Crise do planejamento territorial e urbano?Por um “outro” urbanismo ecológico e popular
com sustentabilidade urbana.
Desde essa dupla óptica de assumir a complexidade e uma visão profundamente ecologia,
poderíamos constatar a necessidade de colocar em primeiro plano a urgência de planificar
mais, não menos. O urbanismo é mais necessário que nunca, e as ferramentas que têm
desenvolvido ao longo de sua historia seguem sendo de grande utilidade, mas é preciso
introduzir novas ferramentas (Verdaguer 2014b).
Crise civilizatória. Crise do planejamento territorial e urbano? Vários autores e intelectuais das más diversas áreas do conhecimento estariam nos alertando
que atravessamos uma grave crise civilizatória, suma de múltiplas e diversas crises: social,
ecológica, financeira, agro alimentaria, energética, urbana, etc. Uma crises, de valores éticos
que teria como causa fundamental as contradições sociais e ambientais de nosso atual modelo
de organização social de economia de mercado capitalista na sua etapa neoliberal e
globalizada..
Uma economia de mercado que prega o crescimento econômico e o consumo ilimitado num
planeta de recursos limitados. Uma contradição que colocaria como previsível em curto prazo,
a insustentabilidade da vida na casa comum do planeta Terra.
Os antropólogos já estão nos alertando sobre uma nova era, o Antropoceno, caracterizada pelo
impacto devastador do metabolismo da sociedade "urbano-agro-industrial” sobre a casca
geológica e a atmosfera terrestre. Impacto gerado fundamentalmente durante os últimos 50
anos (Fernandez, 2011).
Enfrentar essa crise civilizatória na casa comum do planeta Terra é uma importante tarefa
coletiva, mas, não entanto é bom reconhecer que a crise se desenvolve em territórios e
hábitats bem diferentes: os de opulência e os da pobreza. Territórios e hábitats humanos que
tem sua causa e origem no enfrentamento histórico entre ocidente e oriente, entre o norte e o
sul global1.
Neste contexto, os territórios urbanos teriam uma importante responsabilidade. Não podemos
esquecer que, hoje, nos hábitats urbanos de nosso planeta Terra, moram 50% dos perto de 7
bilhões de habitantes, ocupando cerca de 15% do território e sendo responsáveis por um
impacto superior a 70% da “pegada ecológica global”. Os territórios urbanos são a
manifestação mais grave das crises ecológica social e ambiental, tanto no referente às
desigualdades sociais como ao consumo de recursos e energias e à produção de resíduos
contaminantes de todo tipo2.
1
No exemplo europeu, 50% dos recursos materiais obtidos da natureza, 50% da produção de
resíduos, 40% do consumo de energia e 40 a 50% dos gases do efeito estufa estão
relacionados com o metabolismo do setor da construção de edifícios. Ante esses dados, os
arquitetos e urbanistas não poderíamos permanecer sem nos questionar sobre o culto ao
novo (Hagan, 2006).
Em Nossa América, além da construção, urbanização e o transporte, a “agricultura industrial”,
também chamada de agro negócio, é outro fator muito importante na produção de CO2:
(…) o sistema agro industrial de alimentação é responsável pela emissão de gases do efeito
estufa de entre (…) 44 e 57 % (…) A agricultura industrial usa (e contamina com agrotóxicos),
70 por cento da água potável global” (Ribeiro, 2012).
Os organismo internacionais relacionado com o Habitat, de reconhecem que nas cidades e
metrópoles se acumulam graves problemas localizados principalmente nos imensos bairros
marginais que conformam o já denominado por alguns autores de Planeta Favela (Davis,
2007).
A ocupação de terras urbanas e a autoconstrução continuam sendo o principal método pelo
qual as camadas populares de Nossa América buscam resolver suas necessidades de
moradia. Perto de 80% das moradias produzidas no mercado imobiliário correspondem a esse
setor informal (Salas, 2009).
Em relação ao implacável desenvolvimento do subdesenvolvimento, destacamos que:
Mais uma vez nos perguntamos: Que significaria preparar terreno urbano suficiente para
atender às necessidades atuais em nível global? Nada menos do que a tarefa inatingível de
fornecer e gerenciar em uma década tanto terreno urbanizado como o existente hoje na África,
Ásia e Latino America. Nada indica que estejam se desenvolvendo novas estratégias para
enfrentar esses enormes necessidades de espaços físicos, serviços, equipamentos, materiais e
profissionais, em quantidades dificilmente imagináveis (Salas, 1999).
Igualmente, os organismos internacionais vinculados ao hábitat tem colocado
intencionadamente um conjunto de suposições quiméricas para atender em uma década às
necessidades de água, serviços, abrigo e terra urbanizada para os necessitados do mundo,
que são a maioria. Suposições realizadas com meros argumentos orçamentários e que levam o
autor a refletir sobre esse tema transcendental:
A solução do problema, a curtos e médios prazos, se apresenta como uma meta a cada dia
mais distante do que o dia anterior. A contundência dos fatos, palpáveis no acúmulo de
necessidades não satisfeitas, oferece argumentos aos que vislumbram como premissa de
atuação a imperiosa necessidade de limitar a riqueza para frear a pobreza. Condição
2
imprescindível, afirmam, para uma melhor convivência Norte-Sul, que, preservando para o
Norte os atuais níveis de bem-estar material, coloque freio ao irrefreável desenvolvimento do
subdesenvolvimento” (Salas, 1999).
Se acumulam igualmente os problemas ambientais, derivados da contradição entre o
“metabolismo urbano” e o “metabolismo natural”, ambos inseridos na biosfera de Gaia.
O conceito de metabolismo faz referencia a como um determinado ecossistema se alimenta de
materiais e energia e elimina resíduos de todo tipo. O metabolismo urbano acontece em um
ecossistema artificial, produzido pela transformação entrópica de um ecossistema inicialmente
natural. Metabolismo urbano que no processo de extração, produção,
transporte,comercialização e consumo, precisam utilizar grandes quantidades de materiais e
energias fósseis não renováveis ao tempo que produz resíduos contaminantes de todo tipo;
gases de efeito estufa, esgoto e lixo não tratados, contaminação da atmosfera, da, das águas,
etc.
Em contraste, o metabolismo natural da biosfera de Gaia, cria matérias primas de todo tipo,
mediante o uso da inesgotável energia solar, e produz resíduos biodegradáveis e não
contaminantes. Uma espécie de carrossel de movimento continuo alimentado pela energia
solar que viabiliza a sustentabilidade da vida.
Os citados metabolismos se desenvolvem no tempo e no espaço, em diferentes contextos
históricos e territoriais acompanhados de um dado “modelo de organização social”, que
condiciona o que alguns autores chamam de metabolismo social, um conceito de metabolismo
mais amplo que incorpora a fato de como os citados modelos de organização social influenciam
no funcionamento dos metabolismos urbano e natural (Gonzalez de Molina et al, 2011).
Em consequência também poderíamos falar de uma crise urbana. Uma crise urbana que
estaria igualmente vinculada com uma crise do Urbanismo e do Planejamento Territorial e
Urbano em suas diversas escalas.
Como disciplina cientifica, positivista e setorializada, o Urbanismo tive suas origens, nos anos
finais do século XIX, tentando colocar ordem nas incipientes e problemáticas cidades
consequência da Revolução Industrial. A ciência do Urbanismo concebida como suposto
método regulador do fato urbano, tentando resolver os problema de extensão e
embelezamento das cidades, da regulamentação das condições básicas de habitabilidade, dos
usos do solo, e em ultimo termo, atenuar os conflitos de interesses ligados ao incipiente
mercado das terras urbanas3.
Desde outra constatação da realidade, o crescimento das cidades estive historicamente
condicionado e limitado pela relação entre o rural e o urbano e pelos médios de transporte
existentes em cada época, aqueles que permitiam o transporte de pessoas e mercadorias,
cada vez a maiores distancias. As grandes extensões urbanas acontecidas em muitas cidades
3
na segunda metade do século XIX foram possíveis graças às ferrovias e a disponibilidade de
alimentos cultivados nas áreas rurais próximas dos territórios urbanos.
O urbanismo moderno, defendido pelos CIAM, calçado na separação de funciones, teve como
consequência no âmbito territorial, a divergência em quanto aos critérios e objetivos entre os
setores dedicados ao transporte, à urbanização e à agricultura, em um divorcio que se mantêm
até hoje.
Em termos gerais, as diversas propostas e realizações do Movimento Moderno serviram para
produzir as degradadas periferias urbanas que têm caracterizado o panorama urbano do século
XX, especialmente nos países do Sul global.
No lugar onde melhor funcionaram esses mecanismos foi na cidade burguesa, onde ao
objetivos de habitabilidade e qualidade espacial eram intrinsecamente inegociáveis.
De outro lado no desenvolvimento das periferias urbanas ao longo do século XX, se deu o
inicio aos conflitos relacionados com os direitos à moradia e à cidade. Um conflito oriundo do
urbanismo moderno herdeiro do funcionalismo.
Em contraste, e especialmente nos países chamados de mais avançados e localizados no
Norte global, as elites e as classes medias iniciaram a diáspora para os subúrbios além da
cidade consolidada, iniciando os fenômenos de expansão urbana de baixa densidade e dos
condomínios de luxo.
O discurso da desregulamentação neoliberal dos anos 1990, apoiado na privatização da
economia e dos serviços públicos de todo tipo, teria como consequência que as cidades
ficaram nas mãos do mercado e da especulação imobiliária, deixando às disciplinas
arquitetônicas e urbanísticas a função cosmética secundaria de dar forma imaginativa às forças
do mercado.
Num círculo vicioso, a crise do Urbanismo agravaria a crise da funcionalidade das cidades que
o próprio urbanismo moderno tinha contribuído a desenvolver. Um dos motivos dessa crise
seria devido à insuficiência das ferramentas teóricas e práticas para enfrentar a complexidade
intrínseca do fenômeno urbano (Verdaguer, 2014b).
O paradigma ecológico. O urbanismo das varias ecologias.Ante essa situação, e para poder enfrentar a citada crise, seria preciso reconhecer a
complexidade do fenômeno urbano e a necessidade da interdisciplinaridade das diversas
ciências que convergem no planejamento territorial. Igualmente seria necessário intentar
superar a contradição entre o rural e o urbano, mediante a incorporação do que hoje se
denomina de paradigma ecológico, tal como já está acontecendo em grande parte das
ciências4.
4
Como indicávamos no começo, o urbanismo é mais necessário que jamais, e as ferramentas
que têm desenvolvido ao longo de sua historia seguem sendo de grande utilidade, mas é
preciso introduzir novas ferramentas.
Surgem deste contexto novas propostas de superação da crise urbana a traves da definição
conceptual de uma outra disciplina urbanística, também denominada de “Urbanismo das varias
ecologias”, com base no paradigma ecológico e nas práticas vinculadas aos valores e a ética
de uma sustentabilidade, regeneração e reabilitação urbana social e ecológica.
Um paradigma urbanístico, que especialmente nos países do norte global, surge da
interdisciplinaridade e sincretismo entre os valores e a ética do póscolonialismo, do feminismo,
da ecologia, da preservação dos bens comuns, da justiça social, da gestão e participação da
população...
Um pós colonialismo que como proposta radicalmente diferente do pensamento pósmoderno,
coloca como condição para a sustentabilidade da vida, o fim da atual dependência entre as
economias do Norte e do Sul global. Colocar término à exploração e destruição dos seres
humanos e da biodiversidade dos ecossistemas naturais (Santos, 2010).
Um feminismo que cobra especial importância, denunciando a exploração dos trabalho dos
cuidados domésticos eu são encomendado por nossa atual organização social e de forma
majoritária às mulheres. Um trabalho feminizado, invisível, não remunerado. Trabalhos
domésticos dos cuidados sem os quais a vida não seria possível (Pérez, 2014).
Uma opção pela ecologia social que encontra no eco socialismo uma alternativa política
“ecológica e anticapitalista” superadora da atual barbárie civilizatória (Kowel et al, 2001)5..
Michael Löwy retomara esse conceito com as ideias de um marxismo ecologista, de um
ecologismo à altura de nosso tempo (Lövy, 2013).
As múltiplas reflexões teóricas realizadas nos últimos anos, especialmente depois da segunda
guerra mundial nos idos dos anos de 1950, têm permitido elaborar uma critica coerente às
teorias e práticas urbanísticas mais recentes, ao mesmo tempo em que amadurecera a ideia de
um urbanismo holístico, complexo e integrador das mais diversas ecologias e saberes.
A realidade é reflexo constante da aparição de disciplinas hibridas com a ecologia como ciência
de síntese e como único vinculo de união. Do mesmo jeito, entre as inconsistências que
caracterizam em grande medida os princípios da sustentabilidade, o conflito que se produz
entre o urbanismo, a mobilidade e a agricultura, seria o exemplo mais representativo na escala
territorial, tanto no âmbito social como no âmbito institucional
Ao mesmo tempo existem ideias que ao passo do tempo vêm se consolidando. Existem
consensos importantes sobre as estratégias de mobilidade sustentável e da regeneração e
reabilitação urbana dentro dos territórios urbanos consolidados e sobre a participação cidadã.
Todos eles considerados elementos claves da sustentabilidade urbana.
5
No entanto, quando se amplia a escala e as estratégias territoriais, parece não ter se definido
termos que possam dar conta da caótica realidade territorial que se desenvolve nas cidades e
metrópoles. Por exemplo, se constata a confusão conceitual no uso de um termo polissêmico e
ambíguo como a paisagem, e também como os usos mais habituais de palavras como natureza
e meio ambiente se revelam como especialmente inadequados para orientar políticas de
sustentabilidade. Neste sentido o uso dos termos biodiversidade e ecossistemas seria mais
consequente.
Essa constatação não é nova e entre os intentos integradores resulta especialmente
interessante o realizado recentemente desde a ótica da agro ecologia, uma das novas
disciplinas hibridas vinculada com a história ambiental. Historia ambiental que tomando como
referencia os diversos modelos de organização social acontecidos ao longo da evolução
histórica de nossa civilização, analisa as contradições entre o metabolismo social e o
metabolismo da natureza. Contradições entre as bases produtivas, as relações sociais e a
utilização de diversas energias e tecnologias utilizadas para a exploração e uso da natureza.
Em definitiva, da base material e de relações sociais que permitem a continuidade e
sustentabilidade da vida (Gonzalez de Molina et al, 2011).
Igualmente poderíamos colocar o tratamento mais amplo do território geográfico e do
planejamento territorial como “biorregiões”, como o âmbito mais adequado de um novo
concepção de convívio social, territorial e ecologicamente possível, conceitos que encontram
sua melhor expressão europeia nas elaborações e práticas da “Escola Territorialista Italiana”.
Seus principais apoiadores, um amplo grupo de intelectuais italianos, têm como representante
Alberto Magnaghi6.
Os textos de Magnaghi (2012) trilham os caminhos dos grandes clássicos do pensamento
urbano (Reclus, Geddes, Mumford, Howard…), reatualizando as preocupações pelas
dinâmicas insustentáveis e antissociais da cidade industrial. Dinâmicas filhas dos processos de
“desterritorialização”, impulsionados por uma crescente desvinculação entre a organização do
espaço e as particularidades do território. Uma crítica à quebra da coevolução que
historicamente tem seguido os assentamentos humanos e seu entorno (arquiteturas
vernáculas, identidade, biodiversidade e ecossistemas reconhecíveis, formas de produção,
saberes territoriais…), ao predomínio da função econômica na hora de planificar o território e
lhe adaptar a ser funcional às dinâmicas de produção, acumulação e consumo. Dinâmicas
urbanas que provocam igualmente a perda de influência das comunidades locais nos debates e
decisões da esfera pública.
Como reverter esses processos? Como recuperar a centralidade do território e das
comunidades no andamento de estratégias de desenvolvimento local autossustentável? Como
seria imaginar uma globalização desde abaixo pilotada por redes solidárias e sem hierarquias
de municípios? A palavra “auto sustentabilidade” expressa o princípio de contar com as
6
próprias forças, desde o fechamento dos ciclos ambientais à soberania alimentar e, igualmente,
da responsabilidade solidária de não consumir os recursos dos mais pobres do planeta
(Casadevante, 2012).
Também, desde os países de America Latina, de Nossa America, surgem novas propostas que
na figura do brasileiro Milton Santos (1965), e de sua geografia urbana terá um de seus
melhores representante. Uma geografia que se assemelha as propostas citadas anteriormente
e que poderia ser chamada de “Economia Política da Urbanização do Terceiro Mundo”, uma
das veias que percorrerá toda sua obra com as formulações sobre os aspectos e faces da
desigualdade no Terceiro Mundo, com grande destaque para os países da Nossa America e
outros paises africanos (Elias, 2002; Santos, 1965).
O autor dedica especial atenção a uma geografia mais social do que física, na qual os
processos históricos de formação do território cobrariam especial importância. Destaca as
novas relações entre técnica e espaço e as repercussões espaciais da revolução tecnológica,
consagrando o atual período histórico como técnico-científico-informacional, cujo registro no
espaço são as sofisticadas ilhas urbanas do poder econômico-financeiro entre imensos
arquipélagos de periferias pobres. Uma artificialização do meio ambiente que resultaria
na tecnoesfera, (Dreiffus, 2004), marcada pela presença de grandes objetos geográficos,
idealizados e construídos pelo homem, articulados entre si em sistemas de produção e de
consumo e onde paralelamente se instala um novo sistema da natureza, onde o que conta é a
natureza artificializada.
No Brasil, criará um novo modelo de “análise e de síntese do território brasileiro”, dedicando
especial atenção à metrópole de São Paulo, mostrando sua clara identificação com Henri
Lefevre, de como o processo de globalização conduz a uma nova divisão internacional do
trabalho e cria lugares mundializados, em que se destacam as denominadas “metrópoles
globais”, das quais São Paulo é uma das principais referências no Terceiro Mundo.
Na “Urbanização Brasileira”, obra basilar do geógrafo, defende que a complexidade das
variáveis que compõem a urbanização do país é tamanha que não seria mais possível
continuar pensando o Brasil como dividido em rural e urbano, mas que, diante da revolução
urbana que nele se processa desde a década de 1980, seria mais correto pensar em um Brasil
urbano com áreas agrícolas e em um Brasil agrícola com áreas urbanas.
O autor prega por “uma outra globalização”, calçada na militância pela construção da cidadania
e da ética. Para se contrapor à realidade de um mundo movido por forças poderosas e cegas,
impõe-se a força do lugar, que, por sua dimensão humana, anularia os efeitos perversos da
globalização.
Finalmente, ele disserta sobre os pilares da globalização, suas consequências territoriais e
sociais e desenha um futuro cheio de esperança, conclamando todos para a busca de uma
outra globalização, na qual não haja lugar para o globalitarismo. Sua esperança reside no fato
7
de que, ao mesmo tempo que se globalizam a taxa de lucro, a exploração, a miséria, a
exclusão social, globalizam-se as lutas sociais, os ideais contra a globalização, o conhecimento
e a vontade de mudar o mundo. Na sua ideia de futuro, traço marcante de sua personalidade,
acreditava na construção do período democrático-popular, quando a luta cotidiana do povo
abrirá novos caminhos, auxiliada pela empirização da totalidade. Um outro planeta globalizado
no qual predominará a solidariedade local, a solidariedade horizontal, em substituição às
verticalidades opressivas das empresas hegemônicas, quando a luta cotidiana do povo abrirá
novos caminhos (Elias, 2002).
Há quase 30 anos, vários intelectuais de diversos países de Nossa América desenvolveram
uma proposta abrangente de uma “filosofia do desenvolvimento” e de um “desenvolvimento a
escala humana”. Uma proposta dedicada a pensar caminhos de humanização para um mundo
em crise7. Um esforço para integrar linhas de reflexão, de investigação e de ação que possam
constituir um aporte substancial para a construção de um novo paradigma de desenvolvimento,
menos mecanicista e mais humano:
O desenvolvimento a escala humana, orientado à satisfação das necessidades humanas,
alcança na autodependência sua condição, seu meio e seu valor irredutível. No plano da
prática, tal opção requer, como impulso inicial, uma política de mobilização da sociedade civil.
Para promover câmbios estruturais, a mobilização deve assumir dois desafios: potenciar o uso
de recursos não convencionais na construção de projetos coletivos de vida e potenciar os
desenvolvimentos locais para que sua influência transcenda as limitações espaciais e se possa
participar na construção de uma nova hegemonia no âmbito nacional. (Elizalde et al., 1986)8.
Esse projeto exige também novos desafios para a política, integrando os movimentos sociais
como atores significativos e não residuais de um novo projeto de sociedade. Uma soma de
movimentos iguais e diversos articulados e sem burocratização e cooptação.
Aproximadamente vinte anos depois, uma nova reflexão analisa a crise do paradigma
desenvolvimentista ocidental, concentrando suas críticas e reflexões no âmbito da crise
ecológica, biológica, da insustentabilidade do modelo de convívio social vigente, agora global e
planetário9.
A consecução da sustentabilidade é uma tarefa coletiva, uma construção conceptual que
requer a participação e o debate de todos os atores implicados. Uma tarefa da espécie humana
para assegurar sua supervivência como tal no planeta Terra. Prega uma nova economia de
vida, que, se contrapondo à economia globalizada de destruição e morte, imita as
características dos ecossistemas vivos e saudáveis encontrados na natureza. Uma nova
economia que além de ecológica, seja ética e cultural. (Elizalde, 2004)10.
8
Elizalde (2004) e Barkin (2013) retomam o debate sobre a “onstrução de um novo paradigma
social que tem como referencia fundamental as economias solidárias e ecológicas dos povos
originários11. Para ambos os autores, os progressivos estragos sociais e ambientais da
sociedade sinalizam a necessidade de virar para formas alternativas de organização social e
econômica com absoluta urgência (Barkin et al., 2012).
Para enfrentar esses problemas, novos contratos sociais são necessários, com base nas
contribuições de novas disciplinas como a economia social e de solidariedade e da economia
ecológica que estão incorporando as experiências de muitas sociedades cuja relação com a
natureza é baseada em outros princípios. A incorporação de novos paradigmas depende da
nossa vontade de aprender a coexistir com a diversidade cultural e biológica que está
atualmente negada, rompendo com a hegemonia unitária que atualmente define a maioria das
nossas instituições. Para ser bem sucedido, é preciso ir além das estratégias liberais de
inclusão e participação, de incorporar visões alternativas de organização social e de
racionalidades diversas. (Barkin, 2013)12.
Recentemente, Barkin e Lemus (Barkin et al., 2011) analisam, em um texto instigante, as
experiências concretas de certas coletividades indígenas mexicanas, que já estão colocando
em prática as propostas teóricas sinalizadas anteriormente e que, ao mesmo tempo, indicam as
diferenças nas formas de colocar o debate Norte-Sul sobre a sustentabilidade.
Na América Latina estão sendo exploradas as contribuições de uma nova visão atrelada às
heranças dos povos originários da região: uma delas, a “Sumak Kawsay”, ou “o bem viver”,
incluída nas novas constituições de Bolívia e Equador, enfatiza o compromisso de um estilo de
gestão sociopolítica e ambiental congruente com a justiça social e o equilíbrio ambiental.
Em contraste, uma estratégia de decrescimento, colocada por muitos colegas da Europa,
propõe uma simplificação dos estilos de vida e dos requerimentos de insumos materiais e
energéticos para a dinâmica de suas sociedades. Essa proposta de uma nova estratégia
orientada para o “decrescimento” é muito diferente [da colocada por nós]: uma explicação
simples é realizada por um de seus mais bem conhecidos proponentes, Serge Latouche: ‘Seu
objetivo é uma sociedade onde se viverá melhor trabalhando e consumindo menos. Trata-se de
abrir um novo espaço para a capacidade de invenção e a criatividade da imaginação reprimida
pelo totalitarismo economicista, desenvolvimentista e orientado pelo progresso13.
E continuam aprofundando sobre o entendimento da solidariedade e da ecologia, indicando
que, desde sua visão da teoria e da prática, quando falam de economia solidária, estariam nos
falando também de economia ecológica. Construindo um processo para fortalecer a
comunidade e a sociedade, ao mesmo tempo em que mos tomariam em consideração os
impactos de suas propostas e ações, não só quanto às relações entre grupos sociais, mas
9
também quanto aos impactos que poderiam ter nos ecossistemas, no equilíbrio planetário do
qual todos dependemos. (Barkin et al., 2011)14.
Refletindo sobre a construção de alternativas, dos princípios básicos para tal fim e sobre os
projetos que já estão se colocando em prática nas comunidades indígenas mexicanas, refere o
autor:
Falar de construção de alternativas, dos detalhes operativos de funcionamento da economia
solidária. Isso implica buscar mecanismos para combinar a economia solidária com a economia
ecológica... [mecanismos] que partem de cinco princípios fundamentais:
A “autonomia”, que implica a capacidade de auto organização e autogestão das comunidades,
dentro de cada comunidade e em alianças com outras comunidades.
A “solidariedade” social como elemento essencial na organização empresarial e no controle por
parte de todos os participantes com base na democracia direta, na participação de todos os
afetados na tomada de decisões, no reparto de responsabilidades e na distribuição de
benefícios, assim como na prestação de contas e, inclusa, a revogação do mandato dos
dirigentes no caso de não cumprirem os objetivos sociais.
A “autossuficiência”, não só da alimentação, mas de todas aquelas faces da vida social que
sejam possíveis para os participantes.
A “diversificação produtiva”… [como] mecanismo para promover e aprofundar o intercâmbio
entre comunidades de uma mesma região e com outras que participam no mercado externo.
A “gestão sustentável dos recursos regionais”, fundamental para que os esforços sejam
compatíveis com a manutenção da qualidade do entorno garantindo a possibilidade de
continuar ampliando a estratégia sem ameaçar suas próprias condições naturais. Aqui, a
palavra regional é central […], uma unidade natural que obriga à colaboração entre "os de
abaixo" com "os de acima", uma colaboração que obrigaria romper as barreiras tradicionais,
entre grupos historicamente separados. (Barkin et al., 2011)15.
Essas experiências ocorrem também em outros continentes caracterizados por condições
similares de dominação desde a época das colônias. É o caso da África, onde, segundo as
formulações feitas por alguns autores, grande parte dos cidadãos, etnias e territórios se
mantêm desconectados da economia de mercado (LATOUCHE, 2013) e buscam novas vias de
uma definitiva descolonização que permita um novo convívio social adaptados à realidade
africana, tal como indica Mbuyi Kabunda Badi.
.Em consequência é fundamental aportar elementos á construção de uma nova teoria
integradora, de uma nova cultura do território a partir dos materiais conceituais que se
articulam ao redor do denominado paradigma ecológico europeio e agora também do
10
paradigma ecológico e social latino americano, ambos expressados no âmbito disciplinar da
cidade e do território. Cultura do território que existe de forma implícita no conjunto de ideias
que convergem abaixo do termo de uma concepção de sustentabilidade urbana calçada em
uma ética que quando colocada em praticada, seja profundamente ecológica e social, que
tenha por objetivo mais amplo, contribuir a sustentabilidade da vida (Verdaguer, 2014 a).
Sustentabilidade urbana A sustentabilidade é um conceito geral e abrangente que surge na sociedade contemporânea
depois da Segunda Guerra Mundial, na década dos anos de 1940, quando começam a se
evidenciar os problemas vinculados às contradições entre o modelo de desenvolvimento
econômico, atrelado às diversas sociedades de mercado, e os limites físicos e ambientais da
biodiversidade dos ecossistema do planeta Terra.
Uma definição acurada de sustentabilidade abarca teoricamente todos os aspectos da vida e
todos os territórios do planeta. É holística e vincula, indissoluvelmente, o local com o global. É
ecológica e estabelece a grave contradição entre o funcionamento do ecossistema e
metabolismo de Gaia, e o ecossistema e metabolismo social.
Reclama a necessidade de uma mudança radical de paradigmas, de valores e da ética de
nossas formas de agir e pensar, do sistema de organização social, da produção, da
distribuição, d comercialização e do consumo de mercadorias. Exige peremptoriamente finalizar
com a exploração dos limitados recursos e bens naturais, especialmente com o uso exagerado
de energias fósseis e com a produção de resíduos e contaminação não biodegradáveis.
A denominada pegada ecológica, um termo abrangente da sustentabilidade, encontra sua
máxima expressão na relação de dependência entre os países ricos, ditos de desenvolvidos e
os países pobres, chamados de subdesenvolvidos ou dependentes, pois os países ricos
precisam de outros amplos e longínquos territórios localizados nos países pobres, para
importar e abastecer-se de recursos materiais e energéticos, ao mesmo tempo em que
exportam para os citados países pobres os resíduos contaminantes16.
Aplicar a sustentabilidade nos diversos aspectos da vida e, especialmente, no fato mais
específico de habitar, é condição necessária para os diferentes países e habitantes do planeta
Terra, independentemente de sua condição e características socioeconômicas e ambientais.
Em relação aos conteúdos da sustentabilidade urbana existe uma longa historia que
poderíamos expressar de forma geral e sintética do seguinte modo:
Se tivéssemos que resumir o intrincado panorama de todas as linhas de pensamento que têm
adotado de uma ou outra forma o paradigma ecológico, poderia se dizer que existe entre elas
uma relativa coincidência no diagnostico dos sintomas, mas uma grande diferença no analise
das causas e ainda mais na área das propostas e soluções. De fato, não poderia ser de outra
forma: a evidencia dos sinais de degradação da biosfera como consequência da ação humana,
11
introduz pela primeira vez na historia uma base aparentemente objetiva comum a todos os
setores e agentes sociais, independentemente da disparidade de seus outros interesses. Mas
isso não anula em absoluto as contradições entre os ditos interesses, configurando ao mesmo
tempo novos ambitos de conflito (Verdaguer, 1999).
Sendo certo que temos já um importante corpo de reflexões conceituais e teóricas ao redor da
sustentabilidade urbana, existe a tentação de afirmar que seriam exclusivamente a política, a
gestão e a governança, os temas clave para continuar avançando:
“Naturalmente, grande parte das principais linhas de divergência que se vislumbram dentro do
amplo tema da sustentabilidade se explicam facilmente dentro da ótica dos conflitos
econômicos e de poder, como não deixaria de ser ao interior de um sistema socioeconômico
dominante que precisa ao mesmo tempo estimular o consumo dos recursos naturais e a
desigualdade social, sugando para seus interesses os princípios básicos do paradigma
ecológico” (Verdaguer, 2014a).
Sendo o modelo de organização social, e a base econômica vinculada a ele, um fator
determinante de valores e de éticas a ser aplicados em relação com a sustentabilidade em
geral e mais especificamente com a sustentabilidade urbana, se coloca igualmente como
necessário avançar concomitantemente nos conteúdos teóricos e práticos que possam nos
servir de apoio para iniciar a mudança indicada anteriormente.
Os princípios básicos da sustentabilidade e da reabilitação ecológica territorial e urbana.O urbanismo e a arquitetura devem eleger entre a abstração formal e linguística, alheia ao
mundo real, e sua inserção no território, considerando os efeitos sobre o planeta Terra, do qual
os hábitats humanos fazem parte. A eleição deve ser feita, sabendo dos inevitáveis efeitos
físicos que a atividade urbanística e arquitetônica tem sobre o território, tal como indicamos
anteriormente.
Os setores fundamentais do metabolismo urbano – água, energia, resíduos e emissões – têm
uma forte vinculação transversal com a sustentabilidade urbana.
Especialmente, em relação ao setor da energia, o objetivo geral é minimizar a responsabilidade
significativa deste setor no cálculo da pegada ecológica. Por isso, a intervenção nele é
fundamental para cumprir a meta global de sustentabilidade (Verdaguer, 2011).
Atuando na poupança e redução do consumo de energias fósseis e na utilização de energias
alternativas, estamos colaborando na redução da emissão de gases do efeito estufa, um dos
mais importantes fatores da sustentabilidade urbana.
12
Nesse sentido, a produção de nosso hábitat, conforme os critérios de sustentabilidade urbana
encontra sua prática mais coerente na aplicação dos objetivos básicos que indicamos a seguir
(Zorraquino et al, 2013).
- Procurar a adaptação do ecossistema e metabolismo urbano ao ecossistema e metabolismo
da biosfera de nosso planeta Terra, como objetivo fundamental para reduzir a pegada
ecológica. Em consequência, favorecer o uso de energias alternativas, especialmente a solar e
a eólica (Vázquez, 1998).
- Reduzir o uso de materiais, procurando sua reutilização e usado aqueles com ciclo de vida de
baixo consumo energético17
- Assumir que as obras de regeneração, reabilitação, reforma e manutenção do patrimônio
urbano contêm um elemento fundamental da sustentabilidade: O uso e reutilização do
patrimônio urbano existente.
- Reduzir o impacto ambiental dos edifícios novos e renovados mediante sua adequação ao
clima local, a aplicação dos princípios do urbanismo e arquitetura bioclimáticos ou ecológicos.
- Considerar os altos consumos energéticos derivados da manutenção e uso dos edifícios.
Especialmente, conforme ao clima local, os derivados da calefação e do ar condicionado.
Todos esses objetivos encontram sua maior coerência na aplicação dos princípios do
urbanismo e da arquitetura bioclimáticos ou ecológicos e das soluções de boas práticas e eco
técnicas através do que denominamos de regeneração e reabilitação urbana ecológica, um dos
alicerces do paradigma ecológico.
Os conteúdos básicos da sustentabilidade urbana.O citado paradigma ecológico, aplicado na disciplina urbanística em suas diversas escalas e
contextos dos territórios urbanos poderia estar calçado nos seguintes conteúdos básicos:
Sustentabilidade social e cultural. que permita cuidar da qualidade de vida em termos de
saúde, educação, conforto e bem-estar social para toda a população. Reivindicar a
sustentabilidade da vida como um direito humano fundamental.
Sustentabilidade ambiental para conseguir manter a biocapacidade do território18 e minimizar o
impacto sobre a natureza. Aplicar os princípios do Urbanismo e Arquitetura ecológicos,
adaptados aos recursos e clima locais existentes em cada território urbano.19.
Sustentabilidade econômica para maximizar social e ambientalmente os recursos econômicos
gerenciados pelas administrações públicas e para fomentar o desenvolvimento econômico
associado aos recursos humanos, energéticos e materiais locais. Realizar o transito entre a
atual economia de mercado e uma outra economia, também denominada de economia
ecológica20.
Sustentabilidade da gestão e participação de toda a população nos processos de
transformação do território.
13
Sustentabilidade urbana que coloque a necessidade de que todas as estratégias se integrem
dentro dos contextos urbanos existentes, contribuindo para a sua “preservação, regeneração,
reabilitação e melhoria”. Dedicar especial atenção aos territórios urbanos precários e marginais.
Sustentabilidade política, técnica e intelectual possibilitando a execução de imprescindíveis
políticas publicas, a utilização dos saberes eruditos dos técnicos arquitetos e urbanistas junto
com os saberes dos construtores populares, na aplicação teórica e prática do citado paradigma
urbanístico.
ConclusãoTemos interpretado a crises do Planejamento Territorial e do Urbanismo dentro do contexto da
crise civilizatória em que hoje a humanidade se encontra tentando preservar a “sustentabilidade
da vida” no planeta Terra.
Colocar um debate necessário para ir descortinando um “outro Urbanismo” calçado na
complexidade e interdisciplinaridade do fato humano de habitar, construir e urbanizar territórios
e nas propostas de um novo “paradigma ecológico” que hoje já está atravessando grande parte
das disciplinas y ciências sociais.
O Urbanismo chamado das varias ecologias, se vincula transversalmente com os conceitos da
“sustentabilidade urbana ecológica”, de “regeneração ou reabilitação urbana ecológica” e da
prática do “urbanismo e arquitetura ecológicos”.
Um outro urbanismo, que superando a atual mercantilização especulativa da cidade moderna,
retorne suas origens, procurando a escala humana e a habitabilidade dos edifícios, dos
espaços públicos e a relação simbiótica entre os humanos a cidade e a natureza. Um outro
urbanismo, mais necessário que jamais, reivindicando a construção coletiva de uma cidade
digna de ser habitada.
No texto intentamos realizar um rápido resumo do estado geral da questão nos ambitos
disciplinares e intelectuais relacionados com a ciência urbanística. Situação que se
corresponde mais diretamente com as elaborações teóricas e com os anseios e práticas já em
andamento nos países do norte e do sul global adaptados à idiosincracia e às realidades sócio
econômicas e ambientais de cada um dos hemisférios (Zorraquino et al, 2015; 2016).
Duas realidades bem diferentes onde se coloca a necessidade de respostas igualmente
diferentes. Duas realidades que seriam consequência das históricas relações de dependência
entre ambos os hemisférios, tal como acontece em Nossa América.
Situação expressada de forma contundente e realista pelo texto em que Barkin nos falava das
importantes diferenças entre as duas propostas. Quando coloca que os europeus estariam
focando suas prioridades em reduzir a pegada ecológica de suas sociedades e os latino
americanos buscariam reverter o deterioro na qualidade de vida das maiorias e da degradação
14
do meio ambiente. Deterioro ocasionado pela particular forma de inserção no mercado mundial
e a longa história de uma política econômica injusta. (Barkin et al., 2011).
Entre as diferentes realidades do norte e do sul globais, deveríamos reconhecer a relação
dialética entre o global e o local e a urgente necessidade de estabelecer convergências dentro
das diferenças. Definitivamente temos que assumir que estamos todos habitando na mesma
casa comum.
Especialmente, aplicar as praticas concretas do urbanismo das varias ecologias nos imensos
territórios urbanos da marginalidade do sul global, como um passo necessário para
definitivamente reabilitar sua degrada habitabilidade, mas aplicando também critérios e
propostas de sustentabilidade urbana. Um grande reto civilizatório que vai precisar de políticas
publicas continuadas e de recursos de todo tipo.
Desde nossa posição de técnicos, refletir sobre como poderíamos participar de essa tarefa.
Tarefa, em todo caso, apaixonante, corajosa e coerente com uma prática profissional
responsável.
Notas
15
1 Os países desenvolvidos e com economia de mercado, sendo 20% da população mundial, consomem perto de 80% das matérias-primas. Junto ás graves desigualdades sociais, esses países são responsáveis pela maior parte da “pegada ecológica global”, e pelas principais fontes de contaminação ambiental de nosso planeta (Zorraquino, 2005. Zorraquino et al, 2015). 2 Cambio global. El reto es La ciudad. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AHxgj8-oSIQ&hd=1/. Acesso: 21 dez 2015. 3 Anteriormente a aparição da ciência urbanística, foram pensadas certas “regras e modelos” de urbanização, que serviriam de referencia e exemplo para definir os conceitos fundamentais do urbanismo cientifico derivado da modernidade (Choay, 1985). A evolução histórica da ciência urbanística e sua aplicação prática têm instigantes textos de referencia (Secchi, 2006).4 Uma re-evolução cientifica que intenta superar as limitações do pensamento ocidental, um pensamento ilustrado e tecnicista filho da revolução industrial. Uma nova maneira de entender as ciências, mediante a superação da contradição que separa aos seres humanos da natureza e igualmente a superação entre a teoria e a prática social. Ciências sociais e aplicadas, inseridas no mundo real. 5 O “Manifesto Eco socialista Internacional” foi lançado por Joel Kovel e Michel Löwy no painel sobre Ecologia e Socialismo que ocorreu em Vincennes, cidade próxima a Paris, em setembro de 2001. Por ocasião do III FSM de Porto Alegre, o manifesto foi distribuído na oficina "A Sustentabilidade pelo Ecosocialismo", da qual participou Michel Löwy. 6 O documento “Carta do novo Município. Para uma globalização a partir da base, solidária e sem hierarquia”, elaborado no Fórum Social Mundial, é uma boa análise sobre como reintroduzir um debate integral sobre a questão urbana e o planejamento territorial centrados na sustentabilidade e equidade social. Disponível em: <http://www.pa.upc.edu/Varis/altres/arqs/congresos/seminari/magnaghi.pdf/at_download/file>.Acesso em: 6 out. 2015.7 Experiência realizada no Centro de Alternativas de Desarrollo de Chile (CEPAUR).8 Tradução livre do autor.9 Elizalde teria como parceiros de suas reflexões os neurólogos Humberto Maturana e Francisco Varela, criadores da Teoria da Autopoiese e da Biologia do Conhecer. Também, ambos autores têm contribuições sobre o Pensamento Sistêmico e sobre o Construtivismo Radical. 10 Tradução livre do autor.11Debate que compartem com outros intelectuais na Revista chilena POLIS. Disponível em: <http://polis.revues.org/>. Acesso em: 23 out. 2015.12 Tradução livre do autor.13 Além do “bem viver” do mundo andino, o autor cita outros exemplos de “maneiras de viver” das comunidades indígenas mexicanas e de outros países latino-americanos: do “mandar obedecendo” da selva Lacandona de Chiapas no México; do “irékua” na meseta Purépecha,em Michoacán, comuna da Sierra Juárez em Oaxaca, México; do Abya Yala do sul do Panamá, etc..14 Tradução livre do autor.15 Tradução livre do autor.16 A “pegada ecológica” refere-se à superfície de território ecologicamente produtivo (cultivos, pastagem, florestas e ecossistema aquático), necessária para produzir os recursos utilizados por um cidadão médio de uma determinada comunidade humana, assim como a superfície igualmente necessária para absorver os resíduos que gera, independentemente da localização dessas áreas. Normalmente se mede em hectares por pessoa. (Rieznik et al, 2005a).17 O custo ou consumo energético do ciclo de vida dos materiais inclui a energia incorporada no ciclo completo de sua vida: extração e processamento de matérias-primas; produção, transporte e distribuição; uso, reutilização manutenção; reciclagem e eliminação de resíduos (Rieznik et al, 2005 b). 18 A biocapacidade de um dado território indica o nível máximo de exploração que pode admitir sem perder sua integridade. 19 Urbanismo e arquitetura bioclimáticos ou ecológicos que se integram nas condições climáticas e naturais de cada lugar, utilizando recursos locais e tecnologias apropriadas, poupando energias e materiais e ajudando a melhorar as condições de conforto térmico dos prédios e dos espaços públicos urbanos.20 Economia ecológica calçada no reconhecimento da importância da materialidade física e entrópica dos fenômenos que acontecem na biosfera de Gaia, e na inclusão do valor dos impactos ambientais como um outro valor, que deveria ser avaliado e considerado. (Estevan et al, 1996. Naredo, 2004).
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