UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
INSERÇÃO DOS ATIVOS INTANGÍVEIS NA CONTABILIDADE,
NA EMPRESA E NO MERCADO.
QUANTO AOS SEUS TIPOS E MENSURAÇÃO
Por: Eduardo Ferreira Brito
Orientador: Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
INSERÇÃO DOS ATIVOS INTANGÍVEIS NA CONTABILIDADE,
NA EMPRESA E NO MERCADO.
QUANTO AOS SEUS TIPOS E MENSURAÇÃO
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Finanças e Gestão Corporativa.
Por: Eduardo Ferreira Brito
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, primeiramente, a meus pais e
familiares, a meus amigos e
professores.
.
4
DEDICATÓRIA
Dedica-se ao mau pai, minha mãe,
meu irmão e aos amigos que fiz nesta
instituição.
"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina." (Cora Coralina)
"Aquilo que temos de aprender a fazer, aprendemos fazendo." (Aristóteles, 384-322 a.C., filósofo grego)
5
RESUMO
A globalização e os avanços da tecnologia da informação estão acirrando a
competição entre empresas, forçando-as, cada vez mais, a se diferenciarem
de seus concorrentes. Ativos intangíveis como marcas, patentes, concessões
públicas e capital intelectual, por exemplo, são ativos singulares, cujas
características únicas determinam diferenciações entre as empresas, pelo que
não podem ser mensurados, apenas quantitativamente, proporcionando assim
a obtenção de vantagens competitivas, devido ao fato da intensificação ou
inclusão dos efeitos desses ativos na empresa e no mercado.
Nesse contexto, alguns autores têm afirmado sobre a geração de
riqueza das empresas estaria diretamente relacionada com os ativos
intangíveis e suas características estratégicas, pois esses ativos seriam
responsáveis por desempenhos econômicos superiores e pela maior geração
de valor aos acionistas.
Sendo assim, uma maior presença de ativos intangíveis não
contabilizados poderia explicar as lacunas entre o valor de mercado das
empresas e o valor refletido pela contabilidade tradicional.
Palavras-chave: Ativo Intangível; Goodwill; Capital Intelectual; Informações
Contábeis.
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METODOLOGIA
Método dedutivo no qual a racionalização e a combinação de idéias em sentido
interpretativo. Para desenvolver o tema escolhido, foram utilizados livros,
artigos, algumas pesquisas na Internet e ainda teses e dissertações.
Destacamos entre a bibliografia pesquisada e estudada o livro “Capital
Intelectual – Descobrindo o Valor Real de sua Empresa pela Identificação de
seus Valores Internos, autorias de Leif Edvinsson e Michael S. Malone”.
Ressaltamos também a tese de Mestrado de Maria Thereza Pompa Antunes e
a Tese de Doutorado do Prof. Eliseu Martins, ambos abordando os temas de
Capital Intelectual e Ativo Intangível, respectivamente.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I
Breve Histórico da Contabilidade 11
CAPÍTULO II
Sobre o Ativo 17
CAPÍTULO III
Ativos Tangíveis “versus” Intangíveis 21
CAPÍTULO IV
Ativos Intangíveis 26
CAPÍTULO V
A Empresa como uma “Árvore” 30
CAPÍTULO VI
A Importância dos Ativos Intangíveis 31
CAPÍTULO VII
Capital Intelectual 40
8
CAPÍTULO VIII
Mensuração e Contabilização do Capital Intelectual 48
CONCLUSÃO 59
BIBLIOGRAFIA 62
ÍNDICE 65
9
INTRODUÇÃO
As recentes fusões e aquisições experimentadas no mundo dos
negócios apresentam como uma de suas principais características, o
fechamento de negócios com valores muitos maiores do que o valor contábil
das empresas ou o valor de mercado de seus ativos permanentes.
O motivo de ocorrerem negociações envolvendo valores dessa natureza
se deve à existência, nas empresas negociadas, de ativos intangíveis não-
contabilizados e muitas vezes invisíveis, responsáveis pela geração de valor
para os seus acionistas.
Ativos tangíveis (prédios, maquinários, instalações, etc.) não seriam
mais os responsáveis pela maior parte da geração de valor de uma empresa,
porque em um ambiente competitivo são rapidamente reproduzidos e com
facilidade se tornam obsoletos. Ativos intangíveis, como tecnologia em
processos de fabricação, patentes, redes de distribuição e marcas, seriam os
grandes responsáveis pela geração de valor.
Um dos ativos intangíveis de grande importância devido ao seu
potencial para aumentar vendas, conquistar mercados, transmitir valores e
estabelecer uma relação de confiança entre o consumidor e a empresa é o
Capital Intelectual.
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar e definir os tipos de
Ativos Intangíveis, analisar como os estes ativos, principalmente o Capital
Intelectual, se inserem na empresa, no mercado ou no contexto geral da
contabilidade e assim evidenciar a verdadeira relação existente entre a
Contabilidade e o Capital Intelectual, no tocante à mensuração dos valores
intangíveis.
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É de fundamental importância a adequada mensuração do Capital
Intelectual, embora, seja bastante difícil devido a sua subjetividade. O grande
desafio para a contabilidade é de encontrar os métodos adequados para a
contabilização do Capital Intelectual, fornecendo demonstrações contábeis
com informações de natureza intelectual, humana e social que visa a atender
de forma eficiente e eficaz os seus usuários.
Com isso, observa-se que a avaliação patrimonial efetuada pela
contabilidade não mais reflete a real situação das empresas. Portanto, o que
está afetando o conceito de patrimônio na sociedade atual é o Capital
Intelectual. E nasce daí, um grande desafio que paira sobre os profissionais da
contabilidade: Como contabilizar este Ativo Intangível, o Capital Intelectual.
Nossos balanços não representam a verdade, não por incompetência
dos nossos contadores e sim por força da lei. Caberá a eles aceitarem e
vencerem o desafio, escolhendo práticas contábeis que projetem o Brasil no
século XXI como uma nação moderna e ética.
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CAPÍTULO I
Breve Histórico da Contabilidade
A contabilidade é uma das ciências mais antigas e complexas, existindo
desde os primórdios das civilizações, quando o homem sentiu a necessidade
de controlar os seus bens, quais sejam: rebanhos, ferramentas de trabalho e
entre outros itens necessários. Alguns historiadores apontam os primeiros
sinais objetivos da existência de contas aproximadamente há 4000 anos a.C.
Entretanto, antes disto, o homem em seus primórdios, ao inventariar o número
de instrumentos de caça e de pesca disponíveis, ao contar seus rebanhos,
assim como suas bebidas, já estava praticando uma forma rudimentar de
Contabilidade.
Na invenção da escrita, a representação dos números normalmente tem
sido uma precedência histórica. Logo, é possível localizar os primeiros
exemplos completos de Contabilidade, seguramente no quarto milênio antes
de Cristo. É claro que a Contabilidade teve evolução relativamente lenta até o
aparecimento da moeda. Na época da troca pura e simples de mercadorias, os
negociantes anotavam as obrigações, os direitos e os bens perante terceiros,
porém, obviamente, tratava-se de um mero elenco de inventário físico, sem
avaliação monetária.
Entretanto, como a preocupação com as propriedades e a riqueza é
constante, o homem com passar dos anos teve de ir aperfeiçoando seu
instrumento de avaliação da situação patrimonial à medida que as atividades
foram desenvolvendo-se em dimensão e em complexidade.
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O próprio conceito e a ênfase sobre o Patrimônio mudaram
relativamente com o aparecimento das primeiras empresas (Pessoas
Jurídicas), aproximadamente no Século XII, sendo que a partir daí as pessoas
físicas deixaram de exercer papel único, mas duplo na sociedade, ou seja,
como indivíduos e sócios dos empreendimentos. A demonstração formal e o
detalhamento dos bens, direitos e obrigações, atendiam agora aos interesses
dos seus sócios, clientes, fornecedores, credores, investidores, etc., e das
firmas e ao Governo, os quais acompanhavam os negócios e os resultados
das mesmas.
1.1 - No Mundo
Existem inúmeras obras que comentam a História da Contabilidade no
mundo, citamos entre elas, a do professor Dr. Sérgio de Iudícibus (1998:31),
no seu livro Teoria da Contabilidade (5ª edição) em que ele comenta:
“... em termos do entendimento da evolução histórica da disciplina, é
importante reconhecer que raramente o "estado de arte" se adianta
muito em relação ao grau de desenvolvimento econômico,
institucional e social das sociedades analisadas, em cada época. O
grau de desenvolvimento das teorias contábeis e de suas práticas
está diretamente associado, na maioria das vezes, ao grau de
desenvolvimento comercial, social e institucional das sociedades,
cidades ou nações. É, assim, fácil de entender, passando por cima
da Antigüidade, porque a Contabilidade teve seu florescer como
disciplina adulta e completa nas cidades italianas de Veneza,
Gênova, Florença, Pisa e outras. Estas cidades e outras da Europa
fervilhavam de atividades mercantis, econômicas e culturais,
principalmente a partir do Século XIII até o início do Século XVII.
Representaram o que de mais avançado poderia existir, na época,
em termos de empreendimentos comerciais e industriais incipientes.
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Foi nesse período, obviamente, que Frà Luca Pacioli escreveu seu
famoso Tractatus de Computiset Scripturis, provavelmente o primeiro
a dar uma exposição completa. Inicia-se, assim, um largo período de
domínio da qual se chamou "Escola Italiana", em particular, e
Européia, em geral, de Contabilidade...”
Em seguida, o Prof. Dr. Sérgio de Iudícibus continua comentando sobre
a Ascensão da Escola Européia, após a disseminação da Italiana, nesta em
que surgiu o método contábil, e sua divulgação na obra de Pacioli. No Século
XIX inicia-se um período denominado por muitos autores de científico, mas que
alguns preferem chamar de período romântico, em que talvez pela primeira vez
a teoria avance com relação às necessidades e às reais complexidades das
sociedades. Nessa fase, são incluídos os expoentes máximos da Itália que
dominaram o cenário contábilaté, provavelmente, os primeiros vinte anos do
Século XX, entre eles: Fábio Besta, Guiseppe Cerboni, Gino Zappa, Aldo
Amaduzzi, Teodoro D’Ippolito e muitos outros, sendo que seus trabalhos
tiveram fortes repercussões e provocaram grandes discussões entre os
adeptos de uma ou outra corrente, nas respectivas épocas. Esses fatos
demonstraram o interesse com que camadas de estudantes acompanhavam o
desenvolvimento da Contabilidade.
Aos poucos a Escola Européia vai perdendo a sua força devido a alguns
dos seus defeitos que dentre os quais podemos enumerar: a relativa falta de
pesquisa indutiva; a preocupação demasiada em demonstrar que a
contabilidade é ciência do que demonstrar as necessidades informativas dos
vários usuários da contabilidade com a não criação de um modelo ou sistema
contábil de informação; a ênfase excessiva na teoria das contas (partidas
dobradas) em detrimento da flexibilidade necessária na contabilidade
gerencial; a falta de aplicação de muitas teorias expostas; e dando expansão
mais à imaginação do que à pesquisa de campo e de grupo.
14
Este conjunto de fatores desfavoráveis foi acentuando-se a partir de
1920 com a ascensão econômica e cultural do colosso norte-americano. A
evolução da contabilidade nos Estados Unidos apóia-se: no grande avanço e o
refinamento das instituições econômicas e sociais; no investidor médio, que é
um homem que deseja estar permanentemente bem informado, cobrando dos
elaboradores de demonstrativos financeiros evidenciações das tendências das
empresas; no governo e as universidades americanas, que investem em
pesquisas sobre princípios contábeis; no surgimento em 1930 do A.I.C.P.A.
(American Institute of Certified Public Accountants) que ativou o
desenvolvimento da contabilidade e dos princípios contábeis e tornou-se um
órgão atuante em pesquisa contábil, diferentemente com o que ocorre em
outros países.
Muito embora o desenvolvimento da teoria e das práticas contábeis
norte-americanas esteja baseado quase sempre no trabalho de equipe, figuras
individuais exponenciais surgiram naquela literatura tais como: Eldon
S.Hendriksen, Richard Mattessich, e outros (Littleton, Paton, Sprouse,
Horngren, etc).
15
1.2 - No Brasil
Aqui no Brasil também tivemos a forte influência das Escolas Italiana e
Européia. Posteriormente e até hoje predomina a norte-americana a qual foi
aqui introduzida pela Lei n.º404 de dezembro/1976 das Sociedades por Ações
inspirada (na parte contábil) naquela doutrina.
A primeira escola especializada no ensino da Contabilidade foi a Escola
de Comércio Álvares Penteado, criada em 1902. No entanto, o primeiro núcleo
de pesquisa contábil nos moldes norte-americanos, com professores
dedicando-se em tempo integral ao ensino e à pesquisa, produzindo artigos de
maior conteúdo científico e escrevendo teses acadêmicas de alto valor ocorreu
em 1946 com a fundação da Faculdade de Ciências Econômicas e
Administrativas da USP (Universidade de São Paulo) e a instalação do curso
de Ciências Contábeis e Atuariais.
O professor Dr. Sérgio de Iudícibus (1998:38) comenta sobre a
influência da escola norte-americana na reestruturação do ensino de
contabilidade na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de
São Paulo (FEA/USP) na década de 1960:
“...Verifica-se, a partir de 1964, uma modificação substancial no
ensino de Contabilidade na Faculdade de Ciências Econômicas e
Administrativas da USP. Na disciplina Contabilidade Geral, na
regência de cátedra do Professor José da Costa Boucinhas, adota-se
pela primeira vez o método didático norte-americano, baseado no
livro de Finney & Miller, Introductory Accounting, com importantes
adaptações à realidade brasileira, consubstanciadas pela abordagem
do problema da Contabilidade em face da inflação. Como
conseqüência desse trabalho, surge em 1971 o livro Contabilidade
Introdutória, de uma equipe de professores da USP, livro hoje
amplamente adotado nas faculdades de todo o Brasil. Isto significa
16
que, desde 1964, gerações de contadores, de administradores e de
economistas são influenciadas pelo novo enfoque, constituindo um
centro de irradiação das novas doutrinas. Note-se que datam desta
época alguns trabalhos de pesquisa elaborados por professores da
Faculdade de Economia e Administração da USP, que focalizam a
Contabilidade e o problema das flutuações de preços, em
profundidade. A escola da correção monetária, que pode surgir a
partir daí, é uma contribuição das mais notáveis à constituição de
uma verdadeira e genuína escola brasileira de Contabilidade, ainda
hoje em pleno desenvolvimento..."
Não podendo deixar de citar a grande contribuição que muitos autores,
de livros específicos da área, contribuindo diretamente para o desenvolvimento
da ciência contábil neste país. Entre eles, citamos além de Sérgio de Iudícibus,
Eliseu Martins, Dante Carmine Matarazzo, Hilário Franco, Francisco D’Auria,
Frederico Herrmann Júnior, José Carlos Marion, Osni Moura Ribeiro, Antonio
Lopes de Sá e outros.
17
CAPÍTULO II
SOBRE O ATIVO
O estudo do Ativo é tão importante, podendo-se dizer, que é o capítulo
fundamental do estudo da Contabilidade, porque à sua definição está ligada
aos vários relacionamentos contábeis que envolvem receitas e despesas. É
crítico o entendimento da verdadeira natureza do ativo, em suas características
gerais, a fim de que possamos entender bem as subclassificações que
aparecem em vários tipos de padronização, em vários países.
O ativo será sempre ele mesmo, independentemente de classificação ou
grupo, contudo é necessário o entendimento da sua natureza e características
gerais. O FASB - Financial Accounting Standards Board (Comissão de Padrões
de Contabilidade Financeira, e que denomina o órgão que estabelece os
princípios gerais adotados na elaboração de demonstrativos financeiros e/ou
relatórios de empresas nos EUA), fornece o seguinte conceito de ativo: "Ativos
são prováveis benefícios econômicos futuros obtidos ou controlados por uma
entidade em particular como um resultado de transações ou eventos
passados."
Santos (1998:26) examinou esta definição dada pelo FASB em seus três
componentes essenciais e concluiu que os benefícios econômicos futuros são
prováveis porque se referem ao futuro e, assim, podem apenas ser
razoavelmente esperados, pois o negócio e a atividade ocorrem em um
ambiente caracterizado pela incerteza, no qual nem todo resultado pode ser
definido.
Existem muitos ativos no mundo, porém para ser uma entidade é
necessário que seus benefícios sejam vinculados a esta entidade.
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O Bem é um ativo da entidade, que tem o direito de controlar o obter o
serviço fornecido por este bem, portanto o elemento principal, para bens
contábeis, foi caracterizado pelo controle, desta forma tornando irrelevante a
posse ou propriedade do bem.
A inclusão desta qualificação na definição de ativo é para assegurar que
o ativo contingente seja excluído. Por exemplo, um bem já adquirido por uma
entidade é um ativo, porém um bem a ser adquirido, de acordo com o
orçamento, não é um ativo, pois a operação ainda não se concretizou.
Numa análise mais abrangente da definição de ativo, mas não admitida
pelas normas contábeis atuais (Contabilidade Financeira), pode-se considerar
as elencadas a seguir:
Paton (apud Antunes, 1999:90) ao considerar as características físicas
do ativo afirma que estes não são inerentemente tangíveis ou físicos. Diz que
um ativo representa uma quantia econômica. Podendo, ou não, estar
relacionado ou ser representado por um objeto físico.
Martins (1972:30), em sua tese de doutoramento sobre a mensuração
do ativo intangível, adota que o ativo é o futuro resultado econômico que se
espera obter de um agente.
De forma mais analítica, Iudícibus (1998:106) concorda com a visão de
Paton ao assumir a principal característica de um ativo:
“A característica fundamental é a sua capacidade de prestar serviços
futuros à entidade que os tem, individual ou conjuntamente com
outros ativos e fatores de produção, capazes de se transformar,
direta ou indiretamente, em fluxos de entrada de caixa. Todo ativo
representa, mediata ou imediatamente, direta ou indiretamente, uma
promessa futura de caixa. Quando falamos indiretamente, queremos
referir-nos aos ativos que não são vendidos como tais para
realizarmos dinheiro, mas que contribuem para o esforço de geração
de produtos que mais tarde de transformam em disponível.”
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Martins (1972:29) sintetiza a principal diferença nas duas visões
expostas sobre como conceituar um ativo. Segundo o referido autor, a
diferença reside entre qualificar o agente como sendo ativo (visão tradicional) e
qualificar o resultado trazido pelo agente (visão econômica). Assim,
exemplifica: o caminhão é o agente; o transporte é o ativo. Mais adiante, o
autor complementa que: "o agente tem importância apenas na extensão em
que pode trazer resultados econômicos futuros".
O ativo compreende os bens e os direitos da entidade expressos em
moeda, Caixa, Bancos (ambos constituem disponibilidades financeiras
imediatas), Imóveis, Veículos, Equipamentos, Mercadorias, Títulos a receber,
Clientes (estes últimos sendo quantias que terceiros devem à entidade em
virtude de transações de crédito, como empréstimos de dinheiro ou vendas a
prazo) são alguns dos bens e direitos que uma empresa normalmente possui.
Todos elementos componentes do ativo acham-se discriminados no lado
esquerdo do Balanço Patrimonial.
O ativo precisa ser considerado à luz de sua propriedade e, apenas
subsidiariamente à luz de sua posse. Normalmente as duas condições virão
juntas.
Precisa estar incluído no Ativo, algum direito específico a benefícios
futuros (por exemplo, a cobertura conferida à entidade pela companhia
seguradora por contrato sinistro, em contraprestação ao prêmio pago pela
entidade) ou, em sentido mais amplo, o elemento precisa apresentar uma
potencialidade de serviços futuros (fluxo de caixa futuro) para a entidade.
O direito precisa ser exclusivo da entidade. Por exemplo, o direito de
transportar a mercadoria da entidade numa via expressa, embora, um
benefício, não pode ser considerado como Ativo, pois se trata de um direito
concedido a todos, não sendo exclusivo para a entidade.
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Vale destacar a afirmação do Prof. Eliseu Martins (1972:26) de que:
"...economicamente o agente tem importância apenas na extensão em que
pode trazer resultados econômicos futuros". Percebe-se, portanto, que em uma
perspectiva menos conservadora, o ativo é definido em função do resultado
trazido pelo bem ou direito, enfatizando, desta forma o aspecto mais
econômico. O elemento físico, por si só, não é característica suficiente para
qualificar o ativo.
21
CAPÍTULO III
ATIVOS TANGÍVEIS “versus” INTANGÍVEIS
Ativo para a Contabilidade tradicional, como vimos, compreende os bens
e os direitos da entidade expressos em moeda. Por sua vez, são classificados
em ativos tangíveis e ativos intangíveis. Numa diferenciação bem simples, os
primeiros são aqueles que possuem existência física e os segundos os que
não possuem.
Entretanto, na prática empresarial a classificação não é tão simples
assim apresentando transtorno na identificação dos itens que compõem o
grupo dos ativos no balanço patrimonial, principalmente os ativos intangíveis,
afetando, o real valor da empresa.
A palavra tangível tem sua origem do latim "tango" (tocar), que significa
algo que pode ser tocado. Inversamente, intangível é algo que não pode ser
tocado, ou que tem ausência de substância física, sem existência física.
Em nossa Contabilidade, a palavra intangível às vezes não tem sido
bem utilizada. Ativo Intangível representa um elemento sem substância física,
mas com valor econômico como, por exemplo, patentes, marcas, direitos
autorais, Goodwill, etc.
O Prof. Sérgio de Iudícibus (1998:195), fazendo referência a Eric L.
Kohler, diz que intangível é definido como um ativo de capital que não tem
existência física, onde valor é limitado pelos direitos e benefícios que
antecipadamente sua posse confere ao proprietário.
Não é difícil perceber que algumas divergências existem com relação à
classificação entre ativos tangíveis e intangíveis, quer pela sua natureza, quer
22
pelo grau de incerteza na avaliação dos futuros resultados que por eles
poderão ser proporcionados.
O Ativo Tangível ou Corpóreo constitui de bens físicos, materiais, que se
pode tocar, aquilo que os nossos olhos enxergam: estoques, veículos,
terrenos, prédios, máquinas, móveis de escritórios, etc. Suas principais
características são a possibilidade de ser utilizado nas operações normais da
empresa (tem utilidade para a entidade) e possuir um ciclo de capacidade
normalmente superior a um ciclo operacional, ou seja, de longa duração.
Entretanto, outros ativos talvez pudessem enquadrar-se nesta conceituação
ampla de que uma característica distintiva dos ativos tangíveis é o fato de não
ser possível adquiri-los pouco a pouco, à medida que o processo produtivo o
requer. São adquiridos em grandes lotes de serviços e propriedade, que serão
utilizados nas produções futuras.
Uma máquina de escrever, adquirida pela empresa "A", tem existência
própria. Ela pode ser visualizada e percebida pelo tato. Mesmo que seja
transferida para a empresa "B", ela continua existindo e em condições de uso.
Assim, os imóveis, maquinários, ferramentas, utensílios, veículos de serviços,
mobiliário, equipamentos de escritório, matérias-primas, materiais de consumo,
mercadorias, produtos fabricados etc. são bens tangíveis, integrando o
patrimônio das empresas ou entidades.
O ativo tangível talvez seja a melhor representação da capacidade
instalada (ou da capacidade produtiva), principalmente em uma empresa
manufatureira, podendo ter significação bem mais modesta em uma entidade
bancária ou em prestadores de serviços.
O Ativo Intangível ou Incorpóreo ou Ativo Invisível são bens que não se
pode tocar, pegar, que passaram a ter grande relevância a partir das fusões e
incorporações na Europa, nos Estados Unidos e ultimamente também no
Brasil.
23
A principal característica de um bem intangível é a sua inexistência
como coisa, porém é evidente que assume um valor no contexto do patrimônio
quando vinculado a um bem tangível ou a uma determinada situação da
empresa. As despesas significativas com pesquisas e desenvolvimento de
produtos são conceituadas como bens intangíveis. Há outros bens intangíveis
que assumem características específicas. Podem ser transferidos a outras
empresas que adquirem os seus direitos de uso, como exemplo, podem citar
as patentes de invenção, as marcas de indústria e comércio e o fundo de
comércio.
Uma empresa pode ter mais bens intangíveis do que bens tangíveis.
Segundo o Prof. Antonio Lopes de Sá (2001:04):
“Existem empresas que valem mais pela força de seus intangíveis
que mesmo pela dos elementos corpóreos, como são muitos do
ramo de informática e outras de altas especializações científicas e de
prestação de serviços, onde não se pode desprezar na avaliação,
como riqueza efetiva, o que possuem de imaterial.”
Embora não tenham vida física, que é a característica básica dos bens
tangíveis, as marcas, patentes de invenção, fundo de comércio, direitos para
exploração de minas, jazidas e reservas florestais assumem valor substancial
na formação do patrimônio da empresa.
John Kendrick (apud Lev, 2000:35), um conhecido economista norte-
americano que estudou os principais impulsionadores do crescimento
econômico, relata que houve um aumento geral nos ativos intangíveis que
contribuem para o crescimento econômico dos EUA desde o início do século
XX até hoje: em 1929, o capital intangível respondia por 30% do capital total,
enquanto o tangível ficava com 70%. Em 1990, isso já se invertera: 63% do
intangível contra 37% do tangível.
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Quando se está lidando com ativos tangíveis, nossa capacidade de
alavancá-los, isto é, de obter deles negócio ou valor adicional é limitada.
Exemplificando, não se consegue usar o mesmo avião em cinco rotas
diferentes ao mesmo tempo assim como não se consegue colocar a mesma
tripulação em cinco rotas diferentes ao mesmo tempo. No entanto, não há
limites para o número de pessoas que podem usar os ativos intangíveis, como
um sistema de computador ou o nome de uma marca, por exemplo, que
funciona bem tanto com 1000 (mil) ou com 5 (cinco) milhões de pessoas. O
único limite para sua capacidade de alavancar um ativo intangível é o tamanho
do mercado.
Como explicar, por exemplo, a NIKE, maior indústria de tênis do mundo
e que não fabrica os seus calçados. O seu trabalho compreende pesquisa e
desenvolvimento, projeto, marketing e distribuição, ou seja, serviços que
utilizam o uso de seu conhecimento. Outro exemplo é o da Microsoft, cujo valor
de mercado corresponde a cem vezes o valor de seu ativo tangível.
Embora os benefícios que acompanham os intangíveis possam ser
enormes, eles são muito mais incertos do que os benefícios dos ativos
tangíveis. Quando se investe num ativo tangível, como um prédio, tem-se
sempre algum tipo de retorno mesmo durante uma recessão. Entretanto,
quando se está construindo um ativo intangível, pode-se muito bem acabar-se
sem nada.
Atribuir valor a um ativo tangível parece ser mais fácil do que a um ativo
intangível, pois, com raras exceções, e por definição, os ativos tangíveis
possuem corpo e não necessitam de uma avaliação com maior grau de
subjetividade, levando-se em conta algumas considerações quanto à valoração
a preço de custo, de mercado ou de realização.
A nova realidade demonstra que esses elementos agregam valor às
empresas, a Contabilidade deve considerar tais ativos intangíveis e
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desenvolver uma forma de evidenciá-los, se for esse o caso, mas não se pode
esquecer que evidenciar o valor da empresa não é objetivo do Balanço
Patrimonial, pelo menos até o momento.
Portanto, fica claro que a mensuração das transações envolvendo o
patrimônio de uma entidade, cuja função pertence à Contabilidade, é
demasiadamente complexa e que as críticas ao Balanço Patrimonial não
procedem por inteiro.
Assim sendo, a questão permanece nos ativos intangíveis,
principalmente por ser a essência dos elementos que hoje formam o valor real
da entidade, sendo talvez a característica mais comum a todos os itens do
Ativo Intangível, como observa Martins (1972:54), o grau de incerteza existente
na avaliação dos futuros resultados que por eles poderão ser proporcionados,
quer dizer, a falta de objetividade.
26
CAPÍTULO IV
ATIVOS INTANGÍVEIS
Os ativos intangíveis surgiram em resposta a um crescente
reconhecimento de que fatores “extra contábeis”, que podem ter uma
importante participação no valor real de uma empresa. Alguns entre eles eram
muito óbvios: patentes, marcas registradas, direitos autorais, direitos
exclusivos de comercialização – todos conferiam a seus proprietários uma
vantagem competitiva que exercia um impacto sobre o lucro.
Tais ativos são considerados como “invisíveis”, por não se tratarem de
algo material, ou seja, não são palpáveis e sim provenientes da inteligência
humana e dos recursos intelectuais, tanto na economia em geral como na
economia das empresas.
Com o passar dos anos, o papel dos ativos intangíveis tornam-se cada
vez mais importante, chegando ao ponto em algumas empresas, em que estes
se excedem totalmente os ativos tangíveis.
Todo o interesse que o tema vem despertando nos meios acadêmicos e
profissionais durante tantos anos, gerando controvérsias e evolução em termos
de aceitação e conceito, embora não tendo encontrado, ainda, unanimidade
quanto ao seu tratamento, adquire maior urgência na medida em que os ativos
intangíveis ganham espaço na economia atual como um todo, e nas
organizações especificamente.
A fim exemplificar melhor, os parâmetros dos ativos intangíveis, temos o
caso da indústria cinematográfica, a Paramount gastou cerca US$ 200 milhões
para fazer o filme Titanic e faturou em torno de US$ 1 trilhão só nas salas de
27
cinema. A Gillette investiu de 1990 a 1997, US$ 700 milhões para produzir a
lâmina de barbear Mach3, porém em menos de um ano após o lançamento, já
havia assegurado mais de 10% do mercado de reposição de lâminas de
barbear dos Estados Unidos. Por sua vez, o medicamento Viagra do
laboratório Pfizer vendeu US$ 700 milhões em menos de 8 (oito) meses depois
de lançado no mercado.
Os direitos autorais sobre o filme Titanic e as patentes do Viagra e do
Mach3 são ativos intangíveis, concedendo a seus proprietários um direito de
exclusividade, durante um período, quanto aos retornos vindos de seu uso
mercantil. Por isso são comercializáveis e têm valor de mercado. O mesmo se
aplica a processos de produção e bens de capital que sejam patenteáveis ou
protegidos como segredos comerciais.
O reconhecimento de marcas pelo público e a reputação de uma
empresa também constituem ativos intangíveis, por permitirem-lhe obter
maiores rendimentos, bem como aumentar as chances de sucesso quando
lançarem novos produtos.
A urgência da Contabilidade em considerar determinados ativos
intangíveis na mensuração do real valor da empresa parece ser senso comum
e os fatos apontados por alguns autores, como Antunes (1999:87), que
expressa a valoração do nome “Bill Gates”, que é o principal ativo de sua
empresa e a Microsoft valer hoje, nas Bolsas de Valores, algo em torno de US$
51 bilhões, quase dez vezes mais do que a empresa fatura. Ainda confirmando
as conseqüências dessa realidade Edvinsson & Malone (1998:02) destacam a
Southwest Airlines:
“A Southwest Airlines é avaliada a um preço maior do que outras
empresas aéreas tradicionais muito maiores. A Intel depara-se com
um grande escândalo devido a deficiências em seu principal produto,
o chip Pentium, e o preço de suas ações mal chegam a oscilar,
sendo hoje avaliada em US$120 bilhões. A Netscape, uma empresa
28
de 17 milhões de dólares de patrimônio com cinqüenta empregados,
abre seu capital mediante uma oferta inicial de ações que atribui à
empresa um valor de US$ 3 bilhões no fim do dia.”
O Goodwill é um dos componentes dos Ativos Intangíveis e, vem sendo
alvo de muitos estudos e pesquisas dada a sua complexidade, relevância e
discordância entre os autores estudiosos do assunto.
A definição de Goodwill, a sua natureza e a sua característica de não
ser separável do negócio como um todo, além de seu tratamento contábil,
fazem com que se torne um dos conceitos mais polêmicos e de difícil
consenso dentro da Teoria da Contabilidade.
O Goodwill seria o valor não físico ou intangível e por isso
contabilizado à parte, que expressa o valor da empresa para além do seu
valor contábil ou do valor de venda dos seus ativos, líquidos do seu passivo.
Podendo ser definido também como a capacidade ou a potencialidade da
empresa em gerar lucros.
Desde 1929 até os dias de hoje, observa-se que os estudiosos desse
tema não conseguem convergir para um conceito único, como observamos na
afirmação de Canning (1929:38) onde cita que contadores, escritores de
contabilidade, economistas, engenheiros e os tribunais, todos ele têm tentado
definir Goodwill, discutir a sua natureza e propor formas de mensurá-lo. Desde
aquele tempo, ele declara que a mais surpreendente característica dessa
imensa quantidade de estudos é o número e a variedade de desacordos
alcançados.
O valor do Goodwill está intimamente relacionado a outros intangíveis,
existindo uma linha tênue que os separa daqueles. Alguns autores o
consideram como o mais intangível dos intangíveis.
29
Catlett e Olson (1968:8) afirmam que Goodwill, no seu entendimento
mais amplo, pode ser definido de muitas formas, podendo-se destacar as
seguintes:
“Um sentimento agradável: benevolência, amigável; um benefício ou
vantagem na maneira como se comporta um negócio adquirido, além
do valor que ele seria vendido, devido à personalidade daquele que o
conduz, a natureza da sua localização, se a sua reputação for
habilidosa ou precisa, ou qualquer outra circunstância incidental para
o negócio que tende a fazê-lo duradouro; o valor capitalizado do
excesso de lucros futuros estimados de um negócio acima da taxa
de retorno de um capital considerado normal em uma atividade
relacionada; o excesso de preço de compra de um negócio acima ou
abaixo do valor avaliado de seus ativos líquidos, exclusive o
Goodwill.”
Na sua tese de Mestrado, Maria Thereza Pompa Antunes (1999:94) cita
que:
“A conseqüência da não existência de um conceito sobre o Goodwill,
ou o desconhecimento da natureza do Goodwill, pode ser sentida nas
palavras de vários autores consultados. Entre outros, Edvinsson &
Malone (1998:22) empregam a expressão "sacode gatos". A
metáfora empregada caracteriza a extensão da importância dos
ativos intangíveis e quão desigual, e até mesmo injusto, é o seu
entendimento, só que o momento atual apresenta uma tendência de
não admitir subjetivações e os autores Edvinsson e Malone apontam
o Capital Intelectual como sendo o caminho para resolver esta
problemática.”
30
CAPÍTULO V
A EMPRESA COMO UMA “ÁRVORE”
Uma maneira produtiva de enxergar uma empresa (ou qualquer outra
organização) é olhar para ela como se fosse uma árvore. No modelo idealizado
por Edvinsson e Malone, explica como é muito simples avaliar o patrimônio
visível das entidades.
O tronco, os galhos e as folhas, que são as partes visíveis a um
observador, representam a empresa como é conhecida pelo mercado e
expressa pelo processo contábil. O fruto produzido por essa árvore representa
os lucros e os produtos colhidos por investidores e consumidos pelos clientes.
O valor oculto de uma empresa é o sistema de raízes daquela árvore.
Para que a árvore floresça e produza frutos, ela precisa ser alimentada por
raízes fortes e sadias. E da mesma maneira que a qualidade do fruto de uma
árvore depende de seu conjunto de raízes, a qualidade da organização
empresarial da companhia e a solidez de seu capital financeiro constituem
igualmente uma função de seus valores ocultos. Cuide dessas raízes e a
empresa florescerá; permita que elas sequem ou se tornem avariadas e a
empresa, não importando quão sólida pareça, irá finalmente entrar em colapso
e morrer.
O que se torna mais importante é saber compreender o que acontece
abaixo da superfície para, assim, podermos prever o que poderá acontecer
com o que ocorre acima. Quando as raízes da árvore estão fortes, ela
certamente irá sobreviver durante uma seca ou uma geada inesperada.
31
CAPÍTULO VI
A IMPORTÂNCIA DOS ATIVOS INTANGÍVEIS
A crescente competição entre as empresas tem elevado a importância
estratégica dos ativos intangíveis como fator de diferenciação entre empresas,
proporcionando vantagens competitivas aos seus detentores para enfrentar a
concorrência e se sobressair em seus mercados de atuação, pois os ativos
tangíveis como fábricas ou equipamentos, por exemplo, não seriam mais os
responsáveis pela maior parte da geração de valor em uma empresa, já que
em um ambiente competitivo, eles poderiam ser rapidamente reproduzidos ou
com facilidade se tornam obsoletos. Ativos intangíveis como tecnologia,
processos de fabricação, patentes, redes de distribuição ou marcas seriam os
grandes responsáveis pela geração de valor.
Diferentemente dos ativos tangíveis, os ativos intangíveis possuem
como uma de suas características estratégicas, a singularidade, o que os torna
ativos únicos, difíceis de adquirir, de desenvolver e até mesmo de copiar; além
disto, alguns podem ser até protegidos legalmente. Reilly & Schweihs (1998)
concordam e enfatizam que esta característica de singularidade tem
proporcionado aos ativos intangíveis uma forte posição de destaque.
Conforme Kayo (2002), esta singularidade é um importante elemento de
diferenciação. O autor exemplifica demonstrando que a marca Coca-Cola é
propriedade de apenas uma empresa, enquanto as máquinas que fabricam
refrigerantes podem ser compradas por qualquer outra. Stewart (1999) também
afirma, e de forma contundente, que os ativos intangíveis são a única forma
das empresas se diferenciarem de seus concorrentes.
32
Segundo Lev (2001), os ativos intangíveis possuem outras duas
características estratégicas de grande importância: a não-rivalidade e a sua
capacidade de escala. Entende-se por não-rivalidade a capacidade de um
ativo poder ser utilizado simultaneamente e de diversas formas diferentes, o
que ocorre apenas com os ativos intangíveis, pois ativos físicos são sempre
rivais, sendo necessário escolher onde o ativo será alocado em detrimento das
demais opções. Portanto, analisar esta importante característica de não-
rivalidade, significa também, atribuir custos de oportunidade aos ativos que não
a possuem, ou seja, aos tangíveis.
Um exemplo claro de uma possível rivalidade pode ser encontrado no
ativo tangível aeronave de uma companhia aérea, que não pode realizar dois
vôos, para duas rotas diferentes ao mesmo tempo. Por outro lado, a maioria
dos ativos intangíveis é não-rival e pode ser utilizada simultaneamente, como
por exemplo, o sistema de reservas (software) desta mesma companhia aérea,
que pode ser utilizado concomitantemente por um número ilimitado de clientes
e para reservas em um número ilimitado de vôos.
Esta outra característica de capacidade de escala dos ativos intangíveis
aparece, principalmente, quando uma empresa decide aumentar seu volume
de produção. Caso a empresa seja uma indústria, por exemplo, e já esteja
operando a pleno-emprego, ela certamente terá que adquirir novas máquinas e
equipamentos e, eventualmente, ampliar suas fábricas (ativos físicos e custos
fixos). Contudo, seus ativos intangíveis, como suas marcas ou suas patentes,
por exemplo, podem ser explorados indefinidamente e não requerem
investimentos adicionais, ou seja, quanto maior o número de suas aplicações,
melhor. Trata-se do fenômeno que os economistas chamam de retornos
crescentes de escala, onde, quanto maior for o número de lugares onde o ativo
intangível seja aplicado, maior será o seu retorno.
Empresas multinacionais exploram estrategicamente este conceito e
usufruem seus benefícios. Uma indústria automotiva, por exemplo, ao analisar
33
alternativas de investimentos em outros países, pode considerar apenas os
gastos em ativos físicos como as máquinas e as instalações físicas, pois seus
ativos intangíveis como a marca, seus processos internos de fabricação (know-
how), os softwares de gerenciamento de produção, o design de seus produtos,
entre outros, são ativos intangíveis, cujo custo marginal de investimento é
mínimo.
Assim, além dos ativos intangíveis poderem ser utilizados
simultaneamente, eles também podem ser utilizados repetidamente de forma
ilimitada e alternativa, ou seja, eles não possuem limites de escala, restrição
típica dos ativos físicos.
Lev (2001) explica que os ativos tangíveis também podem ser
alavancados para explorar economias de escala, porém, até um determinado
limite. Segundo o autor, este limite é a própria capacidade de produção do
ativo ou suas limitações de uso. Kayo (2002) concorda com o conceito e cita o
exemplo do ativo físico plataforma de petróleo, que não pode estar em dois
locais diferentes ao mesmo tempo. Já os ativos intangíveis são limitados
apenas pelo tamanho do mercado, não existindo limitações físicas para a sua
utilização. Por sua vez, Kayo (2002) cita o exemplo de marcas mundialmente
conhecidas e respeitadas, que podem ser alavancadas e expandirem seus
mercados através do seu licenciamento a outras empresas, que se
responsabilizariam pela fabricação e comercialização dos produtos.
Segundo Lev (2001), outra característica estratégica dos ativos
intangíveis está na sua capacidade de influenciar a demanda, criando o
fenômeno chamado pelos economistas de externalidades de rede. De acordo
com Pindyck & Rubinfeld (1994), ocorrem externalidades de rede quando a
demanda exercida por um consumidor também é dependente das demandas
exercidas por outros consumidores ou pelo número de outros consumidores
que já tenham adquirido determinada mercadoria. Elas podem ser positivas ou
negativas.
34
“Uma externalidade de rede positiva significa que há um aumento da
quantidade demandada de uma mercadoria por um consumidor típico,
em decorrência do crescimento da quantidade de aquisições feitas
por outros consumidores. Quando ocorre o inverso, dizemos que há
uma externalidade de rede negativa.” (PINDYCK & RUBINFELD,
1994, p.150)
Um exemplo de externalidade de rede positiva é o chamado Efeito
Imitação, ou seja, o desejo de um consumidor em ter determinados produtos,
porque outras pessoas os têm ou porque estão na moda. Assim, à medida que
mais pessoas adquirem estes produtos, o Efeito Imitação, conforme Pindyck &
Rubinfeld (1994), majora a reação da demanda às variações ocorridas no
preço, tornando-a mais elástica e isto traz importantes implicações nas
estratégias de preços das empresas. Como este Efeito Imitação está muito
associado a novidades de moda, estilo e marcas, ou mesmo a novidades
tecnológicas, ele é fortemente influenciado pelos ativos intangíveis. O
lançamento de novas tecnologias de aparelhos celulares ou de versões
atualizadas de softwares como o Windows XP®, ou mesmo a recente explosão
dos DVDs no Brasil e no mundo são exemplos claros deste Efeito Imitação.
Por outro lado, as externalidades de rede também podem ser negativas,
ou seja, a quantidade demandada de determinada mercadoria cai em
conseqüência do crescimento das compras feitas por outros consumidores ou,
de forma inversa, a quantidade demandada de uma mercadoria será mais alta,
quanto menor o número de pessoas que a possuam, é o chamado Efeito
Esnobação, também descrito por Pindyck & Rubinfeld (1994), que é provocado
pelo desejo dos consumidores em possuir bens exclusivos, raros e
diferenciadores. São exemplos de mercadorias sujeitas ao Efeito Esnobação:
obras de arte, automóveis esportivos, roupas feitas sob medida, grifes
famosas, entre outras. Assim, o fato de poucas pessoas conseguirem possuir
35
produtos semelhantes ou das mesmas marcas, por exemplo, confere ao seu
detentor status e exclusividade.
Este Efeito Esnobação torna a demanda dos produtos menos elástica,
pois caso o preço fosse muito reduzido e o número de pessoas adquirindo a
mercadoria aumentasse muito, ele teria uma queda substancial de valor, pois
como se trata de uma mercadoria esnobação, seu valor seria reduzido na
medida em que mais pessoas a tenham, já que o próprio Efeito Esnobação
freia o aumento da quantidade demandada. De acordo com Pindyck &
Rubinfeld (1994), muitos esforços de marketing e propaganda são feitos para
promover a ocorrência do Efeito Esnobação, pois, pelo fato da demanda se
tornar menos elástica, este efeito tem importantes reflexos na estratégia de
preços das empresas. Ao se analisar as características e os diferenciais dos
produtos e serviços influenciáveis pelo Efeito Esnobação, percebe-se que, de
forma geral, quanto mais intangível-intensivo for o seu valor, maior o poder
desta estratégia de atuação, principalmente para as empresas que investem
fortemente em ativos intangíveis como marcas, design e atendimento
diferenciado, por exemplo.
Brooking (apud Antunes, 2000) reforça ainda mais esta importância
estratégica dos ativos intangíveis e apresenta outra alternativa para a
alavancagem dos negócios através destes ativos – o seu merchandising –, e
afirma, o valor da comercialização do produto intangível, associado ao produto
tangível, pode ultrapassar em muito este último. A autora exemplifica por
intermédio de um case study do filme Star War, onde o valor arrecadado com a
bilheteria deste filme de grande sucesso (US$ 25 milhões) foi superado pela
venda dos direitos de comercialização das imagens e dos personagens do
filme (US$ 1 bilhão).
De acordo com Kayo (2002), estas questões têm implicações
importantes na avaliação e gestão dos ativos intangíveis. Não resta dúvida,
36
que elas produzem impactos nos custos e nas receitas das empresas,
conseqüentemente, em seu fluxo de caixa e em seu valor.
“Duas empresas que fabricam o mesmo tipo de produto podem até
construir fábricas semelhantes, comprar as mesmas máquinas,
utilizar o mesmo tipo de matéria-prima, manter o mesmo nível de
capital de giro e possuir outros ativos tangíveis similares. Entretanto,
essas duas empresas podem apresentar valores de mercado
bastante distintos em função, principalmente, da presença de ativos
intangíveis. A atuação dos intangíveis pode resultar em um preço
superior, custos e despesas inferiores ou uma combinação desses
fatores.” (KAYO, 2002, p.14)
Esta crescente importância dos intangíveis, no entanto, não significa que
os ativos tangíveis estão perdendo importância, pois, conforme Kayo (2002,
p.2), “É extremamente difícil dissociar o ativo tangível do intangível. A
combinação dos dois é que define o valor efetivo de uma empresa. O capital
intangível bem empregado pode fazer o capital tangível render muito mais e,
assim, conjuntamente, maximizar o valor da empresa”. O autor cita ainda
exemplos das relações entre o desenvolvimento tecnológico de equipamentos
e a necessidade de treinamento do capital humano, da mesma forma que
investimentos em ativos intangíveis, como pesquisa e tecnologia, podem levar
ao desenvolvimento de novas máquinas.
Além disto, muitos intangíveis estão também embutidos em ativos
tangíveis, como a tecnologia dos aviões, as marcas dos carros, sistemas e os
computadores, por exemplo, pois é esta interação entre tangíveis e intangíveis
que cada vez mais cria valor. As organizações estão criando valor de um modo
totalmente novo e diferente, utilizando ativos tangíveis e intangíveis e
combinações destes ativos até agora não reconhecidas pelos sistemas
contábeis tradicionais.
37
Portanto, o planejamento estratégico tem que compreender a dinâmica
de geração de valor na empresa, ou seja, mapear as características únicas de
criação de valor de seus ativos tangíveis e intangíveis e das combinações
destes ativos, pois apenas uma análise profunda destes value drivers permitirá
a identificação das variáveis que, efetivamente, exercem maior impacto no
valor da empresa. Deve-se ressaltar, ainda, que em alguns setores da
economia, a intensidade e as características dos ativos intangíveis
representam também uma excelente barreira de entrada para novos
competidores.
Por todas as características estratégicas e positivas dos ativos
intangíveis descritas, pode-se imaginar que o potencial de criação de valor
destes ativos é ilimitado e, ainda, questionar quais são os possíveis limites
para investimentos em ativos intangíveis. De acordo com Lev (2001), a
primeira grande restrição à aplicação excessiva de ativos intangíveis está na
sua dificuldade de gerenciamento, pois estes ativos, em geral, possuem uma
administração mais complexa do que a dos ativos tangíveis.
As dificuldades de identificação e mensuração dos ativos intangíveis,
além da falta de informações gerenciais precisas sobre sua performance,
contribuem ainda mais para a complexidade de gerenciamento destes ativos
ou das empresas intensivas em ativos intangíveis, pois a contabilidade
tradicional ainda está estruturada para uma era industrial, alocando gastos
com matérias-primas e salários (trabalho) aos custos de seus produtos,
processos ou atividades, mas considerando como despesas (não alocáveis),
os gastos com treinamento, aquisição de novos clientes e, em alguns países,
até gastos com pesquisas e desenvolvimento. Conforme Lev (2001), os
sistemas de informação gerencial baseado em tangíveis, estão totalmente
inadequados para o gerenciamento de empresa na sociedade do
conhecimento.
38
Outro fator que contribui fortemente para a limitação de investimentos
em ativos intangíveis é o risco. O risco é um vetor fundamental de decisão nas
empresas que investem intensamente em ativos intangíveis, pois o
desenvolvimento interno destes ativos é moroso e arriscado e seus custos de
aquisição e gerenciamento são muito altos. Além disto, há uma grande
dificuldade de comercialização destes ativos, pois não existem mercados
organizados para sua negociação. Conforme Lev (2000), os laboratórios
farmacêuticos norte-americanos investem em média US$ 500 milhões no
desenvolvimento de um novo medicamento que, ao término da pesquisa, pode
ou não atingir os objetivos inicialmente propostos.
Outro risco considerável, segundo Lev (2000), consiste no fato de
alguns ativos intangíveis, como o direito de propriedade, por exemplo, serem
difusos, ou seja, podem ser roubados, copiados ou até manipulados. A
proliferação de milhares de processos judiciais na disputa por patentes
demonstra claramente a dificuldade em definir e manter ativos intangíveis,
quando se trata de conhecimento. Além, é claro, de já estar empiricamente
comprovado que os retornos sobre investimentos em ativos intangíveis são
muito mais incertos do que os retornos sobre investimentos em ativos
tangíveis.
Quando se trata de capital humano, este risco é ainda maior. Algumas
empresas, por exemplo, se perdessem um determinado executivo, poderiam
ter seus resultados futuros significativamente prejudicados em função da perda
da capacidade intelectual deste importante recurso humano. Ou ainda, uma
empresa que invista fortemente em treinamento de seus funcionários ou
mesmo pagando aos seus executivos cursos de pós-graduação e
especialização, caso não consiga manter este capital humano em seu quadro
funcional por um bom tempo, dificilmente este investimento terá o retorno
desejado, além, é claro, de estar formando potenciais profissionais para seus
concorrentes diretos.
39
Alguns investimentos em ativos intangíveis como a ampliação da base
de clientes, capital intelectual, relacionamentos, logística e canais de
distribuição ou uma administração superior, por exemplo, são investimentos
em ativos intangíveis de provável retorno, mas de altíssimo risco, pois estes
são ativos que estão a serviço (não são propriedades) da empresa,
diferentemente dos ativos tangíveis que, efetivamente, pertencem à empresa.
Outro fator que também adiciona alto risco aos ativos intangíveis é a
constante necessidade de inovação. Ativos intangíveis estão umbilicalmente
ligados à inovação; contudo, inovação é incerta por natureza e apenas
alcançada com investimentos de risco em outros ativos intangíveis, como
capital humano, tecnologia e pesquisa. E mais, o que pode ser inovação e,
provavelmente, uma fonte de vantagem competitiva hoje, pode não continuar
sendo no futuro imediato, pois outras inovações podem ter sido desenvolvidas
e a inovação anterior tornar-se obsoleta antes mesmo do retorno do
investimento realizado.
40
CAPÍTULO VII
CAPITAL INTELECTUAL
A definição de Capital Intelectual tem sido bastante vasta, porém nos
últimos anos, algumas tentativas de definir ou explicar Capital Intelectual têm
sido alvo de diversos estudiosos, que diferem em alguns aspectos mas na
essência apresentam o mesmo conteúdo.
Segundo Antunes (1999:99), a primeira matéria empregando o conceito
do Capital Intelectual, foi a publicada por Thomas Stewart, na Revista Fortune,
no ano de 1994 com o título, "Your Company´s Most Valuable Asset:
Intellectual Capital".
Essa matéria, que serviu de base para alguns artigos acadêmicos nos
Estados Unidos e no Brasil, abordava as primeiras experiências realizadas por
algumas companhias para mensurar o seu Capital Intelectual, entre elas a da
Skandia AFS, primeira organização a divulgar um relatório suplementar às
Demonstrações Contábeis divulgando o Capital Intelectual, cujo principal
executivo para esse assunto é Leif Edvinsson. Neste artigo, todas as
organizações empregaram a mesma denominação para explicar o mesmo
fenômeno, Capital Intelectual.
No que diz respeito, ao conceito de Capital Intelectual, embora seja um
assunto novo, de vastas pesquisas e argumentações, atualmente 2 (dois)
autores, se destacam e são considerados os mais consistentes no assunto, os
quais acreditam-se terem sido os pioneiros no desenvolvimento de pesquisas
conclusivas, embora ainda não definitivas, sobre o tema.
41
Conforme Brooking (apud Antunes, 1999:94) que define Capital
Intelectual como uma combinação de ativos intangíveis, resultados das
mudanças nas áreas da tecnologia da informação, mídia e comunicação, que
trazem benefícios intangíveis para as empresas e que a deixam em condições
para o seu funcionamento. Para a referida autora, o Capital Intelectual pode
ser dividido em quatro categorias: Ativos de Mercado; Ativos Humanos; Ativos
de Propriedade Intelectual e Ativos de Infra-Estrutura.
A autora define a composição de cada grupo da seguinte forma:
• Ativos de Mercado – que é o potencial que a empresa possui em
decorrência dos intangíveis que estão relacionados ao mercado, tais
como: marca clientes, lealdade dos clientes, canais de distribuição,
franquias, negócios e mandamento, etc.
• Ativos Humanos – que compreendem os benefícios que o indivíduo
pode proporcionar para as organizações por meio da sua criatividade,
conhecimento, habilidade para resolver problemas, tudo de forma
coletiva e dinâmica.
• Ativos de Propriedade Intelectual – incluem os ativos que necessitam de
proteção legal para proporcionarem benefícios às organizações, como:
segredos industriais, copyright, patentes, designs, etc.
• Ativos de Infra-Estrutura – que compreendem as tecnologias, as
metodologias e os processos empregados como cultura, sistema de
informação, banco de dados de clientes, etc.
42
Já Edvinsson & Malone (1998:9) definem Capital Intelectual como sendo a
posse de conhecimento, experiência aplicada, tecnologia organizacional,
relacionamentos com clientes e habilidades profissionais que proporcionam à
empresa uma vantagem competitiva no mercado.
Os autores dividem os fatores ocultos em três grupos:
• Capital Humano – que corresponde a toda capacidade, conhecimento,
habilidade e experiência individuais dos colaboradores de uma
organização para realizar as suas tarefas.
• Capital Estrutural – que corresponde a toda a infra-estrutura que apóia o
capital humano. O capital humano é o que constrói o capital estrutural,
mas quanto melhor for o seu capital estrutural, melhor será o capital
humano. Os sistemas de informação, os softwares, os bancos de dados,
as patentes, as marcas registradas e todo o resto da capacidade
organizacional que apóia a produtividade do capital humano são
exemplos de capital estrutural.
• Capital de Clientes - que representa o valor das franquias, do relacionamento com os clientes. Pode ser definido como fidelização ou
a probabilidade dos clientes continuarem a fazer negócios com a
empresa.
43
7.1 - Capital Humano
O capital humano de uma empresa é aquele incorporado nas pessoas,
os colaboradores, cujo talento e experiência criam os produtos e serviços, que
tornam-se diferenciais, que são motivos pelos quais os clientes procuram a
empresa e não os concorrentes.
E segundo os próprios autores Edvinsson & Malone (1998:31):
“Toda capacidade, conhecimento, habilidade e experiência
individuais dos empregados e gerentes estão incluídos no termo
capital humano. Mas ele precisa ser maior do que simplesmente a
soma dessas medidas, devendo, de preferência, captar igualmente a
dinâmica de uma organização inteligente em um ambiente
competitivo em mudança. O capital humano deve também incluir a
criatividade e a inovação organizacionais.”
Os conceitos de capital intelectual e capital humano estão intimamente
relacionados e são facilmente confundidos. O capital humano diz respeito às
pessoas, seu intelecto, seus conhecimentos e experiências, é um subgrupo do
capital intelectual que é bem mais amplo.
Quanto maior a “intensidade” do capital humano de uma empresa mais
a empresa pode valorar por seus serviços e menos vulnerável esta ficará
perante aos seus concorrentes.
O capital humano é também a capacidade dos empregados para
“resolver” os problemas dos clientes. Esse capital além de intangível pode ser
"perdido" pela empresa com muita facilidade, pois a empresa não é
proprietária do capital humano, propriamente dito, e apesar do um vínculo
periódico este capital, o mesmo se dissipa com facilidade. Cabendo assim as
44
empresas ou organizações “retê-los” ou “concentrá-los” através de políticas
eficazes, no sentido de preservar esse valioso patrimônio.
Quanto mais as empresas começam a pensar em seus funcionários
como um capital humano, ou seja, um ser valioso, que vale a pena ser
desenvolvido, mais ela está colaborando para o crescimento de todos os níveis
de sua organização.
Para fazer diferença, o capital humano precisa de seus pares, o capital
estrutural e o capital de clientes. Não adianta você contratar excelentes
funcionários se você não der uma estrutura para eles poderem trabalhar e
trabalhos para serem desenvolvidos por eles. Tudo tem que estar em perfeita
harmonia. A inteligência, como qualquer outro patrimônio, precisa ser cultivada.
A simples contratação de mão de obra extremamente capacitada não resolve o
problema.
As empresas que investem em educação e treinamento dos seus
funcionários estão à frente de seus concorrentes, pois “concentram”
conhecimentos e experiências na suas atividades. Por outro lado, existe o
problema dos trabalhadores com conhecimentos mais valiosos serem também
aqueles que mais facilmente abandonam seus empregadores, levando consigo
seu talento e seu trabalho. Este tipo de capital não é da empresa e sim das
pessoas que com ela colaboram.
Tentativas para resolver este problema, pode ser o estímulo do trabalho
em equipe, pois com a saída de um elemento do grupo, não afetaria de forma
tão contundente o andamento das atividades. Uma forma de solucionar o
problema de evasão dos bons funcionários é oferecer a eles uma participação
nos lucros da companhia, ou propor participação acionária, dentre outros
benefícios mais atraentes.
Valorizar o capital humano é fundamental para a competitividade
empresarial. Atualmente, apesar da conjuntura econômica, depois da crise no
45
final do ano de 2008, observamos que no mercado de trabalho, algumas
premissas permanecem inalteradas, no tange as exigências dos empregadores
quanto a capacitação e experiência dos funcionários indo ao encontro das
exigências também dos empregados no que diz respeito a satisfação, seja por
questões monetárias, de ambiente empresarial, entre outros, o que poderia
levar a estes mudar de empresa.
O principal desafio das empresas é encontrar e fortalecer talentos que
realmente funcionem como patrimônio e aproveitá-los, e transformá-los, de
certo modo, em propriedade da empresa.
7.2 - Capital Estrutural
O capital estrutural se refere às marcas registradas, softwares,
equipamentos de informática, os bancos de dados, as patentes, e todo o resto
da estrutura da organização que interagem com a produtividade dos
funcionários quando executam suas tarefas. Este capital é formado pela infra-
estrutura que apóia o capital humano, ou seja, tudo o que permanece na
empresa.
Para Edvinsson & Malone (1998:32), o capital estrutural pode ser mais
bem descrito como arcabouço, o suporte físico, o esqueleto que auxilia o
capital humano. Ele é também a capacidade organizacional, incluindo os
sistemas físicos utilizados para transmitir e armazenar conhecimento
Intelectual.
Capital estrutural refere-se aos instrumentos de trabalho, ferramentas e
formas de produção do trabalho, que apóia e possibilita que o capital humano
46
concretize todo seu potencial. Equipamentos de informática, softwares, os
bancos de dados, as patentes, as marcas registradas.
E nas palavras de Edvinsson e Malone (1998:35):
“O capital estrutural inclui fatores como a qualidade e o alcance dos
sistemas informatizados, a imagem da empresa, os bancos de dados
exatos, os conceitos organizacionais e a documentação. Aqui,
também, podem ser igualmente encontrados, como lembrança de
um mundo esquecido, itens tradicionais, a exemplo da propriedade
intelectual, que inclui patentes, marcas registradas e direitos
autorais.”
7.3 - Capital de Clientes
Edvinsson & Malone (1998:33) ao se referirem ao capital de clientes,
citam:
“O capital de clientes teria sido uma noção verdadeiramente estranha
aos contadores há apenas algumas décadas. No entanto, sempre
esteve presente, oculto sob a denominação Goodwill, pois quando a
empresa é vendida por um valor maior que o contábil, após subtrair-
se o valor das patentes e dos direitos autorais, o que significa essa
diferença senão o reconhecimento de que a empresa possui uma
carteira de clientes sólidos e leais?...”
O capital de clientes representa o valor das franquias, os
relacionamentos contínuos com as pessoas físicas e jurídicas para as quais a
empresa se relaciona. Mesmo assim, em muitas situações este é o mais mal
administrado dentre os ativos intangíveis.
47
Para Sveiby (2000:70), existem três tipos de clientes: Os clientes que
melhoram a imagem da empresa, no qual suas referências e seus
depoimentos são muito valiosos; os clientes que melhoram a organização,
esses exigem soluções de ponta, melhorando a estrutura interna da empresa;
e os clientes que aumenta a competência, que contribuem com projetos que
desafiam a competência dos funcionários, fazendo com que os funcionários
aprendam e se desenvolvam com eles.
Consta ainda no livro de Leif Edvinsson e Michael S. Malone (1998:33):
“... é no relacionamento com os clientes que o fluxo de caixa se inicia
e não na área contábil como muitos gerentes parecem considerar.
Medir tal solidez e lealdade é o desafio para a categoria do capital de
clientes. Os índices incluem medidas de satisfação, longevidade,
sensibilidade apreços e até mesmo o bem-estar financeiro dos
clientes de longa data....”
48
CAPÍTULO VIII
MENSURAÇÃO E CONTABILIZAÇÃO DO CAPITAL
INTELECTUAL
A própria definição de Capital Intelectual ainda não está muito bem
consolidada, quanto mais a sua mensuração e contabilização no campo
objetivo da Contabilidade.
Em todo o mundo, as demonstrações das situações patrimoniais das
empresas, deixaram de representar uma realidade. Isto se comprova, num
momento de venda da empresa ou de parte de seu capital para terceiros,
tronando-se “comum” a diferença entre os dados oficiais legais e a realidade
das riquezas.
Visando a atender essa questão, a ciência da Contabilidade, tem
desenvolvido estudos no sentido de fixar condições de apuração das coisas
"imateriais".
Uma empresa pode perder uma linha de crédito porque a análise de sua
situação, a partir de seu balanço, demonstra que ela está em condições de
ineficácia de pagamento. É possível, também, que desanime um investidor, em
aplicar na mesma, porque os resultados apresentados aparentam lucros
baixos ou até perdas.
A realidade, entretanto, pode ser outra, em razão de estar mal
evidenciada através de defeitos de informação. A projeção da imagem da
empresa, através de suas demonstrações contábeis, tem o poder de abrir
linhas de crédito, movimentar investimentos em bolsas, prestar contas a
terceiros.
49
A proposta deste capítulo é demonstrar a necessidade de se buscar
uma harmonização das práticas contábeis - sintonizadas com a expectativa
dos empreendedores - procurando estimular os contadores a desenvolverem
mecanismos que permitam valorizar e mensurar nos balanços o valor do
capital intelectual. É evidente que, por se tratar de um ativo intangível, torna-se
difícil a mensuração do capital intelectual em virtude de sua subjetividade.
Porém, de acordo com Sérgio de Iudícibus (1998:60):
“Sabe-se que a Contabilidade, em seu aspecto de mensuração, é um
sistema relacional, tipo espelho. Os números que, afinal, são
associados a ativos, passivos, receitas, despesas, perdas, ganhos e
ao patrimônio líquido expressam uma representação da realidade e,
não a própria realidade dos elementos avaliados.”
A Contabilidade deve ser um reflexo da realidade, mesmo em se
tratando de bens intangíveis. A subjetividade de mensurar o capital intelectual
não pode ser um obstáculo para que os profissionais da área contábil não
reconheçam o mesmo. Eles devem, sim, buscar definir parâmetros que
permitam a mensuração dos ativos intangíveis da forma mais fiel possível.
As dificuldades contábeis com respeito aos gastos com a formação de
ativos intangíveis podiam ser ignoradas, sem grande prejuízo, até a poucos
anos. A questão é que a importância dos ativos intangíveis nas empresas vem
crescendo ao longo dos anos.
Os autores Edvinsson & Malone em seu livro "Capital Intelectual –
Descobrindo o Valor Real de sua Empresa pela Identificação de seus Valores
Internos", apresentam uma fórmula de James Tobin para medir o capital
intelectual, onde CI = VM – VC , na qual o Capital Intelectual (CI) de uma
empresa é igual ao seu Valor de Mercado (VM), menos o Valor Contábil (VC).
50
O atual modelo contábil é inadequado para a economia moderna, porém
é preciso desenvolver novas ferramentas para ampliar o alcance desse
modelo. Apesar das dificuldades dos processos de mensuração do capital
intelectual e das coerentes restrições impostas pelos princípios e convenções
contábeis, são indispensáveis procurar criar mecanismos alternativos que
evidenciem aos usuários dos relatórios contábeis informações sobre o capital
intelectual.
O modelo "tradicional" de contabilidade que descreveu as operações
que se passam nas organizações durante meio milênio, não está mais
conseguindo corresponder com tanta firmeza às mudanças que vêm
ocorrendo. Os demonstrativos contábeis mostram-se cada vez mais obsoletos,
para acompanhar as organizações modernas.
Para as organizações baseadas no conhecimento, os demonstrativos
financeiros registram exclusivamente o capital físico e financeiro, onde perdem
totalmente a relevância, já que as técnicas contábeis existentes no Brasil e no
mundo em geral são bastante precárias na avaliação dos ativos intangíveis
internamente gerados pela empresa, tais como habilidades dos funcionários,
marcas e patentes, treinamento e desenvolvimento.
A contabilidade tradicional, não oferece informações sobre as tradições
e a filosofia da empresa. As informações tradicionais contidas nas linhas de um
balanço patrimonial, como máquinas, terrenos e estoques, não indicam muitas
vezes sobre a competitividade atual ou o potencial de lucros futuros de uma
empresa.
De repente, dá-se conta de que os demonstrativos obrigatórios exigidos
pela Lei 6.404/76 das Sociedades por Ações, não evidenciam a realidade da
empresa. Logo, a avaliação do patrimônio feito pela contabilidade não reflete a
verdadeira situação de muitas empresas. Uma vez que para a Contabilidade
51
tradicional, o que não se pode medir não se pode compreender, controlar ou
alterar.
Há uma crescente crítica aos demonstrativos patrimoniais tradicionais,
por não evidenciar os ativos intangíveis. Os estudiosos afirmam que não se
pode observar só os bens físicos, é necessário, também, incluir o intelectual e
a riqueza imaterial para se tenha uma real situação patrimonial da empresa.
A incapacidade do modelo contábil atual para refletir corretamente o
impacto dos ativos intangíveis na situação presente e futura da empresa,
decorre da razão de que as demonstrações contábeis encontram-se incapazes
de refletir a imagem fiel (verdadeira e justa) da posição financeira da empresa.
Tal incapacidade deriva-se da intervenção das normas e leis no sistema
contábeis, gerada de fontes nem sempre preocupadas com os princípios
científicos da Contabilidade.
52
8.1 - Críticas a Lei 6.404/76
O Prof. Antonio Lopes de Sá (1999:101) faz críticas a parte contábil da
Lei 6.404/76 – Lei das Sociedades por Ações, dizendo que deveria ser
revogada por ser de "débil qualidade informativa". Fazendo menção ao projeto
da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de que é preciso mais
transparência das demonstrações contábeis, sequer tomou conhecimento do
que foi enviado ao Ministério da Fazenda. Ele defende que a matéria contábil
deve regular-se pelos contabilistas, assim como as questões de saúde pelos
médicos etc.
E, ainda Lopes de Sá (1999:114) complementa:
“Legalmente, não há amparo para que o contador registre como
patrimônio, por exemplo, a capacidade do pessoal de uma empresa,
mas, na realidade ela pode ser apurada através de meios
sofisticados, de uma tecnologia aplicada ao denominado Capital
Intelectual. Tudo ocorre porque o critério das escritas é apenas o
oficial, aquele determinado por lei e sabemos que esta nem sempre
está de acordo com a verdade.”
Nossos balanços não representam a realidade, não porque os
profissionais da Contabilidade desejem, não por intenção, mas por
incompetência do texto legal.
O valor do capital de uma empresa, registrado oficialmente, quase
nunca coincide com a realidade. Os valores constantes de registros, dentro da
burocracia exigida pela lei, não funcionam adequadamente no mundo dos
negócios.
53
Os contadores são obrigados a apresentar em seus balanços os valores
oficialmente registrados, mas, as demonstrações contábeis, elaboradas por
força de lei, não evidenciam o valor efetivo ou real de uma empresa.
A própria legislação é a grande responsável para que a riqueza não seja
traduzida com fidelidade nas demonstrações contábeis. Não é a Contabilidade
que falha, mas, o que o Poder Público faz com ela, obrigando as empresas a
produzirem peças fora da realidade, por força de lei.
Uma empresa tem muitos valores ao seu favor e que não os pode
registrar porque a lei não permite. Dentre eles estão os de seu ponto
comercial, marcas de fábrica, patentes de invenções, direitos autorais,
concessões para exploração de jazidas, concessões de serviços públicos,
cartas de patentes, carteira de clientes, organização, qualidade de pessoal,
etc.
A aplicação restrita dos princípios e convenções contábeis traz uma
série de dificuldades para qualquer tentativa de contabilização do capital
intelectual. O princípio do custo como base de valor (ou do registro pelo valor
original) implica que somente a partir dos valores monetários de entrada (custo
histórico ou custo de reposição) poder-se-ia apurar o valor a ser registrado
para determinado ativo.
Entretanto, ocorre que muitos itens relacionados ao capital intelectual
são produzidos internamente pela empresa em suas atividades e processos.
Algumas convenções contábeis, tais como a da materialidade e a do
conservadorismo, impõem restrições a qualquer tipo de evidenciação que
esteja carregada de subjetivismo e que possa comprometer a confiabilidade e
consistência exigida das demonstrações financeiras.
Os princípios e as normas contábeis devem acompanhar as alterações
que ocorrem nas organizações, orientando e atendendo as necessidades aos
usuários da informação contábil.
54
8.2 - Ativo ou Despesa?
A maioria dos gastos na formação de ativos intangíveis não é
reconhecida como investimento na contabilidade das empresas. Desta forma,
o valor gerado em decorrência do trabalho humano, constitui-se em um ativo
que precisa ser devidamente contabilizado, mensurado, analisado e divulgado.
Isto significa um grande desafio para a contabilidade, no sentido de mensurar
quanto representa o capital intelectual para uma empresa.
A prática contábil atual tem tratado todos os gastos com
desenvolvimento de recursos humanos como despesas em vez de ativo. Essa
convenção resulta numa mensuração distorcida do retorno de uma
organização sobre seus investimentos. Tal prática não reflete a realidade
econômica da organização, já que os investimentos nas pessoas, os ativos
humanos de uma organização, uma vez satisfazendo alguns critérios pré-
determinados, entendem-se que estes devem ser tratados como ativos.
Ora, reconhece-se que os indivíduos têm muito a contribuir para a
organização em termos de informação e do conhecimento que eles possuem
sobre os seus trabalhos. Entretanto, como as pessoas que agregam "valor”
para empresa, recebem promoções e aumentos salariais, que são lançados
nos demonstrativos como aumento de despesas - sem um visível e
concomitante aumento do ativo da empresa. Ao se tornarem mais produtivos,
os empregados e funcionários se revelam despesas ainda maiores. E o pior:
em tempos de crises, as pessoas passam a ser vistas como despesas que
podem ser cortadas. Porque é mais fácil para uma organização demitir um
empregado do que se desfazer de um bem físico, como uma máquina, que
está ativada nos demonstrativos contábeis da empresa.
Ainda, em decorrência da dificuldade sentida pelos profissionais de
contabilidade na mensuração da força humana de trabalho, Iudícibus (1998:62)
55
diz que esta "raramente é retratada no ativo, a não ser em artigos de pesquisa
e investigativos". Isto representa, além de uma omissão nos demonstrativos
contábeis, no que concerne ao valor do capital humano, uma demora no
avanço do cenário contábil.
A prática contábil atual (postulados, princípios e convenções) não
reconhece, ainda, os gastos na formação profissional dos recursos humanos
como um investimento – onde esses gastos seriam contabilizados no ativo das
empresas para posterior amortização ao longo do tempo – como é pratica
corrente com os ativos permanentes.
As empresas, temerosas de que sejam tributadas a mais, buscam de
todas as formas ocultar os efeitos dos intangíveis como capitalizações,
buscando, de todas as formas, o máximo de deduções que aliviem suas
cargas tributárias.
Alguns gastos são, na realidade, investimentos, mas devido aos
imperativos da legislação, as empresas preferem considerar tudo como
despesa, visando reduzir os impostos e abandonando classificações que
deveriam apropriar os valores no ativo, como genuínos elementos do capital.
56
8.3 - Vantagens e Desvantagens da Mensuração
As informações contidas num relatório de Capital Intelectual são de
interesse tanto dos usuários internos (gestores) quanto dos usuários externos,
especialmente para os acionistas. Considerando que as medições de Capital
Intelectual, bem gerenciadas, contribuem para que a empresa possa se
conhecer melhor e, conseqüentemente, para o seu aprimoramento e dando
ênfase as suas utilidades.
Brooking (apud Antunes, 1999:162) enfatiza que o conhecimento do
Capital Intelectual é uma fonte rica de informações sobre a organização como
um todo e, em particular, um instrumento valioso para os seguintes aspectos:
analisar o valor da empresa; fornecer um foco para programas de educação
organizacional e treinamento; confirmar a habilidade da organização para
atingir objetivos; planificar a Pesquisa e Desenvolvimento; fornecer
informações básicas aos programas de reengenharia e ampliar a memória
organizacional.
Os aspectos apontados por Brooking ressaltam as vantagens de se
identificar o Capital Intelectual de uma organização.
Podem-se, por meio do conhecimento do Capital Estrutural distinguir as
diferenças entre criação de patentes, desenvolvimento de novos designs e
desenvolvimento de novos produtos, compreendendo as vantagens
competitivas que cada um desses elementos possuem, contribuindo também
para a decisão de investimento em tecnologia da informação.
O conhecimento do Capital Humano coopera muito para a escolha de
investimentos em treinamento. Se a empresa possui um relatório de Capital
Humano, pode fazer a melhor opção de treinamento mais adequado, levando
em consideração as necessidades identificadas em seus ativos humanos, bem
57
como proceder a uma avaliação posterior a fim de mensurar os benefícios
trazidos para a empresa. E conforme Antunes (1999:163) podemos ainda citar
que:
“No caso da redução de número de funcionários, o conhecimento do
Capital Humano impede que os cortes afetem pessoas com
capacidade e know-how valiosos para as organizações. Digno de
nota são os Programas de Demissão Voluntária que muitas
empresas, principalmente do setor público, vieram promovendo nos
últimos anos. Deve-se estar atento para o fato de que, se por um
lado, este procedimento contribui para enxugar a máquina
administrativa do governo, por outro, contribui para a evasão de
grandes talentos para a área privada, atraídos pelos valores dos
salários, entre outros atrativos.”
O conhecimento detalhado que o modelo de avaliação dispõe sobre os
Clientes fornece uma visão bem mais abrangente das condições atuais e
futuras da empresa relacionadas a esse foco.
Do ponto de vista externo da organização, os relatórios contendo
indicadores do Capital Intelectual, podem ser identificadas como vantagem,
pois são subsídios valiosos para os analistas e financiadores, em função da
projeção da futura capacidade da empresa em gerar caixa.
Para os acionistas, estes relatórios são de fundamental importância,
porque, fazendo uso das palavras de Edvinsson, "eles mostram o valor oculto
das organizações" que não estão aparentes nas Demonstrações Contábeis.
Os acionistas podem ter, igualmente, a posição do momento e a visão de
futuro, ou seja, as tendências apresentadas pela empresa. E segundo Antunes
(1999:166) "A sua divulgação pode explicar a diferença entre o valor contábil e
o de mercado de uma entidade, mesmo não sendo de forma objetiva".
58
Em suma, pode-se concluir que as informações contidas em um
relatório de Capital Intelectual são relevantes tanto para os usuários internos
quanto para os usuários externos da Contabilidade. Isto se deve ao fato do
Capital Intelectual identificar, de uma forma dinâmica, o potencial da
organização no presente e a sua capacidade de gerar benefícios no curto e
longo prazo.
Até o momento não se identificaram desvantagens, mas, apenas
algumas limitações, que podem ser consideradas temporárias, e algumas
observações a serem feitas. Deve-se levar em conta, naturalmente, esta nova
abordagem sobre o assunto.
Conforme a autora Maria Thereza Pompa Antunes em sua dissertação
de Mestrado (1999:166), ainda não existe um modelo padrão para a
divulgação dessas informações, embora seja do conhecimento que órgãos
internacionais como o IASC - International Accounting Standards Committee, o
FASB - Financial Accounting Standards Board e a SEC - Securities Exchange
Comission, tenham patrocinado reuniões para debater tal assunto. A
divulgação do relatório do Capital Intelectual objetiva levantar diálogo e
sugestões para um futuro consenso do modelo universal. É nesse sentido que
a Federação Internacional de Contadores (IFAC) vem trabalhando a fim de
divulgar o conceito do Capital Intelectual e a sua importância na sociedade
atual.
E ainda conforme Antunes, embora se considere que a idéia de um
modelo universal seja remota, o máximo talvez seja um modelo por setor,
tendo em vista as particularidades inerentes a cada um dos setores da
economia. E, por se tratar de um modelo desenvolvido para identificar e
mensurar componentes subjetivos do Goodwill não apresenta uma unidade
padrão de mensuração.
59
CONCLUSÃO
No objetivo central deste estudo, verifica-se que a Contabilidade precisa
estar sempre atualizada para acompanhar os avanços da economia e assim
poder ser útil para as empresas e para os usuários das informações contábeis.
O modelo tradicional de Contabilidade, que descreveu com tanto brilho
as operações das empresas durante meio milênio, não tem conseguido
acompanhar a revolução que está ocorrendo no mundo dos negócios.
Este estudo apresenta as características estratégicas dos ativos
intangíveis na atual sociedade do conhecimento e verificando se, investimentos
em ativos com estas características, efetivamente, poderiam levar as empresas
a desempenhos econômicos superiores e uma maior geração de valor aos
seus acionistas, demonstrando assim, a importância dos ativos intangíveis.
Apesar do Capital Intelectual, ser um dos ativos mais importantes para a
organização, sua difícil administração e avaliação, devido a sua subjetividade.
O desafio da Contabilidade para o novo milênio é justamente encontrar
métodos e meios de como mensurar e contabilizar determinados ativos
intangíveis, principalmente o Capital Intelectual, de forma eficiente e eficaz.
A Contabilidade deverá continuar atual, moderna e sempre
acompanhando as inovações introduzidas ao cotidiano, a fim de conceber nas
demonstrações a natureza intelectual, humana, ecológica e social, de forma
mais precisa.
O valor real de uma empresa está se deslocando de edifícios, estoques,
equipamentos para a era intelectual, exigindo cada vez mais a reformulação da
contabilidade tradicional, para que assim possa avaliar com mais objetividade
os ativos intangíveis e assim proporcionar às empresas uma melhor leitura da
60
sua própria realidade, visto que para o sucesso das organizações na era do
conhecimento, tais ativos são tão importantes quanto os ativos físicos e
tangíveis.
A importância estratégica dos ativos intangíveis na geração de valor ao
acionista, demonstra que a mudança de ênfase do ativo tangível para o ativo
intangível tem fundamento, e que investimentos em ativos intangíveis, podem,
efetivamente, diferenciar empresas e criar valor, estimulando o seu
crescimento através de novos investimentos e contribuindo positivamente para
o incremento da riqueza dos acionistas.
A avaliação dos ativos intangíveis dentro do modelo de Contabilidade
tradicional nas empresas e as organizações, e conseqüente investimento
nestes ativos, pode-se auferir um benefício maior em toda estrutura
organizacional, na qual envolve não somente os acionistas mas também
fornecedores, clientes, funcionários, e até mesmo a própria sociedade.
O Capital Intelectual torna-se uma ferramenta importantíssima para a
tomada de decisões, como por exemplo: Investir em treinamento, em
educação, substituir ou não homens por máquinas, terceirizar ou não etapas
no processo produtivo, criar ou eliminar níveis de gerência etc.
Apesar das evidências e da importância do tema, não se pode afirmar
que o número de empresas cujos sistemas de informações focalizem o Capital
Intelectual seja expressivo. Várias questões precisam ser mais bem exploradas
no sentido de desenvolver e aprimorar essa nova perspectiva gerencial. O
desafio continua em busca da mensuração de forma mais contundente do
valor do Capital Intelectual (CI) e seus componentes nos Balanços Patrimoniais
da empresas.
Por fim, conclui-se que os ativos intangíveis são relevantes no
desempenho econômico da empresa, pois quanto maior parcela de ativos
intangíveis na empresa, maior a geração de valor aos seus acionistas; ou seja,
61
as empresas que direcionam uma parcela maior de seus recursos para
investimentos em ativos intangíveis, apesar dos riscos associados a estes
ativos, estão obtendo melhores resultados econômicos, fortalecendo os
pressupostos teóricos de que vantagens competitivas e retornos anormais
estariam relacionados aos ativos intangíveis e intelectuais.
62
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2000.
65
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
Breve Histórico da Contabilidade 11
1.1 – No Mundo 12
1.2 – No Brasil 15
CAPÍTULO II
Sobre o Ativo 17
CAPÍTULO III
Ativos Tangíveis “versus” Intangíveis 21
CAPÍTULO IV
Ativos Intangíveis 26
CAPÍTULO V
A Empresa como uma “Árvore” 30
CAPÍTULO VI
A Importância dos Ativos Intangíveis 31
CAPÍTULO VII
Capital Intelectual 40
7.1 – Capital Humano 43
7.2 – Capital Estrutural 45
7.3 – Capital de Clientes 46
66
CAPÍTULO VIII
Mensuração e Contabilização do Capital Intelectual 48
8.1 – Críticas a Lei 6.404/76 52
8.2 – Ativo ou Despesa 54
8.3 – Vantagens e Desvantagens de Mensuração 56
CONCLUSÃO 59
BIBLIOGRAFIA 62
ÍNDICE 65
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: