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i
Universidade Federal de Santa CatarinaPrograma de Ps-Graduao em
Engenharia de Produo
QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE
E SUA RELAO COM O TRABALHO,
NO GRUPO DE TERCEIRA IDADE AMOR E CARINHO
DE SANTA TEREZINHA DE ITAIPU - PR
Dissertao de Mestrado
Delci Elena Corbari Pereira
Florianpolis
2002
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ii
QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE E SUA
RELAO COM O TRABALHO
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iii
Universidade Federal de Santa CatarinaPrograma de Ps-Graduao em
Engenharia de Produo
QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE E SUA
RELAO COM O TRABALHO
Delci Elena Corbari Pereira
Dissertao apresentada aoPrograma de Ps Graduao em
Engenharia de Produo, da Universidade Federal de Santa Catarina,
como requisito parcial para obtenodo ttulo de Mestre em
Engenharia de Produo
Florianpolis2002
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ii
Delci Elena Corbari Pereira
QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE ESUA RELAO COM O TRABALHO
Esta dissertao foi julgada e aprovada para a obteno do
ttulo de Mestre em Engenharia de Produo no
Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo da
Universidade Federal de Santa Catarina
Florianpolis, 10 de junho de 2002
Prof. Ricardo Miranda Barcia Ph.DCoordenador do Curso
BANCA EXAMINADORA
Prof. Eugenio Andrs Diaz Merino,Dr.
Orientador
Prof. Francisco Fialho, Dr. Prof. Glaycon Michels, Dr.
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iii
Dedico esse Trabalho
Ao meu marido Adilon, aos meus filhos, Agla e Andr,meu genro Leandro, minha nora Keit, e a minha querida netinha Helosa.
Pela compreenso das horas de ausncia, pelo incentivo e apoio,sem o que no seria possvel a realizao deste trabalho.
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iv
Agradecimentos
Com o objetivo alcanado, manifesto o meu agradecimento a todos que,direta ou indiretamente, contriburam para este estudo, em especial:
A Deus por estar sempre me iluminando.
A Universidade Federal de Santa Catarina.
Eugenio Andrs Diaz Merino, Dr., meu orientador, pelo apoio,confiana e ter esperado o meu tempo.
Aos membros da banca , por aceitarem compor a banca de avaliaodeste estudo, e pela riqueza dos comentrios que faro.
Aos meus pais Alfredo e Romilda, pelos ensinamentosna vontade de lutar sempre.
meus irmos Dalva, Diva, Adelar, Ademar, Claudina e Rosa Maria,pelo estmulo, apoio e preocupao.
Aos meus amigos, cujo convvio tornou mais agradvel e estimulante arealizao deste curso, em especial a Reinalda Blanco Pereira, e a todos os
demais colegas de turma, pelo incentivo, e apoio durante todo o curso.
A todos os membros integrantes do grupo Maturidade Amor e Carinho deSanta Terezinha de Itaipu, que se dispuseram, gentilmente, a participar desteestudo, mesmo no anonimato, A minha eterna gratido, amizade, e respeito .
Prefeitura Municipal pelo apoio e por permitir a utilizao daCasa da Melhor Idade
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v
A funo da cincia no s acrescentar mais anos vida,mas acrescentar mais vida aos anos.(John Osborn)
"Eu fiz um acordo pacfico com o tempo, nem ele me persegue,nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra.(Mario Lago)
"A afirmao da vida o ato espiritual no qual o homem pra de viverirrefletidamente e comea a dedicar-se prpria vida com reverncia, para que
ela passe a ter o seu devido valor.(Albert Schweitzer)
"As pessoas podem transformar as suas vidas transformandoas suas atitudes.(William James)
Os melhores mdicos do mundo so os doutoresRepouso, Dieta e Alegria.(Jonathan Swift)
"O que fazemos conosco agora o mais importante para o amanh.Se no fizermos nada para mudar nossa atitude e o nosso modo de atuar,
amanh parecer ontem, exceto pela data."(Moshe Feldenkrais)
"A maioria dos homens emprega a metade da vida, preparando a infelicidadeda outra metade."(La Bruyre)
Sejamos, com a nossa cincia de viver, um exemplo para os que vm atrs dens.(Autor Desconhecido)
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vi
Sumrio
Lista de Figuras .......................................................................p. viiiLista de Quadros .....................................................................p. ixLista de Tabelas .....................................................................p. xLista de Redues ..................................................................p. xiResumo ...................................................................................p. xiiAbstract ..................................................................................p. xiii1 INTRODUO .......................................................................p. 1
1.1 Apresentao da Problemtica .............................p. 11.2 Objetivos da Pesquisa ...........................................p. 6
1.2.1 Objetivo Geral ................................................ p. 61.2.2 Objetivos Especficos .................................. p. 6
1.3 Justificativa ..............................................................p. 71.4 Estrutura do Trabalho ..............................................p. 111.5 Delimitao da Pesquisa .........................................p. 12
2 REVISO LITERRIA ..........................................................p. 132.1 Abordagem Ergonmica .........................................p. 132.2 Histrico do Trabalho ..............................................p. 212.3 Histrico do Envelhecimento humano ..................p. 262.4 A Gerontologia .........................................................p. 362.5 Seguridade Social e Terceira Idade ......................p. 402.6 Psicologia do Trabalho e Desigualdade Social na
Terceira idade ...........................................................p. 482.7 A Expectativa de Vida e o Trabalho do Idoso no
Brasil .........................................................................p. 542.8 O Papel do Idoso no Organismo Social ................p. 602.9 A Segunda Carreira ................................................p. 632.10 Conceito de Sade ................................................p. 66
2.10.1 Estresse o Maior Inimigo da Vitalidade ....p. 682.10.2 O Exerccio Fsico e a Alimentao .............p. 702.10.3 A F e o Ser Humano ..................................p. 742.10.4 A Importncia do Lazer .....................................p. 77
2.11 Qualidade de vida ...........................................................p. 812.11.1 Conceito de Qualidade de Vida ..................p. 812.11.2 Instrumentos de Medida de Qualidade de
Vida .............................................................p. 843 METODOLOGIA ..................................................................p. 86
3.1 Histria do Grupo de Terceira Idade Amor eCarinho .......................................................................P. 89
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vii
3.2 Caracterizao da Populao e Definio da Amostra ................................................................................ p. 923.3 Aplicao da Metodologia no Grupo 3 Idade Amor e Carinho ................................................................ p. 983.4 Analise e Interpretao dos Dados ......................p. 100
4 CONCLUSES E RECOMENDAES ...................................p. 1094.1 Concluses ..............................................................p. 1094.2 Recomendaes Para Trabalhos Futuros .............p. 113
5 FONTES BIBLIOGRFICAS .................................................P. 1145.1 Bibliografia Referenciada .......................................p. 1145.2 Bibliografia Consultada .........................................p. 121
6 ANEXOS ................................................................................p. 1246.1 Primeiro questionrio aplicado na amostra .........p. 1246.2 Segundo questionrio aplicado na amostra .........p. 1256.3 Resultados da segunda fase da pesquisa em nmeros ..................................................................p. 1296.4 Resultados da segunda fase da pesquisa em
percentuais ..............................................................P. 1316.5 Classificao dos itens da quarta coluna por prioridade ................................................................p. 1336.6 Terceiro questionrio aplicado na amostra ...........p. 135
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viii
Lista de Figuras
Figura 1: Disciplinas de base daergonomia
...................................................
p. 15
Figura 2: Determinantes da sade .................................................................
p. 67
Figura 3: Amostra por faixa etria .................................................................
p. 94
Figura 4: Amostra por grau deescolaridade
...................................................
p. 95
Figura 5: Amostra por estadocivil
....................................................................
p. 96
Figura 6: Amostra por sexo ............................................................................
p. 97
Figura 7: Itens mais assinalados na primeiracoluna
......................................
p. 100
Figura 8: Itens mais assinalados na segundacoluna
......................................
p. 101
Figura 9: Itens mais assinalados na terceira coluna ......................................
p. 102
Figura 10: Itens mais assinalados na quarta coluna ......................................
p. 102
Figura 11: Classificao dos itens de acordo com a ordem deprioridade
......
p. 104
Figura 12: Anlise 1 questo da 3 fase dapesquisa
...................................
p. 106
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ix
Lista de Quadros
Quadro 1: A evoluo de conceito de trabalho ....................................... p. 25
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x
Lista de Tabelas
Tabela 1: Populao total de 65 anos e mais por sexo / Brasil 1991 eProjees 2000 -
2020....................................................................
..p. 40
Tabela 2: Populao por sexo e total de 65 anos e mais / Brasil. Censo2000 ...............................................................................................
..p. 41
Tabela 3: Populao e estimativa de idosos de 1996 a 2025, do Brasil emrelao a outros paises .................................................................
..p. 42
Tabela 4: Amostra por Faixa etria ..................................................................
p. 94
Tabela 5: Amostra por grau de escolaridade ...................................................
p. 95
Tabela 6: Amostra por estado civil ...................................................................
p. 96
Tabela 7: Amostra porsexo
..............................................................................
p. 97
Tabela 8: Demonstrao numrica da MP dos 10 itens classificados .............
p. 103
Tabela 9: Anlise 1 questo da 3 fase da pesquisa ......................................
p. 106
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xi
Lista de Reduo
Abreviaturas
Class. e Classf. = ClassificaoMp e MP = Mdia Ponderadap.ex: = Por exemploPr. = Paran
Siglas
ANG Associao Nacional de GerontologiaEUA Estados Unidos da AmricaIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaIEA internacional Ergonomics AssociationOCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento EconmicoOIT Organizao Internacional do TrabalhoOMS Organizao Mundial da SadeONU Organizao das Naes UnidasSENPROS Secretaria Nacional da Promoo SocialVPIAQV Verso em Portugus dos Instrumentos de Avaliao de
Qualidade de VidaWHOQOL World Health Organization Quality of Life
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xii
Resumo
PEREIRA, Delci Elena Corbari Pereira. Qualidade de Vida na TerceiraIdade e sua Relao com o Trabalho. 2002. 150 folhas. Dissertao(Mestrado em Engenharia de Produo) Programa de Ps-Graduao emEngenharia de Produo, UFSC, Florianpolis.
A dissertao Qualidade de Vida na Terceira Idade e sua Relao como Trabalho aborda o tema melhoria da qualidade de vida das pessoas deterceira idade e sua relao com o trabalho (terapia ocupacional). Trata-se deum estudo exploratrio, atravs de questionrios, que objetiva delinear osignificado dos termos "qualidade de vida" e "trabalho" junto populao alvo,e tambm, reintegrar o idoso como fora de trabalho dentro de uma ticaergonmica. Quanto a metodologia empregada, inicialmente elegeu-se osidosos vinculados ao grupo de Terceira Idade Amor e Carinho como populaoalvo; depois, foi elaborado um instrumento, para busca de referenciais,contendo a pergunta "O que voc considera uma boa qualidade de vida navelhice?"; com as respostas obtidas, foi montado um questionrio piloto com 46itens para serem assinaladas as respostas preferenciais. Da anlise dasrespostas desse questionrio, montou-se o instrumento de pesquisa dessadissertao com 5 perguntas sobre o tema, o qual, 100% das pessoasresponderam que gostariam de trabalhar nessa faixa etria. Pessoas deterceira idade faro parte da fora de trabalho do futuro e os sistemas deproduo devero se adequar a essa nova realidade. O trabalho no pretendeuuma generalizao, e sim, uma aproximao maior desse universo, que tem semostrado frustrado, ansioso e deprimido ao serem forados a se aposentar,quando ainda teriam muito a contribuir. Os resultados obtidos demonstraramque a populao idosa deseja trabalhar, ou seja, ocupar-se de algo,reivindicam um lugar na sociedade economicamente produtiva, sendo que paratanto necessitam de condies adequadas.
Palavras chaves : vida, qualidade, terceira idade, trabalho.
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xiii
Abstract
PEREIRA, Delci Elena Corbari Pereira. Life of Quality on Third Age andits relations with Working. Florianpolis, 2002, 150 leaves. Paper (MagistersDegree in Engineering of Production) Post Graduation Program inEngineering of Production. UFSC, 2002.
This dissertation: Life of Quality on Third Age and its relations withWorking, deals with the enhancement of life quality of third age people, and itsrelations with work (occupational therapy). It is an exploratory research, throughquestionnaires, whose goal is to delineate the meaning of expressions like "lifequality" and "work" among the target population, and also, reintegrating theelder as a work force, using an ergonomics approach. The methodologyemployed elected old people linked to group Third Age Love and Affection asthe target population. In order to get initial references, a instrument wasprepared with the question: "What you consider as a good life quality for oldpeople?". With the obtained answers, we prepared a pilot questionnaire with 46items from which the inquired members of the population registered theirpreferential ones. From the analysis of the answers to this questionnaire, weassembled our research instrument, used in this dissertation, with 5 questionsabout the theme. !00% of the population members answered saying that theywould like to work during third age. Third age people will be part of the taskforce of the next millennia and the production systems must adequate theirinstallations to accommodate this situation. We do not intended anygeneralization but just to enhance our comprehension about this universe. Ourelders show frustration, depression, and anxiety when obliged to retire, becausetheir feeling is that they still have a lot of think to give to the community they livein. The obtained results demonstrated that the senior population wants to work,in other words, to occupy of something, they demand a place economically inthe society productive, and for so much they need appropriate conditions.
Key Words: Life, Quality, Third Age, work.
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1
1 INTRODUO
1.1 Apresentao da Problemtica
Desde os primrdios da civilizao os seres vivos buscam somar suas
foras para sobreviverem s ameaas e desfrutarem das oportunidades
existentes a sua volta. No reino animal, verifica-se que a maioria dos seres da
mesma espcie procura se manter aglutinado para melhor competir e
conservar o seu territrio. Aglutinam-se instintivamente para sobreviver aos
ataques de outros seres que no pertencem ao seu grupo de referncia,
visando assim perpetuao da espcie. No mbito dos seres humanos esta
posio instintiva de sobrevivncia tem o alicerce da capacidade mental
intuitiva e do dom da razo inerente ao homo sapiens (Finley, 1982).
Atualmente o Planeta Terra, mais do que simplesmente os Homens que
nele habitam, passa por um momento de transformao muito rpida. Todas as
atividades humanas se modificam e se convulsionam, recebendo a cada dia
um volume to grande de novas informaes e tecnologias, impossveis de
serem abarcadas por um s indivduo isolado.
Milanez (1986 p.7) relata que:
O homem conquistou o cosmos, olhou a Terra de longe, e isso
mudou sua concepo da Vida e do Universo. Na esteira destas
conquistas, grandes debates foram abertos. Nenhum homem mais um
indivduo isolado. As informaes nos chegam, com a velocidade do
rdio, da televiso e da internet, quase no mesmo momento em que
ocorrem no outro extremo do Planeta. Cada indivduo e cada
comunidade, metidos em seu canto por mais distante que seja, buscam
cada vez mais saber o que ocorre com o restante da humanidade.
A cincia no foge a essa regra, e o avano da medicina vem
propiciando o aumento progressivo da longevidade e, portanto, da expectativa
-
2
de vida que nas ltimas dcadas do sculo XX, fato sem precedente na
histria, proporcionou ao ser humano uma longevidade nunca antes atingida.
cada vez maior o nmero de pessoas que ultrapassam a idade de sessenta e
setenta anos e, mais que isso, que atingem essa idade em boas condies
fsicas e mentais e que, quando associados aos aspectos culturais, psquicos,
espirituais, e uma condio scio econmica estvel, que so fatores
relevantes para a qualidade de vida aos anos acrescidos pela cincia, tem
muito a contribuir com a sociedade.
Com o aumento da expectativa de vida no mundo, faz-se necessrio
pensar tambm na qualidade desses anos que sobrevieram. Diante disso,
muitos pesquisadores tm se interessado pelo envelhecimento humano,
ocasionando uma multiplicidade de opinies e avaliaes objetivas e subjetivas
sobre a velhice. As avaliaes objetivas, em sua maioria, focalizam as
transformaes no cabelo que embranquece, na pele que se enruga, no andar
j no to rpido e fcil, modificando a postura corporal. No aspecto social,
geralmente, se voltam para as classificaes na qual a sociedade enquadra as
pessoas em direitos e deveres, nos esteretipos a serem seguidos, tarefas ou
papis determinados, como por exemplo: aos sete anos, freqentar a escola
primria; aos dezoito, ingressar no servio militar, aos vinte e um, a
incorporao dos direitos dos adultos, aos setenta, a aposentadoria
compulsria. No aspecto econmico, as pessoas de Terceira Idade passam a
ser vistas como improdutivas, sendo decretada assim, sua velhice econmica e
social. As avaliaes subjetivas, preocupam-se com o que acontece ao
indivduo que atravessa por essas etapas, qual o seu sentimento e
entendimento dessa situao, seus ganhos e perdas psicolgicas, suas
frustraes e aspiraes.
A velhice, em cada sociedade assume significado diferente, pois a
imagem que se tem dos velhos afetada pela prpria subjetividade e pela
influncia dos valores da cultura em que se est inserido (Vargas, 1994). A
histria da atividade produtiva, o trabalho, desenvolve-se na humanidade,
-
3
voltado prioritariamente para o lucro, adaptando o homem ao servio, sem
considerar as suas necessidades e bem estar (Souza, 1995).
A palavra trabalho tem duas origens etimolgicas. A primeira oriunda
do latim tripalium, que era um aparelho de tortura. Da mesma forma o verbo
trabalhar vem do latim tripaliare, que significa torturar com tripalium. Na Bblia,
o trabalho apresentado como uma necessidade que leva a uma fadiga e que
resulta numa maldio, ganhars o po com o suor de teu rosto, mostrando o
trabalho como um sacrifcio para obteno de algum resultado. Para os gregos,
trabalho tem origem nas palavras ponos, com significado de esforo,
penalidade e ergon, que significa a criao, a obra de arte (Merino, 2000).
A humanizao do homem se deu pelo trabalho, isto , pela sua
atividade humana na luta pela sobrevivncia, atividade especificamente
humana: criao de elementos e de instrumentos de trabalho. No decorrer do
processo histrico, o trabalho mudou de essncia e passou a ser instrumento
de auto-alienao. Na nsia de libertar-se da natureza, mas preso a seus
instintos animais, com o surgimento da propriedade privada, o homem tornou-
se escravo dos seus deveres sociais. Num estgio mais avanado, o que o
homem produz no mais lhe pertence, ou lhe pertence s em parte. O produto
do seu trabalho pertence a outro, que lhe d em troca alguns bens de
subsistncia ou um salrio (Souza, 1995).
No regime do salariato (capitalismo), o trabalho revela sua verdadeira
essncia alienante, sendo uma atividade humana que produz valor de troca
para outro. Engajou-se no trabalho passando de sujeito a objeto, de homem
livre a coisa do outro, para o qual trabalha e de quem depende. Nesse
processo anulou-se como pessoa humana. O que ele produz, ganha ento
valor de troca, pressupondo a existncia de terceiros, passando a fazer assim
no s o que ele quer, mas o que o outro quer (Basbaum, 1977).
Ao analisar a situao do homem em relao aos meios produtivos por
ele desenvolvidos Basbaum (1977, p. 21) diz: fizemos da produo um fim em
si mesmo, ao invs de um meio para a felicidade transformamo-nos em parte
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4
de mquinas, em vez de sermos seus senhores, somos bens venda e nos
alienamos do nosso verdadeiro eu.
Surge em 1949, a cincia Ergonomia, preconizada por outros autores e
teorizada em vrios aspectos por Alain Wisner (apud Merino, 2000, p.4), como:
O conjunto dos conhecimentos cientficos relativos ao homem e
necessrios para a concepo de ferramentas, mquinas e dispositivos
que possam ser usados com o mximo de conforto, de segurana e de
eficcia, buscando resgatar consigo o significado da palavra grega
Ergon.
A Ergonomia tem como objetivo, adaptar o trabalho ao homem,
desenvolvendo-lhe a sua dignidade. Com uma abordagem globalizante e como
no poderia deixar de ser, volta-se tambm problemtica dos indivduos que
so retirados do mercado de trabalho pela aposentadoria compulsria por
idade, quando ainda lhes resta um grande potencial a compartilhar com a
sociedade.
Muito se comenta nos meios de comunicao sobre um perfil de
populao onde, cada vez mais, a parcela correspondendo aos idosos ser
mais e mais significativa. Se por um lado eles sero os principais consumidores
do futuro, a retirada pura e simples dos mesmos do grupo dos homens
produtivos tambm deve ser questionada.
Com base nestas indicativas, parece que chegou o terceiro milnio,
mostrando a falncia do sistema de trabalho, apresentando-se como
escravizante do homem e tambm, castrador de seus sonhos e ideais. Tal
forma de atividade desconhece o entusiasmo, e a ausncia deste, carrega
consigo a morte existencial.
Segundo Hegel (1990), a relao de trabalho para esse sculo deve
encaminhar-se para uma maior realizao do indivduo, pois, no trabalho est
contida a caracterstica natural da universalidade, a do pensamento. Sem o
pensamento, ele no tem objetividade, o pensamento a sua definio
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5
fundamental. O ponto mais alto do desenvolvimento de um povo a
conscincia racional de sua vida e sua condio, a compreenso cientfica de
suas leis, seu sistema judicirio, sua moral. No objetivo e no subjetivo que
est a unidade mais ntima, em que o esprito pode estar consigo mesmo. O
objetivo de seu trabalho ter a si como objeto, mas ele s pode ter-se como
objeto pensando em si. Vendo por esse prisma, acredita-se que o trabalho tem
outra funo importante alm da produo, que a da ocupao com a
criao. Ao se pensar na humanizao da atividade de trabalho, contribui-se
para o desenvolvimento do homem como espcie, do homem como ser,
coincidindo com o pensamento de Hegel, em que quanto mais o homem se
desenvolve espiritualmente, mais ele se torna consciente de si mesmo, ou seja,
livre. De uma vez que, o desenvolvimento do Esprito em direo conscincia
de si na histria do mundo o desenvolvimento para uma liberdade sempre
mais pura. A histria do mundo o avano da liberdade, porque ela o avano
da autoconscincia do Esprito.
Diante do exposto, uma ao educativa junto cultura, e dentro dela, ao
prprio idoso, se faz necessria no acompanhamento das aes polticas e
econmicas. Para que o homem se torne o autor de sua prpria histria,
precisa desenvolver sua conscincia e aprimorar sua percepo, a fim de
suprimir o estado de alienao em que est inserido, para que assim, possa
aflorar todo o seu potencial. Ao atingir esse estgio, supe-se que ele ter
modificado a si mesmo e ao esteretipo cultural, construindo assim, um novo
referencial, com maior grandeza, acerca do envelhecimento.
A sensibilizao da autora pela problemtica do envelhecimento e a
relao do mesmo com o trabalho, bem como, pela crena da mesma de que,
se uma tarefa pode ser feita de maneiras diferentes, ento o trabalho pode ser
adequado s possibilidades e limitaes das pessoas de terceira idade; uma
vez que, pressupe-se que possvel para homem ser capaz de aprender e
ensinar, independente da faixa etria em que esteja situado. Esse estudo
originou-se da sensibilizao da mesma por essa problemtica. A experincia
da autora que atuou como coordenadora adjunta do Grupo Terceira Idade
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6
Amor e Carinho do ano de 1994 at 1998. Diante dessa convivncia com o
grupo e a facilidade de acesso populao alvo. Para essa dissertao, optou
por um trabalho exploratrio acerca da temtica, buscando junto aos prprios
idosos o significado para eles de qualidade de vida e de trabalho.
O trabalho de pesquisa foi iniciado em junho de 2000, quando foi
solicitado aos pesquisados o que eles consideram uma boa qualidade de vida
na terceira idade. Com o resultado dessa pergunta foi elaborado um
questionrio, aplicado em agosto de 2001, para o mesmo grupo, onde
assinalaram o que consideravam prioritrio para viver com qualidade na
Terceira Idade. Este questionrio serviu de estudo piloto para a montagem de
um segundo questionrio, sobre o desejo de trabalhar nesta faixa etria, o qual
foi aplicado em outubro de 2001 ao mesmo grupo, e sua anlise demonstrou
que a totalidade da populao alvo manifestou o desejo de continuar
trabalhando.
Com essas trs etapas da pesquisa, em conjunto com a reviso
bibliogrfica sobre o tema, a qualidade de vida na terceira idade foi o objeto de
estudo desta dissertao.
1.2 Objetivos da Pesquisa
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo geral do trabalho estudar a relao entre a melhoria da
qualidade de vida das pessoas que atingem a terceira idade e sua relao com
o trabalho (terapia ocupacional) e outros segmentos sociais.
1.2.2 Objetivos Especficos
Analisar, atravs de questionrio aplicado no Grupo Amor e
Carinho, o significado de qualidade de vida para esta populao.
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7
Delinear na viso do Homem de Terceira Idade o significado do
termo qualidade de vida e trabalho.
Discutir o conceito qualidade de vida sob a tica de vrios
autores.
Identificar o papel da ergonomia diante do ambiente de trabalho
ideal para o cidado idoso.
Constatar qual o grau de conhecimento e entendimento do
cidado de terceira idade quanto aos seus direitos na sociedade.
Identificar a interdisciplinaridade da gerontologia com a geriatria, a
gerontologia social, a psicologia e a ergonomia.
Perceber os sentimentos e o significado das aes e relaes
humanas presentes, nos pontos em estudo, no momento da vida
de um indivduo que est passando por transformaes fsicas,
emocionais e sociais.
1.3 Justificativa
Dentro da problemtica do envelhecimento, referindo-se aos ltimos
dados fornecidos pelo IBGE em dezembro de 2001, apresenta-se matria do
telejornal, Jornal da Globo [JOR], A nova Famlia Brasileira, exibido pela Rede
Globo de Televiso e publicado em seu site:
A tpica famlia brasileira est ficando menor. o que mostra o
censo do IBGE. Em mdia, os casais esto tendo dois filhos, um nmero
prximo ao dos pases desenvolvidos.
A populao tambm est envelhecendo. A idade mdia do
brasileiro, que era de 21,7 anos em 91, subiu para 24,2 anos em 2000.
Com a queda na natalidade, o nmero de idosos cresceu. H nove anos,
a proporo era de 14 para cada grupo de cem crianas. Hoje, j de
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8
20. Na opinio deste socilogo, o governo precisa estar atento a essas
mudanas.
Uma redefinio das polticas pblicas, quer dizer que o governo
no ter mais de investir, por exemplo, em creches e escolas de
Primeiro Grau, mas ter de investir mais no ensino superior e no
atendimento a uma populao de idosos, avalia Ricardo Costa de
Oliveira, socilogo.
Diante da conotao dada pela matria a cima, v-se a necessidade, de
se atentar para o presente e principalmente, para o futuro do cidado de
terceira idade no Brasil e dentro da tica do trabalho, estabelecer novos
padres ergonmicos que se moldem ao perfil deste trabalhador.
Anurios estatsticos, Relatrios do Ministrio do Trabalho e Previdncia,
publicaes cientficas e outros, nos fornecem dados de estudo visando
definio da populao futura provvel em vrios aspectos. Os dados sobre o
estado de sade da populao futura so de uma manipulao delicada. De
um lado, a considerao dos traos que o trabalho anterior deixou sobre os
trabalhadores experientes, pode permitir a adaptao dos meios de trabalho,
de forma a evitar a excluso massiva dessas pessoas e a correspondente
perda de experincia. De outro lado, a lembrana de danos evidentes sade,
no seio de uma determinada populao, pode s vezes levar a uma espcie de
extrema ansiedade e conduzir a decises prematuras de recorrer a uma
populao jovem, sadia, mas pouco experiente.
Acredita-se, ser uma realidade o trabalho na terceira idade. Esse ser
humano, com suas potencialidades e limitaes, podendo ser parte expressiva
da fora de trabalho desse milnio, em que, mais do que nunca, as questes
relativas carga mental do trabalhador se tornaro mais relevantes do que as
relativas carga fsica, resgatando o idoso com sua bagagem cognitiva e
estratgias compensatrias de desempenho e de situaes de estresse. Sendo
assim, a presente dissertao pertinente neste perodo de incio do sculo,
em que as pessoas esto se aposentando quando tem muito a contribuir com
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9
sua experincia e, diante desta impossibilidade, apresentam-se ansiosas,
frustradas, deprimidas e muitos deles apresentando-se fsica e psiquicamente
aptos a continuar trabalhando.
Em Barreto (1992, p.19) temos que:
Numa reunio de expertos em velhice nas Naes Unidas, o
Doutor Walter Beatie, diretor do centro de gerontologia da Universidade
de Siracusa fazia a previso da populao mundial com mais de 60 anos
que em 1970 representava 8,4% do total, atingir, no ano 2000, 9.3%, o
que elevar o nmero de idosos de 304 milhes para 581 milhes de
pessoas... , tinha-se, em 1900, 10 a 17 milhes de pessoas com mais
de 65 anos, menos de 1% da populao mundial. Em 1992 tnhamos
342 milhes, correspondendo a 6,2% e, estima-se que, em 2050
teremos 2,5 bilhes de pessoas com mais de 65 anos, cerca de 20% do
total dos seres humanos.
O Brasil que se considerava uma nao jovem, dentro em breve ser
uma das populaes com maior nmero de pessoas com mais de 65 anos. O
Jornal Folha de So Paulo, em 28/07/1996 (Da Silva, 1996, p. 3), nos
apresenta matria mostrando o quanto o Brasil necessita atentar para a
questo do envelhecimento:
O aumento do nmero de idosos causar impacto imediato na
sade e na Previdncia, que tero seus gastos elevados. Em 1960,
havia 0,9 aposentado para cada 10 pessoas em idade ativa (entre 15 e
65 anos). Hoje, h 1,3 aposentado para cada dez trabalhadores.
Documento do Ministrio da Previdncia Social obtido pela Folha mostra
que, em 2020, haver duas pessoas em idade de aposentadoria (com
mais de 60 anos) para cada 10 em idade produtiva (contribuintes
potenciais do sistema previdencirio) e que diante dos fatos e das
previses para o futuro, faz-se necessrio o estudo da qualidade de vida
dos cidados da terceira idade com urgncia, a fim de determinar qual
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seu novo papel na sociedade e que perspectivas este cidado poder ter
ao ingressar nesta fase da vida.
Esses nmeros contraditrios refletem um desconhecimento real do
problema e, em segundo lugar, que o mais provvel que a situao a ser
projetada seja bem mais preocupante do que a assinalada. Esta afirmativa se
prende a duas consideraes: Primeiro, a alta taxa de nascimentos durante a
segunda guerra mundial acarretando a quebra da tendncia queda das taxas
de natalidade que atingir a terceira idade por volta de 2010 e, a seguir, o
declnio na taxa de natalidade, que passou a ser negativo em muitos pases do
primeiro mundo. Com isso teremos um perfil populacional bem mais velho do
que possa ser projetado por estatstica. Faz-se necessrio uma adequao nos
sistemas de produo a esta nova realidade do trabalho, considerando o ritmo
dos que, com mais de 65 anos, ainda so criativos e eficazes, e precisam
continuar a iluminar o mundo com suas luzes sempre crescentes. Uma
abordagem eco-ergonmica dos sistemas produtivos, onde se leva em conta o
socius, o anthropus e o meio ambiente, no podem ignorar que o mundo
caminha, inexoravelmente, para se transformar em uma sociedade de velhos
(Fialho e Dos Santos, 1994).
O envelhecimento tem, sobretudo uma dimenso existencial, e como
todas as situaes humanas, modifica a relao do homem com o tempo, com
o mundo e com a sua prpria histria, revestindo-se no s de caractersticas
biopsquicas, como tambm sociais e culturais (Vargas, 1994).
O desequilbrio scio-econmico, muitas vezes a aposentadoria submete
o aposentado, causando-lhe insuficincia financeira, que por sua vez ocasiona
deficincias de ordem material inviabilizando uma terceira idade com qualidade
de vida. Muitas vezes o idoso no subsiste com o que ganha, necessitando
residir com os filhos ou numa instituio asilar. Outras vezes, quando sua
situao apresenta-se instvel, poder ter que receber em sua moradia, filhos
desempregados, com seus cnjuges e netos.
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O nvel cultural e o autoconhecimento, so fatores que favorecero o
no isolamento, a alienao, o estado de serenidade, a no deteriorao da
inteligncia e da inutilidade de viver.
Sem um planejamento, ao atingir o pleno amadurecimento, e se
deparando com a aposentadoria, a tendncia das pessoas espelhar-se em
outros que j se encontram nesta etapa da vida e muitas vezes os exemplos,
por questes principalmente culturais, so desfavorveis. de ordem cultural o
fato de que as pessoas no planejam sua velhice por temer que fazendo isso j
estaro programando seu fim. Desta forma voltamos ao incio onde s se
pensa no que fazer ao chegar na aposentadoria. A idia de descanso, frias
prolongadas, acaba se transformando na sensao de inutilidade e obsolncia
e naturalmente desnimo.
Aquele que planeja sua velhice sabe que ao chegar a aposentadoria h
muito que se fazer, viver e aprender se por em prtica tais conhecimentos e
atitudes ter garantido a qualidade de vida to almejada. Ao conscientizar o
cidado para uma viso real da nova realidade populacional idosa e sua
problemtica. Acredita-se que a ergonomia, com o devido conhecimento deste
tema, aproveitar no trabalho, o potencial das pessoas de terceira idade.
1.4 Estrutura do Trabalho
No primeiro captulo, Introduo, apresenta-se aspectos referentes
origem da proposta o tema problema, segue apresentando os objetivos, a
justificativa da pesquisa, estrutura da dissertao e consideraes sobre
estudos e esforos que vem sendo realizados pelos diversos pesquisadores
nos campos correlacionados Terceira Idade e Trabalho.
No segundo captulo, Reviso Literria, focaliza-se os conceitos tericos
bsicos envolvidos na pesquisa. Os problemas da Terceira Idade, seu
desenvolvimento no tempo e espao, abordando a ergonomia, a gerontologia,
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a geriatria, o envelhecimento humano, a qualidade de vida, abordando sua
relao com o trabalho.
No terceiro captulo, Metodologia, apresenta-se um histrico do
desenvolvimento das ferramentas metodolgicas para o avano das pesquisas
cientficas, a importncia do mtodo cientfico adotado, sua aplicao no
problema tratado nesta dissertao e a forma pela qual pretendemos atingir
nossos objetivos ressaltando a caracterizao da pesquisa, a populao alvo, a
amostra, a coleta dos dados e a delimitao da pesquisa.
No quarto captulo, Analise e Interpretao dos Dados, descreve-se
analiticamente os dados levantados sobre o que foi observado e desenvolvido
na pesquisa, a tabulao por meio de estatsticas, tabelas e grficos.
No quinto captulo, Concluses e Recomendaes, sintetizou-se
interpretativamente os argumentos mais relevantes no estudo e apresenta-se
recomendaes para trabalhos futuros.
Na seqncia dos captulos, nos Elementos Complementares e Ps-
Textuais, a bibliografia utilizada, e anexos com os questionrios da pesquisa.
1.5 Delimitao da Pesquisa
A pesquisa delimitou-se no Grupo de Terceira Idade Amor e Carinho,
hoje denominado, Grupo de Maturidade Amor e Carinho, de Santa Terezinha
de Itaipu PR. Este estudo tem por carter uma pesquisa qualitativa baseada
em questionrios, durante o perodo compreendido entre junho de 2000 a
setembro de 2001, com o objetivo de levantar entre os pesquisados, na
primeira fase, fatores para se ter uma boa qualidade de vida, que serviram de
base para a segunda fase, cujo objetivo visou evidenciar os principais itens que
a amostra determinava como preponderantes para terem uma boa qualidade
de vida na velhice. Esta segunda fase, serviu de base para a terceira, onde
procurou-se estabelecer as consideraes da amostra sobre a importncia do
trabalho e do ambiente, para obteno da qualidade de vida almejada.
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2 REVISO LITERRIA
Nesse capitulo, focalizam-se e discutem-se criticamente os conceitos
bsicos envolvidos na pesquisa, de acordo com a experincia de trabalho da
autora com idosos participantes do grupo de terceira idade Amor e Carinho.
Pretende-se fazer um estudo das teorias ligadas a terceira idade e o trabalho, a
fim de gerar instrumental capaz de produzir resultados no que tange a
qualidade de vida do idoso. Aborda-se tambm, o problema da terceira idade,
seu desenvolvimento no tempo e espao, com os principais temas
correlacionados com terceira idade, Ergonomia, trabalho, envelhecimento
humano, gerontologia, seguridade social, psicologia do trabalho na terceira
idade, envelhecer holstico, idoso no contexto social a segunda carreira, sade,
estresse, alimentao, exerccio fsico, f, lazer, qualidade de vida, histria do
grupo de terceira idade pesquisado.
2.1 Abordagem Ergonmica
O termo ergonomia foi utilizado pela primeira vez em 1857, pelo polons
W. Jastrzebowski, que publicou o ensaio de ergonomia ou cincia do trabalho
baseada nas leis objetivas da cincia da natureza. porm somente durante a II
Guerra Mundial, houve uma conjugao sistemtica de esforo entre a
tecnologia e as cincias humanas e biolgicas, somente a partir da a
ergonomia veio a se desenvolver como rea do conhecimento humano. Em
1960 a OIT (Organizao Internacional do Trabalho) define ergonomia como
sendo aplicao das cincias biolgicas conjuntamente com a cincia de
engenharia para lograr o timo ajustamento do ser humano ao seu trabalho.
Atualmente vrios pases desenvolvem estudos e pesquisas nesta rea de
conhecimento. A International Ergonomics Association (IEA), define como o
estudo cientfico da relao entre o homem e seus meios, mtodos e espao
de trabalho [F.ERGON].
Encontra-se em Iida (1990, p. 301), que uma das formas de
humanizao do trabalho est no desenvolvimento de novas maneiras de
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organizao deste. O autor defende que a organizao deve ser feita com a
participao dos prprios trabalhadores de tal forma que eles possam
desenvolver suas atividades sem um controle rgido, com sentimento de auto-
realizao.
A ergonomia que, nasceu da necessidade de responder a questes
importantes levantadas por situaes de trabalho insatisfatrias, apresentou
por um longo perodo, na falta dos conhecimentos necessrios, as respostas
baseadas nas experincias (Wisner, 1987).
O mtodo experimental permitiu grandes progressos no melhoramento
das situaes de trabalho ou pelo menos nas mais evidentes, onde se tinha a
sensao de se poder poupar uma anlise do trabalho. Esta forma
experimental ainda faz sucesso entre muitos ergonomistas e isto se deve
fundamentalmente ao fato da ignorncia do funcionamento do homem no
trabalho ser bastante profunda, onde as grandes ligaes existentes entre uma
tarefa e a sua realizao e as condicionantes de tempo e local colaboram
fortemente para este quadro.
As condies que envolvem um processo participativo dizem respeito
tanto aos aspectos relacionados organizao e ao ambiente como aos
aspectos relacionados aos indivduos (Wisner, 1994).
O lineamento terico da ergonomia baseado em diversas disciplinas
cientficas, em particular da matemtica, das cincias fsicas, das cincias
biolgicas e das cincias humanas. Entretanto, as duas disciplinas que mais
contriburam para o desenvolvimento cientfico da ergonomia foram a
psicologia e a fisiologia do trabalho.
A figura abaixo mostra a origem da ergonomia, a partir do inter-
relacionamento entre os diversos campos de conhecimento e disciplinas
cientficas envolvidas.
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Figura 1: Disciplinas de base da ergonomia
Matemticas Cincias humanasCincias biolgicasCincias fsicas
Estatstica SociologiaPsicologiaAntropologiaFisiologiaAnatomiaQumicaFsica
Anatomia funcional
Bioqumica Antropologia fsica
Anatomia funcional
Sociologia industrial
Psicologia experimental Dinmica
de grupo
BiofsicaAcstica
luminotcnica
MecnicaBiometria
Termodinmica
Fisioterapia bioergologia
Fisiologia do trabalho
Antropometria
Biomecnica
ERGONOMIA (FATORES HUMANOS)
Teoria da informao
Tempos e movimentos
Fisiologia ambiente
Psicologia do trabalho
Fonte: [DBE]
Acredita-se que a ergonomia s acontecer se existir a oportunidade de
que vrios nveis de uma organizao participem na introduo e difuso dos
princpios ergonmicos. Desse modo, a ergonomia participativa na essncia.
Existir, se na sua discusso o processo for participativo. Com o
desenvolvimento de anlises ergonmicas do trabalho, o quadro terico
oferecido pelas cincias cognitivas, que essencial, demonstrou ser
insuficiente, pois as exigncias fsicas, a diversidade dos trabalhadores e a
variao do seu estado fisiolgico e psquico no podem ser desprezados e
exigem modelos tericos diferentes do cognitivo. Assim, a prtica ergonmica
depende irredutivelmente da diversidade das situaes que aborda (Wisner,
1994).
Entende-se que o bem-estar o objetivo do trabalho ao criar objetos e
transformar o meio. Ele no depende s disso, depende em grande parte da
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educao, entendida como melhora pessoal que se mostra em atitudes
positivas, tanto a nvel individual como social (Bustamante, 1996).
Para que este bem-estar esteja tambm no exerccio da atividade de
trabalho, a ergonomia enfrenta obstculos para efetivar-se, por economia de
custos a maioria das empresas de todos os portes continua resistindo ao
princpio de que o ambiente de trabalho deve ser adaptado ao homem, e no o
contrrio. Assunto abordado no artigo Conforto Lei , publicado na revista
Pequenas Empresas Grandes Negcios (PEGN, 1996, p. 63):
"Terminou em 1995 o prazo de cinco anos dado pela Norma
Regulamentadora 17 para que as empresas implementassem ambientes
de trabalho ergonmicos.
Editada pelo Ministrio do Trabalho em 1990, a NR 17 tem fora de lei e
estabelece parmetros mnimos de adaptao das condies de
trabalho ao ser humano. Seu cumprimento fiscalizado pelas
Delegacias Regionais do Trabalho ou rgos ligados sade."
"Campo de conhecimento multidisciplinar, a ergonomia voltada para a
preveno dos distrbios provocados por ritmos excessivos e postos de
trabalho inadequados, que influem sobre a eficincia."
"...a NR17 trata de cinco itens: carregamento de peso, mobilirio,
equipamentos, condies ambientais e organizao do trabalho".
"...natureza da ergonomia, cincia que no tem frmulas prontas.
Depende do tipo de atividade e das pessoas envolvidas."
A previso que a Engenharia Consultiva deve realizar sobre o efetivo de
trabalhadores, necessrio para o funcionamento de uma nova unidade
sempre difcil. Freqentemente, considerando-se a implantao de um
processo automatizado, procura-se uma reduo do pessoal necessrio para
atingir um certo nvel de produo. Por outro lado, freqente tambm que a
substituio do trabalho humano por automatismos seja superestimada e que a
nova unidade de produo s possa efetivamente funcionar com um efetivo
maior do que as previses iniciais.
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Na concepo de Duarte (1994), toda determinao de efetivo baseia-se
sobre uma estimativa de uma carga de trabalho aceitvel. Normalmente, o
profissional de Ergonomia consultado sobre esta noo de nvel aceitvel de
carga de trabalho. Na realidade, no existe nenhuma resposta precisa sobre a
questo de qual a carga de trabalho aceitvel. Tendo-se em vista que a
carga de trabalho varia em funo da situao, mas tambm em funo do
indivduo. A Ergonomia pode contribuir na definio dos prprios termos do
debate, esclarecendo, atravs da anlise das atividades nas situaes de
referncia, as limitaes na substituio de homens por mquinas, definir o
papel especfico do homem, na histria e contexto do processo, para elaborar
diagnsticos complexos em situaes de incidentes no previstos pela
Engenharia de Produo, evidenciar os limites de uma comparao de efetivos
equivalentes entre duas unidades semelhantes, que no questione os
problemas relacionados sobre a repartio das tarefas nas diferentes
organizaes e, sobre as especificidades das condies de cada
estabelecimento (condies ambientais, produtos fabricados).
Segundo o mesmo autor a Ergonomia pode contribuir para uma reflexo
no que diz respeito manuteno de trabalhadores experientes, mas sem
formao terica, assim como na admisso de jovens diplomados, mas sem
experincia prtica. Noo de perda de experincia para a empresa.
Montmollin (1990, p. 69) faz uma observao importante a respeito da
ergonomia e a organizao do trabalho onde afirma que melhorar as
condies de trabalho poder significar igualmente a melhoria da produo,
sendo que a racionalizao do trabalho tem de caminhar no mesmo sentido da
produtividade. Desta forma evidencia-se que o papel da ergonomia no se
restringe a adaptao do trabalho ao homem, utilizando-se do aprimoramento
do ambiente, das mquinas, das tarefas e do local de trabalho, ou ainda, do
estudo das caractersticas fisiolgicas do trabalhador. Sua abrangncia maior
visando o todo que envolve o trabalho e criando um paradigma para a
organizao do trabalho, onde o ser humano o foco principal.
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Diante do novo paradigma estabelecido, as organizaes de trabalho
passam a focalizar a satisfao e a qualidade de vida do trabalhador,
somando-a aos conceitos de produtividade e lucratividade, j incorporados a
estas organizaes, passando assim, a interagir-se com a ergonomia. Deste
modo, Montmollin (1990, p. 69) afirma que o futuro da ergonomia ser o de se
confundir com a organizao do trabalho, que a ir transformar.
Na concepo de Fialho e Dos Santos (1994), o envelhecimento um
fenmeno contnuo na vida das pessoas, mas que pode ter manifestaes em
parte descontnuas. As dificuldades decorrentes, podem se manifestar em
diferentes idades, segundo as condicionantes das situaes da vida e de
trabalho. Pode-se ser mais ou menos velho em relao a uma determinada
situao de trabalho, mas possvel evitar certas dificuldades, devidas ao
envelhecimento, agindo-se sobre os meios de trabalho.
Dentro de uma abordagem fenomenolgica se o que no momento se
experimenta ser, ou seja, o indivduo a sua prpria percepo. Portanto, se a
experincia for mvel, flexvel, certamente isso influir na qualidade do
trabalho, dar prazer, possibilidades de optar e de criar. Quanto mais prximo
da conscincia, maior possibilidade de intensific-la e expandi-la. Podendo-se
conseguir isso atravs de uma atitude fundamental de conscincia contnua
sobre o que se est fazendo agora, o que se sente no momento, o que se quer
evitar, o que o outro quer e espera.
Para os mesmos autores (op cit), trabalhadores estaro realizando o que
a abordagem gestltica da psicologia chama de bons contatos, garantindo com
isso a sua sade mental, pois, segundo a gestalterapia, doena a
impossibilidade de um contato real consigo mesmo e ou com o meio. Contato
ocorre em trs nveis: cognitivo, emocional e comportamental. Quando a
pessoa no desenvolve um pensamento reflexivo ou bloqueada nos seus
contatos, ela desenvolve sintomas neurticos, tais como, no reconhecer a
necessidade predominante, no reagir espontaneamente, incapacidade de
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concentrao, no se retrair quando necessrio. Evidentemente que, o vigor de
uma dessas situaes se refletir no exerccio de seu trabalho.
O homem construdo diariamente, no uma situao conquistada
uma vez para todo sempre. Por pior que seja uma situao sempre possvel
melhor-la, modific-la, recri-la. Quando tomamos conscincia de nossas
capacidades e nossa responsabilidade sobre elas, as situaes se modificam
naturalmente.
Entretanto, problemas considerveis existem quanto a excluso
prematura de trabalhadores idosos (problemas sociais e perda de experincia
para a empresa, ocasionados por programas de demisses ou aposentadorias
incentivadas); e a evoluo da pirmide de idade da empresa, risco do
envelhecimento conjunto, aparecimento de classes vazias.
Os traos decorrentes das condies de trabalho na vida das pessoas
podem desenvolver um papel preponderante em relao ao envelhecimento
natural. Exemplo de danos auditivos, problemas articulares ou vertebrais,
ligados ao trabalho, constitui-se em indcios claros do envelhecimento precoce.
Do ponto de vista legal, a usura devido ao trabalho classificada como
doena profissional, que pode aparecer tanto a curto como em longo prazo.
Todavia, existe uma srie de danos sade dos trabalhadores que,
infelizmente, no so classificados legalmente como doenas profissionais.
So justamente aqueles traos que se manifestam de forma mais tardia na vida
dos trabalhadores.
O fenmeno da experincia fruto da aprendizagem terica/prtica,
desenvolvida ao longo dos anos, pelo exerccio profissional dos indivduos. Da
a importncia que deve ser dada anlise do histrico profissional de cada
trabalhador.
A idade no traz somente efeitos negativos sobre as capacidades de
trabalho. Os anos de trabalhos permitem a acumulao de uma experincia
profissional que facilita, muitas vezes, a execuo das tarefas.
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A gesto de tarefas afetada pelo envelhecimento, influenciando a
execuo de tarefas. As condicionantes de tempo estritas so fontes de
importantes dificuldades para os trabalhadores idosos. Todavia, o desempenho
global no necessariamente menor. O custo do trabalho (carga) para o idoso
sensivelmente maior. Importncia da passagem da produo instantnea
produo global.
O aumento da dificuldade na gesto de vrias tarefas simultneas,
tambm aumenta com a idade. Mas a experincia desenvolve um papel
fundamental no gerenciamento de tarefas simultneas. As mltiplas
interrupes so particularmente custosas para os idosos.
A aprendizagem de dados codificados ou simblicos mais custosa
para trabalhadores idosos, da a importncia da concepo das interfaces e
dos dilogos.
Aumento da dificuldade com a idade para extrair uma informao
pertinente de um ambiente de trabalho, sob a influncia de rudo de fundo, que
mascara outros sinais sonoros. Esta tendncia pode ser, de certa forma,
compensada pela experincia, que guia o indivduo na explorao do ambiente
(Fialho e Dos Santos, 1994).
Segundo Merino (2000, p. 9 e 11) tem-se:
A ergonomia pode contribuir para solucionar um grande nmero
de problemas sociais relacionados com a sade, segurana, conforto e
eficcia... Outro aspecto muito importante que deve ser considerado
a reao do usurio no nvel psicolgico. Deve-se avaliar todas as
condicionantes que afetam o trabalho do indivduo, assim como a
interao Homem-mquina e todas as influncias, tanto do ambiente
fsico (rudo, temperatura, iluminao, qualidade do ar, etc), como o
comportamento e relacionamento dos usurios (tanto com as mquinas
quanto com as pessoas)...
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No ambiente ergonmico ideal o trabalhador tem papel principal,
tornando-se o capital mais valorizado para empresa. Diante desta viso da
ergonomia a empresa atende as necessidades dos trabalhadores tanto no
ambiente de trabalho como fora dele.
2.2 Histrico do Trabalho
Pode-se definir o trabalho como uma atividade instrumental executada
por seres humanos, cujo objetivo preservar e manter a vida, e que dirigida
para uma alterao planejada de certas caractersticas do meio-ambiente do
ser humano, ou como uma atividade que produz algo de valor para outras
pessoas [F.ERGON].
Na mesma fonte tem-se que condies de trabalho inclui tudo que
influencia o prprio trabalho e pode ser definida como, o conjunto de fatores
que determinam o comportamento do trabalhador, tais fatores so compostos
pelas exigncias de critrio de avaliao impostas e condies de execuo do
trabalho, ou seja, tudo o que caracteriza uma situao de trabalho e permite ou
impede a atividade dos trabalhadores. Deste modo, distinguem-se as
condies fsicas, temporais e organizacionais e as condies subjetivas
caractersticas do operador: sade, idade e formao. Somado a isso tem-se
as condies sociais tais como: remunerao, qualificao, vantagens sociais,
segurana de emprego, em certos casos condies de alojamento e de
transporte, relaes com a hierarquia, dentre outras [F.ERGON].
Dejours (1997 p. 43) apresenta uma definio de trabalho de modo a
demonstrar o contexto maior no qual ele se encontra onde o trabalho a
atividade coordenada desenvolvida por homens e mulheres para enfrentar
aquilo que, em uma tarefa utilitria, no pode ser obtido pela execuo estrita
da organizao prescrita. Assim o autor demonstra as reais consideraes que
se deve dar ao trabalho, onde o indivduo tem papel essencial na sua
execuo, colocando nele seus aspectos pessoais.
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Os registros histricos referentes evoluo do homem contam que
este, em um de seus estgios evolutivos abandona sua vida nmade e passa a
fixar-se em um local e produzir. Surge aqui o paradigma da acumulao, do ter.
A primeira definio conhecida de trabalho est escrita nas Sagradas
Escrituras:
"Disse, pois, o Senhor Deus ao ser humano: maldita a terra por
tua causa; em fadiga comers dela todos os dias da tua vida. Do suor do
teu rosto comers o teu po, at que tornes a terra, porque dela foste
tomado; pois s p, e ao p tornars" (Bblia, 1962).
Pode-se deduzir, ento, que o trabalho est relacionado noo geral
de sofrimento e pena.
O dicionrio eletrnico, Dicionrio Universal da Lngua Portuguesa trs
as seguintes designaes para a palavra trabalho:
Do b. Lat. tripaliu, aparelho de trs paus para sujeitar os cavalos
que no se deixam ferrar; s. m., acto ou efeito de trabalhar; conjunto das
actividades humanas, manuais ou intelectuais, que visam a
produtividade; esforo humano aplicado produo de riqueza; cuidado
ou esmero em qualquer servio; ofcio; ocupao; obra executada ou a
executar; fadiga; cuidado; aflio; preocupao; ao de um
maquinismo; maneira como algum trabalha. [DULP].
Os primeiros trabalhos executados, eram manuais. Com o
desenvolvimento o homem criou instrumentos que possibilitou a executar
outros tipos de atividade.
Sobre a evoluo do trabalho humano, Souza, et al (1995), salienta que
nos sculos XI; at o sculo XV, surgiram ferramentas e mquinas; o
automatismo mecnico (moinho, torno, roda d'gua, prensa, parafusos).
Surgem novas estruturas sociais e econmicas, trazendo como produto a
regulao tcnica, a normatizao dos produtos, a parcializao de tarefas e o
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carter repetitivo da atividade no trabalho. Na idade mdia surgem novas
mquinas e habilidades tcnicas (operrios especializados). No sculo XVI,
criam-se manufaturas e novos modelos de organizao do trabalho. No sculo
XVII se estabelecem grandes empresas com capital considervel, tendo
operrios organizados em corporaes ou comunidades.
Segundo a mesma autora, medida que as organizaes foram
evoluindo, se cristalizaram idias sistematizadas a respeito dos princpios que
deveriam reger as relaes de trabalho dentro das organizaes de todos os
tipos, com a finalidade de obter eficcia nos resultados esperados. Devido a
maior opes de possibilidades, os indivduos, passaram a diferenciar-se em
gnero de vida, em funes e em ideologias. Assim, as primeiras associaes
que mereciam o nome de organizaes foram desenvolvendo-se em um
sentido contraditrio: a produo (apropriao dos recursos da natureza e sua
adaptao s necessidades humanas) o que por um lado significou um fator de
humanizao, por outro, levou o trabalhador a ser excludo do usufruto do seu
prprio produto.
Ainda constata-se um aumento da populao com concentrao urbana,
em funo do xodo rural, ocorrido no primeiro perodo do sculo XIX. Lutas
polticas pela melhoria de vida acontecem em grande intensidade. Surgem
ento, as primeiras leis de proteo ao trabalhador. No sculo seguinte, com o
aperfeioamento da mquina a vapor, se desenvolve um grande progresso
tcnico e um surto de industrializao com o trabalho assalariado. A evoluo
das condies de vida e do trabalho acontecem associadas as lutas e
reivindicaes operrias na luta pela sobrevivncia. No Brasil, a pobreza
urbana acompanhava o desenvolvimento do capitalismo. Surge o sistema de
organizao do trabalho conhecido como Taylorismo, que acarretava prejuzos
ao corpo do trabalhador, e tambm neutralizava a atividade mental dos
operrios. Sindicatos fortes conseguem leis de proteo ao trabalhador nos
seus aspectos de segurana, higiene e preveno de acidentes Souza et al
(1995).
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Ainda referindo-se ao sistema de organizao de trabalho, segundo
Finelli (2001):
Esta distribuio diferente dos rendimentos tem como base um
aumento gigantesco da produtividade do trabalho devido
reorganizao dos processos produtivos segundo cadeias de montagem
(fordismo) e definio cientfica dos tempos, dos movimentos e das
funes (taylorismo). Na base, portanto, da moderna configurao social
do capitalismo americano, Gramsci v a transformao tcnica do
processo de produo, sua racionalizao com o enorme aumento da
intensidade do trabalho. A produo e a reproduo de uma fora de
trabalho que participe cada vez menos, com sua conscincia e sua
personalidade autnoma, no processo de trabalho e que seja, pelo
contrrio, um componente apenas mecnico e passivo deste processo,
esto, de fato, no centro das pginas de Americanismo e fordismo:
Taylor [...] expressa com brutal cinismo o objetivo da sociedade
americana: desenvolver em seu grau mximo, no trabalhador, os
comportamentos maquinais e automticos, quebrar a velha conexo
psicofsica do trabalho profissional qualificado, que exigia uma certa
participao ativa da inteligncia, da fantasia, da iniciativa do
trabalhador, e reduzir as operaes produtivas apenas ao aspecto fsico
maquinal (caderno 22, 11).
A importncia das pessoas que compunham as organizaes foi se
perdendo. Coisas, mtodos e processos foram sendo preferidos aos
verdadeiros geradores do progresso e do desenvolvimento, os homens,
passando a ser considerados como simples mo-de-obra, em lugar de as
organizaes atenderem s necessidades bsicas das pessoas, pressuposto
bsico e justificador da existncia delas, Conseqentemente, advm: nfase
as tarefas; diminuio de custos e desperdcios; aumento da produtividade;
diferenciao entre os elementos pensantes e os executantes, o que
acarretou: mal estar; relaes conflitivas e divergentes; homem apenas como
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peas do sistema produtivo. O modelo burocrtico desloca o enfoque das
tarefas, estruturas e pessoas para os processos administrativos, enfatizando a
formalidade das comunicaes e a impessoalidade. Caracteriza-se pela
profissionalizao de seus integrantes. Violentadas s caractersticas naturais
de formao, de capacitao, de socializao e de personalidade. Surge
ento, A Era da Qualidade ( Souza et al, 1995).
Em Dos Santos e Fialho (1995), tem-se quadro que demonstra as
transformaes conceituais pelas quais o trabalho passou, no decorrer do
tempo e de acordo como a cultura na qual este esteve inserido. Assim tem-se
o quadro 1:
Quadro 1: A evoluo do conceito de trabalhoPr-histria SubsistnciaEtimologia Trabalho tripalium
Trabalhar tripaliare (torturar com tripalium)Na Bblia Maldita a terra por causa de ti: com dor comers dela todos os dias
da tua vida, do suor do teu rosto comers o teu po, at que te tornes terra. (Gnesis, 3:17/19)
Gregos Trabalho-ponos penosoTrabalho-ergo criao
Adam Smith (1776)Taylor (SculoXVIII)
Teorias sobre a diviso tcnica do trabalho e o aparecimento dasociedadecapitalista;Administrao cientfica; diviso do trabalho e especializao dooperrio; anlise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos;homem econmico; padronizao; entre outros aspectos.
Ombredane eFaverge (1955)
Trabalho um comportamento e um constrangimento
J. Leplat (1974) o trabalho situa-se no nvel da interao entre o homem e os objetos desua atividade ele constitui o aspecto dinmico do sistema homem-mquina
Leontiev (1976) o trabalho humano (...) uma atividade originalmente social, fundadasobre a cooperao de indivduos, a qual supe uma diviso tcnica (...)das funes de trabalho
Atualmente O trabalho, para muitos estudiosos, considerado como toda equalquer atividade realizada pelas pessoas, sejam assalariadas ou no.Outro aspecto importante que existe um consenso a respeito do maiorpatrimnio de uma organizao: o capital humano.
Fonte: dos Santos e Fialho (1995 p. 17).
Com o advento da qualidade, em princpio voltada para o produto final,
posteriormente passou a ser vista tambm nos meios produtivos e finalmente
na qualidade do ambiente de trabalho introduzindo-se assim, os primeiros
conceitos de ergonomia aplicada. Segundo Sell, em [F.ERGON], entende-se
por trabalho:
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tudo o que a pessoa faz para manter-se e desenvolver-se e para
manter e desenvolver a sociedade, dentro delimites estabelecidos por
essa sociedade. E, o conceito de condies de trabalho inclui tudo que
influencia o prprio trabalho, como o ambiente, tarefa, posto, meios de
produo, organizao do trabalho, as relaes entre produo e
salrio.
Boas condies de trabalho significam em termos prticos, que o
trabalho deve ser realizvel no ultrapassando os limites individuais do
trabalhador, suportvel ao longo do tempo, deve levar em conta a sociedade
onde executado, deve satisfazer o trabalhador e trazer desenvolvimento
pessoal para quem o executa. Sendo assim, o trabalho dentro de suas
condies e atribuies, tem que levar em conta os conceitos prprios da
ergonomia [F.ERGON].
Em Ombredane e Faverge (apud Dos Santos e Fialho, 1995, p. 18),
tem-se que todo o trabalho um comportamento adquirido por aprendizagem
e tendo de se adaptar s exigncias de uma tarefa. Desta forma, pode-se
dizer que o trabalho visto como um comportamento e tambm como uma
forma de constrangimento, pois obriga o indivduo a se adaptar a ele. Mas se
hoje o trabalho visto como uma das razes de ser do indivduo, este por sua
vez pode trazer ao homem a necessidade de elevao de seu status social, de
buscar o seu valor como capital humano. Assim a relao entre o homem e o
trabalho de fundamental importncia para sua qualidade de vida.
2.3 Histrico do Envelhecimento humano
Na viso de Vargas (1983), as especulaes sobre o envelhecimento
humano so to antigas quanto prpria histria. Dentro de todos os
agrupamentos sociais, o estado de velhice foi classificado conforme a condio
social, desde o simples anonimato at a posio mais dignificante. Nas culturas
onde a velhice recebia privilgios, esses s eram concedidos em idades bem
avanadas, de forma que poucos conseguiam obt-los.
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O mesmo autor relata que a histria sobre a velhice tem incio quando
gregos e romanos lanaram-se na aventura pr-cientfica do estudo das
transformaes humanas no sculo IV a.C. Os conceitos sobre envelhecimento
e velhice j eram encontrados nesse perodo entre filsofos e pensadores de
todas as raas e partes do mundo, permanecendo voltados para sentimentos
de frustrao e impotncia ou de conflito e repouso. Era reservado para seus
idosos, em cada sociedade, uma funo e um lugar determinado, privilegiado
ou marginal, segundo suas necessidades e seus valores. Desde o incio das
civilizaes, com poucas e espalhadas informaes, a mitologia e a literatura
transmitiram uma imagem da velhice, quase sempre deformada, conforme as
pocas ou lugares. Assim, a anlise histrica da velhice trabalhosa e difcil,
com contornos indefinidos e s vezes contraditrios.
Aris (1981), nos mostra que a diviso da vida surge na Jnia, no sculo
VI a.C. segundo esse autor, a idade da vida se constitua numa categoria de
grande peso, que foi absorvida por outras culturas atravs da arte e dos
costumes ao longo dos anos.
No artigo de Frana (2001), encontra-se que, nem sempre o
envelhecimento foi visto da mesma forma, uma vez que depende de uma srie
de fatores econmicos, sociais, demogrficos, polticos, dentre outros. No
entanto, ao longo de toda a evoluo da humanidade, os idosos foram um
elemento referencial na sociedade. Desde os mitos bblicos da longevidade, a
houve a identificao incondicional da velhice vinculada sabedoria. Vrios
modos de valorizar e aproveitar os recursos da velhice tomaram forma e
estruturaram o modo de vida e a conscincia social dos povos. Do quinto livro
do Gnesis sabe-se que Matusalm, que ganhou fama como o mais velho dos
homens, morreu com 969 anos, e Ado com 930 anos. As prprias escrituras
provam que os nomes de velho ou ancio no foram muitas vezes atribudos
em razo de uma grande idade, mas sim para honrar a maturidade dos juzos
sobre a vida.
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Da mesma autora tm-se que, esta velhice bblica comeou muito cedo
a gerar diversos tipos de crenas, reportando a nveis no absolutamente
imanentes. O rei David, por exemplo, fundador do reino de Israel, desposou
uma jovem viva para que no seu corpo pudesse encontrar lenitivo para a sua
velhice, pois era comum acreditar-se que o calor de uma jovem poderia
rejuvenescer um homem envelhecido. A gerocomia era, desta forma, um
recurso teraputico que prometia o rejuvenescimento atravs da prtica sexual.
Na mesma fonte encontra-se que para os egpcios, que cultivavam o
mito da imortalidade, a fraqueza que se observava nos idosos era devida a
uma dilatao do corao, uma vez que era a, segundo a medicina faranica,
que habitava a inteligncia, e no no crebro. Deste modo, um ancio egpcio
era saudado cortesmente pelos jovens que com ele se cruzavam, com uma
reverncia silenciosa. J para os judeus, a velhice era bem encarada no caso
das mulheres, mas muito mal vista no caso dos homens onde diziam que um
velho homem numa casa um fardo, uma velha mulher um tesouro. Os
helnicos eram particularmente pessimistas, j que o culto da juventude no
lhes permitia antever nada de bom aps a sua passagem. Assim, Aristteles
brindava a velhice dizendo que carregava todos os males, embora
reconhecesse que a maturidade comeava aos 60 anos.
Em Vargas (1983, p.112), no seu levantamento histrico sobre o
envelhecimento, registra que:
Confcio (551 a.C.), mestre por 10.000 geraes, realizou para si
prprio uma das primeiras divises das etapas da vida: aos 15 anos,
dispus meu corao para estudar; aos 30, me estabeleci; aos 40, no
alimentei mais perplexidades; aos 50, fiquei conhecendo os
mandamentos celestiais; aos 60, nada do que ouvia me afetava; aos 70,
pude seguir os impulsos do meu corao sem ferir os limites do direito
Ainda no mesmo autor encontra-se que Mncio (372 a.C.), filsofo,
defensor do ideal humanista, sugeriu o que deveria ser tomado como condio
de um bom governo, propagou que no se deve permitir s pessoas de
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cabelos brancos que levem cargas nas ruas. Com esperanas de vencer a
velhice, os egpcios procuraram de todas as maneiras sobrepor-se a essa
realidade. desta civilizao que se tem o primeiro texto escrito 2.500 a.C. por
Ptah-hotep, filsofo e poeta, de forma sombria e desesperanosa. Mais adiante
ainda, tem-se que, para os adeptos do Taosmo a longevidade constitua-se em
virtude; a doutrina de Lao-Ts situava os 60 anos como o momento em que o
homem capaz de libertar-se de seu corpo atravs do xtase e de se tornar
um santo. Na civilizao chinesa a velhice era a vida sob sua forma suprema e,
em nenhuma hiptese, um flagelo. A civilizao judaica concebia os idosos
como os eleitos e os arautos de Deus, atribuindo-lhes idades fabulosas, vendo
na velhice, portanto, a recompensa mxima da virtude. Entre os judeus, os
ancios possuam um papel importante na vida pblica e, como os chineses,
enquanto conservassem vigor fsico e moral, eram eles quem governavam a
famlia. Na Antigidade grega, as instituies relacionavam a idia de honra
velhice, de tal modo que as palavras, gera e geron que significavam velhice,
tinham tambm o sentido de privilgio da idade, direito de ancianidade ou
deputao (Vargas, 1983).
A idade da vida segundo Bach (1989), ressurge no sculo XIX, com
fora total atravs da Igreja, sendo incorporada pelas escolas e hbitos da
poca. Ainda de acordo com a autora, supe-se que a obrigatoriedade dos
registros de nascimento na Frana tenha sido introduzida pela Igreja atravs de
Francisco I. Nessa poca foi imposto aos procos o controle dos nascimentos
atravs de registros, difundindo-se a partir da, a exigncia de registros civis
nos servios pblicos. At o sc. XX o autor constata que a importncia da
idade chegava, em certos casos, a se manifestar sob formas de representao
mais elaboradas. Em toda parte a classificao da vida pela idade, designava
o modo de existncia, status e papis atravs de um sistema que regulava o
comportamento e a prpria vida do grupo.
Ainda referindo-se as idias da mesma autora, grandes mudanas
ocorreram em relao s faixas etrias at nosso sculo, carregando consigo
maneiras de conceber o corpo e a vida. Chega-se ento s trs principais
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classes etrias: infncia, juventude e velhice. A infncia no-reconhecida at o
sc. XII destaca-se na arte barroca pela imagem dos anjos. A juventude,
exaltada no sc. XVII, desaparece e vai ressurgir no sc. XX sob o domnio
conceitual da adolescncia. A velhice repudiada nos sc. XVI e XVII, sob a
imagem do velho decrpito, passa a ser privilegiada no sc. XIX com a figura
do velho patriarca, do ancestral, do sbio e do prudente conselheiro, sendo
novamente desprezada no sc. XX . O classificar a vida tornou-se cada vez
mais complexo em todas as culturas, porm, preservando como caractersticas
a unidade do tempo csmico e a biologia humana. Alm disso, outros fatores
desempenharam papel importante de acordo com cada cultura; so eles:
fatores sociais, histricos, econmicos, urbanizao e aumento de mdia de
vida. A importncia da classificao etria, entretanto, se torna muito mais
complexa, na medida em que so seus princpios que vo fixar os status e,
conseqentemente, os papis, a prescrio de condutas, atitudes e
sentimentos.
Acrescenta Vargas (op cit), na histria poltica da Europa Ocidental, a
diviso por idade caracteriza-se como o trao mais significativo e mais comum
da organizao social. Porm, os critrios da diviso, do privilegiamento ao no
reconhecimento de determinadas classes de idade, variam historicamente. Um
fato muito importante, que desde o antigo Egito at o Renascimento, o tema
velhice foi quase sempre tratado de maneira estereotipada: mesmas
comparaes e mesmos objetivos, chega a haver na sociedade uma palavra de
ordem, silenciar a seu respeito. Quer o enaltea, quer o avilte, a literatura o
soterra debaixo de banalidades, esconde-o em lugar de revel-lo. O
envelhecimento tem sobretudo uma dimenso existencial, e como todas as
situaes humanas, modifica a relao do homem com o tempo, com o mundo
e com a sua prpria histria, revestindo-se no s de caractersticas
biopsquicas, como tambm sociais e culturais (Vargas, 1983).
Para Nri (1995), o processo de envelhecimento ocorre diferentemente
para as pessoas, dependendo de seu ritmo e da poca de sua vida, pois, a
velhice no um perodo caracterizado s por perdas e limitaes. Embora
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aumente a probabilidade de doenas e limitaes biolgicas, possvel manter
e aprimorar a funcionalidade nas reas fsica, cognitiva e afetiva. Mesmo
pessoas comuns podem alcanar alto nvel de especializao em domnios
selecionados da inteligncia como, por exemplo, a memria e a soluo de
problemas. Esse fato dificulta estabelecer com preciso um limite etrio ou
periodizao da velhice, pois, existe grande variabilidade individual e social em
relao poca em que as pessoas aparecem, se declaram ou se comportam
como velhas.
Ainda na mesma autora, tem-se uma trplice viso do envelhecimento,
que contempla as influncias biolgicas, sociais e psicolgicas atuantes sobre
o desenvolvimento humano. Segundo esse ele necessrio distinguir entre a
senescncia, a maturidade social e o envelhecimento. A senescncia
referente ao aumento de probabilidade da morte, com o avano da idade. A
maturidade social corresponde aquisio de papis sociais e de
comportamentos apropriados aos diversos e progressivos grupos etrios. O
envelhecimento corresponde ao processo de auto-regulao da personalidade,
e inerente aos processos de senescncia e maturidade social, todos os trs
referenciados e simbolizados pelo tempo dos calendrios e a idade
cronolgica. A idade cronolgica , portanto, um parmetro adotado pelas
disciplinas de desenvolvimento, que se movem entre as vrias noes de
tempo: fsico, biolgico, ecolgico, social, psicolgico e intrnseco.
Novaes (1995), em seu livro, Conquistas possveis, rupturas
necessrias, atenta para as contradies dos atuais mitos do envelhecimento,
como por exemplo, o envelhecimento cronolgico progressivo e universal sem
levar em conta as pessoas que atingem a terceira idade com vigor fsico,
muitas vezes invejvel, participando de eventos esportivos, com direito a
competies oficiais. Outras vezes tem-se o mito da improdutividade, em
desacordo com o desempenho intelectual e profissional de muitas pessoas de
idade avanada que influenciam mais a histria e a sociedade do que muitos
jovens. Outro mito, o do desligamento e ausncia de compromisso na vida,
sendo possvel encontrar pessoas com idade avanada que ainda possuem
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dentro de si a vontade de viver. Confunde-se tambm idade avanada com
senilidade e enfermidade, onde possvel desmenti-la diante de pessoas
idosas com sade mental e fsica, e capacidade de aprender e motivadas o
suficiente para atualizar-se. A falta do interesse e desejo sexual tambm
desmentida diante de pessoas que atingem a terceira idade e ainda assim,
buscam um parceiro para casar-se e viver uma vida amorosa plena. A
passividade e conformismo atribudo ao idoso so derrubados diante de seus
conflitos afetivos, angstias e estresse a que esto sujeitos. O desinteresse no
futuro desmentido quando se v essas pessoas a curiosidade diante do
milnio que se inicia. O auto-isolamento social e cultural cai por terra diante da
necessidade de convivncia intergeracional e de socializao. Observa-se
grande nmero de grupos de idosos de todos os tipos: culturais, turstico, de
amigos e de crescimento pessoal.
Embora se saiba que o estudo cientfico do envelhecimento humano
est ainda engatinhando, h acordo entre os especialistas do envelhecimento
quanto aos seguintes pontos: a natureza de envelhecimento e da velhice
mais complexa e diferenciada do que normalmente se pensa. a questo
essencial do desenvolvimento integral na velhice a busca do equilbrio entre
as potencialidades e limitaes - se por um lado o envelhecimento implica
declnio, fragilizao e incapacidade, a cultura e o prprio indivduo podem
gerar condies que promovam progresso psicolgico, a despeito ou por causa
mesmo dessas limitaes (Neri, 1993).
Em Soares (2001), encontramos que a OMS estipulou que as pessoas
entram na faixa da Terceira Idade aos 65 anos nos pases de primeiro mundo e
aos 60 anos em pases sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento. E que a
velhice pode ser vista tanto do ponto de vista orgnico com suas alteraes
anatmicas, fisiolgicas, psquicas, como do ponto de vista moral e social. A
Organizao Mundial da Sade (OMS) (apud Soares, 2001), caracteriza a
velhice como o prolongamento e trmino de um processo representado por um
conjunto de modificaes fisiomrficas e psicolgicas ininterruptas ao do
tempo sobre as pessoas (Soares, 2001).
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A este respeito, Schroots e Birren (1990), realizaram pesquisa, onde
procuraram definir diferentes conceitos de tempo e suas relaes com o
envelhecimento, como tempo fsico, biolgico, psicolgico e social.
a) Tempo fsico: chamado tempo objetivo, medido em calendrios,
relgios, datas de nascimento e outros. mensurvel e quantificvel,
podendo ser relacionado idade do organismo. Este tempo no
corresponde ao tempo biolgico humano, faz sentido apenas na
perspectiva pura do relgio e do calendrio. No Projeto pesquisado, a
idade cronolgica dos alunos variou entre 15 e 70 anos de idade, dado
que marca, a priori, uma das heterogeneidades do pblico atendido.
b) Tempo biolgico: aquele a que se referem os relgios biolgicos,
metablicos de sincronizao individual. A idade biolgica reflete as
variaes entre indivduos com a mesma idade cronolgica, e se define
como a posio do indivduo em relao sua expectativa de vida. Nos
alunos pesquisados, o tempo biolgico se apresentou, a exemplo do
tempo fsico, tambm muito diferenciado.
c) Tempo psicolgico: definido como a experincia subjetiva do tempo, o
modo como esse percebido e vivenciado pelo indivduo em sua vida
material e simblica. de se supor, portanto, que haja uma enorme
diferenciao na experincia de tempo psicolgico individual, tanto da
etapa de vida dos jovens, quanto na dos adultos que freqentaram o
Ciclo de Alfabetizao.
d) Tempo social: refere-se posio e hbitos sociais adquiridos e
sentidos pelo indivduo como pertencentes ao papel social e cultural,
esperado para a idade cronolgica.
Morhi (1999, p.26), Considera que envelhecer :
o processo de acumular experincias e enriquecer a vida por
meios de conhecimento e habilidades fsicas. Essa sabedoria
adquirida proporciona o potencial para tomar decises razoveis e
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benficas a respeito de ns mesmos. O grau de independncia
que dispomos na vida est diretamente relacionado atividade
maior ou menor em nosso corpo, mente e esprito... o
envelhecimento pode ser definido como uma srie de processos
que ocorrem nos organismos vivos, e com o passar do tempo,
leva a perda da adaptabilidade, a alterao funcional e,
eventualmente a extino.
Sociologicamente, as pessoas transitam em trs tempos: o primeiro o
tempo de formao, onde o indivduo adquire habilidades para produzir na
sociedade. O segundo o tempo de produo, poca em que ele est no auge
do seu potencial, vivendo na sociedade atual o seu momento mais reforador.
O terceiro o tempo de no produo, onde ocorre o decrscimo de seu vigor
fsico e de atividades que so decorrentes deste vigor. Psicologicamente, no
primeiro tempo, ele expande seus espaos, aprende a tornar-se independente,
e quando com desenvolvimento saudvel, estabelece um bom nvel de auto-
estima. No segundo tempo ele solidifica esses espaos, conquista outros e
chega ao mximo de seu potencial. Vive assim, o seu momento mais
reforador. No terceiro momento, a situao comea a reverter-se a nvel
biolgico, social e psicolgico, pois o seu corpo fsico entra em declnio e ele j
no possui mais os meios de que dispunha (vigor fsico, velocidade de
raciocnio). Socialmente, seu espao profissional se extingue, e, na maior parte
das vezes, sua morte social decretada com o advento da aposentadoria.
Seus papis scio-familiares tambm vo desaparecendo medida que os
filhos crescem e vo embora de casa, seu papel de pai (ou me) vai deixando
de existir, culminando com a Sndrome do Ninho Vazio (Magalhes, 1987).
Seu papel de trabalhador, visto no contexto scio-econmico-cultural, se
foi com a aposentadoria. Seu papel de filho deixa de existir quando seus pais
falecem. Psicologicamente, ocorre Uma "diminuio do eu", necessitando uma
reformulao de valores para reestruturar sua auto-imagem, auto estima, seu
reconhecimento enquanto Ser, pois o desaparecimento dos meios com os
quais estava acostumado a contar, o surgimento de barreiras que ele percebe
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como insuperveis e a mudana das expectativas pessoais e sociais, geram
sentimento de confuso existencial que acaba por criar o ciclo vicioso
solido/angstia que finaliza em isolamento, trazendo consigo desajustes.
Ainda o mesmo autor refere-se ao envelhecimento como um fenmeno
contnuo na vida das pessoas, mas que pode ter manifestaes em parte
descontnuas. As dificuldades da decorrentes podem se manifestar em
diferentes idades, segundo as condicionantes das situaes da vida e de
trabalho. Pode-se ser "mais ou menos velho" em relao a uma determinada
situao de trabalho, mas possvel evitar certas dificuldades, devidas ao
envelhecimento, agindo-se sobre os meios de trabalho (Magalhes, 1987).
De acordo com as questes relativas ao envelhecimento no podem ser
abordadas unicamente em termos de uma determinada populao, os
trabalhadores idosos. necessria uma reflexo sobre o aspecto dinmico e
antecipar as relaes entre a evoluo individual da idade de cada trabalhador
com o futuro da empresa. Esta antecipao deve se traduzir por influncia
sobre a concepo dos meios de trabalho e a poltica de recrutamento da
empresa, pensando em como recuperar a destruio sistemtica que os
homens sofrem desde o momento em que iniciam sua vida profissional.
Uma das muitas caractersticas dos seres vivos poder estar fazendo-
se, assim sendo, faz-se necessrio um trabalho conscientizador onde se
busque revalorizar o Ser em relao ao Ter, onde se busque emancipar o
Saber em relao ao Poder, utilizando-se uma perspectiva unificadora,
integrando as dimenses sensoriais, afetivas, intelectuais e sociais,
possibilitando ao trabalhador, auto-regular-se, participar do seu trabalho,
entender o que o produto de sua atividade, vencendo assim, a alienao, a
insatisfao e ansiedade que acarretam a depresso, que por sua vez,
aumenta o sentimento de indignidade e desqualificao.
Precisa-se retomar o pensamento/ao. Precisa-se passar da
impotncia para a potncia. Porm, isso s conseguido se o indivduo estiver
utilizando todo o seu potencial, e no apenas algumas partes, deixando outras
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atrofiadas, como acontece no sistema taylorista. Sistema esse, que tem como
produto a (re)partio do ser. O ser humano nasce equipado para enfrentar a
vida, no entanto, preciso que ele se conscientize de suas foras.
Embora o envelhecimento dificulte a aprendizagem de novas tcnicas,
de novos procedimentos e de novos mtodos de trabalho, h possibilidade de
formao em qualquer idade, sob certas condies. Importncia da experincia
e das aprendizagens anteriores (escolar, profissional e no-profissional). Papel
da durao da formao e das relaes teoria/prtica. grande a importncia
da formao continuada (reciclagem) como meio de estruturar as aquisies da
experincia, favorvel a uma forte capacidade de aprendizagem, em qualquer
idade, compensando assim a influncia inevitvel do envelhecimento das
pessoas na execuo e gesto de tarefas.
2.4 A Gerontologia
A partir da preocupao o envelhecimento inspirou muitos estudos, e
estes vieram a se constituir em uma nova cincia chamada Gerontologia. A