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E o pra sempre, sempre acaba? Ivan de Lima 01/2005

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E o pra sempre,

sempre acaba?

Ivan de Lima

01/2005

© 2013 Ivan de Lima

Título original em Português: E o pra sempre, sempre acaba?

Dados nacionais de Registro na Biblioteca Nacional

Lima, Ivan de

E o pra sempre, sempre acaba? / Ivan de Lima

Registro BN nº 342346

1. Romance brasileiro Código 869

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou

mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, assim como

traduzida, sem a permissão, por escrito, do autor. Os infratores serão

punidos pela Lei n9.610/98.

“Às vezes as pessoas se arrependem

e pedem perdão. Esse talvez seja o

primeiro e grande passo para uma

reconciliação, mas muitos têm

medo de dá-lo. O perdão é sublime

e quem ama perdoa, não sempre,

pois dessa forma não seria

exceção.”

A Haroldo, Ari, Marcelo

Prilip, Marcelo Cavalcante,

Cristina Dorgan,, Thaís

Santos e Marisa Parise,

minha mãe de coração.

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CAPÍTULO I - O REENCONTRO

— Doutor Diego, há um cliente aqui que quer vê-

lo – avisou a secretária.

— Mas eu não marquei nenhum cliente para hoje.

Pergunte se ele não pode voltar à tarde, pois estou muito

ocupado.

Eduardo foi entrando no escritório e disse:

— Creio, senhor Diego, que este cliente o senhor

não quererá dispensar.

Diego abriu um largo sorriso, levantou-se, pulou

nos braços do seu amado e o beijou longamente.

— Você por aqui! O que houve? – perguntou o

advogado.

— Resolvi atender aos meus instintos, à decisão dos

deuses e a do meu chefe que me promoveu e agora sou

o novo Superintendente de Marketing e Atendimento a

Clientes de todas as filiais da empresa.

— Mesmo? Parabéns! E você veio para alguma

outra reunião? Quanto tempo você vai ficar? Onde vai

ficar? Está sozinho?

— Ei, calma! Você não me convida para sentar?

Assim fica melhor para conversarmos.

— Claro, claro! Desculpe. É que fiquei tão

empolgado por você estar aqui que me esqueci até

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mesmo de convidá-lo para entrar. Entra. Senta – e

fechou a porta.

— Eu também estou muito empolgado. Mas agora

depende de você.

— Como assim?

— É o seguinte: depois da última reunião que

participei na Grécia, fiz um grande estudo para aquela

filial, inclusive com uma simulação de pesquisa de

público e tudo mais. É claro que não fiz sozinho, um

rapaz chamado Adriano me ajudou muito e graças a isso

ele conseguiu uma vaga como Gerente de Marketing de

lá. O Presidente ficou tão satisfeito que me disse que

entraria em contato comigo lá no Brasil assim que

terminasse de examinar todos os documentos que

deixei, tanto os da Matriz, como os da filial grega. Nem

bem cheguei de volta, ele me telefonou informando,

ouça bem, informando que eu acabara de ser promovido

para coordenar os dois setores das três filiais e da

próxima que os acionistas estão prestes a inaugurar em

Miami. Agora eu sou Superintendente de Marketing e

Atendimento a Clientes.

— Tudo bem, mas você não me explicou o que faz

aqui.

— Ah, sim! Como essa é uma função importante,

ele quer que eu me reporte diretamente a ele e por isso

me transferiu para cá.

— Mas você não poderia coordenar de lá mesmo do

Brasil? Não que eu não esteja contente por tê-lo tão

próximo a mim, mas é uma lógica, já que sua família

está lá e sua vida também.

— Eu comentei isso, mas ele quer que discutamos

tudo pessoalmente e não via monitor ou telefone. Além

disso, ele me deu um substancial aumento e, para que

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pudesse deixar os meus pais bem por algum tempo, ele

me demitiu e me recontratou por aqui. Também terei a

oportunidade de visitá-los a cada seis meses, segundo o

acordo que fiz com o Michel, ou mesmo nos feriados

longos.

— Que maravilha. E agora, o que você pensa fazer?

Onde você está hospedado?

— Bem, por enquanto eu estou em um hotel, aqui

mesmo na Gran Via. Mas ele já está providenciando um

apartamento para mim, não muito longe, para que eu

não me atrase ao serviço.

— Que bom, poderemos nos ver todos os dias. E

por falar nisso...

— Sim?

— E nós? – perguntou meio constrangido.

— Durante minha viagem pela Itália, conheci

vários lugares e algumas pessoas. Como sempre fui

sincero com você, devo confessar que “fiquei” com uma

moça chamada Maria, uma boliviana, de Lima. Ficamos

juntos desde Florença a Nápoles.

— Entendo. Então...

— Então nada. Deixe-me acabar de falar.

— Desculpe. Continue – respondeu meio triste e

cabisbaixo.

— Continuando: nós nos conhecemos em Florença,

como já mencionei, e viajamos juntos até Capri,

passando por Veneza, Roma, Assis e outras cidades.

Mas ela não podia continuar conosco depois de

Nápoles, pois devia ir para a Alemanha, onde vive sua

mãe. Aprendi muito com ela, mesmo sendo uma mulher

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diferente de todas que conheci. Apesar disso, foi muito

interessante a experiência, não nego.

— É... você esquece rápido mesmo!

— Continuando: de Nápoles voltamos a Roma e de

lá eu viajei para a Grécia sozinho, pois meus amigos

foram para Portugal. Eles me encontraram depois.

Quando cheguei no aeroporto havia alguém me

esperando. Era o Adriano, esse que mencionei. Mas nós

não tivemos nada, já vou logo dizendo.

— Eu não disse nada!

— Mas pensou “que cretino!”

— Não pensei isso não.

— O Adriano é uma pessoa maravilhosa! Um

administrador de empresas que trabalhava como

motorista. Aprendi muito com ele, que tem mais ou

menos a nossa idade, possui uma percepção incrível e

uma inteligência fantástica. Graças a ele descobri algo

grandioso em minha vida.

— Pela quantidade de elogios e exaltação, deve ter

sido algo grandioso mesmo. O que foi, posso saber?

— Claro que pode, já que você é uma das pessoas

mais interessadas.

— Como assim?

— O Adriano me fez perceber que o que sinto por

você é algo chamado amor e que estou disposto a tentar

um relacionamento mais sério, isto é, se você ainda me

quiser depois do que contei.

— Querer?! Eu?! – respondeu Diego entusiasmado.

– Claro que quero! É o que me fez continuar até aqui e

o que me faria continuar por mais muito tempo. O que

sinto por você é verdadeiro e sincero. Nunca conheci

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alguém como você e quero muito estar ao seu lado, para

sempre, até ficarmos velhinhos e um fazer companhia

ao outro.

— Então eu pensei que você poderia vir morar

comigo.

— Mo... Morar com você?! – gaguejou.

— Sim. Eu sei que é cedo, mas nós podemos tentar.

— Mas nós precisamos nos conhecer melhor.

Ficamos tão pouco tempo juntos. E se não der certo?

— Se não der certo, pelo menos nós tentamos.

— Você tem razão. Mas... e a mamãe?

— É verdade. Infelizmente nós não podemos levá-

la conosco, pelo menos nesse primeiro momento. Mas

nós podemos conversar com ela e ela poderá nos visitar

sempre, afinal vamos morar bem perto daqui. Dona

Marisa é uma pessoa maravilhosa e sei que ela não se

oporá a isso.

— É fato. Mas...

— Bom, se você não concorda com minha

proposta? Podemos ver outras possibilidades.

— Antes de darmos um passo tão importante, é

melhor pensarmos um pouco, analisarmos a situação,

para que não venhamos a nos arrepender depois.

Casamento é algo sério, não é brincadeira que se possa

dizer hoje eu quero e amanhã eu não quero mais. Já

disse que o amo muito, mas não sei se estou preparado

para assumir um compromisso desses. Isso é sério,

Eduardo!

— Eu sei – respondeu menos empolgado. – Eu

fiquei eufórico pela possibilidade. Mas eu sei que isso

não é coisa que se resolva assim de uma hora para outra.

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Vamos refletir um pouco mais sobre o assunto. Você

tem razão. Então para amenizar minha euforia, podemos

sair para comer alguma coisa? Estou faminto!

— Claro, vamos lá!

E os dois se beijaram mais uma vez. Diego deixou

um recado com a secretária e saíram juntos.

Mas o leitor deve estar se perguntando: “O que está

acontecendo?” É claro que devo situá-lo na história,

caso não tenha lido a primeira parte dela. Embora nosso

personagem já tenha dito um pouco, resta complementar

a informação. Eduardo era gerente em uma filial

brasileira de uma empresa multinacional. Vivia em uma

rotina, quebrada uma manhã em que deu carona a um

velhinho. Ao chegar à empresa recebeu a missão de

representá-la em três reuniões que aconteceriam em

Madri e Grécia. Teve várias experiências de encontro

com alguns deuses como Cronos, Atena, Apolo e o

herói Perseu, cuja história foi-lhe revelada através de

sonhos. Nosso protagonista teve alguns dias de férias e,

em companhia de três amigos Thiago, Célia e Ronaldo

conheceram os principais pontos turísticos de Madri,

algumas cidades da Itália como Florença, Veneza e

Roma e da Grécia também.

Em sua viagem por Madri, conheceu Diego, um

jovem e promissor advogado. Diego caiu de amores por

Eduardo, mas este, que nunca havia tido experiência

com outro homem, ficou confuso com o que estava

acontecendo. Ajudado por alguns deuses, entre eles

Hermes, chegou à conclusão de que gostava de Diego.

Mas teve que seguir sua viagem e deixou o seu amor

chorando por ele. Fim da viagem, retornou ao Brasil e à

sua vida, distanciando-se ainda mais do advogado.

Durante as reuniões cativou a confiança do

presidente da empresa, senhor Michel Labate e graças a

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interferência dos deuses, dos seus vastos conhecimentos

naquilo que fazia, e fazia bem, o presidente decidiu por

promovê-lo, o que o trouxe de volta ao local onde tudo

começou. Agora vamos ver como isso continua. Será

que eles viverão felizes para sempre, ou na vida real é

diferente? O para sempre acaba? São dois homens.

Homem amando homem. Seria diferente se nossa

história falasse de Eduardo e Maria? Vamos ver.

Naquela manhã tudo parecia lindo. Ainda fazia frio,

pois estavam ainda no Inverno. Mas para aqueles dois a

chama do amor estava mais acesa que nunca e os

aquecia de corpo, alma e coração. Entretanto aquela

comemoração tinha que esperar um pouco mais, pois

ambos deveriam retornar ao trabalho. Eduardo

precisava voltar para o escritório para terminar a

arrumação de sua sala e começar a se apresentar como

novo funcionário da Matriz e com o único cargo de

Superintendente. Diego tinha um cliente marcado para

dali a poucos minutos e não queria deixá-lo esperando.

Combinaram de se encontrar às cinco horas para irem

juntos à casa de dona Marisa, cumprimentá-la. Depois

iriam comemorar em uma danceteria e, mais tarde, no

hotel, já que em Madri não existem motéis.

Eduardo foi recebido pelo próprio presidente que

havia marcado uma reunião para apresentá-lo

oficialmente, embora a maioria dos diretores e gerentes

já o conhecessem.

— Então, senhor Eduardo, tudo está bem? A sala

está de acordo com sua nova posição? Precisa de algo?

— Sim, senhor Michel. Está tudo de acordo. Só me

faltam alguns detalhes pessoais como umas plantas e

precisamos conversar sobre alguém para me auxiliar.

— Quanto à pessoa para auxiliá-lo, estou

designando o senhor Fábio Garcia, que o secretariará. É

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um profissional muito competente e que lhe será de

grande ajuda, além de não se desviar da função, como o

faria uma senhorita. Digo isso, pois o senhor é uma

pessoa muito apresentável e não gostaria de nenhum

processo por assédio sexual.

— “Aí é que o senhor se engana, senhor Michel.

Assim é que fica mais preocupante, principalmente se o

secretário também for ‘muito apresentável’ como o

senhor me chamou” – pensou Eduardo.

— Algum problema? – perguntou o senhor Labate,

ao notar o distanciamento do funcionário.

— Não senhor. O senhor tem razão. Um homem

será melhor, principalmente se é tão competente como

o senhor me diz, será muito bem-vindo, pois vou

precisar de pessoas ativas trabalhando comigo, a fim de

elevarmos os níveis de satisfação de nossos clientes o

mais breve possível.

— Tenho certeza que sim, senhor Eduardo. Ah!

aqui está o senhor Garcia. Esse é o novo

Superintendente da empresa e o senhor se reportará a

ele, dando-lhe todo o suporte de que ele necessitar.

— Muito bem, senhor Labate – e estendeu a mão

para o seu novo chefe – Muito prazer. Pode me chamar

de Fábio e farei todo o possível para não decepcioná-lo.

A partir desse momento só me reportarei ao senhor e ao

senhor Labate, conforme já conversamos.

— Muito prazer também, Fábio. Pode me chamar

de Eduardo apenas. Desculpe-me, senhor Michel, mas

eu não sou muito receptivo quanto a esses protocolos

quando se referem a mim.

— Como queira. Agora que já estão apresentados,

comecem a trabalhar e peça aquelas coisas de que me

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falou ao senhor Garcia. Tenho que ir. Um bom trabalho

e mais uma vez seja bem-vindo, senhor Eduardo.

— Muito obrigado, senhor Michel. Agora também

temos o que acertar com relação ao trabalho. Vamos lá,

Fábio?

— Pois, não.

— Primeiro quero que você providencie umas

plantas aqui para minha sala e umas para a antessala,

onde ficará sua mesa. Quero muito verde por aqui. Não

precisam ser flores, pois elas perecem logo. Mas verde,

muito verde.

— De que tipo de plantas você gosta? Avencas,

samambaias, jiboias, fícus...

— Gosto de todas essas, principalmente porque são

resistentes. Mas deixo a seu critério de bom gosto.

— Combinado. Prometo que não se arrependerá.

— Tenho certeza disso.

E continuaram ajustando os afazeres enquanto

Eduardo olhava para aquele rapaz de uns vinte e três

anos, mais ou menos da sua altura, loiro, cabelos com

franja sobre a testa, um corpo forte e muito simpático.

Estava sempre com o semblante leve e esboçando

sorriso. Percebeu que aquele era o sexto de sua lista.

Ah! Caro leitor, caso não tenha lido os antecedentes

dessa história, nosso protagonista ficou incumbido pelo

deus Hermes de encontrar quinze descendentes de

Perseu. Como vimos, Fábio seria o sexto deles.

O secretário providenciou as plantas que o chefe

havia pedido. A entrega foi rápida, em menos de uma

hora já haviam chegado ao escritório. Algumas foram

devolvidas, pois não estavam de acordo com as