economia virtual_pierre lévy0001

Upload: gerson-dudus

Post on 07-Apr-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    1/38

    verso sernantico coletivo. Quanto mais esse universo se "mate-ria liza ", mais se ampl ia seu poder autocatal it ico e sua expansao,tanto quantitativa quanta qualitativa.

    E 0 inconsci~.tg Perguntaremos. 0 inconsciente, isto e ,aquikr"rlo que a consciencia ainda nao se apropriou, e evidente-mente "rnais vasto" que a consciencia. 0 inconsciente nao e nadaalem da consciencia vi rtual , is to e , ao mesmo tempo a cerne deenergia e de complexidade viva de onde emerge a consciencia eo rerritorio infinite das formas que the faltam conquistar, 0 in-consciente: 0 obscure, 0 inorninavel, 0 borbulhante, 0 fecundo,todos as nossos rnedos, nossos preconceitos, nossa ignorancia ,nossas concepcoes estreitas, nossa recusa de sermos anirnais in-tuitivos e sensiveis, nossa fuga do estado bem-aventurado daalma cornpleta , nosso pavor de nao sermos ent idades separadasdas outras, nosso temor de sofrer ao reconhecer que somos umaparte infima do grande todo ... 0 inconsciente se encontra alemdos limi tes farnil iares, 0 inconsciente ult ra pass a infinitamente oscomplexos emocionais familia res recalcados. Ele engloba 0 imen-so processo cosrnico, vivo e cultural que se exprime somente deforma parcia l e mornenranea nas consciencias pessoais . Quantomais descemos (ou subimos, talvez) no inconsciente, mais nos. en-contramos com as forcas coletivas, a sensib il idade universal quedesabrocha, aqui e agora, a cada instante de consciencia, assimcomo a Furia reprodutora da vida desabrocha em cada flor.

    ~o fundo obs:uro, prenhe da cons-ciencia que vira, fonte infinita de todas as tormas e de todos osespacos, Ele e , ao mesmo tempo, 0 passado e 0 futuro da cons-ciencia. Urn ser a caminho de despertar entende cad a vez melhorseu proprio destino (e assim seu passado) a medida que progrideem direcao ao seu futuro. Da mesma maneira, a humanidade des-cobre a cada dia, e com mais precisao, a evolucao cosrnica, bio-logica e cultural da qual depende - e que prolonga - sua carni-nhada para a frente. A consciencia se estende, num mesmo 1110Vl-mento, ao futuro e ao pass ado, ao minuscule e ao gigantesco, abeleza e a feiura, ao racional e ao irracional , em todas as di recoes12 2 A conexao planetaria

    do espaco dos sentidos. A expansao da consciencia e uma C011-quista do virtual, uma conquista do inconscienre, infini tamente.

    Os astroffsicosin terrogam-se para saber se 0 universe, queparece atualmente em fase de expansao, cont inuara infini tamen-te seu movimento de dilatacao e de esfriarnenro, au se a Iorca dagravidade acabara por sobrepujnr a forca de inercia da explosaoinicial, levando novamente 0cosmos a urn POnto tin ico de densi-dade e calor inf initos. Na esfera psiquica, essa alternativa nao secoloca, pois a expansao e a convergencia represenrarn urn iinicoe mesmo movimento de intensifica

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    2/38

    ECONOMIA GERAL DA co SCI. CIAGracas a essa explanacao sobre 0 papel da consciencia den-

    tro da economia, podemos agora completar a economia da cons-ciencia que haviamos esbocado na secao sobre a economia dasideias, e perseguido na secao sobre a intel igencia colet iva.

    Permitam-me uma analogi a entre a economia da conscien-cia e a teoria da relatividade. Na Iisica, a teoria da relatividadeestabeleceu a equivalencia da energia, da mass a e do espaco-tern-po. A desintegracao da materia lib era energia; as particulas demateria sao tipos de condensacao mais au menos estaveis de ener-gia. A forca gravitacional exercida pelas massas tal como as es-trelas e as planetas equivale a uma especie de deforrnacao ou decurvatura do espaco-tempo. Dentro do mesmo espirito, parece-me que uma rnodelizacao da inteligencia coletiva poderia esta-belecer uma equivalencia entre a atencao au a consciencia (com-paravel , em outro plano, a energia fis ica) e a estrutura dinarnicado mundo virtual ou semantico (uma especie de espaco- tempodasideias). Lembro uma vez mais que as ideias, na acepcao quedou a essa palavra, nao se reduzem a abstracao dos conceitos,mas indicam igualmente todos os tipos de representacoes, emo-coes, sensacoes, pensamentos, complexes e problernaticas vitais.Chama simplesmente "ideias" a todos os possiveis objetos daatencao,

    Tanto 0 pensarnento pessoal como 0 pensamento coletivosao ci rculacoes da atencao em urn imenso espaco virtual de signi -ficacoes, uma flu ida rede de representacoes, de imagens e de ton a-l idades emocionais capaz de reorganizar instantanearnente suashierarquias e seus sistemas de distancias, Essa rede - tanto suaestrutura movel quanta as representacoes, as texturas sensiveis,os pensamentos e as ernocoes que a habitant - e constantementetrazida a existencia e sustentada por uma energia fisica que nosdenominamos "consciencia", quando entra no campo de nossa. vigi lancia atenta , mas que, justamente , nao e sempre consciente .A analogia (pois trata-se apenas de uma analogia) com a energiafis ica me parece pertinente porque sabernos, par experiencia, que

    120 A conexao planetaria

    nossa atencao e move], circulante, que ela pode ser mais ou me-nos intensa, mais ou menos focalizada, que ela pode se dissiparau se concentrar, exatarnente como a energia fis ica, Minha hip6-tese e que, na ordem psiquica , a consciencia consti tui a realidadede base, a energia ultima. Seu poder criador se traduz em ideias eernpaisagens de espaco-ternpo semantico, As ideias (os objetosda consciencia) sao condensao;;oes ternporarias de consciencia,atualizacoes mornentaneas de uma energia psiquica virtual. Asformas provisor ias dos "espiritos" pessoais ou coletivos (isto e,das redes sernanticas mais au menos sedimentadas nas quais cir-cula a atencao) sao, tambem elas, desacelerac,;5es, viscosidades,estruturacoes particulares do movimento de energia psiquica , emurn dado momenta.

    Quanto mais aurnenta a velocidade dos movimentos na in-tel igencia coletiva, rnais a consciencia colet iva se eleva em dire-crao a sua temperatura de fusao e mais abre-se 0 espaco das re-presentacdes acessiveis, A aceleracao do processo de inteligenciacoletiva torna rnuito mais perceptiveis os mecanismos vitais daeconomia da arencao. E cada vez mais evidente, em particular, quea atencao, isto e , a consciencia, e a energia universal da qual saofeitas as ideias, a forca cujas distribuicoes m6veis dao origem eesculpem as paisagens de espaco-tempo virtual. Os f1uxos de aten-< ; 3 . 0 separecem com a luz, com a energia da intel igencis coletiva.Eles criam em seu rastro novas real idades e reorganizam 0 espa-0 ; ; 0 virtual de signi ficac; :6es. Os objetos da atencao (as ideias, for-mas, sensacoes, problernaticas subjetivas, produtos) sao como"rnassas" ou part iculas de intel igencia colet iva , memoria fixadade estados precedentes da energia, atratores da energia livre. Osarranjos e as relacdes dinarnicas das ideias se t raduzem principal-mente na meta-estrutura sernantica (hiperlinks, proximidades desentido, afinidades sociais) do ciberespaco.

    Ora, 0 ciberespaco e apenas, e sem duvida, 0 primeiro ger-me de uma noosfera eujo crescimento e metamorfose ocuparaouma boa parte das energias mentais das geracoes futuras. A cons-ciencia humana corneca a objet ivar a diversidade viva de seu uni-

    A econornia virtual 121

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    3/38

    urn publico infantilizado que deixa para os outros (os jornalis-tas, as estrelas, os publicitarios] 0 cuidado de dirigir sua atencao.Mas em vez de tentar atrair a atencao dos OLltrOS ou de deixar anossa ser conduzida por especialistas da hipnose coletiva e daprestidigita

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    4/38

    honestas, nao. No entanto, deverfamos todas viver como pi! Itos da economia em vez de passagei ros ....O consuma e uQ!_j!tQu nportante cia cidadania pla~. Eo que habeis mercadol'cs I'llt;nderam mci to bern, cuj as publ icidades nas camisetas se toruuram emblemas de disnncao para os javens do munda inteil ),Tentemos compreender esse ato de cidadania planetaria (lilldllmelhor que eles, e consumamos, entao, a fi m d e o ri en ta r 0 I i , . , I'llvolvimento humano e nao a fim de buscar uma "identida k"I Iunicamente porque procuramos no consumo a conforrniull lItcom urna certa imagem e porque queremos quase sernpr . ii/JIll;'o comportamento do grupo com 0 qual nos identificamos, qUIos comerciantes podem nos enganar. Se decidissemos consl.' l'II

    (

    emente comprar no espirito de melhorar a qualidade g~t'I11dllque e produzido, os vendedores n.ao poderia~ ,fazer nad.' , 1 1 ' 1 1 1de nos seguir. Mudemos nosso estado de espirito e toda n {IIInomia se transformari.Cada vez que gastamos dinheiro, encorajamos a mt q l 1 1 1 1 1economica a ir em urn sentido ou em outro. A econornia;" [) Iticada, apresenta para a nossa sociedade sua imagem m \illl Ipelho, E isso que acei tamos comprar: essa comida, essa ~1I1i I I IIde TV, essa casa, esse carro, essa cidade , esse governo, t'O '" I Imaquina economic a, 0t ipo de trabalho e rela~oes hUI 'I 'Inn, ' 1 " 1produzem todo esse ambiente. Nao somes sempre obrig Ilhlcomprar, 0 "sistema" nao e absolutamente algo q\.\' n! ~ Iexterior; ele esta em nos e n6s estamos nele.

    No ciberespa~o, e ainda mais evidente que sao as I 1l (' )V . '1 1 1 Utos da nossa aten~ao que dirigern tude. A medida das p :ll" 1 11 11e dos retornos para os sites da Web, a registro do l~lcnul' I I qllde mouse, isto e , 0 tracado mais precise j amais real izudo II II I I I~ao coletiva e individual, e a materia-prima do nov 1 1 H I r k. t 1111que orientari logo mais 0conjunto da produ~ao. Nem t ' 111 I Illllnecessidade de comprar para orientar a economia, G~u(11hil idirigir nossa a tencao para esta ou aque la zona do e~rll'i!l i IIII Ivo. No limite, cada ins tante de consciencie pessoa1 contrl hll III Idirigir 0mercado do mundo-

    A concx.i I'IIHI II116

    A interface entre 0 mercado e a pro ducao (0marketing) eI I .nvocada a se tornar mais precisa, tanto quanta possivel, ate 0jl ne e em que os proprios consumidores decidam 0que eles que-11 '111 ver produzido. cibermarketing nao tera rnais que criar" f4l1'1entos"do mercado. E , justarnente, quando nao for maisr'H/tw~tado, dividido, recortado, separado, que 0mercado, ima-

    1 1 1 ' I n VIVa da atencao coletiva, podera enfim se tamar urn orga-II 1110plenamente inteligente.

    , rna atencao fractalmente dis tr ibuida circula constantemen-III~l'rnpre com mais intensidade e ve locidade, na noosfe ra ondeIIINi:I '!11_eooper ,am as ideias r ivais. Cracas ao cibermarker ing, apIli Iw ; 0 orgamzada de bens, informacoes e ambientes virtuais, ;~fII'1'acada vez mais preci sa rnente essa circulacao de atencao.

    A s ideias e as representacoes mais uteis, mais multiplicadorasI I < . punsamentos e de conexoes, atraem mais a atencao do que asImIl' I,~' E a prcducao dessas ideias e estimulada pelo peso ou pelaj ll ll \l l,~dade da atencao nas zonas do espir ito colet ivo em que erner-1 '111 . Esse processo circular pe lo qual as ide ias e a atencao aside iasI I Illliundram mutuamente constitui 0movimento progressive e

    1 1 1 1 hilhonante do crescimento da economia virtual, ou seja, da in-II hgl n .ia coletiva planetaria.

    Apos ter side durante seculos uma economia de subsisten-I II dl'pois, durante algumas dezenas de anos, uma economia dahlf""ll ln~ao e ,do conhecimento, a economia se desloca agora emdill ,'110 as ideias e - ainda alem - em direcao a arencao. A eco-1III1I1Ul recoloca cada vez mais rapido a cadeia ontologica em di-II 1 10 In VIrtual, em direcao ao que cria a existencia. Pais a aten-

    11 I.uu a consciencia, e existencializante.l{ . tomemos uma vez mais ao tema da atencao como poder

    IIIi II!, No umverso do espetaculo e das midias, os grandes ato-lm ,ginam "existindo mais" quando os outros, 0publico,

    1 1 1 1 I un-lhes mais atencao, Mas, fazendo isso, eles se tornam de- l Id, 'JI , t'es dessa atencao e estao dispostos a tudo para garanti-II l) P 11'01 complementar do star narcisico ou da mult inacionalIII nvnd 0 espaco comum de suas publicidades e mant ido por

    Il!IIHnin vir tual 117

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    5/38

    um publico infantilizado que deixa para os outro (as jornalis-tas, as estrelas, os pubhcitarios) 0cuidado de dirig ir sua atencao.Mas em vez de ten t ar atrair a atencao dos outros au de deixar anossa ser conduzida por especialistas cia hipnose coletiva e daprestidigitacao, podemos nos dar conta de que e a nossa aten-yao que [orja e (az crescer 0 mundo que nos engloba, que temosassim em n6s mesmos a [onte de poder e que nos (alta apenastomar posse de/a.

    Como ja assinalamos, nossa atencao colet iva [az existir asideias, as relacoes e as coisas em torno de nos. Quanta mais nosinteressamos por urn tema qualquer, mais 0 universo cresce e setorna complexo na regiao em que esse tema floresce. Esse feno-meno de experiencia cotidiana nao e observado apenas no mun-do subjetivo de nossa percepcao, mas tarnbern em nossa acao sociale profissionaL 0 mercado deu uma extraordinaria capacidademultiplicadora ao poder de nossa atencao. Para tamar algunsexemplos bastante simples, os livros, os discos, os filmes, os jo-gos sao direta , concreta e fis icamente mult ipl icados pelo interes-se que dirigimos a eles. Quando urn livro ou urn disco atraemparticularrnente a atencao, eles obtem novas edicoes, Quanto maiso mercado sedesenvolve, mais ele penet ra nas profundezas da vidasocial, mais ele se libera, e mais pareee que as ideias, as miisicas,as imagens, as ferramentas, os objetos, os services de todos os tipossao "trazidos a exisrencia" por terem sido escolh idos. Mas note-mos bern que as escolhas do mercado, no final das contas, naomanifestam outra coisa alern dos interesses daqueles que 0 com-poem e, assim, a direcao de sua atencao. 0 crescimento do mer-cado livre ampliou 0 poder da atencao eoletiva sobre 0 propriomundo. A associacao de varies fatores acentuou recenternente essatendencia . Em primeiro lugar, a desenvolvimento do market ingtornou os produtores ainda mais atentos aos desejos dos consu-midores (e desejosos de sua atencao). Em segundo lugar, a dimi-nuicao dos prazos entre a escuta do mercado, a concepcao denovos produtos e sua producao gera uma eeonomia ainda rnaissensivel ~ sensivel quase em tempo real - a s flutuacoes e as118 A conexao planetaria

    mudancas de direcao da atencao do publico. POl' fim, 0desenvol-vimento da Internet Como espaco virtual do mercado esta Cons-truindo urn dispositivo de comando quase di reto da maquina eco-nornica por uma arencao coletiva, agora, livre e consciente de sime rna, como ela jamais esteve antes.

    No memento em que a atividade de conhecimento e a pro-ducao se in terpenetram, quando a eomunidade cienti fica e aquelados negocios se misturam, no instante em que a economia vir-tual converge em direcao a urn mercado livre das ideias no cibe-respaco, parece cada vez mais evidente que a arencao, poderia-mos tam bern dizer a consciencia, e a fonte mesma da criacao domundo humano.o mundo "virtual" reage muito mais rapido que 0 mundofisico aos deslocamentos de nossa arencao que, a partir de agora,comandam a criacfio e a organizacao do mundo fisico. A partirdo momento em que voltamos nossa atencao para uma ideia, noslhe acrescentamos existencia , e isso se ampl ia a medida que nos-sa atencao se torna publica no ciberespaco e e captada pela gran-de rnaquina economica e social planetaria. Para onde dirigimosnosso olhar, nossa escuta, nossa sensibilidade, nossos pensamen-tos? Eis at questoes que nao sao mais apenas pessoais, intimas,espirituais, mas di re tamente econornicas. Ou seja, quando a eco-nomia se torna urna economia da atencao, isto e , da consciencia,nao ha mais diferenca entre eeonomia e espiritualidade. 0 queocupa nosso espl ri to? Quem dirige nossa consciencia? Para ondeela se dirige? Ai estao, de agora em diante, as questoes economi-cas, sociais e politic as capitais que comandam 0 destino do mun-do real, questoes as quais ninguerr, alem de nos - nos, pessoal-mente - pode responder. Quanta mais tomarmos consciencia deque 0 mundo se adensa, enriquece, torna-se complexo e se dilataexatamente onde colocamos nossa atencdo; mais a inreligenciacoletiva da qual participamos criara conscientemente seu propriornundo.

    A econornia virtual 119

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    6/38

    '"1 :jIl)sbJ)

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    7/38

    tado pelo que se via do carnpanario local, quando as mercadoseram fechados, as educa-;oes eram locals e as midias , unidire-cionais. Materializado par fluxos de visita nas paginas da Web etaxas de par ticipacao nas comunidades vir tuais, a ateJ1(;ao colet i-va sobe, desee , desloca-se , d ivide-se em rnilhoes de canai s e cor -rentes largamente dis tr ibuidas no espaco vir tual de s ignificaccesde uma humanidade em via de unificacao. A atencao viva e mul-. iforrne dos humanos traca urn movimento fractal cada vez maisdense e rapido no ciberespaco. Esse movimento desenha a ima-gem vi rtua l, l abi rint ica, hipertextual, mul tidimensional ev iva doque queremos, do que procuramos coletivamente. 0 espaco daatencao eoletiva se abre cada dia mais a extraordinaria diversi-dade do que pode interessar a humanidade. A hidra da conscien-cia planetaria, com seus milhces e, Logo mais, bilhoes de f ilamen-os, de pontas m6veis, inteligentes, rapidas como a luz, pode S I-multaneamente eseolher entre os mi lhoes e , logo mais, bi lhoes deites que se mult ipl ieam como neuronios de um giganteseo siste -ma nervoso em creseimento.

    A CONSCIENCIA, PRINCIPAL POTE. ICIA ECONOMICAMostrei desde 0 comeco desta secao que um dos problemas

    mais dolorosos para os ato res da economia vi rtua l do seculo XXIsera atrair, canalizar e tornar fieis os fluxos de atew;:ao. Costa-ria, agora, de inverter a perspectiva e rnostrar que, nao somentepodemos, mas devemos colocar 0problema no out ro sent ido, istoe coloca-lo em nossas maos. Pois, se querem atrair nossa aten-~~o, isso signif ica que essa atencao, essa consciencia, e 0 que da ,dentro do espirito coletivo, importancia e vida aos atores que asol ic itam e as ideias que eles promovem. Ora , em vez de ficarmosfascinados par aque le que rec lama nossa atencao, podemos con-verter n0550 olhar em direcdo ao poder criador que Iinossa aten-~ao e compreender que e ela, nossa atencao, nossa consciencia,que, na realidade, dirige e eria 0 mundo humane. No I1IVel danossa experienc ia cotidiana, sabemos muito bern que quanta mars110S inte ressamos por um assunto, mais ele nos parece cornplexo

    114 A conexao planed.ria

    e r ico. Par exemplo, se eu corneco a me interessar por jardinagern,vou saber cada vez mais sabre os arbustos, as flores, sobre a ma-neira de planta-los, de cuidar deles e de camp or um jardim agra-davel para ser visitado em todas as estacoes. Esse universo dosjardins, que antes era para mim estrangeiro e que eu s6 percebiade uma mane ira superfic ia l e longinqua, aparecera agora para mimcom uma precisao e uma profundidade cada vez maiores, Esseuniverso cornecara a viver. Inevi tavelmen te, e sem que possa fa-zer clara mente a divisao entre 0 conhecimen to e a acao, meu pro-prio jardim real, 0 que contorna minha easa, se tornara cada vezmais bon ito , eomplexo, refinado. Eo cornerc io das fe rramentas ,da terra, dos adubos, das sementes, das plantas em muda, bemcomo as revistas e as services de jardinagem irao se beneficiardisso. Hi quase sempre uma dimensao economic a do crescimen-'to de urn eerto universo da atencao de uma pessoa au de urn gru-po humano. Mas nao e a economia que di rige a conscienc ia , nemalias a conscienc ia que di rige a economia . A consciencia e umaenergia criadora unitaria que pode se decantar em tantas dimen-soes quantas quisermos (economica, sociol6gica, polit ica, tecni-ca, linguistica etc.). Quanto mais a atencao se coneentra em umacerta zona cia experiencia humana, rnais essa zona cresce e se di-versifica, mais as ideias (e assim os produtos de todos os tipos)que the dizem respei to se d istinguem e se multipli cam.

    Na econornia vi rtua l em via de constituicao, comeca a se es-tabe leee r uma especie de equivalencia entre 0 dinheiro e a aten-cao, Nao sornente, como vimos, a atencao do publico traz dinhei -ro aos vendedores, mas, 0 que e ainda mais importante, as op-c;:6esde cornpra e de inves timento do publico manifestam a orien-tacao de sua atencao, E e essa atencao, principalmente manifes-t ada par dec isoes de consumo, que orienta a economia. Alimen-tacao, j orna is, l ivros, educacao, diversao, espe taculos, midias,meios de transporte, eomputadores, softwares, services de todosos t ipos ... : cada vez que comprarnos, recompensamos aquila quenos parece ir na boa direcao. Mas estamos bern conscientes daimportanc ia dessas escolhas? Na maio r parte do tempo, sej arnos

    A economia virtual 115

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    8/38

    o IB ER MA RK ET IN G E A E CO NO MIAD A A TE N( -A O N O C IB ER ES PA C;Oo numero de conexoes por dia nos sites da Web esta subs-

    tituindo a audiencia de teve e a "audimat?" como indice de en-trada na consciencia global. A televisao e as midias de grande di-Iusao irao se transformar, pouco a pouco, em espacos publicita-rios para sites da Web. As midias classicas se tornam tipos de or -gaos grosseiros de orientacao geral da atencao, em direcao as zonasdo espirito coletivo localizadas no ciberespaco, onde as experien-cias vir tuais, as transacoes e as conex6es entre as ideias sao mui-to mais sutis, rapidas e livres.

    Muitos sites da Web, sobretudo os das grandes marcas, saode fato zonas publicitarias interativas, lojas virtu aisque dao acessonao somente a inforrnacao, mas igualmente as possibil idades deencomenda e de cornpra. Alern cia publicidade que se faz em jor-nais , na televisao ou em outros sites da Web, a popularidacie dossites comerciais e organizada por meio de uma habil indexacaonos motores de busca, pela tessitura dos hiperlinks que apontampara eles, pela animacao de comunidades vir tuais que gravitamem torno de seus ternas.

    Como dissernos, as empresas concorrentes no mercado pla-netario devem ocupar zonas do espirito coletivo para sobreviver.Elas com pram espaco e tempo nos canais que arrebanham a aten-c;:aoda humanidade. Elas se cercam da atencao do publico comdinheiro, informacao util, com ideias, seducao e, f inalmente, nociberespaco, com aqui lo que e ai 0mais necessario: aceleradoresde interconexao pertinente, auxilios para a orientacao no mun-do virtual . 0 objetivo e sempre engendrar 0 t rafego: indexar e seindexar, trocar hiperlinks, prestar 0 melhor service para ter 0maximo de conexoes, ser urn centro, ao menos urn pequeno cen-

    * Aparelho ligado a rede telefonica que permite medir 0 ace sso a umdeterminado canal de televisac , ou simplesrnente 0 resultado quantificadodesses ace ssos por urn ins tituto de pesquisa . [ . dos T. ]

    112 A conexao planetaria

    tro, urn n6 da imensa rede policentrada da consciencia coletiva.No rneio ubiquo da Web, disputam-se as batalhas cornerciais desempre para estar no centro das redes. Mas agora se trata de re-des semdnticas, em urn espaco onde todos os locais estao somen-te a urn clique uns dos outros e no qual a Iacilidade com que aspessoas se conectam, aqui e ali, pede trazer diferencas de milhoesde dolares.o principal problema, uma vez mais, e atrair , canalizar, estabilizar a atencao, E ocorre que a melhor forma de polarizar aatencao, em um mercado tao livre e aberto quanto 0ciberespa-C ; : O , e prestar service, escutar exatamente 0 que que rem as pessoasi- sonho, amor, jogos, saber, mercadorias de todos os tipos - edar IS50 a elas. Senao, elas irao para outro lugar, muito rapidonum s6 cl ique.

    Trocamos bens, relacoes, inforrnacoes, orientacoes: "Va poraqui! Va por ali!". Itprecioso urn conselho, uma orientacao, quan-do 0 espaco e tao grande. E por i5S0 que os motores de busca, ouos "portais", arbitros da distribuicao da atencao, se tornaram asprincipais empresas da Web. Aqui, mais nenhum mere ado e ca-tivo e os internautas nao cairao eternamente nas armadilhas ela-boradas pelos publicitarios a moda antiga. Eles irao onde se en-contra aquila que procurarn, Sera pre~jsQ servir-Ihes a ponto delazer com que queiram voltar. Um l ink, urn clique. Nao ha tern-1 2 0 a perder. Vai-se . Rapido. Ai esta a informas:ao que seprocura.

    ..1 'Jao se guer escutar conversa: q!ler-se exatamente 0 que se pede:urn numero, uma imagem, uma ideia, urn servic;:o, urn objeto. Aeconomia da Web e a arte de interessar os cole gas indo direto aoponte, uma arte bern conhecida dos membros da comunidadecienti lica . "Tenho a solucao para a seu problema", "Aqui estaumainforrnacao que sera uti! para voce", util para construir uma in-formacao que sera util para outros, porgue agora estamos todosno negocio da intel igencia coletiva. Estamos todos conectados narede da consciencia planetaria.

    Os fluxos de atencao sao agora infinitarnente mais nume-rosos, rnoveis e livres que na epoca em que 0 horizonte era limi-

    A econornia virtual 11 3

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    9/38

    As duas grandes operac;6es das industrias da ~ura e da- - -omu~cac;ao sao, portanto:1) a criacao direta de estados menta is pela producao e dis-

    tribuicao de experiencias virtuais;2) a direcao da atencao do publ ico.Seda certo, um clipe publicitario reune essas duas operacoes:

    a direcao e fixacao da atencao, melhor obtidas se a experienciavirtual proposta adere aos apeti tes, a sensibilidade e aos estadosde espir ito do publico. Entre uma obra do espirito e uma publici-dade nao ha senao uma diferenca de grau. Num dos polos de urncornplexo continuum de trabalho sobre 0 espirito coletivo, a obraleva 0 publico a urn espa~o mental e afetivo que ele nao tern 0habito de visitar, contribuindo assim para ampliar sua conscien-cia. No outro polo, a pub l ic idade bruta conforta seus destinata-r ios em seus reflexos menta is, suas necessidades rnais primariesau se resume a urn sinal, urn simples indicador da arencao. Entreesses dois poles, todo urn espaco e aberto as pol it icas de comuni-cacao rnais inovadoras.

    Podemos generalizar a nocao de venda de estados de cons-ciencia pre-fabricados - au de trabalho com a consciencia -para a maior parte dos produtos e nao somente para aqueles dosetor da cultura, do espetaculo e da cornunicacao. A educacao eo ensino t rabalham tambem diretamente sobre 0 espirito. A infor-matica e os softwares nos propoem tecnologias intelectuais quemodificam e aumentam nossas capacidades de percepcao, de me-moria, de raciocinio, de imaginacao e de in te ligencia colet iva. Ostransportes e as telecornunicacoes encurtam as distancias vividas,as proximidades de consciencia, entre os diferentes pontos geo-graficos do planeta. 0turismo nos prop6e experiencias qual ita-tivas, encontros, espetaculos reais, uma aventura veridica, umadescoberta da alteridade, um outro contato consigo mesmo. Asaiide se ocupa do bern-estar que e tambern, mesmo centrado nocorpo, um estado de consciencia, Poderfamos alongar indefini-darnente a lista. Todos os bens e services vendidos no mercadose apresentam, detinitivamente, como rnodificadores d e e x pe r ie n -

    110 A conexao planetaria

    cia, quer sua acao passe principalmente por signos, corpos fis icosau relacoes.

    A politica das marcas, das reputacoes, dos logotipos e dasimagens - de importancia crescente 11aeconornia conternpora-nea - visa a conq uista da existencia em primeiro lugar e, depois ,de espacos cada vez maiores e melhor situados na atencao ou naconsciencia do publico. Exceto par algumas necessidades vitaiselementares, que sao oferecidas numa base puramente local, arnaror parte das empresas depende de maneira crescente de suaposicao na consciencia coleriva, Efetivamente, quanto rnais asdistancias praticas diminuem e se igualam, mais as cornunicacfiesse aceleram e se adensam e, correlativamente, mais aumenta airnportancia das distancias sernanticas e das proximidades de cons-ciencia. A competicao se desloca no espaco vir tual que e 0 cam-po de nossa atencao. Do ponto de vista de LIma empresa, serianecessario, idealmente, que sua marca fosse a primeira que nosviesse it cabeca quando pensarnos num cerro tipo de bern ou ser-vico. A planetarizacao - is to e , a coexistencia no mercado de pro-dutos oriundos de todas as partes do mundo - transferiu pro-gressivamente a concorrencia para 0 terreno da consciencia. 0 fatode que urn fornecedor qualquer seja do mesmo pais ou da rnes-ma regiao que voce nao Ihe da mais nenhuma vantagem part icularem relacao aos concorrentes "estrangeiros". Estamos agora todosno mesmo planeta, No mercado unico rnundial, nao hi rnais "es-trangeiros". Em contrapartida, voce dara preterencia aquele queesta mais "proximo", rnais visivei, mais desejavel na sua paisa-gem mental pessoal, na rede de representacoes, de imagens, deemocoes - no grande hipertexto subjetivo - que e seu espirito,Urn imenso hiperrexto criado com todas as subjerividades, 0 ci-berespaco da hoje urn corpo virtual a consciencia colet iva. E ai,portanto, nesse lugar sem distancias fis icas, que tera lugar a com-peticao entre as ernpresas planerarias e, cada vez mais, entre asernpresas locais . 0 nervo do cornercio setorna 0t rafego da aten-~ao no ciberespaco,

    A economia virtual 1 1 1

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    10/38

    A ECONOMIA DA ATE GAoSe a Bolsa e a consciencia da economia, fica claro - levan-

    do-se em conta a capitaliza.;ao acionaria das ernpresas da web-economia - que essa consciencia e cad a vez mais seduzida pe laWeb. A Balsa e 0 capi tal de ri sco estao tao atraidos pelo ciberes-pace que eles querem investir mesmo ande nao ha quase nada,onde balances ainda nao forarn realizados, ande ainda nao halucre, A oferta de investimento no futuro e , ja no inicio do seculoXXI, quase maior que a demanda de capital das empresas do fu-turo. A inrensificacao da tendencia especula tiva mostra que a as-piracao em direcao ao futuro nunca foi tao forte: urn futuro cadavez menos violento, cada vez rnais comercial, relacional, intelec-tual, estetico. A inieligencia coletiva econornica estd atraida pelaWeb porque ela sente que esse metotlo, ou 0 que 0 sucedera nofuturo, Ii precisamente seu proprio futuro: a consciencia ~a eco-nomia convergindo para uma economia da consciencia. E 0 queiremos examinar nesta secao, que fecha 0 capitulo consagrado aeconomia virtual . Depois de ter de lineado a part ir de grandes tra-cos uma pre-hisroria da economia da atencao, evocarei seu fun-cionamento contemporaneo no ciberespaco Em seguida, mostra-rei como a atencao, ou a consciencia, mais do que ser manipula-da pe la maquina economica , esta tomando 0 controle. Terrnina-rei, enfim, abordando a perspectiva de uma economia geral daconsciencia e do inconsciente, que anuncia os grandes temas dasduas ul timas partes deste livre.

    PRE-HIST6RIA DA ECONOMIA DA ATENC;;AONos anos 30 e 40 do seculo XX, a atencao do publico se

    tornou uma questao priori taria para as atividades politi cas e cul -turais. 0 avanco das rnidias impress as e, depois, do radio e do ci-nema, abriu urn campo novo da consciencia coletiva , imediata-mente ocupado por batalhas de propagandas engajadas por regi -mes fascistas e rotal itarios e , em seguida, por todas as forcas pre-sentes no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Depois da guer-

    10 8 A conexao planetaria

    ra e da pol itica, 0 cornercio conquisrou esse novo espaco para apubiicidade, que explodiu nos anos 50. As "indus tr ias culrurais",principalmente as revistas, a rmisica, 0cinema e a televisao, ocupa-ram uma fracao cada vez maior da consciencia e da atencao co-ietivas. Como foi observado bern cedo - desde os anos 40 - pelaEscola de Frankfurt (Adorno), e depois analisado pelos situa-cionistas (Debord e Vanheigem) nos anos 60, as indiistrias culru-rais, 0 "espetaculo" ou as "rnidias" concebern, fabricam e ven-dern diretamente "conteudos de consciencia". 0 espectador de urnfilme, por exemplo, ve seu cerebro diretamente manipulado peloreal izador. As industrias culturais propoem ao seu publico mo-mentos de consciencia pre-fabricados, experiencias virtuais par-tilhaveis e reprodutiveis a vontade. Certamente, tudo 0 que noscerca, todo 0 cenario das nossas exi stencias nos faz viver expe-r iencias, Mas a originalidade das indus tr ias culturais e a de nosengajar em viagens virtuais com milhares ou milhces de outraspessoas que nao vivem no rnesmo ambiente espaco-temporal quenos. 0 feriomeno dos cantores planetdrios - Elvis Pres ley, osBeatles, as estre1as do pop dos anos 70, ate Celine Dion, no fimdo seculo XX - revelam igualmente esse apetite do publico pelatrip coletiva, a viagem da consciencia cornunitaria. 0 desejo dopublico e tao mais intenso, parece, quanto mais a comunidade sus-cetivel de viajar junta se amplia em escala planetaria.

    Hoje, pagamos urn mimero crescente de profissionai s paranos fazer sentir "diretamente" cer tos estados mentais, certas erno-~6es, e principalrnenre no mundo da terapia, do desenvolvirnentopessoa l, da cornunicacao, da moda , do j ornal ismo e do show busi-ness. Alern disso, as midias, como a maior parte dos centros deinteresse do publico, do futebol as grandes exposicoes, estao atual-mente nas rnaos de empresas que vendem a atencao do publico aospublicitar ios ou aos depar tamentos de cornunicacao das grandesempresas. Os public itarios ou os "comunicadores", por sua vez,ent regam partes da consciencia coletiva aos vended ores de todosos tipos, aos polit icos e a todos aqueles cuja sobrevivencia e poderdependem da qual idade e da intensidade da atencao do publ ico.

    A econornia virtual 10 9

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    11/38

    con junt ivo nao-organizado que per rnit iram as cornunicacfies en -tre um ponto e outro. As midias centralizadas - imprensa, r a -dio, re levisao - forj aram 0 esboco de uma conscienc ia cole tivaem tempo real. Mas a raridade dos centros de emissao, 0 caraterdisperse e pouco diferenciado dos pubJicos, a ausencia de inte-ratividade limitavam 0porte do sistema mid iat ico. Somente hoje ,do ponto de vista bern mais avancado da c ibercul tura , e que po-demos discernir 0andamento geral da evolucao. Neste comecodo seculo XXI, a cornunicacao entre um ponto e outro pelo cor-reio ele tronico, a comunica~ao cole tiva e intera tiva das comuni-dades virtuai s, a mul tip licac ;ao exponencial dos cent ros de emis-sao de todos os tipos de imagens e de representa

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    12/38

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    13/38

    plexidade crescentes. Ela estabelece mapeamentos cada vez n :- aisf inos do mundo microscopico, da complexidade do mundo VlVO,assim como da imensidao do universo. Rernonta ao conhecimen-to do pass ado do cosmos, da vida e do humane. Encarrega-se depreyer 0 futuro e contribui efetivamente para produzi r 0 futu~ohumano por suas conex6es com a tecnica e 0 mercado. Por meiode seus instrumentos, laborator ios, exper iencias, teorias , esque-mas, formulas , modelos e simulac;6es, a ciencia capta e multipl i-ca as formas e os generos de formas em rodas as escalas; [ormasque sao associadas com todos os objetos poss iveis e imaginaveis,chegando a teo r ia do caos, a fisi ca quantica e relat ivista que des~cob rem a energia do vazio, ao fato de 0 cerebro explorar a SIproprio nas neurocienc ias, ao ponto de investigaC;ao em que naoseria possivel ir mais longe sern a ajuda dos computadores, nemcriar mais rapido sem 0meio de cornunicacao ubiquo aberto pelociberespaco0 empreendimento cientifico somente chega a engen-drar tantas formas grac;as a urna organizacao explici ta e delibera-damente competitiva e cooperativa.

    Assim como a ciencia, 0mercado e uma extraordinaria rna-quina de produzir formas materiais, espir ituais e estet icas (nao pen-semos somente nos supermercados mas mmbem nos objetos es er-vices de luxo, nas industrias cul turais etc.). Quase todos as pro-dutos da atividade humana, dos mais triviais aos mais raros, dosmais vulgares aos rna is refinados, encontram-se no mercado, in-cluindo os services de ajuda de todos os tipos, as tradicoes espi-r ituais , os acessorios e os estabelecimentos esportivos, as ob.ras dearte, a musica, a lit eratura, a gastronomia , os veiculos, as viagense mesmo as paisagens e as aventuras vendidas pelo turismo. Dcfato, ha ai coisas para todos os gostos. Reportemo-nos mental-mente as epocas (a Idade Media europeia, por exemplo) em qu ea maioria dos seres hurnanos, diz imados pela fome, enfraqueci -dos pelas doencas e pela desnutr ic;ao, viviam no estreito horizon-te de uma vila ou de um grande dominic agricola . Eles nao sa i:1nlsenao raramente, a pe au de carroca, para freqiientar urn mercudinho que abasrecia uma dezena de localidades rurals. 0 vcnlu

    10 2A conexiio plan 1 1 1 1 1 , 1

    da amplitude nao era trazido senao par raros vended ores ambu-lantes. Nao havia bibliotecas, nao havia jornai s, nao havia radio,nao havia telefone, nao havia televisao, nao havia Internet, naohavia revi sras; somente a lguns arristas locais. A maior parte doshabitantes das grandes cidades do seculo XXI nao tern plena cons-ciencia da riqueza que constitui a diversidade de relacoes possi -vei s, de conta tos com tradicoes e culturas variadas, a quant i dadede inforrnacoes, de musicas, de imagens, de ferramentas e de ob-j etos aos quais te rn acesso. Lembremos tambern do deslumbra-mente, da avidez e dos reflexes de acurnulacao que tomaram oshabitantes dos paises do leste durantes os anos 80 do seculo XX ,quando ent raram pela primei ra vez em urn supermercado ociden-tal. Tinhamos di ficuldade em convence-los de que haveria a mes-rna diversidade no dia seguinte. E exatamente 0 mercado, e maisprecisamente mercado capitalista conectado com a tecnocienciae com as cornunicacoes planetirias, que engendra esse mundomaterial, sensivel e intelectua l com formas cada vez mais diver-sas, cada vez mais abundantes, ate 0 ponte em que nao se po degerenciar, comprar e produzir toda essa diversidade senao comcomputadores interconectados , passando pelo acelerador vir tual ,pela concent racao espaco-te rnpora l do ciberespaco. 0 mercadoconstitui tal rnaquina produtora da diversidade somente gracas asua organizacao expl ici ta e delibe rada em cooperacao com pet it i-va (garant ias da propriedade, enquadramento j uridico das rela-~6es, leis antitruste etc.),

    as cientistas devern seu sucesso somente a sua capacidadede interessar os outros cientis tas. Esse sucesso e freqiientementemensurado em nurnero de citacoes, A citacao e urna unidade demedida inte ressante porque ela depende unicarnente da vontadedos outros, Urn cientista nao cita urn colega senao porque essacitacao lhe serve, de uma forma ou out ra. 0mais citado e aqueleque membros da comunidade cientifi ca j ulgam servir-lhes mais.o mais cornperirivo e assim 0 mais cooperarivo.

    De maneira analoga, asernpresas mais competit ivas sao aque-I" , que rn e lho r conseguem co opera r , tanto em seu inter ior quanto

    xonomia virtual 103

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    14/38

    rita individual au coletivo) para 0 irnpensado constitui precisa-mente a verdadeira experiencia criativa, A abertura ciaexperienciaao nao-experimentado e 0 ate de aprendizagem por excelencia .

    A competicao, isto e , a multiplicacao das formas, e a dimen-sao da liberdade cia inteligencia coletiva, De fato, 0 ato de Iiber-dade fundamental nao e uma escolha ent re possiveis existentesnum dado momenta, em uma situacao determinada, mas sobre-tudo a ampliacao do campo das associacoes e das cooperacoespossiveis. 0ato vivo, 0ate libertador, sai do quadro de referen-cia, abandona um universo originario, condicionado pelo acasode circunstancias iniciais, que limita 0 espirito pessoal ou coleti-vo . .. 9 gue e pr6prio de.l.l.Ulainteligencia livre.e discernir a virtual

    (no atual, fazer advir novas possibili.dades de percepcao e de acao,de aumentar 0mundo, de dilatar 0 universe, enfirn, de entrar numadanca criativa com a realidade.

    Quando urn novo problema se coloca, ninguem sabe previa-mente quais sao as boas e as mas solucoes. A concorrencia entreos genes de uma populacao, os indivfduos de uma especie, as espe-cies de urn ecossistema, as ideias de uma cultura, as teorias de umadisciplina, os produtos de urn rnercado, essa inteligencia coletiva,d istr ibuida, cooperativa e competi tiva e a propria forma da"inte-ligencia: a abertura maxima do espaco dos possiveis e a escolhadentro do maior niimero de eventualidades. Assim como 0melhorcompetidor e o mais cooperative, a melhor escolha e , mais frequen-temente, aquela que engendra uma situacao na qual ainda matsescolhas serao possiveis - uma escalada em direcao ao virtual.

    Sim 0 mercado livre e a democracia sao "rnelhores" que aeconomia planificada e a ditadura porque sao "mais inteligentes".Da mesma forma, a concorrencia aberta na comunidade cienti ficae "melhor" do que urn dogma imposto. E iS50 nao signi fies quedeterminada hip6tese considerada verdadeira na Republica dossa bios, num dado momento, deva ser absolutamente "verdadei-fa". Nao, justarnente. E pelo fato de renunciarmos ao absolutodo verdadeiro e do falso, ao mesmo tempo aceitando as obriga-~6es e as regras da cornpeticao cooperat iva , que podemos ser cria-

    100 A conexao planetaria

    t ivos, A rnarca cia inteligencia e sua fecundidade, nao seu poderde "ganhar" de urna vez por todas. A inteligencia nao defendeurn verdadeiro contra urn falso, um bern contra um mal: e1a euma expansao da consciencia, uma manifestacao do poder cria-dar da vida. Cada urn deve acreditar que sua ideia au seu pro-duto ou sua ernpresa e a melhor e, no entanto, deve se abrir e sedistanciar 0 suficiente para aceitar de born grado aprender comsua exper iencia e se inser ir no processo da inteligencia coletiva.A violencia, a [orca bruta sao recusas ou bloqueios da inteligen-cia coletiva (da qual, no entanto, cada urn par ticipa), um desco-nhecirnento de sua dirnensao cooperativa e um enorme mal-en-tendido sobre a significacao da competicao, pois, mais uma vez,a melhor compet idor, a longo prazo, e precisamente 0mais coo-perativo. Nenhurn dos competidores e mais inteligente au melhordo que algum outro, au sornente 0 e de maneira local e provis6-ria. 0 processo global de cooperacao competitiva nao-violenta emais in te ligente que todos os individuos, todas as partes em ques-tao, todos as produtores, todos os genes, todos as neuronios, to-das as ideias tidas individualmente. Ora, se 0 "verdadeiro" su-jeito da inteiigencia e 0 processo global de cooperacao cornpeti-tiva em sua totalidade, entao, 0processo mais inteligente e a evo-lu((Ciocosrnica, biologica e cultural em seu conjunto. Uma evolu-~ao sobre a qual estarfamos errados, se separassernos artificial-mente as recentes excrescencias que sao as in te ligencias coletivas- em relacao cada vez mais simbi6tica - do rnercado e da co-munidade cientifica.

    Gostaria de mostrar agora que 0 mercado capitalista e a co-munidade cientifica - os dois exemplos de inteligencia coletivaque ternos seguido desde 0 in ic io deste capitulo sobre a economiavirtual- sao extraordinarios geradores de formas. Mais do quecomo urn saber verdadeiro, poderiamos bern legi timamente apre-sentar a ciencia como uma aventura mul ti ssecular de pesquisa, i stoe , urn empreendimento regrado e organizado de criacao de for-mas cada vez mais r icas e variadas. A ciencia explora formas rna-ternaticas, fisicas, quirnicas, biologicas de uma diversidade e com-

    A econornia virtual 101

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    15/38

    que desterritoria liza as culturas identi tanas e produz urn univer-so de signos, de coisas e de rela~6es sempre mais variadas. Esseproeesso nasceu par acaso na Europa, provavelmente porque aEuropa plural do final da Idade Media eonhecla, ao mesmo tem-0, urna grande concentrac;:ao de homens , de r iquezas e de conhe-cimentos, sem estar a tada por um imperio que bloqueasse a com-petic;:aocriativa, e tampouco ameac;:ada por invasores. 0 epicentrodesse proeesso se eneontra hoje nos Estados-Unidos , local de C011-cent racao dos imigrantes que fogem de coa~6es; de ca tastrofes.de opressces, de guerras e de massacres do ve lho mundo. Prova-velmente, ~ ~ pode entel~r esse processo de centralizac;aogeogd.fica~eomo " .. na .. .. ar sobre asoutras, mas como consequencia do fato de que, para conduzir ahumanidade em seu movimento de integracac criativa,f preci seque 0 turbilhao da intel igencia colet iva esteja centra do em algumlugar . Nao apenas 0 centro e m6ve l (ele se deslocou varias vezesnesses quatro secu[os), mas ere pode sal tar para uma outra dimen-sao, nao geogrifica, vir t~l.Antes de examinar como a eco11omia virtua l manifesta to-dos os traces da competic;:ao cooperativa (e, assim, da inrel igen-cia colet iva) , gos taria de precisar 0 sentido filos6fico da "cornpe-ticao" e da "cooperac;:ao". Em poucas palavras, a cornpeticao e7 uma manifestacac da eSPo~1tanel~ade ou da liberdade c-iadora,tea cooperacao e uma manifestacao do amor.

    A COMPETICAO COOPERATIVACRIADORA DE FORMASRelembro minha hip6tese fundamenta l: a intel igenc ia cole -

    tiva aumenta ao mesmo tempo em que melhora a organiza~ao dacoopera~ao compet itiva entre os seres humanos. A palavra corn-petic;:ao vem do latim compeiere, que signifi ca "tender a um ~e~-IDO ponto ". Essa et imologia pareee paradoxa l, pai s, a mult ip \t oc idade dos pretendentes, pr6pria da competicao. poderia, ant's,sugerir um fenomeno de divergencia. Mas, pensando bern, nosprocesses nao-planificados, aqueles que pretendem a vitor ia coil

    A conexao plancmu98

    vergem progressivamente em direcao a um alva que se define arnedida que uns corrern ao lado dos outros, cada um podendolocali zar a di recao seguida por aque le que corre rna is rapido. Emcontrapartida, e precisamente pelo fato de urn grupo coerentetentar aplicar uma reoria ou obedecer a urn plano - que a reali-dade mutante e irnprevis ivel sempre se encarrega de desmentir -que esse grupo corneca a divergir em relacao ao objet ivo fixadoanter iormente. Assim, convergirnos, como sugere a etimologia,porque estamos engajados em um processo aberto de competicao.

    Penso que a competicao (coopera tiva ) esta no fundarnentode todas as formas de intel igencia porque, mesrno considerandouma s6 pessoa, simplesrnenre nao ha outras maneiras de apren-der e descobrir senao testando um grande rnirnero de hipoteses,t entando diversos comportamentos, explorando varies ambien-res. Em escala cole tiva , uma cornunidade qualquer nao pode , evi-denternente, tornar-se criativa se cada um irnita escrupulosamentea que seus vizinhos sempre fizeram ou se contenta-se em obede-cer a urn poder centra l que jamais se ria desafiado, A competicaonao tem nada a vet com a agressividade ou a vontade obsessivade ganhar do outre. A principal significacao da competicao nosprocessos inteligentes e a de abertura do espaco: 0 espa~o dosconcorrentes que pode ser universos praticos ou intelectuais, pro-blemas, metodos, solucoes, objetos , ideias, forrnas , os possiueis,em geraJ. A livre competicao garante a abertura dos possiveis e

    . - 'aSSlm,O taro de que a escolha provis6ria, a qua l chegara um pro-cesso de selecao gualquer, se fara em urn espaco suficienternenreamplo. A escolha sera tanto "rnelhor" se tiver sido feita a partirdo maior mimero de possfve is. Cogi tar somente duas ou tres even-tua_Iidades, quando ha talvez milhares, e acreditar que se po deassirn escolher 0melhor s ignifica s implesmente escolher as cegas ,seguir mecanicarnente uma retina ou alguns trilhos, isto e , naoescolher , de forma alguma. Abrir a cornpeticao implica que osj~gos nao sejam feitos previarnente. Significa que seaceita a plura-lidade, a abertura, 0 surgimento do imprevisto, aquilo que naose tinha pensado. A abertura de espiri ro (quer se t rate de Ul11 espi-

    A conomia virtual 99

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    16/38

    '"-0oS

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    17/38

    mitir seus traces geneticos. Nao existe um guia das especies gueplanifique sua evolucao ou sobrevida, Nos sistemas ecologic~s,as especies cooperam no proprio movimento de sua comp:tlr;ao,sem que nenhum maestro do sistema regule suas mterar;oe~. _ oconjunto da biostera, desde sua origem, age sobre a cornposicaoquimica da atmosfera e a temperatura do planeta. ~stas, pors~avez, interagern sobre a biosfera, em um processo circular, dina-mico e auto-regulado, sem que ninguern tenha planificado a evo-lucdo que fez uma atmosfera rica em gas carbonico e metana setornar uma atmosfera rica em oxigenio.o organismo humano e uma das mais recentes formas bi~-logicas criadas por urna evolucao auto-organizada de rnurtos rru-lhoes de anos, e ele proprio e 0 ponto de partida de uma novaforma deevolucao, ainda mais rapida e criativa do que aquela quelhe deu origem, a ponto de influenciar em troca toda a organizacaoda biosfera (modificacao dos ecossistemas e do meio ambiente glo-bal selecao e criacao ultra-rapid a de novas especies etc.). Emer-gindo da cooperacao competitiva dos corpos inteligentes e sensi-veisdos seres humanos, a cultura setornou a nova atmosfera naqual a vida sobre a Terra enlaca, a part ir de agora, urn acasala-mento dinamico. E precisamente gracas a sua excepciona] apti-

    I dao a auto-organizacao, a criacao denovas formas e a coopera-r;ao competitiva que a associacao dos corpos ultra-sensiveis doshumanos, sua inteligencia colet iva, pode acelerar a tal ponto aaparicao de formas novas. _

    No paragrafo precedente, falei do corpo hurnano e nao docerebro, porque 0 cerebro perfaz um sistema, em conjUl~toc~m a'posicao creta, a mao e toda nossa organizacao fisica. AI,emdlSSO,o funcionamento do nosso sistema nervoso central esta estreita-mente Iigado ao de nOSS08sistemas imunologico, hormonal etc.,se bern que, provavelmente, todo 0 corpo (a inteligencia coletivaglobal do corpo) se mostra inteligente e sensivel, enao somente 0cerebro. Mesmo sabendo que ele nao funciona senao grar;as a suaimersao nos circuitos integrados multo complexos da inteligen-cia sornatica, concentrarno-nos, para facilitar a exposicao, no

    94 A conexao planetaria

    cerebro. Seu funcionamento e alimentado POl' dados dos sentidose age, por sua vez, sobre as sensas;oespOI"meio dos movimentosque de comanda. Os elos sensorio-morores sao orientados porcalculos ueurais cuja organizaS;ao resulta, em si, da historia pas-sada dos elos sensorio-motores. Alem disso, as concentras;oes hor-rnonais nas quais ele se banha orienram as reas;oes de seus neu-ronios, cujas proprias di11amicasde ativacao comandam, por Suavez, as secres;6eshormonais. Essa produr;ao de hormonios coman-da parcialmente 110SS0umor e,por esseintermedio, a interpre-tacao de nossas percepr;oese, conseqiientemente, nossas ar;oes,guemodtflcam, por sua vez, nossas perceps;oese assim sucessivamente.o "mundo" percebido emerge da historia auto-organizada des-ses calculos circulares, desses elos entrelar;ados. Os neuroniox, osgrupos de neuronios e as dinamicas de ativar;aode circunos neuraisestao continuamente em cooperar;ao competitiva. Seestou escre-vendo, certas zonas do rneu cerebro trabalham mais do que ou-tras. Quando tenho forne au quando 0 sono me torna, e urn ou-tro tipo de circuito neural que assume 0 controle e faz com queos outros operern emseu service. Minhas emor;oesinterferem emminhas percep

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    18/38

    r itmicarnente em novas associacces , a cada geracao. Esse abarca-mente intervern no interior de populaciies, cuja exrensao espaco-temporal e bern mais vasta que ados organismos. Assim, todosos genes que comp6em 0 pool genetico de uma especie cooperarna fim de assegurar a duracao rna i s longa possivel das populacoesas quais sua associacao e sol idaria. Mas podemos amplia r a indao ponto de vista e considerar que os genes que comandarn as dife-rentes populacoes de plantas, de animais e de microorgani sm os,que interagem no inte rior de urn sistema ecol6gico, tarnbern es-tao engajados em urn proeesso de cornpeticao cooperativa. Supo-nhamos que certas associacoes de genes - que se manifestanam,por exemplo, pe la aparicao de urn superpredador - tenharn comoefe ito romper a cooperacao no interior do sistema ecologico dasqua is os genes parti cipam, e isso a ponto de faze-lo desaparecer.Entao, essas associacoes de genes "assass inos" destruiriam ou en-fraqueceriam 0 meio de sua propria reproducao e eles desapare -ceriarn ou diminuiriarn. A cocperacao ent re os genes se estende,assim, a uma escala muito arnpla. Podemos amp liar ainda maisnossa visao, Desde a primeira celula capaz de se reproduzir, acooperacao competi tiva dos genes para se perpetuar engendra 0imenso espec tro evolutivo da vida. Como se sabe, 0 processo davida, em sua totalidade, produz e reproduz um legue de formas@cia vez mais amplo . .9 coni unto do processo e sustentado pe laaparicao continua denovos genes (as .U1.utac;:6es)e novas associa-coes de gene~(associac;:6es no nivel dos organismos, das popula-0es, dos sistemas ecologicos). Ta is genes sao seleeionados prin-cipalmente em funcao de sua aptidao para cooperar entre si. Acompeticdo se dd entre as aptidoes cooperatiuas ..E bas tante na-tural que os genes mais cooperatives se reproduzam melhor queos outros, pais, ao contrdrio, os que sao incompat ivei s com seusassociados ou que se opoem a sobrevivencia do meio que os sus-tenta e os propaga (organi smo, populacao, ecossi stema) nao po-dem, simplesmente , se reproduzi r. Novarnente, a longo prazo, acompeticdo recompense! a propensdo a cooperacdo, tanto" inter-namente" (viabil idade dos organismos) quanto "externamente"

    90 A conexao planetaria

    (Yiabilidades da 1-s popu acoes e associa

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    19/38

    0000

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    20/38

    est iroular a inteligencia coletiva de seus a lunos ou dos diversosgrupos que moviroentaro. Elas setamara 0 portais inteligentes, for-necedores de services intelectuais on line, comunidades virtuaisdedicadas a aprendizagem inten iva (0 que a maier parte das co-munidades virtuais ja e, sem ter 0 titulo de curso universitario).Brilharao mais aquelas que forem capazes de at rair os alunos online par meio de recnicas rnui to aperfei~oadas de web marketing,gra;;as a trocas de links negociados com os rnelhores sites freqiien-tados pelos jovens, pela criacao de comunidades vir tuais nas quaisos empregadores poderao exprimi r suas necessidades e os alunosse confrollt arao com a realidade do mercado.As escolas e as universidades deverao dar aos alunos 0 queeles buscam. 0 que eles buscam verdadeiramente: compreendero rnundo no qual vivern. Urn mundo interconectaclo, convergin-do para urn espaco virtual onde a inteligencia coletiva e a econo-mia da informa~ao mais livre passive! formam uma s6 unidadeque produz 0 futuro em velocidade acelerada. E para esse mun-do que as universidades do futuro prepararao os alunos, Iazen-do-os viver nele. .

    PENSAMENTO DOS NEG6CIOS ENEG6CIOS DO PENSAMENTOo que se torna 0 Homo economicus quando a economia se

    torna urna economia da informa~ao, uma economia vi rtual den-tro de urn espaco virtual? Torna-se urn Homo academicus. Por-que e na coopera~ao intelectual que nos tornamos ricos, com to-dos os valores de escuta, de se rvice , de imagina~ao, de honesti -dade, de rigor e de exatidac que isso implica. Voce nunca se per-guntou por que 0 "capi tal ismo" e a comunidade c ient ifica oc i-denta l nasceram juntos, na Europa, na Renascen~a , no momen-to mesmo em que 0 planeta , enfim circunscrito, abria todos osseus horizontes? Voce nao ve 0 pa[ale!ismo entre 0 desenvolvi-mento espetacular da ciencia e da tecnica, de urn lado, e aqueledo capitalismo e do mercado livre, de outro? Nao ve que issoocorre ate 0 ponto em que as empresas se tornam "organiza.: ;:6es

    A conexao planet:hio86

    aprendizes" e universidades mundiai s, em que a enciclopedia ab-solut ,a e intotal izavel da Web se torna 0 rnercado absoluto e into-tal izavel , em que 0 web mark.eting,os hiperlinhs, a indexacao dosmecarusmos de busca, os sottu/ares de trabalho cooperative e ascomunidades virtuais se tornam a chave de tudo? A id. . cornum a-de c ient ifica e 0mercado capitalista setorn idenriam I enncos porqueeles mantem, desde sua origem, urna relacao muito forte com 0~esmo apetite de ~berda~e, a mesma fe na cornpericao coope-ranva, 0 mesmo ela em direcao ao futuro. A inreligencia colet i-va se torna 0 mercado porque 0 mercado, logo centra do princi-palmente no ciberespaco, e, a partir dar, 0 lugar par excelenciao~d~ se trocam as inforrnacoes e as ideias que estao em concor-rencia, 0 Ingar do vi rtual, do futuro.

    .Mas os neg6cios sao tambern 0 lugar da realidade, onde des-c~bn~os se as coi sas func ionam verdade iramente. Os negociosnao sao recortados por disciplinas, sao os neg6cios la onde apsicologia e a Iisica nao se di st inguem. Nas universidades c lassi-cas, a conhecimento e frequentemente rnutilado p ''''.: ". orque e teo-IlCO .., desorganizado pela separacao das disciplinas. Ensina-sefrequentemente 0 que as co i sas deveriam ser. Nos neg6cios, emcontrapar tida, ass im como na ciencia verdadeira, depararno-noscom a realidade tal qual ela e , experimentamos. E desse deparar-se c?m urn rea l Integra l que nascem as ideias, todas as verdade i-ras ideias. As ideias que estao ern concorrencia no mercado. Osobjetos sao ideias. As ferramentas sao ideias Os p di. ,. . . race imentossao ideias. Os services sao ideias. Os textos sao ideias, As obrasde arte sao ideias. Foi preciso pensar ne las! Tudo 0 que habita 0mundo h~mano nao existe senao porque prirne iro foi pensado.. .A MIcrosoft, que representa 0 software, engol iu a IBM, quesignifica 0 hardware". A AOL, que absorveu a Netscape, depois

    A< 0 autor se vale aqui da oposicao entre logiciel (de logos), que em~,rances designa 0 software, e materiel, que significa tanto hardware comomater ia l" . [N. dos T.]

    A economia virtual 87

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    21/38

    tanto, a universidade esta, em grande medida, na origem da si-tuacao que a leva, hoje, a enfrentar dolorosas transforrnacoes, ase orientar para e dentro do mercado.

    A concorrencia e 0 tema capital em torno do qual se ordenao destino contemporaneo das universidades. Os estudantes sao,ao mesmo tempo, a materia-prim.a a ser transform ada e os clien-tes das universidades. Esses estudantes podem, a partir de agora,aprender em outro lugar. Nas outras universidades, nas universi-dades das empresas, nas empresas que se torn am universidades,encontrando seu mercado no ciberespaco, onde a oferta on linede produtos de formacao se faz cad a dia mais variada, mais pre-eisa, mais organizada. Quanto a pesquisa e ao desenvolvimento,os consumidores de conhecimentos e de ideias podem encomen-dar estudos ou uma formacao de nivel bastante alto as firrnasespecializadas ou as grandes empresas privada~ da indus.tr ia dosaber. De faro, e hoje a experiencia e a reputacao de equipes oude personalidades de certos dominies que primeiro co_ntam nomercado, mais do que a natureza juridica da orgaruzacao a qualpertencem, sejam eles de universidades classicas, escritorios de con-sultoria privados (os think tanks) ou multinacionais. Logo 0 mes-mo acontecera com os cursos e osprodutos de formacao. A forma-~ao para os quadros superiores faz apelo aos melhores espe.cialistasmundiais, seja qual for ~u estatuto profissional exato, seJ3~ el~sou nao professores ti tulados. Urn curso concebido par um prermoNobel de fisica e disponivel on line sera preferido pelos estudan-tes do mundo inteiro a urn curso de fisica preparado f?r urn ho-nesto professor da universidade local mais proxima. E provavelque 0professor universitario conheca rapidamente a ~e.sma muta-~ao que a rmisica, depois da invencao do dISCOe do radio. Os can-tores planetarios, visando segmentos determinados de gostos e Ida-des no conjunto da populacao mundial, sucederam em menos deurn seculo aos cantores locais servindo a total idade da populacaoa parti r de uma estreita zona geografica e cultural. Globalmente,no mundo contemporiineo, existe urn niimero de canrores muitomenor do que antigamente, mas sao os melhores, os mais espeta-

    84 A conexao planetaria

    culares, aqueles que oferecem uma voz e urn SOmcapazes de des-pertar de maneira mais di re ta as emo~6es de seus publicos, Modu-los mult imfdias encapsulados pelas ernpresas de ensino se trans-mitirao de maneira interativa pelo ciberespac;o, de urn canto a ou-tro do planeta. Como no caso dos cantores, dos quais escutamossobretudo os discos, mas que corrernos para ver as apresenta~6es,a rela~ao direta com as grandes professores sera sempre requisi-tada. De modo equivalente ao que ocorre nas performances ao vivoda music a OUdo teatro, apressamo-nos para encontrar os starsdo conhecimento em seminarios e conferencias que ja sao bastanteconcorridos. 0 ensino (superior e media) se tamara urn neg6cio,assim como 0 show se tomou lim neg6cio. ]a se conhecem seusstars, suas modas; logo serao conhecidas tarifas e merodos de ofe-recimento de diplomas independentes dos Estados, que se apoia-rao inte iramente em reputac;oes no mercado mundial.

    Logo havera universidades e escolas mui tinacionais , Comoha empresas de relecomunica-;ao, de petr6Ieo, de alirnentos, gigan-tes da rnformat ica e grupos de comunica~ao mult inacionais. Ha-vera cada vez rnais concorrencia entre as universidades on line eas locais e, depois, entre as universidades on line quando l11uitasuniversldades locais serao obrigadas a fechar. As universidadesclassic as se enCOntl 'arao na situa~ao dos pequenos comerciantesdiante dos grandes magazines que oferecem mais op~oes pelo me-lhor preco e que tratarn seus cl ientes integrando-os em "clubes"abarrotados de vantagens. E igualmente possivel que as universi-dades planeUirias , depois de urna serie de aquisi~6es e fusoes, naosejam mais que quatro au cinco no mundo, como os grupos decomunica~ao, de autom6veis au de seguro. Podemos tambem su-por que as universidades transnacionais irao se especiaJizar se-gundo ternas (nao havera assirn mais que algumas grandes uni-versidades no mundo para a ffsica, a medicina , a administra~aoetc.). Certas universidacles on line, talvez adquiridas por grandesempresas da industr ia da inforrnacao e das ideias, conseguiraoatrair os melhores professores, os prernios Nobel, as vedetes. Elasautomat izari' io seus sistemas de avaliacao , encontrarao formas de

    A econornia virtual85

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    22/38

    preciso que baja 0 luxo. POt meio do luxo, os rices subvencio-nam as primeiras producoes daquilo que se tornara, alguns anosmais tarde, acessivel a rodos: carros, avioes, com.putadores, pis-cinas nos jardins ... ) . 0 dinheiro mede a potencia da ideias quese confrontam com urna realidade nao recortada em discipl inas.o dinheiro se torna uma unidade de medida epistemologica.Hoje, nas universidades norte-americanas, os profess ores maisprestigiosos, e que atraem a maioria dos estudantes, sao aquelesque conseguem obter as maiores subvencoes, as soliciracoes maissubstanciais. E preciso ter esse raciocinio indissoluvelmente eco-nornico e episternologico ate 0 fim: 0 maximo de dinheiro f ob-tido no mercado, e nao em outre lugar, porque f ai que 0 dinhei-tomede rnais exatamente a forca das ideias e dos grupos de ideiasque se defrontam com uma realidade nao separada em discipli-nas ou ministerios, E ai, no mercado mais vi rtual , mats especula-tivo, que se mede melhor a forca das ideias que ultrapassam asoutras e anunciam 0 futuro.

    As universidades demandam cada vez mais que seus labo-ratorios se autofinanciem com 0 lucro de suas propriedades inte-lecruais (certif icados, licencas, di re itos autorais) e , de fato, esselucro constitui uma porcao cada vez mais importante do orcarnen-to dos laboratories. Simetricamente, e de uma maneira claramenteconvergente, parece que, dos rendimentos das ernpresas que com-petem no mercado mundial, uma parte crescente provern de seuscertificados, de seus direitos autorais, conhecimentos que compra-mos delas, formacoes que elas oferecem, e uma capitalizacao acio-naria qu.e e apenas uma avaliacao feira pelo mercado da forca defuturo de suas ideias. Essa tendencia nao fara senao se acelerarnos an o s que se aproximam. Da mesma forma que as grandesempresas de economia de inforrnacao set ransformam em univer-sidades e cr iam seu proprio sistema de formacao, muitas empre-sas inovadoras da economia da inforrnacao sao 0 sp in o ff de gran-des universidades ou institutos de pesquisa ptiblicos, dirigidos porestudantes e orientados por professores interessados no capi ta l.As ernpresas em geral , publ icas ou privadas, tornarn-se produto-

    82 A conexao planetaria

    ras de conhecimento, i sto e, os rnotores que conduzern a socieda-de em direcao ao futuro. 0 conhecimento sustenta um forte sen-tido de futuro: ele 0 cria . Na economia da inforrnacao, 0 dinhei-ro recompensa a visao e a fabricacao do futuro. As sociedadesmelhor cotadas nas Balsas ja sao aquelas que produzem mais co-nhecimentos do que as outras ..Mais conhecimentos - ou maisacesso ao conhecimento - do que as universidades. Concorren-do no mercado do conhecimento, as gran des ernpresas da econo-mia da inforrnacao sao estranhas especies de universidades cota-das nas Balsas. Maquinas de produzir 0 futuro! biotecnologias,programas de cornputador, redes, imagens virtuais . 0 dinheiro easpirado pelo futuro. 0 dinheiro recompensa 0virtual. Olhem bempara onde ele corre. Logo, todos os ernpresarios estarao nos ne-gocios do conhecimento, no virtual, na preparacao do futuro.

    Simetricamente , todas as universidades esrao entrando nosnegocios e transformando-se em empresas. 0 principal motordessa transforrnacao e a entrada das universidades na concorrenriaplanetaria, provocada pela faci lidade dos transportes e , sobretu-do, pelo desenvolvimenro do ciberespaco.

    o DESTINO CONCORRENCIALpAS UNIVERSIDADES NA CIB~URAom- ~rerl'or~ente: as universidades uendem

    formacao e qualificaca oficial a um batalhao de estudantes, elas,vendem suas pesquisas a clientes privados ou a organism os de fi-nanciamenro publico. Diante da diminuicao das subvencoes pu-bl icas, as universidades dependerao cada vez mais de sua cliente-la e , assim, deverao tarnbem Ievar em consideracao, cada vez mais,as suas demandas. As exigencias dos estudantes dependem dademand a do mercado de trabalho, que e cada vez mais volatil emutante. Essa volat il idade se expl ica pela velocidade da renova-

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    23/38

    mente departamentos de pesquisa "cientffica", mas desenvolvemtarnbem pesquisa em marketing, gerenciamento, organizacao, fi-nancas etc. Estao, sem cessar, em pesquisa e em aprendizagem paracompreender, conceber, produzir, comunicar, vender e se associar,Finalmente, nas ernpresas mais avancadas, mars high-tech, maisvi rtuais, nas ernpresas de consultoria , prograrnacao ou de produ--;:aode jogos, sequer hi departarnentos de pesquisa e desenvolvi-mento - todo mundo faz pesquisa e desenvolvimento, todo mun-do se torna empresario no espaco do saber . As grandes empresase, cada vez mais, as pequenas, todas as ernpresas em cornpeticaono mercado de t rabalho mundial, qualquer que seja seu tamanho,deverao estar em pesquisa permanence, em autot ransformacao.Sao as famosas "organizacfies aprendizes". Quanta mais 0 mer-cado no qual elas disputarn e vasto e aberto, rnais elas se pare-cem com pequenas Republicas das letras. Inversamente, quantamais elas selocal izam em urn rnercado cativo , menos elas tern con-correncia emenos tern apetite para a inteligencia coletiva, E a com-peticao que torna as empresas inteligentes, que lhes faz utilizartodos os recursos do trabalho cooperative em rede, da engenha-ria simul tanea, da Int ranet e extra net, que as fazem capi ta lizar suamemoria de empresa e suas cornpetencias, que as faz vender econsumir cada vez mais informacoes e conhecirnentos,o mercado se equipou com infraestruturas da cornunicacaoe com modos de funcionamento da comunidade cient if ica porque,ele tambern, desde 0surgimento ciaeconomia da inforrnacao, naovisa senao a inteligencia coletiva. 0 Homo academicus e a Homoeconornicus se fundem no momenta em que a economia se tornavir tual, no instante historico em que 0 mereado se torn a urn lu-gar sem fronteiras de circulacao das noticias, de troea de inter-macoes e de cornpet icao das ideias.

    Quando 0 mercado se torn a uma inreligencia coletiva, osvendedores devem ter a espirito de cooperacao competitiva doscient is tas , devem adotar seu obsessive cuidado de honestidade,de originalidade, de citacao e de referencia (as hiperlinks, as cer-tificados, as copyrights, as rnarcas registradas). 0 lugar do mer-

    80 A conexao planetaria

    cad a e 0da enciclopedia viva seconfundem progressivamente nociberespaco,

    As MAQUINAS DE PRODUZIR 0 FUTIJRO,OU OS lOGOS DO DINHEIRO E DAS IDEIASPOt causa dessa convergencia, a comunidade cientifica e as

    universidades irao se tornar os lugares mais quentes da J6gica li-beral. 0 comercio se tornando universal, a universidade ira semisturar cada vez mais com a cornercio. Hoje, nos Estados Uni-dos - au seja, logo rnais em toda a parte -, as universidadesprivadas tern mais estudantes que as universidades publicas e in-dependentes. As proprias universidades piiblicas dependem, demaneira crescente , de sol ic itacoes da industria para sua pesquisae escutam cada vez mais atentamente as demandas do mercadono que diz respeito as forrnacoes. Pais as universidades se torn a-ram especies de fil tros que enriquecem e selecionarn 0 batalhaode jovens que entram no mercado, a rnercado de ernprego, a mer-cado de trabalho, 0 rnercado da in ic ia tiva e das ideias, "Facam-nos diplomados que tenham ideias - demanda 0mercado -, naopessoas que apliquem teorias, Pessoas criat ivas, por favor!" 0mercado se torna 0principal instigador da criatividade. E por isso,e sornente por isso, que ele se confunde com a inteligencia cole-tiva do proximo seculo e que foi provisor iamente escolhido pelaselecao cultural como 0modo de organizacao social mais eficaz ,l remos comecar a nos diverti r com 0 pensamento, num grande jogoem que sabernos que cada urn tenta pensar me1hor que as outros.

    Nesse jogo, as ideias e os talentos sao as sementes de espe-cies geneticarnenre modificadas que jogamos sobre a terra fertildo mercado, esperando colher 0 maximo de dinheiro. A apren-dizagem e urn investirnenro, a criatividade e urn investimenro, asrelacoes, os lacos, os acordos de cooperacao, as parcer ias sao in.vestimentos, 0dinheiro nao esta af senao para recornpensar osjogadores, as serneadores de ideias, as cultivadores de talentos,tudo 0 que fertiliza a inteligencia coletiva. 0 dinheiro nao e , emverdade, feito para ser gasto em sua totalidade (cer tamente, eA econornia virtual 8 1

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    24/38

    que concorrem entre si de forma cada vez mais viva no mercadomundial . Na econornia da inforrnacao, 0 mercado, cujo funcio-namento parece cada vez mais 0 de uma inte ligenc ia cole tiva emescala planetaria, torna-se a principal maquina para prcduzir etestar ideias. A medida que e les desabrocham no c iberespaco, 0Homo economicus e 0Homo academicus convergent em sua par-ticipacao cada vez mais consciente nos processos criadores dainteligencia coleti va.

    A COMUNlDADE CIENTiFICA PRESENTEIA AHUMANIDADE COM SUAINTELIGENCIA COLETIVAA comunidade cientifica e a p rirne ira comunidade vi rtual, aprimeira comunidade que se organizou numa in tel igencia colet i-

    va, sobre urna base independente das barreiras nacionais e reli-giosas, Algumas decadas depois da invencao da i rnprensa e no mo-mento em que a rede postal na Europa progressivamente se esta-be lecia , a "Republ ica das let ras" cornecava a t rocar ideias, colu-nas de ci fras, resu lt ados de experiencias, imagens e raciocinios.Desde 0 seculo XVI, a comunidade cientif ica aplicou-se em inven-tar e vivenciar uma maneira decriar sociabilidade, distanciada tan-to da fusao cornunitaria, ou da submissao a uma autoridade des-potica, quanto do individualismo indiferente aos outros. 0 pes-quisador cient ifi co se ap6ia nos conhecimentos j a exi sten tes, ci tat rabalhos de seus colegas, inse re- se comple tamente em urn co le-tivo ao qual ele se orgulha de pertencer. Mas de se apega a origi-nalidade, a novidade, a descoberta. E ele e perfeitarnente conscientede que, se nao conseguir suscitar 0 interesse dos outros pesquisa-dares, suas ideias nao te rao nenhum sucesso. 0 espaco intelec-tual aberro pela comunidade cientifica, todas as ideias estao emcornpeticao cooperativa para atrair 0 maximo de atencao. A ca-pacidade de interessar sem fazer apelo a argumentos de autori-dade, a forca au a meios des leais sao essenciais ao funcionarnen-to do meio cientif ico porque a propria [ inalidade desse meio Iiade [uncionar em inteligenaa coletiva. Onde se exercern a violen-c ia ,o poder a rbit rar io e a fr aude , a intel igencia colet iva decl ina .

    78 A conexao planetaria

    ao se desccbre mais nada. E par isso que, juntamente com a ori-ginal idade e a i rnag inacao, a honestidade e a abertura de espiri tosao virtudes capitals do cienrisra.

    Humanis tas, f i16sofos e cientis tas cornecam a edificar no se-culo XVI uma Republica das [etras que chega ao centro da cenapol iri ca na epoca das Luzes, Nessa Repub lica inventa-se a t ipo defunc ionamento soc ial mais proximo de urn idea l da cooperacaocompeti tiva. Essa mane ira origina l de cria r soc iabil idade, ja pla -netaria e vi rtua l- pai s se organiza pela ci rcu lacao a lem-fronrei -ras de publicacoes impressas -, ira produzir, em alguns seculos,mais conhecimentos objetivos do que a humanidade havia pro-duzido em varies milhares de anos. Associando-se ao mercado ,ela esteve na origem do imenso desenvolvimento tecn ico que co-nhecemos desde a revolucao industrial. Desde a seculo XVI, 0mimero de cientis tas, univers itar ios e estudanres aumentou de umarnaneira astron6mica e isso tanto mais rapido quanta mais nosaproximarnos do per iodo contemporaneo. Oferecendo a Internetao mundo, a comunidade cient ffica Ihe ofe rtou a in fraest ruturatecnica de uma intel igencia colet iva que e , sern diivida, sua maisbe la descoberta . Ela t ransmit iu assim para a resto da human ida-de sua melhor invencao, aquela de seu pr6prio modo de sociabi-lidade , de seu t ipo humane e de sua cornunicacao . Essa inte ligen-c ia co let iva refinada ha seculos e per fei tamen te encarnada pelocara te r l ivre , sem frontei ras, inte rconec tado, coopera tivo e com-pet it ivo da Web e das comunidades virtuais,

    Ora , ocorre progressivamente que , uma vez que 0 mercadoobtem seu melhor rendimento com os conhecimentos, a know-howe as ideias produzidas pela comunidade cientifica, as ernpresasse poem nao somente a investir em pesquisa, mas a imitar cadavez mais 0 funcionamento c ia comunidade cientffica.

    POR QUE AS EMPRESAS TORNAM-SE UNIVERSIDADESAsgrandes ernpresas tornam-se quase univers idades: etas tern

    coioquios , seminaries , oferecern uma formacao perrnanente, pro-metern 0 long life learning a seus funcionarios, Elas tern nao so-

    A econornia virtual 79

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    25/38

    todo mundo sinta claramente que nenhum julg!Df.Ilto dO_glercadoe definitive, que nenhuma posi

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    26/38

    ).dividual distri.buidOem massa, que te~de a maximiza', a longoprazo, uma funcao global de cooperacao social. .. Nao ha rnais "familia" nern "nacao " que sesustente: nos di-, vorciamos, emigramos, mudamos de regiao ou de ernpresa. Mui-tos laces sao rompidos, mas isso para que outras relacces maisflexiveis,com urn raio de acao rnais amplo, refacam-se mais adian-teoQuanto mais a circula~ao dos homens se acelera e se adensa,melhor setece 0 tecido global. Buscamos obstinadamente onrrnzarnossa situacao emlugar denos contentarmos com aquela que, poracaso nosso nascimento nos trouxe. Buscamos ser os artesaos de, . .nossa propria vida. E or erse uirmos' ,. Hteo&e c@ urn QQrconta propria, que ~lScriat ivos e solidInos. Els at 0 sentido profundo da arnpliacaoirreverslvel do mercado: cada um trabalha para otimizar sua si-tuacao coordenando-se com os outros. Os liberalismos econ6~i-cos e politicos, assim como a aspiracao pessoal pela reahzac;:ao,sao diferentes aspectos de uma unica arnpliacao da liberdade.

    A MORALIDADE CONDICIONA A PROSPERIDADEMas atencao: trata-se de respeitar as regras. As leis sao fei-

    tas para isso: sao as regras dessejogo em que cada urn tern 0 di-rei to de enriquecer, de rodas as formas de riqueza possiveis . Asleis nos coibern de uma vontade de enriquecer demasiadamentedesrespeitosa em relacao aos outros. Porque 0 outro, ele tambel~,deve poder enriquecer comprando rnais barato e vendendo marscaro. A nocao de mercado livre implica necessariamente essas leise essas regras, e legisladores, juizes e advogados rornam-se a~bi-tros e conselheiros cada vez mais necessarios. Eles adquirem im-portancia porque sao os especialistas nas regras do jogo. ? espi-rito dessas regras e simples: todo mundo deve dispor da [iberda-de de buscar inteligentemente seu interesse. Nenhuma pessoa fi -sica ou juridica deve ser vitirna de roubo, violencia ou siruacoesde l110nopolionas quais ela nao mais teria a possibilidade. de es-colher, de maximizar, ela tambern, seu ganho. Quanta mars hou-ver pessoas que sabotem e que ap6iem assim sua riqueza sobre

    74 A conexao planetaria

    urn poder ou uma rnentira - 0 que da no rnesmo -, menos po-deremos aumentar coletivamente 0 nivel da riqueza geral. A ins-tauracao efetiva do Iiberalisrno, que supoe urn estado muito avan-cado da etica e da espiritualidade de uma populacao, conduz efe-tivamente a urn aumento da riqueza geral .

    Ainda nao e todo mundo que joga exclusivarnente essejogo.Os habitantes do planetanao sao, cada urn deles, um Homo eco-nomicus que compra e vende de tudo. 111asessa pratica se espa-lha muito rapido. Ate na China, na Georgia, na Amazonia. A ten-dencia planetaria se desenha cIaramente. Quanto mais universalfor a pratica do comercio, rnais havera lubrificante no motor dosnegocios, menos havera confrontos (a violencia, 0 poder, a men-tira, 0crime) na sociedade e mais aurnentara a riqueza geral. Poistodo mundo trahalhara cooperativamenre e competitivamenteproduzindo "valor", valores em altas, de todas as rnaneiras pos-siveis. Essa inventividade distribuida e regulada por leis emil ve-zes mais eficaz que todas as economias planificadas. 0 governochines, que anunciava em 1999 rnilhi5esde dernissoes nas empre-saS do Esrado, queria, sem duvida, incitar seus ex-empregados acriar suas ernpresas. Ate que enfim!

    ESPECULAGAO E VIRTUAUDADE INDICAM"A ECONOMIA DO FUTURO"Escandalizamo-nos com a bolha financeira, que se infla ape-

    nas com a especulacao, que nao corresponde a nenhum "valorreal". A que gostariamos que correspondessem todos esses dola-res vir tuais? A toneladas de aco? A hectolitros de pesticidas? Abarris de petroleo] A bilhoes de cigarros? A canhoes? A rnisseis?Atemo-nos verdadeiramente a esse real? ~ jOgQsdo tempo, dai!'l:f5fffia~aO e d~eza (tres facetas diferentes das flutuacoes 'do devir) nao sao, no final das contas, rnais elegantes quando saoreduzidos a sua mais simples expressao? Afllal, a Bolsa e umjogomuito moral, pois ela recornpensa os que deram dinheiro a s em-presas julgadas pelo mercado como aquelas que prestam a socie-dade urn service melhor do que asoutras. A Bolsa flutua para que

    A econornia virtual 75

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    27/38

    v'"f)v'" '-'v.S'p,.~v(3uo. ,5ss.9u ~

    oiLl

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    28/38

    '"'"bJ).~

    e s'"0('ju

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    29/38

    cada vez mais, 0 ciberespaco, assim como a faci lidade dos t rans-portes e das cornunicacoes, perrni te aos planetarios mais coope-rativos, aqueles que tern mais ideias e coragern, reagrupar-se parafazer conjuntamente tarefas ou obras ou para trocar inforrnacoes,independentemente dos dimas geopoliticos aos quais eles estaosubmetidos,

    As nocoes um tanto rasas de "sociedade da informacao" oude "economia da inforrnacao " s6 se aproximam do ponto crucialsem toca-lo. E preciso exprimir a realidade conternporanea deoutra forma: a riqueza vern das ideias, e das ideias de exploracaodas ideias em l l i h meio humano favoravel a multiplicacao de ideias.~-a-za""- o-q-u-e-a-p-a-rt-::i-Cl~'p-a-

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    30/38

    ciberespaco e 0 meio mais favoravel, rna i s multiplicador do eloauto-sustentavel da invencao e de sua exploracao comercial._Q.iber~spa

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    31/38

    ,,_ ,Q)c :Q)

    ro; ::l~u. . . . ' ! : : :Q)ro ~.S

    '"u'" (IS0"'0c : B'")

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    32/38

    sos naturais foram, prime iramente, ideias, A energia eolica, porexemplo, foi descober ta pela vela e 0moinho de vento, a ele tr ic i-dade par Volta e seus sucessores, a petr6leo (isto e , sua significa-C;aoconternporanea) foi inventado pela industria quirnica etc. An-tes desses dispositivos tecnicos, 0 vento nao era urna energia dispo-nivel, a elet ric idade nao entrava no universe prat ico dos humanose 0 petr6leo nao era senao um liquido nauseante de utilizacoesconcretas limitadas. Todas as riguezas vern da pesquisa, do espi-rito, do virtual. A ri~eza potencial e infinita porque 0 espac;o das~nc;6es possi~is e - eie tambem 1ll~ Nao ha escassez'economica senao numa escala espac;o-temporal restr ita. A longo~azo, 0 leque de riquezas se amplia cada vez mais rapida~Nao surgem somente ldeias prirnarias, "fundamentals", masrarnbem ideias secundarias de exploracao das primeiras, depoisideias rerciarias de exploracao das segundas, e assim sucessiva-mente. A criacao de ideias e um processo fractal que se reproduzpar toda parte, constantemente, em todas as escalas da pesquisa,da concepcao, da prcducao, da venda, do consumo e do uso. Asideias (eas inovacoes) surgem em cada etapa da cadeia econorni -ca, ate e inclusive a ultima, aquela do uso pelo consumidor final,quase sempre criativo, que alimenta, em resposta, as outras cria-c;6es.A inteligencia coletiva e constantemente mobilizada ao longode uma cadeia indissoluvelmente economica, intelectual e afet ival \ .(0 "desejo").Certas ideias concernentes a melhOl'ia e a aceleracdo do pro-1.cesso cognitivo levam ~s inuencoes. C?'temos prmCl~e~te: a ~-

    /~rita, a imprensa, os sistemas dereglstro e de classificacao de 1 1 1 -formacoes, os modos de representacao visual (a perspect iva, a fo-to , os graficos, as curvas etc.); as concernentes a percepcao (ins-trumentos de rnedida e de deteccao de todos os tipos) e a memo-ria (procedimentos rnnemotecnicos das bibliotecas e enciclopediasate a Internet, passando por todas as formas de registro sonoroe visual ); as tecnicas organizacionais ou pol it icas que melhorama seguranca e a qualidade da cornunicacao; 0 estabelecimento deredes em que circularn de maneira estavel as representacoes e os

    62 A conexao planetar ia

    dados; as tecnicas e instrumentos de sintese de inforrnacoes e cal-culos a parti r de dados (as formulas maternaticas, as esta ti sticas,os computadores, os programas que propoern sinteses visuaisinterat ivas de dados rnuito numerosos). Todas essas tecnicas, to-dos esses_procedimentos aceleram os processos de intel igenciacoletiua.r J \ Outras ideias concernem aos processos de explora~ao eco-1omica das i~cessano, aqui, IlStar tudo 0 que contribuiupara tornar Huida; e virtualizar as transacoes econornicas. Amoeda, a banco, as letras de cambio, a moeda fiduciaria, os che-q ues, os canoes de credito, os depositos eletronicos, a ciber-moeda, mas tarnbem as formas aperfeicoadas de contabi lidade,as sociedades anonimas, a Bolsa, os instrumenros fjnanceiros ca-da vez mais virtuais (mercado de futures, opcoes etc.) inventa-dos nas ultirnas decadas do seculo xx. Acrescentemos a isso 0marketing, a publicidade e as continuas inovac;6es nos metod osde venda e cornercializacao,

    As ideias que concernem a melhoria e it aceleracao do pro-cesso cognitive coletivo que levarn a s invencoes e as que ....oncernemaos process os de exploracao economics das ideias sao multipli-cadoras e se potencializam mutuarnente. 0 ciberespaco, espacode comunicacao e de transacao aberto pe1a interconexao mundialdos computadores, e 0 ponto virtual em que Esses dais tipos deideias multiplicadoras se unem para compor umiinico meio noqual 0 processo de producao dessas ideias se auto-aliments numritrno cada vez rnais rapido.

    A economia nao e a "base material" da sociedade. Nao ha"base material", mas, antes, uma "base espiritual", se e que essaexpressao tern sentido numa configuracao em que a base nao sus-tenta nenhum apice. Pois tudo vem do espirito colerivo da huma-nidade e se materializa ao longo de urn processo social de expan-sao e de complexificacjo progressiva de urn rnundo onde a iner-cia e a resistencia do marerializado servem, ao mesmo tempo, deponto de apoio e de obstaculo para 0prosseguimento do proces-so de producao de ideias.

    A e co no m ia v ir tu al 63

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    33/38

    uma especie de econornia de mercado ampliada. Sirnetr icamente,essa nova economia de rnercado funda-se progressivarnente nainteli' encia coletiva.

    3) no ciberespaco que se entrelaca, ja hoje, a convergen-cia p gressiva de urn mercado que se liberta e se virtualiza, deurn lado, e 0 processo de intel igencia colet iva e de crescirnentodinamico do saber que caracteriza a especie hurnana, de outro .. ~ ponto de juncao entre a economia e a inteligencia, 0

    centro secreto da sociedade humana do futuro e provavelmentea capac idade de escuta e de manipulacao da consc iencia cole tivaque flutua nos milhoes de canais do ciberespaco. 0 ponto essen-cial e que essa propria rnanipulacao se most ra comandada pelospasseios da atencao e da in tel igenc ia colet iva fracta l, que a publ i-cidade na Web e 0 marke ting on line tentam captar e cornpreen-der par todos os meios. Esse novo market ing pode ser caracteri -zado como 0 processo de criacao de interfaces dinamico e circular,por meio do qual a consciencia coletiva toma consciencia de 5 1 ese manipula. Quem acreditaria que 0 pensamento, pensando a simesmo, primeiro motor da rnetafisica em Aristoteles, au 0 espi-rito absoluto tomando consciencia de sua liberdade em Hegelto rnariam essa forma? Mas e ass im. As ins ti tuicoes, os Estados,os par tidos, as adminis tracoes publicas, as univers iclades, os rnu-seus, as empresas, as assoc iacoes, as grupos de inte resses, os in-dividuos, todos aqueles que negligenciarem os estudos das rnelho-res mane iras de se inse rir nos processes de inte ligenc ia coletiva ede dist ribuicao da atencao que estao em jogo em urn c iberespacoplanetario nao poderao mais pretender desernpenhar urn papelimportante no mundo que vira,

    FUNDAMENTOS DA ECONOMIA DAS IDEIAS, . . Q : : f l ! : ! : t . r a rigueza? Espa~o de consciencia convenientemen-

    te explorado. Segundo esse ponto de v ista , 0 processo de criacao~---da riqueza compreende tIes p610s dinamicos relacionados: 0 p6106 0 A co n e xa o p l an e ta r ia

    dalnven~ao, 0 polo da exploracao ou dajradw;;ao economica dai~el1ao, 0 p610 do meio favoravel a inven~ao e a sua exploracaoeconomica. Anal isemos agora esses tres polos e suas intera~oes.

    Os TRE S r 6LOs DADINAMICA DE GERA

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    34/38

    , < l.Io '"_ , ,0. . . ojEBo

    '"'"_ ,o-0-0

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    35/38

    "'~

  • 8/6/2019 economia virtual_pierre lvy0001

    36/38

    pole mundial, a c idade dos humanos. Fernand Braude! rnost roucomo 0 capitali smo, esse movimento de troca e acumula~ao queinterconecta 0 conjunto da humanidade em uma rede de laceseconornicos cada vez mais densa, foi centra do desde seu desen-volvirnento em algumas grandes cidades. Genova e Veneza noRenascimento, Amsterda no seculo XVII, Londres nos seculosXVIII e XIX, Nova York no seculo XX. Neste inicio do seculoXXI, 0centro se tornou vir tual .o centro nao irradia de parte alguma num ciberespaco quelogo reagrupara a grande maioria dos humanos e que far a explo-dir as barreiras dos Estados como fogos de palha. Os que naopart iciparem dos programas de competi~ao cooperat iva, de t ro-ca e de inte ligencia cole tiva di st ribuidos no ciberespaco serao os"camponeses" da nova era. Aqueles que habitarao 0 "campo" ':.em vez de habi tar a c idade planetaria .

    o MERCADO PLANETARIOE A U N IF IC A< ;: AO D A H U MA NI DA DEOS home