ecem exercito

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Rio de Janeiro 2013 Maj Inf GIAN DERMÁRIO DA SILVA As expressões política e militar na gestão de Operações de Evacuação de Não Combatentes em situação de não guerra ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

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  • Rio de Janeiro

    2013

    Maj Inf GIAN DERMRIO DA SILVA

    As expresses poltica e militar na gesto de Operaes de Evacuao de No Combatentes em situao de no

    guerra

    ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXRCITO

    ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

  • Maj Inf GIAN DERMRIO DA SILVA

    As expresses poltica e militar na gesto de Operaes de Evacuao de No Combatentes em situao de no

    guerra

    Dissertao apresentada Escola de

    Comando e Estado-Maior do Exrcito, como

    requisito parcial para a obteno do ttulo de

    Mestre em Cincias Militares.

    Orientador: Prof. Dr. Cesar Campiani Maximiano

    Rio de Janeiro

    2013

  • 2

    S586 SILVA, Gian D. da. As expresses poltica e militar do Poder Nacional na gesto de Operaes de Evacuao de No Combatentes em territrio estrangeiro, em situao de no guerra. / Gian D. da Silva. 2013. 297 f. : il ; 30cm. Dissertao (Mestrado) - Escola de Comando e Estado-Maior do Exrcito, Rio de Janeiro, 2013. Bibliografia: f. 274-281.

    1. Operaes Especiais. I. Ttulo.

    CDD 355

  • 3

    Maj Inf GIAN DERMRIO DA SILVA

    As expresses poltica e militar na gesto de Operaes de Evacuao de No Combatentes em situao de no

    guerra

    Dissertao apresentada Escola de

    Comando e Estado-Maior do Exrcito, como

    requisito parcial para a obteno do ttulo de

    Mestre em Cincias Militares.

    Aprovado em 28 de outubro de 2013.

    BANCA EXAMINADORA

    _____________________________________________ CESAR CAMPIANI MAXIMIANO Prof Dr Presidente

    Programa de Ps-Graduao em Cincias Militares Escola de Comando e Estado-Maior do Exrcito

    _____________________________________________ ADRIANA APARECIDA MARQUES Prof Dr Membro

    Programa de Ps-Graduao em Cincias Militares Escola de Comando e Estado-Maior do Exrcito

    _____________________________________________ VGNER CAMILO ALVES Prof Dr Membro

    Programa de Ps-Graduao em Estudos Estratgicos Universidade Federal Fluminense

    Ciente _____________________________________________________ GIAN DERMRIO DA SILVA Maj Inf Postulante Programa de Ps-Graduao em Cincias Militares

  • 4

    minha querida esposa Luciana Yamada e aos

    meus queridos filhos Yasmin e Cau Yamada pelo

    carinho, compreenso, dedicao e pacincia ao

    longo destes dois anos de trabalho. Aos meus pais

    pela formao moral e educao que me

    proporcionaram.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Cesar Campiani Maximiano, meus sinceros

    agradecimentos pelo incentivo, orientao precisa, apoio e confiana incondicionais

    recebidos durante todas as fases da execuo deste trabalho, assim como pelos

    ensinamentos transmitidos durante as suas disciplinas.

    Aos meus professores, Dr. Adriana Aparecida Marques, Dr. Valentina Gomes

    Haensel Schmitt, Dr. Alx Jobim Farias e Dr. Maj do Quadro Complementar de

    Oficiais Rejane Pinto Costa, e 2 Ten do Quadro Complementar de Oficiais Shirlei

    Regina Batista dos Santos Batista, meus agradecimentos pela compreenso,

    incentivo, apoio, auxlio, orientaes e ensinamentos transmitidos durante as suas

    disciplinas.

    Aos companheiros, Major de Infantaria Anderson Corra dos Santos, Major de

    Cavalaria Bernardo Romo Corra Neto, Major de Infantaria Mrcio Asevedo dos

    Santos, Subtenente de Infantaria Miguel Rodrigues de Sousa Neto, 1 Sargento de

    Infantaria Joo Ribeiro de Faria Neto e 2 Sargento de Infantaria Edson Antnio

    Bernardes, meus agradecimentos pelo companheirismo, amizade, lealdade e

    esprito de cumprimento de misso, demonstrados para comigo e com o

    Destacamento Tigre VII, ao longo dos seis meses de misso de segurana da

    Embaixada do Brasil na Costa do Marfim, me proporcionando a inspirao

    necessria para este trabalho.

    E a todos aqueles que, de maneira direta ou indireta, particularmente os integrantes

    da comunidade dos gorros pretos, me motivaram ao longo de minha carreira e que

    contriburam para a melhoria deste trabalho.

  • 6

    Primeiro derrube a parede imaginria erguida

    entre as Foras de Operaes Especiais e as

    outras organizaes militares ... Segundo, eduque

    o resto das Foras Armadas dissemine um

    reconhecimento e entendimento sobre as aes

    das Foras de Operaes Especiais ... e a

    importncia de sua misso ... Finalmente, integre

    os esforos das Foras de Operaes Especiais

    em todo o espectro de nossas possibilidades

    militares. (STINER, Carl W., 1987).

  • 7

    RESUMO

    As respostas constante mutao do cenrio internacional globalizado, irregular,

    assimtrico e inseguro e s prioridades e interesses nacionais internos e no exterior

    demandam uma transformao na doutrina de gesto poltica e emprego do Poder

    Militar e na organizao, equipamento e pessoal das Foras Armadas, assim como

    novos estudos cientficos voltados para a Segurana e Defesa. Assim, a presente

    pesquisa balizou-se pela anlise da eficincia e eficcia do emprego oportuno das

    possibilidades e capacidades especficas das Foras de Operaes Especiais

    brasileiras, particularmente das suas tropas de Foras Especiais e de Aes de

    Comandos, na concepo do planejamento e na execuo das aes inerentes s

    Operaes de Evacuao de No Combatentes em territrio estrangeiro,

    caracterizado como ambiente operacional incerto ou hostil, como fundamentao da

    deciso poltica e da gesto poltico-militar na conduo desse tipo de operao,

    numa situao de no guerra. A problemtica dessas operaes torna-se visvel na

    medida em que se constata a dificuldade sofrida pelo Governo do Brasil na

    evacuao de brasileiros da Guin-Bissau em 1998 e na obteno de apoio de

    outros pases para tal, os ensinamentos colhidos e as condies de execuo da

    evacuao de brasileiros do Lbano em 2006, a indefinio de responsabilidades

    quanto realizao dos Planos de Emergncia de Embaixada, assim como a

    inexistncia dos mesmos atualizados e exequveis, e as expressivas dificuldades

    inerentes ao processo de deciso e de gesto dessas operaes. Dessa forma, o

    emprego de Foras de Operaes Especiais nessa situao pode ocorrer quando a

    Poltica Externa e a Diplomacia se tornarem incapazes ou insuficientes para gerir tal

    crise internacional, fazendo da expresso militar sua ltima alternativa na busca de

    uma soluo. Da mesma forma, essas tropas podem substituir adequadamente

    foras convencionais na questo em estudo, quando tais foras se mostrarem

    ineficientes e ineficazes, devido s suas capacidades limitadas, diante de situaes

    e ameaas extremas, da atuao da opinio pblica nacional e internacional, e dos

    riscos fsicos e polticos que podem envolver a conduo de uma evacuao.

    Palavras-chave: Operaes de Evacuao de No Combatentes; Crise

    Internacional; Situao de No Guerra; Ambiente Operacional Incerto ou Hostil;

    Foras de Operaes Especiais; Deciso Poltica; Gesto Poltico-Militar.

  • 8

    ABSTRACT

    The responses to the changing international scenario globalized, irregular,

    asymmetric and insecure and priorities and national interests at home and abroad

    demand a change in the doctrine of political management and use of military power

    and the organization, equipment and personnel of the Armed Forces, as well as new

    scientific studies focused on security and defense. Thus, this research buoyed by the

    analysis of the efficiency and effectiveness of appropriate employment opportunities

    and capabilities of the Brazilian Special Operations Forces, particularly its troops and

    Special Forces Command Actions in the design of the planning and execution of

    actions inherent Non Combatants Evacuation Operations on foreign soil,

    characterized as uncertain or hostile operating environment, such as reasoning of

    policy and political-military management in the conduct of such operations, in a

    situation of no war. The issue of these operations becomes visible as it turns out the

    difficulty experienced by the Government of Brazil in Brazilian evacuation of Guinea-

    Bissau in 1998 and getting support from other countries to do so, the lessons learned

    and the implementation conditions Evacuation of Brazilians from Lebanon in 2006,

    the blurring of responsibilities regarding the realization of Emergency Plans Embassy

    as well as the lack of them updated and enforceable, and expressive difficulties

    inherent in making and management of these operations. Thus, the use of Special

    Operations Forces in this situation may occur when the Foreign Policy and

    Diplomacy become unable or insufficient to manage this international crisis, making

    the military his last speech in the quest for a solution. Likewise, these troops can

    adequately replace conventional forces on the issue under study, when such forces

    prove inefficient and ineffective due to their limited capabilities and threats facing

    extreme situations, the performance of the national and international public opinion,

    and the risks physical and political that may involve conducting an evacuation.

    Keywords: Non Combatant Evacuation Operations; International Crisis; Situation

    Not War; Uncertain or Hostile Operating Environment; Special Operations Forces,

    Decision Policy, Management Political-Military.

  • 9

    LISTA DE FIGURAS Figura 1- Localizao da Costa do Marfim ..............................................................184 Figura 2 - Localizao da Zona de Confiana .........................................................187 Figura 3 - Localizao dos principais pontos de apoio em Abidjan ........................191 Figura 4 - Localizao dos Batalhes da Force Licorne .........................................193 Figura 5 - Localizao das Zonas de Comando das Forces Nouvelles ..................195

  • 10

    LISTA DE TABELAS Tabela 1 Item 3 dos Questionrios (Apndices A e B) ........................................213 Tabela 2 Item 4 dos Questionrios (Apndices A e B) ........................................214 Tabela 3 Item 5 dos Questionrios (Apndices A e B) ........................................218 Tabela 4 Item 6 dos Questionrios (Apndices A e B) ........................................219 Tabela 5 Item 7 dos Questionrios (Apndices A e B) ........................................219 Tabela 6 Item 20 e 15 dos Questionrios (Apndices A e B) ..............................221 Tabela 7 Item 8 dos Questionrios (Apndices A e B) ........................................224 Tabela 8 Item 2 dos Questionrios (Apndices A e B) ........................................231 Tabela 9 Item 9 dos Questionrios (Apndices A e B) ........................................232 Tabela 10 Item 10 dos Questionrios (Apndices A e B) ....................................233 Tabela 11 Item 11 dos Questionrios (Apndices A e B) ....................................234 Tabela 12 Item 12 dos Questionrios (Apndices A e B) ....................................235 Tabela 13 Item 13 do Questionrio (Apndices A) ..............................................236 Tabela 14 Item 14 do Questionrio (Apndices A) ..............................................248 Tabela 15 Item 15 do Questionrio (Apndices A) ..............................................249 Tabela 16 Item 16 do Questionrio (Apndices A) ..............................................250 Tabela 17 Item 17 do Questionrio (Apndices A) ..............................................253 Tabela 18 Item 21 e 16 dos Questionrios (Apndices A e B) ............................251 Tabela 19 Item 18 e 13 dos Questionrios (Apndices A e B) ............................255 Tabela 20 Item 19 e 14 dos Questionrios (Apndices A e B) ............................256

  • 11

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    A Cmdos Aes de Comandos

    AMBO Ambiente Operacional

    A Op rea de Operaes

    Ap Log Apoio Logstico

    ARE rea de Reunio de Evacuados

    Ass Civ Assuntos Civis

    Av Ex Aviao do Exrcito

    BAC Batalho de Aes de Comandos

    Bda Op Esp Brigada de Operaes Especiais

    BFEsp Batalho de Foras Especiais

    BIAp Base Intermediria de Apoio

    BIMa Batalho de Infantaria de Marinha

    Btl Ap Op Esp Batalho de Apoio s Operaes Especiais

    BtlOpEspFN Batalho de Operaes Especiais dos Fuzileiros Navais

    Btl Op Psc Batalho de Operaes Psicolgicas

    CARVER Criticabilidade, Acessibilidade, Recuperabilidade, Vulnerabilidades,

    Efeitos sobre a Populao e Possibilidades de Reconhecimento

    CCE Centro de Coordenao de Evacuados

    CDN Conselho de Defesa Nacional

    CDRUSSOCOM Responsabilidades Especiais do Comandante do Comando de

    Operaes Especiais dos EUA

    CEDEAO Comunidade Econmica dos Estados da frica Ocidental

    CF Constituio Federal

    CGCFN Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais

    Cia DQBNR Companhia de Defesa Qumica, Biolgica, Nuclear e Radiolgica

    Cia FEsp Companhia de Foras Especiais

    CIOpEsp Centro de Instruo de Operaes Especiais

    CLAOp Comando Logstico da rea de Operaes

    CMA Comando Militar da Amaznia

    Cmdos Comandos

    CMiD Conselho Militar de Defesa

    Cmt C Op Cj Comandante do Comando Operacional Conjunto

  • 12

    ComAnf Comandos Anfbio

    CONZONE Comandante de Zona

    C Op Comando Operacional

    C Op Cj Comando Operacional Conjunto

    C Op Cbn Comando Operacional Combinado

    C Op Esp Comando de Operaes Especiais

    CRER Centro de Controle da Evacuao

    CS Comandante Supremo

    CS/ONU Conselho de Segurana da ONU

    C4ISR Comando, Controle, Comunicaes, Computadores, Inteligncia, Vigilncia

    e Reconhecimento

    DAC Destacamento de Aes de Comandos

    DDR Desarmamento, Desmobilizao e Reinsero

    DICA Direito Internacional dos Conflitos Armados

    DIDH Direito Internacional dos Direitos Humanos

    DoD Departamento de Defesa

    DOFEsp Destacamento Operacional de Foras Especiais

    DoS Departamento de Estado

    Dst Destacamento

    Dst Seg Emb Destacamento de Segurana de Embaixada

    EAPs Planos de Ao de Emergncia

    EAS - PARA-SAR Esquadro Aeroterrestre de Salvamento

    EB Exrcito Brasileiro

    ECC Centro de Controle de Evacuados

    ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exrcito

    EM Estado-Maior

    EM C Op Cj Estado-Maior do Comando Operacional Conjunto

    EMD Estratgia Militar de Defesa

    ENC Evacuao de No Combatentes

    END Estratgia Nacional de Defesa

    EO Estratgia Operacional

    EsAO Escola de Aperfeioamento de Oficiais

    ESG Escola Superior de Guerra

    ESI Estudos de Segurana Internacional

  • 13

    Etta Mi D Estrutura Militar de Defesa

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FA Foras Armadas

    FAB Fora Area Brasileira

    FAC Fora Area Componente

    FANCI Foras Armadas Nacionais da Costa do Marfim

    FAR Fora de Ao Rpida

    FCE Elemento de Comando Avanado

    FCjOpEsp Fora Conjunta de Operaes Especiais

    FDSCI Foras de Defesa e Segurana da Costa do Marfim

    FEsp Foras Especiais

    FI Foras Imparciais

    FN Forces Nouvelles

    FNC Fora Naval Componente

    FOpEsp Foras de Operaes Especiais

    Force Recon Fora de Reconhecimento

    F Paz Fora de Paz

    FTC Fora Terrestre Componente

    FTCjOpEsp Fora-Tarefa Conjunta de Operaes Especiais

    FTer Fora Terrestre

    FTOpEsp Fora-Tarefa de Operaes Especiais

    F3EA Buscar, Fixar, Finalizar, Explorar e Analisar

    GCCs Comandantes Combatentes Geogrficos

    GE Guerra Eletrnica

    Gp Av Grupo Avanado

    GPP Grupo Popular Patriota

    GruMeC Grupamento de Mergulhadores de Combate

    GSG 9 Grenzschutzgruppe 9

    GSI/PR Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica

    HE Hiptese de Emprego

    Intlg Inteligncia

    IW Guerra Irregular

    JFC Comandante da Fora Conjunta

    JP Jovens Patriotas

  • 14

    JTF Fora-Tarefa Conjunta

    KSK Kommando Spezialkrfte

    LAOP Levantamento de rea para Operaes Psicolgicas

    LBDN Livro Branco de Defesa Nacional

    LC Lei Complementar

    LDS Local de Destino Seguro

    LEA Levantamento Estratgico de rea

    MB Marinha do Brasil

    MD Ministrio da Defesa

    MEUs Unidades Expedicionrias da Marinha

    Min Def Ministro da Defesa

    MINUCI Misso das Naes Unidas na Costa do Marfim

    MRE Ministrio das Relaes Exteriores

    NEOs Operaes de Evacuao de No Combatentes

    NGA Normas Gerais de Ao

    OM Organizao Militar

    ONF Objetivo Nacional Fundamental

    ONG Organizao No Governamental

    ONU Organizao das Naes Unidas

    ONUCI Operao das Naes Unidas na Costa do Marfim

    OODA Observao, Orientao, Deciso e Ao

    Op ENC Operao de Evacuao de No Combatentes

    Op Esp Operaes Especiais

    Op Intlg Operaes de Inteligncia

    Op Psc Operaes Psicolgicas

    OSR Organismo de Segurana Regional

    OTAN Organizao do Tratado do Atlntico Norte

    PEB Poltica Externa Brasileira

    PEE Plano de Emergncia de Embaixada

    Pl ENC Plano de Evacuao de No Combatentes

    Pl Op ENC Plano de Operaes de Evacuao de No Combatentes

    PMC Companhias Militares Privadas

    PMD Poltica Militar de Defesa

    PND Poltica Nacional de Defesa

  • 15

    POP Procedimento Operacional Padro

    PRC Poder Relativo de Combate

    Pres Rep Presidente da Repblica

    RAM Revoluo em Assuntos Militares

    Rec Esp Reconhecimento Especial

    R Engj Regras de Engajamento

    RESEVAC Evacuao de No Combatentes

    RI Relaes Internacionais

    RTI Rede de Rdio e Televiso da Costa do Marfim

    SEAL Mar, Ar e Terra

    Seg Emb Segurana de Embaixada

    SO Operaes Especiais

    SOC Capacidades de Operaes Especiais

    SOF Foras de Operaes Especiais

    SPEM Sistemtica de Planejamento Estratgico Militar

    TTP Tticas, Tcnicas e Procedimentos

    UA Unio Africana

    URSS Unio das Repblicas Socialistas Soviticas

    USSOCOM Comando de Operaes Especiais dos Estados Unidos

    US SOG Grupo de Operaes Especiais da Fora Area dos Estados Unidos

    WLG Grupo de Ligao de Washington

    ZL Zona de Lanamento

    ZOC Zona de Confiana

    ZP Zona de Pouso

    ZPH Zona de Pouso de Helicpteros

  • 16

    SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................................19

    1.1 O PROBLEMA .....................................................................................................24

    1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................27

    1.3 HIPTESE ..........................................................................................................28

    1.4 VARIVEIS ..........................................................................................................30

    1.5 DELIMITAO DO ESTUDO ..............................................................................31

    1.6 RELEVNCIA DO ESTUDO ...............................................................................33

    2 METODOLOGIA ....................................................................................................35

    2.1 TIPO DE PESQUISA ...........................................................................................35

    2.2 UNIVERSO E AMOSTRA ....................................................................................38

    2.3 COLETA DE DADOS ..........................................................................................39

    2.4 TRATAMENTO DOS DADOS .............................................................................42

    2.5 LIMITAES DO MTODO ................................................................................43

    3 O CONTEXTO POLTICO E O ARCABOUO JURDICO DAS OPERAES DE

    EVACUAO DE NO COMBATENTES ................................................................45

    3.1 CONSIDERAES SOBRE O CONTEXTO POLTICO .....................................45

    3.2 CONSIDERAES SOBRE O ARCABOUO JURDICO .................................50

    3.3 CONCLUSO PARCIAL .....................................................................................55

    4 A CULTURA BRASILEIRA DE GESTO DO PROCESSO POLTICO

    DECISRIO, DA CONCEPO E DA CONDUO DAS OPERAES DE

    EVACUAO DE NO COMBATENTES ................................................................58

    4.1 A CULTURA ORGANIZACIONAL BRASILEIRA E AS OPERAES DE

    EVACUAO DE NO COMBATENTES .................................................................58

    4.2 A GESTO BRASILEIRA DE PLANEJAMENTOS E AS OPERAES DE

    EVACUAO DE NO COMBATENTES .................................................................61

    4.3 AS INFLUNCIAS DA GESTO ORGANIZACIONAL BRASILEIRA NA

    CONDUO DE OPERAES DE EVACUAO DE NO COMBATENTES .......64

    4.4 A GESTO BRASILEIRA DE CRISE INTERNACIONAL REFERENTE

    CONDUO DE OPERAES DE EVACUAO DE NO COMBATENTES .......68

    4.5 CONCLUSO PARCIAL .....................................................................................76

    5 CONSIDERAES SOBRE OS AMBIENTES OPERACIONAIS DAS

    OPERAES DE EVACUAO DE NO COMBATENTES ..................................80

  • 17

    5.1 CONCLUSO PARCIAL .....................................................................................87

    6 O BRASIL E AS OPERAES DE EVACUAO DE NO COMBATENTES ....88

    6.1 CONSIDERAES SOBRE A POLTICA, A ESTRATGIA, A DOUTRINA E A

    ESTRUTURA MILITAR DE DEFESA DO BRASIL .....................................................88

    6.1.1 A Poltica Militar de Defesa do Brasil e as Op ENC .....................................88

    6.1.2 A Estratgia Militar de Defesa do Brasil e as Op ENC ................................90

    6.1.3 A Doutrina Militar de Defesa do Brasil e as Op ENC ...................................93

    6.1.4 A Estrutura Militar de Defesa do Brasil e as Op ENC .................................96

    6.2 A DOUTRINA BRASILEIRA DE PLANEJAMENTO E DE CONDUO DE

    OPERAES DE EVACUAO DE NO COMBATENTES ...................................98

    6.2.1 Consideraes sobre o emprego de Estratgias de Defesa Nacional,

    Mtodos de Estratgia Militar e Princpios de Guerra nas Op ENC ...................98

    6.2.2 A doutrina brasileira de Op ENC em territrio estrangeiro ......................110

    6.3 CONCLUSO PARCIAL ....................................................................................126

    7 DOUTRINAS ESTRANGEIRAS DE CONDUO DE OPERAES DE

    EVACUAO DE NO COMBATENTES ..............................................................132

    7.1 ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE A DOUTRINA NORTE-AMERICANA 132

    7.2 ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE A DOUTRINA FRANCESA ................138

    7.3 CONCLUSO PARCIAL ....................................................................................142

    8 A CONVERGNCIA ENTRE A DOUTRINA DE OPERAES ESPECIAIS E A

    DOUTRINA DE OPERAES DE EVACUAO DE NO COMBATENTES ......147

    8.1 CONSIDERAES INICIAIS SOBRE AS OPERAES ESPECIAIS .............147

    8.2 O AMBIENTE OPERACIONAL DAS OPERAES ESPECIAIS .....................150

    8.3 A GESTO DA CONCEPO DE EMPREGO E PLANEJAMENTO E DA

    CONDUO DE OPERAES ESPECIAIS ..........................................................153

    8.4 CONSIDERAES SOBRE ALGUNS TIPOS DE OPERAES ESPECIAIS 163

    8.5 A CONDUO DE OPERAES ESPECIAIS COMO ALTERNATIVA DO

    PODER POLTICO NA SOLUO DE CRISES INTERNACIONAIS ......................170

    8.6 CONCLUSO PARCIAL ....................................................................................177

    9 ESTUDO DE CASO DA OPERAO TIGRE COSTA DO MARFIM (2004) ....184

    9.1 HISTRICO E CONFIGURAO DO CENRIO DE CRISE E CONFLITO ....184

    9.2 EVOLUO DO AMBIENTE OPERACIONAL INCERTO E HOSTIL ................187

    9.3 PRINCIPAIS ATORES EM PRESENA NO AMBIENTE OPERACIONAL ........192

    9.3.1 Operao das Naes Unidas na Costa do Marfim (ONUCI) ....................192

  • 18

    9.3.2 Foras Militares Francesas .........................................................................193

    9.3.3 Foras de Defesa e Segurana da Costa do Marfim (FDSCI) ...................194

    9.3.4 Foras Irregulares ........................................................................................195

    9.3.5 Foras de Segurana estrangeiras .............................................................197

    9.4 PRINCIPAIS AES E ATIVIDADES DO DOFEsp DO BRASIL NA Op TIGRE198

    9.4.1 Evacuao imediata de brasileiros no combatentes em 12 Nov 2004 ..198

    9.4.2 Viabilizao da execuo de uma Op ENC completa por um C Op Cj ....199

    9.4.3 Viabilizao da conduo de uma Op ENC imediata pelo Dst Seg Emb 200

    9.4.4 Viabilizao da evacuao do embaixador e seu corpo diplomtico

    diretamente para um ponto de reunio ou um CCE ...........................................201

    9.4.5 Acionamento, alerta, reunio e triagem de brasileiros pelo Dst Tigre ....202

    9.4.6 Conduo de Operaes Psicolgicas em prol da execuo da ENC ....202

    9.4.7 Estruturao e emprego de redes de apoio e de informantes em prol de

    uma Op ENC ...........................................................................................................203

    9.5 CONCLUSO SOBRE A ATUAO DO Dst BRASILEIRO NA Op TIGRE ......205

    10 RESULTADOS DA ANLISE DOS DADOS COLETADOS ..............................207

    10.1 OBJETIVOS DA PESQUISA ...........................................................................210

    10.1.1 Compreenso do contexto poltico e arcabouo jurdico de Op ENC ..210

    10.1.2 Compreenso da cultura brasileira de gesto de Op ENC .....................214

    10.1.3 Compreenso dos AMBO inerentes s Op ENC ......................................221

    10.1.4 Exame da doutrina brasileira de conduo de Op ENC .........................224

    10.1.5 Conhecimento das doutrinas norte-americana e francesa de Op ENC 237

    10.1.6 Exame das possibilidades e capacidades das FOpEsp brasileiras na

    conduo de Op ENC ............................................................................................241

    10.1.7 Compreenso da atuao das FOpEsp brasileiras na conduo da Op

    ENC na Costa do Marfim em 2004 (Op TIGRE) ...................................................252

    11 CONCLUSES E RECOMENDAES ............................................................258

    11.1 CONCLUSES ...............................................................................................258

    11.2 RECOMENDAES .......................................................................................273

    REFERNCIAS .......................................................................................................274

    APNDICE A QUESTIONRIO PARA OS MILITARES .....................................282

    APNDICE B QUESTIONRIO PARA DIPLOMATAS .......................................291

  • 19

    1 INTRODUO

    Na atualidade, diversos atores no estatais, novas ameaas e consideraes

    acerca do nacionalismo, do transnacionalismo e da xenofobia esto cada vez mais

    presentes nas relaes internacionais e nos arranjos de segurana dos Estados

    Nacionais. O terrorismo internacional, os conflitos tnico-religiosos e os delitos

    transnacionais ameaam constantemente a segurana, a paz social, a soberania, os

    interesses, o progresso e a democracia desses Estados, alm da segurana de seus

    nacionais no combatentes em reas conflituosas. Em contrapartida, tais Estados

    Nacionais tm procurado atualizar seus sistemas de gerenciamento de crise e

    conflito armado internacional e de emprego do Poder Militar em situao de guerra e

    de no guerra, como no caso de conduo de Operao de Evacuao de No

    Combatentes (Op ENC) em territrio estrangeiro fronteirio e no fronteirio

    continental e extracontinental.

    Da mesma forma, o sistema internacional de poder, baseado na unipolaridade

    no campo militar associado s suas assimetrias, tem produzido tenses e

    instabilidades para a paz mundial. Alm disso, o fenmeno da globalizao,

    caracterizada pela intensa revoluo cientfico-tecnolgica, pela expanso das

    relaes comerciais internacionais e dos fluxos de capitais e investimentos e pela

    interdependncia crescente dos pases, resultou em desenvolvimento scio-

    econmico apenas para uma parte da humanidade. Nesse processo, as crises

    econmico-financeiras mundiais tornaram as economias nacionais muito mais

    vulnerveis s suas ameaas e aos seus riscos. Dessa maneira, uma das fontes

    potenciais de conflitos modernos tambm a excluso de parcela numerosa da

    populao dos processos de produo, consumo e acesso educao e

    informao. (BRASIL. Ministrio da Defesa, 2012a, p. 3).

    Conforme informaes disponibilizadas pelo Portal Consular Assistncia a

    Brasileiros, do Ministrio das Relaes Exteriores (MRE)1, atualmente existem cerca

    de trs milhes de brasileiros residentes no exterior, aos quais se somam cerca de

    trs milhes e meio que anualmente viajam, por diversas razes, para fora do Brasil.

    Desse total, aproximadamente trinta e sete mil vivem na frica, trinta e dois mil no

    Oriente Mdio, duzentos e noventa mil na sia e quinhentos mil na Amrica do Sul.

    1 Portal Consular Assistncia a Brasileiros. Ministrio das Relaes Exteriores. Subsecretaria-Geral das

    Comunidades Brasileiras no Exterior. Brasil. 2012. Disponvel em: http://www.portalconsular.mre.gov.br.

  • 20

    Nos pases sul-americanos, por volta de trezentos mil moram no Paraguai, vinte e

    quatro mil na Bolvia, dois mil na Colmbia e quarenta e oito mil na Venezuela.

    (BRASIL. Ministrio das Relaes Exteriores, 2012e).

    No contexto desse atual ambiente internacional, Souza Jnior (2010) diz que:

    [...] as crises polticas e econmicas e o relacionamento entre os pases tm deixado cidados em trnsito ou mesmo estabelecidos em territrios estrangeiros em situao incmoda perante os governos desses pases, colocando em alerta a estrutura de evacuao disponvel para o repatriamento. Alm disso, conflitos tnicos e religiosos, a exacerbao do nacionalismo e da xenofobia, a atuao de organizaes criminosas transnacionais e as catstrofes naturais tm mobilizado meios diplomticos e militares para o suporte ao retorno de nacionais aos seus pases de origem [os destaques so do autor]. (SOUZA JNIOR, 2010, p. 15).

    Do sculo XX para o sculo XXI, o conceito de segurana foi gradativamente

    ampliado, passando a abranger os campos militar, poltico, social, econmico e

    cientfico-tecnolgico. Alm disso, as medidas que visam a proporcionar segurana

    passaram a abranger as defesas externa e civil, a segurana pblica, as polticas de

    sade, ambientais, econmicas, educacionais e sociais.

    Ainda em relao segurana e quanto defesa, a Poltica Nacional de

    Defesa (PND) brasileira, de 2012, diz que:

    A segurana, em linhas gerais, a condio em que o Estado, a sociedade ou os indivduos se sentem livres de riscos, presses ou ameaas, inclusive de necessidades extremas. Por sua vez, defesa a ao efetiva para se obter ou manter o grau de segurana desejado [os destaques so do autor]. (BRASIL. Ministrio da Defesa, 2012a, p. 2).

    No que diz respeito defesa, segundo Santos e Col. (2012):

    As pretenses, ameaas e interferncias existentes no mundo moderno remetem necessidade de formulao de outras dimenses no pensamento estratgico brasileiro para a defesa e preservao da soberania nacional [o destaque do autor]. (SANTOS e Col., 2012, p. 9).

    Dessa forma, e em conformidade com a PND (BRASIL, 2012a), torna-se

    essencial estruturar a Defesa Nacional de modo compatvel com a estatura poltico-

    estratgica do Pas, para preservar a soberania e os interesses nacionais brasileiros.

    Assim, a garantia da soberania, do patrimnio nacional e da integridade territorial, e

    a defesa dos interesses nacionais e das pessoas, dos bens e dos recursos

    brasileiros no exterior emergem como dois dos objetivos da Defesa Nacional; e a

  • 21

    disponibilidade de meios militares com capacidade de salvaguardar as pessoas, os

    bens e os recursos brasileiros no exterior, surge como uma das orientaes para a

    consecuo de tais objetivos. (BRASIL. Ministrio da Defesa, 2012a, p. 7-10).

    Nesse contexto, e em conformidade com o manual de Op ENC, do Ministrio

    da Defesa (MD), MD33-M-08 (BRASIL, 2007a), a realizao de uma Evacuao de

    No Combatentes (ENC), como demanda da soluo de uma crise internacional

    poltico-estratgica com emprego do Poder Militar numa situao de no guerra,

    normalmente deve buscar os seguintes objetivos:

    a) prover segurana e bem estar, realizando a evacuao para um local de destino seguro; b) reduzir ao mnimo o nmero de cidados que corram risco de morte ou que podero tornar-se refns; e c) reduzir ao mnimo o nmero de cidados em atuais e provveis regies de combate. (BRASIL. Ministrio da Defesa, 2007a, p. 10).

    A conduo de uma ENC em territrio estrangeiro geralmente envolve a

    confeco de Planos de Emergncia de Embaixada (PEE), normalmente de

    responsabilidade do MRE e das Embaixadas e Consulados brasileiros no exterior;

    de Planos de Operao de Evacuao de No Combatentes (Pl Op ENC), que ficam

    a cargo do MD e do Comando Operacional Conjunto (C Op Cj) estabelecido para tal;

    e de integraes e diversas coordenaes entre autoridades e organizaes

    governamentais civis e militares, alm de instituies e organizaes no

    governamentais (ONG) nacionais e internacionais.

    A estruturao da relao de comando e controle e do processo decisrio e

    os fatores polticos a serem considerados na execuo de uma Op ENC em territrio

    estrangeiro a torna diferente dos outros tipos de operaes militares, quer seja em

    situao de guerra ou de no guerra. A complexidade desse tipo de operao exige

    uma expressiva coordenao, principalmente por parte do Presidente da Repblica

    (Pres Rep), do seu Gabinete de Segurana Institucional (GSI), do MRE e do MD.

    Dessa forma, o tema deste trabalho diz respeito ao seguinte: as expresses

    poltica e militar na gesto de Operaes de Evacuao de No Combatentes em

    situao de no guerra.

    Quanto aos ambientes operacionais (AMBO) nos quais uma rea de

    Operaes (A Op) pode ser estabelecida, visando ao desencadeamento de uma Op

    ENC em territrio estrangeiro, o MD33-M-08 (BRASIL, 2007a) estabelece o seguinte:

  • 22

    As Op ENC so caracterizadas pela incerteza e podem ser desencadeadas sem aviso, devido a mudanas repentinas no governo do pas anfitrio, reorientao poltica ou militar em relao ao Brasil ou ameaas hostis a cidados brasileiros, por foras internas ou externas naquele pas. Os fatores chaves no planejamento de uma Op ENC so: acompanhamento da situao, apreciao correta das possveis mudanas polticas e militares do ambiente em que o Cmt C Op Cj ir operar e a preparao da Fora para um ambiente que pode, rapidamente, passar de permissivo para incerto ou hostil [os destaques so do autor]. (BRASIL. Ministrio da Defesa, 2007a, p. 11).

    De acordo com a classificao dos AMBO prevista no MD33-M-08 (BRASIL,

    2007a) para as Op ENC, a pesquisa abordou o ambiente incerto e o hostil, que se

    referem, respectivamente, perda do controle parcial ou total do territrio e da

    populao na regio da operao, por parte do Governo e das Foras Armadas (FA)

    e de Segurana do pas anfitrio. (BRASIL. Ministrio da Defesa, 2007a, p. 20).

    O referido tema limitou-se apenas concepo e execuo dos PEE e dos

    Pl Op ENC pelo Destacamento de Segurana de Embaixada (Dst Seg Emb) e/ou

    Grupo Avanado (Gp Av) do C Op Cj, nos nveis ttico e operacional de deciso e

    de conduo das aes, sendo essas fraes constitudas particularmente por

    militares Foras Especiais (FEsp) e Comandos (Cmdos), ambos integrantes das

    Foras de Operaes Especiais (FOpEsp) do Brasil, e empregadas com

    oportunidade na A Op. Logo, a existncia do referido destacamento ou de pelo

    menos do Gp Av do C Op Cj na A Op de ENC tambm limitou a realizao deste

    trabalho, visto que as possibilidades e capacidades especficas das FOpEsp no s

    fundamenta a deciso poltica do Governo brasileiro de se empregar o Poder Militar,

    como ltima alternativa, na conduo de uma Op ENC em territrio estrangeiro

    incerto ou hostil, visando soluo desse tipo de crise internacional poltico-

    estratgica, como tambm embasa tcnica, ttica e operacionalmente a conduo

    desse tipo de operao nos referidos AMBO.

    As teorias militares clssicas que deram suporte a esta pesquisa se referem

    particularmente aos ensinamentos colhidos de pensadores militares como Sun Tzu

    em "A Arte da Guerra" (400 a 320 AC), Clausewitz em "Da Guerra" (1832) e nas

    obras de Beaufre (1964 a 1969), quanto aos princpios, fundamentos e estratgias

    militares de emprego do Poder Militar, assim como do emprego de Foras Militares

    de projeo de poder e de Foras Militares de natureza especial, como as FOpEsp,

    para a defesa de interesses estatais e a salvaguarda de pessoas, bens e recursos

    nacionais fora do territrio nacional. Alm de tais pensadores, diversas obras e

    autores militares contemporneos tambm embasaram a pesquisa em questo.

  • 23

    O presente estudo ainda considerou atuais interpretaes de fundamentos de

    outras teorias militares clssicas, que se referem ao emprego de Foras Armadas

    (FA) em territrio estrangeiro, sem a pretenso de anexao, para a defesa da

    soberania, com a preservao da integridade territorial, do patrimnio e dos

    interesses nacionais, relativos ao mbito regional. Dessa forma, atuais

    interpretaes de fundamentos da Teoria do Poder Martimo de Maham (1890) e da

    Teoria do Poder Areo de Douhet e Seversky (1921-1942), na medida em que

    pregam como um dos seus objetivos de sucesso a capacidade de projetar poder

    naval e areo, respectivamente, com liberdade de ao ou no, tambm

    contriburam com o embasamento desta monografia.

    Alm disso, a Teoria da Incerteza/Turbulncia de Lellouche (1992), que evoca

    a desordem mundial, e a Teoria do Choque de Civilizaes de Huntington (1993-

    1996), que prev guerras entre civilizaes, tambm corroboraram com o

    delineamento e a caracterizao dos AMBO da referida pesquisa. (BONFIM, 2005,

    p. 56-88).

    As monografias anteriores pesquisadas que tratam do assunto estudado e

    que contriburam com este trabalho se referem "Evacuao de No Combatentes -

    Lbano 2006 - Estudo de caso: uma hiptese de emprego do Poder Naval e seus

    reflexos junto sociedade brasileira" (TINOCO, 2006), "Resgate de nacionais no

    combatentes em pases acometidos por crises" (TEBICHERANE, 2007), "Uma

    tendncia do emprego do Poder Naval para Operaes de Evacuao de No

    Combatentes" (CONDE, 2008), "Relacionamento interagncias governamentais na

    Operao de Evacuao de No Combatentes" (EGN, 2010), "Evacuao de No

    Combatentes no litoral africano: possibilidades e limitaes" (EGN, 2010) e "O

    Emprego de uma Brigada de Cavalaria Mecanizada em Operao de Evacuao de

    No Combatentes na fronteira Oeste do Pas" (SOUZA JNIOR, 2010).

    O presente trabalho foi realizado conforme os preceitos tericos do

    Paradigma Ps-Positivista de produo de conhecimento, com foco na abordagem

    qualitativa. O mtodo cientfico de abordagem utilizado foi o hipottico-dedutivo e os

    de procedimentos foram o histrico e o comparativo. Quanto aos objetivos do

    estudo, empreendeu-se uma pesquisa exploratria, descritiva e explicativa. Em

    relao aos procedimentos tcnicos utilizados para o desenvolvimento do trabalho,

    numa primeira fase, foram desenvolvidas pesquisas bibliogrficas e documentais,

    buscando uma reviso completa acerca de Op ENC, alm de embasamentos

  • 24

    tericos. Posteriormente, foi realizado um estudo de caso e, finalmente, uma

    pesquisa de campo, baseada em questionrio aberto, visando complementao

    dos dados colhidos, com foco nas Op ENC j realizadas pelo Brasil na dcada de

    2000. Anlises de contedo e de discurso e triangulaes foram utilizadas no

    tratamento dos dados do trabalho em questo.

    Por fim, as respostas constante mutao do cenrio internacional

    globalizado, irregular, assimtrico e inseguro e s prioridades e interesses nacionais

    demandam uma transformao na doutrina de gesto poltica e de emprego do

    Poder Militar e na organizao, equipamento e pessoal das FA, assim como novos

    estudos cientficos. Dessa forma, a importncia desta pesquisa foi balizada pela

    anlise da eficincia e da eficcia do emprego oportuno das possibilidades e das

    capacidades das FOpEsp brasileiras, particularmente das tropas de FEsp e de

    Aes de Comandos (A Cmdos), na concepo do planejamento e na conduo

    das aes inerentes s Op ENC em territrio estrangeiro, caracterizado como AMBO

    incerto ou hostil, como fundamentao da deciso poltica e da gesto poltico-militar

    de se conduzir esse tipo de operao.

    1.1 O PROBLEMA

    Em 1998, o Brasil teve dificuldades de evacuar cerca de duzentos brasileiros

    da Guin-Bissau, envolvida na poca em conflito interno, caracterizando um

    ambiente incerto ou hostil, ficando o Governo brasileiro a merc do apoio da Frana

    e de Portugal, conseguido com esforo diplomtico. Os portugueses conseguiram

    evacuar oitenta brasileiros que se encontravam na capital Bissau, ficando outros

    cerca de cento e vinte em dificuldades no interior daquele pas, configurando uma

    crise internacional para a gesto do Governo do Brasil.

    J em 2006, o Brasil evacuou dois mil novecentos e cinquenta cidados

    brasileiros do Lbano, por ocasio de seu conflito com Israel, que configurou um

    conflito armado internacional, sendo tal ENC conduzida pelo MRE e pelo MD, por

    meio da Fora Area Brasileira (FAB) e de voos fretados, que pousaram em Beirute

    ou na Turquia, aps deslocamento terrestre dos brasileiros para este pas. Nessa

    ocasio, a FAB aproveitou suas aeronaves que j se encontravam em sobrevoo na

    frica. Apesar do sucesso da operao, cujo AMBO se caracterizou alternadamente

  • 25

    entre permissivo e incerto, observou-se na prtica que esta no a melhor forma de

    se conduzir Op ENC, devido necessidade de se empregar meios adequados em

    pessoal e material, e de se realizar um correto planejamento, com detalhamentos

    que apontem os riscos operacionais para tal e que proporcionem segurana aos

    nacionais e aos interesses patrimoniais em curto espao de tempo.

    Assim, torna-se imperativo que os PEE e os Pl Op ENC para cada provvel

    pas anfitrio sejam sustentveis, viveis, coordenados e totalmente integrados.

    Normalmente, uma evacuao comea com a implementao do PEE, usando

    linhas areas programadas, voos fretados ou da FAB e transportes de superfcie ou

    naval. Porm, a permissividade, a incerteza ou a hostilidade dos AMBO

    condicionaro a realizao de uma Op ENC, assim como o emprego de foras

    militares na sua conduo.

    Por ocasio do Seminrio de Evacuao de No Combatentes em 2010,

    realizado pelo Estado-Maior de Defesa (EMD) no Centro de Adestramento Almirante

    Marqus de Leo, em Niteri-RJ, o Contra-Almirante Zuccaro se referiu a Paulo

    Cabral, reprter da BBC Brasil que acompanhou a Op ENC em Beirute, no Lbano,

    em 2006. De acordo com Paulo Cabral:

    Pases ricos como os Estados Unidos e a Gr-Bretanha optaram por fazer a retirada de seus cidados por mar [...]. O governo brasileiro optou por fazer a retirada por terra at a Turquia [...]. Diplomatas brasileiros aqui no Oriente Mdio criticaram o mtodo escolhido pelo governo para promover a evacuao dos brasileiros e culpam o Itamaraty e o Gabinete de Segurana Institucional pelo que consideram desorganizao que tem cercado a operao [os destaques so do autor]. (ZUCCARO, 2010).

    As complexas concepes dos PEE e dos Pl Op ENC do C Op Cj requerem

    tempo, detalhamento, doutrina, estratgia e tticas, tcnicas e procedimentos (TTP)

    especficos e especializados, para a consequente execuo de Op ENC com

    rapidez, segurana e liberdade de ao, em consonncia com as estaturas das

    expresses militar e poltica do Poder Nacional brasileiro, tornando-se um desafio

    para a sua Estratgia Nacional de Defesa (END), de 2012, e, consequentemente,

    para a sua PND (BRASIL, 2012a).

    Segundo Souza Jnior (2010), quanto aos PEE, tem-se o seguinte

    entendimento:

  • 26

    [...] necessrio melhor definio, a fim de no se confundir sua destinao. Conforme estabelece o MD33-M-08 (2007a, p. 27) fica registrado que "no so planos de operaes tticas, mas referenciais para a formulao do plano de operaes do C Op Cj". Todavia, a sua constituio na mesma pgina do referido manual contempla necessidades que extrapolam a simples evacuao da embaixada. Dessa forma, convm aperfeioar a nomenclatura para evitar a confuso doutrinria e semntica. Alm disso, a confeco de tal plano necessita de anlise e planejamento militar para sua futura implementao no nvel operacional-militar [os destaques so do autor] seguida da competente disseminao para os Comandos responsveis. (SOUZA JNIOR, 2010, p. 37).

    Nota-se que o MD33-M-08 (BRASIL, 2007a) no claro ao estabelecer a

    quem cabe elaborar e aprovar os PEE, enquanto o MRE no os tem como

    documentos oficiais, no obrigando as suas confeces, apenas os sugerindo.

    Porm, tem se observado na prtica a dificuldade de engajamento de algumas

    Embaixadas e Consulados brasileiros no exterior. O MD, por meio de orientao aos

    Adidos Militares de Defesa, atribuiu aos mesmos a responsabilidade pela elaborao

    dos PEE, ficando suas aprovaes a cargo das Embaixadas e Consulados do Brasil.

    Segundo Zuccaro (2010), at o final de 2010, das trinta e quatro Aditncias Militares

    existentes at ento, apenas vinte e nove PEE tinham sido enviados ao MD, dos

    quais apenas seis tinham a chancela dos Embaixadores brasileiros no exterior.

    Alm disso, a deciso de evacuar uma embaixada brasileira e de realizar uma

    Op ENC em territrio estrangeiro poltica e cabe ao Pres Rep, assessorado pelo

    seu GSI, MRE e MD. O processo decisrio e o gerenciamento da crise internacional

    poltico-estratgica, em situao de no guerra, buscar a coordenao dos

    planejamentos e a implementao dos planos para a proteo da embaixada, do

    corpo diplomtico e dos nacionais no combatentes, assim como para a evacuao

    dos mesmos.

    Essa problemtica das Op ENC em territrio estrangeiro se agrava na medida

    em que se verificam as dificuldades do Governo do Brasil para a execuo da ENC

    brasileiros da Guin-Bissau, em 1998, e na obteno do apoio de outros pases para

    tal; alm dos ensinamentos colhidos e das condies de execuo da evacuao de

    brasileiros no combatentes do Lbano em 2006; das provveis dificuldades de

    evacuao de brasileiros no combatentes da Coreia do Sul em 2011 e da Sria em

    2012, quando foram cogitadas realizaes de Op ENC; quando se identifica a

    indefinio de responsabilidades quanto realizao dos PEE, assim como a

  • 27

    inexistncia dos mesmos atualizados e exequveis; e, por fim, perante as

    expressivas dificuldades inerentes ao processo de deciso e de gesto das Op ENC.

    Em funo dessas circunstncias e condicionantes apresentadas, foi

    formulada a seguinte questo para o trabalho em estudo: em quais condies a

    deciso poltica de se realizar uma Op ENC em territrio estrangeiro, caracterizado

    como ambiente operacional incerto ou hostil, em situao de no guerra, pode se

    fundamentar na expresso militar do Poder Nacional?

    1.2 OBJETIVOS

    Como objetivo geral, o pesquisador definiu o seguinte: analisar a influncia da

    expresso militar do Poder Nacional na deciso poltica de se realizar uma Op ENC

    em territrio estrangeiro, caracterizado como ambiente operacional incerto ou hostil,

    em situao de no guerra, por meio do emprego oportuno das possibilidades e

    capacidades das Foras de Operaes Especiais, em particular das tropas de

    Foras Especiais e de Aes de Comandos. Dessa forma, foram abordadas a

    concepo e a execuo dos PEE e dos Pl Op ENC, nos nveis ttico e operacional

    de deciso e de conduo das aes, pelos Dst Seg Emb e/ou Gp Av do C Op Cj,

    constitudos por militares FEsp e Cmdos.

    A fim de viabilizar a consecuo do objetivo geral deste estudo, foram

    formulados os objetivos especficos relacionados a seguir, que permitiram o

    desenvolvimento lgico e coerente desta pesquisa:

    a) compreender o contexto poltico e o arcabouo jurdico que fundamentam a

    conduo de Op ENC em territrio estrangeiro, caracterizado como ambiente

    operacional incerto ou hostil, em situao de no guerra;

    b) compreender a cultura do Brasil de gesto de Op ENC em territrio

    estrangeiro, em situao de no guerra, a partir da sua cultura organizacional, de

    planejamento e de gerenciamento de crise internacional poltico-estratgica;

    c) compreender os ambientes operacionais inerentes s Op ENC em territrio

    estrangeiro, em situao de no guerra;

    d) examinar a doutrina do Brasil empregada na conduo de Op ENC em

    territrio estrangeiro, caracterizado como ambiente operacional incerto ou hostil, em

    situao de no guerra;

  • 28

    e) conhecer as doutrinas dos EUA e da Frana empregadas na conduo de

    Op ENC (NEOs) em territrio estrangeiro, caracterizado como ambiente operacional

    incerto ou hostil, em situao de no guerra;

    f) examinar as possibilidades de emprego e as capacidades especficas das

    FOpEsp brasileiras, no contexto da conduo de Op ENC em territrio estrangeiro,

    caracterizado como AMBO incerto ou hostil, em situao de no guerra;

    g) compreender a atuao das FOpEsp do Brasil na conduo da Op ENC

    realizada na Costa do Marfim em 2004 (Op Tigre).

    Os objetivos de estudo propostos primaram pelo levantamento dos

    aperfeioamentos necessrios doutrina brasileira de ENC em territrio estrangeiro

    fronteirio e no fronteirio continental e extracontinental; e adequao das

    expresses militar e poltica do Poder Nacional para o planejamento e a conduo

    de tal operao, visando soluo de crises internacionais poltico-estratgicas.

    Cabe ressaltar que foram selecionadas como referncias para a pesquisa em

    questo as doutrinas norte-americana e francesa (OTAN) de conduo de NEOs,

    tendo em vista as mesmas j se encontrarem consolidadas desde a segunda

    metade do sculo XX e, particularmente, pelo fato dos EUA e da Frana terem

    executado diversas operaes desse tipo, empregando tropas de Op Esp.

    1.3 HIPTESE

    A desordem mundial corrente, caracterizada pela Teoria da

    Incerteza/Turbulncia de Lellouche (1992), configura um AMBO de incertezas e

    repleto de conflitos e guerras entre civilizaes, tambm previstos pela Teoria do

    Choque de Civilizaes de Huntington (1993-1996). Esse ambiente exige cada vez

    mais eficincia e eficcia na gesto de crises internacionais, como no caso da

    conduo de Op ENC em territrio estrangeiro.

    Sendo assim, as Op ENC em territrio estrangeiro fronteirio e no fronteirio

    continental e extracontinental normalmente necessitam, alm da projeo e do

    emprego de foras do poder terrestre e de foras com caractersticas especiais, de

    projetar e empregar foras dos poderes naval e areo, independentemente se o

    AMBO permissivo, incerto ou hostil, valendo-se da atual interpretao de

    fundamentos da Teoria do Poder Martimo de Maham (1890) e da Teoria do Poder

  • 29

    Areo de Douhet e Seversky (1921-1942). Alm disso, e tendo em vista a escalada

    rpida das crises e conflitos internacionais na atualidade, na sua maioria englobando

    reas urbanas, faz-se necessria a rpida remoo de civis das mesmas e, por isso,

    os requisitos oportunidade e rapidez tornam-se fundamentais. Os meios militares do

    Brasil disponveis e passveis de rpida mobilizao podem no ser suficientes para

    o desdobramento estratgico e operacional em questo, assim como as disposies

    legais brasileiras e internacionais no permitem hoje tal agilidade, tornando-se

    relevante pensar no emprego de estratgias indiretas e no pr-posicionamento de

    meios militares capacitados para conduzir inicialmente a operao em questo,

    como FOpEsp, a exemplo do que fazem outros pases, de forma a antecipar as

    aes, enquanto ocorrem os trmites nos nveis poltico, diplomtico e estratgico.

    (SOUZA JNIOR, 2010, p. 59 e 63).

    Nesse contexto, as FOpEsp surgem como tropas capacitadas e orientadas a

    serem empregadas em AMBO assim caracterizados, conduzindo Operaes

    Especiais (Op Esp), que, de acordo com Pinheiro (2012), so definidas como:

    [...] aquelas conduzidas em ambientes hostis, negados ou politicamente sensveis, visando atingir objetivos militares, polticos, informacionais, e/ou econmicos, empregando capacitaes militares especficas no encontradas nas foras convencionais. Estas operaes frequentemente requerem capacitaes cobertas, clandestinas ou de baixa visibilidade. So aplicadas atravs de um amplo espectro de operaes militares. Podem ser conduzidas independentemente ou em conjunto com operaes de foras convencionais e/ou de outras agncias governamentais, podendo ainda contar com a atuao de foras aliadas irregulares nativas, bem como com FOpEsp de naes aliadas [os destaques so do autor]. (PINHEIRO, 2012, p. 11).

    Os Destacamentos Operacionais de Foras Especiais (DOFEsp) do Comando

    de Operaes Especiais (C Op Esp) brasileiro, localizada em Goinia-GO,

    constituram Dst Seg Emb do Brasil na Costa do Marfim, de 2004 a 2012, e na

    Repblica Democrtica do Congo, de 2006 aos dias atuais. Assim, esses DOFEsp

    tm ratificado e retificado fundamentos doutrinrios de planejamento e de execuo

    de Op Esp, em situao de no guerra, como no caso de provvel conduo de

    ENC nesses pases anfitries, como demanda de crises internacionais configuradas

    nesses territrios, ao conceberem os PEE e os planos operacionais e tticos de

    ENC para essas situaes e seus respectivos AMBO, em conformidade com as

    diretrizes do Pres Rep e CS das FA, do MRE e do MD.

  • 30

    Em 2004, por intermdio da ento Bda Op Esp, hoje C Op Esp, apoiada pela

    FAB, o Brasil realizou uma Operao de Segurana e de ENC na Costa do Marfim,

    como parte da soluo de uma crise internacional gerenciada pelo Governo

    brasileiro e configurada naquele pas africano, que se encontrava acometido por

    conflitos internos, o que caracterizava um AMBO incerto ou hostil. A referida

    operao se desenvolveu com sucessivos xitos, tendo sido empregadas tropas de

    FEsp e de A Cmdos daquela brigada. Alm disso, as tropas de FEsp e de A

    Cmdos do C Op Esp tm participado de inmeros adestramentos em Operaes

    Conjuntas de ENC em territrio estrangeiro, sob coordenao do MD, simulando

    pases anfitries fronteirios e no fronteirios continentais e extracontinentais.

    Diante das oportunidades de melhoria existentes na doutrina brasileira de Op

    ENC em territrio estrangeiro, prevista no MD33-M-08 (BRASIL, 2007a), as

    possibilidades de emprego doutrinrio das FOpEsp brasileiras nesse tipo de

    operao, considerando suas capacidades especficas, contriburam para a

    formulao da seguinte hiptese de pesquisa:

    - A deciso poltica de se realizar uma Op ENC em territrio estrangeiro,

    caracterizado como ambiente operacional incerto ou hostil, em situao de no

    guerra, pode se fundamentar na expresso militar do Poder Nacional, na medida em

    que esta empregar oportunamente, por meio do seu nvel estratgico, as

    capacidades das FOpEsp, particularmente das tropas de FEsp e de A Cmdos, tanto

    na concepo dos planejamentos como na conduo das aes operacionais e

    tticas inerentes a tal operao.

    1.4 VARIVEIS

    As variveis que balizaram a pesquisa em questo, derivadas da hiptese de

    estudo formulada, foram assim identificadas, definidas e operacionalizadas:

    Varivel independente - o emprego oportuno das capacidades das Foras

    de Operaes Especiais pela expresso militar do Poder Nacional.

    Definio constitutiva - situao em que as capacidades das Foras de

    Operaes Especiais tenham sido empregadas com oportunidade pela expresso

    militar do Poder Nacional.

  • 31

    Definio operacional - a constatao ou no do emprego oportuno das

    capacidades das Foras de Operaes Especiais pela expresso militar do Poder

    Nacional.

    Varivel dependente - a fundamentao da deciso poltica de se conduzir

    uma Op ENC em territrio estrangeiro, caracterizado como ambiente operacional

    incerto ou hostil, em situao de no guerra, na expresso militar do Poder Nacional.

    Definio constitutiva - situao em que a deciso poltica de se realizar uma

    Op ENC em territrio estrangeiro, caracterizado como ambiente operacional incerto

    ou hostil, em situao de no guerra, tenha se fundamentado na expresso militar

    do Poder Nacional, por meio do emprego oportuno das capacidades das Foras de

    Operaes Especiais.

    Definio operacional - a constatao se houve ou no fundamentao da

    deciso poltica de se realizar uma Op ENC em territrio estrangeiro, caracterizado

    como ambiente operacional incerto ou hostil, em situao de no guerra, por meio

    do emprego oportuno das capacidades das Foras de Operaes Especiais.

    Alm disso, preciso destacar que, no decorrer do estudo, algumas variveis

    intervenientes foram consideradas, uma vez que elas interferiram no processo da

    pesquisa. Como intervenientes foram consideradas a cultura brasileira de gesto de

    Op ENC em territrio estrangeiro; o contexto poltico; o arcabouo jurdico; os

    AMBO; os nveis de deciso, de comando e controle, de planejamento e de

    execuo das aes inerentes s Op ENC; a composio do Gp Av do C Op Cj; e

    as possibilidades e capacidades das FOpEsp do Brasil, particularmente das suas

    tropas de FEsp e A Cmdos.

    1.5 DELIMITAO DO ESTUDO

    A conduo de Op ENC em territrio estrangeiro foi estudada num contexto

    de emprego do Poder Militar em situao de no guerra, como demanda da soluo

    de uma crise internacional poltico-estratgica, conforme prescreve o manual de

    Doutrina Militar de Defesa brasileira (MD51-M-04), do MD, de 2007. Tal emprego das

    FA, no mbito externo, no prev o combate propriamente dito, exceto em algumas

    circunstncias especiais, como legtima defesa e autodefesa individual e coletiva,

    quando o uso da fora limitado, caracterizando conflitos limitados ou de baixa

  • 32

    intensidade. As Op ENC diferem das Operaes de Resgate e das Operaes de

    Salvaguarda ou de Segurana, embora ambas se enquadrem no escopo das

    operaes de no guerra, conduzidas fora do territrio nacional. Porm, as Op ENC

    em territrio estrangeiro podem necessitar da realizao simultnea de Operaes

    de Segurana, assim como tambm podem evoluir para Operaes de Resgate.

    (BRASIL. Ministrio da Defesa, 2007b, p. 47).

    A presente pesquisa abordou a concepo dos planejamentos e a execuo

    das aes inerentes ao PEE e ao Pl Op ENC em territrio estrangeiro fronteirio e

    no fronteirio continental e extracontinental, nos nveis ttico e operacional,

    conduzidas pelo MRE e pelo MD, respectivamente por meio de suas Embaixadas e

    Consulados brasileiros no exterior e do C Op Cj constitudo para tal. Sendo assim,

    os estudos do PEE e do Pl Op ENC alcanaram no s os planejamentos

    concebidos pelo Dst Seg Emb e/ou pelo Gp Av do C Op Cj, como tambm os

    fundamentos doutrinrios, as estratgias militares, os princpios de guerra e as TTP

    utilizados por tais foras militares para implementarem as aes planejadas e as

    suas respectivas condutas de emergncia necessrias em prol da operao.

    A cultura brasileira de gesto de Op ENC em territrio estrangeiro, o contexto

    poltico, o arcabouo jurdico, os AMBO e diversos fundamentos doutrinrios foram

    analisados, visto que tais fatores interferem e condicionam a concepo dos

    planejamentos e a respectiva execuo das aes nesse tipo de operao. Dessa

    forma, o processo brasileiro de gerenciamento de crise internacional poltico-

    estratgica, os fundamentos, princpios e diretrizes da Poltica Externa, da

    diplomacia e das Relaes Internacionais brasileiras e a legislao nacional e

    internacional foram abordados, assim como as condicionantes dos organismos

    internacionais e das convenes e tratados adotados e vigentes e as consideraes

    acerca das incertezas e das hostilidades dos AMBO dos possveis pases anfitries.

    A doutrina brasileira de concepo dos planejamentos e de conduo das

    atividades relativas s Op ENC em territrio estrangeiro, atinente ao manual MD33-

    M-08 (BRASIL, 2007a), foi estudada nos nveis ttico e operacional de deciso e de

    conduo das aes, dando nfase aos PEE no exterior e aos Pl Op ENC atinentes

    ao C Op Cj. Esse estudo ainda considerou fundamentos e ensinamentos

    doutrinrios inerentes ENC dos EUA e da Frana como fatores comparativos e de

    fundamentao terica.

  • 33

    Tambm foram analisadas as possibilidades e capacidades das FOpEsp

    brasileiras, particularmente das tropas de FEsp e de A Cmdos, considerando a

    concepo dos planejamentos e a respectiva execuo das atividades atinentes s

    Op ENC em territrio estrangeiro, nos referidos nveis ttico e operacional de

    deciso e de conduo das aes, em pases fronteirios e no fronteirios

    continentais e extracontinentais.

    Quanto ao limite temporal da pesquisa em questo, deve-se destacar que

    somente foram realizadas pesquisas sobre Op ENC executadas no sculo XXl.

    Quanto a estudo de caso, foi realizado um acerca da Op ENC realizada na Costa do

    Marfim em 2004, quando houve brasileiros no combatentes evacuados pelo Brasil

    desse pas anfitrio.

    1.6 RELEVNCIA DO ESTUDO

    A pesquisa em questo trata de tema que atual e recorrente e cuja doutrina

    necessita de atualizao e aperfeioamento constantes, carecendo de ateno,

    acompanhamento, integrao e coordenao por parte das expresses poltica e

    militar do Poder Nacional brasileiro. Alm disso, essa temtica tem despertado e

    influenciado o crescente interesse da sociedade brasileira, que possui cerca de trs

    milhes e meio de cidados vivendo pelo mundo, possibilitando a existncia de

    nacionais no combatentes ameaados por crises e conflitos internacionais em

    vrias partes do globo.

    A relevncia do tema da pesquisa fica evidente com a colocao de Souza e

    Col. (2012), como se segue:

    Em face das atribuies dos Estados Nacionais na nova ordem globalizada, o pensamento brasileiro em defesa acrescenta novos significados ao conceito de Segurana. O emprego militar assume novas feies nesse contexto mais complexo e abrangente, tais como: aes em desastres naturais, garantia da lei e da ordem e participao em misses de paz multidimensionais. Tais mudanas [...] demandam pesquisas de carter interdisciplinar [os destaques so do autor] [...]. (SOUZA e col. 2012, p. 2).

    Na medida em que o Brasil ocupa novo e importante patamar no cenrio

    internacional, seu Governo Federal e suas FA devem se voltar para garantir a

    soberania e os interesses do Pas, o que demanda coordenao e integrao prvia,

  • 34

    alm de alto nvel de preparao tcnica, novas capacitaes, equipamentos e

    condies de bem cumprir tais atribuies. Dessa forma, o assunto deste trabalho

    busca, agregando subsdios, tambm atender em melhores condies s demandas

    polticas do Estado brasileiro e sua Doutrina Militar de Defesa, estabelecida no

    manual MD51-M-04 (BRASIL, 2007b), quanto ao emprego de suas FA em situao

    de no guerra, assim como sua Estratgia Militar de Defesa, prevista no manual

    MD51-M-03 (BRASIL, 2006), em sua Hiptese de Emprego (HE) "F", que regula o

    emprego de suas FA em situao de crise ou conflito internacional, onde possam

    colocar em risco as pessoas, os bens, os recursos e o patrimnio brasileiro no

    exterior, visando proteg-los, evacu-los e/ou resgat-los.

    A relevncia do tema tambm est ligada com a intensificao da integrao

    das FA com a expresso poltica do Poder Nacional, e destas duas com a sociedade

    brasileira, aumentando a confiana desta nas instituies militares e no Governo

    brasileiro, alm de promover a importncia de o Brasil possuir Poder Militar forte e

    capacitado. Dessa maneira, a capacidade de gerenciamento da concepo dos

    planejamentos e da execuo das aes relativas s Op ENC em territrio

    estrangeiro, alm de salvaguardar vidas humanas e recursos brasileiros no exterior,

    contribui para uma maior visibilidade das FA e do Governo brasileiro junto ao seu

    povo, assim como do prprio Brasil no cenrio internacional.

    No obstante, o propsito do trabalho est alinhado com o que prescrevem a

    PND (BRASIL, 2012a), a END (BRASIL, 2012b) e o Livro Branco de Defesa

    Nacional (LBDN), (BRASIL, 2012c), na medida em que o mesmo busca atingir dois

    dos seus objetivos, que a garantia da soberania, do patrimnio nacional e da

    integridade territorial, e a defesa dos interesses nacionais e das pessoas, dos bens e

    dos recursos brasileiros no exterior. A consecuo de tais objetivos, condicionada ao

    emprego oportuno do Poder Militar, fundamenta e enaltece a importncia do

    processo de deciso poltica de se empregar o referido poder na gesto de Op ENC

    em territrio estrangeiro, assim como do tema em estudo.

    Por todos esses aspectos, o estudo realizado contribui sobremaneira com as

    expresses militar, poltica, psicossocial, econmica e cientfica-tecnolgica do

    Poder Nacional do Brasil, proporcionando-lhe possibilidades de incrementar a sua

    doutrina de ENC em territrio estrangeiro, minimizando as ameaas, os riscos e os

    seus possveis efeitos psicossociais negativos sobre os brasileiros que vivem no

    exterior, cuja diversidade profissional envolve todos esses referidos campos.

  • 35

    2 REFERENCIAL METODOLGICO

    2.1 TIPO DE PESQUISA

    O presente trabalho monogrfico foi realizado com base nos preceitos

    tericos do Paradigma Ps-Positivista, que consistiu em definir os objetivos geral e

    especficos a serem atingidos pela pesquisa, assim como as fases do processo e os

    procedimentos metodolgico-cientficos referentes mesma. Tal paradigma tornou-

    se fundamental para este estudo por enfatizar o uso do mtodo cientfico como nica

    forma de se produzir conhecimentos confiveis, defendendo o seu uso, tambm,

    pelas cincias sociais, como as cincias polticas e militares. (ALVES-MAZZOTI;

    GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 135).

    Embora o pesquisador tenha empregado tcnicas quantitativas na conduo

    da pesquisa de campo, o mesmo empreendeu uma abordagem predominantemente

    qualitativa no trabalho monogrfico em questo, visto que a mesma apresenta uma

    variedade de mtodos e tcnicas de pesquisa, que foram empregados nas fases do

    processo, possibilitando o alinhamento coerente com a teoria do paradigma ps-

    positivista, com foco na validade e na manuteno do rigor desejado nos trabalhos

    desenvolvidos pelo mesmo. (PATTON, 1986; apud ALVES-MAZZOTI;

    GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 131).

    Quanto ao mtodo cientfico de abordagem, que possui carter mais geral, o

    mesmo foi o responsvel pelo raciocnio utilizado no desenvolvimento da pesquisa,

    pois os mtodos de abordagem so procedimentos gerais que norteiam o

    desenvolvimento das etapas fundamentais de um estudo cientfico. Assim, o referido

    trabalho norteou-se pelo mtodo hipottico-dedutivo que, segundo Marconi e

    Lakatos (1991, p. 65-82), aquele que [...] se inicia pela percepo de uma lacuna

    nos conhecimentos, acerca da qual formula hipteses e, pelo processo de inferncia

    dedutiva, testa a predio da ocorrncia de fenmenos abrangidos pela hiptese.

    Em outras palavras, trata-se da tentativa de resoluo de uma questo ou problema,

    que foi percebido a partir do conhecimento emprico e do domnio de um

    determinado tema ou assunto, por meio de uma hiptese a ser testada e validada

    pela pesquisa cientfica.

  • 36

    Assim, o pesquisador estudou e considerou teorias e fundamentos militares

    de alguns pensadores consagrados, a doutrina de Op ENC brasileira e de outros

    pases, Op ENC em que o Brasil participou, alm das possibilidades e capacidades

    das FOpEsp brasileiras, para se chegar a uma concluso fundamentada, que foi

    complementada e ratificada pelos argumentos obtidos na pesquisa de campo.

    Em relao aos mtodos cientficos de procedimento, que buscam referir-se

    s etapas mais concretas da pesquisa e explicar os seus objetivos menos abstratos,

    os mesmos relacionaram-se especificamente com as fases do trabalho e no com o

    seu plano geral. Assim, o mtodo histrico foi adotado, colocando os dados da

    pesquisa sob uma perspectiva histrica. (COLLIER, 1993, p. 105).

    Alm do histrico, o mtodo de procedimento comparativo tambm foi

    empregado, juntamente com aquele, promovendo o exame e a confrontao dos

    dados da pesquisa, para que se pudesse obter e constatar as semelhanas e as

    diferenas entre os mesmos, assim como as suas devidas relaes. Dessa forma, o

    pesquisador comparou o conjunto de elementos do estudo que existe hoje com suas

    origens histricas, ou seja, os fundamentos da doutrina brasileira de Op ENC com os

    ensinamentos militares colhidos de pensadores consagrados e de Op ENC j

    realizadas pelo Brasil, assim como com a doutrina de Op ENC de outros pases.

    (COLLIER, 1993, p. 105).

    O mtodo comparativo, para Collier (1993), uma ferramenta fundamental

    para anlise. Ele agua o poder de descrio e desempenha um papel central na

    formao de conceitos, trazendo sugestivas semelhanas e contrastes entre

    diferentes situaes. Assim, por intermdio de semelhanas e diferenas existentes

    entre os parmetros (indicadores) que caracterizam a doutrina empregada no

    planejamento e na conduo da Op ENC na Costa do Marfim (2004), foi possvel

    apontar uma resposta para o problema em estudo, bem como testar a hiptese

    proposta para a soluo do mesmo. (COLLIER, 1993, p. 106).

    Conforme as classificaes definidas por Vergara (2003), quanto aos

    objetivos do estudo, o pesquisador realizou tanto a pesquisa exploratria, como a

    descritiva e a explicativa. A exploratria foi realizada visando ao conhecimento e

    compreenso dos ensinamentos militares colhidos de pensadores clssicos como

    Sun Tzu em "A Arte da Guerra" (400 a 320 AC), Clausewitz em "Da Guerra" (1832) e

    nas obras de Beaufre (1964 a 1969), alm do contexto geral, do processo de

    deciso poltica para a realizao de uma Op ENC, da doutrina brasileira e de outros

  • 37

    pases quanto conduo desse tipo de operao, levando-se em considerao o

    emprego de FOpEsp nos nveis ttico e operacional, em ambientes operacionais

    (AMBO) caracterizados como incertos e hostis, das possibilidades e capacidades

    das FOpEsp do Brasil, atinentes a esse tipo de operao e nos referidos nveis,

    assim como da Op ENC realizada pelo governo brasileiro na Costa do Marfim

    (2004). (VERGARA, 2003).

    Quanto pesquisa descritiva, Gonsalves (2007, p. 67) estabelece que "[...] ela

    objetiva escrever as caractersticas de um objeto de estudo". Acrescenta, ainda, a

    autora que esta pesquisa "[...] no est interessada no por qu, nas fontes do

    fenmeno; preocupa-se em apresentar suas caractersticas". Logo, a pesquisa foi

    descritiva porque descreveu o processo de deciso poltica e a cultura brasileira de

    gesto de Op ENC em territrio estrangeiro, o atual contexto em que ocorre esse

    tipo de operao, os AMBO incerto e hostil, como so conduzidas tais operaes,

    luz de suas doutrinas, pelo Brasil e por outros pases, quais so as possibilidades e

    capacidades das FOpEsp brasileiras referentes ao planejamento e execuo

    desse tipo de operao, nos nveis ttico e operacional, e como foi conduzida pelo

    governo brasileiro a Op ENC na Costa do Marfim (2004).

    Em relao pesquisa explicativa, Gonsalves (2007, p. 68) a conceitua como

    aquela que "pretende identificar os fatores que contribuem para a ocorrncia e o

    desenvolvimento de um determinado fenmeno. Buscam-se aqui as fontes, as

    razes das coisas". Dessa forma, a pesquisa foi explicativa porque esclareceu a

    compatibilidade das possibilidades e capacidades das FOpEsp brasileiras com o

    planejamento e a conduo das Op ENC em territrio estrangeiro, nos referidos

    nveis e nos AMBO incerto e hostil, por parte do Brasil, baseada nas suas operaes

    reais j realizadas, nos seus adestramentos e nas experincias doutrinrias reais de

    outros pases considerados.

    Do exposto, sob o ponto de vista da metodologia de produo de

    conhecimento, se pretendeu elaborar um trabalho monogrfico que atendesse s

    exigncias de uma dissertao de mestrado, de acordo com os preceitos tericos

    estabelecidos pela comunidade cientfica, visando manuteno do rigor, por meio

    da busca da objetividade, da confiabilidade e da validade interna e externa do

    estudo empreendido.

  • 38

    2.2 UNIVERSO E AMOSTRA

    O universo da presente pesquisa se referiu ao conjunto constitudo por

    profissionais das Foras Armadas (FA) do Brasil, particularmente Oficiais,

    Subtenentes e Sargentos Foras Especiais (FEsp) do Exrcito Brasileiro (EB), com

    experincia em Operaes Especiais (Op Esp), Op ENC e Segurana de Embaixada

    (Seg Emb); por Oficiais das FA do Brasil que tenham trabalhado ou trabalham em

    Aditncias Militares de Defesa brasileiras; por Diplomatas e Assistentes de

    Chancelaria do Ministrio das Relaes Exteriores (MRE), que tenham trabalhado

    ou trabalham em Embaixadas ou Consulados brasileiros; e por funcionrios do MRE

    e militares FEsp do EB que participaram da Op ENC na Costa do Marfim em 2004,

    conduzida pelo Governo brasileiro.

    De acordo com Vergara (2009a), o tipo de amostra selecionada foi a no

    probabilstica por acessibilidade. No probabilstica por no terem sido utilizados

    procedimentos estatsticos na sua seleo, e por acessibilidade por terem sido

    selecionados elementos pela facilidade de acesso aos mesmos, quer fisicamente ou

    por meio de dispositivos de comunicao eletrnicos. (VERGARA, 2009a, p. 46-47).

    Assim, a amostra em questo foi composta principalmente por Oficiais,

    Subtenentes e Sargentos FEsp do EB, integrantes do referido universo, que se

    encontram servindo na Escola de Comando e Estado-Maior do Exrcito (ECEME),

    na Escola de Aperfeioamento de Oficiais (EsAO) e no Centro de Instruo de

    Operaes Especiais (CIOpEsp), ambas Organizaes Militares do Exrcito

    Brasileiro sediadas nas cidades do Rio de Janeiro-RJ e de Niteri-RJ, alm de

    Oficiais das FA que foram Adidos Militares de Defesa do Brasil e de Diplomatas que

    trabalharam em Embaixadas e Consulados brasileiros e atualmente encontram-se

    residindo na cidade do Rio de Janeiro-RJ.

    Ainda que o fcil acesso fsico tenha contribudo com a seleo da amostra

    respectiva, as facilidades da comunicao eletrnica tambm permitiram um rpido,

    fcil, eficiente e fundamental acesso aos demais integrantes dessa amostra, visto

    que foram consultados militares especialistas, adidos de defesa e diplomatas

    residentes ou destacados em postos no Brasil e no mundo. (VERGARA, 2009a, p.

    46-47).

  • 39

    2.3 COLETA DE DADOS

    No que diz respeito execuo da pesquisa propriamente dita, as cinco

    etapas do procedimento previsto por Marconi e Lakatos (2007) foram seguidas

    conforme a sequncia: coleta dos dados, elaborao dos dados, anlise e

    interpretao dos dados, representao dos dados e concluso. A fiel observncia

    dos preceitos constantes em cada uma das etapas acima mencionadas possibilitou

    um encadeamento lgico ao trabalho e, particularmente, contribuiu para que a

    pesquisa fosse enquadrada dentro dos padres cientficos de produo de

    conhecimento. (MARCONI; LAKATOS, 2007, p. 32-40).

    Dessa forma, com base nos procedimentos tcnicos utilizados para o

    desenvolvimento do presente estudo, o pesquisador empreendeu pesquisas

    bibliogrfica, documental, estudo de caso e pesquisa de campo. Sendo assim, o

    presente trabalho foi dividido em duas fases, a saber: a primeira contemplou as

    pesquisas bibliogrfica, documental e um estudo de caso e a segunda a pesquisa de

    campo. As pesquisas bibliogrfica e documental foram realizadas conforme os

    passos a seguir, preconizados por Fachin (2002): levantamento da bibliografia,

    seleo da bibliografia, leitura analtica da bibliografia selecionada e fichamento.

    (FACHIN, 2002).

    Em sua primeira fase, o presente trabalho monogrfico iniciou-se com a

    realizao de uma pesquisa bibliogrfica detalhada e aprofundada, com a finalidade

    de criar os pilares interpretativos para a anlise dos dados colhidos, com foco no

    fenmeno geral estudado, ou seja, a conduo de Op ENC em territrio estrangeiro,

    caracterizado como AMBO incerto ou hostil, empregando oportunamente FOpEsp.

    Alm disso, a pesquisa bibliogrfica possibilitou tambm a ratificao ou a retificao

    da taxonomia empregada como critrio de anlise. Ao longo da pesquisa, estes

    parmetros e taxonomias puderam sofrer adaptaes, visando a atender, em

    melhores condies, aos preceitos levantados pelas pesquisas bibliogrfica e

    documental a respeito do tema em estudo, principalmente quanto ao contexto geral,

    doutrina de conduo de Op ENC em territrio estrangeiro e s possibilidades e

    capacidades das FOpEsp brasileiras.

    Juntamente com a pesquisa bibliogrfica e com o propsito de complementar

    os dados obtidos pela mesma, alm de obter mais dados por meio de comparaes

  • 40

    e anlises, foi realizada pesquisa documental nos arquivos no publicados da base

    de documentos de Op ENC do Comando de Operaes Especiais (C Op Esp) e de

    suas Organizaes Militares (OM) orgnicas de FOpEsp, referentes aos

    regulamentos, manuais, normas gerais de aes, relatrios dos Destacamentos de

    Segurana de Embaixada (Dst Seg Emb) da Colmbia, da Costa do Marfim e do

    Congo, relatrios do Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da

    Repblica (GSI/PR), do MRE, do Ministrio da Defesa (MD), do EB e da Fora Area

    Brasileira (FAB), referentes Op ENC executada na Costa do Marfim (2004).

    Alm das pesquisas bibliogrfica e documental, visando coleta de dados, foi

    realizado um estudo de caso, definido por Gonsalves (2007, p. 69) como "[...] o tipo

    de pesquisa que privilegia um caso particular, uma unidade significativa, considerada

    suficiente para anlise de um fenmeno". Dessa forma, de posse do material e dos

    dados coletados atinentes Op ENC realizada na Costa do Marfim (2004), foi

    conduzido um estudo de caso referente mesma, para posterior comparao com a

    sua teoria doutrinria, buscando maior profundidade e detalhamento ao tema desta

    pesquisa. Uma vez estabelecidas as convergncias e as divergncias quanto a essa

    operao e a sua base terica doutrinria, tambm foram aprofundados os

    conhecimentos e a compreenso acerca das possibilidades de emprego e das

    capacidades das FOpEsp brasileiras nas Op ENC em territrio estrangeiro incerto ou

    hostil, nos referidos nveis de planejamento e execuo.

    Quanto pesquisa de campo, referente segunda parte deste estudo,

    Gonsalves (2007, p. 69) a define como a pesquisa que "[...] pretende buscar a

    informao diretamente com a populao pesquisada". Acrescenta a autora que a

    pesquisa de campo "[...] aquela que exige do pesquisador um encontro mais

    direto, a fim de possibilitar a reunio de um amplo conjunto de informaes a serem

    documentadas".

    Em relao coleta de dados dessa pesquisa, a mesma seguiu a sistemtica

    prevista por Gil (1991), na seguinte ordem de apresentao: elaborao do

    instrumento de pesquisa; validao do instrumento, por meio da aplicao de um

    pr-teste do questionrio, em pelo menos, de acordo com o autor em referncia, dez

    indivduos que faziam parte do universo da pesquisa, com vistas a avaliar a

    adequao do instrumento de coleta de dados; aplicao do instrumento na amostra

    selecionada; e interpretao e transcrio dos dados. (GIL, 1991).

  • 41

    Os procedimentos de elaborao, pr-teste e aplicao de questionrios

    previstos por Marconi e Lakatos (2007, p. 101) tambm foram seguidos, assim como

    os ensinamentos de Vergara (2009a, p. 57-70). Sendo assim, foram aplicados

    questionrios contendo perguntas abertas, pois segundo as autoras, esta forma "[...]

    possibilita investigaes mais profundas e precisas", permitindo aos indivduos da

    referida amostra contriburem com impresses mais completas acerca dos

    questionamentos formulados. Uma quantidade expressiva de questionrios foi

    entregue e recolhida pessoalmente pelo pesquisador, tendo em vista a facilidade

    proporcionada pelo acesso fsico aos integrantes da amostra selecionada. Porm,

    quanto remessa e recepo desses questionrios aos demais integrantes da

    referida amostra, procurou-se empregar preferencialmente a rede mundial de

    computadores, tendo sido empregada tambm a correspondncia oficial.

    A pesquisa de campo se mostrou de expressiva utilidade para o trabalho

    realizado, uma vez que buscou complementar a reviso bibliogrfica e documental e

    o estudo de caso previsto na primeira fase, particularmente a amostra dos militares

    Foras Especiais, que contriburam consideravelmente ao responderem os

    questionrios destinados aos mesmos. Alm disso, essa pesquisa proporcionou ao

    autor a percepo da pouca importncia dada ao tema por parte dos Adidos Militares

    de Defesa, na medida em que foi possvel constatar que apenas um tero dos

    mesmos responderam os questionrios destinados a tal amostra. Da mesma

    maneira, o autor constatou a falta de interesse dos diplomatas quanto ao

    envolvimento do poder militar na soluo da crise internacional em questo, na

    medida em que se verificou que apenas trs funcionrios do MRE responderam o

    questionrio destinado aos mesmos. (VERGARA, 2009a, p. 4-42).

    O objetivo principal da pesquisa de campo foi buscar, por meio do

    entendimento de autoridades no assunto, o controle dos dados obtidos no decorrer

    das pesquisas bibliogrfica e documental, de forma a ratificar ou retificar as

    concluses obtidas na primeira fase do trabalho, pois, de acordo com Fachin (2002),

    a pesquisa de campo busca controlar a influncia de obstculos que podero

    interferir na relao existente entre as variveis independente e dependente.

    As concluses decorrentes das pesquisas bibliogrfica, documental, de

    campo e do estudo de caso possibilitaram estabelecer em quais condies a deciso

    poltica de se realizar uma Op ENC em territrio estrangeiro incerto ou hostil pode se

    fundamentar na expresso militar do Poder Nacional.

  • 42

    2.4 TRATAMENTO DOS DADOS

    A presente pesquisa, de acordo com Vergara (2005), empregou mtodos e

    tcnicas de pesquisa distintas para o tratamento dos dados coletados. Em relao

    anlise de contedo, segundo Vergara (2005, p. 15), "[...] considerada uma tcnica

    para o tratamento de dados que visa identificar o que est sendo dito a respeito de

    determinado tema". Bardin (1977), citado por Vergara (2005), a define como:

    [...] um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes visando obter, por procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores (quantitativos ou no) que permitam a interferncia de conhecimentos relativos s condies de produo/recepo (variveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 1977; apud VERGARA, 2005, p. 15).

    Sendo assim, a anlise de contedo, apoiada em procedimentos quantitativos

    e qualitativos interpretativos, foi empregada no estudo dos textos e documentos

    levantados pelas pesquisas bibliogrfica, documental e pelo estudo de caso, assim

    como nos questionrios abertos, referentes a alguns ensinamentos e fundamentos

    das operaes militares, conduo das Op ENC em territrio estrangeiro,

    caracterizado como AMBO incerto ou hostil, e ao contexto geral em que as mesmas

    ocorrem. Dessa forma, foi possvel identificar as influncias dos princpios e

    ensinamentos consagrados da arte da guerra nas Op ENC em territrio estrangeiro,

    assim como as possibilidades de emprego das FOpEsp na conduo dessas

    operaes, nos nveis ttico e operacional.

    Quanto grade de anlise, foi utilizada a modalidade mista, conforme Laville

    e Dionne (1990), citados por Vergara (2005), sendo algumas categorias para anlise

    definidas inicialmente, outras identificadas na medida em que as mesmas foram

    surgindo e, ainda, reajustadas conforme o desenvolvimento da pesquisa, de modo

    que, ao final do estudo, foram estabelecidas as categorias finais. No que diz respeito

    s unidades de anlise adotadas, foram empregadas frases e pargrafos, enquanto

    a interpretao dos resultados foi realizada por meio do emparelhamento e da

    construo interativa de explicao, tudo de acordo com Laville e Dionne (1990).

    (LAVILLE; DIONNE, 1990; apud VERGARA, 2005, p. 18-19).

    A anlise de discurso, conforme Vergara (2005, p. 5), "[...] um mtodo que

    visa no s apreender como uma mensagem transmitida, como tambm explorar o

    seu sentido", provendo o pesquisador de tcnica de investigao que vai alm da

  • 43

    anlise de contedo de determinado tema estudado, permitindo ao mesmo

    reconhecer o significado implcito e explcito da comunicao, considerando seus

    aspectos verbais, paraverbais e no verbais, assim como identificando tendncias,

    bases epistemolgicas e construes tericas da realidade. (VERGARA, 2005, p.

    25-27).

    Dessa forma, a anlise de discurso foi utilizada no tratamento dos

    questionrios abertos aplicados amostra do universo selecionado. Assim, o

    aprofundamento e o detalhamento do conhecimento e da compreenso acerca da

    gesto da co