ecos maristas - marist brothers · de jesus:“e o que recebe em meu nome a um menino como este, é...

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E COS M aristas Instituto dos Irmãos Maristas Número 47 – Ano 17 - Março 2004 CAMINHOS DE CONVERSÃO A mensagem de João Paulo II sobre a quaresma de 2004 tem como tema as palavras de Jesus: “E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe”.(Mt. 18, 5). Os pais e os educadores são dois exemplos de acolhida. Existem maneiras de não “acolher” as crianças, feridas pela violência dos adultos através do abuso sexual delas, de instigá-las à prostituição, ao tráfico e uso de drogas, de obrigá-las a trabalhar, recrutá-las para o combate, converte-las em vítimas de infame tráfico de órgãos e pessoas, ou de deixá- las morrer. O Papa se formula esta pergunta: “que mal cometeram estas crianças para merecer tanta infelicidade?” A partir de uma perspectiva humana, torna-se impossível responder a esta pergunta inquietante. Somente a fé nos ajuda a penetrar neste profundo abismo de dor. O carisma de Marcelino possui, à luz destas situações, uma radiosa atualidade. Irmãos e leigos maristas, homens e mulheres, não podemos cruzar os braços ante este panorama desolador.A conversão quaresmal é descobrir Jesus na dor de tantas crianças que sofrem, e fazer o que se pode por elas todas. Espírito de sacrifício durante a quaresma Há alguns anos,ao fazer uma visita a um colégio da Austrália meridional, falei da promoção das vocações com um gru- po de estudantes.Disse-lhes:“Ajudai-me a compreender porque tão poucos jo- vens deste país,de meu país e de outros países optam pela vida religiosa hoje”. Um jovem de nome George respon- deu-me imediatamente:“Seán, uma par- te do problema vem de que tua gera- ção não fala mais de sacrifício”.Sua res- posta me impressionou. E George continuou:“Vossa vida é uma vida de sa- crifício.É preciso ser claro sobre isto. Não é uma vida como as outras, porque deverei então eu consagrar- me a esta vida?” Espírito de sacrifício! Alguns já o des- cartam como uma virtude ultrapassa- da. Mas o passar dos anos nos ensina que, ultrapassado ou não, o espírito de sacrifício está no coração de toda vi- da bem vivida. Uma mãe acordada no meio da noite pelo choro de uma crian- ça sabe muito bem que o sacrifício é uma virtude de todos os tempos. O mesmo para o atleta, o dançarino ou o professor. Marcelino Champagnat muito sabia sobre o espírito de sacrifício. Esta vir- tude havia se incorporado no tecido de sua vida e ela o ajudou a estabelecer suas prioridades. Ele tinha um sonho e o transformou numa realidade graças ao espírito de sacrifício e ao árduo trabalho. Na Igreja,a tradição associa o sacrifício ao tempo da quaresma. Antes do Vaticano II,a práti- ca do sacrifício durante a quaresma era uniforme e uni- versal. Durante a quaresma, cabe a ca- da um de nós de- terminar os sacrifí- cios que acompanham este tempo; tenhamos presente este princípio fundamental: o sacrifício está no coração de uma vida bem sucedida. Seja- mos, pois coerentes. Ir. Seán D. Sammon, Superior geral E COS M aristas Irmão Seán, Superior geral Uma acrobacia, fruto de sacrifício e de disciplina

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Page 1: ECOS Maristas - Marist Brothers · de Jesus:“E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe”.(Mt. 18, 5). Os pais e os educadores são dois exemplos de

ECOSMaristas

Instituto dos Irmãos Maristas Número 47 – Ano 17 - Março 2004

CAMINHOS DECONVERSÃO

A mensagem de João Paulo IIsobre a quaresma de 2004tem como tema as palavrasde Jesus: “E o que recebe emmeu nome a um meninocomo este, é a mim querecebe”.(Mt. 18, 5). Os pais eos educadores são doisexemplos de acolhida. Existemmaneiras de não “acolher” ascrianças, feridas pela violênciados adultos através do abusosexual delas, de instigá-las àprostituição, ao tráfico e usode drogas, de obrigá-las atrabalhar, recrutá-las para ocombate, converte-las emvítimas de infame tráfico deórgãos e pessoas, ou de deixá-las morrer. O Papa se formulaesta pergunta: “que malcometeram estas criançaspara merecer tantainfelicidade?” A partir de umaperspectiva humana, torna-seimpossível responder a estapergunta inquietante.Somente a fé nos ajuda apenetrar neste profundoabismo de dor.O carisma de Marcelinopossui, à luz destas situações,uma radiosa atualidade.Irmãos e leigos maristas,homens e mulheres, nãopodemos cruzar os braçosante este panoramadesolador. A conversãoquaresmal é descobrir Jesusna dor de tantas crianças quesofrem, e fazer o que se podepor elas todas.

Espírito de sacrifício durante a quaresma

Há alguns anos,ao fazer uma visita a umcolégio da Austrália meridional, falei dapromoção das vocações com um gru-po de estudantes.Disse-lhes:“Ajudai-mea compreender porque tão poucos jo-vens deste país,de meu país e de outrospaíses optam pela vida religiosa hoje”.Um jovem de nome George respon-deu-me imediatamente:“Seán,uma par-te do problema vem de que tua gera-ção não fala mais de sacrifício”.Sua res-posta me impressionou. E Georgecontinuou:“Vossa vida é uma vida de sa-crifício. É preciso ser claro sobre isto.Não é uma vida como as outras,porque deverei então eu consagrar-me a esta vida?”Espírito de sacrifício! Alguns já o des-cartam como uma virtude ultrapassa-da. Mas o passar dos anos nos ensinaque, ultrapassado ou não, o espíritode sacrifício está no coração de toda vi-da bem vivida. Uma mãe acordada nomeio da noite pelo choro de uma crian-ça sabe muito bem que o sacrifício éuma virtude de todos os tempos. Omesmo para o atleta,o dançarino ou oprofessor.

Marcelino Champagnat muito sabiasobre o espírito de sacrifício. Esta vir-tude havia se incorporado no tecido desua vida e ela o ajudou a estabelecersuas prioridades.Ele tinha um sonho eo transformou numa realidade graçasao espírito de sacrifício e ao árduotrabalho.Na Igreja,a tradição associa o sacrifícioao tempo da quaresma.Antes do Vaticano II,a práti-ca do sacrifício durante aquaresma era uniforme e uni-versal. Durante aquaresma,cabe a ca-da um de nós de-terminar os sacrifí-cios que acompanham estetempo;tenhamos presenteeste princípio fundamental:o sacrifício está no coração deuma vida bem sucedida. Seja-mos, pois coerentes. ◆

Ir. Seán D.Sammon,Superior geral

ECOSMaristas

Irmão Seán, Superior geral

Uma acrobacia, fruto de sacrifício e de

disciplina

Page 2: ECOS Maristas - Marist Brothers · de Jesus:“E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe”.(Mt. 18, 5). Os pais e os educadores são dois exemplos de

qüência, a prostituição, o abandono, as drogas, o álcooleram seu pão de cada dia.Tinha como companheiros fiéisa má nutrição, a falta de higiene, a saúde mais ou me-nos precária e os piolhos que inundavam sua pequenacabeça. Manuel era um menino como qualquer outro dossetenta meninos e meninas que vêm ao Centro Compartire que vivem num ambiente familiar semelhante ao seu;um menino nascido numa sociedade onde os adultos en-chem a boca dizendo que todos somos iguais e temosas mesmas liberdades e os mesmos direitos. Nós adul-tos de que falamos? Como estais vendo, falo de Manuel no passado porquehá dois anos morreu atropelado na rua, seu verdadei-

ro lar... Manuel sempre es-tará em nosso coração. Porele meus companheiros eeu continuamos a traba-lhar para evitar que situa-ções como a de Manuel serepitam.Algo me dizia queestes meninos ser iammeus meninos, nossos me-ninos. Pensei em Marcelino,em sua obra, em Mon-tagne cuja história tantasvezes tinha lido. E não seise perdi a cabeça, mas fizuma opção de vida prati-camente dedicada a eles.Também por situações co-

mo esta e similares, trabalho no Casal de Ca N’Oriol emprojetos destinados a famílias e à infância em situaçãode risco social,e na Car itasna pr imeiraacolhida comoassistente so-cial. Hoje nãopoder ia tra-balhar emnenhum outrolugar já queesta é minhavida. ◆

Faz agora dezanos que unsamigos e eu,vinculados aocolégio maris-ta de Rubí,chegamos ao“El Pinar”,bairro margi-nal de nossacidade . Aliconheci Ma-

nuel, um menino de oito anos, de olhar vago, triste, pou-co acessível, mas que cha-mava a atenção com qual-quer gesto, com qualquerdesculpa. Sempre à catade um beijo, de um abraço,de uma carícia. Pergunteia uns vizinhos sobre suafamília e me inteirei queseus pais estavam separa-dos, que a mãe abandonouseus filhos deixando-os comum pai alcoólico e adicto àsdrogas, sem trabalho...Manuel sobrevivia comopodia; quando não tinhanada para comer se apre-sentava na casa de umavizinha com qualquer desculpa. Desta forma comiam elee sua irmã. Um dia veio ao Centro com os bolsos cheiosde quinquilharias, caramelos e os últimos videogames.Nos deixou todos perplexos já que não entendíamos co-mo Manuel podia ter conseguido tudo isso.Outro dia fui ao bairro no horário escolar para poder fa-lar com seu pai e minha grande surpresa foi encontrarManuel e algum outro menino no meio de uma roda dejovens adultos tentando vender pacotinhos de cocaína.Manuel era mediador ou distribuidor e sempre conseguiacoca para seu pai; então soubemos de onde vinham osjogos e os caramelos.Manuel, aos meus quarenta e três anos, podia dar-melições de como sobreviver num ambiente onde a delin-

2 TESTEMUNHO FMS Ecos Maristas

N O P I N H A L D E R U B Í , E S P A N H A

Voluntariado, uma experiência vividaVoluntariado, uma experiência vividaKary Lumbreras, Associação Compartir, inspirada em Marcelino Champagnat - Rubí, Espanha

Vislumbrar o futuro com esperança

Número 47 – Ano 17 - Março 2004INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS

DIRETOR: Ir. Lluís Serra. TRADUTORES: francês, Ir. Gilles Beauregard; inglês, Irs. Gerard Brereton eJoseph Belanger e Mario Colussi; espanhol, Irs. Miguel Ángel Sancha eJosep Roura; português, Irs. João Fagherazzi e Virgilio Balestro.

FOTOGRAFIA: Ir. Lluís Serra e arquivo

FORMATAÇÃO E FOTOLITOS: TIPOCROM S.R.L. – Via G.G. Arrivabene, 24Roma. Itália.

REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO: Piazzale Marcellino Champagnat, 2,C.P. 10250, 00144 ROMATel. (39) 06 54 51 71 - Fax (39) 06 54 517 217

E-MAIL: [email protected]ÁGINA WEB: www.champagnat.orgEDITA: Instituto dos Irmãos Maristas, Casa Generalícia – Roma. Itália.IMPRIME: C.S.C. GRAFICA, s.r.l. Via G.G. Arrivabene, 40 – Roma. Itália.

Dar alegria às crianças

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ESTAMOS NO ANO DO IRMÃO

FRANCISCO. QUEM FOI O IRMÃO

FRANCISCO?Gabriel Rivat (Irmão Francisco)nasceu em 1808. Aos dez anosele será o sexto Irmão daCongregação. Aos dezoito anosMarcelino o chama aoL’Hermitage para ser o diretorda casa. Logo se tornou seusecretário, seu conselheiro, seusubstituto. De 1839 a 1860 eledirige uma congregação empleno desenvolvimento. Depoisvoltou a assumir a direção dacasa do L’Hermitage. Ele morreem 1881.

QUE ASPETOS DE SUA

PERSONALIDADE SÃO MAIS

CARACTERÍSTICOS?Primeiro, o amor que tinhapelos Irmãos; suas cartas otestemunham e com ele aCongregação passa de 280Irmãos para 2086. Depois avontade de ser o retrato vivo doFundador. Francisco traduz ocarisma de Marcelino emestruturas sólidas: Regras,Constituições. Aberto à cultura,ele deixa milhares de páginasonde encontramos Marcelino eas origens. Profícuo enfermeiro,

ao mesmo tempo médico e mãe;ele cultiva plantas medicinais eprotege os pássaros.

SUA ESPIRITUALIDADE TEM ALGO A

DIZER AOS IRMÃOS E AOS LEIGOS

MARISTAS: HOMENS E MULHERES?No estilo do tempo descobre-sesua paixão por Cristo, suagrande confiança em Maria, seuamor fraternal. Atencioso comos pobres, ele os visita, lhesoferece medicamentos econselhos. Místico ele revela aalegria de reencontrar Deus.Lança o culto ao Fundador efaz do l’Hermitage o santuáriomarista.

CRÊS QUE HÁ MUITA IGNORÂNCIA

SOBRE SUA VIDA E O PENSAMENTO DO

IRMÃO FRANCISCO?Sim, e preconceitos. Verdadeque aspectos de seu estilo devida envelheceram, mas não suaternura nem a vitalidadecolocada a serviço daCongregação. Aos 52 anos eleestava esgotado comoMarcelino que morre aos 51anos.

FMS Ecos Maristas ENTREVISTA 3

Irmão Francisco: retrato vivo do FundadorEntrevista ao Ir. Giovanni Bigotto pelo Ir. Lluís Serra

EM QUE FASE ESTÁ A CAUSA DO

IRMÃO FRANCISCO?O título de venerável reconheceque ele está no caminho para oSenhor, homem de amor, deserviço, de humildade, modelopara todo cristão. É muito. Aguardamos um milagre para asua beatificação.

PAGA A PENA FAZER TANTOS

ESFORÇOS PARA OBTER A

CANONIZAÇÃO?Fazemos muitos esforços? Acanonização seria uma grandegraça para nossa familia: umIrmão Marista canonizado,seria o primeiro!

TEM SENTIDO FAZER UMA NOVENA

AO IRMÃO FRANCISCO?Uma novena requer uma féadulta, um coraçãoprofundamente humano queama a pessoa pela qualrezamos e que é familiar aosanto invocado.

QUAIS OS OBJETIVOS DESTE ANO DO

IRMÃO FRANCISCO?Redescobrir Francisco e o viçode nossa identidade de Irmãos.Invocá-lo em favor dasvocações maristas.Sendo do agrado de Deus omilagre da beatificação... para 2008?

O Irmão Giovanni Bigotto, 65 anos, nasceu em San Giorgio di Nogaro, Udine, Itália. Trabalhou 33 anos em Madagáscar e 7 em Nairóbi, Quênia. Atualmente é o Postulador geral em

Roma, responsável pelas causas de santos do Instituto Marista.

Os Irmãos Giovanni e Diógenes com

irmãos malgaxes em Nairóbi

Irmão Francisco (Gabriel Rivat)

Irmão Giovanni

Bigotto,

postulador

geral

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NO CAMINHO COM DEUS

Marta diz a Jesus: - “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.”Começo desta forma este simples artigo, numa semana em que o povo português e os adeptos do futebol em ge-ral foram confrontados com um acontecimento inesperado.Alguém, que na flor da idade, morre sem aviso. Em di-reto na Tv.Confrontados com este brutal acontecimento, muitos começaram a procurar razões para possíveis explicações.No íntimo de muitos, a pergunta que Marta colocou a Jesus há dois mil anos atrás foi bem colocada. Mas o silên-cio tornou-se a única razão compreensível e ajustada perante o mistério desta morte.Escolhi este início de artigo pois entendo que quando confrontados com a questão da procura de Deus, antes de tu-do temos consciência que procuramos um mistério. Mistério esse que, por vezes, sentimos tão próximo, mas outrastão distante, é a única palavra que encontramos para explicar o que realmente sentimos.Contudo, neste complicado e árduo caminho é a fé que nos aponta alguma luz, luz essa que permite percorrer o ca-minho da procura.Entendo que Deus está presente na minha vida, nas coisas simples que acontecem no dia-a-dia, não só nos grandesacontecimentos. Procuro sempre agradecer, os amigos, as alegrias, o trabalho e a possibilidade de o ter, a minha famí-lia, entre tantas outras coisas inesperadas que acontecem.Mentiria se não dissesse que às vezes também peço, porqueentendo que pedir é algo que alimenta a relação entre amigos. E com Deus é assim que sinto essa relação.Nela, também existem momentos onde por vezes há em mim a certeza de que não estamos próximos. Quando porvezes a vida me surpreende negativamente, a pergunta de Marta aparece como se Deus por algum momento seesquecesse que eu existo.Pergunto-me muitas vezes se não sou eu que o esqueço ou nós, que por vezes o esquecemos.Sim, porque a minha fé diz-me que quem sempre me procura é Ele. Pena é que nem sempre consigo ter esta cer-teza. Mas, não será também isso que me torna humano?

Eurico SantosProfessor no Externato Marista de Lisboa

Província Compostela

Maria e José regressam da festa de Jerusalém. Jesus, que tem 12 anos,não está na caravana. O procuram e não o encontram.

Voltam à cidade. Percorrem ruas e lugares conhecidos. Sua angústiatermina no terceiro dia quando o encontram entre os doutores no

Templo. Seus pais não entendem a resposta: “Não sabíeis que devoocupar-me das coisas de meu Pai?”, mas a guardam em seu coração.

Tampouco para nós, irmãos e leigos maristas, é fácil. Há momentos em que parece que Jesus desaparece, mas podemos

buscá-lo como o fez Maria.

“POR QUE FIZESTE B U S C A R A J E S U S

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UMA VITALIDADE REENCONTRADA

Parto de uma história que provavelmente conheceis. Um mosteiro passava por um momento difícil. Apenas cin-co monges restavam e todos com mais de 70 anos. Nas proximidades um rabino tinha melhorado um peque-no ermitério. Um dia, o padre Abbé que chorava a morte próxima de sua congregação teve a idéia de visitar orabino para solicitar-lhe algum conselho para salvar o mosteiro. O rabino apenas pode partilhar a previsível sor-te do mosteiro e lhe disse:“O mesmo ocorre na minha cidade. Quase ninguém mais vem à sinagoga”.Tendo com-partido juntos, leram algumas passagens do Torah. Antes de deixar o ermitério, o padre Abbé perguntou ao ra-bino: “Não podeis me dar algum conselho para me ajudar a salvar minha congregação?” Respondeu o rabino:“Não, estou deveras desolado, não tenho conselho a te oferecer. Posso somente dizer que o Messias é um devocês”.Retornando ao mosteiro, os monges cercaram o padre Abbé e lhe pediram:“Então, que vos disse o rabino?”“Elefoi incapaz de me ajudar. Disse-me somente uma coisa muito estranha: O Messias será um de nós. Não sei oque isto quer dizer”.Nas semanas subseqüentes os monges ruminaram as palavras do rabino. E refletindo, manifestavam uma gran-de cordialidade em seus mútuos relacionamentos, tendo em vista que um dentre eles seria o Messias. Cada umcomeçou a tratar o outro com um profundo respeito. Sem saber, os monges transformaram o espírito do lugar.O fenômeno tinha algo de sedutor.As pessoas visitavam com maior freqüência o mosteiro. Depois aconteceu quealguns jovens, visitando o convento, contatavam com os monges. Um deles perguntou se poderia unir-se a eles.Depois um outro.Graças ao presente do rabino, o mosteiro tornou a ser um lugar vibrante de espiritualidade e de luz.Os monges tinham reencontrado uma vitalidade até então inesperada.POR QUÊ? COMO? No segredo de seu coração, cada um se interrogue.

Réal Cloutier fmsProvincial

Província do Canadá

DIÁLOGO EM GRUPO

1.- Vivi, como Maria, algum momento da vidaque tenha sido espiritualmente obscuro? Como

o superei?

2.- Que significado e conseqüências tem paranossa vida a história que nos conta o Irmão

Réal?

E ISTO CONOSCO?”U S C O M O M A R I A

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A espiritualidade e a missão de sãoMarcelino são fonte de inspiraçãopara muitos cristãos, homens emulheres. O Movimento Champa-gnat da Família Marista ofereceorientações básicas e um projetode vida para que as pessoas inte-ressadas possam partilhar sua féem pequenos grupos, chamadosfraternidades.De maneira lenta masconstante, foram-se criando fra-ternidades em vários países doscinco continentes.A espiritualidade pessoal e o com-promisso social encontram o refe-rencial adequado na fraternidademarista. Favorece-se assim a cola-boração com outras pessoas quepartilham semelhantes objetivos.Marcelino Champagnat é um refe-rencial e um estímulo para viver afé num contexto secular e multi-cultural. Os valores da pessoa, co-mo o amor, a fé, a solidariedade…,são tão importantes que surgemno seio de toda cultura. Por este

6 FRATERNIDADES MARISTAS FMS Ecos Maristas

Fraternidades, um estilo atual de vida cristã

dades, numa palavra, de os acom-panhar no seu crescimento. O quenos pareceu muito positivo, foi queatravés de nossos diálogos seguidosde oração, nós cultivamos nossaconfiança em Maria, nós descobri-mos melhor nosso santo fundador,nós vivemos mais próximos deCristo.Todos integrantes do grupo inte-ressaram-se por um profundo esincero desejo de nos aproximar omais possível de nossos alunos, so-bretudo os mais carentes.De os es-cutar, de partilhar suas preocupa-ções, no e fora do colégio.De os fa-zer compreender que “Deus osama e que os ama a todos igual-mente”. O momento mais forte denossos encontros foi, sem dúvida, omomento da oração partilhada.Ca-da integrante voltou mais motivado,mais sereno e mais fortalecido, pa-ra responder à sua missão juntoàs crianças.Almejamos que outros colegas, emesmo alunos, venham aumentarnosso grupo.Esperamos que o grãoque estamos semeando produzafrutos.

Kostas Barkoglouprofessor de francês,integrante do grupo

Marist Cityhouse, Sydney,AustráliaMarist Cityhouse é uma comunidademarista diferente.Nenhum irmão,mas

motivo, a personalida-de de Marcelino se tor-na atrativo para gentede muitos países e épo-cas históricas. A vida,enraizada no essencial,não precisa traduçãonem comentário. Falapor si mesma. As fra-ternidades maristasdeixam-se interpelarpor são Marcelino paraviver com maior pleni-tude sua fé cristã no

mundo de hoje.

Um grupo do MovimentoCHAMPAGNAT com caráterecumênicoUm grupo de reflexão, de partilha e deoração no Liceu Leonino de Patissia,Atenas.Há bem dois anos que um peque-no grupo de irmãos e professoresleigos nos decidimos deixar o pátioda escola e as salas de aula para nosencontrar diferentemente.Tratava-se de professores de várias disci-plinas: cursos de línguas, de litera-tura grega, de matemática, etc.Al-guns católicos, outros ortodoxos.O que determinou a nos reunir foia necessidade vital que sentimosde aprofundar mais nossa missãoeducativa marista, de nos ajudar amelhor compreender nossos alu-nos, de os ajudar a descobrir suapersonalidade e suas esperanças elhes permitir superar suas dificul-

A fraternidade marista, um trabalho de grupo

SIMPLICIDADE E HUMILDADEO terceiro elemento essencial da espiritualidade do Fundador é a prática das virtudes dasimplicidade e da humildade.A simplicidade era uma característica marcante de MarcelinoChampagnat, uma pessoa sincera e que transmitia entusiasmo e confiança, encorajandosempre seus Irmãos a desenvolverem essas qualidades.Marcelino foi um homem humilde, que em sua maturidade atingiu o conhecimento e aaceitação de si mesmo. O Fundador não era pretensioso, desafiando-nos a ser assimsinceros e despretensiosos.O relacionamento do Fundador com as crianças ilustra bem essas virtudes. Seu amor porelas, assim como pelos jovens, manifestava-se de maneira franca e agradável. Eraconsiderado ótimo catequista, falando diretamente a seus corações e anseios. Preocupava-se tanto com sua evangelização quanto com sua educação, o que o levava sempre a dizer:“Não posso ver uma criança sem sentir a vontade de ensinar-lhe o catecismo e fazer-lhesaber quanto Jesus Cristo a amou e quanto, por sua vez, deve amar o divino Salvador.”

Ir. Seán Samon, Uma revolução do coração, p. 63)

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nosso objetivo é semelhante ao denão importa qual comunidade domundo, e é o de tornar conhecido eamado Jesus Cristo. Cityhouse é umacomunidade de seis jovens adultosque vivem e rezam juntos. Somos es-tudantes e operários a full time. Nos-sa missão é de formar uma comuni-dade de acolhida para outros jovensadultos. Nosso enunciado de missão oexprime claramente.Cityhouse é uma comunidade maris-ta formada de jovens adultos que secomprometem a ajudarem-se mu-tuamente oferecendo um lugar deacolhida e de pertença onde a espiri-tualidade de cada um é valorizada esustentada.Mensalmente desenvolvemos uma ati-vidade chamada “Porta aberta” queacolhe jovens adultos e irmãos emtorno de nossa comunidade para umtempo de oração ou para uma missaou para uma palestra. Selecionamosassuntos que condizem com nossas vi-

FMS Ecos Maristas FRATERNIDADES MARISTAS 7

ACOLHER MENINOS EMENINAS

Gostaria de recordar aqui ospais que não hesitam em tomara seu cuidado uma famílianumerosa, as mães e os paisque, no topo das suasprioridades, colocam, não abusca do sucesso profissional eda carreira, mas a preocupaçãopor transmitir aos filhos aquelesvalores humanos e religiososque verdadeiramente dãosentido à existência.Penso com reconhecidaadmiração em quantos cuidamda formação da infância emdificuldade e aliviam ossofrimentos das crianças e dosseus familiares, causados pelosconflitos e a violência, pela faltade alimento e de água, pelaemigração forçada e por tantasformas de injustiça existentes nomundo.Contudo, a par de tantagenerosidade, deve-se registrartambém o egoísmo daquelesque não “acolhem” as crianças.Existem menoresprofundamente feridos pelaviolência dos adultos: abusossexuais, aviamento àprostituição, envolvimento navenda e no uso da droga;crianças obrigadas a trabalharou alistadas para combater;inocentes marcados parasempre pela desagregaçãofamiliar; pequenos sumidos noignóbil tráfico de órgãos epessoas. E que dizer da tragédiada AIDS com conseqüênciasdevastadoras na África? Fala-sejá de milhões de pessoasatingidas por este flagelo, emuitíssimas delas contagiadasdesde o nascimento.Ahumanidade não pode fechar osolhos perante um drama tãopreocupante!

Mensagem do Papa para a quaresma

das e, por vezes, assuntos relacionadoscom o tempo litúrgico.

Encontro sobre a MissãoMarista na EuropaUm reencontro enriquecedor emNotre-Dame do l’HermitageNo final do ano 2003, tivemos aoportunidade de participar de umencontro sobre a Missão Marista naEuropa, organizado no l’Hermitagede 26 a 31 de dezembro pela Co-missão da Missão do Conselho ge-ral. Foi para todos nós, irmãos e lei-gos, uma ocasião de festejar o cen-tenário da lei Combes, um mo-mento difícil para o Instituto queajudou a Missão marista a “flores-cer” em outros países, o que des-pertou em nós um profundo re-conhecimento pelos Maristas fran-ceses.Também chegamos durante estesquatro dias de trabalho intenso efrutuoso, com ajuda dos encontrose das proposições colhidas por gru-po ou por Província, a realizar umasíntese final que põe em evidêncianossas aspirações e nossos pontosde vista sobre a missão marista, fa-ce o amanhã, a nível continental.No final, todos integrantes desteenriquecedor encontro, volvemosnossos olhares para o Céu paraagradecer estes dons preciosos queo Senhor ofereceu à juventude: SãoMarcelino Champagnat e o Insti-tuto Marista.

Angela SestriniLiceu Leonino de Patissia

Atenas

São Marcelino, uma luz para o mundo de

hoje

Participação do Irmão Seán no Encontro europeu

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A compaixão é uma excelente vir-tude, mas torna-se estéril se nãoleva a uma ação contra a injustiçae tudo quanto degrada o homem.Marcelino Champagnat bem a en-tendeu. Desde seus primeiros diasescolares, a brutalidade de umprofessor o revoltou. Em sua pe-quena cabeça voltava a questão –programa: “poderemos ter pro-fessores que educam por amorantes que pelo temor?” Assimmais tarde apresentará o princípiopedagógico segundo o qual “Paraeducar as crianças é preciso amá-las”. Princípio concretizado na “Pe-dagogia da presença”. Se opõe etudo quanto humilha a criança.Ainda seminarista, Champagnatutiliza suas férias para debelar aignorância religiosa das crianças ejovens segundo a Revolução. Nãopode ver nenhuma sem sentir odesejo de lhe ensinar o catecismo.O acontecimento decisivo de 29de outubro de 1816, à cabeceirado jovem François Montagne, ago-nizando sem esperança de encon-trar um Deus amável, serve co-mo detonador para associar umgrupo de jovens que serão os pri-meiros Irmãos Maristas.As dificuldades financeiras, as crí-ticas dos coirmãos e mesmo dasautoridades eclesiásticas, as sus-peitas daqueles que pensam queestaria fundando uma nova seita, asameaças de dissolução do Institu-to nascente, as intempéries, os ex-cessos da Revolução etc... nada opode desencorajar. Está obsessio-nado pelo projeto: “Deus oquer”.Repete a seus Irmãos:“Quando temos Deus por nós,quando não contamos senãosobre ele, nada é impossível”.Sua absoluta confiança em Mariaque a chama “Boa Mãe”, atrai vo-cações e sua obra continua. Os“Semeadores de esperança”,Irmãos e Leigos, continuam a pro-var que a compaixão deve ser ati-va se ela se apóia no coração deDeus.Homem de coração e de ação,Champagnat insiste hoje sobre o

8 SÃO MARCELINO FMS Ecos Maristas

Champagnat, homem de uma ativa compaixãoIrmão Eugène KABANGUKA, Provincial – Província da África-Centro-Leste. - Kigali – Ruanda.

apelo do XX Capítulo geral:“Avançar juntos, Irmãos eLeigos, de maneira resoluta emanifesta, aproximando-nosmais das crianças e dos jo-vens, mais pobres e excluídos,mediante novos caminhos deeducação, de evangelização ede solidariedade”. (Mensagem,n.° 31). Tenhamos uma sensibili-dade criativa ante as necessidadesdas crianças e dos jovens de nos-so tempo.Ali onde as famílias e osgovernos se desobrigam, suscite-mos a alegria de viver. E quantomais oferecemos a alegria aos ou-tros, mais a teremos. Quanto maisformos avaros, tanto mais nos fal-tará. E como Champagnat, tenha-mos um horizonte bastante aber-to: “Todas as dioceses do mundoestão em minhas perspectivas”,dizia ele.

PUBLICAÇÕES

Espiritualidade apostólicamaristaUma Comissão internacional,formada de 14 pessoas doscinco continentes, se reuniuem Roma, de 12 a 16 defevereiro, para pôr as bases daredação de um documentoque apresentará as linhasfundamentais daespiritualidade apostólicamarista.

Visitas do Conselho geralDesde o mês de março atémaio, o Conselho geral realizaas visitas aos Irmãos,comunidades e obras daregião do Pacífico. De 12 a 15de maio, realizar-se-á a sessãodo Conselho geral ampliadoem Brisbane,Austrália.

Web institucionalNo endereçowww.champagnat.orgpode-se encontrar a novaweb do Instituto dos IrmãosMaristas.Apresenta-se nasquatro línguas oficiais econtém notícias da atualidadee numerosos documentosinteressantes.

Viva hoje o sonho deChampagnat!Este é o lema escolhido paraa celebração do AnoVocacional marista, quecomeçará no próximo mêsde setembro por ocasião dacelebração do nascimento deMaria.

Boletim maristaEste Boletim informativo, quese publica semanalmente, éenviado gratuitamente e pelocorreio eletrônico a todas aspessoas que estãointeressadas em recebê-lo.Asinscrições podem ser feitasatravés dewww.champagnat.orgEstátua de são Marcelino em Guadalajara,

Jalisco, México