UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
SILMARA ALVES DA SILVA
VAMOS JOGAR FUTSAL MENINOS E MENINAS? UMA PROPOSTA DE CO-EDUCAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
CURITIBA
2011
SILMARA ALVES DA SILVA
VAMOS JOGAR FUTSAL MENINOS E MENINAS? UMA PROPOSTA DE
CO-EDUCAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Caderno Pedagógico na Área de Educação Física apresentado como requisito parcial para conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Orientadora: Dr. Maria Regina Ferreira da Costa
CURITIBA
2011
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO...................................................................................................3
2 UNIDADE DIDÁTICA I - Conceito de gênero ao longo da história..........................6
2.1 Atividades/ técnicas..........................................................................................10
2.1.1 Variação da atividade 1: Painel humano........................................................11
2.1.2 Variação da atividade 2 : Dinâmica das palavras..........................................12
2.1.3 Recursos/Materiais.........................................................................................13
2.1.4 Avaliação.........................................................................................................13
2.1.5 Orientações/ recomendações ao professor.................................................13
3 UNIDADE II – Identidades de gênero e sexo generificadas na família e na
escola.........................................................................................................................14
3.1 Atividades/ técnicas..........................................................................................21
3.1.1 Recursos/Materiais.........................................................................................22
3.1.2 Avaliação.........................................................................................................22
3.1.3 Orientações/ recomendações ao professor.................................................22
4 UNIDADE III – Estereótipos produzidos a partir do futsal......................................23
4.1 Atividades/ técnicas..........................................................................................26
4.1.1 Recursos/Materiais.........................................................................................27
4.1.2 Avaliação.........................................................................................................27
4.1.3 Orientações/ recomendações ao professor.................................................28
4.1.4 Sugestões de filmes relacionados com a temática.....................................29
5 UNIDADE IV- Co-educação no futsal: uma proposta de superação do
sexismo......................................................................................................................30
5.1 Atividades/ Técnicas.........................................................................................32
5.1.1 Recursos/ Materias.........................................................................................34
5.1.2 Avaliação.........................................................................................................34
5.1.3 Orientações/ recomendações ao professor.................................................34
GLOSSÁRIO..............................................................................................................36
REFERÊNCIAS..........................................................................................................38
ANEXO.......................................................................................................................41
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1 APRESENTAÇÃO
Neste Caderno Pedagógico, Vamos jogar futsal meninos e meninas? Uma
proposta de co-educação nas aulas de Educação Física, apresenta um panorâmico
conceitual que fundamenta as questões de gênero pertinentes nas aulas deste
conteúdo básico, que são construídas historicamente, por uma cultura, que utiliza de
mecanismo e artefatos que vêem solidificar e tipificar determinados hábitos, atitudes
e comportamentos que dita normas e regras para cada sexo, ou seja, padrões
estabelecidos para homens e para mulheres e aqueles/as que fogem desta
heteronormatização são estigmatizadas como desviantes, problemas, doentes, e
entre outros.
Dentro desta visão dicotômica onde paira a classificação do sexo apenas
como masculino e feminino que não considera que ser humano é constituído muito
mais que o biológico (sexo), que ele é formado por meio de suas experiências de
vidas, oportunidades, educação e pelo seu convívio social (família, Igreja, escola e
outros grupos sociais).
O espaço escolar que serve como socializador do conhecimento e também
das relações sociais, por esse motivo se faz necessário um olhar atento à nossa
missão de ensinar e formar cidadãos, que vem provocar uma mudança em nossa
sociedade tornando-a mais justa e igualitária, a partir da possibilidade de
contextualizar e apresentar outras maneiras de ver as questões de gênero,
principalmente em relação do poder, da dominação, da discriminação, possibilitando
à visibilidade da mulher que durante anos esteve à margem da história.
Uma fala reiterada que prioriza marcar vantagens das aulas mistas e do trato
com as diferenças como questões necessárias e fundamentais nas aulas dessa
disciplina na escola é apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s)
que nos diz que:
As aulas mistas de Educação Física podem dar oportunidade para que meninos e meninas convivam, observem-se, descubram se e possam aprender a ser tolerantes, a não discriminar e a compreender as diferenças, de forma a não reproduzir, de forma estereotipada, relações sociais autoritárias. (1998, p.42).
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É notória a ausência de falas que cite ou referencie à separação de meninos
e meninas nas aulas de Educação Física na escola. Mas isso não significa que a
existência desta prática no ambiente escolar, se justifique pelo argumento do que
não é dito, não é obrigatório. Cabendo pensar no papel da constituição deste
discurso de forma mais ampla que se expressa não apenas no que é dito, mas
também do que não é dito.
Neste sentido que é primordial que nas aulas mista de Educação Física,
especificamente no futsal, a eqüidade de oportunidades para meninos e meninas no
regime de co-educação seja objetivada. Sabe-se que no interior das escolas a aula
de Educação Física é mista no que tange às questões de distribuição e organização
dos/as alunos/as de forma conjunta no espaço escolar, ou seja, apenas uma mistura
destes jovens, fato não garante por si só a co-educação (Priscila Gomes Dornelles e
Alex Branco Fraga, 2009, 147).
Ainda, estes autores enfatizam que o ideal de co-educação tem como foco a
problematização das relações de gênero, que objetiva uma compreensão da
construção cultural da diferentes ocupações do feminino em relação ao masculino e
vice-versa. E, através desta percepção tentar reverter ou minimizar a dicotomia do
sexo. Porém para esse trabalho é essencial que as turmas sejam mistas.
Apresenta-se o futsal como instrumento útil para romper com as imagens
estereotipadas de identidade do masculino ou do feminino que foram construídas
pela sociedade, sobretudo uma possibilidade de construção de outro modelo de
gênero, onde as relações sociais possam passar por um processo de
ressignificação. Portanto nas aulas de futsal é preciso lidar com as questões de
gênero a partir das práticas do convívio social, procurando ensinar (ou elaborar) uma
nova maneira de olhar, de ver e de se ver. Isso implica o modo como nos
relacionamos com o corpo que somos e o corpo do outro, afinal as práticas sociais
são incorporadas e não naturais (Maribel Costa Silva e Manoel Pereira Lima, 2010,
p.118).
Neste víeis a escola tem o papel enquanto espaço socializador, a
desmitificar as relações de gênero que preconize coisas de homens e coisas de
mulher. É certo que, do ponto de vista biológico, as diferenças são explícitas e
inquestionáveis, mas o foco aqui está pautado na ênfase deliberada das diferenças
para fixar, produzir e (re)produzir desvantagens sociais para um determinado grupo,
neste caso as alunas que são discriminadas pela prática do futsal e alunos que são
5
considerados não hábeis pelo seu próprio grupo. Sendo construída essa
desvantagem na mais tenra idade começando a serem traçadas na família, na
escola e vão se estendendo as demais instâncias sociais (igreja, mídia, estado).
Partindo da compreensão que a instituição escolar propicia o acesso ao
conhecimento e apresenta-se como um espaço privilegiado para se discutir e mudar
as concepções que temos sobre as coisas e os fenômenos sociais torna-se
imprescindível a leitura e a interpretação das relações de gênero na comunidade
escolar e na sociedade, para que possa ocorrer uma transformação social.
Os/as educadores/as precisam cada vez mais de instrumentos que auxiliem
a compreender e enfrentar as diferentes formas de discriminação e exclusão social,
que possibilitem a percepção da dimensão pedagógica de suas ações que vão além
de transmissão de conteúdos curriculares, que têm em suas mãos a condição
concreta de provocar mudanças. Espera-se que este material provoque no/a
professor/a uma reflexão na sua ação educativa que está sendo estabelecida na
formação os/as alunos/as, mobilize e proporcione uma transformação na direção da
sociedade igualitária, onde meninas/mulheres e meninos/homens participem
coletivamente da tomada de decisões e defina conjuntamente seus caminhos sem
preconceitos, discriminações e respeitem a diversidade humana. Assim
possibilitando a interação social mais jutas entre homens-homens, mulheres-
mulheres e entre homens-mulheres no futsal.
A proposta deste material didático tem como objetivo criar condições de
igualdades entre meninos e meninas, entre homens e mulheres, para que de fato,
possamos falar de uma sociedade democrática, onde todos têm direitos iguais. Mas
isso não significa que meninas e meninos tenham que fazer as mesmas atividades
ao mesmo tempo, porque é necessário ensinar-los/las o que não sabem, e não fazer
destas relações uma guerra do sexo, que seja por poder ou por posição social.
É necessário desconstruir o imaginário coletivo que associa a afirmação das
identidades masculina o sinônimo de virilidade, agressividade, força e coragem e a
feminina como delicadeza, fragilidade, cuidado, passividade e vida doméstica, por
meio de práticas simples na escola como por exemplo, o futsal feminino, podendo
dar novo significado as relações de gênero.
Segundo Roberto da Matta, apud, Maribel Costa Silva e Manoel Pereira
Lima, os/as professores/as:
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precisam fazer com que um esporte que é a paixão nacional e não depende de gênero, raça ou condição social, [...] favoreça, na escola, a efetivação de condições de igualdade entre os/as jovens, entre mulheres e homens, sem contudo, conduzi-los a um seccionamento irreversível. (2010, p.119).
As atividades propostas para que vislumbrem a Educação Física no âmbito
social a partir do conteúdo de futsal, onde seja trabalhada as relações entre gêneros
e intra-gêneros por meio de discussões pertinentes à temática, utilizando de
metodologias pautada na participação coletiva e interativa dos/as alunos/as por meio
de debates e diálogos problematizadores, pesquisas com a família buscando
investigar de que modo se constitui as identidades de gênero e sexo, trabalhando
com trechos dos filmes que têm como foco principal a participação feminina no
futebol, que revele as suas implicações nas relações do gênero, as desigualdades
dos sexos, a normatização, a marginalização, a discriminação e os preconceitos que
dificultam a participação feminina neste esporte. E finalizando as atividades com
vivências práticas dos gestos técnicos para apropriação do conteúdo e depois jogo
de futsal misto dentro da visão co-educativa que possibilite o desconstruir do
sexismo neste esporte e na escola.
2 UNIDADE DIDÁTICA I - Conceito de gênero ao longo da história
Nas sociedades ocidentais modernas, entre elas a brasileira, as questões
relacionadas ao gênero e sexualidade parecem ter uma evidente centralidade no
que tange a supervalorização do sexo, a imagem que se vende na mídia de
produtos para o sexo, corpos saudáveis e esculpidos de beleza nos ensinam
técnicas e estratégias para manter os corpos jovens, ativos e ainda prescrevem
práticas sexuais que consideram adequadas e condenam outras.
A constituição da sexualidade e do gênero tão central e instigante tem uma
história nos discursos produzidos pela religião, ciência, estado e educação que
demarcam posições e práticas sexuais que instituíram “verdades”, criaram normas,
regularam comportamentos dicotômicos para cada sexo. Tudo isso de certo modo
tornou-se “natural”, mas vale ressaltar que isso é um processo contínuo. Portanto,
pode ser modificado e transformado conforme os ditames sociais, culturais e
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educacionais. Os quais possibilitem o repensar histórico e contemporâneo das
questões de gênero e a sexualidade com um olhar mais complexo que permita
analisar os arranjos sociais e nas formas de organização da família, da escola e
outros grupos sociais. Enfim, um conjunto de condições que modificam ao longo do
tempo que nos leva a desmistificar a sociedade naturalizada e heteronormatizada
(Guacira Louro Lopes, 2009, p.30-31).
Será que sempre foi assim? É possível dizer que não. Tal afirmação está
baseada nas referências históricas das relações de gênero e sexualidade que trago
para contextualizar o seguinte estudo.
As menções históricas estão conectadas nos movimentos feministas que
foram os percussores das vozes das minorias (mulheres, jovens, negros, gays,
lésbicas) e que foram escritos por mulheres, pois até então, os discursos eram
proferidos por homens (médicos, pensadores e moralistas). Esses saberes
constituídos estão ancorados na ótica masculinizante que se emprega a linguagem
para formular as verdades a respeito da sexualidade do gênero. Portanto pautado no
discurso da dominação masculina como superior, forte, viril, e responsável pela
sustentação da família – mundo do trabalho (privado); ficando à mulher o mundo
doméstico – cuidado da família.
Conforme Pierre Bourdieu (2007) não basta constatar a condição das
mulheres ou suas mudanças, sem atentar para o sempre renovado trabalho de des-
historicização, com seus mecanismos estruturais e suas estratégias que podem
levar as próprias mulheres a contribuir para sua exclusão. Os homens são
colocados como igualmente vítimas de representações da dominação ou da
violência simbólica, que se estabelecem com o apoio da família e da igreja, guardiãs
do capital simbólico, que geram um “natural” construído.
Essa naturalização tem o homem como medida de todas as atitudes e, é a
própria ordem social que sistematicamente encaminha-o para certos modos de ser e
viver diferenciado sexualmente, adotando a visão androcêntrica “que considera o ser
humano do sexo masculino como centro do universo [...] e o único capaz de ditar as
leis, de impor a justiça, de governar o mundo” (Montserrat Moreno, 1999, p.23).
Por essas condições representadas na história, foram decisivos os
movimentos feministas que buscavam visibilidade da mulher nos anos 60 e 70 que
ganharam força e densidade. As mulheres foram para as ruas e ocuparam espaços
públicos, como as universidades, onde realizaram estudos, pesquisas (teses) e
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escreveram livros que demonstravam suas lutas e suas histórias que por muito
tempo foram ocultadas. Reivindicaram direitos e salários iguais, criaram grupos de
apoio, revistas, jornais e organizaram passeatas (Guacira Lopes Louro, 2009, p.31).
Esta autora ainda destaca além dos movimentos feministas, outros
movimentos semelhantes que também objetivaram a visibilidade da chamada
“minorias sexuais”. O termo minoria aqui representado não está relacionado à
quantidade de indivíduos, mas à atribuição social de valor que se refere aos grupos
sociais denominados como minoria a partir da ótica dominante.
Cabe dizer que todo esse movimento social organizado teve como
protagonista da história grupos subordinados (mulheres, jovens, negros, gays,
lésbicas) que constitui a política de identidades, tal qual se fundamenta no direito de
pronunciarem-se por si mesmo e não mais sendo disciplinados e controlados pelos
grupos dominantes.
Atualmente os chamados grupos das minorias sexuais passam a falar de
suas experiências de vida, no âmbito das práticas amorosas, sexuais e trabalho,
vislumbrando assim as múltiplas formas de ver, de viver a vida e a diversidade
cultural.
Cabendo então, salientar que a concepção de gênero transpõe o
determinismo biológico que utiliza as diferenças biológicas dos sexos para justificar
as desigualdades sociais e culturais, sendo assim o conceito de gênero passa a ser
pronunciado como:
O gênero como construção social que uma dada cultura estabelece em relação a homens e mulheres, mostrando que essa construção é relacional, tanto no que se refere ao outro sexo quanto a outras categorias, tais como raça, idade, classe social e habilidades motoras. (Helena Altmann e Eustáquia Salvadora de Sousa,1999a, p.52).
Ainda nesta vertente da construção social destaca-se o conceito de gênero
de Joan Scott (1995, 89) “é o elemento constitutivo das relações sociais está
fundado sobre as diferenças percebidas entre os sexos, que fornece um meio de
decodificar o significado de compreender as complexas conexões entre várias
formas de interação humana”.
Desta maneira não se propõe aqui desfazer as diferenças biológicas
existentes entre homens e mulheres, mas questionar a forma arbitrária que se
emprega para construir outras diferenças.
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Diante disso, evidencia-se a dificuldade para a visibilidade feminina adentrar
no mundo excludente, preconceituoso, discriminatório, machista, heterossexista e
elitista. Portanto, é essencial “que as/os profissionais da educação colaborem para
uma escolarização que tenha como fundamento a valorização da diversidade, em
busca de uma prática social que inclua os sujeitos históricos com igualdade de
oportunidades” (Dayana Brunetto Carlin dos Santos e Débora Cristina de Araujo,
2009, p.22). E ainda, mostre às mulheres que elas são capazes de romper com os
estereótipos vinculados a imagem da mulher criada culturalmente, socialmente por
um dado momento histórico e que pode ser perpetuado por geração e geração.
É fundamental que os/as professores/as tenham um olhar crítico sobre o que
é considerado “natural” e “normal”, para que possam desempenhar uma função
social da qual refletirá na prática social dos/as alunos/as, levando-os a questionar as
imposições de padrões e representações sociais que lhes são introjetados. De
acordo com Guacira Lopes Louro (1997, p.63) “a tarefa mais urgente talvez seja
exatamente essa: desconfiar do que é tomado como natural”.
Uma meta importante é a desconstrução do binarismo, ou seja, da
separação do mundo do homem e da mulher, ampliando as fronteiras do gênero e
desafiando as fronteiras tradicionais de gênero e sexuais (dicotomia
masculino/feminino, homem/mulher, heterossexual/homossexual, atravessando e
perturbando essas fronteiras). Os sujeitos são ensinados e fabricados
deliberadamente pelas instâncias sociais como; a família, a escola e a igreja a ser
homem e a ser mulher, onde são inscritos em seus corpos, suas roupas, seus
comportamentos e atitudes signos - masculinos e femininos ao longo de suas vidas.
Para Guacira Louro Lopes (2009, p.35) “é através de muitas pedagogias
familiares, escolares e culturais [...] que se aprende a viver como homem ou como
mulher na cultura, pelos discursos repetidos da educação, da mídia, da igreja, da
ciência e das leis”.
É primordial ressaltar que a forma como vivemos nosso gênero, feminino ou
masculino, também é cultural, histórica e aprendida. Conforme a famosa expressão
de Simone de Beauvoir citada por Guacira Louro Lopes (2009, p.35) “ninguém nasce
homem, mas se faz homem ao longo da existência”. Portanto, seguindo o mesmo
raciocínio ninguém nasce mulher, mas se torna mulher. Dentro deste viés pode-se
dizer “que há muitos modos de ser mulher e muitos modos de ser homem” (Maria
Regina Ferreira da Costa, 2008, p.11).
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Cabendo ao/a professor/a lidar com a diversidade cultural e sexual,
respeitando-a e não permitindo que nossos princípios individuais que muitas vezes
estão arraigados pela educação patriarcal seja motivo de interferência em nosso
trabalho como educador/a.
O conhecimento a ser transmitido não deve ser direcionado e nem tão pouco
manipulado por uma concepção que vincule um poder dominante, preconceituoso e
discriminatório. Mas tem o dever de apresentar alternativas que possibilitem o
diálogo e a discussão sobre as questões de gênero e sexualidade, culminando no
rompimento com os estereótipos de gênero e sexuais.
2.1 Atividades/ técnicas
Atividade a ser desenvolvida pelo/a professor/a tem como objetivo geral a
construção de um painel junto com os/as alunos/as sobre as diferenças percebidas e
incorporadas por eles/as ao longo de sua existência de ser menino e de ser menina,
sendo que garotos descrevem as diferenças para as garotas e elas descrevem para
eles. Depois serão colocadas no quadro negro individualmente e após a fixação de
todas, serão retiradas as palavras repetitivas de cada painel. Os jovens observarão
as diferenças elencadas pelo grupo feminino e as meninas pelo grupo masculino.
Meninos descrevem as diferenças para
as meninas. Ex:
Vagina
Chora
Frágil
Meninas descrevem as diferenças para
os meninos. Ex:
Pênis
Não chora
Forte
QUADRO 1 – PAINEL DAS DIFERENÇAS FONTE: O autor (2011)
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Essas diferenças poderão estar relacionadas aos aspectos sexuais,
biológicos, culturais e sociais. Por meio destes será possível mapear a concepção
que permeia a desigualdade entre homens e mulheres da turma. Partindo deste
referencial abriremos para um diálogo e análise das diferenças, questionando se
aquilo que foi colocado para o sexo masculino e para o feminino é apenas
pertencendo exclusivamente a ele, se não poderia ser considerado para ambos?
Esse será um dos momentos relevantes da aula, pois permitirá estabelecer
alguns contrapontos entre as diferenças construídas historicamente e culturalmente
pela sociedade. Logo após toda discussão, será reconstruído por eles/elas um novo
painel que represente o ser homem e ser mulher, de uma forma que não dê ênfase
ao biológico para justificar as desigualdades e a discriminação.
Meninas e Meninos com um olhar de equidade! Ex:
Choram
Frágeis
Fortes
QUADRO 2 – RECONSTRUÇÃO DO PAINEL DAS DIFERENÇAS FONTE: O autor (2011)
2.1.1 Variação da atividade 1: Painel humano
Se posicionando à frente da turma, um aluno representará o sexo masculino
e uma aluna representará o feminino e os demais alunos/as escreverão as
diferenças do sexo oposto individualmente. O/a professor/a receberá as diferenças
escritas do grupo feminino que serão coladas no corpo masculino e logo após será
realizado o mesmo procedimento com o grupo masculino sendo fixadas suas
12
diferenças no corpo feminino. Depois os/as alunos/as observarão as diferenças nos
corpos. E responderão questionamentos a respeito delas, tais como: Será que esta
diferença é pertencente apenas a um determinado sexo? Como são constituídas
essas diferenças? Instigar os alunos a perceberem se as diferenças estão baseadas
apenas no biológico para determinar as desigualdades, discriminação e preconceito
em torno do sexo oposto. Logo após o debate os/as jovens retirarão dos corpos as
diferenças que são únicas e exclusivas do masculino e do feminino, ficando aquelas
que julguem comuns a ambos, reconstruindo o painel humano sem distinção do
sexo.
2.1.2 Variação da atividade 2 : Dinâmica das palavras
Dividir o quadro negro em duas partes um lado fica representando o
masculino e outro o feminino, pedir aos/as alunos/as que falem sem pensar muito, o
que vêm na cabeça quando escutam a palavra mulher e a palavra homem.
O/a professor/a vai escrevendo tudo que eles disserem e assim será
composto um painel com dois pólos diferentes. E a partir daí serão discutidas as
questões apresentadas no painel, instigando os alunos a perceberem que aspectos
permeiam e que argumentos são utilizados para justificar as palavras que
representam o sexo masculino e o feminino.
Mulher
Exemplos:
Sensível
Comida
Maternidade
Beleza
Homem
Forte
Segurança
Paternidade
Dependente
QUADRO 3 – PAINEL DAS PALAVRAS DE DESCRIÇÃO DO FEMININO E DO MASCULINO FONTE: O autor (2011)
13
Ficando a critério do/a professor/a utilizar outras metodologias para atingir os
fins, pois cada professor/a conhece sua realidade escolar, seu aluno e tem suas
particularidades.
2.1.3 Recursos/Materiais
Os materiais a serem utilizados: papel sulfite, pincéis atômicos, fita crepe e
máquina fotográfica digital para registrar os painéis.
2.1.4 Avaliação
O/a aluno/a deve ser capaz de identificar e interpretar as diferenças que são
construídas socialmente, conforme uma dada cultura estabelece em relação a
homens e mulheres, mostrando que essa construção é relacional no que se refere
ao outro sexo.
2.1.5 Orientações/ recomendações ao professor
A metodologia da atividade está pautada pelo método participativo que
permite a produção conjunta de conhecimentos sobre a temática, com as
intervenções necessárias do/a professor/a no grupo. Instigando-os para um pensar e
repensar a respeito da constituição do conceito de gênero que são pautados no
biológico.
A orientação aos/as professores/as é de que não desanimem diante das
dificuldades que possam ocorrer, pois fazem parte do processo educacional que visa
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à diversidade humana. Por isso é necessária a visibilidade das questões que
norteiam as relações de gêneros e intra-gêneros e a sexualidade no espaço escolar
que também é socializador. Portanto essas relações estão presentes no dia-a-dia
escolar de forma muitas vezes oculta e implícita.
Se a turma não está habituada a realizar determinada atividade (construção
do conhecimento participativo), então é interessante uma preparação da turma,
fazendo outras atividades que envolvam a mesma dinâmica de forma sutil, antes de
aplicar a atividade propriamente dita. Cabe ao/a professor/a observar e conhecer a
sua própria turma.
3 UNIDADE II – Identidades de gênero e sexo generificadas na família e na escola
As identidades de gênero e sexuais são construídas socialmente em um
momento histórico e cultural sendo passadas de geração por geração por meio das
instâncias socializadoras (família, escola, igreja-religião, mídia) da sociedade.
Cabendo salientar duas instituições que são referenciadas como
responsáveis pela educação e cuidado com os novos membros da sociedade
(crianças) sendo elas: a família e a escola, portanto são elas “as principais
responsáveis pelas masculinidades e feminilidades que estão sendo formadas em
nossa sociedade” (Marilia Gomes de Carvalho e Nadia Covolan, 2009, p.10). É no
processo educativo que engloba o ambiente familiar e escolar que os padrões de
comportamentos, as regras sociais, os valores éticos morais, os costumes,
estereótipos são transmitidos para as crianças.
Primeiramente gostaria de fazer uma distinção entre sexo e gênero, embora
estejam relacionados, não são a mesma coisa. O sexo é a condição biológica
(pênis/vagina) e gênero é uma construção cultural. Para Margareth Diniz; Renata
Nunes Vasconcelos e Shirley Aparecida Miranda, apud, Marília Gomes de Carvalho
e Cintia Souza Batista Tortato, (2009, p.24): “Diferentemente do sexo, o gênero é
uma produção social aprendido, representado, institucionalizado e transmitido ao
longo de gerações.” Refere-se aos processos culturais que estruturam e (re)
produzem a feminilidade e a masculinidade pelos quais são acentuados nos projetos
15
e representações sobre mulheres e homens. Neste sentido o gênero é uma
categoria relacional e plural, pois a diferença não é apenas entre meninos e
meninas, mas também entre os homens e entre as mulheres, isto significa que
existem vários modelos de ser homem e, conseqüentemente, muitos modos de ser
mulher (Maria Regina Ferreira da Costa, 2008, p.11).
Ainda nesta vertente Daniela Auad nos fala que “o gênero não é sinônimo
de sexo e as relações de gênero correspondem ao conjunto de representações
construído em cada sociedade ao longo de sua história, para atribuir significados,
símbolos e diferenças para cada um dos sexos” (2006, p.21).
Paramos para pensar um pouquinho como tudo é construído a partir do
nosso nascimento, ou melhor, assim que somos concebidos. Há vários mecanismos
que são institucionalizados para que seja direcionado conforme o padrão
estabelecido de ser homem e de ser mulher na sociedade ocidental, que ainda tem
como predominância à família patriarcal heterossexual fundada no poder masculino
e na educação diferenciada entre os sexos (Maria do Carmo Saraiva, 2005; Maria
Regina Ferreira da Costa, 2008).
Tal problemática pode ser percebida de forma sutil e naturalizada no
exemplo da mãe que espera um/a filho/a do sexo masculino/feminino, onde se cria
um mundo masculinizado/feminizado pela cultura, pela sociedade que determina e
estabelece padrões estereotipados de ser homem e de ser mulher.
A mulher ao engravidar já fica pensando no sexo do bebê e as pessoas
também ficam curiosas para saber o sexo, até ai tudo bem. O problema surge a
partir das amarras e representações que se projetam e determinam o que é ser
menino o que é ser menina, por meio simbólico e depois com o passar do tempo
será ensinado de diferentes formas como se deve comportar/agir e até se expressar
oralmente e corporalmente meninos e meninas.
É neste sentido que Jocimar Daolio (1995, p.101) “afirmar que há uma
construção cultural do corpo feminino diferente da construção do corpo masculino”
que vai além das diferenças biológicas. Portanto o comportamento tem a influência
direta do processo de socialização ocorrido junto à família, à escola, à midia , aos
amigos etc. e que é historicamente marcada pela subordinação da mulher ao
homem. Trata-se de um fenômeno cultural que tem se arrastado por séculos (Elaine
Romero, 1995).
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Desde que nascemos somos ensinados a ser homem ou mulher conforme a
decoração do quarto e as roupas, cuja predominância simbólica nestes casos seja a
cor azul para o masculino e rosa para o feminino, mas que na verdade são cores
como outras quaisquer. Então indagamos: Será que as meninas preferem a cor rosa
ou isso foi internalizado a elas durante a sua socialização? Ao mesmo tempo em
que os meninos rejeitam tal cor devido à imagem que é associada a qual pode ferir a
sua sexualidade, ou seja, ser considerado feminino (Claudia Amaral dos Santos,
2004; Diretrizes de gênero e diversidade, 2010; Maria Regina Ferreira da Costa,
2008).
Dessa forma a criança vai crescendo socialmente dentro de processo
educacional que direciona os papéis diferenciados para cada sexo. Isso ocorre de
uma forma sutil naturalizada, que nem percebemos como é equivocada tal
educação. Isso leva-nos a procurar compreender “mecanismos que causam em
ambos os sexos um comportamento tão conforme às representações que
correspondem ao masculino e ao feminino socialmente aceitas” (Maria do Carmo
Saraiva, 2005, p.99). Destes papéis espera-se que “os homens sejam fortes,
independentes, competitivos, competentes e dominadores, para as mulheres, a
expectativa é de que sejam mais dependentes, sensíveis, afetuosas e que suprimam
impulsos agressivos sexuais"( Elaine Romero, 1994, p.227).
A criança vai construindo uma identidade masculina ou feminina por meio
das percepções pessoais e sociais, segundo o repetório de formas e regras de
comportamentos que estão disponÍveis ao seu sexo, assim a criança vai percebendo
se é um menino ou uma menina.
Dentro desta compilação destaca-se os brinquedos e as brincadeiras que
também fazem parte da construção da educação familiar e que servem para moldar
os papéis sexuais, aparentemente tão inocentes e inconsequentes. Que na verdade
prepara os homens para serem futuros detentores do poder e as mulheres para a
missão de dona-de-casa e mães (Maria do Carmo Saraiva, 2005).
Vejamos de que maneira isso se processa!
Geralmente os meninos são presenteados com bolas, carros, espadas,
guerreiros, etc; já as meninas recebem bonecas, utensílios de casa em miniatura
( fogão, pia, panelinhas, talheres, etc.); estojo de maquiagem, etc. Enfim, os garotos
são estimulados desde pequenos a brincar na rua ( futebol, pipa, subir em árvores,
carrinho de rolemã, skate, bolinha de gude, bicicleta, taco, etc), caracterizando um
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estilo de movimentação, agressividade e esforço muscular; já as garotas brincam
no ambiente familiar de boneca, casinha, maquiagem, amarelinha, professora, e etc,
que incluem objetos relacionados com o governo da casa e o culto à beleza (Maria
Regina Ferreira da Costa, 2008; Jocimar Daolio,1995; Maria do Carmo Saraiva,
2005).
De acordo com que foi relatado pode se dizer que o adulto é que direciona a
criança “de que” brincar e “com o que” pode e deve brincar? Para refletir!
Contudo essas questões são aprendidas, ensinadas culturalmente pela
sociedade, como célula mãe é a família que internaliza a educação tradicional, onde
preconiza a valorização masculina e a submissão feminina, doutrina as meninas ao
cuidado do lar (esposo, filhos, pais) e os meninos ao sustento do lar (trabalho,
domínio do poder, responsabilidade financeira).
A partir do rol de polarização estabelecido entre as ações e os objetos de
“interesse”- que, como visto, podem ser direcionados e manipulados- colocados “à
disposição de meninas e meninos nas primeiras etapas de socialização (família),
não fica difícil entender o quanto se torna problemática a inserção da criança que
contradize a conduta preconizada e predominante nos campos sociais e culturais de
uma dada geração.
Quem nunca chamou atenção do seu filho/a com comparações que remetem
aos comportamentos e atitudes ditas como masculinas ou femininas. Exemplos: Não
chora menino! Você é um Homem! Você é um homem ou um rato? Homem não usa
brinco! Largue essa boneca, menino Homem não brinca de boneca! Senta direito!
Feche as pernas, meninas! Você já está ficando uma mocinha! Menina não
responde aos mais velhos! É feio! Menina brinca de bonecas! Menina não brinque
deste jeito que vai sujar sua roupa!
Diante destes exemplos anota-se que somos educados com uma porção de
regrinhas que polarizam o sexo, que são construídas a partir do contexto social e
cultural do qual estamos inseridos, que vão se solidificando à medida que
crescemos.
Segundo Marcos Ribeiro (1990, p.50) “A Verdade é que aprendemos todas
essas coisas só dessa maneira - meninas fazem isso e meninos fazem aquilo. E
nem paramos para pensar se essa é a maneira mais certa ou se é a única maneira.”
18
Outra dimensão importante a ser observada no processo de socialização da
criança é a escola, como ela também contribui na formação da identidade de gênero
e sexo.
A escola como aparelho ideológico do Estado, é responsável por favorecer
uma educação que transmita e reforce os padrões de comportamentos culturalmente
estereotipados, auxiliando na reprodução das desigualdades que existem entre
homens e mulheres. Sendo assim, dentro do ambiente escolar os comportamentos
dos indivíduos são distintos, gratificados ou punidos, segundo as expectativas do
modelo masculino ou feminino que o professor tem para um ou outro sexo. Dessa
forma a dicotomia agressiva - passiva, repercute no convívio social da criança
(Elaine Romero, 1994, p. 228).
A escola delimita espaços, se serve de símbolos e códigos, afirma o que
cada um pode ou não pode fazer e ainda separa e institui lugares dos pequenos e
dos grandes, dos meninos e das meninas (Guacira Lopes Louro, 1997, p.58).
Quando meninas e meninos chegam à escola, já têm interiorizada a maioria
dos padrões de conduta que os diferenciam. A escola é um lugar privilegiado para
introduzir uma mudança profunda na mentalidade dos indivíduos no que diz respeito
aos padrões e os modelos de representação. Para que isso seja possível, é
necessário tomar consciência dos mecanismos inconscientes de transmissão do
modelo que se quer modificar (Montserrat Moreno, 1999, p.30).
A construção de identidades dar-se-á em diversos espaços e instâncias,
mas sem dúvida, a escola é uma das mais importantes delas, pois leva os indivíduos
a produzirem e a reproduzirem identidades, diferenças, distinções e desigualdades.
A escola imprime um ritmo, uma postura nos indivíduos (homem-mulher) que
envolvidos por inúmeros dispositivos e práticas constituem suas identidades
“escolarizadas”, integrando nelas as marcas que confirmam e produzem as
diferenças e as hierarquias. Todos esses “marcadores sociais são atravessados
pelas diferenças confirmando-as e reproduzindo-as. Evidentemente que os sujeitos
não são passivos receptores de imposições externas. Ativamente eles se envolvem
e são envolvidos nessas aprendizagens – reagem, respondem, recusam ou as
assumem inteiramente” (Guacira Lopes Louro, 1997, p.61).
A criança no seu dia-a-dia, permanece um período significativo na escola. Ali
deve receber por parte do professor importante contribuição no seu processo de
desenvolvimento e na sua formação, pois deve ser este profissional que vai veicular
19
ideias, percepções e conceitos formados sobre a adequação ou não do
comportamento de seus alunos. Acredita-se que o professor está de certa forma
atento quando utiliza percepções imprecisas do “comportamento adequado e
inadequado”, tomando atitudes flexíveis em relação aos alunos. Porém, a educação,
nos dias de hoje, ainda continua sistematizado e reforçando os padrões de
comportamentos masculinos e femininos socialmente aceitos pela sociedade.
Segundo Guacira Lopes Louro (1997, p.62):
[...] entanto no, hoje, outras regras, teorias e conselhos que são produzidos em adequação às novas condições, aos novos instrumentos e práticas educativas. Sob novas formas, a escola imprimindo sua „marca distintiva‟ sobre os sujeitos. Através de múltiplos e discretos mecanismos, escolarizam-se e distinguem-se os corpos e as mentes.
Dentro dessa escolarização diferenciada que impera a lógica do “natural” que
está fortemente enraizada no sexismo1, produzindo e constituindo as diferenças de
gênero, sexualidade, etnia, classe que são asseguradas através dos currículos,
normas, procedimentos de ensino, teorias, linguagem, materiais didáticos e processos
de avaliação. Talvez sejam muito sutis os jogos de poder que tecem estes
dispositivos, mas não podemos deixar de perceber o quanto estamos envolvidos e
somos responsáveis pela manutenção ou subversão desse jogo.
Segundo Guacira Lopes Louro (1997, p.60) “a „naturalidade‟ tão fortemente
construída talvez nos impeça de notar que no interior das atuais escolas, onde
convivem meninos e meninas, rapazes e moças, eles e elas se movimentem,
circulem e se agrupem de formas distintas”.
Dentre os múltiplos espaços e as muitas instâncias, onde se pode observar
o “imperialismo do natural” que usualmente é utilizado para instituir as distinções e
as desigualdades, a linguagem é seguramente o campo mais eficaz e persistente,
pois atravessa e constitui a maioria de nossas práticas. Seguindo regras definidas
por gramáticas e dicionários sem questionar, tornando eficiente veículo de
comunicação. “A linguagem não apenas expressa relações, poderes, lugares, ela os
institui; não apenas veicula, mas produz e pretende fixar diferenças” (Guacira Lopes
1 De acordo com o Novo Aurélio, sexismo é o termo que define atitudes discriminatórias em relação ao sexo oposto. Segundo Amparo, Parra apud Maria do Carmo Saraiva Kunz (1994, p.247) o sexismo refere-se aos conteúdos que condicionam a homens e mulheres no seu desenvolvimento vital e que geram conseqüências na vida cotidiana e no comportamento social.
20
Louro,1997, p.65). Um exemplo clássico em nossa gramática é quanto ao emprego
do masculino plural, independente do número de mulheres, basta apenas um
homem e esta regra gramatical será utilizada, com a explicação de que o masculino
é dominante. Sendo assim, a conformidade com as regras de linguagem tradicionais
pode impedir que observemos por exemplo, a ambigüidade da expressão homem,
que serve para designar tanto o indivíduo do sexo masculino quanto toda a espécie
humana.
Mas a linguagem institui e demarca os lugares dos gêneros não apenas pelo
ocultamento do feminino, mas também pelas diferenciadas adjetivações que são
atribuídas aos sujeitos. Além disso, mais importante que escutar o que é dito sobre
os sujeitos, parece ser perceber o não-dito, aquilo que é silenciado pela escola como
negação da homossexualidade como uma espécie de garantir a “norma”. A
ignorância (inocência) é vista como mantenedora dos valores ou dos
comportamentos “bons” e confiáveis. Sendo assim, os homossexuais servem
apenas como “gozações” e “insultos”, sendo reconhecidos como desviantes
indesejados ou ridículos (Guacira Lopes Louro, 1997, p.68).
Neste sentido, é essencial que os educadores/as voltem seu olhar
especialmente para as práticas cotidianas que envolvem o processo educacional de
maneira naturalizada em suas atividades rotineiras e comuns nas escolas como:
separação de sexos nas filas e trabalhos em grupos, os meninos serem mais
bagunceiros e indisciplinados, inteligentes, a dominação do masculino nos espaços
do recreio, já as meninas, mais quietas e organizadas, dedicadas. Portanto a
missão como professores/as é desconfiar do que é tomado como natural.
Os/as professores/as devem refletir sobre suas posturas em relação atitudes
ou omissões que podem reforçar ou não, preconceitos de gênero dando atenção
diferenciada a meninos e meninas. Por exemplo; aceitar comportamentos, atitudes
inadequadas dos meninos com argumentos de naturalização „homens é assim
mesmo‟, ou censurar atitudes das garotas com o argumento de „não fica bem para
uma menina‟, quando o correto é chamar a atenção de umas e outros, recorrendo ao
rol de direitos e deveres do cidadão (Maria Regina Ferreira da Costa; Rogério
Goulart da Silva e Raphael Fabrício de Souza, 2005, p.82).
É necessário que a família e a escola lutem contra o preconceito e a
reprodução de desigualdades na sociedade, mas para que isso ocorra é preciso que
pais e educadores/as tenham um olhar atento às questões da diversidade sexual e
21
das construções de gênero para que possamos interferir no processo socializador de
preconceito e de discriminação.
Entender que existem corpos marcados por diferenças biológicas, mas que
também são marcados pela socialização. Para Viviane Teixeira Silveira (2010, p.20)
“é importante estimular outras formas de constituição de identidade nas crianças e
adolescentes, que não venha somente ao encontro do que é esperado em termos de
papéis de gênero”. Isso quer dizer que podemos estimular nos meninos que sejam
carinhosos, gentis, e a dança. As meninas podem ser motivadas a gostar de carros
e de futebol sem que isso interfira na sua vivência da sexualidade, ou seja, não vai
se tornar com isso menos homens e as mulheres não vão perde a sua feminidade.
3.1 Atividades/ técnicas
Atividade a ser desenvolvida nesta unidade didática é um questionário
composto de dados de identificação e perguntas direcionadas aos/as alunos/as e
aos seus responsáveis, com o objetivo de verificar se educação atual ainda está
focada na educação diferenciada de meninos e meninas, por meio dos brinquedos e
brincadeiras, ou seja, relacionadas à questão de gênero pontuada na infância
genereficada no espaço familiar e escolar.
Cabendo ao/a professor/a o levantamento estatístico através do questionário
por turma, usando métodos de apresentação de dados em forma de porcentagem,
gráficos ou descritivos para os/as jovens.
Questionário em anexo.
22
3.1.1 Recursos/Materiais
O material a ser utilizado sulfites, quadro negro e giz e TV pendrive para
análise e apresentação dos resultados em relação à pesquisa realizada pelos/as
alunos/as.
O recurso a ser disponível é a impressão do questionário para ser
distribuídos aos/as alunos/as.
3.1.2 Avaliação
A avaliação será composta por etapas: entrega do questionário, análise e
interpretações dos dados estatísticos apresentado pelo/a professor/a referente ao
questionário. O/a aluno/a deve ser capaz de identificar como os espaços familiares
e escolares influenciam na sua maneira de ser homem e de ser mulher.
3.1.3 Orientações/ recomendações ao professor
É importante que o/a professor/a deixe claro o objetivo da atividade para
os/as alunos/as assim como a sua participação, pois a proposta é a verificação da
construção da sua própria identidade de gênero.
Sabe-se da cultura adquirida pelos alunos do “Vale nota professor?” em
relação a sua participação e desempenho em concluir a tarefa. Diante desta
situação, aconselha-se que a princípio se adote um conceito a atividade, pois
também sabemos das barreiras e empecilhos que os alunos colocam para a prática
pedagógica em sala de aula, porque preferem apenas as aulas práticas com
atividades esportivas.
23
4 UNIDADE III – Estereótipos produzidos a partir do futsal
Como mencionado anteriormente, cria-se uma expectativa em torno dos
comportamentos ditos masculinos e femininos, evidenciados fortemente pela
diferença sexual na biologia dos corpos sexuados. Contudo, não podemos esquecer
os aspectos culturais que estão engajados no processo genereficador.
Deste modo, quando uma pessoa apresenta um comportamento que foge do
esperado é considerada desviante, passando assim a ser discriminada e
marginalizada pela sociedade. Neste aspecto fica difícil para as meninas e também
para os meninos assumirem determinados comportamentos que contraria os
ditames sociais, pois sofrerá preconceito e estigmas, então se torna mais cômodo
cumprir com os padrões pré-estabelecidos pela sociedade e assim ser valorizado e
aceito por ela. Segundo Jocimar Daolio (1995, p.103), “para uma menina assumir
determinados comportamentos [...] como ser mais agressiva ou jogar futebol, implica
ir contra a tradição. Implica ser chamada de „machona‟ pelos meninos ou ser
repreendida pelos pais”.
Entretanto, estas situações não ocorrem apenas com as meninas, uma vez
que os meninos também são julgados pelo seu grupo ao apresentar certa resistência
à modalidade esportiva considerada genuinamente masculina como o futsal, sofrerá
uma discriminação do seu próprio grupo e será também rotulado.
Toda esta pressão acarreta a eles certo julgamento que perpassa a
sexualidade, ou seja, assumir uma postura delicada, mais afetiva e brincar sempre
com meninas implica ser chamado de “bicha”, “boiola”, “frutinha” ou efeminado.
Portanto “as relações construídas por meninos e meninas marcadas pelo simultâneo
controle e cruzamento das fronteiras de gênero” (Helena Altmann, 1999b, p.115).
No caso do esporte, o futsal ou futebol por exemplo, são práticas marcadas
pelos valores e estruturas predominantemente patriarcais, onde as ações e atitudes
estão associadas ao corpo feminino e masculino que fazem parte da construção da
masculinidade e feminilidade estereotipadas. Cabe salientar que o corpo feminino é
construído diferentemente do corpo masculino, pois desde o nascimento a família já
24
trata meninos e meninas de modo diferenciado, não significando porém, que um não
possa transitar no universo do outro.
Portanto os aspectos que permeiam a não participação das meninas nas
atividades que requerem diferentes habilidades motoras, das quais são negadas as
oportunidades a elas pelo que acima argumentei, referem-se às diferenças
biológicas que as classificam como “menos habilidosas, choronas e também pelo
fato de terem uma finalidade dentro da sociedade patriarcal que é ser progenitora,
ser mãe” (Maria Regina Ferreira da Costa, 2008, p.12).
Situação que pode ocasionar um „processo de antalização‟ sobre as
meninas no que se refere às diferenças motoras entre os sexos, que são
construídas culturalmente e portanto, não são naturais, como preconiza a biologia.
Podemos afirmar concretamente que não é “a biologia que vai dizer o que somos
enquanto homens e mulheres e o que podemos chegar a ser ou fazer em termos de
práticas corporais ou na vida de modo geral” (Maria Regina Ferreira da Costa, 2008,
p.12).
Este cenário que preconiza uma polarização em torno do sexo, onde são
construídas a dominação e a submissão do poder masculino sobre o feminino,
enfatiza que jogar futebol é coisa para macho, isso implica também excluir não
apenas as meninas, mas também os meninos que são educados de modo mais
sensível, delicado, sem contar com aqueles que são excluídos por serem mais
gordinhos, “perna de pau” e etc. Privilegiando-se apenas aqueles que correspondem
ao modelo de masculinidade coincidente com o esporte competitivo. Neste ponto,
deveríamos pensar se o conteúdo ministrado não está direcionado apenas para
aqueles que já possuem certo domínio daquela modalidade esportiva, tornando-se
excludentes para os demais. (Maria Regina Ferreira da Costa, Rogério Goulart da
Silva e Raphael Fabrício de Souza, 2005).
Enfim, o conteúdo esportivo está inserido nas aulas de Educação Física na
escola, em uma visão do futebol/futsal na escola e não da escola, que tem uma
conotação diferenciada entre ambos, aquele que se restringe exclusivamente aos
aspectos técnicos (promove a exclusão de meninos e meninas) e o outro possibilita
modificação nas regras conforme a necessidade de atuação de meninos e meninas
com a ampliação das vivências corporais para todos e todas.
Por este motivo as meninas não necessitam ser comparadas sempre com os
meninos (com o modelo masculino), mas a oferta das práticas corporais deve ser
25
diferenciada nas aulas de Educação Física, de forma que prevaleça o respeito à
diversidade, à diferença. Relembro que os conflitos quando tratamos desta temática
farão parte desta estratégia, pois o sexismo está presente na escola, na mídia e em
outros grupos sociais. No entanto, o/a professor/a deve estar atento para dar suporte
às meninas no enfrentamento do problema através do diálogo individual ou coletivo,
(Maria Regina Ferreira da Costa, 2008, p.19).
È evidente que o futebol é considerado uma paixão nacional, onde tem como
maior incentivador e divulgador a mídia que dá ênfase nas transmissões dos
Campeonatos Municipais, Estaduais e Brasileiros da categoria masculina, e ainda
destaca-se as conquistas realizadas nos Eventos Mundiais e Olímpicos
enobrecendo e ressaltando o gênero masculino. O feminino é esquecido pela mídia,
só é lembrado nos Eventos Oficiais (Copa do Mundo ou Olimpíadas) e quando surge
uma atleta de destaque no âmbito da técnica e da habilidade que foge do padrão
esperado para o feminino. Que é o caso da jogadora de futebol Marta, a qual foi
eleita cinco vezes a melhor do Mundo, assim tornando momentaneamente visível o
futebol feminino por um destaque individual, correndo o risco de cair no
esquecimento tão rápido como foi o sucesso. Isso demonstra o quanto a sociedade
é machista, tradicionalista e sexista, que utiliza de manobras para manter a mulher
no mundo doméstico e não permitindo a ela o acesso ao mundo público.
Portanto, sendo a escola um dos ambientes socializadores e de referência
na formação do indivíduo, cabe a ela oportunizar as/os alunas/aos a desmistificação
do futsal por meio de ações pedagógicas que desfaçam a imagem do dualismo
esportivo e que possam ser indagadas as questões que envolvam a permissão e
restrições no universo público e de que maneiras são estabelecidas e solidificadas
nas relações de gênero, destacando-se o que está além das quatro linhas.
Essas ações pedagógicas conjuntas entre meninas e meninos, a princípio
geram conflitos, podem ocasionar certo “incômodo a todos os envolvidos no
processo de ensino-aprendizagem, mas torna-se necessário à medida que amplia o
entendimento de que a prática esportiva é um direito de todos” (Eliene Lopes Faria,
1997, p.329), independentemente do gênero, da sexualidade, da etnia.
26
4.1 Atividades/ técnicas
A atividade a ser desenvolvida nesta unidade pedagógica utiliza de artefato
tecnológico (vídeo), tendo como objetivo a indagação e inquietações a respeito da
temática gênero dentro do conteúdo específico futebol/ futsal, por meio deste
instrumento que possibilite a aproximação das questões que permeia a
discriminação, preconceitos, as desigualdades sociais e outros, possibilitando a
eles/as um despertar crítico na constituição dos estereótipos tidos como “verdades”,
ou seja, desconstruindo o sexismo.
Os/as aluno/as assistirão trechos do filmes: “Ela é o Cara” e “Gracie”, cujo
enredo está focado na visibilidade feminina no futebol.
O filme Ela é o Cara conta o sonho de uma adolescente (Vaiola) de jogar
futebol. Ao descobrir que o time feminino de futebol é cortado de sua escola, ela
resolve se disfarçar de seu irmão (Sebastian) gêmeo para jogar no time masculino
da escola dele. Essa jovem se deixou levar por um desejo que não a impediu de se
motivar em realizar... sua mãe a queria como donzela de contos de fada, vê-la em
um lindo vestido de debutante . Na escola do seu irmão dividia o quarto com (Duke)
pelo qual acaba se apaixonando, ao mesmo tempo em que começa a ser assediada
por (Olivia), a garota por quem Duke é apaixonado. As coisas ficam mais
complicadas ainda quando o verdadeiro irmão de Viola, Sebastian aparece no dia do
jogo de futebol.
O filme Gracie conta a história de uma adolescente que é a única menina da
família Bowen, ela tem três irmãos e vivem na cidade de New Jersey . Toda a vida
de sua família gira em torno do futebol, que tem o filho mais velho (Johnny) como
estrela do time de futebol da faculdade. Mas uma tragédia inesperada muda a vida
de Gracie quando seu irmão (Johnny) morre em um acidente de carro. Para
preencher a lacuna que o atleta deixou, sua irmã Gracie decide que irá fazer parte
da equipe masculina de futebol. Enfrentando o preconceito e as dificuldades físicas
de adaptação, a garota tem que desafiar todos os seus limites para honrar o irmão e
paralelamente faz com ela inicie uma luta pelo direito de todas as garotas jogarem
em times de futebol competitivos.
27
Após as apresentações dos trechos dos filmes os/as alunos/as será
realizado um debate para levantar as questões pertinentes representadas pelo filme.
Quais são os preconceitos apresentados nos filmes?
Quais as dificuldades enfrentadas pelas protagonistas (Viola) e (Gracie) dos filmes?
Quais as dificuldades e os preconceitos que as meninas encontram hoje para jogar
futebol?
Que essa abordagem sirva com meio de discussão e problematização deste
tema no espaço escolar, possibilitando uma educação emancipatória e não sexista.
Assim contribuindo para um olhar mais atento na superação das desigualdades e
discriminação entres os gêneros, portanto respeitando a diversidade, a diferença.
Rompendo e quebras de paradigmas sociais, políticos, culturais, voltada para uma
educação igualitária e mais junta.
4.1.1 Recursos/Materiais
Para desenvolver a atividade proposta é preciso utilizar os recursos
tecnológicos que já se encontram disponíveis na maioria das Escolas do Estado
do Paraná, que é a TV pendrive. Sendo assim, é possivel transmitir trecho do filme
“Ela é o cara” e “Gracie” em sala de aula, que pode ser encontrado na internet em
video a gravar no pendrive o trecho do filme ou também pode ser transmitido por
meio do aparelho de DVD, através do “empréstimo” do DVD na locadora.
4.1.2 Avaliação
Os alunos deverão ser capazes de identificar os valores sociais e culturais
que foram apresentados no recorte do filme e as suas implicações nas relações do
gênero, as desigualdades dos sexos, a normatização, marginalização, discriminação
e os preconceitos, que serão apresentados por meio de um debate em sala de aula.
28
4.1.3 Orientações/ recomendações ao professor
O/a professor/a terá que primeiro assistir o filme que irá utilizar com os seus
educandos, depois selecionar os trechos que servirão de estratégias de
desenvolvimento da aula para trabalhar uma temática que esteja articulada com o
conteúdo específico. Nesse planejamento é importante pensar em um tempo para o
debate que ocorrerá no dia da exibição do fragmento do filme.
A seleção dos filmes pode ser feita a partir dos critérios: faixa etária,
conteúdo, lingaguem, aproximação ou interesse do tema com o público
(alunos/alunas) e o gênero do fime ( trama, comédia, romance e outros).
O cinema na sala de aula, entende-se como uma possibilidade metodológica
para a discussão dos conteúdos escolares e dos assuntos pertinentes que precisam
ser inseridos no currículo, neste caso específico relações de gênero que permeia o
conteúdo de futsal/futebol. Com isso, pretende-se um diferencial nas aulas,
procurando atrair a atenção de alunos/as e tornando mais interessante a eles/elas.
Ao se trabalhar com filmes produzidos comercialmente é importante alguns
cuidados a respeito da Lei de Direitos Autorais nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998,
que regulamenta os direitos autorais do autor e os que lhe são conexos, regulando a
produção e reprodução parcial ou total de uma obra para qualquer fim. Sobre isso, o
Dr.Nehemias Gueiros Júnior, advogado especialista em Direitos Autorais, citado por,
Dayana Brunetto Carlin dos Santos nos diz:
Com relação á exibição de filmes, seja na íntegra ou trechos, não há qualquer problema, contanto que sejam sempre e TÃO SOMENTE exibidos em salas de aulas, como parte de um conteúdo didático, sem qualquer cobrança de ingresso ou outra receita de qualquer natureza. E SEMPRE DANDO O CRÉDITO DO FILME: título, nome do estúdio e do produtor, dos atores principais e o ano original de lançamento (2009, p.65).
Entretando, vale ressaltar que a a Lei é incisiva na proibição expressa em
relação a produção de cópias de filmes, portando é melhor tomar devidos cuidados
para evitar aborrecimentos futuros.
29
4.1.4 Sugestões de filmes relacionados com a temática
a) Driblando o destino: História de uma família indiana que vive em
Londres com as suas filhas Pinky (filha mais velha) e Jess (caçula)
que são educadas conforme a tradição indiana. A família leva um
choque quando sua filha caçula decide ser jogadora de futebol,
diferentemente de sua irmã mais velha que está se preparando para
um suntuoso casamento indiano. Jess sonha em jogar futebol
profissionalmente como o seu ídolo David Beckham. Entretando ela é
forçada a fazer a escolha entre a tradição do seu povo e o seu amado
desporto.
b) Minha filha é um Quarterback: História verdadeira de Jasmine Plummer
que aos 11 anos se tornou a primeira menina a fazer parte de um time
de futebol americano infanto-juvenil.
c) Coisas de Meninos e Meninas é uma comédia romântica sobre dois
vizinhos adolescentes que levam vidas completamente diferentes, Nell
e Woody que se odeiam com fervor. Durante uma excursão a um
museu os dois têm uma grande discussão à frente de uma estátua de
um feiticeiro asteca, que vai mudar por completo a maneira como cada
um vê o mundo. No dia seguinte ao acordarem percebem que estão no
corpo do seu maior rival. Nell e Woody procuram então voltar de todas
as formas aos seus corpos. Mas após algumas tentativas falhas,
ambos decidem procurar arruinar a vida um do outro. Entretanto, os
dois começam a entender os problemas do outro e, apesar das
diferenças, se apaixonam.
30
5 UNIDADE IV- Co-educação no futsal: uma proposta de superação do sexismo
Atualmente “as aulas de Educação Física, na maioria das escolas são
mistas, porém no momento da execução, de modo geral são separadas por sexo, ou
seja, primeiro jogam as meninas e depois os meninos” (Maria Regina Ferreira da
Costa, 2008, p.16), ou ainda, os espaços escolares são determinados por
“atividades polarizantes onde as meninas jogam voleibol e os meninos jogam
futebol”. (Maria Regina Ferreira da Costa, Rogério Goulart da Silva e Raphael
Fabrício de Souza, 2005, p.86). Essas práticas reafirmam valores e normas do
modelo masculino – tais como: ocupação diferenciada do espaço físico durante as
aulas, desvalorização dos saberes da cultura feminina, norma masculina para
conteúdos – reforçando e consolidando as atitudes sexistas.
Para romper com tais práticas a Educação Física mista com perspectiva co-
educativa pode ser uma alternativa, pois a mesma trabalha com princípios de
igualdade de oportunidades, diversidade e equidade. No entanto, para que ela se
efetive é necessário reconhecer que as meninas são predominantemente
discriminadas no modelo masculino e os meninos que não correspondem ao modelo
do sexo forte, também sofrem com a discriminação. Tais aspectos são fundamentais
para compreender as dificuldades de aprendizagem que apresentam, pois alunos/as
não foram incentivados a determinadas práticas corporais, neste caso o futebol.
Sendo assim, para que eles/elas participem efetivamente do jogo, é necessário
ensiná-los/las os fundamentos técnicos ou gestos técnicos, respeitando as
diferentes potencialidades e os interesses individuais (Maria Regina Ferreira da
COSTA, 2008).
Nesta perspectiva pedagógica é importante que as meninas e os meninos
recebam as mesmas atenções e possam vivenciar as mesmas práticas, assim
desenvolvendo a compreensão de diferenciadas manifestações e representações do
agir esportivo. Portanto, a aula de Educação Física precisa ofertar a ambos as
mesmas modalidades com possibilidade de vivenciar os mesmos espaços. Contudo,
os momentos e formas de execução podem ser diferenciados dependendo da
necessidade de cada um.
31
Sejamos justos: nem todos os meninos são hábeis e nem todas as meninas
são inábeis, depende muito da atividade em questão e da vivência de oportunidade
oferecida e vivenciada pelos/as alunos/as, ao longo do processo ensino-
aprendizagem.
Essa graduação pode ser alterada “dependendo da atividade realizada. Ora,
se a prática proposta na aula fosse uma coreografia de dança, talvez os meninos se
sentissem “antas” (Jocimar Daolio,1995, p.100).
E nesse sentido percebe-se que já esboçam uma classificação das técnicas
corporais, que inclui o sexo como um dos critérios de divisão do corpo feminino em
relação ao corpo masculino pela construção cultural. Não quero aqui negá-la, mas
sim, considerar o processo de “antalização” que ocorre nas aulas de Educação
Física.
Para romper esse processo e vislumbrar uma Educação Física escolar sem
preconceitos, que propicie a todos/as e a cada um, pleno desenvolvimento de suas
habilidades motoras, cognitivas e afetivas, que de certa forma foi delegada
preferencialmente para o sexo masculino, a Educação Física deve primar pelo
direito da igualdade na diversidade, isto é, reconhecer as diferenças entre todos/as,
sem antas2 e tampouco com trogloditas3.
A aula mista de Educação Física não garante por si só a co-educação, ela
“constitui um meio e um pressuposto necessários, mas não suficientes para a co-
educação” (Daniela Auad, 2006.p.10), sendo assim é fundamental a implantação da
dupla socialização, ou seja, co-educação nas práticas pedagógicas dos/as
professores/as.
A socialização e a educação estão fortemente ligadas, portanto, cabe aos
professores/as enfatizá-las com ações organizadas e conscientes capazes de fazer
mediação entre as práticas corporais, necessidades dos/as alunos/as e o contexto
de vida social.
2 Segundo Jocimar Daolio (1995, p.99) o termo utilizado “anta”, por uma menina ao errar um bola fácil na aula de Educação Física no estado de São Paulo, para referenciar a pessoa (principalmente mulheres) lenta, pesadas e descoordenadas é de uso nacional, sendo associado de forma pejorativa e preconceituoso ao animal, que apresenta-se com peso elevado e ,conseqüentemente, lentidão.
3 Referenciado aos meninos pelas características: agressivos, brutos, fortes e livres, que são embasados pelo determinismo biológico.
32
No papel que o/a professor/a desempenha no processo educativo é
essencial que este/a perceba e estejam atento/a as facetas que veiculam as
desigualdades no âmbito escolar, que embora sutis, preconizam preconceitos
quanto aos modelos que destoam dos padronizados pela sociedade. O/a professor/a
deve estar ciente de que ele/ela “pode sim influenciar na construção cultural do
corpo de seus alunos, resta saber se está preparado para essa tarefa” (Jocimar
Daolio, 1995, p.105).
Precisamos refletir para romper as fronteiras do gênero em nossa instituição
escolar. Sabemos o quão difícil esta tarefa se apresenta, pois somos parte desta
história cultural, mas para que isso aconteça, temos que estar engajados nesta
causa e com desejo de mudança, mesmo que haja resistência por parte dos
educandos/as e educadores/as diante dos fatos sociais decorrentes, pensemos que
através dos conflitos crescemos, aperfeiçoamos e nos transformamos!
Esperamos que a Educação Física Co-educativa, numa perspectiva de
transformação social possibilite a desconstrução do estereótipo sexual para
aceitação de uma cultura de gênero, fecunde o respeito à diversidade e compreenda
as diferenças entre as relações de gêneros (Maria do Carmo Saraiva, 2005, p.182).
5.1 Atividades/ Técnicas
As atividades a serem desenvolvidas tem que primeiramente dar
oportunidades de vivência aos/as alunos/as que são considerados pelo seu grupo
como “não hábeis” à prática esportiva do futsal por meio da co-educação , ou dupla
socialização, portanto onde preconize que meninos e meninas realizem as
atividades em conjunto e que possam estar discutindo e vivenciando as diferenças e
respeitando-as. Porém para que isso ocorra, é necessário que os/as educadores/as
percebam o nível de comprometimento que eles apresentam em relação ao
manuseio da bola com os pés, o controle de bola, condução da bola e os domínios
da bola, que são condições técnicas mínimas para jogar o futsal na escola.
Então é primordial que se ensine primeiro os fundamentos aos/as alunos/as
em uma ou mais aulas, conforme o nível do conhecimento da sua turma, para que
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jovens possam exercitar os elementos que compõem o futsal como: recepção de
bola, passes, domínios (coxa, peito ou ombro e cabeça), chutes, por meio de
educativos pedagógicos em duplas, trios, círculos, dando condições de apreender e
apropriar do conhecimento motor que futsal exige. Após todas as vivências
corporais relativas aos fundamentos, agora que eles/elas adquiriram uma confiança
em si mesmo e, juntamente com a transmissão segura e tranquila do conteúdo
básico, especificamente futsal, que o/a professor/a tente passar no processo
ensino-aprendizagem dos jovens, por meio da participação coletiva, discutindo e
problematizando as situações de conflitos, como um meio de inibir o preconceitos,
discriminação e desigualdades entre os sexos.
A segunda atividade a ser proposta é a superação do sexismo como um
marco na co-educação, a ideia principal desta atividade foi pautado na intervenção
pedagógica, cuja abordagem é critico-emancipatória que postula a transformação
didática-pedagógica do esporte (Elenor Kunz, 2004). Essa é uma das possibilidades
diferenciadas das práticas que existem na Educação Fisica Escolar, sendo uma
estratégia importante de inovação pedagógica para que estimule os/as alunos/as
que sofrem algum tipo de preconceito, a participar e atuar nas atividades propostas
superando e lutando pelo seu espaço de direito.
Nos escritos pesquisados em relação a co-educação a maioria surgerem
como estratégia de ação jogos cooperativos e os lúdicos, pela argumentação da
participação coletiva e pela colaboração com o outro para o sucesso. Então
pensando um pouco ..., resolvi ousar no sentido de propor um jogo misto de futsal,
sem adaptação de regras, apenas com as estratégias elaboradas pelos times
(número de meninas/meninos por equipe e goleiros/as), sendo a duração do jogo
por 5 minutos, a formação dos times poderá ser por tamanho ou mês de
nascimento. Depois que todos os times vivenciarem essa prática, será aberto um
espaço para discussão dos problemas apresentados durante a execução do jogo,
logo após será permitido que os times que quiserem alterar suas estratégias de
ação, poderão fazer. Então começa a segunda etapa do jogo, a problematização a
respeito do fato dos meninos e meninas jogarem juntos. Como vocês sentem
jogando futsal juntos? Vocês não estão juntos na sala de aula? Por que vocês se
separam na aulas de Educação Física?
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5.1.1 Recursos/ Materias
O material a ser disponibilizado é a quadra, bola e máquina digital com
filmadora para o registro das atividades sem o focar as imagem dos/as alunos/as,
por motivo de direitos de autorais e por vinculação da imagem, isto só permitido
mediante uma autorização do responsável, então optei por visualização panorâmica
da realização das atividades que estará disponível no youtube em formato de vídeo.
5.1.2 Avaliação
Os/as alunos/as deverão ser capazes de identificar os problemas e buscar
soluções para o jogo e, consequentemente para o sucesso não apenas do resultado
motor, e sim de uma dimensão maior que constitui o social e cultural que
impulsione ele/ela a uma tranformação social.
5.1.3 Orientações/ recomendações ao professor
Ao/a professor/a que apresenta uma certa dificuldade em aplicar
determinados educativos para ensinar os fundamentos de futsal, surgiro o Livro
Futsal e a iniciação de Ricardo Lucena Ferreira, editora Sprint e o Livro 1000
exercícios de futsal, se ainda não tiver segurança para exemplicar e executar o os
mesmos, então solicite a colaboração de um aluno que já apresente um domínio e
conhecimento sobre o exercício para que ele demonstre ao/as demais alunos/as,
servindo de modelo.
Na execução dos elementos técnicos primeiramente em duplas por critérios
de escolha dos/as alunos/as e depois sugira que eles troquem essa formação por
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por tamanhos e vai variando as duplas. Após esses exercícios trabalhe em trios em
círculos aumentando gradativamente o nível de complexidade e simultâneamente
se aproximando da situação do jogo.
Cabendo ao/a professor/a diagnosticar o grau de conhecimento da turma
em relação ao conteúdo de futsal e a partir daí planejar o número de aulas
necessárias para o aprendizado dos funtamentos básicos do futsal, logo após a
conclusão do ensino-aprendizagem poderá propor aos/as seus/suas alunos/as o
jogo misto de futsal.
Lembro ao/a educador/a que a Educação Física é mista, porém sabe-se que
existe uma separação interna velada, então surgiro para vislumbrar a prática que
segure o trabalho em conjunto entre meninos e meninas é necessário uma
preparação profissional, onde se aproprie do conhecimento por meio de leituras
sobre a temática gênero e um repensar nos métodos pedagógicos. Para que assim,
possa efetivar uma prática não separatista.
É necessário primeiramente, colocar as meninas para jogar futsal entre
elas, os meninos entre eles sem discrimição de habilidades e por fim o jogo misto
(garotas e garotos jogando junto). Poderá haver resistência por parte dos grupos
masculino e feminino, por diversos fatores, mas temos que deixar claro a eles/elas
que a escola é um espaço privilegiado para discussão crítica do conhecimento
historicamente produzido e os alunos e alunas como sujeitos de direito que
pressupõem, questionar as imposições de padrões e representações sociais na
escola e ainda, que o esporte esta ali para servir como instrumento desta relações
sociais e não como um meio competitivo e elitista, onde priviligie apenas os/as que
tem habilidades, sendo assim excludentes.
O futsal está como trabalho de regime co-educação objetiva problematizar
as relações de gênero, objetivando uma compreensão da construção cultural das
diferentes posições de poder ocupadas pelo feminino em relação ao masculino e
vice-versa na nossa sociedade.
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GLOSSÁRIO
Patriarcado: o constitui-se num conjunto de valores que foram se estabelecendo e
determinando lugares sociais e de poder não só no tocante à relação homem-
mulher, mas também no que se refere à relação mulher-mulher
Androcêntrismo: consiste em considerar ao ser humano do sexo masculino como o
centro do universo, como a medida de todas as coisas, como o único observador
válido do que acontece no mundo, como o único capaz de ditar leis, de impor a
justiça, de governar o mundo.
Heteronormatividade: termo utilizado para expressar que existe uma norma social
que está relacionada ao comportamento heterossexual como padrão. Dessa forma,
a idéia de que apenas o padrão de conduta heterossexual é válido socialmente,
colocando em desvantagem os sujeitos que possuem uma orientação sexual
diferente da heterossexual.
Papeis sexuais: papéis seriam basicamente, padrões ou regras arbitrárias que uma
sociedade estabelece para seus membros e que definem seus comportamentos,
suas roupas, seus modos de se relacionar ou de se portar.
Estereótipos: é o conjunto de características que definem o papel do indivíduo,
enquanto o papel é o conjunto de comportamentos esperados desse indivíduo.
Generificados: no sentido de ser educados/as desde a mais tenra idade nas
maneiras de brincar, comportar, falar, sentir e, até mesmo nos jogos e nos esportes,
utilizando artefatos que venham marcar as diferenças sexuais.
Identidade de Gênero: a identidade de gênero corresponde à experiência de cada
um, que pode ou não corresponder ao sexo do nascimento. É a maneira como
alguém se sente e se apresenta para si ou para os outros na condição de homem ou
de mulher, ou de ambos, sem que isso tenha necessariamente uma relação direta
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com o sexo biológico, sendo composta e definida por relações sociais e moldadas
pelas redes de poder de uma sociedade. Os sujeitos têm identidades plurais,
múltiplas, identidades que se transformam que não são fixas ou permanentes, que
podem até ser contraditórias. Os sujeitos se identificam, social e historicamente,
como masculinos e femininos e assim constroem suas identidades de gênero.
Identidade sexual: Identidades sexuais se constituem através das formas como
vivemos nossa sexualidade.
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REFERÊNCIAS
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ANEXO
Questionário:
Nome do/a aluno/a: _____________________________Série_____Turrma___.
Responsável (mãe, pai, tia/o, avos)___________________________________.
Data de entrega:____ /____/_____
1-Qual foi o primeiro brinquedo que você ganhou, do seu responsável?
a.( ) Bola b.( ) carrinhos c.( ) espadas d.( ) naves e.( ) bonecos heróis
f.( ) soldadinhos g.( ) bonecas h.( ) panelinhas i.( ) fogão e geladeira
j.( ) tábua de passar roupas l.( ) casa de boneca m.( ) estojo de maquiagem
n.( ) outros__________.
2-Quais eram os brinquedos e as brincadeiras que você brincava na infância?
3- Quais brincadeiras, em sua opinião (responsável), os meninos e as meninas
podem brincar juntos?
4- Como você ocupa o espaço do recreio na sua escola?
a.( ) conversando com os amigos b.( ) jogando futebol/futsal
c.( ) jogando voleibol d.( ) lanchando
e.( ) paquera/azarando f. ( ) passeando pela escola
g.( ) outros_____________.