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Grupo Temático 3: EUCLYDES, F.; M.; SILVEIRA, S. F. R.; Análise de Políticas Públicas MOREIRA, V. S. 374 “MINHA CASA, MINHA VIDA” OFERTA PÚBLICA E O DÉFICIT HABITACIONAL: avaliação de sua eficácia em Minas Gerais Fillipe Maciel Euclydes 1 2 Suely de Fátima Ramos Silveira 2 Vinicius de Souza Moreira 2 RESUMO Objetivou-se, com este estudo, avaliar a eficácia da modalidade Oferta Pública de Recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV- OPR), em sua fase 1, em relação ao uso do déficit habitacional como critério de seleção dos municípios a serem contemplados pelo Programa. A justificativa desse trabalho deriva do fato que o referido déficit deveria ser um dos principais norteadores da distribuição física dos empreendimentos habitacionais, conforme o arcabouço normativo da modalidade. Assim, a partir de dados censitários (2010), o presente trabalho determinou o déficit habitacional médio do estado de Minas Gerais e analisou, estatisticamente, a sua relação com a seleção dos municípios contemplados com o Programa. Com base nos resultados do teste Qui-Quadrado e do teste t para amostras independentes, foi confirmada a hipótese de vinculação entre déficit e munícipios contemplados, o que atestou a eficácia do PMCMV-OPR em relação ao respectivo critério normativo. Palavras-chave: Avaliação de eficácia. Déficit habitacional. Habitação. 1 Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). 2 Universidade Federal de Viçosa (UFV).

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Grupo Temático 3: EUCLYDES, F.; M.; SILVEIRA, S. F. R.; Análise de Políticas Públicas MOREIRA, V. S.

374

“MINHA CASA, MINHA VIDA” OFERTA PÚBLICA

E O DÉFICIT HABITACIONAL:

avaliação de sua eficácia em Minas Gerais

Fillipe Maciel Euclydes1 2 Suely de Fátima Ramos Silveira2

Vinicius de Souza Moreira2

RESUMO

Objetivou-se, com este estudo, avaliar a eficácia da modalidade Oferta Pública de Recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV-OPR), em sua fase 1, em relação ao uso do déficit habitacional como critério de seleção dos municípios a serem contemplados pelo Programa. A justificativa desse trabalho deriva do fato que o referido déficit deveria ser um dos principais norteadores da distribuição física dos empreendimentos habitacionais, conforme o arcabouço normativo da modalidade. Assim, a partir de dados censitários (2010), o presente trabalho determinou o déficit habitacional médio do estado de Minas Gerais e analisou, estatisticamente, a sua relação com a seleção dos municípios contemplados com o Programa. Com base nos resultados do teste Qui-Quadrado e do teste t para amostras independentes, foi confirmada a hipótese de vinculação entre déficit e munícipios contemplados, o que atestou a eficácia do PMCMV-OPR em relação ao respectivo critério normativo. Palavras-chave: Avaliação de eficácia. Déficit habitacional. Habitação.

1 Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). 2 Universidade Federal de Viçosa (UFV).

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1 INTRODUÇÃO

Apesar de a habitação ser um direito mundialmente reconhecido, sua falta e

carência são problemas seculares no Brasil, em que a complexidade do desafio

exige do poder público, de forma contínua, empenho e competência renovados

(BONDUKI, 2004). Segundo estudo da Fundação João Pinheiro - FJP (2016), em

parceria com o Ministério das Cidades (MCidades), estima-se que o país possui

déficit habitacional de 6,068 milhões de moradias3, correspondente à quantidade de

unidades que precisam ser construídas para atender à demanda habitacional.

Destaca-se que 83,9% deste total são constituídos por famílias que possuem renda

mensal de até 3 salários mínimos, segmento denominado de interesse social.

Dentre as diretrizes criadas para mitigar esse histórico problema, destaca-se,

atualmente, o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), lançado em 2009. Este

Programa, em sete4 anos de atuação, registra números que ilustram sua importância

social e econômica: investimento de aproximadamente R$295 bilhões; 4.219.366 de

unidades habitacionais contratadas e 10,5 milhões de beneficiários (BRASIL, 2016).

Para Baravelli (2015), o PMCMV, em ocasião do seu lançamento, por meio da

Medida Provisória nº 459/2009, deixava claro seu principal objetivo: a construção de

novas unidades habitacionais. Sob orientação de sua meta física, que estava no

centro da divulgação pública, o governo federal estipulou a construção de 1 milhão

de novas moradias – das quais 40% seriam destinadas a faixa5 de interesse social.

O interesse pela redução do déficit habitacional é observado também nos

normativos do Programa, em que seu arcabouço legal estabelece como um dos

critérios de seleção o fato de o município possuir déficit habitacional relativo (DHR),

acima da média de sua Unidade Federativa.

3 Estimativa da FJP, com base em dados de 2014.

4 O PMCMV, desde sua criação, passou por três fases: o PMCMV-I, entre os anos de 2009-2010, o

PMCMV-II, iniciado em 2011 e finalizado em 2014, e o PMCMV-III, iniciado em 2016 (BRASIL, 2016).

5 As modalidades da faixa de interesse social se distinguiriam por sua fonte de financiamento e

público-alvo, sendo elas: (a) o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), para municípios com população superior a 50 mil habitantes; (b) o Fundo de Desenvolvimento Social (FDS), para famílias organizadas em cooperativas habitacionais ou mistas, associações e/ou demais entidades privadas sem fins lucrativos; (c) a Oferta Pública de Recursos (OPR), que operacionaliza a subvenção econômica do Programa em municípios com população até 50 mil habitantes; (d) e a modalidade rural, direcionada à produção ou reforma de imóveis residenciais localizados em áreas rurais (BRASIL, 2016).

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De acordo com o MCidades (2016), na primeira prestação de contas do

PMCMV, estava contratada pelo seu operador financeiro – a Caixa Econômica

Federal, até dezembro de 2010 – a construção de 1.005.131 unidades habitacionais,

34% das quais na região Sudeste, 32% no Nordeste, 16% na região Sul, 9% no

Centro-Oeste e 6% no Norte. Apesar de o percentual de unidades habitacionais da

Faixa 1 estar condizente com o planejamento federal, no que tange ao uso do déficit

habitacional como balizador da iniciativa, estudos como os de Krause et al., (2013) e

Neto et al. (2015), que avaliaram as modalidades de interesse social e Faixas 2 e 3

do Programa, mostraram que a produção habitacional foi, em geral, espacialmente

desvinculada do déficit nos municípios selecionados. Assim, ela se revelou ineficaz

em relação a este critério normativo.

Tais avaliações contrastam, entretanto, com o baixo número de trabalhos que

analisam a modalidade Oferta Pública de Recursos. Pesquisa realizada na Scopus

sobre o PMCMV revelou a concentração de estudos na modalidade FAR e a sua

carência sobre a modalidade para municípios com menos de 50 mil habitantes, o

que abre a oportunidade para se empreenderem novos estudos acerca da temática.

Na visão de Frey (2000), a escassez na dotação de recursos públicos torna a

avaliação de políticas públicas, tais como as diferentes modalidades do PMCMV,

imprescindíveis para a efetividade estatal. Especificamente, Garcia (2001) e Costa e

Castanhar (2003) pontuam que as avaliações de eficácia, como a aderência de

programas públicos aos seus critérios normativos, seriam princípios elementares que

possibilitam a política processos de aprendizagem e adaptação contínua, de modo a

contribuir na superação dos seus principais entraves.

Assim, tendo em vista a importância do PMCMV frente à demanda

habitacional do país, ao mesmo tempo em que se observa a escassez de análises

sobre a modalidade Oferta Pública de Recursos, a proposta deste artigo é avaliar

em que medida a produção do PMCMV-OPR se aderiu ao critério normativo do

déficit habitacional local, considerando os municípios de Minas Gerais contemplados

em sua primeira fase, de 2009 a 2010. Especificamente buscou-se: i) caracterizar os

municípios mineiros que foram contemplados com o Programa – contrastando-os

com os não selecionados – em relação aos seus aspectos demográficos e

socioeconômicos; ii) examinar se a seleção dos municípios mineiros contemplados

com o PMCMV-OPR foi relacionada com o seu déficit habitacional; e iii) determinar

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se os municípios selecionados possuem, de fato, déficit habitacional superior

àqueles não selecionados.

A opção por avaliar a eficácia desta política pública em Minas Gerais levou

em conta o fato de esse estado ser a unidade federativa com o maior número de

municípios aptos a receber o PMCMV-OPR (IBGE, 2010); o segundo estado mais

populoso do país (IBGE, 2010); apresentar o segundo maior volume de moradias em

situação de déficit (FJP, 2016); e despontar como o 2º estado que mais contratou

unidades habitacionais durante a Fase 1 do PMCMV-OPR (MCIDADES, 2016).

Espera-se, com a pesquisa, aprofundar a análise no sentido da distribuição

espacial dos empreendimentos em Minas Gerais, buscando revelar a eficácia da

atuação do Programa diante de seus objetivos e compreender, de forma mais

acurada, as características socioeconômicas que possam ajudar a entender a

alocação das unidades habitacionais em determinados municípios.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Esta revisão de literatura discorre sobre a avaliação de políticas públicas –

com ênfase na avaliação de eficácia – e apresenta a Modalidade Oferta Pública de

Recursos, do Programa Minha Casa, Minha Vida, analisando o que se tem estudado

a respeito.

2.1 Avaliação de Políticas Públicas

Na visão de Weiss (1998), a avaliação de políticas públicas é um processo

sistemático de estimativa da operação e/ou dos resultados de uma diretriz pública,

contrastando-os com um conjunto de parâmetros explícitos ou implícitos, de maneira

a colaborar com o aperfeiçoamento da respectiva diretriz. Neste mesmo sentido,

Garcia (2001) conceitua a avaliação como uma operação a qual se julga o valor

encontrado por uma determinada política, considerando um quadro referencial ou

critérios de aceitabilidade previamente definidos.

Na perspectiva de Cohen e Franco (2007), o processo avaliativo não deve ser

compreendido como uma operação isolada e autossuficiente, porquanto ele permite

a retroalimentação que possibilita a retificação das ações e sua reorientação nas

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diversas fases de uma política pública. Este processo auxilia diretamente a tomada

de decisão dos formuladores e implementadores das diretrizes públicas, uma vez

que suas decisões seriam pautadas em dados concretos, de forma a maximizar o

gasto público (CUNHA, 2006).

Para Jann e Wegrich (2007), durante a etapa de avaliação do Policy Cycle6,

os efeitos destas diretrizes se deslocam para o centro da análise. O raciocínio

processual deste modelo é que no final as políticas sejam avaliadas confrontando-as

com os objetivos propostos. No entanto, a avaliação não está relacionada apenas a

etapa final do ciclo de políticas públicas. Os esforços avaliativos deveriam ser vistos,

segundo os autores, como uma subdisciplina a parte do processo político, que não

se limitam a uma determinada etapa do ciclo, sendo aplicada, em vez disso, em

diferentes horizontes de tempo.

Os diferentes momentos de uma avaliação podem ser divididos em três

principais grupos: ex-ante, quando a avaliação é feita antes da fase de

implementação; in itinere – também conhecida como avaliação formativa ou de

processo –, que ocorre durante o processo de implementação; e ex-post, que ocorre

posteriormente à implementação (COSTA; CASTANHAR, 2003).

Figueiredo e Figueiredo (1986) pontuam que a avaliação ex-ante, utilizada

nesse trabalho, visa, dentre outras coisas, verificar a eficácia de uma política, ou

seja, se a mesma está em conformidade com os critérios propostos. Para Costa e

Castanhar (2003), a avaliação de eficácia é a medida em que o programa atinge os

seus objetivos e metas, sendo que é usual seguir as seguintes questões: em que

medida foram alcançados os objetivos ou são prováveis de serem alcançados?

Quais foram os principais fatores que influenciaram a realização ou o caso de não

cumprimento dos objetivos? (MORRA-IMAS; RIST, 2009).

Para mensuração daquilo que se pretende avaliar, torna-se necessário o

estabelecimento de medidas de desempenho. Neste estudo, o indicador utilizado

como orientador desta análise foi o DHR de 0 a 3 salários mínimos de Minas Gerais,

6 Na tentativa de se compreender o funcionamento das políticas públicas, diversos modelos

analíticos foram criados para analisá-las. O modelo do Ciclo de Políticas Públicas destaca o efeito retroativo entre as entradas e saídas do processo político, bem como auxilia na visualização e interpretação de uma política pública ao organizá-la em fases sequenciais e interdependentes (FREY, 2000). No entanto, Secchi (2013) esclarece que, apesar de sua utilidade heurística, o policy cycle dificilmente reflete a real dinâmica de uma política pública. Isso porque, em geral, as fases do ciclo se apresentam inter-relacionadas e as sequências se alteram.

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em que se observará se os municípios selecionados pelo Programa possuem déficit

habitacional acima ou abaixo do déficit médio do estado.

2.2 O Programa Minha Casa, Minha Vida e a modalidade OPR

Idealizado, inicialmente, no Ministério da Fazenda, a criação do PMCMV está

atrelada à crise internacional de 2008, em que o governo federal, em resposta ao

desaquecimento da economia nacional e ao crescimento do desemprego,

desenvolveu uma política para atender à promoção pública habitacional e servir, ao

mesmo tempo, como um poderoso instrumento anticíclico (REIS, 2013).

Para Amore (2015), o PMCMV seria, antes de tudo, uma “marca” sob a qual

se organiza uma série de subprogramas, modalidades, fundos, linhas de

financiamento, tipologias habitacionais, agentes operadores, formas de acesso ao

produto “casa própria” – este sim um atributo que unifica as diferentes experiências.

No Quadro 1, apresentam-se as características de atuação e operacionalização da

Modalidade Oferta Pública de Recursos.

Quadro 1–Características da Modalidade PMCMV-OPR

Programa Minha Casa, Minha Vida Oferta Pública de Recursos

Público alvo Municípios com menos de 50 mil habitantes

Apresentação de propostas de produção habitacional

Pelo poder público (prefeituras e governo do estado)

Seleção de propostas Pelo MCidades, por ocasião das OPRs

Agente executor das obras Indefinido

Percentual de habitações contratadas pela modalidade OPR no âmbito do PMCMV

14%

Fonte: Elaboração própria com base em dados do MCidades (2016).

A modalidade OPR, implementada em municípios com menos de 50 mil

habitantes, tem o poder público como o responsável pelo envio das propostas.

Segundo dados do Ministério das Cidades (2016), na Fase 1 do PMCMV – 2009 a

2010 –, a modalidade Entidades foi responsável por 2% das unidades habitacionais

contratadas no período, enquanto a modalidade FAR foi responsável por cerca de

84%, e a OPR por cerca de 14%.

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Na visão de Krause et al. (2012), o total investido na modalidade OPR, ainda

que pequeno frente aos recursos destinados à modalidade FAR, é cerca 5,2 vezes

maior em relação ao montante repassado pelo Orçamento Geral da União aos

municípios de mesmo porte, entre os anos de 2007 a 2010, para ações de provisão

habitacional subsidiadas pelo Estado. Desta forma, a opção pela modalidade OPR

do PMCMV, apesar de minoritária frente aos recursos destinados às cidades mais

populosas, fundamenta-se na maior atenção que os municípios de pequeno porte

passaram a receber do governo federal.

Do ponto de vista da produção acadêmica que versa sobre o PMCMV, em

busca realizada na base de dados Scopus, foram encontrados dezoito artigos

relacionados ao Programa, dos quais seis continham de fato referências a ele em

seu texto. O Quadro 2 apresenta estes artigos, indicando a etapa do Policy Cycle

analisada, a respectiva modalidade do Programa e os objetivos dos trabalhos.

Esse Quadro revela a concentração de análises sobre a modalidade FAR do

PMCMV e a inexistência de estudos, na base de dados Scopus, acerca da

modalidade Oferta Pública de Recursos. Esta constatação representa mais uma

motivação para a realização deste trabalho.

Quadro 2– Trabalhos publicados na Scopus sobre o PMCMV

Trabalho Modalidade Analisada

Etapa do Policy Cycle Estudada

Objetivo do Trabalho

Paulsen e Sposto (2013)

FAR Avaliação ex-post Avaliar o consumo de energia incorporada durante o ciclo de vida de residências voltadas à baixa renda do PMCMV-FAR.

Klink e Denaldi (2014)

Todo o programa

------------- Revisão de literatura que buscou apresentar um panorama sobre o mercado de financiamento habitacional até chegar ao PMCMV.

Rizek et al. (2014)

Entidades

Implementação

Os autores analisaram as entidades responsáveis pela implementação do programa no município de São Paulo e a lógica que permeia as inter-relações entre seus membros.

Ruppenthal et al. (2015)

FAR

Implementação

Estudo de caso objetivando a identificação e apresentação das práticas conhecidas como construção enxuta na implementação do programa em Santa Maria – RS.

Finger et al. (2015)

FAR Avaliação ex-post Os autores avaliaram a qualidade das unidades habitacionais construídas em São Leopoldo -RS.

Rodrigues e Moreira (2016)

Todo o programa

------------- Meta-estudo que analisou a produção científica sobre a política habitacional brasileira, a partir de 1964 até 2014.

Fonte: Elaboração própria (2016).

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Primeiramente, foram selecionados os 787 municípios aptos a receberem o

PMCMV-OPR – dentre os 853 que fazem parte do estado –, dos quais 137 o

implementaram. A partir disso, o presente trabalho determinou, com base nos dados

do Censo (IBGE, 2010), o déficit habitacional relativo (DHR) médio de Minas Gerais,

para a faixa de renda de 0 a 3 salários mínimos, em 8,15%. Assim, os municípios

mineiros com DHR acima deste valor, de acordo com os normativos do Programa,

deveriam ter preferência em sua seleção. A presente análise foi realizada tendo

como base a Fase 1 do PMCMV, compreendida entre os anos de 2009 e 2010.

Quanto à operacionalização do estudo, buscou-se, inicialmente, caracterizar

os municípios que foram contemplados com o Programa – contrastando-os com os

não selecionados –, em relação aos seus aspectos demográficos e

socioeconômicos. O passo seguinte foi examinar, a partir do teste Qui-Quadrado, se

a seleção dos municípios mineiros contemplados foi relacionada com o seu DHR.

Por fim, buscou-se determinar, a partir de um teste de médias, se os municípios

selecionados possuem de fato déficit habitacional superior àqueles não

selecionados. Este processo está sumarizado na Figura 1.

Figura 1 – Processo de operacionalização da Pesquisa

Fonte: Elaboração própria.

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Sobre as origens dos dados, as variáveis utilizadas se referem ao ano de

2010 e tiveram como fontes: (a) Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) para extrair o Déficit Habitacional Relativo de 0 a 3 salários

mínimos; (b) Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS) para coletar a Taxa

de Urbanização (%), População Total, PIB per capita (R$) e Percentual de Pessoas

com renda domiciliar per capita inferior a R$ 255,00; (c) Atlas do Desenvolvimento

Humano no Brasil, desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD), para levantar a Esperança de vida ao nascer e a

expectativa de anos de estudo.

Como forma de propiciar os meios para a consecução dos referidos objetivos,

a presente seção metodológica versa sobre o teste não paramétrico Qui-Quadrado e

apresenta o teste de médias para amostras independentes.

3.1 Teste Qui-Quadrado

Para Maroco (2007), o teste Qui-Quadrado tem como finalidade testar se

duas ou mais populações (ou grupos) independentes diferenciam relativamente a

determinada característica, i.e, se a frequência com que os elementos da amostra se

repartem pelas classes de uma variável nominal categorizada é ou não idêntica. A

intensidade dessa relação, quando se analisa variáveis qualitativas, é feita a partir

de medidas de associação, sendo o teste Qui-Quadrado uma destas possibilidades.

Este teste, segundo Ayres et al. (2007), é conhecido também como teste de

aderência (goodnes of fit) quando as variáveis são teoricamente supostas

dependentes ou independentes. A estatística do teste é dada por Siegel e Castellan

(1998, apud Pestana e Gageiro, 2005), conforme a Equação 1.

1 2

2k

ji e

eo

f

ffX (1)

Sendo: ⨍o = frequência observada; ⨍e = frequência esperada.

É importante notar que só se rejeita H0 à medida que a frequência observada

se afasta da esperada, ou seja, quando os valores obtidos para o X2 forem grandes

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383

e seu p-valor se encontrar abaixo do nível de significância estabelecido (AYRES et

al., 2007). Para o estudo, admite-se um nível de significância 0,05 (5%). Logo,

qualquer p valor abaixo desse valor rejeita-se H0.

3.2 Teste de Médias Para Amostras Independentes

Estabelecida a possível associação entre o déficit habitacional e os

municípios contemplados com o PMCMV Oferta Pública, o presente artigo utilizou-se

do Teste de Médias para amostras independentes com o objetivo de estabelecer se

de fato os municípios selecionados possuem déficits habitacionais superiores aos

não selecionados. Nesse sentido, na Tabela 1 apresentam-se informações sobre o

respectivos pressupostos e fórmulas deste teste de médias.

Tabela 1 – Teste de Médias para amostras independentes e seus pressupostos

Pressupostos Equação

Inferências a

partir de duas

médias para

amostras

independentes

𝜎1 e 𝜎2 são desconhecidos e não se faz

qualquer suposição sobre sua igualdade;

As duas amostras são independentes;

Ambas as amostras são amostras

aleatórias simples; e

Uma, ou ambas, das seguintes condições

é satisfeita: Os dois tamanhos amostrais

são ambos grandes (com n1 > 30 e n2 >

30) ou ambas as amostras provem de

populações com distribuições normais.

Onde:

𝜇1: média da população 1;

𝜇2: média da população 2; 𝓍 1: média

amostral da população 1; 𝓍 2: média

amostral da população 2; 𝓃1:

tamanho da amostra 1; 𝓃2 : tamanho

da amostra 2.

Fonte: Elaboração própria com base em Pestana e Gageiro (2005) e Maroco (2007).

Tem-se amostras independentes, segundo Triola (2005), caso os valores

amostrais de uma população não estejam relacionados ou, de alguma forma,

emparelhados ou combinados com valores amostrais selecionados da outra

população.

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384

4 RESULTADOS: análises e discussões

Antes de se recorrer aos respectivos testes estatísticos para o cumprimento

dos objetivos do trabalho, serão apresentadas algumas informações a respeito dos

aspectos demográficos e socioeconômicos dos 787 municípios aptos a receberem o

PMCMV-OPR em Minas Gerais. Assim, categorizando os municípios a partir da sua

seleção ou não no Programa, elenca-se na Tabela 2, um resumo das diferentes

características dos grupos. Utilizou-se, para tal exposição, dos instrumentos da

estatística descritiva.

Tabela 2 – Análise exploratória dos municípios mineiros contemplados ou não pelo programa

Categoria VARIÁVEL MÍN. MÁX. MÉDIA DESV.

PADRÃO

Municípios NÃO

Contempla-dos

N= 650

Déficit Habit. Relativo 0-3 s.m. (%) 0,96 23,30 7,32 3,1

Taxa de urbanização (%) 18,56 100 65,00 18,62

População Total 815 49.491 10.304 8.867

Esperança de vida ao nascer (anos) 68,37 78,1 74,32 1,73

Expectativa de anos de estudo (anos) 6,03 11,04 9,04 0,78

PIB per capita (R$) 3.594 239.745 11.651 16.178

(%) de Pessoas com renda domiciliar per capita inferior R$ 255,00

0 72 29,0 15,59

Municípios

Contempla-dos

N = 137

Déficit Habit. Relativo 0-3 s.m. (%) 2,01 20,35 8,35 3,72

Taxa de urbanização (%) 30,61 100 67,00 15,93

População Total 1.373 45.799 12.768 10.282

Esperança de vida ao nascer (anos) 68,39 77,80 74,05 1,85

Expectativa de anos de estudo (anos) 7,11 10,89 9,08 0,70

PIB per capita (R$) 4.194 66.850 12.197 10.036

(%) de Pessoas com renda domiciliar per capita inferior R$ 255,00

5 65 33,0 16,34

Fonte: Resultados da pesquisa.

Como se pode verificar, os municípios contemplados com o PMCMV-OPR

possuíam, em média, um DHR de 8,35% contra 7,32% dos municípios não

participantes. As outras duas variáveis demográficas observadas, População Total e

Taxa de urbanização, também apresentaram médias superiores no grupo dos

municípios selecionados. As maiores médias das respectivas variáveis demográficas

apontadas pela estatística descritiva dos municípios selecionados estão de acordo

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com o que é descrito por Bonduki (2004) e Maricato (2008), segundo os quais as

questões relativas ao crescimento7 e ao movimento das populações estão

intimamente relacionadas às necessidades habitacionais.

Outro ponto da Análise Exploratória dos Dados (AED), em consonância com a

literatura, diz respeito à conexão entre desigualdade de renda e déficit habitacional.

De acordo com Abiko (1995), a desigualdade da distribuição de renda no Brasil seria

a principal causa dos problemas habitacionais. Nos estratos populacionais mais

pobres, concentra-se a parcela mais substantiva das carências habitacionais (FJP,

2016) e, ainda, a maior dificuldade em acessar créditos públicos para o

financiamento de habitações sociais (PARENTE, 2003). Assim, o maior déficit

habitacional observado nos municípios selecionados pode ser explicado justamente

pela maior vulnerabilidade social dessas localidades. Por fim, as variáveis que

representaram aspectos relacionados a longevidade8 da população e a expectativa

de anos de estudo9, em média, se mantiveram similares entre os grupos,

evidenciando certa homogeneidade nos grupos em análise.

Uma vez concluída a AED, a segunda fase deste trabalho examinou se a

seleção dos municípios mineiros contemplados com o PMCMV-OPR foi relacionada

com seu DHR. Para tanto, fez-se uso do teste Qui-Quadrado e estabeleceu-se duas

hipóteses testadas pela respectiva técnica:

Hipótese H0: A seleção do município pelo PMCMV-OPR independe do seu

DHR estar acima da média estadual;

Hipótese H1: A seleção do município pelo programa PMCMV-OPR está

relacionada ao seu DHR estar acima da média estadual.

Na Tabela 4 apresentam-se os resultados do teste Qui-Quadrado.

7 Para Larcher (2005), há consenso de que as cidades têm crescido e com elas cresce a população

com dificuldade em conseguir habitações adequadas, influenciando diretamente a necessidade habitacional daquela localidade.

8 Essa variável foi incluída nessa análise pois, segundo Larcher (2005), com o crescimento da

longevidade, o ciclo de vida das famílias é aumentado criando novas necessidades para as habitações que devem ser adaptadas para os requisitos de pessoas idosas.

9 Ainda para Larcher (2005) o nível educacional está diretamente relacionado com a ocupação e

remuneração: quanto maior a escolaridade, maior a possibilidade de geração de renda permanente e a capacidade de aquisição e manutenção da habitação.

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Tabela 4 – Resultados do Teste Qui-Quadrado

Valor Df p-valor

Chi-quadrado de Pearson 10,275a 1 0,001

Correção de continuidadeb 9,649 1 0,002

Razão de probabilidade 9,937 1 0,002

Associação Linear por Linear 10,262 1 0,001

N de Casos Válidos 787

Fonte: Resultados da pesquisa. Nota: a. 0 células (0,0%) esperam contagem menor do que 5. A contagem mínima esperada é 46,83; b. Computado apenas para uma tabela 2x2

Tendo em vista que a presente análise foi feita em uma amostra com apenas

duas categorias (2 x 2), o teste Qui-Quadrado sofre uma a correção de continuidade

– denominada correção Yates – e seu p-valor a ser observado é o da Correção de

Continuidade (AYRES et al., 2007). Assim, com base no p-valor de 0,002, rejeita-se

a hipótese de nulidade e aceita-se que a escolha dos municípios contemplados com

o PMCMV-OPR relaciona-se ao seu DHR estar acima da média estadual.

Este resultado demonstra que, para o nível de significância utilizado, as duas

variáveis são correlacionadas, de forma a apontar para a focalização entre produção

habitacional e déficit. Entretanto, segundo Maroco (2007), o teste Qui-Quadrado

apenas informa sobre a relação de independência ou dependência entre as

variáveis, mas nada diz sobre o grau de associação existente. Desta forma,

buscando observar se, de fato, a melhor focalização ocorre justamente entre os

municípios nos quais a atuação do Programa deveria ser prioritária, fez-se uso do

teste de médias para amostras independentes que determinará se os municípios

selecionados possuem realmente déficit habitacional superior àqueles não

selecionados. Para tanto, adotou-se as seguintes hipóteses estatísticas:

H0: As médias do DHRs são iguais entre os municípios selecionados/não

selecionados pelo PMCMV-OPR;

H1: As médias do DHRs são diferentes entre os municípios selecionados/não

selecionados pelo PMCMV-OPR;

Na Tabela 6, apresentam-se os resultados do Teste T.

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Tabela 6 – Resultados do Teste T de amostras independentes

T

DF

p-valor

Diferença média

Erro padrão de diferença

95% Intervalo de confiança da diferença

Inferior Superior

3,012 179,080 0,003 -1,02765% 0,34121% -1,70097% -0,35434%

Fonte: Resultados da pesquisa.

Com P-valor observado em 0,003, o teste t rejeita a hipótese H0, e, portanto,

conclui-se, para o nível de significância de 5%, que existe diferença significativa

entre as médias dos DHRs entre os municípios selecionados ou não pelo PMCMV

Oferta Pública. Os municípios contemplados com o Programa possuem, de fato,

déficits habitacionais superiores, em média, aos não selecionados.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista que o déficit habitacional deveria ser um dos aspectos

norteadores da seleção do PMCMV-OPR – conforme seu arcabouço normativo –, e

observando-se a escassez de análises sobre esta modalidade, o presente artigo

buscou avaliar em que medida a modalidade Oferta Pública de Recursos, entre os

anos de 2009 e 2010, foi implementada no estado de Minas Gerais com base nos

respectivos déficits habitacionais dos municípios selecionados.

A partir dos dados do Censo (2010), o presente trabalho determinou o déficit

habitacional relativo médio no estado de Minas Gerais, para a faixa de renda de 0 a

3 salários mínimos – faixa esta que está contido o programa PMCMV Oferta Pública

-, em 8,15%, e analisou a aderência do déficit habitacional na seleção do Programa.

Com base nos resultados do teste Qui-Quadrado, que indicou a existência de

relação entre o déficit e a seleção dos municípios que implementaram o Programa,

juntamente com os resultados do teste de médias, que atestaram a diferença entre

médias do déficit habitacional nos municípios selecionados/não selecionados,

conclui-se que a implantação do PMCMV-OPR, fase 1, em Minas Gerais, possuiu

aderência às estratégias de enfrentamento do déficit habitacional, o que o

aproximou, nesse período, de uma política habitacional stricto sensu, especialmente

de habitação de interesse social. A hipótese segundo a qual existe relação entre a

escolha dos municípios mineiros e o seu respectivo déficit habitacional foi

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comprovada, o que atestou a eficácia do Programa em relação a este critério

normativo.

Assim, ao contrário de trabalhos como os de Krause et al., (2013) e Neto et al.

(2015), os quais sugerem a não focalização ao déficit habitacional de outras

modalidades do PMCMV, como as financiadas pelo FAR e pelo FGTS, o presente

estudo atestou a eficácia do PMCMV-OPR, em sua fase 1, no estado de Minas

Gerais, em relação ao seu respectivo critério normativo. Além disso, a análise

exploratória dos municípios aptos a receberem a política mostrou que as cidades

contempladas apresentaram índices de desigualdade de renda superiores àquelas

não selecionadas, o que pode sugerir que as melhores focalizações estejam

ocorrendo justamente entre os municípios onde a atuação do Programa deveria ser

prioritária.

Diante do conjunto de informações analisadas, a contribuição teórica do artigo

revela-se incremental ao conjunto de pesquisas direcionadas ao campo de avaliação

de políticas públicas em construção e consolidação no país. A análise de uma

modalidade específica do PMCMV, sob o critério da eficácia, revela a importância de

se monitorarem as iniciativas governamentais e de lhes conferir visibilidade. Em

termos práticos, evidencia-se a combinação de testes estatísticos parcimoniosos

com o objetivo de auxiliar no delineamento das respostas aos problemas de

pesquisa traçados.

Para a continuidade dessa agenda de pesquisa, sugere-se analisar também o

cumprimento dos critérios de seleção do PMCMV-OPR sob o ponto de vista dos

beneficiários, de modo a averiguar se o programa está realmente atendendo a seu

público-alvo. Faz-se necessário, ainda, discutir o aspecto locacional da produção do

Programa de forma intramunicipal, a fim de analisar se esses empreendimentos

estão localizados em terrenos mais próximos de onde se encontram as

necessidades habitacionais.

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