administrativos?margareth: Dados do Censo do En-sino Superior 2014 contabilizaram mais de 37 mil alunos de gradua-ção, em 139 cursos de graduação, nas modalidades presencial e a distância, distribuídos em 4 campi; João Pessoa, Areia, Bananeiras, Litoral Norte. Temos 73 programas de pós-graduação, dos quais 11 são desenvolvidos em associação com outras Instituições. Estes pro-gramas correspondem a 103 cursos de pós-graduação entre mestrados acadêmicos e profissionais. No início do nosso mandato existiam apenas 4 mestrados profissionais. Somente em nossa gestão foram criados 24 novos programas. Isto é, no nosso reitorado de dois anos e alguns meses, criamos mais de 32% dos atuais programas de pós-graduação. Este ano enviamos à Capes mais 2 propostas de mestrados: Docência para a Educação Básica e Clínica Médica. Com relação ao número de alunos matriculados, temos mais de 4.500 pós-graduandos nos cursos de mestrado e doutorado. Entre 2012 e 2014 houve um aumento expressivo em termos de alunos matriculados na pós-graduação, sendo mais de 42% para o mestrado e mais de 24% para o doutorado. Esta evolução do número de matrículas reflete bem a

“nO iníCiO dO nOssO mandaTO exisTiam

apenas 4 mesTradOs prOFissiOnais. sOmenTe em nOssa gesTãO FOram

CriadOs 24 nOvOs prOgramas. isTO é, nO

nOssO reiTOradO de dOis anOs e aLgUns meses, CriamOs mais de 32%

dOs aTUais prOgramas de pós-graduação”

raio de atuação da Assessoria Inter-nacional. Criamos a agência Inova para cuidar das patentes e invenções da UFPB e temos o IDEP- Instituto para o Desenvolvimento da Paraíba que somam uma frente voltada para viabilizar as iniciativas acadêmicas junto ao setores públicos e privados. Todas essas iniciativas incorporam novas linhas de ações que combina-das às convencionais de Ensino-Pes-quisa-Extensão, trazem condições para realizações de nossos novos projetos para o melhor futuro acadê-mico da UFPB. Implantamos o Plano

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expansão dos cursos de mestrados e doutorados no período de 2012 a 2014. Elevamos também o conceito Capes da maioria dos cursos de pós-graduação. Com relação ao quadro de pessoal, a UFPB conta hoje com 2.665 docentes e 3.586 técnicos administrativos. Um fato relevante é que temos 52% de técnicos ad-ministrativos com especialização, mestrado e doutorado, e mais de 70% de docentes doutores, o que nos permitirá o credenciamento da UFPB a mais um grupo internacional, o Tordesilhas, formado por renomadas universidades do mundo.

norDeste: Qual a classificação da UFPB no ranking das universidades paraibanas e brasileiras?margareth: No Ranking Interna-cional de Universidades publicado pela QS University Rankings: Latin America 2015, que leva em conside-ração parâmetros como reputação acadêmica da instituição, número de artigos publicados mundialmen-te, número de citações de artigos, inserção internacional de seu corpo docente, entre outros itens e quan-do foram analisadas cerca de 3000 instituições em todo o mundo, a Uni-versidade Federal da Paraíba ocupa a 115o posição na América Latina. Se considerarmos apenas as univer-sidades brasileiras, a UFPB se coloca como a 1a entre as universidades do estado da Paraíba, 4a universidade do Nordeste e 20a entre as universi-dades federais de todo o país. Desta forma em termos locais, regionais, nacionais e internacionais, a UFPB tem posição de destaque. Outro ranking que merece consideração é o de número de citações dos traba-lhos publicados pelos pesquisadores da UFPB. O “Webometrics Ranking of World Universities” divulgou re-centemente uma lista com os 3.000 pesquisadores de universidades

brasileiras que têm mais trabalhos citados, segundo os dados do Google Acadêmico coletados na primeira semana de fevereiro de 2015, pelo Cybermetrics Lab. Nesta lista, figu-ram 30 pesquisadores da UFPB. Para a região nordeste, a UFPB e UFRN ocupam a 3ª colocação em número pesquisadores mencionados no ran-king. Quanto a graduação, cerca de 25% dos nossos cursos estão entre os cursos com maior pontuação no ranking nacional.

norDeste: Uma das reclamações da comunidade universitária diz

respeito as obras paralisadas na gestão passada. Esse problema foi sanado? Quantas obras estão em andamento?margareth: Dentre os problemas encontrados, destacamos aqueles advindos do mal planejamento e má execução dos projetos viabilizados pelo Plano de Reestruturação e Ex-pansão das Universidades - Reuni. Com os recursos deste programa do governo federal, a UFPB quase que dobrou de tamanho. No entanto, o fato é que crescemos quantitativa-mente, porém, o subdimensiona-mento ocorrido na elaboração dos

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projetos e a ineficiência constata-da na execução do Plano, não per-mitiu que esse momento de bonança fosse transformado em reciprocida-de qualitativa. Isto porque as obras previstas no Reuni não atendiam as mais básicas exigências técnicas de engenharia. Assim, houve um con-gestionamento de obras inconclusas e de péssima qualidade. Inclusive, muitas delas, à época, já haviam sido entregues à comunidade uni-versitária. Desde o primeiro dia de nossa gestão estamos trabalhando para concluir as obras do Reuni. Para maioria delas é preciso elabo-rar todos os projetos complementa-res, além das licenças. Essa é uma tarefa extremamente difícil, consi-derando que temos de buscar novos recursos para concluirmos essas obras. Esse problema, de fato, existe e nos constrange cotidianamente. Não é fácil entrar no prédio da reito-ria e ver da janela do nosso gabinete de trabalho um prédio inacabado, considerando sua importância para as artes e a cultura, se estivesse em pleno funcionamento. Assim como os demais membros da comunidade universitária da UFPB, eu convivo diariamente com essa realidade. Na verdade, a paralisação das obras, ocorrida na gestão anterior, foi um dos principais problemas que en-frentamos. É que, por incrível que pareça, a despeito da capacidade intelectual e técnica existente na instituição, essas obras foram ini-ciadas sem os projetos complemen-tares, as imprescindíveis Licenças Ambientais e os Autos de Vistorias do Corpo de Bombeiros. Havia tão somente os projetos arquitetôni-cos. Esse fato, inclusive, fez brotar da inteligência da comunidade universitária a expressão “obras casca de ovo”, ou seja construções apenas com paredes e telhados. Então, para superar esse enorme

passivo, um grande esforço foi e vem sendo realizado no sentido de corrigir essas graves falhas, que impediam a continuidade e conclu-são das obras. Assim, foi elaborado inventário, com memorial descritivo para elaborarmos todos os projetos complementares: elétrico, hidrosa-nitário e de lógica. Em outra frente, reestabelecemos a interlocução com o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura Municipal de João Pessoa, para rea-lização de Termo de Ajustamento de Conduta, que garanta a obtenção dos instrumentos legais exigidos

necessários para concluir a totalida-de das obras, é ponto prioritário da nossa gestão e vem sendo tratado junto ao Ministério da Educação. Apesar de todas essas dificuldades, antes de completarmos os três anos de gestão, viabilizamos a conclusão de 43 obras, licitamos 19 novas e estamos adotando as providências para concluir mais 40.

norDeste: Haverá concurso pú-blico para a UFPB? Quantas vagas serão disponibilizadas?margareth: Sim. Inicialmente, estão disponibilizadas 156 vagas para as Classes E, D e C. Esses cargos, an-teriormente denominados como de Níveis Superior, Médio e de Apoio, irão integrar o quadro de servidores técnico-administrativos nos quatro campi. No entanto, o número de va-gas disponíveis para contratação de-verá aumentar. Estamos trabalhando junto ao Ministério da Educação no sentido de que sejam liberadas mais 56 vagas para completar o quanti-tativo do Quadro de Referência de Servidores Técnico-Administrativos da Instituição. Além disso, a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas vem atualizando o número das vagas que ocorrem por aposentadoria, faleci-mento e exoneração, para serem dis-ponibilizadas para o concurso, antes da publicação do edital. Outro fator importante é que antecedendo as nomeações, será aberto edital para remoção interna de servidores. Tam-bém igualmente relevante é o fato de que a definição das vagas para o concurso não ocorreu de forma auto-mática, ou seja, para os mesmos car-gos vagos. Solicitamos, com base nas demandas dos setores acadêmicos e administrativos, permuta de códigos de vagas ao Ministério da Educação de modo a adequar perfis às necessi-dades dos diversos ambientes orga-nizacionais.

“esTãO dispOnibiLizadas 156 vagas para as

CLasses e, d e C. CargOs, denOminadOs COmO de níveis sUperiOr, médiO

e de apOiO, qUe irãO inTegrar O qUadrO de servidores técnico-adminisTraTivOs nOs

qUaTrO Campi. nO enTanTO, O númerO de vagas deverá

aUmenTar”

no início da realização de toda e qualquer obra. Além disso, apresen-tamos ao Ministério de Educação minucioso levantamento de todas as obras existentes na instituição, com os respectivos percentuais que aferem as fases de cada uma delas. Esta ação garantiu recursos no valor de cinco milhões de reais, reforço que irá contribuir, juntamente com as outras medidas adotadas, de forma definitiva, para a conclusão de parte das construções em anda-mento. Um novo aporte de recursos

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SiStema Confea/Crea e mútua realiza a 72ª Semana ofiCial da engenharia e da agronomia

Anualmente, engenheiros, agrônomos, meteorologistas, geó-logos, geógrafos, técnicos e tecnólogos, dos quatro cantos do país, se reúnem para debater temas diretamente ligados ao desenvolvimento e à infraestrutura brasileira. É a Semana Oficial da Engenharia e da Agro-nomia (Soea) que, em 2015, em sua 72ª edição, tem como tema “Sus-tentabilidade: água, energia e inovação tecnológica”. A 72ª Soea será realizada em Fortaleza (CE), de 15 a 18 de setembro, no Centro de Even-tos do Ceará, sendo uma realização do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE), e Mútua (Caixa de Assistência dos Profissionais).

Este ano, a Soea deverá reunir mais de três mil pessoas, e se ca-racteriza como o maior evento da área tecnológica do Brasil. Dezenas de profissionais e estudantes da Paraíba já confirmaram presença, e a presidente do Crea-PB, a engenheira Giucélia Figueiredo, destaca a importância que a Soea representa para a categoria e para a socieda-de: “Teremos a oportunidade de reunir diversos pensamentos, e todos focados no desenvolvimento do nosso país. O que existe de melhor em inovação tecnológica na área da engenharia e agronomia, nacional e internacional, estará em debate. É sempre um grande momento de in-teração para os engenheiros, como também para os estudantes”.

Dentro da 72ª Soea acontecerá, pela primeira vez, a I Feira da Inovação Tecnológica (Fitec), uma feira com produtos tecnológicos que dará uma feição moderna à tradicional Semana, além do Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia (II Contecc), e a Ex-posição da Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (ExpoSoea).

Sobre o Contecc, desde 2014 o Congresso está inserido na Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia, e tem a finalidade de articular os profissionais da área, em todo o Brasil, com a inovação para o desen-volvimento e propor ambientes adequados para discussão e análise de oportunidades nas atividades voltadas à Engenharia e à Agronomia no crescimento do país. Entre os destaques da programação, está a parti-cipação de Pedro Doria Nehme, estudante de Engenharia Elétrica que ganhou uma viagem ao espaço em um concurso da companhia aérea KLM, além da realização de minicursos.

Os participantes da 72ª Soea também terão acesso a Exposição da Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (ExpoSoea), e entre os expositores está a Mútua (Caixa de Assistência dos Profissionais). Diretor Geral da Mútua na Paraíba, o engenheiro Antônio da Cunha

Cavalcanti, enfatiza que a Mútua e o Sistema Confea/Crea possuem em vínculo muito forte, e com certeza a realização de um evento da magnitude da Soea só faz ampliar os conhecimentos dos participantes.

“A Mútua é uma grande parceira dos engenheiros, e por isso não poderia deixar de participar ativamente de um evento como este. In-clusive, em seu stand na ExpoSoea, a Mútua estará apresentando todos os seus serviços, que vão desde auxílio para uma pós-graduação, até empréstimos para uma viagem de férias com a família”, enfatizou o en-genheiro Antônio da Cunha Cavalcanti.

A realização da 72ª Soea é a comprovação de que o Sistema Con-fea/Crea e Mútua está cada vez mais fortalecido e uníssono. Mais infor-mações sobre o evento podem ser obtidas através do site www.soea.org.br . Os profissionais paraibanos poderão conferir a cobertura do evento através do site do Crea-PB (www.creapb.org.br) e sua fan page no facebook (facebook.com/creapb).

PreSidente do Crea-PB deStaCa a imPortânCia do evento Para oS ProfiSSionaiS da área

Realização

PUBLIEDITORAL

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As vocAções e DesAFIos

Do NorDeste

CONTEÚDO

Em pleno ano de retração econômica, Estados nordestinos mostram avanços, mas ainda convivem

com graves efeitos da estiagem prolongada no semiárido e precisam manter índices de crescimento

para elevar o PIB e reduzir as desigualdades

1. o crescImeNto e AtrAso

2. A ForçA ecoNômIcA DA regIão

3. os DesAFIos e As vocAções

4. A trANsFormAção DA pAIsAgem

• Muito aléM do preconceito

5. o papel da Sudene

6. caSoS de SuceSSo

7. SoftwareS para o Mundo

CaPa/ matÉria esPecial

Por paulo dantas, luan Matias e pedro callado

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Apesar de apresentar crescimento constante acima do nacional,

o Nordeste permanece atrasado em comparação ao Sul e Sudeste. A região até melhorou. Praticamente erradicou a miséria e elevou seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), avançou nas oportunidades de emprego e ensino. Uma parte desse mérito vem da força da própria região e outra parte foi possível graças aos programas e investimento do Governo Federal, principalmente a partir dos governo do PT. Contudo, a questão que se levanta é por que as desigualdades se mantém? Na sua edição de aniversário de 9 anos, a Revista NORDESTE busca traçar os vários aspectos econômicos da região, mostrar um pouco do crescimento, dos avanços, desafios e vocações. Para isto, ouviu economistas, cientistas e sociólogos. O resultado é um painel complexo, mas rico, de uma região cheia de contrastes.

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CONJUNTURAECONÔMICA I

matéria Especial

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Apesar de ter crescido a quase taxas chinesas nos últimos anos, o Nordeste manteve o PIB da época do Império. Cenário só começa mudança de fato a

partir do governo Lula

omo já dizia Tom Jobim, “o Brasil não é um país para principiantes”. O mesmo pode ser dito do

Nordeste, por isso não é uma tare-fa simples encontrar as razões para essa espécie de desenvolvimento tar-dio da região, nem para a ampliação das desigualdades do Nordeste em relação a outras regiões, como o Sul e o Sudeste. Mas o que se sabe está documentado em dados oficiais e apontam para uma tendência da União, após o fim do ciclo do café, em privilegiar o Sul e Sudeste, em detrimen-to do Nordeste.

O argumento que diz ter sido o ciclo do café e o advento da mão de obra assalariada que pro-piciou o desenvolvimento do sul e su-deste (veja matéria nesta edição) talvez explique em parte porque a renda per capita do Nordeste era 47% da média da renda per capita brasileira de mea-dos do século XIX. Mas não justifica porque o percentual continua prati-camente inalterado ainda hoje (48%),

C

o crescImeNtoe AtrAso

quase 100 anos depois do fim do ciclo do café (historicamente o ciclo vai de 1800 a 1930).

Conforme estimativas elaboradas pelo professor Roberto Cavalcanti de Albuquerque, com longa carreira acadêmica e autor, dentre inúmeras obras do livro “O Desenvolvimento Social do Brasil”, que faz um balanço

do quadro econômico e social do Bra-sil de 1900 a 2010, o PIB do Nordeste cresceu aproximadamente 2.396% de 1940 a 2010, em termos reais. Algo assombroso, sem dúvida. O PIB per capita, por sua vez, incrementou-se 581% nesse mesmo período. Apesar dessa expansão, o PIB do Nordeste tem oscilado entre 12% a 16% do PIB brasileiro no mesmo período. Por sua

vez, o PIB per capita (a divisão das riquezas pelo número de habitantes) do Nordeste tem variado entre 38% a 48% do PIB per capita do Brasil no mesmo período. A média continua a mesma de 100 anos atrás.

Isso significa dizer que o PIB e o PIB per capita da região têm cresci-do, na verdade até cresceu bastante.

Mas acontece que como o PIB do Brasil também cresceu, foram mantidas as disparidades. Isso fez com que desde a meta-de do século 20 até hoje, os números (e parte da realidade) permaneçam praticamente a mesma coisa. “A economia não estagnou, cresceu. Em

alguns períodos cresceu em ritmo acelerado até. É verdade que o PIB gira em torno de 38% a 48% do PIB do Brasil? É verdade! Mas também é verdade que o PIB cresceu. A eco-nomia não ficou estagnada”, ameniza Airton Saboya, consultor do Escritó-rio Técnico do Nordeste (ETENE), vinculado ao Banco do Nordeste.

Apesar de se constatar o cres-

“HISTORICAMENTE ABANDONADO, A REGIÃO

NORDESTE BUSCA ENCONTRAR SUA REAL VOCAÇÃO

NA ECONOMIA”LaDisLau DOwbOr

Economista

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Foto: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 57

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cimento do PIB, vale ressaltar que a região tem 28% da população do país e concentrava, em dezem-bro de 2014, 12,8% do sal-do das operações de crédi-to no Brasil. Os números podem confundir o leitor, mas dados levantados pela Associação dos Funcioná-rios do Banco do Nordes-te do Brasil (AFBNB), apontam que a relação Crédito/PIB é extrema-mente desvantajosa para o Nordeste. Esse montante (12,8% das operações de crédito) corresponde a R$ 385 bilhões e representa 6,98% do PIB do Brasil (que em 2014 era de R$ 5,5 trilhões). Esses núme-ros não chegam nem na metade do que correspon-de para o país a economia da região, que é 14% do PIB. Além disso, apesar desses núme-ros, de acordo com o IBGE, o Nor-deste tem 9 milhões de pessoas na li-nha de pobreza. Isso significa 53,80% dos pobres do Brasil (dados de 2013).

Ainda, tomando por base apenas os bancos públicos, a distribuição dos recursos para a região por meio do Fundo Constitucional de Finan-ciamento do Nordeste (FNE) acaba sendo cinco vezes inferior ao que o Nordeste transfere de sua poupança para o financiamento do crescimento do Centro-Sul brasileiro, especial-mente do Sudeste. Lembrando que o FNE tem como finalidade contribuir para o desenvolvimento econômico e social do Nordeste, mediante a execu-ção de programas de financiamento aos setores produtivos (confira dados nas próximas páginas).

A relação com os bancos privados pode ser pior ainda, revela Saboya. “Historicamente, os bancos, especial-mente os privados, captam recursos

no Nordeste e transferem especial-mente para o Sudeste. Isso tem ocor-rido de forma sistemática e histórica”, pontua. Segundo o superintendente do ETENE, Fran Bezerra, a legis-lação do Brasil não obriga ao banco investir o que capta na mesma região. “O que pode reverter esse mecanis-mo, é fortalecer os bancos públicos de forma que apliquem em regiões menos desenvolvidas, a exemplo do Nordeste. A medida que os bancos, aumentarem os investimentos no Nordeste é possível reverter esse pro-cesso de transferência. Mas sabemos que para isso ocorrer a região também

precisa apresentar dinamismo”, frisa. Apesar dessa tendência dos bancos

públicos, de baixo investimento na região, esse quadro foi alterado em 2013 e 2014. A título de exemplo, o saldo de crédito das agências oficiais de fomento no Nordeste saltou de R$ 51,4 bilhões em 2005 para R$ 278,8 bilhões em 2014. Segundo Saboya, o ETENE vem acompanhado há bastante tempo essa transferência de crédito e isso nunca tinha acontecido antes. “Nos últimos 20 anos tinha se mantido a evasão”.

Antes disso a evasão era a norma.Os economistas ressaltam que es-

“A MEDIDA qUE OS BANCOS AUMENTAREM OS INVESTIMENTOS NO NORDESTE é pOSSíVEL REVERTER A

TRANSfERêNCIA DE CRéDITO”

FraN bEzErraEconomista

matéria Especial

A cidade e seus contrates. Ao lado, os economistas Fran Bezerra e Ladislau dowbor (a baixo)

Revista NORDESTE Agosto/201558

Page 59: ED 105

ses investimentos são importantes para que seja mantido o crescimento do PIB do Nordeste diminuindo as desigualdades. Segundo estudo do IPEA, o Nordeste precisaria crescer a uma taxa de 3% acima da média na-cional por 16 anos para alcançar 75% do PIB per capita nacional, um indi-cador aceitável pela União Europeia para a distância entre suas regiões. “Isso somente será factível com a realização de elevados investimentos produtivos no Nordeste”, defendeu Fran Bezerra.

Outro dado importante tem a ver com os insumos comprados pelo Nordeste de outras regiões. Núme-ros de 2009 apontam que o Nordes-te adquiriu R$ 90 bilhões de insu-mos principalmente do Centro-Sul e vendeu R$ 82 bilhões para outras regiões, de forma que registrou um déficit de R$ 8 bilhões no comércio interestadual. Dados específicos da Paraíba, mais recentes, apontam uma

dadoS MelhoraraM A pArtIr De 2001

forte dependência de importação de insumos. O estado registrou um dé-ficit em 2013 de R$ 11,451 bilhões ao comparar as compras e as vendas.

Desta forma, parte importante da demanda gerada no Nordeste con-tinua abastecida pela economia do Centro/Sul, em um processo de “va-zamento” de renda que restringe a capacidade de geração de empregos na quantidade e qualidade necessá-rias. Os economistas acreditam que à medida que o setor produtivo do Nordeste se fortaleça, os chamados “vazamentos” econômicos e financei-ros serão gradativamente reduzidos, mas o cálculo, onde os mais pobres financiam os mais ricos, parece soar realmente algo perverso.

Apesar de concentrar substancial parcela dos pobres brasileiros, o Nordeste tem reduzido números da desigualdade. Em 2001, 14,0% da população brasileira dispunha de renda domiciliar per capita de até US$ 1,25/dia. Em 2012, a extrema pobreza havia se reduzido para 3,5% da população. No Nordeste, a redução foi de 43,0% em 2001 para 11,1% em 2012.

IDH EM ALTAO IDH do Nordeste evoluiu de 0,405 para 0,666 de 1991 a 2010 (melhor quanto mais próximo de 1,0). O índice de Gini, que mede a concentração de renda, reduziu-se no Nordeste, de 0,626 para 0,537 (melhor quanto mais próximo de zero) de 2001 a 2012.

RECIfE (pE) IDHM saiu de 0,576 em 91 para 0,776 em 2010. A dimensão que mais contribuiu para o IDHM do município foi longevidade, com índice de 0,825, seguida de renda, com índice de 0,798, e educação, com índice de 0,698.

JOÃO pESSOA (pB)IDHM saiu de 0,551 em 1991 para 0,763 em 2010. A dimensão que mais contribui para o IDHM do município foi longevidade, com índice de 0,832, seguida de renda, com índice de 0,770, e de educação, com índice de 0,693.

fORTALEzA (CE) IDHM saiu de 0,546 em 1991 para 0,754 em 2010. A dimensão que mais contribuiu para o IDHM do município foi longevidade, com índice de 0,824, seguida de renda, com índice de 0,749, e educação, com índice de 0,695.

RENDA DOMICILIARA renda domiciliar per capita no Nordeste, por sua vez, passou de R$ 431 para R$ 679 entre 2001 e 2012.

A ascensão de uma nova classe média no Brasil é uma das expli-cações econômicas do avanço e de uma atenção levemente melhorada para a região Nordeste. A transfor-mação aconteceu principalmente durante o final do segundo manda-to de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e os anos de Luís Inácio Lula da Silva (PT) no Governo.

O Atlas Brasil 2013, que reúne mais de 5 mil municípios do país e fotografa a evolução dessas cidades entre 1991 a 2010, aponta diversos exemplos de melhoras em todo país.

É possível acompanhar a evolu-ção de São Paulo no Índice de De-senvolvimento Humano Municipal (IDHM), mas também de cidades como Recife, Fortaleza e João Pes-soa, apenas para ficar em alguns exemplos.

Para o economista e profes-sor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Uni-versidade Católica de São Pau-lo (PUC-SP), Ladis lau Do-wbor, esses avanços na verdade

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

íNDICES MELHORADOS

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 59

Page 60: ED 105

começaram com a Constituição de 1988, que estabeleceu regras claras do jogo econômico e jurídico do país. “Em 91 tínhamos 85% dos municí-pios classificados com IDHM muito baixo. Em 2010 foram 0,6%. Isto é, 32 municípios. Todos evoluíram para nível de IDHM médio, alto e muito alto. O nível muito baixo, abaixo de 0,5%, quase desapareceu”, ressalta. Outro ponto que corrobora a tese de Dowbor aponta justamente para o aumento da expectativa de vida. De 91 a 2010 o brasileiro saltou de 65 para 74 anos de vida. Incluindo aí da-dos de 2012, chega-se a um número redondo: em 2012 vivia-se 10 anos a mais que em 1991. “Incluir dez anos a mais na vida do brasileiro significa um resultado gigantesco. Isso revela um conjunto de tragédias reduzidas”.

No entanto, ao se voltar os olhos para a região Nordeste ainda se verifi-ca desigualdades profundas. Questio-nado sobre o por quê da manutenção da desigualdade entre a região Sudes-te e o Nordeste, Dowbor argumenta: “Não é em 20 anos que se resolve isso. Estamos entre os 10 países mais desiguais do planeta. Os avanços são muito grandes nessas últimas déca-das, mas o buraco continua imenso. O Brasil passou de um universo de

13% dos jovens de 18 a 20 anos que tinham o secundário completo em 91, para 41% em 2010. O número é bom, só que 41% ainda é um desastre, teria que ser 80%.”, explica.

Reafirmando estudos feitos pelo ETENE, o economista afirma que os bancos têm uma máquina de dre-nagem do dinheiro do Nordeste para Sul. “O crescimento estancou, mas o lucro dos bancos entre 2013 para 2014 aumentou entre 20% e 30%. Eles drenam esse dinheiro e aplicam em títulos do governo ou em paraísos fiscais no exterior”. Dowbor explica o processo de transferência de poupan-ça. “O crediário cobra, por exemplo, 104% para ‘artigos do lar’ comprados a prazo. Acrescente os 238% do ro-tativo no cartão, os mais de 160% no cheque especial. Você tem mais da metade da capacidade de compra dos novos consumidores drenada, este-rilizando grande parte da economia pelo lado da demanda”, acusa.

No entender do economista, a rela-ção desigual entre Sudeste e Nordes-te continua, porque se há iniciativas dos estados do Nordeste tentando financiar atividades interessantes de microcrédito, os bancos visam sem-pre metas para extrair mais dinheiro do cliente.

PIB do Nordeste em comparação com o do Brasil caiu de 16,9% em 1939 para 13,56% em 2012

O pIB NOMINAL (DADOS DE 2012)Nordeste 13,56%Sul 16,18% Sudeste 55,9%Centro-Oeste 9,8% Norte 5,27%

ENqUANTO O pIB pER CApITA (DADOS DE 2012)Nordeste r$ 11 mil Sul r$ 25,6 milSudeste r$ 29,7 milCentro-Oeste r$ 29,8 mil Norte r$ 14,1 mil

REpASSE DO fpEO TCU identificou R$ 190 bilhões não distribuídos aos fundos em decorrência da desoneração entre 2008 e 2012. Destes 35,7% do FPM e 52,5% do FPE

INVESTIMENTOS DOS BANCOS OfICIAIS NO NE (ESTIMATIVA pARA 2015)BB + BNDES + CEF:Nordeste 16,61%Sudeste 45,83%Sul 22,01%Centro-Oeste 10,32%Norte 11,94%

DíVIDA DOS ESTADOSNordeste União r$ 19 bilhões – 4,64%Públicas* r$ 21,8 bilhões – 20,49% Privadas* r$ 26,7 milhões – 0,95%Total: r$ 41,8 bilhões - 7,75%

sul União r$ 65, 9 bilhões – 15,33%Públicas r$ 11,9 bilhões – 11,20%Privadas r$ 133 milhões – 4,73%Total: r$ 77,9 bilhões – 14,46%

sudesteUnião r$ 325,6 bilhões – 75,72%Públicas r$ 42,2 bilhões – 39,69% Privadas r$ 1,4 bilhão – 51,30%Total: r$ 369,3 – 68,48%

matéria Especial

NÚMEROS DESIGUAIS

Fotos: Divulgação

Fábrica da Alpargatas em CG, impulso na indústria da Paraíba

*instituições Financeiras Públicas e Privadas

Revista NORDESTE Agosto/201560

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uM foSSo coM raÍZeS escrAvocrAtAs

pesar de o Brasil ter começado no Nordeste, um lance do destino deslocou para o Sul e Sudeste o desenvolvimento do país. Afinal, o descobri-

mento se deu na Bahia, a primeira capitania surgiu na ilha de Fernando de Noronha e muitas das primeiras lutas dos portugueses foram travadas contra holandeses e franceses na região. A economia inicial do país se expandiu a partir do comércio da cana-de-açúcar, vigoroso no Nordeste. No império, o Nordeste era o motor do Brasil e o comércio de exportação que vigorava na época era o açúcar. Um dos marcos da mudança de foco do Nordeste para o Sudeste no desenvolvimento foi a chegada da família real portuguesa, mas não só isso. O estudioso Leonardo Guimarães, eco-nomista e sócio diretor da Ceplan (Con-sultoria Econômica e Plane-jamento), explica. “Naquela época, quem determinava o crescimento da economia era o setor exportador. O Nor-deste exportava açúcar e foi daí o grande crescimento que ocorreu. Depois as coisas fo-ram mudando com outros ci-clos exportadores, teve o ouro e depois o café. A coisa não foi apenas o fato da vinda da família real”. Guimarães alerta que o próprio Celso Furtado aponta as mudanças dos ciclos econômicos como a seara do desenvolvimento. Por esta ótica, a dinâmica do desenvolvimento começou a mudar quando foi iniciado o ciclo do ouro. O novo ciclo econômico tirou a capital de Salvador e a levou para o Rio de Janeiro, cidade mais próxima de Minas Gerais – onde se concentravam boa parte das minas. Contudo, segundo o professor, a força da economia do Sudeste advém do ciclo de café, que foi muito mais impulsionador.

“Daí saiu com mais facilidade o processo de indus-trialização. O Nordeste começou com grande impulso na economia do açúcar, depois essa economia do açúcar

começou a reduzir a sua importância relativa. O ciclo do ouro foi muito importante para o Rio e Minas, depois o grande ciclo do café em São Paulo. Nesse período tinha um estado estruturado, com mão de obra assalariada, não mais escrava, que criou um mercado interno. Isso con-solidou o desenvolvimento. Depois eles (esses estados) começaram a produzir internamente os produtos que antes eram importados. Só a partir da consolidação do

estado brasileiro, é que entra em impor-tância o poder do Estado (em fomentar o desenvolvimento) que teve um impulso muito grande com Getúlio Vargas e Jusce-lino Kubistchek”, frisa.

“A indústria a partir do século XX se con-solidou em torno desse mercado iniciado no Sudeste, no Rio, São Paulo e a partir dai para outras regiões. As desigualdades

regionais estão associadas em grande parte aos ciclos exporta-dores e suas dinâmicas. Isso está bem descrito no livro de Celso Furtado, a “Formação Econômi-ca do Brasil”. Ele percorre cada um desses setores exportadores e explica como tiveram fases mais dinâmicas e foram se arrefecen-do e como a indústria saiu do mercado do café onde as relações

eram mais modernas que a relação dos ciclos anteriores”, assegura Guimarães.

Assim, segundo o economista, nasceu a semente da grande diferença regional que existe hoje. Enquanto a economia do nordeste estava calcada no trabalho escra-vo, ao invés do assalariado, e em culturas cada vez mais com menor valor agregado, no caso a cana-de-açúcar e a criação pecuária extensiva, o ciclo do café, a abolição da escravatura e a chegada de imigrantes vindos da Eu-ropa propiciaram uma industrialização do país a partir de uma economia cada vez mais pungente no sudeste. Uma economia muito mais dinâmica, e de mercado, que os setores anteriores fomentados no Nordeste.

“A INDÚSTRIA COMEÇOU A pARTIR DO MERCADO

DO CAfé ONDE AS RELAÇõES ERAM MAIS

MODERNAS”

A V A L I A Ç Ã O E C O N Ô M I C A

A

LEONarDO GuimarãEs NETOEconomista

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Revista NORDESTEAgosto/2015 61

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A DINÂMICACONJUNTURAL

matéria Especial

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R$ 595,3 BILHõES R$ 11.045 MIL 13,6%

Nordeste tem cresci-do economicamente de forma expressiva nos últimos anos. Segundo

o Banco Central, de 2003 a 2009 região cresceu em média 30%, en-quanto a economia brasileira 28%. Esse crescimento foi possível devido a investimentos em indústrias, servi-ços e agricultura. No incremento do desenvolvimento industrial podem ser destacadas a instalação do Polo Industrial de Camaçari, na Bahia, com a indústria petroquímica e a montadora da Ford. Em Pernambu-co há a montadora da Fiat/Chrisler, inaugurada em abril, antes dela o Complexo Industrial de Suape, que abrange a refinaria de Abreu e Lima já vem transformando a paisagem do estado. No Ceará, onde os serviços ainda são o carro chefe da economia, pode ser citado o distrito Industrial de Maracanaú, que emprega 16,5 mil pessoas, nas mais de 100 empresas instaladas no três polos industriais.

A região nordeste também é a se-gunda maior do Brasil em produção de petróleo. A Bahia, com produção na bacia do recôncavo baiano, puxa a produção, seguido do Rio Grande do Norte, Sergipe, Maranhão, Alagoas. Segundo a Agência Nacional de Pe-

Otróleo, Gás Natural e Biocombustí-veis (ANP), a região produz mais de 70% de todo o petróleo extraído em terra do Brasil.

Na pecuária, a região possui o maior rebanho de cabras do país. Na agricul-tura, destaca-se a região considerada o novo cerrado brasileiro, composta por parte da Bahia, Piauí, Maranhão e To-cantins. Comparando à safra passada, enquanto o IBGE registava aumento de 0,4% na região Norte, de 5,1% na região Sudeste e de 7,0% na região Sul, no Nordeste este crescimento al-cançou 20,4%! Foram 18,9 milhões de toneladas. A região ainda é rica na produção de frutas tropicais (manga, abacaxi, caju, banana, acerola, goiaba, etc). Há também boa produção de mel, o Piauí tem se notabilizado como um dos grandes produtores do país.

É evidente que o turismo também é uma importante fonte de renda. Milhares de turistas estrangeiros e de outras regiões do Brasil visitam anualmente o Nordeste. De acordo com levantamento do Ministério do Turismo e da Fundação Getúlio Var-gas 77,4% das pessoas que pretendem viajar nos próximos seis meses pre-ferem viajar para dentro do próprio país. O Nordeste é o destino prefe-rido por quase metade dos turistas:

30% pensam em escolher a região como destino para férias. Além dis-so, os viajantes de pelo menos seis países do continente ocupam lugares de destaque entre os estrangeiros que visitam destinos de sol e praia em ci-dades como Fortaleza, Natal, Recife, Porto Seguro, Salvador e João Pessoa.

Dados do Banco Central apontam ainda aumento na oferta de crédito, no consumo de energia. Dados como estes atestam o vigor econômico da região.

Com instalação de indústrias petroquímicas, montadoras e crescimento constante acima

do nacional, Nordeste revela celeiro de oportunidades que vai da indústria à agricultura

A ForçA ecoNômIcA Dos estADos

2010 6,9%, 2011 3,2%, 2012 3%, 2013 2,7%, 2014 3,7%

Pib da região Nordeste em 2012

Pib per capita em 2012

Participação no Pib Nacional em 2012

Crescimento do Nordeste

*Dados ibGE

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Foto: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 65

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Participação no Pib per capita em 2012

R$ 11.832MIL

Participação no Pib brasileiro em 2012

3,9%

No ano de 2002 a Ford instalou no Polo de Camaçari o Complexo Industrial Ford Nordeste, o maior investimento da montadora estadu-nidense em todo o mundo, com re-cursos estimados em 1,2 bilhões de dólares. A instalação da montadora atraiu várias empresas fornecedoras de equipamentos para produção au-tomobilística. Dessa forma a con-centração petroquímica da região foi reduzida e o Polo, que até então era chamado de Petroquímico, passou a ser conhecido como Polo Industrial de Camaçari (PIC).

Hoje o PIC responde por 20% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado da Bahia. Foram mais de US$ 16 bilhões investidos até o mo-mento, com mais US$ 6,2 bilhões de novos recursos para os próximos anos. A contribuição anual do Polo em ICMS ultrapassa R$ 1 bilhão ao ano.

O Estado da Bahia tem o maior PIB do Nordeste correspondendo a 36% do PIB de toda a região. Além disso, é o 8º maior do Brasil, apare-cendo logo atrás do Distrito Federal.

R$ 167,7 BILHõES Pib em 2012

Maior piB do nordeste, Bahia, investe para fortalecer economia

Além da indústria que ganhou for-ça nos últimos anos, um dos fatores prioritários na economia baiana é a pecuária. A Bahia tem o 6º maior re-banho de bovinos do país, o segundo maior de ovinos e o maior rebanho de caprinos. Segundo dados do IBGE de 2011, o rebanho de cabras da Bahia sofreu uma redução de 3% em relação ao ano anterior, mas ainda assim tem quase 1 milhão a mais de cabeças que o segundo colocado, que é Pernambuco. O Setor de Agropecuária contribuiu com R$ 10,6 bilhões do PIB baiano em 2012. Segundo números do IBGE para o ano de 2014, a Agropecuária apresentou crescimento de 12,5%

A estimativa da Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI) é de que o Produto Interno Bruto feche o ano de 2015 com um crescimento aproximado de 1%, o que colocaria o Estado acima do cresci-mento nacional.

O setor da Agropecuária, principal-mente na safra de grãos, apresentou resultados satisfatórios e impediram que a queda do PIB fosse acentuada. A Superintendência de Estudos Eco-nômicos acredita que o estado irá re-tomar o crescimento econômico, com melhorias nas condições de trabalho e vida para o povo baiano.

O Estado da Bahia está estabele-cendo uma série de investimentos que visa alavancar o desenvolvimento do interior do estado. Elaborado pela Secretaria de Planejamento, o Pro-grama de Manutenção da Hidrovia do São Francisco deve ser executado em quatro anos, com investimentos de R$ 150 milhões, e prevê interven-ções em um trecho de 573 km, com o objetivo de restabelecer a navegação em escala comercial.

Outra intervenção, essa no sistema viário do estado, deve afetar dire-tamente 45 municípios da Região Metropolitana de Salvador e outras regiões próximas, alcançando 4,4 mi-lhões de habitantes e podendo gerar 100 mil empregos, diretos ou indire-tos. A estimativa para o PIB de 2013 é R$ 190,2 bilhões e para 2014, R$ 194,7 bilhões.

*Dados ibGE

Polo de Camaçari, atração de indústrias a partir do polo petroquímico da Petrobras

matéria Especial

Revista NORDESTE Agosto/201566

Page 67: ED 105

Participação no Pib per capita em 2012

R$ 13.138MIL

Participação no Pib brasileiro em 2012

2,7%

R$ 117,3 BILHõES Pib em 2012

Em uma pesquisa de 2008, enco-mendada pela MasterCard Worl-dwide, Recife aparece entre as 65 cidades do mundo com economia mais desenvolvida dos mercados emergentes. A capital pernambuca-na aparece na lista em 47º colocada, sendo a única nordestina. De lá para cá o Produto Interno Bruto do estado praticamente dobrou e Pernambuco recebeu inúmeros investimentos que alavancaram a economia.

O Complexo Industrial Portuário de Suape, criado em 1978 para ad-ministrar o desenvolvimento de obras na região, hoje é um dos maiores portos do Brasil e já recebeu investi-mentos na ordem de R$ 26 bilhões. O Pólo é a âncora do desenvolvi-mento econômico de Pernambuco. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado aponta que a concentração de investimentos na

indústrias fortalecem o crescimento em pernambuco

região deve fazer com que a partici-pação da indústria no PIB estadual suba de 24% para 30%.

Diferente da média nacional e da maioria dos estados, a indústria cres-ceu no primeiro trimestre de 2015 com taxa de 1,7% em Pernambuco. Isso somado ao crescimento de 8% da Agropecuária contribuíram para que o estado fosse o único, ao lado do Ceará, a apresentar uma variação positiva (0,6%) do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros meses de 2015.

Com o segundo PIB da região e o 10º do Brasil, muitas empresas pro-curaram as terras pernambucanas para instalar seus empreendimentos. Uma dessas empresas foi a Petrobrás, que em 2005 lançou o projeto da Re-finaria Abreu e Lima (RNEST) para ser instalada no Complexo de Suape. As obras atrasaram, mas no final de 2014 o primeiro conjunto de refino iniciou suas operações com a capaci-dade de processar 115 mil barris de petróleo por dia.

Com a inauguração do segundo conjunto, o processamento de barris deve dobrar. Outro empreendimento que ainda deve contribuir bastante para o crescimento da Indústria na economia pernambucana é o Polo Automotivo Jeep, fruto da fusão das duas grandes marcas Fiat e Chrysler, inaugurado em 28 de abril de 2015. Instalado no município de Goiana, a fábrica é a mais moderna do grupo no mundo e tem capacidade para produzir 250 mil veículos por ano. O empreendimento deve empregar até o final do ano mais de 9 mil traba-lhadores, sendo 78% de Pernambuco.

Desde 2008, Pernambuco apresen-tou crescimento acima da média do PIB nacional, e continua dessa forma. Mas com o desaquecimento da eco-nomia, a desaceleração do crescimen-to do Produto Interno Bruto tornou-se inevitável. No ano passado o PIB pernambucano cresceu 2% segundo a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas Condepe/Fidem. É o índi-ce mais baixo desde 2003, mas ainda está acima da estagnação nacional que teve variação de 0,1%.

A estimativa para o PIB de 2013 é R$ 130,7 bilhões e para 2014, R$ 140,2 bilhões.

*Dados ibGE

montadora da Fiat/Chrisler, mudando a paisagem da região metropolitana do Recife

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 67

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Em 2002 foi inaugurado o Porto de Pecém no município de São Gonçalo do Amarante, região metropolita-na de Fortaleza. O porto funcionou como âncora do Complexo Industrial e Portuário de Pecém (CIPP), que hoje conta com 11 empresas insta-ladas e mais 13 em implantação, in-cluindo a Companhia Siderúrgica de Pecém. A expectativa é de que quando o complexo estiver em ple-no funcionamento chegue a dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará. O estado ainda conta com o distrito Industrial de Maracanaú, que emprega 16,5 mil pessoas, nas mais de 100 empresas instaladas no três polos industriais.

O PIB do Ceará, segundo os úl-timos dados oficiais do IBGE refe-rentes ao ano de 2012, é de R$ 90,1 bilhões, o terceiro maior do Nor-deste, ficando atrás apenas de Bahia e Pernambuco. Em uma estimativa divulgada pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o PIB do estado apresentou crescimento de 1,05% para o primei-ro semestre de 2015. A indústria cea-rense teve queda de 1,87% em 2014, mas a economia do estado conseguiu se manter entre as que mais cresceram no país com uma variação de 4,86% no ano passado, segundo previsão do Ipece.

O setor da Agropecuária teve um grande crescimento (20,31%) entre os meses de janeiro a março deste ano e superou o índice nacional em cinco vezes (4%), mas o segmento repre-senta uma pequena fatia da economia cearense, apenas 3,4%, e o resultado, mesmo que bastante positivo, não afeta tanto a variação do PIB.

A manutenção do crescimento da economia cearense se deve princi-palmente ao setor de Serviços, que teve acréscimo de 3,59% em 2014

ceará, nadando contra a maré

e representa 73,8% do PIB do es-tado. Esforços do governo cearense no segmento do turismo contribuí-ram para esse crescimento, resultando em acréscimo para a modalidade de transportes (0,93%) e alimentação e rede hoteleira (3,03%). Um grande investimento do Estado nessa área é a construção do Acquario Ceará, que foi apresentado em 2011 e hoje está com mais de 45% das obras con-cluídas. A previsão do Governo é de que a obra seja finalizada em julho de 2017, e que o Acquario receba, anualmente, 1,2 milhões de visitan-tes, gerando uma receita de R$ 21,5 milhões. O impacto no mercado de trabalho para a economia local será de 150 empregos diretos, 1.600 in-diretos e 18 mil empregos na cadeia produtiva do turismo.

Mas nem todas as obras no Ceará conseguem se manter com as adver-sidades. Após um acordo firmado em 2008, o estado deveria receber no Complexo Industrial Portuário de

Participação no Pib per capita em 2012

R$ 10.473MIL

Participação no Pib brasileiro em 2012

2,1%

R$ 90,1 BILHõES Pib em 2012

*Dados ibGE

Pecém a refinaria Premium II, da Pe-trobras. Durante cinco anos o Estado investiu mais de R$ 500 milhões em obras de infraestrutura para a instala-ção do empreendimento. Em janeiro deste ano a Petrobrás anunciou o cancelamento do projeto, causando prejuízo para milhares de pessoas que esperavam pela oportunidade de trabalhar na região.

Por outro lado, embalado pelos bons resultados dos anos passados, o Ceará tem uma expectativa de cresci-mento para 2015 de 2% na economia do estado, contra a previsão de recuo de 1% do PIB nacional.

Porto de Pecém. A indústria e o Turismo são âncoras do crescimento cearense

matéria Especial

Revista NORDESTE Agosto/201568

Page 69: ED 105

Entre 1995 e 2012, o Maranhão apresentou um dos maiores cresci-mentos médios de todo o país, com 5,31% ao ano, o que é um ritmo acima da média da região Nordeste (3,63%) e também do Brasil, que cresceu 2,91% ao ano no mesmo intervalo.

Em 2011 o estado deixou de ser o país mais pobre do país subindo uma posição no ranking do Produto Interno Bruto per capita. No mesmo ano o estado ganhou uma posição também no ranking do PIB por fe-deração, subindo para a 16ª economia mais poderosa do Brasil com R$ 52,1 bilhões e se solidificando como a 4ª maior do Nordeste. No ano seguinte o PIB subiu para R$ 58,8 bilhões, segundo dados oficiais do IBGE.

Entre as forças de impulsão do Ma-ranhão está o Porto de Itaqui. Funda-do em 1973, o porto é o quinto maior em movimentação do Brasil e o pri-meiro da região Norte/Nordeste. É responsável pela exportação de 60% dos bens produzidos nos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia.

De 2011 a 2013, o Itaqui bateu recorde histórico de movimentação de cargas, em 2012 fechou com 15,7 milhões de toneladas, sendo o porto público que mais cresceu, 12,8% en-quanto a média nacional não chegou a 3%. Em 2013, recordes históricos foram alcançados como o quantitati-

Maranhão, potência em ascensão

vo para a soja, o fertilizante, o carvão, o etanol, o cobre e o clínquer.

Esse e outros fatores tem ajuda-do ao estado a melhorar seus índi-ces na economia nacional. Todavia, o Governo Federal voltou atrás de um investimento de peso, aquele que deveria ser a maior refinaria de pe-tróleo do país, a Premium I. O em-preendimento da Petrobras, que seria instalado em Bacabeira, deveria gerar 25 mil empregos diretos e indiretos quando pronto. Apesar das dificul-dades, o PIB Industrial do estado tem se expandido na última década e, segundo o estudo do IBGE, tem crescido a uma razão de 0,2% entre 2001 e 2011, chegando a 15,6% das riquezas maranhenses. O setor da Agropecuária tem bastante força no Maranhão, em valores totais é o 2º maior do Nordeste, perdendo apenas para a Bahia. A criação pelo Governo Federal da região do Matopiba (Ma-ranhão,Tocantins, Piauí e Bahia), área de cerrado forte na agricultura e o agronegócio, promete impulsionar ainda mais o estado.

Apesar disso, com o desaquecimen-to industrial no país o estado precisa lutar para manter a taxa de cresci-mento do PIB. Uma pesquisa da Fe-deração das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA) divulgada em maio deste ano mostra que o setor

Participação no Pib per capita em 2012

R$ 8.760MIL

Participação no Pib brasileiro em 2012

1,4%

R$ 58,8 BILHõES Pib em 2012

*Dados ibGE

Porto de Itaqui, batendo recordes históricos de exportação

industrial do Estado já enfrenta difi-culdades no início de 2015. Segundo o estudo, o índice caiu 1,2% entre fevereiro e março deste ano e o esta-do ficou com resultados piores que as médias nacional e regional.

Uma das principais autoridades em economia pública do país, a eco-nomista e socióloga Tânia Bacelar, afirmou durante uma palestra a con-vite do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Maranhão (Sebrae) que o estado enfrenta alguns desafios. Descentralizar o PIB é uma das metas. A capital São Luís con-centra 15% da população do estado e 42% do Produto Interno Bruto.

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 69

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Nos últimos anos o Rio Grande do Norte acompanhou o crescimento da economia do Nordeste de forma modesta. Durante o governo do pre-sidente Lula, o estado ficou entre sete federações que tiveram crescimento abaixo da média nacional. No ano passado uma estimativa do Banco Itaú apontou que a expectativa para a economia potiguar é uma média de avanço de 1,7% ao ano.

A economia do RN ainda é muito dependente do setor público que, em números de 2011, correspondia a 28,3% do Produto Interno Bruto do Estado. A participação da adminis-tração pública está dentro da fatia de serviços, que corresponde a 72,8% da economia. A indústria do RN, neste ano, detinha 23,7% e a Agropecuária completa com apenas 3,7%.

Apesar dos resultados menos ex-pressivos, o Rio Grande do Norte se mantém como a 5ª maior potên-cia econômica do Nordeste e busca novos investimentos. Um levanta-mento realizado pela Federação da Indústria e pelo Governo do Esta-

rio Grande do norte, serviços alavancam economia

do aponta que é possível ampliar o Produto Interno Bruto do estado dos atuais R$ 39,5 bilhões para R$ 100 bilhões em 20 anos. Para isso, os investimentos precisam ser concen-trados em educação, infraestrutura, empreendedorismo e gestão de re-cursos públicos.

O estado recebeu nos últimos anos, com um investimento superior a R$ 215 milhões de dólares, um grande empreendimento da Petrobras, a Re-finaria Potiguar Clara Camarão, lo-calizada no Polo Industrial Petrobras de Guamaré. O equipamento produz diesel, nafta petroquímica, querosene de aviação e gasolina automotiva, o que tornou o Rio Grande do Norte o único estado do país autossuficiente na produção de todos os tipos de de-rivados do petróleo. Além de atender o próprio território, a refinaria tam-bém atende o sul do Ceará.

Outro projeto que promete cres-

cimento para a economia potiguar é o hub da Tam. Mas neste caso o Rio Grande do Norte está na dis-puta contra os estados do Ceará e Pernambuco. O hub é um centro de distribuição que é utilizado para racionalizar trajetos e economizar custos para as empresas. Natal leva vantagem sobre os estados vizinhos por ser o ponto mais próximo da Europa e África nas Américas. O es-colhido da Tam será anunciado até o final do ano, se vencer, Natal receberá um investimento de R$ 4 bilhões.

Não é só na aviação que o RN entra na disputa com Ceará e Pernambuco, mas também na navegação. O Estado apresentou em junho deste ano uma proposta de construção do Terminal Portuário do Potengi, um projeto or-çado em R$ 6,98 bilhões. O Centro de Estratégia em Recursos Naturais e Energia afirma que o projeto inclui a construção de uma ponte e um corredor logístico de integração com outros modais e centros de distribui-ção do RN. Isso daria ao Terminal a possibilidade de receber indústrias que não poderiam ir para Pecém ou Suape, nos estados do Ceará e Per-nambuco, respectivamente.

Participação no Pib per capita em 2012

R$ 12.249MIL

Participação no Pib brasileiro em 2012

0,9%

R$ 39,5 BILHõES Pib em 2012

*Dados ibGE

Investimento eólico da Petrobras no Polo de Guamaré

matéria Especial

Revista NORDESTE Agosto/201570

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Enquanto a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) nacional desacelerou nos últi-mos anos, a Paraíba conseguiu manter uma economia está-vel com crescimento acima da média nacional, especialmente nos anos mais recentes. Se-gundo dados do IBGE, entre 2003 e 2010, o estado parai-bano teve crescimento médio anual de 4,8%, quase um pon-to percentual acima da media nacional, que foi de 4,1% para o mesmo período.

Já no último quadriênio (2011-2014), avalia-se que o crescimento médio do Brasil fique em apenas 1,6%, enquan-to o da Paraíba manteve a mé-dia de 4,8% até 2012, subindo para 4,9% em 2013 e fechando 2014 com crescimento um pouco menor, de 3,2%, mas ainda bem me-lhor que o crescimento nacional, que ficou estagnado com 0,1%.

Segundo estudo do Instituto de Desenvolvimento Municipal e Es-tadual (IDEME), o PIB da Paraíba deve evoluir para R$ 41,6 bilhões em 2013 e R$ 45,5 em 2014.

O setor industrial da Paraíba cres-ceu 4,4% no ano passado e a Indústria passou a representar 22,8% da eco-nomia paraibana. O número de em-presas industrias na Paraíba cresceu 12,2% no último ano e o estado está prestes a se tornar o segundo maior do Brasil na produção de cimento, ficando atrás apenas de Minas Gerais. Cinco novas fábricas começaram a se instalar na Paraíba e a produção deve saltar de quase 2,5 milhões para 10 milhões de toneladas, alimentan-do segmentos, como o de concretos e pré-moldados, construção civil e

paraíba, crescimento estável, sem desacelerar

residencial e mais todo o setor imo-biliário.

A inauguração, no primeiro semes-tre de 2015, do Polo Automotivo Jeep no estado de Pernambuco, pró-ximo a divisa com a Paraíba, também atraiu mais empresas. No município de Caaporã, litoral sul do estado, será construído um condomínio logístico as margens da BR 230 que deve abri-gar fábricas que darão apoio a mon-tadora que pertence ao grupo da Fiat.

Apesar do crescimento da Indús-tria, a Paraíba ainda tem uma grande parcela da economia ligada ao setor de serviços que representa 73,7% do PIB, sendo que dentre os serviços, só a administração pública ocupa 31,7%. Já o desempenho da agropecuária, que em 2011 era de 4,5%, caiu para

Participação no Pib per capita em 2012

R$ 10.151MIL

Participação no Pib brasileiro em 2012

0,9%

R$ 38,7 BILHõES Pib em 2012

*Dados ibGE

Instalação de Polo Cimenteiro pode transformar Paraíba em segundo maior produtor do país

3,6% em 2012 devido a forte seca que atingiu a região. Embora o PIB da Paraíba ainda ocupe a 6ª coloca-ção dentre as maiores economias do Nordeste, o estado ficou em 4º lugar em termos de crescimento, se obser-vado o crescimento de cada uma das federações no último estudo oficial do IBGE, ficando a frente de estados como Ceará e Bahia.

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 71

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Nos últimos quatro anos Alagoas apresentou um crescimento do Pro-duto Interno Bruto (PIB) acima da média nacional. A estimativa da eco-nomia para o ano de 2014 demonstra isso, quando Alagoas fechou o ano com aumento de 2,1% e o PIB na-cional aparece estagnado, com cresci-mento de apenas 0,1%. Apesar disso o estado continua sendo um dos mais pobres do país. Segundo dados do IBGE, Alagoas ocupa a 25ª posição no ranking que compara o PIB per capita dos estados brasileiros, ficando a frente apenas de Maranhão e Piauí.

Acompanhando a evolução da re-gião do Nordeste, que deixou de ser um mercado majoritariamente vol-tado para o Turismo e passou a ser alvo de grandes empresas nos últimos anos, o estado de Alagoas viu em 2011 a oportunidade de instalar um estaleiro com previsão de gerar 10 mil empregos, mas até hoje o projeto não saiu do papel. A obra do grupo Syner-gy deve ter investimentos de R$ 2,2 bilhões para ser construído no muni-cípio de Coruripe. A implantação do estaleiro vem sendo articulada desde 2011. Primeiramente idealizado para ser construído no Pontal de Coruripe, o estaleiro teve sua licença ambiental negada pelo Ibama em julho de 2013.

A nova área escolhida, denomina-da 5D, também fica no município de Coruripe, na comunidade do Miaí de Cima.

O crescimento nos setores de ser-viços (2,4%) e agropecuária (7,2%) contribuíram para a manutenção do variável positiva do PIB em 2014. Os números altos na agropecuária são um indicativo de recuperação do setor, que obteve um crescimento de 29,4%. No agronegócio, dados di-vulgados pela Companhia Nacional

alagoas, crescimento acima da média nacional

de Abastecimento (Conab), de 2013, Alagoas é apontado como o sexto maior produtor do país de cana de açúcar, são mais de 441,25 mil hec-tares de área plantada. A produção gera divisas no setor sucroalcooleiro, voltado para o biocombustível.

Outro indicativo positivo é que, em comparação com os estados vizi-nhos, Alagoas foi um dos que menos sofreu com os impactos da queda no setor industrial. O índice local ficou em 0,3%, enquanto Bahia e Ceará registraram queda de 1,9% e 1,87%, respectivamente.

Apesar disso, a Federação das In-dústrias de Alagoas (FIEA) estima que o PIB do estado irá cair de R$ 31,5 bilhões em 2014 para R$ 30,5 bilhões neste ano.

Segundo previsão divulgada pela Secretaria de Planejamento e Gestão de Alagoas (Seplag), a economia do

Participação no Pib per capita em 2012

R$ 9.333MIL

Participação no Pib brasileiro em 2012

0,7%

R$ 29,5 BILHõES Pib em 2012

*Dados ibGE

estado recuou em 2,2% nos três pri-meiros meses de 2015.

De acordo com a Seplag, a divul-gação do resultado trimestral serve para que os gestores administrem melhor as ações econômicas ao longo do ano. Cabe a Alagoas esperar que esses índices voltem a apontar a va-riação positiva que apresentava antes. A estimativa, divulgada pela FIEA, para o PIB de 2013 é R$ 31 bilhões, para 2014, R$ 31,5 bilhões e 2015 de R$ 30,5.

Alagoas, alvo de investimento de grande empresas, é a sexta maior produtora de açúcar

matéria Especial

Revista NORDESTE Agosto/201572

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O estado que tem um dos me-nores Produtos Internos Brutos (PIB) do Nordeste é também o mais rico de acordo com o ranking per capita, segundo os últimos dados oficiais do IBGE, referente ao ano de 2012. Com uma economia de R$ 27,8 bi-lhões, Sergipe tem um rendi-mento de R$ 13.180,00 por ha-bitante, o que o coloca em 17º na comparação com todos os estados do país.

O bom desempenho sergipa-no acontece devido ao cresci-mento do setor industrial, que em 2012 avançou 5,6% e che-gou a 28,8% do PIB estadual. Para feito de comparação: a fatia que a indústria representa para o PIB do Nordeste é de 23,5%. O Sergipe deve isso a um crescimen-to acima da média ao longo de 10 anos, quando a economia do estado avançou mais que a nacional e a do Nordeste.

O volume de exportação das em-presas serve para demonstrar o avan-ço da indústria sergipana. No in-tervalo entre 2001 e 2006, Sergipe exportou US$290 milhões, já no in-tervalo entre 2007 e 2012 as expor-tações foram superiores a US$ 682 milhões. O crescimento sergipano atraiu muitos investimento para a região e nos últimos anos essa pro-cura se expandiu. De 2013 para cá duas fábricas de cimento anunciaram ampliação no estado, enquanto outra anunciou a construção de uma nova fábrica. Além disso, uma indústria de vidros vai se instalar no estado e o grupo Yazaki, que desenvolve pe-ças automotivas, vai implantar uma fábrica na cidade de Nossa Senhora do Socorro. Esses investimentos têm

Sergipe, maior renda per capita da região

uma produção voltada, não só para o estado do Sergipe, mas para o mer-cado nacional.

Para o assessor econômico do go-verno do Estado e mestre em Econo-mia, Ricardo Lacerda, Sergipe passou a avançar mais rápido que o Brasil ao se colocar de forma estratégica no momento em que a Região Nordeste passou a ser favorecida por políticas econômicas. “Sergipe buscou ter uma política bastante agressiva de atração de investimentos”.

Dono da maior fatia do PIB sergi-pano, o setor de serviços cresceu 3% na última pesquisa oficial do IBGE com avanços de todas as atividades. Só o comércio teve um aumento de 6,4%. A Secretaria de Planejamento e Gestão do Governo credita esse avanço à formalização do mercado de trabalho e o crescimento da massa salarial.

Apesar da Agropecuária ter uma parcela relativamente pequena na

Participação no Pib per capita em 2012

R$ 13.180MIL

Participação no Pib brasileiro em 2012

0,6%

R$ 27,8 BILHõES Pib em 2012

*Dados ibGE

economia de Sergipe (4,6%), o esta-do se destaca pela produção de mi-lho, que no Nordeste só perde para o Estado da Bahia, que tem área de plantio muito superior. O estado pre-vê que em 2015 deve alcançar 792 mil toneladas do grão.

Incremento na exportação tem alavancado economia de Sergipe

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 73

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O Piauí tem o 5º mais baixo Pro-duto Interno Bruto (PIB) do país e o mais baixo do Nordeste (R$ 25,7 bilhões), segundo os últimos dados oficiais do IBGE de 2012. Além dis-so, é o estado mais pobre do país de acordo com o ranking das federações per capita. Mesmo assim os últimos anos foram bons para os piauenses e o estado hoje mostra uma taxa de crescimento maior do que a nacional e do Nordeste.

Números mais recentes indicam que o PIB do estado subiu para R$ 29,3 bi em 2013 e que fechou 2014 com R$ 30,7 bilhões, apontando para um crescimento de 4,79% em relação ao ano anterior. Para efeito de com-paração, a média do Nordeste foi de 3,7% e a nacional foi de 0,1%.

Segundo a Fundação Centro de Pesquisa Econômicas e Sociais do Piauí (Cepro), a indústria já corres-ponde a 16,19% do PIB do estado.

piauí, taxa de crescimento maior que a nacional

Novos investidores e o apoio do Go-verno do Estado levaram a implan-tação, somente no ano de 2012, de 34 novas indústrias com capacidade de gerar até 8 mil empregos diretos e indiretos, com investimentos de R$ 223 milhões.

No entanto, o agronegócio parece ser a bola da vez. Considerada a nova fronteira agrícola do Brasil, a região do Matopiba, que engloba o Piauí, tem sofrido uma profunda mudança em sua paisagem. A área ocupada pela agricultura praticamente quintupli-cou no estado nos últimos dez anos. Projeções indicam que em 2022/23, Matopiba vai colher 18 milhões de toneladas de grãos.

Com esses e outros investimento, o Governo quer ampliar o PIB do

Participação no Pib per capita em 2012

R$ 8.137MIL

Participação no Pib brasileiro em 2012

0,6%

R$ 25,7 BILHõES Pib em 2012

*Dados ibGE

Piauí, até 2022, para R$ 50,2 bilhões. O governo tem um plano, a gestão definiu o projeto de uma Vila Olím-pica, cinco BRs e onze aeroportos regionais como prioridades.

Todavia, segundo o IBGE, 28,68% da economia é sustentada pelo setor público, o comércio tem a segunda maior participação. Os dois respon-dem por mais de 70% da economia.

Nova fronteira agrícola, Piauí chegou a quintuplicar área ocupada pela agricultura

matéria Especial

Fotos: DivulgaçãoRevista NORDESTE Agosto/201574

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CONJUNTURAECONÔMICA II

matéria Especial

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Estados precisam encarar o desafio de melhorar educação e infraestrutura para poder avançar

em vocação criativa

Revista NORDESTE solicitou a três econo-mistas que traçassem um painel atual sobre os de-

safios e vocações da região. As respos-tas apontam para uma situação difícil de ser resolvida, apesar de inúmeros avanços conseguidos até o momento. Os estudiosos são Marcos Formiga, diretor do Centro Celso Furtado de Políticas para o Desen-volvimento, sediado no Rio de Janeiro; Nelson Rosas, professor emé-rito da Universidade Federal da Paraíba e coordenador do Proje-to Globalização e Crise na Economia Brasileira (Progeb), e Leonardo Guimarães Neto, dire-tor técnico da Consultoria Econô-mica e Planejamento (Ceplan), em Pernambuco. Os três são unânimes em afirmar que é preciso uma união mais efetiva da região e que é urgente que seja feito um novo pacto federativo para aca-bar de vez com a guerra fiscal, tática que tem sido nefasta para os estados

A

os DesAFIos e As vocAções

e criado mais um fator desagregador do que de desenvolvimento. Nos parágrafos e páginas que seguem a NORDESTE compila o pensa-mento dos cientistas para explicar as várias diferenças e dificuldades da região e suas vocações. Um pai-nel profundamente heteregênio, mas também por isso incrivelmente rico de significados e potencialidades.

No entender dos economistas há uma grande heterogeneidade de si-tuações nos estados nordestinos que torna difícil definir “vocações” esta-duais. “O Brasil e o Nordeste são sociedades e economias heterogêneas que comportam vários caminhos no seu desenvolvimento e que devem ter capacidade para bem aproveitar

as oportunidades que aparecem em um ambiente muito dinâmico”, ava-lia Leonardo Guimarães. Segundo o economista, foi isto que, lidera-da por Celso Furtado, a região, fez num ambiente político e econômico favorável do final dos anos 50, no século passado, com uma articula-ção dos governadores nordestinos e de outras lideranças regionais, com

o apoio substancial do presidente Juscelino Kubitschek. O profes-sor lembra que na oca-sião criou-se uma insti-tuição responsável pela coordenação da políti-ca de desenvolvimen-to regional (a Sudene) com participação dos governadores e minis-

tros, elaboração de planos diretores regionais que foram discutidos e va-lidados pelo Congresso Nacional.

“Na época, caracterizada por um intenso processo de industrialização do país, concentrado no Sudeste e em particular em São Paulo, o caminho para o desenvolvimento regional es-tava baseado na industrialização da

O DESENVOLVIMENTO NO BRASIL SE DEU DE UMA fORMA TÃO DESEqUILIBRADA qUE NO fINAL VOCê TEM UMA SéRIE DE

REGIõES DIfERENTESNELsON rOsas

Economista

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Foto: Shutterstock Revista NORDESTEAgosto/2015 77

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região, na implantação de uma in-fraestrutura econômica e na reestru-turação da atividade agrícola da Zona da Mata e do semiárido. Foi essa arquitetura institucional que durante alguns poucos anos deu substância a uma articulação política regional, que tinha nos governadores uma das bases de sustentação”, frisa.

O professor Nelson Rosas corrobo-ra com a visão de Leonardo Guima-rães. “O desenvolvimento no Brasil se deu de uma forma tão desequilibrada que no final você tem uma série de re-giões diferentes. O sistema tributário também não contribui para reduzir essas diferenças, e sim para aumentá-la. Falar numa vocação é complica-do”, avalia Nelson Rosas.

É verdade que realidade mudou em vários aspectos, mas passados mais de 50 anos, desde a fundação da Sudene, a participação do Nordeste na econo-mia nacional não apresentou avanços significativos nas últimas décadas. Entre as mudanças e transforma-ções que ocorreram na região está a implantação de grandes empresas e indústrias (confira análise nas matérias Crescimento e Atrasos e Transforma-ção da Paisagem). Houve avanços, em vários estados na agricultura irrigada e no agronegócio. Foram realiza-dos investimentos de grande e médio porte em novas cadeias produtivas (investimentos em petróleo e gás, na indústria naval e automobilística, na energia renovável). O economista Leonardo Guimarães lembra que na última década, enquanto durou a fase de expansão da economia nordestina, surgiram empreendimentos voltados para a demanda regional, sobretudo a do consumo (indústria de alimentos e bebidas, com fábricas instaladas na região). A questão hoje é que muitos desses investimentos necessitam ter seus esforços mantidos para reforçar as mudanças e transformações posi-tivas. Entre esses esforços a interven-ção do Estado talvez seja essencial.

Para Marcos Formiga, é difícil no-mear uma vocação única para o Nor-deste. “Há um Nordeste composto de vários nordestes. Uns com solida-riedade regional e outros com pouco sentimento de região nordeste”. No entender do estudioso, a saída para o Nordeste seria abandonar a “velha fórmula da solução hídrica” já tentada com bastante insucesso, onde se acu-mula água, mas não sabe o que fazer com ela. Formiga lembra que vocação tem a ver com a junção da capacita-ção humana com a disponibilidade de recursos naturais, somando a isso a uma “capacidade criadora, criativa e inovativa”.

O estudioso cita o economista

vocAção: ecoNomIA do conheciMento

matéria Especial

Revista NORDESTE Agosto/201578

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austríaco Jose-ph Schumpeter e sua “destrui-ção criativa” di-fundida no livro “Capitalismo, So-cialismo e Demo-cracia (1942)”. O livro descreve o processo de ino-vação, que tem lugar numa eco-nomia de merca-do em que novos produtos des-troem empresas velhas e antigos modelos de ne-gócios. Formiga explica que a com-binação dos fatores de produção da economia clássica – trabalho, capital financeiro, capacidade empresarial – se reestruturam e devem se recombi-nar, caso contrário a economia entra em estagnação, desindustrialização, ou num desenvolvimento medíocre. Um dos perigos do nordeste.

Trocando em miúdos, significa di-zer que existe uma necessidade natu-

Os primados do economista Celso Furtado de redução das desigualdades regionais aplicando investimentos em infraestrutura, como o Estaleiro Atlântico Sul, foram adotados pelo governo Lula

Professor Nelson Rosas, falar em vocação única para o Nordeste é complicado

ral e permanente de reinventar e testar o novo para manter o cresci-mento de for-ma permanente. Para o econo-mista, tudo isso tem muito a ver com a ‘economia do conhecimen-to e a criação’. “O nordeste tem um povo criati-vo, além de mui-to trabalhador. A deficiência existe porque o governo

e a sociedade não fizeram o seu de-ver de casa, educar o povo. Antes de pensar em vocação tem que resolver o problema base, e o problema base é a educação”.

Entre os exemplos de “Economia do Conhecimento” no Nordeste, For-miga cita o Porto Digital, em Per-nambuco; o trabalho que o estado do Ceará e o município de Sobral estão fazendo na área de alfabetização – que se tornou modelo nacional – e o esforço feito em capacitação profis-sional na região do porto de Itaqui, em São Luís, uma área extremamente carente, mas que está instituído pro-jeto para qualificar cerca de 100 mil pessoas afim de atender as demandas

de talento hu-mano na região. “Isso gera uma correlação direta entre os inves-timentos finan-ceiros e a neces-sidade de capital humano”, pon-tua Marcos For-miga. O diretor do Centro Celso Furtado acredi-ta que a vocação do Nordeste

juscelino Kubitschek: o primeiro Presidente do Brasil a tratar o Nordeste com políticas de

solução socioeconômica

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 79

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o turismo predatório e investir na qualificação de mão de obra especia-lizada. Isso significaria criar estrutu-ras para a instalação das indústrias. “A gente não pode pensar no nor-deste sem tratar desses problemas”, frisa Formiga. Tudo isso esbarra em investimentos do Estado em infraes-trutura.

“As indústrias são atraídas pelo mercado, outra fonte que pode atrair qualquer tipo de indústria é a pro-

Todavia, é difícil pensar em vocação do nordeste sem olhar para o que há de mais elementar para o desenvol-vimento. O próprio Marcos Formiga ressalta a questão da educação, que precisa de novos esforços para alcan-çar um novo patamar. Houve investi-mento em quantidade de vagas, mas falta melhorar a qualidade. No entanto, o desa-fio do Nordeste não é só melho-rar a educação, mas também fomentar uma série de cadeias que vão desde melhorar trans-porte, irrigação, fornecimento de energia, fazer sa-neamento bási-co, até combater

DesAFIo 1 – mAIs INvestImeNto Do estADo

PIB do EUA quando eles fizeram o cálculo inicial estava numa faixa de 10 trilhões de dólares. Com o conceito da riqueza inclusiva ia para 118 tri-lhões de dólares. É uma revolução na quantificação dos indicadores, para ficar um pouco mais liberto da taxa de inflação, taxa de desemprego, juros, porque tem coisas mais interessan-tes que estão vindo ai, como essa da economia criativa a partir da matriz maior do mundo, a economia do co-nhecimento”. Para o economista, fica claro que o Nordeste pode pegar carona nessa nova onda planetária, mas precisa urgentemente investir na educação de seu povo e nos novos talentos que surgem.

aponta para seu processo criati-vo natural e sua cultura mais que efervescente. “Essa seria a saída para dar qualidade de vida às pessoas e aumentar o índice de felicidade. Aí é que eu venho com outros indica-dores. Ao invés de renda per capita quero satisfação do povo. Ao invés de PIB alto eu quero respeito à natureza, sustentabilidade e qualidade de vida. É uma visão pouco ortodoxa para a linguagem do economista”.

Cintando outro economista, Par-tha Dasgupta, Formiga avisa que o capital humano hoje está mais liga-do a sociedade do conhecimento do que a números frios de per capita e PIB. Essa seria a ideia de economia criativa. “Na minha observação, nós temos de reverter essa métrica”. Par-tha Dasgupta é um doutor, professor emérito de economia da Universi-dade de Cambridge, que está traba-lhando para a Unesco um novo tipo de indicador, onde se mede a riqueza inclusiva. “Estou replicando o mo-delo de Partha Dasgupta. Primeiro ativo: o capital humano. Segundo: o capital físico e produtivo. Tercei-ro: o capital natural. Com esses três ativos se tem uma ideia da riqueza inclusiva. Só para se ter uma ideia, o

marcos Formiga, investimento em economia criativa é a saída para o Nordeste

matéria Especial

INFRAESTRUTURA NECESSáRIO AOCRESCImENTO

Revista NORDESTE Agosto/201580

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ximidade da matéria prima. A exis-tência de mão de obra com tradição operária é a terceira coisa. Eu não vejo interesse de indústria nenhuma se deslocar para uma área que não é fonte de matéria prima, não tem pro-letariado com experiência fabril, nem tem mercado em tamanho suficiente para atraí-la. Os empresários não vi-rão. A gente vem pelejando desde a Sudene nessa guerra para atrair em-presas. Não adianta. Os empresários

mesmo tempo pode ser um atrativo para a instalação das indústrias. “Se você liga uma região que não tem matéria prima, mão de obra, nem mer-cado de consumo, com bons meios de transportes, não só estradas, mas estradas de ferro e cabotagem, é possí-vel atrair determinadas indústrias que vêm fugindo do congestionamento, da loucura de São Paulo”, indica Rosas.

No entender do economista, ou o estado interfe-re para criar, não favores, mas criar infraestrutura que possibilite o des-locamento das empresas para o nordeste, ou elas não vêm. “Não é função do estado

criar as fábricas, a gente já andou fazendo isso durante muito tempo e ultimamente está meio fora de moda. Não é que eu não concorde com isso, acho que em certas ocasiões o estado deve agir até mesmo diretamente, mas tudo bem. Estou aceitando a maré atual. Não é a função do Estado criar empresas. Mas é função do Es-tado criar condições que permitam a existência e instalação dessas empre-sas”, ressalta.

Apesar de cobrar uma atuação mais efetiva do estado, Rosas diz que não acredita em mega obras. “A gen-te deveria mudar o foco e adotar o lema: Small is Beautiful”, filoso

Sala de aula, educação precisa ser aprofundada. Ao lado, Fábrica da Fiat em PE, nova cadeia produtiva

só vão para um lu-gar onde ele possa produzir com lu-cro. O que a gente tem feito: atrair via favores fiscais. Isso é um falso atrati-vo”, opina Nelson Rosas.

A questão dos transportes é, na verdade, um grande desafio, mas ao

“ANTES DE pENSAR EM

VOCAÇÃO TEM qUE RESOLVER A

EDUCAÇÃO”

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

marCOs FOrmiGa Economista

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 81

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Para os economistas um outro pro-blema sério que precisa ser resolvido é a qualidade dos políticos na região. Há passividade e incompetência. “A sucessão de administradores, não di-ria desonestos, mas pelo menos me-díocres, é muito grande. Se a gente não alterar esse grupo de pensadores, intelectuais e políticos que dirigem o estado vai ser difícil conseguir mexer nessas questões que são básicas, e que dependem da ação do estado que há muito tempo não estão sendo ataca-das”, desabafa Nelson Rosas.

“Há muito tempo que o Nordes-te não apresenta liderança nacional. Nós não temos uma posição visível de liderança política, embora tenha uma força política muito grande. Se você somar as bancadas dos nove estados do nordeste somos capazes de fazer muitas coisas”, frisa Marcos Formiga. Segundo o estudioso, a região tem capacidade de pressionar desde que se articule. “O Celso me dizia nas minhas conversas e aconselhamentos com ele sobre a diferença do Nordes-te que ele via recentemente, próximo dele morrer, na virada do século cada

fa. O professor se refere a tese do economista norte-americano Ernst Schumacher, “Small is Beautiful: a study of economics as if people matte-red”, publicada a partir de palestras proferidas durante a década de 60 e início de 70, que defendia a retoma-da do desenvolvimento econômico, após a crise do capital, sob bases mais humanistas. É preciso “adequar as atividades ao tamanho que nós temos e às condições que nós temos nesse momento. Não ficar com essa loucura de gigantescos projetos”, ressalta.

deSafio 2 – péSSiMa articulação polÍtica

tados para as atividades produtivas regionais, tanto agricultura, como in-dústria e serviços”, lembra Leonardo Guimarães reforçando a ideia da per-da no comércio interestadual, princi-palmente para a região Sul/Sudeste. Essa queda de braço também acaba fazendo parte da dinâmica da guer-ra fiscal. O professor ainda lembra que num ambiente caracterizado pela ação isolada de cada governo estadual prevaleceu até aqui a competição vol-tada para o crescimento individual, fazendo com que os estados atuassem agressivamente na oferta de vanta-gens e incentivos às empresas.

Entretanto, essa política acaba fa-vorecendo o parasitismo, onde muitas empresas acabam se apropriando dos recursos dos estados dando em troca meia dúzia de empregos, mas a me-dida que esses benefícios fiscais são cortados a empresa vai embora. “Eu acho isso uma molecagem dos gover-nos. Alias acho isso até um crime. Os estados vão concorrendo com a mi-séria”, desabafa Nelson Rosas. “Não vejo outro caminho (além de acabar com a guerra fiscal). Agora o que se faz para que os estado façam isso? A gente tem que cair na política e eleger pessoas que sejam capazes de ter essa ação”, defende.

Teoria da década de 60 prega modelo econômico

mais humanista

Reunião da bancada do Nordeste com governadores

no Congresso Nacional

estado puxava a brasa para a sua sar-dinha. E no Nordeste da Sudene, que era uma invenção literal do Celso, o interesse da região estava acima dos interesses dos estados”, argumenta.

Entre os pontos que tornam im-prescindível uma articulação política está colocar um fim na guerra fiscal. “O comércio interestadual apresenta, sistematicamente, um déficit com re-lação ao Sul e Sudeste, voltadas com mais ênfase para São Paulo. Todavia, isto não ocorre somente em relação ao consumo, incluindo neste os bens de consumo duráveis. Tal déficit co-mercial tem importância, também, no que se refere aos insumos industriais, a máquinas ou equipamentos vol-

matéria Especial

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a defeSa do direito de Se reBelar

s números da transferência de riqueza da região e dos (parcos) investimentos da União ao longo dos anos, apontam para algo que o ministro de

Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, argumentou em palestra para os oito governadores do nordeste du-rante encontro realizado em Natal: “O Nordeste precisa de rebelar”.

“Não há solução para o Brasil se não houver solução para o Nordeste. Não há solução para o Nordes-te se não houver solução para o semiárido”, a afirmação foi cunhada pela Associação dos Funcionários do Bando do Nordeste do Brasil (AFBNB) ainda em 2008 e voltou a ser pronunciada por Mangabeira Unger neste ano. O ministro defendeu um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil, onde o Nordeste teria um papel prepon-derante. A defesa é para que haja o desenvolvimento mais igualitário, com ênfase num recorte regional para o desen-volvimento harmônico do Bra-sil. Entre as ações propostas para melhorar as condições da região estão a ampliação do prazo para a União destinar às regiões Centro-Oeste e Nor-deste percentuais mínimos dos recursos destinados à irrigação.

A ideia de Unger é criar um modelo que democratize a economia do lado da produção e oferta. E não mais apenas do lado do consumo e demanda. Isto é, a região deixaria de ser mera consumidora dos bens produzidos no Sul e Sudeste. “Essa é uma tarefa urgente para o país, porque só essa estratégia produtivista e capacitadora conseguirá elevar a produtividade da economia brasileira, tirar o país da estagnação econômica e financiar o acesso aos servi-ços públicos de educação, saúde e segurança que o povo brasileiro busca”, frisou Unger.

Segundo o ministro, uma estratégia que contemple o desenvolvimento do Nordeste pode ser uma linha de frente dessa nova era de desenvolvimento nacional. Os pontos principais dessa nova estratégia apontam para a

transformação do regime tributário “que castiga os esta-dos predominantemente consumidores ou prestadores de serviços e fomenta uma guerra fiscal”, essa mudança levaria consequentemente a um novo pacto federativo e uma revisão do marco legal e tributário. Também seria necessário organizar uma espécie de “produtivismo in-cludente”, que obrigaria a uma reavaliação da real neces-sidade de grandes obras na região, e visaria a uma aposta

maior no “empreendedorismo vanguardista da indústria e dos serviços”, nas palavras do ministro, se referendo a soluções inovadoras criadas e fomentadas por empresários, cien-tistas e estudiosos visionários que pipocam em vários estados da região.

Unger afirma ainda que seria preciso tam-bém uma reorientação da política social e uma transformação radical na qualidade do

ensino público. Contudo, no en-tender do ministro, esse novo paradigma do desenvolvimento depende em sobre medida de uma ação urgente do próprio Nordeste.

Mangabeira Unger ressalta que ao dizer que “não há solução para o Brasil, sem solução para o Nordeste”, não é apenas porque mais de um quarto do povo brasi-

leiro vive no Nordeste, “é também porque o Nordeste tem muito das qualificações indispensáveis a essa obra (de um novo ciclo econômico). Inclusive a qualificação espiritual decisiva da disposição de rebelar-se”. A argumentação de Unger aponta para uma espécie de levante do Nordeste, construindo uma estratégia que leve o governo e o resto do país na onda. Apesar de propor que muito do futuro do desenvolvimento do país está numa proposta de de-senvolvimento da região, Unger acredita que nada disso vai acontecer sem luta. “Luta pacífica, luta dentro das leis, mas luta. O Brasil precisa de um Nordeste inquieto, inconformado e desobediente. Nunca foi mais necessária à nação a rebeldia nordestina. Ao rebelar-se contra o mo-delo de desenvolvimento que nega braços, asas e olhos a sua assombrosa vitalidade, o Nordeste falará pelo Brasil”.

“AO REBELAR-SE CONTRA O MODELO DE DESENVOLVIMENTO, O

NORDESTE fALARá pELO BRASIL”

A V A L I A Ç Ã O E C O N Ô M I C A

o

maNGabEira uNGErMinistro de Assuntos Estratégicos

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Revista NORDESTEAgosto/2015 83

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EFEITOSOCIAL

matéria Especial

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Programas sociais mudam a cara do semiárido e sertão nordestino e põem

fim a mortes por fome, saques e imagens de retirantes da seca

ão é fácil para uma pessoa que nasceu no semiárido, castigado pelas secas, ‘pagar pe-

dágio’ para ter acesso a qualquer bem, inclusive acesso a água ou qualquer benefício público”, reclama Roberto Veras, professor de ciências sociais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O ‘pedágio’ seria uma es-pécie de fidelidade e submissão pra-ticamente eternas. Veras lembra que a miséria nordestina estig-matiza e cria dependência das populações mais pobres em re-lação as elites, econômica, social e política.

O cientista pontua que parte da população mais pobre do interior do nordeste mantinha relações de-pendentes e ligadas a esquemas de famílias, como reconhecimentos feitos ao dono da terra. Uma relação muito parecida ao que era mantida ainda do início do século passado. “Agora eles têm condições de barganhar num outro patamar seu trabalho, na medida em que já têm uma renda garantida que supre muito minimante as suas neces-sidades”, avalia.

N

A trANsFormAção DA pAIsAgem

Essa mudança vem acontecendo nos últimos anos através dos pro-gramas sociais, que têm modificado a vida social e econômica no Brasil e, especialmente, na região nordeste. Assim, a pobreza extrema, considera-da em suas várias dimensões – edu-cação, trabalho, renda, saúde –, não apenas na baixa renda, caiu de 8,3% da população, em 2002, para o equi-valente a 1,1% da população em 2013,

segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí-lios (Pnad) do IBGE, com base em metodologia do Banco Mundial. É um avanço incontestável. Em pouco mais de dez anos, deixaram a situação de pobreza mais severa, sobretudo, as famílias com crianças, os negros e os nordestinos, parcelas da população

que mais sofriam com as privações, segundo informações divulgadas no início do ano pelo Ministério do De-senvolvimento Social (MDS).

É inegável que a paisagem começou a mudar com programas de trans-ferência de renda. Programas como o Bolsa Família, Prouni, Fies, Pro-jovem, Pronatec, de Construção de Cisternas, de acesso a Atenção Básica a Saúde. Programas, na sua grande

maioria, implantados ou am-pliados nos últimos anos, prin-cipalmente durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT).

Apesar disso, a menor submis-são dos beneficiados pelos pro-gramas sociais tem sido alvo de crítica. “Quando eles (os mais po-

bres) vão se colocar no mercado hoje têm um poder de barganha melhor. Não topam trabalhar por qualquer preço, e isso, muitas vezes, é tomado por preguiça, vagabundagem, depen-dência dos recursos públicos. Agora ele pode barganhar minimamente em torno do valor do seu trabalho e cria-se a base mínima para a construção de

“qUANDO ELES (OS MAIS pOBRES) VÃO SE

COLOCAR NO MERCADO HOJE TêM UM pODER DE

BARGANHA MELHOR”rObErTO vEras

Sociólogo

EFEITOSOCIAL

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Foto: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 87

Page 88: ED 105

um mercado de trabalho”, defende Veras.

Entre os programas de sucesso, es-tão o de construção de cisternas, uma solução simples para recolher água da chuva, utilizada para o alimento e para a agricul-tura, numa região onde os poços perfurados dão acesso a água sal-gada, imprestável para o consumo ou irrigação. No semiárido nor-destino a cons-trução de cister-nas mudou o ce-nário. Em pouco mais de três anos, mais de 750 mil cisternas foram instaladas na região, garantindo o acesso à água a quem, por vezes, tinha de buscá-la a horas de distância de casa. Os dados são do Plano Brasil Sem Miséria, lan-

çado em 2011. Com as cisternas, as famílias conseguem água para beber e para seguir com suas plantações. Muitas vezes as hortaliças, grãos e tubérculos cultivados incrementam a alimentação e ainda ajudam no orça-

mento familiar: são vendidos em programas do go-verno para suprir a merenda esco-lar ou nas feiras agroecológicas.

A grande maio-ria dessas pessoas que apareciam nas estatísticas da pobreza ex-trema do IBGE hoje fazem parte dos cerca de 14

milhões de famílias beneficiárias do Bolsa Família e que, por meio da inscrição no Cadastro Único, tiveram acesso a uma vida melhor (confira História de Vida). Alguns já abriram

mão do pagamento do programa de transferência de renda. O MDS afirma que 2,8 milhões de famílias já deixaram o Bolsa Família porque melhoraram de vida. Destes, mais de 1,5 milhão fizeram cursos de quali-ficação do Pronatec (Programa Na-cional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego).

Veras revela que especificamente no caso do Nordeste a diferença que os programas sociais proporciona-ram nos últimos 12 anos pintam um quadro geral de melhora na vida. O estudioso aponta um dos fatores que comprovam essa melhora no Nordes-te: a seca, que hoje acomete a região e que já dura cerca de cinco anos. “O quadro de seca do Nordeste sempre foi um cenário de retirantes, de sa-ques, um cenário de miséria e caos. A gente não tem vivenciado isso nos

“NÃO HOUVE AUMENTO DA MORTALIDADE

INfANTIL E NEM TEMOS MAIS NOTíCIAS DE MORTE pOR CAUSA

DA SECA”

LEONOr PaCHECOProfessora da UnB

Leonor Pachedo, da UnB, percorreu Brasil de

1977 a 1999

Programas sociais reduziram a mortalidade infantil

matéria Especialmatéria Especial

Fotos: DivulgaçãoRevista NORDESTE Agosto/201588

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“Quando eu era pequeno, muitas vezes só tinha o beiju para levar para a escola. Eu comia antes de chegar lá, para não deixar que a criançada ‘mangasse’ de mim. Tinha medo dos outros, passava vergonha”. A infor-mação é de Duval Pereira Lima, 65 anos, casado, pai de quatro filhos e morador há 60 anos de Pedra Branca, cidade pobre e seca do Vale do Piancó região do sertão paraibano. Du-val foi agricultor toda a vida, como o pai e seus antecessores. Aposentou-se e montou uma pequena barbearia ao lado da praça da igreja, onde cobra R$ 1 ou R$ 2 pelo corte de cabelo.

Hoje todas as noites, os jovens se encontram na praça para aproveitar a rede Wi-Fi grátis e se conectar ao mundo, por meio da internet, a

partir dos celulares. Pedra Branca, como centenas e centenas de mu-nicípios brasileiros, vive hoje uma nova realidade, impulsionada pela implantação de programas sociais do governo federal, integrados e articu-lados entre si.

Duval é taxa-tivo: “O Bolsa Família é muito bom. Não é mui-to dinheiro, mas aqui ajuda muito o pessoal todo.” Ele acredita que todo mês o Bol-sa Família injeta entre R$ 500 mil

e R$ 600 mil no comércio da cidade. “Hoje ninguém vai mais embora da-qui para procurar emprego”, reforça o barbeiro. “Aqui tem trabalho”. Brin-calhão, ele recorreu a algumas “tec-nologias” para agradar os clientes: um “ar condicionado” improvisado, com um ventilador apontado para uma

últimos tempos”, pontua. A fome deixou de ser

uma presença na vida da população do semiári-do graças não só ao Bol-sa Família, mas também a outros programas como o PAA (Programa de Aqui-sição de Alimentos), e o Pronaf (Programa Nacio-nal de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que ajudaram a evitar a mor-talidade infantil. O PAA compra alimentos produ-zidos pela agricultura fa-miliar, com dispensa de li-citação, e os destina às pes-soas em situação de inse-gurança alimentar e nutri-cional e àquelas atendidas pela rede socioassistencial dos governos estaduais e municipais. Assim, o Pronaf e o PAA estimulam a agricultura familiar, que combatem a fome e, ao mesmo tempo, ajudam na melhora da renda das famílias mais pobres que possuem algum pedaço de terra.

Leonor Pacheco, pesquisadora e professora da UnB, que percorreu boa parte do Brasil entre 1977 e 1999, acompanhando principalmen-te crianças de zero a cinco anos de idade, lembra que, no final da déca-da de 1980, a seca foi considerada um genocídio. “Famílias perdiam até três crianças”. Segundo ela, na última seca severa no Nordeste, em 2013, as mortes atingiram apenas o gado. “Não houve aumento da mortalidade infantil e nem temos mais notícias de morte por causa da seca”. Segundo a professora, a população em situa-ção de insegurança viu a vida mudar não apenas por causa do benefício de transferência de renda, mas por um conjunto de políticas e programas implantados ao longo de pouco mais de uma década e por um período ininterrupto.

histórias de vidas*

“O BOLSA fAMíLIA é MUITO BOM. NÃO é MUITO

DINHEIRO, MAS AqUI AJUDA MUITO O pESSOAL TODO”

DuvaL PErEiraBarbeiro

duval com o cliente na barbearia de Pedra Branca, interior da PB

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTEAS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

*As histórias fazem parte da revista o Brasil Mudou, 2015, e foram cedidas pelo Ministério do Desenvolvimento Social Revista NORDESTEAgosto/2015 89

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bacia cheia de água, e o borrifador para molhar os cabelos e refrescar o corpo, tanto de quem está tendo o cabelo cortado como para o dele mesmo. Ele lembra a infância difícil, sofrida com a estiagem. “O primeiro sapato que eu botei no pé foi com 17 anos, emprestado de um vizinho”. Duval, seu pai e seus oito irmãos mui-tas vezes trabalhavam em troca de milho ou feijão. Uma realidade parecida foi rela-tada por Ivan de Souza, 38 anos, enquanto o bar-beiro o atendia. “Aos oito anos, eu já trabalhava na roça, com meu pai. Três dias na nossa roça e três dias ‘alugados’. A gente cuidava do algodão dos donos de terra. Eles nos pagavam em milho. Nossa comida era milho com leite e pão com leite”. Sua família tem outra vida. Ele planta e trabalha numa ofi-cina de motos e bicicletas. A família é beneficiária do Bolsa Família. Ivan faz questão de que os três filhos, de 15, 11 e 8 anos, estudem. “Meu meni-no nunca precisou pegar numa enxa-da”. O Bolsa Família também ajudou muito a família de Cícero e Maria Ledriana Silva. Agricultores, eles re-

cebem o benefício há nove anos: os atuais R$ 119 complementam a ren-da da família. “O dinheiro sempre ajudou muito. Um pouco para a feira, para comprar um chinelo, uma roupa, um remédio às vezes, um livro que precisa para escola ou até para tirar xerox”, conta Ledriana. Há um ano, o casal montou uma horta no meio do sertão, que recebe água de um poço

perfurado por eles. Começaram produzindo ce-bolinha, que hoje vendem para a prefeitura: R$ 60 por mês. “Vamos começar a vender para o PAA (Pro-

grama de Aquisição de Alimentos) também. Já tivemos a reunião na pre-feitura”, contou sorridente Ledriana, prevendo um ganho de mais de R$ 500 por mês. “Estamos ampliando”, destacou Cícero. O produtor explica que aprendeu muita coisa com o pai. “Ele sempre trabalhou pros outros e me levava junto. Por isso, não estu-dei”, conta. O filho mais velho, diz com orgulho, acaba de entrar no curso de Administração da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. “Passou, entre os colegas de escola, em 1º lugar no Enem”, comemora.

“MEU MENINO NUNCA pRECISOU

pEGAR NUMA ENxADA”ivaN DE sOuza

Agricultor

Praça da cidade de Pedra Branca, wi fi grátis para a

população

Os programas sociais implementados pelo Governo Federal provocaram uma espécie de revolução no Nordeste brasileiro, principalmente na região semiárido. Famílias inteiras não só saíram da miséria como também já enveredam como produtores rurais, alimentando a cadeia produtiva das cidades. A reboque, os filhos desses primeiro beneficiados, têm acesso a educação e oportunidades a mais condições de trabalho e renda

MELHORIAS pROpORCIONADAS pELOS pROGRAMAS SOCIAIS• 301,6 mil (2011 a junho/2014)operações de aquisição de alimentos feitas por famílias do Bolsa Família • 4 milhões toneladas de produtos adquiridos da agricultura familiar • 388 mil de agricultores comercializaram para o PAA • 354 mil famíliasbrasileiras participam do Programade Fomento às Atividades Rurais.Por meio da ação, os agricultoresfamiliares em situação de extremapobreza espalhados pelo país recebem assistência técnica e extensão rural, além de R$ 2,4 mil – em três parcelas – para investir em projetos produtivos

AÇõES qUE VêM MUDANDOO pERfIL DA REGIÃO

O fIM DA MISéRIA:

matéria Especial

Revista NORDESTE Agosto/201590

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AGRICULTURA fAMILIAR• Parte da produção da agricultura familiar reforçou a merenda oferecida nas escolas públicas do país a 43 milhões de crianças e jovens todos os dias. • Agricultores familiares pobres contaram com assistência técnica e acesso a crédito. • Em pouco mais de dez anos, 15,6 milhões de pessoas deixaram a condição de subalimentadas. • A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), tirou o país em 2014 do Mapa da Fome.• 89% foi a redução da extrema pobreza na faixa etária de 0 a 15 anos entre 2003 e 2014• 301,6 mil (2011 a junho/2014) operações feitas por famílias do Cadastro Único no Programa de Aquisição de Alimentos.

MAIS áGUACisternas 2003 a 2014 - 1 milhão de litros de água armazenados no Semiárido, 17 bilhões de cisternas para consumo entregue

SEM fOMEPrevalência de baixa estatura (%) em crianças de cinco anos do Bolsa Família caiu de 16,8% em 2008 para 14,5% em 2012. Só em 2011, 9,1 milhões de crianças de seis a 59 meses tiveram suplementação com megadoses de vitamina A. Outras 402 mil receberam 1,2 milhão de frascos de sulfato ferroso nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), em 1.595 municípios brasileiros

AÇõES pARA A SAÚDEDesde o início do Brasil Sem Miséria, em 2011, o aumento da cobertura das equipes de Saúde da Família nos municípios prioritários beneficiou mais de 4,8 milhões de pessoas

MULHERES BENEfICIáRIAS DO BOLSA fAMíLIA TêM MENOS fILHOSAo contrário do que é insinuado por alguns críticos, mulheres beneficiárias do Bolsa Família tem menos filhos. Dados dos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de 2000 e 2010 apontam que o grupo de mulheres mais pobres apresentou queda de 30% no número médio de filhos, acima, portanto da média nacional, de 20,2% . As maiores reduções ocorreram nas regiões Nordeste (-23,4%) e Norte (-21,8), que são as localidades que mais recebem a transferência de renda

A pERMANêNCIA NA ESCOLA• Estudantes de 6 a 15 anos de idade precisam assistir a pelo menos 85% das aulas e adolescentes de 16 e 17 anos, 75%. Quase 17 milhões de alunos beneficiários têm sua frequência escolar monitorada todos os meses pelo governo. • Os alunos do Bolsa Família estão presentes em 80% das escolas públicas de educação básica, o que representa aproximadamente 160 mil escolas e abrange cerca de 30% das matrículas. • O Censo Escolar de 2013 mostrou crescimento de 139% no número de estudantes matriculados em tempo integral: de 1,3 milhão em 2010 para 3,1 milhões em 2013

pROfISSIONALIzAÇÃO• Mais de 1,5 milhão de matrículas em cursos de qualificação profissional. • Entre os beneficiários do Bolsa Família, mais de 400 mil tornaram-se microempreendedores individuais e contaram com crédito a juros mais baixos para produzir. • Em 2011, o Pronatec para o público do Brasil Sem Miséria, com mais de 620 cursos orientados à população inscrita no Cadastro Único, registrou mais de 1,5 milhão de matrículas, de Norte a Sul do país

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Revista NORDESTEAgosto/2015 91

Page 92: ED 105

QUANDO TODO MUNDO SE JUNTA,A EDUCAÇÃO MELHORA.

O programa Educar para Transformar é um

grande Pacto pela Educação que tem como

meta principal elevar a qualidade do ensino

público na Bahia. O Governo vai trabalhar

muito, mas a educação vai precisar de todo

mundo: famílias, prefeitos, estudantes,

professores e empresários. Visite o site do

programa, conheça os detalhes e descubra

como fazer parte dessa iniciativa pelo futuro

dos nossos jovens. Juntos chegaremos lá.

AN_REV_NORDESTE_404X266.pdf 1 03/08/15 15:34

Revista NORDESTE Agosto/201592

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QUANDO TODO MUNDO SE JUNTA,A EDUCAÇÃO MELHORA.

O programa Educar para Transformar é um

grande Pacto pela Educação que tem como

meta principal elevar a qualidade do ensino

público na Bahia. O Governo vai trabalhar

muito, mas a educação vai precisar de todo

mundo: famílias, prefeitos, estudantes,

professores e empresários. Visite o site do

programa, conheça os detalhes e descubra

como fazer parte dessa iniciativa pelo futuro

dos nossos jovens. Juntos chegaremos lá.

AN_REV_NORDESTE_404X266.pdf 1 03/08/15 15:34

Revista NORDESTEAgosto/2015 93

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Grupos neonazistas reforçam estereótipo nordestino de miserável e vagabundo. Para filósofo,

a única forma de evitar guerra entre regiões é a implantação de fato do modelo federativo

pós o resultado das elei-ções de 2014 a internet e as redes sociais foram as-saltadas por uma onda de

preconceito contra o nordestino. Até a Wikipedia foi alvo desse preconcei-to quando o termo “Região Nordeste” teve a sua descrição alterada na enci-clopédia livre: “A Região Bolsa Famí-lia foi uma das poucas regiões a ele-ger uma di-tadora boli-variana cha-mada Dilma Rousseff ” , dizia a Wi-kipedia que pode receber edição livre, e trazia estampada a raiva de quem culpava a região pela vitória petista.

Com a popularização da internet é fácil encontrar críticos do Nordeste que acusam o povo de ser pregui-çoso, ignorante e de eleger políticos corruptos. As opiniões jogadas na internet tem sido um tema polêmico. Até Umberto Eco, pensador con-

A

Muito aléM do precoNceIto

temporâneo, já veio a público falar contra o que ele chamou de “idiota da aldeia”. “Normalmente, eles (os imbecis) eram imediatamente cala-dos, mas agora eles têm o mesmo di-reito à palavra de um Prêmio Nobel”, completou. Para Eco, antes das redes sociais, os ‘’idiotas da aldeia’’ tinham direito à palavra “em um bar e depois

de uma taça de vinho, sem preju-dicar a co-letividade”. ‘’O drama da Inter-net é que ela promo-veu o idiota da aldeia a

portador da verdade”, frisou.O filósofo Roberto Romano (Uni-

camp), pensador do assunto, destaca ser enganoso dizer que somente o Sul e o Sudeste cultivam o ressenti-mento contra o Norte-Nordeste. O nordestino também acaba ficando ressentido. Para Romano, existe sim esse preconceito contra o Nordeste de Minas para baixo. Mas também

é possível encontrar uma atitude ra-dical em relação ao sul no próprio Nordeste. O professor lembra que no século XVI, com a invenção da Im-prensa e o advento do livro impresso,

“ESTá HAVENDO UM IMpULSO

MUITO GRANDE DE MOVIMENTOS

fASCISTAS NO pAíS INTEIRO”

rObErTO rOmaNOFilósofo

teve uma onda de pedantismo no mundo e foi feita uma sátira daqueles que liam tudo e não entendiam nada. Com a internet houve novamente uma elevação do pedantismo, “agora

matéria Especial

Revista NORDESTE Agosto/201594

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a nível cósmi-co”, avalia Ro-mano. “Essas pessoas se jul-gam superio-res e manipu-lam informa-ções que não têm”, fr isa. Além disso, Romano aler-tar para uma expansão dos movimentos fascistas no

Brasil. Seriam grupos de extrema di-reita que agem na internet e que, de certa forma, acabam aglutinando uma classe média urbana profunda-mente preconceituosa.

“Eu acho que está havendo um im-pulso muito grande de movimentos fascistas no país inteiro. Não apenas no sul, mas inclusive na Bahia. No nordeste se nota a emergência des-ses grupos e setores. A mídia não tem discutido isso e não tem leva-do a sério esse tipo de ameaça. No parlamento ainda há a presença de grupos autoritários, conservadores e reacionários que estão se poten-cializando sobre a capa da religião, principalmente através do funda-mentalismo protestante. Eles que-rem mudar para pior. Acabar com o direito das mulheres, homossexuais, indígenas. Uma saudade dos gover-nos autoritários”. Segundo o estu-dioso, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é o exemplo claro disso, assim como

o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e correligionários afins.

“Há uma perigo muito sério dessas classes urbanas médias que já são tradi-cionalmente reacionárias encontrarem uma canalização pior daquela que hou-ve durante o período do integralismo. O integralismo circulou pelo país e chegou a ter milhões de aderentes. Tem uma coalizão de extrema direita no país que se liga a essa classe média”, conta Romano. Vale ressaltar que o integra-lismo foi um movimento vigente na década de 30 que deu suporte a Getúlio, mas depois tentou destituí-lo do po-der através de um golpe malogrado. O movimento também fez forte campa-nha anticomunista contra Luiz Carlos Prestes e tinha tintas fascistas. Durante o governo getulista foi um dos respon-sáveis pela aproximação do governo com Hitler. O Brasil viria, depois, a decretar guerra contra Alemanha, após ver um dos seus navios bombardeados.

Para o filósofo Roberto Romano, origem do preconceito entre as regiões vem da época do Império

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 95

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classe sem culturaSobre o porquê essas “classe urba-

nas médias” têm sido usadas como massas de manobra dos movimentos reacionários, Romano aponta uma certa falta de cultura. “Essa classe média a que eu me refiro, foi profis-sionalizada de forma unilateral. Eles foram para a universidade, adquiri-ram diploma de engenheiro e médico, sem interesse (ou acesso) por uma ótica mais ampla. São engenheiros analfabetos, em termos de arte, polí-tica e tudo mais. Pensam apenas por setor. São vitimas de veiculação de slogans e ideais preconcebidas. É muito fácil ser desvirtuado para quem não tem uma cul-tura mais ampla”, frisa.

Contudo, Romano enten-de que o preconceito contra a região é algo mais antigo. “Eu acho que o importante é veri-ficar que essa onda de ódio e preconceito contra o nordeste é resultado e não premissa. Re-sultado de uma política que vem desde o século 19”. Pela ótica do filósofo existem paliativos para a situação, e eles estão na luta trava-da pelos municípios e estados por mais autonomia, e uma federaliza-ção de fato no pais. “Existem juristas que dizem que o Brasil ainda é o im-pério do poder central. Se 70% do que é arrecadado (de impostos) vai para a União o que sobra é disputado numa guerra (entre os estados). Assim, entra a guerra fiscal e até o xingamento e a briga de lado a lado”.

o jogo de ódio para ver quem fica com a parte do leão

Ao refletir sobre a ideia de federa-ção (onde os estados tem autonomia em relação ao poder central), Roma-no chega a conclusão que no Brasil não existe uma federação de fato. Para ele o poder central é como se fosse um invasor que cobra uma espécie de botim e fica com a parte do leão. No

Tem que distinguir as necessidades e reivindicações das regiões com as oligarquias comprometidas com a federação. Neste quesito, o nordeste e o Brasil tem vários exemplos de famílias que dominam a política, a economia e os meios de comunica-ção. Na política, os Sarney, os Neves, os Cunha Lima, Magalhães, Calhei-ros, Alves, Maia, Bornhausen, Richa, Barbalho, Collor. São sobrenomes que se repetem, apenas para citar al-guns exemplos que têm conseguido se perpetuar no poder ao longo das gerações.

No entender do estudioso, interessa ao poder hegemônico do Brasil esse

tipo de visão que uma região tem da outra.

“Quem se aproveita são os oligarcas que estão no poder central, contro-lando essas imagens. O que acon-tece em termos históricos, é que o Brasil foi um império onde as forças armadas cumpriu um papel funda-mental de todas as dominações po-pulares. No Nordeste, no Norte e no Sul vemos o Exército de Duque de Caxias acabando com as rebeliões. E a desculpa é que o Brasil não po-deria se tornar uma serie de republi-quetas como as espanholas”, ensina

Romano, que ainda lembra a diplomacia do barão do Rio Branco, que atuou ati-vamente nas questões de fronteiras e defendeu os interesses brasileiros con-tra a Argentina, Guiana Francesa e a Bolívia. Neste quesito ainda é possível en-xergar a violência das Forças Armadas que culminou com duas ditaduras.

Romano argumenta que o estado brasileiro foi cons-truído numa espécie de guerra entre as regiões. “A coisa mais fácil é colocar uma região con-

tra a outra. Divide e impera. Assim, se mantém para o sulista a ideia de um nordestino vagabundo e para o nordeste de um sulista arrogante”.

O estudioso acredita que o grande medo do poder central é que regiões adquiriram a sua própria importân-cia. “Cada região tem uma caudal de atribuições que não é respeitada no Brasil. Se tivesse uma federação de fato teria um respeito a cada região. As leis da educação e cultura são uniformes do Oiapoque ao Chuí. E isso leva a pobreza do pais. E como resultado da riqueza regional vemos a cultura da televisão, e da novela, que é feita cotidianamente, a tal ponto que se considera virtude que ela não tenha sotaque”, critica.

duque de Caxias e Barão do Rio Branco, apoio às forças

estabelecidas

final das contas o que sobra é que os estados se digladiem entre si na cha-mada guerra fiscal. “Há uma manobra permanente do poder central para despossuir as regiões”.

Romano explica que o que exite é um mando imperial do governo central e uma permanente forma de controle das regiões, justamente atendendo as exigências das varias oligarquias regionais. “É muito mais tranquilo em vez de questionar essa forma de dominação de classe, dis-farçar isso com esse jogo de ódio de uma região contra outra”, avalia.

matéria Especialmatéria Especial

Fotos: DivulgaçãoRevista NORDESTE Agosto/201596

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na educação auMentou a oferta, não a qualidade

ós tivemos uma melhora na quantidade da educação em todos os níveis, inclusive no nível superior. O ensino tecnológico, o aces-

so a universidades públicas e privadas. Cidades pequenas, como Patos, no sertão paraibano, ou Santa Cruz do Ca-pibaribe, no agreste de Pernambuco, hoje têm duas, três faculdades particulares. Isso se sustenta porque houve um crescimento da economia, tem um fator pressão, atração, estímulo, inclusive por parte do governo. No ensino técnico a oferta não tem comparação ao que existia há 10, 15 anos atrás”, argumenta Roberto Veras, professor de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

No entanto, apesar do boom da oferta do ensino técnico e superior, o que não melho-rou foi a qualidade do ensino fundamental e médio. “As pessoas continuam chegando com muitas deficiências. Mesmo as escolas particulares continuam tendo lacunas mui-to grandes. É preciso melhorar muito o nível da escola no Brasil. Se compararmos a outros países, o Brasil está muito longe para chegar numa boa qualidade do ensino. É tudo ainda muito des-regulado. O jovem deixa a escola e vai para o trabalho, continua trabalhando e volta para a escola. Tudo isso compromete muito. A qualidade da oferta do ensino não é das melho-res. Até agora não fizemos um investimento adequado nessa área. Essa é uma das principais lacunas das politicas públicas no Brasil”, assevera o estudioso.

Veras não nega que houve avanços em várias áreas, mas o problema é que os déficits são muito grandes. Para o cientista, o Brasil ainda é uma sociedade marcada pela desigualdade e pela extrema polarização entre pobreza e riqueza, onde as instituições são viciadas e as leis têm dois lados, tem um lado que dá a impressão de um estado moderno, mas do outro lado reproduzem a pobreza e a desigualdade, replicando preconceito e discriminação.

“Como vamos nos entender como sociedade se os de baixo se veem como incapazes, sem condições de assu-mir responsabilidades maiores no plano politico, e os de cima veem os de baixo como desprezíveis? Que noção de sociedade é essa? Somos uma sociedade fracionada”, res-

salta. Com os programas sociais, Veras afirma que houve deslocamentos dessa situação. “No entanto, essa elevação está provocando uma reação imensa de uma parcela da sociedade. O Bolsa Família virou alvo de imensas críticas. A elite não admite nenhum tipo de modificação!”.

Apesar das críticas, Veras acredita que as políticas so-ciais precisam ser mantidas e defende que elas são como políticas de cotas. “Cotas não podem vir para ficar, são políticas emergências, não são feitas para serem mantidas permanentemente. Elas precisam ser transitórias, claro

que essa transição precisa ser calculada. Uma saída exitosa, que não crie uma situação de dependência. Enquanto o quadro for esse é preciso que essas políticas, com acesso a educação e bens, possam ir criando condição às gerações futuras para irem se inserindo na sociedade e no mercado de trabalho,”.

O quadro pintado por Veras parece uma engrenagem natural, o maior acesso a bens

e a educação aumentaria o nível de pressões vindas de setores de baixo da sociedade, essas pres-sões criariam, por si só, o espaço propício para negociações que darão mais poder de barganha às classes mais necessitadas. “Eles podem mudar a situação e atuar

no sentido de melhorar esse quadro. É preciso criar esse lastro que vai ajudar a trazer mudanças mais substancio-sas para frente. Neste momento, estão sendo feitos esses ajustes emergenciais. Mas é preciso agir sobre esses pon-tos. Senão elas continuarão se reproduzindo como estão se reproduzindo até hoje. São 500 anos de história, muda o cenário, mas o quadro permanece”.

Veras explicou que a solução é mesmo uma maior consciência cidadã da população. “É a compreensão que a sociedade é para todos. Uma compreensão da elite e das classes populares. Os de baixo precisam saber que eles têm direitos e precisam atuar para que esses direitos sejam conquistas efetivas. Os de cima devem ter consciência que a sociedade só funciona, ou funciona melhor, se os de baixo tiverem direito. A educação ajuda muito, não só para possibilitar uma melhor colocação no mercado de trabalho, mas também para fortalecer uma consciência cidadã. Todos têm direitos e deveres”.

A V A L I A Ç Ã O S O C I O L Ó G I C A

“N

“A ELITE NÃO ADMITE NENHUM TIpO DE MODIfICAÇÃO!”

rObErTO vErasSociólogo

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Revista NORDESTEAgosto/2015 97

Page 98: ED 105

O CEARÁ PREPARADOPARA OS GRANDES DESAFIOSDA LOGÍSTICA MUNDIAL. slo

gan

Esplanada do Pecém, s/n - Pecém • São Gonçalo do Amarante - Ceará - CEP: 62.674-906 • + 55 85 3372.1500

www.cearaportos.ce.gov.br

DIFERENCIAIS COMPETITIVOS:

• PORTO COM GRANDE PROFUNDIDADE DE CALADO MAIS PRÓXIMO DO CANAL DO PANAMÁ• LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA ESTRATÉGICA E CURTO TEMPO DE TRÂNSITO PARA EUROPA E ESTADOS UNIDOS• CAPACIDADE PARA RECEBER GRANDES NAVIOS PORTA-CONTÊINERES• PROGRAMAÇÃO ANTECIPADA PARA ATRACAÇÃO DE NAVIOS• RÁPIDA CARGA E DESCARGA DE NAVIOS ATRAVÉS DE MODERNOS PORTÊINERES• LOCALIZAÇÃO FORA DOS GRANDES CENTROS URBANOS• PORTO INSERIDO NO COMPLEXO INDUSTRIAL E PORTUÁRIO DO PECÉM (CIPP)

Porto do Pecém Retroárea de 13 mil hectares Companhia Siderúrgica do Pecém

O Porto do Pecém é um dos poucos terminais off-shore do Brasil e conta com uma retroárea de 13 mil hectares,

composta por uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), a futura Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP),

um Terminal Intermodal de Cargas, usinas termelétricas e um amplo parque industrial. Atualmente, o Porto do Pecém

se prepara para ampliar a movimentação de carga e descarga no terminal com a construção de três novos berços

(conclusão prevista para início de 2016). E com o novo Canal do Panamá, será um dos portos mais estratégicos do

mundo, consolidando-se como uma referência em eficiência, competitividade e sustentabilidade. Com grandes

investimentos, o Governo do Estado está colocando o Ceará definitivamente no mapa do setor logístico mundial.

0881_CACI_ANU_PORTO DO PECEM_CF.indd 1 14/08/15 21:10

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O CEARÁ PREPARADOPARA OS GRANDES DESAFIOSDA LOGÍSTICA MUNDIAL. slo

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www.cearaportos.ce.gov.br

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Porto do Pecém Retroárea de 13 mil hectares Companhia Siderúrgica do Pecém

O Porto do Pecém é um dos poucos terminais off-shore do Brasil e conta com uma retroárea de 13 mil hectares,

composta por uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), a futura Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP),

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se prepara para ampliar a movimentação de carga e descarga no terminal com a construção de três novos berços

(conclusão prevista para início de 2016). E com o novo Canal do Panamá, será um dos portos mais estratégicos do

mundo, consolidando-se como uma referência em eficiência, competitividade e sustentabilidade. Com grandes

investimentos, o Governo do Estado está colocando o Ceará definitivamente no mapa do setor logístico mundial.

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SÍMBOLO EMDECADÊNCIA

matéria Especial

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gosto, mês de aniversário da Revista NORDES-TE, começa com mui-tas expectativas no Bra-

sil diante do enfrentamento político-partidário. Enfretamento que pode gerar crise continuada refletindo nas políticas de incremento da econo-mia. Dentro desse contexto, há uma grande interrogação sobre o que será a gestão do novo superintendente da Sudene, o economista João Paulo Lima. Já à frente do principal órgão articulador do Nordeste, mas há anos em declínio pela perda da força e do poder de antes.

João Paulo chega com gás de ado-lescente, motivado pela oportunida-de singular que dispõe para operar estratégias e políticas que refaçam o conceito depreciativo desde quando o governo FHC desativou a Sudene e, anos depois, o governo Lula reativou o órgão. Entretanto, até a presente fase não há um redimensionamento à altura do que fora a instituição.

O governo Dilma promete reto-

Sem apoio na mesma dimensão de quando criada, Superintendência vive o esvaziamento político

com Fórum dos Governadores do Nordeste. Novo Superintendente aposta na reversão deste quadro, embora conjuntura econômica atrapalhe

A

o papel da Sudene

SÍMBOLO EMDECADÊNCIA

mar ações de impacto visando o de-senvolvimento socioeconômico da entidade e do Nordeste, entretanto, a conjuntura econômica só fala em contingenciamento e neste particular está a Sudene. Mesmo assim, a pre-sidenta diz que vai retomar as linhas de financiamento.

prImeIros pAssos

O ex-prefeito de Recife começou sua nova missão enfrentando um sé-rio problema: a Justiça Federal resol-veu simplesmente desativar o funcio-namento do prédio central do Órgão, em Recife, alegando falta de condi-ções básicas para abrigar os diversos setores do funcionalismo federal.

De acordo com documento assina-pelo juiz da 1ª Vara Federal, o prédio apresenta problemas na estrutura e no sistema de combate a incêndio. A decisão de desocupação do prédio atende a pedido da Associação de Magistrados da Justiça do Trabalho.

Ato continuo, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região resolveu revogar

a decisão da Justiça, algo que coincide com articulações do superintendente junto ao SPU – Superintendência do Patrimônio Público solicitando, através do Ministério da Integração Nacional, que o equipamento seja de-volvido à Sudene. Este é o primeiro embate formal.

retomAr A ForçAReconhecido pelos demais gover-

nadores do Nordeste, o superinten-dente vai enfrentar como realida-de adversa a existência do Fórum dos Governadores, rivalizando em termos de poder com o Conselho Deliberativo da Sudene, instância formada pelos governadores. A ma-nutenção do Fórum se traduz em enfraquecimento do Conselho.

Mas, a grande indagação futura é sobre como Dilma vai tratar o órgão. Afinal, mantendo-se a atual estrutura continuará o desprestigio. Falta deci-são política do governo Dilma para refazer o tamanho da importância da Sudene.

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Foto: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 101

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matéria Especial

João Paulo Lima (PT) tomou posse no dia 28 de junho. A cerimônia que aconteceu na sede da Sudene, no Re-cife, contou com a presença de várias lideranças políticas da região, entre eles os governadores Paulo Câmara (PE), Ricardo Coutinho (PB) e Ca-milo Santana (CE), além do minis-tro da Integração Nacional, Gilberto Occhi. O novo superintendente tem um currículo extenso. Já foi prefeito do Recife, membro do Conselho De-liberativo da Sudene, presidente da Frente Nacional de Prefeito, vereador deputado estadual e federal. A vasta experiência será importante a João Paulo ao comandar um órgão onde pairam tantas expectativas.

Juarez Farias, um dos diretores eco-nômicos da primeira fase da supe-rintendência, disse que não há como fazer comparações entre a proposta inicial do órgão e o momento atual. “A região mudou. Mesmo que tivesse continuado nas mesmas condições políticas do início do trabalho, hoje ela seria necessariamente diferente da minha época”.

Para compreender as diferenças entre a Sudene de cinco décadas atrás e a de hoje, é preciso entender sob qual contexto ela surgiu. Fun-dada 1959, no Governo de Jusceli-no Kubitschek, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste foi um meio criado para amenizar a ascendente desigualdade social e econômica entre as regiões do país. Foi resultado do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordes-te, implantado três anos antes sob a orientação do economista Celso Furtado, responsável por respaldar a criação através de uma análise de aspectos históricos, naturais, estru-turais e sociais.

Durante o período de estudos, foi necessário definir o que poderia ser

do comando e os seus sucessores não foram capazes de dar continuidade aos seus projetos. Com autonomia e recursos enfraquecidos, foi incor-porada pelo Ministério do Interior, tendo suas funções restritas ao Fun-do de Investimentos do Nordeste e a frentes de trabalho, como buscar so-luções em grandes períodos de seca.

Em 2001, no Governo de Fernan-do Henrique Cardoso, a Sudene foi fechada, após uma série de de-núncias de corrupção e irregulari-dades em projetos . Estima-se

compreendido como Nordeste para ser incluído nas ações governamen-tais. Para a Sudene, a área de ação Nordeste seria compreendia além dos nove estados nordestinos, alguns mu-nicípios de Minas Gerais e Espírito Santo, abrangendo 18% do território do Brasil e mais de 30% da popula-ção nacional. Apesar disso, a renda per capita da região não chegava a um terço da renda dos habitantes da região centro-sul.

A Sudene foi criada como uma autarquia subordinada diretamente à Presidência da República e tinha como função coordenar as ações do governo no desenvolvimento regional. Os órgãos federais com atuação na região precisavam se submeter à supe-rintendência. Os seus recursos nunca poderiam ser inferiores a 2% da receita tributária da União, estabelecidos na Constituição como fundo de auxílio ao Nordeste no combate às secas.

“A Sudene original buscava consoli-dar, articular e integrar a região; fazer o mercado comum a todos os estados. A região se transformou e cresceu em uma taxa bem mais alta do que o centro-sul. Isso foi resultado do tra-balho inicial”, disse Juarez Farias. O professor Marcos Formiga, diretor da Fundação Celso Furtado e também um dos ex-superintendentes da Su-dene, destaca a primeira fase do órgão, que teve relação direta com o amplo desenvolvimento do Nordeste entre o final da década de 1950 e os primeiros anos da década de 1960.

A partir de 1964, com o Golpe Militar, iniciou-se um processo de profundas mudanças estruturais na Sudene. Celso Furtado foi tirado

O economista Celso Furtado, idealizador da

Sudene e da noção do que seria Nordeste

matéria Especial

o apogeu e a decadência

joão Paulo em discurso de posse no prédio da Sudene. Evento mostra musculatura política do petista

Revista NORDESTE Agosto/2015102

Page 103: ED 105

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

que os desvios no órgão tenham che-gado a R$ 2,2 bilhões. No ano de 2007, no governo Lula, a autarquia foi recriada, com um novo modelo organizacional e vinculada ao Minis-tério da Integração Nacional. Apesar da expectativa criada, não houve uma retomada efetiva do projeto iniciado na década de 1950.

“A Sudene é um simulacro. Acredito que ela teve e teria um papel coorde-nador, mas não se pode mais pensar na ilusão de voltar aos áureos tempos de Celso Furtado. Deixamos perder esse sucesso. Há órgãos em excesso atuan-do na região. Dnocs, Codevasf, Chesf e Banco do Nordeste… Quem se ar-ticula, quem coordena quem? Nin-guém”, disse Marcos Formiga.

Sem autonomia e com atuação li-mitada, o maior desafio de João Paulo Lima é fazer com que o órgão atenda as reais necessidades da região na atual conjuntura social e econômica. “Não há autoridade para a Sudene agir de maneira diferente. Ela não passa hoje de uma repartição pública que cuida de assuntos do Nordeste. Hoje ela te-ria que ter uma maior participação nas questões sociais e urbanas”, diz Farias.

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Em seu discurso de posse, João Pau-lo Lima enfatizou a inclusão social e gestão popular democrática nos go-vernos do PT. “A retomada do cres-cimento do Brasil, na última década, beneficiou, em maior escala, as regiões mais pobres, diminuindo, na mesma proporção, as desigualdades regionais e sociais. Entre 2003 e 2011, o PIB brasileiro aumentou 41% em termos reais, enquanto o Nordeste 46%, acima da média do País, ampliando seu peso na geração da renda nacional”.

João Paulo também foi incisivo quanto a extinção da autarquia no ano de 2001, episódio ao qual tratou como “estratégia desintegradora”. “É preciso resgatar o prestígio político de maior intervenção no Nordeste. Podemos c u m p r i r um papel muito im-p o r t a n t e nos mu-nicípios e a r t i cu l a r com os go-vernado-res, tratar da liberação de recursos. Precisamos dar essa sacudida”, afirmou.

O superintendente considera fun-damental a criação de um Plano de Desenvolvimento Regional para fo-mentar um planejamento estratégico, visando desenvolvimento integrado da região. João Paulo citou a econo-mia criativa como um mecanismo re-gional importante para o processo. “Sem esquecer a economia da cultura, notadamente agora, quando a ativida-de cultural já se inclui no estatuto da microempresa e considerando a sua relevância na região nordestina".

Para viabilizar sua missão, João Paulo conta com incentivos fiscais e

João paulo, as metas do Superintendente

com o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste - FDNE, que assegura recursos para investimentos em novas atividades produtivas, infraestrutura e serviços públicos. O orçamento do FDNE para 2015 é de R$ 2 bilhões. “Nós vamos realizar a curto prazo uma reunião preparatória para a retomada do Conselho Deliberativo, que não se reúne desde 2013. Estou aguardando a agenda da presidente”, declarou.

Enquanto aguarda a presidenta Dil-ma, a intenção do petista é se encon-trar com todos os governadores do Nordeste. Para isso, uma equipe está sendo montada para elaborar e de-bater projetos de interesse comum a toda região. Esta era uma reclamação constante do ex-superintendente Pau-

lo Fontana, que não conseguiu reunir os governan-tes esta-duais. Para evitar esse problema, João Paulo

deve ir pessoalmente até os estados, visitar os governantes. “A primeira vi-sita vai ser feita ao governador Paulo Câmara”, comentou.

O orçamento do órgão para 2015 envolve R$ 2,7 milhões para projetos já aprovados e R$ 589 milhões para os ainda em aprovação. Entretanto, a liberação dos recursos não passa di-retamente pelo gestor, que dispõe de uma cotação de R$ 25 milhões con-dicionados a si, desconsiderando a possibilidade de contingenciamento. “Dificuldade se vence é com talento”, respondeu João Paulo em relação a situação econômica e estrutural que encontrou no órgão.

JOãO PauLO LimaSuperintendente da Sudene

“é pRECISO RESGATAR O pRESTíGIO pOLíTICO DE MAIOR INTERVENÇÃO NO

NORDESTE”

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 103

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FORÇA EMPREENDEDORA

matéria Especial

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á não é novidade falar que o Nordeste entrou para a rota de grandes empresas. Base histórica do início da eco-

nomia brasileira e região mais rica do país até meados do século XVIII, conviveu durante longo período com o ostracismo e desigualdade em re-lação ao centro-sul. Porém, desde o final da década de 2000, retomou a posição de vanguarda, crescendo aci-ma da média nacional e atualmente gozando de um fortalecimento eco-nômico histórico.

Além da instalação de grandes em-presas nacionais e internacionais no Nordeste, grande parte dessa reto-mada econômica é consequência do sucesso de grupos da própria região, sejam eles industriais, comerciais, fi-nanceiros ou do setor de serviços.

Maior estado do Nordeste, a Bahia responde por 36% do PIB regional e mais da metade das exportações. Sal-vador é sede da Odebrecht, conglo-merado brasileiro de capital fechado que atua em 21 países distribuídos por quatro continentes, atuando pri-mordialmente nas áreas de engenha-ria, construção civil, energia e sanea-

J

cAsos DeSuceSSo

mento. Ainda na Bahia é possível citar a indústria de óculos Master Glasses, forte no setor infantil e que domina no mercado nordestino. Ou-tra que merece citação no estado é a Companhia de Ferro Ligas da Bahia – Ferbasa que exerce atividades nas áreas de mineração, metalurgia e de recursos florestais. Desenvolve pro-dutos de alta qualidade, aliado a uma forte atuação socioambiental. Líder em produção de ferroligas e única produtora integrada de ferrocromo das Américas, a Ferbasa está entre as 10 maiores empresas da Bahia, com faturamento anual superior a US$ 500 milhões.

No outro extremo da região po-demos citar o Grupo Diniz, respon-sável pela rede de óticas do mesmo nome. Inaugurada no ano de 1992 em São Luís, é considerada a maior empresa do Brasil no seu segmento, estando presente em todo o território nacional.

Um exemplo inusitado também vem do Maranhão, outra história de sucesso: o Guaraná Jesus. Considera-do praticamente um símbolo cultural maranhense, foi comprado em 2001

pela The Coca-Cola Company, já que superava em vendas no estado o re-frigerante mais famoso do mundo. O artifício utilizado pela Coca-co-la foi necessário para que a gigante norte-americana conseguisse, enfim, entrar no mercado maranhense com um significado relevante.

No ramo alimentício, um grupo que não se limita ao mercado nordestino, mas mantém características regionais em seus produtos é a São Braz. Com sede na Região Metropolitana de João Pessoa e dona de uma unidade industrial em Itatiba, interior de São Paulo, a marca conta com mais de 200 itens produzidos. Hoje é consi-derada uma das principais empresas alimentícias das regiões Nordeste e Sudeste, além de ser a sexta maior em torrefação de café do Brasil.

No pequeno município de Ribei-rópolis, no interior de Sergipe, uma pequena loja de alimentos deu ori-gem a marca Bompreço. Dono de uma das maiores bandeiras de car-tão de crédito do Brasil e contando com supermercados e hipermercados em todo o Nordeste e no Espírito Santo, O Bompreço foi vendido a

Marcas e empresas de renome nacional e que fazem parte do dia a dia do brasileiro, mostram a

força do empreendedorismo da região

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Foto: Shutterstock Revista NORDESTEAgosto/2015 107

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um grupo holandês e posteriormente a rede americana Wal-Mart. É considerada a terceira maior rede de supermer-cados do Brasil.

O grupo que vendeu o Bompreço, hoje é conhe-cido como o JCPM. Um conglomerado de empre-sas com sede no Recife, capital de Pernambuco. Após ter criado a rede de supermercados e hi-permercados Bompreço e o cartão de crédito Hi-percard (hoje controlado pelo grupo Itaú Uniban-co), o empresário sergipano radicado em Pernambuco João Carlos Paes Mendon-ça manteve investimentos diversificados em Comuni-ção. É dono do Jornal do Comércio e de redes de sho-ppings pelo Brasil. A JCPM é reconhecida como uma das maiores redes de shoppings do país, com estabelecimen-tos em Pernambuco, Bahia, Sergipe, São Paulo e Ceará.

Mais um caso de sucesso nacional com raízes nordes-tinas é o Grupo Guararapes, responsável pelas Lojas Ria-chuelo. Maior confecção de vestuário da América Latina, a empresa iniciou suas atividades em Natal. Responsá-vel pela pesquisa, criação, desenvolvi-mento e distribuição de seus produ-tos, a Riachuelo hoje conta com 269 lojas por todo o Brasil e 22 milhões de clientes em seu cartão.

De capital brasileiro e instalado no Ceará, o conhecido grupo de alimen-tos M. Dias Branco, comercializa as marcas Adria, Richester, Vitarella, Pilar e Fortaleza, todas conhecidas em toda a região e em várias partes do Brasil. Possui unidades industriais distribuídas pelo Nordeste e no inte-

rior de São Paulo.Também de origem cearense, a rede

de Farmácias Pague Menos é consi-derada a maior do setor farmacêutico do país. Fundada no início da década de 1980, hoje conta com mais de 700 lojas distribuídas por todo o território nacional.

Investindo em educação, em Per-nambuco há o grupo Ser Educacional, mantenedor da Uninassau e das Facul-dades Maurício de Nassau. Atualmen-te o grupo está presente em 24 cidades e 12 estados do Brasil. Suas 35 unida-des de ensino atendem a aproximada-mente 160 mil alunos. Anualmente

matéria Especial

Revista NORDESTE Agosto/2015108

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são formados milhares de alunos que ingressam no mercado de trabalho. O grupo foi construído pelo empresário paraibano José Janguiê Bezerra Diniz. O empresário, que é advogado, foi con-siderado um dos mais novos bilionários da Revista Forbes, que relaciona os homens mais ricos do mundo. Janguiê Diniz nasceu no município de Santa-na dos Garrotes, no Sertão paraibano, e na infância chegou a trabalhar como engraxate. O empresário é detentor de uma fortuna estimada em US$ 1,1 bilhão, conforme a Forbes.

Também da Paraíba para o mundo existe o Grupo Caoa.

O empresário Carlos Alerto de Oliveira Andrade, mais conhecido como Caoa, iniciou no setor da auto-móveis no estado e distribui as marca Ford, Hyundai e Subaru pelo Brasil. O paraibano, idealizador do Grupo, é médico, tem 74 anos e se tornou um dos empresários mais poderosos da indústria automotiva mundial. Caoa garante que já chegou a faturar R$ 100 bilhões de reais nos últimos dez anos. Ele é dono de 132 concessioná-rias Hyundai, da americana Ford e da japonesa Subaru e de uma fábrica que produz para a Hyundai em Anápolis, no interior de Goiás.

Outra marca conhecida é da do Armazém Paraíba. Os irmãos que utilizam a marca para fundar a loja matriz em Teresina, capital do Piauí, em 1968, talvez não imaginassem que chegariam tão longe. Hoje o Ar-mazém Paraíba é uma das maiores redes do varejo brasileiro, com mais de 450 pontos de vendas espalhados pelos estados do Piauí, Maranhão, Ceará, Bahia, Paraíba Pernambuco e Tocantins.

É evidente que essas páginas não abarcam toda a força do mercado e do empreendedorismo nordestino, mas são uma prova e exemplo de sua força e dinamismo, que pode alçar empreendedores à listas bilionárias.

O sucesso desses e outros empreen-dimentos pelo nordeste apontam para um ciclo virtuoso da economia, mas também para a capacidade de se re-inventar e construir de seu povo. Fa-zendo surgir, praticamente do nada, conglomerados que podem ganhar o mundo, literalmente.

Empreendimentos fazem parte do dia a dia da vida dos brasileiros, e movimentam a economia do país

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 109

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TECNOLOGIAEM ALTA

matéria Especial

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s ações voltadas para a tecnologia estão em alta no Nordeste. Estados de ponta na economia

da região como Pernambuco, Ceará, Bahia, têm mostrado uma forte pre-sença na área, sendo inclusive os prin-cipais captadores de investimentos concedidos pela Lei de Informática com subsídios do Governo Federal. Em quarto lugar vem a Paraíba, tam-bém forte na obtenção de subsídios/investimentos.

A chamada Lei da Informática foi editada em 1991 para garantir que companhias do setor não migrassem para a Zona Franca de Manaus, onde a produção destinada ao território nacional tem IPI zero. Hoje as em-presas da região da Sudene têm um abatimento de 95% sobre o IPI. A concessão do abatimento tributário, pela Lei da Informática, é condicio-nada ao investimento de ao menos 5% do faturamento bruto em ativi-dades de pesquisa e desenvolvimen-to em tecnologia da informação, no mercado interno. Durante encontro dos governadores do Nordeste no Piauí, o ministro da Ciência Tecnolo-

A

soFtWAres para o Mundo

gia e Inovação (MCTI), Aldo Rebe-lo, apontou a importância dos inves-timentos em tecnologia no Nordeste.

“Muitos programas importantes em curso no Brasil perpassam o Nor-deste. Destacam-se apoio a institutos nacionais e unidades de pesquisa na região, sobressaindo nesse quesito o Instituto Nacional do Semiárido, Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste, Rede Nordestina de Biotecnologia, empresa Alcânta-ra Cyclone Space, que participa do Centro de Lançamento de Alcântara (MA), Indústrias Nucleares do Bra-sil, com sede no Rio, mas explorando minas de urânio na Bahia e Ceará, Centro nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais e ain-da outros”, frisa Rebelo.

O ministro ainda revelou a exis-tência de uma teia de plataformas do conhecimento que está se montando nos Parques Tecnológicos da Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe, e os faturamentos crescentes em tecnolo-gia no Ceará e Rio Grande do Norte. Também os programas de inclusão digital que hoje cobrem vários esta-dos. Nos últimos dez anos, o MCTI

investiu R$ 4,5 bilhões no Nordeste. O dispêndio anual aumentou de R$ 195 milhões em 2004 para R$ 574,4 milhões em 2014.

Vale ressaltar que grande parte dos parques tecnológicos nasceu e cresceu graças a Lei de Informática, que dá vantagens ao investimento na região, através de linhas d financiamento disponibilizadas pela Capes, CNpQ, Finep, entre outros.

A Revista NORDESTE mapeai a seguir algumas das principais ilhas tecnológicas na região, que produzem tecnologia que já está ao alcance de milhões de pessoas. O foco está nos estados de Pernambuco, Ceará, Bah-ia, Paraíba e Rio Grande do Norte, os maiores captadores de recursos da Lei de Informática.

Tecnologia desenvolvida em Pernambuco, Bahia, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte já fazem

parte da vida de milhões de pessoas

Nos últimos dez anos, o ministério da Ciência, Tecnologia e inovação investiu no Nordeste

R$ 4,5 BILHõES

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Foto: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 111

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Dois centros de informática têm peso em Pernambuco: o Porto Di-gital e o C.E.S.A.R. Os dois ficam no Recife Antigo. O C.E.S.A.R e o Porto Digital abrigam no seu interior instituto de pesquisa, incubadoras/aceleradoras, empreendedores e visão global. Boa parte dos empreende-dores do Porto Digital surgiram do C.E.S.A.R.

o c.e.s.A.rReconhecido internacionalmente

por sua excelência, o C.E.S.A.R de-senvolve soluções em todo o processo de geração de inovação com tecno-logias da informação e comunicação - desde o desenvolvimento da ideia, passando pela concepção e prototipa-ção, até a execução de projetos para empresas dos mais diversos setores, como: telecomunica-ções, eletroele-trônicos, defesa, automação co-mercial, finan-ceiro, logística, energia, saúde e agronegócio. Contando com mais de 600 co-laboradores, o instituto tem sede em Recife e está presente tam-bém nas regiões Sul, Sudeste e Norte, com filiais em Curitiba, Sorocaba e Manaus. Ligado à UFPE, o instituto tem foco em engenharia, educação e empreendedorismo.

Entre seus principais projetos, o C.E.S.A.R é reconhecido pelo de-senvolvimento de biossensores para detecção precoce do câncer de mama, pelo software que monitora infor-mações de funcionamento dentro do carro e envia para a oficina, desen-

pernambuco, uma ilha de excelência

volvido para a Troller e por criar uma forma de monitorar a maquinaria que irriga áreas de cultivo via tecno-logia sem fio (GSM e Rádio), entre vários outros projetos. O instituto ainda atua diretamente em formação e capacitação de pessoas, com mais

Ambiente do CESAR e cientistas desenvolvendo produtos. Instituto criou programa para ajudar a

agricultura irrigável

matéria Especial

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Gilherme Calheiros, do Porto digital e as bicicletas do Itaú. Tecnologia pernambucana

desenvolvedores do seriado mister Plot. Ao lado, o Porto digital no Recife Antigo e o carro eletríco. Projetos de sucesso

de 20 cursos de extensão e dois cursos de mestrado profissional já consolidados: Engenharia de Software e Design de Artefatos Digitais.

o porto digital A atuação do Porto Digital

tem ênfase nos segmentos de games, multimídia, cine-vídeo-animação, música, fotografia e design. Guilherme Calheiros, diretor de Inovação e Criativi-dade afirma que o Porto cria o

ambiente e fomenta desenvolvimen-to de inovações, reunindo no mesmo espaço institutos, empresas, univer-sidades, órgãos de fomento, que vão em busca de incentivos fiscais. Há quinze anos, o parque tecnológico era formado por três empresas e 46 pes-soas, atualmente abriga 253 empresas que faturam mais de R$ 1 bilhão de reais e geram mais de 7.100 empre-gos diretos. Desde o final de 2014, o parque também opera nas cidades de Caruaru e Petrolina.

Entre as tecnologias desenvolvidas pelo Porto Digital estão as bicicletas cor de laranja do Itaú, que usa tecno-logia via celular. Um seriado desen-volvido por uma empresa que surgiu na incubadora do Porto Digital e hoje tem contratos com a Sony (Mis-ter plot). “Vamos instalar também o Centro de Desenvolvimento da Fiat/Chrysler. Esse centro vai atender a plataforma mundial da Fait, na área de software embarcado para o carro”, avisa. Neste ano será inaugurado ain-da o L.O.U.C.O - o Laboratório de Objetos Urbanos Conectados. Um ambiente para experimentação, de-senvolvimento, prototipagem e tes-te de soluções focadas no aumento do bem-estar nas cidades, utilizando sensores, atuadores, robótica, drones, relógios, óculos e tecidos inteligentes. Calheiros ressalta que a meta para os próximos anos é triplicar o número de empregos diretos, chegando a 20 mil.

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Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 113

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Iniciativas dos últimos anos mu-daram um cenário de pouco inves-timento em tecnologia, com criação do Parque Tecnológico do Estado, localizado em Salvador. O Parque conta com empresas de peso, como a IBM, Indra Brasil e a Portugal Tele-com. Outras iniciativas têm reforça-do o desenvolvimento tecnológico no estado como a Jusbrasil que é hoje a maior empresa focada em busca dos diários oficiais dos governo. A força tecnológica da Bahia está na presta-ção de serviços de tecnologia.

instituto fraunhofer do BrasilO Fraunhofer é um instituto de

pesquisa, desenvolve tecnologia de mercado para aplicação imediata. É um centro de projeto criado a partir de um convenio entre a UFBA, a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, e o Instituto alemão de

Bahia, investimento multinacional

Acima, o Instituto Fraunhofer, na Alemanha. Carol Passos, diretora. Ao lado, teste com o programa Rescuer

mesmo nome. Entre os projetos de-senvolvidos pela Fraunhofer está o RESCUER com foco em gestão em crises de emergência, seja desastre na-tural ou não. Carol Passos, diretora da Fraunhofer explica que o laboratório também desenvolve um projeto em parceria com o Ministério da Saúde para controle de transplante de ór-gãos. “O Projeto orienta o Ministério como resolver a fila de transplan-te e reorganizar os procedimentos”. O Instituto agora está fazendo um

modulo novo que avalia órgãos que podem ser armazenados para depois serem transplantados. Além de apor-te do Governo Federal, os projetos são financiados pela União Europeia, UFBA e Senai.

lSi-tec nordesteO laboratório de Sistemas Inte-

gráveis Tecnológico tem filiais em Campina, Salvador e São Paulo. Foi criado por alguns professores da USP, e tem desenvolvido processa-

matéria Especial

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O LSI-TEC que fica no Parque Tecnológica de Salvador. Abaixo André Abreu, gerente de pesquisa do instituto

Laboratório desenvolve projetos de mobilidade para pessoas que andam de cadeira de rodas e chips para ‘rodar’ programas

dores avançados. O laboratório é uma boa inicia-tiva dentro desse contexto. Com o Centro de pro-jetos dentro da UFBA, o labo-ratório tem uma associação muito próxima com o Senai/Cimatec. Os projetos es-tão voltados para a engenharia de software, desde a concepção até a implantação.

Uma das ativi-dades é o desen-volvimento de microchip, igual ao da Intel, que permite que a maioria dos computadores possam rodar. “Fazemos o projetos e man-damos para uma fábrica produzi-lo. A LSI não faz comercialização do produto, apenas projeto de pesquisa e desenvolvimento”, conta o professor André Abreu, gerente da área pes-quisa em desenvolvimento da LSI

TEC. O labo-ratório também tem projetos na

área de mídia, TV, grupos de pesqui-sas, realidade virtual, mobilidade e acessibilidade com cadeira de rodas, além de segurança.

A empresa tem aporte do Gover-no Federal e desenvolve um projeto junto com BNDES, e o Governo da Bahia (Projeto Mercúrio) para inter-

net de banda larga para zo-nas rurais. A ideia é utilizar a faixa de TV, para transmitir sinais de internet. Há ainda um projeto que já está em funcionamento onde um si-nalizador acusa onde ocorreu

falha em linhas de transmissão de energia elétrica, diminuindo o tempo de busca das equipes de reparo.

O laboratório desenvolve ainda projetos para empresas que fabri-cam celulares fazendo correções de bugs e adaptações para o Brasil. Faz desenvolvimento de soluções para plataformas de telecomunicações e teste radiofrequência com aparelhos de, plataforma Android, entre outros.

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 115

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No Ceará, a Empresa e Tecnologia de Informação (Etice) ocupou em boa parte a batuta do fomento à tec-nologia. “Essa empresa nos últimos oito anos se encar-regou dos projetos de tec-nologia ligados ao Governo do Estado”, frisou Fernando Carvalho, que foi presidente do órgão durante oito anos. O principal projeto tocado pela Etice é o cinturão di-gital. Uma rede de fibra óti-ca de 3 mil quilômetros que envolve as 100 maiores cida-des do estado. O projeto foi concluído em 2011 e hoje, segundo as ultimas estatís-ticas do governo, existem 2 milhões de pessoas conectadas à essa rede. O projeto também conectou todos os equipamentos do governo, entre eles escolas, hospitais e delega-cias de 100 cidades. O investimento até momento foi de R$ 78 milhões, dividido entre estado, Banco Mun-dial e Governo Federal através de um convênio com o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação. Todas as fibras óticas que chegam na América Latina aportam primeiro em Fortaleza, por uma questão geo-gráfica. “Mas até hoje nós não nos beneficiamos com esse fato. Porque era só um ponto de pouso, agora o governo fechou alguns convênios para lançar novos cabos e ter um considerável conteúdo gerado aqui”, informa Carvalho, garantindo a ins-talção de um data center na Capital.

instituto atlânticoO Instituto Atlântico é uma ins-

tituição sem fins lucrativos, cons-tituído pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomuni-cações (CPqD), fundação sediada

ceará, novo polo tecnológico

em Campinas, decorrente da Te-lebras Holding, o maior centro de desenvolvimento da América Lati-na, na época, com faturamento aci-ma de R$ 300 milhões. Quando foi privatizada a Telebras adquiriu o formato de fundação e em 2001 o CPqD criou o Instituto Atlântico. O objetivo ao criar o Instituto no Nordeste era se beneficiar da Lei de Informática. Hoje o Atlântico, tem uma unidade em São Paulo com 100 pessoas onde é feito o serviço de au-ditoria em qualidade em software e os desenvolvedores no Ceará.

O faturamento do Instituto está na ordem R$ 40 milhões, em grande parte por desenvolver projetos para a indústria de eletroeletrônica. “O nosso negócio é o que a gente cha-ma de outsoft, pesquisa de desen-volvimento e inovação. As empresas

Francisco moreto, presidente do Instituto Atlântico. Projetos desenvolvidos para HP, Sony e LG

nos contratam para desenvolver uma parte ou o todo de projeto voltado para novos produtos e inovação”, conta Francisco Moreto, presidente do Atlântico. O Instituto tem pro-jetos desenvolvidos para empresas nacionais e multinacionais, como HP, Sonny, LG. Fora da Lei de In-formática o Atlântico mantêm uma

matéria Especial

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parceria com a Universidade de São Carlos e uma empresa do Rio Gran-de do Sul para desenvolver um Raio X odontológico digital. Outro pro-jeto, agora em parceria com uma empresa de Santa Catarina, é para o desenvolvimento de uma central de telecomunicação de pequeno porte. O Instituto tem cerca 200 pessoas

Pirambu digital, forte atuação na filosofia de social business e formação de mão de obra qualificada

Francisco Carvalho, ex-diretor do ETICE. Cinturão digital foi o principal projeto tocado pelo estado

trabalhando. Nos quase 14 anos já desenvolveu mais de 250 projetos.

pirambu digitalO Pirambu Digital é uma coope-

rativa que atua na filosofia de social business. Formalizando e formando pessoas e apoiando na inserção no mercado de trabalho. “É uma empresa de qualificação e alocação de mão de obra. Formalmente existimos há nove anos”, conta Fabrício Mendes, presi-dente da Pirambu. “Todos os nossos projetos hoje são visando a qualifica-ção para que o cooperado possa se in-serir no mercado de trabalho. Damos curso de montagem do computador, web designer. O jovem paga o curso participando de algum projeto social. ”, conta Mendes, explicando que um dos alunos identificou que algumas

pessoas do bairro ainda não sabiam ler e resolveu dar uma alfabetização básica para os idosos. Entre os projetos de sucesso do Pirambu, consta a Bila, realizado entre 2007 e 2008. Era uma biblioteca integrada a Lan House. Para a pessoa acessar a internet tinha que ler um livro durante uma hora.

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

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Na Paraíba a força tecnológica tem sido fomentada pela Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado (Fapesq). O investimento em tecnologia pode ser percebido nos projetos desen-volvidos e nas empresas encubadas pelo Parque Tecnológico de Cam-pina Grande e pelos laboratórios de Aplicações de Vídeo Digital (Lavid), de Sistemas Distribuídos (LSD) e de Sistemas Embarcados e Computação Pervasiva (Embedded Lab), apenas-para citar alguns nome

“A maioria das TVs digitais têm um software genuinamente parai-bano produzido pelo laboratório ví-deos digitais da UFPB (o Lavid)”, revela Claudio Furtado, presidente da Fapesq. A Fapesq é o braço do governo que financia pesquisa aca-dêmica, tecnológica e de inovação no estado. O governo também tem feito investimento em infraestrutura, como a pavimentação digital do esta-do, que terá 3 mil quilômetros de fibra ótica para 55 cidades. “Hoje já temos mais de 200 quilômetros de fibra e a ideia agora é estender para o resto

paraíba em produção intensao Brasil. “Estamos presentes de Be-lém do Pará ao Rio Grande do Sul”, afirma o presidente do Comitê Ges-tor do Orgão, Percival Henriques. O foco central da ANID é ajudar no desenvolvimento tecnologias para a promoção da inclusão digital. Entre os programas desenvolvidos pela ins-tituição está um que investe na inter-net gratuita em locais de uso coletivo. Há o programa que leva o projeto de fibra óptica aos domicílios e ajuda na geração e distribuição de conteúdo regional audiovisual para Internet. A Anid ainda busca ampliar o acesso a economia digital e apoia às rádios e TVs comunitárias. Graças aos proje-tos desenvolvidos pela entidade cerca de 800 cidades e 400 mil usuários, principalmente nas periferias e cida-des pequenas, têm acesso a internet.

parque tecnológico de campina Grande

A Fundação está entre os mais anti-gos parques tecnológicos e incubado-res de empresas em funcionamento no país. Criado em 1984, quando

Percival Henriques, presidente do comitê gestor da ANId

Cláudio Furtado presidente da Fapesq.

Investimento de R$ 100 milhões até 2017

na Paraíba

do estado”, pontua. A soma total de investimentos do estado em fomen-to ao desenvolvimento de tecnologia fica em torno de R$ 100 milhões, desembolsados até 2017.

anid - associação nacional para inclusão digital

A Anid é uma entidade que nas-ceu na Paraíba, mas já ganhou todo

matéria Especial

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rão 60 milhões de brasileiros”, conta. Segundo Guido Lemos, o Lavid dis-puta em pé de igualdade com projetos desenvolvidos por japoneses e ameri-canos em tecnologia de vídeo digital.

lSd - laboratório de Sistemas distribuídos

Sediado na Universidade Federal de Campina Grande, o LSD tem projetos que visam contribuir com o desenvolvimento do software Opens-tack, que serve para gerenciar os re-cursos computacionais de provedores de serviço que atuam no modelo de computação na nuvem. Através da atuação do LSD nesses projetos, a UFCG se tornou a Universidade que mais contribui, no mundo, com o de-senvolvimento desse tipo de software. O Laboratório é coordenador pelo professor Francisco Brasileiro.

embedded labO Laboratório de Sistemas Em-

barcados e Computação Pervasiva (Embedded) tem como principais projetos tecnologias desenvolvidas para smartphones, tablets, smartwat-ches (relógios inteligentes), smar-tbands (pulseiras inteligentes) e smartglasses (óculos inteligentes). As aplicações são diversas, desde entre-tenimento até cuidados com a saúde. O laboratório é atualmente o maior em número de projetos de inovação tecnológica com empresas na UFCG.

Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque es-tava na presidência do CNPq. Cavalcanti foi o responsável pelo lançamento de uma das primeiras políticas públicas em apoio aos parques tecnológicos e às incubadoras de em-presas. Na época cinco cidades brasileiras fo-ram selecionadas para a experiência piloto, dentre elas Campina Grande.

“No PaqTcPB, o em-preendedor tem o seu negócio arquitetado nas cercanias de laboratórios de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), inte-ragindo com pesquisadores vincula-dos a universidades e usufruindo de apoio institucional, tais como acesso a fontes privilegiadas de fomento, assessoria em gestão, acesso a consul-torias especializadas e apoio técnico”, informou a diretora da Fundação, Francilene Procópio Garcia.

Entre os projetos desenvolvidos es-tão a elaboração de planos de sanea-mento para cidades, projeto eficiên-cia energética para uso sustentável de recursos florestais em indústrias, suporte técnico ao monitoramento ambiental de áreas destinadas à ati-vidade de mineração, pesquisa para desenvolvimento de projetos de In-ternet móvel. A receita com projetos obtida pelo Parque Tecnológico, de 2003 a 2014, chegou a quase R$ 50

milhões. A pre-visão para 2015 está em mais de um milhão.

lavid“Estamos tra-

balhando com tecnologia para suporte e ar-mazenamento, transmissão de vídeos de altís-sima resolução, que se aplica para cinema di-gital. Captura de cirurgias com padrão de cine-

ma”, explica Guido Lemos, coorde-nador do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital. No momento o la-boratório está desenvolvendo projeto para salas de cinema de baixo custo. O financiamento é pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). O outro projeto forte do Lavid diz respeito a acessibilidade. O projeto se chama VLibras para web, televisão e cinema. O financiamento é do Ministério da Cultural, RNP, e do Ministério do Planejamento. “Já temos cadastrados 4 mil sinais”, revela Lemos. Atual-mente o laboratório trabalha com 60 bolsistas e a intenção é chegar a 10 mil sinais. O coordenador informou ainda que o projeto prevê a elabora-ção de padrão para televisão digital em transmissão de libras. “O governo vai comprar 14 milhões de receptores para as famílias do Bolsa Família. Se-

Embedded desenvolve pulseiras inteligentes que sicronizam ao celular

O projeto vLibras desenvolvido pelo

Lavid e Guido Lemos, coordenador do

laboratório da UFPB

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação Revista NORDESTEAgosto/2015 119

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No Rio Grande do Norte, a Fun-dação de Apoio à Pesquisa do Estado (Fapern), coligada à Secretaria de Es-tado do Desenvolvimento Econômi-co (Sedec), tem ajudado a fomentar a pesquisa científica, tecnológica e de inovação no Estado através de convê-nios e acordos de cooperação assina-dos com os organismos federais. Nos últimos anos, segundo o diretor de inovação da Fapern, Ivanílson Maia o órgão conseguiu captar recursos da ordem de R$ 91,3 milhões. Desse total 27,1% corresponderam a recur-sos estaduais. Os projetos têm como objetivo o desenvolvimento científico e tecnológico em áreas como o agro-negócio, a mineração, a carcinicultura e a inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas do estado, mas também nas áreas de saúde, social e de ciências exatas. A partir desses investimentos do Estado o Rio Gran-de do Norte mantém alguns pontos estratégicos do desenvolvimento em tecnologia, entre eles o Instituto Me-

rio Grande do norte, investimento em jovens cientistas

O Imd (acima), o diretor Ivonildo Rego, e os aluno do Instituto em

aula. Foco em novos talentos

trópole Digital, o Laboratório LAUT e o NatalNet.

Metrópole digitalO Metrópole Digital é um insti-

tuto da UFRN na área de tecnologia da informação criado formalmente em 2011. O papel principal do Me-trópole é contribuir para o estado no fomentar a criação de um Polo Tecnológico na área de tecnologia da informação. “O IMD tem forte atua-ção no desenvolvimento de jovens talentos”, conta o professor Ivonildo Rego, diretor do Instituto. Além de cursos técnicos, o Instituto também oferece graduação, um bacharelado em Tecnologia da Informação. No curso técnico, dois mil jovens já con-seguiram titulações intermediárias. “Temos uma residência na área de

matéria Especial

Revista NORDESTE Agosto/2015120

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engenharia de software, onde o alu-no desenvolve o projeto dentro da empresa”, ressalta. Além do ensino, o IMD tem 21 empresas incubadas. “Já graduamos a primeira empresa. Ela tem negócio em 16 estados e es-critório em Brasília e São Paulo. São mais 20 empresas nas mais diferentes áreas, mídias digitais, advocacia, edu-cação”. Outros projetos importantes do IMD é a implementação de uma rede de banda larga que vai conectar as 650 escolas púbicas nos 10 muni-cípios da grande Natal, onde reside mais de 40% da população do estado. O investimento é de R$ 20 milhões em parceria com o Ministério da Educação e Secretaria da Educação.

laboratório natalnet-dcaO Natalnet é um laboratório mul-

tidisciplinar que existe desde 2003. Inicialmente começou com rede de computadores, mas hoje trabalha com realidade virtual e robótica, vol-

tado para uma visão computacional e robótica educacional. “Ensinamos crianças a programar e montar ro-bôs”, informa Aquiles Medeiros Bur-lamaqui, um dos coordenadores do Natalnet. O Natalnet está desenvol-vendo um projeto direcionado para escolas públicas que visa a inclusão digital para ensinar os alunos a cons-truírem um robô de baixo custo. O laboratório ainda tem projetos para construção de um drone que seria utilizado para fazer mapeamento de áreas, entre outros projetos.

Natalnet desenvolve projeto para crianças construirem um robô de baixo custo

diretor de inovação da Fapern, Ivanílson maia

laut – laboratório de automação em petróleo

O Laut desenvolve tecnologia na área de automação em petróleo. O laboratório tem um software de-senvolvido desde 2007, usado pela Petrobras para supervisão de postos terrestres, instalado em cerca de 7 mil postos em seis estados do país (RN, CE, AL, ES e BA). Também foram desenvolvidos pelo laboratório proje-tos de automação inteligente aplicada a plataforma do pré-sal. “O objetivo é aumentar a eficiência do processo, reduzir o número de paradas e dimi-nuir o estresses dos equipamentos”, garante André Maitelli, coordenador do laboratório. Além disso, o Laut

também já desenvolveu dois sistemas mecânicos, entre eles uma unidade de bombeio inteligente e outra de bom-beio mecânico de petróleo. “Desen-volvemos e patenteamos a unidade inteligente, que faz o balanceamento e ajuste de curso automático de uma unidade de bombeio”, frisa o coorde-nador. O laboratório foi formalizado em 2008 e desde o início já foram executados cerca de 30 projetos, entre projetos mecânicos e sistemas basea-dos em Software.

AS vOCAÇõES E dESAFIOS dO NORdESTE

Fotos: Divulgação

Natalnet, equipe faz projetos para otimizar a produção de petróleo

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Mais Informações: www.pqtc.org.br - [email protected] - (83) 2101-9020/ 2101-9042

28 a 31OUTUBRO

PARTICIPE

CENTRAL DE AULAS

Local

UEPB

2 0 1 5

1 3 a F E T E C hI N O V A Ç Ã O C O L A B O R A T I V A E S U S T E N T Á V E L

F E I R A D E T E C N O L O G I A D E C A M P I N A G R A N D E

I CONGRESSO DE INOVAÇÃO, CIÊNCIAS AMBIENTAIS E SUSTENTABILIDADE

Criada em 1984, entre os quatro primeiros parques tecnológicos do país, a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba tem sido uma espécie de pilar, para dar suporte a projetos e programas do setor de ciência, tecnologia, inovação e economia criativa. A instituição, há 30 anos em operação, atua com sua incubadora de empresas fazendo a ponte entre o mercado e os produtos, projetos, serviços e inovações desenvolvidas, quer seja disponibilizando ferramen-tas de apoio a projetos, produtos e/ou serviços inovadores, quer seja por meio de editais com recursos de subvenção, ou por meio de capaci-tações.

Grande parte de seu prestígio é fruto dos resultados alcançados na sua atuação e das parcerias firmadas com parceiros estratégicos como o Centro de Tecnologia e Inovação Telmo Araújo – CITTA, as Universi-dades Federal de Campina Grande e Estadual da Paraíba, Sebrae, Fiep, Governos Federal, Estadual e Muni-cipal, além de muitos outros, que vem contribuindo para amplificar a

inovação tecnológica e, com isso, promover o empreendedo-rismo inovador.

Campina Grande sedia uma das primeiras e mais experi-entes incubadoras de empre-sas do Brasil: a Incubadora Tecnológica de Campina Grande – ITCG. Criada em 1986, a ITCG já graduou cerca de 99 empresas e, atual-mente, conta com 19 empreendimentos incuba-dos.

Além de oferecer um espaço propício para a troca de experiências e realização de networking com empresas do mesmo perfil, oferece ainda alguns benefícios com foco em seu aprimoramento e desen-volvimento

As ideias, projetos ou empre-sas apoiadas pela ITCG podem contar com alguns benefícios: - Desenvolvimento e Aprimo-ramento do Perfil Empreende-dor;- Assessoria para Desenvolvi-mento da Estratégia e do Plano de Negócio;- Realização e apoio para participação em Feiras, Roda-das de Negócios e Workshops;- Suporte para elaboração de Projetos de Fomento;- Treinamento/aperfeiçoamen-to dos empreendedores;- Informações sobre oportuni-dades de negócios e investi-mento.

ITCG

QUAIS OS BENEFÍCIOS QUE

SUA EMPRESA PODE TER?

EDITAISABERTOS www.paqtc.org.br

Inscrições até 25/08

30 anos de experiência a serviço do empreendedorismo inovador no Estado da Paraíba

FUNDAÇÃO PARQUE TECNOLÓGICO DA PARAÍBA

Incubadora Tecnológicade Empreendimentos Criativos e Inovadores

A Feira de Tecnologia de Campina Grande - FETECh - nasceu em 1988 e se consolidou, nacionalmente, como uma exposição anual de ciência e tecnologia expondo produtos, invenções e pesquisas desenvolvidas em Campina

Grande e em outras partes do país. Ao longo da realização de suas doze versões, a FETECh tem se consolidado como um evento

TIC´sSaúdeTecnologias LimpasCiências AmbientaisSustentabilidadeTecnologia SocialAgronegócioEconomia Criativa

Áreas temáticas

que projetou a cidade como um polo de C&T promissor e buscou contribuir para uma sociedade mais justa e participativa. A FETECh representa o fortalecimento e consolidação das

características mais fortes de Campina Grande: o pioneiris-

mo e a inovação.

!

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Mais Informações: www.pqtc.org.br - [email protected] - (83) 2101-9020/ 2101-9042

28 a 31OUTUBRO

PARTICIPE

CENTRAL DE AULAS

Local

UEPB

2 0 1 5

1 3 a F E T E C hI N O V A Ç Ã O C O L A B O R A T I V A E S U S T E N T Á V E L

F E I R A D E T E C N O L O G I A D E C A M P I N A G R A N D E

I CONGRESSO DE INOVAÇÃO, CIÊNCIAS AMBIENTAIS E SUSTENTABILIDADE

Criada em 1984, entre os quatro primeiros parques tecnológicos do país, a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba tem sido uma espécie de pilar, para dar suporte a projetos e programas do setor de ciência, tecnologia, inovação e economia criativa. A instituição, há 30 anos em operação, atua com sua incubadora de empresas fazendo a ponte entre o mercado e os produtos, projetos, serviços e inovações desenvolvidas, quer seja disponibilizando ferramen-tas de apoio a projetos, produtos e/ou serviços inovadores, quer seja por meio de editais com recursos de subvenção, ou por meio de capaci-tações.

Grande parte de seu prestígio é fruto dos resultados alcançados na sua atuação e das parcerias firmadas com parceiros estratégicos como o Centro de Tecnologia e Inovação Telmo Araújo – CITTA, as Universi-dades Federal de Campina Grande e Estadual da Paraíba, Sebrae, Fiep, Governos Federal, Estadual e Muni-cipal, além de muitos outros, que vem contribuindo para amplificar a

inovação tecnológica e, com isso, promover o empreendedo-rismo inovador.

Campina Grande sedia uma das primeiras e mais experi-entes incubadoras de empre-sas do Brasil: a Incubadora Tecnológica de Campina Grande – ITCG. Criada em 1986, a ITCG já graduou cerca de 99 empresas e, atual-mente, conta com 19 empreendimentos incuba-dos.

Além de oferecer um espaço propício para a troca de experiências e realização de networking com empresas do mesmo perfil, oferece ainda alguns benefícios com foco em seu aprimoramento e desen-volvimento

As ideias, projetos ou empre-sas apoiadas pela ITCG podem contar com alguns benefícios: - Desenvolvimento e Aprimo-ramento do Perfil Empreende-dor;- Assessoria para Desenvolvi-mento da Estratégia e do Plano de Negócio;- Realização e apoio para participação em Feiras, Roda-das de Negócios e Workshops;- Suporte para elaboração de Projetos de Fomento;- Treinamento/aperfeiçoamen-to dos empreendedores;- Informações sobre oportuni-dades de negócios e investi-mento.

ITCG

QUAIS OS BENEFÍCIOS QUE

SUA EMPRESA PODE TER?

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Inscrições até 25/08

30 anos de experiência a serviço do empreendedorismo inovador no Estado da Paraíba

FUNDAÇÃO PARQUE TECNOLÓGICO DA PARAÍBA

Incubadora Tecnológicade Empreendimentos Criativos e Inovadores

A Feira de Tecnologia de Campina Grande - FETECh - nasceu em 1988 e se consolidou, nacionalmente, como uma exposição anual de ciência e tecnologia expondo produtos, invenções e pesquisas desenvolvidas em Campina

Grande e em outras partes do país. Ao longo da realização de suas doze versões, a FETECh tem se consolidado como um evento

TIC´sSaúdeTecnologias LimpasCiências AmbientaisSustentabilidadeTecnologia SocialAgronegócioEconomia Criativa

Áreas temáticas

que projetou a cidade como um polo de C&T promissor e buscou contribuir para uma sociedade mais justa e participativa. A FETECh representa o fortalecimento e consolidação das

características mais fortes de Campina Grande: o pioneiris-

mo e a inovação.

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hico Salles é o paraiba-no mais carioca do país. O cantor e compositor, famoso no Rio de Ja-neiro por xotes, baiões e por composições em

sambas da Unidos da Tijuca está lan-çando o CD, “Rosil do Brasil”. O disco chega às lojas pelo selo Zeca Pagodiscos e vem ressaltar e registrar a obra musical do compositor per-nambucano Rosil Cavalcanti, grava-da originalmente nas décadas de 40, 50 e 60 pelos nordestinos Jackson do Pandeiro, Marinês, Genival Lacerda, Luiz Gonzaga e outros, que, até hoje,

Cantor e compositor paraibano, radicado no rio de Janeiro, lança novo Cd com músicas gravadas por Jackson do pandeiro, Luiz gonzaga e marinês

Cultura

Chico Salles canta RoSil do BRaSil

C

Capa do novo Cd lançando pelo selo zeca pagodiscos, “rosil

do brasil”

é composta de verdadeiros sucessos nacionais.

Chico nasceu em Chabocão, em 1951, naquela época município de Sousa, no sertão da Paraíba. Cantor e compositor de Forró e cordelista. Transferiu-se, aos 18 anos, para o Rio de Janeiro no início dos anos 70, levando na bagagem influências mu-sicais de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Suas primeiras composi-ções nasceram inspiradas nos xotes, xaxados e baiões que alegravam as noites do sertão paraibano e eram ou-vidos nos bailes e forrós da região. Em seguida foi misturando no mesmo

caldeirão as raízes e as lições de mes-tres como Paulinho da Viola, Chico Buarque e Martinho da Vila - sua tri-lha musical dos tempos de universitá-rio. Nos anos 80, já engenheiro civil, conheceu o trapalhão Mussum, que o levou aos mais tradicionais redutos do samba, como o “Buraco Quente da Mangueira” e o “Pagode do Cacique de Ramos”, frequentados por sam-bistas do quilate de Beth Carvalho e Jorge Aragão, entre outros. A ami-zade com Mussum, seu vizinho em Jacarepaguá, rendeu boas parcerias musicais. Além de fundarem o Bloco “Elas e Elas” em 1985, eles fizeram juntos muitos sambas, músicas de carnaval e até um xote.

Na entrevista que segue, o cantor Chico Salles fala à NORDESTE sobre o novo disco e as perspectivas de futuro. Aproveitem!

Fotos: DivulgaçãoRevista NORDESTE Agosto/2015124

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Revista NORdESTE: O ano de 2015, lhe expôs com um CD com elogios da crítica dedicado à obra de Ro-sil Cavalcanti, principal parceiro de Jackson do Pandeiro, de alguma for-ma esquecido. Onde você quis chegar com o trabalho?Chico Salles: Apenas homenagear e relembrar o Mestre Rosil Cavalcanti.

NORdESTE: Embora interprete grandes sucessos na voz de Jackson do Pandeiro, a impressão é de que sua performance não quis atrair o Rei do Ritmo para perto de si...Salles: Claro, cantei Rosil. O Gran-dioso Jackson é inigualável e inimitá-vel. É a nossa matriz e referência no que se refere a ginga, ritmo, timbre e sotaque. Não me atrevo a imitá-lo.

NORdESTE: Qual a receptividade nos vários cenários do Brasil?Salles: Surpreendente e impressio-nante a quantidade e qualidade das matérias editadas por críticos de todo país sobre este CD. Até o Juarez Fon-seca, do Zero Hora, de Porto Alegre, fez excelente matéria.

NORdESTE: Sua formação e perfor-mance se alinha ao estilo do Forró mais clássico, longe das derivações que o Ceará exportou com outra ba-tida, levada...Que avaliação faz do forró estilizado?Salles: Não o conheço bem. Sei que ocupa importante espaço do nos-so estilo mais tradicional, talvez por nossa culpa também, por não termos imprimidos um melhor controle de qualidade no conjunto do nosso esti-lo. Aí existe também um componente político e cultural que foge da nossa vontade.

NORdESTE: Como foi atrair para o CD figuras como Chico César, Ma-ciel Melo, etc?Salles: Sem dificuldades, pois já os conheço bem, somos amigos e esta-

mos com o mesmo propósito. Junta-mente com Biliu de Campina, Josildo Sá e Silvério Pessoa, penso que for-mamos um excepcional grupo para cantar Rosil.

NORdESTE: Tomando por base sua própria experiência, como é um ar-

Chico SallesCantor e Compositor

tista de estilo como o seu produzir e divulgar um CD diante de um merca-do sempre voltado para o modismo?Salles: É muito complicado. É o osso do ofício. Um tijolo por dia. Com perseverança chegaremos lá. Dá um pouco de trabalho, mais a causa é justa.

NORdESTE: E agora, diante de Rosil sobre seus ombros, quais as próximas etapas e desafios?Salles: Andar bastante ainda com Rosil. Estamos preparando shows em Fortaleza, Brasília, Belo Horizonte, Recife e São Paulo.

NORdESTE: Na fase posterior, o que Chico Sales pretende ainda produzir?Salles: Penso em fazer um Projeto chamado “Samba Nordestino”. Te-nho pensado nisso para 2016.

“jACKSON é A NOSSA mATRIz E

REFERêNCIA NO qUE SE REFERE A GINGA,

RITmO, TImBRE E SOTAqUE. NÃO mE

ATREvO A ImITá-LO”

Revista NORDESTE Agosto/2015126

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Os pequenos negócios fazem parte da história de todos

os brasileiros. Geram empregos, fortalecem a economia local,

impulsionam o desenvolvimento do país. E para valorizar

as micro e pequenas empresas, vem aí o 5 de outubro,

o Movimento Compre do Pequeno Negócio. Um dia para

incentivar, fortalecer e comprar dos pequenos negócios. Acesse

compredopequeno.com.br, faça seu cadastro e saiba mais.

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Iniciativa:

EUFAZER BONSNEGÓCIOS

5 D E O U T U B R O M OV I M E N T O C O M P R E D O P E Q U E N O N E G Ó C I O

E S S E N E G Ó C I O TA M B É M É S E U