ecor poe quil i brio

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Eutonia - O corpo em equilíbrio por Milton Correia Júnior Método criado pela alemã Gerda Alexander, a eutonia tem como principal objetivo trazer equilíbrio físico e mental ao praticante através da conscientização corporal. Nos dias de hoje, vivendo uma vida agitada, mal temos tempo de pensar em nós mesmos, especialmente no nosso corpo. Na verdade, só tomamos conhecimento da sua presença quando um desconforto ou uma dor nos obriga a parar e dar uma atenção especial a ele. Em contrapartida, algumas pessoas, adeptas do “culto ao corpo”, partem em direção contrária, dando-lhe um cuidado exagerado, entregando-se a exercícios repetitivos e extenuantes, que podem trazer mais problemas do que benefícios. É possível, porém, ter um corpo bonito, harmonioso, com músculos tonificados sem que para isso tenhamos de nos violentar com práticas cansativas. O segredo está em tomar consciência definitiva do nosso organismo, sabendo como funciona e como tirar partido de situações normais do dia-a-dia para exercitá-lo a toda hora, mesmo quando estamos sentados diante de uma televisão ou de um computador, por exemplo. A eutonia é um método de trabalho corporal que propõe justamente a tomada de consciência do próprio corpo como um dos seus principais objetivos. A palavra eutonia vem do grego (eu = harmonioso e tonos = tônus, tensão), referindo-se à prática para deixar o corpo harmonioso e tonificado. A eutonia foi criada por Gerda Alexander, que nasceu em 1908, na Alemanha, mas desenvolveu seu trabalho na Dinamarca. Estudiosa das artes, música e dança, a partir da observação sobre si mesma e das dificuldades de movimento demonstradas por colegas e alunos, passou a investigar os fundamentos neuropsicológicos dos movimentos naturais do ser humano. A própria Gerda é um exemplo dos resultados do método por ela criado. Era aluna e professora de dança quando, aos 28 anos, desenvolveu uma endocardite, devido a uma febre reumática. Obrigada a guardar repouso, começou, em seu leito, a procurar formas de manter o tônus muscular, com movimentos mínimos. Nasceu então a eutonia, por ela aprimorada ao longo de toda a sua vida. Gerda

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educação somática

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Eutonia - O corpo em equilíbrio

por Milton Correia Júnior

Método criado pela alemã Gerda Alexander, a eutonia tem como principal objetivo trazer equilíbrio físico e mental ao praticante através da conscientização corporal.

Nos dias de hoje, vivendo uma vida agitada, mal temos tempo de pensar em nós mesmos, especialmente no nosso corpo. Na verdade, só tomamos conhecimento da sua presença quando um desconforto ou uma dor nos obriga a parar e dar uma atenção especial a ele. Em contrapartida, algumas pessoas, adeptas do “culto ao corpo”, partem em direção contrária, dando-lhe um cuidado exagerado, entregando-se a exercícios repetitivos e extenuantes, que podem trazer mais problemas do que benefícios.

É possível, porém, ter um corpo bonito, harmonioso, com músculos tonificados sem que para isso tenhamos de nos violentar com práticas cansativas. O segredo está em tomar consciência definitiva do nosso organismo, sabendo como funciona e como tirar partido de situações normais do dia-a-dia para exercitá-lo a toda hora, mesmo quando estamos sentados diante de uma televisão ou de um computador, por exemplo.

A eutonia é um método de trabalho corporal que propõe justamente a tomada de consciência do próprio corpo como um dos seus principais objetivos. A palavra eutonia vem do grego (eu = harmonioso e tonos = tônus, tensão), referindo-se à prática para deixar o corpo harmonioso e tonificado. A eutonia foi criada por Gerda Alexander, que nasceu em 1908, na Alemanha, mas desenvolveu seu trabalho na Dinamarca. Estudiosa das artes, música e dança, a partir da observação sobre si mesma e das dificuldades de movimento demonstradas por colegas e alunos, passou a investigar os fundamentos neuropsicológicos dos movimentos naturais do ser humano. A própria Gerda é um exemplo dos resultados do método por ela criado. Era aluna e professora de dança quando, aos 28 anos, desenvolveu uma endocardite, devido a uma febre reumática. Obrigada a guardar repouso, começou, em seu leito, a procurar formas de manter o tônus muscular, com movimentos mínimos. Nasceu então a eutonia, por ela aprimorada ao longo de toda a sua vida. Gerda

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Alexander não só sobreviveu à doença, como voltou a andar e continuou ensinando e pesquisando a técnica até idade avançada.

Logo ficou claro para Gerda que, se o indivíduo tivesse consciência da sua capacidade de mover-se e deslocar-se, não só iria melhorar a qualidade desse movimento, como também isso iria influir na pessoa como um todo, trazendo-lhe benefícios físicos e mentais. Para isso, é fundamental que tenhamos consciência do corpo, desenvolvendo nossa sensibilidade superficial e profunda, podendo influenciar conscientemente os sistemas, em geral involuntários, que regulam o tônus e o equilíbrio neurovegetativo. Conforme palavras textuais da própria Gerda Alexander, em seu livro Eutonia – Um Caminho Para a Percepção Corporal, “os psicofisiólogos definem o tônus como ‘a atividade de um músculo em repouso aparente’. Essa definição indica que o músculo está sempre em atividade, mesmo quando isso não é traduzido em movimentos ou gestos. Nesse caso, não se trata da atividade motora, no sentido mais freqüente da palavra, mas sim de uma manifestação da função tônica”.

Segundo Gerda, “para se chegar ao desenvolvimento dessa sensibilidade é necessária uma presença, graças à qual se desenvolve a capacidade de nos tornamos objeto da nossa própria observação e, ao mesmo tempo, de viver as mudanças que essa observação produz em todo o organismo, de sentir conscientemente, também durante o movimento, as variações que surgem ao nível do tônus e das funções vegetativas”. Gerda Alexander acreditava que esse estado de “presença”, no entanto, “diferencia-se claramente dos níveis de consciência do treinamento autógeno, da ioga e das técnicas zen. Medições encefalográficas têm demonstrado que ele se desenvolve num estado de plena consciência”.

Como funciona – O objetivo principal da eutonia é fazer com que o praticante tome consciência do próprio corpo e passe a modificar sua postura corporal, abandonando antigos hábitos posturais inadequados. Para isso, numa primeira sessão, o terapeuta eutonista avalia o estado físico geral do praticante, que poderá, então, receber um atendimento individual ou participar de um grupo de alunos. No atendimento individual, o terapeuta toca o paciente em determinados pontos do seu organismo, procurando

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livrá-lo de dor ou desconforto, para que possa, a partir daí, tomar consciência do seu corpo.

Nas sessões em grupo, os alunos vão aprendendo os princípios básicos da eutonia, como normalizar a respiração naturalmente, relaxando as tensões que impedem a sua plenitude. Passa-se, então, ao desenvolvimento da consciência corporal pelo estímulo do tato; consciência do espaço interno do volume do corpo; contato consciente consigo mesmo, com outras pessoas e com objetos; e consciência dos ossos. O objetivo é ensinar ao aluno técnicas de como agir sobre seu corpo a todo momento.

Uma das vantagens do método é substituir exercícios repetitivos e agressivos por outros que desenvolvem o respeito, a auto-aceitação, a atenção e o carinho por si mesmo. Por isso, ele é especialmente indicado para pessoas com problemas de aceitação da auto-imagem (gestantes, obesos e adolescentes); distúrbios comportamentais; lesões por esforço repetitivo (o famoso LER, que causa tendinites); insônia; prevenção e tratamento do estresse; problemas de coluna; artrite, artrose, reumatismo e dores crônicas.

Práticas da eutonia – Além de desenvolver a consciência corporal, a eutonia faz com que o aluno aprenda a utilizar elementos da física – como, por exemplo, a gravidade – a seu favor. O caminho proposto para conseguir isso é a exploração que se realiza nos trabalhos de “transporte”, uma prática que desenvolve a consciência de como uma força, aplicada em qualquer parte do corpo, é transmitida através de seus tecidos.

Comparando-se o transporte com a ginástica comum, nota-se algumas diferenças entre ambos. Na eutonia, a força provém da pressão de toda a planta do pé contra o chão, enquanto na ginástica a força surge de uma forte contração da musculatura. Na eutonia, não há contração dos músculos e a respiração continua profunda e regular; já na ginástica todos os músculos ficam contraídos e a respiração se altera, bem como os batimentos cardíacos.

O uso da força, na eutonia, é realizado conscientizando-se princípios já fundamentados em certas leis da física mecânica. O trabalho que conduz a essas experiências chama-se repousser (de

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empurrar). Aprende-se a usar a força com precisão e sem sobresforço, não ultrapassando os limites de capacidade de carga do corpo. Em seu livro Eutonia, Educação do Corpo Para o Ser, Berta Vishnivetz afirma que, associado à psicoterapia, o repousser demonstrou resultados positivos com pessoas maníaco-depressivas, assim como em crianças e adolescentes com problemas de conduta e aprendizagem. Quando a agressividade está bloqueada, o repousser age de forma a desinibir e expressar essa emoção.