e balanços: com presença em 28 países melhor...

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22 Jornal de Leiria 13 de Julho de 2017 Economia 60% das vendas da empresa estão nos mercados internacionais Rocim comemora 10 anos com presença em 28 países Cláudio Garcia [email protected] No novo site, a assinalar 10 anos de actividade da empresa Rocim, do Grupo Movicortes, lê-se a páginas tantas que o prazer cultiva-se. A ex- pressão assenta que nem uma luva no espírito que guia os projectos Herda- de do Rocim e Vale da Mata, desde 2007 a transformar sonhos e afectos em obra construída. Por detrás da ra- zão dos números – 900 mil garrafas vendidas em cada ano que passa, em Portugal e no estrangeiro – há a emoção de um amor antigo pelo vi- nho e o peso de uma tradição familiar que tem raízes na vinha. "Um dos meus avôs [Manuel Alves Vieira], era produtor de vinho e o ou- tro [Cesar Cunha] era comerciante de vinhos", lembra Catarina Vieira, ge- rente da Rocim, para quem "as vinhas e a viticultura" surgem como algo "bastante natural". Se o apelo da agri- cultura existe "desde sempre", o ne- gócio vem por acréscimo da paixão. "Quando se investe, tem de haver pra- zer e gosto", sublinha a empresária, agrónoma e enóloga. As marcas Rocim chegaram ao mercado em 2007, coincidindo com a inauguração da adega no Baixo Alentejo, após sete anos de reestru- turação, qualificação e plantação de novas vinhas e castas na herdade lo- calizada entre Cuba e a Vidigueira, ad- DR quirida pelo Grupo Movicortes no ano 2000. Uma propriedade com 120 hec- tares, dos quais 70 são área de vinha. Outra zona de produção situa--se nas Cortes, concelho de Leiria, de onde a família é natural. O percurso ascendente encontrou na morte do fundador, José Ribeiro Vieira, em 2012, o momento mais desafiante. "Era a pessoa que mais se identifica- va com o projecto", recorda a filha, Ca- tarina Vieira. Alguém para quem a ter- ra significava o maior património que se pode passar de geração em ge- ração. Hoje, os vinhos Mariana, Herdade do Rocim, Olho de Mocho, Grande Rocim e Vale da Mata estão em 28 paí- ses, da Alemanha aos Estados Unidos da América, passando pelo Brasil e por Angola, sem esquecer a China, já uma fatia importante das vendas no mercado da exportação, que repre- senta 60% do volume de negócios. A crescer 25% ao ano Desde 2013, a facturação da Rocim tem aumentado 25% em cada ano. "Está de acordo com as nossas ex- pectativas, que são ambiciosas", refere Catarina Vieira, a sublinhar que a empresa "cresce porque tem bons vi- nhos". Concebido desde a primeira hora "para produzir qualidade", o projecto tem acumulado notorieda- de e reconhecimento, tanto dos con- sumidores como da crítica, com pon- tuações elevadas nas melhores re- vistas do sector e vários prémios em concursos internacionais. As vendas também vivem da gran- de distribuição, "mas o foco está no canal horeca", porque "é aí que as marcas se constroem", diz o também gerente da Rocim, Pedro Ribeiro. Na exportação, "a ideia não é diversifi- car muito mais o número de países", a estratégia "passa pelo acompa- nhamento próximo dos mercados onde já estamos", explica. Os Esta- dos Unidos e a Europa, pela maturi- dade e volume, o Brasil e Macau, pela ligação com a marca Portugal, a China, pelo volume, e África, por razões históricas, com atenção es- pecial a Angola, são as principais apostas comerciais. Investimentos em 2018 Para assinalar os primeiros 10 anos de actividade, a Rocim tem nova pre- sença na internet e nova imagem. Ainda neste ano de 2017, a herdade do Alentejo vai começar a receber regu- larmente exposições e outros even- tos relacionados com a arte. Já em 2018, para suportar o crescimento da empresa, "muito provavelmente a área plantada vai ter de crescer e a ca- pacidade da adega também", anteci- pa Pedro Ribeiro. Até à data, o inves- timento acumulado do Grupo Movi- cortes na Rocim ascende a 8 mi- lhões de euros. Da terra ao rótulo Tintos, brancos e balanços: melhor vinho? O próximo Dez anos do projecto Rocim. A data redonda convida a balanços – e se o assunto é vinho, impõe-se perguntar pelo melhor néctar chegado ao mer- cado nesta primeira década de acti- vidade da empresa. "Provavelmen- te, um que ainda não produzi", res- ponde Catarina Vieira, como quem se nega a escolher entre criações ama- das por igual, antes de anunciar a edi- ção especial de aniversário, na qual deposita grandes esperanças. "Será um vinho de homenagem ao meu pai". Nas últimas semanas, dois vinhos da Rocim obtiveram 91 pontos na avaliação de Mark Squires para o site americano Robert Parker – Wine Advocate, um dos mais prestigiados no mundo: o Grande Rocim DOC Re- serva 2013 e o Vale da Mata Tinto Re- serva 2013. E outros quatros atingi- ram os 90 pontos: Olho de Mocho Tinto Reserva 2013, Olho de Mocho Branco Reserva 2016, Vale da Mata Branco 2015 e Herdade do Rocim Sommelier Edition 2013 (este último com a classificação 90 +). Mas os des- taques têm sido frequentes ao longo do tempo, em concurso e publica- ções. Já em Abril, a Wine & Spirits Ma- gazine, também americana, atribuiu 91 pontos e a distinção Best Buy, por Joshua Greene, ao Herdade do Rocim Reserva 2013, incluído na lista dos melhores tintos portugueses do ano. O impacto da empresa nas mesas de todo o mundo está directamente relacionado com os 70 hectares de vi- nha cultivados no Alentejo, a que acrescem mais alguns nos arredores de Leiria, na freguesia de Cortes. Na herdade do distrito de Beja, 53 hec- tares estão dedicados a castas tintas e outros 17 a castas brancas. Parte desta área encontra-se em produção biológica certificada e outra está em processo de conversão para produção biológica. Quase 30% dos 70 hectares são vi- nhas velhas, plantadas em solos are- nosos, onde predominam as castas Aragonez, Trincadeira, Moreto e Tin- ta Grossa, nas tintas, e Antão Vaz, Rabo de Ovelha, Perrum, Roupeiro e Mantúdo, nas brancas. Vinhas ve- lhas que a Rocim quis "preservar pela importância histórica", explica Cata- rina Vieira. Desde 2001, as novas vinhas plan- tadas introduziram as castas Alican- te Bouschet, Aragonez e Trincadeira em solos franco-argilosos, Touriga Nacional e Syrah em solos arenosos, castas brancas em solos arenosos, sobretudo de Antão Vaz, Arinto, Ver- delho e Alvarinho, mas também Vio- sinho e Arinto, Alicante Bouschet em solos franco-argilosos e arenosos, e, por fim, alguma área de Tannat e Pe- tit Verdot, em solos franco-argilosos. Além do vinho Azeite e enoturismo A actividade da Rocim não se esgota na produção e comercialização de vinhos. Na propriedade localizada entre Cuba e a Vidigueira, no distrito de Beja, há 10 hectares de olival que alimentam a marca de azeite Herdade do Rocim. Extraído por centrifugação, a frio, apresenta-se em notas de prova muito frutado, fresco e com ligeiro picante no final. As instalações no Alentejo também permitem viver experiências muito diferentes no âmbito do enoturismo: das provas de vinhos às visitas guiadas à herdade, da vinha explicada aos mais novos aos programas em que os adultos se tornam enólogos por um dia, da história milenar do vinho de talha ao receituário gastronómico da região recordado com todo o requinte. Há um wine bar aberto de segunda a sábado, com serviço de almoços e jantares, e uma loja com vinhos, livros e outras lembranças. Construído de acordo com princípios de arquitectura contemporânea que encaixam tranquilamente na paisagem tradicional, o edifício está também preparado para acolher eventos de empresas.

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22 Jornal de Leiria 13 de Julho de 2017

Economia

60% das vendas da empresa estão nos mercados internacionais

Rocim comemora 10 anos com presença em 28 países

Cláudio [email protected]

� No novo site, a assinalar 10 anos deactividade da empresa Rocim, doGrupo Movicortes, lê-se a páginastantas que o prazer cultiva-se. A ex-pressão assenta que nem uma luva noespírito que guia os projectos Herda-de do Rocim e Vale da Mata, desde2007 a transformar sonhos e afectosem obra construída. Por detrás da ra-zão dos números – 900 mil garrafasvendidas em cada ano que passa,em Portugal e no estrangeiro – há aemoção de um amor antigo pelo vi-nho e o peso de uma tradição familiarque tem raízes na vinha.

"Um dos meus avôs [Manuel AlvesVieira], era produtor de vinho e o ou-tro [Cesar Cunha] era comerciante devinhos", lembra Catarina Vieira, ge-rente da Rocim, para quem "as vinhase a viticultura" surgem como algo"bastante natural". Se o apelo da agri-cultura existe "desde sempre", o ne-gócio vem por acréscimo da paixão."Quando se investe, tem de haver pra-zer e gosto", sublinha a empresária,agrónoma e enóloga.

As marcas Rocim chegaram aomercado em 2007, coincidindo coma inauguração da adega no BaixoAlentejo, após sete anos de reestru-turação, qualificação e plantação denovas vinhas e castas na herdade lo-calizada entre Cuba e a Vidigueira, ad-

DR

quirida pelo Grupo Movicortes no ano2000. Uma propriedade com 120 hec-tares, dos quais 70 são área de vinha.Outra zona de produção situa--senas Cortes, concelho de Leiria, deonde a família é natural. O percursoascendente encontrou na morte dofundador, José Ribeiro Vieira, em2012, o momento mais desafiante."Era a pessoa que mais se identifica-va com o projecto", recorda a filha, Ca-tarina Vieira. Alguém para quem a ter-ra significava o maior patrimónioque se pode passar de geração em ge-ração.

Hoje, os vinhos Mariana, Herdadedo Rocim, Olho de Mocho, GrandeRocim e Vale da Mata estão em 28 paí-ses, da Alemanha aos Estados Unidosda América, passando pelo Brasil epor Angola, sem esquecer a China, jáuma fatia importante das vendas nomercado da exportação, que repre-senta 60% do volume de negócios.

A crescer 25% ao anoDesde 2013, a facturação da Rocimtem aumentado 25% em cada ano."Está de acordo com as nossas ex-pectativas, que são ambiciosas", refereCatarina Vieira, a sublinhar que aempresa "cresce porque tem bons vi-nhos". Concebido desde a primeirahora "para produzir qualidade", oprojecto tem acumulado notorieda-de e reconhecimento, tanto dos con-sumidores como da crítica, com pon-

tuações elevadas nas melhores re-vistas do sector e vários prémios emconcursos internacionais.

As vendas também vivem da gran-de distribuição, "mas o foco está nocanal horeca", porque "é aí que asmarcas se constroem", diz o tambémgerente da Rocim, Pedro Ribeiro. Naexportação, "a ideia não é diversifi-car muito mais o número de países",a estratégia "passa pelo acompa-nhamento próximo dos mercadosonde já estamos", explica. Os Esta-dos Unidos e a Europa, pela maturi-dade e volume, o Brasil e Macau,pela ligação com a marca Portugal,a China, pelo volume, e África, porrazões históricas, com atenção es-pecial a Angola, são as principaisapostas comerciais.

Investimentos em 2018Para assinalar os primeiros 10 anos deactividade, a Rocim tem nova pre-sença na internet e nova imagem.Ainda neste ano de 2017, a herdade doAlentejo vai começar a receber regu-larmente exposições e outros even-tos relacionados com a arte. Já em2018, para suportar o crescimento daempresa, "muito provavelmente aárea plantada vai ter de crescer e a ca-pacidade da adega também", anteci-pa Pedro Ribeiro. Até à data, o inves-timento acumulado do Grupo Movi-cortes na Rocim ascende a 8 mi-lhões de euros.

Da terra ao rótulo

Tintos, brancos e balanços: melhor vinho? O próximo

� Dez anos do projecto Rocim. A dataredonda convida a balanços – e se oassunto é vinho, impõe-se perguntarpelo melhor néctar chegado ao mer-cado nesta primeira década de acti-vidade da empresa. "Provavelmen-te, um que ainda não produzi", res-ponde Catarina Vieira, como quem senega a escolher entre criações ama-das por igual, antes de anunciar a edi-ção especial de aniversário, na qualdeposita grandes esperanças. "Seráum vinho de homenagem ao meupai".

Nas últimas semanas, dois vinhosda Rocim obtiveram 91 pontos naavaliação de Mark Squires para osite americano Robert Parker – WineAdvocate, um dos mais prestigiadosno mundo: o Grande Rocim DOC Re-serva 2013 e o Vale da Mata Tinto Re-serva 2013. E outros quatros atingi-ram os 90 pontos: Olho de MochoTinto Reserva 2013, Olho de MochoBranco Reserva 2016, Vale da MataBranco 2015 e Herdade do RocimSommelier Edition 2013 (este últimocom a classificação 90 +). Mas os des-taques têm sido frequentes ao longodo tempo, em concurso e publica-ções. Já em Abril, a Wine & Spirits Ma-gazine, também americana, atribuiu91 pontos e a distinção Best Buy, porJoshua Greene, ao Herdade do RocimReserva 2013, incluído na lista dosmelhores tintos portugueses do ano.

O impacto da empresa nas mesasde todo o mundo está directamenterelacionado com os 70 hectares de vi-nha cultivados no Alentejo, a queacrescem mais alguns nos arredoresde Leiria, na freguesia de Cortes. Naherdade do distrito de Beja, 53 hec-tares estão dedicados a castas tintase outros 17 a castas brancas. Partedesta área encontra-se em produçãobiológica certificada e outra está emprocesso de conversão para produçãobiológica.

Quase 30% dos 70 hectares são vi-nhas velhas, plantadas em solos are-nosos, onde predominam as castasAragonez, Trincadeira, Moreto e Tin-ta Grossa, nas tintas, e Antão Vaz,Rabo de Ovelha, Perrum, Roupeiro eMantúdo, nas brancas. Vinhas ve-lhas que a Rocim quis "preservar pelaimportância histórica", explica Cata-rina Vieira.

Desde 2001, as novas vinhas plan-tadas introduziram as castas Alican-te Bouschet, Aragonez e Trincadeiraem solos franco-argilosos, TourigaNacional e Syrah em solos arenosos,castas brancas em solos arenosos,sobretudo de Antão Vaz, Arinto, Ver-delho e Alvarinho, mas também Vio-sinho e Arinto, Alicante Bouschet emsolos franco-argilosos e arenosos, e,por fim, alguma área de Tannat e Pe-tit Verdot, em solos franco-argilosos.

Além do vinhoAzeite e enoturismoA actividade da Rocim não seesgota na produção ecomercialização de vinhos. Napropriedade localizada entre Cubae a Vidigueira, no distrito de Beja,há 10 hectares de olival quealimentam a marca de azeiteHerdade do Rocim. Extraído porcentrifugação, a frio, apresenta-seem notas de prova muito frutado,fresco e com ligeiro picante nofinal. As instalações no Alentejotambém permitem viverexperiências muito diferentes noâmbito do enoturismo: das provasde vinhos às visitas guiadas àherdade, da vinha explicada aosmais novos aos programas em queos adultos se tornam enólogos porum dia, da história milenar dovinho de talha ao receituáriogastronómico da região recordadocom todo o requinte. Há um winebar aberto de segunda a sábado,com serviço de almoços e jantares,e uma loja com vinhos, livros eoutras lembranças. Construído deacordo com princípios dearquitectura contemporânea queencaixam tranquilamente napaisagem tradicional, o edifícioestá também preparado paraacolher eventos de empresas.