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O COMEÇO 71 çamento, nomeação do pessoal e cuidado e disciplina dos alu- nos. Se o diretor tiver uma personalidade forte ou fundou o cen- tro de treinamento, existe a possibilidade dele ou dela dominar o pessoal e assumir total responsabilidade pelas decisões sobre o centro e seu desenvolvimento. É importante então que faça relatórios regulares ao conselho sobre as decisões tomadas e os fundos gastos. Os diretores prudentes irão pedir a opinião do seu pessoal sempre que possível, e se interessarão pelo seu bem-estar. Os professores dos centros de treinamento devem ser cristãos maduros que tiveram alguns anos de experiência no minis- tério cristão. Eles sem dúvida contribuirão com idéias valiosas sobre o funcionamento do centro, e devem ser consultados an- tes de qualquer decisão importante ser tomada. Os líderes irão também incentivar o pessoal administrativo e valorizar a contribuição distinta que os seus membros fazem para o funcionamento eficaz do programa. Uma reunião se- manal da equipe ajudará a mantê-los informados e abrirá es- paço para debates animados e oração. Os funcionários de um centro de treinamento podem ser nomeados para um período determinado de tempo, depois do que podem ser renomeados por consentimento mútuo. Seu contrato inicial deve estabelecer claramente os seus deveres e responsabilidades e as responsabilidades do centro para com eles; a saber, detalhes de salário, pensão, progresso na carreira e férias. Trabalho com a Igreja Local As igrejas locais devem envolver-se de perto no estabelecimen- to de um novo programa de treinamento missionário, desde o momento de sua implantação. A igreja local éa principal agência da missão. Foi a igreja de Antioquia que enviou Paulo e Barnabé (At 13:1-4). Embora a igreja local não possa fornecer a amplitude de conhecimento e experiência disponíveis num

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O COMEÇO 71

çamento, nomeação do pessoal ecuidado edisciplina dos alu-nos.

Se o diretor tiver uma personalidade forte ou fundou o cen-tro de treinamento, existe apossibilidade dele ou dela dominaro pessoal e assumir total responsabilidade pelas decisões sobreo centro e seu desenvolvimento. É importante então quefaçarelatórios regulares ao conselho sobre as decisões tomadas e osfundos gastos.

Os diretores prudentes irão pedir aopinião do seu pessoalsempre quepossível, e se interessarão pelo seu bem-estar. Osprofessores dos centros de treinamento devem ser cristãosmaduros quejá tiveram alguns anos de experiência no minis-tério cristão. Eles sem dúvida contribuirão comidéias valiosassobre o funcionamento do centro, e devem ser consultadosan-tes de qualquer decisão importante ser tomada.

Os líderes irão também incentivar o pessoal administrativoevalorizar a contribuição distinta que os seus membros fazempara o funcionamento eficaz do programa. Uma reunião se-manal da equipe ajudará a mantê-los informados eabrirá es-paço para debates animados eoração.

Os funcionários de um centro de treinamento podem sernomeados para um período determinado de tempo, depois doquepodem ser renomeados por consentimento mútuo. Seucontrato inicial deve estabelecer claramente os seus deveres eresponsabilidades eas responsabilidades do centro para comeles; asaber, detalhes de salário, pensão, progresso na carreiraeférias.

Trabalho com a Igreja LocalAs igrejas locaisdevem envolver-se de perto no estabelecimen-to de um novo programa de treinamento missionário, desde omomento de sua implantação. A igreja local é a principalagência da missão. Foia igreja de Antioquia que enviouPauloeBarnabé (At 13:1-4). Embora aigreja local não possa fornecera amplitude de conhecimento e experiência disponíveis num

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programa de treinamento especializado, é necessário queela seenvolva o máximo possível no estabelecimento de tais progra-mas.

As igrejas locais desempenham uma parte importantíssimana vida de cada futuro missionário. Elas agem em relação aeles como uma parteira espiritual. Carregam nos ombros ares-ponsabilidade pelodiscipulado inicial dos mesmos. Fornecemo contexto inicial e as oportunidades para que desenvolvamsuas habilidades de ministério. Avaliamaautenticidade de seuchamado missionário e sua aptidão para o serviço transcultu-ral. Elas podemigualmente envolver-se como aluno durante oseu período de preparação formal no centro de treinamento,oferecendo cuidados pastorais eapoio financeiro e em oração.

De igual modo,as igrejas locaispodem envolver-se de pertocom o centro de treinamento. Se, como igrejas, forem dedica-das à missão mundial, desejarão também comprometer-se como treinamento de missionários.

Primeiro, seu apoio ao centro de treinamento pode ser fi-nanceiro. Ao planejarem suas contribuições podem separaruma parte para o trabalho do centro de treinamento.

Segundo, os membros da igreja local podem servir no con-selho do centro. É possível quehaja especialistas em áreas taiscomo finanças, construção, educação ou assuntos legais; essesconhecimentos podem contribuir vitalmente para o funciona-mento de uma instituição. Um dos presbíteros pode tambémservir no conselho e oferecer supervisão pastoral ao staffeaosalunos.

Terceiro, a igreja local pode dar assistência prática ao cen-tro. Os membros podem doar móveis ou roupas. A All Nationsrecebe constantemente roupas de segunda mão de boa quali-dade, que são colocadas no “Porão das Barganhas”, onde osestudantes (e aequipe) podem servir-se àvontade delas. A fa-culdade recebe também um fluxo constante de móveis, inclu-sivecamas, cômodas, mesas, cadeiras e fogões. Em certa oca-sião foram recebidos mais guarda-roupas do que o necessário

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ea faculdade ficou então com a aparência de urna loja de mó-veisusados.

Membros da igreja local podem ocasionalmente doar urnapropriedade para ser usada pelo centro de treinamento ou in-cluir o centro como beneficiário em seu testamento. Um centroadquiriu um prédio novo como resultado da doação de umasenhora queacabara de receber umagrande herança. Ela quisdar o dinheiro ao Senhor antes de ser tentada a gastá-lo consi-go mesma.

Certo diretor financeiro costumava pedir às visitas que selembrassem das necessidades do centro de treinamento emseu testamento. Depois se apressava em dizer-lhes quese tives-sema amabilidade de dar algum dinheiro dessa forma, elees-perava sinceramente não recebê-lo cornmuita brevidade!

Um dos exemplos mais notáveis do envolvimento de umaigreja local com um centro de treinarnento que já vi foi noGMTC na Coréia. Todos os dias, um grupo de senhoras deumadas igrejas locais oferece o almoço aos estudantes, às suasfamílias eaos funcionários do GMTC. Embora recebam algumdinheiro para a compra de suprimentos, elas no geral com-pram coisasextras e servem uma comida deliciosa. A comuni-dade no GMTC é bemalimentada eas senhoras desenvolve-ram interesse pela missão mundial e sentem que participam dotreinamento dos missionários.

Quarto, e talvez mais importante que tudo, a igreja localpode apoiar o centro através de orações regulares. O GMTCsurgetambém neste setor como um bom exemplo. Durante osúltimos 12 anos um grupo de senhoras cristãs do local se reúneacada quinze diaspara orar pelotrabalho do GMTC e pelos es-tudantes que estão se preparando ali para ser missionários.

Resumo ~Os que iniciam um centro de treinamento devem tomar váriasdecisões importantes: eles devem escolher o local mais apropri-ado;devem decidir se vão abrir o centro independentemente

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ou em colaboração com outros; devem determinar sua políticacom relação a taxas, salários e projetos; devem definir clara-mente as responsabilidades do conselho, do diretor e dostaff; edevem decidir trabalhar o mais perto possível com as igrejaslocais.

Notas1. Ebenezer Sunder Raj, ed., The Management of Indian

Missions (Madras, Índia: India Missions Association,1992), 185-187.

2. Raja B. Singh, cap. 9-10 em The Management of IndianMissions, ed. Ebenezer Sunder Raj (Madras, Índia: IndiaMissions Association, 1992), 63-88.

3. Veja, por exemplo, os capítulos sobre a formação de umasociedade, gerenciamento de uma reunião de negócios,administração de propriedades eestilo de liderança.

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5QUEM FAZ O TREINAMENTO?

“Os que podem, fazem. Os que não podem, ensinam.” Esse éum conhecido ditado. Pode sermais fácil falar sobre como umtrabalho deve ser feito do que fazê-lo. Isto écertamente verda-de na área de missões. É possível ler livros sobre a história dasmissões, ou escrever teses sobrea teologia da missão, sem sabernada do queé sermissionário. Os maisqualificados na discipli-na acadêmica da missiologia não são necessariamente as pes-soas mais adequadas para treinar missionários. Quem são en-tão os melhores treinadores de missionários e quais as qualifi-cações exigidas deles?

Missionários ExperimentadosOs treinadores deveriam ser, idealmente, pessoas que tiveramuma experiência transcultural. Eles devem ter passado pelochoque de viver numa cultura estrangeira; devem ter lutadocom os problemas de aprender um novo idioma; devem terenfrentado as pressões da guerra espiritual na linha de frente.Alguns terão ouvido os gritos dos mendigos nas ruas; outros

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terão sentido o mau cheiro dos esgotos a céu aberto. Eles nãodevem sermissionários de poltrona, que só teorizam sobreasmissões. Devem ter tido experiência de primeira mão.

O AMTCno Brasil procura “pelo menos alguma experiên-cia transcultural”. O GMTC na Coréia declara, “Nossa ten-dência éescolher quem tenha alguma forma de experiênciatranscultural”. O OTI na Índia só nomeia pessoal que tenhatido um mínimo de dois anos de experiência em trabalho mis-sionário transcultural. Titus Loong, queserviu como Diretordo ACTI em Cingapura eestá no processo de abrir um novocentro de treinamento missionário em Hong Kong, diz quegostaria de ter funcionários com “10 anos de experiênciamissionária transcultural”.

Os que já serviram como missionários podem ensinar comautenticidade, porque ensinam por experiência própria. Essesobreiros preparam outros para fazero que eles mesmos já fize-ram. Seus seminários podem ser ilustrados com situações queenfrentaram pessoalmente, assim como comexemplos de bio-grafias missionárias.

Se eles começaram originalmente como missionários alon-go prazo, em vez de a curto prazo, serão capazes de prepararmelhor oscandidatos para as pressões que vão encontrar. Te-rão conhecido as pressões mais severas e o choque culturalmais pesado que confrontam o missionário a longo prazo. Po-derão contar aos alunos como as coisas eram realmente e asáreas em queeles poderão ter dificuldades.

Antes de nos tornarmos missionários na África,o diretor dafaculdade nos alertou sobre a incompreensão e animosidadeque poderíamos encontrar. Ele havia servido como missionáriona África Ocidental efalava por experiência própria. Advertiuque alguns suspeitariam dos nossos motivos, suspeitando atéde termos ido como espiões do governo inglês ou agentes daCIA! Outros, sugeriu ele, poderiam supor que éramos ociden-tais arrogantes, convencidos da nossa superioridade racial eprocurando meios de explorar o seu país. Ficamos surpresos ao

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saber que alguns africanos, inclusive alguns cristãos africanos,poderiam considerar-nos desse modo. Quando fomos para aÁfrica encontramos de fato, ocasionalmente, esse tipo de atitu-de, mas o choqueque experimentamos foi muito menor do quepoderia ter sido. Nosso diretor nos preparara bem, mas sópôde fazer isso por ter sido ele mesmo um missionário.

Um casal japonês experimentou hostilidade durante seuserviço missionário na Indonésia. OJapão ocupou a Indonésiadurante a Segunda Guerra Mundial. Para alguns indonésiosos eventos daqueles anos estavam aindafrescos em suamemó-ria. Levou tempo para os missionários derrubarem essa barrei-ra de ressentimento e formarem amizades íntimas. Quandovoltaram para casa, depois de alguns anos de ministério eficaz,puderam preparar outros cristãos japoneses em treinamentopara servir em países asiáticos que tinham sido ocupados pe-los japoneses.

Um grande número de brasileiros tem ido para Portugalcomo missionários por causa da ligação histórica entre essesdois países ea linguagem comum. Eles esperam o mesmo tipode reação entusiasta ao evangelho e o mesmo crescimento es-petacular da igreja queviram no Brasil. Logo, porém, desco-brem que Portugal é um país muito diferente do seu e queoevangelismo ébem mais difícil eexige grande perseverança.Alguns acham que as diferenças e dificuldades são grandesdemais e voltam desiludidos para casa. Outros aprendem aenfrentar a situação e a adaptar-se ao seu novo ambiente.Quando voltam um dia para casa, depois de anos de serviçoprodutivo, têm experiência suficiente para preparar outrosbrasileiros para trabalharem num contexto similar.

Não há substituto para a experiência. Todavia, leva-se tem-po para ganhá-la. Isto representa um problema para as igrejasmais novas do mundo em desenvolvimento. Elas só recente-mente começaram aenviar missionários em números signifi-cativos e têm ainda relativamente poucos missionários comuma experiência transcultural extensa.

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Uma solução para este problema écompletar o ensino dostreinadores nacionais relativamente inexperientes com visitasprolongadas de obreiros nacionais experimentados ede algunsexpatriados. Esta é, por exemplo, a política seguida pelaAgapeMissions and Evangelistic Network na Nigéria. Elesoferecem umano de um programa de treina mento missionário que incluium período de três meses passado numa situação de evange-lismo pioneiro. Alguns quecompletam este curso edemons-tram possuir os dons necessários, ficam encarregados de trei-nar o grupo seguinte de candidatos. Sua relativa falta de expe-riência é compensada pelo queaprendem comaqueles já bemexperimentados no campo ecom avisita de alguns professoresd’além-mar.

Os que estabeleceram programas de treinamento podemajudar apreparar os que irão abrir novas instituições de trei-namento. Estaé avisão de Bayo e NaomiFamonure, que têma responsabilidade, junto à Association of Evangelicals ofAfrica, de incentivar acriação de centros de treinamento mis-sionário por todo o país. Eles oferecemcursos de treinamentopara treinadores.

Um dos beneficiados com esse treinamento foi LucyMuguiyu, que esteve envolvida em evangelismo no Quênia.Ela foi à Nigéria para treinar como missionária e como treina-dora de missionários. Quando completou o curso ganhou umpouco mais de experiência no evangelismo rural pioneiro, an-tes de voltar ao Quênia para abrir um novo centro de treina-mento missionário transcultural em Nairóbi. Lucy começou atreinar homens e mulheres que voltariam às suas casas paraabrir centros de treinamento em outras partes da África Orien-tal.

Apresente escassez de treinadores experimentados desa-parecerá à medida que os cristãos locais ganharem mais expe-riência e qualificações. Nesse intervalo, a InternationalMissionary Training Fellowship (sob a World EvangelicalFe!lowship Missions Commission) está procurando encorajar o

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desenvolvimento de novos programas de treinamento, custe-ando as visitas de associados experimentados e qualificadoscomo treinadores. A WEF Missions Commission também usaseus recursos financeiros limitados para custear as despesas detreinadores e candidatos a treinadores para visitarem e faze-rem estudos dos centros de treinamento em outras partes domundo.

Qualificações AcadêmicasOs centros de treinamento diferem consideravelmente quantoaos requisitos acadêmicos exigidos de seus funcionários. Al-guns procuram professores com “habilidade práticae conhe-cimento básico da matéria”. Outros exigem pelo menos umdiploma. Alguns preferem que aequipe tenha um diploma dehabilitação em missiologia, mas não consideram os diplomascomo o seu pré-requisito mais importante.

O diretor de um centro comentou queembora uma licenci-atura em letras fosse uma qualificação positiva para seusprofessores, uma boa experiência do campo, sensibilidadetranscultural e facilidade de comunicação eram ainda maisimportantes. Outro centro asiático, onde inúmeros alunospossuem diploma em teologia, prefere que osprofessores te-nham um bacharelado ou atéum doutorado em missiologia;mas, mesmo assim, “optam por um cristão sensível, amadure-cido, com dom para o treinamento”.

No Reino Unido, e em muitos outros países, não era possí-vel obter diploma em missiologia até recentemente e os treina-dores eramentão escolhidos de acordocom a sua experiênciae dom em vez de serem selecionados pelos diplomas que pos-suíam.

Os treinadores precisam conhecer bem sua matéria, numnível apropriado ao seu contexto e à capacidade acadêmicade seusalunos. Elespodem estar ensinando indivíduos que sóreceberam uma educação básica. Em algumas partes daTanzânia, por exemplo, a igreja está se expandindo tão rapi-

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damente que há uma demanda constante de novos evangelis-tas e obreiros da igreja. Muitos são enviados para trabalharentre pessoas cuja língua ecultura são diferentes das suas.

Trata-se, na verdade, de pessoas exercendo o papel de mis-sionários transculturais. Suas necessidades iniciais de trêsme-ses de treinamento devem incluirensinobíblico e aprendizadobásico do idioma, assim como de comunicação transcultural.Alguns desses evangelistas receberam pouca educação for-mal; mas estão mostrando, entretanto, grande eficácia na im-plantação de igrejas. Eles não precisam de certificados ou di-plomas para o seu ministério, nem precisam ser professoresaltamente qualificados; a sua necessidade é de companheirosque possam ajudá-los aevangelizar, estudar a Bíblia, aprendernovos idiomas ecompreender outras culturas.

Na Nigéria, muitos dos que estão fazendo evangelismotranscultural completaram a escola secundária ou a universi-dade. Eles apreciam professores que estudaram questõesmissiológicas, mas também precisam aprender com aquelesque têm experiência em evangelismo pioneiro nas aldeias. NoBrasil, Índia e Filipinas, muitos estão planejando ministrarentre a população urbana carente, necessitando então de trei-nadores com conhecimento de questões relevantes e capacida-de para ensinar mas, acima de tudo, com experiência em cor-tiços efavelas.

Os queestão se preparando para ministrar entreestudan-tes e profissionais de boa cultura têm necessidade de um bomnível de treinamento acadêmico e, portanto, gostam de profes-sores bem qualificados. Todavia, aexperiência eas habilidadesde ensino dos treinadores são mais importantes do quea quan-tidade equalidade dos seus diplomas. Naprática, as qualifica-ções acadêmicas exigidas da equipe nos centros de treinamen-to missionário irão variar de acordo comos padrões educacio-nais de um determinado país, o nível acadêmico do corpo do-cente e o ministério esperado dos candidatos.

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Habilidades de ComunicaçãoOs treinadores de missionários precisam ser bons comunica-dores. É uma qualidade se forem professores qualificados,mas, caso não sejam, devem ter dotes para ensinar. Não épos-sível dar como certo que todosos que possuem um diploma deteologia ou foram treinados para serpastores saibam ensinar.Eimportante ouvir um candidato a membro da equipe de trei-nadores pregar ou ensinar, a fim de poder avaliar se ele ou elatem boa capacidade de comunicação. Os missionários podemter 10 ou 20 anos de experiência, mas, se não puderem inter-pretar as suas experiências de sucesso e fracasso a fim de ensi-nar outros, não serão bons treinadores. Se os ex-missionáriosforem comunicadores ineptos etediosos, fracassarão em suatentativa de incentivar o interesse dos alunos.

Os treinadores devem mostrar entusiasmo em relação àte-oria e prática das missões e devem poder comunicar seu co-nhecimento e entusiasmo aos seus alunos. É preciso que sai-bam tornar o material relevante einteligível para os estudan-tes. É melhor ter um professor com poucas qualificações mashabilidades positivas de comunicação, do que um doutor commuitosanos de experiência, cujo ensino é irrelevante eincom-preensível.

Os bons comunicadores usam diversos instrumentos emé-todos de comunicação para prender o interesse dos alunos eestimular suas mentes. Eles os envolvem ativamente no pro-cesso de aprendizado, edificando sobre a sua experiência econhecimento anteriores e desafiando-os constantemente aver as implicações do que estão aprendendo para o seu futuroministério. Seu objetivo nãoé transmitir tudo o que sabem eimpressionar a todos com a sua erudição, mas facilitar o pro-gresso das habilidades de aprendizado e os dons ministeriaisdos alunos.

Habilidades de RelacionamentoUma outra qualidade essencial do treinamento de missionári-

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osé acapacidade para trabalhar bem com outros! Os que lide-ram e ensinam em qualquer comunidade cristã precisam tra-balhar harmoniosamente com seus colegas. Os estudantes fi-carão atentos para ver como o staffse relaciona. Eles irão notarqualquer discórdia, sentimentos negativos ou críticas entre osprofessores.

Consciente ou subconscientemente, os estudantes conside-ram os professores o modelo de como oslíderes cristãos traba-lham juntos. Os próprios alunos, quando iniciam o ministério,enfrentam a perspectiva de trabalhar com diferentes pessoas.Algumas serão mais velhas e outras mais jovens do quenós.Algumas virão de outros países ou tribos. Algumas falarãooutros idiomas. Outras ainda pertencem adiferentes denomi-nações.Os estudantes sabem que não será fácil o trabalho comuma variedade assim tão ampla de colegas. Eles devem terouvido também histórias de horror arespeito do fracasso dosmissionários em conviverem harmoniosamente entre si. De-vem ter igualmente observado a amarga rivalidade entre oslíderes em suas próprias igrejas.

Quando tais alunos chegam a um centro de treinamento demissionários, onde a diversidade cultural pode levar a mal-entendidos e tensão, é especialmente importante que o stafftrabalhe bem como equipe e ofereça um bom modelo. Destaforma, os alunos vão aprender como os cristãos de ambientesou denominações diversos podemmostrar sensibilidade econ-sideração mútuas e fazer um bom trabalho de equipe.

Há alguns anos um novo diretor foi nomeado para umapequena faculdade bíblica. Os estudantes eram poucos e al-guns membros do conselho opinaram que a escola devia fe-char. O novo diretor, um missionário experimentado, estavadecidido afazer da escola um sucesso eoferecer o melhor pro-grama de treinamento missionário possível. Para alcançaristo, ele compreendeu que precisava de pessoal que trabalhas-se bem em equipe e se relacionassebem com osalunos. Tomou

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a decisão de escolher pessoas que tivessem boas habilidadesrelacionais. “Quero que o meu pessoal se entenda bem comoutros e goste de estar com eles”, explicou ele. “Quero ‘gente’que seja gente.”

Esta política emuita oração produziram os resultados dese-jados. A equipe trabalhou harmoniosamente. Havia diferen-ças de opinião e algum conflito; mas, como no casamento,cada um se sentia ligado ao outro etodo o pessoal trabalhouduro para manter sua unidade como equipe. Os alunos co-mentavam sempre sobre a harmonia entrea liderança.

Um segundo resultado desta política foi criar um relaciona-mento aproximado entre a equipe eos alunos. Os membros daequipe se misturavam livremente com eles.Os estudantes gos-tavam de conversar bastante com os treinadores. Não haviauma separação visível entre osprofessores eos alunos, entre osque ensinavam e os que aprendiam. Pelo contrário, todos en-tendiam que eram discípulos de Jesus Cristo ea comunidadeinteira procurava crescer em conjunto. Isto não significavamenos respeito pelos professores; mas, sim,que havia respeitomútuo, amizade sincera e vontade de aprender uns com osoutros.

Um centro de treinamento não éo lugar adequado para amissão enviar como treinadores pessoas de temperamento di-fícil, que já tiveram problemas graves de relacionamento emoutros lugares. Tais pessoas podem mostrar-se impacientescom a opinião dos colegas e estar convictas de que sempre têmrazão. Toda instituição precisa daqueles que introduzirão no-vas idéias e farão sugestões estimulantes, que desafiarão amaneira como as coisas sãofeitas eirão sugerir meios melhorespara fazê-las. Ela necessita de treinadores que introduzamnovos conhecimentos einiciativas; masque, ao mesmo tempo,sejam capazes de trabalhar em harmonia com toda a equipe,de fazer sugestões da maneira apropriada e de respeitar a con-tribuição de outros.

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Habilidade PastoralNão só é importante para os treinadores se darem bem comseus colegas, como é igualmente importante que eles saibamconviver comos que estão procurando treinar. A maioria doscentrosde treinamento de missionários enfatiza a necessidadede contato regular entre osprofessores eos alunos. Em algunsprogramas foi provado que émais difícil alcançar um alto ní-vel de interação entre os treinadores e os estudantes, porquemuitos dos professores são visitantes. Todavia, em quase todososcentros descritos no Capítulo 2, a equipe de ensino é geral-mente solicitada a morar na mesma comunidade dos alunos.“É pedido que comam comos estudantes, morem no campus efaçam parte da comunidade. Devem fazer o treinamento en-quanto se associam com os alunos.”1 “Ele/ela deve estardis-postoa morar numa comunidade asiática emulticultural commenos privacidade.”2

Os centros de treinamento algumas vezes se defrontamcom um dilema na seleção do seu pessoal. Alguns fazem usode preletores externos que permanecem em seu ministério edão aulas no centro como visitantes. Estes estão em contatoconstante com o mundo, mas seu contato comos estudantes ébemmenor. Outros centros de treinamento preferem nomearuma equipe permanente que more na localidade. Eles ficamem contato constante com os estudantes, mas podem estarmenos atualizados em relação aos acontecimentos do mundomais amplo. Os que dão grande valor à atuação pastoral daequipe, inevitavelmente optam pelo estilo permanente,residencial dos funcionários. Alguns programas de treinamen-to adotam uma combinação de equipe residencial epreletoresvisitantes.

Os que dirigem centros de treinamento devem conhecer osproblemas específicos que seus candidatos a missionário en-frentam, e da necessidade dos alunos trabalharem quaisquerproblemas pastorais pessoais gravesantes de começarem o seuministério. Embora seja possível aos preletores visitantes ofere-

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cerem aconselhamento eficaz, osque moram no local estão emmelhor posição para prover cuidados pastorais contínuos. OGMTC espera que o seu pessoal “pastoreie” os alunos, en-quanto o ACTI, com sua cota mais ampla de mistura culturalentre os alunos, procura admitir uma equipe que tenha “capa-cidade para aconselhar e resolver problemas e que possua ha-bilidades para o aconselhamento transcultural” .3

Os treinadores devem ter como alvo passar o maior tempopossível com seus alunos, ficando à disposição deles para de-bates, respostas adúvidas e trocade idéias. Quanto mais tem-po passarem juntos, tanto maior o potencial de cuidado e ori-entação eficazes. Os treinadores terão de escolher muitas ve-zes entre sentar-se ao computador para escrever seu próximoartigo missiológico ou juntar-se a um grupo de alunos parauma xícara de café ou um período de oração. A escolha quefizerem dará alguma indicação das suas prioridades.

Os treinadores que estão dispostos a dar bastante tempopara interagir com o grupo sendo treinado e que são acessí-veis, terãomaior influência sobre a vida dos alunos ecausarãomaior impacto sobre a eficácia geral do programa de treina-mento.

Atividade no MinistérioAequipe de treinadores deve também envolver-se na continui-dade do ministério. Vários desses centros de treinamento des-tacam o fato de que não basta que os professores tenham esta-do ativamente envolvidos no ministério no passado. Eles de-vem continuar envolvidos no trabalho de evangelismo e im-plantação de igrejas, para que os estudantes vejam que seusmentores nãosão apenas teóricos, mas também praticantes.“Aequipe de treinadores deve dispor-se também a desenvol-ver um ministério fora do campus. O treinamento é feito nocontexto do ministério contínuo do professor”.4

Lois Fuller, ex-reitora do NEMI, sugeriu queum meio dejulgar a eficácia dos professores é perguntar a eles se estão

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aplicando com sucesso em seu ministério o que ensinam nasala de aula.

Alguns centros de treinamento exigem que o seu staffseenvolva no ministério ativo junto com os alunos. Afaculdadeda AICMC está envolvida em evangelismo urbano eestabele-cimento de igrejas com seus alunos três tardes por semana. NoOTI aequipe pratica regularmente o evangelismo rural, levan-do pequenos gruposde estudantes às aldeias para evangelizar.O pessoal do GMTC acompanha seus alunos tanto num tra-balho de evangelismo intensivo durante uma semana, comonuma viagem auma área rural ou a um ministério no exteriordurante um mês.

Em alguns programas de treinamento espera-se que ospro-fessores acompanhem os estudantes quando estes vão exercero ministério no campo de trabalho. Isto pode ser fácil se foremvisitar osdistritos arborizados de Cingapura ou alguma outracidade moderna. É bem diferente se forem para uma situaçãopioneira num distrito rural remoto, onde a única cama é ochão de barro e a água de beber tem cor de lama. Lois Fulleradmitiu que na viagem que fez com os estudantes do NEMI,“algumas coisas eram um tanto básicas”, mas ela disse queaexperiência formou um laço forte entre ela e os alunos.

ModelosOs que treinam missionários devem demonstrar suas qualida-des de líder espiritual. Eles devem serexemplos na fé, na ora-ção, na dedicação a Cristo e no interesse pelo evangelismo.Devem estar igualmente dispostos aviver com simplicidade esacrificialmente, nãoexigindo menos de si mesmos do queexi-gem dos estudantes.

Quer gostem ou não, serão vistos como modelos pelos quesão treinados por eles. Os que estudam com eles tenderão arepetir suas opiniões, refletir seu estilo de vida e podem atécopiar seus maneirismos! Eles vãotomar seus mentores comomodelos.

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QUEM FAZ O TREINAMENTO? 87

Alguns treinadores estão dispostosa abrir suas casas e rece-ber os alunos parauma conversa ou uma refeição. Alguns pro-gramas de treinamento exigem que aequipe more no mesmocampus, algumas vezes na mesma casa queos estudantes. Asrefeiçõessão no geral tomadas em comum e osserviços domés-ticos compartilhados entre todos. É fácil para os estudantesverem como os seus tutores vivem como cristãos. Eles podemficar às vezes bastante surpresos, e até decepcionados, com ocomportamento dos professores. É provável que fiquem desa-gradavelmente chocados ao compreenderem que os treinado-res missionários são apenasseres humanos! Ao mesmo tempo,pode ser umaimportante lição objetiva paraeles se observaremem seus treinadores, mesmo com as suas falhas, um modelo dedisciplina cristã, bom senso, humor eintegridade.

Os que têm a incumbência de nomear treinadores, preci-sam lembrar que estes tenderão aproduzir alunos àsua seme-lhança, compartilhando seus pontos de vistae atitudes. Por-tanto, os responsáveis devem se perguntar se querem que osseus missionários sejam como esses prováveis treinadores.Caso não quiserem, seria aconselhávelprocurar outra pessoa.

Uma Equipe de TreinadoresSeria bom se os centros de treinamento de missionários noOcidente incluíssem pessoal não-ocidental entre asua equipede treinadores. Isto éespecialmente importante para as insti-tuições que admitem muitas pessoas de outros países. Essesalunos internacionais apreciarão ter alguém na equipe de trei-nadores que compreenda a sua cultura. Os estudantes ociden-tais irão beneficiar-se da perspectiva de professores cujo ambi-ente cultural é diferente do seu.

Em outras partes do mundo, será apropriado que amaiorparte do ensinoseja feita por cristãos locais, apoiados por igre-jas nacionais. Oprograma vai serentão considerado como ver-dadeiramente nacional, em vez de ser imposto edirigido porestrangeiros. Os cristãos locais terão também mais facilidade

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MISSOES: PREPARANDO AVULLL QUE VAI

para adaptar o treinamento às culturas dos alunos eaos con-textos em queeles vão servir. Nas palavras de um treinador demissionários africano: “Os programas de treinamento missio-nário no Terceiro Mundo devem ter mais nacionais como trei-nadores na equipe, pois eles conhecem a cultura do seupovo."5

A presença de um ou dois missionários estrangeiros naequipe pode oferecer perícia eexperiência adicionais, mas asescolas de treinamento devem ter cuidado para não se torna-rem excessivamente dependentes da ajuda do pessoal estran-geiro. Quanto maiscristãos na Ásia, África e América Latinaganharem experiência em missões e qualificações emmissiologia, ficará cada vez mais fácil para a equipe de treina-mento nas instituições vir a ser verdadeiramente internacio-nal. Isto é especialmente importante onde os alunos estão sen-do preparados para servir fora do seu país ou continente. Porexemplo, seria proveitoso para os brasileiros que estão se pre-parando para trabalhar na África ou na Europa se houvessealguém dessas regiõesentre osseus treinadores.

Os líderes que vêm de ambientes étnicos ou religiosos dife-rentes podem trazer perspectivas mais amplas ao processo deaprendizado. Os treinadores podem familiarizar os alunoscom diferentes costumes e cosmovisões. Se tiverem sido con-vertidos de outra religião, seu testemunho e o conhecimentoda sua antiga fé podem ajudar osalunos a aprender como tes-temunhar eficazmente para as pessoas desse grupo religioso.

É uma vantagem para o centro de treinamento ter homense mulheres em seu quadro de funcionários.O número de trei-nadores masculinos e femininos pode ser em proporção aonúmero de alunos de cada sexo. Todos osalunos vão tirar pro-veito de modelos do mesmo sexo. Em algumas instituições oci-dentais, onde o treinamento missionário éfeito ao mesmo tem-po que o treinamento para o ministério da igreja, os professo-res são todos homens; todavia, o maior número de missionári-os neste século tem sido de mulheres.

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QUEM FAZ O TREJNAMENTO? 89

Nessas instituições as alunas sentem falta de modelos, aju-da pastoral e orientação de pessoas do mesmo sexo. À medidaque novos centros de treinamento forem criados, éimportantenomear treinadores masculinos efemininos, afim de que cadaaluno tenha não só modelos e conselheiros, como tambémcompreenda as percepções e preocupações dos obreiros dosexo oposto. Seria bom para os estudantes verem uma equipede homens e mulheres trabalhando juntos como um padrãopara o seu futuro ministério.

É também vantajoso ter membros casados e solteiros naequipe. Os quesão casados podem modelar o casamento eavida familiardo cristão. Os solteiros podem oferecer modelospara os estudantes que desejam manter-se solteiros. Eles po-demcompartilhar as oportunidades e dificuldades específicasque encontraram. Em algumas culturas, a idéia de um missio-nário solteiro é estranha eo exemplo de um professor servindoeficientemente a Deus como solteiro pode incentivar osalunosa crerem que Deus chama homens e mulheres para servi-lodeste modo.

ConclusãoTalvez nãoseja possível conseguira equipe de liderança “ide-al”. Nos primeiros anos pode ser necessário aceitar quem esti-ver disponível. Algumas vezes, os diretores dos institutos detreinamento são obrigados a admitir os enviados pela sua igre-ja ou agência missionária! É provável que leve muitos anospara reunir aequipe ideal com uma larga escala de experiên-cia equalificações. Mas, a escolha da equipe certa irá ditar oteor ea eficiência de todo o programa. Os diretores e conse-lhos dos centros de treinamento precisam fazer da escolha dopessoal uma prioridade.

Notas1. “Outreach Training Institute” (instrumento de pesquisa)

(Bangalore, Índia, 1992).

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2. “Asian Cross-Cultural Training Institute” (instrumentode pesquisa) (Cingapura, 1992).

3. Ibid.

4. “Outreach Training Institute” (instrumento de pesquisa)(Madras, Índia, 1992).

5. J. Mutunga, “Africa Inland Church Missionary College”(instrumento de pesquisa) (Eldoret, Quênia, 1992), 8.

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6A ESCOLHA DOS ALUNOS CERTOS

A escolha de alunos adequados é uma das mais importantes;sendo, todavia, uma das tarefas mais difíceis para osque diri-gem um centro de treinamento missionário. Em muitas partesdo mundo, os candidatos a missionário estão clamando portreinamento e, como já vimos, alguns são forçados a esperarvários anos por uma vaga num curso desse tipo. A All Nationsrecebe várias centenas de pedidos de informações por ano,massó pode aceitar cerca de cem. Isto significa que muito tem-po tem de ser dado ao processo de seleção, estudo dos docu-mentos de aplicação, leitura das referências, oração e realiza-ção de entrevistas. Mesmo no fim desse longo procedimentopode serdifícil ter a certeza da decisão certa em relaçãoa umapessoa ou casal específico.

Quando um novo centro de treinamento é organizado, oproblema pode ser de existirem inicialmente poucos em vez demuitos alunos. O perigo então éque todos osque se apresenta-rem sejam simplesmente aceitos para preencher as vagas.Aceitar candidatos inadequados pode mostrar-se prejudicial

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92 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

para a comunidade. Em certa ocasião, uma estudante foi acei-ta sem referências completas ou uma entrevista porque ela jáestava trabalhando no exterior. Amoça tinha problemas emo-cionais erelacionais graves eexigiu uma quantidade despro-porcional do tempo da equipe de treinadores.

Outro aluno aceito por umafaculdade decidiu que nãoque-ria sermissionário. Em vistade ser um aluno capaz etalentoso,queria fazer um curso acadêmico de teologia em vez de umcurso prático de treinamento missionário. Alguns aspectos davida na faculdade o irritaram e ele se tornou um foco de des-contentamento e desafeição. Teria sido melhor para eleter idoestudar em outra escola. A seleção cuidadosa é importantenuma comunidade de treinamento missionário, mesmo queisso signifique menos alunos.

Algumas instituições de treinamento não escolhem seusalu-nos. A equipe tem simplesmente de aceitar os que lhe sãoenviados — situação essa pouco invejável einsatisfatória. Osencarregados do treinamento de missionários têm quetomarparte no processo de seleção. No final do curso eles devempoder também informar se os que foram treinados têm condi-ções de ser aceitos no serviço missionário.

Se o pessoal da instituição de treinamento tiver a possibili-dade de entrevistar e selecionar os futuros alunos, qualdeve-ria ser o seu critério para aceitar um candidato e recusaroutro?

Maturidade EspiritualPrimeiro, eles terãode considerar a maturidade espiritual doscandidatos. Os missionários devem ser cristãos convictos ededicados, com um relacionamento pessoal e crescente comDeus e um forte desejo de que outros venham a conhecer oSenhor.

É importante não aceitar cristãos recentes. Paulo disse aTimóteo: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos”(1 Tm 5:22). Timóteo tinha de refletir cuidadosamente antes denomear alguém para uma posição de autoridade e liderança

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A ESCOLHA DOS ALUNOS CERTOS 93

na igreja. O pessoal dos centros de treinamento deve fazer omesmo antes de aceitar alguém para o treinamento missioná-rio.

Os candidatos talvez tenham de passar por grandes pres-sões físicas, emocionais eespirituais no futuro e é possível quetenham de atravessar sozinhos essas crises. Se tiverem de su-portar tais pressões, épreciso que tenham desenvolvido umavidadevocional fortee independente. Sua sobrevivência espi-ritual não dependerá do apoio de outros, mas de uma comu-nhão profunda com Deus.

Comovão ser treinados para trabalhar em outras culturase com cristãos de diferentes tradições, será bom se tiverem en-tendido que os cristãos têm opiniões diferentes sobre váriosaspectos da doutrina cristã, tais como batismo, dons espirituaiseo milênio. Se as suas opiniões forem firmes, não vãoser por-tanto imaturos a ponto de querer forçar sua posição sobre ou-tros.

Visão Realista da MissãoSegundo, osque fazema seleção desejarão saber se o candida-to a missionário tem uma visão realista da missão. É impossí-vel prever todos os aspectos da vida missionária antes de setornar missionário, mas éimportante que os que estão consi-derando o serviço missionário tenham alguma idéia das difi-culdades, da solidão e do sacrifício que podemestar envolvi-dos. Cristãos jovens eentusiastas podem ter uma visão poucorealista da missão. Eles talvez fiquem empolgados com a idéiade servir o Senhor numa terra estranha, vendo a si mesmoscomo um Hudson Taylor ou umaMary Slessor contemporâne-os. É bem provável que não saibam absolutamente como será arealidade.

Jesus contou a história de um homem quedesejava cons-truir urna torre, calculando o custo antes de começar (Lc14:28-30). Ele usou a ilustração para ensinar que aquelesquequeriam ser seusdiscípulos deviam pensar de maneira realista

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no custo envolvido. Os que querem servir a Cristo como missi-onários transculturais precisam considerar o que isso vai exi-gir deles.

O Chamado de DeusTerceiro, oscandidatos a missionário precisam ter aconvicçãode que essa é a vontade de Deus para eles. Há muitas razõespara as pessoas desejarem ser missionárias: desejo ardente depregar o evangelho, preocupação em servir outros, percepçãoda necessidade, prazer em viajar, obediência àGrande Comis-são, desejo de apressar a volta de Cristo, eoutras. Algumasdelas podem ser razões legítimas para desejar o trabalho mis-sionário. Nenhuma é suficiente em si mesma. Quaisquer quesejam os motivos dos candidatos, eles devem estar convictosde que foram chamados por Deus. Essa era a convicção dePaulo. Ele descreveu a si mesmo como “servo de Jesus Cristo,chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho deDeus” (Rm 1:1).

O indivíduo pode chegar de várias maneiras àconvicção deque Deus está chamando a ele ou ela para uma determinadatarefa. Quando estudamos as experiências de homens emu-lheres da Bíblia, compreendemos queDeus trata cada pessoade um modo. Abraão ouviu Deus falando com ele (Gn 12.1).Moisés viu um arbusto ardendo em fogo (Êx 3:2). Isaías teveuma visão (Is 6:1). Amós teve uma convicção íntima crescente(Am 3:8). Paulo teve uma visão (At 16:9).Alguns foram guia-dos por eventos extraordinários ou sobrenaturais. Outros fo-ram convencidos de que Deus os estava guiando para um cur-so específico de ação, mediante oração, leitura das Escrituras,conselho de outros, ou através das circunstâncias.

Não existe um padrão estabelecido para a orientação. Nãoé necessário que Deus fale de maneira espetacular ou pormeio de urn versículo bíblico. Todavia, éimportante que a ori-entação seja clara e quea pessoa esteja certa de que atarefa éda vontade de Deus. Os missionários têm de passar por inú-

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meras dificuldades edesilusões, masse estiverem convictos dequese acham no lugar certo isso impedirá que desanimem.

O Brasil está enviando mais emais missionários a cada ano,porém 40% deles voltam para casa nos três primeiros anos.Alguns ficam desiludidos e desanimados.’ A falta de preparoeapoio são fatores quecontribuem para essa situação. Toda-via, a fim de sobreviver a tais dificuldades edesilusões é neces-sário convicção pessoal sobre o chamado de Deus.

Apoio da Igreja ou Agência MissionáriaE fácil convencer a nós mesmos de que aquilo que desejamosfazer éo que Deus quer que façamos. Podemos criar um senti-do de chamado com base em nossos próprios desejos ou ambi-ções. Nossos sentimentos pessoais precisam ser então verifica-dos por outros que nos conhecem bem.

Os candidatos a missionários devem ter o endosso dos líde-res da sua congregação. Amaioria dos centros missionários doTerceiro Mundo insiste em que os alunos em potencial sejamrecomendados por uma igreja ou agência missionária. “Nãoaceitamos candidatos particulares”, disse um deles. “A opi-nião do pastor sobre o candidato éessencial”, comentou ou-tro. “Só aceitamos o candidato com a aprovação do pastor”.Todavia,um indiano afirmou que algumas vezes a aprovaçãodo pastor significa muito pouco, porque ele pode não ser umcristão forte ou um juiz perspicaz do caráter. Em tais casos oendosso da agência missionária tem mais valor.

Opapel da igreja ao enviar missionários é visto claramentena prática dos primeiros cristãos. Os primeiros evangelistasforam enviados pela igreja de Jerusalém. A igreja deAntioquia enviou Paulo e Barnabé. A congregação deles foi abase para a sua missão, o ponto de partida para o seuevangelismo. A congregação é a responsável por enviar ho-mens e mulheres em missão. Há pouca justificativa bíblicapara as pessoas irem por sua própria iniciativa, fazendo o quequerem sem referência à sua igreja local. Atéos apóstolos pres-

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taram conta aos líderes da igreja do que estavam fazendo (At11:1-18). Aigreja local tema responsabilidade de enviar pesso-as e osque sentem quesão chamados por Deus devem subme-ter a sua orientação aos seus líderes.

Isso pode, às vezes, suscitar um problema. Os pastores epresbíteros nem sempre querem queos membros da sua con-gregação se tornem missionários. Eles talvez não consideremimportante para a sua igreja o envolvimento no trabalho demissões. Podem preferir que os seus jovens permaneçam emcasa e ajudem a sua própria congregação do que desapare-çam em alguma parte remota do mundo. Os presbíteros daigreja podem até manter uma posição teológica diferente dospretendentes à carreira missionária e desaprovar o que pre-tendem fazer, apoiados em fundamentos teológicos. É tristedizer, mas já encontrei diversos pastores na Grã-bretanha quefazem objeção aqualquer tentativa de testemunhar a pessoasde uma fé diferente.

Perguntei a um grupo de nigerianos qual era o maior obstá-culo quehaviam encontrado na sua pretensão de se tornaremmissionários. “Foi a atitude dos nossos pastores”, disseram.“Eles nos deram pouco encorajamento e declararam que mes-mo que insistíssemos, a igreja não teria condiçõesde nos apoi-ar financeiramente.”

Felizmente, nem todos oslíderes de igreja são assim! Muitospastores têm um forte compromisso com o trabalho de missõese são uma grande fonte de apoio e ânimo para os membrosquese sentem chamados para o serviço cristão de “tempo inte-gral”. Mesmo onde os pastores e presbíteros não simpatizamcoma idéia de missão, é importante que haja cristãos madurosque possam confirmar queo missionário em potencial tem asqualificações necessárias epossam também discernir o chama-do de Deus.

A aprovação da igreja local irá fortalecer a convicção doscandidatos a missionário de que Deus os chamou. Significatambém queno seu trabalho futuro eles terão um grupo de pes-

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soas queestará convencido do seu chamado eirá apoiá-los emoração e financeiramente.

Ministério EficazOs candidatos deverão ter também provado sua eficiênciaemalgum aspecto do ministério. Este pode ser evangelismo,discipulado, aconselhamento, ensino, liderança no culto deadoração, trabalho com crianças ou jovens, ou alguma outraárea de serviço cristão. Qualquer que seja aárea, ela deveestarrelacionada com o trabalho que planejam fazer no futuro. Osjovens podem saber tocar bem a guitarra em sua congregação,mas isso não garante sua eficácia na implantação de igrejasnum país estrangeiro. Quando foi perguntado a um preten-dente o queele fazia em sua igreja que pudesse continuar fa-zendo como missionário, ele disse quese sentava na última filaerecebia palavras de Deus para o seu ministério!

Os recrutas missionários não mudam radicalmente quandosobem num avião no Reino Unido ou em um trem na Índia. Oque eles são em casa serão no seu campo de serviço. Se não ti-verem demonstrado competência cada vez maior numa áreade ministério antes de partirem, não há base para esperar queirão tornar-se competentes quando chegarem ao seu destino.O treinamento será um período em que irão desenvolver osdons e habilidades que já possuem.

Consideramos até aqui as qualidades dos candidatos a mis-sionário que podem ser chamadas de “espirituais” — sua matu-ridade espiritual, seu chamado, seus dons espirituais e suashabilidades ministeriais. Necessitamos considerar tambémoutras áreas: seu caráter, sua saúde esuas qualificações acadê-micase profissionais.

CaráterÉ importante ter referências quanto ao caráter dos pretenden-tes. Quando Paulo escreve aos coríntios, ele fala do que eleseram antes de se tornarem cristãos (1 Co 1:26-29; 6:9-11), mas

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deixa implícito que se transformaram. Os candidatos ao trei-namento missionário devem evidenciar a obra de Deus emsuas vidas. Eles precisam serconfiáveis etrabalhadores, mas énecessário incentivá-los a não serem perfeccionistas nem obce-cados pelo trabalho. É também necessário queevidenciem ofruto do Espírito em sua vida, mostrando bondade, amor epaciência, em vez de ira e irritação. Uma qualidade adicionaléo senso de humor, especialmente o dom de rir de si mesmo.

A capacidade de adaptação éessencial para as muitas mu-danças que irão enfrentar no ministério transcultural. Numanova cultura eles precisarão acostumar-se acomer alimentosdiferentes, usar outros tipos de roupa, dormir em camas dife-rentes — ou atéa não ter cama para dormir — e adorar de formadiferente. Asua atitude com relaçãoao tempo talvez tenha demudar. Quanto mais rígidos e exigentes forem, tanto mais di-fícil será aceitar a vida num país estrangeiro. Um treinadorindiano disse, “O candidato deve estar disposto afazer qual-quer tipo de trabalho, viver em comunidade, aceitar as condi-ções de vida e comer qualquer tipo de comida”.2 A MissãoAntioquia do Brasil considera o candidato ideal como alguém“que é capaz de adaptar-se auma cultura diferente, quenãoquer impor os valores da cultura brasileira sobre outros equeestá pronto para servir em vez de ensinar”.3

Comomissionários eles terão de mostrar iniciativae algumgrau de independência, mas éimportante que não sejam infle-xíveis ou individualistas. Um estudante, que embora não fosseinflexível, era solitário eindividualista, foi usado por Deusnum ministério isolado e difícil num país de acesso restrito,devastado pela guerra, onde bem poucas pessoas poderiamter trabalhado.

Habilidades RelacionaisA maioria dos missionários terá necessidade de boas qualida-des de relacionamento. É preciso verificar se os pretendentesacham fácil conviver com pessoas do mesmo sexo edo sexo

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oposto. Eles se relacionam bem com os chefes, comseus cole-gas ecom seus subordinados? Estão sempre discutindo? Evi-tam o contato com outros? Os queescrevem referências para oscandidatos a missionário relutam algumas vezes em sersince-ros nesses pontos. Eles tememescrever uma referência negati-va, com medo de prejudicar as possibilidades da pessoa seraceita. Podem pensar que estão fazendo uma gentileza aumamigo quando na verdade estão prestando um desserviço.

Pois, se a pessoa nãose dá bem com outros na sua própriacultura, é melhor que não vá para outra cultura onde venhatalvez a causar atritos com seus companheiros de trabalho ecom os cristãos locais. Os relacionamentos rompidos são umadas causas mais comuns para o fracasso do missionário. Oscandidatos com dons de encorajamento e pacificação de âni-mos são uma vantagem.

Na atualidade, muitos terão de trabalhar nãosomente compessoas da sua própria cultura, mas também em equipes inter-nacionais com cristãos de muitas culturas e igrejas diferentes.Nessas situações, habilidade para manter um bom relaciona-mento e sensibilidade cultural são necessárias. Será útil se oscandidatos puderem ter alguma experiência de viver etraba-lhar numa situação transcultural antes de serem treinados,mesmo quepor um pequeno período de tempo apenas. Destaforma, a experiência durante o treinamento, seja na comuni-dade ou numa situação de ministério, será vantajosa.

SaúdeÉ bom obter um atestado médico antes dos alunos serem acei-tos para treinamento. (Isto pode não ser possível num paísonde o número de médicos forpequeno ou onde as consultasmédicas forem muito caras.) A boa saúde física é geralmenteessencial para situações de pioneirismo ou rurais, embora umestudante inglês que tinha problemas de coluna quando crian-ça tivesse servido durante 15 anos numa situação rural naÁfrica. Não devemos limitar a Deus. Se os candidatos tiverem

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um problema de saúde crônico, como diabetes, isso nãoimpe-de que sejammissionários transculturais, mas irá limitar aspossíveis situações em que podem servir.

A boa saúde mental e emocional é também necessária paraos que vão passar pelos rigores do ministério transcultural.Certos institutos requerem que seus pretendentes passem porum teste psicológico antes de serem aceitos. Mesmo depois deum exame cuidadoso, todos os centros de treinamento desco-brem que têm de tratar com uma grande variedade de proble-mas pastorais eemocionais entre os alunos.

É importante examinar os documentos de admissão comcuidado paraverificar indicações de experiências traumáticasno histórico dos candidatos, que possam afetar suas atitudes eComportamento no presente. Isto pode ser um episódio de re-jeição, luto, fracasso ou até abuso. Quando houve experiênciasno passado, é bom conversar sobreelas para ver se os preten-dentes chegaram ao ponto de aceitarem essa experiência ou seé uma área que eles ainda têm de enfrentar e trabalhar. A ra-zão paraexaminar esses elementos delicados é que eles podemprovocar problemas graves no futuro. Se não forem tratadosenquanto os alunos ainda se encontram no ambiente familiare de apoio da sua cultura, podem vir atornar-se críticos quan-do eles estiverem por sua própria contanuma cultura estran-geira.

Se os candidatos tiverem sofrido um esgotamento nervosoou uma depressão, isso não os exclui do serviço missionário.Alguns dos servos mais dedicados de Deus sofreram de de-pressão. É importante descobriro que levou ao esgotamento oudepressão e até que ponto houve cura. É também prudenteverificar se existe uma história de esgotamento nervoso oudepressão na família. A idéia não é excluir indivíduos, masdescobrir o que é melhor para eles. Se for sentido que não con-vém que a pessoa faça trabalho transcultural, o conselho nãodeve ser visto como indicando fracasso mas como orientação.

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A ESCOLHA DOS ALUNOS CERTOS 101

Suficiência AcadêmicaO grau de conhecimento acadêmico do candidato deve serconsiderado. Que grau énecessário para o programa de trei-namento? Se o programa se destinar a pessoas com diplomauniversitário, o pretendente poderá acompanhá-lo? Se o pro-grama for destinado a formandos da escola secundária e opretendente só tiver três anos de escola primária, asua habili-dade natural, sua experiência de vida e elevada motivaçãoirão compensar afalta de educação formal? Os diplomas nãosão um requisito essencial para o missionário transcultural,masa habilidade paraaprender é. Para ser um bom missioná-rio, não énecessário escrever teses nem ensaios, mas novas lín-guas e novas culturas têm de ser aprendidas. Um espíritoacessível ao ensino, a disposição de aprender e acapacidadede acompanhar o programa são essenciais.

Experiência de Trabalho ou Qualificações ProfissionaisSe os estudantes quiserem servir como missionários trans-culturais em seu próprio país ou num país vizinho que nãoexija vistos ou autorização para trabalhar, este não será umcritério relevante. Se osalunos esperam ir paraoutro paísondeterão de obter visto e autorização para trabalhar, a maioriaprecisará de experiência no trabalho ou qualificações profissi-onais que o governo considerar úteis parao seu país. (67) Nãoé aconselhável aceitar alunos para treinamento a um custoconsiderável para eles ou para outros, se for evidente desde oinício que eles não são suficientemente qualificados para en-trar no país onde pretendem servir.

ConclusãoNa seleção de candidatos para treinamento, não estamos pro-curando pelo arcanjo Gabriel. Deus não quis usar anjos para atarefa da evangelização mundial. Ele faz uso de seres huma-nos fracos, inadequados e pecadores. Nem os candidatos amissionário, nem os seus treinadores são perfeitos. É útil ter

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uma lista de critérios para ajudar na seleção, mas não iremosencontrar candidatos que correspondam aesses critérios emtodos os aspectos. Isto não significa, porém, que devamos dis-pensar os critérios. Há muitos falhas missionárias que nãonospermitem dispensá-los.

Notas1. “Catalogue of Brazilian Mission Boards and Agencies”

(São Paulo, Brasil: SEPAL, 1993), 97. Segundo esta pesqui-sa, 11% dos missionários brasileiros servem’por menos deum anoe 29% servem entreum e trêsanos. O registro esta-tístico de 1993 mostra 1793 missionários transculturaisbrasileiros servindo tanto no Brasil como fora dele.

2. “The Philosophy and Ethos of OTT Training” (Bangalore,India: Indian Evangelical Mission, n.d.), 1.

3. Neuza Itioka, “Third World Missionary Training: TwoBrazilian Models”, em Internationalising MissionaryTraining: A Global Perspective, ed. William D. Taylor(Exeter, UK: Paternoster Press, 1991), 111-120.

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7PLANEJAMENTO DO CURRÍCULO

“Queremos começar um curso de treinamento missionário”,disse o pastor. “Temos uma porção de jovens que sentem estarsendo chamados para sermissionários e sabemos queé nossodever treiná-los. Pedimos quepreparem um currículo paraumprograma de um ano.”

Nósestávamos visitando um paísasiático onde aigreja cres-cia rapidamente. As igrejas estavam cheias de jovens e muitosdeles sentiam o chamado de Deus para a missão. Havia comcerteza necessidade urgentede um programa de treinamento.Mas, como preparar o currículo? Tínhamos chegado ao paíshá poucos dias e quase não conhecíamos o seu povo e a suacultura. Havíamos passado vários anos ensinando numa fa-culdade de treinamento missionário. Tínhamos visitado diver-sas instituições de treinamento em todo o mundo eestudado osseus currículos. Sabíamos, porém, que não é possível nemapropriado transferir um currículo de um país para outro,muito menos de um continente para outro. Tínhamos umaboaidéia dos assuntos que precisavam ser incluídos num curso de

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treinamento missionário no Reino Unido, mas nãoestávamoscertos quanto ao que era necessário num programa similar naÁsia.

Outro ponto também nos preocupava. Não queríamos dara impressão de que o segredo do programa de treinamento efi-caz era o currículo certo. Estávamos convencidos de que ocompromisso claro com um treinamento integral, relevante eprático ea escolha cuidadosa dos treinadores certos eram tãoimportantes quanto o conteúdo do programa.

A maioria dos centrosconcorda sobre alguns assuntos bási-cos quedeveriam ser incluídos. Eles diferem sobre a inclusãode outros assuntos. Esta diversidade reflete geralmente o con-texto cultural da instituição, a perspectiva teológica das igrejasque enviam os missionários eo tipo de ministério para o qualos alunos estão sendo treinados.

Os centros têm idéias diferentes sobre a quantidade de tem-po que deve ser designada para um determinado assunto. Elespodem incluir também cursos em diferentes pontos do currí-cub. Por exemplo, “Guerra Espiritual”, pode serum subtítulode “Vida Espiritual”, “Ministério Cristão”, ou “Doutrina Cris-tã”.

Os centros de treinamento em todo o mundo descobriramque muitoscursos podem ser úteis e relevantes em seu progra-ma. Nenhum centro tem condições de ensinar todas as matéri-as possíveis, especialmente se o seu programa de treinamentosó dura alguns meses! Não tentamos estabelecer aqui ummenu fixo, mas um bufê abrangente, do qual cada centropode escolher os pratos apropriados para a dieta e paladarcultural dos seus alunos.

O nível em que oscursos serão ensinados depende da capa-cidade acadêmica dos estudantes. A maioria dos candidatosna Coréia (93,8%) écomposta por universitários diplomados equase 40% têm certificado de doutoramento.1 O padrão aca-dêmico do treinamento deveser então compatível. Na África,alguns dos candidatos são formados em universidades, en-

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PLANEJAMENTO DO CURRICULO 105

quanto outros só têm alguns anos de escolaridade formal. Paraestes últimos, o nível do treinamento talvez tenha de ser bási-co. Os centros precisam decidir o nível em que os seus cursosserão oferecidos. Eles podem ter também necessidade de ave-riguar se os alunos possuem fluência suficiente no idioma emque o ensinovai ser ministrado.

Os alunos que járeceberam o certificado em teologia preci-sarão de menos estudos bíblicos eteológicos, mas devem con-centrar-se em relacionar seus estudos anteriores como seu fu-turo trabalho como missionários transculturais. Eles devemperguntar a si mesmos como irão ensinara Bíbliaou adoutrinacristã em outra cultura.

Estudos BíblicosÉ necessário que os missionários tenham umavisão panorâmi-ca e abrangente de toda aBíblia. Eles devem conhecer o ambi-ente histórico, geográfico e cultural da narrativa bíblica e osprincipais estágios da história da salvação. Devemigualmenteter conhecimento dos diferentes tipos de literatura na Bíblia econhecer pelo menos o conteúdo dos principais livros. Depen-dendo da duração do curso, podem também estudar algunsdesses livros em maioresdetalhes.

Desde que não terão tempo de estudar todos os livros bíbli-

cos, é essencial ensinar-lhes ainterpretação bíblica. Os alunosprecisam aprender como abordar osdiversos tipos de literatu-ra na Bíblia, que ferramentas estão disponíveis para ajudá-losna interpretação e o quesignifica interpretação legítima.

Desde que esses alunos estão treinando para ser missionári-os transculturais, eles deverão ter sempre em mente as impli-cações culturais e missiológicasdo seu estudo bíblico. Àmedi-da que estudam o texto bíblico deverão perguntar como umdeterminado capítulo se relaciona ao seu trabalho futuro comomissionários ou como ele pode ser ensinado num contexto cul-tural diferente. Estaabordagem distinta do estudo bíblico não

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106 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

será a mesma de um curso realizado numa faculdade bíblicaregular.

Os capítulos 1-3 de Gênesis são muito importantes. Eles in-troduzem o leitor a vários temas bíblicos prioritários. Algunspodem desafiar a cosmovisão das pessoas a quem os alunosestão sendo enviados como missionários. Na narrativa deGênesis, Deus épessoal e distinto das suas criaturas eda suacriação. Isto contrasta com a fé monista do hinduísmo.

Gênesis também torna claro que só há um Deus que fez océu e a terra. Os queseguem a religião tradicional geralmentejá têm algum conceito de um Deus criador elevado2e algumacompreensão da sua natureza3 mas, eles crêem igualmenteem muitos deuses menores ou espíritos e estes são os objetosda sua adoração.

O terceiro capítulo de Gênesis descreve oseventos da Que-da. O conceito de uma queda é encontrado no folclore de inú-meras culturas. Suas histórias contam como o Deus Altíssimoviveu em certo período próximo dos homens, mas se encontraagora afastado. Os Ashanti de Gana crêem que Deus costuma-va morar no céu, mas perto dos homens emulheres. Certo diauma mulher, quemoía ofufu (alimento nacional) com o pilãona mão, ficou batendo com ela no olho de Deus e ele então seafastou.4 Entre os Maasai na África Oriental, é dito que costu-mava haver uma ponte ligando o céu e aterra mas um guerrei-ro Maasai a cortou por estar zangado com Deus.

À medida que os candidatos a missionário estudam o textobíblico, eles devem lembrar que estarão trabalhando entre pes-soas quejá tem o seu próprio conhecimento de Deus, seu pró-prio conjunto de valores, suas próprias histórias da criação eda Queda. Precisam descobrir o máximo sobre os sistemas decrenças deles epreparar-se para comunicar fiele eficazmenteaverdade bíblica para eles. O propósito de um curso de estu-dos bíblicosnum programa de treinamento não ésimplesmen-te oferecer aos alunos um resumo do conteúdo de um deter-minado livro. Ele deve ser um desafio para os estudantes

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PLANEJAMENTO DO CURRICULO 107

considerarem como esse livro pode ser ensinado eaplicado emoutra cultura.

DoutrinaOs futuros missionários devem ter um bom conhecimento dasprincipais doutrinas da fé cristã. Elesdevem poder reconhecero que é de fundamental importância em questões de crença e oqueé secundário, o queéum ponto de vista permissível eo queéherético. Numa cidade da Etiópia, fui certa vez confrontadopor um grupo de jovens cristãos desejosos de saber se o batis-mo em o nome de Jesus era a única forma legítima de batismohoje. Dei amelhor resposta que pude efui para casa depressa,afim de estudar o Novo Testamento emeus livros de teologia.

Um curso sobre doutrina deve incluir anatureza de Deus eaTrindade, a pessoa e a obra de Cristo, a pessoa e a obra doEspírito Santo, salvação e santificação, a igreja (inclusive ensi-nos sobre o ministério e os sacramentos) e as últimas coisas.

A doutrina da igreja é de particular importância. Muitosmissionários trabalham como se a sua missão ou igreja só fi-zesse partedo corpo de Cristo na terra. Elestrabalham isoladosde outros cristãos eignoram as igrejas de outras denominaçõesque estão àsua volta. Outros estão determinados a implantarigrejas que reflitam aquela deixada por eles em outro lugar eque estejam sob a sua autoridade.

Os alunos precisam esclarecer a sua crença sobre a igrejauniversal e quais as implicações que isso tem como seu traba-lho como evangelistas e plantadores de igrejas. Os alunos trei-nados no OTT são incentivados a trabalhar o mais perto possí-vel com a igreja local. Não é política da sua missão, a IndianEvangelical Mission, implantar igrejas IEM. Eles esperam queos seus missionários se associem comas denominações que jáexistem na vizinhança do seu trabalho e estreitem os laçoscom as novas congregações que tenham sido formadas comessa denominação.

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108 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Alguns estudantes gostam de facilidades. Eles podemdese-jar que o preletor lhes dê todas as respostas, para que possamescrevê-las e repeti-las durante os próximos 40 anos do seuministério. Uma classe ficou muito aborrecida quando o pro-fessor começou um curso sobre doutrina, recusando-se a daruma série de palestras e dizendo queeles teriam de fazer qua-se todo o trabalho sozinhos. Ele dividiu a classe em pequenosgrupos de pesquisa eos pôs para trabalhar. No final do curso,um dos que mais criticara a abordagem do professor no iníciodeclarou queaquela fora amelhor classe em todos os seus estu-dos.

Os pretendentes a missionário aproveitarão mais os estu-dos se puderem trabalhar o mais possível por si mesmos. Seráútil para eles se tiverem de escrever pequenas redações sobrecada doutrina importante em suas próprias palavras. É preci-so fazer umaverificação cuidadosa para ver se não estão ape-nas copiando o queencontraram num livro.

Os treinadores devem ter o cuidado de não transmitir aosestudantes os seuspreconceitos denominacionais. Em questõesonde os cristãos têm pontos de vista diferentes, tais como modode batismo, governo da igreja e o milênio, os treinadores de-vem pôr os alunos a par das opiniões alternativas dos cristãos.

Não estou sugerindo que os candidatos a missionário de-vam ser vagos em questões doutrinárias. Eles precisam estarintimamente convencidos do que a Escritura ensina, mas de-vem também ser capazes de compreender e respeitar os quemantêm uma posição diferente em assuntos secundários. Épossível quetenham de trabalhar futuramente compessoas dedenominações diferentes, sendo entãoimportante que saibamrespeitá-las eapreciar a sua posição.

Quando os candidatos a missionário estudam doutrina,eles precisam perguntar como irão explicar essas doutrinas àspessoas a quem esperam evangelizar. Comoexplicarão adou-trina da Trindade a um muçulmano ou o novo nascimento aum hindu? Como interpretarão afrase “Abraão. . .foi reunido

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PLANEJAMENTO DO CLJRRICULO 109

ao seu povo” (Gn 25:8) para alguém que segue a religião tradi-cional e acredita que seus ancestrais são os mortos-vivos dacomunidade? Como transmitirão a idéia bíblica das palavras“a salvação das vossas almas” (1 Pe 1.9) a um budista?

Quando o período de treinamento terminar, osalunos nãovãosair para ministrar num vácuo. Eles irão ministrar a pesso-as que têm os seus próprios conceitos e cosmovisão. É precisoconsiderar então quais pontes serão úteis para comunicar adoutrina bíblica a elas. Mesmo enquanto estudam eles podemdar início ao processo de contextualização teológica, desco-brindo o máximo que puderem sobre um determinado grupode pessoas.

ABíblia se utiliza de váriosexemplos para explicar e ilumi-nar averdade espiritual. A morte de Jesus no Novo Testamen-to édescrita de diversas maneiras para ajudar os ouvintes ju-deus e gregos a compreenderem s sua importância (e.g., re-denção, propiciação, justificação ereconciliação). Em seu livroPeace Child5 (Filho da Paz), DonRichardson descreve como eleusou uma prática cultural tradicional para explicar o evange-lho aos Sawi da Nova Guiné. “Se um pai Sawi oferecesse seufilho a outro grupo como um “Filho da Paz”, não só proble-masdo passadoficavam resolvidos como também futuras pos-sibilidades de traição eram evitadas”.6 Do mesmo modo,Deus deu seu Filho para trazer a paz e reconciliar o mundoconsigo mesmo.

AEscritura descreve também amorte de Jesus em termosde sacrifício, um conceito estranho e abominável para certasmentes ocidentais, mas imediatamente inteligíveis e relevantespara muitas culturas não-ocidentais. Panya Baba, que foi dire-tor da Evangelical Missionary Society da Nigéria, está convenci-do de que osprimeiros missionários teriam sido mais eficazesse tivessem conhecimento dos costumes locais, fazendo usodeles como uma ponte para acomunicação eficientedo evan-gelho. Ele cita um ritual de sangue praticado por uma tribo daNigéria.

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110 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Era prática da tribomatar um animal quando alguém mor-ria. Osangue era colocado sobreo alto e os lados da porta comoaconteceu na Páscoa no Egito. Isto era feito comafinalidadede“abrir um caminho para o morto entrar no mundo do além”7.

O bispoAndrew Adano descreve uma prática similar entreo seu povo, osBoran do Norte do Quênia. Os membros da tribopegam anualmente um bode, cada um deles coloca a mãoso-bre ele e o afaga da cabeça até à cauda. Eles matam depois obode e colocam o sangue dele sobre todos os seuspertences etambém sobre os seuscamelos. A partir desta prática, o bispoAndrew diz que éfácil prosseguir falandosobre o Diada Expi-ação ea morte de Jesus, o Cordeiro de Deus que tira os peca-dos do mundo.

Quando os missionários passam a conhecer as crenças ecostumes de um povo, eles descobrem pontes legítimas para acomunicação da verdade bíblica.

Estudos de MissõesUm curso sobre base bíblica da missao irá servir de introduçãoao ensino escritural sobre missões. Ele irá mostrar que desde oinício o propósito de Deus era alcançar todas as nações da terracoma sua salvação. Irá destacar o interesse de Deus pelo mun-do, evidente em cada parte da Escritura. Um curso subseqüen-te poderia considerar osaspectos teológicos relacionados coma natureza da missão. Este incluiria tópicos tais como a relaçãoentre o evangelismo e aação social, o lugar do diálogo, a teolo-gia da libertação, o pluralismo e o universalismo. Os alunosseriam solicitados a comentar sobre o Conselho Mundial deIgrejas,o Comitê de Lausanne para aEvangelização Mundialea Associação Evangélica Mundial.

Um curso sobrehistória das missões irá enfocar as lições quepodem ser aprendidas dos principais períodos de crescimentoda Igreja Cristã (e.g., aprimeira igreja, o movimento monásti-co, os jesuítas eos protestantes). Será bom estudar a história

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PLANEJAMENTO DO CURRÍCULO 111

das missões no país do próprio aluno e na área em que eleespe-ra servir. Importante também é que seja dado neste curso reco-nhecimento ao papel desempenhado pelas mulheres na ex-pansão da Igreja durante os dois últimos séculos.

Um curso sobreantropologia cultural irá capacitar os alunosa considerarem aorigem e natureza da cultura. Ele vai desen-volver a sua sensibilidade com relação a pessoas cujos costu-mes e culturas são diferentes dos seus. Irá ajudá-los a compre-ender o significado de ritos ecerimônias eo papel que desem-penham na comunidade. Os alunos devem também conside-rar como o evangelho pode ser comunicado eficazmente atra-vés das barreiras culturais, e como eles podem incentivar con-gregações recém-plantadas acontextualizarem o evangelhoem seu ambiente cultural específico. Estes tópicos podem serincluídos em cursos de contextualização e comunicaçãotranscultural.

Tempo deve ser dado a um estudo das religiões mundiais,especialmente areligião do povo para onde o candidato espe-ra ir. O melhor meio dos alunos aprenderem é encontrar-secomadeptos dessa religião e conversar pessoalmente comeles.Esteé o ponto forte do programa de treinamento da OperationMobilization na Índia. Seusestudantes são enviados para falarcom muçulmanos e hindus, fazerem perguntas a eles sobre asua fé e descobrir por si mesmos quais as principais diferençasentreessas religiões e o cristianismo. Este é um meio melhor deaprender do que com um preletor queobteve informação deum livro. O livro pode descrever a forma clássica de uma reli-gião, mas ela talvez tenha pouca semelhança com o que écridoe praticado pelo muçulmano ou hindu comum.

Se forem feitas palestras, será melhor se o orador tiver traba-ihado entreo povo dessa religião ou tiver sido um adepto antesde vir ater fé em Cristo.

O treinamento sobreevangelismo e implantação de igrejas irácobrir diversas abordagens que deram resultado no trabalhomissionário, inclusive um estudo das estratégias nacionais e

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112 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

globais do evangelismo. Ele examinará as diferenças entre oevangelismo na própria cultura da pessoa e em outra cultura.Poderia também abordar assuntos mais especializados, taiscomo a missão educacional e médica, missões urbanas, traba-lho de desenvolvimento etrabalho do aluno.

Um curso sobre linguística ou técnicas de aprendizado da lín-gua seria uma adição útil ao programa de estudos. Os alunosraramente têm tempo para aprender um idioma enquanto es-tão em treinamento. Em algumas situações, pode ser apropri-adoou aténecessário que os estudantes tenham tempo para oestudo de línguas porque um idioma específico é usado nocurso! Pode ser necessário, como na Índia, que os alunos deuma parte do país aprendam a linguagem principal de outraparte (por exemplo, o hindi). Mas, bem poucas escolas de trei-namento terão tempo para dedicar ao estudo de línguas. Nasescolas em que a maioria dos alunos vai trabalhar fora do seupaís, eles provavelmente terão de estudar um idioma principalcomo o inglês ou o chinês.

Um curso sobre métodos de pesquisas irá preparar os estu-dantes para investigar um campo potencial de serviço, no sen-tido de descobrir que grupos de pessoas se encontram ali,quais as suas necessidades, que trabalho já está sendo feitoentre elas e que tipos de abordagens seriam mais eficazes. Al-guns centros exigem que todos os alunos realizem um projetode pesquisa no paíspara onde esperam ir ou no tipo de ministé-rio em queesperam trabalhar. Seus projetos podem fornecerinformação valiosa para grupos subseqüentes de alunos.

A vida e o trabalho transculturais devem ser também incluí-dos no currículo. Esta matéria abrange pontos práticos, taiscomo tratar com o choque cultural, cuidar de crianças numacultura diferente, educação dos filhos, escrever cartas de ora-ção, angariar fundos e manter-se em contato com a igreja emsua terra.

Alguns programas de treinamento consideram útil fazerum cursosobre o cristianismo no mundo de hoje, quedá aos alu-

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PLANEJAMENTO DO CURRÍCULO 113

nos umaperspectiva maisampla sobre o que está acontecendono mundo e na igreja. Os que tiverem conhecimento especi-alizado de assuntos importantes (por exemplo, AIDS, econo-mia) de certas áreas do mundo ou de ministérios especiais(como trabalho dos alunos, ministério urbano, evangelizaçãode muçulmanos) podem ser convidados a compartilhar osseusconhecimentos. Isto nãosó tornará os alunos melhor in-formados, como pode ser também um fator decisivona escolhado futuro ministério deles.

Os estudos de caso são um meio interessante de ajudar osestudantes a enfrentar algumas das difíceis decisões que terãode tomar durante o seu período de serviço missionário. Livrostais como o de Rhena Taylor8 oferecem capítulos curtos quepodemser lidos rapidamente e formar a base para uma discus-são positiva de um assunto específico.

Estudos PastoraisQuando eu estava na faculdade de teologia, havia um cursosobre estudos pastorais. Aúnica coisa que me lembro de teraprendido naquele curso foi como lavar e preparar um morto!Desde meados de 1960 grande progresso tem ocorrido no en-sino dos cuidados pastorais e aconselhamento. Os benefíciosdisto podem ser aplicados ao treinamento missionário. Os can-didatos a missionário precisam compreender a si mesmos, oque os motiva, quala bagagem emocional que transportam ecomo reagem à perda, mudança eestresse. Devem compreen-der também como as outras pessoas funcionam eporque rea-gem de várias formas. O curso de estudos pastorais foi um dosmais formativos e influentes da ANCC. O curso teve longa du-ração efoi dado também tempo suficientepara que as pessoaspensassem, falassem eorassem por questões significativas ex-postas.

Os programas cheios de preleções ou de tarefas não dãotempo aos alunos para considerar questões pastorais ou discu-ti-las com o treinador. Essas questões podem vir a tornar-se

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114 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

grandes pedras de tropeço em seu crescimento pessoal eafe-tar radicalmente seu futuro ministério.

Sessões sobre casamento irão ajudar os candidatos amissio-nário casados a entender melhOr seu parceiro e prepará-lospara oferecer cursos similares no futuro. As sessões sobreo es-tado de solteiro irão ajudar os candidatos solteiros a refletiremsobre os desafios especiais eas oportunidades de ministériopara a pessoa solteira. Alguns podem até apreciar um cursosobre como encontrarum marido/esposa!

ConclusãoComo dissemos no início, poucos centros podem incluir todasessas matérias e terão de escolher as que forem mais adequa-das e relevantes no seu contexto. No capítulo seguinte iremosexaminar outros cursos necessários para criar um programade treinamento integrado.

Notas1. 93,8% dos missionários coreanos têm diploma universitá-

rio. 38,5% receberam graus de mestrado ou doutorado.Korean Missions Handbook (Seul, Coréia: Korean ResearchInstitute for Missions, 1994).

2. Veja Don Richardson, Eternity in Their Hearts (Ventura,CA: Regal Books, 1981).

3. John S. Mbiti, African Religions and Philosophy, (Ibadan,Nigéria: Heineman, 1969), 29-38.

4. John S. Mbiti, Concepts of God in Africa (Londres, UK:SPCK, 1970), 71.

5. Don Richardson, Peace Child (Ventura, CA: Regal Books,1974).

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PLANEJAMENTO DO CURRICULO 115

6. Don Richardson, Eternity in Their Hearts (Ventura, CA:Regal Books, 1981), 112.

7. Panya Baba, “Frontier Mission Personnel”, em Seeds ofPromise, ed. A. Starling (Pasadena, CA: William CareyLibrary, 1981), 119.

8. Rhena Taylor, Rough Edges (Leicester, UK: IVP andPatmos, 1978) e The Prisioner and Other Stories (Londres,UK: MARC and Patmos, 1987).

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8TREINAMENTO INTEGRAL

Treinamento da Pessoa TotalOs centros de treinamento não estão interessados em oferecersomente programas acadêmicos. Eles desejampreparar os es-tudantes mental, emocional, espiritual e praticamente. Os cen-tros também estão preparando estudantes contra o estresse eochoque de viver e trabalhar em outra cultura.

Priorizando os Componentes do TreinamentoSeis centros de treinamento missionários no Terceiro Mundoforam consultados sobrequais eram, na sua opinião, os ingre-dientes mais importantes num programa eficiente de treina-mento. Foi solicitado que colocassem osseguintes aspectos dotreinamento em ordem de prioridade:

a. Desenvolvimento do caráter espiritualb. Aprender a viver com outros na comunidadec. Desenvolvimento de uma perspectiva pessoal sobre mis-

sões

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118 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

d. Aprender como evangelizar transculturalmentee. Desenvolvimento da eficácia no ministériof. Outros.

As respostas recebidas se encontram no Apêndice 2.A AICMC considerou o evangelismo transcultural como a

sua prioridade máxima, desde que supunha que osseus alu-nos já eram maduros e tinham considerável experIência noministério cristão. O treinamento distinto que precisavam eraaprender como evangelizar através das barreiras culturais. OGMTC achou que emboraesses elementos fossem importan-tes, a maior contribuição que um centro de treinamento pode-ria fazer era ajudar os alunos a desenvolverem a sua própriaperspectiva sobre missões.

O desenvolvimento da eficácia ministerial recebeu umaclassificação relativamente baixa de todos os centros, desdeque era suposto que osalunos haviam provado ser competen-tes para ministrar antes de sua aceitação como candidatospara o treinamento. Um centro ressaltou que abrevidade docurso de treinamento tornava difícil avaliar o progressosigni-ficativo nesta área.

O ACTI afirmou que, além dos cinco elementos acima, eraimportante que osestudantes descobrissem como tratar com oestresse e como sobreviver ao choque cultural. Os alunos ti-nham também de aprender como relacionar-se com as agênci-as missionárias eas igrejas que os enviaram. Um centro disseque achava difícil escolher entre oscinco elementos, por sentirque todos eram vitais!

Desenvolvimento EspiritualEmbora quatro dos centros considerassem o desenvolvimentoda vida espiritual do aluno como sua principal prioridade, elesindicaram que todos se esforçam para descobrir a maneiramais eficientede alcançar esse alvo.

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TREINAMENTO INTEGRAL 119

O AMTC dá torte ênfase ao desenvolvimento da autodis-ciplina espiritual. Uma hora emeia acada manhã são reserva-das paraas devoçõespessoais. Eles separaram uma área espe-cial para a oração eedificaram uma casa de oração. A casa deoração contém um aposento maior para as reuniões de oraçãoe várioscubículos para aoração em particular. Todos os meses

é celebrado um meio dia de oração e a cada dois meses umareunião de oração bem cedo pela manhã. Outros dias são re-servados para oração ejejum. Uma cadeia de intercessão pelasnecessidades do mundo émantida 24 horas por dia.

O NEMI dá maior ênfase à oração corporativa do que ain-dividual. Os estudantes preferem ter um período conjunto deadoração às 5h30m da manhã do que seguir o modelo típicoocidental de “momentos tranqüilos” individuais.

A ANCC tenta alcançar um equilíbrio entre oração indivi-dual, oração em grupo eoração comunitária. Espera-se que osalunos desenvolvam seu próprio padrão de oração pessoal eestudo bíblico, embora não tenhasido estabelecido um horáriofixo para isto. Na prática, alguns preferem orar de manhãcedo, outros à noite e outros ainda no tempo livre durante odia.

Os alunos se reúnemem pequenos grupos, trêsmanhãs porsemana, para adoração liderada por cada um deles em siste-ma de rodízio. Uma passagem bíblica éescolhida e os alunossão incentivados a serem criativos na sua liderança do grupo.Eles podem concentrar-se na intercessão, louvor, agradeci-mento ou meditação. Podem adaptar o período de adoraçãopara quaisquer crianças presentes, com o uso de coros ou jo-gos. Podem levar um grupo para um passeio nos bonitos jar-dins da faculdade, parando ao ar livre para louvar a Deuspela beleza da sua criação.

Uma vez por semana toda a comunidade se reúne para umculto de adoração eexposição bíblica. O estilo da adoração édeliberadamente variado, em vista de haverem alunos de di-versos países einúmeras denominações.

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120 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Uma vez no trimestre é separado um dia tranqüilo. Os alu-

nos são incentivados a passar o dia em oração, louvor, reflexãoe meditação. Esta éuma experiência nova e estranha para al-guns deles e são dados avisos práticos sobre como usar o diacommaior proveito. Os estudantes são encorajados a continu-ar a prática de ter “dias tranqüilos” em seu futuro ministério.

No NEMI o testemunho da equipe de treinadores e dos alu-nos é estimulado como um meio de edificar a fé de toda a co-munidade. No GMTC o aconselhamento individual dos alu-nos pela equipe resultou muitas vezes em um crescimento espi-ritual significativo.

Alguns centros começam o seu programa de treina mentocom uma ou duas semanas de instrução sobre o discipulado.Eles lembram o estudante do compromisso, disciplina, humil-dade e auto-sacrifício exigidos daqueles que servem aJesusCristo. Ensinam também a importância da obra do EspíritoSanto em fortalecer e capacitar os alunos para o seu futuro mi-nistério. Num estágio posterior enfocam outros aspectos davida cristã, tais como o desenvolvimento da vida de oração dosalunos, o lugar do jejum, aintercessão eficaz e métodos de es-tudo bíblico pessoal.

Quase todos os centros oferecem pelo menos um curso so-bre o combate espiritual, no qual examinam tanto os ensinosbíblicos quanto os estudos de caso. Este curso é mais eficazquando os alunos têm oportunidade para compartilhar doministério com alguém experimentado.

Formação do CaráterOs missionários nãodevem apenas pregar sobre o amor deDeus; eles devem demonstrar o amor de Deus em suasvidas.Eles nãodevem apenas falar de Jesus; devem refletir o Seu ca-ráter. Os candidatos amissionário devem enténder que as pes-soas são mais atraídas para Cristo pela vida dos cristãos doque pelas suas palavras.

P

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TREINAMENTO INTEGRAL 121

Uma comunidade cristã oferece uma excelente oportunida-

de para o crescimento do caráter cristão. Quando os cristãoscompartilham uma vida comum, eles passam a conhecer asfraquezas edefeitos uns dos outros assim como osseus própri-os. Mediante a graça de Deus eles podem tornar-se mais paci-entes, mais compreensivos emais prontos a perdoar.

O problema mais comum experimentado no NEMI é o datensão inter-tribal. Embora quase todos os estudantes venhamde um único país, eles têm atitudes e modos diferentes de fa-zer as coisas. Apesar de usarem os mesmos ingredientes nasua alimentação, preparam ecozinham a comida de maneirasmuito diferentes. Isto pode causar atrito entre os alunos eelestêm de esforçar-se muito para compreender uns aos outros,admitindo que pode haver outros meios legítimos de cozinhara carne. É essencial que os que vão falar do amor de Deus te-nham aprendido como viver em harmonia com outros, especi-almente com aqueles que pertencem a tribos diferentes.

No futuro, mais emais missionários irão trabalhar comomembros de uma equipe internacional. É triste dizer, masmesmo quando os parceiros da missão são da mesma naciona-lidade, eles acham difícil conviver em harmonia, chegandoalgumas vezes ao ponto de não se falarem. Quando os parcei-

ros de missão são de ambientes culturais diversos, o potencial

de problemas cresce.

Mesmo na Ásia, os cristãos de um país podem achar tãodifícil trabalhar com os de outro como comos ocidentais. Elespodem atésentir que o seu país é tão diferente dos outros paí-ses asiáticos que têm pouco em comum com eles. Como já vi-mos, um aluno japonês em treinamento no ACTI nãoconse-guia realmente entender queo Japão faz parte da Asia. Umadas prioridades de todo programa é então desenvolver ahabi-lidade dos candidatos para apreciar etrabalhar com os estu-dantes de outros ambientes. Nas palavras de um pastor daCoréia que se achava no ACTI: “Aprendi muitas maneirastransculturais de vida tais como costumes, comida e até

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122 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

cumprimentos. Aprendi também a importância e a prática doespírito de equipe”.’

Cursos PráticosOs centros de treinamento oferecem um amplo leque de cursospráticos que permitem ao estudante adquirir habilidades téc-nicas sempre úteis no campo de trabalho. Estes cursos variam

segundo o tamanho do campus, as facilidades, as especializa-ções disponíveis, e o tipo de ministério para o qual os alunosestão sendo preparados.

Os que vão trabalhar em um ambiente cultural totalmentenovo, podem precisar de conselhos sobre como cultivar, cozi-

nhar e comer os alimentos que encontrarem. Outros podem

futuramente depender da habilidade de cuidar do gado, gali-nhas, coelhos, cabras evacas, a fim de sobreviverem. Eles terãonecessidade de um curso introdutório sobre como cuidar deanimais.

Outros terão de projetar e construir sua própria casa e, por-tanto, um curso sobre construção será útil. Muitos irão benefi-ciar-se de um curso do tipo “faça-você-mesmo” paracapacitá-los a dar conta dos consertos domésticos necessáriosquando não houver nenhum técnico à mão.

Conforme a sua futura zona de serviço, os candidatos amissionário irão tirar proveito de um curso sobre conserto debicicletas, motocicletas ou carros. Talcurso irá poupar-lhes di-nheiro e problemas e, em certas ocasiões, pode evitar até quefiquem perdidos durante horas ou dias em lugares isolados eperigosos.

Algunscursos práticosoferecidos nos centros de treinamen-to refletem a riqueza e a sofisticação do ambiente do centro,enquanto outros indicam o tipo de ministério em queos estu-dantes pretendem envolver-se. O ACTI de Cingapura oferececursos de eletrônica, processamento de textos e fotografia. AAIMC e o OTI, por outro lado, se concentram nas habilidades

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TREINAMENTO INTEGRAL 123

práticas que osalunos irão precisar quando estiverem vivendoem aldeias remotas da África e da Índia.

Os candidatos aprendem acultivar, cozinhar ecomer alimen-tos de outras culturas... Elesaprenderão a gostardo gado paraque possam vir a apreciar melhor ossentimentosdas tribos quedependem exclusivamente desses animais. Os estudantes irãoaprendercomo ordenhar cabras evacas. Outros usos dos laticí-nios serão ensinados. Na área da agricultura, lavouras resisten-tes à secaserão plantadas e o cultivo de terras em zonas áridasserádiscutido.2

No AMTC osalunos têm a oportunidade de ganhar experi-ência no cuidado de animais, na pesca e na apicultura, assimcomo em trabalhar na gráfica da missão. No NEMI, além dosvários cursos já mencionados, treinamento é também oferecidoem trabalho com literatura e desenvolvimento da comunida-de.

Outros cursos oferecidos em diferentes centros incluem pri-meirossocorros, saúde e higiene nas zonas tropicais, cuidadosodontológicos de emergência, produção de programas de rá-dio, teatro e mímica, costura, literatura, contabilidade etecnologia de nível intermediário.

Os alunos que fazem esses cursos não só beneficiam a simesmos, como também podem ensinar suas habilidades e co-

nhecimentos recém-adquiridos a outros. Isto irá reforçaro seuministério e talvez abrir portas em algumas comunidades quede outra forma permaneceriam fechadas.

Alguns estudantes esperam implantar igrejas e,pelo menosnos estágios iniciais, serem responsáveis a nível pastoral pelosmembros dessas igrejas. Eles terão de liderar, incentivar ediscipular outros. Precisam saber como tratar com conflitos esanar divisões. Terão necessidade de estudar os princípios bí-blicos da liderança ereceber orientação prática sobre estilos deliderança.

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124 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Se forem ensinar teologia, necessitarão conhecer váriosmo-delos de treinamento da liderança. Devem estudar as vanta-gens e desvantagens dos programas de treinamentoresidenciaise não-residenciais, tais como “Educação Teológi-ca por Extensão”. Uma das tarefas que pode serdada aeles é ade preparar um curso de treinamento parapastores ou líderesleigos.

É possível que os estudantes tenham de treinar um dia uma

equipe de missionários. Isso envolverá planejamento de estra-

tégias, avaliação do progresso, preparo de relatórios e contabi-lidade. Será bom também que façamcursos de gerenciamentoe administração financeira.

Habilidades de MinistérioOs alunos não devem só estudar a Bíblia, missões e cultura.Eles devem ser igualmente capazes de comunicar eficiente-mente o que aprenderam. Devem desenvolver uma amplavariedade de habilidades de comunicação, variando de teste-munhos curtos àpregação, do evangelismo pessoal àliderançade estudos bíblicos. Os alunos precisarão aprender a comuni-cação efetiva ea praticar o que aprenderam.

Quando iniciei o ministério eu apreciava a oportunidade depregar regularmente. Apreciava também os conselhos eencorajamento do pastor senior. Ele examinava o queeu pre-tendia dizer em meu sermão eme fazia pregar para uma igrejavazia. Em seguida, dava sugestões sobrecomo a minha apre-sentação podia ser melhorada.

Quanto maisos alunos puderem praticar para desenvolversuas habilidades de comunicação equanto mais críticas cons-trutivas receberem, tanto melhores comunicadores se torna-rão. Alguma prática pode ser obtida na própria comunidade,permitindo que os alunos dirijam o serviço de adoração oupreguem. Grupos de oradores também oferecem uma oportu-nidade para os alunos darem testemunho e fazerem palestrasou sermões evangelísticos para os seus colegas. O uso de gra-

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TREINAMENTO INTEGRAL 125

vadores e videocâmaras ajudará para que eles possam ouvir

sua própria voz e observar suas peculiaridades. Esta talvez

não seja uma experiência agradável, mas ela mostrará como a

sua apresentação pode ser melhorada.

Um meio mais eficaz dos estudantes desenvolverem seusdons de comunicação é aplicando-os no seu trabalho. Esta éaforça dos programas de treinamento baseados no campo (situ-ação de ministério) em vez de na sala de aula.

Em um documento apresentado na India MissionsAssociation, K. Rajendran sugeriu diversos exercícios para odesenvolvimento das habilidades de comunicação quepodi-am ser realizados no contexto do ministério.3 Estes incluíam:

la. Escrever trêssermões evangelísticos a serem pregados nasruas.

b. Pregar em três ocasiões a não-cristãos na rua ou em um

lugar público.2a. Levar um hindu aCristo.b. Escrever cinco princípios importantes que você aprendeu

sobre levar hindus aCristo.3a. Levar um muçulmano aCristo.b. Escrever cinco princípios importantes que vocêusou para

levar o muçulmano a Cristo.4a. Escrever duas mensagens evangelísticas, umapara muçul-

manos e outra para hindus.b. Compartilhar essas mensagens em duas reuniões com as

pessoas acima mencionadas.5a. Preparar duas mensagens devocionais para os crentes.b. Transmitir essas mensagens em devoçõesna faculdade ou

em grupos, ou ainda em algumas reuniões nas casas.6. Escrever uma carta de acompanhamento (“follow-up”)

para um contato hindu.

7a. Preparar-se para falar por 10 minutos sobre um grupo depessoas na Índia.

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126 MISSÕES: PREPARANDO AQUELEQUE VAI

b. Compartilhar a sua apresentação numa reunião de ora-

ção.8a. Planejar uma reunião de oração de quatro horas.b. Dirigir a reunião.

Na maioria dos programas de treinamento éexigido que osalunos se envolvam em evangelismo ou pregação numa basesemanal regular. Na AICMC no Quênia, os alunos usam as

tardes durante a semanapara sair em grupos de dois ou trêspara fazer evangelismo urbano em Eldoret. No OTI, na Índia,estudantes são divididos em grupos de três a cinco para acom-

panhar a equipe de treinadores em viagens evangelísticas às

aldeias vizinhas.Além do seu ministério semanal regular, osalunos podem

ser enviados ao campo de trabalho em viagens curtas ou mi-

nistérios mais longos. As viagens curtas ao campo duram ape-

nas uma ou duas semanas. Os alunos viajam em pequenas

equipes, geralmente acompanhados por um membro da equi-pe, evisitam vários tipos de ministério. A viagem pode sernoâmbito da sua cultura ou entre pessoas de outra cultura. Paraalguns, este pode ser o seu primeiro encontro comum grupode pessoas diferentes. Para outros, pode ser asua primeira vi-são do queestá envolvido na vida eministério transculturais.

As viagens ministeriais variam de um a seis meses de dura-ção. Seu objetivo é dar aos alunos a oportunidade de viver com

pessoas de uma cultura diferente e aplicar algumas das coisasqueaprenderam.

Em certa ocasião visitamos trêsmissionários nigerianos es-tudantes durante seu estágio de três meses no campo. Ele ti-nham recebido transporte até uma aldeia ainda não-evangelizada, mas não receberam ajuda financeira durante atemporada de experiência. Esperava-se que aceitassem toda equalquer hospitalidade oferecida e queconfiassem em Deuspara todas as suas necessidades. Nós os vimos justamentequando seu estágio na aldeia estava no fim. Os aldeãosse mos-

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TREINAMENTO INTEGRAL 127

travam tristes com a partida de alguns. Eles haviam gostado

dos jovens missionários erespondido à sua mensagem. Naque-

les três meses 80 membros da aldeia foram preparados para obatismo. Ao deixarmos o local refletimos sobre a excelência doaprendizado que aquele estágio proporcionara.

OACTI éum dos centros que tentou fornecer treinamentointegral para seuscandidatos amissionário. Paul Buttrey, dire-tor-assistente de Área para aOMF de Taiwan, teve a oportu-nidade de avaliar nove missionários treinados pelo ACTI equeestão servindo agora em Taiwan.Ele fez cinco observaçõessobre a eficiência da preparação recebida por eles.

Primeiro, Buttrey nota que o treinamento deuaos missioná-rios maior autoconhecimento. Ele cita o exemplode umachinesaquenão compreendia realmente o que era serchinesa até terestudado no ACTI. Segundo, observa que os formandos doACTI sabiam enfrentar o choque cultural resultante da entradaem umanova cultura, quer fosse a sujeira, o barulho, aincapa-cidade de falar mandarim, ou o fato de ser considerado umestrangeiro na Ásia. Elecomenta, outrossim, queesses novosmissionários tiveram mais facilidade em relacionar-se com osmissiondrios ocidentais e, em conseqüência, se beneficiaram deum patamar mais elevado de confiança mútua eapoio dos cole-

gas. Buttrey conclui que os diplomados pelo ACTI parecem

melhor preparados paragerenciar situações por terem desen-volvido expectativas realistas da vida e do trabalho missioná-rio.4

Treinamento de Missionários SolteirosQuase todas as faculdades teológicas foram estabelecidas on-

ginalmente para treinar homens solteiros para o ministérioordenado. As faculdades bíblicas destinadas ao treinamentode leigos para o ministério eram geralmente estabelecidaspara homens ou mulheres solteiros. A All Nations MissionaryCollege foi no princípio uma pequena faculdade para treinarhomens solteiros para missões. Em 1971 ela se uniu a duas

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128 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

outras faculdades que estavam treinando mulheres solteirascomo missionárias. Os diretores das três faculdades achavamqueera certo que os homens emulheres que iam trabalhar jun-tos fossem treinados em conjunto.

Os novos centros de treinamento que estudamos no Tercei-ro Mundo foram estabelecidos para treinar homens e mulheressolteiros, assim como casais, com duas exceções. A AICMC foiconstruída especificamente para treinar casais. Os poucosmissionários solteiros da AIC foram para uma faculdade teo-lógica ou bíblica. Faltou a eles o benefício do treinamentotranscultural eprático. Mais recentemente, a faculdade se dis-pôs a treinar homens emulheres solteiros. O NEMI, por faltade facilidades adequadas, se concentrou no treinamento dehomens solteiros ou casados, sem as esposas. Os outros cen-tros reconheceram a importância de treinar solteiros e adota-ram a práticade treinar tanto homens como mulheres no mes-mo lugar.

Seminários especiais podemser realizados sobre o potencialdo missionário solteiro. Paulo disse em 1 Coríntios 7 que o indi-víduo solteiro pode concentrar-se no trabalho do Senhor, livredos cuidados e responsabilidades familiares. Os treinadoressolteiros ou queserviram como missionários solteiros podemcompartilhar a sua experiência. Os estudantes solteiros quetiveram experiência missionária e os missionários solteiros emférias podem também contribuir nesse setor.

Os missionários solteiros também enfrentam algumas difi-culdades. Em algumas áreas de serviço, o isolamento ea soli-dão podem ser um problema; em outras, a pressão do exces-so de trabalho. Um líder casado pode não compreender queossolteiros não têm um parceiro que cuidedeles ou comquemcompartilhem as tarefas domésticas e faz então exigênciaspouco razoáveis aos mesmos. As mulheres solteiras podemachar difíceis certas tarefas físicas e alguns homens solteirostalvez achem difíceis as tarefas domésticas “mais leves”. Oscursos práticos do centro que tratem de matérias como con-

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TREINAMENTO INTEGRAL 129

sertos de carros, carpintaria e cozinha serão muito aprecia-dos.

Discussões sobre o comportamento apropriado entre os se-xos em culturas diferentes serão uma boa preparação para osestudantes solteiros. Eles precisam ser advertidos das possíveisrestrições em seu contato com o sexo oposto e do provável au-mento da tentação sexual numa nova cultura, especialmentenuma situação isolada. Os homens solteiros devem compreen-der queas pessoas talvez não entendam o motivo da sua con-dição. As mulheres solteiras precisam preparar-se para as fre-qüentes perguntas sobre arazão de não se terem casado.

Quando ossolteiros treinam juntos com oscasados eles po-dem aprender como ajudar seus colegascasados no futuro. Osmissionários solteiros têm sido de grande auxílio para as famí-lias missionárias, tornando-se tias e tios para as crianças, cujostios etias legítimos estão a muitos quilômetros de distância. Nasituação menosestressante do centro de treinamento, os soltei-ros podem falar com oscasados sobre o tipo de atitudes eexi-gências que não osbeneficiam. Isto torna os casais mais com-preensivos na situação mais exigente do ministério.

Alguns centros treinam homens emulheres solteiros, nãotanto por crerem no potencial dos missionários solteiros, masporque desejam prepará-los para o casamento. Na história daevangelização da igreja, muito mais foi alcançado por indiví-duos solteiros, tais como os monges celtas e as ordensmissionárias católico-romanas, do que por casais. Até mesmonos dois últimos séculos da missão protestante, muito tem sidofeito por pessoas solteiras e, portanto, asua contribuição nãodeveser subestimada.

Houve grande debate durante o século 19 sobre permitir ounão que mulheres solteiras fossem enviadas da Europa e Amé-rica do Norte para trabalhar como missionárias. Alguns líderesconhecidos de missões, tais como Hudson Taylor, FrederikFranson e o General Booth incentivaram as mulheres solteiras.Em algumas partes da África e da Ásia,as mulheres estão sen-

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130 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

do hoje desencorajadas de se tornarem missionárias até que secasem. Em 1991, Paul Pierson, reitor da Fuller School of WorldMission, escreveu:

O reconhecimento do papel das mulheres é extremamenteimportante para os missionários. Mas,em muitas culturas osdonsdasmulheres continuam sendo inadequadamenteavalia-dos. Todavia, todo crentepossui dons quedevem serusadosnoministérioparaa ampliação do reino de Deus.5

O papel da mulher na Igreja varia grandemente ao redordo mundo, dependendo das oportunidades educacionais,normas culturais eposição teológica da Igreja. Os treinadoresde missionários, porém, precisam ter conhecimento da enor-me contribuição que as mulheres, solteiras ou casadas, fize-ram no movimento missionário da Igreja. Eles precisam igual-mente reconhecer as oportunidades crescentes abertas para asmulheres e prepará-las adequadamente.

Os centros de treinamento devem treinar homens emulhe-res solteiros, incentivando-os a ver como a sua colaboraçãopode sersignificativa.

Treinamento de Casais e FamíliasO número de homens casados nas faculdades teológicas pro-testantes cresceu à medida queaumentou a média de idadedos ordinandos, mas a maioria das esposas não recebeu umtreinamento comparável. Embora as mulheres solteiras noOcidente tenham geralmente recebido treinamento antes de setornarem missionárias, grande parte das mulheres casadasnão teve essa oportunidade. Em meados do século 200 nomede muitas esposas não foi incluído nas listas das sociedadesmissionárias denominacionais; só um pequeno “(m)” apareciadepois do nome do marido! Em 1994 o Korean Research Institutefor Missions não conseguiu dar a média de idade dos missioná-

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TREINAMENTO INTEGRAL 131

rios coreanos, “porque algumas agências não mantinhamregistro das esposas dos missionários”.6

Estafalta de treinamento para as esposas tem sido infeliz eimprevidente. Além da ajuda que tal treinamento poderia darao ministério do marido e da mulher, a esposa irá provavel-mente sofrer um choque cultural maior do que o marido numasituação transcultural. (Isto se aplica também às esposas dediplomatas e homens de negócios exilados.) Ochoque culturalnão é causado pelo fato das mulheres serem o “sexo fraco”. Omarido geralmente passa a ocupar um cargo que lhe dá umpapel e identidade definidos. Se precisar aprender a língua,tempo édado e provisão feita para isso. A mulher, por seulado, tem a responsabilidade de dirigir a casae algumas vezesensinar as crianças; aprender novas maneiras de comprar,cozinhar e limpar; tratar com os empregados e negociantes;tudo isso, porém, semsequer um curso de idiomas.

Os filhos precisam ser criados num clima diferente, sofren-do doenças eestresses diferentes, masa mãe tem de se arranjarsema ajuda da família e dos amigos. Se o casalnão tiver filhosea mulher trabalhar (p. e., como professora, médica ou enfer-meira), ela terá menos dificuldades de adaptação. Todavia,mesmo assim, o treinamento seria vantajoso.

Todos menos um dos centros de treinamento estudados es-peram queos casais sejam treinados juntos para o seu futurocargo. Algumas esposas sofrem de baixa auto-estima e pen-sam que não serão muito úteis no ministério. Durante um pe-ríodo de treinamento, porém, elas podem descobrir dons antesdesconhecidos, assim como serem incentivadas apraticar osseus dons de hospitalidade, de dar atenção às pessoas e cuidardelas. As mulheres com boa educação poderão sentir-se espe-cialmente frustradas se não forem treinadas juntamente comseus maridos.

Adiretoria da AICMC decidiu que o treinamento oferecidoseria baseado na família. Esta política contrasta com quasetoda a educação teológica no Quênia, que provê treinamento

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132 MISSOES: I’REPARANDO AQUELE QUE VAI

apenas para os homens. Os alojamentos para a família são nocampus. Há também berçário para bebês e crianças pequenas.Um programa de estudos especial em swahili é organizadopara as esposas dos estudantes. Ele se concentra no seu papelcomo esposas e mães eno seu futuro ministério entre as mu-lheres e crianças. As mulheres que terminaram aescola secun-dária ou superior fazemo mesmo curso que os maridos. Afa-mília inteira éenviada para viver com um grupo diferente depessoas durante um estágio de quatro meses de ministério.

Na maioria dos centros, os maridos e esposas seguem omesmo programa. Na ANCC, onde alguns cursos sãoobriga-tórios e outros opcionais, os parceiros podem decidir especi-alizar-se em áreas diferentes. Os dons dele podem estar noensino bíblico e osdela em liderar grupos de estudo bíblico. Elepode estar treinando para ser evangelista ou pregador; elapode querer especializar-se em aconselhamento pastoral.

O marido de uma missionária era médico eprofessor demedicina numa universidade e sua esposa tinha o dom dahospitalidade e do evangelismo por amizade. Ele estava sem-pre muito cansado no final do dia de trabalho, mas a esposasempre conseguia arranjar reuniões cristãs em sua casa paraos alunos dele. Neste país, que éfechado para os missionáriosde tempo integral, alguns vieram a conhecer Cristo e outrosforam edificados na fé mediante o ministério compartilhadopor esse casal. O marido de outra missionária era um bomorganizador, ele arranjava então grandes reuniões evangéli-cas e sua esposa, que tinha um grande dom para a evangeliza-ção, pregava. Muitas igrejas foram fundadas através do traba-lho conjunto deles. É, portanto, vantajoso quando maridos emulheres treinam juntos e seguem um curso apropriado paracada um deles, na medida do possível.

O centro fornece berçário ou alguém que cuide das crianças,embora no caso do ACTI os próprios casais arranjam as babáspara seus filhos. No OTI todas as famílias comem junto com orestante da comunidade. As crianças são cuidadas, apesar de

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TREINAMENTO INTEGRAL 133

“não ser exatamente um berçário no sentido ocidental”.7 OGMTC descreve a sua política nestes termos: “Os cônjuges sãoobrigados a fazerexatamente o mesmo programa. Os maridospodem ajudar as mulheres quando necessário. Um berçário éprovido durante as horas de aula”.8

Se houver crianças maiores, pode ser fornecido transportepara uma escola nas imediações. Os termos letivos do centrodevem coincidir com os da escola local. É preciso quehaja umbom relacionamento com a escola, a fim de queela aceite cri-anças que freqüentem as aulas apenas durante um breve perí-odo de tempo. A YCLT possui uma escola no centro, que nãosó cuida das crianças da equipe de treinadores e dos alunos,como também dos filhos de missionários que servem nas áreasrurais.

Alguns centros oferecem acomodações no local para os ca-sais e suas famílias. Onde istonão é possível, seria bom provi-denciar casas baratas nas vizinhanças.

Esses centros também dão aos casais oportunidade pararefletir sobre a sua relação como marido e mulher e sobre asmudanças que eles e suas famílias terãode enfrentar ao inicia-rem o ministério transcultural juntos. O ACTI dá tempo “aoscasais para repensarem seus papéis como marido e mulher eplanejarem a melhor maneira de servir juntos”.9 A ANCCoferece seminários sobre o casamento. Estudos de casos demissionários são discutidos, alertando os estudantes para astentações sexuais que podem ter de enfrentar numa culturadiferente.

Em vários centros são feitaspalestras sobre a vida familiar,para ajudar ospais a criarem os filhos em uma “terceira cultu-ra”. Os estudantes são também informados das diversas possi-bilidades para aeducação de seus filhos.

ConclusãoCaso a igreja queira fazer discípulos de todas as nações, eladeve utilizar-se dos donsde todos osseus membros, homens emulheres, solteiros e casados, e oferecer preparo abrangente

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134 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

para atarefa missionária. É dever dos centros de treinamentomissionário fornecer essa preparação integral.

Notas1. “Asian Cross-Cultural Training Institute” (folheto publici-

tário) (Cingapura: ACTI, 1991), 6.

2. “Africa Inland Church Missionary College Prospectus”(Eldoret, Quênia: AIC Press, 1991), 11.

3. K. Rajendran (artigo apresentado à India MissionsAssociation, 3 de junho de 1994), 4-5.

4. P. Buttrey, “Well Prepared for the First Term” (artigo nãopublicado, 1992).

5. Paul E. Pierson, “A North American Missionary TrainerResponds to Two-Thirds World Concerns”, emInternationalisingMissionary Training: A Global Perspective),ed. William D. Taylor (Exeter, UK: Paternoster Press,1991), 196.

6. Sang Cheol Moon, “Who Are the Korean Missionaries?(1994)”, em The Pabalma (Seul, Coréia: Korean ResearchInstitute for Missions, 1994), 5.

7. “Outreach Training Institute” (instrumento de pesquisa,1992), 6.

8. “Global Ministry Training Centre” (instrumento de pes-quisa, 1992), 6.

9. Titus Loong, “Training Missionaries in Asia”, emInternationalising Missionary Training: A Global Perspective,ed. William D. Taylor (Exeter, UK: Paternoster Press,1991), 45.

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9TREINAMENTO E CULTURA

Os centros de treinamento não estão envolvidos no ensino decrianças, mas no de adultos. Os candidatos amissionário têmgeralmente mais de 20 anos; muitos são bem mais velhos. Osque treinam esses candidatos precisam tratá-los como adultose saber como os adultos aprendem. É útil estudar o quefoi es-crito sobre a educação de adultos1 e consultar livros escritossobre treinamento missionário e arenovação da educação te-ológica.2

Aprender pela experiênciaOs estudantes são homens e mulheres maduros que já tiveramexperiência da vida e do serviço cristão. Adquiriram bastantediscernimento por meio da sua criação, educação eambientecultural. Alguns já terão desempenhado parte ativa na igrejada sua cidade; outros terão trabalhado no ministério cristãodurante vários anos.

Este cabedal de experiência anterior é um recurso valiosono processo de aprendizado.

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136 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Ele dá aos alunos uma base para reflexão enquanto estãosendo treinados. Oferece um fundamento sobre o qual cons-truir. Quando osalunos aprendem algo novo que é acrescen-tado ao que já sabem, terão mais probabilidade de lembrar

disso e perceber a sua relevância.

A experiência de vida e ministério cristão anteriores dos alu-nos também significa que eles possuem algo significativo eimportante para contribuir para o programa de treinamento.Estão em condições de partilhar com seus colegas o que com-preenderam eexperimentaram. Os que participaram de dife-rentes tipos de ministério cristão por algum tempo poderãocontar aos outros osproblemas encontrados e as lições apren-didas.

Os que viveram ou trabalharam em outra cultura irão des-crever seus costumes e práticas. Seu conhecimento de primei-ra mão enriquecerá o grupo e ampliará a compreensão decada aluno quanto às diferentes culturas e cosmovisões. Umafricano contou a um grupo de estudantes ocidentais queseconverteu lendo a genealogia de Jesus no evangelho deMateus. Ele explicou quena sua cultura as genealogias são le-vadas a sério. Cada membro da tribo conhece os nomes de

seus ancestrais por muitas gerações. Até mesmo as criançaspequenas aprendem os nomes das 10 gerações anteriores.Quando leu a lista dos ancestrais de Jesus,ele compreendeuque Jesus era uma pessoa real e que o Novo Testamento eraum registro histórico enão uma coleção de fábulas.

Aprender FazendoOs adultos não querem ser receptores passivos de informação.Seu desejo é envolver-se ativamente no processo de aprendiza-do e quanto mais ativamente se envolvem, mais efetivamenteaprendem. Um educador disse o seguinte: “O estudanteaprende mediante o que faz e não através do queo professorfaz”.3 Em reconhecimento deste fato, a maioria dos progra-

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TREINAMENTO E CULTURA 137

mas de treinamento se utiliza de uma escala variada de ativi-dades interativas de aprendizado, tais como discussões, estu-

dos de caso e desempenho de papéis. Muitos programas gas-

tam de 25 a50% do tempo neste tipo de atividade de apren-dizado.4

Os alunos devem ser estimulados a dirigir seminários. Apreparação exigirá muitas horas, masserá um tempo bem gas-to. O aluno que dirige o seminário seráo maior beneficiado doprocesso, porque uma das melhores maneiras de aprender éensinando outros. Os alunos nem sempre irão dirigir tão bemo seminário como faria o professor e aclasse poderá entãoficarfrustrada. Este problema éminorado se o professor der orien-tação sobre o material a ser incluído e a melhor maneira deapresentá-lo. Se o professor estiver também disposto a dedicar

um tempo depois do seminário para discutir o desempenho doaluno, isto dará a ele uma nova oportunidade de aprender

pela experiência e aperfeiçoar os seusdons de comunicação.O esforço intelectual é outra atividade que maximiza o

envolvimento dos alunos. Isto difere do seminário porque nãoé necessário preparo antecipado. Em vez disto, é pedido aosalunos que reajam espontaneamente a um dado tópico ecom-partilhem suas reaçõese idéias imediatas. Um dos pontos al-tos desta atividade é que ela tira proveito do discernimento eexperiência dos alunos.

Alguns programas de treinamento fazem uso de represen-tações, por ser um meio eficaz enotável de transmitir idéias.Os alunos, quer tomem parte ou simplesmente assistam à re-presentação, podem geralmente lembrar da história durante

muito tempo. Isto irá ajudá-los acompreender o potencial dasapresentações dramáticas da verdade bíblica. Eles podem tam-bém experimentar com outras artes da representação, taiscomo dança, mímica, marionetes e canções, que são fre-qüentemente usados como meios de comunicação em muitasculturas.

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138 MISSOES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

Aprender Como Atividade GrupalEm contraste com os padrões convencionais da educação oci-dental, onde forte ênfase é dada ao estudo eàs realizações in-dividuais, diversas outras culturas encaram tradicionalmentea educação como uma atividade grupal. Isto é visto com clare-

za, por exemplo, na sociedade africana tradicional, onde umgrupo da mesma idade éeducado junto nos costumes eregrasde conduta tribais. Eles não tomam decisões individualmente,mas em grupo. Isto os prepara para o seu papel na comunida-de maior, em que, como adultos, tomam parte na tomada dedecisões corporativas da comunidade.

Nas culturas onde a informação é passada oralmente eonde as decisões são tomadas em comum, este padrão deveser refletido na metodologia de ensino empregada pelos quetreinam homens e mulheres para o ministério cristão. ONEMI, em particular, esforçou-se para adaptar seus méto-dos de ensino à cultura local. Menos ênfase é dada às pales-tras formais e mais ênfase é colocada sobre o trabalho emgrupo. Menos importância é dada aos informativos sobre aspalestras e mais ao que os alunos aprendem. O primeiro di-retor do NEMI, Bill O’Donovan, preferia não dar notas sobreas palestras aos seus alunos, mas entregava a eles uma folhaem branco para escreverem o que lhes parecia importante.Ele dizia: “O que importa não é o que eu lhes digo, mas o quevocês descobrem por si mesmos”.

Outra vantagem do aprendizado em grupo é estimular atodos para se envolverem e reduzir assim as diferenças entreosque têm muitos anos de educação formal e osque têm poucos.Todos são capazes de contribuir da sua própria perspectiva e

experiência e cada urn recebe a mesma atenção e respeito. Ogrupo interage da mesma forma que o faria numa sociedade

tradicional.

Aprender Mediante a Interação SocialNum programa de treinamento residencial os alunos apren-

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TREINAMENTO E CULTURA 139

dem uns dos outros, não só em interação na sala de aula, mas

também por meio da sua vida em comum. Quando comemjuntos, vivem juntos, trabalham juntos ese divertem juntos, hámuito espaço para a influência mútua. Quando experimen-tam conflito, quer por causa de uma divergência de opinião ouchoque de temperamentos, eles têm a oportunidade de apren-der por meio desse conflito. Ainteração entre colegas, tanto nocontexto formal da sala de aula como no informal da conversadescontraída, tem grande potencial para aprimorar aclarezade expressão dos alunos e sua habilidade para tratar das desa-

venças com espírito caridoso.

David Tai-Woong Lee descreve o potencial educacional davida em comum desta forma:

Avida comum pode serum dos pontos positivos do progra-ma... É por meio dela que osestudantes treinam unsaos outros eos professores podem atentar nos problemas em profundidade

que talveznão aflorem à superfície.5

Jonathan Hildebrandt salienta que o programa da AICMC(Quênia) foi cuidadosamente planejado para manter uma boamescla de abordagens educacionais formais, não-formais e in-formais no treinamento. O prospecto da faculdade informa:

A instrução formal oferecidapela faculdadedá muita ênfaseà antropologia, contextualização e ministério transcultural... O

aprendizado não-formal tem lugar nas aulas práticas, experiên-

cias de evangelização e prática de campo... A educação informal

acontecedepois das aulas e principalmente nas áreas habitadas

pelos estudantes.6

Hildebrandt descreve em maisdetalhes como este aprendi-zado informal tem lugar:

As casas dosestudantes são dispostas em vilasde oito unida-

des, com um quintal comum. Entreas casas existem galinheiros

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140 MISSÕES: PREPARANDO AQUELE QUE VAI

onde os alunosmantêm suasaves. O quintal comum ajuda as fa-

mílias dos alunos, procedentes de várias tribos epaíses, afaze-rem amizades... As mães observam os diferentes métodosde criar

os filhosdos vizinhos na vila... Os pastoresaprendem coisas no-

vas,observando o modo como osmembros de outras tribosdisci-

plinam osfilhos, resolvem questões domésticas, quem faz que

trabalho, e assim por diante.7

Aprender Mediante a Pesquisa IndependenteMuitos alunos apreciam especialmente a pesquisa indepen-

dente. Um dos requisitos do curso pode ser que os alunos fa-

çam pesquisa numa área relacionada com seu futuro serviçomissionário e apresentem um artigo substancial sobre a pes-quisa. O valor da pesquisa independente é que elaincentiva osalunos a se tornarem automotivados e desenvolverem a men-

talidade de estudar por si mesmos em vez de depender dos

instrutores. O escopo da pesquisa fica inevitavelmente limita-do pelos recursos disponíveis no centro ou em suasproximi-dades. Ele depende também da quantidade de livros que o es-tudante possui. Um centro de treinamento fornece a cada alu-no um conjunto de nove livros-chave sobre missões, queser-vem como material de ajuda, de valor inestimável (os títulos

desses livros são dados no Apêndice 5).

Aprender Mediante um Sistema ModularEm contraste com o modelo ocidental típico, onde os alunos

estudam vários assuntos ao mesmo tempo, muitos centros do

Terceiro Mundo optam por um sistema modular, onde osestu-

dantes se concentram num único tema durante um certo perí-odo de tempo. O OTI (Índia) costumava começar seu progra-

ma com várias semanas dedicadas à lingüística. O ACTI(Cingapura) tinha um curso de seis semanas sobre fonética,

lingüística eantropologia cultural. A AICMC (Quênia) oferececursos modulares breves sobre etnomusicologia, ministério