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P & B 43 ma luz. Apenas um feixe de luz consegue passar pela escuridão. É como se fosse uma luz no fim do túnel que enfraque- ce e se fortalece. São o branco e o preto que se misturam em um único corpo celeste. É a luminosi- dade que destaca o espírito. Quantos significados! Às vezes, a luz some: por alguns segundos, ou até mesmo minutos, ficamos na total escuridão. Até que, final- mente... Olha ela lá de novo: volta a esperança e o magne- tismo. Todos ao redor olham para o céu, hipnotizados pelo mítico evento milenar e cheio de essên- cia: o eclipse. É esse magnetismo e o sur- preendente mistério que envolve o fenômeno que faz com que os povos e civilizações não parem de observá-lo. Os eclipses solares e lunares sempre estiveram sob uma atmosfera mágica, mítica, capaz de estimular a imagi- nação, criar mistérios, dramati- zar os acontecimentos, divinizar governantes e personagens que se destacam dos simples mortais. Este fenômeno astronômico tem tanta importância histórica que quase todas as sociedades co- nhecidas tinham e têm seus sa- cerdotes, ou seus astrônomos, en- carregados de prever os eclipses, que aterrorizam e fascinavam as pessoas. Eclipse na história Na Roma antiga, acreditava-se que os eclipses eram um sintoma de que o Sol ou a Lua estavam doentes. Sol e Luna eram deuses que, por vezes, se enfraqueciam ou se entristeciam. Os romanos acreditavam que o deus Sol era a fonte alimentícia da vida mas- culina no cosmos e que, se dei- xasse de brilhar, a vida, em sua forma masculina, desapareceria do universo. Do mesmo modo, se Luna deixasse de mostrar sua face, a vida, em sua forma femi- nina, desapareceria irremedi- avelmente. Enquanto isso, na China anti- ga, o eclipse solar era visto como um prenúncio de que o Dragão tentava devorar o Sol. Sabe-se de relatos de um ritual chinês anti- go que afastava o Dragão da Eclipses IVY JANNIBELLI E DIEGO GUIMARÃES Os eclipses, na Roma Antiga, aconteciam quando o Sol ou a Lua se entristeciam ou se enfraqueciam Alessandro Cassiano/Jornal O Globo

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ma luz. Apenas umfeixe de luz conseguepassar pela escuridão.É como se fosse uma

luz no fim do túnel que enfraque-ce e se fortalece. São o branco e opreto que se misturam em umúnico corpo celeste. É a luminosi-dade que destaca o espírito.Quantos significados! Às vezes, aluz some: por alguns segundos,ou até mesmo minutos, ficamosna total escuridão. Até que, final-mente... Olha ela lá de novo:volta a esperança e o magne-tismo. Todos ao redor olham parao céu, hipnotizados pelo míticoevento milenar e cheio de essên-cia: o eclipse.

É esse magnetismo e o sur-preendente mistério que envolveo fenômeno que faz com que ospovos e civilizações não parem

de observá-lo. Os eclipses solarese lunares sempre estiveram sobuma atmosfera mágica, mítica,capaz de estimular a imagi-nação, criar mistérios, dramati-zar os acontecimentos, divinizargovernantes e personagens quese destacam dos simples mortais.Este fenômeno astronômico temtanta importância histórica quequase todas as sociedades co-nhecidas tinham e têm seus sa-cerdotes, ou seus astrônomos, en-carregados de prever os eclipses,que aterrorizam e fascinavam aspessoas.

Eclipse na históriaNa Roma antiga, acreditava-se

que os eclipses eram um sintomade que o Sol ou a Lua estavamdoentes. Sol e Luna eram deusesque, por vezes, se enfraqueciamou se entristeciam. Os romanosacreditavam que o deus Sol era afonte alimentícia da vida mas-culina no cosmos e que, se dei-xasse de brilhar, a vida, em suaforma masculina, desapareceriado universo. Do mesmo modo, seLuna deixasse de mostrar suaface, a vida, em sua forma femi-nina, desapareceria irre m e d i-avelmente.

Enquanto isso, na China anti-ga, o eclipse solar era visto comoum prenúncio de que o Dragãotentava devorar o Sol. Sabe-se derelatos de um ritual chinês anti-go que afastava o Dragão da

EclipsesIVY JANNIBELLI E DIEGO GUIMARÃES

Os eclipses, na RomaAntiga, aconteciam

quando o Sol ou a Lua seentristeciam ou se

enfraqueciam

Alessandro Cassiano/Jornal O Globo

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fonte da vida. Para isso, flechaseram atiradas para o alto, haviao rufar dos imensos tambore s ,que, entre outras coisas, liberavao Sol do Dragão. De acordo coma doutora em História Antiga,Cláudia Beltrão, pode-se perc e-ber a importância dos eclipsesna política e no governo daChina antiga: Chung Wang, 4ºimperador da Dinastia Hai, con-denou à morte dois astrônomospor não terem previsto o eclipsedo Sol de 2137 a.C. “Os eclipseseram considerados pre n ú n c i o sde crimes políticos e de crisessociais e econômicas”, afirm aCláudia.

Para a astrologia, o obscure c i-mento parcial ou total do Sol sig-nifica o declínio de uma autori-dade e o surgimento de um novomodelo de liderança. A astrólogaLúcia Helena explica como issopode ser visto no âmbito dafamília. “Todas as formas deindividualidade mudam. Os pro-cessos egóicos se aguçam entre ospovos e há a luta entre irmãos eas brigas de família.” De acord ocom a astróloga, o tempo deduração dos efeitos de um eclipsena vida das pessoas é re l a t i v o ,mas em média duram de 24horas antes até 24 horas depoisdo clímax do evento.

Na modernidade, o estudo doseclipses serviu a Cristóvão Co-lombo para a determinação dalongitude em suas viagens, alémde ajudá-lo num momento críti-co, como o navegador relata emseu diário: “Nas Antilhas, pre-cisando de água potável e de ali-mentos para re t o rnar à Europa, eencontrando resistência entre osnativos (...), Colombo lembro u -

se de que o astrônomo judeuSamuel Zacuto previra umeclipse lunar para aquela noitee, espertamente, ameaçou seusi n t e r l o c u t o res enfurecidos, ga-rantindo que apagaria a luacaso não tivesse seu pedido aten-d i d o ” . O eclipse foi parcial, masassim que começou, os nativosapavorados se apressaram a car-regar o navio com mantimentose barris de água limpa.

A falta de conhecimento porp a rte de alguns já pro p o rc i o n o ucasos engraçados, e até mesmotrágicos. Como o que ocorreu noBrasil, mais especificamente emBelém do Pará, em 23 de agostode 1887. Conforme registrado emd i f e rentes jornais da época, opovo saiu às ruas fazendo omaior barulho possível com la-tas, fogos de artifício, panelas,t i ros de espingarda, gritos e ou-tras coisas, para espantar oimenso monstro que queriadevorar a lua, inspirado pelac rença de que São Jorge pre c i s a-va de ajuda em sua luta contra odragão. A população estava tãoempenhada em ajudar São Jorg eque há re g i s t ro de mortes nessasmanifestações, com pessoas atin-gidas por objetos que eram joga-dos para o alto. Outros re l a t o ssemelhantes a esse podem serencontrados em periódicos emtodo o mundo.

Eclipse na religião WiccaO contraste entre o preto e o

branco encanta também asfilosofias de vida. A Wicca, areligião sem dogmas, acre d i t aque os eclipses, tanto lunar quan-to solar, representam o símbolofálico da união do Deus com aDeusa. As bruxas e os bruxospedem para os deuses prosperi-dade e união no momento doeclipse, e fazem diferentes rituaisem homenagem a esse momento.Para os praticantes de Wicca, aDeusa Lua e o Deus Sol possuemsignificados muito diferentes, eesses conceitos são provenientesda pré-história do homem.

O homem pré-histórico desco-nhecia seu papel na re p ro d u ç ã o ,mas conhecia muito bem o papelda mulher. E ainda consideravaa mulher envolta em uma auramística, porque sangrava todomês, ao menstru a r, e não mor-ria. Portanto, a mulher devia sermuito poderosa. Um outro aspec-to que relaciona diretamente amulher à Lua é que a gravidezdurava 10 lunações, e a mulherera a única que possuía “opoder” de saber como ter filhos.Devido a essas ligações, os prati-cantes de Wicca cultuam aDeusa em três aspectos: aDonzela, que corresponde à LuaC rescente, a Mãe re p re s e n t a d apela Lua Cheia e a Anciã, sim-bolizada na Lua Decrescente, ouseja, Minguante e Nova. Já o Solre p resenta o Deus Jovem, a cri-ança prometida, a semente daluz no meio da escuridão, o fer-tilizador em sua face mais juve-nil, e traz a energia da alegria dev i v e r, o poder de se maravilharcom as descobertas da vida, é a

O efeito de um eclipsesolar na vida de uma

pessoa pode durar de até24 horas antes até 24

horas depois do clímaxdo eclipse

face mais sorridente do sol mati-n a l .

Para os adeptos da Wicca, osdias de eclipses lunares são ótimospara a meditação, para aguçar aintuição, aumentar os podere spsíquicos e a fecundidade, harm o-nizar o lar e influenciar pessoasdo sexo feminino. Já os dias deeclipses solares são dias de pedirpor vitórias, honrarias, fama,sucesso, e tudo mais que necessitedo calor e do brilho do sol.

Os eclipses, de fato, possuemd i f e rentes significados. O mis-tério pro p o rcionado pelo con-traste entre o preto e o brancomotiva civilizações e difere n t e sf o rmas de pensamento. Dentrode cada pessoa existe um can-tinho escondido onde as maisp rofundas e enigmáticas inter-p retações são dadas para esteevento dos deuses. A verdade éque a Lua e o Sol são astros comforças inexplicáveis que encan-

tam a qualquer um que olhepara o alto em qualquer mo-mento do dia. O mais fascinanteé que esses dois astros celestesainda nos oferecem um es-petáculo à parte, no qual o pre t oe o branco entram em harm o-nia. É a luz que nasce e desa-p a rece. É o sentimento que bro t ado negro e morre no claro, e vice-versa. É o eclipse, o evento mi-lenar mais místico e cheio deessência da história...

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O que é o eclipseA palavra eclipse vem do grego ékleipsis, que quer dizer desaparecimento. Chama-se eclipse o encobri-

mento total ou parcial da luminosidade ou da visibilidade de um astro pela interposição de outro astro.Em astronomia, eclipse é o obscurecimento temporário, parcial ou total, de um corpo celeste por outro.

Eclipse lunarEsse fenômeno ocorre durante a fase da Lua cheia. O

eclipse acontece quando a Lua passa pela sombra daTerra gerada pelo Sol. A duração desse tipo de eventodepende da localização da Lua em relação à sua órbi-ta.

A velocidade da Lua através da sombra é cerca deum quilômetro por segundo, e um eclipse total podedurar até 102 minutos (1h e 42min).

Todo ano acontecem pelo menos dois eclipseslunares. Ao contrário dos eclipses solares, que sópodem ser observados de uma área relativamentepequena na superfície terrestre, um eclipse lunar podeser visto de qualquer lugar onde seja noite no momen-to em que ele acontece. Se você estivesse no lado da Lua voltado para a Terra durante um eclipse lunar,você enxergaria um eclipse solar, com a Terra passando em frente ao Sol.

Eclipse solar O eclipse solar ocorre quando a Lua se interpõe entre o Sol e a

Terra, ficando os três corpos celestes alinhados. Os eclipses solaresocorrem apenas durante a fase de Lua nova, pois é o único perío-do em que a Lua está posicionada entre a Terra e o Sol.

Um eclipse do Sol pode ser visto apenas em uma região do plane-ta, que varia de acordo com a rotação da Terra e a translação daLua. Eclipses totais do Sol são eventos relativamente raros. Apesarde ocorrerem em algum lugar da Terra a cada 18 meses, é estima-do que se repitam num mesmo lugar apenas a cada 300 ou 400anos. O período de escuridão total não dura mais que 7 minutos e40 segundos. A cada milênio ocorrem menos de 10 eclipses totaisdo Sol que ultrapassam mais de 7 minutos de duração. A últimavez que isso aconteceu foi em 30 de junho de 1973, e a próxima estápara acontecer só em 25 de junho de 2150.