ecologia e gestão de albufeiras

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS CAPÍTULO 3 – ECOLOGIA E GESTÃO DE ALBUFEIRAS 1. INTRODUÇÃO Por limnologia designa-se o estudo das relações funcionais e da produtividade das comunidades biológicas existentes em águas doces, reguladas pela dinâmica dos factores do seu ambiente físico, químico e biológico (WETZEL, 1983). A limnologia enquanto área científica autónoma emergiu no início do século XX, nos lagos temperados da Europa e América do Norte, à medida que se tornou óbvia a importância das águas doces como suporte de sistemas ecológicos complexos e específicos e a necessidade de os gerir face às alterações ecológicas que evidenciavam e que tinham origem em actividades humanas. Contudo em Portugal, os fundamentos teóricos da limnologia são ainda pouco aplicados. As águas doces podem dividir-se em dois tipos ecológicos fundamentais, um que apresenta um fluxo unidireccional temporário ou permanente de água e de materiais orgânicos ou inorgânicos, suspensos ou dissolvidos (rios, valas e canais), correspondente às águas lóticas, e um que não apresenta movimentos unidireccionais significativos (lagos, lagoas e albufeiras), correspondente às águas lênticas. Estes dois grupos apresentam características ecológicas distintas e a sua gestão ecológica necessita do conhecimento do seu funcionamento. Os animais e plantas aquáticos não existem isolados do ambiente abiótico e biótico que os rodeia, mas num equilíbrio dinâmico com este, que é função de factores hidráulicos, físicos, químicos e biológicos. Nesse sentido, evitou-se a descrição exaustiva das formas biológicas ou de conceitos ecológicos generalistas, optando-se por desenvolver aspectos limnológicos relacionados com aqueles factores, ou seja, o cenário no qual se inserem as comunidades biológicas e a partir do qual se pode interpretar a sua estrutura evolução e comportamento, pese embora a forma mais complexa e especializada do texto resultante. Esta abordagem pareceu mais adequada ao objectivo de proporcionar formação para a gestão ecológica de albufeiras. Maria Teresa Ferreira, Departamento de Engenharia Florestal do Instituto Superior de Agronomia. Texto extraído e adaptado de Ferreira (2000). 78

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

CAPÍTULO 3 – ECOLOGIA E GESTÃO DE ALBUFEIRAS♣

1. INTRODUÇÃO

Por limnologia designa-se o estudo das relações funcionais e da produtividade das

comunidades biológicas existentes em águas doces, reguladas pela dinâmica dos factores

do seu ambiente físico, químico e biológico (WETZEL, 1983). A limnologia enquanto área

científica autónoma emergiu no início do século XX, nos lagos temperados da Europa e

América do Norte, à medida que se tornou óbvia a importância das águas doces como

suporte de sistemas ecológicos complexos e específicos e a necessidade de os gerir face às

alterações ecológicas que evidenciavam e que tinham origem em actividades humanas.

Contudo em Portugal, os fundamentos teóricos da limnologia são ainda pouco aplicados.

As águas doces podem dividir-se em dois tipos ecológicos fundamentais, um que

apresenta um fluxo unidireccional temporário ou permanente de água e de materiais

orgânicos ou inorgânicos, suspensos ou dissolvidos (rios, valas e canais), correspondente

às águas lóticas, e um que não apresenta movimentos unidireccionais significativos (lagos,

lagoas e albufeiras), correspondente às águas lênticas. Estes dois grupos apresentam

características ecológicas distintas e a sua gestão ecológica necessita do conhecimento do

seu funcionamento.

Os animais e plantas aquáticos não existem isolados do ambiente abiótico e biótico

que os rodeia, mas num equilíbrio dinâmico com este, que é função de factores

hidráulicos, físicos, químicos e biológicos. Nesse sentido, evitou-se a descrição exaustiva

das formas biológicas ou de conceitos ecológicos generalistas, optando-se por desenvolver

aspectos limnológicos relacionados com aqueles factores, ou seja, o cenário no qual se

inserem as comunidades biológicas e a partir do qual se pode interpretar a sua estrutura

evolução e comportamento, pese embora a forma mais complexa e especializada do texto

resultante. Esta abordagem pareceu mais adequada ao objectivo de proporcionar formação

para a gestão ecológica de albufeiras.

♣ Maria Teresa Ferreira, Departamento de Engenharia Florestal do Instituto Superior de Agronomia. Texto extraído e adaptado de Ferreira (2000).

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

2. DINÂMICA TÉRMICA E ESTRUTURA VERTICAL DE ÁGUAS LÊNTICAS

O espectro térmico de cada massa de água lêntica e suas variações sazonais

determinam o espectro de tipos biológicos aquáticos aí existentes e respectivo

funcionamento ecológico. Um dos aspectos mais importantes da ecologia lêntica é a

estruturação vertical das suas comunidades biológicas, que é função de processos físicos e

químicos ocorrentes na massa de água.

Em zonas temperadas, a temperatura varia em profundidade sazonalmente

estabelecendo-se uma estratificação vertical. Durante a Primavera, as águas superficiais

das massas de água são aquecidas mais depressa do que se faz a distribuição térmica ao

longo da coluna de água, formando-se três estratos resistentes à mistura (estratificação

estival): uma zona superior mais quente, menos densa e viscosa, uniformemente aquecida,

chamada epilímnio; uma zona inferior mais fria, mais densa e viscosa, relativamente

inalterada, chamada hipolímnio; e uma zona intermédia de forte descontinuidade térmica,

chamada metalímnio, onde a cota a que ocorre a taxa máxima de descida de temperatura se

inclui e que é designado por termoclíneo. Porém, se a profundidade não for suficiente

(inferior a 5 m) ou e/ou existir acentuada turbulência, a estratificação torna-se muito

instável e tende a romper-se frequentemente, como acontece na albufeira do Rio da Mula

(Sintra).

No fim do Verão e no Outono, a descida de temperatura do ar tem como

consequência uma perda de calor pelo massa de água, superior à entrada de radiação solar.

A água da superfície vai sendo misturada por uma combinação de correntes de convexão e

circulação epilimnética induzida pelo vento, verificando-se uma erosão progressiva do

metalímnio, até todo o volume de água estar incluído na circulação outonal, apresentando

toda a coluna de água a mesma temperatura. À medida que o Inverno progride, a

temperatura do ar diminui tal como a temperatura da água à superfície, até atingir valores

próximos do correspondente à densidade máxima desta (4ºC). Forma-se então uma camada

de gelo à superfície, que isola a massa de água dos efeitos do vento, com perda de calor da

camada de água imediatamente adjacente ao gelo, que se torna mais fria, mais densa e

viscosa, do que a zona em profundidade (estratificação invernal). O aumento da

temperatura na Primavera derrete rapidamente o gelo, dando origem a uma circulação

primaveril. Contudo em zonas temperadas quentes, a temperatura das massas de água no

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Inverno não desce abaixo dos 4ºC, pelo que a circulação se mantém todo o Inverno e a

estratificação todo o Verão, um padrão designado por estratificação monomítica quente. É

o que acontece em praticamente todas as albufeiras ibéricas.

A Figura 3.1 ilustra a evolução térmica típica numa albufeira da Península Ibérica,

Aracena, na bacia do Guadalquivir (TOJA, 1984). A estratificação estival começa a

formar-se em Março, permanecendo até Setembro. O epilímnio encontra-se a 29ºC à

superfície no Verão e o hipolímnio a 16ºC. O metalímnio forma-se entre 5 e 10 m e a

circulação de Inverno mantém-se entre Outubro e Fevereiro.

Figura 3.1 – Evolução térmica anual e em profundidade na albufeira de Aracena, Guadalquivir

(extraída de TOJA, 1984).

Em zonas temperadas, os valores de oxigénio dissolvido (DO) estão também

distribuídos de forma heterogénea em profundidade. O DO é necessário para a respiração

da maior parte dos organismos consumidores, como os peixes e os invertebrados, e é

produzido pelos organismos fotossintéticos, que são as algas e as plantas. Componentes

químicos da água, como o DO, o dióxido de carbono e os nutrientes principais – fósforo e

azoto – são ditos de proporcionalidade variável porque, para além de dependerem das

características geológicas e hidrodinâmicas da massa de água, são profundamente

condicionados pela actividade biológica.

O teor em nutrientes especialmente de fósforo, determina a produção primária, ou

seja, a quantidade de material biológico produzido na massa de água através da

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fotossíntese pelas algas e plantas, para um dado período e por volume ou área. Quanto

mais produção primária ocorrer (à superfície, onde há luz), maior é a produção de

oxigénio, mas também maior a quantidade de matéria orgânica que se acumula no fundo e

maior o consumo de oxigénio em profundidade.

Em massas de águas com poucos nutrientes (oligotróficas) e durante a estratificação

estival, a concentração de DO no epilímnio é relativamente baixa, porque a produção

primária é também baixa. Embora este material biológico sedimente e se decomponha em

profundidade, consumindo oxigénio, o hipolímnio mantém níveis elevados de DO, que não

são esgotados.

Em massas de água com elevado teor de nutrientes (eutróficas), a produção primária

no epilímnio é muito elevada, com grande produção de DO. Esta biomassa biológica vai

sedimentar nas camadas profundas hipolimnéticas, onde entra em decomposição esgotando

o DO nelas existente – Fig. 3.2. Por isso, em massas de água eutróficas, os peixes

concentram-se nas zonas superficiais durante o Verão, visto que no hipolímnio não há

oxigénio para respirarem. Quando a circulação de Outono é muito rápida e promove a

desoxigenação de toda a massa de água, pode verificar-se grande mortalidade das

populações piscícolas, como já sucedeu nas albufeiras de Magos e do Divor.

São as formas inorgânicas dissolvidas (e logo biologicamente absorvíveis) dos

principais nutrientes - nitratos e fosfatos - que determinam a biomassa que pode ser

produzida. Contudo, a produtividade da água não se mede pelas suas formas dissolvidas (e

directamente acessíveis às algas) mas pela quantidade total de azoto e fósforo em volume,

ou seja, a soma do que está na água com o que se encontra no corpo dos organismos. Num

massa de água eutrófica, é vulgar encontrar-se muito pouco fosfato no epilímnio, por este

composto está incorporado nas algas – Fig. 3.2 – enquanto no hipolímnio, as suas

concentrações aumentam em conjunto com as do fósforo total, à medida que a biomassa

produzida nas camadas superiores sedimenta e se decompõe. Também as concentrações de

azoto amoniacal aumentam muito em profundidade.

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Figura 3.2 – Distribuição vertical do oxigénio dissolvido (DO), dos nitratos e dos fosfatos em massa de águas oligotróficas (em cima) e eutróficas (em baixo), durante a estratificação

estival (adaptada de WETZEL, 1983).

Uma exaustiva e excelente revisão do processo de estratificação térmica e de

dinâmica dos nutrientes em meio aquático pode ser consultada no clássico livro Limnology

de WETZEL (1983). Este tema pode também ser consultado nos manuais universitários de

FERREIRA (1986) e de CORTES et al. (1991).

3. ORGANISMOS E COMUNIDADES DE ZONAS LÊNTICAS

A luz que penetra na massa de água é atenuada em profundidade e diferentes

comprimentos de onda são diferentemente absorvidos ou reflectidos de acordo com a

composição orgânica e inorgância das substâncias e organismos presentes. A luz solar é

utilizada para a fotossíntese pelas algas que vivem na coluna de água, ou seja, para a

produção de material biológico (biomassa) e o DO assim libertado é utilizado na

respiração dos consumidores e na decomposição dos detritos presentes (restos orgânicos

de todas as dimensões). A certa profundidade, a luz encontra-se tão atenuada e a produção

fotossintética é tão baixa que iguala a respiração (ponto de compensação). Nas zonas mais

profundas, a respiração excede a produção. A massa de água acima do ponto de

compensação designa-se por zona eufótica e a que se situa abaixo, por zona profunda e

ambas determinam a zonagem biológica do sistema lêntico.

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

O leito das massas de água lênticas, desde a cota máxima até ao limite em

profundidade da zona eufótica, designa-se por zona litoral – Fig. 3.3. Abaixo do ponto de

compensação, inicia-se a zona sub-litoral. A massa de água propriamente dita é chamada

de zona pelágica ou limnética e expande-se verticalmente através das divisões

eufótica/profunda e epilímnio/hipolímnio.

A zona litoral apresenta pequena profundidade relativa. O desenvolvimento e

sinuosidade da linha de margem, bem como o declive e a textura dos sedimentos, são

muito variáveis e esta zona é caracterizada por ser heterogénea em termos das suas

características físicas e químicas. A zona profunda apresenta sedimentos mais finos e

maior homogeneidade física e química. As comunidades biológicas encontram-se

estruturadas espacialmente em função desta zonagem.

ZONAGEM FÍSICA ZONAGEM BIOLÓGICA

Figura 3.3 – Zonagem física de massas de água lênticas e inserção espacial das comunidades

biológicas respectivas (adaptada de JEFFRIES e MILLS, 1990).

A zona litoral – Fig. 3.3 – é colonizada em maior ou menor grau pelos macrófitos, ou

conjunto de plantas visíveis a olho nu, que se dispõem em faixas concêntricas entre o

exterior e o interior da massa de água, sucessivamente, árvores ribeirinhas (salgueiros,

choupos, freixos…) e herbáceas associadas, plantas emergentes com a parte inferior

submersa (juncos, tábuas, caniços…) e plantas aquáticas, total ou parcialmente submersas

– Fig. 3.3. A superfície dos macrófitos e de todas as outras superfícies submersas (pedras,

folhas mortas, troncos, barcos…) estão cobertas por uma camada heterogénea de algas

microscópicas aderentes, mais ou menos densa, cujo conjunto se designa por perifiton.

Entre as plantas e sobre elas e sobre e dentro dos sedimentos e superfícies expostas dos

fundos, vive um conjunto heterogéneo de formas de invertebrados, designado por bentos

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

(também referidos por macrobentos ou macroinvertebrados). Na zona profunda, não

existem macrófitos nem a diversidade de substratos das zonas litorais. Por isso, a riqueza

do bentos é muito reduzida.

A zona pelágica é habitada por formas variadas de algas microscópicas, cujo

conjunto se designa por fitoplâncton. O termo zooplâncton designa o conjunto heterogéneo

de animais, a maior parte microscópicos, que vivem também em suspensão na coluna de

água e com um poder limitado de locomoção. Os organismos planctónicos são mais densos

que a água e mantêm-se em suspensão um tempo limitado, suficiente para completarem o

seu ciclo de vida, acabando por sedimentar na zona profunda, onde se decompõem.

Finalmente, alguns organismos estão adaptados ao habitat da superfície da água, por

exemplo os insectos conhecidos como alfaiates, sendo esta comunidade designada por

neuston – Fig. 3.3.

Os peixes, devido à sua mobilidade (o conjunto destes organismos com mobilidade

significativa designa-se por nekton), podem ser encontrados em todas as zonas da massa de

água. No entanto, a maior parte das espécies (ou fases do seu ciclo de vida) preferem dada

zona e muitos juvenis são encontrados entre a vegetação litoral, onde procuram abrigo e

alimento. Algumas espécies exploram toda a massa de água.

De uma forma simplista, pode considerar-se existirem duas rotas alimentares, a

litoral e a pelágica – Fig. 3.4. Na zona litoral, os produtores são os macrófitos e o

perifiton, cuja biomassa (viva ou morta) é ingerida sob várias formas e através de vários

mecanismos alimentares, pelos animais do bentos e ambos por peixes detritívoros ou

zoófagos (de fagos, ingestão e zoo, animais). Na zona pelágica, os produtores são as algas

planctónicas, cuja biomassa (viva ou morta) é consumida pelo zooplâncton e por sua vez

este por peixes ou invertebrados zooplanctonófagos. Contudo, alguns peixes podem

consumir directamente os macrófitos ou as algas e pode ainda ocorrer um nível superior de

peixes ictiófagos (de ictio, peixes), como o achigã e o lúcio. De facto, os organismos,

comunidades e teias alimentares instaladas dependem muito da massa de água em causa,

pelo que o presente capítulo se refere especificamente às comunidades de albufeiras

portuguesas.

Nas duas rotas alimentares referidas, existem duas vias alimentares possíveis: a do

pastoreio directo, em que por exemplo as algas são ingeridas directamente por Cladocera

(pulgas de água), ou os macrófitos directamente por Caenidae (moscas de Maio); contudo,

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

a maior parte da alimentação é efectuada já sob a forma detrítica (ou seja, biomassa morta

e em fase de degradação), sendo também ingeridos os microorganismos (bactérias e

fungos) associados às superfícies em decomposição – Fig. 3.4.

Fora do sistema

Nutrientes dissolvidos

Radiação solar

Dentro do sistemaFitoplanctontes Plantas aquáticas

Zooplanctontes Bentos

Predadores do Plancton Predadores Bentónicos

Predadores quenadam

Radiação solar

Detritos so

msinagroorci

M

Figura 3.4 – Relações gerais do ciclo alimentar lacustre segundo LINDMAN (1942) e adaptada de

WETZEL (1983), com ilustração dos organismos biológicos envolvidos. As setas mais espessas indicam vias alimentares fundamentais.

4. EUTROFIZAÇÃO EM MEIO LÊNTICO

4.1. Conceitos de base

Muitas definições foram atribuídas ao termo eutrofização entendida aqui como

cultural, para a distinguir do processo de envelhecimento natural das massas de água. O

envelhecimento natural realiza-se à escala geológica e consiste na diminuição progressiva

do volume de água por acumulação de sedimentos orgânicos, aumento da concentração de

nutrientes e da importância das camadas profundas como fonte destes, avanço da

vegetação litoral até ao centro da bacia e incorporação final no meio terrestre. A

eutrofização é um processo que se realiza à escala histórica e é definida como o

enriquecimento nutritivo do meio aquático, causado directa ou indirectamente por

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actividades humanas e provocando o aumento da produtividade biológica e alterações

gerais do metabolismo aquático.

Nas albufeiras, verifica-se também regra geral, após o seu enchimento, uma fase de

pseudo-eutrofia, correspondente à libertação de nutrientes durante a decomposição do

material terrestre submerso, particularmente evidente nas baixas concentrações de DO e

elevadas de azoto amoniacal e de fósforo total nas camadas profundas do hipolímnio,

como se pode constatar presentemente na albufeira do Alto Lindoso. A este

enriquecimento, que depende da maior ou menor desmatação e limpeza realizadas antes do

enchimento e que dura em geral entre 5 e 10 anos, segue-se uma quebra brusca do estado

trófico e um processo de eutrofização, cuja rapidez e evolução depende das características

e uso da bacia hidrográfica e da própria albufeira. Nalguns casos, o estado eutrófico nem

sofre quebra, tal é a rapidez do processo da eutrofização, como foi o caso da Aguieira.

Figura 3.5 – Decomposição (D) da matéria orgânica produzida no epilímnio (E) em massas de água de diferentes profundidades. A mesma biomassa produzida (P) provoca uma diferença no balanço de DO no hipolímnio (H) em massas de água profundas (com decomposição completa

durante a sedimentação) e em massas de água pouco profundas (com decomposição a decorrer nos sedimentos do fundo).

O processo eutrofizacional está profundamente dependente de factores como o

volume e as características morfométricas da massa de água e o seu tempo de retenção.

Profundidades menores resultam em volumes proporcionalmente maiores de epilímnia

(razões elevadas epilímnio/hipolímnio) e, conjuntamente com maiores cargas de

nutrientes, levam a maiores produtividades, sobretudo quando o material geológico da

zona de enchimento da albufeira já propicia grande riqueza natural em nutrientes.

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Contudo, tempos de retenção da água curtos resultam em períodos mais curtos de

absorção, circulação, sedimentação e reutilização de nutrientes, logo, em maior resistência

à eutrofização, como acontece em aproveitamentos a fio-de-água ou com baixa capacidade

de regularização como Belver – Fig. 3.5.

A eutrofização causa a diminuição do valor biológico, patrimonial e estético das

massas de água e provoca a diminuição da sua potabilidade e a sua insalubridade. Em

águas de produtividade, verificam-se grandes modificações nas características das

comunidades biológicas.

4.2. Fitoplâncton

Em águas oligotróficas ocorrem picos pequenos a médios de biomassa ao longo do

ano, de acordo com a evolução térmica anual e com as condições luminosas prevalecentes.

Em águas de produtividade, os máximos estivais de biomassa expandem-se em magnitude

e duração, com variações imprevisíveis, predominam espécies de maiores dimensões e

coloniais (designadas por microplâncton: largura aproximadamente superior a 50 µ), o

número de espécies aumenta, bem como a biomassa (da ordem das centenas de mg/m3), o

biovolume (>10cm3/m3) e a densidade, sendo frequente a ocorrência de blooms, definidos

como crescimentos concentrados de plâncton (107 indivíduos por litro, ou mais),

frequentemente visíveis a olho nu, com grandes turvações da água, de cores azuladas ou

esverdeadas características, formando com frequência espumas e depósitos nas zonas

litorais.

Verifica-se uma tendência para as Cianofíceas (algas azuis, cianobactérias,

fotobactérias) dominarem por períodos cada vez mais longos a biomassa algal. Uma parte

das suas espécies (ou das suas estirpes) excreta produtos tóxicos, que inibem, lesam ou

matam invertebrados e vertebrados, acarretando graves problemas de saúde pública

aquando do uso da água para lazer ou abastecimento

Eventualmente, é atingida uma situação em que a densidade de organismos é tanta

que provoca o seu próprio ensombramento (e paragem subsequente da produção primária),

podendo registar-se o seu colapso e decomposição maciça, acompanhado de

desoxigenação do meio e mortalidade generalizada de peixes. Esvaziamentos abruptos de

albufeiras provocam o mesmo fenómeno ao concentrarem as algas, como ocorreu em Vale

do Gaio, em 1983, e em Maranhão, quando do seu esvaziamento em 1992.

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4.3. Zooplâncton

O zooplâncton é o principal consumidor das algas, bactérias e detritos da zona

pelágica. O aumento da fertilidade da água acarreta o aumento da biomassa e a

produtividade dos filtradores planctónicos. Contudo, em águas eutróficas, o tamanho cada

vez maior das algas produzidas e a toxicidade dos produtos que excretam resultam na

redução da taxa de filtração e no eventual desaparecimento dos “grandes” filtradores (>500

µ), com predominância de “pequenos filtradores”, que se alimentam de pequenos detritos.

Como resultado, a biomassa algal produzida pelo sistema não é consumida e acumula-se

nos fundos enriquecendo ainda mais a massa de água – Fig. 3.6.

A largada de “grandes” crustáceos filtradores na Primavera, antes da expansão da

biomassa das algas, seguida no Verão da largada de peixes zooplanctonófagos é muito

utilizada nalguns países, como a Holanda, para manter controlada a eutrofização. Em

Marrocos, vem sendo usada também com sucesso em albufeiras a carpa chinesa

Hypophtalmichthys molitrix, grande filtradora de plâncton, como método de controlo da

eutrofização.

CA

CA

EE

S S

BB

R

R

Figura 3.6 – Circulação da matéria orgânica em massas de água de diferente estado trófico. Na

oligotrófica (esquerda) as cargas nutritivas afluentes (CA) pequenas, sustêm uma biomassa proporcional (B), que parcialmente é recirculada (R) nas cadeias alimentares, sai da massa

de água (E) ou sedimenta (S). Na massa de água eutrófica (direita), a maior parte da biomassa sedimenta (adaptada de REYNOLDS, 1984).

4.4. Macrófitos e perifiton

Ao contrário das algas, não se verifica uma relação directa entre a quantidade de

nutrientes entrados na massa de água e os macrófitos submersos. De facto, a distribuição e

abundância dos macrófitos submersos lênticos são ditadas pelas condições de penetração

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da luz na água e pela textura e conteúdo nutritivo dos sedimentos, uma vez que a maior

parte destas plantas são enraizadas.

À medida que a fertilidade aumenta, verifica-se um aumento da cobertura perifítica,

nomeadamente de algas filamentosas (“limos”). A crescente produtividade perifítica e

planctónica levam a uma diminuição acentuada da penetração da luz (turvação biogénica)

e os macrófitos submersos praticamente desaparecem em águas eutróficas. A acumulação

dos restos dos macrófitos submersos e a sedimentação orgânica, resultantes da eutrofia da

água, favorecem os macrófitos emergentes litorais, que se vão expandindo nas zonas

menos profundas (caso das albufeiras de Monte Novo e Divor).

4.5. Macroinvertebrados e peixes

Em zonas de baixa produtividade e com a zona litoral bem desenvolvida encontra-se

um grupo heterogéneo de macroinvertebrados, incluindo herbívoros especializados nos

macrófitos e perifiton, filtradores, colectores e detritívoros, que se alimentam dos materiais

orgânicos suspensos ou sedimentados, e carnívoros. Com o desaparecimento dos

macrófitos submersos, o espessamento dos sedimentos finos orgânicos e o estabelecimento

de condições anaeróbias junto ao fundo, sobrevivem apenas algumas espécies de peixes

detritívoros especializados - anelídeos oligoquetas e dípteros quironomídeos.

Em massas de água de águas temperadas, à medida que aumenta a fertilidade, a

fauna piscícola original, dominada por salmonídeos (trutas em geral), coregonídeos e

cotídeos, é substituída progressivamente por populações dominadas por centrarquídeos e

ciprinídeos (carpas em geral), com um grande aumento da biomassa e produtividade.

5. ZONAGEM ECOLÓGICA E FACTORES AMBIENTAIS DETERMINANTES

5.1. Albufeiras versus lagos

Portugal apresenta um número reduzido de massas de água doce naturais, nas quais

se incluem algumas lagoas de montanha (Serras da Estrela e do Gerês) e pequenos

charcos, alagados e lagoas temporários, como o paúis do Boquilobo e de Arzila, ou as

lagoas de Santa Margarida em Tancos. Os ecossistemas aquáticos portugueses

historicamente dominantes são os fluviais. Contudo, devido à irregularidade da

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precipitação, cedo se criaram massas de água lênticas (albufeiras) para acumulação e uso

da água, existindo presentemente mais de uma centena de grandes albufeiras e milhares de

pequenos represamentos (açudes e pequenas represas), construídos sobretudo a partir de

meados deste século. Esta situação é comum a uma grande parte das zonas temperadas

quentes, nomeadamente todo o Sul dos EUA, bacia do Mediterrâneo, África do Sul e

Austrália.

Porque o desenvolvimento da ciência limnológica se processou sobretudo em lagos

temperados e as albufeiras são ecossistemas relativamente novos e artificiais, durante

muito tempo estas foram consideradas como um tipo especial e ligeiramente diferente de

lagos (tipo 73, segundo HUTCHINSON, 1957) ou sistematicamente ignorados pela

comunidade científica limnológica, que prefere em geral estudar processos e ecossistemas

mais naturais. Só recentemente se reconheceu a especificidade do funcionamento

ecológico de albufeiras (que são essencialmente sistemas lóticos híbridos, caracterizados

por maiores tempos de retenção hidráulica do que os rios) e bem assim a importância que o

conhecimento do seu funcionamento ecológico apresenta para a sua gestão (Quadro 3.1).

Factores geológicos, climatológicos e geográficos implicam diferentes respostas

limnológicas de lagos e albufeiras. Por exemplo, quase todas as albufeiras da Península

Ibérica apresentam uma estratificação monomítica quente, com uma duração alargada do

período de estratificação, geralmente de Maio a Outubro. Em geral, os sistemas fluviais

onde se localizam grande parte das albufeiras existentes (entre 45º a 35º de latitude:

KENNEDY e WALKER, 1990) apresentam concentrações elevadas de sólidos dissolvidos

e de sólidos suspensos, com importantes implicações na penetração da luz e transparência

da água, no teor de nutrientes disponíveis e na produtividade. A medida de transparência

de Secchi (distância a que um disco mergulhado na água, de 18 cm de diâmetro e com dois

quadrantes pretos e dois brancos, deixa de ser visível) é correntemente utilizada para

avaliar o estado trófico de lagos, porque está correlacionada com a concentração de

fitoplâncton na coluna de água. Em albufeiras este valor tem que ser avaliado com

prudência devido às suas flutuações intra-anuais e a causas inorgânicas, alheias à turvação

biogénica do sistema, o que acontece por exemplo na albufeira do Arade.

Ao contrário de uma grande parte dos lagos naturais, que estão situados em zonas

perto das cabeceiras e têm uma área de drenagem mais ou menos circular, as albufeiras

estão muitas vezes situadas no curso médio ou final dos rios e tem áreas de drenagem

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

alongadas, que acompanham os seus afluentes principais, recebendo a maior parte do

escoamento de materiais afluentes através destes (água, nutrientes e sedimentos) e não por

escoamento directo da bacia hidrográfica adjacente. Assim, verificam-se gradientes

longitudinais de concentrações de materiais ao longo da albufeira e em cascatas de

albufeiras. Por exemplo, WALKER (1981) expressou o grau trófico através do índice de

CARLSON (1977), utilizando a transparência de secchi e biomassa algal em quatro

albufeiras em cascata no rio White (U.S.A.), verificando uma diminuição e a estabilização

e concordância dos valores do índice, apenas na última albufeira.

Devido a factores geográficos e relativos ao seu uso, as albufeiras tendem a receber

proporcionalmente uma maior carga de fósforo do que os lagos, verificando-se uma

entrada descontínua de materiais, através dos sucessivos rios afluentes e sua dispersão

igualmente descontínua na massa de água, como se pode constatar por vezes através de

concentrações visíveis de algas em certas partes da albufeiras. A morfometria das

albufeiras e seus factores hidrodinâmicos (nomeadamente uma tendência para menores

tempos de retenção hidráulicos, por vezes de dias a semanas) conduzem ao

desenvolvimento de gradientes espaciais (verticais e horizontais) e temporais nas

concentrações do fósforo e indicadores biológicos relacionados, com importantes

implicações na estruturação das comunidades.

Quadro 3.1 – Comparação de características de rios, albufeiras e lagos (THORNTON et al., 1990). CARACTERÍSTICAS RIOS ALBUFEIRAS LAGOS

Morfologia da bacia Alongada, direccionada

Intermédia Circular/ ovóide em forma de taça

Movimento da água Rápido, unidireccional Intermédio Lento, não direccionado Retenção da água Baixa Intermédia Elevada

Estratificação térmica Não há Irregular Estável Composição iónica Muito variável e

relativamente imprevisível

Relativamente imprevisível

Relativamente previsível

Turbidez Elevada Variável Baixa Principal fonte de

nutrientes e de matéria orgânica

Alóctone, advecção, entrada contínua

Ambas Autóctone, recirculada in situ

Principal perda de nutrientes

Advecção Advecção e sedimentação

Sedimentação

Entrada de materiais e de

sólidos suspensos

Grande Intermédia Pequena

Estrutura espacial dominante

Longitudinal Longitudinal e vertical

Vertical

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

5.2. Padrões longitudinais de zonagem em albufeiras

Os padrões longitudinais que ocorrem em albufeiras resultam no estabelecimento de

três zonas que apresentam características físicas, químicas e biológicas diferentes, e são

designadas por zonas fluvial, de transição e lacustre – Fig. 3.7.

UN

IDA

DE

S R

ELAT

IVAS

Figura 3.7 – Zonagem longitudinal de factores ambientais relacionados com a penetração da luz e acessibilidade de nutrientes, que condicionam a produção de algas e o estado trófico de uma

albufeira (adaptada de KIMMEL et al., 1990).

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

a) Zona fluvial

A zona fluvial é relativamente estreita e bem misturada, com alguma velocidade da

corrente e ainda com transporte de materiais orgânicos e inorgânicos. A maior parte da

matéria orgânica particulada grosseira aí existente (também designada por coarse

particulate organic matter, CPOM: folhas, troncos, pedaços vegetais e animais

distinguíveis a olho nu) foi transportada pelo rio e deposita-se nesta zona em conjunto com

organismos lóticos em suspensão ou arrastados. Estes materiais constituem uma fonte

alimentar importante para os macroinvertebrados bentónicos (detritívoros e colectores de

material orgânico em geral e carnívoros), que podem ser abundantes, uma vez que a

estratificação térmica é aqui incipiente e não há condições para a formação de anerobiose

nas camadas inferiores da água. Devido a esta abundância alimentar em invertebrados e

detritos, as populações piscícolas exploram intensamente esta zona, quer oriundas da

albufeira, quer dos afluentes, verificando-se aqui um máximo da riqueza e diversidade

piscícolas.

As margens tendem a ser mais suaves nesta zona, pelo que podem ocorrer

macrófitos. Contudo, devido à turbulência hidráulica, a turvação é maior e a penetração da

luz é pequena, a zona eufótica estreita e, em consequência, a produção primária

planctónica é limitada.

b) Zona de transição

A zona de transição é mais larga e profunda, com velocidade da corrente quase

indetectável e maior tempo de retenção da água. É caracterizada pela sedimentação de

materiais inorgânicos de pequena dimensão e de matéria orgânica particulada fina

(também designada por fine particulate organic matter, FPOM: pequenos restos

irreconhecíveis e de pequena dimensão) e pela mineralização intensa destes materiais

orgânicos, de tal forma que o hipolímnio, nesta zona, com pequeno volume em relação ao

epilímnio, rapidamente se deplecciona de oxigénio. A parte anóxica da massa de água

(sem oxigénio dissolvido) forma-se frequentemente nesta zona no início do Verão e

expande-

-se, em seguida, pelo resto do hipolímnio, podendo atingir todo este (dependendo do

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

volume, frequência e localização da extracção da água imposta pelo regime de uso da

albufeira).

Com o aumento dos nutrientes assim libertados e da penetração da luz nas camadas

superficiais, aumenta a produtividade primária, de tal forma que se dá a transição entre

uma zona dominada pela produção alóctone (exterior à albufeira e produzida no rio e

bacia hidrográfica: plantas terrestres, plantas fluviais e perifiton) para a dominância de

produção autóctone (produzida no sistema aquático: fitoplâncton). No entanto, a zona de

transição é muito instável, dependendo muito das flutuações do nível de água da albufeira

(resultantes da exploração desta e dos caudais afluentes). Flutuações frequentes incentivam

a mineralização dos materiais orgânicos depositados no fundo e a sua libertação na coluna

de água, tornando estes nutrientes acessíveis ao plâncton e aumentam a produção primária,

de tal forma que esta zona apresenta geralmente os maiores níveis de fertilidade de toda a

albufeira.

c) Zona lacustre

A zona lacustre ocorre, onde existe maior profundidade, maior tempo de retenção da

água e menores concentrações de substâncias e nutrientes dissolvidos. Apresenta

sedimentação de partículas inorgânicas (colóides e argilas), mas sobretudo de partículas

orgânicas (plâncton, vivo ou morto), uma vez que a penetração da luz é suficiente para

promover a produção primária autóctone e as cadeias alimentares a ela associadas. Dado

que existem condições para uma boa penetração da luz, a produção primária é determinada

pelos níveis de nutrientes disponíveis, que são em geral mais baixos do que nas duas zonas

anteriores, Predominam nesta zona as cadeias alimentares planctónicas, constituídas por

uma base alimentar de microalgas e microdetritos, de que se alimentam os microanimais

do zooplâncton (protozoários, rotíferos, crustáceos e alguns quironomídeos).

Verifica-se uma estratificação mais ou menos estável da coluna de água durante o

Verão, com um termoclíneo estimado, em geral, entre 8 e 12 m. A estabilidade deste

depende da profundidade da albufeira e do volume, frequência e profundidade da

extracção da água. Nas camadas inferiores do hipolímnio, os sedimentos finos acumulados

e a anoxia hipolimnética frequentemente estabelecida resultam numa fauna macro-

bentónica drasticamente reduzida, dominada por poucas espécies, tolerantes a baixas

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

concentrações de oxigénio (quironomídeos e anelídeos). Poucas espécies de peixes

existentes em águas portuguesas tem a capacidade de explorar estes fundos (carpa, tenca,

barbo, pimpão) ou os alimentos da coluna de água (logo sável, boga).

d) Síntese

As zonas ecológicas existentes em albufeiras (transversais: litoral, pelágica e

profunda; e longitudinais: fluvial, transição e lacustre), não são entidades invariáveis e

discretas, mas resultam do efeito combinado de gradientes ecológicos que se sobrepõem

no espaço e no tempo, de acordo com a morfometria da albufeira, com as flutuações do seu

volume (ano hidrológico, tipo de albufeira e regime de exploração) e com as cargas

nutritivas e orgânicas afluentes a partir da bacia hidrográfica. De facto, a extraordinária

dinâmica destes três factores explica porque cada albufeira apresenta uma individualidade

acentuada e provavelmente deveria ter uma gestão ecológica específica.

Em síntese, podem ser sistematizados em dois grupos os factores que condicionam a

ecologia de albufeiras, a dinâmica da sua zonagem e a estrutura e equilíbrio ecológico das

suas comunidades biológicas:

- Factores de base: área e geologia da bacia hidrográfica; número, tipo e

desenvolvimento dos rios afluentes; morfometria e área da albufeira;

desenvolvimento da linha de margem, declive marginal e estruturas submersas

naturais existentes na zona litoral, como árvores e rochas.

- Factores antrópicos: fontes pontuais e difusas de nutrientes e materiais orgânicos

(onde entram, quais e de que tipo); uso da albufeira (hidroeléctrico, hidroagrícola,

abastecimento ou misto) e respectivas flutuações do nível da água (periodicidade

e magnitude); intervenções na massa de água por actividades de lazer ou outras

(como estruturas submersas, aquaculturas embarcações e praias).

6. BIOLOGIA E ECOLOGIA DE ALBUFEIRAS

6.1. Zona litoral

A zona litoral de albufeiras é em geral inestruturada, mais ou menos declivosa e

lexiviada, com muito pouca vegetação marginal e sem abrigos. Este padrão de estrutura

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

litoral, que se pode observar em muitas albufeiras de uso hidroeléctrico, instaladas em

áreas geologicamente antigas, como Alto Lindoso, Castelo de Bode e Cabril, é comum à

maior parte destas massas de água. No entanto, quando existe um nível trófico suficiente

(mesotrofia, ou estado trófico intermédio), boa transparência e flutuações pouco

acentuadas do nível da água, mesmo este tipo de margens pode apresentar aglomerados de

plantas submersas até 4 a 5 m de profundidade, como acontece em Fratel.

As albufeiras de uso agrícola já apresentam características mais variáveis

dependendo do tipo de rocha-mãe e solos em que estão instaladas, das flutuações do nível

da água impostas pelo seu regime de uso, do declive da margem, da produtividade da

albufeira e da transparência da água. Albufeiras como as de Monte Novo e Divor,

eutróficas e com declive de margem suave, instaladas em solos ricos em nutrientes,

apresentam abundantes faixas marginais de macrófitos emergentes, que desempenham um

papel fundamental na abundância de invertebrados, bem como na protecção e alimento de

juvenis de peixes. Contudo, quando albufeiras deste tipo se tornam extremamente

eutróficas, como é o caso de Magos, a transparência é muito limitada pelo

desenvolvimento do fitoplâncton, acumulam-se nos fundos grande quantidade de materiais

orgânicos finos em decomposição, a anaerobiose instala-se em toda a zona de transição e

hipolímnio e as condições ambientais degradam-se, resultando em frequentes mortalidades

gerais de peixes.

Outras albufeiras, como Santa Clara e Azibo possuem margens declivosas,

inestruturadas e sem plantas emergentes. Contudo, as suas características morfométricas,

mesotrofia e boa transparência permitem vastas zonas de macrófitos submersos em zonas

marginais e pouco profundas (menos de 5 m), com populações densas de invertebrados e

abrigos e alimento para juvenis de peixes, para peixes presas (gambúsia, perca-sol…) e

para os seus predadores (lúcio, achigã…). Estas duas albufeiras são casos particulares

porque o uso agrícola da sua bacia hidrográfica ficou aquém do previsto, pelo que

apresentam flutuações de nível mais modestas, sendo reputadas como das albufeiras mais

interessantes do País para a pesca desportiva.

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Page 20: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

6.2. Zona pelágica

A zona pelágica é dominada pelas comunidades planctónicas, fito e zooplâncton. As

flutuações do nível da água e a eutrofização implicam frequentemente a diminuição da

área litoral e da área profunda não anóxica em que uma parte das espécies baseia a sua

vida, reduzindo frequentemente a albufeira a um único habitat, o pelágico superficial, que

é pouco acessível aos peixes em termos de alimento. As espécies nativas não têm

estruturas morfológicas filtradoras especiais, com a excepção das populações de sáveis de

Castelo de Bode e são pouco eficazes na exploração alimentar dos microinvertebrados da

zona pelágica, à excepção da perca-sol e talvez da boga. Quando a água se encontra

eutrofizada, o desenvolvimento de macro-clorofícias de difícil ingestão e de cianofícias

tóxicas, faz diminuir drasticamente os níveis de zooplâncton, sobretudo as formas de

maiores dimensões.

O estudo do plâncton de albufeiras ibéricas teve início no final dos anos sessenta,

com o fitoplâncton da albufeira de Sau em Espanha, mas ganhou ímpeto especial com a

amostragem de 100 albufeiras espanholas (MARGALEF et al., 1976) e doze anos mais

tarde, com nova amostragem das mesmas albufeiras (RIERA et al. 1992). Em Portugal,

rastreios com escala relativa aproximada foram realizados para cerca de duas dezenas de

albufeiras da bacia do Tejo e a sul desta, nos anos setenta (OLIVEIRA, 1984;

MONTEIRO, 1984) e para idêntico número de albufeiras da bacia do Douro e a norte

desta (BRANCO et al., 1992; GUIMARÃES e TELES, 1993). Os padrões biológicos que

se descrevem de seguida são extraídos dos resultados destes trabalhos.

Três factores chave explicaram a distribuição e variabilidade das comunidades de

fito e zooplâncton das albufeiras (por importância decrescente): a mineralização e

alcalinidade da água; o estado trófico da água e os sólidos dissolvidos totais; e a

estabilidade da coluna de água e seu tempo hidráulico de retenção. Conhecem-se mais de

700 espécies de fitoplâncton em albufeiras ibéricas e a sua riqueza pode ser considerável

por amostra (nos casos extremos, mais de 60 espécies). No entanto, as espécies mais

frequentes são em menor número e uma parte substancial destes é cosmopolita. Embora o

fósforo total seja o parâmetro com melhor correlação com a concentração epilimnética

estival da biomassa algal (expressa em clorofila a), explicou apenas 39% (p<0,001, n=73)

da variabilidade biológica encontrada, ou seja, o seu poder preditivo foi baixo (RIERA et

al., 1992).

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Foram encontradas cerca de centena e meia de espécies de zooplâncton. Os

protozoários são muito pouco conhecidos. Os rotíferos apresentam biomassas em geral

baixas e taxocenoses (associação de espécies) pouco consistentes embora possam ser

bastante resilientes (ou seja, as espécies são pouco resistentes, mas recuperam

rapidamente), por exemplo, no Maranhão, a comunidade de rotíferos manteve-se

semelhante antes e depois do esvaziamento (CRISPIM e BOAVIDA, 1995). Também os

crustáceos apresentam apenas uma trintena de espécies. As espécies dominantes são pouco

especializadas, associadas a ambientes com taxas de crescimento e de desaparecimento

rápidas.

6.3. Zona profunda

As características ecológicas das zonas profundas de albufeiras dependem do tipo de

material geológico da zona da albufeira, da textura e abundância relativa dos materiais do

fundo e da eutrofização da massa de água, que determinam a oxigenação da zona profunda

e condicionam o tipo de materiais aí sedimentados. O macrobentos de albufeiras apresenta

pouca complexidade e densidade baixa, sendo constituído por um conjunto de menos de

uma centena de organismos conhecidos, de taxonomia complicada, em especial bivalves,

anelídeos oligoquetas e dípteros quironomídeos. Contudo, a zona profunda possui em geral

apenas alguns oligoquetas e quironomídeos, desde que as condições de oxigenação o

permitam. As espécies de macrofauna encontradas na zona profunda são poucas, muito

resistentes e até ao momento não foi possível demonstrar qualquer relação estatisticamente

significativa entre elas e os indicadores do estado trófico da água.

Não existem estudos de macrobentos de albufeiras em Portugal. Contudo, o estudo

do macrobentos da zona profunda de mais de 130 albufeiras espanholas (PRAT et al.,

1992), permitiu detectar os seguintes factores chave da sua distribuição: factores

geográficos relacionados com a temperatura elevada das águas ibéricas e o tempo de

colonização das massas de água recém-criadas pelas espécies existentes em termos

regionais; a desoxigenação hipolimnética e sobretudo a duração do período de anoxia

anual; e a textura dos sedimentos da zona profunda (por exemplo, sedimentos mais

grosseiros e aeróbios são encontrados em zonas menos profundas ou em albufeiras

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

oligotróficas, verificando-se uma diminuição da riqueza e biomassa em quironomídeos

destas, para zonas mais profundas ou de águas mais eutróficas).

A acumulação de materiais orgânicos particulados no fundo de albufeiras profundas

(em geral oligotróficas e inseridas em áreas florestadas) promove a presença de formas

móveis como o quironomídeo Procladius, enquanto albufeiras mais eutróficas e menos

profundas podem apresentar populações mais abundantes de fitófagos (que ingerem

fitoplâncton) como Chironomus e Stictochironomus. A eutrofização afecta assim também,

indirectamente, a disponibilidade alimentar para a ictiofauna com alimentação detritíca e

bentónica, capaz de explorar a zona profunda, como a carpa, a tenca, o pimpão e

eventualmente o barbo. Um aumento da produção de biomassa devido à eutrofização,

aumenta a via alimentar detrítica e favorece o aumento do alimento (macrobentos) nos

fundos e nomeadamente da zona de transição, contudo, uma aumento excessivo da

eutrofização rapidamente reduz (pelo menos sazonalmente) a área potencial de

alimentação nos fundos e as presas de macrobentos aí existentes, devido ao

desenvolvimento de hipolímnia anóxicos.

6.4. Fauna piscícola

A fauna piscícola destaca-se pela sua importância económica e pela sua mobilidade,

cruzando todas as zonas das albufeiras. Em contraste com a diversidade ictiofaunística que

se verifica nas regiões temperadas a norte, a Península Ibérica possui um número

relativamente pequeno de espécies lóticas indígenas (ou seja, geograficamente originárias

da Península Ibérica).

A ictiofauna de rios inclui: espécies indígenas sedentárias (escalo, bordalo,

verdemã…); espécies indígenas potamódromas (de potamos, rio), que realizam migrações

reprodutoras anuais, do rio principal para os afluentes (truta de rio, barbo, boga…);

espécies exóticas sedentárias (achigã, gambúsia, góbio, perca-sol, lúcio…) e espécies

migradoras diádromas, que realizam migrações anuais em direcção ao mar ou ao rio, para

se reproduzirem (enguia, truta marisca, sável, savelha, lampreia…) ou para se alimentarem

(taínhas, peixe-rei, solha…).

Em contraste com as variações hidrológicas extremas, mas sazonalmente síncronas,

de um rio mediterrâneo, uma albufeira apresenta variações ambientais erráticas e

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

ininteriorizáveis biologicamente, num ambiente frequentemente de má qualidade. Em

consequência só as espécies indígenas com ciclo de vida de elevado oportunismo, hábitos

omnívoros ou detritívoros e migrações reprodutoras para os afluentes têm possibilidade de

se estabelecer e manter nas albufeiras.

A criação de uma albufeira resulta na criação de novos habitats e na diminuição ou

desaparecimento dos efectivos de muitas espécies lóticas, dado não encontrarem condições

favoráveis na massa de água “alienígena” formada, com habitats muito diferentes dos

existentes num rio mediterrâneo: o fluxo unidireccional lótico é parado, o tempo de

retenção da água e solutos aumenta, são drasticamente reduzidos a área e tipo de habitats

marginais, diminui em termos gerais a densidade de macrobentos e de pequenos detritos de

alimentares e dá-se o aparecimento de uma zona pelágica. Foram encontradas 19 espécies

piscícolas em albufeiras portuguesas, podendo distinguir-se os seguintes grupos:

- Espécies indígenas cujo ciclo de vida lótico original se mantém (boga e barbo),

realizando migrações reprodutoras para fora da albufeira, isto é, utilizando os

afluentes para as desovas e para o crescimento dos juvenis, sendo a albufeira

utilizada pelas classes de idade adultas.

- Espécies cujo ciclo de vida se realiza totalmente nestas massa de água (desova e

desenvolvimento posterior), essencialmente espécies exóticas incluindo a carpa, o

pimpão, a perca-sol, o achigã, o lúcio e gambúsia. Uma parte destas espécies

prefere as zonas litorais ou menos profundas das albufeiras (achigã, gambúsia,

lúcio, perca-sol…), sobretudo se existir uma linha de margem bem desenvolvida

com abrigos, reentrâncias e plantas emergentes. Estas espécies realizam as

posturas nestas zonas marginais, com ou sem vegetação e são muito afectadas

pelas flutuações do nível de água. Outras espécies exóticas são fossadoras e

detritívoras e exploram a zona profunda (carpa, pimpão, tenca…) existindo

evidência de que utilizam a zona fluvial ou mesmo os afluentes, para as posturas.

De facto, as albufeiras apresentam escassez de condições adequadas à reprodução

da maior parte destas espécies, ou seja, zonas de pouca profundidade e estáveis,

com leitos de plantas submersas.

- Espécies diádromas retidas nas albufeiras pela sua construção durante as suas

migrações alimentares ou reprodutoras e que aí permaneceram, conseguindo

completar o seu ciclo de vida apenas em água doce. É o caso dos sáveis das

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

albufeiras do Castelo do Bode e da Aguieira e dos peixes-rei da albufeira de

Fratel.

As populações presentes em albufeiras, sobretudo do Centro e do Sul, encontram-se

frequentemente envelhecidas e apresentam baixo crescimento, devido à inospicidade dos

habitats existentes, à baixa qualidade da água e às relações intra-específicas que se geram.

A cadeia trófica é naturalmente pouco diversificada, devido à redução drástica de habitats

e à escassez de verdadeiras zonas litorais bem estruturadas e com populações abundantes

de macroionvertebrados. Esta escassez de alimento é acentuada pelas oscilações do nível

das águas, que erodem as margens e impedem o estabelecimento de vegetação marginal

estável. A produção do sistema é assim canalizada para vias de alimentação detríticas e

bentónicas exploradas por algumas espécies indígenas ou exóticas (barbos, bogas, carpas,

pimpões). As posições alimentares de filtradores, zoófagos e ictiófagos são potencialmente

pouco exploradas pelas espécies indígenas (e.g. truta, sável, enguia), sendo antes ocupadas

por espécies exóticas como a perca-sol, o achigã e o lúcio.

Podem considerar-se as associações piscícolas das albufeiras como astáticas e com

baixo grau de persistência temporal, embora as espécies e a sua proporção relativa possam

permanecer semelhantes. As perturbações constantes relacionadas com o uso das

albufeiras produzem associações aleatórias de espécies e por isso é difícil aplicar índices

de qualidade piscícola a albufeiras ou obter uma classificação determinística destas com

base nas suas populações.

No entanto, GODINHO e FERREIRA (1996) utilizaram com êxito um índice de

proporcionalidade de tamanhos para avaliar o estado de equilíbrio estrutural das

populações de albufeiras do Centro e do Sul do País. Mais recentemente, foi realizado um

ensaio de tipologia piscícola para albufeiras portuguesas com base em 28 massas de água,

tendo sido encontrados quatro tipos-base de comunidades piscícolas em albufeiras, em

função da posição geográfica e altimétrica, do volume e do estado trófico (GODINHO et

al., 1998).

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

7. GESTÃO ECOLÓGICA DE ALBUFEIRAS

7.1. Introdução

As albufeiras são sistemas artificiais de características habitacionais pouco

diversificadas, com comunidades biológicas pouco complexas e resilientes, sujeitas a um

stress ambiental elevado que é imposto pela exploração da albufeira. Este stress encontra-

se consubstanciado nas seguintes aspectos:

- flutuações de nível incluindo esvaziamentos decorrentes do regime de utilização da

água e das afluências;

- actividades de uso da albufeira e da sua bacia hidrográfica com consequências na

carga orgânica e nutritiva afluente ao ecossistema.

Em consequência, podem considerar-se as seguintes três áreas estratégicas a

desenvolver na gestão ecológica de albufeiras (BOCHECHAS et al., 1998):

- Controlo da poluição e de fontes poluidoras. Controlo da eutrofização e poluição

da massa de água (desvio, tratamento ou controlo das fontes pontuais e difusas de

substâncias nutritivas e poluentes), biomanipulação e intervenções directas de

regressão trófica (utilização de carpas filtradoras, arejamento e dragagens

hipolimnéticas, plantio de zonas tampão marginais de coberto vegetal…) e

ordenamento do uso das margens (definição e delimitação da área e localização

de pesqueiros, de praias e de zonas de lazer.

- Conciliação das flutuações de nível da água resultantes do uso da albufeira com

as comunidades biológicas existentes. Controlo e gestão das flutuações do nível

da água, por forma à conciliação do seu uso (abastecimento, hidroeléctrico,

hidroagrícola ou outros), com o ciclo de vida e manutenção das populações

piscícolas existentes nas albufeiras, nomeadamente aumentando o nível da água

na pré-desova e evitando grandes flutuações na época de desova e de

recrutamento de juvenis. E ainda planeamento e gestão dos esvaziamentos

necessários por forma a mitigar os seus efeitos ecológicos.

- Gestão piscícola. Gestão das populações piscícolas por forma a manter um

equilíbrio desejado entre as espécies (ou entre as diferentes idades ou classes de

dimensão das espécies) por intervenção directa sobre estas (povoamento,

repovoamento ou captura) ou sobre o meio aquático (introdução de abrigos,

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

construção de ilhas e mouchões, afeiçoamento de praias de desova…), ou ainda

outras acções, tais como fiscalização e medidas legislativas de protecção e

fomento aquícola (FERREIRA e BOCHECHAS, 1999). A gestão piscícola de

albufeiras será desenvolvida em capítulo próprio.

7.2. Controlo da eutrofização e regressão trófica

A recuperação de lagos eutrofizados é uma área científica relativamente nova que só

nos anos setenta se implantou, à medida que a gravidade e extensão das situações de

eutrofização eram evidentes um pouco por toda a zona norte temperada. Há cerca de 15 a

20 técnicas diferentes que podem ser utilizadas para melhorar ou manter o estado trófico

de uma massa de água lêntica, podendo ser classificadas em formas de controlo externo e

interno. Ambas se encontram dedicadas quase em exclusivo ao controlo do fósforo,

porque a resposta do azoto é em geral menos conhecida, menos evidente e menos

previsível (WELCH, 1992).

Como formas de controlo externo, têm-se: desvio de fontes poluidoras pontuais,

tratamento secundário e terciário de efluentes e retenção, desvio ou tratamento de águas de

drenagem. As formas de controlo interno incluem: inactivação do fósforo, diluição das

águas enriquecidas, dragagem de sedimentos, circulação artificial da coluna de água,

arejamento hipolimnético, extracção de água hipolimnética, adição de azoto,

biomanipulação (por introdução de espécies planctívoras, ou seja, comedoras de plâncton),

colheita mecânica ou biológica de plantas (por peixes herbívoros) e impermeabilização dos

fundos.

As acções conducentes à manutenção ou recuperação do estado trófico podem ser

sistematizadas da seguinte forma: diagnóstico, controlo externo e controlo interno, das

fontes de fósforo, controlo da biomassa vegetal e biomanipulação.

7.2.1. Diagnóstico

Verificados os sintomas de eutrofização, tais como concentrações elevadas de

fósforo, diminuição da transparência da água, determinada composição e biomassa de

algas e presença de espumas e aglomerados biológicos nas margens, é necessário definir a

situação de referência inicial, antes de ser iniciado um programa de recuperação. Esta

103

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

situação de referência permite o estabelecimento de um quadro diagnosticante

suficientemente pormenorizado para delinear o tipo e forma de intervenção (ou decidir,

pelo contrário, que ainda não é altura de intervir) e também avaliar a eficácia e o custo-

benefício das medidas de controlo que venham a ser tomadas. Entre os elementos mais

importantes que devem ser recolhidos para este diagnóstico, incluem-se:

- localização, volume, carga nutritiva e periodicidade (por impulsos, contínuas, por

arrastamento de chuvas) das fontes pontuais de nutrientes que entram na

albufeira; e avaliação da carga (ou pelo menos da susceptibilidade) de entrada

proveniente de fontes difusas de nutrientes que entram na albufeira (por

escoamento, drenagem ou mais raramente a partir do nível freático);

- caracterização do regime de variação do volume armazenado na albufeira, ou seja,

o balanço das entradas e saídas de água e tempos de retenção hidráulica;

- análise das características da massa de água e diagnóstico pormenorizado do seu

estado trófico, incluindo: concentrações de nutrientes, perfis de temperatura, DO,

pH e condutividade ao longo da coluna de água, transparência de Secchi,

biomassa clorofilina, composição e abundância quantitativa do fitoplâncton, num

número de estações de amostragem representativo da heterogeneidade da

albufeira, com recolhas de periodicidade, no mínimo, mensal por um período de

um ano.

Este diagnóstico fino é necessário porque a resposta biológica à eutrofização varia ao

longo do ano em função de variáveis ambientais como o volume da água armazenada, a

temperatura e a insolação, e registam-se frequentemente manifestações de eutrofização

temporalmente isoladas, por exemplo, ao diminuir acentuada e rapidamente o volume da

água armazenada. Por vezes este diagnóstico pormenorizado já está realizado quando se

verifica a decisão de recuperação da massa de água. Frequentemente este diagnóstico

pormenorizado é utilizado no desenvolvimento e calibração de modelos preditivos da

evolução da eutrofização. Alguns modelos interessantes, estáticos ou dinâmicos, podem

ser consultados em COOKE et al. (1986, capítulos 6 e 7), JORGENSEN e

VOLLENWEIDER (1988, capítulos 5 e 6), RYDING e RAST (1989, capítulos 6 e 7) e

WELCH (1992, p.158 e seguintes).

Em situações expeditas, a biomassa clorofilina (expressa em clorofila a) é calculada

a partir das concentrações de fósforo estimadas com base em vários modelos de regressão

104

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

já existentes (por exemplo, em AHLGREN et al., 1988). Contudo equações preditivas

baseadas em dados reais da massa de água são em geral preferíveis. Modelos mais

elaborados podem exigir mais dados de recolha do que os mencionados acima e predizer

outras tantas variáveis.

Em Portugal, alguns casos de estudo incluíram um diagnóstico pormenorizado e

abordaram a previsão da eutrofização em albufeiras, com base nos dados recolhidos. Por

exemplo, o modelo WQRRS desenvolvido pelo US Army Corps of Engineers, foi aplicado

à albufeira do Cabril (RODRIGUES, 1992) e utilizado para predizer a eutrofização da

futura albufeira do Alqueva perante diferentes regimes hidrológicos ou de uso da água

(RODRIGUES et al., 1995).

7.2.2. Controlo externo das fontes de fósforo

O desvio ou o tratamento de efluentes têm sido as técnicas mais utilizadas no

controlo da eutrofização. O tratamento de efluentes deve incluir a retirada dos nutrientes e

nomeadamente do fósforo, o que frequentemente é realizado por via química na estação de

tratamento (normalmente precipitando com sulfato de alumínio, carbonato de cálcio ou

cloreto de ferro, o fósforo e matéria orgânica da água residual tratada) embora daí resulte,

em geral, largo volume de lamas mais ou menos tóxicas. Uma alternativa ecologicamente

mais interessante consiste em conduzir esta água tratada, mas muito rica e mineralizada,

para bacias de recepção (lagoas) onde é realizada a retirada de nutrientes por incorporação

biológica (são utilizados no crescimento de algas e plantas, por sua vez consumidas por

invertebrados e peixes, sendo esta biomassa periodicamente removida e rentabilizada).

Outra alternativa muito utilizada em pequenos lagos europeus é a abertura de valas

paralelas à margem para onde a água tratada acede, sendo os nutrientes absorvidos por

plantas aquáticas e estas utilizadas por fauna selvagem, normalmente patos.

A recuperação da massa de água após desvio e tratamento dos efluentes pode não ser

evidente ou completa, uma vez que as fontes nutritivas internas de fósforo existentes nos

sedimentos podem ser suficientes para manter o estado trófico existente (o fósforo é

libertado dos sedimentos em condições anaeróbias, que ocorrem durante parte do ano). Os

lagos mais pequenos e com quociente epilímnio/hipolímnio elevado são os mais difíceis de

recuperar desta forma. Na maior parte dos casos, ocorre de facto alguma recuperação após

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

desvio de efluentes, dependendo a magnitude desta também de outros factores, como o

tempo de retenção da massa de água.

A Fig. 3.8 ilustra dois casos clássicos de resposta ao tratamento terciário e desvio de

efluentes. O lago Washington tem uma profundidade grande (37 m profundidade média),

um tempo de retenção baixo (0.4 anos), um hipolímnio ainda parcialmente oxigenado e

uma história relativamente recente de eutrofização, tendo apresentado recuperação

evidente em três anos, enquanto o lago Sammamish, a 12 km do anterior, com menor

profundidade (12 m profundidade média), um tempo semelhante de retenção (0.55 anos) e

hipolímnio completamente anóxico não recuperou de uma forma tão evidente ao fim de 20

anos.

Figura 3.8– Recuperação dos lagos Washington (esquerda) e Sammamish (direita) após desvio e

tratamento de fontes pontuais externas de nutrientes (extraída de EDMONDSON, 1978 e de WELCH et al., 1986).

As fontes difusas de nutrientes são por vezes muito importantes, sobretudo em bacias

muito agricultadas. A remoção destes nutrientes é bem mais difícil e, de uma forma geral,

é realizada pela passagem desta água de escoamento em pequenas bacias de retenção e

zonas semi-artificiais de arrelvados ou de alagados, interpostos entre as zonas de máximo

escoamento e a massa de água, sendo a água enriquecida aí retida por um período variável.

Quanto maior a retenção, maior o efeito de absorção de nutrientes e sua incorporação na

biomassa vegetal. A implementação de algumas práticas agrícolas e de uso da bacia

hidrográfica é também uma ajuda no controlo de eutrofização, como a criação de socalcos

106

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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

em curvas de nível, a criação de terraços, o reflorestamento de declives íngremes, a

manutenção de uma faixa de vegetação marginal ou a sementeira de corredores de

macrófitos.

As concentrações de nutrientes na água podem também ser diminuídas por

introdução de volumes de água com menores concentrações destes em geral com um

aumento associado do fluxo da água para fora do lago. Esta técnica depende da existência

de volumes adequados de água com baixo teor em nutrientes e dos custos envolvidos na

operação. Tem sido utilizada com sucesso em Espanha, junto aos Pirinéus, sendo a água

introduzida oriunda de uma albufeira oligotrófica a montante e o transporte efectuado por

gravidade. Uma outra técnica consiste simplesmente em diminuir o tempo de retenção da

massa de água e aumentar o fluxo de passagem da água, embora tal exija grandes

quantidades de água disponível e apresente fracos resultados se a própria água adicionada

estiver eutrofizada.

7.2.3. Controlo interno do fósforo

As cinco técnicas mais utilizadas neste controlo são a inactivação do fósforo, a

técnica “riplox”, o arejamento hipolimnético, a extracção de água hipolimnética e as

dragagens. O sulfato de alumínio, quando adicionado à água, normalmente em conjunto

com argila bentonítica, forma flocos que precipitam sobre os fundos anóxicos. Estes flocos

cobrem os sedimentos evitando a libertação de fósforo. Contudo, os resíduos que

permanecem na massa de água são bastante tóxicos.

A técnica “riplox” reduz o fósforo solúvel intersticial dos sedimentos por oxidação

da matéria orgânica. Esta oxidação é obtida pela desnitrificação resultante da adição de

Ca(NO3)2 em condições alcalinas, sendo adicionado ferro quando este está presente em

níveis baixos ou se os níveis de enxofre são elevados. O objectivo é manter o ferro sob a

forma oxidada de compostos férricos, por forma a que o fósforo se mantenha complexado

nestes (COOKE et al., 1986). Embora bastante eficazes, tratam-se de métodos

ecologicamente pouco interessantes, sobretudo o primeiro, visto que alteram profunda e

bruscamente a química do ecossistema.

O arejamento hipolimnético é uma técnica bastante praticada em lagos relativamente

profundos embora em geral com resultados pouco permanentes e muito localizados

(WELCH, 1992). A libertação de fósforo dos sedimentos pára enquanto se processa o

107

Page 31: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

arejamento, mas recomeça de imediato após o tratamento. Os arejadores apresentam um

raio de acção limitado. Na albufeira do Vilar esta técnica vem sendo utilizada para

melhorar a qualidade da água na zona junto à captação, com bons resultados. A extracção

de água hipolimnética apresentou grande sucesso em vários casos, não só diminuindo o

fósforo total hipolimnético como também estando correlacionada a diminuição do fósforo

epilimnético com a magnitude da extracção da água hipolimnética para fora do lago.

Contudo, este método não é eficaz quando a carga externa de nutrientes é elevada e se

mantém. A água extraída não deve ser lançada no rio a jusante, sendo normalmente

utilizada para irrigação.

A dragagem, embora de custos elevados, é um dos métodos mais eficazes para

promover a regressão trófica, ao extrair as camadas superficiais dos sedimento ricas em

fósforo, normalmente até 1m de espessura. Um dos exemplos mais conhecidos e bem

sucedidos é o do lago Trummen, mas outros exemplos de massas de água apresentaram

melhorias evidentes, nomeadamente portugueses como a albufeira da Lagoa Azul (Sintra),

dragada nos anos oitenta.

7.2.4. Controlo da biomassa e biomanipulação

O desenvolvimento de enormes quantidades de biomassa vegetal é o principal efeito

gerado pelo processo eutrofizacional, estando várias técnicas de regressão trófica

relacionadas com o seu controlo. Uma das técnicas mais utilizadas é o arejamento da

massa de água por forma a induzir uma circulação geral da coluna de água, cujo objectivo

geral é rearejar o hipolímnio por meio do oxigénio dissolvido (DO) acumulado no

epilímnio e levar à precipitação (pelo menos parcial) do fósforo nos sedimentos. O

processo é acompanhado de profundas alterações na comunidade das algas, nomeadamente

diminuição das cianofíceas e dominância das algas verdes. Os resultados desta técnica

dependem muito das condições gerais da massa de água (por exemplo, do volume do

epilímnio aeróbio em relação ao do hipolímnio desoxigenado) e parecem ser

particularmente bons em situações de eutrofia inicial, quando o sistema ainda não atingiu

anoxia hipolimnética total. É difícil de aplicar a grandes volumes de água.

Nos final dos anos setenta, foi bastante utilizado o controlo químico da biomassa

algal, nomeadamente por algicidas como o sulfato de cobre. Dados os danos ambientais

108

Page 32: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

consequentes, nomeadamente a permanência nos sedimentos e os efeitos toxicológicos do

cobre, este processo está praticamente abandonado. Nos últimos anos, vem sendo utilizada

com grande sucesso a acção de substâncias quimioalelopáticas (ou seja, inibidoras do

crescimento) libertadas durante o processo de decomposição da celulose, que se encontra

em abundância por exemplo nas gramíneas. A técnica mais corrente consiste em pôr a

flutuar a distâncias regulares fardos de feno de aveia (ou de outra espécie deste tipo), cuja

acção inibidora do crescimento das algas se processa ao longo de meses (BARRETT et al.,

1995). O processo é completamente inócuo em termos ambientais.

O controlo da biomassa de plantas tem sido efectuado por meios mecânicos, com

máquinas anfíbias adequadas (como é praticado actualmente no paul do Boquilobo), por

meios químicos (sendo muito utilizados herbicidas dirigidos a dada espécie e de fraca

toxicidade, como o glifosato para o caniço e o diquato-alginato para plantas totalmente

submersas) e pela forma directa do pastoreio. A carpa herbívora Ctenopharyngodon idella

triplóide é usada extensivamente nos E.U.A. para controlar crescimentos de macrófitos em

situações de eutrofização, embora sobretudo em lagos, visto que as plantas aquáticas são

em geral pouco abundantes em albufeiras. A carpa filtradora de plâncton

Hypophtalmichthys molitrix tem sido usada com grande sucesso em lagos do Centro da

Europa e em albufeiras do Norte de África. Estas técnicas implicam uma boa capacidade

de fornecimento das espécies utilizadas para implantar as cargas piscícolas necessárias,

nomeadamente a disponibilidade de stocks de idade adequada.

O controlo da biomassa pode também ser efectuado por biomanipulação das cadeias

alimentares, o processo ecologicamente mais recomendável, mas que exige um profundo

conhecimento do funcionamento ecológico do sistema e grande esforço humano e

financeiro. Consiste na libertação, no início da Primavera, de microcrustáceos de maiores

dimensões (em geral pulgas de água) consumidores de algas, seguida da largada de peixes

consumidores de zooplâncton, no final da Primavera, e colheita por redes destes últimos

no Verão; ou, em alternativa, reforço das populações de peixes ictiófagos para absorver a

biomassa criada. Por exemplo, nos E.U.A tem sido muito utilizada a seguinte sequência:

- redução dos peixes existentes por recurso a venenos naturais;

- introdução de populações de peixes consumidores de zooplâncton;

- reforço das populações de peixes ictiófagos;

109

Page 33: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

- arejamento do hipolímnio para fornecer refúgio às populações de zooplâncton que

sobreviveram.

A Holanda é o país europeu que mais aplica o processo da biomanipulação em

acções de regressão trófica, sobretudo em pequenos lagos; trata-se de uma técnica em

rápida expansão em zonas temperadas.

7.3. Flutuações do nível da água e comunidades biológicas

As flutuações de nível da albufeira resultantes dos usos da água tem uma forte acção

erosiva sobre a zona litoral, aumentam a turvação da água e a produtividade biológica e

impedem o estabelecimento da vegetação marginal e dos invertebrados a ela associados. A

magnitude das alterações ecológicas na zona litoral, bem como a proporção volumétrica

relativa da zona fluvial e da zona de transição, dependem da morfometria da albufeira e da

frequência, época, duração e velocidade das flutuações. As zonas litorais podem, assim,

ser muito diferentes em diversidade e abundância de organismos. Margens bem

estruturadas, ricas em árvores, arbustos e vegetação submersa, com densas populações de

invertebrados aquáticos e estruturadas numa zona fluvial bem oxigenada, podem

rapidamente transformar-se em desertos biológicos, se a descida do nível da água for

acentuada e atingir o hipolímnio anóxico da zona de transição.

A redução do nível da água da albufeira é particularmente lesiva para as populações

piscícolas na época de Primavera-Verão. Primeiro, porque determina a perda de habitats

marginais, a diminuição da área alimentar favorável (com vegetação litoral e alimento

associado) e disponível (integrada no epilímnio aeróbio); segundo, porque apresenta

elevado risco de destruição das posturas das espécies sedentárias, algumas delas de

elevado valor piscatório, como o achigã, para as quais a diminuição do nível da água

afecta o recrutamento anual.

A diminuição do nível da água também pode dificultar a saída das espécies

potamódromas, como o barbo e a boga, da albufeira para os afluentes, onde se realiza a

desova (a partir de Abril ou Maio, de acordo com a temperatura) e o seu regresso após

reprodução. A diminuição do nível da água concentra presas e predadores das zonas fluvial

e de transição, aumenta o crescimento dos predadores e diminui as populações das presas

110

Page 34: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

conduzindo, após vários anos, a um desequilíbrio populacional (albufeira de Magos:

GODINHO e FERREIRA, 1994).

Pelo contrário, um aumento do nível da água submerge a vegetação terrestre das

orlas das albufeiras e favorece as espécies generalistas, que comem insectos aquáticos e

terrestres e os detritos vegetais e animais que aí se acumulam. Se for realizado pouco antes

da época de postura e alagar zonas de pouca profundidade, o aumento do nível da água é

particularmente benéfico para as populações que realizam posturas na albufeira (achigã,

perca-sol, gambúsia, carpa), para o que são determinantes a forma e desenvolvimento da

linha de margem: margens pouco declivosas e muito recortadas são particularmente

favoráveis a um bom desenvolvimento biológico e equilíbrio das populações piscícolas.

Um aumento da área submersa de 12 a 20% antes das posturas (em geral durante Abril) é

considerado muito eficaz no incremento da biomassa piscícola e praticado rotineiramente

em muitas albufeiras norte-americanas para efeitos de gestão piscatória (FERREIRA et al.,

1998). O Quadro 4.4 sumariza as acções de gestão ecológica mais importantes a

desenvolver para a conciliação das flutuações de nível de água resultantes do uso das

albufeiras com as populações piscícolas aí existentes.

Quadro 3.2 – Objectivos e principais acções de gestão ecológica relacionadas com as flutuações do

nível da água em albufeiras. OBJECTIVO ACÇÕES DE GESTÃO ECOLÓGICA

Manutenção

de populações

piscícolas equilibradas

- Evitar diminuições ou flutuações demasiado bruscas do nível da água.

- Garantir durante a época de desova um período com flutuações mínimas par

recrutamento anual de juvenis se efectue.

- Assegurar que as flutuações de nível não impeçam a continuidade hídrica das rotas

migratórias de barbos e de bogas, na ida e na volta.

- Evitar ou controlar a eutrofização do sistema.

Promoção

das populações

piscícolas existentes

- Determinação das principais vias migratórias nos afluentes junto à

albufeira e afeiçoamento de leitos fluviais aí existentes, para promoção de desovas.

- Contrução de margens compostas (até 3 degraus) em áreas seleccionadas da albufeira

e sementeira de vegetação marginal resistente a fases de emersão (como tamargueira ou

graminhão).

- Colocação de abrigos de materiais naturais para promoção da diversidade

habitacional marginal (como pedras grandes oriundas da região, pilhas de troncos ou

mesmo caixotes de madeira).

111

Page 35: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

7.4. Esvaziamento de albufeiras

7.4.1. Condução do esvaziamento na albufeira

Apesar da construção de barragens na Península Ibérica ser uma prática antiga, a

grande maioria destas estruturas foi construída a partir dos anos cinquenta, assistindo-se

presentemente à necessidade do seu esvaziamento por motivos vários, tal acarretando

importantes consequências ecológicas.

Pelas razões que se explicaram antes neste capítulo, o domínio ictiológico de grande

parte das albufeiras portuguesas é exercido pelos ciprinídeos nativos (escalo, boga, barbo)

ou exóticos (carpa e pimpão) e pelos centrarquídeos exóticos perca-sol e achigã,

essencialmente espécies ubíquas e tolerantes, com os seus ciclos de vida bem adaptados a

este ambiente instável e pouco estruturado. O valor conservacionista destas comunidades é

baixo embora se trate de um importante recurso haliêutico, com um elevado valor

económico e desportivo.

Frequentemente, as beneficiações e limpezas de albufeiras processam-se em

situações de eutrofização da massa de água. Numa situação de eutrofia avançada, a

biomassa de peixes é em geral dominada pelas espécies detritívoras que se alimentam dos

sedimentos orgânicos dos fundos, essencialmente a carpa, que pode atingir nestes casos

grandes dimensões (podendo o peso individual exceder 10 kg). A turvação biótica

crescente, a abundância de algas libertadoras de substâncias tóxicas e a diminuição das

áreas aeróbias disponíveis para a alimentação e realização do seu ciclo de vida (entre

outras causas) resultam no quase desaparecimento da boga, barbo e achigã, com

desenvolvimento das populações de perca-sol caracterizadas por abundantes indivíduos

com idades avançadas, mas de pequenas dimensões (de crescimento bloqueado). As

populações de carpas são, de resto, reconhecidamente responsáveis pelo acelerar do

processo eutrofizacional, ao predarem os crustáceos filtradores de algas e ao fossarem nos

fundos, levantando os sedimentos e libertando o fósforo neles retido. No final de um

processo eutrofizacional deste tipo, que se verifica, por exemplo, nas albufeiras de Magos,

Roxo e Montargil, o valor piscícola da massa de água decresce muito.

Face a este quadro ecológico de desequilíbrio e baixa biodiversidade, que ocorria

por exemplo na albufeira de Vale do Gaio na altura do esvaziamento (GODINHO, 1994), a

conservação das populações existentes não faz sentido, sendo desequilibradas e

112

Page 36: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

constituídas por duas espécies exóticas, nem tão pouco o seu transporte para albufeiras

vizinhas (como aconteceu em 1981, em Pego do Altar), onde de resto já existem e

dominam a comunidade. Também não faz sentido manter as populações vivas durante o

período do esvaziamento, reintroduzindo-as na nova massa de água e fomentando a

continuidade de más condições biológicas.

Em albufeiras menos eutrofizadas encontra-se uma maior diversidade piscícola,

incluindo espécies nativas (barbo, boga, truta). É possível nestes casos, pescar pelo menos

parte destas populações e transportá-las para outras massas de água. Contudo, salvo raras

excepções (por exemplo, os sáveis de Castelo do Bode e da Aguieira), estas espécies não

apresentam um estatuto conservacionista de ameaçadas ou em perigo, tratando-se, pelo

contrário, das espécies mais generalistas e ubíquas que antes existiam no rio. A dimensão

das suas populações é, em geral, reduzida e, portanto, de difícil pesca dirigida. A sua

colocação noutras albufeiras não melhoraria necessariamente a situação das populações aí

existentes, que dependem muito mais da gestão ecológica destas massas de água.

Assim, de uma forma geral, recomendar-se-iam os seguintes passos precedendo o

esvaziamento de uma albufeira ibérica:

- caracterização expedita das populações piscícolas existentes por redes passivas,

pesca eléctrica e ecosondagem;

- tomada de opção sobre se e quais as espécies a transladar;

- pesca dirigida às espécies a transladar (caso as haja) e transporte destas para uma

albufeira seleccionada e com características apropriadas;

- abertura de um período de pesca livre de pescadores desportivos e profissionais

para aproveitamento económico piscatório da massa de água;

- pesca por todos os meios possíveis, do maior numero de indivíduos, por

confinamento em dados locais durante o esvaziamento, ou recolha no próprio

local de descarga;

- rentabilização económica do pescado, por exemplo, para consumo humano e no

processo de fabrico de farinha de peixe;

- enterramento da biomassa piscícola que não for possível rentabilizar fora da área

de influência da albufeira, por forma a não enriquecer os sedimentos;

- implementação de um programa de repovoamento, fomento e promoção aquícola

da massa de água após o reenchimento.

113

Page 37: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

7.4.2. Impacte do esvaziamento a jusante e sua mitigação

Os impactes ecológicos do esvaziamento de uma albufeira centram-se, de facto, não

na massa de água em si, mas no sistema fluvial a jusante.

Existem poucos estudos documentados sobre os efeitos ecológicos de esvaziamentos

na Europa mediterrânica, sendo os exemplos mais interessante o de Pareloup, no Sul da

França, e o de Berasona, junto aos Pirinéus espanhóis. O esvaziamento é, em geral,

realizado pela descarga de fundo e a água efluente, deriva do lipolímnio, apresenta

características quimicamente agressivas, sendo fria, anóxica, com um pH muito baixo,

elevado teor de sólidos suspensos (verdadeiramente lama, no caso de Berasona) e elevados

teores de elementos e compostos tóxicos acumulados nos sedimentos, nomeadamente

amónia e compostos de ferro, enxofre e manganês. Esta água é escoada ao longo do curso

de água, submergindo a vegetação herbácea e colmatando as superfícies, alterando e

destruindo os habitats e as populações bentónicas, de invertebrados e perifiton.

Relativamente aos peixes, colmata as brânquias, perturba as deslocações normais no rio,

impede o desenvolvimento das posturas e ovos nas áreas colmatadas, elimina os ovos e

alevins (fase larvar, em que a morfologia do corpo adulto ainda não está completamente

definida) e diminui a disponibilidade alimentar do sistema, afectando o crescimento e a

condição das populações em geral.

Não foram ainda estabelecidas técnicas correntes que permitam mitigar as alterações

ecológicas de esvaziamentos, pelo menos em zonas mediterrânicas. As consequências

descritas acima foram documentadas em Berasona. Contudo, este cenário catastrófico pode

ser bastante atenuado:

- se o esvaziamento se processar em massas de água de eutrofização menos avançada

e com menos espessura de sedimentos finos e anóxicos;

- se o esvaziamento for realizado a partir de uma descarga de meio fundo ou pelo

menos acima dos sedimentos do fundo;

- se o regime de descargas for planeado de modo a ser realizado de forma

progressiva.

Nalguns casos, nos E.U.A., têm sido conduzidas as descargas para séries paralelas de

leitos artificiais e bacias de recepção, onde as características da água se tornam mais

favoráveis, nomeadamente grande parte da carga sólida transportada sedimenta, a água

aquece, aumenta o pH e parte das substâncias tóxicas é precipitada no leito. Nalgumas

114

Page 38: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

situações de declives acentuados no vale a jusante, foi possível incorporar zonas de

socalcos no percurso da água, afeiçoadas por materiais naturais, como troncos de árvore,

por forma a promover o arejamento e oxidação das formas reduzidas de compostos,

sobretudo amónia. Após passagem nestas zonas de recepção preparadas para o efeito, a

água é reconduzida ao sistema fluvial.

Mesmo considerando estas medidas mitigadoras, é de esperar alguma influência

negativa nas populações a jusante. A Fig. 3.9 ilustra a variação das populações piscícolas

antes e depois do esvaziamento de Pareloup, França, detectadas em cinco estações de

amostragem a jusante. Verifica-se que algumas espécies da albufeira invadem os troços a

jusante e a densidade populacional aumenta, embora a densidade de algumas espécies

diminua, quase sempre de salmonídeos (trutas), quando existem no rio a jusante da

barragem.

Todas as espécies

Truta comum Truta comum Figura 3.9 – Riqueza em espécies, biomassa piscícola (kg ha -1) e densidade de trutas

Salmo trutta (número indivíduos em 100m de rio) antes e depois do esvaziamento de

Pareloup em cinco locais fluviais a jusante (extraída de DAUBA, 1994).

115

Page 39: Ecologia e Gestão de Albufeiras

ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS

Todo o processo de esvaziamento deveria ser acompanhado por um conjunto de

medidas e acções de acompanhamento e mitigação, delineadas caso a caso e de acordo

com a situação ecológica e piscícola da albufeira em causa, incluindo o estabelecimento de

comunidades piscícolas ecologicamente adequadas após o reenchimento, bem como a

monitorização do sistema fluvial a jusante e intervenção neste, quando necessário.

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