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UTILITARISMO:

CARACTERÍSTICAS GERAIS

01/04/2013

O QUE É O UTILITARISMO?

O utilitarismo é uma escola filosófica que nasceu no século XVIII, na Inglaterra.

Ela estabelece a prática das ações de acordo com sua utilidade, baseando-se para tal em preceitos éticos.

Uma atitude só deve ser concretizada se for para a tranqüilidade de um grande número de pessoas.

Ensina que uma ação só pode ser julgada moralmente boa ou má se consideradas suas conseqüências, boas ou más, para a felicidade dos indivíduos.

Antes da efetivação de uma ação, ela deve ser avaliada sob o ponto de vista dos seus resultados práticos.

O utilitarismo é uma teoria moral que permite coordenar de modo preciso a avaliação e a ação morais.

O QUE É O UTILITARISMO?

Ele possui três regras fundamentais, a saber:

a) critério do bem e o do mal (bem-estar); b) um imperativo moral no sentido de

maximizar esse bem (prescrição); c) uma regra de avaliação da ação moral

graças a esse critério (conseqüência).

O QUE É O UTILITARISMO?

O utilitarismo é uma doutrina ética que prescreve a ação ou não-ação de forma a otimizar o bem-estar do conjunto dos seres senscientes.

O utilitarismo é então uma forma de consequencialismo, ou seja, ele avalia uma ação ou regra unicamente em função de suas conseqüências.

A doutrina utilitarista possui uma forte dimensão teleológica, na referência ao fim.

A doutrina utilitarista resume-se pela frase: “agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar” (princípio do bem-estar máximo).

Ela se define então como uma moral eudaimonista, insistindo no fato de que devemos considerar o bem-estar de todos.

O QUE É O UTILITARISMO?

Os defensores do utilitarismo consideram louvável o fato de uma ética colocar em linha de frente a promoção da felicidade ou do bem-estar dos seres humano, bem como a diminuição de sua miséria e sofrimento.

Eles entendem que o utilitarismo provê uma via racional e flexível para subsidiar nossa decisão em situações cobertas por normas em conflito.

O utilitarismo é um tanto avesso a normas, ou melhor, ao culto a normas ou a regras.

O utilitarismo é uma das teorias éticas que concedem importância prioritária a questões atinentes ao bem-estar, ou por uma vida bem-sucedida à altura dos seres humanos.

O QUE É O UTILITARISMO?

O utilitarismo é um tipo de teoria teleológica ou consequencialista porque sustenta que a qualidade moral de um ato-regra de ação é função das conseqüências produzidas pelo ato-regra em questão.

O utilitarismo de atos estatui que uma ação é correta se sua realização dá origem a estados de coisas pelo menos tão bons quanto aqueles que teriam resultado de cursos alternativos de ação.

O utilitarismo de regras ensina que são corretas as ações que se conformam a regras de cuja observância geral resulta um estado de coisas pelo menos tão bom quanto o resultante da adoção de regras alternativas.

O QUE É O UTILITARISMO?

O utilitarismo não possui uma única versão. Todavia, o que, talvez, poderiam ficar como pontos importantes de reflexão são basicamente estes:

a) a preocupação com as conseqüências das ações;

b) valor atribuído ao bem-estar; c) minimização do sofrimento e das crueldades

contra seres humanos.

O QUE É O UTILITARISMO?

• Dificuldades do utilitarismo e suas possíveis versões.

a) Hedonista: se o bem é assimilado ao prazer num sentido qualitativo?

b) Eudaimonista: se o bem é a felicidade?

c) Ideal: se são incluídos na felicidade ideais desinteressados?

O QUE É O UTILITARISMO?

• Algumas dificuldades fundamentais a) Versão hedonista. Utilitarismo como estado mental

experimentado pelo indivíduo?b) Versão descritiva. Utilitarismo é uma doutrina puramente

descritiva ou imperativa?c) Versão ideal. Utilitarismo tem a ver com a utilidade individual

ou utilidade total? d) Versão prescritiva. Utilitarismo tem a ver com a

maximização da felicidade a um maior número possível de indivíduos e como ficam as minorias?

e) Versão consequencialista. Utilitarismo se opõe à intervenção de critérios a priori para julgar a ação?

O QUE É O UTILITARISMO?

Utilitarismo, em suas origens, está ligado diretamente ao ambiente moral inglês do Século XVIII.

Utilitarismo tem seu apogeu especialmente entre 1740 e 1870.

Eis as tensões centrais:a) relação entre lei natural e virtude;b) egoísmo e altruísmo;c) associação das ideias e hábitos e motivações morais;d) conexão entre filosofia moral e reformas políticas e sociais.

O QUE É O UTILITARISMO?

Eis como se posiciona, Lima Vaz acerca do utilitarismo.

“A Ética de inspiração empirista, na forma canônica do utilitarismo que recebeu no século XVIII por obra sobretudo de John Locke, Francis Hutcheson e David Hume, domina quase inteiramente o pensamento ético no mundo anglo-saxônico durante todo o século XIX. A corrente principal que se pode considerar herdeira do utilitarismo do século XVIII tem origem no chamado ‘radicalismo filosófico’ dos começos do século XIX, um movimento de ideias de reforma social e política, ilustrado sobretudo por Jeremy Bentham (1748-1832). Bentham deu ao utilitarismo uma interpretação decididamente hedonista, seguindo um caminho aberto por Hume, e reduzindo aos sentimentos do praze e dos sofrimento a origem das noções do bem e do mal (The principles of Morals and Legislation, 1789). A avaliação quantitativa das sensações em vista da obtenção do maior prazer foi denominada por Bentham felicific calculus es propõe como instrumento para a avaliação moral das ações.” (LIMA VAZ, H. Cl. de. Escritos de filosofia IV. Introdução à ética filosófica 1. São Paulo: Loyola, 1999, p. 357).

O QUE É O UTILITARISMO?

BENTHAM (1748-1832) Introdução aos princípios da moral e legislação (1789) Para Bentham há uma forma de naturalismo hedonista, o qual

pôs o homem sob o domínio de dois senahores: a dor e o prazer.

Dor e prazer indicam o que deveremos fazer e determinam o que faremos. Mas como classificar a dor e o sofrimento?

O princípio utilidade é o fundamento do sistema cujo objetivo é levantar o edifício da felicidade por meio da RAZÃO e da LEI.

O QUE É O UTILITARISMO?

“O termo utilidade designa aquela propriedade existente em qualquer coisa, propriedade em virtude da qual o objeto tende a produzir ou proporcionar benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade (tudo isto, no caso presente, se reduz à mesma coisa), ou (o que novamente equivale à mesma coisa) a impedir que aconteça o dano, a dor, o mal, ou a infelicidade para a parte cujo interesse está em pauta; se esta parte for a comunidade em geral, tratar-se-á da felicidade da comunidade, ao passo que, em se tratando de um indivíduo particular, estará em jogo a felicidade do mencionado indivíduo.” (Introdução aos princípios da moral e legislação (1789), p. 4).

O QUE É O UTILITARISMO?

Caso o princípio da utilidade se constitua num princípio correto, então todo princípio que vier a diferir dele deve ser errado.

Entre os princípios adversos estão o de simpatia e o de antipatia. Segundo Bentham, por princípio de simpatia e antipatia, entende-se tudo que aprova ou desaprova certas ações não por sua tendência de aumentar a felicidade ou diminuir a infelicidade, mas meramente porque alguém se sente disposto a aprovar ou desaprovar tal ação.

O QUE É O UTILITARISMO?

Bentham parte entendendo a ética como a arte de dirigir as ações dos homens para a produção da maior quantidade possível de felicidade para aqueles cujo interesse tem em mira.

Utilitarismo caracteriza-se como uma teoria teleológica de tipo consequencialista, pois estabelece, em primeiro lugar, qual é o bem a ser perseguido e, depois, julga certas ou erradas as ações em relação à capacidade de elas perseguirem ou não esse bem.

O QUE É O UTILITARISMO?

O utilitarismo representa, segundo Bentham, a melhor teoria do agir moral porque sua característica fundamental é a simplicidade e fácil aplicabilidade da sua regra fundamental.

Noutras palavras, o problema da escolha moral se reduz a um cálculo não mais complicado do que uma simples adição, afastando, por sua vez, todos os fatores metafísicos e teológicos que sempre obscureceram o campo da moral.

O QUE É O UTILITARISMO?

Para calcular a moralidade de condutas alternativas basta observar as consequências em termos de prazer e de dor e escolher a ação com maior saldo líquido de prazer.

Trata-se, em Bentham, do cálculo felicífico, o qual reduz os prazeres ao aspecto puramente quantitativo. A esse respeito: WHITE, Nicholas. Breve história da felicidade. São Paulo: Loyola, 2009, pp. 83-84).

O QUE É O UTILITARISMO?

“A sistematização que Bentham introduziu na ética e na teoria da felicidade foi um estímulo e um efeito do crescente esforço de desenvolver o estudo empírico da ação humana, individual e social. Foi parte da expansão da ciência natural no Século XIX e do desenvolvimento da ciência social. A sistematização de Bentham da noção de felicidade, como identificada com o prazer, fez dela algo com o qual teorizar e sobre o qual teorizar: uma ferramenta da teoria geral da ação correta, inclusive a política social, e, simultaneamente, o objeto de estudo teórico.” (WHITE, Nicholas. Breve história da felicidade. São Paulo: Loyola, 2009, p. 77).

O QUE É O UTILITARISMO?

UTILITARISMO: JOHN STUART MILL (1806-1873) MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Compreensão de prazer. Prazer não é mero contraste à dor ou ausência de

dor. “O credo que aceita a utilidade ou o princípio da maior felicidade como a

fundação da moral sustenta que as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade e erradas conforme tendam a produzir o contrário da felicidade. Por felicidade se entende prazer e a ausência de dor; por infelicidade, dor e a privação do prazer. Para dar uma ideia clara do padrão moral estabelecido pela teoria, é preciso dizer muito mais; trata-se de saber, em particular, o que está incluído nas ideias de dor e prazer e em que medida esse debate é uma questão aberta” (MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 187).

O QUE É O UTILITARISMO?

Eis como se posiciona John Skorupski a respeito de Mill:

“John Stuart Mill (1806-1873) é o filósofo mais importante do século XIX. De um ponto de vista histórico, sua interpretação das correntes empirista e liberal inglesas é tão importanto quanto a de John Locke (1632-1704). No entanto, sua contribuição própria difere sensivelmente no seio destas correntes. Enquanto Locke é o promotor do liberalismo fundado nos direitos naturais, Mill chama isto de princípio utilitarista da felicidade geral, para defender o conceito de liberdade.” (SKORUPSKI, John. John Stuart Mill. In: PRADEAU, Jean-François. História da filosofia. Petrópolis: Vozes; Rio de Janeiro: PUC-RIO, 2011, p. 373).

O QUE É O UTILITARISMO?

Prazer humano é maior que o dos animais. As fontes do prazer humano e dos animais são distintas. Os utilitaristas reconhecem haver superioridade dos prazeres mentais sobre os prazeres corpóreos, principalmente, pela maior permanência e pela maior segurança. Duas características importantes para tal distinção: amor à liberdade e amor à independência pessoal. “É melhor ser uma criatura insatisfeita do que um porco satisfeito; é melhor ser Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito” (MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 191).

Os prazeres mais elevados e os prazeres inferiores. Muitas vezes, os seres humanos se entregam aos prazeres inferiores não porque os prefiram, mas porque às vezes são os únicos a que têm acesso ou são os únicos de que são capazes de desfrutar por algum tempo.

O QUE É O UTILITARISMO?

Felicidade não é para o indivíduo isolado, mas para todos os envolvidos. A felicidade que os utilitaristas adotaram como padrão não é a da felicidade unicamente do próprio agente, mas de todas as pessoas envolvidas em tais situações.

O preceito de Jesus de Nazaré é tomado em consideração. Faze ao outro o que queres que façam a ti é muito importante para os utilitaristas.

O QUE É O UTILITARISMO?

“Em primeiro lugar, que as leis e os dispositivos sociais deveriam pôr o mais possível a felicidade ou (como se poderia na prática chamá-lo) o interesse de cada indivíduo em harmonia com os interesses do todo; e, em segundo lugar, que a educação e a opinião, as quais possuem um poder tão avassalador sobre o caráter humano, deveriam usar esse poder para estabelecer no espírito de cada indivíduo uma associação indissolúvel entre sua própria felicidade e o bem do todo, principalmente entre sua felicidade pessoal e a prática desses modos de conduta, negativos e positivos, conforme prescritos pela felicidade universal. Desse modo, o homem poderia não apenas se tornar incapaz de conceber a coerência entre a possibilidade de felicidade para si mesmo e a adoção de uma conduta oposta ao bem geral, como ainda um impulso direto para promover o bem geral como um dos motivos habituais de ação; o sentimento relacionado a esse tendência poderia então preencher um amplo e proeminente espaço em toda experiência do ser humano senciente” (MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 202).

O QUE É O UTILITARISMO?

O utilitarismo não concorda com a tese de que agimos sempre para o bem do mundo todo de acordo com regras do dever.

A grande maioria das nossas ações não visa beneficiar todo o mundo, mas os indivíduos que compõem o bem do mundo, ou seja, os indivíduos particulares envolvidos na ação. Não é possível aceitar a confusão entre o motivo da ação e a regra da ação.

O QUE É O UTILITARISMO?

“É assunto da ética informar-nos quais são nossos deveres, ou que critério nos permite reconhecê-los; nenhum sistema da ética exige, porém, que o único motivo de todas as nossas ações seja o sentimento do dever. Ao contrário, noventa e nove por cento de nossas ações são praticadas por outros motivos e são corretamente praticadas, se a regra de dever não os condena. É particularmente injusto fundar sobre esse equívoco específico uma objeção ao utilitarismo, pois os utilitaristas foram além de todos os outros ao afirmar que o motivo não tem relação nenhuma com a moralidade da ação, embora tenha com o valor do agente. Quem salva seu semelhante de um afogamento faz o que é moralmente certo, quer seu motivo seja o dever, quer a esperança de ser remunerado por seu esforço; aquele que trai o amigo que nele confia é culpado de um crime, mesmo se seu propósito seja servir um outro amigo a quem deve grandes obrigações. Mas restrinjamo-nos apenas às ações motivadas pelo dever e praticadas em direta obediência ao princípio. O modo de pensar utilitarista é mal interpretado quando se supõe que as pessoas deveriam fixar seu espírito sobre algo tão genérico como o mundo ou sobre a sociedade como um todo. A grande maioria das boas ações visam não a beneficiar o mundo, mas os indivíduos, que compõem o bem do mundo” (MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 204).

O QUE É O UTILITARISMO?

As sanções pertencentes aos sistemas da moral são internas e externas. As sanções externas são de fácil identificação. Fundamentalmente provêm da esperança de favor e o medo do desprazer do nosso semelhante ou do legislador do universo. E esses sentimentos somados à simpatia ou afeição que possamos ter pelos nossos semelhantes ou o amor ou o temor pelo legislador do universo, inclinam-nos a fazer e a agir.

Quanto às sanções internas, pode-se dizer que, em última análise, a sanção última de toda a moralidade é um sentimento subjetivo em nossos espíritos. E esses sentimentos morais não são inatos, mas adquiridos. É natural ao homem falar, raciocinar, construir cidades, cultivar o solo, mas o modo como isso é feito é faculdade adquirida.

O QUE É O UTILITARISMO?

“Os sentimentos morais não são de fato uma parte de nossa natureza, no sentido de se encontrarem presentes em todos nós em algum grau perceptível; mas infelizmente esse é um fato reconhecido por todos os que acreditam mais intensamente em sua origem transcendental. Assim como as outras faculdades adquiridas a que me referi acima, a faculdade moral, ainda que não seja parte de nossa natureza, é um produto dela; como as outras, é capaz, num grau pequeno, de brotar espontaneamente e de crescer, graças ao cultivo, até alcançar um grau elevado de desenvolvimento. Infelizmente, em virtude de um certo uso das sanções externas e da força das primeiras impressões, também é suscetível de se desenvolver em quase todas as direções, de modo que dificilmente se encontra uma idéia tão absurda ou tão nociva que não possa, por causa dessas influências, agir sobre o espírito humano com toda a autoridade da consciência. Duvidar de que pelos mesmos meios se pudesse conferir idêntica força ao princípio da utilidade, mesmo se não tivesse seu fundamento na natureza humana, seria ir de encontro a toda a experiência” (MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 223).

O QUE É O UTILITARISMO?

O ser humano tem desejo de viver junto com seus semelhantes. Para Mill, existe uma base natural, ou seja, um centro diretor que harmoniza os sentimentos para a moral utilitarista, desde que se tenha e se reconheça a felicidade como o critério ético.

A fundação sólida é a dos sentimentos sociais da humanidade, a saber, o desejo de viver em unidade com nossos semelhantes. A base da convivência é a do interesse de todos.

O QUE É O UTILITARISMO?

“O estado social é a um só tempo tão natural, tão necessário e tão habitual ao homem que, exceto em algumas circunstâncias incomuns, ou por algum esforço de abstração involuntária, jamais ele se concebe a si mesmo senão como membro de um corpo; e tal associação se fixa cada vez mais, conforme a humanidade se afasta do estado de independência selvagem. Por isso, qualquer condição que seja essencial ao estado de sociedade se converte mais e mais numa parte inseparável do modo como cada um concebe o estado de coisas em que foi gerado, e no qual um ser humano está destinado a viver.” (MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 224).

O QUE É O UTILITARISMO?

A felicidade é um dos fins da conduta e um dos critérios de moralidade. A felicidade de cada pessoa é bem para a própria pessoa, mas também para todas as pessoas. A felicidade não é o único critério da moral utilitarista.

Há, por conseguinte, outros fins da ação humana distintos da felicidade. A virtude, por exemplo, não somente deve ser desejada, mas deve ser desejada por si mesma, de maneira desinteressada. A virtude é muito importante para a doutrina utilitarista. Deve-se amar a virtude por ela mesma.

De acordo com a doutrina utilitarista, a virtude não é necessária e originalmente parte do fim, mas poderá vir a sê-lo. A virtude mais do que meio, ela é parte da felicidade.

O QUE É O UTILITARISMO?

Na doutrina utilitarista, os meios são parte da felicidade mesma. A virtude é possibilidade de conduzir ao prazer e proteger da dor.

Os meios mais importantes são aqueles que conduzem à felicidade geral mais importante. Todavia, para alcançar o bem, é preciso a educação da vontade para agir com retidão. E educar a vontade para agir bem é o meio para alcançar o bem, ou seja, conseguir o prazer e evitar a dor.

O QUE É O UTILITARISMO?

“O que de início se desejava como um instrumento para alcançar a felicidade passou a ser desejado como parte da felicidade. O indivíduo torna-se, ou crê que se tornaria, feliz pela sua mera posse, e torna-se infeliz por não o conseguir. Esse desejo não é mais distinto do desejo de felicidade do que o amor à música ou o desejo de saúde. Todos estão compreendidos na felicidade. São alguns dos elementos de que se forma o desejo de felicidade. A felicidade não é uma idéia abstrata, mas um todo concreto, e essas são algumas de suas partes. E o padrão utilitarista sanciona e aprova que assim seja. A vida seria algo miserável, muito mal provida das fontes da felicidade, se a natureza não houvesse agido de modo que as coisas, indiferentes em sua origem, mas capazes de conduzir ou de se associar de alguma outra maneira à satisfação de nossos desejos primitivos, pudessem tornar-se em si mesmas fontes de prazer mais valiosas do que os prazeres primitivos, graças à sua permanência, à extensão de vida humana que podem cobrir, e mesmo graças à sua intensidade” (MILL, John Stuart. A liberdade; Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 235).

O QUE É O UTILITARISMO?

Mas, diga-se de passagem, referenciando Bernard Williams, que não basta dizer ser o utilitarismo a teoria moral da felicidade.

É preciso dizer que o princípio moral é o de buscar a maior felicidade para o maior número de pessoas.

E além disso sustentando que a felicidade significa prazer e privação de dor.

Nesse sentido, é a acepção moral representada sobremaneira pela palavra consequencialismo. E isso é fundamental, pois há moralidades voltadas para a felicidade do homem que nada tem a ver com o modo como o utilitarismo define a busca da felicidade (WILLIAMS, Bernard. Moral. Uma introdução à ética. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 138).

O QUE É O UTILITARISMO?

Mas o que vem a ser mesmo o consequencialismo?

O consequencialismo tem tomado o centro dos debates éticos e meta-éticos há mais de um quarto de século, especialmente.

É a teoria que estabelece que, para determinar se um agente teve razão de fazer tal escolha particular, convém examinar as consequências dessa decisão, seus efeitos no mundo.

O QUE É O UTILITARISMO?

Lembra-se aqui:a) Adotando-se uma orientação teleológica, consequencialismo

tem uma postura de quem olha para o fim, para o objetivo final;b) Adotando-se uma orientação deontológica, o dever ou a

obrigação constituem-se como centrais. Logo: enquanto o consequencialismo avalia uma escolha

examinando suas consequências, o método deontológico avalia a escolha determinando em que medida ela satisfaz as obrigações que incumbem ao agente.

O QUE É O UTILITARISMO?

O consequencialismo é apresentado como uma teoria que ora tem por objeto o que é justo e ora o que é bom.

Dizer que uma coisa é boa é afirmar que ela possui um certo valor positivo.

Dizer que uma coisa é justa é afirmar que diante de uma escolha é essa coisa que deveria ser escolhida.

O QUE É O UTILITARISMO?

Uma teoria do bem nos permitiria determinar o valor de diferentes entidades, ou seja, o valor das opções.

Uma teoria do justo nos permitiria determinar a opção ou o subconjunto de opções que é justo.

Nesse sentido, o consequencialismo deveria ser considerada muito mais ou antes como uma teoria do justo e não como uma teoria do bem. Ele afirma que a opção justa é que produz as melhores consequências.

O QUE É O UTILITARISMO?

Talvez, se possa afirmar ser o utilitarismo a forma de consequencialismo mais conhecida.

Pode ser considerada uma forma consequencialista, porque a tese repousa sobre a noção de que o bem é sempre uma questão de felicidade, de prazer, de satisfação, ou algo desse tipo.

É muito interessante ver aqui a concepção de Rawls a tal respeito: RAWLS, John. Uma teoria da justiça. 3 ed., São Paulo: 2008, pp. 26-33.

É importante ver também as críticas feitas ao modo como Rawls interpreta o utilitarismo, sobretudo, a partir de três pontos: a) de que o utilitarismo não levaria a sério nossas considerações intuitivas de justiça; b) de que o utilitarismo não levaria a sério a distinção entre as pessoas; c) de que o utilitarismo seria apontado quanto à natureza teleológica, enquanto que a justiça como equidade teria uma natureza deontológica (Cf. BONELLA, Alcino Eduardo. Utilitarismo e ética. In: OLIVEIRA, N. F. de; SOUZA, D. G. de. Jusitiça e política. Homenagem a Otfried Höffe. Porto Alegre: Edipucrs, p. 76-77)

É importante acrescentar a definição acerca de éticas deontológicas e teleológicas. FRANKENA, William. Ética. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969, pp. 28-32.

O QUE É O UTILITARISMO?

Pode-se dizer, portanto, que o consequencialista afirma estar a opção justa focada nas melhores consequências, em termos impessoais e neutros em relação ao agente moral.

Por que alguém seria consequencialista e não deontologista?

Essas são as duas possibilidades na atualidade dominantes em questão das grandes decisões.

O QUE É O UTILITARISMO?

Pode-se dizer, portanto, que o consequencialista afirma estar a opção justa focada nas melhores consequências, em termos impessoais e neutros em relação ao agente moral.

Por que alguém seria consequencialista e não deontologista?

Essas são as duas possibilidades na atualidade dominantes em questão das grandes decisões.

O QUE É O UTILITARISMO?

Para os consequencialistas não há outro modo racional de avaliação moral senão o de medir e examinar as consequências, caracterizando a escolha de modo neutro e imparcial.

Esses mesmos caracterizam os deontologistas como que demasiadamente teológicos (enquanto os agentes precisariam agir de acordo com normas prescritas e deixariam a Deus a preocupação com as consquências) e excessivamente solipsistas (enquanto se preocupariam com sua própria reputação moral e conservariam suas mãos limpas em situações-limite).

O QUE É O UTILITARISMO?

Mas não há unanimidade entre os próprios consequencialistas.

Constituem-se num grupo heterogêneo. Poderiam ser classificados grosso modo em utilitaristas e não-utilitaristas.

São ou não utilitaristas conforme aceitam ou não a tese de que as únicas consequências importantes são as que incidem sobre a utilidade relativa aos seres sensíveis, ou seja, as que influem sobre a felicidade ou a satisfação das preferências de tais seres.

O QUE É O UTILITARISMO?

Surge, porém, outra pergunta importante: o que implica o consequencialismo para a deliberação moral?

Há versões diferentes a respeito, mas se pode, modo geral, dizer que o consequencialismo é uma teoria (a) do justo e não do bem e que se (b) trata de uma teoria destinada a saber se o agente escolheu a boa opção, e não necessariamente uma teoria que se possa utilmente aplicar à tomada de decisão.

O QUE É O UTILITARISMO?

Pois bem, quais poderiam ser então as variantes da doutrina do consequencialismo?

A) A primeira variante é questão de saber como deveríamos identificar as diferentes opções para avaliar em vista de qualquer decisão. Ex: Promessa de auxílio ao meu vizinho (prometer x não prometer; cumprir x não cumprir)

O QUE É O UTILITARISMO?

B) Uma segunda variante sobre a qual os consequencialistas divergem é a questão de saber se, quando consideramos a decisão que o agente deveria ter tomado, examinamos as consequências reais da opção escolhida e as consequências que teriam decorrido de outras opções, ou se, em vez disso, estudamos as consequências que são previsíveis no momento da escolha. (Ex: Prescrição de medicamentos por parte de um médico com índice elevado de cura e risco de morte mínimo).

O QUE É O UTILITARISMO?

C) A terceira questão mais ou menos interna ao consequencialismo é saber se este deveria sustentar que a melhor opção é a que oferece os melhores resultados em matéria de consequências pertinentes ou se basta, para que uma opção seja boa, que ela produza resultados suficientemente bons em relação às consequências pertinentes.


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