economia das trocas simbólicas - parte ii (mercado e poder simbólico)
TRANSCRIPT
ECONOMIA DAS TROCAS SIMBÓLICASPierre Bourdieu
Mercado SimbólicoPoder Simbólico
O que falar,Com quem
falar,Em que
momento,De que forma, sobre o quê
O Discurso é o encontro entre um habitus lingüístico e um mercado (um sistema de formação de preços, sujeito a
concorrências, monopólios, etc.)
Quando falamos, produzimos um produto que não está sujeito apenas à Interpretação, mas,
também, a Avaliação
Atos de Fala
Poder simbólico Doxa
Falar pressupõe uma Competência Técnica e
uma Competência SocialKAIRÓS: Senso
de Oportunidade
+Senso de
Aceitabilidade
Doxa
O grande segredo da eficácia simbólica do discurso está no
fato de funcionar como doxa, isto é, como uma verdade evidente e por parecer razoável
sem ter a razão como princípio. É no universo produzido pela doxa que o sentido do mundo
ganha força e é nessa condição que as disposições (habitus) são produzidas.
Marcel Mauss. Antropologia e Sociologia
Economia das trocas lingüísticas - Bourdieu
Em outros termos, os discursos não são apenas (a não ser excepcionalmente) signos destinados a
serem compreendidos, decifrados; são
também signos de riqueza a serem avaliados,
apreciados, e signos de autoridade a serem acreditados e obedecidos.
• Quando falamos, produzimos um produto, um produto que, em certo
aspecto, é um produto como outro qualquer, portanto, destinado a estar sujeito não
só à interpretação, mas também à avaliação. (...)
Mercados Simbólicos
• [Uma ciência de um discurso](...) deve levar em conta as leis de formação de preços
características do mercado em questão, ou em outros termos, as leis capazes de definir as condições
sociais da aceitabilidade (...)
• as condições de recepção antecipadas fazem parte das condições de produção, e a antecipação das sanções
do mercado contribui para determinar a produção do discurso.
Senso de oportunidade
• Diziam os sofistas que o importante no aprendizado da linguagem é o aprendizado do
momento oportuno (kairós), do sentido oportuno; que pouco importa o
que se diz senão for dito oportunamente. (...) Essa competência é o conhecimento da
situação (...)
• (...) a eficácia de um discurso, o poder de convencimento que lhe é reconhecido,
depende da pronúncia (e secundariamente do vocabulário) daquele que
o pronuncia, ou seja, através desse índice particularmente seguro da competência
estatutária, da autoridade do locutor (...)
O porta-voz
O porta-voz é aquele que, ao falar de um grupo, ao falar em lugar de um grupo, põe,
sub-repticiamente, a existência do grupo em questão, institui este grupo, pela
operação de magia que é inerente a todo o ato de nomeação.”
• (...) destinado a atestar o domínio do orador e a conquistar para ele o reconhecimento do
grupo (tal lógica se faz presente na retórica popular do insulto, o qual procura através
do exagero expressionista e da deformação regrada das fórmulas
rituais a realização expressiva em condições de permitir ‘ganhar a simpatia dos que riem’)
• O poder simbólico é um poder (econômico, político, cultural ou outro)
que está em condições de se fazer reconhecer, de obter reconhecimento(...)
• exerce-se não no plano da força física, mas sim no plano do sentido e do
conhecimento.
• Na realidade, as palavras exercem um poder tipicamente mágico; fazem ver, fazem crer, fazem agir.
• Mas como no caso da magia, é preciso perguntar-se
onde reside o princípio dessa ação ou, mais
exatamente,quais são as condições sociais que tornam possível a eficácia mágica das palavras
“O poder das palavras só se exerce sobre aqueles que estão dispostos a ouvi-las e a escutá-las, em suma, a
crer nelas.”
Pierre Bourdieu. O campo econômico
• os agentes sociais e os próprios dominados estão unidos ao mundo social (até mesmo ao mais repugnante e
revoltante) por uma relação de cumplicidade padecida que faz com que certos aspectos deste mundo estejam sempre além ou aquém do questionamento
crítico.
“O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa como uma força que diz não, mas que de fato
ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso.
Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social
muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir.”
M.Foucault, Microfísica do poder
Agenda-Setting e
Enquadramento (framing)
... a literatura do agenda-setting abarca a pesquisa de três componentes que constituem o processo do
agenda-setting.
Esses três componentes são os estudos da agenda midiática (media agenda-setting), definidos
como os estudos do conteúdo dos media,
Nelson Traquina. O paradigma do Agenda-setting p. 193-194
os estudos de agenda pública (public agenda-setting), definidos
como os estudos que conceptualizam a relativa importância dos diversos acontecimentos e assuntos
por parte dos membros do público
Nelson Traquina. O paradigma do Agenda-setting p. 193-194
e os estudos sobre a agenda da política governamental
(policy agenda-setting), definido como o estudo da
agenda das entidades governamentais.
Nelson Traquina. O paradigma do Agenda-setting p. 193-194
Os mais recentes estudos sobre o
agendamento têm concluído que a mídia não tem apenas o poder de nos oferecer o leque de assuntos pelos
quais iremos nos preocupar e conversar. Além de estabelecer esta agenda interpessoal,
os meios de comunicação também teriam o poder de nos dizer como devemos pensar os temas existentes na
agenda da mídia. Os pesquisadores têm explicado isso através do conceito do
framing, ou enquadramento.
Leandro Colling. Agenda-setting e framing p.94
Nelson Traquina. O paradigma do Agenda-setting p. 202
“Ao se referir aos frames nas notícias políticas ,
Entman lembra que os políticos são obrigados a competir com outros políticos e com os
jornalistas para criar novos enquadramentos”
Leandro Colling. Agenda-setting e framing
“Produzir um enquadramento é selecionar alguns aspectos da realidade percebida e dar
a eles um destaque maior no texto comunicativo, gerando interpretação,
avaliação moral e/ou tratamento recomendado para o item descrito.”
Leandro Colling. Agenda-setting e framing
“...é preciso ir em busca da definição do problema apresentado, verificando se é político ou
econômico, por exemplo. Verificar se há ou não personalização do problema
(...)
Leandro Colling. Agenda-setting e framing p.95
...é necessário identificar as causas do problema apresentado na reportagem, quais são seus
atores, a quem está sendo creditada a solução deste problema e, afinal, é possível identificar a
avaliação moral do problema, se o momento crítico é positivo ou negativo”
Leandro Colling. Agenda-setting e framing p.95
Democracia Deliberação
Esfera Pública
“É possível distinguir entre duas concepções de publicidade.
Num sentido fraco, a publicidade refere-se à visibilidade, exposição social de fenômenos, intenções,
planos e atualidades que se oferecem ao conhecimento de todos (em oposição ao segredo)...
Rousiley Maia. Dos dilemas da visibilidade midiática para a deliberação pública p. 3
... Num sentido forte, a noção de publicidade vai além da exposição das posições ao conhecimento comum e
diz respeito às normas que regulam o diálogo e a negociação dos entendimentos em público
(enquanto juízo público).”
Rousiley Maia. Dos dilemas da visibilidade midiática para a deliberação pública p. 3
“A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de conteúdos, tomadas de posição e opiniões; nela os fluxos
comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas
em temas específicos (Habermas, 1997, p. 92).”
Esfera pública é caracterizada como o locus da comunicação, os espaços nos quais as pessoas discutem
questões de interesse comum, formam opiniões ou planejam a ação.
Ela representa uma rede super-complexa que se
ramifica espacialmente num sem número de arenas internacionais, nacionais, regionais, comunais e subculturais, que se sobrepõem
umas às outras...
... essa rede se articula objetivamente de acordo com os pontos de vista funcionais, temas, círculos políticos,
assumindo a forma de esferas públicas mais ou menos especializadas, porém ainda assim acessível a leigos (…)”
Habermas – Direito e Democracia -1997, p. 107
“Em segundo lugar, é preciso levar em consideração
que, para fortalecer a democracia, são necessárias não apenas estruturas comunicacionais eficientes, ou
instituições propícias à participação, mas também devem estar presentes a motivação correta, o
interesse e a disponibilidade dos próprios cidadãos para se engajar em debates.”
Rousiley Maia. Democracia e a internet como esfera pública virtual p. 2
“Em sociedades complexas, a esfera pública forma uma estrutura intermediária entre o sistema político, de um lado, e os setores privados do
mundo da vida e sistemas de ação especializados em termos de funções, de outro
lado.”
“Colocar a questão simplesmente nos termos se ‘a internet é um instrumento de
democratização’ pode levar a diversos equívocos.”
Rousiley Maia. Democracia e a internet como esfera pública virtual p. 2
“A prática argumentativa, o dizer e contra-dizer
com vistas a resolver discursivamente (“por razões”) impasses ou diferenças de pontos de vista, é relativamente reduzida se comparada
com outras modalidades de comunicação nesses grupos.
Em primeiro lugar, se as novas tecnologias podem proporcionar um ideal para a comunicação
democrática, oferecendo novas possibilidades para a participação descentralizada, elas podem, também,
sustentar formas extremas de centralização de poder.
No mercado, empresas de larga escala e provedores disputam o controle desses meios, e vendem
serviços e produtos num mundo virtual rápido, quase sem fronteiras
(Malina, 1999, p.24; Moore, 1999, pp. 42-4)
“Há pouca evidência de que o acesso mais
amplo às tecnologias irá, por si só e sem mais, expandir o interesse pelas questões políticas simplesmente porque uma parcela maior do
público tem chances de participar.”
Rousiley Maia. Democracia e a internet como esfera pública virtual p. 6
“Além disso, dada a utilização da internet por grupos da sociedade civil, não se pode estabelecer
antecipadamente os propósitos políticos da mobilização.
A internet, apesar das possibilidades para uma comunicação mais horizontal e de favorecer os
alegados ‘efeitos desinibidores’, pode ser utilizada de forma altamente hierárquica, reproduzindo padrões autoritários de comunicação de grupos
sectários e xenofobistas.”
Rousiley Maia. Democracia e a internet como esfera pública virtual p. 9
“As tecnologias da informação e da comunicação facilitam o armazenamento e a circulação dos
estoques informativos, agilizam as buscas, tornam a vida mais veloz.
Contudo, não determinam o procedimento da interação comunicativa e nem garantem a reflexão
crítico-racional. Além disso, dada a utilização da internet por grupos da sociedade civil”
Rousiley Maia. Democracia e a internet como esfera pública virtual p. 9