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Oo Literatura Portuguesa · 11.º ano Manual Caderno de Atividades Livro do Professor* e-Manual Premium Contamos com o seu melhor. Conte com o nosso.

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Literatura Portuguesa · 11.º ano

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Grelhas de avaliação Planificação anual por sequência

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Construção do saber

• Propostas de trabalho para construção autónoma de saber, com informações de apoio ao trabalho dos textos nos Recursos do Projeto (e-Manual Premium)

• Glossário temático No final de cada sequência surge um glossário relacionado com os textos e os autores estudados

Ficha formativaNo final de cada sequência surge uma ficha formativa com a estrutura do Exame Nacional sobre os conteúdos trabalhados.

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• Caderno de Atividades

• Livro do Professor e outros materiais de apoio (editáveis)

– Planificação por sequência de ensino-aprendizagem – Guia do Professor (soluções, sugestões e informações

relevantes) – Materiais de apoio ao desenvolvimento do PIL – Grelhas de avaliação (escrita, oralidade, PIL e portefólio) – Soluções, grelhas de correção e cotações das fichas

formativas do manual – Correção das atividades de grupo do manual

O acesso à versão definitiva do e-Manual Premium é exclusivo do Professor adotante e estará disponível a partir de setembro de 2014.

e-Manual do Aluno O acesso ao e-Manual do Aluno é disponibilizado, gratuitamente, na compra do manual em papel, no ano letivo 2014-2015, e poderá ser adquirido autonomamente através da Internet.

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São ainda apresentados ao longo das sequências:

Projeto individual de leitura

• Atividades para desenvolvimento do projeto, com sugestões de leituras contextualizadas com autores e obras do programa

Leitura para informação

• Textos informativos, com sugestões de exploração nos Recursos do Projeto (e-Manual Premium)

• Esquemas de apoio ao estudo das obras do programa

Caderno de Atividades• Quadros-síntese e esquemas sobre autores e obras

do Programa• Fichas de trabalho sobre as sequências de ensino-

-aprendizagem segundo a estrutura de Exame Nacional (com sugestões de resolução)

• Exercícios de expressão escrita• Exemplo de resolução de prova de Exame Nacional• Glossários globais de termos literários e de recursos

estilísticos

2

Livro do Professor*• Estrutura e organização do manual• Planificação por sequência de ensino-aprendizagem• Guia do professor para o manual: – cenários de resposta dos questionários – sugestões de outras atividades – informações relevantes – remissões para os Recursos do Projeto

(e-Manual Premium)

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Estrutura das sequências

Todas as sequências se organizam de acordo com um conjunto de secções que se sucedem, conjugam ou complementam.São elas:Pré-leituraLeitura / CompreensãoOralidadeEscrita com a literaturaEscrita sobre a literaturaPós-leitura

Manual

Estrutura do manual

SEA 0 Antes de partir…Diagnose, Projeto Individual de Leitura, Portefólio

SEA 1 Viagem ao teatro de GarrettUm Auto de Gil Vicente de Almeida Garrett

SEA 2Viagem pelas histórias camilianasA Queda dum Anjo de Camilo Castelo Branco

SEA 3Viagem com os poetas oitocentistasAlmeida Garrett, Antero de Quental, Cesário Verde, António Nobre, Camilo Pessanha

SEA 4Viagem ao teatro de Raul BrandãoO Doido e a Morte de Raul Brandão

SEA 5Viagem ou Aparição, com Vergílio FerreiraAparição de Vergílio Ferreira

SEA 6Viagem à poesia do século XXMário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Alexandre O’Neill, Manuel Alegre

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Livro do Professor* 3Caderno de Atividades 2Manual1 e-Manual Premium (exclusivo para o Professor)4

Cenários de resposta dos questionários do manual e outras informações relevantes no Livro do Professor.

* Disponível na versão definitiva do e-Manual Premium a partir de setembro de 2014.

e-Manual do Aluno5

Viagem ao teatro de Garrett98

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Porto Editora

Paula – El-rei, que vem achar a infanta sua filha com um homem escondido em sua câ-mara. – Devaneai agora à vontade: já completastes a vossa obra.

Bernardim (caindo em si, e com tranquilidade) – Não tenhais receio. Estou perfeitamente em meus sentidos. – Beatriz, um derradeiro adeus – um adeus até ao Céu! – A rola, que perdeu o companheiro, deixa-se morrer de míngua sobre o ramo lascado da árvore em que lho mataram… – Estas águas, em que já baloiça o navio em que te levam – Bea-triz!… (Ajoelha e esconde o rosto entre as mãos da infanta.) estas águas que me roubam tudo… (Ouve-se grande alarido.)

Paula – El-rei que entra…Bernardim – Que tomem também a minha vida. (Arremessa- se, pela varanda do galeão,

ao mar.)Dona Beatriz – Ai! (cai sem sentidos.8)Paula (olha para o rio, e volta em desespero) – Já vai seguido o galeão!

Cena Última

Dona Beatriz, Paula Vicente, El-Rei Dom Manuel e Séquito

Paula ajoelha junto à infanta estendida no chão, e lhe beija a mão muitas vezes, leva-a ao coração, e levanta-se precipitadamente. – Neste mesmo instante entra el-rei.

Dom Manuel – O último adeus, minha filha, um abraço ainda! (Todos rodeiam a infanta.) Já o galeão vai navegado! Tomou-a o susto. – Filha! (Aparte.) Eu constrangi sua von-tade. – Meus Deus, se eu matei a minha filha!

GARRETT, Almeida. Op. cit.

1. provação, sofrimento ou infelicidade que testa a resistência ou a coragem; 2. castigo, penitência; 3. alivia da pena, con-sola; 4. salvou, libertou (do castigo); 5. ciúmes; 6. haste, caule; 7. ceife, corte (do verbo “segar”); 8. "Na nota E ao canto nono do poema Camões, se promete ilustrar o ponto destes amores de Bernardim Ribeiro e de sua romanesca vida. Mas não me atrevo por ora a cumprir tal promessa. Aqui atirei com ele ao mar porque me era preciso; e o público disse que era bem ati-rado. É o que me importa. Se ele foi ou não a Saboia depois, como eu já cuidei averiguado, se andou doido pela serra de Sintra, também me não atrevo a certificar, – O que parece mais certo é que não morreu de paixão porque depois foi feito comendador da Ordem de Cristo, e governador de S. Jorge da Mina, onde talvez morresse de alguma carneirada; materialís-simo e mui prosaico fim de tão romântica, saudosa e poética vida. Aprendei aqui, ó Beatrizes deste mundo!" (A. Garrett).

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Um Auto de Gil Vicente 99

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Leitura Compreensão

1. Relaciona as referências ao rei nas segunda e terceira falas de Beatriz com as palavras de D. Manuel no início da cena II do terceiro ato (página 88).

2. Partindo da leitura atenta do verbete abaixo, justifica a utilização do adjetivo “fatal” na caracterização do anel feita por D. Beatriz (l. 21).

3. Esclarece as interpretações contraditórias de Paula e D. Beatriz acerca da “surpresa” (l. 21) da noite anterior.

4. Analisa as falas de Bernardim Ribeiro, explicitando os seus traços românticos, nomeada-mente no que diz respeito a:

conceção e caracterização da mulher amada;

papel da morte;

linguagem e recursos expressivos.

5. Aponta dois elementos cénicos que contribuem para intensificar o dilema expresso por Paula na cena XIII.

6. Reconstitui, com base no excerto, as fases do desenvolvimento emocional de Bernardim no final da peça.

7. Comenta a importância da fala de D. Manuel com que termina a peça de Garrett.

8. Identifica o momento temporal em que decorrem os acontecimentos das cenas transcritas.

8.1. Relaciona-o com o dos atos anteriores e apresenta uma interpretação simbólica dessa progressão.

Escrita com a literatura

1. Transforma as cenas finais de Um Auto de Gil Vicente (cenas XII a XIV) num texto narrativo.

Considera, para além das falas das personagens, as informações fornecidas nas didascá-lias, e apresenta o relato através de um narrador homo ou autodiegético. Podes integrar momentos de diálogo e breves passagens descritivas.

Começa por planificar o teu texto e, depois da textualização, revê cuidadosamente a tua produção, corrigindo eventuais falhas, aperfeiçoando o discurso e enriquecendo-o esti-listicamente.

Fatal adj. 2 gén. 1. traçado pelo destino ou fado; 2. que traz consigo a desgraça e a infelicidade; 3. que causa a morte; 4. que não se pode alterar nem evitar; inevitável; irrevogável • Do latim fata–le-, “idem”

Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 2010. Porto: Porto Editora

Ver Glossário p. 109

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Viagem à poesia do século XX378

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Pré-leitura Oralidade

1. Escuta atentamente a emissão do programa Sinais, da TSF, cujo título é “A palavra ‘apenas’”.

1.1. Resume os acontecimentos que suscitam a reflexão de Fernando Alves.

1.2. Justifica o título da crónica.

1.3. Comenta, a partir da rubrica radiofónica, a importância que uma palavra/as palavras pode(m) ter.

Há palavras que nos beijamHá palavras que nos beijamComo se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído No papel abandonado)

Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte.

O’NEILL, Alexandre. Op. cit.

Leitura Compreensão

1. Apresenta a tua interpretação dos dois primeiros versos do poema.

2. Analisa o sentido da segunda estrofe.

3. Comenta a funcionalidade do discurso parentético.

4. Faz a descrição da estrutura externa do poema.

Manuel Cargaleiro, sem título, 1968

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Alexandre O’Neill 379

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Escrita sobre a literatura

1. Relê a terceira estrofe do poema de Alexandre O’Neill da página anterior.

1.1. Elabora uma breve apresentação fundamentada de duas palavras que, para ti, se assumem habitualmente como “coloridas / Entre palavras sem cor”.

1.2. Compara a tua opinião com a dos teus colegas e escrevam conjuntamente um texto que revele as preferências vocabulares da turma.

Escrita com a literatura

1. Completa, com palavras que consideres adequadas e expressivas, os espaços em branco no excerto da crónica de Manuel António Pina, em que o autor reflete sobre o tema das palavras e da sua relação com os seres humanos. Toma atenção à classe das palavras que deves utilizar em cada caso (indicada entre parênteses) e seleciona vocábulos que garan-tam a coerência do texto.

As palavras são seres (a) (adjetivo). Mesmo as mais (b) (adjetivo) e mais (c) (adjetivo), dessas que servem, não para (d) (verbo), mas para (e) (verbo), têm (f)

(nome) e (g) (nome) de sentido que nos deixam de repente ainda mais (h) (adjetivo) diante do (i) (adjetivo) mundo de todos os dias. E palavras (j) (adjetivo) e (k) (ad-jetivo), pelas quais pensámos um dia ser capazes de (l) (verbo) e envelheceram con-nosco ou julgávamos (m) (adjetivo), assomam-nos ainda às vezes aos lábios vindas do

(n) (nome) da (o) (nome) (ou, quem sabe?, do (p) (nome) do coração) como se nos dissessem: “Sou eu, não me ouves chamar?”

PINA, Manuel António, “O ano da morte de José Saramago”, in Notícias Magazine, n.º 945, 4 de julho de 2010

Pós-leitura Oralidade

1. Atenta na primeira estrofe do poema “As Palavras”, de Eugénio de Andrade.

1.1. Identifica a comparação que, na tua opinião, evidencia de forma mais expressiva a natureza das palavras.

1.1.1. Organiza com os teus colegas um diálogo argumentativo no qual troquem impressões sobre as diferentes perspetivas apresentadas na resposta à ques-tão anterior.

São como um cristal,as palavras.Algumas, um punhal,um incêndio.Outras,orvalho apenas.

ANDRADE, Eugénio, 2013. Coração do Dia – Mar de setembro. Porto: Assírio & Alvim

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Pré-leitura

1. Observa atentamente o cartoon e descreve objetivamente a situação representada.

1.1. Relaciona a sua dimensão metafórica com o momento narrativo apresentado no excerto de A Queda dum Anjo abaixo transcrito.

XXXIII – EscândalosAbriram-se as Câmaras.A oposição espantou-se de ver o deputado por Miranda conversando muito mão por

mão com os ministros. O abade de Estevães ousou perguntar ao seu colega, amigo e corre-ligionário1, de que rumo estava. Calisto respondeu que estava no rumo em que o farol da civilização alumiava com mais clara luz. O desembargador do eclesiástico redarguiu com admoestações benévolas. O morgado sorriu-lhe na cara veneranda2, e disse-lhe:

– Meu amigo, abra os olhos, que não há martirológio3 para as toupeiras. As ideias não se formam na cabeça do homem; voejam na atmosfera, respiram-se no ar, bebem-se na água, coam-se no sangue, entram nas moléculas, e refundem, reformam e renovam a compleição do homem.10

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Luís Afonso, in Sociedade Recreativa

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Pós-leitura

1. Lê com atenção o texto de Ricardo Araújo Pereira.

1.1. Estabelece uma leitura intertextual entre a crónica e A Queda dum Anjo, apontando semelhanças ao nível das temáticas exploradas e dos meios colocados ao serviço da crítica pelos autores.

Elogio dos deputadosNa quarta-feira da semana passada, só 110 dos 230 depu-

tados estiveram presentes na Assembleia da República. O país melindrou-se. Eu cá gostei. A debandada é a prova de que a nossa democracia funciona na perfeição. Não esqueço que os deputados são os representantes do povo português, e eu estou disposto a apostar que aquilo que eles fizeram é exatamente o que o povo português faria se estivesse no lugar deles: assi-nar o livro de ponto à sorrelfa e pirar-se para umas férias prolongadas. Nós somos assim, pelo que me parece muito saudável, poli-ticamente falando, que os nossos repre-sentantes sejam uma cristalização ainda mais espertalhona dessa maneira de ser. Sim, claro: o país não avança e tal. Mas a gente diverte-se bastante.

Sempre que calha haver um ano com muitos feriados junto de fins de semana, recebo dezenas de e-mails (às vezes ainda em setembro do ano anterior) que dizem: “Amigos, vem aí um ano com muitas pontes! Comecem já a preparar as férias!” […] Posso garantir que nunca recebi um único e-mail a dizer: “Amigos, vem aí um ano com muitas pontes! Vamos todos dar as mãos e, em prol do futuro do nosso país, trabalhemos a dobrar nesses fins de semana prolongados, para que não haja qual-quer decréscimo de produtividade!” […]

Saúdo, por isso, o comportamento, bem português, dos nossos parlamentares. Mais: compreendo perfeitamente que, regra geral, os deputados evitem compare-cer na Assembleia da República. Parece que o sítio é muito mal frequentado. E fica-ria muito desiludido se punissem os deputados pelo que fizeram no dia 12. Já lhes tiraram o direito de viajar em primeira classe. Agora, exigem-lhes presença conti-nuada na Assembleia da República. Se continuam a tirar-lhes as regalias todas, qualquer dia ninguém quer ir para deputado. Assim, mais vale ir trabalhar. E o mer-cado de trabalho já é suficientemente difícil sem termos cem ou duzentos destes espertalhões do parlamento a concorrerem connosco.

PEREIRA, Ricardo Araújo, 2007. Boca do Inferno. Lisboa: Tinta-da-China (4.ª ed.)

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João Fazenda

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VIAGEM… DO TEXTO AO CONTEXTOViagem… do texto ao contexto114

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O escrever de hoje Dizem que o escrever de hoje é dessorado1 de erudição, leviano2, vaporoso3, ginástico,

estridente, cabalístico4, bafagem5 de brisa, balão aerostático6, fogo chinês, vicejante, on-dulante, estrepitoso e abismador!

Não é tudo assim. Popularizada a literatura, era necessário despojá-la das alfaias7 graves e sinceras da

ciência, trazê-la da profundeza da erudição à superfície das inteligências vulgares, e vesti--la do maravilhoso surpreendedor, já que o lógico verosímil é repelido da biblioteca da burguesa e do artista. Para captar a bene-volência da leitora, precisava-se da história de uns amores trágicos, urgentes, e lamen-tosos. Para a do artista, cumpria ampliar--lhe a órbita do espírito apoucado, osten-tando-lhe no molde do romance a forma real, augusta, e humanitária da arte. O estilo devia ser exagerado como o pensamento: quimérico8, híbrido, e mentiroso como todas as teorias, criadas no caos de todas as práticas.

Trabalho exclusivamente do coração, artima-nha política, método civilizador, era aquele o único adaptado para cabeças sem cultura, sem sistema, prenhes de utopias e fumos de socialismo, como ele se escreve em jornais e romances. Criou-se, pois, uma escola militante. E o povo aplaude esses estereótipos baratos consagrados ao povo, entenda ou não entenda o que lê, possa ou não possa digerir e dirigir o que entende. […]

O certo é que existe uma escola romântica, democrata, social e regeneradora. Não tem academias, nem paragem determinada. É imensa, elétrica e omnipotente. Lá é que se aprende a agradar às turbas, delas se inspira esta mocidade coroada e corajosa, é dela finalmente que surdem os apodos9 e vaias literá-rias para os que sacrificam ao passado o cabedal de inteligência negativa para esta socie-dade aspiradora.

O escritor destas cousas ainda não abriu matrícula, nem pede que o inscrevam ainda à custa de uma boa reputação de folhetinista. Se a escola, em nome do século, do futuro e da humanidade, o interrogar pela substância útil deste apontoado de palavras, o autor não lhe dá resposta alguma.

CASTELO BRANCO, Camilo, “Introdução a Anátema [1851]”, apud REIS, Carlos, e PIRES, Maria da Natividade, 1993. História Crítica da Literatura, vol. V. Lisboa: Verbo

1. fraco; 2. que denota pouco juízo; 3. leve, pouco consistente; 4. misterioso, obscuro; 5. sopro brando; 6. que se equilibra no ar; 7. instrumentos; 8. fantástico; 9. ditos zombeteiros, chacotas.

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André Carrilho, Camilo Castelo Branco, in Única, n.º 1798, 14 de abril de 2007

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Um Auto de Gil Vicente 107

Projeto Individual de Leitura

1. Atenta no texto da contracapa da obra Os Dias da Febre de João Pedro Marques.

“Os Dias da Febre narra as circunstâncias que conduziram ao reencontro de Robert e Elvira, e o que dele decorreu. O cerne da ação situa-se em 1857, quando Lisboa estava a ser atingida por uma epidemia da febre-amarela que mataria quase 5 mil pessoas. É nesse contexto alar-mante e febril que a intriga se desenvolve e que o leitor é convidado não só a conviver com as figuras da época, mas também a percorrer a cidade em toda a sua diversidade […]. Isto signi-fica que não estamos apenas perante um romance sobre uma epidemia, a morte e o amor: Os Dias da Febre é também uma viagem pelos sons, os cheiros, as gentes, as casas, os costu-mes, as cores – numa palavra, pela vida – da Lisboa de meados do século XIX.”

1.1. Estabelece pontos de aproximação entre a ação do romance e a de Um Auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett.

1.2. Lê o excerto do livro.

A carruagem percorreu ruidosamente os últimos metros de calçada estreita e escura e desaguou na luz intensa do Rossio, de-tendo-se junto ao Teatro D. Maria II. Carlos desceu vagarosamente […]. Fixou o seu olhar opaco na mulher e, estendendo a mão, grande como uma pá, ajudou-a a descer. Depois, cumprimentou discretamente alguns conhecidos e, com Elvira pelo braço, entrou no teatro. […]

Elvira e Carlos estavam a sentar-se nos seus lugares, no cama-rote, quando soaram as pancadas de Molière e a sala começou a escurecer. Elvira ainda teve tempo de reparar que os lugares esta-vam quase todos ocupados. Por ela, teria gostado de estar mais em cima do palco, na primeira fila se possível, mas Carlos achava que os camarotes eram preferí-veis à plateia, pois preservavam as senhoras do risco e incómodo de se sentarem ao lado de algum atrevido.

O pano abriu-se devagar, deixando ver um cenário fantástico […].Depois, a peça começava a correr em direção ao seu núcleo central: o amor intenso, mas

proibido, de um oficial inglês, o médico do regimento recém-chegado, por uma bela mulher francesa, casada com um importante cidadão local. A peça tinha algumas passagens franca-mente ousadas e eróticas, tanto no que os amantes diziam um ao outro, como no que faziam. Havia uma cena em que a bela francesa permitia que o médico lhe pegasse no pé descalço. E uma outra onde, já à saída de cena e a caminho dos bastidores, se sugeria um beijo apaixo-nado, na boca, e se via, projetada no cenário, a sombra dos dois amantes, enlaçados.

Elvira, que fora conquistada desde o primeiro momento, estava perfeitamente imóvel, chegada para a frente, com os cotovelos apoiados no rebordo de marroquim1 do camarote, e seguindo todo o enredo com extremo interesse e atenção. Identificara-se de imediato com a vivacidade da francesa, deixara-se encantar pela gentileza do médico e tomara partido por aquela paixão clandestina. Nunca condenaria uma mulher que seguisse, como a francesa se-guia, os ditames do seu coração. Nunca! Carlos, por seu lado, cedo começara a agitar-se na cadeira. Sentia-se algo incomodado e perguntava a si próprio como é que certas cenas tinham sido autorizadas num espetáculo público e num teatro nacional em Lisboa.

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Projeto Individual de Leitura

1. Lê atentamente o poema.

O poema (I)

Esclarecendo que o poemaé um duelo agudíssimoquero eu dizer um dedoagudíssimo claroapontado ao coração do homem

falocom uma agulha de sanguea coser-me todo o corpoà garganta

e a esta terra imóvelonde já a minha sombraé um traço de alarme

JORGE, Luiza Neto, in CRUZ, Gastão (seleção e prefácio), 2004. Quinze Poetas Portugueses do Século XX. Lisboa: Assírio & Alvim

1.1. Interpreta:

a. a definição metafórica de poema apresentada na primeira estrofe;

b. a imagem utilizada na quadra;

c. a relação sujeito poético/destinatário descrita ao longo do poema.

1.2. Propõe um novo título para o poema, fundamentando a tua escolha com dois argu-mentos decorrentes da leitura do texto.

1.3. O poema de Luiza Neto Jorge integra a antologia Quinze Poetas Portugueses do Século XX, organizada por Gastão Cruz, que contempla igualmente textos de Fer-nando Pessoa, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa e Herberto Helder, entre outros poetas de novecentos.

Se te interessa conhecer a produção poética nacional do século passado, faz a lei-tura integral da obra e elabora uma ficha de leitura sobre ela. Arquiva-a, depois, no teu Projeto Individual de Leitura.

2. Caso te cativem as antologias poéticas, podes ainda ler uma das coletâneas abaixo sugeridas.

FANHA, José, e LETRIA, José Jorge. Cem Poemas Portugueses no Feminino.

FANHA, José, e LETRIA, José Jorge. Cem Sonetos Portugueses.

FANHA, José, e LETRIA, José Jorge. Cem Poemas Portugueses do Riso e do Maldizer.

MOURA, Vasco Graça. 366 Poemas que Falam de Amor.

PEDROSA, Inês. Poesia de Amor (Antologia de poesia portuguesa).

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Leitura Compreensão

1. Interpreta a afirmação: “Tão grande é a nomeada de V. Ex.ª que nem se faz mister o apelido” (ll. 5-6).

2. Justifica a opção do remetente de não “tratar pelo título” (l. 2) Camilo Castelo Branco.

3. Resume as avaliações contraditórias da obra de Camilo apresentadas nos parágrafos dois a quatro.

4. Comenta o efeito de sentido produzido com a comparação do autor a um “franco-atirador” (l. 41).

5. Analisa a expressividade da frase “Matéria não falta aí…” (l. 44), no contexto da reflexão sobre a “sátira política” (l. 43) do autor de A Queda dum Anjo.

6. Regista as informações biográficas de Camilo Castelo Branco apresentadas no texto.

Construção do saber

1. Faz uma pesquisa sobre a vida e a obra de Camilo Castelo Branco que te per-mita, com a informação recolhida, com-pletar os dados biográficos do autor em falta no texto da página seguinte.

Para o efeito, podes consultar, entre outros textos, os verbetes/capítulos dedi-cados a Camilo nas obras:

AA.VV. Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, vol. 1. Lisboa: Verbo

AA. VV. História da Literatura Portuguesa – O Romantismo, vol. 4. Mem Martins: Alfa

BUESCU, Helena Carvalhão (coord.). Dicionário do Romantismo Literário Português. Lisboa: Caminho

CABRAL, Alexandre. Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho

COELHO, Jacinto do Prado (dir.). Dicionário de Literatura Portuguesa, vol. 1. Porto: Figueirinhas

FRANÇA, José-Augusto. O Romantismo em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte

LOPES, Óscar, e SARAIVA, António José. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora

PAIS, Amélia Pinto. História da Literatura Portuguesa – Uma Perspetiva Didática, vol. 2. Porto: Areal

REIS, Carlos. Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Lisboa: Universidade Aberta REIS, Carlos, e PIRES, Maria da Natividade. História Crítica da Literatura Portuguesa [O Romantismo], vol. V. Lisboa: Verbo

José Passos, Escritório de Camilo, sem data

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Camilo: o autor e a obra 119

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Um homem que escreveu tão depressa quanto viveu

A vastidão da bibliografia camiliana é motivo mais do que suficiente para desper-tar-nos a curiosidade acerca da sua vida. Com efeito, a mais de uma centena de títu-los, que, durante (a) anos (1850- (b) ), apareceram com a chancela de Camilo Castelo Branco sugere-nos, desde logo, que estamos em presença de um caso invul-gar de fertilidade literária, passível, no entanto, de uma qualquer explicação. Aquela que se nos afigura mais verosímil é a de buscarmos na vida do homem as motivações mais próximas para a sua obra, apesar de reconhecermos, desde já, que a obra literá-ria é, parafraseando o poeta, um fingimento. A de Camilo é, decerto, também um fingimento, mas um “fingimento verdadeiro”. […]

Dissemos, e insistimos, que a vida de Camilo poderá justificar, até certo ponto, a sua fecundidade literária, porque este homem escreveu tão depressa quanto viveu, sem, todavia, escrever à pressa. Mencionemos, por isso, alguns episódios da vida ca-miliana que possam fornecer-nos tal justificação.

Filho de pai solteiro, que perdeu aos (c) anos, então já órfão de mãe, Camilo deixa (d) , onde nascera, e vai com a (e) viver para Vila Real, para casa da sua

(f) Rita que, conluiada com o amante, defrauda as crianças na herança a que ti-nham direito. Aos 16 anos, casa-se, em Ribeira de Pena, com (g) , a Quininha, um ano mais nova do que ele. O nascimento da filha (h) perturbou, decerto, Camilo, que se viu pai aos 18 anos. Estamos em (i) , ano em que decide sair de Vila Real e vir para o (j) , matriculando-se na Escola Médica, que não chegará a completar, tendo perdido um ano, pelo menos, por faltas. Aos 21 anos […], Camilo inicia uma regular colaboração jornalística no Nacional e no Periódico dos Pobres, dois jornais ideologicamente antagónicos, o que nos permite antever o profissional da pena que sempre seria.

Viúvo de Quininha, aos 22 anos, continua Camilo a escrever para viver. Por vezes com dificuldades que não adivinharia, já que alguns dos seus escritos jornalísticos lhe granjearam fortes inimizades. […]

Em 1857, temo-lo em Viana do Castelo a chefiar a redação do jornal A Aurora do Lima. Parece que a razão fundamental por que terá ido para Viana se prendeu com a estadia, nessa cidade, de Ana Plácido […].

Ana Plácido entra, então, na vida de Camilo para não mais sair dela. Foi ela a sua mulher fatal, que compartilhou com ele a felicidade da casa de São Miguel de Ceide, mas também o infortúnio duma cela da Cadeia da (k) , onde ambos estiveram pre-sos alguns meses por acusação do marido de Ana Plácido, o rico comerciante lis-boeta (l) , desejoso de vingar o escândalo adulterino de Camilo com a sua mulher.

Os sintomas duma (m) irremediável vêm, por fim, juntar-se a esta vida senti-mental e socialmente atribulada. O (n) , em 1890, aos (o) anos, foi, por isso, a única saída que Camilo encontrou para poder morrer livre, isto é, perdidos os olhos indispensáveis para a sua sobrevivência como escritor, sua profissão de sempre, não quis o autor de A Queda dum Anjo suscitar compaixão ou caridade. Escreveu livre-mente, por isso escolheu morrer livremente.

TRIGO, Salvato, “Introdução”, in CASTELO BRANCO, Camilo, 1999. A Queda dum Anjo. Porto: Civilização (adaptado)

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272 Ficha Formativa

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Grupo I

Faz a leitura atenta do excerto de O Doido e a Morte que se segue.

Sr. Milhões – És uma sombra e bff… (Sopra-lhe e o outro estremece) faço-te desaparecer como uma sombra. Tenho de suprimir a ninharia da vida. Estas duas coisas não podem mais coabitar – esta estupidez e este sonho dorido e imenso, o grotesco de todos os dias, quando do outro lado galopa e passa uma coisa sôfrega e imensa. Tu não te podes chamar Baltazar Moscoso, e ao mesmo tempo existir o céu estrelado. Venham todos os fantasmas!

Governador Civil – Acudam! acudam! acudam!

Sr. Milhões – Não posso viver com isto, frenético e doirado, e regular a existência como o maquinismo dum relógio; não posso às mesmas horas – eu nisso sou como um pêndulo – fazer certa coisa imunda num buraco de secção elíptica, quando o mundo está cheio de gritos e o meu pensamento se eleva às mais altas elucubrações filosóficas. Pff! pff! Não, não posso com este esplendor e esta abjeção, este ridículo e este desespero – e vamos morrer! vamos enfim morrer! (Vai carregar no botão).

Governador Civil – Alto! alto! alto!

Sr. Milhões – Soou a hora.

Governador Civil – Morrer! Mo… Mas eu não estou doente! Nem a cabeça me dói… Então eu hei de ser governador civil e morrer?! Então eu hei de ter talento e morrer?!

Sr. Milhões – É hora de morrer.

Governador Civil – O senhor é cruel. Não me dispute os últimos momentos.

Sr. Milhões – O que eu sou é seu amigo. Tenho estado aqui a prepará-lo para a grande hora da libertação. Há mais alguma coisa que lhe possa fazer? Vai agora?

Governador Civil – O senhor é pior que um inquisidor. Não me tire os últimos segundos, os segundos dum condenado à morte. Aposto que está a gozar com a minha agonia. Em troca da vida dou-lhe tudo o que quiser, a minha influência, o meu dinheiro, as minhas peças, a glória.

Sr. Milhões – Recuso, sou intransigente nos meus princípios.

BRANDÃO, Raul, 2001. O Doido e a Morte. Lisboa: Colibri

Responde, de modo completo e cuidado, às perguntas apresentadas.

1. Localiza o excerto na globalidade da obra a que pertence.

2. Aponta dois dos traços de carácter de cada uma das personagens, fundamentando a tua resposta com elementos textuais.

3. Interpreta as palavras do Sr. Milhões, no contexto em que ocorrem: “Tu não te podes cha-mar Baltazar Moscoso, e ao mesmo tempo existir o céu estrelado.” (ll. 4-5)

4. Sintetiza a crítica social veiculada pelo diálogo entre os dois interlocutores.

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Grupo II

Lê com atenção o poema abaixo transcrito.

Ser doido-alegre

Ser doido-alegre, que maior ventura! Morrer vivendo p’ ra além da verdade. É tão feliz quem goza tal loucura Que nem na morte crê, que felicidade!

Encara, rindo, a vida que o tortura, Sem ver na esmola, a falsa caridade, Que bem no fundo é só vaidade pura, Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso, A felicidade que esse doido tem De ver no purgatório um paraíso...

Direi, ao contemplar o seu sorriso, Ai quem me dera ser doido também P’ra suportar melhor quem tem juízo.

ALEIXO, António, 2007. Este Livro que Vos Deixo.... Cruz Quebrada: Casa das Letras (15.ª ed.)

Responde, de modo completo e cuidado, às perguntas apresentadas.

1. Delimita as diferentes partes do poema, fundamentando a tua resposta.

2. Com base nas duas quadras, indica três traços que caracterizam o “doido-alegre” (v. 1).

3. Comenta a importância do último terceto na construção do sentido global do soneto.

4. Identifica dois dos recursos estilísticos presentes no texto, realçando a sua expressivi-dade.

Grupo III

Num texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras, apresenta as tuas impressões de leitura da peça O Doido e a Morte de Raul Brandão.

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67Ficha de trabalho 15 Sequência 6 – Poesia do século XX

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.

1. Refere um efeito de sentido produzido pela anáfora “E eu caminhei” (vv. 1 e 5).

2. Interpreta o valor simbólico das seguintes palavras: “branco” (vv. 2 e 3), “cinza” (vv. 4 e 18), “azul” e “roxo” (v. 6).

3. Caracteriza a atitude do sujeito poético descrita ao longo da segunda, da terceira e da quarta estrofes.

Grupo I

Lê atentamente o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen.

O hospital e a praia

E eu caminhei no hospitalOnde o branco é desolado e sujoOnde o branco é a cor que fica onde não há corE onde a luz é cinza

E eu caminhei nas praias e nos camposO azul do mar e o roxo da distânciaEnrolei-os em redor do meu pescoçoCaminhei na praia quase livre como um deus

Não perguntei por ti à pedra meu Senhor1

Nem me lembrei de ti bebendo o ventoO vento era vento e a pedra pedraE isso inteiramente me bastava

E nos espaços da manhã marinhaQuase livre como um deus eu caminhava

E todo o dia vivi como uma cega

Porém no hospital eu vi o rostoQue não é pinheiral nem é rochedoE vi a luz como cinza na paredeE vi a dor absurda e desmedida

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, 1995. Obra Poética II. Lisboa: Caminho (2.ª ed.)

1. Deus.

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Sequência 6 Viagem à poesia do século XX

(Quadro elaborado a partir de: LOPES, Óscar, e SARAIVA, António José, 2005. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora (17.ª ed.); PAIS, Amélia Pinto, 2005. História da Literatura em Portugal – Uma perspetiva didática, vol. 3. Porto: Areal; ROCHA, Clara, 1995. O essencial sobre Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda)

As influências

Os temas

Drama identitário – crise de personalidade

Egolatria ou egotismo exacerbado (“megalomania egolátrica”, segundo Óscar Lopes e António José Saraiva)

O mito de Narciso

Inadequação para a vida e para os sentimentos

Autopiedade e ternura

Hipertrofia do eu

Dispersão

Labirinto

Imagem da ponte

Desdobramento do “eu” em outros

Oposição sonhos altos (sonho de Além)/incapacidade de voo, com consequente queda e frustração – “Ícaro estatelado”

Perda, queda e frustração

Paixão pelo abismo e pela morte

Incapacidade de fruir

Evasão (sono, esquecimento, drogas, regresso à infância)

Nostalgia da infância

Autoironia

Culto da Beleza

Gosto:

· pelos símbolos

· pelas imagens brilhantes

· pelas transposições de sensações e sinestesias

Temática do sonho e da evasão

Conceção do poeta como “exilado da beleza”

Decadentismo e Simbolismo

PaulismoSensacionismo

e Futurismo

Reforço dos traços comuns ao Simbolismo no domínio

· das sinestesias

· da metáfora

· da construção sintática

Associações insólitas

Sensações brutais;

Experimentalismo ao nível do significante gráfico das palavras e ao nível fónico (sobretudo com a acumulação de onomatopeias)

A poesia de Mário de Sá-Carneiro

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Porto Editora

Leitura para informação

Os elementos trágicos em Aparição

Caracterização de personagens

SofiaDescrição assente na sensualidade, na sedução carnal e num comportamento e numa ideologia marcados pelo apelo ao desviante.

Carolino

Apresentação centrada nos traços disformes e invulgares que conferem à personagem uma aparência serena e inofensiva. A sua ingenuidade aparente revelar-se-á como incapacidade de compreender cabalmente as teorias de Alberto, acabando por deturpá-las para justificar o(s) seu(s) ato(s) de loucura e de destruição.

Espaço Os espaços do Alentejo simbolicamente associados à desgraça.

PresságiosIndícios recorrentes, ao longo da ação, do final fatídico da história de Alberto em Évora (omnipresença da discussão sobre a morte, alusões a “espetros”, a estátua de Florbela Espanca).

Elementos da tragédia clássica

Hybris (desafio)

A atitude existencialista de Alberto Soares é um desafio à organização social estabelecida – ele é considerado um elemento desestabilizador da pacata cidade de Évora. Sofia, por seu lado, provoca, seduz, não estabelece laços, desafiando a moral instituída e afirmando, assim, a sua consciência da angústia que marca a condição humana e que muitos procuram ignorar; Carolino leva a loucura às últimas consequências, tentando, através da sua atitude, o assassínio, ultrapassar a sua própria condição de ser humano, desejando alcançar uma essência divina.1

Pathos(sofrimento)

As personagens experimentam o sofrimento face à descoberta e à sua incapacidade de encontrar “soluções”.1

Ágon (conflito) O conflito interior das personagens.

Anagnórise(reconhecimento)

O reconhecimento funciona, na obra, ao nível da descoberta do próprio “eu” e do processo de redobramento que caracteriza a construção das personagens; Alberto reconhece-se, parcialmente, noutras figuras humanas.1

Katastrophé(catástrofe)

Morte física de Cristina e de Sofia. Anulação de Carolino.

Ananké(destino)

O destino está omnipresente ao longo da obra mas “Alberto, ele próprio, concretiza-se em agente do destino, já que será ele que irá despertar os inconscientes adormecidos e chamá-los à descoberta, que […] será uma maldição punível, por vezes, com a própria vida. Como elemento “perturbador”, ele vai, inconscientemente, associar-se à força do próprio destino, precipitando-se e aos que o ouvem para um desenlace trágico.”2

1. JACINTO, Conceição, e LANÇA, Gabriela, 2001. Aparição – Vergílio Ferreira. Porto: Porto Editora (adaptado e com supressões); 2. GONÇALVES, Maria da Graça Verschneider, e SANTOS, Teresa Paula, 1998. Introdução ao estudo de “Aparição”. Coimbra: Almedina (2.ª ed.)

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Leitura para informação

A poesia de Mário de Sá-Carneiro

Em homenagem publicada no n.º 2 da revista Athena (novembro de 1924), escreve Fernando Pessoa: “Morre jovem o que os Deuses amam é um preceito da sabe-doria antiga. E por certo a imaginação, que figura novos mundos, e a arte, que em obras os finge são os sinais notáveis d’ esse amor divino. Não conce-dem os Deuses esses dons para que sejamos felizes, senão para que sejamos seus pares. Quem ama ama só a igual, porque o faz igual com amá-lo. […]

“[…] Génio na arte, não teve Sá-Carneiro nem alegria nem felicidade nesta vida. Só a arte, que fez ou que sentiu, por instantes o turbou de consolação. São assim os que os Deuses fadaram seus. Nem o amor os quer, nem a esperança os busca, nem a glória os acolhe. Ou morrem jovens, ou a si mes-mos sobrevivem, íncolas1 da incompreensão ou da indiferença. Este morreu jovem, porque os Deuses lhe tiveram muito amor […]”.

Estas palavras, escritas por quem melhor o conheceu e compreendeu, resumem o destino trágico daquele que foi seu companheiro da aventura órfica2, fiel discípulo e “único grande amigo”. Incompreendido pelos contemporâneos, como os demais “malu-quinhos de Orpheu”, Mário de Sá-Carneiro teve sempre em Fernando Pessoa um leitor atento e crítico, que muito contribuiu para afinar a sua personalidade literária e, após o suicídio, para lhe divulgar a obra junto do grande público. […]

Foi Pessoa o primeiro a render preito3 ao génio de Mário de Sá-Carneiro, que não lhe permitiu ter “alegria nem felicidade nesta vida”. Essa genialidade teve expressão, de facto, numa ânsia de absoluto, lograda4 e consciente do seu logro5, que constituiu certa-mente um dos motivos profundos do suicídio do poeta. A forma obsessiva como na sua obra alude ao suicídio, seja nos contos, seja nos poemas, seja na correspondência en-viada a Fernando Pessoa (vejam-se, sobretudo, as cartas de março e abril de 1916) mos-tra como o “mal de viver” cedo se lhe instalou na alma (“tédio”, “náusea”, “dor” são alguns dos nomes que dá ao seu cansaço de viver) e como as razões invocadas nas últimas cartas (dificuldades financeiras, complicações amorosas) foram apenas o pretexto ime-diato do seu ato de desespero. Como tem sido sublinhado em diversos estudos críticos, toda a obra de Sá-Carneiro é uma encenação do suicídio e a ele conduz. […]

O poema “Quase” [cf. Caderno de Atividades, pp. 64-65] é, na nossa poesia, uma das mais lúcidas e pungentes formulações da frustração, da impossibilidade de absoluto, do percurso de as-censão e queda que o autor de “Vislumbre” levou até às últimas consequências. Em inúme-ras metáforas, surpreendentes ora pela sua bizarria ora pelo seu dramatismo, Sá-Carneiro glosou essa mágoa de ser “quase”, de não chegar “além”, e n’ “Os Últimos Poemas” (escritos entre novembro de 1915 e 1916) deixou-nos uma imagem ora autopiedosa ora impiedosa

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Construção do saber

• Propostas de trabalho para construção autónoma de saber, com informações de apoio ao trabalho dos textos nos Recursos do Projeto (e-Manual Premium)

• Glossário temático No final de cada sequência surge um glossário relacionado com os textos e os autores estudados

Ficha formativaNo final de cada sequência surge uma ficha formativa com a estrutura do Exame Nacional sobre os conteúdos trabalhados.

e-Manual PremiumVersão digital do manual com acesso a todos os Recursos do Projeto em contexto.

• Registos áudio e vídeo

• Registos radiofónicos

• Transcrição de registos áudio e radiofónicos

• PowerPoint® didáticos (apoio ao estudo das obras/autores do Programa)

• Outros (Inter)Textos por sequência

• Materiais de apoio à rubrica “Construção do saber”

• Materiais de apoio à exploração dos textos da rubrica “Leitura para informação”

• Caderno de Atividades

• Livro do Professor e outros materiais de apoio (editáveis)

– Planificação por sequência de ensino-aprendizagem – Guia do Professor (soluções, sugestões e informações

relevantes) – Materiais de apoio ao desenvolvimento do PIL – Grelhas de avaliação (escrita, oralidade, PIL e portefólio) – Soluções, grelhas de correção e cotações das fichas

formativas do manual – Correção das atividades de grupo do manual

O acesso à versão definitiva do e-Manual Premium é exclusivo do Professor adotante e estará disponível a partir de setembro de 2014.

e-Manual do Aluno O acesso ao e-Manual do Aluno é disponibilizado, gratuitamente, na compra do manual em papel, no ano letivo 2014-2015, e poderá ser adquirido autonomamente através da Internet.

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São ainda apresentados ao longo das sequências:

Projeto individual de leitura

• Atividades para desenvolvimento do projeto, com sugestões de leituras contextualizadas com autores e obras do programa

Leitura para informação

• Textos informativos, com sugestões de exploração nos Recursos do Projeto (e-Manual Premium)

• Esquemas de apoio ao estudo das obras do programa

Caderno de Atividades• Quadros-síntese e esquemas sobre autores e obras

do Programa• Fichas de trabalho sobre as sequências de ensino-

-aprendizagem segundo a estrutura de Exame Nacional (com sugestões de resolução)

• Exercícios de expressão escrita• Exemplo de resolução de prova de Exame Nacional• Glossários globais de termos literários e de recursos

estilísticos

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Livro do Professor*• Estrutura e organização do manual• Planificação por sequência de ensino-aprendizagem• Guia do professor para o manual: – cenários de resposta dos questionários – sugestões de outras atividades – informações relevantes – remissões para os Recursos do Projeto

(e-Manual Premium)

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Estrutura das sequências

Todas as sequências se organizam de acordo com um conjunto de secções que se sucedem, conjugam ou complementam.São elas:Pré-leituraLeitura / CompreensãoOralidadeEscrita com a literaturaEscrita sobre a literaturaPós-leitura

Manual

Estrutura do manual

SEA 0 Antes de partir…Diagnose, Projeto Individual de Leitura, Portefólio

SEA 1 Viagem ao teatro de GarrettUm Auto de Gil Vicente de Almeida Garrett

SEA 2Viagem pelas histórias camilianasA Queda dum Anjo de Camilo Castelo Branco

SEA 3Viagem com os poetas oitocentistasAlmeida Garrett, Antero de Quental, Cesário Verde, António Nobre, Camilo Pessanha

SEA 4Viagem ao teatro de Raul BrandãoO Doido e a Morte de Raul Brandão

SEA 5Viagem ou Aparição, com Vergílio FerreiraAparição de Vergílio Ferreira

SEA 6Viagem à poesia do século XXMário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Alexandre O’Neill, Manuel Alegre

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Livro do Professor* 3Caderno de Atividades 2Manual1 e-Manual Premium (exclusivo para o Professor)4

Cenários de resposta dos questionários do manual e outras informações relevantes no Livro do Professor.

* Disponível na versão definitiva do e-Manual Premium a partir de setembro de 2014.

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Paula – El-rei, que vem achar a infanta sua filha com um homem escondido em sua câ-mara. – Devaneai agora à vontade: já completastes a vossa obra.

Bernardim (caindo em si, e com tranquilidade) – Não tenhais receio. Estou perfeitamente em meus sentidos. – Beatriz, um derradeiro adeus – um adeus até ao Céu! – A rola, que perdeu o companheiro, deixa-se morrer de míngua sobre o ramo lascado da árvore em que lho mataram… – Estas águas, em que já baloiça o navio em que te levam – Bea-triz!… (Ajoelha e esconde o rosto entre as mãos da infanta.) estas águas que me roubam tudo… (Ouve-se grande alarido.)

Paula – El-rei que entra…Bernardim – Que tomem também a minha vida. (Arremessa- se, pela varanda do galeão,

ao mar.)Dona Beatriz – Ai! (cai sem sentidos.8)Paula (olha para o rio, e volta em desespero) – Já vai seguido o galeão!

Cena Última

Dona Beatriz, Paula Vicente, El-Rei Dom Manuel e Séquito

Paula ajoelha junto à infanta estendida no chão, e lhe beija a mão muitas vezes, leva-a ao coração, e levanta-se precipitadamente. – Neste mesmo instante entra el-rei.

Dom Manuel – O último adeus, minha filha, um abraço ainda! (Todos rodeiam a infanta.) Já o galeão vai navegado! Tomou-a o susto. – Filha! (Aparte.) Eu constrangi sua von-tade. – Meus Deus, se eu matei a minha filha!

GARRETT, Almeida. Op. cit.

1. provação, sofrimento ou infelicidade que testa a resistência ou a coragem; 2. castigo, penitência; 3. alivia da pena, con-sola; 4. salvou, libertou (do castigo); 5. ciúmes; 6. haste, caule; 7. ceife, corte (do verbo “segar”); 8. "Na nota E ao canto nono do poema Camões, se promete ilustrar o ponto destes amores de Bernardim Ribeiro e de sua romanesca vida. Mas não me atrevo por ora a cumprir tal promessa. Aqui atirei com ele ao mar porque me era preciso; e o público disse que era bem ati-rado. É o que me importa. Se ele foi ou não a Saboia depois, como eu já cuidei averiguado, se andou doido pela serra de Sintra, também me não atrevo a certificar, – O que parece mais certo é que não morreu de paixão porque depois foi feito comendador da Ordem de Cristo, e governador de S. Jorge da Mina, onde talvez morresse de alguma carneirada; materialís-simo e mui prosaico fim de tão romântica, saudosa e poética vida. Aprendei aqui, ó Beatrizes deste mundo!" (A. Garrett).

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Leitura Compreensão

1. Relaciona as referências ao rei nas segunda e terceira falas de Beatriz com as palavras de D. Manuel no início da cena II do terceiro ato (página 88).

2. Partindo da leitura atenta do verbete abaixo, justifica a utilização do adjetivo “fatal” na caracterização do anel feita por D. Beatriz (l. 21).

3. Esclarece as interpretações contraditórias de Paula e D. Beatriz acerca da “surpresa” (l. 21) da noite anterior.

4. Analisa as falas de Bernardim Ribeiro, explicitando os seus traços românticos, nomeada-mente no que diz respeito a:

conceção e caracterização da mulher amada;

papel da morte;

linguagem e recursos expressivos.

5. Aponta dois elementos cénicos que contribuem para intensificar o dilema expresso por Paula na cena XIII.

6. Reconstitui, com base no excerto, as fases do desenvolvimento emocional de Bernardim no final da peça.

7. Comenta a importância da fala de D. Manuel com que termina a peça de Garrett.

8. Identifica o momento temporal em que decorrem os acontecimentos das cenas transcritas.

8.1. Relaciona-o com o dos atos anteriores e apresenta uma interpretação simbólica dessa progressão.

Escrita com a literatura

1. Transforma as cenas finais de Um Auto de Gil Vicente (cenas XII a XIV) num texto narrativo.

Considera, para além das falas das personagens, as informações fornecidas nas didascá-lias, e apresenta o relato através de um narrador homo ou autodiegético. Podes integrar momentos de diálogo e breves passagens descritivas.

Começa por planificar o teu texto e, depois da textualização, revê cuidadosamente a tua produção, corrigindo eventuais falhas, aperfeiçoando o discurso e enriquecendo-o esti-listicamente.

Fatal adj. 2 gén. 1. traçado pelo destino ou fado; 2. que traz consigo a desgraça e a infelicidade; 3. que causa a morte; 4. que não se pode alterar nem evitar; inevitável; irrevogável • Do latim fata–le-, “idem”

Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 2010. Porto: Porto Editora

Ver Glossário p. 109

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Pré-leitura Oralidade

1. Escuta atentamente a emissão do programa Sinais, da TSF, cujo título é “A palavra ‘apenas’”.

1.1. Resume os acontecimentos que suscitam a reflexão de Fernando Alves.

1.2. Justifica o título da crónica.

1.3. Comenta, a partir da rubrica radiofónica, a importância que uma palavra/as palavras pode(m) ter.

Há palavras que nos beijamHá palavras que nos beijamComo se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído No papel abandonado)

Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte.

O’NEILL, Alexandre. Op. cit.

Leitura Compreensão

1. Apresenta a tua interpretação dos dois primeiros versos do poema.

2. Analisa o sentido da segunda estrofe.

3. Comenta a funcionalidade do discurso parentético.

4. Faz a descrição da estrutura externa do poema.

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Escrita sobre a literatura

1. Relê a terceira estrofe do poema de Alexandre O’Neill da página anterior.

1.1. Elabora uma breve apresentação fundamentada de duas palavras que, para ti, se assumem habitualmente como “coloridas / Entre palavras sem cor”.

1.2. Compara a tua opinião com a dos teus colegas e escrevam conjuntamente um texto que revele as preferências vocabulares da turma.

Escrita com a literatura

1. Completa, com palavras que consideres adequadas e expressivas, os espaços em branco no excerto da crónica de Manuel António Pina, em que o autor reflete sobre o tema das palavras e da sua relação com os seres humanos. Toma atenção à classe das palavras que deves utilizar em cada caso (indicada entre parênteses) e seleciona vocábulos que garan-tam a coerência do texto.

As palavras são seres (a) (adjetivo). Mesmo as mais (b) (adjetivo) e mais (c) (adjetivo), dessas que servem, não para (d) (verbo), mas para (e) (verbo), têm (f)

(nome) e (g) (nome) de sentido que nos deixam de repente ainda mais (h) (adjetivo) diante do (i) (adjetivo) mundo de todos os dias. E palavras (j) (adjetivo) e (k) (ad-jetivo), pelas quais pensámos um dia ser capazes de (l) (verbo) e envelheceram con-nosco ou julgávamos (m) (adjetivo), assomam-nos ainda às vezes aos lábios vindas do

(n) (nome) da (o) (nome) (ou, quem sabe?, do (p) (nome) do coração) como se nos dissessem: “Sou eu, não me ouves chamar?”

PINA, Manuel António, “O ano da morte de José Saramago”, in Notícias Magazine, n.º 945, 4 de julho de 2010

Pós-leitura Oralidade

1. Atenta na primeira estrofe do poema “As Palavras”, de Eugénio de Andrade.

1.1. Identifica a comparação que, na tua opinião, evidencia de forma mais expressiva a natureza das palavras.

1.1.1. Organiza com os teus colegas um diálogo argumentativo no qual troquem impressões sobre as diferentes perspetivas apresentadas na resposta à ques-tão anterior.

São como um cristal,as palavras.Algumas, um punhal,um incêndio.Outras,orvalho apenas.

ANDRADE, Eugénio, 2013. Coração do Dia – Mar de setembro. Porto: Assírio & Alvim

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A Queda dum Anjo 149

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Pré-leitura

1. Observa atentamente o cartoon e descreve objetivamente a situação representada.

1.1. Relaciona a sua dimensão metafórica com o momento narrativo apresentado no excerto de A Queda dum Anjo abaixo transcrito.

XXXIII – EscândalosAbriram-se as Câmaras.A oposição espantou-se de ver o deputado por Miranda conversando muito mão por

mão com os ministros. O abade de Estevães ousou perguntar ao seu colega, amigo e corre-ligionário1, de que rumo estava. Calisto respondeu que estava no rumo em que o farol da civilização alumiava com mais clara luz. O desembargador do eclesiástico redarguiu com admoestações benévolas. O morgado sorriu-lhe na cara veneranda2, e disse-lhe:

– Meu amigo, abra os olhos, que não há martirológio3 para as toupeiras. As ideias não se formam na cabeça do homem; voejam na atmosfera, respiram-se no ar, bebem-se na água, coam-se no sangue, entram nas moléculas, e refundem, reformam e renovam a compleição do homem.10

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Luís Afonso, in Sociedade Recreativa

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Pós-leitura

1. Lê com atenção o texto de Ricardo Araújo Pereira.

1.1. Estabelece uma leitura intertextual entre a crónica e A Queda dum Anjo, apontando semelhanças ao nível das temáticas exploradas e dos meios colocados ao serviço da crítica pelos autores.

Elogio dos deputadosNa quarta-feira da semana passada, só 110 dos 230 depu-

tados estiveram presentes na Assembleia da República. O país melindrou-se. Eu cá gostei. A debandada é a prova de que a nossa democracia funciona na perfeição. Não esqueço que os deputados são os representantes do povo português, e eu estou disposto a apostar que aquilo que eles fizeram é exatamente o que o povo português faria se estivesse no lugar deles: assi-nar o livro de ponto à sorrelfa e pirar-se para umas férias prolongadas. Nós somos assim, pelo que me parece muito saudável, poli-ticamente falando, que os nossos repre-sentantes sejam uma cristalização ainda mais espertalhona dessa maneira de ser. Sim, claro: o país não avança e tal. Mas a gente diverte-se bastante.

Sempre que calha haver um ano com muitos feriados junto de fins de semana, recebo dezenas de e-mails (às vezes ainda em setembro do ano anterior) que dizem: “Amigos, vem aí um ano com muitas pontes! Comecem já a preparar as férias!” […] Posso garantir que nunca recebi um único e-mail a dizer: “Amigos, vem aí um ano com muitas pontes! Vamos todos dar as mãos e, em prol do futuro do nosso país, trabalhemos a dobrar nesses fins de semana prolongados, para que não haja qual-quer decréscimo de produtividade!” […]

Saúdo, por isso, o comportamento, bem português, dos nossos parlamentares. Mais: compreendo perfeitamente que, regra geral, os deputados evitem compare-cer na Assembleia da República. Parece que o sítio é muito mal frequentado. E fica-ria muito desiludido se punissem os deputados pelo que fizeram no dia 12. Já lhes tiraram o direito de viajar em primeira classe. Agora, exigem-lhes presença conti-nuada na Assembleia da República. Se continuam a tirar-lhes as regalias todas, qualquer dia ninguém quer ir para deputado. Assim, mais vale ir trabalhar. E o mer-cado de trabalho já é suficientemente difícil sem termos cem ou duzentos destes espertalhões do parlamento a concorrerem connosco.

PEREIRA, Ricardo Araújo, 2007. Boca do Inferno. Lisboa: Tinta-da-China (4.ª ed.)

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VIAGEM… DO TEXTO AO CONTEXTOViagem… do texto ao contexto114

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O escrever de hoje Dizem que o escrever de hoje é dessorado1 de erudição, leviano2, vaporoso3, ginástico,

estridente, cabalístico4, bafagem5 de brisa, balão aerostático6, fogo chinês, vicejante, on-dulante, estrepitoso e abismador!

Não é tudo assim. Popularizada a literatura, era necessário despojá-la das alfaias7 graves e sinceras da

ciência, trazê-la da profundeza da erudição à superfície das inteligências vulgares, e vesti--la do maravilhoso surpreendedor, já que o lógico verosímil é repelido da biblioteca da burguesa e do artista. Para captar a bene-volência da leitora, precisava-se da história de uns amores trágicos, urgentes, e lamen-tosos. Para a do artista, cumpria ampliar--lhe a órbita do espírito apoucado, osten-tando-lhe no molde do romance a forma real, augusta, e humanitária da arte. O estilo devia ser exagerado como o pensamento: quimérico8, híbrido, e mentiroso como todas as teorias, criadas no caos de todas as práticas.

Trabalho exclusivamente do coração, artima-nha política, método civilizador, era aquele o único adaptado para cabeças sem cultura, sem sistema, prenhes de utopias e fumos de socialismo, como ele se escreve em jornais e romances. Criou-se, pois, uma escola militante. E o povo aplaude esses estereótipos baratos consagrados ao povo, entenda ou não entenda o que lê, possa ou não possa digerir e dirigir o que entende. […]

O certo é que existe uma escola romântica, democrata, social e regeneradora. Não tem academias, nem paragem determinada. É imensa, elétrica e omnipotente. Lá é que se aprende a agradar às turbas, delas se inspira esta mocidade coroada e corajosa, é dela finalmente que surdem os apodos9 e vaias literá-rias para os que sacrificam ao passado o cabedal de inteligência negativa para esta socie-dade aspiradora.

O escritor destas cousas ainda não abriu matrícula, nem pede que o inscrevam ainda à custa de uma boa reputação de folhetinista. Se a escola, em nome do século, do futuro e da humanidade, o interrogar pela substância útil deste apontoado de palavras, o autor não lhe dá resposta alguma.

CASTELO BRANCO, Camilo, “Introdução a Anátema [1851]”, apud REIS, Carlos, e PIRES, Maria da Natividade, 1993. História Crítica da Literatura, vol. V. Lisboa: Verbo

1. fraco; 2. que denota pouco juízo; 3. leve, pouco consistente; 4. misterioso, obscuro; 5. sopro brando; 6. que se equilibra no ar; 7. instrumentos; 8. fantástico; 9. ditos zombeteiros, chacotas.

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André Carrilho, Camilo Castelo Branco, in Única, n.º 1798, 14 de abril de 2007

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Um Auto de Gil Vicente 107

Projeto Individual de Leitura

1. Atenta no texto da contracapa da obra Os Dias da Febre de João Pedro Marques.

“Os Dias da Febre narra as circunstâncias que conduziram ao reencontro de Robert e Elvira, e o que dele decorreu. O cerne da ação situa-se em 1857, quando Lisboa estava a ser atingida por uma epidemia da febre-amarela que mataria quase 5 mil pessoas. É nesse contexto alar-mante e febril que a intriga se desenvolve e que o leitor é convidado não só a conviver com as figuras da época, mas também a percorrer a cidade em toda a sua diversidade […]. Isto signi-fica que não estamos apenas perante um romance sobre uma epidemia, a morte e o amor: Os Dias da Febre é também uma viagem pelos sons, os cheiros, as gentes, as casas, os costu-mes, as cores – numa palavra, pela vida – da Lisboa de meados do século XIX.”

1.1. Estabelece pontos de aproximação entre a ação do romance e a de Um Auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett.

1.2. Lê o excerto do livro.

A carruagem percorreu ruidosamente os últimos metros de calçada estreita e escura e desaguou na luz intensa do Rossio, de-tendo-se junto ao Teatro D. Maria II. Carlos desceu vagarosamente […]. Fixou o seu olhar opaco na mulher e, estendendo a mão, grande como uma pá, ajudou-a a descer. Depois, cumprimentou discretamente alguns conhecidos e, com Elvira pelo braço, entrou no teatro. […]

Elvira e Carlos estavam a sentar-se nos seus lugares, no cama-rote, quando soaram as pancadas de Molière e a sala começou a escurecer. Elvira ainda teve tempo de reparar que os lugares esta-vam quase todos ocupados. Por ela, teria gostado de estar mais em cima do palco, na primeira fila se possível, mas Carlos achava que os camarotes eram preferí-veis à plateia, pois preservavam as senhoras do risco e incómodo de se sentarem ao lado de algum atrevido.

O pano abriu-se devagar, deixando ver um cenário fantástico […].Depois, a peça começava a correr em direção ao seu núcleo central: o amor intenso, mas

proibido, de um oficial inglês, o médico do regimento recém-chegado, por uma bela mulher francesa, casada com um importante cidadão local. A peça tinha algumas passagens franca-mente ousadas e eróticas, tanto no que os amantes diziam um ao outro, como no que faziam. Havia uma cena em que a bela francesa permitia que o médico lhe pegasse no pé descalço. E uma outra onde, já à saída de cena e a caminho dos bastidores, se sugeria um beijo apaixo-nado, na boca, e se via, projetada no cenário, a sombra dos dois amantes, enlaçados.

Elvira, que fora conquistada desde o primeiro momento, estava perfeitamente imóvel, chegada para a frente, com os cotovelos apoiados no rebordo de marroquim1 do camarote, e seguindo todo o enredo com extremo interesse e atenção. Identificara-se de imediato com a vivacidade da francesa, deixara-se encantar pela gentileza do médico e tomara partido por aquela paixão clandestina. Nunca condenaria uma mulher que seguisse, como a francesa se-guia, os ditames do seu coração. Nunca! Carlos, por seu lado, cedo começara a agitar-se na cadeira. Sentia-se algo incomodado e perguntava a si próprio como é que certas cenas tinham sido autorizadas num espetáculo público e num teatro nacional em Lisboa.

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Viagem à poesia do século XX342

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Projeto Individual de Leitura

1. Lê atentamente o poema.

O poema (I)

Esclarecendo que o poemaé um duelo agudíssimoquero eu dizer um dedoagudíssimo claroapontado ao coração do homem

falocom uma agulha de sanguea coser-me todo o corpoà garganta

e a esta terra imóvelonde já a minha sombraé um traço de alarme

JORGE, Luiza Neto, in CRUZ, Gastão (seleção e prefácio), 2004. Quinze Poetas Portugueses do Século XX. Lisboa: Assírio & Alvim

1.1. Interpreta:

a. a definição metafórica de poema apresentada na primeira estrofe;

b. a imagem utilizada na quadra;

c. a relação sujeito poético/destinatário descrita ao longo do poema.

1.2. Propõe um novo título para o poema, fundamentando a tua escolha com dois argu-mentos decorrentes da leitura do texto.

1.3. O poema de Luiza Neto Jorge integra a antologia Quinze Poetas Portugueses do Século XX, organizada por Gastão Cruz, que contempla igualmente textos de Fer-nando Pessoa, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa e Herberto Helder, entre outros poetas de novecentos.

Se te interessa conhecer a produção poética nacional do século passado, faz a lei-tura integral da obra e elabora uma ficha de leitura sobre ela. Arquiva-a, depois, no teu Projeto Individual de Leitura.

2. Caso te cativem as antologias poéticas, podes ainda ler uma das coletâneas abaixo sugeridas.

FANHA, José, e LETRIA, José Jorge. Cem Poemas Portugueses no Feminino.

FANHA, José, e LETRIA, José Jorge. Cem Sonetos Portugueses.

FANHA, José, e LETRIA, José Jorge. Cem Poemas Portugueses do Riso e do Maldizer.

MOURA, Vasco Graça. 366 Poemas que Falam de Amor.

PEDROSA, Inês. Poesia de Amor (Antologia de poesia portuguesa).

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Viagem pelas histórias camilianas118

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Leitura Compreensão

1. Interpreta a afirmação: “Tão grande é a nomeada de V. Ex.ª que nem se faz mister o apelido” (ll. 5-6).

2. Justifica a opção do remetente de não “tratar pelo título” (l. 2) Camilo Castelo Branco.

3. Resume as avaliações contraditórias da obra de Camilo apresentadas nos parágrafos dois a quatro.

4. Comenta o efeito de sentido produzido com a comparação do autor a um “franco-atirador” (l. 41).

5. Analisa a expressividade da frase “Matéria não falta aí…” (l. 44), no contexto da reflexão sobre a “sátira política” (l. 43) do autor de A Queda dum Anjo.

6. Regista as informações biográficas de Camilo Castelo Branco apresentadas no texto.

Construção do saber

1. Faz uma pesquisa sobre a vida e a obra de Camilo Castelo Branco que te per-mita, com a informação recolhida, com-pletar os dados biográficos do autor em falta no texto da página seguinte.

Para o efeito, podes consultar, entre outros textos, os verbetes/capítulos dedi-cados a Camilo nas obras:

AA.VV. Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, vol. 1. Lisboa: Verbo

AA. VV. História da Literatura Portuguesa – O Romantismo, vol. 4. Mem Martins: Alfa

BUESCU, Helena Carvalhão (coord.). Dicionário do Romantismo Literário Português. Lisboa: Caminho

CABRAL, Alexandre. Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho

COELHO, Jacinto do Prado (dir.). Dicionário de Literatura Portuguesa, vol. 1. Porto: Figueirinhas

FRANÇA, José-Augusto. O Romantismo em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte

LOPES, Óscar, e SARAIVA, António José. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora

PAIS, Amélia Pinto. História da Literatura Portuguesa – Uma Perspetiva Didática, vol. 2. Porto: Areal

REIS, Carlos. Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Lisboa: Universidade Aberta REIS, Carlos, e PIRES, Maria da Natividade. História Crítica da Literatura Portuguesa [O Romantismo], vol. V. Lisboa: Verbo

José Passos, Escritório de Camilo, sem data

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Camilo: o autor e a obra 119

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Um homem que escreveu tão depressa quanto viveu

A vastidão da bibliografia camiliana é motivo mais do que suficiente para desper-tar-nos a curiosidade acerca da sua vida. Com efeito, a mais de uma centena de títu-los, que, durante (a) anos (1850- (b) ), apareceram com a chancela de Camilo Castelo Branco sugere-nos, desde logo, que estamos em presença de um caso invul-gar de fertilidade literária, passível, no entanto, de uma qualquer explicação. Aquela que se nos afigura mais verosímil é a de buscarmos na vida do homem as motivações mais próximas para a sua obra, apesar de reconhecermos, desde já, que a obra literá-ria é, parafraseando o poeta, um fingimento. A de Camilo é, decerto, também um fingimento, mas um “fingimento verdadeiro”. […]

Dissemos, e insistimos, que a vida de Camilo poderá justificar, até certo ponto, a sua fecundidade literária, porque este homem escreveu tão depressa quanto viveu, sem, todavia, escrever à pressa. Mencionemos, por isso, alguns episódios da vida ca-miliana que possam fornecer-nos tal justificação.

Filho de pai solteiro, que perdeu aos (c) anos, então já órfão de mãe, Camilo deixa (d) , onde nascera, e vai com a (e) viver para Vila Real, para casa da sua

(f) Rita que, conluiada com o amante, defrauda as crianças na herança a que ti-nham direito. Aos 16 anos, casa-se, em Ribeira de Pena, com (g) , a Quininha, um ano mais nova do que ele. O nascimento da filha (h) perturbou, decerto, Camilo, que se viu pai aos 18 anos. Estamos em (i) , ano em que decide sair de Vila Real e vir para o (j) , matriculando-se na Escola Médica, que não chegará a completar, tendo perdido um ano, pelo menos, por faltas. Aos 21 anos […], Camilo inicia uma regular colaboração jornalística no Nacional e no Periódico dos Pobres, dois jornais ideologicamente antagónicos, o que nos permite antever o profissional da pena que sempre seria.

Viúvo de Quininha, aos 22 anos, continua Camilo a escrever para viver. Por vezes com dificuldades que não adivinharia, já que alguns dos seus escritos jornalísticos lhe granjearam fortes inimizades. […]

Em 1857, temo-lo em Viana do Castelo a chefiar a redação do jornal A Aurora do Lima. Parece que a razão fundamental por que terá ido para Viana se prendeu com a estadia, nessa cidade, de Ana Plácido […].

Ana Plácido entra, então, na vida de Camilo para não mais sair dela. Foi ela a sua mulher fatal, que compartilhou com ele a felicidade da casa de São Miguel de Ceide, mas também o infortúnio duma cela da Cadeia da (k) , onde ambos estiveram pre-sos alguns meses por acusação do marido de Ana Plácido, o rico comerciante lis-boeta (l) , desejoso de vingar o escândalo adulterino de Camilo com a sua mulher.

Os sintomas duma (m) irremediável vêm, por fim, juntar-se a esta vida senti-mental e socialmente atribulada. O (n) , em 1890, aos (o) anos, foi, por isso, a única saída que Camilo encontrou para poder morrer livre, isto é, perdidos os olhos indispensáveis para a sua sobrevivência como escritor, sua profissão de sempre, não quis o autor de A Queda dum Anjo suscitar compaixão ou caridade. Escreveu livre-mente, por isso escolheu morrer livremente.

TRIGO, Salvato, “Introdução”, in CASTELO BRANCO, Camilo, 1999. A Queda dum Anjo. Porto: Civilização (adaptado)

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272 Ficha Formativa

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Grupo I

Faz a leitura atenta do excerto de O Doido e a Morte que se segue.

Sr. Milhões – És uma sombra e bff… (Sopra-lhe e o outro estremece) faço-te desaparecer como uma sombra. Tenho de suprimir a ninharia da vida. Estas duas coisas não podem mais coabitar – esta estupidez e este sonho dorido e imenso, o grotesco de todos os dias, quando do outro lado galopa e passa uma coisa sôfrega e imensa. Tu não te podes chamar Baltazar Moscoso, e ao mesmo tempo existir o céu estrelado. Venham todos os fantasmas!

Governador Civil – Acudam! acudam! acudam!

Sr. Milhões – Não posso viver com isto, frenético e doirado, e regular a existência como o maquinismo dum relógio; não posso às mesmas horas – eu nisso sou como um pêndulo – fazer certa coisa imunda num buraco de secção elíptica, quando o mundo está cheio de gritos e o meu pensamento se eleva às mais altas elucubrações filosóficas. Pff! pff! Não, não posso com este esplendor e esta abjeção, este ridículo e este desespero – e vamos morrer! vamos enfim morrer! (Vai carregar no botão).

Governador Civil – Alto! alto! alto!

Sr. Milhões – Soou a hora.

Governador Civil – Morrer! Mo… Mas eu não estou doente! Nem a cabeça me dói… Então eu hei de ser governador civil e morrer?! Então eu hei de ter talento e morrer?!

Sr. Milhões – É hora de morrer.

Governador Civil – O senhor é cruel. Não me dispute os últimos momentos.

Sr. Milhões – O que eu sou é seu amigo. Tenho estado aqui a prepará-lo para a grande hora da libertação. Há mais alguma coisa que lhe possa fazer? Vai agora?

Governador Civil – O senhor é pior que um inquisidor. Não me tire os últimos segundos, os segundos dum condenado à morte. Aposto que está a gozar com a minha agonia. Em troca da vida dou-lhe tudo o que quiser, a minha influência, o meu dinheiro, as minhas peças, a glória.

Sr. Milhões – Recuso, sou intransigente nos meus princípios.

BRANDÃO, Raul, 2001. O Doido e a Morte. Lisboa: Colibri

Responde, de modo completo e cuidado, às perguntas apresentadas.

1. Localiza o excerto na globalidade da obra a que pertence.

2. Aponta dois dos traços de carácter de cada uma das personagens, fundamentando a tua resposta com elementos textuais.

3. Interpreta as palavras do Sr. Milhões, no contexto em que ocorrem: “Tu não te podes cha-mar Baltazar Moscoso, e ao mesmo tempo existir o céu estrelado.” (ll. 4-5)

4. Sintetiza a crítica social veiculada pelo diálogo entre os dois interlocutores.

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Viagem ao teatro de Raul Brandão 273

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Grupo II

Lê com atenção o poema abaixo transcrito.

Ser doido-alegre

Ser doido-alegre, que maior ventura! Morrer vivendo p’ ra além da verdade. É tão feliz quem goza tal loucura Que nem na morte crê, que felicidade!

Encara, rindo, a vida que o tortura, Sem ver na esmola, a falsa caridade, Que bem no fundo é só vaidade pura, Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso, A felicidade que esse doido tem De ver no purgatório um paraíso...

Direi, ao contemplar o seu sorriso, Ai quem me dera ser doido também P’ra suportar melhor quem tem juízo.

ALEIXO, António, 2007. Este Livro que Vos Deixo.... Cruz Quebrada: Casa das Letras (15.ª ed.)

Responde, de modo completo e cuidado, às perguntas apresentadas.

1. Delimita as diferentes partes do poema, fundamentando a tua resposta.

2. Com base nas duas quadras, indica três traços que caracterizam o “doido-alegre” (v. 1).

3. Comenta a importância do último terceto na construção do sentido global do soneto.

4. Identifica dois dos recursos estilísticos presentes no texto, realçando a sua expressivi-dade.

Grupo III

Num texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras, apresenta as tuas impressões de leitura da peça O Doido e a Morte de Raul Brandão.

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67Ficha de trabalho 15 Sequência 6 – Poesia do século XX

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.

1. Refere um efeito de sentido produzido pela anáfora “E eu caminhei” (vv. 1 e 5).

2. Interpreta o valor simbólico das seguintes palavras: “branco” (vv. 2 e 3), “cinza” (vv. 4 e 18), “azul” e “roxo” (v. 6).

3. Caracteriza a atitude do sujeito poético descrita ao longo da segunda, da terceira e da quarta estrofes.

Grupo I

Lê atentamente o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen.

O hospital e a praia

E eu caminhei no hospitalOnde o branco é desolado e sujoOnde o branco é a cor que fica onde não há corE onde a luz é cinza

E eu caminhei nas praias e nos camposO azul do mar e o roxo da distânciaEnrolei-os em redor do meu pescoçoCaminhei na praia quase livre como um deus

Não perguntei por ti à pedra meu Senhor1

Nem me lembrei de ti bebendo o ventoO vento era vento e a pedra pedraE isso inteiramente me bastava

E nos espaços da manhã marinhaQuase livre como um deus eu caminhava

E todo o dia vivi como uma cega

Porém no hospital eu vi o rostoQue não é pinheiral nem é rochedoE vi a luz como cinza na paredeE vi a dor absurda e desmedida

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, 1995. Obra Poética II. Lisboa: Caminho (2.ª ed.)

1. Deus.

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Sequência 6 Viagem à poesia do século XX

(Quadro elaborado a partir de: LOPES, Óscar, e SARAIVA, António José, 2005. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora (17.ª ed.); PAIS, Amélia Pinto, 2005. História da Literatura em Portugal – Uma perspetiva didática, vol. 3. Porto: Areal; ROCHA, Clara, 1995. O essencial sobre Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda)

As influências

Os temas

Drama identitário – crise de personalidade

Egolatria ou egotismo exacerbado (“megalomania egolátrica”, segundo Óscar Lopes e António José Saraiva)

O mito de Narciso

Inadequação para a vida e para os sentimentos

Autopiedade e ternura

Hipertrofia do eu

Dispersão

Labirinto

Imagem da ponte

Desdobramento do “eu” em outros

Oposição sonhos altos (sonho de Além)/incapacidade de voo, com consequente queda e frustração – “Ícaro estatelado”

Perda, queda e frustração

Paixão pelo abismo e pela morte

Incapacidade de fruir

Evasão (sono, esquecimento, drogas, regresso à infância)

Nostalgia da infância

Autoironia

Culto da Beleza

Gosto:

· pelos símbolos

· pelas imagens brilhantes

· pelas transposições de sensações e sinestesias

Temática do sonho e da evasão

Conceção do poeta como “exilado da beleza”

Decadentismo e Simbolismo

PaulismoSensacionismo

e Futurismo

Reforço dos traços comuns ao Simbolismo no domínio

· das sinestesias

· da metáfora

· da construção sintática

Associações insólitas

Sensações brutais;

Experimentalismo ao nível do significante gráfico das palavras e ao nível fónico (sobretudo com a acumulação de onomatopeias)

A poesia de Mário de Sá-Carneiro

Viagem ou Aparição, com Vergílio Ferreira326

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Leitura para informação

Os elementos trágicos em Aparição

Caracterização de personagens

SofiaDescrição assente na sensualidade, na sedução carnal e num comportamento e numa ideologia marcados pelo apelo ao desviante.

Carolino

Apresentação centrada nos traços disformes e invulgares que conferem à personagem uma aparência serena e inofensiva. A sua ingenuidade aparente revelar-se-á como incapacidade de compreender cabalmente as teorias de Alberto, acabando por deturpá-las para justificar o(s) seu(s) ato(s) de loucura e de destruição.

Espaço Os espaços do Alentejo simbolicamente associados à desgraça.

PresságiosIndícios recorrentes, ao longo da ação, do final fatídico da história de Alberto em Évora (omnipresença da discussão sobre a morte, alusões a “espetros”, a estátua de Florbela Espanca).

Elementos da tragédia clássica

Hybris (desafio)

A atitude existencialista de Alberto Soares é um desafio à organização social estabelecida – ele é considerado um elemento desestabilizador da pacata cidade de Évora. Sofia, por seu lado, provoca, seduz, não estabelece laços, desafiando a moral instituída e afirmando, assim, a sua consciência da angústia que marca a condição humana e que muitos procuram ignorar; Carolino leva a loucura às últimas consequências, tentando, através da sua atitude, o assassínio, ultrapassar a sua própria condição de ser humano, desejando alcançar uma essência divina.1

Pathos(sofrimento)

As personagens experimentam o sofrimento face à descoberta e à sua incapacidade de encontrar “soluções”.1

Ágon (conflito) O conflito interior das personagens.

Anagnórise(reconhecimento)

O reconhecimento funciona, na obra, ao nível da descoberta do próprio “eu” e do processo de redobramento que caracteriza a construção das personagens; Alberto reconhece-se, parcialmente, noutras figuras humanas.1

Katastrophé(catástrofe)

Morte física de Cristina e de Sofia. Anulação de Carolino.

Ananké(destino)

O destino está omnipresente ao longo da obra mas “Alberto, ele próprio, concretiza-se em agente do destino, já que será ele que irá despertar os inconscientes adormecidos e chamá-los à descoberta, que […] será uma maldição punível, por vezes, com a própria vida. Como elemento “perturbador”, ele vai, inconscientemente, associar-se à força do próprio destino, precipitando-se e aos que o ouvem para um desenlace trágico.”2

1. JACINTO, Conceição, e LANÇA, Gabriela, 2001. Aparição – Vergílio Ferreira. Porto: Porto Editora (adaptado e com supressões); 2. GONÇALVES, Maria da Graça Verschneider, e SANTOS, Teresa Paula, 1998. Introdução ao estudo de “Aparição”. Coimbra: Almedina (2.ª ed.)

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Leitura para informação

A poesia de Mário de Sá-Carneiro

Em homenagem publicada no n.º 2 da revista Athena (novembro de 1924), escreve Fernando Pessoa: “Morre jovem o que os Deuses amam é um preceito da sabe-doria antiga. E por certo a imaginação, que figura novos mundos, e a arte, que em obras os finge são os sinais notáveis d’ esse amor divino. Não conce-dem os Deuses esses dons para que sejamos felizes, senão para que sejamos seus pares. Quem ama ama só a igual, porque o faz igual com amá-lo. […]

“[…] Génio na arte, não teve Sá-Carneiro nem alegria nem felicidade nesta vida. Só a arte, que fez ou que sentiu, por instantes o turbou de consolação. São assim os que os Deuses fadaram seus. Nem o amor os quer, nem a esperança os busca, nem a glória os acolhe. Ou morrem jovens, ou a si mes-mos sobrevivem, íncolas1 da incompreensão ou da indiferença. Este morreu jovem, porque os Deuses lhe tiveram muito amor […]”.

Estas palavras, escritas por quem melhor o conheceu e compreendeu, resumem o destino trágico daquele que foi seu companheiro da aventura órfica2, fiel discípulo e “único grande amigo”. Incompreendido pelos contemporâneos, como os demais “malu-quinhos de Orpheu”, Mário de Sá-Carneiro teve sempre em Fernando Pessoa um leitor atento e crítico, que muito contribuiu para afinar a sua personalidade literária e, após o suicídio, para lhe divulgar a obra junto do grande público. […]

Foi Pessoa o primeiro a render preito3 ao génio de Mário de Sá-Carneiro, que não lhe permitiu ter “alegria nem felicidade nesta vida”. Essa genialidade teve expressão, de facto, numa ânsia de absoluto, lograda4 e consciente do seu logro5, que constituiu certa-mente um dos motivos profundos do suicídio do poeta. A forma obsessiva como na sua obra alude ao suicídio, seja nos contos, seja nos poemas, seja na correspondência en-viada a Fernando Pessoa (vejam-se, sobretudo, as cartas de março e abril de 1916) mos-tra como o “mal de viver” cedo se lhe instalou na alma (“tédio”, “náusea”, “dor” são alguns dos nomes que dá ao seu cansaço de viver) e como as razões invocadas nas últimas cartas (dificuldades financeiras, complicações amorosas) foram apenas o pretexto ime-diato do seu ato de desespero. Como tem sido sublinhado em diversos estudos críticos, toda a obra de Sá-Carneiro é uma encenação do suicídio e a ele conduz. […]

O poema “Quase” [cf. Caderno de Atividades, pp. 64-65] é, na nossa poesia, uma das mais lúcidas e pungentes formulações da frustração, da impossibilidade de absoluto, do percurso de as-censão e queda que o autor de “Vislumbre” levou até às últimas consequências. Em inúme-ras metáforas, surpreendentes ora pela sua bizarria ora pelo seu dramatismo, Sá-Carneiro glosou essa mágoa de ser “quase”, de não chegar “além”, e n’ “Os Últimos Poemas” (escritos entre novembro de 1915 e 1916) deixou-nos uma imagem ora autopiedosa ora impiedosa

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Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro

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Construção do saber

• Propostas de trabalho para construção autónoma de saber, com informações de apoio ao trabalho dos textos nos Recursos do Projeto (e-Manual Premium)

• Glossário temático No final de cada sequência surge um glossário relacionado com os textos e os autores estudados

Ficha formativaNo final de cada sequência surge uma ficha formativa com a estrutura do Exame Nacional sobre os conteúdos trabalhados.

e-Manual PremiumVersão digital do manual com acesso a todos os Recursos do Projeto em contexto.

• Registos áudio e vídeo

• Registos radiofónicos

• Transcrição de registos áudio e radiofónicos

• PowerPoint® didáticos (apoio ao estudo das obras/autores do Programa)

• Outros (Inter)Textos por sequência

• Materiais de apoio à rubrica “Construção do saber”

• Materiais de apoio à exploração dos textos da rubrica “Leitura para informação”

• Caderno de Atividades

• Livro do Professor e outros materiais de apoio (editáveis)

– Planificação por sequência de ensino-aprendizagem – Guia do Professor (soluções, sugestões e informações

relevantes) – Materiais de apoio ao desenvolvimento do PIL – Grelhas de avaliação (escrita, oralidade, PIL e portefólio) – Soluções, grelhas de correção e cotações das fichas

formativas do manual – Correção das atividades de grupo do manual

O acesso à versão definitiva do e-Manual Premium é exclusivo do Professor adotante e estará disponível a partir de setembro de 2014.

e-Manual do Aluno O acesso ao e-Manual do Aluno é disponibilizado, gratuitamente, na compra do manual em papel, no ano letivo 2014-2015, e poderá ser adquirido autonomamente através da Internet.

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São ainda apresentados ao longo das sequências:

Projeto individual de leitura

• Atividades para desenvolvimento do projeto, com sugestões de leituras contextualizadas com autores e obras do programa

Leitura para informação

• Textos informativos, com sugestões de exploração nos Recursos do Projeto (e-Manual Premium)

• Esquemas de apoio ao estudo das obras do programa

Caderno de Atividades• Quadros-síntese e esquemas sobre autores e obras

do Programa• Fichas de trabalho sobre as sequências de ensino-

-aprendizagem segundo a estrutura de Exame Nacional (com sugestões de resolução)

• Exercícios de expressão escrita• Exemplo de resolução de prova de Exame Nacional• Glossários globais de termos literários e de recursos

estilísticos

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Livro do Professor*• Estrutura e organização do manual• Planificação por sequência de ensino-aprendizagem• Guia do professor para o manual: – cenários de resposta dos questionários – sugestões de outras atividades – informações relevantes – remissões para os Recursos do Projeto

(e-Manual Premium)

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Estrutura das sequências

Todas as sequências se organizam de acordo com um conjunto de secções que se sucedem, conjugam ou complementam.São elas:Pré-leituraLeitura / CompreensãoOralidadeEscrita com a literaturaEscrita sobre a literaturaPós-leitura

Manual

Estrutura do manual

SEA 0 Antes de partir…Diagnose, Projeto Individual de Leitura, Portefólio

SEA 1 Viagem ao teatro de GarrettUm Auto de Gil Vicente de Almeida Garrett

SEA 2Viagem pelas histórias camilianasA Queda dum Anjo de Camilo Castelo Branco

SEA 3Viagem com os poetas oitocentistasAlmeida Garrett, Antero de Quental, Cesário Verde, António Nobre, Camilo Pessanha

SEA 4Viagem ao teatro de Raul BrandãoO Doido e a Morte de Raul Brandão

SEA 5Viagem ou Aparição, com Vergílio FerreiraAparição de Vergílio Ferreira

SEA 6Viagem à poesia do século XXMário de Sá-Carneiro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Alexandre O’Neill, Manuel Alegre

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Livro do Professor* 3Caderno de Atividades 2Manual1 e-Manual Premium (exclusivo para o Professor)4

Cenários de resposta dos questionários do manual e outras informações relevantes no Livro do Professor.

* Disponível na versão definitiva do e-Manual Premium a partir de setembro de 2014.

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Viagem ao teatro de Garrett98

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Paula – El-rei, que vem achar a infanta sua filha com um homem escondido em sua câ-mara. – Devaneai agora à vontade: já completastes a vossa obra.

Bernardim (caindo em si, e com tranquilidade) – Não tenhais receio. Estou perfeitamente em meus sentidos. – Beatriz, um derradeiro adeus – um adeus até ao Céu! – A rola, que perdeu o companheiro, deixa-se morrer de míngua sobre o ramo lascado da árvore em que lho mataram… – Estas águas, em que já baloiça o navio em que te levam – Bea-triz!… (Ajoelha e esconde o rosto entre as mãos da infanta.) estas águas que me roubam tudo… (Ouve-se grande alarido.)

Paula – El-rei que entra…Bernardim – Que tomem também a minha vida. (Arremessa- se, pela varanda do galeão,

ao mar.)Dona Beatriz – Ai! (cai sem sentidos.8)Paula (olha para o rio, e volta em desespero) – Já vai seguido o galeão!

Cena Última

Dona Beatriz, Paula Vicente, El-Rei Dom Manuel e Séquito

Paula ajoelha junto à infanta estendida no chão, e lhe beija a mão muitas vezes, leva-a ao coração, e levanta-se precipitadamente. – Neste mesmo instante entra el-rei.

Dom Manuel – O último adeus, minha filha, um abraço ainda! (Todos rodeiam a infanta.) Já o galeão vai navegado! Tomou-a o susto. – Filha! (Aparte.) Eu constrangi sua von-tade. – Meus Deus, se eu matei a minha filha!

GARRETT, Almeida. Op. cit.

1. provação, sofrimento ou infelicidade que testa a resistência ou a coragem; 2. castigo, penitência; 3. alivia da pena, con-sola; 4. salvou, libertou (do castigo); 5. ciúmes; 6. haste, caule; 7. ceife, corte (do verbo “segar”); 8. "Na nota E ao canto nono do poema Camões, se promete ilustrar o ponto destes amores de Bernardim Ribeiro e de sua romanesca vida. Mas não me atrevo por ora a cumprir tal promessa. Aqui atirei com ele ao mar porque me era preciso; e o público disse que era bem ati-rado. É o que me importa. Se ele foi ou não a Saboia depois, como eu já cuidei averiguado, se andou doido pela serra de Sintra, também me não atrevo a certificar, – O que parece mais certo é que não morreu de paixão porque depois foi feito comendador da Ordem de Cristo, e governador de S. Jorge da Mina, onde talvez morresse de alguma carneirada; materialís-simo e mui prosaico fim de tão romântica, saudosa e poética vida. Aprendei aqui, ó Beatrizes deste mundo!" (A. Garrett).

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Leitura Compreensão

1. Relaciona as referências ao rei nas segunda e terceira falas de Beatriz com as palavras de D. Manuel no início da cena II do terceiro ato (página 88).

2. Partindo da leitura atenta do verbete abaixo, justifica a utilização do adjetivo “fatal” na caracterização do anel feita por D. Beatriz (l. 21).

3. Esclarece as interpretações contraditórias de Paula e D. Beatriz acerca da “surpresa” (l. 21) da noite anterior.

4. Analisa as falas de Bernardim Ribeiro, explicitando os seus traços românticos, nomeada-mente no que diz respeito a:

conceção e caracterização da mulher amada;

papel da morte;

linguagem e recursos expressivos.

5. Aponta dois elementos cénicos que contribuem para intensificar o dilema expresso por Paula na cena XIII.

6. Reconstitui, com base no excerto, as fases do desenvolvimento emocional de Bernardim no final da peça.

7. Comenta a importância da fala de D. Manuel com que termina a peça de Garrett.

8. Identifica o momento temporal em que decorrem os acontecimentos das cenas transcritas.

8.1. Relaciona-o com o dos atos anteriores e apresenta uma interpretação simbólica dessa progressão.

Escrita com a literatura

1. Transforma as cenas finais de Um Auto de Gil Vicente (cenas XII a XIV) num texto narrativo.

Considera, para além das falas das personagens, as informações fornecidas nas didascá-lias, e apresenta o relato através de um narrador homo ou autodiegético. Podes integrar momentos de diálogo e breves passagens descritivas.

Começa por planificar o teu texto e, depois da textualização, revê cuidadosamente a tua produção, corrigindo eventuais falhas, aperfeiçoando o discurso e enriquecendo-o esti-listicamente.

Fatal adj. 2 gén. 1. traçado pelo destino ou fado; 2. que traz consigo a desgraça e a infelicidade; 3. que causa a morte; 4. que não se pode alterar nem evitar; inevitável; irrevogável • Do latim fata–le-, “idem”

Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 2010. Porto: Porto Editora

Ver Glossário p. 109

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Viagem à poesia do século XX378

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Pré-leitura Oralidade

1. Escuta atentamente a emissão do programa Sinais, da TSF, cujo título é “A palavra ‘apenas’”.

1.1. Resume os acontecimentos que suscitam a reflexão de Fernando Alves.

1.2. Justifica o título da crónica.

1.3. Comenta, a partir da rubrica radiofónica, a importância que uma palavra/as palavras pode(m) ter.

Há palavras que nos beijamHá palavras que nos beijamComo se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído No papel abandonado)

Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte.

O’NEILL, Alexandre. Op. cit.

Leitura Compreensão

1. Apresenta a tua interpretação dos dois primeiros versos do poema.

2. Analisa o sentido da segunda estrofe.

3. Comenta a funcionalidade do discurso parentético.

4. Faz a descrição da estrutura externa do poema.

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Escrita sobre a literatura

1. Relê a terceira estrofe do poema de Alexandre O’Neill da página anterior.

1.1. Elabora uma breve apresentação fundamentada de duas palavras que, para ti, se assumem habitualmente como “coloridas / Entre palavras sem cor”.

1.2. Compara a tua opinião com a dos teus colegas e escrevam conjuntamente um texto que revele as preferências vocabulares da turma.

Escrita com a literatura

1. Completa, com palavras que consideres adequadas e expressivas, os espaços em branco no excerto da crónica de Manuel António Pina, em que o autor reflete sobre o tema das palavras e da sua relação com os seres humanos. Toma atenção à classe das palavras que deves utilizar em cada caso (indicada entre parênteses) e seleciona vocábulos que garan-tam a coerência do texto.

As palavras são seres (a) (adjetivo). Mesmo as mais (b) (adjetivo) e mais (c) (adjetivo), dessas que servem, não para (d) (verbo), mas para (e) (verbo), têm (f)

(nome) e (g) (nome) de sentido que nos deixam de repente ainda mais (h) (adjetivo) diante do (i) (adjetivo) mundo de todos os dias. E palavras (j) (adjetivo) e (k) (ad-jetivo), pelas quais pensámos um dia ser capazes de (l) (verbo) e envelheceram con-nosco ou julgávamos (m) (adjetivo), assomam-nos ainda às vezes aos lábios vindas do

(n) (nome) da (o) (nome) (ou, quem sabe?, do (p) (nome) do coração) como se nos dissessem: “Sou eu, não me ouves chamar?”

PINA, Manuel António, “O ano da morte de José Saramago”, in Notícias Magazine, n.º 945, 4 de julho de 2010

Pós-leitura Oralidade

1. Atenta na primeira estrofe do poema “As Palavras”, de Eugénio de Andrade.

1.1. Identifica a comparação que, na tua opinião, evidencia de forma mais expressiva a natureza das palavras.

1.1.1. Organiza com os teus colegas um diálogo argumentativo no qual troquem impressões sobre as diferentes perspetivas apresentadas na resposta à ques-tão anterior.

São como um cristal,as palavras.Algumas, um punhal,um incêndio.Outras,orvalho apenas.

ANDRADE, Eugénio, 2013. Coração do Dia – Mar de setembro. Porto: Assírio & Alvim

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A Queda dum Anjo 149

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Pré-leitura

1. Observa atentamente o cartoon e descreve objetivamente a situação representada.

1.1. Relaciona a sua dimensão metafórica com o momento narrativo apresentado no excerto de A Queda dum Anjo abaixo transcrito.

XXXIII – EscândalosAbriram-se as Câmaras.A oposição espantou-se de ver o deputado por Miranda conversando muito mão por

mão com os ministros. O abade de Estevães ousou perguntar ao seu colega, amigo e corre-ligionário1, de que rumo estava. Calisto respondeu que estava no rumo em que o farol da civilização alumiava com mais clara luz. O desembargador do eclesiástico redarguiu com admoestações benévolas. O morgado sorriu-lhe na cara veneranda2, e disse-lhe:

– Meu amigo, abra os olhos, que não há martirológio3 para as toupeiras. As ideias não se formam na cabeça do homem; voejam na atmosfera, respiram-se no ar, bebem-se na água, coam-se no sangue, entram nas moléculas, e refundem, reformam e renovam a compleição do homem.10

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Luís Afonso, in Sociedade Recreativa

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Pós-leitura

1. Lê com atenção o texto de Ricardo Araújo Pereira.

1.1. Estabelece uma leitura intertextual entre a crónica e A Queda dum Anjo, apontando semelhanças ao nível das temáticas exploradas e dos meios colocados ao serviço da crítica pelos autores.

Elogio dos deputadosNa quarta-feira da semana passada, só 110 dos 230 depu-

tados estiveram presentes na Assembleia da República. O país melindrou-se. Eu cá gostei. A debandada é a prova de que a nossa democracia funciona na perfeição. Não esqueço que os deputados são os representantes do povo português, e eu estou disposto a apostar que aquilo que eles fizeram é exatamente o que o povo português faria se estivesse no lugar deles: assi-nar o livro de ponto à sorrelfa e pirar-se para umas férias prolongadas. Nós somos assim, pelo que me parece muito saudável, poli-ticamente falando, que os nossos repre-sentantes sejam uma cristalização ainda mais espertalhona dessa maneira de ser. Sim, claro: o país não avança e tal. Mas a gente diverte-se bastante.

Sempre que calha haver um ano com muitos feriados junto de fins de semana, recebo dezenas de e-mails (às vezes ainda em setembro do ano anterior) que dizem: “Amigos, vem aí um ano com muitas pontes! Comecem já a preparar as férias!” […] Posso garantir que nunca recebi um único e-mail a dizer: “Amigos, vem aí um ano com muitas pontes! Vamos todos dar as mãos e, em prol do futuro do nosso país, trabalhemos a dobrar nesses fins de semana prolongados, para que não haja qual-quer decréscimo de produtividade!” […]

Saúdo, por isso, o comportamento, bem português, dos nossos parlamentares. Mais: compreendo perfeitamente que, regra geral, os deputados evitem compare-cer na Assembleia da República. Parece que o sítio é muito mal frequentado. E fica-ria muito desiludido se punissem os deputados pelo que fizeram no dia 12. Já lhes tiraram o direito de viajar em primeira classe. Agora, exigem-lhes presença conti-nuada na Assembleia da República. Se continuam a tirar-lhes as regalias todas, qualquer dia ninguém quer ir para deputado. Assim, mais vale ir trabalhar. E o mer-cado de trabalho já é suficientemente difícil sem termos cem ou duzentos destes espertalhões do parlamento a concorrerem connosco.

PEREIRA, Ricardo Araújo, 2007. Boca do Inferno. Lisboa: Tinta-da-China (4.ª ed.)

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João Fazenda

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VIAGEM… DO TEXTO AO CONTEXTOViagem… do texto ao contexto114

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O escrever de hoje Dizem que o escrever de hoje é dessorado1 de erudição, leviano2, vaporoso3, ginástico,

estridente, cabalístico4, bafagem5 de brisa, balão aerostático6, fogo chinês, vicejante, on-dulante, estrepitoso e abismador!

Não é tudo assim. Popularizada a literatura, era necessário despojá-la das alfaias7 graves e sinceras da

ciência, trazê-la da profundeza da erudição à superfície das inteligências vulgares, e vesti--la do maravilhoso surpreendedor, já que o lógico verosímil é repelido da biblioteca da burguesa e do artista. Para captar a bene-volência da leitora, precisava-se da história de uns amores trágicos, urgentes, e lamen-tosos. Para a do artista, cumpria ampliar--lhe a órbita do espírito apoucado, osten-tando-lhe no molde do romance a forma real, augusta, e humanitária da arte. O estilo devia ser exagerado como o pensamento: quimérico8, híbrido, e mentiroso como todas as teorias, criadas no caos de todas as práticas.

Trabalho exclusivamente do coração, artima-nha política, método civilizador, era aquele o único adaptado para cabeças sem cultura, sem sistema, prenhes de utopias e fumos de socialismo, como ele se escreve em jornais e romances. Criou-se, pois, uma escola militante. E o povo aplaude esses estereótipos baratos consagrados ao povo, entenda ou não entenda o que lê, possa ou não possa digerir e dirigir o que entende. […]

O certo é que existe uma escola romântica, democrata, social e regeneradora. Não tem academias, nem paragem determinada. É imensa, elétrica e omnipotente. Lá é que se aprende a agradar às turbas, delas se inspira esta mocidade coroada e corajosa, é dela finalmente que surdem os apodos9 e vaias literá-rias para os que sacrificam ao passado o cabedal de inteligência negativa para esta socie-dade aspiradora.

O escritor destas cousas ainda não abriu matrícula, nem pede que o inscrevam ainda à custa de uma boa reputação de folhetinista. Se a escola, em nome do século, do futuro e da humanidade, o interrogar pela substância útil deste apontoado de palavras, o autor não lhe dá resposta alguma.

CASTELO BRANCO, Camilo, “Introdução a Anátema [1851]”, apud REIS, Carlos, e PIRES, Maria da Natividade, 1993. História Crítica da Literatura, vol. V. Lisboa: Verbo

1. fraco; 2. que denota pouco juízo; 3. leve, pouco consistente; 4. misterioso, obscuro; 5. sopro brando; 6. que se equilibra no ar; 7. instrumentos; 8. fantástico; 9. ditos zombeteiros, chacotas.

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André Carrilho, Camilo Castelo Branco, in Única, n.º 1798, 14 de abril de 2007

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Um Auto de Gil Vicente 107

Projeto Individual de Leitura

1. Atenta no texto da contracapa da obra Os Dias da Febre de João Pedro Marques.

“Os Dias da Febre narra as circunstâncias que conduziram ao reencontro de Robert e Elvira, e o que dele decorreu. O cerne da ação situa-se em 1857, quando Lisboa estava a ser atingida por uma epidemia da febre-amarela que mataria quase 5 mil pessoas. É nesse contexto alar-mante e febril que a intriga se desenvolve e que o leitor é convidado não só a conviver com as figuras da época, mas também a percorrer a cidade em toda a sua diversidade […]. Isto signi-fica que não estamos apenas perante um romance sobre uma epidemia, a morte e o amor: Os Dias da Febre é também uma viagem pelos sons, os cheiros, as gentes, as casas, os costu-mes, as cores – numa palavra, pela vida – da Lisboa de meados do século XIX.”

1.1. Estabelece pontos de aproximação entre a ação do romance e a de Um Auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett.

1.2. Lê o excerto do livro.

A carruagem percorreu ruidosamente os últimos metros de calçada estreita e escura e desaguou na luz intensa do Rossio, de-tendo-se junto ao Teatro D. Maria II. Carlos desceu vagarosamente […]. Fixou o seu olhar opaco na mulher e, estendendo a mão, grande como uma pá, ajudou-a a descer. Depois, cumprimentou discretamente alguns conhecidos e, com Elvira pelo braço, entrou no teatro. […]

Elvira e Carlos estavam a sentar-se nos seus lugares, no cama-rote, quando soaram as pancadas de Molière e a sala começou a escurecer. Elvira ainda teve tempo de reparar que os lugares esta-vam quase todos ocupados. Por ela, teria gostado de estar mais em cima do palco, na primeira fila se possível, mas Carlos achava que os camarotes eram preferí-veis à plateia, pois preservavam as senhoras do risco e incómodo de se sentarem ao lado de algum atrevido.

O pano abriu-se devagar, deixando ver um cenário fantástico […].Depois, a peça começava a correr em direção ao seu núcleo central: o amor intenso, mas

proibido, de um oficial inglês, o médico do regimento recém-chegado, por uma bela mulher francesa, casada com um importante cidadão local. A peça tinha algumas passagens franca-mente ousadas e eróticas, tanto no que os amantes diziam um ao outro, como no que faziam. Havia uma cena em que a bela francesa permitia que o médico lhe pegasse no pé descalço. E uma outra onde, já à saída de cena e a caminho dos bastidores, se sugeria um beijo apaixo-nado, na boca, e se via, projetada no cenário, a sombra dos dois amantes, enlaçados.

Elvira, que fora conquistada desde o primeiro momento, estava perfeitamente imóvel, chegada para a frente, com os cotovelos apoiados no rebordo de marroquim1 do camarote, e seguindo todo o enredo com extremo interesse e atenção. Identificara-se de imediato com a vivacidade da francesa, deixara-se encantar pela gentileza do médico e tomara partido por aquela paixão clandestina. Nunca condenaria uma mulher que seguisse, como a francesa se-guia, os ditames do seu coração. Nunca! Carlos, por seu lado, cedo começara a agitar-se na cadeira. Sentia-se algo incomodado e perguntava a si próprio como é que certas cenas tinham sido autorizadas num espetáculo público e num teatro nacional em Lisboa.

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Viagem à poesia do século XX342

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Projeto Individual de Leitura

1. Lê atentamente o poema.

O poema (I)

Esclarecendo que o poemaé um duelo agudíssimoquero eu dizer um dedoagudíssimo claroapontado ao coração do homem

falocom uma agulha de sanguea coser-me todo o corpoà garganta

e a esta terra imóvelonde já a minha sombraé um traço de alarme

JORGE, Luiza Neto, in CRUZ, Gastão (seleção e prefácio), 2004. Quinze Poetas Portugueses do Século XX. Lisboa: Assírio & Alvim

1.1. Interpreta:

a. a definição metafórica de poema apresentada na primeira estrofe;

b. a imagem utilizada na quadra;

c. a relação sujeito poético/destinatário descrita ao longo do poema.

1.2. Propõe um novo título para o poema, fundamentando a tua escolha com dois argu-mentos decorrentes da leitura do texto.

1.3. O poema de Luiza Neto Jorge integra a antologia Quinze Poetas Portugueses do Século XX, organizada por Gastão Cruz, que contempla igualmente textos de Fer-nando Pessoa, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa e Herberto Helder, entre outros poetas de novecentos.

Se te interessa conhecer a produção poética nacional do século passado, faz a lei-tura integral da obra e elabora uma ficha de leitura sobre ela. Arquiva-a, depois, no teu Projeto Individual de Leitura.

2. Caso te cativem as antologias poéticas, podes ainda ler uma das coletâneas abaixo sugeridas.

FANHA, José, e LETRIA, José Jorge. Cem Poemas Portugueses no Feminino.

FANHA, José, e LETRIA, José Jorge. Cem Sonetos Portugueses.

FANHA, José, e LETRIA, José Jorge. Cem Poemas Portugueses do Riso e do Maldizer.

MOURA, Vasco Graça. 366 Poemas que Falam de Amor.

PEDROSA, Inês. Poesia de Amor (Antologia de poesia portuguesa).

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Viagem pelas histórias camilianas118

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Leitura Compreensão

1. Interpreta a afirmação: “Tão grande é a nomeada de V. Ex.ª que nem se faz mister o apelido” (ll. 5-6).

2. Justifica a opção do remetente de não “tratar pelo título” (l. 2) Camilo Castelo Branco.

3. Resume as avaliações contraditórias da obra de Camilo apresentadas nos parágrafos dois a quatro.

4. Comenta o efeito de sentido produzido com a comparação do autor a um “franco-atirador” (l. 41).

5. Analisa a expressividade da frase “Matéria não falta aí…” (l. 44), no contexto da reflexão sobre a “sátira política” (l. 43) do autor de A Queda dum Anjo.

6. Regista as informações biográficas de Camilo Castelo Branco apresentadas no texto.

Construção do saber

1. Faz uma pesquisa sobre a vida e a obra de Camilo Castelo Branco que te per-mita, com a informação recolhida, com-pletar os dados biográficos do autor em falta no texto da página seguinte.

Para o efeito, podes consultar, entre outros textos, os verbetes/capítulos dedi-cados a Camilo nas obras:

AA.VV. Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, vol. 1. Lisboa: Verbo

AA. VV. História da Literatura Portuguesa – O Romantismo, vol. 4. Mem Martins: Alfa

BUESCU, Helena Carvalhão (coord.). Dicionário do Romantismo Literário Português. Lisboa: Caminho

CABRAL, Alexandre. Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho

COELHO, Jacinto do Prado (dir.). Dicionário de Literatura Portuguesa, vol. 1. Porto: Figueirinhas

FRANÇA, José-Augusto. O Romantismo em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte

LOPES, Óscar, e SARAIVA, António José. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora

PAIS, Amélia Pinto. História da Literatura Portuguesa – Uma Perspetiva Didática, vol. 2. Porto: Areal

REIS, Carlos. Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Lisboa: Universidade Aberta REIS, Carlos, e PIRES, Maria da Natividade. História Crítica da Literatura Portuguesa [O Romantismo], vol. V. Lisboa: Verbo

José Passos, Escritório de Camilo, sem data

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Camilo: o autor e a obra 119

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Um homem que escreveu tão depressa quanto viveu

A vastidão da bibliografia camiliana é motivo mais do que suficiente para desper-tar-nos a curiosidade acerca da sua vida. Com efeito, a mais de uma centena de títu-los, que, durante (a) anos (1850- (b) ), apareceram com a chancela de Camilo Castelo Branco sugere-nos, desde logo, que estamos em presença de um caso invul-gar de fertilidade literária, passível, no entanto, de uma qualquer explicação. Aquela que se nos afigura mais verosímil é a de buscarmos na vida do homem as motivações mais próximas para a sua obra, apesar de reconhecermos, desde já, que a obra literá-ria é, parafraseando o poeta, um fingimento. A de Camilo é, decerto, também um fingimento, mas um “fingimento verdadeiro”. […]

Dissemos, e insistimos, que a vida de Camilo poderá justificar, até certo ponto, a sua fecundidade literária, porque este homem escreveu tão depressa quanto viveu, sem, todavia, escrever à pressa. Mencionemos, por isso, alguns episódios da vida ca-miliana que possam fornecer-nos tal justificação.

Filho de pai solteiro, que perdeu aos (c) anos, então já órfão de mãe, Camilo deixa (d) , onde nascera, e vai com a (e) viver para Vila Real, para casa da sua

(f) Rita que, conluiada com o amante, defrauda as crianças na herança a que ti-nham direito. Aos 16 anos, casa-se, em Ribeira de Pena, com (g) , a Quininha, um ano mais nova do que ele. O nascimento da filha (h) perturbou, decerto, Camilo, que se viu pai aos 18 anos. Estamos em (i) , ano em que decide sair de Vila Real e vir para o (j) , matriculando-se na Escola Médica, que não chegará a completar, tendo perdido um ano, pelo menos, por faltas. Aos 21 anos […], Camilo inicia uma regular colaboração jornalística no Nacional e no Periódico dos Pobres, dois jornais ideologicamente antagónicos, o que nos permite antever o profissional da pena que sempre seria.

Viúvo de Quininha, aos 22 anos, continua Camilo a escrever para viver. Por vezes com dificuldades que não adivinharia, já que alguns dos seus escritos jornalísticos lhe granjearam fortes inimizades. […]

Em 1857, temo-lo em Viana do Castelo a chefiar a redação do jornal A Aurora do Lima. Parece que a razão fundamental por que terá ido para Viana se prendeu com a estadia, nessa cidade, de Ana Plácido […].

Ana Plácido entra, então, na vida de Camilo para não mais sair dela. Foi ela a sua mulher fatal, que compartilhou com ele a felicidade da casa de São Miguel de Ceide, mas também o infortúnio duma cela da Cadeia da (k) , onde ambos estiveram pre-sos alguns meses por acusação do marido de Ana Plácido, o rico comerciante lis-boeta (l) , desejoso de vingar o escândalo adulterino de Camilo com a sua mulher.

Os sintomas duma (m) irremediável vêm, por fim, juntar-se a esta vida senti-mental e socialmente atribulada. O (n) , em 1890, aos (o) anos, foi, por isso, a única saída que Camilo encontrou para poder morrer livre, isto é, perdidos os olhos indispensáveis para a sua sobrevivência como escritor, sua profissão de sempre, não quis o autor de A Queda dum Anjo suscitar compaixão ou caridade. Escreveu livre-mente, por isso escolheu morrer livremente.

TRIGO, Salvato, “Introdução”, in CASTELO BRANCO, Camilo, 1999. A Queda dum Anjo. Porto: Civilização (adaptado)

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272 Ficha Formativa

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Grupo I

Faz a leitura atenta do excerto de O Doido e a Morte que se segue.

Sr. Milhões – És uma sombra e bff… (Sopra-lhe e o outro estremece) faço-te desaparecer como uma sombra. Tenho de suprimir a ninharia da vida. Estas duas coisas não podem mais coabitar – esta estupidez e este sonho dorido e imenso, o grotesco de todos os dias, quando do outro lado galopa e passa uma coisa sôfrega e imensa. Tu não te podes chamar Baltazar Moscoso, e ao mesmo tempo existir o céu estrelado. Venham todos os fantasmas!

Governador Civil – Acudam! acudam! acudam!

Sr. Milhões – Não posso viver com isto, frenético e doirado, e regular a existência como o maquinismo dum relógio; não posso às mesmas horas – eu nisso sou como um pêndulo – fazer certa coisa imunda num buraco de secção elíptica, quando o mundo está cheio de gritos e o meu pensamento se eleva às mais altas elucubrações filosóficas. Pff! pff! Não, não posso com este esplendor e esta abjeção, este ridículo e este desespero – e vamos morrer! vamos enfim morrer! (Vai carregar no botão).

Governador Civil – Alto! alto! alto!

Sr. Milhões – Soou a hora.

Governador Civil – Morrer! Mo… Mas eu não estou doente! Nem a cabeça me dói… Então eu hei de ser governador civil e morrer?! Então eu hei de ter talento e morrer?!

Sr. Milhões – É hora de morrer.

Governador Civil – O senhor é cruel. Não me dispute os últimos momentos.

Sr. Milhões – O que eu sou é seu amigo. Tenho estado aqui a prepará-lo para a grande hora da libertação. Há mais alguma coisa que lhe possa fazer? Vai agora?

Governador Civil – O senhor é pior que um inquisidor. Não me tire os últimos segundos, os segundos dum condenado à morte. Aposto que está a gozar com a minha agonia. Em troca da vida dou-lhe tudo o que quiser, a minha influência, o meu dinheiro, as minhas peças, a glória.

Sr. Milhões – Recuso, sou intransigente nos meus princípios.

BRANDÃO, Raul, 2001. O Doido e a Morte. Lisboa: Colibri

Responde, de modo completo e cuidado, às perguntas apresentadas.

1. Localiza o excerto na globalidade da obra a que pertence.

2. Aponta dois dos traços de carácter de cada uma das personagens, fundamentando a tua resposta com elementos textuais.

3. Interpreta as palavras do Sr. Milhões, no contexto em que ocorrem: “Tu não te podes cha-mar Baltazar Moscoso, e ao mesmo tempo existir o céu estrelado.” (ll. 4-5)

4. Sintetiza a crítica social veiculada pelo diálogo entre os dois interlocutores.

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Viagem ao teatro de Raul Brandão 273

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Grupo II

Lê com atenção o poema abaixo transcrito.

Ser doido-alegre

Ser doido-alegre, que maior ventura! Morrer vivendo p’ ra além da verdade. É tão feliz quem goza tal loucura Que nem na morte crê, que felicidade!

Encara, rindo, a vida que o tortura, Sem ver na esmola, a falsa caridade, Que bem no fundo é só vaidade pura, Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso, A felicidade que esse doido tem De ver no purgatório um paraíso...

Direi, ao contemplar o seu sorriso, Ai quem me dera ser doido também P’ra suportar melhor quem tem juízo.

ALEIXO, António, 2007. Este Livro que Vos Deixo.... Cruz Quebrada: Casa das Letras (15.ª ed.)

Responde, de modo completo e cuidado, às perguntas apresentadas.

1. Delimita as diferentes partes do poema, fundamentando a tua resposta.

2. Com base nas duas quadras, indica três traços que caracterizam o “doido-alegre” (v. 1).

3. Comenta a importância do último terceto na construção do sentido global do soneto.

4. Identifica dois dos recursos estilísticos presentes no texto, realçando a sua expressivi-dade.

Grupo III

Num texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras, apresenta as tuas impressões de leitura da peça O Doido e a Morte de Raul Brandão.

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67Ficha de trabalho 15 Sequência 6 – Poesia do século XX

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.

1. Refere um efeito de sentido produzido pela anáfora “E eu caminhei” (vv. 1 e 5).

2. Interpreta o valor simbólico das seguintes palavras: “branco” (vv. 2 e 3), “cinza” (vv. 4 e 18), “azul” e “roxo” (v. 6).

3. Caracteriza a atitude do sujeito poético descrita ao longo da segunda, da terceira e da quarta estrofes.

Grupo I

Lê atentamente o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen.

O hospital e a praia

E eu caminhei no hospitalOnde o branco é desolado e sujoOnde o branco é a cor que fica onde não há corE onde a luz é cinza

E eu caminhei nas praias e nos camposO azul do mar e o roxo da distânciaEnrolei-os em redor do meu pescoçoCaminhei na praia quase livre como um deus

Não perguntei por ti à pedra meu Senhor1

Nem me lembrei de ti bebendo o ventoO vento era vento e a pedra pedraE isso inteiramente me bastava

E nos espaços da manhã marinhaQuase livre como um deus eu caminhava

E todo o dia vivi como uma cega

Porém no hospital eu vi o rostoQue não é pinheiral nem é rochedoE vi a luz como cinza na paredeE vi a dor absurda e desmedida

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, 1995. Obra Poética II. Lisboa: Caminho (2.ª ed.)

1. Deus.

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Porto Editora

Sequência 6 Viagem à poesia do século XX

(Quadro elaborado a partir de: LOPES, Óscar, e SARAIVA, António José, 2005. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora (17.ª ed.); PAIS, Amélia Pinto, 2005. História da Literatura em Portugal – Uma perspetiva didática, vol. 3. Porto: Areal; ROCHA, Clara, 1995. O essencial sobre Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda)

As influências

Os temas

Drama identitário – crise de personalidade

Egolatria ou egotismo exacerbado (“megalomania egolátrica”, segundo Óscar Lopes e António José Saraiva)

O mito de Narciso

Inadequação para a vida e para os sentimentos

Autopiedade e ternura

Hipertrofia do eu

Dispersão

Labirinto

Imagem da ponte

Desdobramento do “eu” em outros

Oposição sonhos altos (sonho de Além)/incapacidade de voo, com consequente queda e frustração – “Ícaro estatelado”

Perda, queda e frustração

Paixão pelo abismo e pela morte

Incapacidade de fruir

Evasão (sono, esquecimento, drogas, regresso à infância)

Nostalgia da infância

Autoironia

Culto da Beleza

Gosto:

· pelos símbolos

· pelas imagens brilhantes

· pelas transposições de sensações e sinestesias

Temática do sonho e da evasão

Conceção do poeta como “exilado da beleza”

Decadentismo e Simbolismo

PaulismoSensacionismo

e Futurismo

Reforço dos traços comuns ao Simbolismo no domínio

· das sinestesias

· da metáfora

· da construção sintática

Associações insólitas

Sensações brutais;

Experimentalismo ao nível do significante gráfico das palavras e ao nível fónico (sobretudo com a acumulação de onomatopeias)

A poesia de Mário de Sá-Carneiro

Viagem ou Aparição, com Vergílio Ferreira326

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Porto Editora

Leitura para informação

Os elementos trágicos em Aparição

Caracterização de personagens

SofiaDescrição assente na sensualidade, na sedução carnal e num comportamento e numa ideologia marcados pelo apelo ao desviante.

Carolino

Apresentação centrada nos traços disformes e invulgares que conferem à personagem uma aparência serena e inofensiva. A sua ingenuidade aparente revelar-se-á como incapacidade de compreender cabalmente as teorias de Alberto, acabando por deturpá-las para justificar o(s) seu(s) ato(s) de loucura e de destruição.

Espaço Os espaços do Alentejo simbolicamente associados à desgraça.

PresságiosIndícios recorrentes, ao longo da ação, do final fatídico da história de Alberto em Évora (omnipresença da discussão sobre a morte, alusões a “espetros”, a estátua de Florbela Espanca).

Elementos da tragédia clássica

Hybris (desafio)

A atitude existencialista de Alberto Soares é um desafio à organização social estabelecida – ele é considerado um elemento desestabilizador da pacata cidade de Évora. Sofia, por seu lado, provoca, seduz, não estabelece laços, desafiando a moral instituída e afirmando, assim, a sua consciência da angústia que marca a condição humana e que muitos procuram ignorar; Carolino leva a loucura às últimas consequências, tentando, através da sua atitude, o assassínio, ultrapassar a sua própria condição de ser humano, desejando alcançar uma essência divina.1

Pathos(sofrimento)

As personagens experimentam o sofrimento face à descoberta e à sua incapacidade de encontrar “soluções”.1

Ágon (conflito) O conflito interior das personagens.

Anagnórise(reconhecimento)

O reconhecimento funciona, na obra, ao nível da descoberta do próprio “eu” e do processo de redobramento que caracteriza a construção das personagens; Alberto reconhece-se, parcialmente, noutras figuras humanas.1

Katastrophé(catástrofe)

Morte física de Cristina e de Sofia. Anulação de Carolino.

Ananké(destino)

O destino está omnipresente ao longo da obra mas “Alberto, ele próprio, concretiza-se em agente do destino, já que será ele que irá despertar os inconscientes adormecidos e chamá-los à descoberta, que […] será uma maldição punível, por vezes, com a própria vida. Como elemento “perturbador”, ele vai, inconscientemente, associar-se à força do próprio destino, precipitando-se e aos que o ouvem para um desenlace trágico.”2

1. JACINTO, Conceição, e LANÇA, Gabriela, 2001. Aparição – Vergílio Ferreira. Porto: Porto Editora (adaptado e com supressões); 2. GONÇALVES, Maria da Graça Verschneider, e SANTOS, Teresa Paula, 1998. Introdução ao estudo de “Aparição”. Coimbra: Almedina (2.ª ed.)

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Mário de Sá-Carneiro 353

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Leitura para informação

A poesia de Mário de Sá-Carneiro

Em homenagem publicada no n.º 2 da revista Athena (novembro de 1924), escreve Fernando Pessoa: “Morre jovem o que os Deuses amam é um preceito da sabe-doria antiga. E por certo a imaginação, que figura novos mundos, e a arte, que em obras os finge são os sinais notáveis d’ esse amor divino. Não conce-dem os Deuses esses dons para que sejamos felizes, senão para que sejamos seus pares. Quem ama ama só a igual, porque o faz igual com amá-lo. […]

“[…] Génio na arte, não teve Sá-Carneiro nem alegria nem felicidade nesta vida. Só a arte, que fez ou que sentiu, por instantes o turbou de consolação. São assim os que os Deuses fadaram seus. Nem o amor os quer, nem a esperança os busca, nem a glória os acolhe. Ou morrem jovens, ou a si mes-mos sobrevivem, íncolas1 da incompreensão ou da indiferença. Este morreu jovem, porque os Deuses lhe tiveram muito amor […]”.

Estas palavras, escritas por quem melhor o conheceu e compreendeu, resumem o destino trágico daquele que foi seu companheiro da aventura órfica2, fiel discípulo e “único grande amigo”. Incompreendido pelos contemporâneos, como os demais “malu-quinhos de Orpheu”, Mário de Sá-Carneiro teve sempre em Fernando Pessoa um leitor atento e crítico, que muito contribuiu para afinar a sua personalidade literária e, após o suicídio, para lhe divulgar a obra junto do grande público. […]

Foi Pessoa o primeiro a render preito3 ao génio de Mário de Sá-Carneiro, que não lhe permitiu ter “alegria nem felicidade nesta vida”. Essa genialidade teve expressão, de facto, numa ânsia de absoluto, lograda4 e consciente do seu logro5, que constituiu certa-mente um dos motivos profundos do suicídio do poeta. A forma obsessiva como na sua obra alude ao suicídio, seja nos contos, seja nos poemas, seja na correspondência en-viada a Fernando Pessoa (vejam-se, sobretudo, as cartas de março e abril de 1916) mos-tra como o “mal de viver” cedo se lhe instalou na alma (“tédio”, “náusea”, “dor” são alguns dos nomes que dá ao seu cansaço de viver) e como as razões invocadas nas últimas cartas (dificuldades financeiras, complicações amorosas) foram apenas o pretexto ime-diato do seu ato de desespero. Como tem sido sublinhado em diversos estudos críticos, toda a obra de Sá-Carneiro é uma encenação do suicídio e a ele conduz. […]

O poema “Quase” [cf. Caderno de Atividades, pp. 64-65] é, na nossa poesia, uma das mais lúcidas e pungentes formulações da frustração, da impossibilidade de absoluto, do percurso de as-censão e queda que o autor de “Vislumbre” levou até às últimas consequências. Em inúme-ras metáforas, surpreendentes ora pela sua bizarria ora pelo seu dramatismo, Sá-Carneiro glosou essa mágoa de ser “quase”, de não chegar “além”, e n’ “Os Últimos Poemas” (escritos entre novembro de 1915 e 1916) deixou-nos uma imagem ora autopiedosa ora impiedosa

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Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro

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