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Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências Departamento de Biologia Animal Ecologia de repouso do marsupial semi-aquático Chironectes minimus em rios de Mata Atlântica no Sudeste do Brasil Ana Filipa Palmeirim Mestrado em Biologia da Conservação 2010

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Ciências

Departamento de Biologia Animal

Ecologia de repouso do marsupial semi-aquático

Chironectes minimus em rios de Mata Atlântica

no Sudeste do Brasil

Ana Filipa Palmeirim

Mestrado em Biologia da Conservação

2010

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Ciências

Departamento de Biologia Animal

Ecologia de repouso do marsupial semi-aquático

Chironectes minimus em rios de Mata Atlântica no Sudeste

do Brasil

Ana Filipa Palmeirim

MESTRADO EM BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO

Dissertação orientada pela Professora Doutora Margarida Santos-Reis

(Departamento de Biologia Animal/Centro de Biologia Ambiental - Faculdade de

Ciências da Universidade de Lisboa)

E co-orientada pelo Professor Doutor Fernando A. S. Fernandez

(Universidade Federal do Rio de Janeiro)

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i

Agradecimentos

Aos meus pais, por serem como são e por me acompanharem sempre. Longe ou não,

estiveram sempre aqui a ajudar-me e incentivar-me. Aos manos, pela ajuda preciosa. Ao Bubi,

por não se esquecer de mim. A toda a família, de quem foi difícil ficar longe durante tanto

tempo.

Ao Professor Fernando Fernandez, por me ter recebido no seu laboratório e dado a

oportunidade de estudar o animal mais espectacular do mundo. Por todos os seus

ensinamentos e paciência e por me ter dado a conhecer o mundo da Ecologia, que eu adorei.

À Professora Margarida, pela orientação e por ter sido tão prestável.

À Melina, pela tremenda ajuda, desde ceder os seus dados até às revisões prestadas e

conhecimento transmitido. Ao Maron, pelo apoio ao longo de todo o meu período no LECP. Ao

Zucco e ao Jorge pelas dicas e pela paciência com as minhas dúvidas. À Carol, pela amizade e

boa disposição que sempre me animava. A todas as outras pessoas do Laboratório de Ecologia

e Conservação de Populações que me ajudaram e com quem foi interessante e enriquecedor a

partilha de ideias.

À Jo, por ter estado comigo quando mais precisei e me ter feito sentir perto quando

estava tão longe. À Guida, pela constante ajuda e conversas produtivas. Aos “os importantes”

da FCUL e associados de sempre, e à família do 702, pelos grandes momentos.

À Idea Wild, por financiar os colares radio-transmissores, e à Fundação O Boticário de

Proteção à Natureza, por apoiar o projecto.

A todas as pessoas que encontrei na Fazenda Reserva Botânica Águas Claras,

principalmente à proprietária da Fazenda, Cecília Amorim, e às que ajudaram no trabalho de

campo.

Novamente, aos meus pais por todo o seu amor. Sem a sua ajuda não teria sido

possível conhecer nem a Mata Atlântica nem o Chichi.

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ii

Resumo

A estrutura, uso, distribuição e selecção de abrigos diurnos utilizados pela cuíca

d’água, Chironectes minimus (Zimmermann 1780), foram estudados em rios de Mata Atlântica

no Sudeste do Brasil. Para tal, procedeu-se à captura, por armadilhagem, e monitorização, por

radio-telemetria, de 14 indivíduos adultos. Os abrigos, identificados por esta técnica, foram

caracterizados sempre que possível. Durante o período de estudo, que abrange duas

amostragens (Leite 2009 - Julho de 2005 a Outubro de 2008; Presente estudo - Março de 2009

a Maio de 2010), localizaram-se 36 abrigos, dos quais 26 foram caracterizados. Estes dados

foram analisados com recurso a modelos lineares generalizados mistos. São pela primeira vez

detalhadas as características estruturais de abrigos da cuíca d’água. A maioria destes abrigos

apresentou substrato pedregoso e não se verificaram indícios de participação activa na sua

construção. Em média, cada indivíduo usou 4,2 abrigos com 2,9 utilizações cada um.

Registaram-se situações de partilha do mesmo abrigo por mais de um indivíduo (n=5). Em

geral, os abrigos apresentaram um padrão de distribuição agrupado. Verificou-se a selecção de

segmentos de rio com floresta conservada em seu redor. Os dados apresentados apontam

para uma reduzida disponibilidade de abrigos na área de estudo e, consequentemente, para o

seu papel como recurso limitante da população local. A distribuição espacial dos mesmos pode

ser explicada principalmente pela proximidade às áreas de alimentação. A selecção de

segmentos com floresta conservada em redor do rio reflecte a elevada sensibilidade desta

espécie à perturbação humana e constitui um resultado importante no estabelecimento de

medidas adequadas à sua gestão.

Palavras-chave: cuíca d’água, uso de abrigos, distribuição de abrigos, selecção de abrigos,

recurso limitante

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Abstract

The study of the structure, use, spatial distribution and selection of diurnal shelters by

the water opossum Chironectes minimus (Zimmermann, 1780) was carried out in Atlantic

Rainforest streams, southeastern Brazil. Fourteen individuals were captured, by trapping, and

monitored by radio-telemetry. During the study period, which comprises two sampling periods

(Leite 2009 – July 2005 to October 2008; present study – March 2009 to May 2010), were

located 36 shelters, from which 26 were characterized. The data were analyzed using

generalized linear mixed models. For the first time the structural features of water opossum’s

shelters are described in detail. Most of them were made of rocks and there was no evidence

of building. On average, each individual used 4.2 diurnal shelters with 2.9 utilizations each one.

The use of the same diurnal shelter by more than one individual was recorded at the same and

at different times. In general, the diurnal shelters showed a clumped distribution pattern. In

order to establish their shelters, the narrower river segments were preferred and the

segments with preserved forest in its vicinities were probably selected. The analysis of its use

suggests a reduced availability of that resource in the study area. The spatial distribution can

be explained by the proximity to the foraging areas. The preference by narrower river

segments might be mainly related with the potential higher food availability. The probable

selection of segments with preserved forest in its vicinities shows the high sensibility of this

species to human disturbance, which constitutes an important result to guide adequate

management measures.

Key-words: water opossum, shelter use, shelter distribution, shelter-habitat selection, limiting

resource

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Índice

Agradecimentos ........................................................................................................................................ i

Resumo ..................................................................................................................................................... ii

Abstract ................................................................................................................................................... iii

1. Introdução ............................................................................................................................................1

2. Área de estudo .....................................................................................................................................5

3. Métodos ...............................................................................................................................................7

3.1 Recolha de dados ...........................................................................................................................7

3.1.1 Da espécie ...............................................................................................................................7

3.1.2 Do habitat ................................................................................................................................8

3.2. Análise de dados ........................................................................................................................ 10

3.2.1 Estimativa dos padrões espaciais ......................................................................................... 10

3.2.2. Caracterização estrutural dos abrigos ................................................................................. 10

3.2.3 Uso dos abrigos diurnos ....................................................................................................... 12

4. Resultados ......................................................................................................................................... 17

4.1 Caracterização estrutural ............................................................................................................ 18

4.2 Uso de abrigos diurnos ................................................................................................................ 25

4.3 Referência ao uso de abrigos nocturnos e outras observações .................................................. 29

4.4 Distribuição espacial dos abrigos diurnos ................................................................................... 29

4.5. Selecção de abrigos .................................................................................................................... 30

5. Discussão ........................................................................................................................................... 34

Bibliografia ............................................................................................................................................ 44

Anexos ............................................................................................................................................... 51

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1. Introdução

Para os mamíferos, que despendem a maioria do seu tempo no interior de abrigos

(Reichman & Smith 1999), o local de abrigo é considerado um recurso importante (Schradin

2005). Os abrigos são utilizados por estes animais com o objectivo de adquirir protecção

contra condições climáticas adversas (Fitch & Shirer 1970, Weber 1989, Zalewski 1997a, b,

Hossler et al. 1994), e/ou predadores (Fitch & Shirer 1970, Pardini & Trajano 1999, Bull &

Heater 2000, Zabala et al. 2003, Lesmeister et al. 2008). Além do tipo de protecção fornecida

pelo abrigo, também a proximidade a que este se encontra das áreas de alimentação pode ser

determinante na sua escolha (Weber 1989, Halliwell & Macdonald 1996, Genovesi et al. 1997,

Zalewski 1997a, b, Larivière & Messier 1998). É durante a época de reprodução que os abrigos

adquirem particular importância para mamíferos (Pardini & Trajano 1999), podendo acarretar

maior selectividade dos mesmos por parte das fêmeas (Taylor & Kruuk 1990, Hossler et al.

1994, Zalewski 1997a, b, Bull & Heater 2000, Shibata et al. 2004).

A escassez de abrigos, ou de locais adequados ao seu estabelecimento, pode ter

consequências importantes na ecologia, comportamento e conservação de uma espécie (Beja

1996). A disponibilidade e distribuição espacial de abrigos constituem factores de grande

relevância na estrutura e dinâmica das populações, podendo condicionar a distribuição das

espécies, a abundância populacional e a dimensão das áreas vitais dos indivíduos (Weber

1989, Beja 1996). Assim, os abrigos podem constituir um recurso limitante para populações

deste taxa (Birks & Linn 1982, Weber 1989, Beja 1996, Halliwell & Macdonald 1996),

acarretando competição intra- e/ou interespecífica (Schradin 2005). Vários dos estudos com

abrigos de mamíferos consideraram a informação obtida primordial para a definição de

estratégias de conservação (e.g. Beja 1996, Bull & Heater 2000, Zabala et al. 2003, Sepúlveda

et al. 2007). Também para a cuíca d’água é necessário conhecer os seus requisitos ecológicos

relacionados com este recurso, para melhor direccionar os esforços conservacionistas.

Os abrigos utilizados por mamíferos podem ser construídos pelo próprio ou por outro

animal, ou podem corresponder a cavidades naturalmente formadas (Pardini & Trajano 1999).

O comportamento de construção do abrigo representa uma demanda energética para o

animal, podendo condicionar vários aspectos da sua ecologia, desde o número de abrigos à

sua utilização (Zabala et al. 2003), e até ao tamanho da área vital (Garin et al. 2002). A forma

como os abrigos são usados, bem como o seu padrão de distribuição, são considerados

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aspectos importantes do uso do espaço pelos animais, podendo fornecer informações sobre o

grau de sociabilidade (Brock & Kelt 2004), sistema de acasalamento (Endries & Adler 2005) e

preferência de habitat relativas ao período de inactividade dos animais (Shibata et al. 2004). A

construção de abrigos, assim como os padrões de distribuição e uso, podem diferir entre os

sexos (Snyder & Linhart 1994, Beja 1996).

A escolha de abrigos por mamíferos pode basear-se na teoria ecológica de selecção de

habitat (Martin 1998). Segundo esta teoria, a importância do habitat é analisada através da

comparação entre o habitat que é usado e o que está disponível (Manly et al. 2004). No caso

da escolha de abrigos, ou de locais adequados ao seu estabelecimento, tratar-se de selecção

de habitat durante o período de inactividade da espécie. É de salientar que a selecção de

habitat num dos períodos de (in)actividade, não implica a selecção no período complementar,

tal como já foi observado anteriormente (Halliwell & Macdonald 1996). A selecção de abrigos

já foi anteriormente encontrada tanto em mamíferos semi-aquáticos (Halliwell & Macdonald

1996, Pardini & Trajano 1999, Zabala et al. 2003), como em marsupiais neotropicais (Cobra

2010).

Para espécies que ocupam locais impactados devido à intervenção humana, a restrição

em termos de habitat adequado pode limitar a sua persistência a longo-termo (Sepúlveda et

al. 2007). Por outro lado, a sobrevivência e o sucesso reprodutor de um indivíduo depende do

seu acesso a um conjunto de recursos do habitat, como alimento, parceiros sexuais e abrigos

(Schradin 2005). Acerca destes últimos, estudos da ecologia de repouso de mamíferos são

considerados escassos (Cobra 2010). Porém, o recurso à radio-telemetria tem proporcionado

uma melhor compreensão da importância e dinâmica que envolve o uso de abrigos por

mamíferos, incluindo a cuíca-d’água (Leite 2009).

A cuíca d’água Chironectes minimus é o único marsupial semi-aquático do mundo

(Marshall 1978) e habita principalmente rios de montanha, distribuindo-se desde o Sul do

México até ao Norte da Argentina (Nowak 1991). A cuíca d’água é uma espécie nocturna e são

diversas as suas adaptações ao meio semi-aquático: corpo fusiforme, grandes membranas

interdigitais nas patas traseiras, pêlo denso e impermeável e grande quantidade de vibrissas

(Marshall 1978, Nowak 1991, Fernandez et al. 2007). De entre os marsupiais, a cuíca d’água

distingue-se pela presença de um marsúpio, que confere protecção térmica sobre a bolsa

escrotal nos machos, pelo forte esfíncter no marsúpio das fêmeas que evita a entrada de água

no seu interior, e de um sexto dígito nas patas anteriores que auxilia a manipulação das presas

(Marshall 1978, Nowak 1991, Fernandez et al. 2007, Anexo 1). Apesar da sua vasta

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distribuição, a cuíca d’água é um animal pouco estudado (Leite 2009), devido principalmente à

dificuldade inerente à sua captura. Recentemente, esta situação tem vindo a reverter-se, na

sequência do desenvolvimento de um método de captura específico para a espécie (Bressiani

& Graipel 2008), encontrando-se já disponível informação sobre aspectos da sua ecologia (e.g.

Galliez et al. 2009, Leite 2009, Queiroz 2010).

Figura 1 – Indivíduo de cuíca d’água Chironectes minimus equipado

com radio-colar , micro-bacia do rio Águas Claras, Brasil (Arquivo

LECP).

No que se refere à sua abundância na natureza, a cuíca d’água é considerada rara

(Emmons & Feer 1997). No Brasil, encontra-se em diversas listas regionais de espécies

ameaçadas, principalmente devido à falta de informação e às ameaças reconhecidas ao habitat

(Bergallo et al. 2000, Marques et al. 2002, Fundação Biodiversitas 2003, Mikich & Bernis 2004).

Galliez et al. (2009) consideram a degradação dos rios e matas ciliares como uma das principais

ameaças à espécie. De facto, a dispersão de indivíduos neste tipo de habitat é mais facilmente

impedida, devido à linearidade imposta pelo mesmo, e a consequente diminuição no fluxo de

genes entre populações pode estar a agravar o seu risco de extinção. A eutroficação dos rios e

a introdução de espécies exóticas (e.g. Carpa Cyprinus carpio, Tucunaré Cichla monoculus) são

consideradas ameaças ao habitat da espécie (Agostinho et al. 2005), sendo este considerado

um dos que mais sofrem alterações devido à acção humana (Allan 2006). Em trabalhos

anteriores realizados na Mata Atlântica, a cuíca d’água apresentou elevados requisitos

espaciais e reduzida densidade populacional (Galliez et al. 2009, Leite 2009), o que levou a

considerá-la vulnerável neste bioma (Leite 2009).

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A cuíca d’água, por possuir apenas actividade nocturna (Zetek 1930, Mondolfi & Padilla

1950, Galliez et al. 2009, Leite 2009), está limitada no seu ciclo de actividade, não alterando de

abrigo durante o dia. Assim, o abrigo constitui um recurso muito importante e potencialmente

limitante para esta espécie de hábitos exclusivos entre os marsupiais. O presente estudo

pretendeu contribuir para o conhecimento necessário ao estabelecimento de uma estratégia

de conservação da cuíca d’água, bem como para a documentação da sua história natural. Os

objectivos específicos consistiram em: i) avaliar as características estruturais e o uso dos

abrigos diurnos utilizados pela cuíca d’água em rios de Mata Atlântica, ii) descrever o padrão

de distribuição dos abrigos nas áreas vitais dos indivíduos, e iii) analisar os eventuais factores

que condicionam a selecção de abrigos diurnos, a diferentes escalas espaciais.

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2. Área de estudo

O presente estudo foi conduzido na Reserva Botânica Águas Claras (22o 31’ 39’’S 42o

30’ 06’’W), localizado no município Silva Jardim, Estado do Rio de Janeiro, Brasil (Figura 2). A

área de estudo corresponde ao bioma de Mata Atlântica, compreendendo alguns dos

ecossistemas mais diversos, mas também mais ameaçados, do mundo e por isso actualmente

considerado um hotspot (Myers et al. 2000).

Figura 2 – Localização da área de estudo: A - Contexto da localização da área de estudo no

município de Silva Jardim (rectângulo preto), Estado do Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil. B -

Porção média da micro-bacia do rio Águas Claras, mostrando os rios principais (nomeados

na figura), e pequenos tributários, utilizados pela cuíca d’água. As coordenadas encontram-

se na projecção Universal Transverse Mercator (UTM).

O clima da região é classificado como tropical húmido e quente. A precipitação média

mensal, entre 2004 e 2010 foi de 309,7 mm na estação chuvosa (Outubro a Março) e 113 mm,

na estação seca (Abril a Setembro) (Fonte: Agência Nacional das Águas, 15-10-2010) e a

temperatura média mensal entre 19°C no Inverno e 25°C no Verão (Mantovani 1997). A área

de estudo é ainda influenciada pelas cadeias montanhosas circundantes, as quais atingem a

altitude máxima de aproximadamente de 1000 m acima do nível do mar (Mantovani 1997). A

vegetação predominante desta área é classificada como ombrófila densa submontana e,

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actualmente, inclui fragmentos de vegetação secundária e remanescente da floresta original

(Mantovani 1997).

O rio Águas Claras, um dos principais cursos de água da região Sudeste do estado

(Bidegain & Völcker 2003), desagua no curso médio do rio São João e possui oito tributários

principais, destacando-se os rios Dona Rosa, Floresta, Maria Antónia, Jordão e Canoa Podre. Ao

longo da bacia do rio Águas Claras verifica-se um gradiente de perturbação. Assim, os cursos

superior e médio estão bem conservados, apresentando galeria ripícola intacta, substrato

pedregoso e a presença de corredeiras, remansos e, ocasionalmente, poços profundos

(Bidegain & Völcker 2003). Já no curso inferior, a influência humana é notoriamente mais

acentuada. No seu início, após a confluência com o rio Dona Rosa, existe uma represa

desactivada com cerca de 3 m de altura, e nas margens encontram-se campos de agricultura e

pasto, tendo sofrido rectificações (i.e. eliminação de meandros e saliências do rio) entre 1950

e 1980 (Bidegain & Völcker 2003). Este curso é ainda caracterizado por possuir trechos

desprovidos de vegetação ripícola, com substrato arenoso e águas calmas e rasas, verificando-

se ainda a extracção ilegal de areia e pedras para construção civil. O trecho estudado deste rio

- final do curso superior, curso médio e início do curso inferior, possui largura e profundidade

médias de 10 e 0,4 m, respectivamente.

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3. Métodos

3.1 Recolha de dados

3.1.1 Da espécie

Métodos de captura – Entre Maio de 2009 e Abril de 2010 foram realizadas sete

sessões mensais de captura, com cinco noites de duração cada (excepção para os meses de

Agosto de 2009 e de Outubro a Janeiro de 2010). A armadilhagem decorreu nos rios principais

da bacia em estudo e respectivos tributários (rio Águas Claras e três tributários, rio Floresta e

dois tributários, rio Dona Rosa e quarto tributários e rio Jordão). Ao longo destas linhas de

água, foram colocadas estações de armadilhagem, que consistiam na colocação de uma a três

armadilhas consoante a largura do rio (Anexo 2). Utilizaram-se armadilhas de caixa de dupla

entrada (Tomahawk Live Trap Co., dos seguintes tamanhos: 96,6 x 15,2 x 15,2 cm e 81,3 x 22,9

x 22,9 cm), que foram posicionadas sobre barreiras construídas com pedras (Bressiani &

Grapel 2008).

Os indivíduos capturados foram devidamente marcados com brincos numerados

(modelo 1005-1, National Band and Tag Co., Newport, Kentucky, EUA). Em cada captura foram

registados os seguintes parâmetros: local e estação da captura, sexo, condição reprodutora

(presença de filhotes no marsúpio e mamas desenvolvidas e/ou com leite, para fêmeas, e

posição e desenvolvimento dos testículos, para machos), medidas corporais (massa corporal e

tamanho da cauda) e idade. Após a manipulação cada indivíduo foi libertado junto ao

respectivo local de captura.

Radio-telemetria – Cada indivíduo capturado com massa corporal superior a 300g foi

munido de um radio-colar com sensor de movimento (SOM-2380A, Wildlife Materials, Inc.,

Murphysboro, Illinois, EUA; ou, TXE-207C, Telenax, Playa del Carmen, México), e bateria com a

duração de 90 dias. O peso do colar foi inferior a 15g, valor correspondente a menos de 5% da

massa do animal, como recomendado por Jacob & Rudran (2003) de forma a não interferir

com as actividades rotineiras dos indivíduos.

Para monitorizar os animais foi adoptada a técnica de radio-telemetria homing in on

the animal, recorrendo à utilização de um radio-receptor TR-4 e a uma antena manual RA-14K

(Telonics, Inc., Mesa, Arizona, EUA). Esta técnica consiste em seguir o sinal do radio-

transmissor até ao avistamento do animal (White & Garrot 1990), ou até ser possível ouvir o

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sinal do radio-colar com a antena desconectada do radio-receptor (Lira et al. 2007). As

localizações foram obtidas a intervalos de 1 hora, correspondente ao menor intervalo de

tempo aconselhado para diminuir a autocorrelação entre localizações sucessivas do mesmo

animal (Endries & Adler 2005), já que é considerado tempo suficiente para um indivíduo

atravessar toda a extensão de sua área vital. O registo das localizações realizou-se através de

um aparelho de posicionamento global (GPS Garmin 12; Olathe, Kansas, EUA), com base em

coordenadas do sistema de quadrículas do retículo Universal Transversal de Mercator (UTM).

A monitorização de cada indivíduo teve início na noite correspondente ao dia da sua

captura. Cada sessão de radio-telemetria começava quando o animal iniciava o movimento e,

sempre que possível, terminava apenas quando este cessava a sua actividade. Durante o

período correspondente à duração da bateria do radio-colar, estas sessões eram efectuadas

sempre que possível, de modo a maximizar o número de localizações obtidas para cada

indivíduo.

Localização e classificação dos abrigos - Durante as sessões de radio-telemetria, todos

os abrigos utilizados pelos indivíduos foram georreferenciados. Estes abrigos foram

diferenciados de acordo com o período em que eram utilizados, designando-se por abrigos

diurnos, se utilizados durante o período de inactividade, e nocturnos, se utilizados em

actividade. Também os abrigos utilizados após a soltura do animal foram destacados dos

restantes. Alguns abrigos diurnos foram utilizados durante o período de actividade, ainda

assim também estes foram contabilizados como diurnos.

3.1.2 Do habitat

Caracterização da área de estudo – A área de estudo foi caracterizada através de três

excursões realizadas em Agosto de 2009, Maio e Agosto de 2010. A caracterização

compreendeu toda a extensão de rio entre as localizações mais extremas dos animais, obtidas

durante a sua monitorização. Para tal, dividiu-se essa extensão em segmentos contíguos com

50 m de comprimento, um valor considerado adequado à variação das características

fisiográficas do rio. No centro de cada segmento foi medido um conjunto de variáveis

descritivas das características do rio e suas margens, bem como do impacto humano. A

selecção destas variáveis baseou-se na influência que previsivelmente poderiam exercer na

selecção de habitat pela cuíca d’água (Galliez et al. 2009, Leite 2009), assim como por outras

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espécies de hábitos semelhantes (Weber 1989, Genovesi et al. 1997, Zalewski 1997a, b, Zabala

et al. 2003). Dada a aparente preferência desta espécie por córregos bem preservados (Zetek

1930, Mondolfi & Padilha 1958, Handley Jr 1976, Voss et al. 2001, Galliez et al. 2009, Leite

2009), incluíram-se também variáveis descritoras destes aspectos. Todas as variáveis foram

estimadas no campo para cada segmento, excepto a variável uso do solo a 50 m, estimada com

o auxílio de um SIG (Anexo 3).

Caracterização estrutural dos abrigos – Após devidamente identificados, os abrigos

foram caracterizados em Janeiro/Fevereiro, em Maio/Junho de 2008 (períodos

correspondentes aos dados obtidos por M.S. Leite, dados não publicados) e em Abril/Maio de

2010. A caracterização consistiu na medição das seguintes variáveis do rio: velocidade

(remanso, corredeira), largura e profundidade média; estrato vegetativo dominante (herbácea,

arbustiva, arbórea); na margem: substrato (proporção de ocorrência de pedras, solo e raízes),

distâncias horizontal e vertical à água, número de entradas, maior diâmetro da entrada e

diâmetro perpendicular a este; do abrigo: número de câmaras e seu formato e medidas

interiores (larguras proximal e distal, profundidade e altura) (Figura 3, Anexo 3). A presença de

qualquer material encontrado no interior dos abrigos foi registada.

Figura 3 - Esquema hipotético de um abrigo da cuíca d`água nas margens de rios de Mata Atlântica. Os

números indicam as variáveis medidas na caracterização dos abrigos: 1 - altura em relação à água (DV),

2 - distância horizontal (DH), 3 – maior diâmetro da entrada (D1), 4 – diâmetro perpendicular a D1 (D2),

5 – profundidade interior da câmara (PI), 6 – altura interior da câmara (AI), 7 – largura proximal (LP) e 8

– largura distal (LD).

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10

3.2. Análise de dados

Nas análises realizadas sobre a ecologia de repouso da cuíca d’água, e com o objectivo

de reforçar as amostragens e tornar as análises mais robustas, foram incluídos dados de MS

Leite (2009), obtidos entre Julho de 2005 e Outubro de 2008, na mesma área de estudo e com

idêntica metodologia – para mais detalhes ver Leite 2009.

3.2.1 Estimativa dos padrões espaciais

Utilizou-se o conceito extensão de uso (EU), correspondente à distância ao longo do

percurso do rio, medida em metros. A extensão de uso foi estimada através do método do

comprimento total, relativo à extensão de habitat linear entre as localizações mais extremas

obtidas durante a monitorização do indivíduo, recorrendo-se ao programa ArcGIS 9.3

(Environmental Systems Research Institute, Redlands, California).

3.2.2. Caracterização estrutural dos abrigos

Foram calculados valores de estatística descritiva para os abrigos caracterizados, de

acordo com as categorias – abrigo diurno, nocturno ou pós-soltura. Os resultados são

apresentados como mínimo – máximo e média ± desvio padrão ou mediana, consoante a

normalidade ou não dos dados. Apenas para as variáveis largura e profundidade do rio, com

distribuição normal, a mediana, mínimo e máximo foram utilizadas. A variável substrato foi

utilizada para agrupar os abrigos em tipos estruturais (Tabela 1).

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11

Tabela 1 - Definição dos tipos estruturais de abrigos com base na proporção de ocorrência de

raízes, pedras e solo na sua estrutura e sua natureza dominante.

Tipo estrutural Definição

Natureza

dominante

Cavidade em solo nu Proporção de solo ≥ 70%

Solo/Raízes Cavidade entre raízes

e, por vezes, solo

Proporção de raízes ≥ 70%, ou soma das

proporções de raízes e solo > 70%

Cavidade entre pedras Proporção de pedras ≥ 70%

Pedras

Cavidade em solo

pedregoso Proporção de pedras e solo co-dominantes

Cavidade entre pedras

incluindo raízes e, por

vezes, solo

Proporção de pedras é dominante, mas

inferior se as restantes classes forem

consideradas como uma classe não-pedra

Para averiguar a existência de padrões estruturais entre as várias categorias de

abrigos, procedeu-se a um Escalamento Multidimensional Não-Métrico (“Non-Metric

Multidimensional Scaling” – NMDS). Esta análise permite a colocação de cada objecto numa

posição particular do espaço multidimensional em função das distâncias obtidas através da

similaridade entre os vários objectos. A representação gráfica foi obtida para duas dimensões

devido à maior facilidade na interpretação, maior simplicidade da representação espacial bem

como variação do stress com o número de dimensões. Foram ainda comparados os valores de

stress e os gráficos resultantes para várias dimensões. Para comparar os valores de stress,

recorreu-se à utilização da escala sugerida por Kruskal (1964 a in Pereira 1999). Esta escala

classifica a qualidade do ajustamento da análise segundo o valor do nível de stress: igual ou

superior a 0,40 – ajustamento fraco, 0,20 - razoável, 0,1 - bom, 0,05 - excelente e 0,00 -

perfeito. Para calcular a semelhanças entre os objectos, utilizou-se o coeficiente de

emparelhamento simples. Este coeficiente aceita apenas variáveis nominais e ordinais, pelo

que as variáveis contínuas foram previamente transformadas em ordinais. À representação

gráfica obtida foi sobreposto um vector relativo à categoria de cada abrigo. Os dados utilizados

dizem respeito às mesmas variáveis utilizadas na caracterização estrutural dos abrigos, com

exclusão das variáveis do rio (largura, profundidade e velocidade) e dos abrigos com um

número de valores omissos superior a quatro (não incluindo neste número as variáveis do rio).

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12

Estas análises foram realizadas utilizando a versão 2.1.11 do R (R Development Core Team

2010).

3.2.3 Uso dos abrigos diurnos

Uma vez que o número de abrigos diurnos estava correlacionado com o número de

localizações dos indivíduos nesses abrigos (rs=0,81, N=14, P = 0,0005), para análise foram

apenas seleccionados os indivíduos para os quais este número localizações foi superior a 5, de

forma a minimizar essa correlação (r=0,55, g.l. = 5, P = 0,26). Para estes indivíduos, foi

determinado o número médio de abrigos utilizados e, para avaliar a frequência com que

reutilizaram os mesmos abrigos, foi calculada uma taxa de reutilização, dividindo o número de

localizações nesses abrigos pelo número de diferentes abrigos identificados. Estes valores

foram comparados entre os sexos, utilizando testes de Mann-Whitney (Zar 1999).

A frequência de retorno do indivíduo ao mesmo abrigo deixado no início do período de

actividade foi obtida através das localizações em abrigos diurnos relativas a dias consecutivos.

Para determinar a frequência de utilização de cada abrigo e os casos de utilização de um

mesmo abrigo por mais de um indivíduo, consideraram-se todos os indivíduos monitorizados.

Todas as análises estatísticas referidas foram realizadas através do software Statistica 8.0.

3.2.4 Padrão de distribuição dos abrigos diurnos

O padrão de distribuição dos abrigos diurnos nas extensões de uso foi calculado para

todos os indivíduos cuja estimativa desta extensão foi possível. Para tal, recorreu-se à

utilização do índice de dispersão por distâncias (Johnson & Zimmer 1985), baseado em

medidas de distância e aplica-se a espaços de dimensão arbitrária. Este índice de dispersão é

derivado das distâncias entre os objectos e r pontos aleatórios, sendo Ri definido como a

distância do ponto aleatório i até ao objecto mais próximo (Johnson & Zimmer 1985). O valor

do índice é calculado a partir da equação:

Para valores do índice iguais a 2, o padrão espacial diz-se aleatório, para valores

inferiores ou superiores a este, o padrão diz-se uniforme ou agregado, respectivamente

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13

(Johnson & Zimmer 1985). Este índice converge para a normalidade, fornecendo um teste

contra a aleatoriedade quando r atinge valores moderados. A aproximação à distribuição

normal é realizada pelo cálculo do valor de Z através da seguinte equação (Johnson & Zimmer

1985):

Desta forma, foram aplicados testes estatísticos para testar as hipóteses subjacentes

aos padrões de distribuição encontrados. Para analisar a distribuição dos abrigos diurnos

relativamente às extensões-núcleo (i.e. extensões de uso mais utilizadas, obtidas por Leite

2009), compararam-se as quantidades relativas de abrigos dentro e fora das extensões-núcleo,

foi aplicado um teste de Wilcoxon para amostras emparelhadas.

Para analisar a distância entre abrigos contíguos incluíram-se as noites completas de

monitorização em que um dado indivíduo não retornou ao mesmo abrigo deixado no início do

período de actividade. Calculou-se a proporção da extensão de uso correspondente à distância

entre os abrigos contíguos e aplicou-se um teste de Mann-Whitney para verificar se existiam

diferenças entre os sexos tanto para os valores de distância reais e das proporções.

Todas as análises estatísticas referidas foram realizadas utilizando o software Statistica

8.0 e, as análises espaciais, foram realizadas com o auxílio do software ArcGIS 9.3

(Environmental Systems Research Institute, Redlands, California).

3.2.5 Selecção de abrigos diurnos ao nível do microhabitat

Foi estabelecida uma relação entre a natureza do substrato dos abrigos e aquele que

está disponível na área de estudo. Para proceder à avaliação da selecção de locais de abrigo,

foi utilizado o Índice de Ivlev (1969), E = (Ui-Di)/(Ui+Di), onde Ui é a proporção de utilização do

recurso (habitat) i e Di é a proporção de sua disponibilidade. Os valores deste índice variam

entre -1 (selecção negativa) a 1 (selecção positiva), sendo o valor 0 indicador da inexistência de

selecção na utilização do recurso do habitat em questão (Manly et al. 2004). Esta análise foi

realizada para a 2ª ordem, correspondente à área de estudo e abordada tanto ao nível do

indivíduo como da população, e para a 3ª ordem, relativa à extensão de uso dos indivíduos e

abordada apenas ao nível do indivíduo (Johnson 1980). Para avaliar a significância estatística

dos valores de índice obtidos, foi gerada uma distribuição normal para ambas as categorias de

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natureza de substrato. Os valores obtidos pelo índice de Ivelev foram comparados com os

valores gerados por esta distribuição, considerando para tal um nível de significância de 0,05.

Quando foi obtida significância estatística considerou-se selecção (positiva ou negativa).

3.2.6 Selecção de abrigos diurnos ao nível do meso e macrohabitat

Foram associadas medidas de habitat, como variáveis independentes, a dados de

presença/ausência de abrigos, que constituem a variável dependente. Ambos as variáveis

foram obtidas através de segmentos de rio com 100 m de comprimento, incluídos nas

extensões de uso de cada indivíduo, pelo que a relação espécie – habitat se refere à 2ª ordem

de selecção (Johnson 1980). A escolha do comprimento dos segmentos de rio teve em conta os

padrões de movimentação da espécie (Galliez et al. 2009), bem como a variação das

características do rio. A estimação dos valores das variáveis do habitat em cada um dos

segmentos de rio foi obtida através da média dos valores brutos das variáveis de habitat em

três pontos distanciados 50 m entre si. Assim, segmentos de rio contíguos distam 50 m entre

si, garantindo independência. As variáveis medidas, tiveram natureza contínua e encontram-se

descritas na tabela 2. Apenas as relativas ao impacto humano II, tiveram natureza semi-

quantitativa e foram estimadas directamente para os segmentos de 100 m, através de SIGs

(GPS Trackmaker versão 13.1 Copyright, Belo Horizonte, Brasil ).

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15

Tabela 2 - Variáveis do habitat consideradas para análise da selecção de abrigos ao nível do meso e

macrohabitat. Indica-se a abreviatura da variável e descrição detalhada.

Nome Descrição Descrição detalhada

L Rio – Vazão Largura do rio (m)

P Rio – Vazão Profundidade máxima do rio (cm)

V Rio – Vazão Velocidade máxima do rio (cm)

Aa Rio – Substrato Proporção de ocorrência de areia e argila

Cs Rio – Substrato Proporção de ocorrência de seixos e cascalho

Ma Rio – Substrato Proporção de ocorrência de pedras - comprimento < 40 cm

Pe Rio – Substrato Proporção de ocorrência de matacões - comprimento > 40 cm

D Rio – Cobertura Proporção da cobertura do dossel sobre o rio

Arv Margem - Vegetação Proporção do estrato arbóreo em ambas as margens

Arb Margem - Vegetação Proporção do estrato arbustivo em ambas as margens

Herb Margem - Vegetação Proporção do estrato herbáceo ou da ausência de vegetação, em ambas as margens

Narv Margem - Vegetação Número de árvores (DAP > 15 cm) ao longo de 5 m, em ambas margens

I Margem - Topografia Proporção da inclinação de ambas as margens

m5 Impacto humano I Proporção de floresta conservada até 5 m do rio, em ambas as margens

nm5 Impacto humano I Proporção de floresta degradada e/ou ausente (incluí: construções, estradas,

pastagem, plantações e terras abandonadas) até 5 m do rio, em ambas as margens

m50 Impacto humano II Idem de m5 mas entre 5 e 50 m do rio

nm50 Impacto humano II Idem de nm5 mas entre 5 e 50 m do rio

Para analisar a probabilidade de presença de um abrigo diurno num dado segmento de

100 m da extensão de uso dos indivíduos, recorreu-se à utilização de Modelos Lineares

Generalizados de Efeitos Misto (GLMM). A escolha destes modelos prendeu-se com o facto de

os dados não cumprirem o pressuposto da normalidade, bem como pela presença de auto-

correlação espacial nos dados. Quando os dados estão estruturados hierarquicamente, os

GLMM permitem ter em consideração as dependências dentro dos grupos hierárquicos,

através da introdução de efeitos aleatórios (Pinheiro & Bates 2000 in Zuur et al. 2009). Neste

caso, a grade de armadilhagem não foi uniforme ao longo de toda a área de estudo, o que

resultou na captura e monitorização mais intensiva de indivíduos em determinadas zonas

dessa área, levando à existência auto-correlação espacial. Por esta razão, foi incluída no

modelo uma variável aleatória relativa ao indivíduo. Os dados foram assim estruturados em

presença/ausência de abrigos num segmento de rio de 100 m da extensão de uso de um

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16

determinado indivíduo. Os pressupostos destes modelos baseiam-se na independência das

observações e na linearidade entre a função logit da variável resposta e as variáveis

explicativas.

Para evitar a inclusão de variáveis correlacionadas entre si e variáveis que não fossem

explicativas das presenças de abrigos dos segmentos de rio foi foram efectuadas análises de

correlação simples, que identificaram as variáveis que estavam correlacionadas entre si. Após

estas análises, para colmatar a existência desta auto-correlação, procedeu-se à transformação

linear de algumas dessas variáveis (Anexo 5). Para analisar quais das variáveis (auto-

correlacionadas e novas variáveis) mais contribuíam para a explicabilidade dos dados de

presença de abrigo nos segmentos de rio foram realizadas análises de correspondências. O

critério utilizado para tomar decisões sobre a selecção ou não das variáveis foi o valor da

explicabilidade acumulada nos dois primeiros eixos.

Para proceder à modelação da presença/ausência de abrigos diurnos nos segmentos

de rio foram formulados modelos alternativos, biologicamente coerentes. Para seleccionar o

melhor modelo para os dados empíricos em questão utilizou-se o Critério de Informação de

Akaike (AIC), que permite obter uma medida objectiva entre o ajuste do modelo aos dados e a

complexidade do modelo. Assim, o modelo com menor AIC é considerado o mais parcimonioso

e, portanto, o “melhor modelo”(Anderson et al. 2000). Os modelos alternativos, nulo e

completo, foram ordenados de acordo com os seus valores de ∆i, onde ∆i = AICi – mínimo AIC.

Antes de ajustar cada um dos modelos aos dados, as variáveis explicativas foram padronizadas

(μ= 0, σ = 1). Para verificar a adequação do ‘melhor modelo’ foi obtido um gráfico quantil-

quantil dos resíduos. Este gráfico, juntamente com gráficos dos resíduos parciais de cada uma

das co-variáveis, permitiu também avaliar o cumprimento do pressuposto relativo à

linearidade. As análises foram realizadas utilizando a versão 2.1.11 do R (R Development Core

Team 2010) e tiveram um nível de significância de 0,05.

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17

4. Resultados

Para análise da caracterização, distribuição, uso e selecção e abrigos da cuíca d’água

recorreu-se a dados de radio-monitorização de 14 indivíduos adultos (10 machos e 4 fêmeas).

(Tabela 3). Destes, 2 referem-se a indivíduos capturados entre Fevereiro e Abril de 2010. No

entanto, apenas um indivíduo permitiu um número considerável de localizações (n = 37) para

que a sua extensão de uso fosse estimada, tendo o período de monitorização correspondido

aos 3 meses da duração da bateria do radio-colar. Os restantes dados foram obtidos entre

Abril de 2005 e Julho de 2008 por M.S. Leite e referem-se aos outros 10 indivíduos adultos

(para mais detalhes ver Leite 2009). No total, dos 14 indivíduos, 10 tiveram as suas extensões

de uso estimadas (Figura 4).

Figura 4 – Período de rádio-seguimento dos indivíduos cuja extensão de uso foi

estimada. O período, entre Abril 2005 e Maio de 2010, engloba os períodos de

amostragem de Leite 2009 e do presente estudo.

Tabela 3 – Número total das diferentes categorias de abrigos -

diurnos, nocturnos e pós-soltura - localizados e caracterizados,

durante ambos os períodos de amostragem (presente estudo e

Leite 2009).

Categoria Localizados Caracterizados

Diurnos 36 26

Nocturnos 14 7

Pós-soltura 21 10

71 43

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18

4.1 Caracterização estrutural

4.1.1 Descrição

Todos os abrigos caracterizados neste estudo1 seguiram um padrão estrutural comum

(Anexo 4), correspondendo a cavidades nas margens do rio sobretudo em zonas com

vegetação arbórea (92,3% dos abrigos diurnos, n=26; 100% dos nocturnos e pós-soltura, n=7 e

n=10, respectivamente). Os restantes abrigos localizaram-se em locais protegidos por

vegetação arbustiva (7,74% de abrigos diurnos, n=2). O leito do rio, na imediação dos abrigos,

apresentou principalmente corrente moderada (76% dos abrigos diurnos, n=25; 100% dos

nocturnos, n=7; e, 75% dos pós-soltura, n=8). Os valores de largura e profundidade média do

rio variaram entre 0,56 e 12,2 m, respectivamente (Tabela 4).

Tabela 4 – Quadro-resumo das medidas de análise descritiva (mediana, mínimo e máximo) calculadas

para as variáveis do rio – largura e profundidade média – que caracterizam os abrigos. Estas medidas

foram calculadas separadamente para os abrigos diurnos, nocturnos, pós-soltura e no total das três

categorias.

Categoria

Largura (m)

Profundidade média (cm)

Diurnos

Med 3,85 18,3

Mín 0,56 2,0

Máx 12,15 52,7

(n=25 ) (n=25)

Nocturnos

Med 3,4 16,5

Mín 1,1 12,0

Máx 9,4 44,1

(n=7) (n=7)

Pós-soltura

Med 2,3 25,0

Mín 1,8 4,7

Máx 6,0 83,3

(n=10) (n=10)

Total

Med 3,1 19,2

Mín 0,6 2,0

Máx 12,2 83,3

(n=42) (n=42)

1 Alguns os abrigos não puderam ser caracterizados quanto a todas as variáveis, pelo que se apresenta

sempre o número de abrigos que foi utilizado na obtenção da estatística descritiva das determinadas

variáveis.

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19

Dos diferentes tipos estruturais de abrigos, o mais representado foi a cavidade entre

pedras (31% dos abrigos diurnos, n=25; 100% dos abrigos nocturnos n=7, 70% dos abrigos pós-

soltura, n=10). Os tipos estruturais cuja natureza do substrato não foi pedra (cavidades em

solo nu e entre raízes e, por vezes solo) representaram apenas 34% e 20% do total de abrigos

diurnos e pós-soltura, respectivamente (Figura 5). O perímetro da árvore mais próxima ao

abrigo foi 77, 43 – 226 cm, considerando todos os abrigos (73, 44,5 – 226 cm para abrigos

diurnos, n=11; e, 86,8 43 – 127 cm para pós-soltura, n = 4).

Figura 5 - Distribuição dos abrigos diurnos (n = 25) pelos vários tipos

estruturais definidos com base na natureza do substrato do abrigo.

A grande maioria dos abrigos possuia apenas uma entrada (90,63%, n=32), sendo de

destacar um abrigo diurno com 4 entradas, tendo este sido partilhado por dois machos em

épocas distintas (Figura 6). A localização dos abrigos relativamente à água, bem como a

estimativa da área de entrada do abrigo, foram bastante variáveis e, de uma forma geral,

pareceram variar entre as diferentes categorias de abrigos (Tabela 5).

Figura 6 – Caracterização dos abrigos diurnos, nocturnos e pós-soltura quanto ao seu

número de entradas.

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20

As medidas internas dos abrigos encontram-se descritas na tabela 6. Quanto à forma

interior dos abrigos, a classe predominante foi o formato rectangular simples (i.e. sem câmara

associada) nos abrigos diurnos (42,9%, n=14) (Figura 7). É ainda de referir a passagem de água

no interior de 6 abrigos diurnos e a recolha de folhas nas câmaras interiores de 4 abrigos

diurnos, ambos pertencentes a fêmeas e utilizados múltiplas vezes por estas, incluindo quando

se encontravam com crias no marsúpio.

Figura 7 – Morfologia interior dos abrigos diurnos, nocturnos e pós-soltura.

20

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21

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14

,3

5,8

(n

=8)

Pro

fun

did

ade

81

,1

39

,4

(n=1

3)

72

,0

22

,8

(n=4

) 6

8,1

3

3,6

(n

=8)

75

,5

22

,8

(n=2

5)

M

ed

Mín

M

áx

M

ed

Mín

M

áx

M

ed

Mín

M

áx

M

ed

Mín

M

áx

Larg

ura

dis

tal

25

,5

10

,0

100

,0

(n=6

) 2

0,0

-

- (n

=1)

46

,0

27

,0

50

,0

(n=4

) 3

4,0

1

0,0

1

00,0

(n

=11

)

Larg

ura

pro

xim

al

30

,0

10

,0

220

,0

(n=1

1)

60

,0

40

,0

80

,0

(n=2

) 2

7,5

1

7,0

4

5,0

(n

=6)

29

,0

10

,0

220

,0

(n=1

9)

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22

4.1.2 Abrigos diurnos vs abrigos nocturnos e pós-soltura

Da análise de ordenação, analisando as tabelas relativas aos menores valores de stress

obtidos após o total de 50 iterações efectuadas, constata-se que a ordenação dos dados

revelou um ajustamento de qualidade variável (Tabela 7, Anexo 6).

Tabela 7 – Valores de stress e explicabilidade obtidos nas análises de ordenação de escalamento

multidimensional dos abrigos em estudo para duas, três e quatro dimensões.

Número de dimensões Valor de stress R2

Qualidade do ajustamento

Duas 0,275 0,602 Razoável

Três 0,189 0,734 Bom

Quatro 0,152 0,815 Bom

Relativamente ao diagrama de ordenação obtido pela análise de ordenação (Figura 8),

o vector relativo à categoria do abrigo é binário, possuindo na base valor 1, o que significa

abrigos nocturnos e pós-soltura, e no seu extremo, valor 2, relativo aos abrigos diurnos. Este

vector está relacionado positivamente com as variáveis CIP, Chip e Calt e, negativamente, com

a variável CDAP e CILP. A maioria dos abrigos apresentou uma segregação em dois grupos,

sendo que apenas uma minoria de abrigos diurnos partilhou características similares aos

nocturnos e pós-soltura. Esta segregação foi definida pelos maiores valores de DAP da árvore

mais próxima ao abrigo (CDAP) e de largura proximal do seu interior (CILP) para os abrigos

nocturnos e pós-soltura, e menores valores destas variáveis para os abrigos diurnos, e pelos

maiores valores de profundidade do interior do abrigo (CIP), e da distância (Chip) e altura (Calt)

do mesmo à água para os abrigos diurnos, e menores valores destas para os abrigos nocturnos

e pós-soltura.

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23

Figura 8 - Diagrama de ordenação dos abrigos, obtido pela análise de ordenação

NMDS para duas dimensões (eixos X1 e X2). Os circulos referem-se aos abrigos

diurnos e os triangulos aos noctunos e pós-soltura. Os vectores em linha contínua

referem-se às variáveis que caracterizam os abrigos (Calt – altura do abrigo em

relação á água, Chip – distância real do abrigo à água, TE – tipo estrutural, CIP –

profundidade do interior do abrigo, CILP – largura próximal do interior do abrigo,

CF – formato interior do abrigo, CEA – estimativa da área da entrado do abrigo, e

CDAP – DAP da árvore mais próxima do abrigo), e o vector em linha tracejada

refere-se ao grupo de cada abrigo (vector binário: 1 – abrigo nocturno/pós-soltura,

2 – abrigo diurno).

Entre os abrigos diurnos e nocturnos/pós-soltura, obtiveram-se diferenças

significativas para as variáveis altura (U=68,5, ndiurnos =20, nnocturnos/pós-soltura=14, P = 0,012) e

distância (U=77,0, ndiurnos=20, nnocturnos/pós-soltura =14, P = 0.027) do abrigo em relação à água

(Figura 9). No entanto, estas variáveis estiveram significativamente correlacionadas entre si

(rs=0,87, n= 26, P < 0,05). As variáveis largura proximal e profundidade interior do abrigo, bem

como o diâmetro à altura do peito da árvore mais próxima do abrigo, não permitiram obter

diferenças significativas entre as categorias de abrigos diurnos e nocturnos/pós-soltura (U =

40,5, ndiurnos= 12, nnocturnos/pós-soltura= 7, P = 0,899; t = - 0,89, g.l. =23, P = 0,506, U = 23, ndiurnos= 12,

nnocturnos/pós-soltura= 4, P=0,9, respectivamente).

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24

Figura 9 – Medidas descritivas da altura em relação à água (A) e estimativa da

distância real à água (B), para ambos os grupos de abrigos – diurnos e

nocturnos/pós-soltura.

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25

4.2 Uso de abrigos diurnos

Considerando apenas os indivíduos cujo número de localizações em abrigos diurnos foi

superior a 5 (n = 6), verificou-se que o número de abrigos diurnos utilizados por indivíduo não

esteve correlacionado com o número de meses durante os quais o indivíduo foi monitorizado

(r = 0,28, P = 0,587), nem com o número de localizações do indivíduo em abrigos diurnos (r =

0,15, P = 0,7799). A taxa de reutilização dos abrigos diurnos mostrou alguma associação com o

número de abrigos diurnos (r = 0,45, P = 0,374), e com o número de localizações nos mesmos

(r = 0,45, P = 0,374), mas não esteve correlacionada com o número de meses durante o qual os

indivíduos foram monitorizados (r = -0,15, P = 0,779).

4.2.1 Número médio de abrigos utilizados

Para estes indivíduos foi encontrado um número médio de 4,2 ± 2,1 abrigos diurnos

por indivíduo (Figura 10), não se verificando diferenças significativas entre os sexos (U= 4,

nmachos=3, nfêmeas=3, P= 0,83). No entanto, as fêmeas ocuparam em média 4,67 ± 2,9 abrigos

diurnos, enquanto para os machos este valor foi de 3,67 ± 1,53. Analisando o número de

abrigos em função do número de localizações, verifica-se que, de uma forma geral, o número

médio de abrigos não tende a estabilizar com o número de localizações. No entanto, uma

análise focada nos indivíduos com maior número de localizações em abrigos diurnos (M1, F3 e

F4), permite verificar que existem períodos de tempo durante os quais o número de abrigos se

mantém estável.

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26

Figura 10 - Número de abrigos diurnos em função do número de localizações em

abrigos diurnos para os indivíduos para os quais este número de localizações foi

superior a 5.

4.2.2 Taxa de reutilização de abrigos

Os resultados referentes às taxas de reutilização dos abrigos são apresentados na

Tabela 8. Não se verificaram diferenças significativas entre os sexos para esta taxa (t= 0,76,

g.l.=4 P=0,49). A frequência com que os indivíduos utilizaram cada um dos seus abrigos foi

bastante variável (Tabela 9). De facto, considerando o total de abrigos utilizados, uma grande

parte foi ocupada apenas uma vez (37,5%, n=24). No entanto, o máximo de utilizações foi

atingido por um macho (M1) que registou 11 utilizações no mesmo abrigo (para n=22

localizações desse indivíduo em abrigos diurnos) (Figura 11).

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27

Tabela 8 - Taxas de reutilização e frequências mínima e máxima de utilização de cada abrigo,

para cada um dos seis indivíduos cujo número de localizações em abrigos

diurnos foi superior a 5.

Indivíduo Taxa de reutilização Mín Máx

M1 4,40 4,55 50,00

F1 2,00 16,67 66,67

M2 1,75 14,29 42,86

M3 3,50 28,57 71,43

F3 1,75 7,14 28,57

F4 3,67 9,09 54,55

Figura 11 - Número de utilizações dos diferentes abrigos diurnos pelos indivíduos

cujo número de localizações em abrigos diurnos foi superior a 5 (n = 6 indivíduos).

4.2.3 Relação entre o número de utilizações e o tipo estrutural do abrigo

Considerando os indivíduos que tiveram todos os seus abrigos caracterizados (n=2),

estes foram relacionados com o respectivo tipo estrutural, verificando-se o uso comum de

abrigos do tipo cavidade entre pedras para ambos os indivíduos e o uso exclusivo dos

restantes tipos estruturais de abrigos por cada um dos dois indivíduos (Tabela 9).

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28

Tabela 9 - Número de localizações em abrigos diurnos de acordo com o tipo estrutural para os

indivíduos que tiveram todos os seus abrigos caracterizados. Entre parêntesis está indica o número de

abrigos aos quais corresponde o número de localizações.

Tipo Estrutural

Indivíduos Entre solo

nu Entre raízes e, por vezes, solo

Entre pedras Entre solo pedregoso

Entre pedras incluindo raízes e, por vezes, solo

F4 - 7(2) 4(1) - -

F3 5(2) - 2(2) 1(1) 6(3)

4.2.4 Retorno ao mesmo abrigo

De entre todas as ocasiões em que o indivíduo foi monitorizado desde o início até ao final

do seu período de actividade (n=38), observou-se o retorno ao mesmo abrigo em 42,11% das

ocasiões, não se verificando diferenças entre os sexos (Teste G com correcção de Yates = 0,19,

g.l.=1, P = 0,663). No entanto, diferenciando as fêmeas de acordo com a presença/ausência de

crias no marsúpio, obtiveram-se diferenças significativas no número de vezes em que os

animais retornavam ao abrigo de fêmeas (GYates = 145,64, g.l.=1, P=0,0001), e entre fêmeas

com crias no marsúpio e machos (GYates = 3,94, g.l.=1, P=0,047). De facto, todas as vezes que as

três fêmeas apresentaram o comportamento de retorno ao mesmo abrigo (n=6), elas

transportavam as crias (observado em (re)capturas anteriores ao rádio-seguimento).

4.2.5 Partilha de abrigos

De entre todos os indivíduos monitorizados (n=14), observou-se que 5 abrigos diurnos

foram utilizados por mais de um indivíduo (13,9%, n = 36). Os indivíduos envolvidos nas

ocasiões de partilha de abrigo pertenciam a sexos diferentes ou eram ambos machos. Os

abrigos partilhados corresponderam a abrigos utilizados mais de uma vez por cada um dos

indivíduos (de 14,3 a 50% de reutilização). Estas situações foram observadas tanto na mesma

época, como em épocas alternadas. Oportunistamente, observaram-se ainda casos de

utilização simultânea do mesmo abrigo com indivíduos desconhecidos (n=3), sendo de

destacar uma situação em que foram observados 3 indivíduos utilizando o mesmo abrigo.

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29

4.3 Referência ao uso de abrigos nocturnos e outras observações

O uso de abrigos nocturnos foi observado em 3 indivíduos, tendo sido variável o

número de localizações neste tipo de abrigo (M1 com duas localizações, F3 com três e F4 com

10). A maioria destes abrigos teve uma única utilização; no entanto verificou-se um caso de

reutilização destes abrigos durante o período de actividade e dois casos em que os abrigos

nocturnos correspondiam a abrigos diurnos (utilizados no final desse mesmo período de

actividade ou não). Foi ainda observada a mudança de abrigo durante o período diurno pela

fêmea F3.

4.4 Distribuição espacial dos abrigos diurnos

4.4.1 Padrão de distribuição espacial dos abrigos na extensão de uso

Todos os indivíduos apresentaram um padrão de distribuição agregada dos abrigos nas

respectivas extensões de uso (n=10), tendo sido este padrão estatisticamente significativo para

6 indivíduos (Tabela 10).

Tabela 10- Valores do índice de dispersão por distância obtidos para os indivíduos

cuja extensão de uso pôde ser estimada. São igualmente indicados os valores de Z

e o padrão de dispersão dos abrigos sugerido pelo índice. (*) - Padrões de

dispersão que foram estatisticamente significativos a um nível de significância de

0,05.

Indivíduo I

Valor

Z Padrão

F1 2,430 2,212 Agregado *

F2 3,904 3,807 Agregado *

F3 11,190 47,343 Agregado *

F4 2,398 2,048 Agregado *

M1 2,575 2,961 Agregado *

M2 2,335 1,727 Agregado

M3 2,533 2,748 Agregado *

M4 2,335 1,727 Agregado

M5 2,120 0,617 Agregado

M6 3,027 5,290 Agregado

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30

4.4.2. Distribuição dos abrigos relativamente à extensão-núcleo

Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre a proporção de abrigos

dentro e fora das extensões-núcleo (Teste Wilcoxon para amostras emparelhadas: T = 0,00, n =

9, Z = 2,366, P =0,018), tendo sido bastante superior o número de abrigos no interior das

extensões-núcleo, relativamente ao exterior das mesmas.

4.4.3 Distância entre abrigos contíguos

As distâncias entre abrigos contíguos foram de 1138,77 ± 763 m nos machos e 326,02

± 162,65 m nas fêmeas, diferindo significativamente entre ambos os sexos (U= 0,00, Nmachos =

4, Nfêmeas = 4, P = 0,02). No geral, estes valores corresponderam, em média, a 24,3 ± 13,15 % da

extensão de uso dos indivíduos (n = 8), não se verificando diferenças entre os sexos nestas

proporções (U = 6, nmachos= 4, nfêmeas= 4, P = 0,563).

4.5. Selecção de abrigos

4.5.1 Selecção de abrigos ao nível do microhabitat

Para a 3ª ordem de selecção de habitat, analisada ao nível do indivíduo, verificou-se

preferência de abrigos localizados em substrato de solo e/ou raiz para ambas as fêmeas F3 e

F4. Paralelamente, observou-se a rejeição de abrigos localizados no substrato análogo, sendo

esta rejeição estatisticamente significativa para a F4 (Figura 12-A). Considerando a 2ª ordem,

verificou-se que, tanto a nível individual (Figura 12-B) como a nível populacional (Figura 13), os

resultados do índice foram similares aos obtidos para a 3ª ordem a nível individual. No

entanto, tanto a preferência, como a rejeição, verificadas ao nível individual em ambas as

ordens, foram amenizadas quando se consideraram os abrigos relativos a todos os indivíduos.

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31

Figura 12- Índice de selecção de Ivlev em função da natureza dominante do substrato dos abrigos diurnos (1 – pedras, 2 – solo e/ou raízes). O índice de Ivelev refere-se ao nível do indivíduo (F3, n = 8 abrigos diurnos; e, F4, n = 3), para a selecção de habitat: A – na 3ª ordem, e B - na 2ª ordem.

Figura 13 - Índice de selecção de Ivlev em

função da natureza dominante do substrato dos

abrigos diurnos (1 – pedras, 2 – solo e/ou

raízes). O índice de Ivelev refere-se ao nível da

população (13 indivíduos, n= 24 abrigos

diurnos), para a selecção de habitat na 2ª

ordem.

4.5.2 Selecção de abrigos ao nível do meso e macrohabitat

Com base nos resultados da análise de correlação simples (Anexo 7) e de

correspondências (Anexo 8), foram seleccionadas cinco variáveis (L, subH, vegC, m5 e m50)

para formulação de modelos de generalização linear múltipla (GLMM). Dos 18 modelos

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32

alternativos gerados, os sete considerados como mais plausíveis encontram-se representados

na Tabela 11, sendo que o melhor modelo não se destaca significativamente dos seguintes.

Tabela 11 - Seis melhores modelos alternativos (n=18) ordenados pelo Critério de Informação de Akaike

– AIC, e modelos nulo (sem nenhuma variável do habitat) e completo (todas as variáveis do habitat). K =

número de parâmetros do modelo, ∆i = diferença de AIC entre dois modelos aninhados, Wi = peso de

Akaike (n = 210) (L – largura do rio, m5 – proporção de floresta conservada até 5 m do rio, m50 –

proporção de floresta conservada entre 5 e 50 m do rio).

Modelo Logaritmo da

verosimilhança máxima

K AIC

∆i Wi

L + m50 + L*m50 -94,65 4 181,3 0 0,1426

m5 + m50 + m5*m50 -94,9 4 181,8 0,5 0,1110

L + m50 -94,15 3 182,3 1 0,0865

m50 -93,2 2 182,4 1,1 0,0822

L + m5 + m50 + m5*m50 -96,2 5 182,4 1,1 0,0822

L + m5 + m50 + L*m5 -95,3 4 182,6 1,3 0,0744

L -93,5 2 183 1,7 0,0609

Nulo -93,85 1 185,7 4,4 0,0158

Completo -99,5 6 187 5,7 0,0082

De acordo com o melhor modelo alternativo, de uma forma geral, os indivíduos

tendem a seleccionar segmentos de rio de menor largura e com floresta conservada em ambas

as margens entre 5 e 50 m do rio (Tabela 13). No entanto, é mais significativa a selecção de

segmentos de rio com floresta conservada entre 5 e 50 m do rio (P = 0,08), do que segmentos

de rio com menor largura ou a interacção entre ambas as variáveis (P = 0,67 e P = 0,11,

respectivamente).

Tabela 13 - Parâmetros do melhor Modelo Linear Generalizado Misto com

as estimativas dos parâmetros das variáveis e do intercepto, erro padrão e

probabilidade (p) de significância para suas respectivas estimativas das

variáveis do segmento de rio.

Variáveis Estimativa Erro Padrão P

Intercepto -2,02 0,28 7,53.10-14

L -0,11 0,27 0,67

m50 0,58 0,33 0,08

L*m50 -0,52 0,32 0,11

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33

O melhor modelo mostrou-se adequado, respeitando os pressupostos da linearidade

para ambas as co-variáveis Largura e Proporção de floresta conservada entre 5 e 50 m (Figuras

14 e 15 – A e B, respectivamente).

Figura 14 - Gráfico quantil-quantil com limites de confianças de 95% para o melhor modelo.

Figura 15 - Gráficos dos resíduos parciais das co-variáveis: A – Largura e B – Proporção de floresta

conservada entre 5 e 50 m do rio, para o melhor modelo.

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34

5. Discussão

Apesar do gradiente de modificação observado ao longo da bacia do rio Águas Claras,

as características dos abrigos da cuíca d’água corresponderam às de um habitat preservado,

localizando-se quase exclusivamente em locais sob a influência de vegetação arbórea e de

velocidade da água moderada. Este facto, tal como seria expectável, sugere que em matéria de

abrigos a cuíca d´água apresenta exigências similares às já registadas a nível do habitat de

ocorrência (Galliez et al. 2009, Leite 2009).

Todos os abrigos da cuíca d’água caracterizados localizaram-se a uma distância à água

inferior a 2,5 m. Este facto, bem como a presença de água corrente no interior de alguns,

sugerem uma forte dependência da espécie pelo ambiente aquático. Também para o rato

d’água foram encontradas pequenas distâncias entre o abrigo e a água (inferiores a 2 m)

(Briani et al. 2001). Este é um roedor que co-existe com a cuíca d’água na presente área de

estudo e que, tendo em conta estudos anteriores sobre a espécie (Briani et al. 2001), poderá

estar a utilizar abrigos, enquanto recursos do habitat, muito semelhantes aos daquele

marsupial.

A forte dependência da cuíca d’água pelo habitat aquático pode tornar-se vantajosa

para o animal (e.g. diminuindo o risco de predação enquanto o animal se desloca entre o

abrigo e o rio). Além disso, permite aos indivíduos permanecerem mais tempo na água, onde

decorrem a maior parte das suas actividades, como procura de alimento (Zetek 1930, Mondolfi

& Padilla 1950, Emmons & Feer 1997). De facto, as características anatómicas exclusivas da

cuíca d’água já são por si uma boa evidência dessa forte dependência (e.g. marsúpio nos

machos e forte esfíncter no marsúpio das fêmeas).

A não coincidência entre os ritmos de actividade da cuíca d’água (Galliez et al. 2009,

Leite 2009) e muitos dos seus potenciais predadores (e.g. cobras), bem como a

destruição/perturbação do seu habitat de ocorrência (mata ciliar), sugere os abrigos (em

particular daqueles onde passa os longos períodos de inactividade diurna) como um recurso

potencialmente limitativo. Assim, urgia conhecer este recurso para poder contribuir para uma

estratégia efectiva de conservação.

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35

Características estruturais

O padrão estrutural detectado para os abrigos da cuíca-d’água, correspondendo a

cavidades em substrato pedregoso ou de solo, por vezes, associado a raízes, é concordante

com descrições prévias de outros autores (Beisiegel 2006, Galliez et al. 2009). Os aspectos

relevantes na análise da estrutura de um abrigo prendem-se com as questões de protecção

face predadores e a condições climatéricas adversas. Um abrigo de fácil acesso a predadores

implica reduzido sucesso reprodutivo (Cobra 2009). Para a cuíca d’água ainda não se

encontram documentados quais predadores habituais desta espécie, embora exista um registo

de predação por uma rapina diurna (Tortato 2009).

Abrigos com várias entradas são considerados uma das estratégias de protecção

contra a predação, já que proporcionam maior capacidade de fuga ao predador (Reichman &

Smith 1990, Cobra 2009). De facto, a maioria dos abrigos de mamíferos possui mais de uma

entrada (Reichman & Smith 1990). Para a cuíca d’água o maior número de entradas do abrigo

não parece contudo ser uma característica seleccionada, já que a maioria dos abrigos

identificados tinha apenas uma única entrada. Porém, os abrigos com mais de uma entrada

(n=3) tiveram maior intensidade de uso e/ou utilizados por indivíduos diferentes. Assim, tendo

em conta o reduzido número amostral, tanto em termos de abrigos (n=36) como de

localizações dos indivíduos em abrigos diurnos (n=89), esta hipótese permanece válida e a sua

análise exige mais fundamentação.

A estrutura interior do abrigo é também importante na questão da predação, já que

não deve impor dificuldades à livre movimentação do animal, de forma a não o tornar mais

vulnerável à acção dos predadores (e.g. entrada de cobras nos abrigos). De facto, abrigos

diurnos diferiram dos abrigos nocturnos e pós-soltura por apresentarem maiores valores da

profundidade interior e menores de largura proximal. Este resultado sugere que a cuíca d’água

tende a utilizar abrigos diurnos que apesar de serem compridos, são também estreitos. Este

formato é similar ao que foi descrito para abrigos do rato d’água em habitat do mesmo bioma,

mas dimensionalmente é mais de 3 vezes superior (10 cm de largura e 13 de comprimento,

Briani et al. 2001), à semelhança do que acontece com o peso de ambas as espécies (peso

médio de um adulto de cuíca d’água: 450 g (Galliez et al. 2009), e de rato d’água: 216 g (E. M.

Vieira, dados não publicados).

Ainda no âmbito da chamada estratégia anti-predatória, outra característica

considerada importante em mamíferos semi-aquáticos, é a presença de aberturas do abrigo

directas para a água. Esta característica diz-se vantajosa por permitir o acesso directo do

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animal à água, fazendo com que esteja menos exposto à predação enquanto se desloca em

terra (Melquist & Hornoker 1983). Neste trabalho foram observadas aberturas directas para a

água, principalmente em abrigos nocturnos e pós-soltura. Já os abrigos diurnos tenderam a

localizar-se tanto a maior altura, como a maior distância da água. Portanto, para a cuíca

d’água, a existência de aberturas de abrigo directas na água não parece ser uma característica

valorizada na selecção de abrigos para evitar a predação. Esta característica já foi observada

tanto em abrigos de lontra (Melquist & Hornoker 1983), como de rato d’água (Miles et al.

1981).

Dadas as diferenças significativas entre a altura e distância do abrigo à água entre os

abrigos diurnos e os nocturnos e pós-soltura, é importante referir que a área de estudo se

insere num ecossistema (Mata Atlântica) que sofre grande influência do regime de chuvas

(Queiroz 2010). Tal conduz a uma grande variação do nível da água não só entre as estações

seca e chuvosa, mas também devido às chuvas torrenciais, que podem mudar drasticamente a

vazão do rio em poucas horas. Este facto afecta as populações da cuíca d’água e ajuda a

compreender as diferenças observadas entre os abrigos diurnos e os nocturnos e pós-soltura.

Se a espécie possuísse abrigos com aberturas directas para a água, na estação chuvosa correria

o risco de inundação e consequente destruição do seu abrigo. Na lontra neotropical em

ecossistemas de Mata Atlântica foi encontrada selecção de abrigos em função da altura em

relação à água, evitando abrigos com entradas directas para a água (Pardini & Trajano 1999).

Substrato e uso dos abrigos

Para abrigo os animais podem seleccionar cavidades naturalmente formadas ou

podem usufruir de cavidades construídas pelos próprios ou por indivíduos de outra espécie.

No caso da cuíca d’água em nenhum abrigo se verificaram indícios de construção do mesmo,

sugerindo preferência por cavidades naturais (a maioria dos abrigos detectados) ou usufruto

do gasto energético de outro animal, como já observado anteriormente para outras espécies

(e.g. Fitch & Shirer 1970). A hipótese de que a cuíca d’água não constrói os seus abrigos é

também apoiada pelo grande tamanho de extensão de uso encontrado para esta espécie,

quando comparado com outros mamíferos com o mesmo tamanho corporal (Leite 2010).

Animais que não investem na construção de abrigos, podem estar aptos a explorar uma maior

área do habitat disponível (Garin et al. 2002) e tendem a usar um número mais elevado de

abrigos e a ser menos fiéis aos mesmos, já que não estão sujeitos à demanda energética

requerida no processo de construção (Zabala et al. 2003). Nestes casos, tende também a

existir uma razoável disponibilidade de abrigos ou locais adequados ao seu estabelecimento

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(Zabala et al. 2003, Rosalino et al. 2005a). No entanto, um abrigo naturalmente formado ou

pré-existente deve possuir os requisitos necessários para desempenhar as suas funções de

protecção. O número de abrigos encontrado para a cuíca d’água é relativamente reduzido,

quando comparado com os de outros marsupiais e mamíferos semi-aquáticos que não

constroem os seus abrigos (e.g. número médio de abrigos diurnos: 4,1/semana para Glirulus

japonicus (Shibata et al. 2004), 9 para Dasyurus maculatus (Glen & Dickman 2006), 10/Verão

para Spilogale putorius (Lesmeister et al. 2008), > 20 para Martes foina e Genetta genetta

(Pereira 1999), 44/estação do ano para Martes zibellina (Cheng-shui et al. 2000), e 41/100dias

de Didelphis vigirniana (Hossler et al. 1994); Mustela lutreola sem reutilização de abrigos

(Zabala et al. 2003)).

Um reduzido número de abrigos está normalmente relacionado com a reduzida

disponibilidade do recurso no habitat ou com o facto de exigir gasto energético na sua

construção. Logo, a hipótese que melhor parece explicar o reduzido número médio de abrigos

da cuíca d’água (4,2 abrigos/indivíduo), uma vez que nunca se observaram indícios de

construção, é uma relativamente reduzida disponibilidade de locais adequados ao seu

estabelecimento na área de estudo. Esta hipótese aparece reforçada quando são tidos em

conta os resultados relativos à partilha de abrigos por mais de um indivíduo, entendida como

um indicador da reduzida disponibilidade de abrigos (Lesmeister et al. 2008). Apesar da

limitação amostral relativa ao número de localizações em abrigos diurnos, aproximadamente

metade dos abrigos foi utilizada pelo menos mais de duas vezes. O número médio de abrigos

encontrado para a cuíca d’água foi bastante semelhante ao encontrado anteriormente para a

lontra Euroasiática, para a qual o abrigo foi considerado um recurso limitante para a população

(média 3,7 abrigos por indivíduo, Beja 1996).

De uma forma geral, a cuíca d’água, parece aproveitar cavidades naturalmente

formadas por pedras nas margens dos rios. No entanto, nem todas estas cavidades cumprem

os requisitos necessários para ser utilizadas como abrigos diurnos reduzindo a disponibilidade

de locais adequados ao estabelecimento dos mesmos. Uma vez que um número reduzido de

abrigos de qualidade pode ser um factor regulador da densidade populacional de uma espécie

(Beja 1996, Halliwell & Macdonald 1996), esta é uma das hipóteses explicativas da reduzida

densidade populacional da cuíca d’água na área de estudo (0,27 a 1,76 ind./km, Queiroz 2010).

Também para uma população de texugo Meles meles numa região Mediterrânica a

disponibilidade de locais adequados ao estabelecimento de abrigos foi considerado um

recurso limitante, condicionando a densidade populacional da espécie (Rosalino et al. 2005b).

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Machos e fêmeas em regra apresentam diferentes estratégias de selecção de abrigos

sendo uma das hipóteses a existência de uma relação directa e positiva entre o número de

abrigos e a dimensão da área vital, como observado em algumas espécies (Cheng-Shui 2000).

Neste estudo, para o número de abrigos de cuíca d’água ser proporcional ao tamanho das

áreas vitais, os machos deveriam ter aproximadamente três vezes mais abrigos do que as

fêmeas e tal não se verifica. Assim, pode-se considerar que o sexo na cuíca d’água não produz

efeito na selecção do número de abrigos.

Abrigos e/ou ninhos

O comportamento de construção de um ninho interior em abrigos utilizados por

fêmeas é comum a várias espécies de marsupiais (e.g. Didelphis marsupialis, Fitch & Shirer

1970) e de outros mamíferos (e.g. Glirulus japonicus, Shibata et al. 2004). O facto de neste

estudo terem sido encontradas folhas apenas em abrigos de fêmeas pode estar relacionado

com uma possível maior selectividade dos abrigos por parte deste sexo em particular durante

o período reprodutor. Todos os abrigos, em que um ninho interior foi construído, foram

utilizados repetidamente pelos animais e no caso da fêmea F4 a reprodução foi confirmada.

É relativamente comum encontrar um comportamento de selecção e uso de abrigos

distinto para fêmeas em reprodução (Bull & Heater 2000, Mcguire et al. 2007, Taylor & Kruuk

1990, Snyder & Linhart 1994). É por isso plausível que a cuíca d’água também se comporte de

forma distinta durante o período de lactação, enquanto transporta a crias no marsúpio. Esse

comportamento consiste na tendência para retornar ao mesmo abrigo onde iniciou actividade.

Também machos e as fêmeas sem crias no marsúpio retornaram ao mesmo abrigo mas não

numa sequência previsível. Este comportamento em fêmeas com crias já foi observado

anteriormente em marsupiais (Hossler et al. 1994, Glen & Dickman 2005) e noutros mamíferos

(Rosalino et al. 2005b). A maior fidelidade aos abrigos, bem como o uso de abrigos de difícil

acesso a predadores, são factores que aumentam a sobrevivência dos juvenis (Hossler et al.

1994).

Partilha de abrigos e reprodução

Das situações de uso simultâneo de um mesmo abrigo por mais de um indivíduo,

nenhuma correspondeu ao uso simultâneo por indivíduos do sexo feminino. Este facto apoia o

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sistema de acasalamento poligínico ou promíscuo (Ostfeld 1990), sugerido anteriormente para

esta espécie (Galliez et al. 2009, Leite 2010) e ainda, embora não comprovada, a hipótese da

existência de territorialidade nas fêmeas. Segundo este sistema de acasalamento, o macho

possui área vital mais extensa tendo acesso a várias fêmeas (Ostfeld 1990), sendo este sistema

comum à maioria das espécies de marsupiais (Leite 2010). Também para Didelphis marsupialis

foi anteriormente observado o uso simultâneo de abrigos por mais de um indivíduo de sexos

diferentes (Shirer & Fitch 1970), verificando-se uma relação positiva entre o número de

utilizações dos abrigos e o número de indivíduos que utilizavam os abrigos. No presente

estudo esta foi uma relação que não se verificou.

Quanto às situações em que abrigos foram utilizados simultaneamente por indivíduos

de ambos os sexos, estas poderiam corresponder ao período de reprodução.

Oportunisticamente observaram-se 2 indivíduos adultos (um deles era macho) e um indivíduo

de menor tamanho, que potencialmente poderiam tratar-se de um casal com uma cria. Esta

situação sugere que devem existir excepções ao comportamento solitário durante a fase de

reprodução, um comportamento igualmente observado no marsupial solitário Didelphis

marsupialis (Shirer & Fitch 1970). Galliez et al. 2009 já tinham encontrado machos próximos de

fêmeas ou usando os mesmo abrigos enquanto elas estavam com crias no marsúpio e

inferiram cuidado parental ou guarda das fêmeas pelos machos.

Distribuição dos abrigos nas extensões de uso

O padrão agrupado observado na distribuição dos abrigos de cuíca d’água dentro das

extensões de uso dos indivíduos, pressupõe factores importantes que restringem a localização

dos abrigos (Beja 1996). Estudos que encontraram o mesmo padrão de distribuição

justificaram o agrupamento dos abrigos de acordo com características do habitat de alguma

forma limitantes, quer de natureza física (e.g. topografia e/ou fontes de água doce - Beja 1996)

quer biológica (e.g. disponibilidade de alimento - Beja 1996, Pardini & Trajano 1999, Cheng-

Shui 2000).

Os resultados obtidos por Leite (2009) apontaram para um uso não aleatório do

habitat, com a delimitação de pequenas áreas mais intensamente usadas (i.e. extensões-

núcleo), que estavam frequentemente associadas a locais de abrigo. A análise da comparação

da densidade de abrigos no interior e exterior das extensões-núcleos confirmou que o número

de abrigos é significativamente superior no interior destas áreas. Desta forma, a hipótese do

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padrão encontrado minimizar a distância entre os abrigos e as áreas de alimentação parece

fazer sentido. Assim, as áreas mais intensivamente usadas serão à partida áreas onde o animal

deve despender mais tempo procurando alimento, sendo mais proveitoso para o mesmo

estabelecer nessas áreas os seus abrigos. Este padrão de localização espacial dos abrigos na

área vital do indivíduo foi já encontrado quer em marsupiais (e.g. Micoreus demerarae -

Moraes & Chiarello 2005), quer em outros mamíferos semi-aquáticos (e.g. Lontra provocax -

Sepúlveda et al. 2007). Leite (2009) também encontrou uma grande sobreposição de

extensões de uso entre indivíduos, mas não entre as extensões-núcleos, indicando que pelo

menos uma porção da extensão de uso da cuíca d’água não é compartilhada com outro

indivíduo. Considerando a hipótese anterior, este aspecto da não sobreposição das extensões-

núcleo sugere que poderá haver uma intensificação da competição pelos recursos alimentares.

Tal competição seria evitada pela segregação espacial das extensões-núcleo e,

consequentemente, dos locais de abrigo (Pardini & Trajano 1999). A grande concentração de

abrigos nas extensões-núcleo pode também estar relacionada com a tentativa de minimizar

encontros intra e interspecíficos, como já foi observado noutros animais (Pereira 1999). De

uma forma geral, constata-se que os abrigos são potenciais factores importantes para o

estabelecimento de áreas de maior utilização pelos animais dentro da extensão de uso da

cuíca d’água.

Como já foi discutido, os machos, apesar de apresentarem maiores extensões de uso,

não possuem necessariamente maior número de abrigos do que fêmeas. Tal significa que têm

que percorrer maiores distâncias entre abrigos contíguos do que fêmeas. No entanto, estas

distâncias são correspondentes a aproximadamente a mesma proporção da extensão de uso

da distância entre os abrigos contíguos das fêmeas. Para Didelphis marsupialis não se

verificaram diferenças entre os sexos nas distâncias entre os abrigos contíguos (Shirer & Fitch

1970). Logo, traduz alguma ambiguidade os resultados obtidos para as fêmeas e dificulta a

interpretação do padrão espacial observado. Por um lado, o padrão de distribuição agrupado

para os abrigos das fêmeas é contraditório com a hipótese da territorialidade sugerida para

este sexo. Quando os indivíduos são territoriais, tendem a apresentar uma distribuição

regularmente espaçada dos seus abrigos ao longo da sua área vital (Beja 1996). Por outro lado,

quando se consideram o número médio de abrigos entre machos e fêmeas, estas possuem

mais abrigos por unidade espacial. Por sua vez, este pode ser um indício de que fêmeas

tendem a defender mais o território. Urge então esclarecer estas questões através de um

reforço amostral.

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Selecção de abrigos ao nível do microhabitat

O uso desproporcional de solo e/ou raízes como substrato dos abrigos diurnos foi

observado quer a nível individual, quer populacional. Assim, apesar de solo e raízes não terem

sido o tipo principal da maioria dos abrigos, este tipo de substrato foi seleccionado pela cuíca

d’água para estabelecer os seus abrigos. Este facto leva a pensar que a utilização do substrato

solo e/ou raízes como abrigo traz vantagens à cuíca d’água.

A diferença mais aparente que poderá existir entre o interior de abrigos de diferente

natureza estrutural é ao nível da humidade e, consequentemente, da temperatura. No

entanto, este não foi um parâmetro avaliado neste estudo. Ainda assim, sabe-se que a

regulação térmica possui um papel importante na selecção de abrigos por pequenos

carnívoros (Weber 1989, Zalewski 1997a). Isto é verdade especialmente para espécies semi-

aquáticas, que tendem a perder mais calor devido à maior condutividade da água (Chanin

1993), como é o caso da cuíca d’água. De acordo com esta hipótese, a cuíca d’água

seleccionaria abrigos em substrato de solo e/ou raízes que lhe proporcionariam maior

isolamento térmico, facto que por sua vez lhe permitiria recuperar mais rapidamente a perda

de calor sofrida durante o seu deslocamento no rio. É de notar que por vezes, a temperatura e

humidade à superfície apenas mostra diferenças relativamente a abrigos onde existem ninhos

construídos no seu interior (Tracy & Walsberg 2002). Este facto poderia conduzir a uma

interpretação adicional ou alternativa à dada anteriormente para a presença de folhas

encontradas no interior de alguns abrigos.

Selecção ao nível do meso e macrohabitat

Na maioria dos modelos GLMM formulados, os que melhor explicavam a presença de

abrigos da cuíca d’água em segmentos de rio incluíam a variável largura do rio. A cuíca d’água

aparenta preferir segmentos de rio com menor largura para estabelecer os seus abrigos. Leite

2009 reportou anteriormente que as fêmeas utilizaram pequenos tributários com maior

frequência que os machos. Esses corpos de água menores foram considerados locais mais

seguros e abrigados por serem pouco profundos, sem corrente e com grande disponibilidade

de invertebrados aquáticos (Lobão et al. 1978 in Leite 2010). Já para os machos, a utilização de

rios principais seria vantajosa para dar acesso a fêmeas (Garin et al. 2002). No entanto,

segundo os resultados obtidos neste estudo, apesar de fêmeas preferirem pequenos

tributários durante o período de actividade, e machos utilizarem sobretudo rios principais

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(Leite 2009), no que se refere ao estabelecimento dos abrigos, ambos os sexos parecem optar

por rios de menor largura. Esta escolha provavelmente será devida às características referidas

para estes rios de menor largura, as quais devem tornar a localização do abrigo vantajosa

relativamente à proximidade a áreas de alimentação bem como à protecção. Não obstante, a

importância das presas habitualmente consumidas pela cuíca d’água não é ainda bem

conhecida e a disponibilidade de alimento não foi medida neste estudo, pelo que reserva é

feita a interpretações que envolvam parâmetros relativos ao alimento.

Na área de estudo, partilhando o mesmo habitat que a cuíca d’água, encontra-se

lontra neotropical (Lontra longicaudis), um potencial predador. Pardini & Trajano (1999)

descreveram tocas desta espécie de lontra apenas em rios maiores, pelo que é possível que

exista segregação na forma de uso do habitat, nomeadamente ao nível da escolha de abrigos,

entre estas espécies co-existentes. Leite (2009) sugeriu ainda que fêmeas da cuíca d’água

devem preferir pequenos tributários durante o cuidado parental precisamente para prevenir

encontros antagonistas ou até de predação por lontra. Portanto, a pressão da co-existência

também pode estar a influenciar a preferência de abrigos da cuíca d’água em rios de menor

largura.

Considerando o melhor modelo obtido, a variável floresta conservada entre 5 e 50 m

do rio esteve muito próximo de atingir significância estatística. Este facto remete para a

selecção de abrigos em função desta variável. Assim sendo, a cuíca d’água apresenta uma

grande sensibilidade à perturbação humana. O facto da variável floresta conservada a 5 e 50 m

do rio ter sido incluída no melhor modelo e a mesma variável a 5 m do rio não ter sido, é um

resultado com implicações na criação de futuras medidas de gestão desta espécie. Para

conservar eficazmente a cuíca d’água, não basta apenas evitar a modificação do rio, como

também da zona envolvente.

O facto de também neste modelo ter sido retida a interacção entre as variáveis largura

do rio e floresta conservada entre 5 e 50 m, mostra que a cuíca d’água deverá escolher abrigos

em rios de menor largura mas que visem uma floresta conservada na zona envolvente ao rio

(entre 5 e 50 m). Este resultado também pode ser importante na gestão desta espécie, pois

não é o facto de um segmento de rio apresentar uma largura adequada que fará com que este

seja escolhido pela cuíca d’água para estabelecer um abrigo. Deve haver um compromisso

entre a largura de rio adequada com a presença de floresta conservada na sua zona

envolvente.

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Limitação dos dados

A escassez de dados e o reduzido número de localizações dos indivíduos em abrigos

diurnos e a grande variação do número destas localizações entre os indivíduos, foi devida à

inadequação do desenho amostral para os objectivos específicos deste trabalho. De facto, o

desenho amostral utilizado foi seleccionado para responder aos objectivos centrais do projecto

em que se integrou este estudo, mas foi considerado permitir uma caracterização preliminar

do uso e selecção de abrigos por esta espécie ameaçada. Este facto, juntamente com o

deficiente conhecimento ecológico existente acerca da espécie-alvo, justificaram a realização

deste trabalho. O problema do tamanho amostral deste estudo foi ainda agravado pela

reduzida capturabilidade da espécie (e.g. sucesso de captura de 2 % - Queiroz 2010).

Aspectos de conservação e prioridades de pesquisa

Os resultados encontrados sugerem que, na área de estudo, a modificação da

paisagem, através da remoção de áreas de floresta preservada, parecem influenciar a selecção

e uso de abrigos pela cuíca d’água. Este resultado adquire especial relevância no contexto da

Mata Atlântica, dada a contínua redução que este bioma tem vindo a sofrer. Tendo em conta

os requisitos de habitat da cuíca d’água para o estabelecimento dos seus abrigos, e as actuais

ameaças aos ecossistemas de Mata Atlântica (Myers et al. 2000), então esta poderá ser uma

espécie vulnerável nestes ecossistemas. Este estatuto para a cuíca d’água foi já anteriormente

referido por Galliez et al. (2009), dados os grandes requisitos espaciais encontrados para a

espécie, os quais também não são compatíveis com a elevada fragmentação que se faz sentir

na Mata Atlântica.

Os locais do rio situados a maiores altitudes tendem a apresentar áreas adjacentes

mais conservadas. Se a selecção para estabelecimento de abrigos de floresta conservada entre

5 e 50 metros estiver substancialmente correlacionada com a altitude, na conservação da cuíca

d’água é possível que, por um lado, existam menos conflitos com as pessoas, pois estas

correspondem a áreas de menor interesse de exploração. Por outro lado, não é garantido que

a porção de habitat preservado seja suficiente para suportar populações viáveis desta espécie.

A linearidade inerente ao habitat da cuíca d’água é um facto que agrava esta problemática da

viabilidade de populações, já que estas devido aos fenómenos de fragmentação, vão ficando

isoladas primeiro geograficamente e, depois, geneticamente. Assim, para a conservação eficaz

da cuíca d’água, é sugerida a manutenção das características originais dos ecossistemas

aquáticos.

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51

Anexos

B

C D

Anexo 1 – Fotografias da cuíca d’água (Arquivo LECP): A – Indivíduo no interior da

armadilha, segurando um camarão (isco utilizado); B – Pormenor da pata posterior do

indivíduo; C- Cria no interior do marsúpio de uma fêmea; D – Pormenor do marsúpio

de um macho.

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52

A

B

Anexo 2 – Disposição das armadilhas no rio num ponto de armadilhagem

correspondente a um pequeno tributário do rio Dona Rosa (Arquivo LECP). A – Vista

montante – justante. B – Vista jusante – montante.

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53

Anexo 3 – Fichas utilizadas na caracterização da área de estudo e dos abrigos.

Ficha de caracterização do habitat

Data: __________ Pessoas: ____________________________________________

Rio: ___________ Ponto nº: _____

Mesohabitat

1. Medidas do rio

- Vazão*1: largura: _____ cm, profundidade: ____ cm, D2-D1 da velocidade*

2 =____ cm

- Substrato: a/a = ___ %, s/c = ___%, pe = ___ %, ma = __%

- Dossel*3: presente □ ausente □

2. Medidas da margem

- Estrato vegetativo dominante:

Margem esquerda - arbóreo □ arbustivo □ herbáceo □

Margem direita - arbóreo □ arbustivo □ herbáceo □

- Número de árvores*4: Margem esquerda - ______

Margem direita - ______

- Inclinação*5: vertical □ horizontal □ 3. Medidas do impacto humano

- Margem esquerda: Floresta preservada □ Floresta degradada □, Não-Floresta □,

descrição:___________________

- Margem direita: Floresta preservada □ Floresta degradada □, Não-Floresta □,

descrição:___________________

Microhabitat

Substrato:

Margem esquerda – solo □ raízes □ pedras □ rocha/areia □ vegetação □

Margem direita – solo □ raízes □ pedras □ rocha/areia □ vegetação □

(*1)

Valores das variáveis da vazão correspondem aos seus valores máximos do ponto de caracterização.

(*2)

Medida utilizada na fórmula de cálculo da velocidade (m/seg) , velocidade = √19,6 x (D2 – D1).

(*3)Considerado presente para coberturas arbóreas superiores a aproximadamente 75% sob a área do

rio. (*

4) Número de árvores com DAP superior a 15 cm,

ao longo de 5 m das margens, centrados no ponto de

caracterização. (*

5)Considera-se vertical quando o ângulo da margem ultrapassa 45

o aproximadamente.

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54

Ficha de caracterização dos abrigos

Data: __________ Pessoas:____________________________________________

Indivíduo: _____________ Tipo do abrigo: Diurno □ Nocturno □ Pós-soltura □

Número: __

1. Medidas do rio

- Largura: _____ cm

- Velocidade: R □ C □ - Profundidade média: 1 - _____ cm, 2 - _____ cm, 3 - _____ cm, 4 - _____ cm

2. Medidas da margem

- Estrato vegetativo dominante: arbóreo □ arbustivo □ herbáceo □ - Perímetro da árvore mais próxima*1: _____ cm

3. Medidas do abrigo

3.1. Externas

- Substrato: Pedras = ___ %, Raízes = ___ %, Solo = ___ %

- Entrada: Número: 1 □ 2 □ 3 □ 4 □ outro □, qual: ___

Diâmetros: 1 - _______ cm, 2 - _______ cm Distância à água: vertical = ____ cm, horizontal = ____ cm

3.2. Internas

- Formato: rectangular□, quadricular□, circular□, oval/triangular □;

- Profundidade: ____ cm - Altura: ____ cm - Larguras: Proximal = ____ cm, Distal = ____ cm

- Câmara: Número: 1 □ , mais de 1 □, qual: ___ ;

Formato: rectangular□, quadricular□, circular□, oval□;

(*

1 )Árvore que emana raízes para a estrutura do abrigo

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55

Anexo 4 - Compilação dos dados brutos da caracterização dos abrigos: A - Indivíduo, data da

caracterização, estação do ano da caracterização, grupo do abrigo (D- diurno, N – nocturno, PS – pós-

soltura), medidas do rio: largura (m), profundidade média (cm) e velocidade (C – moderada, R –

reduzida).

N Indivíduo Data Estação Grupo Rio Medidas do rio

Larg Prof Vel

1 F1 18-02-08 chuvosa D GAC11 0,68 4,67 C

2 F2 17-02-08 chuvosa PS RDR 2,19 21,33 C

3 F3 31-05-08 seca PS RDR 2,85 32,67 C

4 F3 31-05-08 seca PS RDR 2,49 36,67 C

5 F3 31-05-08 seca N RDR 3,40 15,00 C

6 F3 30-05-08 seca D RDR 3,97 16,33 C

7 F3 31-05-08 seca D RDR 3,06 2,00 R

8 F3 31-05-08 seca D RDR 4,60 10,67 R

9 F3 31-05-08 seca D RDR 1,69 4,00 C

10 F3 30-05-08 seca D RDR 6,00 23,00 R

11 F3 31-05-08 seca D RDR 1,85 4,67 C

12 F3 31-05-08 seca D RDR 5,14 27,33 C

13 F3/Mx1 18-05-08 seca D RDR 3,85 14,00 C

14 F4 19-04-2010 seca PS RDR 1,80 83,33 C

15 F4 19-04-2010 seca D RDR 2,60 25,00 R

16 F4 19-04-2010 seca D RDR 3.00 12.67 R

17 F4 19-04-2010 seca D RDR 4.40 26.67 C

18 F4 23-05-2010 seca N RDR 6.69 16.50 C

19 F4 19-04-2010 seca N GDR4 1.10 12.00 C

20 F4 19-04-2010 /23-05-2010 seca N RDR 9.43 44.10 C

21 F4 19-04-2010 seca N RDR 3,10 20,00 C

22 F4 23-05-2010 seca N RDR 6,69 16,50 C

23 F4 23-05-2010 seca N GDR3 1,10 13,67 C

24 M1 06-01-08 chuvosa D RAC - - -

25 M1 18-02-08 chuvosa D GAC10 2,25 9,33 C

26 M2 31-05-08 seca PS RDR 1,95 4,67 C

27 M2 26-06-08 seca PS RDR 3,22 28,67 R

28 M2 26-06-08 seca D RDR 0,56 9,00 R

29 M2 18-02-08 chuvosa D GAC10 2,17 12,00 C

30 M2/M3 31-05-08 seca D RDR 3,10 18,33 C

31 M3 26-06-08 seca PS RDR 2,57 52,00 R

32 M4 08-01-08 chuvosa D RFL 9,46 31,33 C

33 M5 31-05-08 seca D GAC12 0,96 3,67 C

34 M5 26-06-08 seca PS RDR 2,16 15,33 C

35 M5 08-01-08 chuvosa D RAC 12,15 52,67 C

36 M6 06-01-08 chuvosa D RCP 5,54 25,33 C

37 M6 17-02-08 chuvosa D RDR 5,21 35,00 C

38 M6/M2 17-02-08 chuvosa D RDR 2,65 26,00 C

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39 Mx1 26-06-08 seca PS RDR 2,14 18,33 C

40 Mx1 07-01-08 chuvosa D RAC 4,25 25,17 C

41 Mx3 17-02-08 chuvosa D RJO 4,97 28,67 C

42 Mx4 22-05-2010 Seca PS RJO 6 21,20 C

43 Mx4/Mx1 22-05-2010 Seca D RMA 4,775 33,83 C

B - Substrato: proporção da ocorrência de raiz, solo e pedra na estrutura do abrigo e seu respectivo tipo

estrutural definido (cavidade em: 1 – solo nu, 2 – entre pedras , 3 – solo pedregoso , 4 – entre raízes, por

vezes, associada a solo, 5 – entre pedras incluindo raízes e, por vezes, solo ); perímetro da árvore mais

próxima ao abrigo e estrato vegetativo dominante.

N

Substrato

Per. Árv Vegetação Proporção de ocorrência T.E.

Raiz Solo Pedra

1 4 6 0 4 93 Arbórea

2 3 0 7 2 100 Arbórea

3 0 3 7 2 - Arbórea

4 2 0 8 2 77 Arbórea

5 0 0 10 2 - Arbórea

6 2 3 5 5 73 Arbórea

7 8 0 2 4 218 Arbórea

8 2 6 2 1 - Arbórea

9 0 5 5 3 - Arbórea

10 2 3 5 5 - Arbórea

11 0 8 2 1 - Arbórea

12 0 4 6 3 - Arbórea

13 4 1 5 5 87 Arbórea

14 0 0 10 2 - Arbórea

15 0 3 7 2 - Arbórea

16 0 5 5 3 - Arbórea

17 3 0 7 2 44,5 Arbórea

18 0 0 10 2 - Arbórea

19 0 0 10 2 - Arbórea

20 0 0 10 2 - Arbórea

21 0 0 10 2 - Arbórea

22 0 0 10 2 - Arbórea

23 0 0 10 2 - Arbórea

24 - - - - - -

25 3 7 0 1 66 Arbórea

26 0 5 5 3 - Arbórea

27 5 0 5 5 127 Arbórea

28 0 5 5 3 - Arbórea

29 - - - - - Arbórea

30 2 8 0 1 61 Arbórea

31 0 2 8 2 - Arbórea

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57

32 5 0 5 5 69 Arbórea

33 2 8 0 1 - Arbustiva

34 8 2 0 4 43 Arbórea

35 8 2 0 4 226 Arbórea

36 3 2 5 5 59 Arbórea

37 0 7 3 1 - Arbórea

38 3 0 7 2 61 Arbórea

39 0 0 10 2 - Arbórea

40 5 5 0 4 - Arbórea

41 3 2 5 5 135 Arbórea

42 0 0 10 2 - Arbórea

43 1 3 6 3 - arbórea

C – Medidas exteriores: número de entradas, distâncias vertical e horizontal à água, maior diâmetro da

entrada (1) e diâmetro perpendicular a este (2).

N

Medidas exteriores

Entrada

Distância à água Diâmetros

Vertical Horizontal 1 2

1 1 37 61

2 - - - - -

3 1 42 122 42 20

4 1 0 0 16 20

5 1 0 0 42 29

6 1 100 40 25 19

7 - - - - -

8 1 18 57 10 16

9 - 0 0 - -

10 1 43 130 18 14

11 - - - - -

12 1 0 0 15 21

13 2 53 61 17 14

- - 18 30 19 17

14 - - - - -

15 - 18 40 33 32

16 - 10 20 14 9

17 2 32 26 19 14

18 2 0 0 15 20

19 - 0 0 - -

20 - 0 0 60 68

21 1 0 0 27 39

22 - 0 0 - -

23 1 27 122 8.05 10

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58

24 - - - - -

25 1 36 62 - -

26 1 22 55 17 11

27 1 0 0 28 26

28 1 40 137 12 4.5

29 - - - - -

30 1 0 0 18 19

31 1 - 147 17 13

32 - 41 56 - -

33 1 0 0 28 22

34 1 7 23 17 19

35 - - - - -

36 1 118 220 15 12

37 1 28 14,5 16.5 20

38 0 0 - -

39 1 0 0 29 32

40 1 183 28 40 18

41 - - - - -

42 1 32 30 15 13

43 4 15 90 19 26

- - 58 98 20 12

- - 22 105 10 34

- - 46 90 25 15

- - 35 78 - -

D - Medidas interiores: número de câmaras, altura (cm), larguras proximal e distal (cm), profundidade e

formato; registo da presença de folhas e passagem de água no interior do abrigo.

N

Medidas interiores

Presença de

Nº de

Câmara(s)

Altura

(cm)

Largura (cm) Prof

(cm)

Fomato

Prox Dist Folhas Água

1 - - - - - -

2 - - - - - -

3 - - - - 125 -

4 1 - 29 50 50 Oval X

5 1 - 40 20 80 Oval

6 1 17 33 34 63 rectangular,

câmara oval x

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59

7 - - - - - -

8 - - - - - -

9 - - - - - -

10 1 - 47 60 54 Oval

11 - - - - - -

12 1 27 80 100 130 Oval X

13 1 10 20 - 51 rectangular,

câmara oval x

- - - - 46 -

14 - - - - - -

15 - - - - 102 rectangular

16 1 14 14 14 120 rectangular,

câmara redonda x

17 1 14 20 17 67 quadrangular,

câmara redonda x

18 - - - - 60 -

19 - - - - - -

20 - 80 - 100 -

21 - - - - - -

22 - - - - - -

23 - - - 48 rectangular

24 - - - - - -

25 - - - - -

26 1 11 17 - 21 rectangular

27 1 - 45 48 52 Oval

28 1 - - - 102 rectangular

29 - - - - - -

30 - - - - rectangular x

31 1 - 17 - 63 retangular

32 - - - - - -

33 1 9 15 - 142 rectangular x

Page 66: Ecologia de repouso do marsupial semi-aquáticorepositorio.ul.pt/bitstream/10451/8428/1/ulfc090509_tm_ana... · Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências Departamento de Biologia

60

34 1 - 28 44 64 Oval

35 - - - - - -

36 1 12 10 10 90 rectangular

37 1 - 30 - 27 Oval

38 - - - - - - x

39 1 - 27 27 110 rectangular x

40 1 - 40 - 45 triangular

41 - - - - - -

42 1 - - - 60 rectangular

43 1 - 220 - 15 rectangular

2 3 4 5 6

0.14

0.16

0.18

0.20

0.22

0.24

0.26

0.28

Dimensões

Stress

Anexo 4 – Representação gráfica dos valores de stress em função do número de dimensões, obtido na

análise de ordenação NMDS.

Anexo 5 - Descrição das variáveis, formadas a partir de combinações lineares das variáveis originais (vaz

- vazão do rio, vegC - forma contínua da vegetação dominante, subH - heterogeneidade do substrato).

Novas variáveis Combinação das variáveis originais

Vaz L x P x V

vegC (arv x 10) + (arb x 5,5) + (herb x 1)

subH (aa + cs) – (pe + ma)

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61

An

exo

7 –

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0,2

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41

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,38

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-

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28

-

0,1

35

Hs

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,13

0

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2

0,1

16

-0,6

14

0

,45

1

- -0

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-0

,09

1

-0

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6

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0

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3

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3

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-

Page 68: Ecologia de repouso do marsupial semi-aquáticorepositorio.ul.pt/bitstream/10451/8428/1/ulfc090509_tm_ana... · Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências Departamento de Biologia

62

An

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