REFLEXÃO DA PRÁTICA DOCENTE
EM ANOS INICIAIS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS – UFPel
Curso de Pedagogia a Distância
Turma 4 – Polo de Novo Hamburgo
QUÉTLIN MORGANA FERREIRA
ARTIGO:
Reflexão da Prática Docente em Anos Iniciais
Equipe Docente Responsável:
Tutoras Presenciais: Simone Lindenmeyer e Madebe Schmidt
Tutora a Distância: Ana Paula Grellert
Professora Formadora: Dione Moreira Nunes
2014
RESUMO: O presente trabalho se detém na reflexão da prática docente em anos iniciais,
onde contempla a importância da interação para a aprendizagem significativa, na qual o
indivíduo aprende em interação com a cultura numa troca de saberes entre o educador e o
educando, fazendo também com que se destaque a zona de desenvolvimento proximal na qual
favorece as interações na sala de aula e fundamenta uma proposta de educação para
diversidade.
Palavras-chave: Diversidade; ação-reflexão-ação; aprendizagem significativa; interação;
planejamento.
INTRODUÇÃO
Estagiando na turma do 3º ano de anos iniciais, turma composta por 28 alunos, heterogêneos;
onde pude observar que o conhecimento não é algo internalizado imediatamente, mas que
passa por processos de acúmulo, de oposições entre conhecimentos anteriores e de
complementaridade, que conduzem às transformações de conceitos, das relações entre os
significados que os compõem e dos procedimentos requeridos e criados nas diferentes
resoluções de problemas,uma vez que, as formas e os conteúdos, assim como os
procedimentos que desenvolvemos para construir e transformar o conhecimento, são
aprendidos nos diversos ambientes em que vivemos,tanto em casa, como na escola, na
comunidade, etc.
O processo de ensino-aprendizagem depende, então, da construção de pontes e pontos em
comum, de um conhecimento do professor em relação a seus alunos em sala de aula,
incentivando o uso de conhecimentos prévios aprendidos no cotidiano, por meio do processo
de mediação. O trabalho inicial do educador é tornar o objeto em questão, objeto
deconhecimento para aquele sujeito.
De acordo com Vygotsky (1998), o processo de internalização ocorre ao longo de uma série
de transformações em que a pessoa em qualquer momento da vida opera sobre o
conhecimento apresentado e o reconstrói internamente, em uma longa série de eventos que
ocorrem ao longo do desenvolvimento.
Assim deve ser também o professor, propicio a uma mente aberta para mudanças, flexível,
onde possa deste mesmo modo reconstruir seu conhecimento, ser reflexivo e avaliativo sobre
a sua prática, motivador e um eterno pesquisador.
REFLEXÃO DA PRÁTICA DOCENTE
A importância de ser um bom professor
A prática docente nos leva a refletir como é o dia-a-dia de um professor. Enquanto estamos
estudando apenas teorias, não temos ideia do que é estar frente a uma classe com 30 alunos ou
mais onde cada uma dessas crianças possui sua peculiaridade e individualidade. Onde, cada
indivíduo aprende de um jeito e ritmo diferente, e cabe ao professor estar preparado e atento
para esta prática educativa que esta cada vez mais abrangente dentro das escolas.
A experiência vivida em sala de aula me mostrou claramente o que significa ser professor,
digo significa, porque o professor, no meu ponto de vista, é a referência, é o diferencial, é um
dos significados básicos para a aprendizagem do aluno, é o mediador do conhecimento, como
afirma Vygotsky: “o professor é figura essencial do saber por representar um elo
intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente.”
Vejo o professor como figura de inteira responsabilidade sobre a aprendizagem do aluno, por
isso ressalto que educador é aquele que tem a capacidade de provocar no outro a abertura para
a aprendizagem e de colocar meios que possibilitem e direcionem esta aprendizagem. Destaco
a importância de um professor pesquisador, “dominador do conteúdo”, aquele que possa
passar segurança ao aluno sobre aquilo que está transmitindo; um professor motivador que
propicie aos alunos uma aprendizagem significativa, que aquilo faça sentido para eles. O
professor pode fazer com que queiram aprender sobre, despertando a curiosidade por meio da
mediação, pois Paulo Freire afirma que: “os homens se motivam em comunhão, mediados
pela realidade.” Deste modo este professor deve conhecer a realidade de seus alunos, o
entorno, a cultura, para assim se estabelecer uma metodologia dialética de trabalho onde possa
articular a realidade do aluno, com sua intencionalidade pedagógica e o processo de
mediação, para assim se alcançar uma aprendizagem satisfatória.
Para Vygotsky, a aprendizagem se da através da interação com outros indivíduos. A
Psicologia da Educação e Aprendizagem (SILVA, 2006, p.12) reforça essa tese: “Não é
possível aprender sobre o mundo, sobre as coisas, se não tivermos o outro, ou seja, é
necessário que alguém atribua significado sobre as coisas, para que possamos pensar o mundo
à nossa volta”. A principal tarefa do professor, portanto, é interferir no que Vygotsky chamou
de zona de desenvolvimento proximal: “Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância
entre aquilo que o ser humano consegue fazer sozinho e o que ele consegue desenvolver com
a mediação do outro”. É a partir dos saberes que o indivíduo já possui que o professor deve
começar.
O construtivismo propõe que o aluno aprenda através da interação com o meio. Desta forma,
parte-se do concreto ao abstrato, e, a metodologia de ensino deve privilegiar o interesse da
criança. Se o indivíduo gostar da maneira como o conteúdo esta sendo transmitido e se tem
afinidade com o objeto de estudo, mais rapidamente irá compreender e concordo plenamente,
uma vez que tenho vivenciado bem isto mesmo durante o meu estágio docente.
Planejamento
Posso afirmar, portanto, que o professor ter um planejamento é essencial.Mas muito além
deste é ter um planejamento flexível, que aconteça de acordo com as necessidades dos alunos
e não como convém ao professor. E foi com base nesta tese que aconteceu meu estágio
docente, muito daquilo que eu havia preparado não ocorreu de forma sequencial, bem como
também muitas outras ideias e interesses surgiram por parte dos alunos no decorrer das aulas,
o que fez com que eu alterasse meu planejamento, uma ideia melhor aqui, outra dali foram
surgindo afim de qualificar meu estágio, isto fez com que eu sentisse que estava no caminho
certo e que desta forma os alunos estavam aprendendo, pois estava sendo “como eles
queriam”, ou seja, com o que era de interesse deles e propicio a realidade.
Por ser uma turma heterogênea e com algumas inclusões, tive que adaptar meus planos a fim
de favorecer também estes alunos como um todo, não somente os outros que acompanham
“normalmente” a série. Estes alunos ao qual me refiro são alunos num processo lento de
aprendizagem no que se refere ao acompanhamento da turma, também com dificuldades de
atenção e concentração, para tanto, tinha na turma um menino pré-silábico, com sérias
dificuldades de aprendizagem, para ele se aplicava atividades diferenciadas, partidas
diretamente do inicial, concreto, 1º e 2º ano, digamos assim. Este necessitava de uma atenção
muito especial praticamente toda voltada a ele, pois estava ainda em processo de
alfabetização. Confesso que foi um dos meus desafios, pois comprometia todo o andamento
da aula, uma vez que tinha que dar atenção para todos durante as atividades, mas acredito
consegui diante da minha capacidade, “dar conta”, circulando pela sala auxiliava os alunos e
tirava dúvidas durante as atividades e dava a ele atividades diferenciadas, elaboradas por mim
mesmo, sugestão da professora titular, uma vez que na escola não há sala de recursos ou
algum outro profissional que possa dar uma assistência maior a esta criança. Como lidar, bem
como ensinar, nestes casos. Deve partir do professor a ação, pois não tem na escola auxílio,
somente uma vez na semana uma segunda professora que dá “recuperação” a alguns alunos e
então atende este menino. Em diálogos com a professora titular da turma, pra ela também foi
e está sendo um grande desafio, pois não se vê preparada, “mesmo buscando ajuda é difícil no
dia-a-dia, ainda mais tendo que lidar com outros tipos de inclusões dentro da mesma turma e
tendo que dar conta do conteúdo.” Diz.Diante deste desafio pude ver claramente a
importância da ação-reflexão-ação diante da minha prática educativa. Segundo
(WEIDUSCHAT, 2007, p. 34) “[...] queremos dizer que existe um exercício intencional do
professor que o leva, constantemente, a refletir sobre o que realizou, a mudar a sua ação
sempre que necessário e a refletir novamente sobre os rumos de sua nova ação.” Onde o
professor se avalia diariamente e não somente se avalia como também muda o que não está
dando certo e vai tentando até acertar, acredito que não adianta somente reconhecer o erro e
não muda-lo, é preciso ter outras estratégias de modo a contemplar a aprendizagem de todos
os alunos, e se possível, como é o caso desta turma onde atuei, se munir de várias estratégias,
uma para cada tipo de aluno, pois sabemos que em cada turma existem vários tipos de alunos
e que só é possível fazer com que aprendam se ensinarmos do modo mais fácil para ele
aprender, então, se eles aprendem de modos diferentes, cabe ao professor atende-los cada um
na sua individualidade. Mas acima de tudo é preciso apostar na inteligência dos alunos, como
diz o educador francês Charles Hadji (2006).
Experiência
Minha primeira semana de estágio foi difícil, pois ainda estava em processo de avaliação e
reflexão sobre minha prática, não que nas outras semanas eu também não estivesse, mas me
refiro que de maneira mais tranquila, pois além de já conhecer os alunos e seu ritmo de
aprendizagem, já percebia de maneira mais clara se estavam aprendendo ou não e o que eu
poderia ter feito diferente. Sendo assim busquei por meio da interação uns com os outros,
criar um jogo de perguntas e respostas a respeito do que havia trabalhado com eles, de
maneira àrecaptular o que foi visto e compreender se realmente havia alcançado meus
objetivos.Achei interessante a fala de Gérard Vergnaud (2008) na Revista Nova Escola, onde
ele diz que: “Se o professor vê os alunos errar sem entender o percurso que estão trilhando, o
trabalho não funciona.” De modo que o professor deve trabalhar também em cima do erro, o
porque do erro, será que eu também não estou errando? Ou não erro, isto é o certo para o
aluno, é a resposta dele, e procurar saber como ele chegou naquela resposta, naquele
raciocínio, o porque desta opinião, isto também valoriza a aprendizagem.
CONCLUSÃO
Com essa experiência pude ver que ensinar nos anos iniciais foi uma oportunidade rica em
aprendizagens, tanto para os alunos como para mim. Os alunos naturalmente já são curiosos e
estão sempre de prontidão para aprender, pelo menos em teoria sabemos disso.Entretanto, eles
parecem não estarem sempre prontos para qualquer tarefa,tem que ser atividades instigantes,
que as maravilhem, que sejam um convite a aprender. Percebi também que a disciplina é algo
indispensável para que as crianças tenham um ambiente propicio a aprendizagem, para que
sua atenção volte-se para as atividades propostas pela professora, que tem a tarefa de orientar
as crianças e conduzi-las durante a realização das mesmas.Dentre muitos aspectos relevantes
para se obter um ensino-aprendizagem de qualidade também posso destacar a efetividade
entre aluno e professor, bem como o diálogo com a família.
É importante que os educadores internalizem a convicção de que um trabalho mantenedor de
bons resultados acontece quando sua dedicação é total, limitado não somente em sala de aula
junto aos seus alunos, mas também na procura para inovar e aperfeiçoar a sua prática.
Para finalizar digo que: acredito que o importante não é o tempo que o aluno irá levar
para aprender, ou a forma como ele irá aprender, mas sim que ele aprenda.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
SILVA, Daniela Regina da. Psicologia da Educação e Aprendizagem. Associação Educacional Leonardo da Vinci, 2006.
WEIDUSCHAT, Iris. Didática e avaliação. Associação Educacional Leonardo da Vinci, 2007, 2.ed.
REVISTA NOVA ESCOLA. Planejamento. Ed.Abril, n. 198. Dezembro 2006. P. 17.
REVISTA NOVA ESCOLA. Machado para todas as idades. Ed Abril, n. 215. Setembro 2008. P. 34.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Metodologia Dialética em Sala de Aula. In: Revista de Educação AEC. Brasília: abril de 1992 (n.83).
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/vygotsky-conceito-aprendizagem-mediada-636187.shtml?page=1