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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
INFÂNCIA: A CONSTRUÇÃO DOS VALORES MORAIS E LIMITES
Por Tayná da Silva Gomes
Orientador
Professora Fernanda Canavez
Rio de Janeiro
2012
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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
INFÂNCIA: A CONSTRUÇÃO DOS VALORES MORAIS E LIMITES
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Psicopedagogia Institucional.
Por: . Tayná da Silva Gomes
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AGRADECIMENTOS
A minha família e amigos que incentivam e
acompanham mais esta jornada, torcendo
sempre pelo sucesso em minhas
empreitadas.
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DEDICATÓRIA
Ao meu amigo e grande amor Alex, que me
acompanha e fortalece o meu desejo de ir
adiante em minha formação profissional.
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RESUMO
Após leituras feitas sobre o tema e o início do trabalho como professora de uma
Escola Municipal do Rio de Janeiro foi percebida a necessidade de compreender mais
sobre o tema Valores e limites na infância e buscar alternativas de ação para realizar
em minha prática pedagógica e por hora solucionar as situações de ausência de
valores e limites vivenciadas constantemente no ambiente escolar. Pretende-se
presentar com esse estudo os possíveis motivos decorrentes da falta de valores e
limites presentes nas situações cotidianas vivenciadas em instituições formais de
ensino. Foram consideradas como instituições formais de ensino a escola e a família,
duas esferas importantíssimas na construção de conhecimentos e no
desenvolvimento cognitivo, social e emocional de cada indivíduo. Espera-se
demonstrar que as situações de falta de limites e valores assistidas em diferentes
situações deve-se a ausência de parceria entre escola e família no processo
educacional dos indivíduos. Essa parceria é fundamental, pois a mesma é entendida
como principal responsável pela construção dos valores e limites de cada ser
humano.
PALAVRAS – CHAVES: Educação, Valores e Limites.
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METODOLOGIA
Para conduzir esse estudo, foi escolhida a metodologia de Pesquisa
Bibliográfica, por permitir o contato com a análise com autores que se dedicaram à
investigação do tema central desse trabalho.
Para elaboração desse estudo, contribuíram como marco referencial teórico,
os seguintes autores: Beauclair (2009) e Porto (2011), em que se buscou organizar
um conjunto de ideias para colaborar para a construção de uma visão ampla sobre o
que vem a ser a psicopedagogia e seus desdobramentos conceituais; Parolin (2007) e
Cury (2003), que contribuíram com uma proposta educacional baseada no
desenvolvimento e na construção de valores morais e limites que buscam contribuir
para a formação de um individuo mais responsável e consciente de seu papel na
sociedade.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
I – A IMPORTÂNCIA DA PARCERIA FAMÍLIA E ESCOLA NO PROCESSO
EDUCACIONAL 10
II – A CONSTRUÇÃO DOS VALORES E LIMITES NA INFÂNCIA 15
III – A CONTRIBUIÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES
MORAIS E LIMITES NA INFÂNCIA 23
CONCLUSÃO 30
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31
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INTRODUÇÃO
Escolheu-se esse tema para estudo porque se acredita que o grande desafio
da educação é educar para o mundo, valorizando o pensamento, oferecendo
instrumentos para que os indivíduos possam se posicionar, questionar, agir, ou seja, é
fazer com que aquilo que elas aprendem com suas famílias e na escola faça sentido
na vida real, levando-as a uma construção e transformação.
Para Parolin (2007), a natureza das aprendizagens tem uma relação direta
com a qualidade dos estímulos e das relações afetivas que foram proporcionadas à
criança, com a cultura em que ela está inserida.Vale dizer, para reforçar, que é
fundamental que a criança ou jovem seja percebido em seu universo pessoal como
um ser único e que necessita de um adulto competente para mediar suas
aprendizagens.
Uma grande questão que envolve o processo educativo atualmente é a
ausência da parceria entre escola e família na construção de valores morais e limites.
Diante dessa realidade, é muito importante que a família e a escola
estejam presentes nesse processo, pois elas ajudarão no desenvolvimento das
crianças, promovendo descobertas, travando desafios e ampliando a compreensão do
mundo que as cerca.
Segundo Portilho; Parolin (2004), é de consenso que a aprendizagem tem
como objetivo primeiro instrumentalizar o sujeito para desvelar a sua realidade
objetiva e subjetiva. Também acordamos que a vida inteira estamos aptos a aprender
e podemos fazê-lo em qualquer situação, com qualquer coisa e com qualquer pessoa,
contanto que haja, antes de tudo, o desejo de aprender, e, como decorrência, um
outro que viabilize essa empreitada.
É necessário, portanto, ter disposição para mudar e enfrentar desafios que
virão pela frente.
Diante desse grande desafio de educar para o mundo, redimensionando a
atuação conjunta família e escola, surgem alguns questionamentos em relação a
importância dessa parceria na construção de valores e limites: Qual a importância dos
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valores e limites na infância? Quais são as consequências da ausência de valores e
limites na infância? Por que a parceria entre escola e família é fundamental na
construção dos valores e limites? Qual a atuação do psicopedagogo em situações de
falta de valores e limites?
Esta visão de Educação impulsionou o interesse por um estudo que
pudesse apontar algumas possíveis respostas dentro da situação apresentada. Por
isso, tornou-se objetivo geral desse estudo compreender a origem da ausência de
valores e limites e discutir a relevância dos valores e limites na infância e sua
influência no ambiente escolar.
Para alcançar esse objetivo, foram traçados, como objetivos específicos de
estudo: Compreender a importância dos valores e limites na infância; Situar a
importância dos valores e limites na infância no contexto social em que está inserido;
Perceber os diferentes aspectos e consequências da ausência de valores e limites na
infância; Buscar soluções possíveis para a construção dos valores e limites na
infância; Questionar a atuação do psicopedagogo em situações de falta de valores e
limites.
Espera-se deixar, com esse estudo monográfico, uma contribuição
significativa a todos os educadores, família e escola, interessados em renovar e
aprimorar a complexa arte de educar.
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CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DA PARCERIA FAMÍLIA E ESCOLA NO
PROCESSO EDUCACIONAL
Entender o processo educacional, buscando identificar o fazer específico
de quem nele atua, pressupõe, para maior contextualização, conhecer os principais
envolvidos nesse processo, família e escola. Por essa razão, nesse capítulo,
pretende-se resgatar os momentos em que a parceria família e escola foi entendida
como fundamental, diante das necessidades e da realidade sócio-econômica-política.
Diante das inúmeras mudanças que ocorrem na sociedade atual, o
processo educacional vem enfrentando muitos desafios que comprometem sua
eficácia frente às exigências que surgem. Deste modo, faz-se necessário à
conscientização dos educadores (família e escola) para a importância do
compromisso de apresentar o mundo para as crianças, prepará-las para viverem
produtivamente de forma adequada e, por fim, entregar a direção da sociedade em
suas mãos.
Conforme Parolin (2007),
o ser do conhecimento, o aprendiz, é um sujeito que é capaz de
aprender e, a partir de suas aprendizagens, torna-se conhecedor de
si mesmo e ao conhecer-se, torna-se apto a conhecer e entender o
seu mundo externo. A partir dessas possibilidades relacionais,
entender diferentes culturas e a biodiversidade no qual esse
aprendiz está inserido torna-se, além de prazeroso, indispensável.
(p. 88)
Para tanto, torna-se necessária à presença da parceria entre família e
escola, conscientes de seus papeis e da importância para a formação dos indivíduos
pensadores e atuantes.
A parceria entre a família e a escola no processo educativo é fundamental
para buscar o sucesso educacional. Essa parceria deve ser entendida como uma
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equipe que deve seguir princípios e critérios, onde ambas devem conhecer suas
realidades e limitações desejando atingir metas e objetivos em comum.
Segundo Tiba (2002), se a parceria entre escola e família for formada desde
os primeiros passos da criança, todos terão muito a lucrar. A criança que estiver bem
vai melhorar e aquela que tiver problemas receberá ajuda tanto da escola quanto dos
pais para superá-los.
É importante compreender que ainda que a família e a escola possuam
metas e objetivos em comum, cada uma deve fazer a sua parte, cumprir com o seu
papel no processo educativo. Deste modo, família e escola, traçando objetivos em
comum, irá propiciar a criança uma segurança na aprendizagem de forma que
possam se formar cidadãos críticos capazes de enfrentar a complexidade de
situações que surgem na sociedade.
Para Tiba (2002), quando a escola, o pai e a mãe falam a mesma língua e
têm valores semelhantes, a criança aprende sem grandes conflitos e não joga a
escola contra os pais e vive-versa.
Para tanto, entende-se que o primeiro passo, para que família e escola
sejam parceiras no processo educativo é estabelecer regras que fortaleçam o papel
de cada uma nesse ato de educar. Ambas devem ser conscientes e responsáveis
pela educação de crianças e jovens para o exercício pleno da cidadania com
dignidade e respeito, para tornarem-se pessoas que alcancem a felicidade e
autonomia, de forma competente.
De acordo com Parolin, entende-se necessário retomar ou ressignificar
alguns antigos valores e conceitos que fazem falta em nosso dia-a-dia, necessita-se
também, ajustar outros que se mostram obsoletos frente às novas realidades
socioculturais.
Para a autora citada, dos valores antigos que necessitam ser retomados,
destaca o respeito aos mais velhos e, principalmente, aos pais e professores. Dos
que necessitam ser ressignificados está o conceito de escola. Do grupo de conceitos
que necessitam ser ajustados está o de família.
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Ainda segundo Parolin, a escola deve ser lugar de excelência, promotora
do desenvolvimento de maneira sistematizada do conhecimento historicamente
acumulado, deve propiciar espaço para que os alunos possam trazer e compartilhar
seus próprios conhecimentos, além de favorecer a construção de normas de
convivência social. A escola, assim, socializa conhecimentos e pessoas. Já a família,
deve ser entendida como um agrupamento de pessoas que tem o compromisso
mútuo de dar e receber afeto e respeito. A instituição família deve ser percebida como
conceito de família funcional, tenha ela a constituição que tiver.
Faz-se necessário compreender que para o processo educativo é preciso
oferecer diferentes formas de apropriação do conhecimento e perceber que as
possibilidades de aprendizagem de crianças e jovens dependem das mediações dos
adultos a que ela seja exposta em seus vários momentos da vida.
A interação entre a família e a escola é positiva para o processo de
aprendizagem, a criança deve perceber o ambiente escolar como uma continuidade
do lar assim poderá alcançar maior sucesso, estímulos e motivações para as
propostas escolares, o que resultará em ganhos para todos.
A família necessita ser ativa dentro da escola, visto que as duas
instituições, família e escola, desempenham funções primordiais na vida de crianças e
jovens, estabelecendo uma relação biunívoca, estimulando o desejo de aprender. Os
pais são os maiores responsáveis pelos seus filhos e sempre respondem por eles, até
atingirem a maioridade.
Para a escola, os alunos são apenas transeuntes
psicopedagógicos. Passam por um período pedagógico e, com
certeza, um dia vão embora. Mas, família não se escolhe e não há
como mudar de sangue. As escolas mudam, mas os pais são
eternos. (TIBA, 2002, p.181)
Portanto, é necessário que a família e a escola mantenham canais de
comunicação e uma relação de confiança e compreensão. Quando a família e a
escola trabalham juntas e cada parte assume claramente seu papel no processo
educacional valorizam o desenvolvimento e são capazes de alcançar e promover a
formação integral do sujeito.
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Segundo Boza (2006), embora com o mesmo peso e de igual importância,
esses papeis não deveriam se mesclar, porém se complementar. O lar e a escola
formam e informam, incentivam e desafiam, apoiam e cobram. Tudo isso em esferas
distintas.
A escola e a família, assim como outras instituições, vêm passando por
profundas transformações ao longo da história. Estas mudanças acabam por interferir
na estrutura familiar e na dinâmica escolar de forma que a família, em vista das
circunstâncias, entre elas o fato de as mães e/ou responsáveis terem de trabalhar
para ajudar no sustento da casa, tem transferido para a escola algumas tarefas
educativas que deveriam ser suas.
Partindo dessa ideia, podemos identificar através de vivencias e relatos de
educadores (família e escola) a problemática sobre a questão da falta de tempo de
educar para as famílias, da falta de tempo de educar para as escolas e como essas
diferenças temporais podem repercutir no processo educacional de crianças e jovens
que vivem um tempo de aprender.
Vários fatores influenciam o processo de aprendizagem, se a escola e a
família buscam ações coordenadas, os problemas são enfrentados e resolvidos com
mais eficácia.
Para tanto, faz-se necessário que a escola conheça e entenda o grupo em
que atua, para que planeje ações e estratégias pertinentes a sua realidade. Bem
como, a família deve compreender a missão e as propostas da escola para conhecer
e buscar formas de contribuir com ela.
Para Parolin, o tempo de aprender e para aprender requer pessoas
disponíveis em relação aos aprendizes.
Portanto, é preciso que família e escola, cada qual com sua respectiva
função assuma a tarefa de acompanhar e mediar o desenvolvimento dessa
aprendizagem que requer dedicação e estratégias para se chegar aos objetivos e
metas já pensados e planejados.
Conforme Freire (2004),
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a importância do silêncio no espaço da comunicação é
fundamental. De um lado, me proporciona que, ao escutar, como
sujeito e não como objeto, a fala comunicante de alguém, procure
entrar no movimento interno de seu pensamento, virando
linguagens; de outro, torna-se possível a quem fala, realmente
comprometido com comunicar e não com fazer puros
comunicados, escutar a indagação, a dúvida, a criação de quem
escutou. Fora disso, fenece a comunicação. (p.15)
Assim , deve ser papel da família e da escola estar junto, observar em
silêncio, deixar crianças e jovens falarem, agirem, sem a interferência direta dos
adultos, mas com sua mediação, é fundamental para o seu desenvolvimento.
O lamentável é que a pressa de fazer tudo muito rápido e com pouca
reflexão invadiu as famílias e as escolas.
A parceria entre família e escola deve existir e ser mantida a favor da
formação significativa de educandos à medida que cada parte envolvida nesse
processo reconheça a importância de seu papel social diante desse ato educativo
indispensável. É preciso que ambas tenham seus espaços educativos preservados.
Cabe a parceria entre família e escola atuar coletivamente e visualizar
diferentes espaços como oportunidades de desempenho para suas funções.
Faz-se necessário que família e escola compreendam que o papel de
ambas só se enriquece se tiverem como objetivo compartilhar, dividir e contribuir para
que os outros vivam melhor.
Portanto, a família é essencial para o desenvolvimento do indivíduo,
independentemente de sua formação. É ambiente familiar o primeiro responsável por
oferecer contato com o mundo externo, com a linguagem, com a aprendizagem, com
valores morais e hábitos. Essa convivência é fundamental para que a criança chegue
ao ambiente escolar sem dificuldades para se relacionar e interagir.
Pode-se perceber que as crianças que possuem o acompanhamento
familiar, boa convivência, regras e limites, apresentam um bom rendimento escolar,
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tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo, não apresentando dificuldades no
cumprimento de normas e rotinas escolares.
A sociedade por fim, torna-se resultado de uma parceria entre família e
escola, pois só assim acredita-se que pode se fazer uma educação de qualidade e
que possa promover o bem estar de todos.
Segundo Parolin (2007), a qualidade do relacionamento que a família e a
escola construírem será determinante para o bom andamento do processo de
aprender e de ensinar do estudante e o seu bem viver em ambas as instituições.
Sendo assim, a articulação entre família e escola é peça fundamental no
processo educacional, pois possibilita um envolvimento significativo entre os
indivíduos participantes desse processo mantendo as relações interpessoais de
maneira saudável, valorizando a participação da família e da escola, onde uma
complementa a outra, sempre buscando auxiliar efetivamente na construção de uma
educação de sucesso.
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CAPÍTULO II
A CONSTRUÇÃO DOS VALORES E LIMITES NA INFÂNCIA
Entender o conceito de infância torna-se fundamental para compreender
melhor o processo educativo e a construção dos valores morais e limites.
Surge no século XVII, nas classes dominantes a primeira concepção real
de infância, a partir da observação dos movimentos de dependência das crianças
muito pequenas. O adulto passou, então, pouco a pouco a preocupar-se com a
criança, enquanto ser dependente e fraco.
Logo, a palavra infância passou a designar a primeira idade da vida: a
idade da necessidade de proteção, que perdura até os dias de hoje. Pode-se
perceber portanto, que até o século XVII, a ciência desconhecia a infância, uma vez
que não havia lugar para as crianças na sociedade. A partir das ideias de proteção,
amparo, dependência, que surge a infância.
De acordo com Levin (1997), as crianças, vistas apenas como seres
biológicos, necessitavam de grandes cuidados e, também, de uma rígida disciplina, a
fim de transformá-las em adultos socialmente aceitos.
Nesse contexto, pode-se perceber que a criança era tida como irracional e,
portanto, incapaz de movimentar-se com sobriedade e com coerência no mundo.
Percebe-se, então, que a primeira preocupação com a infância ligou-se à disciplina e
à difusão da cultura existente, limitando todo e qualquer movimento infantil destinado
ao prazer e ao aprendizado. Para De Mause (1991), a criança, tida como irracional,
não teria meios psicológicos para realizá-los, bem como deixaria de aproveitar tal
momento para aprender atitudes socialmente valorizadas.
Passou-se, então, a submeter o corpo da criança de várias formas, o que,
na época, era considerado necessário para evitar os seus movimentos, bem como
para exercer um controle efetivo sobre o pequeno ser. Assim, durante muito tempo o
único caminho existente foi uma rígida disciplina infantil.
Quem não usa a vara, odeia seu filho. Com mais amor e temor
castiga o pai ao filho mais querido. Assim como uma espora
aguçada faz o cavalo correr, também uma vara faz a criança
aprender (Levin, 1997, p. 230).
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Através de Rousseau (1995), considerado um dos primeiros pedagogos da
história, a criança começou a ser vista de maneira diferenciada. Rousseau propôs
uma uma educação infantil sem juízes, sem prisões e sem exércitos.
Durkheim (1978), foi quem primeiro buscou tecer os fios da infância aos
fios da escola com objetivos de "moralizar" e disciplinar a criança.
Segundo Durkheim (1978), a criança além de questionadora, passa de uma
impressão para outra, de um sentimento para outro, de uma ocupação para outra,
com a mais extraordinária rapidez. Seu humor não tem nada de fixo: a cólera nasce e
aquieta-se com a mesma instantaneidade; as lágrimas sucedem-se ao riso, a simpatia
ao ódio, ou inversamente, sem razão objetiva ou sob a influência da circunstância
mais tênue.
Para controlar "os humores endoidecidos" das crianças, Durkheim (1978)
propôs três elementos fundamentais para desenvolver a educação moral das novas
gerações, que deverão ser capazes de adequar-se às regras do jogo social, político e
econômico.
Portanto, educar a criança passa a significar moralizá-la no sentido de
inscrever na subjetividade desta os três elementos da moralidade. Explica o referido
autor que educar é inscrever na subjetividade da criança os três elementos da
moralidade: o espírito de disciplina (graças ao qual a criança adquire o gosto da vida
regular, repetitiva, e o gosto da obediência à autoridade); o espírito de abnegação
(adquirindo o gosto de sacrificar-se aos ideais coletivos) e a autonomia da vontade
(sinônimo de submissão esclarecida) (Durkheim, 1978).
Apenas com a institucionalização da escola é que o conceito de infância
começa lentamente a ser alterado, através da escolarização das crianças. Podemos
então, a partir do desenvolvimento de uma pedagogia para as crianças, falar em uma
construção social da infância (Corsaro, 2003).
Em nosso tempo, as gerações vivem segmentadas em espaços exclusivos.
Na sociedade contemporânea facilmente constatamos a separação das faixas de
idade. Crianças, adolescentes, adultos jovens e adultos velhos ocupam áreas
reservadas, como creches, escolas, oficinas, escritórios, asilos, locais de lazer, etc. A
exceção se dá na família. Sem dúvida, é no contexto familiar que ocorrem mais
frequentemente os encontros entre as gerações, ao menos por proximidade física, já
que em muitas prevalece o distanciamento afetivo.
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Para Adatto (1998), a qualidade dessas relações tem sido alvo de muitas
discussões entre especialistas. A eficácia da família como instância formadora de
novos cidadãos tem sido muito criticada nos últimos anos. Principalmente as
dificuldades da relação entre pais e filhos têm se caracterizado como o mais
emblemático tipo de conflito de gerações.
Para além das determinações naturais, as culturas humanas produziram e
prosseguem produzindo significações para cada uma das etapas da existência do
homem. Regras de conduta são institucionalizadas para as diferentes fases da vida e
são expressas através do desempenho de papéis sociais. Podemos, pois, considerar
que as gerações são socialmente construídas. A construção social da infância se
concretiza pelo estabelecimento de valores morais e expectativas de conduta para
ela. Para compreender significativamente o tema em estudo faz-se necessário
apresentar os seguintes conceitos valores e limites.
De acordo com o dicionário Aurélio, valor significa valentia, qualidade que
faz estimável alguém ou algo; valia. Importância de determinada coisa; preço, valia.
Legitimidade, validade. Significado rigoroso de um termo. Para limite, o dicionário
Aurélio indica como linha de demarcação; raia. Local onde se separam dois terrenos
ou territórios contíguos; fronteira. Parte ou ponto extremo ; fim; termo.
Repensando a construção de valores morais e limites na infância na
atualidade, é necessário refletir sobre o papel realizado pelas instituições
responsáveis por esse processo, a família e a escola.
Para Oliveira (2005), as responsabilidades afetivas não são delegáveis e
constituem um núcleo insubstituível dos indivíduos, representam relações formadoras
e intransferíveis.
A família é o primeiro contexto social da criança e a principal responsável
por sua educação. A escola por sua vez compartilha com a família a responsabilidade
de educar e cuidar. De acordo com as Orientações Curriculares para a Educação
Infantil da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, isso significa um sério compromisso
na promoção do desenvolvimento, já que a qualidades da relação escola e família tem
impacto direto na vida da criança.
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Entende-se que para a construção dos valores e limites, a relação escola e
família em sua dimensão social devem respeitar os modos de agir e pensar dos
responsáveis por esse processo, valorizando seus costumes e tradições, mas,
simultaneamente, explicitando as ,metas, atitudes e prioridades para a construção dos
valores morais e limites na infância.
Para Pozo (2005), a aprendizagem não é um processo de mudança de
comportamento, mas, segundo a psicologia cognitiva, um processo de aquisição de
informação, que permite reduzir a incerteza ou a entropia do mundo e o caráter
aleatório ou imprevisível dos sucessos.
Para que a construção dos valores morais e limites verdadeiramente
aconteçam os educadores envolvidos nesse processo devem estar conscientes de
que as crianças necessitam atuarem muito próximas de situações concretas e reais,
para mais tarde, operarem abstratamente e construírem conceitos sobre o mundo
natural que as cerca.
Segundo Parolin (2007), cada pessoa tem sua forma pessoal de aprender,
que consideramos estilo de aprendizagem. Aprender é um processo contínuo e
gradual. Isto quer dizer que vamos aprendendo, pouco a pouco, e individual, apesar
de estar vinculado ao contexto socioafetivo a que cada um está ligado e à qualidade
das relações que estabelece, é fundamental que seja conhecido e tipificado, tanto
pela pessoa que aprende como pela pessoa que se propõe a ensinar.
Portanto, a cada nova experiência, construímos nossas aprendizagens, o
indivíduo torna-se capaz de se reorganizar, estabelecer conexões com outras
experiências já vivenciadas anteriormente, faz juízo de valores, emocionaliza o que foi
vivenciado compondo assim, seu repertório pessoal.
É preciso educar crianças e jovens buscando a construção significativa de
valores e limites, tendo por objetivo o desenvolvimento do seu senso critico,
valorizando a possibilidade de dizer-lhe “não” sempre que necessário. Pois, somente
dessa maneira o “sim” que receberão serão mais valorizado.
A problemática é compreender que o processo de como cada aprendiz se
constrói cidadão do mundo está relacionado ao conhecimento do movimento dialético
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e interativo entre a família, a escola e o clima afetivo/emocional que essa relação
constitui.
Torna-se necessário perceber que as diferentes dinâmicas familiares e o
cotidiano escolar, seus procedimentos e metodologias causam repercussões na
aprendizagem, sejam elas positivas ou não. É preciso pensar o processo educacional
como uma prática mais ética, inclusiva e, principalmente, mais integrada à real
condição do aprendiz.
Para Parolin (2007), aprender a aprender é regra para sobreviver num
mundo tão dinâmico e diferente.
Um indivíduo se constrói à medida que vive e convive em seu contexto
socioafetivo. Logo, a construção do sujeito acontecerá a partir da qualidade da vida
afetiva que está disponível ao longo dos primeiros anos de vida.
Reconhecer as emoções como parte do ato de aprender, e
identificar a reciprocidade entre afetividade e inteligência como um
agente interativo sob a atividade de construir conhecimento, é
essencial para que nós educadores possamos planejar e
administrar uma ação verdadeiramente educativa. (PAROLIN,
2005, p. 74)
Portanto, educar deve ser entendido como um ato de amor e dedicação que
requer tempo e disponibilidade. A afetividade e a inteligência constituem um par
inseparável e uma evolui a partir da outra. Cada pessoa é única e reage de forma
particular diante de um mesmo estímulo. Logo, educar para a construção de valores
morais e limites é preocupar-se significativamente em seu desenvolvimento de uma
forma ampla.
Sem um EU forte e diferenciado enfraquece-se o instrumento de
conhecimento. Por conseguinte, é possível e necessário agir
indiretamente sobre a inteligência, atuando sobre o sujeito, no
plano afetivo. No primeiro ano de vida, estimulação da inteligência
é rigorosamente sinônimo de nutrição afetiva. Isto continuará a ser
necessário, embora deixe de ser suficiente. Ao longo de toda a
infância a temperatura afetiva desempenhará o papel catalisador
21
de atividade cognitiva. Sem vínculo afetivo não há aprendizagem.
(DANTAS, 2002, p. 58)
As crianças necessitam aprender a conviver em família, na escola e na
comunidade. Por isso, mais do que serem informados, necessitam articular o
conhecimento com valores familiares e sociais em que estão inseridos.
Para Oliveira (2003), diante da incerteza e mutabilidade das estruturas
produtivas, ganha importância o aprendizado das novas capacidades – abertura à
inovação, adaptabilidade à mudança, espírito de iniciativa, capacidade de trabalho em
equipe – que permitam a cada um enfrentar reciclagens e requalificações
profissionais inerentes a uma sociedade em contínuo processo de mudança. Ganha
importância o aprendizado de um outro leque de competências – capacidade de agir
por si mesmo, de se auto-organizar, de cooperar com os outros, de se abrir a novos
relacionamentos e experiências. Aprender a aprender desdobra-se em aprender a
ser.
A escola deve ser entendida como promotora importantíssima de relações
e de aprendizagens, um espaço de âmbito público em que o aprendiz tem a
possibilidade de inteirar-se, com mais propriedade, do mundo e de suas articulações.
O aprendiz tanto sofre influências de sua sociedade, como, por outro lado,
influencia suas relações com o mundo, como escreve Moraes (2004).
Segundo Morin, o humano é um ser a um só tempo plenamente biológico e
plenamente cultural, que traz em si a unidualidade originária. É super e hipervivente:
desenvolveu de modo surpreendente as potencialidades da vida (...). O homem é,
portanto plenamente biológico, mas, se não dispusesse plenamente da cultura, seria
um primata do mais baixo nível. A cultura acumula em si o que é conservado,
transmitido e aprendido, e comporta normas e princípios de aquisição.
Assim, é preciso aprender a respeitar a infância, suas necessidades e
características e, também, a viver bem. Educar uma criança para a construção de
valores morais e limites demanda tempo e intenção, dentre outras coisas. A infância é
tempo de brincar, de experimentar, de aprender. É um tempo precioso que não pode
ser impedido nem postergado.
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Conforme Kushner (1999), vamos supor que consigamos ver a vida, não
como um ato de usar um recurso limitado, mas como o de acumular tesouros. Cada
novo amigo, cada nova verdade aprendida ou experimentada nos faz mais ricos que
anteriormente. Há mais na vida de hoje do que havia há cinco ou dez anos, por causa
do que cresci e aprendi nestes anos.
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CAPÍTULO III
A CONTRIBUIÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NA
CONSTRUÇÃO DOS VALORES MORAIS E LIMITES NA
INFÂNCIA
Para Beauclair (2009), a psicopedagogia é uma área do conhecimento que
se propõe a integrar de modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes
Ciências Humanas com a meta de adquirir uma ampla compreensão sobre variados
processos inerente ao aprender humano.
A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, e surgiu
de uma demanda: o problema da aprendizagem, colocado em um
território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e
da própria Pedagogia. Como se preocupa com os problemas de
aprendizagem, o psicopedagogo deve ocupar-se inicialmente com
o processo de aprendizagem, como se aprende, como essa
aprendizagem varia e como se produzem as alterações na
aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. (Porto,
2011, p.11)
O psicopedagogo pode reprogramar projetos educacionais facilitadores de
uma aprendizagem mais dinâmica e significante, coordenando programas, treinando
educadores e atuando junto aos profissionais de educação, ou, então, buscando
aprimoramento de qualidade de aprendizagem do sujeito que apresenta dificuldades
escolares.
O papel do psicopedagogo é compreender e atuar nos vínculos presentes
entre o ato de ensinar e a ação de aprender, assim como possíveis barreiras que
impedem o seu fluir harmonioso.
Assim, o educador voltado para o aprimoramento da ação educativa pode
fazer uso do conhecimento desenvolvido a partir da prática e de algumas reflexões.
É muito importante também incentivar o diálogo entre o educador e o aluno,
pois só assim o aluno poderá fazer uma busca constante da compreensão de suas
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inquietações e desejos assim como de seus mecanismos de aprendizagem, pois
podemos relacionar, então, pois diferentes elementos que pertencem aos sistemas
em que está trabalhando: nossos pensamentos, os pensamentos das crianças, o
diagnóstico, a intervenção, a família e a escola.
Durante o processo de construção dos valores morais e limites, a criança se
depara com a necessidade de reestruturar a própria maneira de aprender, novos
caminhos e experiências tornam-se fundamentais para que seja possível redescobrir
o valor, a importância e o sentido do conhecimento.
O psicopedagogo tem a função, nesse momento, de antecipar situações que
possam gerar uma aprendizagem frustrante, formando e orientando o trabalho do
educador para que este desempenhe seu papel com segurança e afeto.
A falta de uma assistência aos educadores quanto ao seu desempenho em
sala de aula e fora dela é uma das importantes causas de embaraço do processo
educativo.
É crucial que o psicopedagogo preste ao educador uma assistência
sistemática, no sentido de melhoria do seu desempenho.
Os educadores juntos com o psicopedagogo podem encontrar inúmeras
maneiras de desencadear em seus alunos a vontade de saber mais, de fazer e de
ser. A dinâmica do aprender significativo e afetivo concretiza-se também no
desenvolvimento de uma gestão mental que permite autonomia e consciência nos
caminhos da aprendizagem.
Para Porto (2011), o aprender envolve simultaneamente a inteligência, os
desejos e as necessidades e, por intermédio do cognitivo, busca-se generalizar,
classificar, ordenar, identificando-se semelhanças, enquanto que, por meio dos
desejos e das necessidades, buscam-se o individual, o subjetivo e o diferente.
É fundamental que a construção do conhecimento aconteça de maneira
prazerosa e significativa. Onde sejam aproveitados os conhecimentos e os conceitos
já adquiridos pelas experiências vivenciadas. Pois, somente desse modo à criança irá
valorizar e demonstrar interesse em participar efetivamente do processo de
aprendizagem no qual é peça primordial.
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Conhecer é pensar, inventar, descobrir e conectar as qualidades e
os atributos dos objetos recompondo com a minha capacidade
criadora o real externo de minha mente. Este é o significado do
aprender. (SALTINI, 2002, p,58)
Portanto, a construção do conhecimento se dá através das relações entre o
que já foi apreendido e o que está sendo experimentado. É uma constante troca e
readaptação entre o indivíduo e o ambiente que a todo o momento oferece e
oportuniza novas aprendizagens.
Desse modo se estabelece uma relação do sujeito com o conhecimento e o
significado de aprender. A transmissão do conhecimento não se faz diretamente, mas
sim, transmitem-se sinais dele, que a pessoa transforma e reproduz em função de
seus recursos próprios.
Aprender pressupõe mudanças. Todo um universo de padrões mentais,
conscientes e inconscientes, está em contínua interação para que ela se processe de
forma harmoniosa e coerente.
Assim, a aprendizagem tem uma função integradora, estando diretamente
relacionada ao desenvolvimento psicológico, denotando as possibilidades de
interação e adaptação da pessoa à realidade ao longo da vida, sofrendo múltiplas
influências de fatores ambientais e individuais.
A aprendizagem é, afinal, um processo fundamental da vida. Todo
individuo aprende e, por meio da aprendizagem, desenvolve os
comportamentos que o possibilitam viver. Todas as atividades e
realizações humanas exibem os resultados da aprendizagem.
(CAMPOS, 2003, p.122)
Entende-se o processo educativo como algo que acontece naturalmente,
seja ele num ambiente planejado e sistemático como num onde não há a
intencionalidade. Independente de onde ele ocorra faz-se necessário saber a
importância de suas consequências, já que a aprendizagem é a principal
responsável pelo comportamento e atividades realizadas pelos indivíduos.
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O processo de aprendizagem deve ser desenvolvido de forma criativa onde
permita que o individuo elabore suas habilidades cognitivas de uma forma mais
completa, o que pode ter um papel importante para ele ser, estar, sentir, visualizar,
imaginar, aprender, adaptar-se e criativo na vida.
Desvendar os caminhos da cognição é um meio de promover um
aprendizado de melhor qualidade. Isso está presente na teoria construtivista, de
Piaget, onde o sujeito é pressionado pela situação problema e sente-se incomodado,
o que lhe causa um desequilíbrio momentâneo. Esse desequilíbrio gera os
conteúdos das ações do sujeito, que passa a utilizar seus esquemas representativos
os quais pressupõe simbolização e representação, e realizam a didática do fazer e
compreender. Ao aprender criativamente, o sujeito equilibra suas ações espaços-
temporais fazendo uso de procedimentos que vão ao encontro da estrutura
atemporal das leis de composição de seu objetivo. Desse modo, o fazer e o
compreender exercem-se dialeticamente mediados por sucessivas regularizações,
afim de que o sujeito possa alcançar o seu objetivo, ou seja, realizar a síntese.
O conhecimento está em constante transformação no processo continuo
diante de inúmeras possibilidades que demandam a necessidade de escolher e
articular um caminho a seguir. A representação não verbal nos permite imaginar
como essas teorias forma e se inter-relacionam, na busca completa do significante.
A memória de um aprendizado significativo instala-se no individuo e novas
aprendizagens são adquiridas. O conhecimento apresenta-se como uma rede de
significados, semelhante a feixes de relações em permanente metamorfose. O
transporte de relações significativas de um contexto para o outro garante a
aprendizagem global.
Portanto, ao longo do desenvolvimento, a formação da personalidade se faz
por meio da busca para a solução de conflitos de aquisições, sendo a aprendizagem
o resultado da interação das necessidades que vão se alterando e, assim,
configurando novos conflitos, que influenciam a maneira como as etapas seguintes
do desenvolvimento serão experimentadas.
Nesse contexto, a aprendizagem se dá em um dos indicadores da
capacidade de aprender, relacionado especialmente para as crianças, com o seu
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padrão de adaptação, com o nível de desenvolvimento da sua personalidade; a
condição cognitiva refere-se às estruturas que permitem a organização dos
estímulos e do conhecimento; e a dinâmica do comportamento caracteriza-se como
o processamento da realidade e a ação sobre o meio.
Para Porto (2011), os aspectos afetivos, juntamente com os cognitivos e
biológicos, são comumente identificados como fatores individuais, internos da
criança, que isoladamente ou em interação determinam as condições da
aprendizagem.
É importante ressaltar a importância da afetividade no processo educativo.
Quando a criança ou jovem estabelece um vínculo com o responsável por mediar e
auxiliar a construção de seu conhecimento, esta aprendizagem acontecerá de modo
mais fácil, uma vez que há interação e compreensão das possibilidades e limitações
do individuo que está em processo de construção da aprendizagem.
A escola e a família como fatores externos podem ser
considerados fontes de recursos ou de limites para a criança no
seu processo de aprendizagem e desenvolvimento. (MATURANA,
1997, p.105)
Devemos entender a psicopedagogia como mais uma estratégia de
construção de conhecimentos, bem como de valores morais e limites. O trabalho
psicopedagógico pode auxiliar a ação da família e da escola no processo
educativo, assim como mediar essa parceria indicando os melhores caminhos para
se construir significativamente os valores morais e limites na infância.
A psicopedagogia vai muito além de um trabalho meramente técnico-
pedagógico, como é entendida com frequência, uma vez que implica uma ação
planejada e organizada a partir de objetivos muito claros, assumidos por todo o
pessoal escolar, com vistas ao fortalecimento do grupo e ao seu posicionamento
responsável frente ao trabalho educativo.
Segundo Porto (2011), para se poder ensinar bem, é necessário conhecer
os modelos mentais que os alunos utilizam na compreensão do mundo que os
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rodeia e os pressupostos que suportam seus modelos. Aprender é construir o seu
próprio significado e não encontrar as “respostas certas” dadas por alguém.
Devemos reconhecer a importância de perceber e compreender a
individualidade de cada criança ou jovem que está em processo de construção de
conceitos, como valores morais e limites, uma vez que sua aprendizagem é
influenciada pelo meio que está inserido, pela sua história de vida e suas
experiências. Assim o conhecimento adquirido fará sentido em sua realidade e
poderá ser aplicado significativamente em seu cotidiano.
Para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de
comportamento e amplie cada vez mais o potencial do educando,
é necessário que ele perceba a relação entre o que está
aprendendo e a sua vida (DROUET, 1996, p.11)
Portanto, o conhecimento só será valorizado e apreendido se tiver relação
com sua realidade, se apresentar sentido diante de sua história de vida. Caso
contrário, não há conhecimento que seja capaz de transformar o comportamento e
alterar a ação de um individuo.
A verdadeira meta da educação consiste em conduzir o aluno à determinada
regiões, construindo um conhecimento do mundo que contribua para o
desenvolvimento da personalidade.
Todo conhecimento é fruto de alguma experiência e esta só se
transforma em um conhecimento pleno quando se converte em
“autêntico” para aquele que aprendeu, isto é, quando adquire a
dimensão de significado ou de vivência significativa. (COOL, 1997,
p.125)
Em sua proposta, o psicopedagogo deve fazer o aprendizado tornar-se
formativo, não deixando-o somente restrito à aquisição de conhecimentos,
informações e destrezas. Ele precisa estar voltado para capacitar o sujeito na
execução de atividades por meio de processos mentais de ressignificação.
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Para Porto (2011), a tarefa da aprendizagem formativa constitui-se em uma
orientação para o mundo como concretização ou realização das virtualidades ou
potencialidades do ser.
Pode-se entender que a aprendizagem formativa, como já indica o próprio
termo, se propõe a formar o individuo. Formação essa que busca preparar cada
indivíduo para viver e conviver em sociedade, para compreender e adotar o seu
papel de cidadão frente a uma sociedade que enfrenta tantos desafios. É assumir o
papel de cidadão crítico, consciente e responsável de suas atitudes e possíveis
consequências.
Tem-se assim que a aprendizagem no seu sentido formativo deve
estar inserida em procedimentos que possibilitem a compreensão
do homem no seu sentido individual (constituição da
subjetividade), bem como no seu aspecto coletivo (como membro
de uma sociedade humana que o legitima e o reconhece como
tal). (BRANDÃO; CREMA, 1998)
Portanto, é preciso investir na formação integral de crianças e jovens.
Entender o processo educativo como o meio de construção dos valores morais e
limites torna-se fundamental para que este seja valorizado e receba a atenção e
dedicação de que necessita para que o tão almejado sucesso na educação seja de
fato alcançado.
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CONCLUSÃO
Pode-se concluir que, mesmo com o desafio de transformar a educação,
respeitando as diferenças, partindo da necessidade de formar cidadãos críticos e
conscientes, capazes de pensar e resolver problemas socialmente, a escola e a
família têm que pensar em um tipo de atuação para nortear essa nova forma de
educar.
Essa atuação deve então valorizar a parceria entre a família e a escola, já
que esta é fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos no processo
educativo e para a construção de valores morais e limites.
Para a verdadeira construção de valores morais e limites na infância, é
essencial que a educação seja pensada de forma que faça com que cada envolvido
tenha interesse e principalmente encontre significado em sua ação, seja ela ensinar
ou aprender.
É nesse sentido que as situações vivenciadas e as experiências
promoveram a construção dos valores morais e limites e assim, o ato de aprender se
dá de uma forma construtiva e mais significativa.
Cabe ao psicopedagogo colaborar e orientar os envolvidos nesse processo
educativo, família e escola, conscientizando-os para a importância do papel de
educar e dinamizando o processo de construção dos valores morais e limites. O
psicopedagogo deve ser mais um mediador do pensar e fazer da criança, para que
ela internalize essa nova proposta educativa de uma maneira mais prazerosa e
significativa.
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