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ECODESIGN E BIOCLIMATISM COMO ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE IMPACTOS CLIMÁTICOS NO SETOR DE CONSTRUÇÃO Suzana Gueiros Teixeira (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Resumo: Neste estudo, o foco encontra-se na abordagem climática dos impactos da construção e como a arquitetura bioclimática passa a ser uma relevante estratégia de ecodesign para redução da pegada de carbono, dado que o setor tem uma parcela elevada de contribuição nas emissões, conforme registrado nos relatórios publicados do IPCC. Segundo Lemmet, Sylvie (2009), diretor da divisão de tecnologia, indústria e economia do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ressalta: “ os próximos quarenta anos deveremos ter que ter reduzido os gases de efeito estufa em ao menos 50% para evitar o pior cenário climático”. A mitigação dos gases de efeito estufa dos edifícios, deve ser a pedra de esquina de uma estratégia nacional de mudanças climáticas. O ecodesign, o passo a passo de projetar revisando os impactos ambientais e gerenciando as rotas projetuais deverá ser uma ferramenta de melhoria de desempenho para o setor, de forma a elaborar, desde a concepção, soluções mitigadoras para o setor. Palavras-chaves: ecodesign, arquitetura bioclimática, pensamento no ciclo de vida, GEE ISSN 1984-9354

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ECODESIGN E BIOCLIMATISM COMO ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE IMPACTOS CLIMÁTICOS NO SETOR DE CONSTRUÇÃO

Suzana Gueiros Teixeira

(Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Resumo: Neste estudo, o foco encontra-se na abordagem climática dos impactos da construção e como a arquitetura bioclimática passa a ser uma relevante estratégia de ecodesign para redução da pegada de carbono, dado que o setor tem uma parcela elevada de contribuição nas emissões, conforme registrado nos relatórios publicados do IPCC. Segundo Lemmet, Sylvie (2009), diretor da divisão de tecnologia, indústria e economia do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ressalta: “ os próximos quarenta anos deveremos ter que ter reduzido os gases de efeito estufa em ao menos 50% para evitar o pior cenário climático”. A mitigação dos gases de efeito estufa dos edifícios, deve ser a pedra de esquina de uma estratégia nacional de mudanças climáticas. O ecodesign, o passo a passo de projetar revisando os impactos ambientais e gerenciando as rotas projetuais deverá ser uma ferramenta de melhoria de desempenho para o setor, de forma a elaborar, desde a concepção, soluções mitigadoras para o setor.

Palavras-chaves: ecodesign, arquitetura bioclimática, pensamento no ciclo de vida, GEE

ISSN 1984-9354

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

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1. Introdução

"The greenest square foot is the one you don't build."

“O metro quadrado mais verde é aquele que você não construiu”

Geoffrey Warner ( AlchemyArchitects)

Neste estudo abordamos a dimensão climática dos impactos da construção e como a

abordagem do ecodesign pode aliar-se para redução da pegada de carbono. Com particular ênfase

destacamos a arquitetura bioclimática como uma das estratégias de ecodesign para redução do

impacto climático na vida útil dos edifícios, dado que o setor tem uma parcela elevada de

contribuição nas emissões. Em toda atividade projetual são gerados impactos, contudo, a forma

pela qual os percebemos e entendemos à luz das ambiências locais e globais, nos viabiliza

contribuições alternativas de gestão sustentável dos mesmos. O Ecodesign surge ao final do

Século XX contemplando a gestão do passo a passo no processo de desenvolvimento de produtos.

O método de projetar com pensamento no ciclo de vida e impactos relacionados às escolhas

evidencia que não há um único critério de ecodesign, sua natureza é complexa, com multi-

atributos, fazendo do mesmo uma ferramenta metodológica indispensável como estratégia de

sustentabilidade.

No ano de 2010 os edifícios foram responsáveis por 32% do uso total global de energia

(IPCC, 2014). Segundo Lemmet, Sylvie (2009), diretor da divisão de tecnologia, indústria e

economia do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ressalta: “os próximos quarenta

anos deveremos ter que ter reduzido os gases de efeito estufa em ao menos 50% para evitar o pior

cenário climático”. A mitigação dos gases de efeito estufa dos edifícios, deve ser a pedra de

esquina de uma estratégia nacional de mudanças climáticas. A construção Civil contribui com

30% do valor anual de emissões globais e consome 40% de toda energia, segundo consta nos

estudos da UNEP e IPCC. (2010). Dado ao crescimento massivo do setor nas economias em

construção e a ineficiência das atuais edificações, se nada for feito as emissões de gases de efeito

estufa - GEE - irão dobrar nos próximos 20 anos. A agenda global tem, portanto, um dever de

mudança para o setor, com metas e limites locais, tanto quanto arquiteturas para o mercado global

de carbono. Os governos mundiais podem obter êxito no desafio climático através de incrementos

na capacidade do setor de construção de redução.

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Destacamos, portanto, o desafio que a arquitetura bioclimática progressivamente terá de

forma ativa como mitigadora de impactos na área de conservação e eficiência energética nas

construções, tanto quanto como solução corretiva ou adaptativa decorrente de impactos climáticos

já estabelecidos.

2. Considerações Gerais

Após a crise do petróleo nos anos setenta, foi percebida a premência por novas soluções de

projeto, redutoras na demanda por energia, em paralelo as soluções do próprio setor, na busca de

fontes alternativas. As edificações, no entanto, receberam tímidas mudanças, e a arquitetura de

vidros dominava como solução universal a despeito da diversidade climática dos sítios. Nos anos

oitenta, contudo, já encontrávamos nas tendências de engenharia e arquitetura, um grupo de

projetistas alinhados às questões climáticas de uma forma especializada: cursos de extensão e pós-

graduação promoviam soluções na área denominada como a de conforto ambiental, como resposta

as tipologias importadas da arquitetura de vidros e edifícios de elevado consumo de energia nos

climas tropicais.

Ao final dos anos oitenta, o advento do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas,

em 1988 - traz ao mundo o levantamento de informações científicas sobre dados relacionados aos

impactos climáticos, com vias à formação de políticas e estratégias climáticas. A primeira

evidência científica conduzida pelo IPCC se deu em 1990, e a partir desta data os alertas para

diversos setores trataram de publicar os dados para abordagem da questão sob a ótica da mitigação

e da adaptação, caminhos relacionados com a resiliência das nações ao lidar com desafios,

conforme o esquema da figura 1 abaixo ilustra.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente afirma que um dos grandes desafios

ambientais será a quantidade de pessoas forçadas a migrarem em decorrência de condições

ambientais adversas. A área Projetual tem o dever de desempenhar um papel estratégico para

viabilizar os mais críticos desafios que o mundo enfrenta. Nos anos noventa a tendência no

desenvolvimento de projetos de arquitetura que atentam para redução e conservação de energia

evolui sob a denominação de arquitetura bioclimática, dispondo de elevado número de adeptos,

maturidade projetual e já apresentando um mercado fiel de consumidores de projetos e soluções

integradas, considerados os desafios ambientais locais e globais.

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Figura 1: Estratégias projetuais para os cenários climáticos. -DA= desempenho ambiental

Imagem: Edição própria. Fonte: (2009). WTO-UNEP-IPCC.Report : Trade &ClimateChange.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente afirma que um dos grandes desafios

ambientais será a quantidade de pessoas forçadas a migrarem em decorrência de condições

ambientais adversas. Nos anos noventa a tendência no desenvolvimento de projetos de arquitetura

que atentam para redução e conservação de energia evolui sob a denominação de arquitetura

bioclimática, dispondo de elevado número de adeptos, maturidade projetual e já apresentando um

mercado fiel de consumidores de projetos e soluções integradas, considerados os desafios

ambientais locais e globais.

Os anos noventa representa um marco na mudança de rota projetual: pressões

internacionais apontam para mudanças, dentre as quais o Sistema de Gestão Ambiental publicado

com as séries de Normas ISO 14.000, o pensamento no ciclo de vida e ecodesign tanto quanto esta

época também representa um comprometimento de uma ótica integrada entre nações, em 92-

Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Rio 92 –AGENDA 21 e mais adiante em 97 a

Convenção do Clima e a Introdução do Protocolo de Quioto e Mecanismo de Desenvolvimento

Limpo, repercutem sobre o setor de projetos trazendo a necessidade de redução da pegada de

carbono.

Neste contexto se expande o projeto bioclimático: a atenção para as características

geográficas do sítio e oportunidades de melhoria do desempenho do proejto, ou seja; clima,

vegetação, topografia, geologia, devem ser aliados e inspiradores e não obstáculos no desenho de

soluções, de forma a minimizar uso de energia na edificação, redução de riscos,

concomitantemente à criação de um ambiente de conforto térmico, lumínico e acústico, adaptado

para a funcionalidade tanto quanto à paisagem física e cultural do sítio ao qual se insere.

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O Setor de Construção no Século XXI

No Século XXI, agendas socioambientais demandam pressões para lidar de forma integrada

com multicritérios ambientais, sociais e econômicos, em cenário complexo e com a

transversalidade nas tomadas de decisão. Esta abordagem é a metodologia do denominada pelas

Nações Unidas como Ecodesign. Desta forma é possível transformar o projeto em uma resposta

pró-ativa, comprometido com melhorias ambientais. As figuras 1 e 2, ilustram algumas das

características do processo acrescido da ferramenta do ecodesign, que será melhor definido

conceitualmente no próximo módulo.

Figura 2: Etapas de reflexão exigidas pelo ecodesign que antecedem o desenvolvimento do projeto.

Fonte: Imagem reproduzida do material didático das aulas de ecodesign em edifícios sustentáveis 2010 Gueiros, Suzana

A concepção de projetos de arquitetura dentro de uma visão sustentável, continua a lidar

com todas as etapas tradicionalmente alinhadas no desenvolvimento de projeto, sendo acrescidas

de etapas preliminares de avaliação sobre os passivos socioambientais que as escolhas impactarão.

Quais valores e metas, qual a referência de benchmarking ambienta1l do projeto, ou seja, a

melhoria contínua na busca da sustentabilidade projetual, ecoeficiência e redução de

externalidades através da elaboração de metas ecoeficientes no projeto e integradas na função do

mesmo em fase preliminar, nos primeiros esboços. Os inputs ecológicos identificarão, para a

proposta em desenvolvimento, quais impactos, onde e como podem ser gerenciados ou evitados

através de soluções integradas, que convergem para um objetivo comum da busca pela

sustentabilidade do projeto; identificação de quais especialistas e equipe poderão integrar para o

cumprimento de metas anteriormente estabelecidas. Finalmente o mercado, irá definir a

viabilidade do projeto, ao longo de sua vida útil, de forma que não necessariamente uma solução

1 Benchmarking ambiental: processo sistemático; contínuo de avaliação dos produtos, serviços e processos de trabalho de empresas e organizações que são reconhecidas como representantes das melhores práticas, com a finalidade de introduzir Melhorias socioambientais. Adoção de melhoras práticas ambientais voltadas para a sustentabilidade e melhoria do desempenho sustentável do empreendimento.

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que se mostre sofisticada quanto aos artefatos tecnológicos e sistemas propostos, poderá ser a

melhor opção, visto que há uma consideração da manutenção do sistema, de pessoal qualificado

no sítio, dentre outros aspectos que devem ser cuidadosamente estudados para não cair em

armadilhas marqueteiras.

Figura 3: Etapas de reflexão exigidas pelo ecodesign: etapa final, o feedback das entradas e saídas no projeto.

A sétima etapa constitui-se do feedback sobre quais impactos foram gerados de forma a

realizar a gestão dos mesmos, inclusive no decorrer do envelhecimento de uma edificação.

Quando pensamos em uma construção, diferente de uma obra de pintura ou produto de consumo,

não podemos simplesmente destruir o que não atendeu às demandas projetuais. Como gerenciar o

fim de vida de uma construção? Questionamos: a estratégia de longevidade necessária de uma

obra edificada, permitirá sua integração e convergência com os critérios de sustentabilidade?

Enquanto a durabilidade de um produto de consumo pode variar de descartabilidade até uma

estimativa de cinco, dez ou até uns quinze anos, a vida de uma obra de construção lida com

décadas, cem anos ou mais, período o qual os impactos da fase de uso estarão vigorando. De

alguma forma, a arquitetura e o conjunto de profissionais que a permeiam, possuem uma

responsabilidade maior na relação de alteração do meio, uma vez que o que está edificado poderá

definir como os indivíduos sentirão bem-estar ou como gastarão mais energia no interior dos

recintos ou no exterior, como a edificação torna os habitantes mais susceptíveis a doenças, se

permitiu a inclusão e acessibilidade, dentre outros critérios.

O Ecodesign introduziu uma abordagem de avaliações e ferramentas diversas viabilizando

um passo a passo de gestão de impactos. Na linha de práticas do ecodesign dispomos de vários

conceitos e estratégias voltadas para melhoria do desempenho sustentável e da responsabilidade

projetual, o D4S - Design for Sustainability, foi um dos métodos desenvolvidos pela Universidade

de Delft (Holanda), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA,

suporte financeiro da organização alemã InWent e Ministério Federal para a Cooperação

Econômica e Desenvolvimento. Também conhecido como Design for Environment– Projetado

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para o Meio Ambiente (DfE), atenta para redução de impactos no meio ambiente, do projeto de

produto e serviços, considera os impactos no decorrer do todo o ciclo de vida do produto, indo

além dos aspectos que envolvem o uso de material reciclado e destinação apropriada de

embalagens e do produto. A questão da aplicação de ferramentas práticas do ecodesign evoluiu

para a rastreabilidade e procedência dos materiais envolvidos no produto final, tanto quanto na

avaliação de impactos durante e pós-uso, sendo que para os empreendedores do Século XXI, um

dos grandes desafios é o desafio ético, entender o porquê produzir, como e com quais recursos.

A adoção da Avaliação do Ciclo de Vida do produto (ACV), surge no final do século XX,

disponibilizando a quantificação de impactos e oferecendo oportunidades de melhoria e

questionamento da qualidade ambiental do produto no cenário global. A adoção do conceito de

ACV por empreendedores teve sua partida lenta, contudo nos últimos dez anos vem aumentando

progressivamente, juntamente com bancos de dados e softwares para sua realização. Stakeholders

a vislumbram como ferramenta de condução de competitividade ambiental e redução de

externalidades das empresas e indústrias, capaz de gerar inovação, multiplicação de benefícios

locais e cidadania ambiental. O ecodesign representa uma estratégia para inovação tecnológica

voltada para atender aos critérios de melhoria no desempenho ambiental de um produto ou

processo com pensamento no ciclo de vida. O life cycle thinking, ou seja: projetar à luz do

pensamento do ciclo de vida, é uma estratégia que consta em identificar, destacar e gerenciar, no

decorrer das etapas projetuais, os impactos que podem ser gerados de forma a exigir, do projetista,

a responsabilidade na busca de uma solução apropriada para evitar ou compensar os mesmos.

O impacto climático do setor de construção vem sendo destacado no relatório do IPCC

como sendo alarmante, ao considerar as emissões de GEE do setor, o gráfico a seguir retirado do

último relatório (o próximo previsto para setembro 2014) mostra o comprometimento do setor na

categoria de impacto climático projetado para 2030, no cenário A1B.

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Figura 4: Emissões de CO2 de edifícios (incluído o uso de eletricidade) dados do IPCC. Cenário de elevado crescimento– vermelho escuro- emissões históricas. Vermelho claro – projeções entre 2001 até 2010. Fonte: Levine, et Al – 2007 - IPCC

Em uma edificação o pensamento no ciclo de vida servirá para mostrar as estratégias de

ecodesign para redução do GEE. Na figura 5 são disponibilizadas etapas pelas quais o projetista é

capaz de minimizar ou compensá-las, cabendo destacar que; segundo a União Européia, é no

processo de concepção que podemos reduzir os impactos em até 80%. Portanto, o recurso do

bioclimatismo como estratégia de concepção de edificações e, inclusive, sua adoção

urbanisticamente, poderá contribuir para redução dos impactos climáticos nas construções desde a

criação do projeto considerando a redução de emissões geradas na vida útil da edificação

procedentes do consumo de energia elétrica voltado para atender ao tratamento de conforto

climático nos espaços internos. Na figura seguinte, temos uma sequência de etapas do setor de

construção e como podemos gerenciar as emissões de GEE.

Figura 4: Processo de projetar com pensamento no ciclo de vida para redução das emissões de GEE.

Com progressivo rigor na legislação, as discussões evoluiram internacionalmente

alcançando o esclarecimento diante das alternativas de compra, que por sua vez possuem reflexos

diretos na demanda por produtos com visibilidade de impactos. Portanto, no quesito de impactos

climáticos, a demanda por uma menor pegada de carbono vem sendo adotada através da análise do

ciclo de vida do produto, que não apenas registra quantitativamente os impactos climáticos,

quanto outros igualmente relevantes para o esverdeamento dos produtos utilizados no setor da

construção civil. A figura 5 mostra um esquema de pensamento projetual focado no ciclo de vida

de um produto, aborda não apenas as etapas subseqüentes que conduzem ao fim de vida – o

tradicional do berço ao túmulo – mas como ocorre o reingresso do mesmo ou de partes do

mesmo, considerado o berço ao berço.

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Figura 5: representação genérica de um ciclo de vida do produto do berço ao túmulo e sua reinserção na cadeia

Fonte: Bras, Bert [1997] – Incorporating Environmental Issues in Product Design and Realization, adaptada editada por Gueiros, Suzana

A figura 5 ilustra o life cycle thinking, neste processo o produto é desenvolvido pensando nas

estratégias posteriores de reingresso em alguma cadeia produtiva, aproveitamento de todo ou parte

do mesmo, ou para uso, reuso ou reciclagem. Neste fluxograma surge o termo Demanufatura,

segundo literatura científica, [BRAS,1997], esta expressão é comumente utilizada no referir-se ao

processo inverso, de engenharia reversa do produto, em operações de quebra da unidade em partes

para serem reingressas em alguma cadeia, no caso do exemplo acima, refere-se a quebra de

grandes polímeros em pequenos polímeros, completando a estratégia do ecodesign sugerida para

determinada linha de produtos.

Diversos fatores atuam pressionando e motivando empreendedores para adoção de

pensamento no ciclo de vida, pois é sabido que o impacto ambiental decorrido do consumo

excessivo de recursos naturais e da emissão de poluentes para o ar, água e solo, vem se tornando

visível, através de leis, convenções internacionais, normas e códigos voluntários de conduta. A

Legislação Européia: obriga a responsabilidade do empreendedor na gestão do fim de vida do

produto, do recolhimento, chamada de take-back, portanto, para empresas é mais fácil ter o

pensamento no ecodesign e saber desde o momento projetual como vai aproveitar os seus resíduos

através de produtos concebidos para desmontabilidade, reutilização e reciclabilidade. No Brasil,

recentemente foi introduzida a nova política e lei de resíduos sólidos, na qual o fabricante ou

produtor deverá assumir uma postura proativa, aumentando portanto, a necessidade de adoção de

estratégias de ecodesign no processo de desenvolvimento do produto para a gestão dos resíduos.

Programas de Etiquetagem e Rotulagem Ambiental atendem a necessidade de

rastreabilidade de quais características ambientais de um produto alegadamente são mais

vantajosas em comparação com outros da mesma função vem crescendo, alguns programas de

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etiquetagem começam como voluntários, passando a obrigatórios dentro de alguns anos, retirando

do mercado aqueles com desempenho inferior.

As práticas projetuais que consideraram o pensamento do ciclo de vida do produto no

processo de desenvolvimento do mesmo, obtiveram grandes ganhos para as empresas, cabe-nos

ressaltar contudo, a grande estratégia de identificar a natureza da obsolescência do produto, se o

mesmo tende a obsolescência estética, tecnológica, utilidade, higiênicas dentre outros aspectos que

são inerentes a qual produto se analisa. Não há portanto, uma solução única, mas sim, casos

específicos a cada produto e cada local na busca pela integração dos aspectos ambientais e sociais

no projeto. A figura seguinte ilustra escala de possibilidades de intervençãol para a melhoria do

desempenho ambiental, em cada uma delas haverá uma oportunidade de desenvolvimento de

estratégias de ecodesign.

Figura 4: Escala de Visão temporal e ambiental da redução de impactos projetuais (acima) e legenda (ao lado). Fonte: Bras [1997], imagem editada por Gueiros, Suzana

A imagem mostra gradações de envolvimento no processo de redução de impactos, onde

há a expressão X produtos e X fabricantes, há comprometimento maior local, e quando há

sociedade, há elevada consciência de rastreabilidade das questões socioambientais envolvidas.

Algumas estratégias de ecodesign podem atuar de forma aplicada ao produto, identificando

impactos e alternativas de gestão para o mesmo, quanto também podem haver estratégias para

todo o ciclo de vida ou linhas de produtos, no caso, mais de um fabricante envolvidos. Podemos ir

além das estratégias de ACV ambiental, abordando a Avaliação Social do Ciclo de vida e o

questionamento da própria necessidade de introdução de um novo produto no mercado, diante das

tendências tecnológicas e culturais da sociedade de questionar a função do produto e como

projetá-la utilizando menos recursos. A redução da pegada de carbono de uma construção pode

decorrer tanto da especificação de materiais e processos quanto da forma pela qual as instalações

são projetadas.

3. As Motivações Necessárias para a Introdução do Ecodesign na Arquitetura

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Em 15 de Abril de 2010, o famoso arquiteto Frank Gehry, desafiava os seguidores radicais

das certificações LEED e deixava claro em uma entrevista na Bloomberg Businness week, que – “

...a despeito das mesmas constituírem uma ferramenta de suporte para projetos incorporarem

soluções com melhor desempenho ambiental, não podemos deixar que estes sistemas – sejam a

única forma de realização de um projeto sustentável ou do esverdeamento dos projetos

arquitetônicos.” Enquanto alguns especialistas afirmam que o LEED ajudou aos empreendedores

da construção a trabalharem de forma mais sustentável, também há uma série de críticas daqueles

que alegam que os únicos que se beneficiam seriam os próprios arquitetos ou construtores

certificados, que o complicado sistema não garante necessariamente a sustentabilidade projetual. É

fato, contudo, que introdução de selos trouxe benéfico alerta às etapas e multicritérios ambientais,

tanto quanto parâmetros de comparação deste desempenho.

A busca por melhorias no desempenho ambiental na área de construção é uma das grandes

preocupações de variados setores, até mesmo da OMC (Organização Mundial do Comércio),

havendo sido registrado em documento no qual junto ao IPCC (Painel Intergovernamental de

Mudanças Climáticas) com a supervisão da UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente), foram mapeadas as emissões por setores e respectivas influências na responsabilidade

climática, juntamente com a orientação de estratégias voltadas para tais cenários. O quadro

produzido a trouxe à luz um cenário comprometedor, sobretudo para os países em

desenvolvimento. A figura 5a na sequencia ilustra tais impactos e potencial de miitigação, seguido

da figura 5b, que diz respeito ao consumo de energia no setor dos edifícios. Como organização

internacional que movimenta negócios (produtos e serviços), o documento gerado pela OMC

voltou-se para promoção de mecanismos financeiros de desenvolvimento de incentivos para

tecnologias chamadas “climate-friendly (amigas do clima): soluções capazes de mitigar impactos

relacionados às mudanças climáticas (basicamente a geração de gases de efeito estufa). São

destaque do documento a necessidade de implementação de energias renováveis, oferecendo ainda

exemplos de políticas governamentais bem sucedidas na promoção de novas rotas projetuais.

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Figura

5a: Potencial de Mitigação por setor. Fonte: IPCC- OWT- UNEP 2009.

Figura5b: Emissões de CO2 – energia 2004 - Fonte: IEA, 2006 e Price et al. 2006.

A maioria das ações internacionais são voltadas para a mitigação através de esforços

coordenados internacionalmente e metas de redução dos GEE. Em cenário adaptativo, aponta-se o

bem-estar e salubridade condicionados à capacidade adaptativa da economia afetada. O setor da

construção civil apresenta grande potencial para redução de impactos climáticos, uma vez

comprometido com ecodesign. Abaixo o mais recente relatório do IPCC (2014) referente as

emissões de GEE do setor residencial e comercial.

Figura 6: Emissões diretas e indiretas do consumo de eletricidade na construção. Fonte:IPCC, 2014

O compromisso assumido das Nações, na condução de projetos sustentáveis, trouxe

mudanças no processo de desenvolvimento de projetos. Ingerências vão desde a concepção, de

localização ao de soluções urbanísticas, de técnicas construtivas, de escolha de materiais, de

recuperação e restauro, de adoção de sistemas projetados de forma integrada, capazes de abraçar

as novas tecnologias, até a própria autonomia do usuário na seleção de produtos como mobiliário

com pegada de carbono reduzida e produtos de consumo de energia eficientes.

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A proposta de otimizar a energia passiva integra a estratégia de arquitetura bioclimática,

reduzindo emissões decorrentes do consumo de energia para conforto térmico. São diversos os

benefícios ambientais que uma construção poderá trazer ao meio, tais como a redução de

desperdício de águas e seu reaproveitamento, paisagismo e recuperação da biodiversidade local,

atenuação de impactos sonoros, recuperação do contato bucólico com introdução do verde e

recuperação de biodiversidade, redução da carga térmica, ampliação da área verde na relação da

taxa de ocupação do terreno – que poderá decorrer não apenas dos tetos e coberturas, mas de

sistemas verticais de esverdeamento das construções – e ainda a renovação da qualidade do ar,

dentre outros benefícios que um bom projeto poderá ofertar, a despeito de o mesmo ser ou não um

edifício certificado pelos sistemas LEED ou BREEAM2 ou qualquer outro sistema de avaliação de

performance ambiental. Cabe ressaltar contudo, que os benefícios das certificações em edifícios,

de forma inquestionável, transformaram a forma de projetar numa de checagens de critérios de

desempenho ambiental, tornando os mesmos visíveis para a sociedade, o que representa grande

benefício.

Previsões das Nações Unidas apontam para cerca de 200 milhões de refugiados que estarão

migrando nas próximas décadas dado aos cenários climáticos. Profissionais da construção deverão

parar de serem meramente especialistas de centros culturais e pensarem nas comunidades e em

como construir para a pobreza, para o saneamento básico, expandindo a construção para uma rota

de responsabilidade de saúde pública, seguranca e bem estar com inclusão social. A figura 6 ilustra

algumas razões para mudança do setor.

Segundo (2006, Bryan Bell & Katie Wakeford): “A profissão de engenharia e arquitetura

reflete uma dicotomia: A maioria da prática assemelha-se as práticas de advogados, na maioria

seus clientes são prósperos e podem pagar por soluções customizadas. Essa prática na cidade

levou a construção de projetos funcionais e de sucesso, mas também limitou amplamente o

número de pessoas que são servidas pelos projetistas e respectivas soluções.” Estudos registram

que mundialmente, arquitetos, por ex. são responsáveis por atender de 2 a 5% de tudo o que é

construído. A falta de presença de profissionais de engenharia e arquitetura na concepção de

projetos, fazendo uso de sistemas passivos de iluminação e ventilação representa não apenas uma

2 LEED – Leadership in Energy & Environmental Design, Sistema internacionalmente conhecido de certificação de edifícios atendendo ao  sistema Norte Americano do Green Building Council  (USGBC); promove a avaliação de terceira parte de que uma edificação ou sítio,  foram projetados atendendo a determinados princípios de melhoria da performance ambiental.  BREEAMM – Método de Avaliação Ambiental (Environmental AssessmentMethod), considerado o mais utilizado mundialmente para avaliação de impactos das construções, tem como referência mapear as melhores práticas de design sustentável e tornou‐se uma referência internacional na descrição e identificação da performance ambiental de uma construção.  

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perda na conservação de energia que será gerada nas construções em fase funcional, quanto

aumenta a disparidade das condições de higiene e conforto habitacionais de baixa renda.

Figura 6: Algumas razões para mudanças no setor da Construção. Imagem: Edição própria. Fonte:

UNEP

Os compromissos das agendas internacionais a partir da Conferência das Nações Unidas

para o Meio Ambiente em 1992- tais como o Protocolo de Quioto 1992/97 e 1999- envolvendo

cenários climáticos sugeriram que edifícios novos deveriam obter uma redução de 40% de suas

emissões, e os existentes em 15%, o que traria em 10 anos seguintes, 50% das emissões de CO2

advindas em no mínimo 30% de áreas edificadas.

No Brasil, algumas iniciativas podem ser destacadas como práticas desta visão:

destacamos o PROCEL3, bem sucedida Política Nacional de conservação de energia. A figura

abaixo mostra os setores nos quais o PROCEL atua na construção de metas para eficiência

energética, para obtenção do êxito, foi necessário que estratégias para alcance do usuário,

projetistas e fabricantes fossem eficazes, trazendo visibilidade e cidadania ambiental aos vários

atores envolvidos. Desta forma a parceria com o INMETRO, através do PBE, garantiu o êxito do

programa. Dentre os vários resultados positivos, cabe destacar que desde o advento do selo

PROCEL, no período de 1997 a 2007, foi obtida uma redução em 36% no consumo de energia de

refrigeradores de uma porta. Esta, dentre outras medidas adotadas pelo Programa estão alinhadas

com as tendências internacionais de mitigação, sendo o mesmo considerado referência inclusive,

por Lester Brown, em Plano B 3.0 (2008), onde foram sugeridas as rotas necessárias para o

resgate da civilização com base nos dados e cenários climáticos do IPCC. Na figura9a -área de

atuação do PROCEL.Figura 9b uma imagem do selo PROCEL fachada.

3PROCEL – PROGRAMA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA, Ministério de Minas e Energia. Programa focado em Educação – no combate  ao  desperdício  através  de  hábitos  e  escolhas,  e  na  eficiência,  através  do  encorajamento  de  produtos  e  soluções  tecnológicas  com melhor eficiência energética, em associação com o INMETRO, foi criado o Progama Brasileiro de Etiquetagem, o PBE. 

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Figura 9a: áreas de atuação do PROCEL. Figura 9b: selo para avaliação de fachadas introduzido em 2010.

Fonte: Eletrobrás (2010)

O Programa capacitou mais de vinte laboratórios para testes em equipamentos, um

investimento de 16 milhões para laboratórios de refrigeração, iluminação, ventiladores de teto,

motores, simuladores solares, dentre outros investimentos para viabilizar o PBE. A etiquetagem

para as edificações são avaliadas em três níveis de eficiência: envoltória, sistema de iluminação e

sistema de condicionamento de ar. A continuidade do sucesso do programa, demanda que a área

projetual adote uma postura de visibilidade de impactos e de engajamento ambiental introduzido

no passo a passo dos desenhos e de forma integrada. Até o ano de 2008, segundo dados da

Eletrobrás, a economia de energia por conta da adesão ao PROCEL, representou 4,37 bilhões de

kWh. Sendo que, segundo a mesma fonte, a economia de energia com relação ao consumo total de

energia elétrica no Brasil, foi de 1,11%, o que representa energia fornecida para o equivalente a

2,5 milhões de residências, registrando ainda 212 mil evitadas em emissões de CO2 tCO2 eq.

Nos últimos cinco anos, contudo, a política de facilitação ao crédito e redução de impostos

sobre produtos domésticos da linha branca, trouxe um perfil de consumidor voraz no cenário

nacional, aumentando a demanda pelo fornecimento de energia, o que no ano de 2014 vem sendo

problemático devido ao risco de abastecimento dos reservatórios das hidrelétricas em associação

com maior consumo residencial de energia elétrica por habitante (que segundo a Empresa de

Pesquisa Energética- EPE, encontra-se em 483kwh). O consumo de aparelhos de ar condicionado

no Brasil aumentou de tal forma que o mesmo é comparado como o novo chuveiro elétrico,

segundo a Associação das Empresas Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee). O recorde de

consumo residencial de energia foi atingido em janeiro de 2013, com 10,9 mil gigawatts-hora

(GWh), segundo dados da EPE. A arquitetura bioclimática pode fazer frente a este novo contexto,

se introduzida desde a concepção.

Na ocasião da divulgação do 4º relatório do IPCC (Fourth Assessment Report Climate

Change 2007), houveram iniciativas isoladas no Brasil no âmbito do poder público municipal, de

promover ações referentes à institucionalização do controle de emissões. Na América do Sul, a

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Campanha das Cidades pela Proteção do Clima, de 1998 do Conselho Internacional para

Iniciativas Ambientais Locais (ICLEI), definiu nível de 10% como meta de redução das emissões

de poluentes atmosféricos até 2010. Definiu-se, neste sentido, que as cidades deveriam estar

alinhadas com as proposições do Protocolo de Kyoto, controlando, portanto, as emissões do

dióxido de carbono (CO2) e do metano (CH4). O Rio de Janeiro foi a primeira cidade brasileira a

se comprometer com o ICLEI, no mesmo ano do lançamento, realizando um inventário detalhado

de suas emissões de gases causadores de GEE. O Protocolo de intenções do Rio instituiu em 2007,

medidas de mitigação dos efeitos do aquecimento global locais. Metas de redução de GEE foram

estabelecidas em 2009, no Programa Rio-Sustentável. Entre as ações locais estabelecidas tanto no

âmbito do Protocolo, tanto quanto no Programa, está a determinação legal da compensação pelo

setor da construção civil, através de plantio de mudas arbóreas; a Lei Municipal nº 613/84 e do

Decreto Municipal nº 31.180/09.

Com o Decreto nº 27.596, de 15/02/07, (RIO DE JANEIRO, 2007 b) foi instituído que

todas as obras licenciadas pela Prefeitura de três pavimentos ou mais, ou que sendo não

residenciais, sejam consideradas de médio e grande porte, devam ter suas emissões de GEE

compensadas, deverão observar as compensações para garantir um efeito-carbono zero. Em

seguida, o Decreto n° 27.740, de 23/03/2007, (RIO DE JANEIRO, 2007c) instituiu o ano de 2007

como o ano da arborização com a criação do Programa Municipal de Arborização Urbana.

Finalmente em 2009, o Decreto nº 31.180, de 20/09/2009 (RIO DE JANEIRO, 2009a), Institui que

todas as obras de construção licenciadas pela Prefeitura com área total construída superior a 180

m², devem compensar as emissões de gases do efeito estufa, geradas durante a sua execução.

Resolução Conjunta SMAC/SMU nº 14, de 30/10/09 (RIO DE JANEIRO, 2009b), que o cálculo

das compensações das emissões de gases do efeito estufa deva ser o somatório das compensações

das emissões oriundas de escavações (subsolo) e das compensações das emissões oriundas de

construção.

Esses instrumentos legais antecederam às ações para a institucionalização do Programa

Rio Sustentável, da Prefeitura do Rio de Janeiro, divulgado em 30/11/2009 com o Decreto nº

31.414 (RIO DE JANEIRO, 2009c), que estabelece metas de redução de emissões de gases de

efeito estufa na cidade para os anos de 2012, 2016 e 2020. Quatro foram os grupos de atividades

com emissão de GEE na construção civil: i) transporte de materiais para o canteiro de obra; ii)

equipamentos acionados por motores a explosão; iii) transporte de resíduos e movimento de terra;

iv) consumo de energia elétrica. Para compensação das emissões, foi estabelecido o critério de

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seqüestro de carbono através do plantio de árvores, considerando a capacidade de sequestro de

500 kg de CO2 por árvore ao longo de vinte anos, segundo tabela 1.

Tabela1: Exigência Legal/ Emissões e Compensação. Fonte: Decreto Decreto nº 31.414 (RIO DE JANEIRO, 2009c)

5. Os Aspectos do Ecodesign na Arquitetura Bioclimática Deve‐se estar alerta para o fato de que alterar o meio ambiente é óbvio. Destruir arquitetura é mais 

difícil.  Talvez  por  esta  razão,  de  alguma  forma,  os  arquitetos  devam  ser  mais  responsáveis  às 

demandas do meio ambiente e dos efeitos destrutivos da tecnologia. Os seus erros aparecem. 

Winslow, Margaret Cotton – escritora,arquiteta. Berkeley (Environmental Design – pp4)

O projeto de arquitetura bioclimática pode ser considerado como uma abordagem amiga do

clima – climate friendly – curiosamente tal abordagem aprendemos com o passado, uma vez que

soluções adotadas com base nestes princípios encontram-se em obras que datam de uma longa

data na trajetória na qual o homem tirava proveito do clima na solução do conforto. Embora o

ecodesign considere multi-critérios que vão além daqueles abordados na arquitetura bioclimática,

se um projeto de arquitetura não foi concebido orientado por estes princípios, dificilmente estará

atendendo ao que o ecodesign sugere como modo projetual de pensamento no ciclo de vida do

produto. O setor de construção sob a ótica do cenário climático deverá dispor de estratégias de

mitigação, através da introdução de melhorias na concepção projetual e plantas ecoeficientes. Esta

estratégia poderá servir inclusive para redução da pegada de carbono de um produto de consumo,

se no caso tratar-se de um projeto de instalações industriais. Também deverá observar as soluções

necessárias dentro de cenários adaptativos, no caso, uma arquitetura considerando cenários

preventivos de conseqüências de catástrofes e consequências climáticas negativas, tais como

cheias, elevadas temperaturas que deverão ser contextos ingressos na dinâmica projetual.

As atividades antropogênicas além do aumento das emissões de GEE (gases de efeito

estufa), também geram um fenômeno conhecido como ilhas de calor urbano [Santamaoris, 2001].

O que implica no aumento do pico médio da temperatura em áreas urbanas, como resultado de

energia utilizada em nas indústrias, transportes e edifícios, tanto quanto pelo calor armazenado

devido à escolha dos materiais das edificações, elevando a temperatura no período noturno. Este

efeito, combinado com os efeitos climáticos, produzem ainda um aumento maior da temperatura,

gerando uma demanda de energia para o esfriamento, o que gera um ciclo vicioso ilustrado na

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figura abaixo, que representa o que vem ocorrendo em cidades brasileiras com a elevada demanda

de aparelhos de ar condicionado:

Figura 11: Ciclo vicioso da demanda por energia nas edificações de ambientes urbanos

FONTE: Santamaoris, 2001 Edição: Gueiros, Suzana 2013

A satisfação das necessidades energéticas nos próximos anos constitui-se um dos dilemas

ambientais tanto de países ricos da OECD quanto – sobretudo - das nações em desenvolvimento, e

particularmente do Brasil. O crescimento econômico em associação com a facilitação de crédito e

acesso aos produtos eletrodomésticos e eletroeletrônicos nas populações de baixa renda vem sendo

ampliado no Brasil, a despeito da melhoria no desempenho de eficiência energética dos produtos,

há um aumento da demanda por energia de uma forma geral. O aumento do consumo residencial

no último ano foi o maior, 11,4%. Portanto, é preciso entender a arquitetura como uma aliada aos

desafios que a sociedade terá para um futuro próximo. A tabela 2 mostra o aumento do consumo

de energia no País.

Tabela 2: estatística do consumo de energia elétrica na rede no Brasil – Fonte: EPE 2013

A necessidade de acesso e obtenção ao conforto térmico através dos sistemas naturais de

esfriamento do interior, são típicas de países em desenvolvimento em função de elevadas

temperaturas na maior parte do ano. Uma edificação técnica e tecnologicamente pobre, com

recursos limitados, é quase sempre a marca de tais sítios, o que determina condições ainda piores

no interior das habitações de classes menos favorecidas. Os parâmetros de sustentabilidade devem

ser democráticos, e atenção as propostas populares deverá ser cuidadosa de forma a não

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comprometer a saúde, além do conforto e ainda assegurar a proteção aos futuros cenários

climáticos, que já se mostram catastróficos para alguns sítios em estações de elevada pluviosidade.

O tratamento integrado de soluções projetuais que possam minimizar o uso de sistemas

artificiais de condicionamento do ar, ou integrar na concepção urbanística e construtiva as

tecnologias existentes de forma combinada, permitirão a estratégia de conservação da energia e

redução de desperdício. A adoção de fachadas combinadas com sistemas de verticalização do

verde, solar térmica, fotovoltaicas, sistemas combinados geradores eólicos e reuso de água, e

ainda outras opções de sistemas integrados para fachadas e entorno, devem ser constantes

reflexões no passo a passo de desenvolvimento do projeto. E caberá também aos atores

envolvidos, considerar nas construções as soluções ecoeficientes não apenas como um capricho de

condomínios luxuosos, mas soluções ecoeficientes para programas de moradias populares, que já

representam grandes os desafios sociais nas cidades.

Segundo Newman (2001): A arquitetura Sustentável é ambientalmente consciente,

eficiente no consumo de energia, utiliza materiais com melhor desempenho ambiental e sistemas

renováveis. As preocupações ambientais, contudo, se expandiram além do consumo de materiais

alternativos e economia de energia avançando para a responsabilidade social corporativa e o

balanço ecológico como requerimentos da arquitetura sustentável.

Figura 12: As oportunidades de implementar o ecodesign na arquitetura e a contextualização da arquitetura bioclimática.

Fonte: Suzana Gueiros – material didático de ecodesign 2011.

6. Conclusão

Nunca a arquitetura e demais setores capilarizados na atividade projetual, foram tão

capazes de ter a ciência de sua responsabilidade local e global quanto hoje. As edificações e seu

entorno deverão considerar o consumo de energia, os resíduos produzidos no decorrer da vida útil

e a sua gestão, tanto quanto a saúde dos atores envolvidos ao longo do ciclo de vida no processo

de vida útil duradoura que representam as obras arquitetônicas.

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A promoção de saúde local e do entorno, o respeito aos animais, atenção à inclusão, são

critérios que, outrora desapercebidos, são hoje progressivamente inclusos de uma forma integrada

no projeto, dentre os multicritérios, o aspecto climático aparece requerendo drásticas mudanças e

não raro na legislação. Neste contexto, o ecodesign dentro dos princípios da arquitetura

bioclimática, representa uma estratégia de integração de soluções com baixo custo ao longo da

vida útil do projeto, permitindo economias e conservação da energia, tanto quanto viabiliza, pela

criatividade e baixo custo, soluções de conforto inclusivas as classes menos favorecidas, que

findam por receberem os maiores impactos das assimetrias globais. Cabe ressaltar ainda, que a

arquitetura bioclimática em associação com o pensamento do ecodesign, irá prevenir como

solução projetual, os eventuais desastres decorrentes de efeitos climáticos, ao mesmo tempo em

que conserva os recursos por meio de princípios projetuais e construtivos.

No Brasil, o aumento no consumo e o crescimento do setor da construção requer a

introdução de maior engajamento nos atuais programas de conservação de energia. A despeito da

existência de rotulagens para o setor, é necessário promover uma arquitetura com melhor

desempenho climático. Muito embora o setor de construção já venha passando por redesenhos

para suportar investimentos requeridos de programas de eficiência energética em edificações, nos

países em desenvolvimento, que se mostram como os mais alarmantes nos cenários projetados

pelo IPCC, são necessárias ações mais coesas e com olhar para a construções populares.

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