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Nós e o Mundo Educação Moral e Religiosa Católica ano MANUAL DO ALUNO Apoio na internet www.emrcdigital.com

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Page 1: Manual Aluno 6º.pdf

Nós e o MundoEducação Moral e Religiosa Católica

6ºano

MANUAL DO ALUNO

Apoio na internet www.emrcdigital.com

Page 2: Manual Aluno 6º.pdf

Nós e o MuNdoMANuAL do ALuNo — eMRC — 6.° ANo do eNsiNo BásiCo

SUPERVISÃO E APROVAÇÃOCOMISSÃO EPISCOPAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃD. Tomaz Pedro Barbosa Silva Nunes (Presidente), D. António Francisco dos Santos, D. Anacleto Cordeiro Gonçalves Oliveira e D. António Baltasar Marcelino; Mons. Augusto Manuel Arruda Cabral (Secretário)

COORDENAÇÃO E REVISÃO GERALJorge Augusto Paulo Pereira

EQUIPA DE REDACÇÃO Sara Gomes Andrade e Guardado da Silva (Coordenação de ciclo)Carla Maria Gomes de AndradeMónica Virgínia Paiva Rocha da Maia HenriquesSusana Isabel Santos Correia Pereira

REVISÃO GRÁFICAMaria Helena Calado Pereira

GESTÃO EXECUTIVA DO PROJECTO E DIRECÇÃO DE ARTEID BooksRicardo Santos

CAPA Cláudia Alves

ILUSTRAÇÃOPedro Alves

TIRAGEM

ISBN978-972-8690-41-0

DEPÓSITO LEGAL

EDIÇÃO E PROPRIEDADEFundação Secretariado Nacional da Educação Cristã — Lisboa, 2009Quinta do Cabeço, Porta D; 1885-076 MoscavideTel.: 218 851 285; Fax: 218 851 355: E-mail: educaç[email protected] os direitos reservados à FSNEC

IMPRESSÃOGráfica de Coimbra

Page 3: Manual Aluno 6º.pdf

APReseNTAÇÃoNós e o MuNdo

Aos alunos e às alunas de Educação Moral e Religiosa Católica

Um livro é o resultado de muito trabalho de quem o produziu: um ou mais

autores. Por isso, deve ser acolhido com respeito e tratado com cuidado. Qualquer

que seja o seu estilo, contém uma mensagem, interpela o leitor e desperta a sua

imaginação.

Um livro escolar é um instrumento para a aprendizagem dos alunos. É sempre

educativo. Transmite informações ligadas aos conteúdos dos programas de ensino,

contém interrogações e propostas de trabalho, e convida ao estudo. É para se

usar na aula e fora dela. É um companheiro de viagem para o percurso anual de

cada um na escola. Só assim, tornando-se um objecto familiar, que se utiliza com

frequência, o livro escolar facilita o progresso na aquisição e desenvolvimento de

competências.

Os manuais de Educação Moral e Religiosa Católica, quer se revistam da forma

de um volume por ano de escolaridade quer se apresentem como conjuntos de

fascículos, têm todas estas características.

Convido os alunos e as alunas a receberem-nos com interesse e entusiasmo,

mas, sobretudo, a utilizarem-nos para proveito do seu crescimento humano e

espiritual. Deste modo, e com a ajuda indispensável dos vossos professores ou

professoras de Educação Moral e Religiosa Católica, podeis melhor fazer as vossas

opções e elaborar um projecto de vida sólido e com sentido.

Que Deus vos ilumine e ajude na caminhada de ano escolar que ides iniciar.

Bom trabalho!

D. Tomaz Pedro Barbosa Silva NunesBispo Auxiliar de Lisboa

Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã

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APRESENTAÇÃO DOS CONTEÚDOS

unidade 1

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A Estátua da Liberdade encontra-se na Ilha da Liberdade, em Nova Iorque, desde 28 de Outubro de 1886. Comemora o centenário da assinatura da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América e foi oferecida pelo povo francês ao povo americano, em sinal de amizade. É um dos mais universais símbolos da liberdade política e da democracia. O seu nome oficial é Liberty Enlightening the World («A Liberdade Iluminando o Mundo»).

Foi projectada e construída pelo escultor alsaciano Frédéric Auguste Bartholdi (1834-1904). Para a construção da estrutura metálica interna, Bartholdi contou com a assistência do engenheiro francês Gustave Eiffel. A estátua mede 46,50 metros (92,99 metros incluindo o pedestal). Só o nariz mede 1,37 metros. Pesa 158 toneladas repartidas pelo esqueleto de aço (127 toneladas) e pela estátua de cobre (31 toneladas). É a escultura mais pesada do mundo.

No seu pedestal, há uma placa de bronze, onde está gravado o final do poema da americana Emma Lazarus, intitulado «The new Colossus»:

Give me your tired, your poor,

Your huddled masses yearning to breathe free,

The wretched refuse of your teeming shore.

Send these, the homeless, tempest-tost, to me,

I lift my lamp beside the golden door!

Dêem-me as vossas multidões exaustas, pobres

E confusas, ansiando por respirar liberdade,

Os indigentes que recusam a vossa costa abundante.

Conduzam a mim os sem-abrigo, os fustigados pela tempestade,

Porque, junto à porta dourada, ergo a minha tocha!

Esta grandiosa obra de arte foi classificada como monumento nacional e, mais tarde, como património mundial da humanidade, pela Unesco.

Estátua da Liberdade

Para saberes mais

Ser pessoa é ser livre. Mas liberdade não significa cada um fazer o que quer, sem atender às consequências das suas acções sobre os outros. Por este motivo, é necessário que o comportamento humano seja, em certa medida, objecto de legislação. As leis, se forem justas, limitam os actos que podem prejudicar os outros e salvaguardam o direito de intervenção na sociedade. Cumprir a lei é, em princípio, respeitar os direitos e os deveres individuais e colectivos. A vivência da nossa liberdade exige o respeito pelo bem comum.

unidade 4

179

A Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO — Food and Agriculture Organization) é uma organização das Nações Unidas cujo objectivo é promover o desenvolvimento rural e elevar os níveis de nutrição dos povos.

A FAO organiza programas para o aperfeiçoamento e eficiência da produção agrícola e criação de gado, transferindo as novas tecnologias para os países em vias de desenvolvimento. No combate à fome, fomenta a preservação dos recursos naturais, estimulando o desenvolvimento da regulação da pesca, a piscicultura e o investimento nas fontes de energia renováveis.

A FAO, durante o encontro mundial da alimentação, em Roma, de 13 a 17 de Novembro de 1996, aprovou a Declaração de Roma que visa a diminuição da fome no mundo. Esta declaração contou com o apoio de 126 países-membros e afirma o direito de todas as pessoas a um alimento seguro e nutritivo.

A OrgAnizAçãO pArA A AgriculturA e A AlimentAçãO

A FAO é uma Agência especializada e foi fundada a 16 de Outubro de 1945.

Para saberes mais

www.fao.org

Consulta na Net

As principais actividades da FAO

1.º Desenvolver programas de assistência a países subdesenvolvidos;2.º Prestar informação sobre nutrição, alimentos, agricultura e pesca;3.º Aconselhar os governos sobre matérias relacionadas com a agricultura e a

alimentação;4.º Servir de espaço neutro para a discussão e formulação de políticas relacionadas

com a agricultura e a alimentação.

O dia mundial da alimentação é celebrado, desde 1981, a 16 de Outubro. Pretende-se consciencializar a opinião pública sobre as questões da alimentação e da nutrição.

Para saberes mais

Dá-te sugestões de

aspectos que podes

pesquisar na Internet sobre

assuntos relacionados com

a Unidade Lectiva.

Para saberes mais

Consulta na Net

Dá-te informações

interessantes que te

permitem aprofundar os

assuntos abordados ou

conhecer um pouco os

autores dos diferentes

textos.

No teu manual, vais encontrar diferentes espaços e formas de organizar os

textos e os documentos que te vão ajudar a caminhar e a interpretar melhor a

sua mensagem.

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unidade 2

79

JOÃO BAPTISTA

João Baptista é, de acordo com a interpretação cristã, o precursor de Jesus. O nome «Baptista» deriva da sua actividade profética, pois baptizava no rio Jordão todos os que se mostravam dispostos a converter--se a Deus. João interveio publicamente antes de Jesus, anunciando a vinda iminente do Messias.

João convidou as pessoas do seu tempo a arrependerem-se dos seus pecados e a mudarem de vida, denunciando a hipocrisia que orientava a vida de determinados grupos sociais. A sua atitude frontal e desassombrada fez com que fosse preso e decapitado por ordem do rei.

Lc 7, 26,28

Lc 1, 76s

Procura na Bíblia

João Baptista repreende Herodes, por Giuseppe Fattori

São João Baptista, por Gian Lorenzo Bernini

unidade 1

54

Santo Agostinho nasceu em 354, em Hipona (África do Norte), e faleceu em 430. Filho de pai pagão e de mãe cristã, converteu-se ao Cristianismo, já em idade adulta, por influência de Santo Ambrósio, bispo de Milão. Teólogo e filósofo, escreveu várias obras, destacando-se A Cidade de Deus e Confissões.

Para saberes mais

Cristo curando os doentes, por Laura James

Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, o amor.

Santo Agostinho de Hipona

Texto bíblico

A fé e as obras

P rocedem bem se cumprirem o mandamento fundamental: «Amarás o teu semelhante como a ti mesmo.» Mas se fizerem acepção de pessoas, isso

está mal.Que importa, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se a não

põe em prática? Imaginem que algum irmão ou irmã não tem nada que vestir e lhe falta o necessário para comer, cada dia. Vocês podem dizer-lhes: «Vão em paz! Hão-de encontrar com que se aquecer e matar a fome!» Mas se não lhes dão aquilo de que eles precisam, de que valem essas boas palavras? Do mesmo modo a fé, se não é posta em prática, está morta!

Tg 2,8-9.14-17

unidade 3

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ocaso do dia seguinte. Impedidos pelo estrito dever de repousar, nenhum camponês trabalhava o campo, nenhum artífice ia para o seu trabalho, nenhum comerciante ia para o mercado, nem as mulheres faziam os seus trabalhos em casa. Tudo deveria ficar pronto até sexta-feira à tarde.

Os jovens constituíam família através do casamento. A escolha da noiva era normalmente feita pelo pai do noivo quando este atingia os dezassete anos. A selecção acontecia entre as jovens solteiras da aldeia que tivessem entre os treze e os dezassete anos. O pai do noivo negociava com o pai da noiva as condições do noivado, que eram declaradas por escrito ou transmitidas verbalmente, na presença de testemunhas, ficando os noivos prometidos um ao outro. O noivado durava doze meses e durante este período a noiva permanecia na casa dos seus pais, apenas coabitando com o noivo depois do casamento.

Vocabulário

Ocaso: pôr-do-sol.

Coabitar: habitar na mesma casa.

A fAmíliA de Jesus de NAzAré

Anunciação, por Ernst Deger

Maria e José viviam em Nazaré. José pertencia à casa de David e exercia o ofício de carpinteiro.

Maria encontrava-se noiva de José quando o anjo Gabriel lhe anunciou que tinha sido escolhida para ser mãe do filho de Deus, cujo nome devia ser Jesus. Maria confiou nas palavras do anjo e aceitou a missão que este lhe propôs, embora tivesse ficado bastante assustada, uma vez que a sua gravidez não seria facilmente compreendida por José, de quem era apenas noiva, e pelas pessoas da aldeia.

Cada aldeia tinha pelo menos um carpinteiro. A aldeia de Nazaré era conhecida como a terra dos carpinteiros. José terá aprendido o ofício com o seu pai.

Para saberes mais

Indica-te que o

texto que vais ler é uma

passagem bíblica.

A lupa foca o livro da

Bíblia a que pertence

o texto.

Neste espaço aparece

a definição de algumas

palavras mais difíceis.

Vocabulário

Procura na Bíblia

Texto bíblico

Dá-te informações

sobre passagens bíblicas

que poderás consultar em

cada Unidade Lectiva.

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Unidade Lectiva 1 · A Pessoa Humana

DE REGRESSO À ESCOLA...

SOU PESSOA

A AUTENTICIDADE

AS DIMENSÕES DA PESSOA

Dimensão Biológica

Dimensão Social

A Comunicação

Dimensão Espiritual

Sexualidade Humana

DEUS É PESSOA

A DIGNIDADE HUMANA

Direitos e Deveres

Quando os Direitos não estão Garantidos...

Direitos da Criança

Garantir Direitos às Crianças

Atentados aos Direitos da Criança

GARANTIR O DIREITO A SER PESSOA

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ÍNDICE

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Unidade Lectiva 2 · Advento e Natal

CHEGA O NATAL!

EMANUEL: O MESSIAS ESPERADO DE ISRAEL!

JESUS, O MESSIAS PROMETIDO

ADVENTO, TEMPO DE ESPERANÇA

FIGURAS DO ADVENTO

A Virgem Maria

São José

João Baptista

O NATAL: REPRESENTAÇÃO ARTÍSTICA E TRADIÇÕES

A PALESTINA NO TEMPO DE JESUS

O RECENSEAMENTO

JESUS, UM MARCO NA HISTÓRIA

É URGENTE CONSTRUIR UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA!

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Unidade Lectiva 3 · A Família, Comunidade de Amor

O QUE É UMA FAMÍLIA?

A Palavra «Família»

Tipos de Organização Familiar

A FAMÍLIA: UMA INSTITUIÇÃO NA HISTÓRIA

A Instituição Familiar, em Portugal

A FAMÍLIA DE JESUS

Caracterização Social, Económica e Política

A Vida Familiar

A Família de Jesus de Nazaré

FUNÇÃO SOCIALIZADORA DA FAMÍLIA

CONDIÇÕES DE BEM-ESTAR FAMILIAR

OS VALORES NA VIDA FAMILIAR

TAREFAS FAMILIARES

O LUGAR DOS MAIS VELHOS

QUANDO A FAMÍLIA FALHA

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Unidade Lectiva 4 · O Pão de Cada Dia

O PÃO DE CADA DIA...

A ALIMENTAÇÃO NA PERSPECTIVA CULTURAL

A ALIMENTAÇÃO NA EXPRESSÃO ARTÍSTICA

Na Pintura

Na Literatura

Na Música e na Dança

A ALIMENTAÇÃO NA CULTURA BÍBLICA

Simbologia Judaico-Cristã

A ÚLTIMA CEIA

ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA

UM DIREITO DE TODOS

CAUSAS DA FOME

OBRAS DE PROMOÇÃO HUMANA

PARTILHAR A RIQUEZA

LUTA CONTRA A FOME NO MUNDO

A Caritas

A FAO

Banco Alimentar Contra a Fome

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Unidade Lectiva 5 · O Respeito pelos Animais

A IMPORTÂNCIA DOS ANIMAIS

ORIGEM DA VIDA E DIVERSIDADE DE ESPÉCIES

OS ANIMAIS SÃO O RESULTADO DA VONTADE DE DEUS

O DILÚVIO UNIVERSAL

DIVERSIDADE BIOLÓGICA E EXTINÇÃO DAS ESPÉCIES

RELAÇÃO DO SER HUMANO COM OS ANIMAIS

OS ANIMAIS NA EXPRESSÃO ARTÍSTICA

A SIMBOLOGIA JUDAICO-CRISTÃ DOS ANIMAIS

CRITÉRIOS ÉTICOS NA RELAÇÃO COM OS ANIMAIS

SÃO FRANCISCO DE ASSIS — PATRONO DOS ANIMAIS

ASSOCIAÇÕES DE DEFESA DOS ANIMAIS E ESCUTISMO

BIBLIOGRAFIA

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UNIDADE LECTIVA 1

A PessoA HuMANA

UNIDADE LECTIVA 2

AdVeNTo e NATAL

UNIDADE LECTIVA 3

A FAMÍLiA, CoMuNidAde de AMoR

UNIDADE LECTIVA 4

o PÃo de CAdA diA

UNIDADE LECTIVA 5

o ResPeiTo PeLos ANiMAis

iNTRoduÇÃo

Bem-vindo ao 6.º ano!

Chegou mais um novo ano escolar! As experiências de aprendizagem que

fizeres vão ser úteis para poderes continuar a crescer. A tua turma e os teus

professores vão acompanhar-te nesta nova caminhada.

A disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica oferece-te um universo

de valores orientado para a relação com os outros. Proporciona-te também um

conjunto de experiências orientadas para um melhor conhecimento de ti mesmo e

para uma mais adequada compreensão e um melhor acolhimento dos outros. Vais

contactar com aspectos culturais, históricos e religiosos vividos por diferentes

culturas e civilizações. Vais ainda contactar com diversas vivências religiosas,

através do estudo de documentos, da análise de obras de arte e da interpretação

de factos históricos. É à luz da mensagem cristã que te propomos que reconheças

a dignidade da vida humana e o valor da família, bem como de todos os recursos

naturais que estão à nossa disposição.

De acordo com o Programa de Educação Moral e Religiosa Católica para o 6.º

ano de escolaridade, propomos-te cinco Unidades Lectivas cujos temas esperamos

sejam do teu agrado.

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Unidade Lectiva 1

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a Pessoa HUmana

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unidade 1

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De RegResso à escola…

Estamos de regresso à escola. Como passaram rapidamente as férias! Pensamos nas experiências e vivências que estes meses nos proporcionaram, algumas das quais lembraremos ao longo das nossas vidas. Estamos cheios de curiosidade e queremos saber o que os nossos colegas têm para nos contar sobre os dias em que não estivemos juntos.

Durante estes meses, conhecemos coisas novas e talvez tenhamos feito novos amigos; é por isso que temos muitas novidades para partilhar. Alguns falam sobre as pessoas e os sítios novos que conheceram, outros contam como aprenderam coisas diferentes nos livros que leram, nos programas de televisão que viram… em todas as experiências por que passaram. Cada vez mais, os nossos amigos parecem ocupar um lugar especial na nossa vida.

Crescemos! Pensamos de forma diferente sobre a realidade e reflectimos mais antes de decidirmos. Esta capacidade de questionar e pensar sobre as coisas que nos rodeiam parece aperfeiçoar-se. Somos cada vez mais curiosos e este espírito leva-nos a fazer novas descobertas. Subitamente, a vida já não parece tão simples. Começamos a tomar cada vez mais

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consciência da influência que os nossos comportamentos têm sobre os outros e da maneira como nos afectam a nós. Sentimo-nos cada vez mais responsáveis e disponíveis para aprender coisas novas. Esta abertura, esta capacidade para aprender com todas as experiências que vivemos torna-nos intervenientes na construção da sociedade em que estamos inseridos.

ser

seja ruídoseja beijoseja vooseja andorinhaseja lagoseja pacatez da árvoreseja aterragem de borboletaseja mármore de elefanteseja alma de gaivotaseja luz num olharseja um cardume de tardese grite: JÁ SOU.

Ondjaki, 101 poetas: Iniciação à poesia em língua portuguesa

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Cada ser humano nasce inserido numa determinada comunidade. Desenvolve-se na família, no grupo de amigos, na escola e nos vários contextos com os quais contacta. Da comunidade recebemos saberes e valores, através das experiências que vivemos e da abertura à realidade que nos rodeia. Temos consciência da nossa existência, das nossas experiências e aprendemos com elas. Afirmamo-nos através dos nossos pensamentos, sentimentos e afectos, os quais comunicamos aos outros através da linguagem, verbal ou corporal.

Por intermédio da linguagem, conseguimos partilhar as nossas experiências, manifestando aos outros o que somos e aquilo em que acreditamos. De igual modo, revelamos a nossa intimidade, os nossos pensamentos e afectos através de palavras e comportamentos. Desenvolvemos a nossa experiência espiritual, exteriorizamos os sentimentos e manifestamos a nossa inteligência, abrindo-nos aos outros e a Deus.

sou Pessoa

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santo e senha

Deixem passar quem vai na sua estrada.Deixem passarQuem vai cheio de noite e de luar.Deixem passar e não lhe digam nada.

Deixem, que vai apenasBeber água de Sonho a qualquer fonte;Ou colher açucenasA um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

Vem da terra de todos, onde moraE onde volta depois de amanhecer.Deixem-no pois passar, agora

Que vai cheio de noite e solidão.Que vai serUma estrela no chão

Miguel Torga, Diário I (Coimbra, 3 de Janeiro de 1932)

exemplo

Toda a tarde a pensar no meu destino,E o rio, com mais água ou menos água,Sossegado a correrNum areal que o nega!Que lhe importa que o chão do seu caminhoSeja seco e maninho,Se ele é uma eterna fonte que se entrega?!

Miguel Torga, Diário VI (Coimbra, 21 de Março de 1953)

Açucena: Planta bolbosa da família das Liliáceas, de flores brancas e perfumadas, também conhecida por lírio branco; a flor desta planta.

Maninho: Estéril, não cultivado.

Miguel Torga, escritor português, nascido em S. Martinho de Anta (Trás-os-Montes), a 12 de Agosto de 1907, exerceu medicina em Coimbra, onde veio a falecer a 17 de Janeiro de 1995.

Para saberes mais

Vocabulário

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O Mártir, por Auguste Rodin

Acreditava-se, desde a Grécia antiga, que o ser humano era composto por duas dimensões: o corpo e a alma ou o espírito. Este pensamento integrou a filosofia de várias culturas, tendo chegado ao Cristianismo. Para o pensamento cristão actual, estas duas realidades — a corporal e a espiritual — são inseparáveis. O ser humano é compreendido como uma unidade corpo-espírito.

Deste modo, nem o espírito nem o corpo, isoladamente, expressam aquilo que é o ser humano. Nenhum de nós é simplesmente corpo, nem simplesmente espírito. Quando amamos, pensamos ou tomamos decisões fazemo-lo simultaneamente de forma espiritual e física.

Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente a sua grandeza.

Bento XVI, Encíclica Deus Caritas Est

As encíclicas são cartas pastorais enviadas pelo bispo de Roma, o papa, à Igreja. O nome das encíclicas corresponde às primeiras palavras do texto, redigido em latim.

Para saberes mais

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unidade 1

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Se não fôssemos corpo, não seríamos capazes de nos revelarmos aos outros, de com eles comunicarmos e, em geral, de estabelecermos relações de comunhão. É através do corpo que nós exprimimos o que pensamos, o que sentimos ou as nossas decisões. Sem corpo seríamos seres virados para dentro de nós, como conchas fechadas que não comunicam com o exterior. O nosso corpo exprime as mensagens do nosso espírito. Observa as imagens que se seguem e procura captar, através das expressões corporais ou da maneira de se vestirem e arranjarem, os sentimentos, as emoções, os pensamentos ou a vontade que as personagens transmitem.

A palavra ‘pessoa’, de origem latina, deriva de persona, «máscara de teatro»; por extensão, significa o papel atribuído a essa máscara, a ‘personagem’. Relacionado com o ser humano, o pensamento cristão e, sobretudo, Santo Agostinho, usou a palavra para se referir às três pessoas (divinas) da Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A palavra ‘pessoa’ designava a capacidade de estabelecer relação com os outros.

Para saberes mais

Azulejos representando Crianças a Brincar na Rua, por Francisque Poulbot

Homem e mulher Masai, Tanzânia

Mulher com filho morto, por Kathe Schmidt

O Mártir, por Auguste Rodin

Rua de Paris, por Andre Fougeron Mãe e criança em Holland Park, por Dora Holzhamdler

A mulher grávida, por Pablo Picasso Mikado, Anónimo

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Auto-retrato com chapéu de palha, por Vincent van Gogh

Através dos meios de comunicação social, chega até nós um forte apelo ao consumo de determinados produtos e marcas, cujo valor se baseia no poder das imagens. Associada ao consumismo está uma determinada imagem aparente de nós mesmos, que procuramos transmitir aos outros, a qual se constrói a partir de modelos que a sociedade cria, de que é exemplo a moda.

Por vezes, procuramos mostrar aos outros que somos aquilo que de facto não somos, vivendo uma vida de aparência, ou seja, uma vida não autêntica. Sermos genuínos e autênticos, relacionando-nos com os outros a partir do que somos e daquilo em que acreditamos nem sempre é fácil. Mas a verdadeira riqueza pessoal não se encontra nos bens que cada um possui, mas nos valores em que se acredita. Cada pessoa vale pelo que é e não pelo que tem.

É importante estabelecer o equilíbrio entre o nosso interior (o nosso mundo espiritual) e o aspecto exterior (o nosso mundo corporal).

Por isso, zelamos pela saúde do nosso corpo, mantendo cuidados de higiene diários, bem como uma dieta alimentar equilibrada. O cuidado que temos com a forma como aparecemos perante os outros não significa falta de autenticidade. Desde que corresponda à beleza interior (sentimentos positivos em relação aos outros), o facto de nos arranjarmos exteriormente faz com que nos sintamos bem connosco próprios e com

Conhece-te a ti mesmo.

Sócrates, filósofo grego (séc. V)

a autenticiDaDe

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que os outros tenham uma ideia mais agradável a nosso respeito. Isto não pode ser confundido com vaidade, porque ser vaidoso é ser fútil, superficial e viver quase exclusivamente para a imagem exterior, sem atender aos aspectos mais importantes.

Num mundo que vive para o culto da aparência, onde a mentira é um meio para se passar uma imagem de si que não corresponde à realidade, é cada vez mais premente que cada ser humano seja autêntico, seja ele mesmo, sem procurar enganar os outros. A maior riqueza que possuímos encontra-se na solidariedade e na entrega às outras pessoas, de forma desinteressada. Madre Teresa de Calcutá, (1910-

1997)

Raoul Follereau, (1903 - 1977)

O espaço que nos rodeia influencia a maneira como nos sentimos. Por isso, procuramos harmonizar aquilo que somos com o espaço onde habitamos ou trabalhamos.

Uma das mais antigas artes que o ser humano desenvolveu para construir espaços onde se sinta bem foi a arquitectura. Utilizada desde a pré-história, as suas primeiras funções foram a protecção e a habitação.

Actualmente, a arquitectura preocupa-se também com o conforto, a estética e a eficiência energética. Seria bom que nos identificássemos com os locais que frequentamos e com a casa onde vivemos, dado serem relevantes para o nosso equilíbrio. Infelizmente, isso nem sempre é possível, por falta e capacidade financeira.

Existem investigações sobre os ambientes e os locais onde habitamos. Uma delas é chamada Feng Shui. É uma técnica oriental ancestral que permite compreender a influência das cores, materiais, formas e elementos naturais que nos rodeiam — tanto em casa como no trabalho.

Para saberes mais

O quarto de van Gogh, por Vincent van Gogh

Page 22: Manual Aluno 6º.pdf

unidade 1

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A pessoa caracteriza-se por três dimensões fundamentais, a biológica, a social e a espiritual.

A dimensão biológica caracteriza todos os seres vivos, tornando-os, neste aspecto, semelhantes. A dimensão social encontra-se associada às espécies animais, à sua capacidade de comunicação e de organização em grupo; no entanto, no ser humano, esta dimensão é muito mais complexa, como podemos verificar pela organização das sociedades humanas.

A dimensão espiritual é a vida interior do ser humano: a sua capacidade racional (o pensamento), a vontade e a consciência moral, a afectividade (sentimentos, emoções) e a relação com o transcendente. Todas estas capacidades espirituais estão na base da comunicação com os outros, que acontece a um nível muito superior ao dos animais, especialmente através da complexa linguagem verbal.

Um dos aspectos que distingue o ser humano de todas as outras espécies é a sua capacidade de distinguir entre o bem e o mal, de tomar decisões livres e responsáveis, agindo assim sobre a realidade que o rodeia, orientado por valores éticos e pela capacidade de análise da realidade. Somos, portanto, livres e capazes de tomar opções individuais.

Mas as pessoas, embora partilhem muitos aspectos que têm em comum, não são iguais. Cada pessoa tem as suas particularidades e é naturalmente irrepetível.

as Dimensões Da Pessoa

Transcendente: Deus; o sagrado.

Vocabulário

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dimensão BioLógica

Cada ser humano apresenta características biológicas únicas. Dos nossos pais recebemos a herança genética, através da qual partilhamos traços fisionómicos com a nossa linhagem materna e paterna. Contudo, as nossas características físicas não são apenas o somatório da herança das características da mãe e do pai, pois também apresentamos traços distintos que fazem de cada um de nós um ser único.

A identidade sexual é um aspecto importante da dimensão biológica da pessoa. Do pai recebemos a informação genética, que define a nossa identidade sexual. Esta caracteriza-se pela diferenciação dos órgãos genitais masculino e feminino, ou seja, pela diferenciação do homem e da mulher. Os homens e as mulheres não são apenas diferentes do ponto de vista biológico, também se diferenciam do ponto de vista psicológico e comportamental.

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unidade 1

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A identidade sexual do bebé é definida pelos cromossomas da célula sexual masculina, o espermatozóide. Estes cromossomas apresentam a denominação científica de cromossomas X e Y. É o cromossoma Y que define o sexo masculino do bebé. Os cromossomas sexuais dos óvulos são sempre X. Se, no momento da fecundação, o espermatozóide tiver cromossomas sexuais X, o bebé fica com um par de cromossomas XX (do pai e da mãe) e é uma menina. Se, pelo contrário, o espermatozóide tiver cromossomas sexuais Y, o bebé fica com um par de cromossomas XY (da mãe e do pai) e é um menino.

Para saberes mais

Fisiológica: Que diz respeito às funções dos diferentes órgãos dos seres vivos.

Fisionómica: Que diz respeito aos traços do rosto, às feições.

Informação genética: Conjunto de informação, presente na cadeia de ADN (ácido desoxirribonucleico), transmitida de pais para filhos através das células sexuais.

As células dos seres humanos contêm, cada uma, 23 pares de cromossomas, num total de 46 cromossomas. Cada cromossoma contém uma cadeia, em forma de hélice, de ADN com toda a informação genética.

Mas as células sexuais (o espermatozóide e o óvulo), ao contrário das outras células, só têm 23 cromossomas. No momento da fecundação, o óvulo e o espermatozóide unem-se e juntam, em pares, os 23 cromossomas provenientes da mãe e os 23 cromossomas provenientes do pai, dando origem a um ser geneticamente diferente. Todavia, a diferença do novo ser em relação aos pais não se fica por aqui, uma vez que os cromossomas provenientes da mãe e do pai trocam pequenos fragmentos de informação genética (ADN). As diferentes combinações possíveis de cromossomas e ADN são tantas que cada ser humano é uma espécie de «milagre»: um ser único e irrepetível.

Para saberes mais

O cérebro humano é muito mais desenvolvido do que o das restantes espécies animais. Este desenvolvimento faz com que os seres humanos sejam dotados de inteligência superior, que se manifesta na capacidade de resolver problemas complexos e elaborar raciocínios profundos. Esta inteligência permite-lhes pensar e agir sobre o mundo que os rodeia e confere-lhes grande autonomia, liberdade e capacidade de decisão pessoal.

Vocabulário

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A família tem uma importância fundamental no desenvolvimento da pessoa. Nela fazemos a primeira experiência de sermos únicos. De igual modo, tomamos consciência de que cada uma das pessoas com quem nos relacionamos é única.

Quando os pais dão o nome a um filho, estão, simbolicamente, a atribuir-lhe uma identidade própria que o distingue como pessoa e o diferencia dos outros. Por isso, o profeta Isaías refere que Deus chama cada um pelo seu nome, pois o nome (a identidade) de cada pessoa é sagrado. Assim se entende a origem cristã do direito que cada pessoa tem ao bom nome, ou seja, o direito a ser respeitado na sua dignidade e na sua identidade.

dimensão sociaL

O ser humano afirma-se em sociedade através da família e dos diversos grupos sociais e culturais aos quais pertence. Nela, cada ser humano estrutura os seus conhecimentos e valores que influenciam as suas atitudes e os seus comportamentos, bem como as suas decisões.

Artigo 26.º(Outros direitos pessoais)

1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra e à reserva da intimidade da vida privada e familiar.

Constituição da República Portuguesa

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As associações culturais e recreativas, os clubes desportivos, assim como outras instituições favorecem a participação das pessoas na vida social. São formas de socialização que manifestam a tendência natural das pessoas para cooperarem, procurando atingir objectivos que vão muito para além das suas capacidades individuais. As associações estimulam as aptidões de cada pessoa, o seu espírito de iniciativa e de responsabilidade, contribuindo para o exercício da cidadania.

A vivência em sociedade permite a realização da vocação humana, uma vez que, em princípio, as sociedades estão orientadas para a realização de cada indivíduo e para o cumprimento do bem comum.

Ao viver em sociedade, cada pessoa é herdeira de um passado e a ele devedora. Dessa herança, cada um recebe tradições, crenças, formas de vida, leis, regulamentos, etc. Estes últimos enquadram os direitos e os deveres das pessoas. Assim, cada membro da sociedade sabe quais são os direitos que pode reivindicar e os deveres a respeitar.

A curiosidade natural e a procura de respostas para problemas levam o ser humano, individual e colectivamente, a progredir através de novas aprendizagens e descobertas, por forma a encontrar soluções inovadoras. Alguns dos resultados concretizam-se no chamado avanço tecnológico, na inovação científica e no desenvolvimento material das sociedades. Tudo isto resulta da acção do ser humano, enquanto sujeito influente e corresponsável pelas transformações que ocorrem à sua volta.

Contudo, verificamos que, muitas vezes, as mudanças não respondem aos verdadeiros interesses da pessoa. Por exemplo, algumas aplicações tecnológicas, sendo aparentemente positivas, podem revelar-se prejudiciais para o ser humano. De facto, podemos usar a nossa inteligência e liberdade tanto para o bem como para o mal.

A pessoa humana é, e deve ser, o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais.

Gaudium et Spes 25,1

Explosão Núclear sobre Bikini AtollNave espacial Soyuz a descolar,

Rússia

Marie Curie no seu laboratório,

Escola Inglesa (séc. XX)

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a comUnicação

O ser humano tem a capacidade extraordinária de comunicar as suas experiências individuais aos outros, através da linguagem.

Na comunicação, utilizamos a linguagem verbal — recorrendo a pa-lavras e sons — e a não verbal — gestos, posturas do corpo. A linguagem não verbal pode reforçar ou prejudicar a mensagem que pretendemos trans-mitir.

Para saberes mais

Indo-Europeu

Céltico

Germânico

Grego

Itálico Balto-eslávico

Indo-irânico

Sânscrito

Persa

Servo-croata

Checo

Polaco

Russo

Ucraniano

Romeno

Italiano

FrancêsCastelhano

Português

Sueco

Norueguês

Inglês

Holandês

Alemão

Irlandês

Dinamarquês

Latim

árvore genealógica de algumas línguas indo-europeias

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Kanimanbo Calunga!

Certo dia, ouvi contar, em língua ronga, uma história, junto às águas do grande mar Índico, e de imediato percebi que era desconhecida de todos os que a escutavam. Um velho e respeitado sábio contava que há muito, muito tempo, antes da chegada do mulungo, o Criador, viajando numa nuvem, lançou as sementes das línguas que haveriam de crescer com a humanidade. O Pai proferia a palavra, pronunciava o nome e a língua surgia. Recordo ainda as suas palavras finais: «E Ele disse: “Faça-se a língua swahili”. E fez-se a swahili. E depois Ele disse: “Faça-se a língua maconde”. E fez-se a maconde. E depois Ele disse: “Faça-se a língua macua”. E fez-se a macua. E por último Ele disse: “Faça-se a língua ronga”. E fez-se a ronga.»

Depois de percorrer o mundo e terminada a distribuição das línguas, dizem que se retirou algures para os lados do Alto Molócue e por lá se deixou ficar, de onde observa a Criação. Outros, porém, afirmam que descansa, mais a Norte, na região de Niassa. Não houve uma só semente que não tivesse germinado, o que parecia ser maningue bom para que os povos comunicassem. Mas as pessoas deixaram de se compreender. Deixaram de escutar o que os outros diziam. A obra de Calunga não foi compreendida pelos homens.

Então, os chefes das tribos reuniram-se próximo da baía das acácias, para tentar resolver o problema. Todos reconheciam o problema, mas parecia difícil a solução. Eis que um mwalimu do norte disse ter a solução. O problema do conflito não era do céu, mas da terra! As línguas jamais desapareceriam e o problema continuaria, enquanto um só homem não reconhecesse a grandeza da Criação. Então, todos teriam de pronunciar «Eh Oena Calunga! Kanimanbo, kanimanbo, kanimanbo!» três vezes kanimanbo.

As tribos tinham-se reunido pela primeira vez e, trabalhando todos com o mesmo objectivo, atingiram o coração de Calunga. Dizia o sábio madala que cada um tinha alcançado não o coração de Calunga, mas o seu próprio coração. Desde então, os povos não deixaram de comunicar, mesmo sem uma língua comum, mas unidos pelo coração. Como forma de agradecimento, todos os anos, no mesmo dia, as tribos juntam-se e partem em peregrinação, em direcção ao Norte. Há quem procure todo o ano o lugar onde Calunga descansa, lugar onde, dizem, a luz brilha com mais intensidade. O velho madala, porém, recusa-se a fazer a peregrinação. Diz ter encontrado o Criador em casa, no seu próprio coração.

Era a primeira vez que o madala contava a história, tal como já a ouvira contar, uma só vez, ainda em criança. Certo é que, ainda hoje, as pessoas agradecem do coração, em ronga, pronunciando a palavra mágica kanimanbo.

Texto inédito de Carlos Guardado da Silva

Vocabulário Ronga:

Calunga: Deus

Eh oena: Oh tu!

Kanimanbo: Obrigado

Madala: Pessoa idosa e respeitada

Maningue: Muito

Mwalimu: Sacerdote, professor (língua maconde)

Mulungo: Homem branco

Niassa: Província moçambicana

Ronga: Dialecto mais meridional do grupo linguístico banto tsonga.

Vocabulário

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A comunicação entre os seres humanos não se faz apenas através da linguagem verbal e corporal. Faz-se também através das produções artísticas, fruto da criatividade humana e da capacidade de o ser humano construir mundos que não existem. As artes são múltiplas: a música, a dança, a pintura, a escultura, a literatura, o teatro, o cinema… Aprender a captar as mensagens transmitidas pelas obras de arte faz parte do enriquecimento cultural de todas as pessoas.

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dimensão esPiritUaL

A pessoa realiza-se nas dimensões biológica e social. Contudo, só se completa na dimensão espiritual. É esta característica que distingue o ser humano dos outros animais. Consiste na capacidade de pensar, de amar, de tomar decisões livres e de agir sobre o mundo, participando na obra do Criador. Embora outras espécies animais tenham comportamentos que se aproximam dos comportamentos humanos, a maneira como o ser humano usa a sua dimensão espiritual é qualitativamente diferente da maneira como as outras espécies se comportam.

A inteligência, impelida pela sabedoria, conduz a pessoa a uma permanente procura do bem, no relacionamento com os outros e consigo própria. A consciência moral é um dos aspectos que torna o ser humano qualitativamente diferente de todos os outros seres.

A capacidade de amar, aspecto central da vida espiritual, é a marca da presença de Deus em cada um. Quem ama procura a verdade e o bem, em cada situação da vida quotidiana. Está, assim, aberto aos outros, seus irmãos, e eventualmente a Deus. A dimensão espiritual é também a capacidade de cada indivíduo se relacionar com Deus, faculdade esta que só ocorre entre os humanos.

São manifestações da vida espiritual do ser humano, para além das que já se apontaram, as descobertas científicas, as realizações tecnológicas,

Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim.

Gl 2,20

Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns para com os outros. Quem ama o próximo cumpre a Lei.

Rm 13, 8

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as produções artísticas… Enquanto imagem e semelhança de Deus, cada pessoa é capaz de contribuir para a construção de um mundo mais rico, onde a beleza, a verdade, a justiça e o amor orientam o comportamento humano e a vida das sociedades.

A natureza espiritual da pessoa humana encontra a sua perfeição na sabedoria, que suavemente atrai o espírito do homem à busca do amor da verdade e do bem.Mais do que nos séculos passados, o nosso tempo precisa de uma tal sabedoria, para que se humanizem as novas descobertas dos homens. Está ameaçado, com efeito, o destino do mundo, se não surgirem homens cheios de sabedoria. E é de notar que muitas nações, pobres em bens económicos, mas ricas em sabedoria, podem trazer às outras incalculáveis benefícios.

Gaudium et Spes 15

Ef 4,16

Procura na Biblia

Oração em Taizé

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sexUaLidade HUmana

A sexualidade afecta todos os aspectos referentes ao indivíduo, tanto ao nível da dimensão física, como da dimensão social e espiritual. Traduz-se na afectividade, que consiste na capacidade de amar e criar laços de comunhão com o outro. A realização plena da sexualidade humana concretiza-se na vocação para amar o próximo. Esta vocação pode realizar-se em qualquer circunstância da vida pessoal, quer a pessoa tenha optado por partilhar a sua vida com alguém, quer tenha optado por permanecer celibatária, dedicando-se, por exemplo, a uma profissão ou a uma actividade que interpreta como um serviço ao próximo.

As três árvores

Um dia, numa bela manhã de sol, um sábio foi procurado pelo seu aprendiz, que lhe perguntou:— Mestre, que significado tem a amizade?O mestre apontou para três árvores e respondeu:— Repara nestas três árvores. São diferentes: numa há flores bonitas e perfumadas; noutra, notamos frutos que chegam a dobrar os seus galhos; e, na última, há somente folhas de muitas cores misturadas.Subiram então a um penhasco de onde podiam ter uma visão panorâmica e o mestre perguntou ao seu aprendiz:— O que vês aqui de cima?— Vejo apenas que aquelas três árvores cresceram próximas e independentes; porém, as suas copas fundem-se, produzindo uma única sombra — respondeu o aprendiz.O mestre concluiu, então:— Esse é o verdadeiro significado da amizade: diferenças que crescem juntas, mas que, quanto maiores são, mais próximas ficam, produzindo na força da união uma única sombra, um único abrigo, onde é possível recuperar forças e encontrar conforto para os olhos, para a alma e para o coração. Os amigos são como árvores diferentes que crescem próximas; quanto mais crescem, mais se unem, formando uma única força e descobrindo coisas novas em cada encontro.

Adaptado de http://tiojuliao.diabetes.org.br/Divino/Mensagem/msg04.php (12/02/2009)

Celibatário: Que não contraiu matrimónio; que vive solteiro.

Vocação: A palavra ‘vocação’ deriva do verbo latino ‘uocare’ que significa chamar. Assim, a vocação consiste no facto de alguém se sentir chamado a abraçar um certo estilo de vida ou a dedicar-se a uma tarefa específica.

Vocabulário

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Conto do Amor

Certa vez, um homem, cansado de ver tanta maldade na região onde vivia, decidiu fazer uma peregrinação ao santuário de Deus, para lhe pedir que mudasse aquela situação.Ao entardecer, já cansado de tanto caminhar, parou debaixo de uma árvore e ali preparou o local para passar a noite.Quando já estava pronto para dormir, ouviu uma voz, vinda do nada, que lhe dizia:— Homem, como te chamas?Ele, muito assustado, respondeu:— Chamo-me Amor.— De onde vens?Muito triste, Amor respondeu-lhe:— Venho de uma terra desolada, onde só existe maldade. A paz e a esperança há muito findaram.— Para onde te diriges com toda essa tristeza?— Vou para o santuário de Deus, pedir-lhe que intervenha na minha região, para que o bem volte a reinar.A voz cessou por um instante e, depois, voltou a dizer:— Não precisas de ir tão longe. Eu sou aquele que tu procuras. Mas só posso conceder-te o teu desejo se pedires com muita fé.E Amor pensou, entrou em oração e decidiu fazer o pedido:— Quero que me transformes numa pedra e me coloques na boca daquele vulcão.E Deus, confuso, disse:— Pensei que fosses pedir-me para restabelecer o bem na tua região. Por que me pedes isso?— Eu fiz como me disseste. Pedi com fé. Por isso, cumpre a tua promessa.E assim foi feito. Deus transformou-o numa pedra e colocou-o na boca do vulcão.Logo o vulcão entrou em erupção e, na primeira explosão, estilhaçou Amor em milhões de pedaços que se espalharam por toda a Terra.Assim, em todos os lugares, passou a existir um pedaço de Amor e na Terra voltou a haver esperança.

Emerson Danda (adaptado de http://recantodasletras.uol.com.br/contos/35064 - 12/02/2009)

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Na Bíblia, Deus não é uma força impessoal, uma espécie de energia que se propaga pelo universo. A mensagem bíblica afirma a convicção de que Deus é pessoa. Como já vimos, ser pessoa significa ser capaz de estabelecer relação com os outros. Nos vários relatos bíblicos, Deus manifesta-se ao ser humano, fala com ele, propõe-lhe um estilo de vida, declara que o ama e que deseja a sua felicidade. Deus é o amigo da humanidade. Indigna-se quando o ser humano é vítima da injustiça e do ódio alheio, e reafirma a promessa da sua presença constante no meio das adversidades. Deus é, portanto, um ser pessoal, inteligente e livre, que ama e quer estabelecer com cada ser humano uma relação especial, única.

O Salmo 139 é uma confissão de fé no Deus infinito, criador, omnisciente e pessoal: um verdadeiro louvor à relação pessoal, íntima e única entre cada crente e Deus.

Trata-se de uma oração poética que foi redigida para ser cantada e acompanhada por um instrumento musical de cordas: o saltério, a cítara, a lira ou a harpa. Os Salmos são utilizados no culto religioso, tanto por judeus como por cristãos. Jesus, durante a sua vida pública, também citou vários trechos de salmos e, durante a oração nas sinagogas e no Templo de Jerusalém, cantou Salmos em louvor a Deus.

Infinito: Que não tem princípio nem fim.

Omnisciente: Que tudo sabe.

Deus é Pessoa

Vocabulário

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Examinar: Analisar; investigar; observar.

Moldar: Dar forma a; formar; criar.

Perscrutar: Tratar de conhecer; investigar; explorar.

Sondar: Tratar de conhecer; avaliar; investigar; explorar.

Vereda: Caminho estreito e de terra batida.

Vocabulário

Texto bíblico

Tu conheces, ó deus, a minha intimidade!

Senhor, tu examinaste-me e conheces-me.2Conheces todos os meus movimentos;à distância, sabes os meus pensamentos.

3Vês-me quando trabalho e quando descanso;conheces todas as minhas acções.4Mesmo antes de eu falar,já tu sabes o que vou dizer.5Tu estás em meu redor, por todo o lado;proteges-me com o teu poder.6O teu conhecimento a meu respeito é muito profundo;está para além da minha compreensão.

7Onde poderia eu ir para me esconder de ti?Para onde poderia eu fugir da tua presença?8Se subisse aos céus, lá estarias;se descesse ao mundo dos mortos, lá estarias também.9Se eu voasse para além do orienteou fosse habitar nos lugares mais distantes do ocidente,10também lá a tua mão desceria sobre mim,lá estarias para me segurar!11Se eu pedisse à escuridão para me esconderou à luz para se transformar em noite à minha volta,12a escuridão não me havia de esconder de tie a noite seria para ti tão brilhante como o dia.Para ti a escuridão e a luz são a mesma coisa!

13Foste tu que moldaste todo o meu ser;formaste-me no ventre de minha mãe.14Louvo-te, ó Altíssimo, por tão espantosas maravilhas;fico admirado com as tuas obras.Conheces intimamente o meu ser.15Quando o meu corpo estava a ser formado,sem que ninguém o pudesse ver;quando eu me desenvolvia em segredo,nada disso te escapava.

1

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Neste Salmo, o autor dirige-se a Deus, interpelando-o. O crente vive na certeza de que Deus o conhece ainda melhor do que ele próprio se conhece.

O autor refere-se a Deus atribuindo-lhe acções que são próprias da atitude relacional da pessoa: Deus examina, conhece, sabe, vê, está presente, protege, faz descer a mão, molda, forma, assinala, pensa, sonda, perscruta, guia. Qualquer destes verbos exprime a ideia de que Deus está de tal forma presente na vida humana que nenhuma pessoa pode alguma vez estar inteiramente sozinha.

16Antes de eu estar formado, já tu me havias visto.Tudo isso estava escrito no teu livro;tinhas assinalado todos os dias da minha vida,antes de qualquer deles existir.17Mas para mim, que profundos são os teus pensamentos, ó Deus!Que misterioso é o seu conteúdo.

23Examina-me, ó Deus, e sonda o meu coração;põe-me à prova e perscruta os meus pensamentos.24Vê se eu sigo pelo caminho do male guia-me pela tua vereda, ó Deus eterno.

Salmo 139(138),1-17.23-24

Texto bíblico

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direitos e deveres

Pelo facto de sermos pessoas, todos somos portadores de direitos e de deveres. Tanto uns como outros são necessários à vida das sociedades humanas. O que seria uma comunidade em que aos membros não fossem reconhecidos direitos, nem eles assumissem deveres para com os outros? Na verdade, a defesa dos direitos individuais exige o respeito pelos direitos dos outros (deveres). As leis e os regulamentos servem para garantir esses direitos e clarificar os deveres.

O estabelecimento e reconhecimento dos direitos humanos, tal como os conhecemos hoje, levou muito tempo a ser alcançado e ainda é um processo que não está concluído. Na verdade, os direitos humanos não são cumpridos em todo o lado. Exige-se, pois, uma cultura de cidadania, de liberdade e de respeito pela dignidade de cada pessoa, para que cada uma possa realizar-se plenamente.

A história da humanidade é também uma história de libertação. O ser humano percorreu um longo caminho na busca da liberdade.

a DigniDaDe Humana

A opressão nunca conseguiu suprimir nas pessoas o desejo de viver em liberdade.

Dalai Lama

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Moisés fechando o Mar Vermelho, por Siegfried Detler Bendixen

Virgem com criança, Ícone Ortodoxo

Nesta conquista pela liberdade, a Revolução Francesa, com o lema «liberdade, igualdade e fraternidade», foi um acontecimento marcante da história recente da luta pela liberdade e igualdade entre as pessoas. Os valores da liberdade, igualdade e fraternidade têm a sua raiz na cultura grega e no Cristianismo. Mas foi a partir da Revolução Francesa que começaram a ganhar contornos políticos e sociais mais vastos.

A mais famosa representação da liberdade encontra-se na célebre Estátua da Liberdade, em Nova Iorque: uma mulher — a liberdade — vestida com uma toga, ergue, numa mão, uma tocha de luz (símbolo do fogo eterno da liberdade), na outra segura uma placa com a data da independência dos Estados Unidos da América (4 de Julho de 1776, em algarismos romanos). Sob os seus pés, estão cadeias quebradas, símbolo da libertação da tirania. Na cabeça tem um diadema de sete espigões, que representam os setes oceanos (Atlântico Norte, Atlântico

Diadema: Coroa.

Tirania: Governo opressor e cruel; opressão; violência.

Proclamação da Emancipação, por A. A. Lamb

Vocabulário

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Revolução Francesa, (Escola Inglesa,

(século XX))

Rei João a assinar a Magna carta

Escravatura, por Angus McBride

Criança subrevivente do Holocausto

Soldados Portugueses nas ruas após o 25 de Abril

Nelson Mandela a sair da prisão

Uma cavalgada pela liberdade - Os escravos fugitivos, por Eastman Johnson

Sul, Pacífico Norte, Pacífico Sul, Árctico, Antárctico, Índico) e os sete continentes (América do Norte, América do Sul, Europa, África, Ásia, Oceânia, e Antárctica), sugerindo que a liberdade é um direito de todos os povos da Terra.

No século XIX começou a batalha pela abolição da escravatura. Ao mesmo tempo, lutava-se pela defesa do sufrágio universal, ou seja, o direito de todas as pessoas participarem na eleição dos seus representantes. Estes direitos políticos foram essenciais para a afirmação da dignidade de todas as pessoas, independentemente da sua classe social, etnia, género, religião, etc.

Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a escravatura. Os primeiros escravos a serem libertados, em 1854, pertenciam ao Estado português.

Para saberes mais

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A Estátua da Liberdade encontra-se na Ilha da Liberdade, em Nova Iorque, desde 28 de Outubro de 1886. Comemora o centenário da assinatura da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América e foi oferecida pelo povo francês ao povo americano, em sinal de amizade. É um dos mais universais símbolos da liberdade política e da democracia. O seu nome oficial é Liberty Enlightening the World («A Liberdade Iluminando o Mundo»).

Foi projectada e construída pelo escultor alsaciano Frédéric Auguste Bartholdi (1834-1904). Para a construção da estrutura metálica interna, Bartholdi contou com a assistência do engenheiro francês Gustave Eiffel. A estátua mede 46,50 metros (92,99 metros incluindo o pedestal). Só o nariz mede 1,37 metros. Pesa 158 toneladas repartidas pelo esqueleto de aço (127 toneladas) e pela estátua de cobre (31 toneladas). É a escultura mais pesada do mundo.

No seu pedestal, há uma placa de bronze, onde está gravado o final do poema da americana Emma Lazarus, intitulado «The new Colossus»:

Give me your tired, your poor,

Your huddled masses yearning to breathe free,

The wretched refuse of your teeming shore.

Send these, the homeless, tempest-tost, to me,

I lift my lamp beside the golden door!

Dêem-me as vossas multidões exaustas, pobres

E confusas, ansiando por respirar liberdade,

Os indigentes que recusam a vossa costa abundante.

Conduzam a mim os sem-abrigo, os fustigados pela tempestade,

Porque, junto à porta dourada, ergo a minha tocha!

Esta grandiosa obra de arte foi classificada como monumento nacional e, mais tarde, como património mundial da humanidade, pela Unesco.

Estátua da Liberdade

Para saberes mais

Ser pessoa é ser livre. Mas liberdade não significa cada um fazer o que quer, sem atender às consequências das suas acções sobre os outros. Por este motivo, é necessário que o comportamento humano seja, em certa medida, objecto de legislação. As leis, se forem justas, limitam os actos que podem prejudicar os outros e salvaguardam o direito de intervenção na sociedade. Cumprir a lei é, em princípio, respeitar os direitos e os deveres individuais e colectivos. A vivência da nossa liberdade exige o respeito pelo bem comum.

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Pedacinhos de deus

Se sentes dentro de ti a vontade de amarem gestos que criem fontes, a audácia de sonharmais longínquos horizontes e o apelo a escalarcada vez mais altos montes,cada vez mais altos montes,então…

Tens em ti um pedacinho de Deus,tens rumos certos no coração.Desperta o sonho: tens em ti os céus,liberta a vida da palma da mão.Faz desses rumos os caminhos teus:de B. P. recebeste esta missão.

Se sentes dentro de ti sempre a sede de gritaro nome da liberdade, a coragem de falara palavra da verdade e a servir participarna construção da cidade,na construção da cidade,então…

Se sentes dentro de ti o silêncio inspirara paz ao teu coração chamando-te a enfrentara vida com decisão e teimas acreditarna esperança de um mundo bom,na esperança de um mundo bom,então…

Música e letra: Alexandre Reis, Pe. José Nuno

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QUando os direitos não estão garantidos...

A humanidade já viveu períodos sombrios, mesmo na história recente, nos quais morreram milhões de homens, mulheres e crianças. A primeira guerra mundial (1914-1918), por exemplo, provocou milhares de mortos e feriu de tal modo o coração das pessoas que o ódio, o medo e a desconfiança tomaram conta das relações entre alguns povos e pessoas. Quando a guerra terminou, ficaram muitas discórdias por resolver. Não demorou muito a eclodir a segunda guerra mundial (1939-1945).

Neste conflito bélico, como em todos, foi notório o desrespeito pelo ser humano, enquanto pessoa dotada de dignidade.

No final da segunda guerra mundial, com o intuito de evitar novos conflitos, algumas nações uniram-se e criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), que é ainda hoje uma organização muito prestigiada. Os seus objectivos são: promover a paz no mundo, proteger os direitos humanos, fomentar o desenvolvimento económico e social das nações, estimular a autonomia dos povos e reforçar laços entre todas as nações. Actualmente, a ONU reúne mais de 190 países.

Um dos marcos mais importantes da vida desta instituição foi a publicação, a 20 de Junho de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Edifício das Nações Unidas

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Humanos (DUDH). Todos os membros têm a obrigação de respeitar e fazer respeitar os direitos que essa declaração proclama.

Muitos dos países membros da ONU continuam a desrespeitar os preceitos inscritos nesta declaração. A muitos povos, bem como a grupos específicos, ainda hoje é vedado o exercício dos seus direitos fundamentais. As crianças constituem, indiscutivelmente, um dos grupos mais vulneráveis.

direitos da criança

Os direitos das crianças são o resultado de uma conquista recente da história da humanidade. Outrora, não se reconheciam direitos específicos às crianças, por isso não havia qualquer legislação sobre o assunto. A criança dependia totalmente da vontade dos adultos com quem vivia.

Se observarmos factos da vida privada das pessoas, ao longo dos diferentes períodos da história, podemos verificar que as crianças estavam inteiramente submetidas à deliberação dos adultos, não lhes sendo garantidos quaisquer direitos pessoais.

Entretanto, a consciência dos povos foi evoluindo e hoje reconhece-se à criança direitos próprios que não dependem da vontade dos adultos.

Assim, os adultos que cuidam das crianças não têm sobre elas direitos de propriedade, como se se tratassem de objectos e não de pessoas. Bem pelo contrário, estão obrigados a zelar pelo interesse das crianças, pelo seu bem-estar, pela sua felicidade, pelo seu crescimento harmonioso, bem como a ouvi-las e a permitir que tomem algumas decisões. Quando os seus direitos básicos não são respeitados pelos adultos, outras entidades podem e devem intervir para garantir a sua saúde e bem-estar.

Esta evolução positiva tem a sua origem nos valores cristãos. De facto, ao observarmos a maneira como Jesus se relacionava com as crianças, verificamos que era muito diferente da forma como era esperado que o fizesse. Alguns traziam as suas crianças até Jesus para ele as abençoar,

Mt 18, 1-5

Procura na Bíblia

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mas os discípulos zangavam-se com eles, provavelmente por acharem que Jesus devia dedicar-se a gente mais importante do que as crianças. No entanto, Jesus ficava indignado com os discípulos (Mc 10,14) e repreendia-os, dizendo-lhes que deixassem passar as crianças, porque elas eram o modelo de todo aquele que quisesse aceitar a sua mensagem de salvação.

Esta maneira realmente inovadora de se relacionar com as crianças abriu as portas para o reconhecimento da sua dignidade pessoal e, portanto, dos seus direitos.

Na Idade Média, o nascimento era olhado com algum desprendimento social, dada a incerteza da sobrevivência de cada bebé, nos primeiros tempos de vida. De facto, até muito recentemente, eram elevadíssimas as taxas de mortalidade infantil.

Ainda hoje, apesar de se reconhecerem direitos às crianças, nem todas os vêem respeitados. Muitas crianças sofrem a indiferença ou até a violência dos adultos.

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Balada da Neve

Batem leve, levemente,Como quem chama por mim…Será chuva? Será gente?Gente não é certamenteE a chuva não bate assim…

É talvez a ventania;Mas há pouco, há poucochinho,Nem uma agulha buliaNa quieta melancoliaDos pinheiros do caminho…

Quem bate assim levemente,Com tão estranha levezaQue mal se ouve, mal se sente?Não é chuva, nem é gente,Nem é vento, com certeza.

Fui ver. A neve caíaDo azul cinzento do céu,Branca e leve, branca e fria…— Há quanto tempo a não via!E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.Pôs tudo da cor do linho.Passa gente e, quando passa,Os passos imprime e traçaNa brancura do caminho…

Fico olhando esses sinaisDa pobre gente que avançaE noto, por entre os mais,Os traços miniaturaisDuns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…A neve deixa inda vê-los,Primeiro bem definidos,— Depois em sulcos compridos,Porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecadorSofra tormentos, enfim!Mas as crianças, Senhor,Porque lhes dais tanta dor?!…Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,Uma funda turbaçãoEntra em mim, fica em mim presa.Cai neve na natureza…— E cai no meu coração.

Augusto Gil, Luar de Janeiro

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garantir direitos às crianças

Dada a vulnerabilidade das crianças e o facto de tantas sofrerem atentados contra a sua dignidade, a sociedade foi desenvolvendo mecanismos — legais e outros — para a sua protecção e para o cumprimento efectivo dos seus direitos.

Com este fim, a ONU criou, a 11 de Dezembro de 1946, um organismo dedicado exclusivamente a atender as necessidades básicas das crianças no mundo e garantir o seu pleno desenvolvimento — a UNICEF.

A UNICEF — United Nations International Children’s Emergency Fund — dedica-se à defesa e salvaguarda dos direitos das crianças em todo o mundo. O seu lema é «Para todas as crianças saúde, educação, igualdade e protecção».

Como indicado na Declaração dos Direitos da Criança, a criança, por motivo de falta de maturidade física e intelectual, tem necessidade de protecção e cuidados especiais, nomeadamente de protecção jurídica adequada, tanto antes como depois do nascimento.

Preâmbulo da Convenção sobre os Direitos da Criança.

Jogos de Crianças, por Pieter Bruegel, o Velho

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Mas não bastava ter um organismo que se dedicasse às crianças, era preciso que todos os Estados e todas as pessoas do mundo soubessem quais são efectivamente os direitos das crianças. Por isso, a ONU promulgou, por unanimidade, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a 20 de Novembro de 1989.

Este documento procura clarificar quais são os direitos fundamentais das crianças e obriga os Estados que o adoptarem a garantir a sua aplicação.

Quase todos os países do mundo aceitaram esta Convenção, que assenta em quatro grandes pilares.

1.º: A não discriminação que determina que todas as crianças do mundo e em qualquer momento têm o direito de desenvolver todo o seu potencial.

2.º: O interesse superior da criança deve ser prioritário em todas as acções e decisões que envolvam a própria criança.

3.º: A sobrevivência e desenvolvimento que sublinha a importância vital da garantia de acesso a serviços básicos e à igualdade de oportunidades para que as crianças possam desenvolver-se plenamente.

4.º: A opinião da criança que significa que a voz das crianças deve ser ouvida e tida em conta em todos os assuntos que se relacionem com os seus direitos.

Adaptado de UNICEF, A Convenção sobre os Direitos da Criança

Datas importantes para a defesa dos direitos da criança:

1924: Declaração de Genebra sobre os direitos da criança (Sociedade das •Nações).

1946: Fundação da UNICEF (ONU).•

1948: Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU).•

1959: Declaração dos Direitos da Criança (ONU).•

1976: A ONU proclama o ano de 1979 como Ano Internacional da Criança.•

1989: Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU). Portugal ratificou esta •convenção a 21 de Setembro de 1990.

Para saberes mais

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Os seus 54 artigos podem ser divididos em quatro subcategorias de direitos: direito à sobrevivência (ex.: cuidados médicos adequados); direito ao desenvolvimento (ex.: educação); direito à protecção (ex.: protecção de formas de exploração e trabalho infantil); direito de participação (ex.: participação da criança na sociedade e expressão das suas opiniões).

atentados aos direitos da criança

Infelizmente, há ainda muito por fazer para que todas as crianças vejam respeitados os seus direitos. Os atentados aos direitos das crianças assumem as mais variadas formas. O abandono é uma delas.

O seu abandono, sob a forma de venda, já acontecia na antiga Babilónia (séculos XVIII-XVII a.C.), como o atesta o Código de Hamurabi.

Na Idade Moderna, a criança indesejada e rejeitada era deixada na Roda. Seguidamente, lavrava-se um registo individual em que constavam normalmente a data, hora e local do enjeite, a idade aparente, o relato do vestuário, a cópia na íntegra dos bilhetes que, por vezes, acompanhavam o exposto, a referência ao baptismo (se foi administrado por alguém antes do abandono) e o nome, já indicado ou escolhido no momento. Mais

117.º: Se alguém tem uma dívida e, para a pagar, vende a mulher, o filho e a filha, estes deverão trabalhar três anos na casa do comprador ou do senhor; no quarto ano este deverá libertá-los.

Código de Hamurabi.

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tarde, acrescentava-se a ama a que o enjeitado fora entregue, apontando o respectivo nome, estado civil, nome do cônjuge e residência. Em caso de óbito, mencionava-se igualmente a data no mesmo registo.

O enjeitamento acontecia sobretudo à noite, depois do pôr-do-sol, aumentando progressivamente até à uma hora da manhã, porque a noite encobria o segredo. Raramente se abandonavam crianças que já se exprimissem correctamente, uma vez que poderiam denunciar os familiares que as haviam desamparado.

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Apesar de, actualmente, existir legislação que protege as crianças, existem locais no mundo onde elas continuam a não ser respeitadas e a ser exploradas das mais diferentes formas. Tal ocorre quer nos países desenvolvidos quer nos países em desenvolvimento.

A muitas crianças é negado o acesso aos cuidados básicos de saúde e higiene, apesar de haver tratamento adequado para algumas das doenças de que padecem. Por vezes, não existe solidariedade dos países economicamente mais poderosos em relação a outros países onde há carência de medicamentos.

Nunca existiu tão elevada produção de alimentos como actualmente, no entanto continuam a morrer de fome milhares de crianças em todo o mundo, vítimas da escassez de alimentos ou da má nutrição. Este facto é uma mancha no coração da humanidade!

D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, foi uma das fundadoras do primeiro hospital que recolhia crianças no reino de Portugal, com o nome de Ecclesiae Innocentum Hospitalis Puerorum (Hospital das Crianças Inocentes da Igreja), situado no Bairro da Mouraria, em Lisboa, nas imediações da capela da Senhora da Saúde.

Para saberes mais

A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes.

Albert Einstein

A subnutrição é uma das causas que contribui para mais de um terço dos 9,2 milhões de mortes de crianças com menos de cinco anos no mundo. Embora se tenham registado desde 1990 algumas melhorias relativamente à percentagem de crianças desta faixa etária com baixo peso, estima-se que 148 milhões de crianças continuem a sofrer de subnutrição nos países em desenvolvimento. Para que estas crianças tenham hipóteses de sobreviver, é preciso intensificar esforços a fim de satisfazer as necessidades nutricionais das mulheres, dos bebés e das crianças.

Nova Iorque / Genebra, 12 de Setembro de 2008In http://www.unicef.pt (16/02/2009)

Para saberes mais

Mais de 600 detidos em operação contra prostituição infantil

O FBI deteve 642 pessoas em vários estados dos EUA numa operação que resultou no desmantelamento de uma rede que explorava pelo menos 47 menores, obrigados a prostituir-se.

Notícia do Semanário SOL, 28 de Outubro de 2008

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Há crianças que estão ainda sujeitas a gravíssimos abusos psicológicos e físicos, que sofrem maus-tratos ou que são obrigadas a prostituir-se. São situações de sofrimento extremo às quais, na maioria dos casos, as crianças não têm hipótese de fugir. Os maus-tratos podem ser de vária ordem: a simples ausência de afecto, a violência constante através de palavras, o espancamento, os abusos sexuais. Algumas crianças são vendidas pela própria família ou por aqueles que as têm a seu cargo, normalmente para prostituição. Há redes de delinquência que raptam crianças para, depois, serem vendidas para adopção ou para prostituição.

12 de Junho de 2008, Nova iorque

A UNICEF estima que existam 158 milhões de crianças menores de 15 anos que estão presas nas malhas do trabalho infantil em todo o mundo. A vasta maioria dessas crianças tem pouca ou nenhuma esperança de conseguir acesso à instrução, que quebraria o ciclo de pobreza e analfabetismo que lhes mina o futuro.

Mais de 100 milhões de crianças, quase 70% da população laboral infantil, trabalham na agricultura, em áreas rurais onde o acesso à escola, a disponibilidade de professores preparados e o material educativo é muito limitado. Mesmo nas áreas urbanas, as crianças pobres e marginalizadas não podem beneficiar de um acesso mais alargado às instalações escolares devido ao custo, à classe social e a questões culturais.

Contudo, dados recentes vieram trazer esperança à batalha contra o trabalho infantil. A Educação é a melhor arma neste combate à escala global, e o número de crianças que não frequentam a escola desceu de 115 milhões em 2002 para 93 milhões em 2005-2006.

Mas como há mais de 150 milhões de crianças a trabalhar em vez de a aprender, os governos e a comunidade internacional podem fazer mais para ajudar essas crianças a regressarem à escola. Nomeadamente, assegurando a educação gratuita para todas as crianças pelo menos até à idade mínima para trabalhar; proporcionar programas educativos flexíveis e com recursos adequados a crianças trabalhadoras e a outros grupos marginalizados, a fim de que as crianças possam aprender bem apesar de trabalharem; e proporcionar educação de qualidade e acções de formação que sejam amigas-das-crianças facultadas por professores com formação e recursos adequados.

In http://www.unicef.pt (16/02/2009)

Ninguém deve deixar de denunciar casos semelhantes a estes, se os conhecer. A criança não é propriedade das famílias ou das pessoas que as têm a seu cargo. Todos somos responsáveis pelo seu bem-estar e pela sua integração na sociedade, quer sejam da nossa família, quer não.

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O ser humano é naturalmente aberto, acolhedor e receptivo. A sua dimensão espiritual, de abertura ao outro e eventualmente a Deus, faz com que sinta uma natural inclinação para o acolhimento do próximo. Este acolhimento torna-se efectivo quando a pessoa, individual ou colectivamente, cria condições para que todos se realizem enquanto pessoas.

O direito de realização da vocação humana depende da protecção do direito à liberdade de consciência, à livre manifestação de opinião e à liberdade religiosa. Impõe-se também a aceitação das diferenças, nomeadamente culturais, religiosas, sociais e físicas.

Por diferentes razões, em qualquer momento da nossa vida podemos tornar-nos portadores de deficiência.

A Constituição da República Portuguesa prevê que os cidadãos portadores de deficiência gozem dos mesmos direitos dos demais cidadãos.

gaRantiR o DiReito a seR Pessoa

Ludwig van Beethoven nasceu em 1770 e faleceu em 1827. Foi um dos maiores compositores de música clássica de todos os tempos e compôs a sua única ópera já parcialmente surdo.

Para saberes mais

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Artigo 71.º (Cidadãos portadores de deficiência)

1. Os cidadãos portadores de deficiência física ou mental gozam plenamente dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição, com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se encontrem incapacitados.

2. O Estado obriga-se a realizar uma política nacional de prevenção e de tratamento, reabilitação e integração dos cidadãos portadores de deficiência e de apoio às suas famílias, a desenvolver uma pedagogia que sensibilize a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles e a assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos e deveres dos pais ou tutores.

Constituição da República Portuguesa

Existem diversas organizações que se dedicam à promoção, integração e desenvolvimento da pessoa portadora de deficiência. Estas organizações são muito importantes, permitindo a valorização, o desenvolvimento e a realização pessoal de todos.

Jesus, o amigo dos pobres, dos desamparados, dos discriminados, orientou a sua acção para a promoção dos mais desfavorecidos, porque via neles a presença de Deus. Assim, vemo-lo a curar os leprosos, os cegos, os paralíticos e outras pessoas que, de alguma maneira, eram mais vulneráveis. Para Jesus, as pessoas com deficiência e os doentes são amados por Deus e dignos de toda a atenção.

Tiago, o discípulo e parente de Jesus, escreveu uma carta a todos os cristãos. Nela deixou claro que o amor deve ser a motivação para a acção dos crentes e que ter fé não significa apenas dizer que se acredita em Deus, mas também agir em favor dos outros.

A Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental — APPACDM, congrega diferentes associações com esta missão.

Para saberes mais

Mc 12,29-31.

Procura na Bíblia

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Santo Agostinho nasceu em 354, em Hipona (África do Norte), e faleceu em 430. Filho de pai pagão e de mãe cristã, converteu-se ao Cristianismo, já em idade adulta, por influência de Santo Ambrósio, bispo de Milão. Teólogo e filósofo, escreveu várias obras, destacando-se A Cidade de Deus e Confissões.

Para saberes mais

Cristo curando os doentes, por Laura James

Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, o amor.

Santo Agostinho de Hipona

Texto bíblico

A fé e as obras

P rocedem bem se cumprirem o mandamento fundamental: «Amarás o teu semelhante como a ti mesmo.» Mas se fizerem acepção de pessoas, isso

está mal.Que importa, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se a não

põe em prática? Imaginem que algum irmão ou irmã não tem nada que vestir e lhe falta o necessário para comer, cada dia. Vocês podem dizer-lhes: «Vão em paz! Hão-de encontrar com que se aquecer e matar a fome!» Mas se não lhes dão aquilo de que eles precisam, de que valem essas boas palavras? Do mesmo modo a fé, se não é posta em prática, está morta!

Tg 2,8-9.14-17

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Para além do aspecto exterior do outro, dou-me conta da sua expectativa interior de um gesto de amor, de atenção, que eu não lhe faço chegar somente através das organizações que disso se ocupam, aceitando-o talvez por necessidade política. Eu vejo com os olhos de Cristo e posso dar ao outro muito mais do que as coisas externamente necessárias: posso dar-lhe o olhar de amor de que ele precisa.

Bento XVI, Encíclica Deus Caritas Est

Na fé e na esperança o mundo discordará, mas todo o interesse da humanidade está no amor.

Alexandre, O Grande. Século IV a.C.

Queridos avós,

Aproveito o início de mais este ano para mandar notícias. Este vai ser, com certeza, o melhor ano das nossas vidas. É a mãe quem continua a dizer isso. Como dizia, aliás, em relação ao ano passado. Eu estou certa, no entanto, de que será mesmo este o melhor.Sabem, hoje, na estação dos comboios, passei por uma rapariga, uma mulher jovem, que tentava a muito custo carregar um carrinho de bebé. Eu fiz o mesmo que fizeram todas as pessoas que corriam para cá e para lá e passei simplesmente ao lado. Reparei que algumas tinham a ousadia de olhar pelo canto do olho, outras nem reparavam. Todas, como eu, passavam e iam às suas vidas.Mas eu não era assim. Eu não era aquela rapariga que passou apenas. Por isso, voltei para trás e informei a mulher e o carrinho de que os ajudaria a subir as escadas. Impressionou-me, nos meus, às vezes cobardolas, 12 anos, a coragem de não ter, sequer, perguntado se precisavam de ajuda. Não, fui logo dizendo «Venha, eu ajudo-a!»A ajuda terá sido preciosa, embora atrapalhada, por causa da mala que eu transportava a tiracolo e dos cadernos novos que trazia nas mãos, o que tornou a viagem pelas escadas acima até um pouco mais divertida.No final da viagem, encontrámos um outro senhor, esse já mesmo idoso. Pelo menos, na dificuldade que aparentava ter em deslocar-se e pelas duas bengalas com que se fazia acompanhar.Senti-me confusa, porque não me dava mesmo jeito nenhum passar esse dia a ajudar pessoas a subir e a descer escadas. Isso foi, no entanto, desnecessário, porque, quando eu me baixei para apanhar o caderno de Inglês que tinha caído no chão, ouvi uma voz que dizia «Venha, eu ajudo-o!».Aquela, sim, era eu. E nem me importei muito por não ter entregado o trabalho de férias de Inglês, que, entretanto, insistiu em ter fugido pelas escadas abaixo.Esta sou eu, aqui. E senti-me tão cheia de felicidade por ter sido eu nas escadas que tive esta vontade de partilhar convosco que este ano, tenho a certeza, será o melhor da minha vida. Que, acima de tudo, as escadas dos meus dias me ajudem na descoberta de mim própria.Os maiores beijinhos de saudades, queridos avós; adorei as férias aí na terra.

Ana Catarina

P. S.: Beijinhos também no focinho do Lucas.

Texto original de Jorge André Almeida

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Unidade Lectiva 2

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advento e nataL

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Com o Inverno, chegam os dias cinzentos, curtos e chuvosos. O frio aproxima-se a passos largos, contrastando com o calor que emerge das lareiras. A paisagem transforma-se igualmente, desenhando os dias em tons escuros, onde se destaca a neve branca alcandorada na montanha que se veste para receber o Natal.

Na cidade, as ruas começam a ficar mais iluminadas, as montras ganham cores, as casas exibem o seu presépio e a sua árvore, a televisão multiplica a animação infantil. Os alimentos consomem-se mais quentes, os nossos familiares iniciam inquéritos intermináveis sobre aquilo de que mais gostamos, os nossos sonhos são invadidos por histórias de fantasia e imagens de fadas onde não falta a rena Rodolfo.

É Natal! Por esta altura, multiplicam-se as campanhas de solidariedade. Na escola, na paróquia e no bairro aumenta o espírito de entreajuda. O amor e a fraternidade invadem os nossos corações! Olhamos o mundo inteiro e somos chamados a reconhecer nos outros os nossos irmãos.

Sentimos, então, o calor de um gesto ou de um sorriso, trazido pelas mãos de uma criança. É Natal!

Chega o Natal!

Alcandorada: Situada em ponto alto; elevada.

Vocabulário

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Aproxima-se o Natal!

Quando acordei, já a minha mãe e a minha avó andavam muito atarefadas na cozinha. Na lareira, enormes labaredas aqueciam grandes panelas de ferro. Depois de almoçar o leite e as sopas de pão que a minha avó pôs dentro da malga com flores azuis, minha mãe mandou-me tratar da cabra Lourença. E eu fui. Pelo caminho reparei que todas as casas da Pedra de Hera tinham um chapéu de fumo a cobri-las.No nosso lameiro, que ficava junto da ribeira, comecei a cortar a erva com uma foicinha muito bem afiada. Tinha já cortado um bom pedaço quando me assustei. No meio da erva encontrei um ninho de ratos pequeninos, ainda sem pêlo, muito rosadinhos. Estive quase para os matar com a ponta da foicinha. Depois pensei no Menino Jesus e nas prendas de Natal e deixei-os viver. O Menino Jesus devia ter ficado muito contente por ver que eu tinha um bom coração.Ao regressar a casa, surpreendi-me com o cheiro diferente que envolvia toda a Pedra de Hera. Cheirava a açúcar queimado, a canela e a frituras. Nessa noite, que demorava tanto tempo a chegar, a nossa casa iria encher-se de gente. À volta da mesa comprida estariam os meus tios e os meus primos, a minha avó, a minha mãe e eu. Ao todo, éramos catorze. Quando entrei na cozinha, minha avó enfeitava, com canela, grandes travessas de aletria. Minha mãe, com o rosto muito vermelho, transpirada, fritava as primeiras rabanadas. Em cima da mesa, estava um monte de pencas repolhudas, e no chão um balde cheio com as maiores batatas criadas no nosso quintal.— Queres comer uma postinha de bacalhau assado? — Perguntou a minha mãe.Não cheguei a dizer que sim, que era muito capaz de comer uma bela posta de bacalhau assadinha nas brasas muito vivas da lareira, muito bem regada com azeite aquecido e temperada com um dente de alho partido em pedacinhos.

Excertos de António Mota, Sonhos de Natal

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A expectativa da vinda do Emanuel (palavra que significa «Deus connosco»), referida no Livro de Isaías (Antigo Testamento), testemunha uma relação muito próxima entre o povo de Israel e o seu Deus, em quem depositava grande confiança. Esta confiança é reforçada nos momentos de maior dificuldade. O povo, sujeito ao jugo dos seus inimigos, isto é, dos povos que os invadiam, espera a libertação desta opressão através da vinda de um Messias que o irá governar na paz e na justiça, trazendo a alegria a Israel. O Messias esperado seria descendente da casa de David.

Para os judeus, a fé não era algo abstracto, concretizando-se na confiança que colocavam num Deus único, com quem os seus antepassados tinham estabelecido uma aliança. É neste contexto de esperança que no livro de Isaías (6-12) encontramos o anúncio profético da vinda do Messias: o Emanuel.

Isaías 7, 1

Procura na Bíblia

emaNuel: o messias esperado de israel!

Na Bíblia, a palavra «Messias» surge várias vezes relacionada com a consagração de profetas, sacerdotes e especialmente reis. O título de Messias aplica-se, no Novo Testamento, a Jesus, o rei salvador anunciado pelos profetas do Antigo Testamento. A palavra «Cristo» era sinónima de Messias. No entanto, conforme foi sendo usada em conjunto com o nome Jesus, passou a constituir um nome próprio.

Para saberes mais

Rei David a tocar harpa, por autor anónimo

O Emanuel

Pois bem, é o próprio Senhor que vos vai dar um sinal: a jovem mulher está grávida e vai dar à luz um filho e pôr-lhe-á o nome de Emanuel, «Deus connosco».

Is 9,2-6

Texto bíblico

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Messias: É uma palavra de origem hebraica que significa «ungido», «consagrado a Deus» para transmitir a sua mensagem.

Profeta: Aquele que anuncia os desígnios de Deus, transmitindo ao povo de Israel as suas promessas.

Serafim: É um arcanjo. Normalmente, aparece com a primeira posição na hierarquia celestial dos anjos, encontrando-se mais próximo de Deus.

Príncipe da paz

Acrescentaste a alegria, ó Senhor, aumentaste o júbilo. Rejubilam diante de ti como se alegram no tempo das ceifas, como rejubilam ao repartirem os despojos.

3Tal como outrora, também agora quebras o jugo da opressão que pesa sobre o teu povo, a vara que lhes rasga os ombros e o bastão do capataz de trabalhos forçados.

4A bota inimiga que pisa o solo com arrogância e a capa enrolada, tingida de sangue, serão queimadas e pasto de fogo.

5É que um menino nos nasceu, um filho nos foi dado. Deus colocou a sabedoria sobre os seus ombros. Os seus títulos são: Conselheiro maravilhoso, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da paz.

6Ele vai alargar o seu domínio e governar em paz total, sobre o trono de David e sobre o seu reino. Vai estabelecê-lo e consolidá-lo com a justiça e o direito, desde agora e para sempre. É isto mesmo o que vai realizar o Deus do universo, com todo o cuidado.

Is 9,2-6

2

O Livro de Isaías é o único livro das Escrituras Hebraicas encontrado completo nos achados de Qumran. Aqui, foram descobertas várias cópias do livro, testemunho da sua importância para as comunidades de crentes que aí viveram.

Para saberes mais

Texto bíblico Vocabulário

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Os textos bíblicos registam a confiança permanente do povo de Israel no seu Deus. Um Deus que nunca os abandonou e que eles sentem que está próximo. Por esse motivo esperam, mesmo nas maiores tribulações, que Deus se manifeste. Esperam um novo tempo de libertação da dor e da opressão. Um tempo de liberdade e de justiça trazida pelo poder de Deus, através do seu enviado, ao povo de Israel, o povo eleito.

Jesus, o messias prometido

Apresentação de Jesus no Templo, por James Tissot

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O ramo do tronco de Jessé

Um novo ramo sairá do tronco de Jessé, e da sua raiz brotará um rebento.2Sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de

sabedoria e entendimento, espírito de conselho e valentia, espírito de conhecimento e de respeito pelo Senhor. 3Viverá inteiramente para honrar o Senhor. Não julgará segundo as aparências, nem dará sentenças pelo que ouve dizer. 4Defenderá com justiça os fracos e com rectidão os pobres do país. 5A justiça e a lealdade serão a cintura com que ele se aperta continuamente.

6Então o lobo habitará com o cordeiro, o leopardo deitar-se-á junto do cabrito, o vitelo e o leão pastarão juntos; até uma criança pequena os conduzirá. 7A vaca pastará com o urso, as suas crias deitar-se-ão juntas, e o leão comerá erva com o boi. 8O bebé brincará na toca da cobra e a criança meterá a mão no buraco da víbora.

9Não haverá mais mal nem destruição em toda a montanha santa do Senhor, porque o conhecimento do Senhor encherá o país, tal como as águas enchem o mar.

Is 11, 1-9

1

O livro de Isaías terá sido o mais estudado, meditado e «cristianiza-do». É o livro da Bíblia com maior número de capítulos (66), sendo uma referência para a Igreja cristã primitiva.

As comunidades cristãs primitivas leram e interpretaram as palavras de Isaías, compreendendo-as à luz da vida de Jesus. No livro de Isaías, profetiza-se a vinda de um Messias e de um reino messiânico, repleto de esperança. O evangelho de Mateus, que relata a vida de Jesus desde os acontecimentos relacionados com a sua infância até à sua morte, assume que as profecias de Isaías se cumpriram em Jesus.

Jessé é o pai do rei David e integra a genealogia de Jesus. O texto de Isaías confirma-nos a espera do Messias, da linhagem de David.

Para saberes maisTexto bíblico

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O ramo do tronco de Jessé

T udo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23A virgem ficará grávida e dará à luz um filho que se

há-de chamar Emanuel.

Mt 1, 22-23

22

Texto bíblico

Presépio com os Profetas Isaías e Ezequiel, por Duccio di Buoninsegna

Nossa Senhora, por William Early

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adveNto, tempo de esperaNça

Para os cristãos, o Advento é um tempo de preparação para a celebração do nascimento de Jesus. É por isso um tempo de esperança, de alegria e expectativa. Neste período, os fiéis tomam consciência da necessidade de promover a fraternidade e a paz.

Advento: Do latim adventus, que significa «chegada».

Surdina de Natal para os meus netos…

Ó David Ó InêsVamos ver o Meninoinda mais pequeninoque vocês

Vamos vê-lo tapadosob o céu do futurocom a sombra de um muroa seu lado

Vamos vê-lo nós trêsnovamente a nascerVamos ver se vai serdesta vez

David Mourão-Ferreira, 101 Poetas

Vocabulário

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O Advento tem início num domingo, próximo do final de Novembro, e termina na véspera de Natal. É o primeiro tempo do ano litúrgico, cor-respondendo aos quatro domingos que antecedem o Natal.

A música também é um elemento muito importante nas celebrações litúrgicas. Esta tem a finalidade de facilitar a interpretação, a compreensão e a interiorização da mensagem. As celebrações litúrgicas cristãs deram origem à composição das mais belas e importantes obras musicais de todos os tempos.

A celebração do nascimento de Jesus motivou a composição de peças musicais muito populares e conhecidas em todo o mundo.

O ano litúrgico difere do ano civil. Na liturgia da Igreja Católica, o ano divide-se em seis tempos. O primeiro é o Advento, que antecede o tempo do Natal; o segundo é o Tempo Comum; o terceiro é a Quaresma, que corresponde aos quarenta dias antes da Páscoa; seguem-se o Tríduo Pascal e o Tempo Pascal. Por fim, novamente o Tempo Comum.

Liturgia: É o conjunto das celebrações e festas religiosas.

Fl 4,4Para saberes mais

Procura na Bíblia

Ministro da liturgia: Quem administra o ofício religioso.

Paramento litúrgico: Veste usada pelo sacerdote durante as celebrações litúrgicas.

As celebrações litúrgicas inspiraram grandes compositores de todo o mundo. Bach, Haendel, Mozart, Beethoven, Schubert, Berlioz, Franck, Liszt, Migot, Penderecki, Perosi, Schutz e Gounod são alguns dos compositores que compuseram obras musicais para a celebração de diferentes tempos litúrgicos. A missa solene de Beethoven e o Ave Verum de Mozart são apenas dois exemplos.

Para saberes mais

Vocabulário

Vocabulário

Paramentos Litúrgicos usados no Tempo Comum, Quaresma e Páscoa

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As celebrações litúrgicas e a preparação das Igrejas reflectem o significado do Advento: tempo de recolhimento, de penitência e de conversão. As leituras da missa, as cores dos trajes dos ministros da liturgia e os adornos dos locais de culto são também, neste período, diferentes. Os paramentos são de cor roxa, símbolo de recolhimento, conversão e preparação para a celebração da vinda de Cristo. No terceiro Domingo do Advento, o Domingo Gaudete ou de Alegria, os paramentos litúrgicos usados são cor-de-rosa, significando a alegria pela vinda do Salvador, que se aproxima.

Os paramentos usados pelos sacerdotes nas celebrações litúrgicas são verdes no tempo comum, roxos no Advento e na Quaresma, brancos no tempo de Natal, Páscoa e outros, vermelhos na Sexta-feira Santa, nas celebrações das mártires e outras, rosa no terceiro Domingo do Advento (Gaudete) e no quarto Domingo de Quaresma (Lætare).

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a virgem maria

Maria, mãe de Jesus, é a figura proeminente do Advento. No anúncio do anjo Gabriel a Maria e na visita que esta fez a Isabel, sua prima, encontramos as primeiras manifestações de esperança perante a vinda do Messias. A oração «ave-maria» é composta pela saudação do Arcanjo Gabriel a Maria — «Salve, cheia de graça, o Senhor está contigo» —, e pela saudação de Isabel, mãe de João Baptista, à sua prima Maria, quando esta a visitou, estando ambas grávidas — «bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre». Neste encontro, de acordo com a narrativa dos evangelhos, acontece a primeira manifestação de Jesus. João, ainda no ventre da sua mãe, sentiu a presença do Messias e saltou de alegria. Isabel, sentindo a manifestação do seu filho, saúda Maria.

Figuras do adveNto

Duas das mais conhecidas composições musicais realizadas a partir do texto da «Ave-maria» são de Schubert e Gounod.

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A visitação, por Paolo Schiavo

Pormenor de Nossa Senhora do Parto, por Piero della Francesca

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Ave-maria

Ave-maria, cheia de graça,o Senhor é convosco.Bendita sois vós entre as mulheres,e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.

Santa Maria, Mãe de Deus,rogai por nós, pecadores,agora e na hora da nossa morte.

Ámen.

Lc 1, 28

Lc 1, 42

«Nossa Senhora do Ó» é uma representação e uma festa de Maria, a mãe de Jesus, que teve lugar em Toledo (Espanha), no momento em que se estipulou que a festa da Anunciação do anjo a Maria seria transferida para o dia 18 de Dezembro. Mais tarde foi determinado que esta festa se celebrasse no mesmo dia, mas com o título de Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria. A designação «N. Sª. do Ó» está relacionada com o facto de, nas vésperas (oração da tarde), as antífonas iniciarem com a exclamação «Ó».

A «Senhora do Ó» representa, pois, a gravidez de Maria. O Padre António Vieira proferiu um sermão a «Nossa Senhora do Ó», pregado no terceiro Domingo do Advento. A concepção de Jesus no seio de Maria é o tema principal. António Vieira escreveu sobre o espanto que se sente perante a mulher que transportou dentro de si o Filho de Deus feito homem. Neste sermão, Vieira refere que Maria não era uma mulher igual às outras. Acrescenta ainda que no ventre de Maria se encontrou o temporal com o eterno, porque nele habitou o menino Jesus.

O Sermão de Nossa Senhora do Ó foi pregado por António Vieira, pela primeira vez, na igreja de Nossa Senhora da Ajuda, na Baía (Brasil), em 1640.

Antífonas: Versos breves cantados, normalmente em coros que se alternam.

Beatíssima: Bem- -aventurada.

Expectação: Espera; expectativa.

Procura na Bíblia

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Pormenor de Nossa Senhora do Parto, por Piero della Francesca

Vocabulário

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Os cristãos têm uma especial devoção a Maria, mãe de Jesus, desde os primeiros séculos do Cristianismo. O culto a Maria surge na liturgia, em representações iconográficas, na literatura, na escultura e na pintura. As primeiras representações iconográficas de Maria encontram-se já nas catacumbas romanas, datando do século II.

As catacumbas eram túneis longos e subterrâneos que serviam de cemitério para os primeiros cristãos. Entre as catacumbas mais conhecidas, encontram-se as de São Calisto e a de Santa Priscila. As catacumbas de São Calisto têm mais de 20 km de corredores, cinco pisos de altura e guardam corpos de 20 mil cristãos dos primeiros tempos do Cristianismo. Nas proximidades de Roma encontram-se 40 catacumbas.

F icarás grávida e terás um f i lho, a quem vais pôr o nome de Jesus.

Lc 1, 31

Texto bíblico

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As comunidades cristãs primitivas viram em Maria o exemplo a seguir e a representação da Igreja de Cristo. Esta devoção assume grande importância nas festas do calendário litúrgico, nos hinos e nas orações. Na liturgia, estabeleceu-se a devoção mariana dos primeiros sábados de cada mês, orações como a ave-maria, a devoção do Rosário, as ladainhas e a oração do Angelus.

Nossa Senhora a cuidar do menino Jesus, Escola Italiana

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O hábito de coroar as imagens de Nossa Senhora surgiu no século XVII e foi instituído pelo Papa Clemente VIII, como sinal da realeza de Maria.

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Angelus

O Anjo do Senhor anunciou a Maria E ela concebeu pelo poder do Espírito Santo.Ave-maria… Eis aqui a serva do Senhor: Faça-se em mim segundo a vossa palavra.Ave-maria…E o Verbo divino se fez homem e habitou entre nós.Ave-maria… Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos: Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos corações, para que, conhecendo pela mensagem do anjo a encarnação do vosso Filho, cheguemos por sua paixão e cruz à glória da ressurreição. Por Cristo, Senhor nosso. Ámen.Glória ao Pai… (repete-se 3 vezes)

O Angelus é uma oração mariana que lembra o momento da anunciação do Anjo Gabriel a Maria. Esta oração é rezada ao meio-dia.

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A devoção a Maria inspirou a fundação de muitas ordens, congregações e confrarias religiosas consagradas a Nossa Senhora sob diversas invocações. A Ordem da Virgem Maria do Monte Carmelo é uma das mais antigas ordens de culto mariano, associada ao profeta Elias do Antigo Testamento. Os primeiros eremitas habitavam o Monte Carmelo, na Palestina.

Pormenor de A Coroação da Virgem, por Andrea Della Robbia

Confraria: Associação laica que funciona com base em princípios religiosos, cuja fundação é feita sob o compromisso de os seus membros praticarem a caridade e a assistência em prol do bem comum.

Vocabulário

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Na doutrina da Igreja, existem três dogmas associados a Maria. O mais antigo é o dogma que afirma que Maria, a mãe de Jesus, é Mãe de Deus, «Theotokos», porque Jesus é Filho de Deus. Este dogma foi proclamado no Concílio de Éfeso, no ano 431. Esta é uma importante manifestação de fé da qual existem diversas referências, desde os primeiros tempos do Cristianismo, na arte, nas orações, na música e na literatura.

O dogma da Imaculada Conceição de Maria exprime a crença segundo a qual Maria nasceu livre de pecado para ser a mãe de Jesus, o Filho de Deus. Este dogma foi definido pelo Papa Pio IX, no dia 8 de Dezembro de 1854.

Virgem e o seu filho, escola de Rogier van der Weyden

Assunção da Virgem, Escola Inglesa

Monte Carmelo

Cades

Hasor

Corozaim

TabgaTiberíades

Cafarnaum

Dor

Cesareia

Meguido

Bet-Alfa(Citopolis)Bet-Sam

Tannac

Dotan

Samaria Tirsa

Siquém(Tell Balata)

Monte Ebal

Monte Garizim

(Tell el- Fara)(Sebastié)

Alexandreion

Silo

Amman

Madebá

Maqueronte

Dibon

Teleilat el-Gassul

Gerasa

Jericó

Jerusalém

Al (Et-Tell)Modlim

Apolónia

Guezer

Azeca

Bel-Sur Heródion

K. Qumrân

Mambre

Ert-GuediZif

Estemoa

(Es-Samu) MaonMassada

Carmeio

Hebron

(Tell Zacaria)

Bet-Semes(Tel el-Rumeilé)

AsdodEcron

Ascalon

Gaza

Saruen Bersabé

Aroer

Laquis

Debir(Tell Beit-Mirssim)

(Tell ed-Duveir)

GalgalaGabaa

(Guibeá)(Tell es-Sultan)

Kirbet Seilun)

(Tell el-Musselim)

Bet-Searim

Tell Abu Hawam

(Tell el-Qedah)

MonteCarmelo

GALILEIA

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Planície de Jesreel

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SAMARIA

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PALESTINA ARQUEOLÓGICALUGARES DE ESCAVAÇÕESIMPORTANTES

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No dogma da Assunção de Maria, a Igreja afirma que, depois da sua morte, Maria foi levada para o céu em corpo e alma (Assunção). Este dogma foi proclamado pelo Papa Pio XII, a 1 de Novembro de 1950.

Maria é venerada não apenas pela Igreja Católica, mas também pela Igreja Ortodoxa e pela Igreja Anglicana.

Nossa Senhora

Tenho ao cimo da escada, de maneiraQue logo, entrando, os olhos me dão nela,Uma Nossa Senhora de madeira,Arrancada a um Calvário de capela.

Põe as mãos com fervor e angústia. O mantoCobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;E uma expressão de febre e espantoQuase lhe afeia o fino rosto.

Mãe das Dores, seus olhos enevoadosOlham, chorosos, fixos, muito além…E eu, ao passar, detenho os passos apressados,Peço-lhe — «A sua bênção, Mãe!»

Sim, fazemo-nos boa companhiaE não me assusta a sua dor: quase me apraz.O Filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluía!Só isto bastaria a me dar paz.

— «Porque choras, Mulher?» — docemente a repreendo.Mas à minh’alma, então, chega de longe a sua vozQue eu bem entendo:— «Não é por Ele…»

— «Eu sei! Teus filhos somos nós.»

José Régio, Cântico Negro

Os dogmas são afirmações de fé que fazem parte da doutrina da Igreja. São definidos pelos concílios ecuménicos ou pelos papas e resultam do pensamento, da vivência e da fé da Igreja.

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Virgem Maria, por autor anónimo

José Régio é o pseudónimo literário do poeta português José Maria dos Reis Pereira. Nasceu no ano de 1901 e faleceu no ano de 1969, em Vila do Conde. Em Portalegre, onde passou muitos anos da sua vida, encontra-se a sua casa-museu. Aqui podemos encontrar a imagem seiscentista de Nossa Senhora das Dores, que inspirou o poema Nossa Senhora.

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A devoção mariana ocupou um espaço muito importante na fé e na religiosidade da população em Portugal, desde a origem da nacionalidade. Esta devoção manifestou-se através das diferentes invocações marianas, nos topónimos, nas hierofonias e na antroponímia. Sob a invocação de Maria, foram fundados vários hospitais, orfanatos, casas de recolhimento de doentes e idosos.

Maria no Alcorão

42Recorda-te de quando os anjos disseram: «Ó Maria, é certo que Deus te elegeu e te purificou e te preferiu a todas as mulheres da humanidade!»45E quando os anjos disseram: «Ó Maria, por certo que Deus te anuncia o seu Verbo, cujo nome será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no outro, e que se contará entre os dilectos de Deus. 46Falará aos homens, ainda no berço, bem como na maturidade, e se contará entre os virtuosos.»47Ela perguntou: «Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, se mortal algum jamais me tocou?» Disse-lhe o anjo: «Assim será. Deus cria o que deseja, já que quando decreta algo, diz: “Seja!” e é.»

Alcorão, 3

Geografia mariana

Temos de assinalar uma espécie de geografia mariana, bastante diferenciada, em que o nome de Nossa Senhora aparece associado a freguesias e cidades, serras e montes, campos e vales, cobrindo a paisagem portuguesa de norte a sul, do interior montanhês à orla marítima. É a Nossa Senhora das Alcáçovas, da Aldeia, do Cabo, do Caminho, do Castelo, da Lapa, do Monte, da Penha, da Rocha, da Serra, também feita dona e Senhora da Abadia, da Aguda, de Aires, do Almurtão, da Arrábida, da Atalaia, da Franqueira, do Monte Alto, do Porto de Ave, do Salto, do Sameiro, de Vila Viçosa, de Fátima.Mas as gentes ribeirinhas e da beira-mar manifestam-lhe particular devoção e recorrem a ela como Senhora das Areias, da Ajuda, da Bonança, do Desterro, da Guia, do Livramento, da Luz, das Ondas, do Socorro, da Boa viagem.Por sua vez, o povo do campo pede-lhe protecção para as fainas agrícolas e dirige-se-lhe como Senhora dos Alpendres, da Azenha, do Campo, das Eiras, das Ervas, do Castanheiro, da Oliveira, da Vinha, da Veiga, da Seca.As mulheres, como que por homeopatia, socorrem-se dela como Senhora do Alívio, da Expectação ou do Ó, da Hora, do Leite, do Parto.

Geraldo Coelho Dias, «A devoção do Povo português»,in Revista da Faculdade de Letras, Universidade do Porto, 1987

Antroponímia: Nome de pessoa.

Hierofonia: Manifestação do sagrado (por exemplo, aparições de Maria).

Topónimo: Nome de lugar.

Vocabulário

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Testemunho da consagração

Consagrado à Eternidade, D. João IV, rei de Portugal, estando reunido em Cortes Gerais, se consagrou publicamente e aos seus reinos à muito imaculada Conceição de Maria com o tributo de um censo anual. E firmou com juramento que defenderia sempre que a Mãe de Deus, eleita para padroeira do reino, fora preservada do pecado original. Para que a piedade dos portugueses sempre contasse, mandou lavrar em viva pedra este monumento perpétuo, no ano de Cristo de 1646, e sexto do seu reinado.

Trad. Carlos Guardado da Silva

Após 1645-46, D. João IV decidiu, nas cortes de Lisboa, que Nossa Senhora da Imaculada Conceição seria Padroeira do Reino de Portugal. Assim, o rei decretou que todas as vilas e cidades deveriam exibir, à entrada das povoações, o padrão da sua consagração à Imaculada Con-ceição. A decisão procurava o apoio da Santa Sé para a causa da inde-pendência de Portugal, tendo o Papa Clemente X confirmado a escolha, em Maio de 1671.

Foram igualmente construídas grandes catedrais, igrejas e capelas dedicadas a Nossa Senhora.

O Mosteiro dos Jerónimos localiza-se no Restelo, na cidade de Lisboa. A primeira referência explícita que encontramos ao Restelo data de 1295, dando-nos conta da localização de um notável e importante porto naval. Nesta povoação terá sido, inicialmente, erguida uma ermida em invocação a Nossa Senhora da Estrela. O Infante D. Henrique, em 1459, mandou reconstruir de raiz este templo, mantendo a invocação a Nossa Senhora: Santa Maria de Belém.

Imaculada Conceição, por Bartolomé Murillo

D. João IV prometeu um tributo de 50 cruzados de ouro a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em seu nome e de todos os seus sucessores. O mesmo rei também ordenou que os estudantes da Universidade de Coimbra se consa-grassem à Imaculada Conceição e jurassem defender o nome da Mãe de Deus.

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Santuário de Fátima

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Ermida de Nossa Senhora de Belém

Em esta freguesia estavam situadas três Ermidas. Uma dela e a mais antiga era a do hospital dos Palmeiros de invocação de Nossa Senhora de Belém, era albergaria de pobres a quem davam uma cama, água e candeia por três dias: chamava-se dos Palmeiros porque nele se recolhiam os peregrinos que vinham de Jerusalém, aos quais chamavam palmeiros por trazerem palmas (como os de S. Tiago, vieiras). Fundou-se no ano de mil e trezentos e trinta, como constava de um letreiro que estava na porta do mesmo hospital que dizia: Este hospital é dos pobres Palmeiros, peregrinos e resgatados dele.

Fernando Portugal, Lisboa em 1758: Memórias Paroquiais de Lisboa

Mosteiro dos Jerónimos

A ermida de Santa Maria de Belém obteve Bula do Papa Pio II, a 14 de Outubro de 1459, e foi doada pelo monarca, em 1460, à Ordem de Cristo. O porto do Restelo ocupava um lugar central nas expedições marítimas portuguesas. Era daqui que partiam as caravelas para Ceuta, para a Índia e para o Brasil.

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No distrito da paróquia se acham a Igreja dos frades da Ordem de Cristo, que lhes foi consignada pelo senhor Rei D. Manuel, transferindo-os para ela da Ermida de Nossa Senhora de Belém, em que naquele tempo existiam os ditos frades, e nela administravam os sacramentos, cuja ermida fora fundada pelo Infante D. Henrique, filho do Sr. Rei D. João I; e nela se fundou o magnífico templo de Belém dos monges de São Jerónimo. A dita Igreja da Conceição, em que actualmente fazem os ofícios divinos os seus frades, fora sinagoga dos judeus, antes que a ocupassem.

Fernando Portugal, Lisboa em 1758: Memórias paroquiais de LisboaRei D. Manuel

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Em 1495, o rei de Portugal D. Manuel, logo que subiu ao trono, pediu autorização ao Papa Alexandre VI para implementar na ermida do Restelo um Mosteiro para a Ordem de São Jerónimo.

O Convento do Carmo, em Lisboa, é também um templo revelador da importância e da centralidade de Maria na piedade cristã do povo português. Este, também denominado Convento Carmelita de Nossa Senhora do Vencimento do Monte do Carmo, começou a ser construído em 1389 e foi fundado por D. Nuno Álvares Pereira.

Dom Nuno Álvares Pereira abandonou a vida militar e escolheu a Ordem do Carmo para integrar a vida religiosa, à qual doou os seus bens. A escolha deveu-se à sua devoção à Virgem Maria.

O projecto do Mosteiro dos Jerónimos é da responsabilidade de Diogo de Boytack, que viveu entre 1450 e 1528.

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A Ordem do Carmo é a mais antiga ordem de inspiração mariana. Desde a sua origem que faz referência a Elias e a Eliseu, profetas do Antigo Testamento, e aos eremitas que habitavam o Monte Carmelo, na Palestina. O primeiro mosteiro da Ordem do Carmo foi erguido na Palestina — Stella Maris.

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Pormenor de janela, Mosteiro dos Jerónimos

Convento do Carmo

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São JoSé

José, pai adoptivo de Jesus, é também uma figura central do Advento. Era descendente da casa de David e, como Maria, sua mulher, também aceitou a missão que lhe foi confiada. Nos evangelhos, à semelhança do que acontece com Maria, vem narrada a anunciação do anjo Gabriel a José, através de um sonho, com o fim de o tranquilizar quanto à gravidez inesperada da sua mulher. Assim, José participa activamente na preparação da vinda do Messias: é ele quem atribui o nome ao menino e é ele também quem assume a responsabilidade da paternidade de Jesus. Com o seu trabalho de carpinteiro alimentava a sua família. Tal como os outros pais, cabia-lhe a protecção dos restantes membros da comunidade familiar e a participação na educação do filho.

A Igreja Católica celebra o dia de São José, patrono dos operários, a 19 de Março. Neste dia é, também, celebrado o dia do pai.

Mt 1, 18-25

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Procura na Bíblia

A Sagrada Família, por Bartolomé Murillo

Pormenor de Fuga para o Egipto, por Giotto

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João BaptiSta

João Baptista é, de acordo com a interpretação cristã, o precursor de Jesus. O nome «Baptista» deriva da sua actividade profética, pois baptizava no rio Jordão todos os que se mostravam dispostos a converter--se a Deus. João interveio publicamente antes de Jesus, anunciando a vinda iminente do Messias.

João convidou as pessoas do seu tempo a arrependerem-se dos seus pecados e a mudarem de vida, denunciando a hipocrisia que orientava a vida de determinados grupos sociais. A sua atitude frontal e desassombrada fez com que fosse preso e decapitado por ordem do rei.

Lc 7, 26,28

Lc 1, 76s

Procura na Bíblia

João Baptista repreende Herodes, por Giuseppe Fattori

São João Baptista, por Gian Lorenzo Bernini

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A celebração do nascimento de Jesus fez com que muitos peregrinos se deslocassem a Belém, desde os primeiros séculos do Cristianismo, para visitarem o local onde se acredita que Jesus nasceu.

As primeiras representações artísticas (pinturas, relevos ou frescos) do nascimento de Jesus surgiram por volta do século IV, sendo atribuídas a Santa Helena, mãe do imperador Constantino.

o Natal: represeNtação artístiCa e tradições

Constantino foi imperador de Roma entre os anos 272 e 337, tendo decretado a liberdade de culto no Império, permitindo, assim, que o Cristianismo se transformasse na principal religião do Império Romano.

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Fresco O Presépio, por autor anónimo

Representação do nascimento de Jesus por São Francisco, gruta da floresta de Greccio, Itália

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No século XIII, surgiram as primeiras representações teatrais do nascimento de Jesus, por obra de São Francisco de Assis. Na noite de 24 de Dezembro de 1223, celebrou a missa de Natal com uma representação cénica, numa gruta da floresta de Greccio, em Itália. Francisco admirava muito o amor que Deus devotava à humanidade, patente no seu nascimento pobre numa manjedoura. Causava-lhe espanto e alegria a forma como Deus tinha nascido para os seres humanos. Naquela noite de Natal, na cidade de Greccio, queria que todos sentissem a mesma alegria que ele sentia ao pronunciar a palavra «Belém». Preparou uma noite de Natal diferente. Convocou muitas pessoas, oriundas de vários lugares, para participarem na noite de Natal, no convento de Greccio, onde então vivia.

Francisco de Assis é o fundador da ordem dos Frades Menores ou Franciscanos. Cresceu numa família da alta sociedade italiana, em Assis. Cedo abandonou a vida que a sociedade do seu tempo lhe propunha e seguiu de forma radical o Evangelho de Jesus Cristo. Em 1223, a Regra de Vida de Francisco foi aprovada pelo Papa Honório III.

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O presépio vivo é constituído por personagens vivas, que dramatizam a cena do nascimento de Jesus. Contudo, o presépio de Greccio era composto por imagens que representavam Nossa Senhora, São José e o Menino Jesus, e por animais vivos.

Actualmente, no lugar onde esteve a manjedoura, encontra-se um altar em honra de São Francisco de Assis, numa igreja que pertence ao convento da ordem de São Francisco, em Greccio.

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A encenação do nascimento de Jesus, feita por São Francisco, foi repetida pelos frades franciscanos em igrejas e conventos de toda a Europa. Por este motivo, os frades franciscanos são considerados verdadeiros pioneiros na construção de presépios.

O Papa Inocêncio III proibiu a realização de dramas litúrgicos nas celebrações. Por este motivo, São Francisco pediu uma autorização especial ao Papa Honório III para fazer a encenação do nascimento de Jesus.

São Francisco de Assis foi proclamado patrono dos presépios em 1986.

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O presépio é uma das principais representações do Natal. Tradicionalmente, as famílias cristãs preparam o presépio no dia 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição.

Tal como os conhecemos hoje em dia, os presépios apareceram no século XVI em Itália, primeiro em igrejas e mosteiros e, posteriormente, em casas particulares. Com o passar do tempo, estavam totalmente inseridos na cultura cristã da Europa. Os presépios napolitanos, que surgiram no século XVIII, são dos mais conhecidos no mundo inteiro e representam grandes obras de arte, com figuras muito belas e ricamente ornamentadas.

Em Portugal, os presépios tiveram início no século XV, quando o rei D. João II solicitou ao italiano Lorenzo de Médicis que enviasse para o reino o arquitecto e escultor Contucci Sansovino a fim de trabalhar na criação de presépios. Este contratou os melhores artesãos portugueses e desenvolveu a arte dos presépios.

Em Portugal, os presépios tornaram-se o símbolo mais importante do Natal e passaram a ser incluídos em quase todos os lares, constituindo um importante marco na cultura artística portuguesa. Os barristas Machado de Castro e António Ferreira são citados entre os mais conceituados escultores de presépios.

Napolitano: Natural de Nápoles, cidade italiana.

Presépio Napolitano Presépio Napolitano

Vocabulário

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Machado de Castro e António Ferreira são escultores e barristas portugueses do século XVIII. São da autoria de Machado de Castro os presépios da Sé Patriarcal de Lisboa, da Basílica da Estrela e da Igreja de São Leonardo, na Atouguia da Baleia, concelho de Peniche. É da autoria de António Ferreira o presépio da Igreja da Madre de Deus, em Lisboa. Estes artistas caracterizaram-se pela capacidade de cruzar de forma harmoniosa a arte popular com a escultura erudita.

Sé Patriarcal de Lisboa

Outras tradições estão também associadas à preparação e celebração do Natal, nomeadamente os cânticos, o pinheiro, as luzes, as prendas, a consoada, as estrelas, o bolo-rei, a coroa, a utilização do azevinho nos arranjos, os cartões…

A missa do galo, que constitui uma tradição da noite de Natal, surgiu no século V e é celebrada na noite de passagem do dia 24 para o dia 25 de Dezembro, por volta da meia-noite. Quanto à explicação da denominação «missa do galo» não existe consenso. Uns acreditam ter sido este o primeiro animal a presenciar o nascimento do menino Jesus e, por esse motivo, atribuem-lhe a missão de anunciar o seu nascimento; outros acreditam que esta denominação é uma alusão ao galo que cantou depois de Pedro ter negado Jesus por três vezes, na noite do seu julgamento.

Tradicionalmente, o presépio não incluía a figura do menino Jesus até à noite de Natal, momento em que era colocado no espaço preparado para o acolher.

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Na celebração da missa, bem como noutros contextos, executam-se cânticos de Natal. Alguns são de uma beleza excepcional e, por isso, não são esquecidos: permanecem ao longo dos anos. É o caso dos cânticos Adeste Fideles e Stille Nacht.

A tradição que atribui a origem da denominação «Missa do Galo» ao apóstolo Pedro tem origem em Espanha (Toledo). Os camponeses, em memória do galo que cantou três vezes quando Pedro, apóstolo de Jesus, o negou, matavam um galo à meia-noite. Este era levado para a igreja e oferecido aos pobres. Em algumas aldeias, levavam o galo vivo porque acreditavam que, se o galo cantasse, teriam um ano muito próspero. Esta tradição também foi acolhida em algumas aldeias portuguesas, onde se acreditava que, se o galo cantasse na missa, seria prenúncio de boas colheitas.

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A autoria da letra e da música do Adeste Fideles é controversa, sendo a sua origem atribuída a diferentes autorias e países. Existem poucos registos históricos credíveis desta música. Sabe-se que foi cantada na embaixada portuguesa em Londres, em 1797. Os ingleses atribuem-na a John F. Wade, mas muitos acreditam que está relacionada com a casa real portuguesa, atribuindo-a ao rei português D. João IV.

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Adeste Fideles

Adeste, fideles,Laeti triumphantes!Venite, venite in Bethlehem;

Natum videteRegem angelorum.

Venite, adoremus; Venite, adoremus,Venite, adoremus Dominum.

Cantet nunc ioChorus angelorum;Cantet nunc Aula caelestium:

Gloria, gloriaIn excelsis Deo!

Venite adoremus; Venite, adoremus;Venite, adoremus Dominum.

Ergo qui natusDie hodiernaJesu, tibi sit gloria

Patris aeterniVerbum caro factus

Venite adoremus; Venite adoremus;Venite adoremus Dominum

Vinde, vinde a Belém

Vinde, fiéis,Alegres e em triunfo!Vinde, vinde a Belém;

Vede nascidoO rei dos anjos.

Vinde, adoremos; Vinde, adoremos;Vinde, adoremos o Senhor.

Cante agora, eia,O coro dos anjos; Cante agora a assembleia Dos seres celestes:

Glória, glóriaA Deus nas alturas!

Vinde, adoremos; Vinde, adoremos;Vinde, adoremos o Senhor.

Eia, pois! Tu que nascesteNo dia de hoje, Jesus, a ti seja dada glória,

Do Pai eternoVerbo feito carne!

Vinde, adoremos; Vinde, adoremos.Vinde, adoremos o Senhor!

Trad. Aires A. Nascimento

Noite Feliz

Noite feliz, noite feliz,O Senhor, Deus de amor, Pobrezinho, nasceu em Belém.Eis na lapa Jesus nosso bem.Dorme em paz ó Jesus;Dorme em paz ó Jesus.

Noite feliz, noite feliz!Ó Jesus, Deus de luz,Quão amável é teu coração, Que quiseste nascer nosso irmãoE a todos salvar,E a todos salvar.

Noite feliz, noite feliz,Eis que no ar vêm cantar Aos pastores os anjos do céu, Anunciando a chegada de Deus,De Jesus salvador,De Jesus salvador.

Noite de paz, noite de amor,Tudo dorme em redor, Entre os astros que espargem a luz.Indicando o menino Jesus,Brilha a estrela da paz,Brilha a estrela da paz.

Música: Franz Xavier GruberLetra: Joseph Mohr

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A famosa canção de Natal «Noite Feliz» foi composta nas vésperas de Natal de 1818, numa aldeia dos Alpes. Nas missas da meia-noite, as pessoas estavam acostumados a ouvir música de qualidade. Na aldeia austríaca de Oberndorf descobriu-se que o órgão tinha sido estragado por ratos e não havia possibilidade de o reparar a tempo. Surgiu então a ideia de compor uma canção para ser acompanhada à viola. O compositor foi um professor chamado Franz Xavier Gruber e o padre Joseph Mohr escreveu a letra. Cantada nesse Natal pelas crianças, espalhou-se por todo o mundo.

Cf. http://lageosadomondego.blogspot.com/2005_12_01_archive.html (22/01/2009)

As luzes de natal representam Jesus Cristo que, para os cristãos, é a luz do mundo. Lembram as estrelas que iluminaram o céu na noite de Natal e a estrela de Belém que guiou os magos até ao presépio, na noite de nascimento de Jesus. A estrela de Belém também simboliza Cristo e é normalmente colocada no topo do presépio e da árvore de natal.

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Jo 8, 12

Mt 2,1-2. 9-10

Jo 18,27

Mt 2,11

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A origem da tradição da árvore de Natal é desconhecida. Esta tradição remonta a práticas anteriores ao próprio Natal. A primeira referência surge no século XVI, atribuindo-se a Martinho Lutero a sua origem. Diz-se que Lutero enfeitou uma árvore para mostrar aos filhos como deveria ter sido bela a noite do nascimento de Jesus.

Em Portugal, esta tradição surgiu muito tardiamente. Até meados do século XX, era totalmente ignorada, mantendo-se o presépio como o principal símbolo do Natal.

A utilização do azevinho remonta a uma tradição romana que atribuía a esta planta a simbologia da paz e da felicidade.

Actualmente, muitas crianças colocam os seus sapatos na chaminé, na noite de Natal, para aí lhes serem colocados os seus presentes. Esta é uma das tradições mais generalizadas em diversos países.

Martinho Lutero nasceu na cidade de Eisleben (Alemanha), em 1483, e morreu em 1546. Foi o responsável pela reforma protestante do século XVI, que deu origem à Igreja Luterana. A tradição da árvore de Natal terá, assim, começado na Alemanha e, através da Casa de Hannover, terá sido adoptada por outros países da Europa.

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Uma lenda atribui a origem da tradição das luzes de Natal a um sapateiro alemão. Diz-se que este tinha o hábito de alumiar os viajantes, colocando uma vela na sua janela. Na noite de Natal, toda a população começou a acender luzes nas suas casas.

Os romanos já enfeitavam árvores, em meados de Dezembro, como oferta a Saturno, o deus da agricultura. Também os egípcios, no dia mais curto do ano, enfeitavam ramos de palmeiras e levavam-nos para suas casas, simbolizando o triunfo da vida sobre a morte; os celtas, na mesma altura do ano, enfeitavam carvalhos com maçãs douradas.

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Sapatinho na chaminé…

Crispim e Crispiano eram dois irmãos que, por serem cristãos, foram perseguidos. Depois de muito fugirem, de baterem a muitas portas e de correrem grandes perigos, viram por fim o seu desejo realizado — foram recebidos por uma família. Era noite de Natal! Uma pobre viúva e os seus filhos acolherem os dois irmãos e deram-lhes o conforto que todos desejam nessa noite. Estavam muito felizes e não quiseram deixar de recompensar a generosidade da família. Uma vez que eles não tinham nada para lhes dar, pediram a Deus para os recompensar. Entretanto, Crispim, que era sapateiro, reparou nos tamancos velhos do pobre rapazito que o fitava com um olhar doce e cheio de alegria. Decidiu, durante a noite, enquanto todos dormiam, fazer-lhe uns sapatos novos e colocou-os na lareira, debaixo da chaminé. De manhã, quando todos acordaram, verificaram que os seus hóspedes já se tinham ido embora. Contudo, havia algo estranho que luzia na lareira. Tratava-se de um par de tamancos novos dos quais transbordavam moedas de ouro. Foi assim que todos os meninos começaram a colocar os seus sapatinhos na chaminé, à espera de neles encontrarem as desejadas prendas!

Crispim e Crispiano são dois mártires do século III. Na freguesia de São Mamede, em Lisboa, existiu uma ermida dedicada a estes dois mártires, construída após 25 de Outubro de 1531, data da posse do terreno. Esta ermida era governada pela Irmandade do ofício dos sapateiros e foi destruída pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755.

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Os magos, de acordo com o evangelho de Mateus, foram guiados por uma estrela até ao estábulo, para adorarem o menino. Nem o número, nem o nome dos magos é referido no evangelho. Descrevem-se apenas as ofertas que levaram para o menino — o ouro, que representa possivelmente a sua nobreza; o incenso, que representa provavelmente a sua divindade; e a mirra, que representa talvez o sofrimento que Jesus iria enfrentar. Os nomes Belchior ou Melchior, Baltasar e Gaspar surgiram mais tarde. Tradicionalmente, é-lhes atribuída a representação dos diferentes povos conhecidos naquela altura: os europeus, os asiáticos e os africanos. A adoração dos magos, vindos do Oriente, simboliza a veneração que todos os povos da Terra prestam a Jesus.

Mt 2, 1-12

Sl 68,30 e 71,11

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O dia dos reis magos é celebrado a 6 de Janeiro. É a partir da palavra «reis» do salmo 68,30 («os reis vão lá oferecer-te presentes») e da palavra «magos» do evangelho, que esta denominação teve origem. Trata-se de uma leitura do evangelho à luz do Antigo Testamento.

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Um conto de Natal

Quando, há mais de dois mil anos, Jesus nasceu em Belém, surgiu no céu uma estrela muito brilhante dirigindo-se para o local do seu nascimento. Tendo reparado nessa estrela, quatro reis magos decidiram partir dos seus reinos e segui-la para assim visitarem o menino-Deus e lhe oferecerem presentes. Os três primeiros reis chamavam-se Gaspar, Belchior e Baltasar. Como eram ali de perto, demoraram apenas alguns dias a chegar a Belém, e logo ofereceram Ouro, Incenso e Mirra ao menino, o qual os recebeu com uma grande expressão de alegria. O quarto rei mago chamava-se Natal. Vivia no reino da Lapónia, que ficava na região do Pólo Norte, muito, muito longe de Israel, a terra de Jesus. Quando o rei Natal viu a estrela, pediu imediatamente aos seus súbditos que preparassem muitos presentes para que ele os oferecesse pessoalmente ao menino Jesus. E os súbditos assim fizeram. Passados poucos dias, o rei Natal reuniu os presentes num grande saco, despediu-se da família e dos amigos e partiu para Belém.

Pelo caminho, teve de atravessar muitas terras, florestas, montanhas, rios, mares, grandes cidades e pequenas aldeias. Quando entrava numa povoação, as pessoas, vendo a sua figura, de cabelo e barba branca, e com aquele grande saco, faziam-lhe perguntas, e ele dizia-lhes, entusiasmado, quem era, donde era e ao que ia. As crianças, claro, quando o ouviam dizer que carregava presentes, cercavam-no e diziam-lhe:

— Ó rei Natal, se trazes aí tantos presentes, dá-me um, um só que seja, por favor!

Mas o rei Natal estava de tal maneira empenhado e apressado para chegar a Belém e oferecer todos os presentes a Jesus que não ofereceu quaisquer presentes às crianças que lhos pediram pelo caminho. Muito zeloso, respondia-lhes sempre:

— Não vos posso dar nenhum presente, porque são todos para Jesus. Ele, se quiser, que vos dê algum mais tarde; eu agora não vos posso dar nenhum.

E continuava o seu longo caminho, com pressa de chegar a Belém.

Ora, mas quando o rei Natal chegou a Belém, já tinham passado muitos anos desde que Jesus nascera: primeiro, a família de Jesus já tinha fugido para o Egipto e regressado para Nazaré; depois, Jesus já tinha crescido, aprendido a profissão de carpinteiro com S. José e saído de sua casa para ser baptizado por João Baptista no rio Jordão e começar a anunciar o reino de Deus e a fazer milagres; já tinha reunido um grupo de discípulos, com quem percorrera a Galileia, a Samaria e a Judeia e passara a Páscoa em Jerusalém; e já tinha sido acusado pelos fariseus e condenado à morte por Pilatos e ressuscitado três dias depois de ser crucificado.

O rei Natal, o pobre, veio de tão longe que só chegou a Belém depois de Jesus ressuscitar. E ainda trazia o saco cheio de presentes para o menino Jesus, tal e qual como à saída da Lapónia. Quando perguntou onde vivia Jesus e lhe disseram que já tinha morrido, ficou tão triste que quase se desfez em lágrimas, porque vinha de tão longe, carregado com tantos presentes, e agora não tinha possibilidade de oferecê-los a Jesus. Então, vendo a sua tristeza, o próprio Jesus, o Ressuscitado, veio ter com ele e disse-lhe:

— Rei Natal, rei Natal, durante trinta e três anos atravessaste o planeta à minha procura e eu estive sempre perto de ti e ao teu lado. Todas as vezes que uma criança te pediu um presente, eu era essa criança, e tu não me viste. Eu pedi-te um só presente e dei-te tantas oportunidades; e tu com esse teu saco cheio de presentes e nem um me deste! Que cego que tu és, amigo Natal!

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Só então o rei Natal compreendeu que Jesus estivera todos os dias com ele durante o seu caminho, e não o reconhecera. E ficou ainda mais triste, e arrependeu-se profundamente e pediu perdão a Jesus. E porque tanto se arrependeu, Jesus perdoou-o e disse-lhe:

— Amigo Natal, de hoje em diante deixarás de ser rei e passarás a chamar-te Pai Natal, porque serás como um pai para aqueles que te procurarem. Agora, regressa em paz ao teu país e não voltes a recusar um presente a uma criança que to pedir. Vais percorrer o mundo e só pararás quando o teu saco ficar vazio. Não desanimes, porque eu estarei sempre contigo.

E o Pai Natal ficou feliz ao ouvir aquelas palavras de Jesus e fez como Ele lhe indicou: regressou ao seu reino e nunca mais negou um presente a uma criança. Sempre que lhe pediam um presente, ele dava-o logo, todo satisfeito. E até os pais dos miúdos começaram a pedir presentes, e o bom do Pai Natal também lhos dava. E eis que aconteceu um milagre: quando o Pai Natal chegou à Lapónia, o saco continuava cheio. Apesar dos milhares de presentes que distribuíra, o saco continuava repleto. Era um milagre! Então, lembrou-se das palavras de Jesus quando lhe dizia: «vais percorrer o mundo e só pararás quando o teu saco ficar vazio…»

Isto passou-se há cerca de dois mil anos. E desde então, sempre que se aproxima o Natal, o Pai Natal sai a percorrer o mundo com o seu grande saco cheio de presentes, oferecendo-os a todos. E no fim regressa feliz e agradecido por reconhecer Jesus habitando o olhar sorridente de cada criança.

Texto inédito de José António Rocha

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A figura do Pai Natal é, normalmente, identificada com São Nicolau, o bispo de Mira (Ásia Menor), que viveu por volta do século IV d.C. É um dos santos mais populares em toda a Europa, existindo muitas centenas de igrejas com o seu nome. Diz-se que ele gostava de oferecer presentes às crianças. A figura do Pai Natal como um velhinho com barbas brancas surgiu, em 1822, criado por Clement Clak More, num poema intitulado An account of a visit from Saint Nicolas, dedicado às suas filhas. O primeiro desenho é de 1866 e é da autoria de Thomas Nast.

A distribuição de presentes no Natal é atribuída ora ao menino Jesus ora ao Pai Natal. Existe, ainda, uma tradição restrita a um menor número de países que atribui a entrega de presentes aos reis magos, sendo entregues no dia dos reis.

Os presentes de Natal são, também, denominados consoadas. Esta tradição parece remontar a costumes de vários povos, anteriores ao nascimento de Jesus, que tinham por hábito oferecer consoadas, como forma de mostrar gratidão e admiração por alguém. Em Roma ofereciam-se, em meados de Dezembro, as consoadas ao imperador. A consoada é também a ceia familiar da noite de Natal.

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Devagar a porta abre, por Edna Cooke Shoemaker

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Jesus nasceu na Palestina, por volta do ano 752 da fundação de Roma, quando esta se encontrava sob o domínio do Império Romano.

No ano 63 a. C., Pompeu invadiu Jerusalém e anexou a Palestina ao Império Romano. Aristóbulo II, rei da Palestina, foi deportado para Roma e Hircano foi nomeado sumo-sacerdote e príncipe vassalo da Palestina, detendo poderes limitados. A Palestina ficou, a partir desse momento, sob o domínio do Império Romano durante cerca de quatro séculos.

Na tomada de Jerusalém, Pompeu assaltou o Templo e entrou no Santo dos Santos, local sagrado e restrito apenas ao sumo-sacerdote. Este gesto foi considerado pelos judeus piedosos uma profanação e, apesar de Pompeu ter ordenado o restabelecimento do culto e a purificação do Templo, o seu gesto nunca foi perdoado.

a palestiNa No tempo de Jesus

Ruínas romanas, Jerash, Jordânia

Aristóbulo II governou a Judeia entre os anos 67 a 63 a.C. O reinado de Aristóbulo II foi intercalado com o de Hircano II. Estes eram filhos da Rainha Salomé Alexandra que, após a morte de Janeu, seu marido, rei da Palestina, governou durante 9 anos. Salomé era uma rainha sábia e respeitada, tendo conseguido estabelecer a paz no seio do seu povo, principalmente com os fariseus, que era um grupo social que criava muitos conflitos. Depois da morte da rainha, os seus dois filhos disputaram o trono, colocando o reino em guerra. O general romano Pompeu aproveitou a desordem política para tomar Jerusalém e sujeitá-la a Roma.

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No ano 37 a.C., Herodes invadiu Jerusalém com o apoio de Roma. Foi nomeado governador da Galileia, por seu pai, quando tinha 25 anos. Era muito ambicioso e procurou a confiança dos governadores romanos para consolidar o seu poder. A tomada de Jerusalém por Herodes foi muito demorada e cruel, pois as suas muralhas eram difíceis de transpor.

Quando o exército romano conseguiu entrar na cidade interior, protagonizou uma enorme matança e pilhagens. Herodes tomou o Templo assumindo ele próprio o sacrilégio do assalto e ordenou muitas execuções, de modo a assegurar a posse do trono. Por sua ordem, foram mortos membros da nobreza de Jerusalém, a maioria dos membros do Sinédrio e quase todos os membros do Conselho dos Anciãos.

O Sinédrio era o supremo tribunal judaico que tinha autoridade judicial, administrativa e religiosa sobre o povo judeu.

Vocabulário

CesareiaÉfeso G

AL

ÁC

IA

CILÍCIA

Cesareia

O Santo dos Santos era o espaço central do Templo, vazio, sem qualquer ornamentação, que simbolizava a presença de Deus entre o seu povo. Apenas o sumo-sacerdote tinha acesso a este espaço uma vez por ano, no dia do perdão, no jejum de Yom Kippur.

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Herodes tornou-se governador de Jerusalém, uma cidade em ruínas e pro-fundamente ofendida. Na sua governação, encontrou muitas dificuldades. A população era heterogénea, uma parte judia, dividida por facções internas, e uma parte pagã, devido ao facto de ser uma região de encontro com outros povos e culturas. A presença de pagãos deveu-se às constantes invasões e à localização geográfica da Palestina.

Herodes ficou conhecido na história como um governante cruel, mas tam-bém como um político muito sagaz e grande construtor. Dentro da Pales-tina estabeleceu uma administração própria, de forma a exercer um controlo apertado sobre o povo, possuindo um exército formado por mercenários es-trangeiros e uma polícia secreta poderosa, com uma grande rede de espiões em todo o reino. Limitou o poder das instituições judaicas tradicionais e assumiu o seu poder. Destituiu o Sinédrio e substituiu-o por pessoas da sua confiança, garantindo que estas respeitavam os seus interesses. Os seus con-selheiros eram gregos, o que aumentava a distância entre Herodes e o povo.

Entre as construções atribuídas a Herodes, encontram-se o Templo de Jerusalém (tal como Jesus o conheceu), diversos palácios e o Porto de Cesareia.

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Idumeu: Habitante ou natural da Idumeia.

Dt 17, 15

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Vocabulário

Tiro

Ecdipa

Ptolomeida

Dora

Taanac

Dotan

Sebaste

Siquém

Meguido

Cesareia

Apolónia

Catarsaba

Jope

Lida

Jâmnia

Gazata

Azoto

Ascalon

Gaza

Bersabé

Aroer

Arad

Massada

Hebron

BelémGat

JarmutEmaús

Láquis Heródion

Arimateia

(Aczib)

Sídon

Dan

Selêucia

Hasor

Tiberíades

En-Dor

Nam

Ofra

Rafna

DionHippos

Gadara Abila

Edrei

Citopolis

Nazaré

Corozam

Catarnaum

Magdala

Paneias

MonteCarmelo

Monte EbalMonte Garizim

Monte Guilboa

GALILEIA

SIR

O-F

EN

ÍCIA

SAMARIA

JUDEIA

Jerusalém

Jericó

Betel

Silo

AdabáLebona

Efrem(Ofra)

Gálgaia

Madeba

Gadara

Filadélfia

Gerasa

Pella

Maqueronte

Dibon

Pla

níc

ie d

e S

aro

n

Planície de Jesreel

Lago deGenesaret

MA

R

MO

RT

OR

io J

ord

ão

Rio Jaboc

Rio Arnon

RioZéred

Rio JarmucM

AR

M

ED

IT

ER

NE

O

Território sob a dependênciado procurador Romano

Província Romana da Síria

Decápole

0 10 20 30 40Km

A PALESTINA

NO TEMPO DE HERODES,O GRANDE (37 a 4 a.C.)

Herodes, o Grande, filho de Antipater, nasceu por volta do ano 73 a.C. Aliou-se aos fariseus e aos romanos, de quem recebeu benefícios. Morreu no ano 4 a.C. O nascimento de Jesus deve assinalar-se em data anterior, porque os evangelhos referem que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes.

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História Antiga

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.Feio bicho, de resto:Uma cara de burro sem cabrestoE duas grandes tranças.A gente olhava, reparava e viaQue naquela figura não haviaOlhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.Porque um dia,O malvado,Só por ter o poder de quem é reiPor não ter coração,Sem mais nem menos, Mandou matar quantos eram pequenosNas cidades e aldeias da nação.

Mas, por acaso ou milagre, aconteceuQue, num burrinho pela areia fora,Fugiu Daquelas mãos de sangue um pequenitoQue o vivo sol da vida acarinhou;E bastouEsse palmo de sonhoPara encher este mundo de alegria;Para crescer, ser Deus;E meter no inferno o tal das tranças, Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga

A Palestina, sob o domínio romano, estava sujeita às estruturas políticas, administrativas e à organização de Roma. Herodes representava o Império Romano como governador da Palestina. A sociedade judaica da Palestina era constituída por várias instituições e grupos sociais. O Templo, o Sinédrio e o Conselho dos Anciãos eram estruturas muito importantes e centrais na vida da sociedade. Entre os grupos sociais judaicos encontravam-se os saduceus, os fariseus, os essénios e os zelotas.

Os sacerdotes eram originários das famílias pertencentes à tribo de Levi, sendo responsáveis pelo serviço do culto do Templo. No exercício das suas funções, os sacerdotes dividiam-se em grupos, desempenhando diferentes funções. O sumo-sacerdote era o responsável máximo e tinha a função de presidir à assembleia do Sinédrio. Uma vez por ano, no dia do perdão, competia--lhe entrar no Santo dos Santos e fazer uma oferenda a Deus pelo seu povo.

Os sacerdotes presentes na celebração do Yom Kippur podiam ascender aos 17 mil.

Mt 23, 3. 13-36

Lc 15, 1-3; 18, 9-14

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Ruínas do Aqueduto, Cesareia

A Palestina encontrava-se profundamente dividida por tensões dinásticas, sociais e religiosas. A população, muito diferenciada, era imprevisível e rebel-de, verificando-se tumultos e revoltas constantes. O povo, marcado pelo so-frimento causado pelas sucessivas guerras, invasões e deportações, alimentava a esperança da vinda de um salvador, um Messias da casa de David, que o viria libertar. Tratava-se do Messias prometido no Antigo Testamento. Herodes governou a Palestina mergulhada neste clima messiânico. Sendo idumeu, não pertencia à casa de David. Não era, assim, aceite como rei legítimo.

É neste contexto que a Bíblia relata a matança dos inocentes, ordenada por Herodes, pouco tempo depois do nascimento de Jesus. Maria e José fu-giram com o Menino para o Egipto a fim de o salvar, e segundo a Bíblia, lá permaneceram enquanto o Menino corria perigo, até à morte de Herodes.

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Foi devido à resistência dos fariseus e à sua tenacidade que o judaísmo conseguiu superar as catástrofes dos anos 70 e 135 d.C.

Os historiadores Plínio, Flávio Josefo e Fílon mencionam, nos seus escritos, os essénios.

Os levitas são descendentes de uma das doze tribos de Israel, a tribo de Levi, cujos membros se dedicavam às funções do culto. Tradicionalmente, estavam encarregues do serviço do Templo, em especial das funções litúrgicas. O número e os nomes das tribos de Israel correspondem aos seus fundadores: os doze filhos de Jacob.

Lc 16, 8-12

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Os fariseus eram leigos, membros de um grupo religioso que surgiu no século II a.C. e que procurava observar rigorosamente a Lei de Moisés e as tradições. Nos evangelhos são acusados de multiplicar as leis e as interdições, tornando-as inacessíveis e desconhecidas da maioria dos judeus. Pertenciam à classe média e eram responsáveis pelo ensino da Torah. Eram inimigos políticos de Roma.

Os saduceus eram um grupo religioso judaico rival dos fariseus. Tinham muito poder e influência política. Pertenciam à classe aristocrática de Jerusalém, integravam muitos sacerdotes, levitas, ricos proprietários e comerciantes. Para este grupo, os cinco primeiros livros da Antigo Testamento — a Torah — eram os únicos livros sagrados da Bíblia.

Os essénios constituíam um grupo religioso judaico, entre os séculos II a.C. e I d.C., cujos membros viviam em comunidades e levavam uma vida ascética, de recolhimento e isolamento. Este grupo parece ter surgido de um protesto contra os sacerdotes e, apesar de ter sido mencionado por historiadores daquela época, passou a ser mais conhecido devido à descoberta dos achados arqueológicos de Qumran, junto ao Mar Morto.

Os zelotas eram membros de um movimento nacionalista judaico. Desempenharam um papel muito activo na revolta de 66-70 d.C. contra a ocupação romana. Defendiam a luta radical contra o domínio do imperador romano. Recusavam-se a prestar honras ao imperador e estavam associados à esperança da libertação definitiva de Israel através da luta contra os romanos.

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o reCeNseameNto

Por volta do ano 752 da fundação de Roma, o imperador romano César Augusto decretou um recenseamento a todas as províncias que estavam sob o seu domínio. Roma realizava recenseamentos para actualizar os registos dos habitantes do Império, que estavam obrigados a contribuir para o sistema fiscal. Segundo o evangelista Lucas, o imperador César Augusto ordenou que todos os habitantes da Palestina se recenseassem nas terras de origem dos seus antepassados. Os pais de Jesus eram judeus, da linhagem de David, o qual era originário de Belém. Por isso, estando Maria grávida, prestes a dar à luz, deslocaram-se de Nazaré a Belém para participar neste recenseamento.

E foi assim que, segundo os evangelhos, Jesus veio a nascer em Belém e não em Nazaré, onde viviam os seus pais.

Lc 2, 1-20

César Augusto foi imperador de Roma entre os anos 30 a.C. e 14 d.C. O imperador de Roma decretou vários recenseamentos em diversas províncias do seu Império. O recenseamento citado no evangelho de São Lucas foi efectuado quando Públio Sulpício Quirino era governador da Síria. No evangelho de Lucas, a referência ao recenseamento e à governação de Quirino revelam a intenção de situar o nascimento de Jesus na história.

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Viagem até Belém, por Cathy Baxter

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O nascimento de Jesus teve tal importância para a história universal que o calendário mais usado no mundo é aquele que tem este aconteci-mento como ponto de referência.

Nascimento de Jesus

Tinham passado milhares de anos desde que, no princípio, Deus criou o céu e a terra e fez o Homem à Sua imagem e semelhança, e milhares de anos desde que acabou o dilúvio e o Altíssimo fez resplender o arco-íris, sinal de aliança e de paz; no ano 752 da fundação de Roma, no ano 42 do império de César Augusto, em Belém de Judá, aldeia humilde de Israel, nessa época ocupada pelos romanos, num estábulo, por não haver lugar na hospedaria, da Virgem Maria, esposa de José, da casa e família de David, nasceu Jesus.

Trad. Misa Dominical, Ano XXX, n.º 16, Barcelona

Jesus, um marCo Na história

A data certa do nascimento de Jesus é desconhecida. O dia 25 de Dezembro foi convencionado por volta do século IV. O imperador Aurélio tinha instituído a festa romana, pagã, do Sol, celebrada neste dia. Com a celebração do Natal a 25 de Dezembro, os cristãos festejavam o nascimento de Jesus, o verdadeiro Sol e luz do mundo. O dia 25 de Dezembro é o dia do solstício de Inverno, a partir do qual os dias começam a aumentar e a luz conquista terreno às trevas.

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O presépio, por Giovanni di Paolo di Grazia

dezembro

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O Ano Um

O calendário moderno foi criado no século VI, pelo monge Dionísio, o Exíguo, tendo preparado uma cronologia cristã, a pedido do papa João I, baseada na vinda de Cristo. Tal como acontecia no seu tempo, Dionísio datou o acontecimento a partir da fundação de Roma, situando a data do nascimento de Cristo a 25 de Dezembro de 753 ab urbe condita. Depois, situou o início da era cristã oito dias mais tarde, a 1 de Janeiro de 754 a.u.c., no dia da Circuncisão de Cristo, aos oito dias de idade, fazendo coincidir este dia do calendário cristão com o dia de Ano Novo no calendário romano. Deste modo, Dionísio determinou que o tempo recomeçasse a 1 de Janeiro do ano 1.

Por outro lado, Dionísio ter-se-á enganado ao situar o nascimento de Jesus quatro anos depois da morte de Herodes, contrariamente ao texto dos Evangelhos. Ora Herodes encontrava-se no poder quando Jesus nasceu. Esta é uma das razões que nos obriga a fazer recuar o nascimento de Jesus entre quatro a sete anos antes da Era Cristã.

Excerto de Carlos Guardado da Silva, in Jornal Badaladas, 31 de Dezembro de 1999

Jesus abençoa um recém-nascido, por Eastnine

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O Natal é a celebração do nascimento de Jesus, preparada com particular cuidado através da liturgia do Advento. Hoje, o nascimento do Messias continua a ser anunciado com a mesma esperança com que foi profetizado pelo profeta Isaías e esperado no tempo de Herodes pelo povo hebreu, que aguardava um rei justo e um reino de paz. Em cada celebração do Natal, os cristãos procuram renovar este espírito.

Infelizmente, nem todas as pessoas têm condições de vida que lhes permita celebrar o Natal com esperança e alegria. A pobreza, a ausência de carinho, o abandono e muitas outras situações conduzem, por vezes, ao desespero. Ser cristão é tentar que todos tenham uma vida digna e que ninguém se deixe derrotar pelo desalento. «A esperança é a última a morrer», diz o povo no provérbio bem conhecido. Com maior força de razão, para o cristão, que acredita num Deus que vela por todas as pessoas, a esperança não poderá ser vencida. Quando as condições da sociedade e da vida pessoal forem muito adversas, o cristão não desiste e procura resolver os problemas para que a esperança não cesse e a vida floresça.

É urgeNte CoNstruir uma soCiedade mais Justa!

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A Pequena Vendedora de Fósforos

Que frio tão atroz! Caía a neve e a noite sobrevinha. Era dia de Natal. No meio do frio e da escuridão, uma pobre menina passou pela rua com a cabeça e os pés descobertos.

É verdade que tinha sapatos quando saíra de casa. Eram uns sapatos enormes que sua mãe já havia usado: tão grandes que a menina os perdeu quando atravessou a rua a correr para que as carruagens que iam em direcções opostas não a atrope-lassem.

A menina caminhava, pois, com os pezinhos descalços, que estavam vermelhos e azuis de frio. Levava no avental algumas dúzias de caixas de fósforos e tinha na mão uma delas como amostra. Era um péssimo dia: nenhum comprador havia aparecido e, por consequência, a menina não tinha ganho nem um cêntimo. Tinha muita fome, muito frio e um aspecto miserável. Os flocos de neve caíam sobre seus longos cabelos loiros, que se esparramavam em lindos caracóis sobre o pescoço; porém, não pensava nos seus cabelos. Via a agitação das luzes através das janelas; sentia o cheiro dos assados por todo o lado.

Sentou-se numa pracinha e acomodou-se num cantinho entre duas casas. O frio apoderava-se dela e inchava os seus membros; mas não se atrevia a aparecer em sua casa; voltava com todos os fósforos e sem nenhuma moeda. A sua madrasta iria maltratá-la e, além disso, na sua casa também estava muito frio. Viviam debaixo do telhado, a casa não tinha tecto e o vento soprava com fúria, apesar das aberturas maiores terem sido cobertas com palha e trapos velhos. Suas mãozinhas estavam quase duras de frio. Ah! Quanto prazer lhe causaria aquecer-se com um fósforo! Se ela se atrevesse a tirar só um da caixa, aqueceria os dedos! Tirou um! Rich! Como iluminava e como aquecia! Tinha uma chama clara e quente, quando a rodeou com sua mão. Que luz tão bonita! A menina acreditava que estava sentada em uma chaminé de ferro, enfeitada com bolas e coberta com uma capa de latão reluzente. Luzia o fogo ali de uma forma tão linda! Aquecia tão bem!

Mas tudo acaba no mundo. A menina estendeu seus pezinhos para aquecê-los também, mas a chama apagou-se: não havia nada mais na sua mão além de um pedacinho de fósforo. Riscou outro, que acendeu e brilhou como o primeiro; e ali onde a luz caiu sobre a parede, fez-se tão transparente como uma gaze. A menina imaginou ver um salão, onde a mesa estava coberta com uma toalha branca resplandecente com finas porcelanas e sobre a qual um peru assado e recheado de trufas exalava um cheiro delicioso. Oh, surpresa! Oh, felicidade! Mas o segundo fósforo apagou-se e ela não viu diante de si nada mais que a parede impenetrável e fria.

Acendeu um novo fósforo. Acreditou, então, que estava sentada perto de um magnífico presépio: era mais bonito e maior que todos os que havia visto aqueles dias nas vitrinas dos mais ricos comércios. Mil luzes ardiam nas arvorezinhas; os pastores e pastoras pareciam começar a sorrir para a menina. Esta levantou então as duas mãos e o fósforo apagou-se. Todas as luzes do presépio se foram, e ela compreendeu, então, que não eram nada além de estrelas. Uma delas passou traçando uma linha de fogo no céu.

Isto quer dizer que alguém morreu — pensou a menina; porque sua avó, que era a única que havia sido boa para ela, mas que já não estava viva, lhe havia dito muitas vezes: «Quando cai uma estrela, é porque uma alma sobe para o trono de Deus.»

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A menina ainda riscou outro fósforo na parede e imaginou ver uma grande luz, no meio da qual estava sua avó em pé, com um aspecto sublime e radiante.

— Avó! — gritou a menina. — Leva-me contigo! Quando o fósforo se apagar, eu sei bem que não te verei mais! Desaparecerás como a chaminé de ferro, como o peru assado e como o formoso nascimento!

Depois atreveu-se a riscar o resto da caixa, porque queria conservar a ilusão de que via sua avó e os fósforos abriram-lhe uma claridade vivíssima. Nunca a avó lhe havia parecido tão grande nem tão bonita. Pegou a menina nos braços e as duas subiram no meio da luz até um lugar tão alto que ali não fazia frio, nem se sentia fome, nem tristeza: até ao trono de Deus.

Quando raiou o dia seguinte, a menina continuava sentada entre as duas casas, com as bochechas vermelhas e um sorriso nos lábios. Morta, morta de frio na noite de Natal! O sol iluminou aquele terno ser, sentado ali com as caixas de fósforos, das quais uma havia sido riscada por completo.

— Queria aquecer-se, a pobrezinha! — Disse alguém.

Mas ninguém podia saber as coisas lindas que havia visto, nem em meio de que esplendor havia entrado com sua idosa avó no reino dos céus.

(Adapt.) Hans Christian Andersen, Contos de Andersen, Grimm e Perrault

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Vinde, ó pobres

Vinde os possuidores da pobreza,Os que não têm nome no século.Vinde os homens da contemplação.Vinde os que têm a língua mudada.Vinde os forasteiros e os vagabundos,Vinde os homens descalços e os que têmOs olhos cheios de espantos.Jesus Cristo — Rei dos ReisOs vossos pés quer lavar.O filho do marceneiroNão vos pode abandonar.

Jorge de Lima (Brasil)

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Unidade Lectiva 3

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a FamíLia, comUnidade de amor

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O Que é uma Família?

A família, sobretudo os pais e os irmãos, desempenha um papel fundamental na vida quotidiana das crianças. Poucas vezes reflectimos seriamente acerca do valor que a família tem para cada um de nós. Com ela nos identificamos e nela encontramos as condições propícias para a nossa realização. Por isso, partilhamos com os outros elementos da família os nossos sucessos e procuramos junto deles conforto nos momentos menos felizes. A família que cumpre a sua missão é um espaço de reencontro, no qual nos fortalecemos para enfrentar diariamente as surpresas da vida.

«Família» é uma palavra de origem latina. Para o antigo povo romano que tinha o latim como língua materna, a família compreendia todos os indivíduos que viviam na mesma casa, ou seja, debaixo do mesmo tecto. Naquele tempo e naquela cultura, integravam a família o senhor, a mulher, os filhos e os criados da casa.

Mais tarde, o vocábulo «família» ganhou outro sentido, passando a referir-se a toda a comunidade formada pelos descendentes de um

a PaLavra «FamíLia»

A palavra «família» deriva de famulus, que significa «servidor».

Para saberes mais

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mesmo antepassado, sendo utilizado como sinónimo de gens. Mas, o que verdadeiramente caracterizava a família na sua origem era o facto de os diversos membros habitarem o mesmo espaço. Só mais tarde se associou o critério dos laços de sangue, identificando a família com o conjunto de todos os descendentes consanguíneos.

Devido às grandes mudanças que ocorreram nas sociedades, é prati-camente impossível encontrarmos uma definição única de família que a reduza a um só tipo.

Tradicionalmente, a definição de família era feita com base nos critérios da residência comum, do parentesco e dos laços de casamento.

No entanto, o facto de duas ou mais pessoas viverem sob o mesmo tecto, numa residência comum, não é suficiente para constituírem uma família. Há pessoas que vivem no mesmo espaço físico, podendo até partilhar despesas e afectos, mas não constituem necessariamente uma família. É o caso, por exemplo, de colegas de quarto num colégio interno ou numa residência universitária. Também há famílias cujos membros não vivem juntos, por motivos profissionais, como é o caso dos migrantes, entre outros.

O casamento continua a ser o critério mais consensual para a definição de família, embora não represente todos os tipos de famílias nas sociedades do nosso tempo. As uniões de facto são, por exemplo, formas familiares que fogem ao critério tradicional do casamento religioso ou civil.

O parentesco (laços de consanguinidade) é também um critério impor-tante, mas não definitivo. Na verdade, crianças adoptadas fazem plenamente parte de uma família, apesar de não terem laços de sangue com os outros elementos.

A família é, sobretudo, um espaço de afecto em que as pessoas desen-volvem relações que tendem a ser estáveis.

A estrutura das famílias alterou-se ao longo da história, consoante as épocas, as culturas, o meio (rural ou urbano), além das contingências

tiPos de organização FamiLiar

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próprias de cada núcleo familiar. Tendo em conta as condições económicas, sociais, demográficas ou políticas, a família adoptou ora a forma nuclear (pai, mãe e filhos), ora a forma extensa ou alargada que inclui outros elementos com laços de sangue (avós, primos, tios…).

Para o estudo das tipologias da família na história, é seguida usualmente a proposta do historiador inglês, do século XX, Peter Laslett, que se tornou conhecido através dos seus estudos demográficos:

1. Agregado isolado: viúvo ou viúva sem filhos, pessoa solteira;

2. Agregado não conjugal: lar sem estrutura familiar, constituído por pessoas residindo juntas, aparentadas ou não, por exemplo um irmão e uma irmã, solteiros;

3. Agregado familiar simples (família nuclear ou conjugal): casais, com ou sem filhos, viúvos ou viúvas com filhos;

4. Agregado familiar alargado ou extenso: famílias onde se incluem membros com vários graus de parentesco, para além dos próprios filhos. Neste caso, a família alargada pode ser ascendente (pai, mãe, sogra, sogro), descendente (neto, neta) e colateral (irmão, irmã, cunhado, cunhada, primo).

5. Agregado familiar múltiplo: formado por um núcleo principal e por um núcleo secundário, podendo este ser ascendente, descendente ou colateral, reunindo, neste caso, dois ou mais casais de irmãos.

Deste modo, a família apresenta diferentes estruturas, no que respeita ao número de membros que compõem o núcleo familiar e à relação de parentesco que estabelecem entre si. Contudo, as famílias são estruturas dinâmicas. Uma família conjugal pode transformar-se rapidamente numa família extensa e vice-versa. De facto, a morte de um dos cônjuges ou filhos e os casamentos feitos e refeitos testemunham uma sociedade em constante mudança.

No que concerne a tipologia de famílias com base no número de membros do agregado familiar, podemos referir as famílias monoparentais, formadas apenas por um dos progenitores, e as biparentais, formadas pelos dois progenitores. Quando nos referimos a famílias que têm mais de três filhos, utilizamos a expressão «famílias numerosas».

As crianças adoptadas por casais ou por famílias monoparentais têm os mesmos direitos e deveres dos filhos biológicos.

Para saberes mais

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a Família: uma instituiçãO na História

As comunidades humanas organizam-se, desde a origem da humani-dade, em estruturas familiares. Estas estruturas apresentam características distintas consoante a época, os grupos sociais, a cultura e a sociedade.

Na Gália Romana, a família conjugal ou nuclear era regra. Com o fim do Império Romano e o advento das invasões germânicas, a família ex-tensa tornou-se norma no espaço da Europa ocidental. Entre os séculos IX e XIII, porém, a família conjugal voltou a ser maioritária nas classes populares e na burguesia.

No início da nacionalidade, a constituição das famílias regulava-se pelos costumes. Estes tinham evoluído a partir da tradição romana, ger-mânica e islâmica. Perante tão grande diversidade, a Igreja procurou or-ganizar, dentro da sua disciplina jurídica, os diferentes costumes que se praticavam entre as populações.

No direito romano, os agnati são os parentes paternos e os cognati são os parentes maternos.

A disciplina jurídica corresponde à prática da normalização dos costumes através da elaboração de leis.

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a institUição FamiLiar em PortUgaL

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A família, na Idade Média, assentava na residência ou nas afinidades biológicas (laços de parentesco) e era normalmente constituída pela mulher, pelo marido e pelos filhos. Era também muito comum nesta época a compreensão da família de acordo com um conceito mais alargado, onde se incluíam os ascendes e descendentes. A família estendia-se, ainda, a todos os parentes ligados por laços de sangue e aos criados que trabalhavam para uma casa e viviam sob o mesmo tecto. Entre todos os membros da família era esperada solidariedade.

O casamento era antecedido de esponsais, que se materializavam num contrato. Era considerado um estado social, sendo obrigatório o mútuo consentimento, de acordo com as regras da Igreja Católica e as leis civis que estabeleciam o princípio da liberdade para a celebração do casamento.

Na Idade Média, a legislação já incluía a protecção judicial dos órfãos, previa a adopção e a perfilhação.

O Concílio de Trento, em 11 de Novembro de 1563, tornou obrigatório o registo de baptismo e de casamento, procurando prevenir as constantes alegações de ignorância relativamente ao parentesco consanguíneo. Na verdade, estes registos já eram praticados em muitas dioceses e paróquias, efectuando-se em livros chamados «registos paroquiais».

Foi ainda no Concílio de Trento que o matrimónio foi definitivamente incluído no conjunto dos sete sacramentos.

A legislação de D. Afonso III (1210-1279) dispunha que qualquer forma de casamento fosse celebrada no regime de comunhão de bens.

O Concílio de Trento foi o 19.º Concílio Ecuménico, tendo ocorrido entre 1545 e 1563. Foi convocado pelo papa Paulo III para responder às questões levantadas pelo movimento protestante.Estabeleceu que o rito do casamento é celebrado Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e para ser um acto canonicamente válido deve ser celebrado na presença de duas ou três testemunhas.

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Vocabulário

Ascendentes: antepassados; pais, avós…

Descendentes: os que formam a posteridade; filhos, netos…

Esponsais: promessa de casamento; noivado.

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Em Portugal, os Descobrimentos portugueses trouxeram grandes mudanças sociais. De facto, a aventura da expansão ultramarina causou muitos desaparecimentos, abandonos e mortes, bem como o aumento do número de viúvas e de órfãos. Estes acontecimentos provocaram grandes alterações na estrutura das famílias.

Ao longo da história, as famílias assumiram o papel de instituição central e organizadora das sociedades.

Padrão dos Descobrimentos, por Cottinelli Telmo e Leopoldo de Almeida

Tabela cronológica

Legislação sobre a família e o casamento em Portugal

Século XIII

Século XV

Século XVI

Século XVIII

Século XIX

Século XX

• Leis de D. Afonso II e D. Afonso III — Estabelecem a obrigatoriedade de os matrimónios serem contraídos em liberdade.

• Lei da comunhão geral de bens para todas as formas de casamento.

• Lei de 1499, de D. Manuel — Confiscação dos bens no caso de matrimónio clandestino.

• Em 1521, nas Ordenações Manuelinas, proíbe-se o casamento clandestino.

• Em 1563, o Concílio de Trento define o carácter sacramental do casamento e o seu registo paroquial.

• D. José, na Lei de 1775, estabelece penas graves para a celebração de casamentos sem consentimento.

• D. Maria I, na Lei de 1784, determina que a ausência de acordo do pai não anula os esponsais.

• Com D. Luís, surge o Código Civil Português de 1867.

• Com a República, surge, a 3 de Novembro de 1910, a Lei do Divórcio.

• A 25 de Dezembro de 1910, surge a Lei da Família.

• Em 1932, surge o Código do Registo Civil.

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Genealogia

Um dos meus bisavós foi mercador;Outro foi de alfaiate oficial;Outro tendeiro foi sem cabedal;E outro, que juiz foi, foi lavrador;

O meu paterno avô foi professorDe latim, que ensinou ou bem ou mal;E o materno viveu no seu casal,De que inda agora eu mesmo sou senhor.

Meu pai médico foi, e homem de bem;Minha mãe Dom teria, porque enfimMuitas menos do que ela agora o têm.

Abade eu fui; e se saber de mimAlguma coisa mais quiser alguém,Saiba, que versos faço, e os faço assim.

Paulino António Cabral, Genealogia

Vocabulário

Cabedal: recursos; dinheiro.

Casal: propriedade rural.

Tendeiro: aquele que vende em tendas.

Paulino António Cabral foi abade da igreja paroquial de Santa-Maria--de-Jazente. Nasceu em 1719, na Quinta do Reguengo, e faleceu em 1789, em Amarante.

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A terra onde Jesus nasceu — a Palestina — está ladeada pelo mar Mediterrâneo e pelo deserto do Sinai. Devido à sua localização geográfica, esta faixa de terra era uma zona estratégica de passagem entre África e Ásia, sendo disputada por poderosos impérios.

Ao norte da Palestina, os solos da província da Galileia eram muito férteis e as suas colheitas alimentavam muitas pessoas. Dos produtos

a Família de Jesus

A PALESTINA

NO TEMPO DE JESUS

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Gerasa

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Maqueronte

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Apolónia

Antipatris

Jope

Lida

Jámnia

Azoto

Azeca

Jericó

Gálgala

HerodionGal

Laquis

Bersabé

Aroer

Adoraim

HebronHifcania

Massada

Arad

Betânia

Belém

Gaza

Rafia

Ascalon

Alalon

Emaús

Efraim

Arimateia

Abila

Befsaida

Cesareia de Filipe(Panias)

ITUREIA

BATANEIA

AURANÍTIDE

GAULANÍTIDE

Hasor

Corozaim

GALILEIA

Cafarnaum

Caná(?) Magdala

Tiberíades

Nazaré

Naim

CesareiaCitopolis

Lagode

Genesaret

Monte Tabor Rio Jarmuc

Monte Hermon

Planície de Esdreton

SAMARIA

DECÁPOLE

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(Samaria) Monte Ebal

Monte Garizim

Monte Carmelo

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Judá

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MA

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- Território sob a dependência do Procurador romano

- Tetrarquia de Herodes Antipas

- Tetrarquia de Filipe

- Província romana da Síria

- Decápole

- Territórios independentes

Rio Jordão

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cultivados nesta região destacavam-se o trigo, a cevada, os legumes, o linho, as nozes, os figos, a uva e outros frutos. A norte, nas terras mais altas, a produção de madeira marcava a riqueza desta região. O lago Tiberíades (ou mar da Galileia) alimentava uma importante economia de pesca de água doce.

No interior, a Palestina ostentava elevadas colinas de calcário, tornando--se progressivamente mais seca. Contudo, esta região mais seca apresentava pequenos espaços férteis, nas escarpas, onde abundavam jardins e vinhas.

Nazaré, na Galileia, foi a terra onde Jesus viveu com a sua família durante a infância e juventude, até ao início da sua vida pública. De Nazaré avista-se o monte Carmelo, o monte Tabor e o nevado monte Hermon. A sul de Nazaré encontra-se uma planície fértil. Esta, devido à sua localização estratégica e ao facto de proporcionar uma travessia fácil, foi utilizada como campo de batalha e de passagem para mercadores e viajantes. A rota das caravanas que viajavam para o Egipto seguia por este caminho. Terá sido este o percurso feito pela família de Jesus quando regressou do Egipto com o menino, após a morte de Herodes.

caracterização sociaL, económica e PoLítica

A Palestina ficou sob o domínio do Império Romano quando, no ano 63 a.C., as legiões de Pompeu conquistaram Jerusalém. A família de Jesus viveu, assim, num mundo controlado pelas legiões romanas, no qual a paz era imposta e fiscalizada, ao mesmo tempo que qualquer revolta era desencorajada pela presença dos representantes de Roma em todo o território. Integrada neste império, a Galileia estava sujeita ao seu sistema de contribuições e impostos.

Os habitantes da Galileia eram sobretudo judeus. No entanto, habitavam no mesmo espaço pessoas originárias de outros povos, nomeadamente Sírios, Gregos e Romanos. Uns eram homens livres e outros escravos. A posição geográfica da Galileia e as transacções económicas que se realizavam neste território permitiram que os judeus contactassem e conhecessem muitos povos e culturas. O contacto com a escravatura influenciou os comportamentos dos judeus, sendo algumas famílias proprietárias de riquezas servidas por escravos.

No século I da era cristã, a maior parte dos galileus vivia em aldeias. A vida das pessoas nas aldeias organizava-se a partir dos ritmos das actividades agrícolas, das actividades piscatórias, das tradições, dos costumes e das festividades religiosas. Uma aldeia típica da Galileia estruturava-se em torno do largo do mercado e de uma rua com lojas onde os artífices manufacturavam e comercializavam os seus produtos.

Nazaré

Ruínas da Sinagoga de Cafarnaum

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As famílias constituíam a estrutura central da vida social da Galileia. Eram, por norma, numerosas e todos os seus elementos trabalhavam em função dos interesses comuns da comunidade familiar. Os judeus viviam, nas zonas rurais, em função da família, dos seus ritmos e dos seus interesses. Dependiam da terra e das colheitas e valorizavam o direito à propriedade e à preservação das terras de cultivo.

O homem era o chefe de família, o responsável religioso e legal da casa. Era seu dever manter a segurança e zelar pelo bem-estar de todos. Tinha a responsabilidade de trabalhar para alimentar, proteger e garantir um abrigo à mulher e aos filhos.

À mulher competia realizar os trabalhos domésticos: confeccionava o pão, preparava as refeições, moía a farinha, produzia o queijo, fiava o linho e tratava dos animais, que lhes garantiam a carne, o leite e a lã.

Os filhos de tenra idade ficavam em casa com as mães. Conheciam desde cedo os seus deveres para com os pais e era com estes que normalmente aprendiam os ofícios de família.

a vida FamiLiar

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A tipologia familiar que predominava na Galileia era a família alargada, coexistindo com o agregado familiar múltiplo. Numa pequena casa podiam viver os pais, os filhos (adultos ainda solteiros ou casados), os cônjuges dos filhos e os idosos. Viviam com pouco conforto material e sem privacidade. O mobiliário das suas casas era escasso; não tinham camas e eram poucos os objectos pessoais.

A vida destas famílias era sobretudo passada no campo, nos locais de trabalho e em sítios públicos, sendo a casa apenas utilizada para o descanso, para o convívio familiar e para tomar as refeições. Na aldeia, as casas aglomeravam-se, garantindo a proximidade de parentes, a protecção e segurança das pessoas e o melhor aproveitamento dos terrenos próprios para cultivo. As casas, mesmo as mais pobres, agrupavam-se em volta de pátios comuns, onde era colocado o gado.

Os dias eram preenchidos pelo trabalho. A refeição tomada durante a manhã ou ao meio-dia podia ser feita no local de trabalho, não sendo, assim, um momento especialmente dedicado ao convívio familiar. A ceia, tomada ao fim do dia, era uma ocasião de descanso e convívio. Nos seus tempos livres, os adultos e as crianças desfrutavam da presença uns dos outros.

Os judeus, de acordo com o preceito religioso, dedicavam um dia da semana ao louvor a Deus: o Sábado. Este dia de descanso era obrigatório, começava ao pôr-do-sol de sexta-feira e terminava com o ocaso do dia

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seguinte. Impedidos pelo estrito dever de repousar, nenhum camponês trabalhava o campo, nenhum artífice ia para o seu trabalho, nenhum comerciante ia para o mercado, nem as mulheres faziam os seus trabalhos em casa. Tudo deveria ficar pronto e organizado até sexta-feira à tarde.

Os jovens constituíam família através do casamento. A escolha da noiva era geralmente feita pelo pai do noivo quando este atingia os dezassete anos de idade. A selecção realizava-se entre as jovens solteiras da aldeia que tivessem entre os treze e os dezassete anos de idade. O pai do noivo negociava com o pai da noiva as condições do noivado, que eram declara-das por escrito ou transmitidas verbalmente na presença de testemunhas, ficando os noivos prometidos um ao outro. O noivado durava doze meses e durante este período a noiva permanecia na casa dos seus pais, apenas coabitando com o noivo depois do casamento.

Vocabulário

Coabitar: habitar na mesma casa.

Ocaso: pôr-do-sol.

a FamíLia de JesUs de nazaré

Anunciação, por Ernst Deger

Maria e José viviam em Nazaré. José pertencia à casa de David e exercia o ofício de carpinteiro.

Maria encontrava-se noiva de José quando o anjo Gabriel lhe anunciou que tinha sido escolhida para ser mãe do filho de Deus, cujo nome deveria ser Jesus. Maria confiou nas palavras do anjo e aceitou a missão que este lhe propôs, embora tivesse ficado bastante assustada, uma vez que a sua gravidez não seria facilmente compreendida por José, de quem era apenas noiva, e pelas pessoas da aldeia.

Cada aldeia tinha pelo menos um carpinteiro. A aldeia de Nazaré era conhecida como a terra dos carpinteiros. José terá aprendido o ofício com o seu pai.

Para saberes mais

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Nossa Senhora do sim

Nossa Senhora do sim,maravilha: Virgem Mãe!Cuida, Maria, de mime que eu diga sim também.

1. Chamou o anjo de Deus:«Maria, não tenhas medo.Serás mãe do Filho Eterno»eis revelado o segredo!

2. Ao céu nada é vedadopara a salvação do mundo;e onde a mente não vaichega o coração profundo.

3. Maria era o povo eleitocheio de uma antiga esperança;por isso ao querer de Deusrespondeu na confiança.

4. Eis a Serva do Senhor!— Foi a resposta que deu —Cumpriu-se então a promessae o Evangelho nasceu.

5. Com ela a Igreja todaresponda que sim a Deus;e com Maria proclamenova Terra e novos Céus!

J. A. Traquina (música) e M. Clemente (letra)

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Texto bíblico

José dá o nome a Jesus

Quanto a Jesus Cristo, a sua origem foi assim: Maria, sua mãe, tinha o casamento tratado com José; mas, antes de se casarem, achou-se grávida pelo

poder do Espírito Santo. 19José, seu noivo, homem justo, não a queria acusar publicamente. Por isso pensou deixá-la sem dizer nada.

20Andava ele a pensar nisto, quando lhe apareceu num sonho um anjo de Deus e lhe disse: «José, descendente de David, não tenhas medo de casar com Maria, pois o que nela se gerou foi pelo poder do Espírito Santo. 21Ela vai dar à luz um filho e tu vais pôr-lhe o nome de Jesus (Salvador), pois ele salvará o seu povo dos pecados.»

22Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23«A virgem ficará grávida e dará à luz um filho que se há-de chamar Emanuel.»

24Quando José acordou, fez como o anjo lhe tinha man-dado: recebeu Maria por esposa 25e, sem ter relações con-jugais com ela, Maria deu à luz o menino, a quem José pôs o nome de Jesus.

Mt 1,18-25

18

O nome «Jesus» é a forma grega do nome hebreu עושי (Yeshua).

De acordo com a tradição judaica, as crianças recebiam apenas um nome, o seu nome próprio, sendo este seguido da referência ao pai. Por isso, os evangelhos identificam algumas vezes Jesus como Jesus, filho de José.

Para saberes mais

José era um homem bom e responsável. Vivia de acordo com os preceitos religiosos do seu povo. Também aguardava a vinda do Messias. Conhecia a sua noiva, em quem confiava e por quem tinha admiração. Mas, inicialmente, também não compreendeu a maternidade de Maria.

Maria e José casaram quando aquela já se encontrava grávida de Jesus. Este nasceu e cresceu, por isso, numa família judaica, provavelmente uma família alargada, na qual pôde conviver com todos os seus parentes. Jesus foi educado como todas as crianças da Galileia.

Maria, mãe de Jesus, educou o seu filho e exerceu as funções que eram atribuídas à mulher na vida familiar. José exerceu as funções que, de acordo com os hábitos da época, estavam destinadas ao pai: protegeu a família e garantiu-lhes casa e meios de subsistência. José, como era costume no seu tempo, ensinou o seu ofício a Jesus.

A família de Jesus cumpria os preceitos religiosos do seu povo. Por isso, deslocavam-se todos os anos a Jerusalém para participarem nas festividades da Páscoa.

Mt 2, 12-15; 19-23

Procura na Bíblia

Os pastores visitam Jesus, por Venki Talath

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Texto bíblico

Jesus quer estar na casa do Pai

Todos os anos os pais de Jesus iam a Jerusalém à festa da Páscoa. 42Quando o menino tinha doze anos, foram lá como de costume. 43Passados os

dias da festa, José e Maria voltaram para casa, mas Jesus ficou em Jerusalém, sem os pais darem por isso. 44Julgavam que ele ia com algum grupo pelo caminho. Ao fim de um dia de viagem começaram a procurá-lo entre os parentes e os amigos, 45mas não o encontraram. Voltaram por isso a Jerusalém à sua procura.

46Ao fim de três dias descobriram-no dentro do templo, sentado entre os doutores. Escutava o que eles diziam e fazia-lhes perguntas. 47Todos os que o ouviam ficavam maravilhados com a sua inteligência e as suas respostas.

48Quando os pais o viram, ficaram muito impressionados e a mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isso? O teu pai e eu temos andado aflitos à tua procura.» 49Jesus res-pondeu-lhes: «Porque é que me procuravam? Não sabiam que eu tinha de estar na casa de meu Pai?» 50Mas eles não compreenderam o que ele lhes disse.

51Jesus voltou então com eles para Nazaré e continuou a ser-lhes obediente. Sua mãe guardava todas estas coisas no coração. 52Jesus crescia em sabedoria e idade, agradando a Deus e aos homens.

Lc 2, 41-51

41

Lc 8,19-21

Procura na Bíblia

Jesus no Templo, por Simone Martini

Petra

IDUMEIA

PEREIAJUDEIA

SAMARIA

DECÁPOLIS

GALILEIAMar daGalileia

JerusalémJerusalémJerusalém

NazaréNazaréNazaré

Jericó

MarMorto

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100 kmo

Percurso de Nazaré a Jerusálem

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A vida e o quotidiano da família de Jesus em Nazaré são ponto de partida para a compreensão de toda a vida de Jesus. As paisagens e os aspectos naturais que rodeavam Nazaré, as tradições e a cultura do seu povo, a língua que falava, as relações de parentesco e de amizade que estabeleceu, as experiências de trabalho e de serviço que realizou, a educação que recebeu de Maria e de José e os aspectos religiosos e legais do povo judeu marcaram o crescimento de Jesus.

A vida simples na família, o amor para com os parentes e os amigos, o respeito e a obediência, o trabalho, a partilha de tarefas, o silêncio, a oração e o serviço humilde ofereceram a Jesus, o filho de Deus, vivências únicas que o ajudaram a crescer e a orientar a sua vida.

Sagrada Família no trabalho, por Fritz von Uhde

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FunçãO sOcializadOra da Família

O casal Martin

Zélia Guérin (1831-1877) e Luís Martin (1823-1894) desejavam viver plenamente a fé cristã e dedicar as suas vidas ao serviço dos outros. Foi no matrimónio e na constituição de uma família fundada no amor que eles encontraram a realização das suas vocações. Zélia e Luís Martin partilhavam os mesmos ideais de vida. Tiveram nove filhos, dos quais cinco raparigas chegaram à idade adulta. Educaram-nas de acordo com os princípios do Evangelho, preparando-as para, de forma livre e responsável, seguirem a sua própria vocação.Zélia Guérin faleceu quando as suas filhas eram ainda muito novas. Luís Martin assumiu a sua educação, respeitando os projectos e ideais de vida que havia partilhado com a sua mulher. Todas elas seguiram a vocação religiosa, tendo-se consagrado a Deus através da vida conventual ou missionária.Em todas as filhas do casal Martin são reconhecidas grandes virtudes humanas e cristãs, certamente devido ao tipo de educação que receberam. A mais famosa das cinco filhas é Santa Teresa do Menino Jesus. Fez votos religiosos na Ordem do Carmo, no mosteiro de Lisieux, em França. Faleceu apenas com 24 anos de idade, tendo sido canonizada e proclamada doutora da Igreja.O Papa Bento XVI, no dia 19 de Outubro de 2008, beatificou o casal Martin, propondo-o como modelo para os casais e educadores cristãos. Tornaram-se, deste modo, o segundo casal beatificado em conjunto, depois dos italianos Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi, beatificados em 2001.

Luís Martin em 1881

Zélia Martin em 1866

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A família é o lugar adequado à transmissão da vida. Nascendo num espaço familiar, a criança tem mais possibilidades de se sentir acolhida e amada.

No contexto familiar, a criança recebe os primeiros afectos e aprende a relacionar-se com os outros. Desde o seu nascimento, está desperta para o amor, sendo necessário que o vivencie através da relação com os outros membros da comunidade familiar.

Para que o desenvolvimento pessoal da criança aconteça de forma harmoniosa, a família tempera a autoridade com o afecto, promovendo a confiança, o respeito, a responsabilidade e a liberdade. Na verdade, é através da autoridade dos adultos que os mais jovens adquirem a segurança necessária para enfrentarem com confiança as vicissitudes da vida.

A criança, em todo o seu processo de crescimento, necessita de orientação e apoio dos membros mais velhos do seu agregado familiar. A experiência de se sentir respeitada é muitíssimo importante. E ser respeitada significa ser considerada pelo seu valor enquanto pessoa que precisa de cuidados especiais e não apenas enquanto membro de um grupo. Em todo este processo de desenvolvimento, é enriquecedora a presença tanto do modelo masculino como do modelo feminino, transmitidos, em princípio, pelo pai e pela mãe.

A família é o espaço onde, em primeira mão, se transmitem valores, não apenas através de palavras, mas sobretudo através de gestos concretos. Em muitas situações, estes são veiculados até de forma inconsciente, quando os seus membros se dedicam aos outros, estão atentos às suas necessidades, às suas angústias e aos seus receios e procuram apoiá-los nas situações mais difíceis. Garantir às crianças condições de bem-estar e despertar nelas a consciência da sua dignidade e da dignidade de todos os seres humanos constituem os grandes objectivos da educação familiar.

Lentamente, a criança vai-se abrindo aos outros, primeiro aos que estão mais próximos e depois à sociedade em geral. Desenvolve igualmente o seu sentido crítico perante as injustiças sociais, preparando-se para dar o seu contributo na construção de sociedades justas e autênticas.

Para a Doutrina Social da Igreja, a família é a estrutura fundamental da sociedade, a primeira sociedade natural, que tem como missão a transmissão da vida e a educação dos filhos. É aprimeira responsável pela integração dos seus membros na sociedade.

Para saberes mais

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Desembarque dos primeiros escravos da Guiné em Lagos

A condição humana dos escravos obriga-me a chorar piedosamente o seu padeci-mento.No outro dia, que era oito dias do mês de Agosto, muito cedo pela manhã, por causa do calor, começaram os mercadores a inspeccionar os seus batéis e a tirar aqueles cativos para os levarem, segundo lhes fora mandado.Mas qual seria o coração, por duro que pudesse ser, que não fosse tocado por piedoso sentimento, vendo assim aquela campanha? Uns tinham as caras baixas e os rostos lavados em lágrimas, olhando uns para os outros; outros estavam gemendo muito dolorosamente, fixando os olhos nos céus e bradando altamente como se pedissem socorro a Deus.Mas para que a sua dor fosse maior, chegaram aqueles que tinham encargo da partilha, e começaram por apartar uns dos outros, a fim de porem os seus quinhões em igualdade. Onde convinha, apartavam os filhos dos pais e as mulheres dos maridos e uns irmãos dos outros. Nem a amigos nem a parentes se guardava nenhuma lei, cada um ia parar onde a sorte o levava!E vós que trabalhais nesta partilha, olhai com piedade sobre tanta miséria e vede como se apertam uns contra os outros, de forma que mal os podeis desligar! Logo que os tinham posto num lado, os filhos que viam os pais no outro levantavam-se depressa e iam ter com eles; as mães apertavam os outros filhos nos braços e lançavam-se com eles de bruços, recebendo feridas, sem qualquer piedade pelos seus corpos, para que os filhos lhes não fossem tirados!

Adaptado de Gomes Eanes de Zurara, Chronica do descobrimento e conquista de Guiné

O texto que se segue, da autoria de Zurara (1410-1474), relata-nos a chegada dos primeiros escravos a Portugal, vindos da Guiné. A narrativa torna-nos conscientes da desumanidade e do sofrimento causados a estas famílias, quando se procedeu à separação dos seus membros, sem qualquer respeito pelos seus direitos e pelos seus sentimentos.

Gomes Eanes de Zurara nasceu no ano de 1410 e faleceu no ano de 1474. Foi cronista-mor do reino, seguindo-se nesta função a Fernão Lopes.

Para saberes mais

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A família é reconhecida pelo Estado, pelos organismos internacionais e pela sociedade civil como a estrutura basilar da comunidade humana. Para a realização da sua missão, a família necessita de ver reconhecidas e satisfeitas as condições fundamentais para a sua subsistência, realização e segurança.

O Pontifício Conselho para a Família reconhece estes direitos na Carta dos Direitos da Família.

cOndições de Bem- -estar Familiar

Direitos da família

A família está alicerçada sobre o matrimónio, essa união íntima e complementar do homem e da mulher que se estabelece pelo laço indissolúvel do matrimónio, livremente contraído e publicamente afirmado, e se abre à transmissão da vida.A família constitui uma comunidade de amor e de solidariedade, insubstituível para o ensino e transmissão dos valores culturais, éticos, sociais, espirituais e religiosos, essenciais ao desenvolvimento e bem-estar dos seus próprios membros e da socie-dade.A família é o lugar onde se encontram diferentes gerações e onde se ajudam mutua-mente para crescer em sabedoria humana e harmonizar os direitos individuais com as outras exigências da vida social.A sociedade deve proteger a família com medidas de carácter político, económico, social e jurídico, que contribuam para consolidar a sua unidade e estabilidade para que possa cumprir sua função específica.Os direitos, as necessidades fundamentais, o bem-estar e os valores da família são frequentemente ignorados.Muitas famílias são obrigadas a viver em situação de pobreza, situação que as impede de exercerem dignamente o seu papel.

Pontifício Conselho para a Família, Carta dos Direitos da Família, Preâmbulo (excertos), 1983

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A Constituição da República Portuguesa, no Artigo 67.º, também re-conhece a importância da família e a necessidade de lhe serem propor-cionadas condições de vida básicas.

Artigo 67.º (Família)

1. A família, como elemento fundamental da sociedade, tem direito à pro-tecção da sociedade e do Estado e à efectivação de todas as condições que permitem a realização pessoal dos seus membros.

2. Incumbe, designadamente, ao Estado para protecção da família:a) Promover a independência social e económica dos agregados familiares;b) Promover a criação e garantir o acesso a uma rede nacional de creches

e de outros equipamentos sociais de apoio à família, bem como uma política de terceira idade;

c) Cooperar com os pais na educação dos filhos;d) Garantir, no respeito da liberdade individual, o direito ao planeamento

familiar, promovendo a informação e o acesso aos métodos e aos meios que o asseguram, e organizar as estruturas jurídicas e técnicas que per-mitam o exercício de uma maternidade e paternidade conscientes;

e) Regulamentar a procriação assistida, em termos que salvaguardem a digni-dade da pessoa humana;

f) Regular os impostos e os benefícios sociais, de harmonia com os en-cargos familiares;

g) Definir, ouvidas as associações representativas das famílias, e executar uma política de família com carácter global e integrado;

h) Promover, através da concertação das várias políticas sectoriais, a conci-liação da actividade profissional com a vida familiar.

Constituição da República Portuguesa

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Os ValOres na Vida Familiar

As janelas douradas

Era uma vez um menino que trabalhava arduamente durante todo o dia, pois os pais eram pobres e não podiam pagar salários. Mas, quando o sol se punha, o pai deixava aquele tempo só para ele. O menino subia ao alto de um morro e ficava a olhar para uma outra colina, distante alguns quilómetros. Via uma casa cujas janelas eram de ouro e diamantes. Reluziam tanto que ele era obrigado a piscar os olhos. Mas, pouco depois, pensava o menino, as pessoas fechavam as persianas e então a casa ficava igual a qualquer outra. Talvez o fizessem por ser a hora de jantar, pensava ele. Então voltava para casa, jantava e ia deitar-se. Um dia, o pai do menino chamou-o e disse-lhe:— Tens sido um bom menino; tens trabalhado muito, por isso ganhaste um dia livre. Tira esse dia para ti, mas lembra-te: tenta usá-lo para aprenderes alguma coisa boa.O menino agradeceu ao pai e beijou a mãe. Em seguida partiu, tomando a direcção da casa das janelas douradas.Os pés descalços deixavam marcas na poeira branca e, quando olhava para trás, parecia que as pegadas o seguiam, fazendo-lhe companhia. A sombra também caminhava a seu lado, dançando e correndo, tal como ele.Passado algum tempo, chegou ao local da colina verde. Quando subiu ao topo, lá estava a casa. Mas ele não viu nada que pudesse lembrar ouro ou diamantes. Aproximou-se e sentiu vontade de chorar: as janelas eram de vidro comum, tão vulgares como quaisquer outras.Uma mulher chegou à porta e olhou carinhosamente para o menino, perguntando-lhe o que queria.— Vi as janelas de ouro lá do nosso morro — disse ele — e vim de propósito para as ver de perto, mas afinal são de vidro!A mulher meneou a cabeça e riu-se.

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— Somos fazendeiros pobres — disse —, não poderíamos ter janelas de ouro. E o vidro é muito melhor para se ver através dele!Convidou o menino a sentar-se no largo degrau de pedra e trouxe-lhe um copo de leite e uma fatia de bolo, dizendo-lhe que descansasse. Chamou então a filha, que era da idade do menino; dirigiu aos dois um aceno afectuoso de cabeça e voltou aos seus afazeres.A menina estava descalça como ele e usava um vestido de algodão castanho, mas os cabelos eram dourados como as janelas que ele tinha visto e os olhos eram azuis como o céu ao meio-dia. Passeou com ele pela fazenda e mostrou-lhe o seu be-zerro preto com uma estrela branca na testa; ele falou do bezerro que tinha em casa, castanho-avermelhado com as quatro patas brancas. Depois de terem comido uma maçã e se terem tornado amigos, ele fez-lhe perguntas sobre as janelas douradas. A menina confirmou, dizendo que sabia tudo sobre elas, mas que ele se tinha enga-nado na casa.— Vieste numa direcção completamente errada! — Exclamou ela. — Vem comigo, vou-te mostrar a casa de janelas douradas, para ficares a saber onde fica.Foram para um outeiro que se erguia atrás da casa, e, no caminho, a menina contou que as janelas de ouro só podiam ser vistas a uma certa hora, perto do pôr-do-sol.— Eu sei, é isso mesmo! — Confirmou o menino.No cimo do outeiro, a menina virou-se e apontou: lá longe, num morro distante, havia uma casa com janelas de ouro e diamantes, exactamente como ele tinha visto. Quando olhou, o menino verificou que era a sua própria casa!Apressou-se então a dizer à menina que precisava de se ir embora. Desceu o morro, enquanto a menina ficava a vê-lo afastar-se, na luz do sol poente.O caminho de volta era longo e já estava escuro quando chegou a casa dos pais. Mas o lampião e a lareira luziam através das janelas, tornando-as quase tão brilhantes como as vira do outeiro. Quando abriu a porta, a mãe veio beijá-lo e a irmãzinha correu a pendurar-se-lhe ao pescoço; sentado perto da lareira, o pai levantou os olhos e sorriu.— Tiveste um bom dia? — Perguntou a mãe.— Sim! — O menino passara um dia óptimo.— E aprendeste alguma coisa? — Perguntou o pai.— Sim! — Disse o menino. — Aprendi que a nossa casa tem janelas de ouro e de diamantes.

Adaptado de William J. Bennett, O Livro das Virtudes II

Acção de Graças, por Fritz von Uhde

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A família é uma comunidade que tem por base a vivência do amor e o estabelecimento de laços de comunhão entre as pessoas.

O amor autêntico é desinteressado, deseja o bem do outro e procura a sua realização plena. O amor cresce, se for devidamente cuidado e construído ao longo da vida, mas também pode desvanecer-se, caso seja descurado. Os fracassos, as divergências e o sofrimento que naturalmente surgem são mais facilmente ultrapassados se forem vividos em conjunto com a pessoa que se ama.

Os casais cristãos realizam este amor no sacramento do matrimónio. Através do casamento, o homem e a mulher formam uma família. Se-gundo o livro do Génesis, Deus criou o homem e a mulher iguais nos seus direitos e na sua dignidade, para que fossem um só. Por isso criou-os de forma a relacionarem-se harmoniosamente e a completarem-se um ao outro.

Unido pelo sacramento do matrimónio, o casal forma uma comunidade nova, onde vive em comunhão, no amor que os une. Os filhos partilham do amor e dos valores que os pais transmitem e a família transforma-se na primeira escola de vida.

Os pais amam os filhos de forma desinteressada e dedicam-se a cada um como se fosse único.

São Paulo exorta os filhos e os pais a assumirem atitudes de respeito uns para com os outros.

Na família, vive-se a experiência do acolhimento dos outros tal como eles são. Aprende-se a amá-los e a respeitá-los na sua diferença, uma vez que as diferenças nos enriquecem, mesmo quando é difícil lidar com elas. A compreensão das diferenças torna-nos mais tolerantes para com os outros e para connosco próprios.

Quando amamos, fazemos a experiência da bondade; dispomo-nos a perdoar e a pedir perdão quando alguma coisa não corre bem na relação com os outros. E nesses momentos vivemos a alegria da reconciliação.

Platão, um filósofo grego, chamou eros ao amor-paixão. Aristóteles, seu discípulo, chamou eunoia ao amor desinteressado e benevolente que nutrimos pelos outros. Ao amor-benevolência recíproco chamou-lhe amizade (filia).

Ágape é o termo cristão para designar o amor no estado mais puro e sublime, o amor que Deus tem pelo ser humano e que cada pessoa é chamada a ter pelos outros.

Para saberes mais

Texto bíblico

Pais e filhos

F ilhos, em nome da vossa fé no Senhor, obedeçam aos vossos pais, pois assim é que deve ser. 2O primeiro dos mandamentos que leva consigo

uma promessa é: «Respeita o teu pai e a tua mãe.» 3E a promessa é esta: «Assim serás feliz e gozarás duma longa vida sobre a terra.»

4Pais, não irritem os vossos filhos. Mas eduquem-nos com disciplina e equilíbrio, em nome do Senhor.

Ef 6, 1-4

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A família: lugar de comunhão

A experiência de comunhão e de participação que deve caracterizar a vida quotidiana da família é o seu primeiro e fundamental contributo à sociedade.De facto, as relações entre os membros da comunidade familiar são inspi-radas e guiadas pela lei da «gratuidade» a qual se torna acolhimento cordial, encontro, diálogo, disponibilidade desinteressada, serviço generoso, solidarie-dade profunda.A família constitui o lugar natural de humanização e de personalização da sociedade. Colabora na construção do mundo, tornando possível uma vida autenticamente humana, guardando e transmitindo sobretudo virtudes e valores.

Familiaris Consortio, Exortação Apostólica do Papa João Paulo II

Texto bíblico

Praticar o bem

Deixem-se de mentiras! Cada um diga a verdade ao seu semelhante, porque todos fazemos parte do mesmo corpo.

29Que nenhuma palavra imprópria saia da vossa boca. Pelo contrário, que as vossas palavras sejam úteis e edificantes, para fazerem bem àqueles que vos ouvem.

31Qualquer espécie de ressentimento, ira, irritação, indignação ou injúria deve desaparecer do meio de vocês, bem como toda a espécie de maldade.

32Sejam delicados e prestáveis e perdoem-se uns aos outros, como Deus vos perdoou, em Cristo.

Ef 4, 25.29.31-32

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Texto bíblico

Viver à luz do dia

S igam, portanto, o exemplo de Deus, uma vez que são seus filhos queridos. 2Vivam no amor de Deus, à semelhança de Cristo, que nos amou, oferecendo-

-se a si próprio por nós.3Como crentes em Deus, não consintam que a devassidão

ou qualquer espécie de imoralidade ou ganância sejam se-quer nomeadas no vosso meio. 4Também não vos fica bem dizerem palavras inconvenientes, insensatas ou grosseiras.

8Dantes, vocês eram escuridão, mas agora são luz em união com o Senhor. Comportem-se como pessoas que vivem à luz do dia. 9Pois os que vivem à luz do dia produzem frutos de bondade, justiça e verdade.

Ef 5, 1-4.8-9

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O livro dos provérbios sublinha a superior importância da relação com os outros e da harmonia familiar. Mais vale um lar pobre, mas fraterno, onde todos se respeitam e se amam, do que comer numa mesa abastada e viver numa casa rica onde não existe o respeito e o amor pelos outros.

Cícero, um autor do século I a.C., refere o valor das virtudes que os pais transmitem aos filhos e a importância de os jovens aprenderam com os mais velhos.

A glória da virtude

A mais bela herança que os pais transmitem aos filhos, a qual vale mais do que qualquer património, é a glória da sua virtude e das suas boas acções: desonrá-la deve ser considerado um sacrilégio e um defeito.É dever do adolescente respeitar os mais velhos e escolher os melhores e mais estimados de entre eles para se apoiar na sua sabedoria e autoridade. Com efeito, a ignorância do princípio da vida deve regular-se e guiar-se pela experiência das pessoas de idade.

Cícero, De Officiis, I, 33 e 34

Texto bíblico

Mais vale pão seco comido em paz do que ban-quete em casa cheia de contendas.

Pr 17,1

O romano Marco Túlio Cícero nasceu no ano 106 a. C. e faleceu no ano 43 a. C. Foi filósofo, advogado, político e escritor. Deixou diversos tratados filosóficos sobre o Estado, o bem, a velhice, a amizade e o dever, sendo a sua obra uma referência na cultura ocidental.

Para saberes mais

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A organização da vida diária da família implica inúmeras tarefas e responsabilidades. Preparar os alimentos, lavar a louça, cuidar da roupa, limpar a casa, arrumar os quartos, fazer compras, proceder a reparações, tratar das plantas ou do jardim, cuidar da manutenção do carro, tratar da contabilidade doméstica, alimentar as crianças, tratar dos doentes e dos idosos, acompanhar as crianças à escola, ajudar nas tarefas escolares, acompanhar os doentes nas idas ao médico, brincar com as crianças, tratar dos animais, levar as crianças à biblioteca, ao cinema ou ao teatro, etc. são exemplos de tarefas familiares que preenchem a vida.

A realização das tarefas domésticas é muito morosa e complexa e de-pende da cooperação e participação de todos os elementos do agregado familiar. Todos os membros da família têm um papel importante na realiza-ção destas obrigações e devem desempenhá-lo de acordo com as capaci-dades de cada um. A entreajuda facilita a vida de todos, tornando-a mais suave e agradável.

Tradicionalmente, os deveres domésticos eram atribuídos quase ex-clusivamente à mulher. Hoje, num tempo em que as mulheres tomaram consciência da sua dignidade e assumem, fora de casa, os mesmos papéis dos homens, as tarefas de casa têm de ser repartidas equitativamente pelos membros da comunidade familiar.

Também as crianças, os adolescentes e os jovens são chamados a partilhar alguns deveres com os pais, manifestando solidariedade para com eles. De acordo com as capacidades próprias da idade, cada um pode contribuir para a vida familiar realizando alguns trabalhos necessários. A assunção de pequenas responsabilidades é igualmente importante para o seu processo de crescimento.

tareFas Familiares

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A velhice é o apogeu da vida, que passa por diversas fases: a infância, a adolescência, a juventude, a idade adulta e a chamada terceira idade. Em cada momento da vida, o ser humano está em constante evolução, adquire e acumula experiências que o vão tornando cada vez mais rico em sabedoria. A aprendizagem é um processo permanente que começa no ventre da mãe e continua até ao fim da vida. Os idosos são os grandes portadores de sabedoria, cultura e valores. A transmissão deste património, que se comunica de geração em geração, verifica-se sobretudo através dos idosos.

O idoso tem, normalmente, mais tempo disponível e consequentemente maior oportunidade para reflectir sobre os acontecimentos da sua vida, obtendo, assim, um maior crescimento espiritual e afectivo. Cada vez mais aberto à espiritualidade, o idoso também desempenha um papel importante na transmissão dos afectos, através da atenção dada aos netos. A contribuição dos avós na formação dos netos e o contacto das crianças com pessoas idosas é determinante e enriquecedor. Este convívio é uma das formas mais relevantes de que os povos dispõem para perpetuar a sua história, tradição e cultura.

O lugar dOs mais VelHOs

O velho com bengala, por Paul Gauguin

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Contudo, a sociedade contemporânea ocidental parece ter esquecido o valor inestimável dos idosos. Em muitas famílias, fruto da pressa e da velocidade dos acontecimentos quotidianos, os mais velhos não recebem os cuidados de que precisam, porque as famílias parecem já não ter tempo para lhes dedicar a atenção necessária. São muitas vezes ignorados, tornando-se mesmo um estorvo para as famílias, que os colocam num lar, afastando-os do convívio familiar. Outros, ainda, vivem a solidão nas suas próprias casas. Esta realidade torna as famílias e as sociedades mais pobres e desumanizadas.

A Igreja Católica apela a uma maior atenção para com o idoso e à sua plena inclusão na vida da sociedade.

Mensagem do Papa João Paulo II«A vida do ser humano é um dom precioso que se deve amar e defender em todas as suas fases.»

2005-01-27

O Papa ataca duramente «uma certa mentalidade corrente, que considera quase inúteis estes nossos irmãos e irmãs (idosos), quando são limitados nas suas capacidades pelas dificuldades da idade ou pela doença».O Papa pede que os católicos de todo o mundo se dediquem a reflectir sobre este tema, «para aprofundar a consciência do papel que os idosos são chamados a desempenhar na sociedade e na Igreja, e dispor assim o coração para o acolhimento amoroso que lhes deve ser sempre reservado».«É preciso fazer crescer na opinião pública a consciência de que os anciãos constituem um recurso que deve ser valorizado. Por conseguinte, devem ser incrementados os apoios económicos e as iniciativas legislativas que lhes permitam não ser excluídos da vida social», assinala João Paulo II.

In http://www.paroquias.org (23/02/2009)

O idoso, nas culturas africanas, continua a ocupar um grande destaque na sociedade. Nestas culturas, ancião é sinónimo de experiência e de sabedoria, sendo por esse motivo muito respeitado.

Para saberes mais

Actualmente, existem em todo o país, a funcionar em regime de voluntariado, muitas Universidades da Terceira Idade. Constituem espaços de aprendizagem e de partilha que contribuem para a realização e inserção do idoso na sociedade.

Para saberes mais

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A Constituição da República Portuguesa defende o direito das pessoas idosas à segurança económica, a condições de habitação e ao convívio familiar e comunitário.

Velho

Parado e atento à raiva do silênciode um relógio partido e gasto pelo tempo,estava um velho sentado no banco de um jardima recordar fragmentos do passado.

Na telefonia tocava uma velha cançãoe um jovem cantor falava da solidão.«Que sabes tu do canto de estar só assimsó e abandonado como o velho do jardim?»

O olhar triste e cansado procurando alguéme a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém.Sabes eu acho que todos fogem de ti p’ra não vera imagem da solidão que irão viverquando forem como tu:um velho sentado num jardim.

Passam os dias e sentes que és um perdedor.Já não consegues saber o que tem ou não valor.O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fimp’ra dares lugar a outro no teu banco do jardim.

O olhar triste e cansado procurando alguéme a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém.Sabes eu acho que todos fogem de ti p’ra não vera imagem da solidão que irão viverquando forem como tu:um resto de tudo o que existiu;quando forem como tu:um velho sentado num jardim.

Mafalda Veiga, Pássaros do Sul (1987)

Artigo 72.º (Terceira Idade)

1. As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social.

2. A política de terceira idade engloba medidas de carácter económico, social e cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidades de realização pessoal, através de uma participação activa na vida da comunidade.

Constituição da República Portuguesa

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«O Futuro Perfeito»

A neta explora-me os dentes,Penteia-me como quem carda.Terra da sua experiência,Meu rosto diverte-a, pardaImagem dada à inocência.

Finjo que lhe como os dedos,Fura-me os olhos cansados,Íntima aos meus próprios medosDeixa-mos sossegados.

E tira, tira puxandoCoisa de mim, divertida.Assim me vai transformandoEm tempo de sua vida.

Vitorino Nemésio, O Verbo e a Morte

O professor e escritor Vitorino Nemésio nasceu na Ilha Terceira, na Praia da Vitória, em 1901, e faleceu em Lisboa, em 1978.

Para saberes mais

Vocabulário

Cardar: desemaranhar com a carda (pequena prancha de madeira com pontas metálicas).

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A institucionalização ocorre em organismos públicos e privados e em famílias de acolhimento, actualmente disponível para crianças e idosos.

Para saberes mais

QuandO a Família FalHa

Quando a família não cumpre o seu papel, a sociedade civil e o Estado intervêm para garantir o bem-estar, o respeito dos direitos e das condições de vida de todos os seus membros mais vulneráveis, sobretudo as crianças e os idosos.

Devido a dificuldades económicas graves, deficiente formação humana, toxicodependência, alcoolismo, ou simples egoísmo, há famílias que não cumprem os seus deveres de educação e socialização. Nestas situações, o Estado e outras entidades da sociedade desencadeiam diferentes formas de apoio para responder às necessidades das famílias, sendo a mais drástica a institucionalização das crianças ou a sua adopção por outras famílias.

A institucionalização de crianças e idosos verifica-se quando as famílias não apresentam condições mínimas que lhes garantam os seus direitos, pre-vistos na Constituição. É desejável que estas medidas sejam temporárias, porque, em princípio, o lugar que melhor responde à necessidade de cresci-mento das crianças é a sua família de origem. Mas há situações extremas em que o que é melhor para a criança é o seu afastamento definitivo dos adultos que constituíam a sua família de origem. O superior interesse da criança deve orientar a decisão sobre a permanência da criança no ambiente familiar, o seu afastamento temporário ou o seu afastamento definitivo, com vista à sua integração numa outra família.

A intervenção do Estado e da sociedade deverá centrar-se, sobretudo, na prevenção de dificuldades que possam impedir as famílias de desempenhar o seu papel. Esta mediação deve incidir, principalmente, na formação dos membros responsáveis das famílias e na promoção do valor da família na sociedade.

Existem várias associações de apoio à família que se ocupam da sua dignificação. A «Ajuda de Mãe», a «Associação Vida Universitária», a «A-ssociação Portuguesa de Famílias Numerosas» (APFN), o «Centro de Orien-tação Familiar» (CENOFA) são algumas das instituições que trabalham em prol das famílias, apoiando-as.

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Unidade Lectiva 4

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O PãO de cada dia

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Todos percebemos a importância que a alimentação tem no nosso dia--a-dia. Pela manhã sentimos necessidade de tomar uma boa refeição que nos reconforta e nos fornece a energia necessária para iniciarmos as nossas actividades. Ao longo do dia, quando as energias começam a faltar, é muito agradável interrompermos as nossas tarefas para tomarmos as várias refeições. Estas são tão importantes que lhes dedicamos muito tempo do nosso dia, tanto na sua preparação como na sua ingestão.

As refeições proporcionam-nos momentos de prazer e de convívio. O sabor dos alimentos, bem como a forma como são confeccionados transportam-nos para ambientes que nos são familiares, trazendo-nos à memória paladares, odores e imagens que fazem parte do nosso quotidiano. Todos temos alimentos e pratos favoritos, as sopas de que mais gostamos, o peixe, a carne ou os legumes cozinhados de determinada forma, sem esquecer as sobremesas favoritas.

O PãO de Cada dia…

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Contudo, os alimentos também nos transportam para experiências no-vas, quando partimos à descoberta de novos sabores que fazem parte de outras culturas. E somos muitas vezes surpreendidos por pratos novos, con-feccionados com alimentos que desconhecíamos e com sabores e odores diferentes. Uns passam a integrar os nossos hábitos, outros não, mas fazem parte das nossas experiências e dos nossos saberes. O conhecimento de um povo e da sua cultura passa também pela experiência da sua gastronomia.

Mas o aspecto humano central das refeições não se encontra tanto nos alimentos em si mesmos, mas na relação de fraternidade entre as pessoas que partilham as mesmas refeições. É nisto que o ser humano se distingue essencialmente dos outros animais. Enquanto estes reduzem tudo ao acto de se alimentarem, o ser humano transforma as refeições em actos de confraternização e de convívio social extremamente relevantes.

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Na fase de nomadismo, os seres humanos aprenderam a recolher da natureza os produtos necessários à sua sobrevivência e deslocavam-se constantemente em busca de alimentos. Estes eram consumidos crus e a dieta alimentar humana era essencialmente constituída por frutos, tubérculos, vegetais, alguns peixes e moluscos.

Com a sedentarização e o domínio do fogo, os seres humanos começaram a transformar os alimentos. A introdução dos víveres cozinhados na sua dieta alterou os hábitos alimentares, uma vez que proporcionou a introdução de novas iguarias. Em consequência destas alterações, as características fisionómicas e fisiológicas das pessoas modificaram-se.

A transformação dos alimentos é especificamente humana e significou a passagem de um nível mais primitivo e natural para um nível cultural. As diferentes comunidades humanas começaram a utilizar e a transformar os diferentes alimentos de forma particular, atribuindo-lhes características e valor simbólico próprios. A escolha, a confecção e a interdição de alimen-tos para o consumo humano integram e representam códigos próprios de cada cultura.

Os nossos hábitos alimentares são a expressão de um património cultur-al antigo, resultado da acumulação de saberes de diferentes culturas. Estes dependem também da situação geográfica e dos bens nela disponíveis. A gastronomia portuguesa tem características mediterrânicas, nomeadamente

a alimentaçãO na PersPeCtiva Cultural

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A alimentação mediterrânea assenta no consumo diário abundante em hortaliças, fruta e leguminosas, numa grande quantidade de alimentos fornecedores de amido e no azeite, como gordura alimentar. A primazia do peixe sobre a carne, a utilização de ervas aromáticas e a substituição do sal pelo alho também a caracterizam. Esta dieta alimentar é considerada, pela medicina, bastante saudável.

Para saberes mais

no que se refere aos alimentos utilizados e à forma de os confeccionar. Esta sofreu influências que remontam aos hábitos alimentares romanos, heléni-cos judaicos e árabes. Mais tarde, na época dos Descobrimentos, a gastro-nomia portuguesa acolheu a introdução de novos alimentos, condimentos e formas de os preparar, trazidos de África, da Índia e da América.

Helénico: Que se refere à Grécia antiga.

Vocabulário

DIETA MEDITERRÂNICA

Grupos de alimentos Exemplos de produtos alimentos

Trigo, milho, centeio, arroz…

Batata, cenoura, nabo…

Feijão, grão, ervilha, fava…

Maçã, pêra, laranja…

Castanhas, nozes, avelãs, amêndoas, couve, tomate, pimento, agrião, alface, espinafres…

Sardinha, carapau, bacalhau, pescada, atum…

Azeite como a gordura base alimentar

Salsa, coentros, hortelã, poejo, orégãos, cominhos…

Queijo, iogurte…

Aves, coelho, borrego, cabrito, vaca, porco…

Água em abundância e vinho tinto em quantidades moderadas

Cereais (pão, massa…)

Tubérculos

Leguminosas

Frutas frescas em abundância

Frutos secos e legumes em abundância

Peixe em maior quantidade do que carne

Gorduras

Ervas aromáticas variadas e usadas em permanência

Lacticínios em reduzida quantidade

Carne em pequenas quantidades

Bebidas

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A história da humanidade cruza-se com a história da alimentação. A necessidade de consumir bens alimentares para assegurar a sobrevivên-cia do ser humano e a constatação da existência de períodos cíclicos de fome levaram os seres humanos a expressar através de diversas formas de arte a sua admiração pela natureza, quando esta lhes era favorável, em períodos abastados, e a manifestar a sua angústia, em épocas marcadas pela fome.

a alimentaçãO na exPressãO artístiCa

Pieter Brueghel, o Velho, (c. de 1525-1569) foi um pintor flamengo cuja pintura é uma referência importante na arte quinhentista.

Pieter Brueghel, o Moço, (c. 1564-1638), filho de Brueghel, o Velho, continuou o estilo do pai até ao início da época barroca.

Para saberes mais

na PintUra

A pintura fornece-nos elementos relevantes para a compreensão do modo de vida de cada época e para o conhecimento dos contextos que se relacionam com o momento em que a obra foi produzida. O tema da alimentação inspirou vários pintores e, através das suas obras, podemos conhecer hábitos alimentares de diferentes épocas.

Na Idade Média, a Europa viveu períodos de fome e calamidade que marcaram profundamente as populações. O temor suscitado por estas experiências marcou a expressão artística da época, através da representação de banquetes em ambiente de festividade.

Os Brueghel, família flamenga composta por vários pintores, retrataram, nas suas telas, banquetes em ambiente campesino, onde a festa e o alimento em abundância estão presentes.

Pormenor de Banquete de um casamento, por Pieter Brueghel, o Velho

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Pequeno-almoço dos empregados após o casamento, por Pieter Brueghel, o Moço

A arte também tem exercido uma forte crítica social, expondo a intolerável miséria a que muitos estão sujeitos e o contraste com a abundância na qual vivem algumas minorias. Aos primeiros faltam os bens alimentares essenciais para a sua sobrevivência, aos segundos sobeja não só o essencial mas também o supérfluo.

As naturezas mortas são pinturas que representam objectos e elementos inanimados da natureza. A alimentação é um tema muito retratado neste género de pintura.

Para saberes mais

Natureza morta com alimentos, por

Severin Roesen

A fome irlandesa, por George Frederick Watts Reflexões de um homem faminto ou contrastes sociais, por Emilio Longoni

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na LiteratUra

Até há pouco tempo, a alimentação dos seres humanos dependia totalmente dos ciclos da natureza, dos períodos de abundância e de seca, das inundações e catástrofes que colocavam em perigo as suas colheitas. Com medo da escassez de alimentos e da fome, os povos davam muita importância ao facto de os seus governantes se preocuparem com este aspecto da sua economia. Este facto é testemunhado num poema do século IX, referente à governação de Carlos Magno.

Eis o grande imperador

Da boa seara, bom semeador

E sábio agricultor.

Autor desconhecido, in Prudens agricola

Iluminura de um manuscrito francês

A Bíblia refere vários milagres relacionados com a multiplicação ou o aparecimento milagroso de alimentos. No Antigo Testamento, Deus alimentou o povo, no deserto, enviando o maná e codornizes. No Novo Testamento, Jesus transformou a água em vinho nas bodas de Caná, multiplicou pães e peixes para alimentar uma multidão e encheu as redes de pesca aos pescadores num dia em que nada traziam da faina.

Na Idade Média, encontramos milagres semelhantes nas lendas biográ-ficas de quase todos os santos. O aparecimento milagroso de alimentos, em períodos de fome, surge ligado à sua acção solidária para com as víti-mas da carestia. Eram, assim, identificados com a acção fraterna de Jesus. A Rainha Santa Isabel ficou conhecida pela sua bondade para com os mais necessitados, a quem distribuía alimentos.

Ex 16, 11-13Jo 2, 1-12Mt 14, 13-21Mc 6, 30-44Jo 6, 1-15Lc 9, 10-17Lc 5, 1-11Jo 21, 3-14

Procura na Bíblia

Rainha Santa Isabel

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Lenda das Rosas

Ele chamava-se Dinis, era rei e poeta. Ela chama--se Isabel, era rainha e carinhosa. Ele estava preocupado com as guerras e ela estava preocu-pada com os pobres. Um dia Isabel saía do cas-telo com moedas e pães para matar a fome aos mais pobres, quando o rei lhe saiu ao caminho e perguntou.— Senhora, que levais aí guardado em vosso manto?Assustados pela presença do rei, os pobres que se tinham espalhado pelos jardins correram a esconder-se e temeram a fúria do rei.Com boas palavras, a rainha afastou as descon-fianças do rei. Os pobres voltaram a procurar a ajuda da carinhosa Isabel. Mas nas lendas e nos contos também há malvados… E aqui foi um fi-dalgo intriguista que foi dizer ao rei que a rainha desperdiçava o dinheiro da coroa dando grandes esmolas aos vadios e ladrões.E o rei acreditou nas palavras daquele homem maldoso. Saiu de novo ao caminho de Isabel e fez-lhe a mesma pergunta:— Senhora, que levais guardado no vosso manto?Certa de que Deus não iria desampará-la, Isabel ergueu a cabeça e olhou para o céu antes de dar a resposta:— São rosas, senhor, são rosas.Abriu o manto e, perante o seu próprio pasmo, viu que pão e moedas se tinham transformado em lindas e frescas rosas.Isto diz a história da Rainha Santa Isabel de Portugal.

Natércia Rocha, Contos e lendas de Portugal

Santa Isabel, rainha de Portugal, nasceu em 1270 e faleceu em 1336. Era filha de Pedro III de Aragão e de Dona Constância da Sicília. Foi dada com doze anos em matrimónio ao rei D. Dinis de Portugal, que lhe deu total liberdade para praticar as suas devoções. A rainha, pelo seu exemplo de vida, conseguiu influenciar o seu marido. Diz-se que, ainda criança, já os pobres lhe chamavam mãe. A festividade em sua honra celebra-se a 4 de Julho e o seu túmulo encontra-se na igreja de Santa Clara, em Coimbra.

Para saberes mais

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Ainda na Idade Média, as cantigas de escárnio e maldizer invadiam as vidas privadas e apresentavam jocosas críticas à sociedade medieval. O retrato que estas cantigas traçam do quotidiano permite-nos conhecer as características da alimentação na Idade Média. Criticam as desigual-dades das diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bens alimentares. Os pobres morriam de fome, mas a nobreza realizava faus-tosos banquetes para ostentar a sua riqueza. A miséria atormentava uma grande parte da população. Os sonhos da maior parte das pessoas da época resumiam-se ao desejo de saciar a sua fome. A alimentação é, por este motivo, um dos temas centrais destas cantigas.

Em Gil Vicente, encontramos várias referências aos hábitos alimentares portugueses. Na Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela (1527), Gil Vicente caracteriza os bens alimentares locais.

Cantigas de escárnio e maldizer são poesias satíricas, ou seja, textos poéticos que ridicularizam os vícios das pessoas.

Para saberes mais

Jocosa: Alegre; divertida.

Moir’eu aquí de grand’afáne dizen ca moiro d’amor;e havería gran saborde comer, se tevesse pan.

E quantos m’est’a mí dit’hanque non posso comer d’amor,dé-lhis Deus tan gran saborcom’end’eu hei; e veeránque ha gran coita de comerquen dinheiros non pod’haverde que o compr’, e non lho dan.

Pero Gomes Barroso, Cantiga de escárnio (excerto)

Morro eu aqui de grande necessidadee dizem que morro de amor;dar-me-ia grande prazer comer,se tivesse pão.

E a quantos me têm dito que morro de amor,porque não me posso alimentar de amor,dê-lhes Deus tão grande prazercomo eu retiro daquilo que me dizem;e hão-de ver que tem enorme desgraça no comerquem dinheiro não pode terpara o comprar, uma vez que não lho dão.

(Adaptação)

Gil Vicente é um escritor português que nasceu em 1465 e faleceu em 1536. É considerado o primeiro grande dramaturgo, o pai do teatro português. Os Autos de Gil Vicente são obras literárias que criticam comportamentos da sociedade do seu tempo, através da sátira social, expondo os vícios das classes sociais.

Para saberes mais

Vocabulário

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Que tal leite como o meuNão no há em Portugal;Que tenho tanto e tal,E tão fino Deus mo deu,Que é manteiga e não al […]Mandará a vila de SeiaQuinhentos queijos recentes,Todos feitos à candeia,E mais trezentas bezerras,E mil ovelhas meirinhas,E duzentas cordeirinhas,Tais, que em nenhumas serrasNão nas achem tão gordinhas.E Gouveia mandaráDois mil sacos de castanha,Tão grossa, tão sã, tamanhaQue se maravilharáOnde tal coisa s’apanha.E Manteigas lhe daráLeite para catorze anos.

Gil Vicente, Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela

Al: Outra coisa.

Meirinhas: Diz-se do gado que vai no Verão pastar nas serras.

Tragicomédia: Combina elementos trágicos e cómicos numa peça de teatro ou num filme.

Vocabulário

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Os coelhinhos

Iam dois coelhinhosandando apressadospara o Céu — com medode serem caçados.

E também com medode passarem fome.Pois — quando não dorme —o coelhinho come.

E ainda tinha os filhosque a coelha esperava…O Céu era longee a fome era brava.

Jesus riu, com pena:fez brotar da Lua— para eles — florestasde cenoura crua.

Odylo Costa Filho (Brasil), in Primeiro Livro de Poesia

A gula

Comemos vegetais e animais.Bebemos vinho.Respiramos fundo.Somos normais. Apenasdevoramos o mundo.

José Carlos Ary dos Santos, Insofrimento in Sofrimento

A sabedoria popular, que figura nos provérbios, revela-nos o conhecimento do povo sobre a importância da alimentação. Este tema é um dos mais ricos e presentes neste género literário, oferecendo-nos abundantes imagens com valor moral e expressões que contêm ensinamentos e regras sociais.

Provérbios

– Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

– Ter mais olhos que barriga.

– Quem não trabuca não manduca.

– De fartas ceias estão as sepulturas cheias.

– Guarda que comer, não guardes que fazer.

– Pela boca morre o peixe.

– Não há fome que não dê em fartura.

– Grão a grão enche a galinha o papo.

– Deus dá nozes a quem não tem dentes para as comer.

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Na música e na dança, a alimentação também tem um lugar central. Nas festas populares e nos arraiais, onde se festeja algum santo ou o sucesso das colheitas, da pesca e da caça, muitas são as obras musicais populares que as animam. Estes textos populares e tradicionais têm um valor patrimonial muito grande.

na Música e na dança

Milho verde

Milho verde, milho verde,Ai milho verde, milho verde,Ai milho verde, maçaroca.À sombra do milho verde,Ai à sombra do milho verde,Ai namorei uma cachopa.

Milho verde, milho verde,Ai milho verde, milho verde,Ai milho verde, miudinho.À sombra do milho verde,Ai à sombra do milho verde,Ai namorei um rapazinho.

Mondadeiras do meu milho,Ai mondadeiras do meu milho,Ai mondai o meu milho bem.Não olheis para o caminho,Ai não olheis para o caminho,Pois a merenda já lá vem.

O milho da nossa terra,Ai, o milho da nossa terra,É tratado com carinho.É a riqueza do povo,Ai, é a riqueza do povo,É o pão dos pobrezinhos.

Cancioneiro Tradicional

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Na cultura hebraica, os alimentos são uma dádiva de Deus colocada à disposição dos seres vivos, integrando os elementos necessários à sua sobrevivência. Mas, para os autores bíblicos do Antigo Testamento, nem todos os alimentos devem ser consumidos pelas pessoas: alguns são próprios para o consumo humano; outros, são impróprios.

O consumo dos alimentos é regulado por normas de carácter religioso. Estas normas orientam os rituais de confecção dos alimentos e prescrevem aqueles que são permitidos, bem como os que são interditos ao consumo humano.

Os fariseus do tempo de Jesus respeitavam um conjunto de regras que orientavam as refeições e tinham por objectivo a defesa do seu sentido espiritual. As questões ligadas à comida ocupavam grande parte dos normativos legais. Por outro lado, os essénios seguiam um verdadeiro ritual durante as refeições.

Jesus entra muitas vezes em conflito com os fariseus pelo facto de eles darem muita importância a estes rituais de purificação e esquecerem o essencial, ou seja, que no centro da atenção de Deus está o bem de todas as pessoas. Deus criou os alimentos para que todos tenham acesso aos mesmos.

a alimentaçãO na Cultura BíBliCa

Gn 1, 28-30Dn 1, 11-17Lv 3, 14-17Lv 11, 2-43

Procura na Bíblia

Festa na casa de Simão, por Ippolito Scarcella

Fariseus questionam Jesus, por James Tissot

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De acordo com a Bíblia, os bens alimentares e as refeições assumem um importante destaque na vida do povo e na sua relação com Deus. A abundância de alimento é sinal da bênção divina. A terra prometida por Deus ao seu povo surge, no livro do Génesis, como um local paradisíaco e abundante em alimentos («onde corre o leite e o mel»). Nos momentos de sofrimento, o povo vive na esperança da realização da promessa, segundo a qual virá um tempo de conforto, de paz e de abundância de víveres.

A primeira ordem que Deus deu a Adão e Eva, no relato bíblico do Jardim do Éden, refere-se à alimentação. Deus ofereceu ao ser humano todos os alimentos de que necessitava para a sua sobrevivência, mas proibiu-o de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Embora a Bíblia não o refira, a tradição posterior associa-a a uma macieira. A maçã passou a simbolizar o fruto proibido. A desobediência de Adão e Eva levou-os à expulsão do paraíso, abandonando o seu estado inicial de inocência e de bondade, introduzindo, assim, o pecado no coração da humanidade.

A partir do século XI, a maçã passou também a aparecer relacionada com as representações do menino Jesus e de Maria, manifestando a convicção de que Jesus veio trazer o perdão do pecado.

siMbOLOgia JUdaicO-cristã

a Maçã

Nossa Senhora e o Menino, por Carlo Crivelli Nossa Senhora e o Menino, por Piero di Giovanni

Gn 2, 16-17

Procura na Bíblia

Na mitologia escandinava, a maçã também é símbolo de frescura e de rejuvenescimento. Acredita-se que quem come maçãs tem uma vida muito longa. Por outro lado, a ciência atribui à maçã propriedades antioxidantes, integrando-a numa dieta alimentar equilibrada.

Para saberes mais

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O azeite é um dos principais produtos da terra prometida e é sinal de bênção divina. Simboliza a alegria, a fraternidade, a riqueza e a abundância. O azeite servia para curar feridas, para temperar os alimentos e para iluminar. No Antigo Testamento, os reis, os profetas e os sacerdotes de Israel eram ungidos com azeite, para significar a bênção de Deus para o exercício de uma missão importante.

Nas celebrações cristãs, o azeite está presente nos sacramentos do baptismo, na confirmação ou crisma, no sacramento da ordem (sacerdotes) e no sacramento da unção dos enfermos. No Novo Testamento, o rito da unção exprime a presença do Espírito Santo, com vista a uma missão. Jesus Cristo, o Messias, é o ungido, o escolhido de Deus.

A oliveira, árvore que produz a azeitona, a partir da qual é produzido o azeite, simboliza a paz e a reconciliação nas tradições judaica e cristã.

O azeite

Estátua de Palas Atena, Viena de Áustria

A oliveira, na Grécia antiga, era consagrada a Atena, a deusa da sabedoria, das artes e da guerra.

A palavra hebraica «Messias», traduzida em grego pela palavra «Cristo», significa «ungido».

Para saberes mais

Para saberes mais

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Porque o ser humano é um mamífero, o leite é o primeiro alimento que toma e, no início da vida, depende dele para viver e crescer.

Na Bíblia, Canaã, a terra prometida por Deus ao seu povo, é referida como uma «terra onde corre leite e mel», ou seja, uma terra fértil, onde há abundância de bens essenciais à sobrevivência e à prosperidade do povo.

Dt 6,3

Procura na Bíblia

O Leite e O MeL

Nossa Senhora e o Menino, por Gerard David

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Juntamente com a uva e a azeitona, o figo era um dos principais alimentos do povo bíblico.

No livro do Génesis, Adão e Eva, depois de comerem o fruto da árvore proibida, perceberam que estavam nus e cobriram-se com folhas de figueira.

A figueira estéril serviu de base a uma parábola contada por Jesus, representando o povo ou as pessoas que não dão frutos de bondade e de fraternidade. Tal como a figueira estéril, estão votados ao fracasso!

O pão (léhem) é o símbolo do alimento essencial. No Antigo Testamento, o pão ázimo (sem fermento) representava as privações do povo hebreu escravizado no Egipto. O maná é o pão caído do céu para alimentar o povo hebreu durante a travessia do deserto do Sinai. Representa a compaixão de Deus para com o seu povo.

a FigUeira

Gn 3, 7Lc 13, 6-9Mt 21, 18-22

Procura na Bíblia

As árvores de fruto encontram-se representadas nas simbologias de diferentes culturas. A figueira, a oliveira e a videira simbolizam a abundância.

O império romano também associou a figueira à sua mitologia. Nos mitos da fundação de Roma, o nascimento dos gémeos Rómulo e Remo ocorre debaixo de uma figueira.

Para saberes mais

Escultura em relevo da Tentação de Eva

O PãO

A história da dádiva do Maná ao povo de Israel, quando da travessia do deserto a caminho da terra prometida, encontra-se em Ex 16.Não se sabendo ao certo o que será, o Maná é uma substância granulosa, provavelmente produzida pela secreção do tamarisco (fruto da tamargueira). De acordo com o texto bíblico, parecia-se com semente de coentro, era branco e sabia a bolo de mel.Quando os hebreus viram o acampamento coberto com esta substância ficaram espantados e perguntaram «Que é isto?» (em hebraico Man hú). O nome maná provém, pois, da pergunta feita pelos israelitas, apesar de o texto bíblico lhe chamar «alimento» ou «pão». O maná simboliza, portanto, o pão caído do céu para alimentar o povo.No Novo Testamento, Jesus, o alimento dos que nele acreditam, é identificado com o novo maná, o Pão de Deus descido do céu.

Para saberes mais

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Nos evangelhos, Jesus, o novo maná, o pão da vida descido do céu, alimenta uma grande multidão de pessoas, depois de multiplicar alguns pães e alguns peixes. A abundância de alimento é símbolo da presença benevolente de Deus.

Um dia, os discípulos de Jesus pediram-lhe que os ensinasse a rezar. Jesus ensinou-lhes a oração do Pai-Nosso. No início da segunda parte, esta oração faz referência ao pão quotidiano, símbolo do alimento diário necessário à sobrevivência de cada pessoa: «Dá-nos cada dia o pão de que precisamos…» (Lc 11, 3).

Os Israelistas apanham o maná, por Master of the Holy Blood

Ex 12, 15-20Jo 6, 22-58Mt 26, 26Mc 14, 22Jo 6, 26-35

Procura na Bíblia

Alimentando cinco mil pessoas, por Ambrosius Francken, o Velho

Mosaico alusivo à multiplicação dos pães e dos peixes

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O vinhO

O vinho é frequentemente associado ao sangue. Na tradição bíblica, simboliza a alegria. No Evangelho de São João, é um dos elementos principais, a par com o pão, da celebração eucarística.

A videira era considerada uma árvore sagrada pelos povos do Médio Oriente. O povo hebreu é influenciado pela cultura dos povos que o rodeiam e adapta os seus símbolos.

Na simbologia bíblica, a videira, tal como a oliveira, é uma árvore messiânica e a vinha, tal como o vinho, representam a vinda do reino de Deus.

Sl 104Jo 2Mc 12, 24Jz 9, 13Dt 32, 13-14Mt 20, 1ss

Procura na Bíblia

Na arte funerária da Antiguidade surgem motivos que representam a vinha e a vindima, os quais estão relacionados com a imortalidade.

Para saberes mais

Festa do casamento em Caná, por Bartolome Murillo

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A Última Ceia foi a última refeição que Jesus tomou com os seus Após-tolos, na noite em que foi traído e preso no Jardim das Oliveiras.

Nesta refeição, Jesus atribuiu um novo significado ao pão e ao vinho. De acordo com a narração dos factos em Mc 14, 22ss, tomou o pão, deu graças a Deus, partiu-o e distribuiu-o pelos seus discípulos, dizendo: «Tomem. Isto é o meu corpo.» Depois, pegou no cálice do vinho, deu graças a Deus, passou-o aos discípulos e todos beberam dele. E disse-lhes: «Isto é o meu sangue, o sangue da aliança de Deus, derramado em favor da humanidade». Desta forma, Jesus anunciou que ele próprio se encontrava presente no pão e no vinho, sempre que este gesto fosse repetido em seu nome. Assim, o pão e o vinho, simples bens alimentares, passaram a assumir um novo significado: a presença de Jesus no meio dos que o amam. A sua morte não significou, por isso, o abandono e a solidão dos seus amigos, mas uma nova forma de presença: no Espírito, Jesus é companhia amiga para todos os que nele confiam.

Jesus doou a sua vida pelo bem da humanidade, em cada acto, em cada palavra, em cada gesto realizado, até ao limite da morte. Essa atitude de dádiva fraterna pelas pessoas é repetida cada vez que se celebra a Eucaristia. Jesus torna-se o alimento daqueles que nele acreditam.

Última Ceia, por Pomponio Amalteo

Mt 26, 26-29Lc 22, 14-20Jo 6, 51-59

Procura na Bíblia

a Última Ceia

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O corpo humano necessita de uma alimentação equilibrada, que ofereça todos os nutrientes de que precisa para se desenvolver com harmonia, tanto física como psicologicamente.

Os alimentos desempenham várias funções no nosso organismo. Fornecem-nos a energia necessária para realizar todas as actividades, como brincar, pensar, andar, trabalhar, respirar, manter o coração a bater, o sangue a circular… São também fundamentais para o crescimento e reparação dos tecidos, para a prevenção de doenças, etc.

Todos os nutrientes necessários a um desenvolvimento biológico saudável se encontram disponíveis na natureza em diferentes alimentos: nos vegetais, na fruta, nas leguminosas, nos lacticínios, no peixe e na carne, nas gorduras vegetais, etc. Por isso, é necessário promover uma alimentação equilibrada; de outro modo, as consequências poderão ser muito negativas: maior vulnerabilidade a diversas patologias, obesidade, doenças cardiovasculares, entre outras.

alimentaçãO equiliBrada

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Existem em todo o mundo problemas alimentares graves. Milhares de pessoas passam fome ou estão subnutridas. As carências alimentares são a causa de morte de milhares de pessoas.

Paradoxalmente, enquanto muitos morrem de fome, outros adoecem ou morrem devido a uma alimentação desequilibrada, provocada pela in-gestão excessiva de determinados nutrientes. A obesidade é um problema de saúde gravíssimo nas sociedades mais desenvolvidas.

Paradoxo: Contradição.

Vocabulário

A Roda dos Alimentos é uma representação gráfica, criada pelos portugueses na década de 70, que nos ajuda a melhor escolher e combinar os alimentos que deverão fazer parte da alimentação diária.Tem a forma de um círculo dividido em segmentos de diferentes tamanhos que representam os sete grupos de alimentos. A dimensão de cada segmento indica a proporção de peso com que cada um deles deve estar presente na alimentação diária.A Roda dos Alimentos ensina-nos como manter uma alimentação saudável, ou seja, completa, equilibrada e variada.

Para saberes mais

Roda dos alimentos

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O direito à alimentação é um direito inalienável de todos os seres humanos que deriva do direito à vida. A sobrevivência e a saúde depen-dem do acesso a uma alimentação equilibrada; esta não pode, pois, estar vedada a ninguém. A restrição do acesso à alimentação, a pobreza e a subnutrição são uma calamidade sem qualquer justificação, uma vez que há recursos alimentares suficientes para responder às necessidades de todas as pessoas.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo 25.º, reconhece o direito de todos a um nível de vida que assegure o acesso aos bens alimentares essenciais.

um direitO de tOdOs

Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente que lhe assegure e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda aos serviços sociais necessários.

Excerto do artigo 25.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos

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A fome é um dos maiores flagelos da humanidade. Tem sido uma das grandes causas de morte de milhões de seres humanos em todos os tem-pos e sociedades. Muitas pessoas em todo o mundo passam fome ou es-tão subnutridas, apresentando carências alimentares graves.

Causas da FOme

Repartição da população subnutrida

A FAO estima que, em 2000-2002, 852 milhões de pessoas estavam subnutridas no mundo inteiro, das quais 815 milhões nos países em desenvolvimento, 28 milhões nos países em transição e 9 milhões nos países industrializados.

O número de pessoas subnutridas nos países em desenvolvimento diminuiu apenas 9 milhões durante os 10 anos que se seguiram ao período da Cimeira Mundial da Alimentação (1990-1992). Durante a segunda parte desta década, o número de pessoas que sofrem de desnutrição crónica nos países em desenvolvimento aumentou quase 4 milhões por ano, anulando os dois terços da redução de 27 milhões alcançados durante os primeiros cinco anos.

In http://www.fao.org/ (03/04/2009)

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A fome tem causas naturais e causas que dependem da responsabilidade humana.

A escassez de alimentos surge ou aumenta sempre que há conflitos e guerras. De facto, a destruição causada pelos conflitos armados limita ou impossibilita a produção de alimentos necessários.

Porque é imprescindível para a sobrevivência do ser humano, o acesso a bens alimentares tem sido utilizado como instrumento de hostilidade e de pressão sobre as comunidades. São frequentes os cercos às grandes cidades e às populações para forçar a sua rendição. Em muitas situações de conflito, o impedimento de acesso ao alimento, incluindo a proibição de corredores humanitários, cuja função é fazer chegar mantimentos à população, pode ser uma arma cruel, que é usada para fragilizar as populações. Este comportamento, ainda que ocorra em situação de guerra, é criminoso. Existem organizações que defendem as populações destes abusos — a FAO, a Cruz Vermelha Internacional, a Caritas e outras ONG (Organizações Não Governamentais).

Os corredores humanitários são espaços de passagem protegida, em contexto de guerra e de catástrofes, que garantem o acesso das populações afectadas a mantimentos, medicamentos e outros bens essenciais à sobrevivência humana.

Para saberes mais

Número de pessoas subnutridas no mundo, 2000-2002 (em milhões)

Países industrializados 9

28

39

53

156

142

204

221

Países em transição

Norte de África

América Latina e Caraíbas

Ásia e Pacífico*

China

África subsariana

Índia

* China e Índia excluídas. Fonte: FAO

Países ou Regiões N.º de pessoas

Pormenor da Coluna de Trajano, Roma

Fuga de milhares de pessoas de Basra, Iraque

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O cerco de Lisboa e a fome

Na cidade [de Lisboa], não havia trigo para vender e, se o havia, era muito pouco e tão caro que as pobres gentes não podiam chegar a ele, porque o alqueire valia quatro libras e o alqueire do milho quarenta soldos. E padeciam muitíssimo porque havia alturas em que, embora estivessem dispostos a pagar muito por um pão, não o achariam a vender.

E começaram a comer pão de bagaço de azeitona e dos queijos das malvas e raízes de ervas e de outras coisas pouco habituais. No lugar onde costumavam vender o trigo, andavam homens e moços esgaravatando a terra, e se achavam alguns grãos de trigo, metiam-nos na boca, não tendo outro mantimento; outros alimentavam-se de ervas e bebiam tanta água, que homens e cachopos morriam, jazendo inchados nas praças e em outros lugares.

Andavam os moços de três e quatro anos pedindo pão pela cidade por amor de Deus, como lhes ensinavam suas mães, e muitos não tinham outra coisa que lhes dar senão lágrimas que com eles choravam, que era triste coisa de ver; e se lhes davam pão do tamanho de uma noz, achavam que era um grande bem.

Desfalecia o leite àquelas que tinham crianças a seus peitos, por míngua de manti-mento, e vendo lamentarem-se os seus filhos, que não podiam socorrer, choravam muitas vezes sobre eles a morte antes que a morte os privasse da vida. Muitos observavam as preces alheias com olhos chorosos, por cumprir o que a piedade manda, e não tendo de que lhes acorrer, caíam em dobrada tristeza.

Fernão Lopes, Crónica de D. João I (texto adaptado)

Acorrer: Socorrer, acudir.

Alqueire: Antiga unidade de medida de capacidade para secos e líquidos.

Libra: Antiga moeda portuguesa.

Míngua: Falta.

Padecer: Sofrer.

Soldo: Antiga moeda portuguesa.

Vocabulário

A táctica militar que pretende obrigar à rendição através da fome e da sede é muito antiga. O texto que se segue dá testemunho do sofrimento da população de Lisboa quando Castela, no reinado de D. João I, cercou a cidade.

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Em muitas circunstâncias, a fome é provocada por catástrofes naturais: períodos de seca, inundações, terramotos…

A desflorestação e a desertificação, provocadas pela acção humana, também afectam uma considerável percentagem da população mundial.

O ser humano é a única espécie que, através do seu comportamento, pode alterar significativamente o funcionamento do planeta. As catástro-fes naturais são, muitas vezes, consequência da exploração excessiva que o ser humano faz dos recursos naturais, colocando em perigo o equilíbrio da natureza. Estes comportamentos são efeitos da ambição desmedida, do desejo egoísta de alcançar riqueza e poder, seja individual seja colec-tivamente (por exemplo, as nações que não respeitam os acordos de de-fesa do meio ambiente).

No dia 17 de Junho de 1994, foi aprovada, em Paris, a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. Este documento prevê acordo entre os vários países do mundo para se combater o avanço da desertificação dos solos.Na Convenção, entende-se por «desertificação» a degradação da terra resultante de vários factores, incluindo as variações climáticas e as actividades humanas.A «degradação da terra» consiste na redução ou perda das zonas verdes, das terras agrícolas irrigadas, das pastagens naturais, das florestas, das matas… Tal realidade deve-se a vários factores, entre os quais:i) A erosão do solo causada pelo vento ou pela água;ii) A destruição da vegetação por períodos prolongados.

Cf. ONU, Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação

Para saberes mais

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Os problemas ecológicos surgem, muitas vezes, por causa dos interesses económicos das nações que vêem na exploração desmedida dos recursos naturais uma oportunidade de enriquecimento. Contudo, apesar dos problemas ambientais, o planeta Terra produz alimentos suficientes para responder às necessidades de todos os seres humanos.

A especulação dos preços dos alimentos e as prioridades económicas estabelecidas por diferentes países têm levado milhões de pessoas a sofrer de desnutrição e a morrer de fome. A produção não é controlada a partir das necessidades das pessoas, mas da especulação financeira dos preços a atribuir aos bens. As populações mais pobres são as mais afectadas, devido ao aumento exagerado dos preços, que é causado pela redução de cereais disponíveis. Como consequência, observa-se uma enorme dificuldade em garantir os recursos necessários à sobrevivência das populações.

A pobreza gerada pela dificuldade de acesso ao trabalho, pela situação de precariedade laboral e pela baixa remuneração do trabalho exercido, contribui para o aumento da vulnerabilidade económica das famílias, com consequências no equilíbrio alimentar dos seus membros.

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Em 1498, ano em que Vasco da Gama chegou à Índia, uma parte significativa das populações rurais deslocava-se para os grandes centros urbanos, com o objectivo de conseguir trabalho nas grandes cidades, como era o caso de Lisboa. Contudo, a grande afluência de população aos centros urbanos e o número insuficiente de empregos para todos desencadeou o aumento da miséria e da fome. Muitas pessoas procuravam abrigo nas ruas, vivendo na indigência e na promiscuidade. Por outro lado, os naufrágios e as batalhas faziam aumentar o número de viúvas e de órfãos. Como consequência, a criminalidade crescia, bem como o número de encarcerados nas prisões, que viviam em condições profundamente desumanas.

Foi neste contexto que, por intervenção da rainha D. Leonor, surgiu a primeira Misericórdia portuguesa. O rei D. Manuel I apoiou incondicio-nalmente a rainha.

A nova confraria emergiu quase ao fim de um século de navegações marítimas, sob a invocação de Nossa Senhora da Misericórdia, e teve como primeira sede a Catedral de Lisboa. Esta confraria orientava-se pelos princípios da fraternidade cristã, estabelecidos no seu estatuto. O compromisso que cada membro da confraria tinha de assumir fundava-se nos valores cristãos da misericórdia, da caridade (amor) e da justiça.

OBras de PrOmOçãO Humana

A rainha D. Leonor era mulher do rei D. João II.No momento em que esta fundou a primeira Misericórdia, já D. João II tinha morrido. Entretanto, reinava D. Manuel I.

Para saberes mais

Sé de Lisboa

D. Leonor, por autor anónimo de Escola Portuguesa

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169

Os princípios da irmandade assentavam num texto do Evangelho de Mateus, onde são relatadas as atitudes básicas que cada pessoa deve ter para com os mais necessitados (Mt 25, 31ss).

A Misericórdia actuava junto dos presos, dos pobres, dos desvalidos, das viúvas, dos órfãos e dos doentes, apoiando as pessoas que caíam na miséria e combatendo a pobreza escondida. Os seus membros também desenvolviam uma forte actuação a nível religioso, estando presentes nas celebrações de missas, nas procissões e nas cerimónias dos enterros, onde procuravam garantir uma sepultura digna a todos os mortos. Os presos e condenados recebiam apoio moral da Irmandade da Misericórdia, que os acompanhava quando eram condenados à pena de morte.

Exigia-se que toda a actuação dos irmãos estivesse em consonância com o anúncio do Evangelho, identificando-se cada um com Jesus Cristo. Testemunhavam a fé cristã com palavras, mas, principal-mente, com obras concretas. As Misericór-dias Portuguesas assentam no princípio de que todas as pessoas são filhas do mesmo Deus, devendo, por isso, estabelecer entre si laços de fraternidade.

Esta instituição, com mais de quinhen-tos anos de actividade, continua a trabalhar actualmente em Portugal, garantindo a as-sistência aos mais pobres e necessitados. Compromisso da Misericórdia

de Lisboa

Pórtico da Antiga Igreja da Misericórdia

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Texto bíblico

Juízo final e obras de promoção humana

D isse Jesus: «Quando o Filho do Homem vier na sua glória, com todos os seus anjos, estará sentado no seu trono majestoso 32e todos os povos da Terra se

juntarão diante dele. Então ele há-de separá-los uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas das cabras. 33Porá as ovelhas à sua direita e as cabras à sua esquerda.

34E dirá aos que estiverem à sua direita: “Venham, abençoados de meu Pai! Venham receber por herança o Reino que está preparado para vocês desde a criação do mundo. 35Porque tive fome e vocês deram-me de comer, tive sede e deram-me de beber, era um estranho e hospedaram-me, 36andava nu e deram-me que vestir, estive doente e visitaram-me, estive na cadeia e foram lá ver-me.”

37Então os justos hão-de responder: “Senhor, quando é que nós te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? 38Quando é que nós te vimos como um estranho e te hospedámos, ou nu e te demos que vestir? 39Quando é que nós te vimos doente ou na cadeia e te fomos visitar?” 40E o rei lhes responderá: “Saibam que todas as vezes que fizeram isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizeram.”

41Depois dirá aos que estiverem à sua esquerda: “Afastem-se de mim, malditos! Vão para o castigo eterno que foi preparado para o Diabo e seus anjos! 42Porque tive fome e vocês não me deram de comer, tive sede e não me deram de beber, 43era peregrino e não me deram hospitalidade, andava nu e não me deram que vestir, estive doente e na cadeia e não me visitaram.”

44Estes hão-de perguntar também: “Senhor, quando foi que nós te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na cadeia e não cuidámos de ti?” 45O rei então lhes há-de responder: “Saibam também que todas as vezes que deixaram de fazer isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o deixaram de fazer.”»

Mt 25, 31-45

31

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Juízo final e obras de promoção humana

(De um lado, temos Jesus e os discípulos;do outro, temos as personagens da parábola

que vão representando o que Jesus está a contar)

JesusQuando o Rei do universo vier na sua glória, com todos os seus anjos, estará sentado no seu trono majestoso e todos os povos da Terra se juntarão diante dele.

(Entra o Rei que se senta no tronoe entra também um grupo de pessoas que representa todos os povos da Terra)

Então ele há-de separá-los uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas das cabras. Porá as ovelhas à sua direita e as cabras à sua esquerda.

(O Rei vai acenando e o grupo separa-se em dois:um dirige-se para a direita do Rei, enquanto o outro se dirige para a sua esquerda)

Rei(Dirigindo-se aos que estão à sua direita)

Venham, abençoados de meu Pai! Venham receber por herança o Reino que está preparado para vocês desde a criação do mundo. Porque tive fome e vocês deram-me de comer, tive sede e deram-me de beber, era um estranho e hospedaram-me, andava nu e deram-me que vestir, estive doente e visitaram-me, estive na cadeia e foram lá ver-me.

Porta-voz do grupo do lado direitoSenhor, quando é que nós te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando é que nós te vimos como um estranho e te hospedámos, ou nu e te demos que vestir? Quando é que nós te vimos doente ou na cadeia e te fomos visitar?

ReiSaibam que todas as vezes que fizeram isso a um destes meus irmãos mais peque-ninos, foi a mim que o fizeram.

(Dirigindo-se para os que estão à sua esquerda)

Afastem-se de mim, malditos! Porque tive fome e vocês não me deram de comer, tive sede e não me deram de beber, era peregrino e não me deram hospitalidade, andava nu e não me deram que vestir, estive doente e na cadeia e não me visitaram.

Porta-voz do grupo do lado esquerdoSenhor, quando foi que nós te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na cadeia e não cuidámos de ti?

ReiSaibam também que todas as vezes que deixaram de fazer isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o deixaram de fazer.

JesusTomem, pois, atenção ao vosso comportamento, porque as acções valem bem mais do que muitas palavras.

Cf. Mt 25, 31-45

Pr 3, 3; Os 6, 6; Lc 6, 36

Procura na Bíblia

Pormenor de Cristo do mosaico Cristo entre os Santos Justus e Servulus

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A primeira carta de São João refere que o verdadeiro amor a Deus passa pelo amor ao próximo e que este exige acções concretas. Quem vive numa situação privilegiada em relação à maioria, usufruindo de abundância de bens materiais, deve agir em benefício dos mais pobres. É esta a atitude que agrada a Deus.

S. Tiago escreve, na sua carta, palavras muito duras em relação aos ricos que se interessavam apenas por amontoar riqueza e nunca estavam dispostos a ajudar os pobres que viviam a seu lado ou aqueles que dependiam de si para sobreviver. A riqueza acumulada que não tem em atenção os princípios éticos da solidariedade e da justiça é um insulto a Deus.

PartilHar a riqueza

Texto bíblico

O autêntico amor a Deus

Se alguém é rico e não tem coração para ajudar o seu irmão na fé, vendo-o com necessidade, como pode dizer que ama a Deus?

18Meus filhos, não amemos com palavras e discursos, mas com acções e com verdade.

1Jo 3, 17-18

17

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173

Na parábola do rico insensato, do Evangelho de Lucas, Jesus chama a atenção para o perigo da ganância e do desejo desmedido de acumular riquezas. A opulência e os bens materiais, alerta Jesus, não podem ser o principal objectivo da vida das pessoas.

Texto bíblico

Riqueza e justiça

Quanto a vocês, os ricos, chorem em altos brados as desgraças que estão para vir sobre vocês. 2A vossa riqueza está podre e as vossas roupas estão roídas

pela traça. 3O vosso ouro e a vossa prata desfazem-se. E isso há-de ser a prova do vosso engano e há-de ser como fogo, que devora a vossa carne. Andaram preocupados a amontoar riquezas mas é tarde de mais.

4Não pagaram o salário aos trabalhadores que ceifavam as vossas searas. O seu salário roubado protesta contra vocês e os gritos dos ceifeiros já chegaram aos ouvidos de Deus todo--poderoso. 5Vocês passaram a vida no luxo e nos prazeres. O que fizeram foi engordar, como animais para o dia da matança. 6Condenaram e mataram o inocente, que não é capaz de vos resistir.

Tg 5, 1-6

1

Texto bíblico

Parábola do rico insensato

A lguém do meio da multidão disse a Jesus: «Mestre, diz ao meu irmão que divida a herança comigo.» 14Mas Jesus respondeu: «Amigo, quem me deu o direito de

julgar ou fazer partilhas entre vocês?»15Depois disse à multidão: «Tenham cuidado! Não se deixem

dominar pela ganância, porque a vida de qualquer pessoa não depende da abundância dos seus bens.»

16A seguir apresentou-lhes esta comparação:«A quinta dum certo rico tinha dado uma grande colheita. 17E o

rico pôs-se a pensar assim: “Que hei-de eu fazer? Não tenho onde guardar a colheita! 18Já sei: deito abaixo os celeiros e faço outros maiores, onde guardarei o trigo e todos os meus bens. 19Depois disso, poderei dizer para comigo: És feliz! Tens em depósito tantos bens que te vão dar para muitos anos. Não te rales: come, bebe e diverte-te.” 20Mas Deus disse-lhe: “Louco, esta noite vais morrer, e o que tens guardado, para quem será?”»

21Jesus concluiu: «Assim acontecerá àqueles que só amontoam riquezas para si, mas que não são ricos aos olhos de Deus.»

Lc 12, 13-21

13

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A pobreza que afecta grande parte da humanidade é uma calamidade que deve ser combatida por todos os países. As nações mais ricas e desenvolvidas têm uma responsabilidade acrescida e devem cooperar com os países mais pobres para a resolução deste problema básico. Os dirigentes políticos e económicos devem colaborar com toda a sociedade na promoção da autonomia e desenvolvimento dos países mais pobres, garantindo-lhes, assim, a possibilidade de se realizarem humanamente.

A sociedade organiza-se para combater a pobreza e a fome, quer ao nível das estruturas governamentais dos diferentes países, quer ao nível de Organizações Não Governamentais (ONG) e, ainda, através das iniciativas individuais.

A Igreja Católica, inspirada no Evangelho, está empenhada na luta contra a fome. A Santa Sé participa na ONU e nas assembleias-gerais da FAO como observadora, o que lhe permite denunciar a pobreza e contribuir para desbloquear situações em que se impõe a procura de entendimentos entre os diferentes países e a defesa dos mais pobres. As congregações religiosas, as missões, as instituições de solidariedade da Igreja e as paróquias são estruturas da Igreja Católica que oferecem, em todo o mundo, apoio directo à promoção da dignidade humana.

luta COntra a FOme nO mundO

Is 5, 8; Am 5, 11; Am 8, 4-6

Procura na Bíblia

Voluntários a distribuir comida aos sobreviventes do Furacão Ike, Haiti

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Muitas pessoas colocam o seu tempo e o seu conhecimento ao serviço dos outros, de forma gratuita, através da prestação de serviços de voluntariado. Encontramos voluntários nas mais variadas áreas: na saúde, na educação, na acção social, no desenvolvimento da ciência e da cultura, na defesa do património e do ambiente, na protecção civil, etc. O voluntariado orienta-se pelos princípios da solidariedade, da cooperação, da gratuidade, da participação e da justiça e procura responder às necessidades e objectivos de quem solicita a sua intervenção.

Em Portugal, muitas instituições direccionadas para a educação, para a saúde, para o apoio a idosos, desempregados e crianças dependem do trabalho de voluntários. A Igreja Católica é responsável por uma percentagem muito elevada de instituições e organismos que prestam voluntariado ao serviço da promoção da vida humana.

Solidariedade internacional

A solidariedade internacional é uma exigência de ordem moral. Ela não se impõe unicamente nos casos de extrema urgência, mas também como ajuda ao verdadeiro desenvolvimento. Trata-se de uma obra comum, que requer esforço convergente e constante para se encontrarem as soluções técnicas concretas, mas também para criar uma nova mentalidade nos homens deste tempo. A paz mundial, em grande parte, depende disso.

Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução sobre a liberdade cristã e a libertação, 22 de Março de 1986, n.º 91

Projectos missionários atraem mais voluntários

2008-07-10 22:06:38

Muitos são os leigos que se sentem chamados a trabalhar em projectos de cooperação para o desenvolvimento em países longínquos e, num gesto de entrega, doam parte das suas vidas para responder a este apelo. Ano após ano, o número de voluntários missionários tem vindo a aumentar e, em 2008, serão 283 os que partirão com a missão de contribuir para a construção de um mundo mais justo e mais humano, colaborando no trabalho que os parceiros locais estão a desenvolver no terreno.Os voluntários partem integrados em projectos dinamizados por entidades católicas, com missões nos países em desenvolvimento. Em Portugal existem cerca de 50 entidades, entre Institutos/Congregações religiosas, ONGD, IPSS, Associações, Dioceses e Paróquias, cuja vocação é a promoção do trabalho missionário e a ajuda ao desenvolvimento dos povos.O envio de leigos missionários não é uma realidade nova em Portugal — os primeiros voluntários portugueses partiram há cerca de 20 anos —, no entanto, a dimensão que este «movimento» atingiu e o número de portugueses que se sente chamado a actuar em causas a favor dos países mais pobres é radicalmente maior que há duas décadas atrás.

http://www.paroquias.org/noticias.php?n=7517

O Estado português permite que os cidadãos expressem, nas suas declarações de imposto (IRS e IRC), a vontade de beneficiar uma instituição de solidariedade social. Parte do imposto é transferido para as instituições escolhidas.

O ano de 2001 foi proclamado Ano Internacional do Voluntariado pela Organização da Nações Unidas (ONU).

Para saberes mais

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A Caritas Internationalis é uma confederação de organizações humanitárias da Igreja Católica que actua em mais de duzentos países. É igualmente uma organização não governamental (ONG). Em Portugal, foi criada em 1945, tendo delegações nas 20 dioceses portuguesas.

A Caritas rege-se pela Doutrina Social da Igreja e orienta as suas acções por princípios de solidariedade. A missão da Caritas é trabalhar para construir um mundo melhor, dedicando-se particularmente aos mais pobres e excluídos da sociedade e desenvolvendo acções de ajuda humanitária a nível nacional e internacional, nomeadamente em situações de calamidades naturais e em contexto de guerra.

Muhammad Yunus nasceu no Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo. Doutorou-se nos Estados Unidos da América em economia e regressou ao seu país em 1972.Nessa altura, verificou que o Bangladesh estava cada vez mais pobre. Muitas pessoas morriam de fome e as que pediam empréstimos aos bancos para iniciar um negócio familiar e lutar contra a miséria não conseguiam obter o crédito necessário.Yunus começou por emprestar pequenas somas de dinheiro, sobretudo às mu-lheres, uma vez que estas estão na base da gestão familiar. Este dinheiro rapida-mente lhe foi devolvido e Yunus procurou convencer os bancos locais a financiar pequenos negócios que permitissem a melhoria da vida destas famílias. Como não viu o seu desejo realizado, fundou o Grameen Bank, o Banco dos Pobres. Este banco empresta pequenas quantias de dinheiro para a criação de negócios a quem vive abaixo do limite mínimo da pobreza, de preferência a mulheres.No Bangladesh, metade dos agregados familiares que recorreram ao microcré-dito conseguiram sair da pobreza. O Modelo de Yunus inspirou perto de mil sucursais em todo o mundo. A ONU declarou 2005 o ano do Microcrédito e da Microconfiança.Curiosamente, embora não exija garantias às pessoas a quem empresta, a taxa de recuperação é de cerca de 99%.

Para saberes mais

Muhammad Yunus

a Caritas

A primeira organização da Caritas foi estabelecida na Alemanha, em 1897. Em Dezembro de 1951, a Santa Sé aprovou os estatutos da Caritas Internacional.

Para saberes mais

www.caritas.pt

Consulta na Net

CaritasInternationalis

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unidade 4

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A Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO — Food and Agriculture Organization) é um organismo das Nações Unidas que tem por objectivo promover o desenvolvimento rural e elevar os níveis de nutrição dos povos.

A FAO organiza programas para o aperfeiçoamento e eficiência da produção agrícola e criação de gado, aplicando as novas tecnologias nos países em vias de desenvolvimento. No combate à fome, fomenta a preservação dos recursos naturais, estimulando o desenvolvimento da regulação da pesca, a piscicultura e o investimento nas fontes de energia renováveis.

A FAO, durante o encontro mundial da alimentação em Roma, de 13 a 17 de Novembro de 1996, aprovou a Declaração de Roma, que visa a diminuição da fome no mundo. Esta declaração contou com o apoio de 126 países-membros e afirma o direito de todas as pessoas a um alimento seguro e nutritivo.

a FaO

A FAO é uma Agência especializada e foi fundada a 16 de Outubro de 1945.

Para saberes mais

www.fao.org

Consulta na Net

As principais actividades da FAO:

1.º Desenvolver programas de assistência a países subdesenvolvidos;2.º Prestar informação sobre nutrição, alimentos, agricultura e pesca;3.º Aconselhar os governos sobre matérias relacionadas com a agricultura e a

alimentação;4.º Servir de espaço neutro para a discussão e formulação de políticas relacionadas

com a agricultura e a alimentação.

O dia mundial da alimentação é celebrado, desde 1981, a 16 de Outubro. Pretende-se consciencializar a opinião pública sobre as questões da alimentação e da nutrição.

Para saberes mais

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unidade 4

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Os Bancos Alimentares Contra a Fome são Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que recolhem bens alimentares para os distribuir, de forma gratuita, pelos mais carenciados. Estes bens são provenientes de campanhas realizadas em superfícies comerciais, da oferta de empresas e particulares, de excedentes de produção da indústria agro- -alimentar, e produtos originários de ofertas da União Europeia. Os Bancos Alimentares Contra a Fome têm como objectivo evitar os desperdícios alimentares e fazê-los chegar às pessoas mais necessitadas.

A recolha dos bens alimentares respeita as normas de segurança e higiene alimentar. A logística da recolha de alimentos é feita mediante o encaminha-mento de produtos alimentares para depósitos. Estes são sujeitos a triagem para controlo da qualidade dos produtos e é salvaguardada a sua conservação em condições que garantam a manutenção da sua perfeita qualidade.

O trabalho dos Bancos Alimentares assenta nos princípios da solidariedade e da partilha e é exercido por voluntários, ao abrigo da lei do mecenato.

Reduzir a Fome no Mundo

Comprometemo-nos a empenhar a nossa vontade política e o nosso compromisso comum a fim de conseguir segurança alimentar para todos. Comprometemo-nos também na realização de um esforço permanente para erradicar a fome em todos os países, com o objectivo imediato de reduzir, até metade do seu nível actual, o número de pessoas subalimentadas até, o mais tardar, o ano 2015.Consideramos intolerável o facto de que mais de 800 milhões de pessoas, a nível mundial, e, particularmente, dos países em desenvolvimento, não tenham alimentos suficientes para a satisfação das suas necessidades nutricionais básicas. Esta si-tuação é inaceitável. A produção alimentar aumentou substancialmente, contudo, dificuldades no acesso aos alimentos, a insuficiência de rendimentos a nível familiar e nacional para a compra de alimentos, a instabilidade na oferta e na procura, assim como as catástrofes naturais ou as causadas pelo ser humano, têm impedido a satisfação das necessidades alimentares básicas.Os problemas da fome e da insegurança alimentar têm uma dimensão global e são problemas que tendem a persistir e mesmo a aumentar dramaticamente em algumas regiões, a não ser que se tomem medidas urgentes, tendo em conta o crescimento da população e a pressão exercida sobre os recursos naturais.

Declaração de Roma, 13 a 17 de Novembro de 1996

bancO aLiMentar cOntra a FOMe

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unidade 4

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Os alimentos recolhidos pelos Bancos Alimentares Contra a Fome são encaminhados para instituições de solidariedade social, que têm como missão o apoio às pessoas mais carenciadas. A distribuição dos bens alimentares é realizada de forma a corresponder às necessidades das populações.

1992 220

1993 809

1994 1167

1995 2393

1996 3150

1997 5437

1998 5971

1999 7571

2000 10235

2001 10156

2002 10967

2003 12221

2004 13790

2005 17704

2006 17926

2007 19919

2008 17406

Toneladas

Recolha de bens alimentares em Portugal

Papa apela a ricos que lutem contra a pobreza

2008-07-07 22:15:52

O Papa Bento XVI apelou este Domingo aos países mais ricos, reunidos a partir de hoje no Japão, para que se envolvam na luta contra a pobreza e a fome no mundo, agravadas pela escalada dos preços do petróleo e dos bens alimentares.

Na celebração semanal do Angelus, o Papa insistiu com os líderes do G8 para que coloquem esse combate como prioridade na agenda, sublinhando que o bem deve ser feito antes que seja tarde.

«A vulnerabilidade [dos mais pobres] aumentou drasticamente, por culpa da espe-culação financeira e da turbulência da economia, que tiveram um efeito perverso na alimentação e na energia», disse, apelando à «generosidade e justeza» na tomada de decisões que possam «relançar» um processo de «desenvolvimento mais igua-litário».

A cimeira do G8 conta ainda com as presenças do Brasil, China, Índia, México e África do Sul, que voltarão a levar a voz do mundo em desenvolvimento ao Grupo dos Oito.

In Jornal de Notícias

O primeiro Banco Alimentar Contra a Fome foi aberto em 1966, nos Estados Unidos da América, na cidade de Phoenix, no estado do Arizona. A ideia chegou à Europa, em 1984. Em Portugal, o primeiro Banco Alimentar Contra a Fome foi aberto em 1992, na cidade de Lisboa.

Os Bancos Alimentares Contra a Forma organizam-se por federações. A Federação Portuguesa de Bancos Alimentares Contra a Fome está integrada na Federação Europeia de Bancos Alimentares.

Para saberes mais

Page 180: Manual Aluno 6º.pdf

Unidade Lectiva 5

Page 181: Manual Aluno 6º.pdf

O RespeitO peLOs animais

Page 182: Manual Aluno 6º.pdf

unidade 5

182

Os animais fazem parte do nosso quotidiano. Em quase todas as casas existem animais domésticos — cães, gatos, periquitos, papagaios, e tantos outros — que nos fazem companhia e nos divertem em muitos momentos.

Também os animais selvagens partilham connosco a Terra, despertam a nossa curiosidade e desempenham um papel muito importante na preservação da natureza. É impossível contemplar a beleza das flores e sentir o agradável paladar dos frutos sem nos recordarmos dos incansáveis insectos que polinizam as flores e das lagartas que trabalham o húmus.

Até o ouriço e o lagarto, que se alimentam de insectos, têm uma função importante no equilíbrio do meio que nos rodeia. Mas os animais também são úteis na vida quotidiana do ser humano. Por exemplo, o bicho-da-seda produz obviamente seda, as ovelhas produzem lã, carne e leite, as vacas oferecem-nos a carne e o leite, além de, com o seu estrume, fertilizarem a terra. Por isso, os animais desempenham um papel importante nas actividades económicas, oferecendo-nos a matéria-prima com a qual se pode fazer, por exemplo, o vestuário e o calçado. São igualmente nossos companheiros e auxiliam-nos no trabalho!

A ImportâncIA dos AnImAIs

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orIgem dA VIdA e dIVersIdAde de espécIes

A vida na Terra terá surgido há cerca de 3,4 mil milhões de anos. As primeiras formas de vida eram seres unicelulares, muito simples. No decorrer de milhões de anos, em diferentes períodos da vida da Terra, os primitivos seres unicelulares evoluíram para formas de vida multicelu-lares, e consequentemente mais complexas. Estas evoluções sucessivas deram origem a uma grande variedade de seres vivos, adaptados ao meio em que viviam. O planeta ficou povoado de muitas espécies animais e vegetais que formam sistemas ecológicos, em que cada espécie ocupa um lugar importante no equilíbrio dos ecossistemas.

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Câmbrico Ordovícico Silúrico Devónico PérmicoCarbónico

trilobite(Parasolenopleura)

arqueociato(Archaeocyathus)

graptólito(Didymograptus)

braquiópode(Lingula)

trilobite(Asteropyge)

escorpião marinho(Eurypte-

rus)

gastró-pode(Platy-ceras)

peixe sem mandíbula

(Tolype-lepis)

peixe agnato couraçado(Gemuendina)

celacanto(Latvius)

cefalópode primitivo(Maticoceras)

miríapode gigante(Arthropleura)

libelinha gigante(Stephanotypus)

cavalinha primitiva(Calamites)

planta lepidófita gigante(Sigillaria)

lagarto voador(Weigeltisaurus)

tubarão primitivo(Orthacanthus)

réptil pelicossáurio(Edaphosaurus)

488542 443 416 359 299

Selecção de reconstituições de organismos e os seus momentos de evolução

O evolucionismo é uma teoria defendida por Charles Darwin e Alfred Wallace. Estes cientistas, trabalhando isoladamente, defenderam que o aparecimento das espécies mais complexas decorreu da evolução de espécies mais simples.As espécies originárias, mais simples, foram transmitindo as suas características biológicas aos seus descendentes (hereditariedade) mas, de vez em quando, os descendentes apresentavam características um pouco diferentes dos seus antepassados (mutações genéticas). A maior parte dessas alterações eram--lhes desfavoráveis, por isso, os novos seres acabavam por desaparecer. No entanto, uma vez por outra, as alterações podiam ser benéficas. Tornavam-nos mais adaptados ao meio ambiente e, portanto, mais capazes de enfrentar as dificuldades do meio natural. Na luta pela vida, estes novos seres estavam mais aptos a sobreviver (selecção natural), porque obtinham melhor alimentação, seduziam melhor as fêmeas, etc. Assim, eles acabavam por dominar o meio em que viviam, enquanto os que tinham herdado todas as características dos seus antepassados iam desaparecendo.

Para saberes mais

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Triásico Jurássico Cretácico Paleogénico Neogénico

batráquio gigante(Mastodonsaurus)

dinossáurios primitivos(Plateosaurus)

notossáurio(Nothosaurus)

pterossáurio(Rhamphorhynchus)

ictiossáurios(Stenopterygius)

pequenos dinossáurios(Compsognathus)

ave primitiva(Archaeopteryx)

dinossáurios modernos(Iguanodon)

amonite(Pachydiscus)

ouriço-do-mar(Echinocorys)

lula primitiva(Belemnite)

cavalo primitivo(Hipparion)

ave corredora primitiva

(Gastornis)

crocodilo(Pristichampsus)

árvore de folha larga

(e.g. Quercus)

hominídeos(e.g. Homo erectus)

animal com cascos(Chalicotherium)

elefantes primitivos(Deinotherium)

plantas herbáceas(e.g. Stipa)

veado semelhante a coelho

(Lagomeryx)

251 200 145 65 23

O ser humano, tal como as outras espécies, é também o resultado da evolução biológica, a partir de espécies mais simples. Mas, para o Cristianismo, este processo evolutivo depende da vontade amorosa de Deus. Das espécies mais simples até às mais complexas, Deus foi orientando a evolução, sem que, no entanto, nós possamos ver a sua acção directamente. Contudo, a beleza das coisas que foram surgindo, bem como o seu desenvolvimento para padrões cada vez mais complexos e mais perfeitos são um bom indício de que todo este processo obedece a um plano e de que esse plano deriva da inteligência de um ser superior que, com a sua vontade amorosa, conduz o mundo para níveis cada vez mais elevados. Afinal, tudo converge para Deus, que é a perfeição, a origem e o fim de todas as coisas.

Para saberes mais

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186 os AnImAIs são o resultAdo dA VontAde de deus

O relato bíblico da criação, que consta do livro bíblico do Génesis, refere que todos os seres vivos são obra de Deus. Trata-se de uma apresentação poética e não de um tratado histórico ou científico acerca da origem do mundo e da vida na Terra. O Cristianismo acredita que tudo o que existe foi o resultado da vontade amorosa de Deus. O universo, a Terra, as plantas, os animais, os seres humanos e toda a natureza são fruto da bondade de Deus. A narrativa do Génesis menciona ainda que Deus entregou nas mãos dos seres humanos toda a criação, para que dela cuidassem.

A natureza é a casa comum de todos, seres humanos e animais, e, portanto, é nosso dever defendê-la e preservá-la. A natureza é o ambiente essencial à existência da vida, e o ser humano é o «irmão universal» e o guardião de todos os seres: animais, plantas e todas as outras criaturas.

A criação dos animais, por Jacopo Tintoretto

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O livro do Génesis relata ainda a existência de um dilúvio universal. Esta narrativa tem muitos pontos de contacto com antigas lendas e mitos que estão presentes em escritos sumérios e outros. Também nessas civilizações se narrava a existência de um dilúvio de grandes dimensões que se havia abatido sobre a Terra.

As causas do dilúvio bíblico são o pecado e a maldade humana. Mas, apesar dos graves erros cometidos pelos seres humanos, o texto menciona que Deus quis salvar da catástrofe tanto as pessoas como as espécies animais, garantindo, assim, a beleza e a diversidade de toda a criação.

Noé, o protagonista desta narrativa, era um homem bom. Estando a humanidade corrompida pelo ódio, pela inveja e pelo egoísmo, que se tinham apossado do seu coração, Deus quis destruir toda essa maldade e criar um mundo onde as pessoas fossem honestas e boas e vivessem em harmonia umas com as outras e também com a natureza.

o dIlúVIo unIVersAl

Arca de Noé, por James Edwin McConnell

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Por ordem de Deus, Noé construiu uma arca para salvar a sua família e um casal de cada espécie de todos os animais que existiam na Terra. Deus estava triste com o pecado e a maldade humana; contudo, porque amava tudo o que tinha criado, queria salvar a humanidade e todas as espécies de animais por ele criadas.

Construção da Arca de Noé, por Linda Benton

Texto bíblico

A maldade humana e o dilúvio

Esta é a história de Noé. Noé era a única pessoa justa e honesta que havia no seu tempo e cumpria sempre a vontade de Deus. 10Teve três filhos: Sem, Cam e

Jafet.

11Para Deus, a Terra estava completamente corrompida e cheia de violências. 12Ao olhar para a Terra, Deus só encontrava corrupção, pois todos os seus habitantes seguiam caminhos errados. 13Por isso, Deus disse a Noé: «Decidi pôr fim a todos os seres humanos, pois a Terra está cheia de injustiças, por causa deles. Vou destruí-los juntamente com a Terra.»

Gn 6 9-11

O dilúvio

E ra o dia dezassete do segundo mês do ano. Foi então que rebentaram as nascentes do grande mar profundo e se abriram as comportas do céu. 12A chuva caiu

sobre a Terra, durante quarenta dias e quarenta noites.

13Naquele mesmo dia, Noé entrou na arca com Sem, Cam e Jafet, seus filhos, e com a sua mulher e as três noras 14e ainda exemplares de todas as espécies de seres vivos, animais domésticos e selvagens. 15De todos os seres vivos entraram aos pares na arca, para junto de Noé. 16Era um macho e uma fêmea de cada espécie, tal como Deus tinha mandado. No fim, o Senhor fechou a porta.

17Durante quarenta dias, as águas do dilúvio caíram sobre a Terra. Foram subindo e levantaram a arca, que ficou bastante longe do solo. 18Quando o nível das águas subiu muito acima da terra, a arca flutuava por cima das águas. 19As águas subiram tanto que cobriram até as montanhas mais altas que existem. 20Passavam mais de sete metros para cima delas e as montanhas ficaram todas cobertas.

Gn 7, 11-20

9

11

Na descrição do dilúvio, a inundação da Terra acontece por via do rebentamento das nascentes e da abertura das comportas do céu. Esta narrativa pretende descrever uma inundação que surgiu na sequência de fortes e duradouras chuvadas. Como os hebreus acreditavam que por cima do firmamento existia um mar de água doce (onde a chuva estava guardada), o dilúvio e, em geral, a precipitação aconteciam devido à abertura das comportas que mantinham as águas do céu represadas.

Para saberes mais

Texto bíblico

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Fim do dilúvio

Deus não se esqueceu de Noé nem dos animais selvagens e domésticos que se encontravam com ele na arca e fez com que o vento soprasse sobre a Terra

e então a água começou a baixar.

4A arca poisou nas montanhas de Ararat. 5As águas conti-nuaram a baixar e no primeiro dia do décimo mês já se viam os cimos dos montes.

8Noé mandou uma pomba para ver se as águas já estavam suficientemente baixas. 9Mas a pomba não encontrou ainda lugar onde poisar e voltou de novo para junto de Noé, na arca, porque as águas ainda cobriam a terra. Noé estendeu a mão, pegou nela e levou-a de novo para dentro da arca. 10Esperou ainda sete dias e voltou a mandar a pomba. 11Pela tardinha, a pomba regressou para junto de Noé com um ramo de oliveira no bico. Noé ficou, por isso, a saber que as águas já tinham baixado bastante. 12Esperou outros sete dias e soltou de novo a pomba, mas, desta vez, ela já não voltou mais para a arca.

13No primeiro dia do primeiro mês do ano, as águas já tinham desaparecido sobre a terra. Noé retirou a cobertura da barca e reparou que a terra estava já a secar.

15Deus disse então a Noé:

16«Podes sair da arca, tu e a tua mulher, os teus filhos e as tuas noras. 17Faz também sair contigo todas as espécies de seres vivos que estão contigo, aves, animais e toda a espécie de bichos da terra. Que eles se propaguem pela terra, que sejam férteis e cresçam.»

18Noé saiu com os seus filhos, a mulher e as noras. 19Saíram também da arca todos os animais, bichos, aves, tudo o que se move na terra, conforme as suas diferentes famílias.

Gn 8, 1.4-5.8-13.15-19

1

Texto bíblico

Arca de Noé, Escola Senegalesa Pormenor da Vida de Noé, Mosaico da Basílica de S. Marcos (Veneza)

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Deus não suporta a maldade e a iniquidade, mas a sua misericórdia é infinita, por isso estabeleceu uma nova aliança com a humanidade.

Deus atribuiu ao ser humano uma grande responsabilidade: a de gover-nar o mundo. No entanto, governar não significa exercer sobre os animais um poder sem limites, não orientado por princípios éticos. Bem pelo contrário, significa ser o guardião de tudo o que existe, amar a natureza e os animais porque são queridos por Deus e, sobretudo, ter para com os animais uma atitude de bondade, rejeitando o exercício de violência gra-tuita e todos os comportamentos que possam conduzir ao seu sofrimento injustificado. Afinal, os animais, em toda a sua variedade, foram o fruto da vontade amorosa de Deus.

Noé faz sair os animais da arca, Mosaico italo-bizantino

Aliança de Deus com a humanidade

Deus abençoou Noé e os seus filhos e disse-lhes: «Sejam férteis, cresçam e encham a terra. 2Todos os animais selvagens e as aves, tudo o que se move

na terra e os peixes do mar ficarão sujeitos ao vosso poder. 3Podem comer de todos os animais vivos e também verduras e plantas. Tudo isso fica à vossa disposição.»

Gn 9, 1-3

1

Texto bíblico

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Ao longo de milhões de anos de história da vida na Terra, muitas espé-cies se foram extinguindo. A extinção de espécies ocorreu em diferentes períodos, de forma drástica e repentina, originada por grandes catástrofes naturais, ou gradualmente causada por mudanças que foram ocorrendo na superfície terrestre, às quais as espécies não foram capazes de se adaptar.

As grandes extinções ocorreram sobretudo devido a drásticas alterações ambientais motivadas por diversos factores, como o movimento de placas tectónicas, a intensa actividade vulcânica, as variações do nível do mar, as mudanças nos ciclos biológicos, geológicos e químicos dos sistemas ecológi-cos e os cataclismos causados pelos impactos de grandes asteróides.

Na época geológica na qual nos integramos, tem ocorrido uma enorme extinção de espécies animais e vegetais em todo o mundo. Este é considerado por muitos paleontólogos o sexto período de grandes extinções de espécies. As principais causas são as alterações climáticas e, sobretudo, a acção humana.

dIVersIdAde BIológIcA e extInção dAs espécIes

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ALGUMAS ESPÉCIES EM VIAS DE EXTINÇÃO

Identificação do animal

Lince Ibérico

Tigre de Bengala

Panda Gigante

Hipopótamo

Tucano

Koala

Baleia Azul

Lobo Ibérico

Águia-real

Habitat Algumas causas

Destruição dos seus habitats e das espécies de que se alimenta.Caça excessiva.

Caça excessiva para o comércio de peles e de ossos.Destruição dos seus habitats.

Alterações climatéricas e escassez da sua principal fonte de alimento, o bambu.Caça.

Caça furtiva.

Caça excessiva.

Caça para utilização da sua pele.Queimadas nas florestas.

Caça intensa.

Expansão humana e destruição do seu habitat.

Destruição do seu habitat.Caça das espécies de que se alimenta.

Habita preferencialmente os bosques e matagais mediterrânicos de Portugal e Espanha.

Vive nas florestas da Índia.

Vive nas florestas de bambu da região montanhosa da China e do Tibete.

Vive no continente africano.

Vive nas florestas tropicais da região norte e centro da América do Sul.

Vive nos eucaliptais do sudoeste e nordeste da Austrália.

Vive nos mares de todo o mundo.

Vive no norte da Península Ibérica.

Vive no nordeste de Portugal.

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A Convenção da UNESCO sobre a Diversidade Biológica, datada de 1972, definiu os recursos biológicos como uma herança comum da humanidade.

Para saberes mais

Lei n.º 92/95, de 12 de SetembroProtecção aos animaisArtigo 1.º

4. As espécies em perigo de extinção serão objecto de medidas de protecção, nomeadamente para preservação dos ecossistemas em que se enquadram.

Os seres humanos são os principais responsáveis pela extinção de inúmeras espécies, devido à destruição do seu habitat e consequentemente do seu alimento, do aumento excessivo de poluição, da caça abusiva e da alteração do equilíbrio ambiental, provocada pela introdução de novos predadores nos habitats, uma vez que a inclusão forçada de outras espécies altera o equilíbrio dos ecossistemas.

Devido à acção humana, a actual taxa de extinções de espécies é muito superior à que existiria, se esta fosse provocada apenas pelo normal pro-cesso de evolução e adaptação das espécies ao ambiente. Milhares de espé-cies foram extintas num período de tempo muito curto, outras encontram-se ameaçadas e estão em vias de extinção ou estão extintas na natureza, subsistindo apenas alguns indivíduos em cativeiro.

A diversidade biológica é fundamental para o equilíbrio dos ecossiste-mas. Todas as espécies vivem em interdependência, por forma a garan-tirem a sua sobrevivência. A extinção de uma espécie pode causar danos muito graves nos sistemas ecológicos, conduzindo à extinção de espécies em cadeia ou ainda provocar a destruição de todo um ecossistema.

A legislação portuguesa e internacional prevê medidas protectoras das espécies em vias de extinção.

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O ser humano conviveu, desde sempre, com os animais. A arte rupestre pré-histórica testemunha a presença de animais na vida das comunidades humanas, seja em desenhos que ilustram caçadas, seja em figuras de ani-mais que acompanhavam o ser humano.

A domesticação de determinadas espécies de animais ocasionou uma transformação biológica profunda nessas espécies. Deste modo, o ser humano, através da sua intervenção, pôde interferir nas características das espécies animais domesticadas.

relAção do ser HumAno com os AnImAIs

Pintura aborígene, Austrália Arte Rupestre, Estados Unidos da América

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Já no período neolítico, associada à sedentarização, temos vestígios na Europa da prática da domesticação de animais. Pouco a pouco, o ser humano foi domesticando cães, gatos, cabras, carneiros, porcos, bois, cavalos, camelos… Os animais domesticados destinavam-se assim a servir de companhia, de complemento da sua economia alimentar, de meio de transporte e de ajuda nas tarefas agrícolas.

O primeiro animal doméstico conhecido é o cão. A sua domesticação é anterior ao Neolítico, uma vez que já é testemunhada desde o fim do Paleolítico Superior (c. 12 000 a.C.), na região do actual Irão e Israel. Já os seus antepassados — os lobos — tinham provavelmente relações privilegiadas com os seres humanos. Vivendo próximo dos acampamen-tos, aproveitavam os restos de comida e beneficiavam de uma protecção relativa contra os predadores. Os cães parecem ter sido adoptados desde então como animais de companhia.

O mesmo deverá ter acontecido com o gato, que deriva de uma forma oriental de gato selvagem. A origem da domesticação deste felino é difícil de determinar, visto que os animais domésticos e selvagens têm uma morfologia aproximada.

Contribuindo para a alimentação do homem, o primeiro animal domesticado deverá ter sido a cabra, cuja domesticação é anterior a 7000 a.C., tendo como antepassado uma espécie do norte do Próximo Oriente. O carneiro aparece cerca de cinco séculos mais tarde, no norte da Síria. O seu antepassado ainda se encontra nas montanhas da Turquia e do Irão.

Os bois e os porcos são igualmente de origem oriental, pois descobriram--se recentemente testemunhos de bois domesticados desde 6500 a.C. na Síria, no sul da Turquia e em Israel. O antepassado do boi encontra-se próximo dos bois selvagens locais. O porco surge também por volta do ano 6000 a.C. na Síria e no sul da Turquia.

Entre os animais domésticos europeus, apenas o cavalo não é originário do Próximo Oriente. A sua domesticação terá acontecido na região da Ucrânia, cerca do ano 3800 a.C.

O lugar da primeira domesticação do burro e do camelo ainda é desconhecido. No entanto, o burro já se encontrava domesticado no Próximo Oriente desde o ano 3000 a.C., e o camelo, por volta do ano 2000 a.C.

Se o interesse económico da domesticação de animais parece evidente, esta razão não é suficiente para explicar este fenómeno. A domesticação deve ser vista também como consequência de uma mudança cultural de distanciação do homem face à natureza.

Iluminura italiana que retrata Abraão a partilhar os seus bens com Lot, século XIV

Estatueta egípcia do gato preto

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O ser humano, ao longo dos séculos, expressou de forma criativa, mui-tas vezes apelando ao fantástico, a sua admiração pelas outras espécies. O convívio e a proximidade com algumas espécies animais e o receio de contactar com outras marcaram a literatura, a escultura, a arquitectura, a pintura, a música e a dança.

Através da escultura, realizaram-se diversas representações de animais ao longo da história. Podemos encontrá-las em monumentos, jardins e edifícios, procurando, geralmente, transmitir um significado simbólico.

Exemplos dessas esculturas são as pedras zoomórficas, que represen-tam figuras de animais. Destas podemos destacar, em Portugal, a Porca de Murça, que faz parte de um conjunto significativo de estátuas que surgiram há aproximadamente dois mil anos e têm características muito semelhantes. Trata-se de peças talhadas num único bloco de pedra, por norma no granito, com corpos curtos e figuras atarracadas. Geralmente, as pedras zoomórficas retratam javalis e porcos. No entanto, também podemos encontrar ursos, touros e bodes.

Pormenor de um edifício

os AnImAIs nA expressão ArtístIcA

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Na arquitectura, podemos igualmente observar diversas representações de animais, nomeadamente em pórticos de igrejas e em outros edifícios. As gárgulas são exemplos disso mesmo e representam figuras de animais, figuras humanas ou de monstros, normalmente efectuadas em pedra. São muitas vezes usadas como saliências das calhas dos telhados, tendo como função, além da ornamentação dos edifícios, o escoamento das águas pluviais.

Desde muito cedo, os conhecimentos que a humanidade adquiriu, através da observação da natureza, começaram a ser compilados e publicados. Vários autores aproveitaram os conhecimentos acumulados ao longo de séculos para, através de diferentes géneros literários, transmitirem ensinamentos morais.

Alguns autores inseriam conhecimentos e crenças relativos a animais autênticos ou imaginários, plantas, pedras e acontecimentos naturais, para deles retirarem conclusões morais. As ideias transmitidas nestes textos são, aparentemente, simples, tendo no entanto a intenção de transmitir pensamentos mais complexos que de outra forma seriam inacessíveis a muitas pessoas.

O temor e o desconhecimento originaram o aparecimento, em diver-sas formas de expressão artística, de criaturas lendárias e fantásticas. O basilisco é exemplo de uma criatura lendária que marca presença na literatura e em muitos desenhos.

No segundo livro da série Harry Potter, da autora J. K. Rowling, surge a figura mitológica do basilisco. Trata-se de uma criatura lendária da literatura fantástica. Durante a Idade Média, o basilisco era representado com a forma de uma serpente fantástica com cabeça de galo, que nascia de um ovo de galinha chocado por uma rã.

Para saberes mais

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Diversos monges elaboraram os chamados bestiários na Idade Média. O bestiário é uma colectânea de pequenas descrições, que incluem texto e ilustração sobre os diversos tipos de animais, reais e imaginários, plantas e pedras zoomórficas, acompanhados de uma explicação moral. A informação reunida sobre o aspecto, o habitat, o modo de vida e a alimentação dos animais é tanto científica quanto fabulosa.

Um dos objectivos dos bestiários era a instrução das pessoas segundo a moral cristã. O homem medieval acreditava que tudo na natureza tinha uma função e respondia à intenção de Deus de aperfeiçoar o ser humano. Nestes textos, as pessoas aprendem através dos exemplos dos animais. A cada ani-mal era atribuído um significado simbólico, tendo por base a Bíblia.

As fábulas são narrativas literárias que têm uma finalidade moral, cujas personagens são animais. O objectivo da fábula é transmitir uma lição ética, que é veiculada através do comportamento dos animais.

Há três grandes criadores de fábulas: Esopo — autor grego do século VI a.C. —, Fedro — autor romano dos séculos I a.C. e I d.C. — e Jean de La Fontaine.

Do Leão

Assim como o leão tem piedade do homem que se humilha a ele, Nosso Senhor Deus tem piedade quando o homem sábio se humilha a ele por boas obras, confessando seus pecados com dor e contrição do coração e pedindo-lhe perdão e misericórdia. Então Nosso Senhor Deus tem mercê e piedade e perdoa a todos os seus pecados, chamando-o para sua Glória celestial.

Ricardo Costa, Extractos de quatro bestiários medievais,in http://www.ricardocosta.com/textos/bestiario.htm (consultado em 10 de Maio de 2009)Jean de La Fontaine

nasceu em Château--Thierry, em 1621, e faleceu em Paris, em 1695. Estudou teologia, escreveu poesia, contos e fábulas. Na sua grande obra Fábulas, seguiu o estilo de Esopo e Fedro.

Para saberes mais

A poupa cuida e alimenta os pais envelhecidos: deve servir de exemplo aos maus filhos e aos parricidas.

Excerto de Bestiário

Fénix Sereia Unicórnio Dragão

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O lobo e o cão

Certo dia, um lobo só pele e osso encontrou um cão gordo, forte e com o pêlo muito lustroso. Via-se bem que não passava fome. O lobo, admirado, quis saber onde é que ele conseguia obter tanta comida.

— Se me seguires, ficarás tão forte como eu — respondeu o cão. — O homem dar-te-á restos saborosos.

— Mas o que preciso de fazer em troca? — quis saber o lobo.

— Muito pouco, na verdade — respondeu o cão. — Uivar aos intrusos, agradar ao dono e agradar aos seus amigos. Só por isto receberás carne e outras iguarias muito bem cozinhadas. De vez em quando, receberás também festas no dorso.

O Lobo ficou encantado com a ideia e meteram-se ambos ao caminho. A dada altura, o lobo reparou que o cão tinha o pescoço esfolado.

— O que tens no pescoço? — perguntou.

— Nada de grave. É da argola com que me prendem — explicou o cão.

— Preso? Então não podes correr quando queres! — exclamou o lobo. — Esse é um preço demasiado elevado: não troco a minha liberdade por toda a comida do mundo.

Dito isto, desatou a correr o mais depressa que pôde para bem longe dali.

Jean de La Fontaine, in http://nonio.eses.pt/fabulas/ (19/06/2009)

A formiga e a pomba

Estava uma formiga junto a um regato quando foi apanhada pela corrente. Uma pomba que estava pousada numa árvore sobre a água viu que ela estava quase a afogar-se e teve pena dela. Para que se pudesse salvar, atirou-lhe uma folha. A formiga subiu para cima da folha e flutuou em segurança para a margem do regato.

Pouco depois, apareceu um caçador e apontou para a pomba. A formiga, percebendo o que estava para acontecer, picou-o no pé. O caçador sentiu a dor da picada e moveu-se ruidosamente. Alertada, a pomba voou para longe e salvou-se.

Jean de La Fontaine, in http://nonio.eses.pt/fabulas/ (19/06/2009)

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Na literatura portuguesa e de língua portuguesa, há muitos exemplos de textos em que os animais desempenham um papel importante.

Fernando Pessoa, no seu poema «O Mostrengo», refere-se às dificuldades que os Portugueses tiveram de enfrentar e ultrapassar aquando dos Desco-brimentos e das primeiras viagens realizadas pelos navegadores portugueses. A personagem central deste texto é um «mostrengo» (monstro), animal fabu-loso que habitava o fundo do mar e atemorizava os navegadores. O medo das forças do oceano e o receio do que pudessem vir a encontrar nas terras e mares desconhecidos fazia com que aqueles homens imaginassem monstros marinhos, cujos poderes eram superiores às forças humanas. Luís de Camões já tinha descrito este fabuloso monstro dos oceanos — o Adamastor.

O Mostrengo

O mostrengo que está no fim do marNa noite de breu ergueu-se a voar;À roda da nau voou três vezes,Voou três vezes a chiar,E disse, «Quem é que ousou entrarNas minhas cavernas que não desvendo,Meus tectos negros do fim do mundo?»E o homem do leme disse, tremendo,«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?De quem as quilhas que vejo e ouço?»Disse o mostrengo, e rodou três vezes,Três vezes rodou imundo e grosso,«Quem vem poder o que só eu posso,

Que moro onde nunca ninguém me visseE escorro os medos do mar sem fundo?»E o homem do leme tremeu, e disse,«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,Três vezes ao leme as reprendeu,E disse no fim de tremer três vezes,«Aqui ao leme sou mais do que eu:Sou um povo que quer o mar que é teu;E mais que o mostrengo, que me a alma temeE roda nas trevas do fim do mundo,Manda a vontade, que me ata ao leme,De El-rei D. João Segundo!»

Fernando Pessoa, Mensagem

O escritor Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, em 1888, e morreu na mesma cidade, em 1935.

Para saberes mais

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Jesus

Comiam todos o caldo, recolhidos e calados, quando o menino disse:

— Sei um ninho!

A Mãe levantou para ele os olhos negros, a interrogar. O Pai, esse, perdido no alheamento costumado, nem ouviu. Mas o pequeno, ou para responder à Mãe, ou para acordar o Pai, repetiu:

— Sei um ninho!

O velho ergueu finalmente as pálpebras pesadas, e ficou atento, também.

A criança, então, um tudo-nada excitada, contou. Contou que à tarde, na altura em que regressava a casa com a ovelha, vira sair um pintassilgo de dentro dum grande cedro. E tanto olhara, tanto afiara os olhos para a espessura da rama, que descobrira o manhuço negro, lá no alto, numa galha.

A Mãe bebia as palavras do filho, a beijá-lo todo com a luz da alma. O Pai regressou ao caldo.

Mas o menino continuou. Disse que então prendera a cordeira a uma giesta e trepara pela árvore acima.

De novo o Pai levantou as pálpebras cansadas, e ficou tal e qual a Mãe, inquieto, com a respiração suspensa, a ouvir.

E o pequeno ia subindo. O cedro era enorme, muito grosso e muito alto. E o corpito, colado a ele, trepava devagar, metade de cada vez. Firmava primeiro os braços; e só então as pernas avançavam até onde podiam. Aí paravam, fincadas na casca rija.

A subida levou muito tempo. Foi até preciso descansar três vezes pelo caminho, nos tocos duros dos ramos. Por fim, o resto teve de ser a pulso, porque eram já só vergônteas as pernadas da ponta.

Transidos, nem o Pai nem a Mãe diziam nada. Deixavam, apavorados, mudos, que o pequeno chegasse ao cimo, à crista, e pusesse os olhos inocentes no ovo pintado. O ninho tinha só um ovo.

Aqui, o menino fez parar o coração dos pais. Inteiramente esquecido da altura a que estava, procedera como se viver ali, perto do céu, fosse viver na terra, sem precisão dos braços cautelosos agarrados a nada. E ambos viram num relance o pequeno rolar, cair do alto, da ponta do cedro, no chão duro e mortal de Nazaré.

Mas a criança, apesar de mostrar, sem querer, que de todo se alheara do abismo sobre que pairava, não caiu. Acontecera outra coisa. Depois de pegar no ovo, de contente, dera-lhe um beijo. E, ao simples calor da sua boca, a casca estalara ao meio e nascera de lá de dentro um pintassilgo depenadinho.

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A borboleta

De manhã bem cedouma borboletasaiu do casulo.Era parda e preta.

Foi beber ao açude.Viu-se dentro da água.E se achou tão feiaque morreu de mágoa.

Ela não sabia— boba! — que Deus deupara cada bichoa cor que escolheu.

Um anjo a levou,Deus ralhou com ela,mas deu roupa novaazul e amarela.

Odylo Costa Filho (Brasil), in Primeiro livro de poesia

E o menino contava esta maravilha com a sua inocência costumada, como quando repetia a história de José do Egipto, que ouvira ler a um vizinho.

Por fim, pôs amorosamente o passarinho entre a penugem da cama, e desceu. E agora, um nada comprometido, mas cheio da sua felicidade, sabia um ninho.

A ceia acabou num silêncio carregado. Só depois, à volta do lume quente do cepo de oliveira em brasido, é que os pais disseram um ao outro algumas palavras enigmáticas, que o pequeno não entendeu. Mas para quê entender palavras assim? Queria era guardar dentro de si a imagem daquele passarinho depenado e pequenino. Isso, e ao mesmo tempo olhar cheio de deslumbramento os dedos da Mãe, que, alvos de neve, fiavam o linho.

E tanto se encheu da imagem do pintassilgo, tanto olhou a roca, o fuso, e aqueles dedos destros e maravilhosos, que daí a pouco deixou cair a cabeça tonta de sono no regaço virgem da Mãe.

Miguel Torga, Os Bichos

Cepo: Pedaço de tronco; toro.

Manhuço: Conjunto de coisas que se podem abarcar com a mão; mão-cheia.

Toco: Pau curto.

Vergôntea: Ramo tenro de árvore.

Vocabulário

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203

Nos textos bíblicos do Antigo Testamento, o cordeiro simboliza a inocência e a fragilidade. Quando o povo israelita, pela força libertadora de Deus, foi salvo da escravidão do Egipto, as portas das famílias israelitas foram marcadas com o sangue do cordeiro para simbolizar o poder protector de Deus. A partir deste acontecimento, o povo passou a comemorar a Páscoa com uma refeição em que é servido cordeiro.

O simbolismo associado ao cordeiro foi retomado pelo cristianismo e transposto do contexto da Páscoa judaica para a Páscoa cristã. A morte e a ressurreição de Jesus Cristo determinaram definitivamente a simbolo-gia do cordeiro: Jesus Cristo é o cordeiro inocente, sacrificado para a salvação da humanidade.

A sImBologIA JudAIco- -crIstã dos AnImAIs

Jo 1, 29

Procura na Bíblia

A Crucifixão do Altar de Isenheim, por Matthias GrunewaldAltar Agnus Dei, por Jan v. Eyck

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204

O rebanho de ovelhas está, desde muito cedo, associado à representação do povo de Deus. No Novo Testamento, Jesus Cristo é o bom pastor que conduz as ovelhas (todos os que nele acreditam) para a salvação.

O dragão e a serpente simbolizam, na Bíblia, o mal, personificado na figura do Diabo, do Demónio ou de Satanás. Jesus Cristo é o vencedor do mal; por isso, nas representações de arte cristã, aparece, directa ou indirectamente, a destruir as forças do mal, simbolizadas pelo dragão ou pela serpente.

Mosaico Bom Pastor com o seu rebanho, mausoléu de Galla Placidia

O Arcanjo São Miguel e São Jorge são representados a aniquilar o dragão, numa alusão à vitória do bem sobre o mal.A Virgem Maria, sob a designação de Nossa Senhora da Conceição, é representada calcando aos pés a serpente.

Para saberes mais

Vitral Virgem Maria com o Meninoe S. Miguel Arcanjo degolando o Dragão, por Giuseppe Modolo

Sl 74

Procura na Bíblia

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205

O porco é, na tradição bíblica, o símbolo por excelência da impureza, razão pela qual está proibido o seu consumo a todo o israelita. Por influência do Judaísmo, também o Islamismo proíbe o consumo de carne de porco.

Um texto do livro do Apocalipse (4, 6ss) descreve a existência de quatro seres vivos que estão junto do trono de Deus: o primeiro é semelhante a um leão, o segundo a um touro, o terceiro tem a face semelhante à de um homem e o quarto é semelhante a uma águia em voo. Estes seres representam, no texto do Apocalipse, os quatro anjos que governam o mundo físico e as suas formas simbolizam o que há de mais nobre (leão), de mais forte (touro), de mais sábio (homem) e de mais ágil (águia) na criação.

A tradição cristã posterior identificou estas figuras com os quatro evangelistas: o leão representa Marcos, o touro representa Lucas, a figura humana (ou de um anjo) simboliza Mateus e a águia representa João.

A Pomba é, fundamentalmente, símbolo de pureza e de simplicidade. No Antigo Testamento, quando transporta um ramo de oliveira para a arca de Noé, é símbolo da esperança e da felicidade reencontrada. No Novo Testamento representa também o Espírito de Deus.

Os símbolos dos evangelistas, por Philip Webb

Ez 1, 4-14

Procura na Bíblia

Baptismo de Jesus, por Piero della Francesca

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A inteligência e a liberdade permitem ao ser humano dominar os animais. Mas esta supremacia aumenta também a sua responsabilidade ética. Dominar não significa simplesmente agir como se quer, a partir dos próprios caprichos e interesses pessoais.

A relação do ser humano com a natureza, em geral, e com os animais, em particular, deve ser marcada por critérios éticos. Todas as espécies, enquanto parte integrante dos ecossistemas e enquanto criadas por Deus, têm direito à sobrevivência e a não serem sujeitas à crueldade humana. O ser humano precisa dos animais para sobreviver. Tem de se alimentar da sua carne. Mas isso não é razão para se provocar sofrimento injustificado a um animal.

crItérIos étIcos nA relAção com os AnImAIs

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Os maus tratos a animais e a sua utilização para fins ilícitos são ofensas à natural relação do ser humano com as outras espécies.

A morte de animais, muitas vezes de forma bárbara, apenas para lhes retirar a pele, os dentes ou outros componentes do seu corpo, que se revelam rentáveis no mercado, é um atentado ao dever que o ser humano tem de tratar dignamente os animais. Noutras situações, criam--se animais para exploração económica, mas não se lhes proporcionam espaços adequados ao seu bem-estar. Isso acontece tanto no transporte como nos espaços em que são criados. São exemplo disso os aviários, que se encontram repletos de animais e não possuem um espaço mínimo condigno para os mesmos.

Outras vezes, provoca-se-lhes sofrimento apenas para divertimento humano. As touradas, as lutas de galos, o desenvolvimento dos instintos mais agressivos dos cães, para os tornar aptos a lutar com outros cães, entre outros, são apenas exemplos da maneira egoísta como os seres humanos se relacionam com os animais.

O Parlamento Europeu deu directrizes a todos os Estados Membros no que diz respeito à utilização de animais em investigação científica, no sentido de substituir a sua utilização por outros métodos válidos ou, quando tal não for possível, de reduzir a sua utilização ao mínimo indispensável e de aperfeiçoar a legislação relativa à utilização de animais, salvaguardando os seus direitos, reduzindo ou eliminando a utilização de métodos que causam dor.

A União Europeia promulgou legislação proibindo a circulação e comercialização de produtos que contenham pele de gato e de cão. É também interdita a utilização e comercialização de peles de animais em vias de extinção.

O reconhecimento, por parte do ser humano, do direito à existência das outras espécies é fundamental para a garantia da coexistência de todas as espécies no mundo e para a preservação do equilíbrio do ecossistema.

O desconhecimento, o egoísmo e a ambição levam, muitas vezes, o ser humano a matar de forma cruel e a infligir sofrimento aos animais. Para garantir que os animais são respeitados e que os seus direitos não são postos em causa, a UNESCO proclamou a Declaração Universal dos Direitos dos Animais a 27 de Janeiro de 1978, em Bruxelas.

Regulamento (CE) n.º 1523/2007 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de Dezembro de 2007

Artigo 3.ºÉ proibida a colocação no mercado e a importação e exportação comunitárias de peles de gato e de cão e de produtos que as contenham.

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Declaração Universal dos Direitos dos AnimaisUNESCO

27 de Janeiro de 1978

PREÂMBULO— Considerando que todo o animal possui direitos,— Considerando que o desconhecimento e o desprezo destes direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza,— Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo,— Considerando que os genocídios são perpetrados pelo ser humano e há o perigo de continuar a perpetrar outros,— Considerando que o respeito dos ser humano pelos animais está ligado ao respeito do ser humano pelo seu semelhante,— Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais.

PROCLAMA-SE O SEGUINTE:Artigo 1.º

Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm o mesmo direito à existência.

Artigo 2.ºa) Todo o animal tem o direito de ser respeitado.b) O ser humano, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais ou de os explorar, violando esse direito. Tem a obrigação de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais.c) Todos os animais têm direito à atenção, aos cuidados e à protecção do ser humano.

Artigo 3.ºa) Nenhum animal será submetido a maus tratos nem a actos cruéis.b) Se a morte de um animal é necessária, esta deve ser instantânea, indolor e não geradora de angústia.

Artigo 4.ºa) Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático, e a reproduzir-se.b) Toda a privação de liberdade, incluindo aquela que tenha fins educativos, é con-trária a este direito.

Artigo 5.ºa) Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente em contacto com o ser humano tem direito a viver e a crescer ao ritmo das condições de vida e liberdade que sejam próprias da sua espécie.b) Toda a modificação do dito ritmo ou das ditas condições, que seja imposta pelo ser humano com fins comerciais, é contrária ao referido direito.

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Artigo 6.ºa) Todo o animal que o ser humano tenha escolhido por companheiro tem direito a que a duração da sua vida seja conforme à sua longevidade natural.b) O abandono de um animal é um acto cruel e degradante.

Artigo 7.ºTodo o animal de trabalho tem direito a um limite razoável de tempo e intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso.

Artigo 8.ºa) A experimentação animal que implique um sofrimento físico e psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de experimentações médicas, científicas, comerciais ou qualquer outra forma de experimentação.b) As técnicas experimentais alternativas devem ser utilizadas e desenvolvidas.

Artigo 9.ºQuando um animal é criado para a alimentação humana, deve ser nutrido, instalado e transportado, assim como sacrificado sem que desses actos resulte para ele motivo de ansiedade ou de dor.

Artigo 10.ºa) Nenhum animal deve ser explorado para entretenimento do ser humano.b) As exibições de animais e os espectáculos que se sirvam de animais são incom-patíveis com a dignidade do animal.

Artigo 11.ºTodo o acto que implique a morte de um animal, sem necessidade, é um biocídio, ou seja, um crime contra a vida.

Artigo 12.ºa) Todo o acto que implique a morte de um grande número de animais selvagens é um genocídio, ou seja, um crime contra a espécie.b) A contaminação e destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.

Artigo 13.ºa) Um animal morto deve ser tratado com respeito.b) As cenas de violência nas quais os animais são vítimas devem ser proibidas no cinema e na televisão, salvo se essas cenas têm como fim mostrar os atentados contra os direitos do animal.

Artigo 14.ºa) Os organismos de protecção e salvaguarda dos animais devem ser representados a nível governamental.b) Os direitos dos animais devem ser defendidos pela lei como os direitos humanos.

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Em Portugal, a Assembleia da República também legislou no sentido de garantir a defesa e protecção dos animais. Na lei, estão proibidos maus tratos e violência praticada sobre animais, o abandono, na via pública, de animais que foram criados em ambiente doméstico, a utilização de animais para diversos fins desde que daí resulte sofrimento considerável e desnecessário.

Lei n.º 92/95 de 12 de SetembroProtecção aos animais

Artigo 1.º

1. São proibidas todas as violências injustificadas contra animais, considerando--se como tais os actos consistentes em, sem necessidade, se infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal.

2. Os animais doentes, feridos ou em perigo devem, na medida do possível, ser socorridos.

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Francisco de Assis tratava a natureza e todas as criaturas com respeito e amor. Vivia próximo da natureza e compreendia a relação harmoniosa que deve existir entre todos os elementos da criação. Tratava todas as criaturas como irmãs, pois tudo é obra do Criador.

Em 1929, foi proclamado o dia 4 de Outubro, data da morte de São Francisco, como dia mundial dos animais. O Papa João Paulo II, a 29 de Novembro 1979, declarou São Francisco de Assis padroeiro dos cultivadores da ecologia.

são FrAncIsco de AssIs pAtrono dos AnImAIs

Estátua de São Francisco de Assis, por Betty Sabo, Novo México, Estados Unidos da América

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Francisco de Assis e o irmão Lobo

Aconteceu em Gúbio, cidade da Úmbria, no século XII.

A cidade estava tomada de grande pavor. Todos temiam um terrível lobo que habitava a floresta da região. O lobo devorava animais e homens e ninguém estava livre de perigo. Para se protegerem, ergueram muralhas altas, reforçaram todas as portas e todos se encontravam armados.

Nesta cidade onde reinava o medo vivia Francisco de Assis. Era um homem bom que transmitia bondade em todos os seus gestos. Francisco, que amava tudo o que o rodeava — e a natureza e os animais não eram excepção —, estranhou muito o comportamento do lobo. Percebendo que o problema deveria ser mediado com bondade, resolveu interferir para ajudar. Francisco foi ao encontro do lobo. Estava desarmado e apenas levava bondade, simpatia e benevolência no seu coração. O lobo, quando o viu, dirigiu-se a Francisco determinado a atacar. Ao chegar junto a Francisco ficou surpreendido com o seu olhar bondoso e parou.

Francisco dirigiu-lhe a palavra:

— Irmão lobo, quero conversar contigo. Se me estiveres a compreender, dá-me a tua pata.

O lobo levantou, confiante, a pata da frente e colocou-a na mão de Francisco.

Francisco falou de forma cordial ao lobo:

— Irmão lobo, vou fazer um pacto contigo. A partir de hoje eu cuido de ti como meu irmão. Vou levar-te para minha casa, dou-te comida e tu vais acompanhar-me como um amigo! Peço-te que sejas amigo de todas as pessoas desta cidade. Agora que tens carinho, comida e uma casa não precisas de matar e agredir para sobreviver.

O lobo aceitou o afecto de Francisco e entrou na cidade com bondade. A população da cidade percebeu a transformação que se tinha dado no lobo e também o acolheu, prometendo-lhe protecção e alimento. O lobo pôde então viver como um irmão da população, morreu de velhice e todos ficaram muito tristes nesse dia.

Ainda hoje, na cidade de Gúbio, os ossos do lobo se encontram depositados num sarcófago de pedra.

Adaptação da lenda do irmão lobo, do livro I Fioretti

O livro I Fioretti é uma obra da literatura italiana que contém lendas relativas a São Francisco de Assis.

Para saberes mais

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A legislação portuguesa garante aos cidadãos o direito de constituírem associações que promovam os direitos dos animais. Estas associações zoófilas dedicam-se à denúncia de maus tratos infligidos a animais, promovem o tratamento e recuperação de animais maltratados, facilitam a adopção de animais e pressionam o poder político no sentido de criar legislação que garanta a defesa dos seus direitos.

AssocIAções de deFesA dos AnImAIs e escutIsmo

Lei n.º 92/95 de 12 de SetembroProtecção aos animais

Artigo 10.ºAssociações Zoófilas

As associações zoófilas legalmente constituídas têm legitimidade para requerer a todas as autoridades e tribunais as medidas preventivas e urgentes necessá-rias e adequadas para violações em curso ou iminentes.

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Os escuteiros fomentam o contacto com a natureza e procuram pro-mover atitudes de respeito pela sua integridade. Assumem também o com-promisso de respeitar os animais.

Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista

Artigo 2.ºPrincípios

A Lei do Escuta6. O Escuta é amigo dos animais.

Lei e PromessaTodos os membros do CNE aderem voluntariamente a uma lei nos termos seguintes:

LEI

A honra do Escuta inspira confiança.O Escuta é leal.O Escuta é útil e pratica diariamente uma boa acção.O Escuta é amigo de todos e irmão de todos os outros Escutas.O Escuta é delicado e respeitador.O Escuta protege as plantas e os animais.O Escuta é obediente.O Escuta tem sempre boa disposição de espírito.O Escuta é sóbrio, económico e respeitador do bem alheio.O Escuta é puro nos pensamentos, nas palavras e nas acções.O Escutismo foi fundado

por Robert Baden-Powell, em 1907. Baden-Powell ficou órfão de pai com três anos, encontrou na mãe e nos seis irmãos o apoio necessário ao seu crescimento e viveu uma infância feliz. Foi militar e utilizou a sua experiência na fundação de uma instituição destinada a formar jovens ingleses que vagueavam pelas ruas. Assim nasceu o movimento escutista, que rapidamente se tornou popular e se difundiu por diversos países.

Para saberes mais

Concentração de jovens escuteiros, XIX Acampamento do Corpo Nacional de Escutas, Nazaré

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