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^SAOj/bs d o s C a m p o sH I S T O R I A C K C I D A D E
C o o r d e n a o G e r a l d a S r i e
M a r i a A p a r e c i d a P a p a l i e V a l r i a Z a n e t t i
Volume I
Os Campos da Cidade:So Jos RevisitadaO R G A N I Z A D O P O R
Va l r i a Z a n e t t i
ID ddWodqdUniversidade do Vale do Paraba
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P A T R O C N I OMinistrio d e
Minas e Energia
tiil PETROBRAS
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M a r i a A p a r e c i d a P a p a l i e V a l r i a Z a n e t t i
Volume I
Os Campos da Cidade:
So Jos RevisitadaO r g a n i z a d o p o r
V a l r i a Z a n e t t i
U D i W a D O D
Universidade do Vale do Paraiba
2008
Lab. de Pesquisa eDocumentao Histrica
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Copyright 2008 Os autores
C o o r d e n a o ( e k a i .
Profa. Maria da Ftima Ramia Manfredini
P r o j e t o g r f i c o k i : a i a
Carlos M agno da Silveira
M agno Studio Design Grfico
E d i t o r a o h i . i - t r n i c a
Patrick Vergueiro
R k v i s o
Teruka Minamissawa
ISBN: 978-85-7586-045-8
C21
Os C am pos da Cidade: So Jos Revisitada / Organ izado po r Valria
Zan ett i; C oord ena o da Srie M aria Ap arecida Papali e Valria
Zanetti. So Paulo: Intergraf, 2008
200p.: il.; 22,5cm
Srie So Jos dos C am pos : Hist ria e Cidade , v. 1
Inclui bibliografia
1. H istria 2. So Jos do s Cam po s, SP I. T tulo II. T tulo da Srie
III. Papali, M aria Ap arecida, C oord . IV. Z an etti, Valria, C oord .
CDU:981.56
M
m
! J / J y - & / C e 7 7 ^ n a
S o J o s d o s C a m p o s
Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Central da Univap
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S u m r i o
Palavra do Reitor Baptista Gargione Filho 7
Mensagem da Petrobras 9
Agradecimentos 11
Apresentao da Srie 13
Maria Aparecida Papali e Valria Zanetti
Sobre as C oorden ado ras da Srie 17
Sobre os Autores do Volume I 19
Apresentao do Volume I 23
Valria Zanetti
1. Efeitos de Memria nas Identidades
de So Jos dos Cam pos no Sculo XVIII 31
Maria Alice Lopes e Marco A ntnio Villarta-Neder
2. Luz da M odernidade Joseense:
a Lightem So Jos dos Cam pos (1935 - 1945) 53
Fbio Zanutto Candioto
3. As Escolas de Antes da Escola: a Gnese da Escola
(Re)(pub lica)na em So Jos dos Cam pos (1889 - 1896) 75
Zuleika Stefnia Sabino Roque e Estefnia Knotz Canguu Fraga
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4. Em Cena: Teatro So Jos, um
Patrim n io, M ltiplos Significados (1905 - 1940) 95
Antonio Carlos Oliveira da Silva e Estefnia Knotz Canguu Fraga
5. A Construo do Plo Regional do Vale do Paraba:
Planejamento Regional e O rdena m ento
Territorial de So Jos dos Cam pos 117
Simone Narciso Lessa
6. So Jos dos Cam pos: Uma Cidade a Ser Lida 149
Joo Rodolfo Nunes Machado
7. Patrimnio e Memria em
So Jos dos Cam pos: o Passado Enquanto Aprop riao 171
Cludio Jos Pinto Ferreira, Antonio Carlos Oliveira da Silva,
Renato Santana Gomes
8. Na Cidade, Pela Cidade:
o Espao Vicentina A ranha em So Jos dos Cam pos 185Valria Zanetti, Maria Aparecida Papali,
Maria Jos Acedo dei Olmo
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P a l a v r a d o Re i t o r
B a p t i s t a G a r g i o n e F i l h o
A R i A A p a r e c i d a P a p a l i e Valria Zanetti so
I duas operosas historiadoras que emprestam
L Univap sua colaborao, no s com o dedicadas
professoras, na graduao e na ps-graduao, mas ain da na pes
quisa e na extenso.
E agora esto empenhadas na coordenao de um empreen
dimento de grandes propores: da srie So Jos dos Campos
- H istria e Cidade, em sete volumes, descritos s Pginas 7 a 9.
Este o I o volum e, do qual pa rticipam doze especialistas, alm
das coordenadoras.
O que notvel nesta atividade a presena da Universidade,
com o entidade executora de ensino, pesquisa e extenso, de modoindissocivel. E im portante acentuar que o exerccio desta indis-
sociabilidade, que caracteriza a Universidade, no tarefa mo
desta, sendo p oucas as instituies universitrias que conseguem
realizar essa faanha, mormente nas disciplinas de estudos no
to prxim os das cincias naturais, com o a Histria.
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De todas as formas, vamos apoiar, no que for possvel, a edi
torao dos sete volumes programados, bendizendo o apoio da
Petrobras, e oxal as empresas no Brasil se un am cada vez mais s
universidades, para tarefas com o as ora descritas.
As coordenadoras Papali e Zanetti j somam ao seu currcu
lo outra atividade importante, a reconstituio dos arquivos da
Cmara Municipal de So Jos dos Campos, que ser tratada no
2o volume da srie: Cmara Municipal de So Jos dos Campos:
Cidade e Poder.
Finalizando, cabe tambm aos historiadores a importante ta
refa de alertar, com o vm fazendo os m em bros do Clube de Roma,
para os rum os que o crescim ento populacional, a poluio, a ex
tino de florestas, o esgotamento dos aqferos, dos solos e dos
mares, o desaparecimento de tantas espcies da flora e da fauna,que esto conduzindo a Terra, pelo acmulo da medidas ditadas
pelos interesses im edia tos, a um m undo no sustentvel.
Congratulaes s coorden adoras e a seu gru po de abnegados
colaboradores: Simone Narciso Lessa, Marco Antonio Villarta-
Neder, Estefnia Knotz C. Fraga, Zuleika Sabino Roque, Antonio
Carlos Oliveira da Silva, Joo Rodolfo Nunes Machado, Fabio
Zanutto Candioto, Cludio Jos Pinto Ferreira, Renato Santana
Gomes e Maria Alice Lopes e Maria Jos Acedo dei Olmo.
Baptista Gargione Filho, Prof Dr.Reitor da Univap
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M e n s a g e m d a P e t r o b r a s
Ot e m p o e s u a E F E M E R i D A D E so questes debati
das h m uito p or filsofos. Os relgios tm a funo de
medir o tempo, no entanto, a memria, a lembrana,
por vezes ignora o tem po fsico em prol de um tem po lrico, m
adequado ao fluir das emoes. Segundo o socilogo Norbert
Elias, o tempo nada mais que (...) a representao simblica
de uma vasta rede de relaes que rene diversas seqncias decarter individual, social ou puramente fsico.
Mas a m em ria no se restringe ao passar das horas e dos dias,
ela feita de atos e percepes, pela passagem da prpria vida
do sujeito e das transformaes que ocorrem no entorno social
e ambiental. O tempo que passou no mais voltar fisicamente,en tretan to ele sempre existir na m em ria das pessoas. Nas pala
vras de Elias, (...) lembrando dele [do passado histrico] que
descobrimos a ns m esmo s.
A memria fundamental para a criao da vida em socie
dade, alicerce e acabamento de uma cultura marcada por suas
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diversas pessoas e personalidades, todos os atores de uma mesma
histria.
Resgatar e reescrever a histria de So Jos dos Campos a partir desta srie de livros dirigidos aos Estudantes e Professores,
restaura r o nosso alicerce cultural e fortalecer a sociedade a par tir
do nosso prprio reconhecimento.
Paul Edman de Alm eida
Gerente de Comunicao da PETROBRAS
Revap - Refinaria Henrique Lage
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A g r a d e c i m e n t o s
' o s s o t r a b a l h o sempre se constituiu em um
J trabalho de equipe. No caso desta srie e em espe-r cfico deste livro, o em preendim en to s foi possvel
graas ao apoio de muitas pessoas, direta e indiretamente. Em
prim eiro lugar, gostaramos de agradecer ao Sr. Luiz Eduardo
Valente, Gerente Geral da Petrobras, Refinaria Henrique Lage
de So Jos dos Campos e Sr. Paul Edman de Almeida, Gerentede Comunicao da Petrobras, por terem acreditado em nosso
projeto e nos dar o apoio financeiro necessrio a sua realizao.
Agradecemos ao Magnfico Reitor da Universidade do Vale do
Paraba, Prof. Dr. Baptista Gargione Filho, por nos oferecer as
condies de trabalho necessrias para que possamos avanarsempre e realizar nossos sonhos. Ainda dentro da Universidade
do Vale do Paraba, como grandes incentivadores oferecendo-
nos a ajuda necessria com suas orientaes e suporte tcnico,
agradecemos ao Vice-Reitor Prof. Dr. Antonio de Souza Teixeira
Jnior e aos nossos diretores, tanto do IP&D - Instituto de
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Pesquisa e Desenvolvimento, como da Faculdade de Educao e
Artes. Nosso carinho especial Profa. Maria da Ftima Ramia
Manfredini, Pr-Reitora de Cultura e Divulgao Acadmica,presena sempre constante nos cam inhos da His tria, verdadeira
m adrinha do Projeto Pr-M em ria So Jos dos Campos.
Queremos agradecer especialmente Cmara Municipal de
So Jos dos C am pos, na pessoa de seu Secretrio Geral Jos Carlos
de Oliveira e do Presidente da Cmara, vereador Dilermand o Di,por uma parceria que j conta com alguns anos e da qual o pre
sente volume representa o fruto desse trabalho. No podemos
deixar de agradecer ao vereador Walter Hayashi, idealizador do
Projeto Pr-M em ria. O pro jeto Pr-M em ria s foi realizado
graas ao apoio firme de nossos parceiros, a Cmara Municipal,a Fundao Cultural Cassiano Ricardo e a Univap. Nossos agra
decimentos ao apoio da Fundao Cultural Cassiano Ricardo,
Profa. Antonia Caracuel Varotto, especialmente ao engenheiro
Vitor Chuster, arquiteta Marlene Alves da Silva Kanashiro,
historiadora e arquivista Nadia Del M onte Kojio e ao historiado rA ntonio Carlos Oliveira da Silva. Agradecem os aos professores co
laboradores do Projeto Pr-Memria, em especial s professoras
Maria Jos Acedo dei Olm o e Zuleika Stefnia Sabino Roque, pelo
em penho e dedicao. Finalmente agradecemos a todos os alunos
e estagirios que passaram pelo Projeto Pr-Memria e se revelaram preciosos colaboradores, muito de todos vocs se encontra
aqui representado. Agradecemos especialmente aos nossos atuais
estagirios, fiis escudeiros nos embates documentais, Anderson
Romeira, Alessandro Santana da Cunha, Leonardo Silva Santos,
Solange Vieira e Tatiane N unes Tefilo. Obrigada a todos!
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A p r e s e n t a o d a S r i e
S o J o s d o s C a m p o s : H i s t r i a e C i d a d e
' ^ 1 p r e s e n t a r a s r i e So Jos dos Campos: H istria
L J k e Cidade significa m uito para ns, pois resulta-
-A . do de um projeto acalentado h m uitos anos, a rea
lizao de um sonho. Somos docentes do curso de Histria daUnivap, coordenamos o Ncleo de Pesquisa Pr-Memria So
Jos dos Campos e desenvolvemos estudos no Laboratrio de
Pesquisa e D ocum entao Histrica do IP&D, alm de atuarm os
no Programa de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional
da Univap. Enfim, jun to com colegas e alunos da graduao e daps-graduao realizamos pesquisas e levantamos docum enta
o sobre a histria da cidade de So Jos dos Cam pos h m uitos
anos.
Sabemos o quanto necessrio e importante para a cidade
que escolas, bibliotecas pblicas e universidades possam ter acesso a essa vasta pesquisa que vem sendo realizada sobre a histria
da cidade. Os poucos livros disponveis nas instituies sobre a
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histria de So Jos nem sempre contam com o rigor de um a pes
quisa de carter cientfico e embasamento metodolgico criterio
so. Nossa srie tem com o principal objetivo suprir essa dem anda,com a publicao de sete livros de temas variados sobre a histria
de So Jos, os quais sero lanados entre 2008 e 2010 e dist ribu
dos nas escolas, bibliotecas pblicas e universidades. Para a via
bilizao desse projeto contam os com o patrocnio da Petrobras,
apoio ao qual seremos sem pre gratas.
O p r i m e i r o l i v r o da srie, intitulado Os Campos da Cidade:
So Jos Revisitada, traa um panorama geral sobre a cidade, em
m ltiplos aspectos. So vrios captulos com temas variados, des
co rtinan do a cidade de So Jos dos C ampos, trazendo inovaeshistoriogrficas e olhares singulares sobre sua histria.
O s e g u n d o l i v r o , Cmara M unicipal de So Jos dos Campos:
Cidade e Poder,tem o objetivo de contar a histria do p od er legis
lativo de So Jos dos Campos, tema importante para a histriada cidade. Desde a criao do Projeto P r-M em ria, em 2004, as
Atas da Cmara Municipal de So Jos dos Campos vm sendo
objeto de investigao de nossas equipes de bolsistas, constituin
do hoje um rico acervo documental sobre a histria poltica da
cidade.
O t e r c e i r o l i v r o , So Jos dos Campos: de Aldeia a Cidade,
tem um a misso difcil e ao mesmo tem po complexa e desafiado
ra, pois seu objetivo trazer tona as discusses sobre os p rim r
dios da nossa en to Aldeia de So Jos da Parayba, os conflitos en tre indgenas e colonos, sua transfo rm ao em Vila, at se to rn ar
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cidade no final do sculo XIX. Tudo isso contando com a escassa
docum entao que temos do perodo, mas que, garimp ando do
cum entos aqui e ali, acabam os por traa r o cenrio da poca.
N o q u a r t o l i v r o , Fase Sanatorial de So Jos dos Campos:
Espao e Doena, talvez esteja contida a prpria alma da hist
ria da cidade. Perodo rico para a compreenso de toda a lgica
urban stica e industrial de So Jos, o perodo sana torial encerracontradies e mem rias de um tem po que a cidade m uitas vezes
quis apagar. Neste livro busca-se evidenciar, registrar, discutir e
refletir sobre uma poca que deixou marcas profundas na cons
truo iden titria da cidade.
O q u i n t o l i v r o , Crescimento Urbano eIndustrializao em So
Jos dos Campos, trata principalmente da vocao industrial de
So Jos dos C am pos e da crescente urbanizao que se processa
na cidade, principa lm ente a par tir da dcada de 1960, com a che
gada de grandes indstrias nacionais e multinacionais. Grandesindstrias nacionais que se instalam em So Jos dos Campos,
com o a Refinaria H enrique Lage (Petrobras) e a Embraer, so
neste livro priorizadas para estudo.
N o s e x t o l i v r o , Escola e Educao em So Jos dos Campos:Espao e Cultura Escolar,buscamos identificar a histria da edu
cao e do cotidiano escolar em So Jos dos Campos desde o
sculo XIX at nossos dias, sob os mais variados aspectos. A ed u
cao no poderia deixar de ser tema de um livro sobre a histria
da cidade, dada a relevncia em que consiste a educao pa ra todaa nossa sociedade.
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N o s t i m o l i v r o , So Jos dos Campos: Cotidiano, Gnero e
Representao, abordaremos temas ligados s novas tendncias
historiogrficas, como a participao das mulheres em vriosmomentos histricos, trabalhos com memrias e identidades,
representaes sociais, trabalhos com fontes diversas como ima
gens, m onum entos, cultura popular, entre outros. um livro que
busca olhar So Jos dos Campos atravs da diversidade, atravs
de m uitas linguagens.
As coordenadoras
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S o b r e a s C o o r d e n a d o r a s d a S r i e
a r i a A p a r e c i d a P a p a l i historiadora,doutora
em Histria Social pela PUC/SP, mestre em Histria
do Brasil pela PUC/SP, professora da Universidade
do Vale do Paraba desde 1993, coordenado ra do Labora trio de
Pesquisa e Docum entao Histrica do IP&D da Univap, vincu
lada ao Grupo de Docum entao H istrica (Gedoch) da Univap,
docente do Programa de Mestrado em Planejamento Urbano e
Regional; m em bro fundado ra do Projeto Pr-M em ria, Autora
do livro Escravos, Libertos e rfos: a construo da liberdade
em Taubat (1871-1895). So Paulo: Annablume, 2003.
V a l r i a Z a n e t t i historiadora, graduada pela UFOP
(Universidade Federal de Ouro Preto), mestre em H istria Social
pela PUC/RS, doutora em His tria Social pela PUC/SP, autora
do livro Calabouo Urbano: escravos e libertos em Porto Alegre
(1830-1860). Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2002;
professora e coordenadora do curso de Histria da Universidade
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do Vale do Paraba, membro do Laboratrio de Pesquisa e
Documentao Histrica do IP&D; vinculada ao Grupo de
Documentao Histrica (Gedoch) da Univap, docente doPrograma de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional da
Univap.
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S o b r e o s A u t o r e s d o V o l u m e I
S
i M O N E N a r c i s o L e s s a do uto ra e mestre em Histria
pelo D epartam ento de Hist ria do IFCH - Instituto de
Filosofia e Cincias Hum anas - Unicamp; professora do
Departamento de Geocincias da Uniomontes - Universidade
Estadual de Montes Claros-MG; ps-doutoranda e professoracredenciada da ps-graduao do D epartam ento de Saneamento
e Ambiente da FEC - Faculdade de Engenharia Civil - Unicamp;
professora de His tria do Colgio Tcnico da Unicamp - Cotuca;
professora na Faculdade de Direito de Mogi M irim .
M a r c o A n t n i o V i l l a r t a - N e d e r possui graduao em
Letras, Portugus, Ingls pela Universidade de Taubat (1986);
mestrado em Lingstica Aplicada (ensino-aprendizagem de ln
gua materna) pela Universidade Estadual de Campinas (1995)
e doutorado em Letras (Lingstica e Lngua Portuguesa) pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (2002).
Atualmente professor da Universidade do Vale do Paraba, na
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Graduao em Letras (curso do qual tam bm Coordenado r), na
Ps-Graduao Lato Sensu em Lngua Portuguesa e no M estrado
em Planejamento Urbano e Regional, na linha Espao, Cultura
e Sociedade. Tem experincia na rea de Letras, com nfase em
Lingstica, atuando princ ipalm ente nos seguintes temas: anlise
do discurso, discurso, lingstica, produ o escrita e formao de
professores. vinculado ao G rupo de Docum entao Histrica
(Gedoch) da Univap e ao Grupo de Pesquisa em Anlise do
Discurso, da Universidade Federal de Uberlndia.
E s t e f n i a Kn o t z C. F r a g a , bacharel e licenciada em
Histria pela PUC-SP. Especialista em Histria do Brasil pela
PUC-SP. Doutora em Histria pela PUC-SP com a tese A
Fbrica de Ferro de So Joo de Ipanema. Professora titular do
Depto. de Histria da Faculdade de Cincias Sociais da PUC-
SP. Responsvel pelo projeto, implantao e coordenao do
Programa de Ps-Graduao em 1972, onde atua como professo
ra no M estrado e D outorado. Atua desde 2007 na coordenao do
curso de Especializao Histria, Sociedade e Cultura, nvel Lato
Sensu. Pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa Poderes,
Sensibilidades e Sociabilidades na Contemporaneidade e no
Ncleo de Estudos Culturais , da PUC-SP.
M a r i a J o s A c e d o d e l O l m o historiadora, graduada pela
USP; mestre em Histria Social pela PUC/SP; mem bro fun da do
ra do Projeto Pr-Memria, professora do curso de Histria da
Univap e autora de vrios livros paradidticos.
Z u l e i k a S t e f n i a S a b i n o Ro q u e possui licenciatu ra e
bacharelado em Histria pela Universidade do Vale do Paraba
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(2001); mestrado em Histria Social pela Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo (2007); doutoranda em Histria Social
pela PUC/SP; docente da Rede Pblica c Particular de SJC; m em bro do Ncleo de Estudos Culturais: Histrias, M emrias e
Perspectivas do Presente (PUC/SP) e pesquisadora colaboradora
do Projeto Pr-Memria de So Jos dos Campos.
A n t o n i o C a r l o s O l i v e i r a d a S i l v a historiador, graduado pela Univap; mestrando em Historia Social pela PUC/SP.
Pesquisador do Departamento de Patrimnio Histrico, rgo
da Fundao Cultural Cassiano Ricardo, instituio da Prefeitura
M unicipal de So Jos dos Campos, e coorden ador do Program a
de Educao Patrimonial da cidade.
J o o Ro d o l f o N u n e s M a c h a d o licenciado em Histria
pela Universidade do Vale do Paraba (Univap) em 2006, defen
deu com o Tese de G raduao o traba lho "A Histria de So Jos
dos Cam pos p or ela m esma (A Linguagem da Cidade)", orien tado pela Prof.a Dra. Valria Zanetti; formado em Psicopedagogia
pelo Instituto Nacional de Ps-Graduao (IN PG), em 2008.
F b i o Z a n u t t o C a n d i o t o licenciado em Histria pela
Universidade do Vale do Paraba; foi estagirio do Projeto Pr-M emria e au tor da m onografia Luz da M odernidade Joseense:
A Light em So Jos dos Campos (1935-1945), apresentada no
curso de Histria da Univap em 2004.
C l u d i o Jo s P i n t o F e r r e i r a bacharel em CinciasContbeis; licenciado em Histria pela Universidade do Vale
do Paraba, e um dos autores da monografia de final de curso
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A Importncia do Patrimnio Histrico Joseense, defendida em
2004.
R e n a t o S a n t a n a G o m e s possui licenciatura em Histria
pela Universidade do Vale do Paraba; professor da Rede Pblica
de ensino no m unicpio de S o Jos dos Campos; um dos autores
da monografia A Importncia do Patrimnio Histrico Joseense,
defendida no curso de Histria da Univap em 2004.
M a r i a A l i c e L o p e s licenciada em Letras pela Universidade
do Vale do Paraba e professora de Lngua Portuguesa no Ensino
Fundamental e Mdio no municpio de So Jos dos Campos.
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A p r e s e n t a o d o V o l u m e I
Os C a m p o s d a C i d a d e :
S o J o s R e v i s i t a d a
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O J o s d o s C a m p o s um a cidade singular, diferen
ciada. Uma cidade que mostrou, em seu processo hist
rico, nveis de m obilidades intensas. Por conta disso, So
Jos aloja/ou m ltiplas histrias. Cada ru a de sua geografia
experincias de vidas e eventos de um tem po que, j extinto, ain
da sobrevive. A cidade est carregada de sinais, depositados por
estratos de resduos de vidas passadas.A imagem da cidade, com posta de um sem -nm ero de traos,
linhas, cores, sinais grficos, sons, sotaques, letras, roupas, nm e
ros, cheiros, frases, massas, volumes, movimentos etc. no pra
de criar e em itir cdigos, possivelmente legveis ao olhar dos mais
atentos. O investigador que tenta descrever a paisagem urbanaidentifica um inesgotvel poder de evocao em suas camadas.
Cada camada investigada levanta um universo de informaes
sobre a cidade, seus habitantes e sobre sua histria.
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So muitas as produes acadmicas acerca da histria da ci
dade em So Jos dos Campos, mas so poucas as que chegam
ao conhecimento da populao. Essa iniciativa rene textos de
professores que atuam ou atuaram na Univap e de ex-alunos, que
tm na cidade o objeto em comum. Num esforo coletivo, resol
vemos abrir as portas desse arsenal de estudos para revelar ves
tgios de um tempo pretrito, ressignificando histrias; tentando
ouvir ecos do passado no presente.
Este volume prope pensar e sentir a cidade de So Jos dos
Cam pos. H istoriadores, lingistas e profissionais ligados ao p a tri
m nio h istrico se debruaram sobre So Jos dos Cam pos, utili
zando diferentes formas de escrita e abordagens. Esses estudiosos
se preocuparam , dentre o utras coisas, com a organizao da vida
citadina, com o processo de urbanizao, com suas mudanas e
perm anncias, com com portam entos e m odos de viver, com as
cidades visveis e invisveis que o espao joseense com porta.
Proposta de carter indito, o projeto visa, portanto, tornaracessvel a todos os relevantes estudos acerca da cidade de So Jos
dos C ampos em preendidos na U niversidade do Vale do Paraba.
Maria Alice Lopes e Marco Antnio Villarta-Neder baseiam-
se em d ocum en tos da elevao da Aldeia de So Jos dos Cam pos,
datados de 1767, transcritos e disponibilizados via internet peloProjeto Pr-M em ria, que o leitor vai ter oportunidade de conh e
cer neste artigo. Os autores, utilizando-se da anlise do discurso,
vasculham formas discursivas ligadas aos interesses da coloniza
o, processo em que portugueses e am erndios estabeleciam m a
neiras prprias de significar. Uma tenso de foras anuncia funcionrios reais se impondo sobre os povos e formas de viver que
confirmavam os princp ios da dominao. Os autores se dedicam
ao tempo em que So Jos dos Campos era uma incipiente vila
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que, em 1767, prom etia ser um imbricado histrico. O texto reve
la, baseado nos instrumentais da lingstica, o contexto histrico
da formao da futura cidade de So Jos dos Campos, reforan
do a viabilidade e enriquecim ento da proposta interdisciplinar.
Fbio Zanutto Candioto mostrou a modernidade chegando
em So Jos dos Campos no incio do sculo XX. Candioto revela
como o conceito de cidade moderna foi incorporado pela Light,
empresa norte-americana que fornecia energia eltrica ao mu
nicpio. Com a modernidade, a esfera do mercado ganhou fora
passando a exercer tam bm um a forte influncia sobre a indstria
cultural. Candioto evidenciou as exigncias que a modernidade
imps sociedade joseense sem que ela tivesse preparada para
tal. A idia de m odernidade , veiculada nos meios de com unicao
de massa, em especfico no jornal Correio Joseense,m ostra a fora
apelativa da p ropaganda. Algumas vezes, o tom hilrio das m en
sagens nos faz refletir sobre o forte poder de convencimento dos
meios de comunicao. Concebendo uma informao como umconjunto de palavras de ordem, somos levados a crer que, quan
do nos informam, nos dizem o que julgam que devemos crer. A
ordem a que Fbio Cand ioto se refere a modernizao por meio
da iluminao eltrica. O Correio Joseense, podemos dizer, levou
os joseenses a viajarem pelas idias iluministas bancadas pelaLight.
Zuleika Sabino Roque vasculhou o cenrio das primeiras es
colas de So Jos dos Campos e revelou um quadro desolador
que, em muitos casos, nos remete s condies similares das es
colas em tem pos atuais. O precrio espao do ensino foi utilizadocomo cenrio pa ra com posio de foras polticas no m unicpio.
Zuleika Sabino tra tou do espao da escola sendo criado na cida
de. Esse espao, en tre o pblico e o privado, tran sm igrou da casa
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do professor para um espao bancado fsica e ideologicamente
pela municipalidade. Neste captulo , a autora retratou as diferen
tes escolas existentes no municpio, assim como a falta de verbaspara suprir as m nim as dem andas da escola. Foco de ateno dos
agentes sanitrios, a escola, por ser um local coletivo, era cons
tantemente vigiada e fiscalizada. A obrigatoriedade do ensino
enquadrava num espao insalubre, alunos considerados to in
salubres quanto o espao. Reformas pedaggicas, assim como asreformas do espao escolar exigiam a todo o instante ateno do
pode pblico, quase sempre se m ostrando avesso s necessidades
escolares. Zuleika Sabino Roque descortinou um passado que, se
no fosse historiadora, arriscaria a dizer que a histria se repete.
A ntonio Carlos Oliveira Silva e Estefnia Knotz Canguu Fraga
ab riram as cortinas do tea tro So Jos. No s as peas encenadas
foram objeto de anlise. Espao de sociabilidades, o teatro imor
talizou cenas de atores annimos em uma cidade provinciana,
que ofegantemente respirava ares da modernidade. As poltronas
do teatro confidenciaram com po rtam entos considerados avessos
funcionalidade do espao e conduta moral e crist da socie
dade joseense. No escurinho do cinema, cenas que eram para ser
mantidas no anonimato foram constantemente denunciadas em
peridicos, pegando no flagra inclusive renom ados cidados jo -
seenses. Os autores tambm trataram da com plexidade das rela
es estabelecidas no espao pblico joseense, que reunia os sos
e os forasteiros doentes no mesmo espao.
Simone Narciso Lessa apresenta os motivos pelos quais a ci
dade de So Jos dos C am pos se to rnou plo regional industrial.Contrariando a tese que defende o desenvolvimento industrial
no Brasil a partir da acumulao originria do capital cafeeiro,
Simone Lessa pro cu ra en tender os motivos ligados ao crescimen
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to industrial no municpio, que no se baseou nos oligoplios
do caf. Fruto de um a poltica nacional, o crescimento industrialde So Jos esteve relacionado construo da Dutra e insta
lao do Inpe e do CTA, zonas de segurana militar e estratgi
ca, a partir de 1950. So Jos dos Campos s conseguiu projeo
nacional quando Getlio Vargas, visando colocar em prtica seu
plano de valorizao e introduo do interior do Brasil na dinmica econmica nacional, encontrou, no municpio de So Jos
dos Campos as condies favorveis para o projeto de desenvol
vimento industrial e interiorizao do Brasil.
Joo Rodolfo Machado prope explorar a cidade como um
flneur.De acordo com W alter Benjamin, a palavra significa aquele que caminha sobre a cidade, aquele que passeia ociosamente,
vagueando, perambulando, com um andar despretensioso, que
perm ite m aior tem po de observao. Oflneur um observador,
um captador que percebe as transformaes pelas quais passa a
cidade e a perpetuao do que j existe. A rua torna-se, pa ra JooRodolfo Machado, sua grande morada e fonte de anlise. Como
um exmio viajante v, na cidade de hoje, imagens de cidades an
teriores. Os tempos e lugares da cidade se misturam com o tempo
e o lugar vivido pelo autor. Monitorando os espaos com forte
equilbrio perceptivo, Joo Rodolfo Machado aponta permanncias e alteraes de lugares sofridas ao longo de um tem po vivido.
Como u m indivduo habitante das ruas, que enxerga a m ultido e
percebe a cidade percorrendo-a, e estabelecendo com ela um a re
lao de maneira especial, Joo Rodolfo percebe apelos e signos,
nu m a diversidade da vida cotidiana onde emerge sua representao do urbano. A cidade de M achado no a mesm a cidade dos
outros moradores, assim como a cidade dos outros moradores
no a m esm a cidade do Joo Rodolfo M achado. Existem vrias
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cidades no olhar de cada um que passa pela ou vive na cidade.
Olhares especficos de uma relao de lembranas ou mesmo de
ausncias delas que tem, no espao da cidade, as experincias especficas de um viver nico manifestadas num a pluralidade de
vozes.
Cludio Jos Pinto Ferreira, Antonio Carlos de Oliveira da
Silva e Renato Santana Gomes levantam uma amostragem inves-
tigativa sobre o conhecimento que os habitantes de So Jos dosCampos tm da cidade. O resultado surpreende. Poucos so os
m oradores da cidade que a conhecem. Muitos conhecem a cidade
tendo como referncia o trajeto para o trabalho. O mundo mo
derno incorporou no espao o ritmo do movimento das merca
dorias. O espao da cidade, reformulado para fazer o operrio eas mercadorias circularem sem atropelos e obstculos, incorpo
rou no passo de seus moradores o acelerado ritmo da produo.
O espao conhecido ficou delimitado no roteiro que leva o cami
nh an te ao trabalho. Os dados levantados m ostraram um a cidade
de forasteiros, ritm ados pelos inm eros servios e ocupaes queSo Jos dos C am pos oferece, o que provavelmente explica o p o u
co conh ecim ento da populao sobre a histria da cidade.
O ltimo captulo do volume, desenvolvido em parceria com
as professoras Maria Aparecida Papali e Maria Jos Acedo dei
Olmo, reflete sobre a importncia da preservao do espao do
antigo sanatrio Vicentina Aranha p ara a m em ria dos joseenses.
O sanatrio, referncia do tratamento da tuberculose no Brasil
no incio da dcada de 1930, evoca uma imagem comunicvel
aos habitantes de So Jos dos Cam pos. A sua im po rtnc ia varia
para cada um a das pessoas que, em diferentes m om entos, con
viveram com ele. A preservao do prdio que alojou um dos
maiores centros de tratam en to da tuberculose da Amrica Latina
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oferece muitos atributos de identidade. O espao, agora aberto
ao pblico, virou patrimnio histrico, estimula intensamenteos sentidos. Vicentina Aranha convida o olhar e o ouvido a uma
ateno e participao maiores no sentimento de pertencimen-
to. Aguando o domnio sensorial, o espao assegura cidade
o direito de se tornar um lugar, na acepo tcnica da palavra.
Tornar So Jos dos Campos um lugar torn-la um espao deidentificao e de memria de vivncias passadas. O Vicentina
Aranha representa a experincia intensificada de indicadores, de
smbolos e de pessoas que j foram deixadas para trs e que, ape
sar disso, permanecem na memria dos que ainda vivem. A his
tria s existe porque lembramos e lembramos para no deixarde existir.
Enfim, este volume nos permitiu percorrer sobre os campos
da cidade de So Jos. Instrumentalizados pela Histria, pela
Lingstica, pelo Patrimnio, pela Cultura e pelas vivncias de
cada um , im primim os nosso olhar num campo ainda po r ser trilhado. Este apenas um passo.
Valria Zane tti
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E f e i t o s d e M e m r i a n a s I d e n t i d a d e s d e
S o J o s d o s C a m p o s n o S c u l o X V I I I
Maria Alice Lopes
Marco Antnio Villarta-Neder
' ^ Aspectos Introdutrios
^ M t r a b a l h o a n t e r i o r (Lopes & Villarta-Neder, 2006),
atravs da anlise de corpus de documentos decorrentes
de transcries de cartas que fazem parte do Acervo da
Biblioteca Nacional - RJ, incorporados ao Projeto Pr-Memria,
propusem o-nos a estudar a relao entre a linguagem e a cons
truo de identidades no povoamento de So Jos dos Campos,
em meados d o sculo XVIII, poca do Brasil-Colnia, verificando
as manifestaes dos discursos dos componentes da populao
(brancos, negros, ndios, mestios), e as reivindicaes de espao
feitas em cada um desses segmentos.
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Esses documentos analisados retratam eventos ocorridos na
Aldeia de So Jos, atravs de cartas dirigidas ao Governador da
Capitania de So Paulo que registram as queixas dos maus-tratos
sofridos pelos ndios e pelos religiosos que viviam na Aldeia. O
causador desses maus-tratos, segundo as cartas, era o Capito-
Mor Jos de Arajo Coimbra. Procuramos retratar, naquele tra
balho, as distncias sociais e econmicas que existiam na po
ca, identificando o interdiscurso como revelador de indcios da
construo de identidades do povoado.
Este artigo, a pa rtir do corpusm encionado e acrescido de do
cumentos do acervo de Atas da Cmara Municipal de So Jos
dos Campos, - onde so relatados os proced im entos para a eleio
dos juizes e vereadores da C mara, dentre os quais, a escolha dos
eleitores que fossem capazes de escolher pessoas para os cargos de
confiana - em 27 de julh o de 1767, (poca da elevao de Aldeia
para Villa de So Jos da Parahyba), tem como objetivo discutir
os efeitos de memria na construo de identidades atravs da
luta pelo espao geogrfico e cultura l e das relaes de poder exis
tentes entre os habitantes da Vila naquela poca, retratadas pelos
eventos mencionados nas Atas.
lugar de onde partimos
O e s t u d o d o c o n c e i t o de identidade justifica-se no atual
momento das cincias humanas e da linguagem face ao questio
nam ento de at que ponto as ferramentas conceituais disponveis
para se discutir conceitos com o identidade e cultura, ao trazerem
vises etnocntricas, no inviabilizam a percepo e a anlise de
certas particularidades no processo de constituio etnogrfico e
lingstico.
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A concepo de identidade assumida aqui se ope idia de
que ela seja uma caracterstica pronta, pr-definida do sujeito;
entende-a, ao contrrio, como o resultado de sua interao com
o meio social em que vive. Por identidade podemos classificar o
conjunto de particularidades de um grupo social: crena, raa,
experincias, ritos. Essas particularidades so colocadas em evi
dncia por meio do uso da linguagem, quando os sentidos so
produzidos a partir do sujeito.
Na linguagem do senso com um , a identificao construda
a pa rtir do reconhecim ento de alguma origem com um , ou de ca
ractersticas que so partilhadas com outros grupos ou pessoas,
ou ainda a par tir de um ideal (Hall, 2000:106). A vida e a reali
dade so histria, gerando passado e futuro. Desse modo, a forma
de os hom ens conceberem o m und o depende mu ito do m odo de
vida da sociedade (Rodrigues, 1969:27).
Iden tidade e identificao so assum idos aqui com o processos
discursivos. No sendo imanentes, tais processos se constituem
como efeitos de sentido, em que cada atribuio identitria (seja
pela reivindicao do enunciador e/ou do enunciatrio) no tem
sentido em si mesma, mas no jogo de relaes estabelecido entre
as posies sociais, histricas, ideolgicas e discursivas.
Por isso, adotam os o referencial terico da Anlise do Discurso
de linha francesa (AD), que privilegia tal enfoque. Assim, os
enunciados presentes nos docum entos so vistos com o discurso,
ou seja, como efeitos de sentido entre interlocutores. Tomando
um ponto de contato tenso entre a ideologia e o inconsciente, a
perspectiva da AD entende que
(...) o sentido de uma seqncia s materialmente
concebvel na medida em que se concebe esta seqn
cia como pertencente necessariamente a esta ou que-
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la formao discursiva (o que explica, de passagem,
que ela possa ter vrios sentidos) (Pcheux & Fuchs,
1990:169).
Essa condio determinante da formao discursiva (FD) em
estabelecer o que pode e deve ser dito, apresenta deslocamentos,
movimentos e contrapontos, na medida em que h uma relao
entre FDs antagnicas. Esse processo intervalar de remisso do
discurso sua exterioridade leva a AD assum ir com o constitutivo
o conceito de interdiscurso, que
(...) consiste em um processo de reconfigurao inces
sante no qual uma formao discursiva conduzida
(...) a incorporar elementos preconstrudos produzidos
no exterior dela prpria; a produzir sua redefinio e
seu retorno, a suscitar igualmente a lembrana de seus
prprios elementos, a organizar sua repetio, mas
tambm a provocar eventualmente seu apagamento,
o esquecimento ou mesmo a denegao (Courtine &
Marandin, 1981, apud Brando, 2004).
No inte rdiscurso as FDs j no assumidas com o estticas, mas
den tro de um m ovim ento que se constri na e pela m em ria, no
com o um resgate de fatos passados, mas com o discursos que (re)
constroem constantemente uma historicidade das tenses entre
as posies-sujeito e os lugares discursivos. Dessa maneira, po
demos assumir igualmente que a histria, do ponto de vista da
Anlise do Discurso de linha francesa
est ligada a prticas e no ao tempo em si. Ela se or
ganiza tendo como parmetro as relaes de poder e
de sentidos, e no a de cronologia: no o tempo cro
nolgico que organiza a histria, mas a relao com
o poder (a poltica). Assim, a relao da Anlise do
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Discurso com o texto no de extrair o sentido, mas de
apreender a sua historicidade, o que significa se colo
car no interior de um a relao de confronto de sentidos(Orlandi, 1990:35).
A linguagem - entendida enquanto uso - elemento im po r
tante para o desenvolvimento do processo de construo de iden
tidades, pois atravs dela que so exteriorizadas concepes e
vises de mundo. O ser humano s se d conta de sua existnciae se questiona a respeito dela, desde que pertena a um grupo,
a uma sociedade e se (re)conhea nesse espao de tenso entre
sua posio-sujeito e a posio-sujeito do outro. Os smbolos e as
regras criadas por esta sociedade so absorvidos pelo sujeito, pas
sando a ser ento, na sua concepo, o retra to de sua identidade.O povoam ento de So Jos dos Cam pos constitui-se como um
processo de conflitos sociais e econmicos, apresentando reivin
dicaes de cada um dos segmentos componentes do povoado.
Para este estudo, torna-se relevante discutir como a linguagem
utilizada pelos moradores (atravs de seus discursos) se constituiu em instrumento revelador da construo de identidades,
delimitando espaos geogrficos e culturais. Esse processo de
construo de identidades, de constituio de sujeitos e discursos
ocorre num a relao intervalar. Assim, cabe como questo episte-
molgica a form ulao de Bhabha:(...) De que modo se formam sujeitos nos entre-luga-
res, nos excedentes da soma das partes da diferena
(geralmente expressa como raa/classe/gnero etc.)?
De que modo chegam a ser formuladas estratgias de
representao ou aquisio de poder [empowerment]no interior das pretenses concorrentes de comunida
de em que, apesar de histrias comuns de privao e
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discriminao, o intercmbio de valores, significados e
prioridades pode nem sempre ser colaborativo e dial-
gico, podendo ser pro fundam ente antagnico, conflitu
oso e at incomensurvel? (Bhabha, 2003:20).
No m bito deste artigo analisaremos com o essas diferenas
fragmentrias, repartidas so reivindicadas, aceitas e recusadas.
As categorias habitualmente estabelecidas em relao aos habi
tantes da Villa (brancos, negros, ndios, mestios) se en trecruzam ,
enqu an to lugares sociais e posies discursivas. Esse intervalo e n
tre reivindicaes (esquecidas, apagadas, denegadas) de identida
de constitui-se atravs do processo de m em ria discursiva:
A memria discursiva seria aquilo que, face a um texto
que surge como acontecimento a ser lido, vem restabe
lecer os implcitos' (quer dizer, mais tecnicamente, os
pr-construdos, elementos citados e relatados, discur-
sos-transversos, etc.) de que sua leitura necessita: a co n
dio do legvel em relao ao p rprio legvel (Pcheux,
1999:52).
Desse ponto de vista entendemos que o trabalho do analis
ta aqui se revista dessa caracterstica: a de uma posio, a partir
da qual se olha para os acontecimentos ligados a So Jos dos
Campos do final do sculo XVIII. E, ainda, ser atravs dessa
perspectiva que analisaremos os deslocamentos dos efeitos de
m em ria entre os sujeitos (brancos, negros, ndios, mestios) que
se constituem no corpus.
O efeito de memria decorre da relao entre o interdiscur-
sivo e o intradiscursivo, entre exterioridade e interioridade. Ointerdiscurso assim determinaria a FD, fazendo com que esta se
inscreva em duas ordens diferentes: memria plena e memria
lacunar.
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No prim eiro caso, trata-se da m em ria plena enquanto
(...)possibilidade de preenchimento de uma superfcie
discursiva com elementos retomados do passado e re-
atualizados, criando um efeito de consistncia no in
terior de uma rede de formulaes; a estratgia usada
aqui seria a repetio (Brando, 2004:101).
J no segundo (memria lacunar), temos uma produo (...)
de deslocamentos, vazios, esquecimentos que podem provocar
um efeito de inconsistncia na cadeia do formulvel. (...) A es
tratgia seria a do apagamento (Brando, 2004:102 - grifo da
autora).
O discurso aqui m encionado refere-se prod uo de sentidos
que se interpem entre o colonizado e o colonizador e no sobre
o uso da linguagem com o troca de informaes.
O prim eiro g rupo de docum entos a serem analisados, que re
trata eventos ocorridos na Aldeia de So Jos, refere-se a textos
dirigidos ao Governador da Capitania de So Paulo e registram
as queixas dos m aus-tra tos sofridos pelos ndios e pelos religiosos
que viviam na Aldeia. O causador desses maus-tratos, segundo as
cartas, era o Capito-M or Jos de Arajo C oimbra.
A AD estuda o discurso com o troca, prod uo de sentidos en
tre interlocutores e seus efeitos produzidos pela sua manifestao.Esse discurso pode ser verbal ou escrito, sendo que o estudo da
AD d enfoque s condies exteriores de produo do discurso,
sem as quais ele no poderia ser constitudo. Essas condies so
os fatores histricos, sociais e ideolgicos que atuam sobre o su
jeito, determ inando o seu dizer e os efeitos de sentido que serogerados atravs desse dizer. O discurso no pode existir fora da
sociedade. um prod uto scio-histrico:
Com o elem ento de mediao necessria entre o hom em
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e sua realidade e como forma de engaj-lo na prpria
realidade, a linguagem lugar de conflito, de confron
to ideolgico, no po dendo ser estudada fora da socie
dade, uma vez que os processos que a constituem so
histrico-sociais (Brando, 2004:11).
O sujeito, quando produz sentido, o faz atravs de uma de
term inada posio, sob determ inadas condies de produo. As
condies de produ o que vo guiar o dizer: os fatores h istri
cos, sociais e ideolgicos que influem no sujeito, estaro presentes
na construo dos sentidos produzidos por ele. esse contexto
que d eterm ina com o ser organizado o discurso. A relao entre
a linguagem e a interpelao sofrida pelo sujeito devido sua po sio no contexto social, histrico e ideolgico, com pe o sentido
do texto.
Todo sujeito est inserido num momento histrico. Partindo
deste ponto, podemos dizer que a histria faz parte de seu dis
curso e que esse discurso p rod uz efeitos de sentidos d istintos, dependendo da posio ideolgica em que se situa quem o recebe,
o interpreta.
A ideologia um conjunto de valores e regras que j trazemos
conosco e que obedecem os inconscientemente. Faz-nos acreditar
que o que somos e o que fazemos dentro da sociedade, e as relaes que m antem os com sujeitos de um grupo social, surgem de
maneira natural. Numa dada conjuntura ou situao de enun
ciao, essas regras e valores manifestam-se no discurso, deter
minando o que pode e deve ser dito ou no pode e no deve ser
dito, caracterizando a FD a que pertence aquele discurso. A FD responsvel por um sujeito produzir esse ou aquele sentido, sob
influncia da ideologia numa determinada situao de enuncia
o.
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-^ U m olhar para o corpus
O e s t u d o d o s t e x t o s que fazem parte do corpusnos indicia
o retrato das relaes de poder existentes entre os indivduos da
populao da Aldeia naquela poca - o colonialismo portugus
no Brasil. As reivindicaes da populao (principalmente a in
dgena) mostram o desejo de justia e a luta pelo espao social e
cultural.
Foi grande o poder do trabalho dos jesutas portugueses na
colonizao do Brasil, devido influncia que exerceram naquele
processo. O jesuta era um m ediador entre a Coroa - o m undo
civilizado e os nativos - um povo a quem deveria ser ensinada a
doutrina crist.
Soares (2004) afirma que, dessa forma, traduz ind o suas pala
vras para os ndios, que os padres pode riam pregar/convert-los,
fazendo com que eles assumissem a viso de mundo ocidental-
crist.
No prim eiro grupo de textos do corpus,como foi mencionado
no incio deste artigo, os indgenas, constituindo-se como sujei
tos na posio dessa viso ocidental-crist, assimilada por eles,
expressam sua queixa, conforme relatado abaixo, vindo afirmar
sua posio de cidado injustiado pelos maus-feitos do dirigente
da Aldeia - o Capito-M or Jos de Arajo Coimbra. Essa posio
caracteriza a FD na qual esto inseridos: a do cidado submisso
ao representante do Rei, no caso, o Governador, que possui um
cargo mais elevado que o Capito-M or: Aos pes de V.Ex.a se vem
queichar os ndios da alde de S. Joze das inolencias do director
delia p.a cujo fim vam 3 ind ios ...
De maneira inconsciente, o sujeito assume uma posio ao
produzir seu discurso. Sem se dar conta, seu discurso consti-
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tudo de dizeres do outro. Seu dizer marcado, atravessado por
discursos que ouviu de outros sujeitos, que assum iram ou tras po
sies, sob outras condies de produo, apesar de o enunciado r
acreditar que aquele discurso seu, nico, que nunca havia sido
form ulado antes. Essa relao entre discursos definida com o in-
terdiscurso. O sentido que acaba sendo produzido pelo sujeito
no neutro, portanto.
Segundo Orlandi (2005:32), o dizer no propriedade parti
cular. As palavras no so s nossas. Elas significam pela histria
e pela lngua. O que dito em outro lugar tambm significa nas
nossas palavras. o que podemos perceber no seguinte trecho,
fragmento extrado de uma das cartas analisadas, que menciona
a relao do C apito-M or com a Igreja:
...que som os ndios som os filhos de D.s christaons bau-
tizados i sintimos os desprezos que nos fazem [...] he
tam inimigo da Igreja, e de todo o bem espiritual que
empidio o emsinarsse a do u trina cristan costume a n ti
go e ouvir missa de m adrugada o que V.Ex.a ordenou...
Na FD do indgena, assum indo a posio de um a pessoa crist
- obediente ao colonizador e Coroa, sua fala atravessada pelo
interdiscurso: h a presena no discurso do ndio, do discurso
do colonizador, que transmite a idia de que ser cristo implica
ser respeitado. Respeito este reivindicado pelo colonizado em re
lao ao Capito-Mor. Ao mesmo tempo o texto tem carter de
denncia, pelo fato de o Capito-Mor infringir as regras crists,
determ inadas pela Igreja e pela Coroa.
Enquanto efeitos de memria h o mecanismo de memria
plena, atravs da repetio de conceitos e valores que o branco-
colonizador diz do lugar caracterstico do colonizador-cristo. A
reivindicao de identidade se d pela condio de cristo ba-
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tizado. Lembrar-se desses enunciados e fazer lembrar o outro
(desses enunciados), autoridade constituda no lugar de poder
do prprio colonizador , dessa perspectiva, da ordem da memria plena. No entanto, se considerarmos que essa posio de
cristo-batizado apaga a do ndio colonizado, ressignificado em
suas crenas e seu papel social, nos deparamos com a ordem da
memria lacunar: sobre esse apagamento que surge a posio
do ndio-cristo-batizado.A partir da imagem, da representao que o indgena faz de
seu interlocutor - o Governador, pessoa a quem dirige suas quei
xas, podem os identificar o mecan ismo da Formao Imaginria.
A Formao Imaginria se manifesta no processo discursivo atra
vs da antecipao e das relaes de fora e de sentido.Pela antecipao, o sujeito se coloca na posio de seu inter
locutor, ouvindo suas palavras. Seu argumento regulado de tal
forma, que far uso desse ou daquele discurso, de acordo com o
efeito de sentido que pensa produ zir no ouvinte. Podem os perce
ber que, da perspectiva de quem enuncia , form ula o dizer abaixo,o discurso do ndio chama a autoridade do Governador, procu
rando induzi-lo a tomar providncias: ...e V. Ex.a no h de pri-
mitir semelhantes couzas e destruioens deonrras [sic] pois isto
no he servio de D.s nem de Sua Mag.e...
Nas relaes de fora, as palavras significam a partir da posi
o na qual o sujeito se estabelece. Nos trechos estudados, a pa la
vra do indgena significa a par tir do lugar em que ele se posiciona:
componente de uma sociedade que constituda pelas relaes
de poder, onde sua posio de cidado, obediente s ordens,
m erecedor de respeito e considerao.
As relaes de sentido nos rem etem ao conceito de que no h
um discurso que no m antenha relao com outros.
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Em um determinado trecho da carta, o ndio manifesta sua
revolta em relao ao tratamento que recebe do diretor:
... tra tan os como negros contra as ordens de Sua Mag.cdescompondo os oficiais com palavras desonestas sem-
po [sic] com o diabo na boca ...
Um primeiro aspecto a ser analisado aqui o uso da palavra
negros. Polissmica, ela pode aludir gente da terra ou ao escravo
africano. Em ambos os casos, temos um efeito de memria digno de ateno. Se da posio de ndio, se autodenomina negro
(como ndio mesmo), o faz do lugar de nomeao do branco-
colonizador. Lembrar-se dessa nomeao e assumi-la da ordem
da m em ria lacunar, esquecendo-se de seu p rp rio lugar.
Ao mesm o tempo, esse esquecimento autoriza a reivindicao
dos ndios, pois remete a um a an terioridad e na h istoricidade dos
sentidos. Com o negro (da terra), ele ainda no cristo-batizado.
Tendo passado a estar nessa ltima condio, a denominao
ofensiva. Essa aluso ao esquecimento (da ordem da memria
lacunar) faz lembrar autoridade a repetio de algo que est
implcito no discurso do ndio, mas freqente no discurso do
colonizador para torn ar o ndio um cristo-batizado.
Ser cristo-batizado no somente uma condio religiosa.
Ser cidado de um reino cristo, da perspectiva da poca, s cabe
a quem aceite os preceitos cristos. Portanto, reivindicar da po
sio inicial de ndio interditado. Mas esse apagamento reco
berto pelo apagam ento que a nova condio do ndio o reveste: a
da cristianidade. Nu m m ovim ento que perfaz um deslocamento,
que instaura um entrelugar entre a memria plena e a memria
lacunar, o ndio faz lem bra r a legitimidade de sua reivindicao.
Eventualmente se pudssemos considerar negro como escra
vo africano, ainda assim, a distino se reveste de um critrio
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da mesma natureza. O ndio j- cristo batizado. Na ordem da
m em ria lacunar, o outro no o seria. Ao repetir a denom inao
ofensiva, o ndio denunciaria, neste caso, uma posio que lhe atribuda inadequadamente.
A relao de sentido se d pelo fato de o discurso indgena
apon tar para um dizer que do colonizador. O discurso do ndio
sustentado por outro, o do portugus. Essa sustentao base
ada na existncia de uma lei, uma ordem, de no se chamaremaos ndios de negros, postulada no 10 pargrafo do Diretrio
dos ndios. Igualmente, essa relao de sentido resulta do co
nhecimento que o ndio tinha da lei que havia sido firmada no
Diretrio e de sua referncia ao no cumprimento de tal man
damento.Segundo Almeida (1997), o Diretrio dos ndios foi uma lei
colonial, que vigorou entre 1757 e 1798, a fim de instruir o com
portam ento do colonizador em relao s populaes indgenas,
envolvidas nos em preendim entos de definio da fronteira norte
do Brasil e seu povoamento. Aplicado primeiro ao governo daspovoaes indgenas do norte e depois, recom endado como ex
presso nica do com portam ento do colonizador em relao aos
ndios do Brasil, o Diretrio foi lei geral at sua extino pela
Carta Rgia de 12 de maio de 1798.
No processo da colonizao, o indgena passa a valorizar asregras que lhe foram passadas pelos portugueses, porqu e se situa
com o cidado que faz parte daquela sociedade, repetindo, na o r
dem da m em ria p lena tais regras. A identidade se cons titui no
s pela representao que o indgena tem de si mesmo, mas tam
bm pelo deslocamento de sua posio, devido representao
que ele tem do portugus e s aes que tom a a partir deste novo
posicionam ento.
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A posio-sujeito do ndio se desloca de acordo com o con
texto em que ele se insere, significando socialmente atravs da
manifestao de seu discurso, para atender s expectativas queaquele contexto reivindica. H o intuito de se compreender os
efeitos de sentido produzidos pelo branco colonizador atravs da
manifestao de seus discursos no momento em que suas con
cepes se encontram com as dos habitantes da Villa de So Jos
da Parahyba (ndios, negros, mestios, estrangeiros).A segunda parte do corpus, referente aos procedimentos e re
comendaes de votao para os ndios tam bm apon tam efeitos
interessantes. Discursos que ocasionaram a delimitao dos espa
os tanto geogrficos quanto culturais: Fazendo votar aos ditos
ndios em pessoas que achassem mais idneas para eleytores...Constitui-se atravs desta solicitao, o lugar do com ando - a
Coroa, os dirigentes da Villa - e o lugar daquele que o reconhece
como poderoso politicam ente - o ndio. A linguagem enqu an
to discurso interao, e um modo de produo social; ela no
neutra, inocente e nem natural, por isso o lugar privilegiadode manifestao da ideologia (Brando, 2004:11). No fragmento
mencionado, quem seriam essas pessoas idneas? Seriam tidas
como idneas atravs do olhar do branco colonizador ou do in
dgena? As pessoas que foram escolhidas para elegerem os juizes e
vereadores possuam nom es portugueses, provavelmente perten cendo ao grupo mais influente da sociedade.
Surge, neste acontecimen to, o indgena que o colon izador ten
ta submeter, refletindo as relaes de poder entre eles no espao
do colonialismo. No movimento intervalar entre as duas ordens
de memria, o colonizador esquece-se de que o ndio o negropassvel de ofensas, j que ir participar, em alguma m edida, do
processo decisrio, escolhendo os representantes (m em ria lacu-
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nar), mas lembra-se, repete, com outros enunciados, em outra
formulao, a incapacidade do ndio..
Posteriormente, os eleitores escolhidos decidiram, por voto,
quais as pessoas que ocupariam os denominados cargos para a
Cm ara. Este fato est cond icionado ideologia, imagem que o
hom em branco possua em relao sua posio social e ao dever
de obedincia Coroa Portuguesa, agindo em nome dela e em
nom e de Deus.
No espao onde o branco se situa, decorrente da imagem que
tem de si mesm o, tom ado r de decises em nom e da C oroa, cons
titui-se a Form ao Discursiva do colonizador.
So as formaes discursivas que, em uma formao ideol
gica especfica, dete rm inam o que pode e deve ser dito a pa rtir de
uma posio dada em uma conjuntura dada (Pcheux & Fuchs,
1990).
Na seleo desses cargos, encontram os a manifestao do dis
curso de autoridade, onde se direciona a escolha de pessoas zelosas pa ra exercerem tais funes n a C mara:
(...) aos quaes eleytores por se acharem ally prezen-
tes deferio o Dor- Corregedor o juram en to dos Santos
Evangelhos, de que eu escrivam dou f, encarregando
lhes, que sem dollo nem malicia propuzessem as pessoas de mayor intelligencia, e capacidade, e zelozos de
bem com um para servirem na Respublica desta nova
villa os cargos de Juizes Ordinrios, Vereadores, e
Procuradores estes trs annos...
Escolher sem dollo nem malicia escolher pessoas de mayorintelligencia e capacidade. Pelas pessoas escolhidas - brancos -
pode-se perceber os efeitos de sentido de que esses atributos se
revestem neste caso. Se as pessoas capazes e mais inteligentes no
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so ndios, estes no apresentam tais atributos. Assim, o negro
enquan to termo ofensivo ao cristo-batizado remem orado, as
severado enquanto sentido pr-construdo que se repete, na or
dem da mem ria plena.
O colonizador projeta em seu pedido para que se escolham
pessoas idneas para eleitores e posteriorm ente de m aior inteli
gncia e capacidade para juizes e vereadores, o discurso do Rei, da
Coroa de Portugal: Sua fala um recorte das representaes de
um tem po histrico e de um espao social (...) Situa seu discurso
em relao aos discursos do outro. Outro que envolve no s o
seu destinatrio para quem planeja, ajusta sua fala, mas que ta m
bm envolve outros discursos historicam ente j constitudos que
emergem na sua fala (Brando, 2004:59).
Atravs do discurso em que se situa, o branco colon izador de
monstra a imagem que tinha dos ndios da Vila, confirmando a
viso de que eles no atingiam o m odelo de pessoas com q ua lida
des para exercerem os cargos de confiana (inteligentes, capaci
tadas, zelosas pelo bem comum). H neste caso, o silenciamento
da imagem que o ndio fazia de si mesmo, que sobreposta pela
imagem que o b ranco colonizador fazia do indgena:
...por cauza da pouca vigilncia e cuidado dos deno m i
nados padres jezuitas que administraro os indios (...)
tendo os reduz ido a hu m a lamentvel mizeria sem lhes
darem, nem ensignarem a civilidade devida, mas antes
izentando oz [sic] da comunicao da gente, para os
conservarem em huma pura brutalidade, afim de s a
elles obedecerem ...(...).
A formao discursiva do ndio, atravs do silenciamento na
escolha de eleitores, vo tando em supostos cidados portugueses,
absorvida pela formao discursiva do b ranco colon izador que
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apresen ta o ndio com o incapaz. Esse silenciamento inicialm en
te da ordem da m em ria lacunar, mas h um deslocamento para
a m em ria plena, novam ente pela repetio dos efeitos de sentidodo ndio com o incapaz, abrutalhado.
Outro fator da ordem da memria lacunar estabelecido: a
posio da Coroa Portuguesa redimida em funo de um a acu
sao ao trabalho dos jesutas. Ela no m enc ionada dire tam en
te. Assim, pela repetio dos sentidos de incapacidade do ndio,a memria plena se instaura. E se o ndio se considera diferente
dessa condio d ifamatria, o argum ento que essa viso decorre
da prpria bru talidade a que teria sido relegado pelo traba lho dos
jesutas.
O espao discursivo e social de tenso entre a Coroa e os je
sutas participa aqui desse entrelugar na relao entre ordens de
memria. Atravs dessas manifestaes, surge a construo da
identidade: no intervalo demarcado entre o limite de liberdade
de ao e participao do ndio naquele momento histrico e a
imagem que o colonizador mantinha a seu respeito: (...) Ambas
as formas de discurso produzem, mais do que refletem, seus ob
je tos de referncia (B habha, 2003:46).
^'Arrematando...
T i v e m o s c o m o o b j e t i v o discutir os efeitos de memria na
construo de iden tidades atravs da luta pelo espao geogrfico
e cultural e das relaes de poder existentes en tre os habitantes da
Vila no final do sculo XVIII, retratadas pelos eventos menciona
dos nas Atas da C m ara M unicipal de So Jos dos Cam pos, que
constituram o corpusdeste artigo.
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Tratava-se de dois grupos de docum entos: o primeiro, referen
te a textos dirigidos ao Governador da C apitania de So Paulo que
registram as queixas dos m aus-trato s sofridos pelos ndios e pelosreligiosos que viviam na Aldeia. O causador desses maus-tratos,
segundo as cartas, era o Capito-Mor Jos de Arajo Coimbra. O
segundo grupo com preende os relatos dos procedim entos para a
eleio dos juizes e vereadores da Cmara, dentre os quais, a es
colha dos eleitores que fossem capazes de escolher pessoas para oscargos de confiana - em 27 de julh o de 1767, (poca da elevao
de Aldeia para Villa de So Jos da Parahyba).
Nos fragm entos estudados, o discurso do colonizador parte
constitutiva do discurso indgena. Portanto, a que o interdis-
curso se materializa, no en trelaam ento das vozes do co lonizadore do colonizado, contribuindo para a instaurao dos efeitos de
memria constitutivos de identidade do ndio daquela poca. O
indgena sofre uma transformao, que nos mostrada pelo uso
da linguagem, deixando presente a correspondncia com as in
fluncias culturais que havia recebido at ento pelos religiosos eportugueses. As leis im postas pelos portugueses passam agora a
ser as leis obedecidas pelos ndios.
Assim, de um lado, a reivindicao identitria feita pelos ndios
ocorre na ordem de um a m em ria plena, atravs da repetio dos
enunciados do branco colonizador. Num reino assumidamentecristo, no-laico, os espaos identitrios de cidadania passam
pela condio de cristianidade, certificada pela Igreja, atravs do
batismo. No entanto, ser um ndio que se to rnou cristo-batizado
um a o utra posio, que instaura ou tras condies de produo
do discurso. Portanto, os mesmos enunciados proferidos de umlugar identitrio d iferente provoca efeitos de sentido diferentes. A
queixa dos ndios subentende isso: a no aceitao, por pa rte do
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branco, representante da Coroa, da nova condio de identifica
o dos indgenas.
Por outro lado, nas recomendaes sobre a eleio de juizes
e vereadores, na ordem da memria lacunar que a recusa rei-
vindicatria de identificao dos ndios explicitada, trazendo
tona, superfcie do discurso enunciados em alguns momentos
silenciados: os da condio natural de brutalidade, de no-hu-
manidade dos ndios. interessante recordar que, du ran te alguns
perodos, houve um a discusso teolgica a respeito da possibili
dade ou no de os ndios terem alma. Esse discurso recusado (j
que prevalece pos teriorm ente a viso de que os ndios tm alma)
emerge no antagonism o de interesses que supe o preenchim en
to das funes de juizes e vereadores por cidados portugueses.
Matizado pela atribuio de culpa aos jesutas, seja como for,
o discurso sobre o ndio o v como incapaz e sem inteligncia,
inapto pa ra o exerccio dessas funes.
A identidade do cidado joseense comeou a se formar ali,
atravs das transformaes ocorridas naquele povo, assumindo
um a de term inada posio e reivindicando seu espao e os direi
tos que tal posicionamento permitia requerer. O interdiscurso
revelador desta transform ao, pois a fala do indgena traz outras
vozes de diferentes contextos, que atravessam sua posio-sujeito,
determ inando o sentido de seu discurso.
Fica presente a determinao do espao a ser ocupado pelo
indgena enquanto votante: designado apenas para confirmar
atravs de seu voto, o que j estava praticamente implcito ao ser
solicitado para tambm exercer um poder de deciso. Apesar de
estar atuando num dado momento importante da histria, sua
identidade de governado confirmada ao escolher pessoas que es
to supostam ente indicadas no discurso dos que dirigiam a Vila.
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Seja como cidados que reivindicam ou como votantes a que
se aconselha escolherem os brancos de maior inteligncia e capa
cidade, os ndios e mestios tm sua identidade constituda nessarede de efeitos de m em ria que, da posio do colonizador, ap a
gam o lugar legitimado que eles ten tam reivindicar. Se esse lugar
possvel, som ente o para serem votantes sem dollo nem mali-
cia, conf irm ando os brancos em posies de liderana. Quando,
no d iscurso do colonizador, so estabelecidos esses pressupostos,
h igualmente um pressuposto a ser repetido: a posio apagada
desses ndios. Dessa m aneira, as duas ordens de m em ria conver
gem para efeitos de controle e negao de cidadania.
Olhar para esses acontecimentos dessa maneira permite-nos
dar conta desses espaos de tenso na constituio de identida
des, atravs dos efeitos de mem ria, principalm ente no que tange
relao entre categorias que extrapolam uma dicotomia entre
colonizado e colonizador. H diferenas - que se m arcam nos
efeitos de mem ria - entre branco colonizado e ndio coloniza
do, por exemplo.
No caso do branco, h um a m em ria plena de sua origem (do
colonizador), expressa pelas categorias de inteligncia e capa
cidade. Aos ndios, cabe o lugar - atribu do pelo colonizador -
de brutalidade (natural ou mantida pelos jesutas, vistos comoinescrupu losos pelos representantes da Coroa). Aos mestios, no
corpuscabem os efeitos da m em ria lacunar: o silncio. Entre essa
atribuio de efeitos de sentido e aquela reivindicada pelos ndios
- a de cristos batizados - h superposies e deslocamentos.
H ndios que se posicionam como brancos (cristianidade um lugar do branco) e os brancos representantes da Coroa, em
outros momentos, ignoram esse reposicionamento dos ndios.
Em parte porque, do lugar em que reivindicam, interessa excluir
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o sentido do ndio com o eventual representante nos cargos e fun
es da municipalidade. De ou tro lado, porque naquele m om en
to, brancos representantes da Coroa e brancos-jesutas esto em
posio antagnica.
No espao in tervalar do in terdiscurso, os efeitos de m em
ria operam repeties, apagam entos, esquecimentos, denegaes.
Processos que se movim entam , que se mostram s vezes con tra
ditrios, um a vez que as posies tam bm se modificam.
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Luz d a M o d e r n i d a d e J o s e e n s e :
aLight em S o J o s d o s C a m p o s ( 1 9 3 5 - 1 9 4 5 )Fbio Zanutto Candioto
f f ' V R O P O M O S i n v e s t i g a r a poltica m odernizadora na
" cidade de So Jos dos Campos, no perod o de 1935-
-X. 1945 atravs de propagandas que estimulavam o con
sum o de energia eltrica, veiculadas no peridico Correio Joseense.So Jos dos Campos, no referido perodo, havia acabado de se
trans form are m Estncia Climatrica (12/3/1935) e H idrom ineral
(16/12/1935), administrada por interventores federais at 1947.
Nesse m om ento, a cidade estava tom ada pela ideologia do p ro
gresso, associada a vrios planos de obras pblicas para reform ular visualmente a cidade. Esse pensamento comeou a seduzir a
sociedade brasileira, principalmente os segmentos hegemnicos,
a partir do incio do sculo XX, influenciada tam bm pelas idias
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e aes do Baro Georges Eugne Haussman, o prefeito de Paris
que havia reform ulado totalm ente o centro da cidade entre 1853
e 1869, de rrubando construes antigas e insalubres para d ar lugar s imensas avenidas e novos prdios suntuosos.
A ideologia modernizadora brasileira:
suas origens e influncias
E n t r e 1902 e 1 9 0 6 , a reforma iniciada na cidade do Rio de
Janeiro pelo prefeito Pereira Passos, passou a ser referncia na
cional. Essa linha de pensamento adotava aes radicais como a
alterao da composio das residncias nos centros das cidades,
derrubando as casas antigas e em mau estado, empurrando seus
m oradores para a periferia, sob o pretexto de higienizar a cidade
e evitar doenas, alm do convincente discurso de embelez-la.
Na prim eira m etade do sculo XX, era uma caracterstica
m arcante do processo brasileiro de modernizao prom over m u
danas, desde que no fossem muito profundas para no alterar
o status quo. O objetivo era reformular visualmente as cidades
para que pudessem oferecer conforto e com odidade nos padres
europeus. O resultado dessas mudanas provocou um processo
de modernizao tmido e excludente que atendeu somente s
necessidades da parte mais abastada da populao, sobretudo
porque foi um progresso construdo pelas foras conservadoras,
vidas pela tendncia ocidental, tentando dar brilho dura rea
lidade local.
Mrcia Padilha nos d uma noo definida da modernidadeaspirada pela elite brasileira da poca. Segundo Padilha, a mo
dernidade definida como um consumo requintado que surgia
como legitimao do status cosmopolita reivindicado por nos
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sas elites afortunadas (Padilha, 2001: 115). Pode-se dizer que
modernidade o conjunto de novos conceitos, valores, ideais e
desejos relacionados s novas perspectivas propostas pelo desen
volvimento tecnolgico e ansiados como ideal de civilizao pela
burguesia ascendente, principal em preendedora das obras de
modernizao.
Como os segmentos hegemnicos da sociedade brasileiraeram os responsveis por trazer as novidades do exterior para o
Brasil e eram eles que dominavam as estruturas do poder, sua
preocupao residia em adaptar a sociedade s novidades in ti
mamente ligadas m od ernidad e m aterial. De acordo com Ortiz,
a forma de modernizao brasileira mantinha as tradies, pormais contradit rio que isso seja. Segundo o autor, a noo de m o
dernidade est fora do lugar na medida em que o Modernismo
ocorre no Brasil sem modernizao (Ortiz, 1988: 45).
Na Europa, as ltimas dcadas do sculo XIX anunciavam
o esprito da Belle poque, expresso de grande entusiasmo advindo do triunfo da sociedade capitalista que ganhava fora nas
prim eiras dcadas do sculo XX. Estes ideais influenciaram a
transformao de Paris atravs das reformas im plem entadas pelo
Baro de Haussman entre 1853 e 1869, que visavam, entre ou
tras coisas, a higienizao, o embelezamento e a racionalizaodo espao urbano. Atravs desses ideais, Paris eliminou, a partir
da segunda m etade do sculo XIX, um grande n m ero de habi
taes insalubres, que deram lugar a suntuosos prdios, justifi
cando a ao do pod er pb lico que in tervinha no espao visando
aos m elhoram entos urbanos. Os espaos centrais passavam a ter
uma nova m alha u rban a de amplas vias, alm de rede de esgotos,
abastecimento de gua e de iluminao eltrica. As mudanas na
paisagem de Paris acabaram se tornando referncia para outros
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grandes centros urban os, assim com o p ara os brasileiros.
Alm de Paris, podem os citar tam bm o exemplo russo de So
Petersburgo, que, apesar de no ter influenciado o Brasil comono caso francs, tambm nos d caractersticas importantes so
bre como o processo de m odernizao atuou no m undo a partir
da segunda metade do Sculo XIX. Segundo Marshal Berman, o
processo de construo e m odernizao de So Petersburgo foi
um modelo de m odernism o do subdesenvolvimento que se caracterizaria em uma poltica de atrasos imposta em meio a for
mas e smbolos de modernizao imposta (Berman, 1992: 186).
Tal definio poderia tam bm ser aplicada ao Brasil, guardadas as
devidas propores.
Para exemplificar melhor o processo russo, podemos citar o
Projeto Nevski, do czar Alexandre que reformou a grande ave
nida Nevski, um a das mais impo rtantes de So Petersburgo, que,
segundo Berman, serviu para unir todas as classes em torno de
suas vitrines, pois ela lhes abriu, no meio de um pas subde
senvolvido, uma vista de todas as promessas deslumbrantes do
mundo moderno. Em torno de suas vitrines, as Rssias rica e
pobre assistiam juntas e espantadas o espetculo da m odernidade
(Idem: 187).
No Brasil, os urbanistas decidiram aderir a esse p rojeto moder-
nizador lim itando-se a se em penhar no projeto de embelezamen
to dos espaos urbanos da cidade do Rio de Janeiro. Pretendia-se
elim inar os cortios, apon tados com o responsveis pelas doenas
que dominavam a cidade, alm de acabar tambm com suas ca
ractersticas coloniais que eram consideradas resqucios do pas
sado atrasado brasileiro. A populao menos favorecida, antiga
moradora do centro, foi removida de seu local de origem. Suas
casas foram desapropriadas e destrudas sem nenhuma forma
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de indenizao ou apoio. O espao, agora limpo, dava lugar a
largas avenidas e prdios luxuosos e passava a alojar os novos
servios pblicos (redes de gua, esgoto, telefone e iluminao),inacessveis s camadas mais baixas da populao, evidenciando
o processo excludente da modernizao brasileira.
O novo com portam ento adotado na cidade do Rio de Janeiro,
a partir da remodelao urbana, ressaltou a valorizao do chique
europeu (Art Nouveau), proporcionado, em parte, pelo adventoda eletricidade nas casas e nas ruas. As transformaes vividas
pela burguesia carioca, sob o signo do novo equipam ento ur
bano, ocasionaram o abandono das varandas e dos sales colo
niais. A nova condio de sociabilidade se espalhava agora pelas
novas avenidas, praas, palcios e jardins (Ortiz, 1988:31-32).
Contrastando com esse retrato de otimismo e valorizao da es
ttica, a presena das favelas, o medo do impaludismo, o peso de
uma pobre herana colonial invadia o cenrio, minando a ima
gem urbana to cuidadosamente construda.
< ^ 0 liberalismo brasileiro, cultura de massa e os mass media:
algumas caractersticas
P o d e m o s , e m p a r t e , explicar esse processo de m odernizao
excludente analisando a formao do capitalismo brasileiro que,
segundo Florestan Fernandes, apresenta-se como um capitalismo
frgil, de mercado de bens simblicos que no conseguia se ex
pressar plenamente, m arcado por um a fraca diviso do trabalho.
A conduta no-capitalista da econom ia brasileira, segundo Ortiz, caracterizada pela restrio do consumo e por uma economia
de subsistncia (Apud Ortiz, 1988:25-26).
Conforme esclarece Ortiz, som ente a partir da dcada de 1940
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no Brasil, que podem os falar de um a sociedade de massa, pois
a partir desse momento que percebermos a transformao da
sociedade brasileira em uma sociedade urbano-industrial. Nessemomento, o Brasil vivenciou vrias mudanas como o cresci
mento da industrializao e da urbanizao, a transformao da
estratificao social com a expanso da classe operria e das ca
madas mdias, o advento da burocracia e das novas formas de
controle gerencial, o aumento populacional e o desenvolvimentodo setor tercirio em de trim en to do setor agrrio. nessa dcada
tambm que o Brasil vive a fase de industrializao restringida,
que quer dizer movimento de expanso do capitalismo que se
realiza som ente em de term inad os setores, no se estendendo para
a totalidade da sociedade (Idem: 45).A cultura de massa aquela produzida segundo as normas
macias da fabricao industrial; propagada pelas tcnicas de
difuso macia (chamada de mass media)-, destinando-se a uma
massa social, isto , um aglomerado gigantesco de indivduos
com preendidos aqum e alm das estru turas internas da socieda
de (classes, famlia, etc.) e que tem como objetivo a homogenei
zao do consu m o e dos costumes.
Segundo Coelho, no Brasil possvel falar em cultura de
massa e comunicao de massa, apesar de no vivermos em
uma sociedade de consumo de massa, ou seja, vivemos sob os
ditames da cultura produzida em larga escala e dos mass media.
Para Coelho, no podemos falar que somos uma sociedade de
consumo de massa, por sermos uma sociedade desenvolvida de
um a form a m uito diferente, apresentand o as tais ilhas de riqueza
(com p equena capacidade de consum o de acordo com os padres
do primeiro mundo) cercada de bolses de pobreza, com uma
capacidade restrita de consumo (Coelho, 2003). O capitalismo
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brasileiro se desenvolveu disformem ente, fazendo com que as n o
vidades (intelectuais e materiais) vindas de fora, como a moder
nidade propagada pelos mass media,atravs da cultura de massa,
se restringissem som ente a uma pequena parcela da populao.
. ^ Histria por meio de imagens
E n t e n d e r o p r o c e s s o de modernizao das cidades brasi
leiras atravs de propagandas em peridicos ainda uma forma
nova e pouco trab alhada pela historiografia. Os anncios publici
trios so fontes que fornecem amplas inform aes acerca da so
ciedade. Por meio deles podemos ter uma idia das projees da
cidade e dos anseios dos seus segmentos hegemnicos, apesar de
os anncios e informaes que trazem no estarem isentos de va
lores e sentidos. As propagandas reforam os valores do sentido,
do sonhado, do projetado, ou seja, evidenciam um a das inm eras
representaes do universo da cultura.Utilizar as imagens como documento no processo de cons
truo da histria vlido por se construir em documento que
registra de forma no escrita caractersticas da poca em que ela
foi feita. A imagem , no en tanto, no simulacro da realidade, no
realidade histrica em si, mas smbolo, representao, d imensooculta, perspectiva, cdigo. Cabe a ns, identificarmos e tecerm os
a nossa prpria leitura sobre a sua funo no passado - tendo
sempre claro que o passado se foi e dele o que temos so apenas
vestgios e, a partir desses vestgios, possvel escrever histrias.
Complem entando, a fotografia, o emblema, o filme, a gravuraalegrica no devem ser entendidos meramente como ilustra
o de determinado processo, j que permitem interpretar as
montagens ideolgicas das representaes envolvidas. Os depoi
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mentos vivos de personagens e o material iconogrfico no subs
tituem em absoluto as funes documentais da palavra escrita,
mas com plem entam significados fragm entrios dos textos, auxi
liando na composio de um qu adro histri