eco, umberto. a busca da língua perfeita (resenha)
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7/23/2019 ECO, Umberto. a Busca Da Lngua Perfeita (RESENHA)
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Eco, Umberto.A busca da lnguaperfeita. Traduo de AntonioAngonese. Bauru: Edusc, 2001,458 pp.
A diversidade de lnguas umamaldio ou uma bno? Essareflexo norteia as mais de 450pginas de A busca da LnguaPerfeita. Nesse projeto, Umberto
Eco tentou reunir um pouco de todasas utopias europias a respeito da
historiador francs Jacques Le Goff.Lanado na Europa em 1993, olivro se insere no projeto de
consolidao da Unio Europia e,por isso, foi editado simulta-neamente por cinco editoras doVelho Continente.
A Bblia afirma que no
princpio era o verbo. No entanto,o livro sagrado abriga visescontraditrias sobre a origem dadiversidade lingstica. No Velho
Testamento, o captulo 11 doGnesis justifica a existncia de
tantas lnguas como uma puniodi i l b b h
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perodo clssico j conheciam povosque falavam outras lnguas, mas oschamavam de brbaroi, ou seja,
seres que balbuciavam falando deforma incompreensvel. Osfilsofos gregos acreditavam que sualngua era o idioma da razo: Logosera o pensamento e Logos o
discurso. Com a expanso dessacivilizao, uma lngua gregaunificada e uniforme (chamadokoin) foi ensinada nas escolas degramtica e tornou-se a lngua oficialde toda a rea dominada por
Alexandre Magno. Sobreviveu du-t d i
Imprio Romano e a Alta IdadeMdia, a Europa no existia aindacomo unidade geogrfica. Novas
lnguas formaram-se lentamente.Calcula-se que, no fim do sculoV, o povo j no falava mais olatim. Surgiram dialetos locais quemisturavam o latim, linguagens
anteriores civilizao romana erazes lingsticas introduzidas pelosbrbaros. Aps a queda do ImprioRomano, houve o nascimento dosreinos romano-barbricos. AEuropa apresentava-se ento como
uma Babel de lnguas novas e,t d i i
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perfeitas em algum momento porserem dadas como originrias oumisticamente perfeitas (sagradas).
Entre as lnguas sagradas estariamo hebraico, o egpcio e o chins.No grupo das lnguas especiais porsua relao com a razo estariam ogrego, o latim e, a partir do sculo
16, vrias lnguas nacionais. Ecodetm-se em anlises da Cabala (aidia da criao do mundo comofenmeno lingstico), dos trabalhosde Dante Alighieri (que na IdadeMdia reconheceu a linguagem
como uma faculdade universal) eR Ll ll ( j t d
artificialmente e, por ltimo, aslnguas mais ou menos mgicas, queaspiram perfeio pela
expressividade mstico-simblica.H uma grande diferena entre
a procura da lngua perfeita, movidatalvez pela crena de que como aestrutura da linguagem representaria
a estrutura da realidade, a lnguaperfeita engendraria o mundoperfeito, e a busca da lngua uni-versal, que seria falada em todo oplaneta. De volta ao incio, nosperguntamos: afinal, a multi-
plicidade de lnguas positiva outi ? N i fi i E
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para transmitir uma ordem bancria,mas de 30 anos para traduzir Borges e esse retarda-mento, que permite
captar o tempo longo da tradio, um grande obstculo ao grandemercado mundial e por isso huma guerra, diz Deguy. Ou seja:ao mercado global no interessa a
diferena. Sobre a importncia dadiversidade lingstica, Eco d seualerta no captulo final, ao citar V.V.
Ivanov, para quem cada lnguaconstitui um determinado modelode Universo, um sistema semitico
de compreenso do mundo, e setemos 4 mil modos diferentes dedescrever o mundo, isto nos tornamais ricos. Deveramos preocupar-nos pela preservao das lnguas tal
como nos preocupamos com aecologia.Marlova Aseff
UFSC